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O artigo publicado aqui é uma tradução. Artigo original: Perspective, Memory, and Moral Authority: The legacy of Jane Austen in J. K. Rowling’s Harry Potter. Children's Literature, Volume 35, 2007TRANSCRIPT
Perspectiva, memória e autoridade moral: o legado de Jane Austen em Harry
Potter, de J.K. Rowling
É uma verdade universalmente reconhecida que um autor infantil, em busca de
um leitor, deve querer uma fonte - ou assim clamam os detratores de J.K.
Rowling, que insistem que sua série best-seller é simplesmente "derivada"
(Hensher), uma simples coleção de brilhantes insignificâncias regulares
facilmente desmontáveis por uma Pelúcio trabalhador. Essas acusações de
misturas literárias, no entanto, negam a alquimia da arte de Rowling, e eles não
conseguem explicar as complexidades do personagem, o ponto de vista da
narrativa, e o tema introduzido através de seu mundo ficcional. A série de
Rowling não mostra tanto quanto parece (como Philip Hensher, Harold Bloom,
A.S. Byatt, e outros alegaram), mas revela tonalidades diferentes em várias
luzes. Coloque os romances de Rowling ao lado dos livros Alice de Lewis
Carroll, e a série Harry Potter apresenta enigmas variados, probabilidade,
improbabilidade, e desejos espelhados; coloque-a ao lado de Tom Brown’s
School Days de Thomas Hughes, e nós vemos os destaques da tradição
clássica e classista do internato, o valor de esporte, e os perigos do bullying.
E o que dizer de Jane Austen, quem Rowling afirmou em 2001 ser uma de
suas autoras favoritas ("J.K. Rowling Bookshelf")1, tendo já citado Emma de
Jane Austen no ano anterior como "the most skillfully managed mistery I‘ve
ever read" ("Let me tell you a story") e como "the target of perfection at wich we
shoot in vain" (qtd. in Boquet)? Não somente Rowling leu romances de Austen
em alternância a cada ano, mas três títulos de Jane Austen aparecem na
estante virtual no web site de sua autoria: Sense and Sensibility (1811), Pride
and Prejudice (1813), e Emma (1816). De fato, a auto-crítica humorada de
Austen em Pride and Prejudice - "Upon te hole," Austen escreveu à sua irmã
Cassandra em 1813, "the work is rather too light, bright and sparkling" (Letters
299), aparece na introdução de Rowling de Dumbledore: "His blue eyes were
light, bright and sparkling" (Philosopher’s Stone 12). Olhe Harry Potter ao lado
1 Em entrevistas desde 1997, Rowling tem repetidamente nomeado Austen como sua autora
favorita; Roddy Doyle é frequentemente listada em segundo lugar. Veja, por exemplo, Blakeney; ―Magic, Mystery, and Mayhem‖; J.K. Rowling Bookshelf‖; ―Comic Relief Live Chat‖; and Renton.
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Potter, de J.K. Rowling
dos romances de Austen, como alguns têm feito2, e notamos como a
perspectiva subscreve a educação moral - como a sua forma de narrativa
similar desenvolve um tema semelhante. Para sua série, Rowling seleciona um
limitado ponto de vista onisciente na terceira pessoa favorecido por Austen.
Este ponto de vista permite que Rowling crie um estudo do desenvolvimento de
um personagem em sete volumes, um estudo do que Edmund em Mansfield
Park (1814) de Austen chama de sua carta para Fanny Price: ―a picture of [his]
mind" (412). Ao representar o mundo dos bruxos e o dos trouxas através de um
pensamento único, Rowling nos pede para testemunhar o processo de
educação de Harry. O resultado da narrativa marca as limitações de visão
particular enquanto também evocam a simpatia dos outros3.
A seleção de Rowling de uma forma narrativa semelhante a de Austen, por
conseguinte, nos leva a considerar semelhanças temáticas entre as suas
obras, incluindo a necessidade de perspectiva e de simpatia para crescimento
moral4. Também nos ajudará a considerar as críticas freqüentes a série. A
relativa simplicidade de Philosopher ‘s Stone, a passividade do personagem de
Harry no início dos volumes, a falta de detalhes do mundo real nos mesmos
volumes iniciais, a perspectiva da série sobre garotas - todas essas críticas
padrões da série de Rowling são mitigadas, considerando esses aspectos da
série que a comparação com Austen traz à luz. Com os romances de Austen
de um lado e Harry Potter do outro, podemos responder que Rowling está
interessada na experiência de um personagem do mundo "real", oferecendo
um "retrato" dessa mente individual e um registro do seu desenvolvimento
moral. A narrativa do romance quase sempre apresenta os mundos trouxa e
2 Enquanto comentadores e estudiosos observaram o amor de Rowling por Austen, nada do
meu conhecimento tem oferecido uma extensa análise do legado de Austen em termos de forma e tema. 3 A dívida de Rowling para com Austen, então, atinge além do nome emprestado de Mrs. Norris
de Mansfield Park para a gata de Filch. Suman Gupta, em seu texto para o mundo do estudo dos livros 1-4, poderá ver esta nomeação como apenas uma das muitas ―alusões evasivas‖ de Rowling, como ele os chama, que meramente contribuem para a ―inconsistência e indiscriminada estratégia alusiva dos romances de Harry Potter‖ (97-98), mas eu acredito que podemos ler na aparência de Mrs. Norris como parte de um conjunto mais significativo. 4 Certamente ainda existem ligações temáticas a explorar entre os romances de Austen e a
série de Rowling – as críticas de Austen ao capitalismo e patriarcado, da autoridade quando se abdica da responsabilidade e cede poder ao egoísta, seu uso do gótico, para citar alguns – mas vou limitar minha discussão aqui no desenvolvimento do eu moral.
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bruxo através do ponto de vista de Harry, subjetivo e por demais humano.
Harry é muitas vezes um modelo de observação, detecção e ação, mas ele
também é falho. A visão de Rowling de uma auto-moral, como a de Jane
Austen, emerge dessa lacuna.5
Como sua autora favorita, Rowling incentiva os leitores a usarem suas
imaginações para simpatizar com, refletir sobre, e então valorizar esses
personagens que equilibram generosidade de sentimento com a integridade do
ego. Para Rowling, como para Austen, a autoridade moral depende do
conhecimento de si em relação ao passado e o presente; esse conhecimento
permite atuar moralmente no futuro. Para explorar essas implicações formais e
temáticas do legado de romances de Austen dentro de Rowling, vou colocar
primeiramente a série de Rowling ao lado de Emma para discutir como o ponto
de vista narrativo molda nossas experiência da série e como modela os
benefícios da simpática percepção para o conhecimento dos outros e do eu.
Vou então voltar para o menos popular Mansfield Park para marcar a sua
ressonância com a série de Rowling em termos de estoicismo, de humildade e
do pensamento reflexivo. Termino com um olhar estendido ao papel que a
memória e a imaginação desempenham no desenvolvimento moral do eu.
Penetração perceptiva.
Como Austen, Rowling favorece um estilo de narrativa que conta com limitado
ponto de vista onisciente para restringir a experiência do leitor da história para
a visão de um personagem do mundo - o que Wayne Booth descreve em The
Rhetoric of Fiction como "Simpatia através do Controle de Visões Interiores"
em sua influente da "Distance in Emma".6 Como leitores, nós só gradualmente
percebemos o grau em que nossa perspectiva sobre o mundo bruxo é
5 Para uma discussão da série de Rowling no âmbito das teorias de desenvolvimento moral de
Lawrence Kohlberg, veja Whited and Crimes. As leituras oferecem através dessa lente eco de várias conclusões que tiro, em comparação com Austen, do desenvolvimento moral de Harry. 6 Para uma descrição sucinta do estilo de narrativa de Austen, veja Burrows; veja também
Hough; and Flavin. Conectando Rowling e Austen através da forma narrativa, meu argumento contrasta com a alegação de Maria Nikolajeva de que ―Rowling não usa nenhuma das técnicas mais sofisticadas de narrativa para transmitir estados psicológicos‖ e que ―os romances de Harry Potter são claramente orientados para a ação ao invés de para o personagem‖ (134).
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primeiramente moldada pela perspectiva de Harry, assim como as limitações
de Emma impedem nosso conhecimento do compromisso de Frank Churchill e
Jane Fairfax no romance de Jane Austen. Estamos quase sempre alinhados a
perspectiva de Harry, recebendo muito pouca descrição de terceira pessoa de
cenário ou de personagem que não são primeiramente vistos por Harry. Os
detalhes do "mundo real" dos mundos trouxa e bruxo só entram na sua
consciência, e portanto a narrativa da série quando ele os experimenta, e não
antes, porque, como Rowling comentou durante um webcast global do Royal
Albert Hall, em 2003, "Harry is the eyes through wich you see the world" (Harry
Potter"). Enquanto Hermione e Ron podem ter sabido sobre outras escolas
bruxas como Beauxbatons e Durmstrang desde Philosopher’s Stone, nós não
sabíamos que havia outras escolas no mundo mágico até Harry descobrir sua
existência na Copa do Mundo de Quadribol em Goblet of Fire.
Rowling tinha sido criticada, até Goblet, por criar um mundo desconectado das
realidades da cultura contemporânea, mas sua escolha de um estilo narrativo
como o de Austen nos ajuda contra essa acusação. Como Austen, Rowling
introduz realidades sociais, políticas e econômicas que afetam a vida de seu
personagem principal, enfocando-os através de sua experiência dessas forças
externas em vez de através de uma voz narrativa onisciente.7 Em Emma,
nossa heroína toma nota dos pobres quando podem servir como lição de moral
para ela e sua amiga Harriet (79); em Harry Potter, nosso herói torna-se
sintonizado ao processo de preconceito bruxo quando Draco Malfoy chama
Hermione "You filthy little mudblood" (Chamber 86). Harry vê e compreende
muito mais sobre seu mundo a medida que cresce, e assim a cada ano (e
volume), nós sabemos mais. A limitada visão onisciente de Rowling, focalizada
através de Harry, portanto, também explica os tons variados e ênfases de cada
livro - porque Philosopher’s Stone parece tão cheio de alegria em relação aos
romances seguintes, porque as garotas de Hogwarts são frequentemente
descritas como "risonhas" (Azkaban 56) e bobas em Azkaban e Goblet por um
confuso pré-adolescente, porque a relativa simplicidade de Philosopher’s Stone
7 Veja, por exemplo, Westman; e Chevalier. Para discussões sobre os romances de Austen
com atenção para o mundo político e cultural de seus personagens, veja, por exemplo, Johnson; Stewart; Lew; Fraiman;e Roe.
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(livro ridicularizado por alguns leitores e críticos) retorna à complexidade e
confusão de volumes subsequentes.8 Nossa estrutura de referência para cada
livro é dinâmico, expandindo-se para explicar os novos conhecimentos de
Harry sobre seu mundo preferencialmente ao previsto desde o início da série.
A dívida de Rowling ao estilo narrativo de Jane Austen também nos lembra que
a série está preocupada com o personagem mais que com detalhes externos,
emoções interiores tanto quanto ações exteriores. Um estilo narrativo
onisciente limitado enfatiza o desenvolvimento do caráter de Harry, como faz
com o de Emma. Esta proximidade persistente ao seu caráter forja nossa
ligação com ele. Como o crítico David Lodge afirma sobre o caráter de Emma,
―we experience [her] errors with her, and to some extent share them", criando
uma forte "pull of sympathy" (x). Os erros de julgamento de Harry - de confundir
Snape como seu adversário principal em Philosopher’s Stone a liderar cinco
amigos para provável morte no Ministério da Magia em Phoenix - similarmente
evoca a nossa simpatia, porque geralmente erramos com ele, tendo seguido
sua linha de pensamento e aprovado seu curso de ação, sabendo não mais do
que ele. Estamos muitas vezes à mercê de sua perspectiva limitada e seu grau
de maturidade emocional.
Que ganhamos alguma distância crítica do ponto de vista de Harry é marcante,
dada a forma que Rowling desdobra sua narrativa como Austen. Como os
leitores de Emma, somos advertidos nas páginas iniciais sobre as falhas de
Emma, aprendendo através do narrador como "[t]he real evils indeed of
Emma‘s situation were the power of having rather too much her own way,and a
disposition to think a little too well of herself" - as graves conseqüências que
foram ―no presente‖ ―imperceptíveis‖ (4). Estamos, assim, "put on our guard...
against to close an identification with Emma‘s hopes and expectations,‖ como
observa David Lodge (viii).9 Por outro lado, não temos reservas qualificadas
8 Suman Gupta tenta explicar as diferenças entre os livros através de teorias de ―progressão‖ e
―elaboração‖ (94-96), sem abordar esse elemento formal da prosa de ficção de Rowling. 9 Wayne Booth descreve esse processo narrativo em detalhes: ―O próprio autor – não
necessariamente a Jane Austen real, mas um autor implícito, representado neste livro por um narrador confiável – aumenta os efeitos, orientado o nosso progresso intelectual, moral e emocional... reforçando ambos os aspectos da dupla visão que atua em todo livro: nossa visão interior do valor de Emma e nossa visão objetiva de suas grandes falhas‖ (256).
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sobre o caráter de Harry oferecida pela voz narrativa no início de Philosopher’s
Stone, como temos quando abrimos Emma para ler que "Emma Woodhouse,
handsome, clever, and rich with a comfortable home and happy disposition
seemed to unite some of the best blessing in existence" (3). Mais tarde, no
capítulo XIII, o narrador de Austen até explica o fracasso de Emma em
perceber a confusão de Mr. Elton quando ela o incentiva a ficar em casa por
causa da doença de Harriet: Emma " [is] too eager and busy in her own
previous conceptions and views to hear him impartially, or see him with clear
vision" (99), até como ela é capaz de refletir sobre equívocos dos outros,
algumas páginas depois, " amusing herself in the consideration of the blunders
which often arise from a partial knowledge of circumstances, or the mistakes
which people of high pretensions to judgment are forever falling into..." (101).
Na série de Rowling, tais narrativas adicionais, avisos ou apartes bem-
humorados e irônicos acompanham nossa introdução a, ou a experiência de,
Harry. Em vez disso, nossa identificação com o ponto de vista de Harry é
quase parecida. Exceto nas aberturas dos volumes 1, 4 e 6, nos romances de
Rowling não vemos ou ouvimos qualquer coisa que Harry não veja ou ouça -
embora possamos, como Hermione, identificar alguns modelos das
experiências de Harry que escapam de sua observação.
Obtemos, então, uma relação mais irônica do personagem de Harry, mais
próxima do que temos do de Emma, mas que evolui gradualmente ao longo do
decorrer da série, e essa ironia resulta de uma tensão entre nosso
conhecimento prévio do personagem de Harry ao lado de sua nova
circunstância ou pensamento, ao invés de ser o resultado de uma voz narrativa
intrusiva.10 Momentos irônicos podem ocorrer dentro de um determinado livro -
talvez nós percebemos, antes de Harry, porque seu estômago dá uma guinada
quando ele vê Cho Chang em Azkaban - mas tal perspectiva irónica é mais
perceptível entre os volumes. Em Phoenix, por exemplo, estamos preocupados
10
Como diz Lodge da nossa re-leitura de Emma, citando Harvey, "o modo irónico não domina totalmente a segunda leitura porque ‗nossa atenção é tão diversificada pela fina rede de nuance linguística que não nos concentramos nos resultados irônicos da mistificação.‘‖ A re-leitura é prazerosa, então, e também absolve Emma de não ver o que, ao ler novamente, nos perdemos na primeira vez (ix).
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com Harry quando ele evita o treino de Oclumência antes de dormir, não
querendo treinar sua mente para resistir à influência dos outros sobre ele, para
que possa ao invés disso realizar seu desejo de alcançar e finalmente abrir a
porta do Departamento de Mistérios - e estamos preocupados, porque já vimos
Harry sofrer as conseqüências de desejos semelhantes: em Philosopher’s
Stone quando ele deseja ver seus pais no Espelho de Ojesed, e em Azkaban
quando ele deseja ouvir as vozes de seus pais quando deveria estar lutando
contra os dementadores. Em Phoenix, ganhamos uma relação incrivelmente
irônica com Harry, que em sua auto-dedicação pode, como Emma, tentar
nossa paciência de leitores.
A fé cega de Harry e Emma na retidão de sua perspectiva pode realmente ser
uma faca de dois gumes, testando a nossa simpatia. Emma "[having] taken up
the idea... and made everything bend to it" (121) ecoa a persistência errônea de
Harry e de seus amigos, marcando o poder da mente para perceber que ela
deseja ser assim. As conclusões erradas de Emma frustram Mr. Knightley
assim como nós - "Better to be without sense, than misapply it as you do" (57),
ele diz a ela - tanto quanto os erros de raciocínio de Harry, sua exibição de
regras necessárias, e seu desrespeito pelos sacrifícios dos outros frustram
Hermione (Phoenix 587-88), Snape (Azkaban 209), e Lupin (Azkaban 213).
Muitas vezes, Hermione cumpre o papel atribuído ao contrário da voz narrativa
de Austen quando ela lembra Harry e Rony sobre uma informação esquecida
ou negligenciada que fornece distância analítica sobrea a posição
aparentemente inexpugnável de Harry. Ansioso para resgatar Sirius do
aparente cativeiro e tortura no Departamento de Mistérios do Ministério, Harry
se irrita quando Hermione lhe oferece observações razoáveis: "[I]t‘s five o‘clock
in the afternoon... the Ministry of Magic must be full of workers... how would
Voldemort and Sirius have got in without being seen?‖ (Phoenix 645). Quando
um Harry agitado responde que "the Department of Mysteries has always been
empty whenever I‘ve been," Hermione deve lembrar a Harry , "You‘ve never
even been there... You‘ve dreamed about the place, that‘s all" (Phoenix 645).
Assim emocionalmente imerso no mundo real de suas visões, Harry perde o
contexto maior do mundo em torno dele. Ao oferecer sua perspectiva racional,
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Hermione não só representa uma voz narrativa de Austen mas também ecoa
Mr. John Knightley e seu irmão, Mr. Knightley, e as perspectivas que oferecem
a Emma. Através de tais comentários, do narrador de Austen ou dos
personagens de Austen e de Rowling, somos lembrados de nossa bem
focalizada visão do mundo do romance e das limitações de percepção da
nossa heroína e do nosso herói.
Nossa capacidade de ver dentro das mentes de Emma e Harry, no entanto,
tempera nossas críticas e mantém nossa simpatia, porque nós também
testemunhamos a confusão e vergonha de Emma e Harry. Quando Emma
recebe uma repreensão de Knightley sobre sua avaliação do caráter de Robert
Martin, "[she] made no answer, and tried to look cheerfully unconcerned,", mas
a narrativa divide seus pensamentos com a gente: como "[she] was really
feeling uncomfortable and wanting him very much to be gone,‖ ―[no] repent[ing]
[her action]", mas sentindo a pressão "[of her] habitual respect for his
judgement" (59). A resposta emocional de Emma é comparável a de Harry
quando foi repreendido por Dumbledore, Hagrid, Hermione e Lupin, cujas
opiniões ele valoriza. Em Azkaban, a correção de Lupin do comportamento de
Harry ataca-o fortemente. Depois de quase escapar da punição por uma visita
clandestina a Hogsmeade e a loja de logros Zonko's, Harry escuta o lembrete
de Lupin: " Your parents gave their lives to keep you alive... A poor way to
repay them - gambling their sacrifice for a bag of tricks‖ (213). As palavras de
Lupin impedem a alegria de Harry em escapar da punição por sua atividade
fora de limite e oferecem um sóbrio lembrete de seu relacionamento com seus
pais e seu passado. Como resultado, a repreensão de Lupin "leave[s] Harry
feeling worse by far than he had at any point in Snape‘s office" (213), e Harry
experimenta culpa e vergonha ao invés de indignação.
Para ambos os personagens, então, reservamo-nos o nosso julgamento porque
Harry e Emma estão dispostos a se julgarem. Emma admite-se estar "in
complete error" (119) referente ao senhor Elton, e seu reconhecimento do erro
sustenta a nossa simpatia quando poderiamos deixar de nos importar. Harry,
também, mantém a nossa simpatia, porque é capaz de reconhecer seus
defeitos, de analisar seus erros, de sentir vergonha (Phoenix 294), e até
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mesmo, como Emma, de corar pelos erros que cometeu. Essa marca do século
XVIII de verdadeiro sentimento - a manifestação física de inquietação
emocional - é o sinal exterior da experiência interior11 desses personagens. A
aparência do corar assegura a nossa solidariedade para com Emma (124, 127,
341) e Harry, quando "the heat rises in his face" (Phoenix 687) em diversas
ocasiões ao longo da série, especialmente em Goblet e Phoenix. "[Such]
involuntary physical manifestations of emotion‖ sinaliza que Emma e Harry
possuem a qualidade do século XIX ―[of] sensibility," ―the capacity of human
sympathy": "[as it] registers the interface between the public self and private
reaction,‖, a sensibilidade serve como ―a sort of moral platform" para revelar a
si mesmo e saber sobre o outro (Doody xiv). Como Emma e Harry se tornam
mais sensíveis sobre si mesmos dentro do mundo, ambos são incrivelmente
perspicazes sobre os motivos e ações de seus próprios caráteres, bem como
as dos outros.
Se uma das qualidades valorizadas do personagem em Emma é realmente
"penetração" (122, 173, 314), a capacidade de "perceber" (394) a si próprio ou
o outro em uma luz mais clara, então o ponto de vista limitado onisciente
implantado por ambas Austen e Rowling concede poderes para o leitor. Capaz
de ver nos caráteres de Emma e Harry seus motivos e respostas não ditas,
capaz de assistir as suas próprias tentativas de dominar a habilidade de
"penetração", nós por sua vez aprendemos a ser mais exigentes observadores
do caráter humano. Em Austen e Rowling, a "penetração" é assim ligada à
simpatia pelos outros, ao reconhecimento de um outro do ponto de vista. A
mudança de visão de Emma sobre Jane Fairfax, ao longo do romance,
depende da capacidade de Emma para imaginar-se da perspectiva de Jane
(343). Da mesma forma, a mudança de visão de Harry sobre Snape em Globet
e Phoenix, graças à Penseira, compreende uma troca semelhante de
11
Como Roy Porter observa, no século XVIII, "aquela que não podia corar era uma mulher sem vergonha" (qtd. in Gwilliams 148). Ruth Bernard Yeazell explica como "os escritores dos livros de conduta claramente valorizavam a eficácia da vergonha e elogiavam o ato de corar precisamente como um sinal de suscetibilidade da jovem mulher aos julgamentos – e sentimentos – dos outros‖ (71). Para uma discussão maior do ―fascínio coletivo com o fluxo repentino de sangue para [a] bochecha‖ (65), consulte ―Modest Blushing‖ de Yeazell‘s em Fictions of Modesty.
Perspectiva, memória e autoridade moral: o legado de Jane Austen em Harry
Potter, de J.K. Rowling
perspectiva.12 Além disso, para Harry e seus leitores, a habilidade de Harry
para pensar do ponto de vista de Luna no final de Phoenix (760) proporciona
um bem-vindo alívio do Harry cego, egoísta e gritante - o Harry estressado, no
jargão de fãs – das 753 páginas anteriores. O ponto de vista onisciente de
Rowling incentiva-nos a respeitar e simpatizar com a experiência de outra
pessoa, mesmo se nós nunca pudermos completamente entender ou aceitar
esta outra perspectiva.
Nasce um estóico: O Ser em perspectiva através da Reflexão e da Troca
Colaborativa
Simpatia penetrante serve como um passo para se tornar um agente moral no
mundo; estoicismo e humildade são mais recursos para esse objetivo.
Enquanto Emma demonstra essas duas qualidades adicionais com dificuldade,
Fanny Price, a heroína do mundo obscuro de Mansfield Park, é um estudo vivo.
À primeira vista, a energia de Harry, sua coragem e seu espírito de assumir
riscos fazem dele o espelho oposto da calma e reservada Fanny, mas há uma
série de semelhanças entre os dois personagens que destacam a preocupação
comum de Austen e Rowling para um eu estóico, humilde e reflexivo.
Primeiro, há semelhanças das circunstâncias. Ambos Harry e Fanny
experimentam uma mudança como a de Cinderella13 de um lar para outro: para
Fanny, sua saída da família caótica e empobrecida de Portsmouth para os
luxos comparativos de seus parentes em Mansfield Park; para Harry, a saída
da casa de sua tia e tio Dursley na Rua dos Alfeneiros para as maravilhas e
solvência financeira de Hogwarts e do mundo bruxo. Quando a Fanny de dez
anos de idade deixa sua casa pobre, ela o faz como se fosse órfã: ela vai ser
criada por sua tia e seu tio Bertram sem qualquer risco de ver seus pais e
irmãos em breve. O Harry de dez anos de idade viveu como um órfão toda a
12
A visão de Emma sobre Miss Bates sofre uma mudança semelhante, assim como a de Harry sobre Neville. 13
Junto a outros críticos e comentadores como Ximena Gallardo C. e C. Jason Smith, Roni Natov percebe Harry como a ―Cinderlad‖ (315). Thomas Hoberg lê Fanny como ―uma paródia artística da doce lenda da Cinderela‖ (138).
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sua vida quando descobre, em seu décimo primeiro aniversário, que vai deixar
a privação da Rua dos Alfeneiros. Ambos Fanny e Harry estão esmagados por
seus novos mundos, mas se adaptam rapidamente aos seus novos "lares" uma
vez que eles tem simpáticas companhias. Harry ganha a simpatia de Rony no
trem, Fanny ganha seu primo Edmund logo após sua chegada em Mansfield
Park, e seus novos amigos oferecem orientação em troca de apoio
emocional.14 Para ambos os personagens, a mudança de estilo de vida é tão
completa que o novo local, ao invés do velho, se torna ―o lar‖, como o retorno
de Harry a Hogwarts, no início de Azkaban faz com que sinta "he was home at
last" (74). Além disso, é a memória do novo lar que os sustenta quando Fanny
e Harry são obrigados a se afastar de Mansfield Park (384, 421) e do mundo
bruxo. (Azkaban 17).
A partir dessas semelhanças em circunstâncias que demostram semelhanças
no personagem, que por sua vez ressaltam os aspectos da série de Rowling
que colhem menos atenção crítica, mas são cruciais para sua visão de
educação moral como a de Austen: o valor do estoicismo e da humildade. Para
sobreviver a seus problemas na vida, Fanny e Harry evidenciam o estoicismo,
uma qualidade da série de Rowling observada por Edmund Kern ("Boy
Wonder"; Wisdow). Fanny continua impassível diante das artimanhas londrinas
imprudentes dos irmãos Henry e Mary Crawford, humildemente resiste a
ameaça implacável dos insultos de sua tia Norris, e sacrifica-se aos pedidos
incansáveis de sua tia Bertram em busca de assistência. Fanny é, nas palavras
de Marylea Meyersohn, "the moral presence who watches and listens," "[a]
center of non-energy" operando ―[by] the deferral of gratification" (224-25). Em
sua passividade, especialmente no início da série, Harry ocupa um ―centro de
não-energia‖ similar, suas ações regidas por um ―adiamento de gratificação"
enquanto eventos incidem sobre ele, de sua cicatriz em forma de relâmpago
para as instrusões de suas emoções por Voldemort. Nós testemunhamos
estoicismo em sua determinação para resistir às ameaças repetidas ao corpo e
à mente daqueles que querem lhe quer fazer mal; ele continua igualmente
14 Ambas as amizades estão sem situação de maior igualdade do que aquela que Emma inicia para seu divertimento com Harriet no romance seguinte de Austen.
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Potter, de J.K. Rowling
obstinado em sua oposição à Voldemort e em sua lealdade a seus amigos e
Dumbledore. Embora nós ainda não tenhamos a conclusão da série de
Rowling, nós sabemos que a ―paciência‖ estóica de Fanny a guia para a
felicidade no final do romance: é sua "paciência" que confere a ela quem ela
ama – Edmund - e ela tem o prazer de tê-lo agradecendo-lhe por sua paciência
quando ele estava quase perdido, cego por um tempo para os fracassos morais
de Crawford (445). Nós aprendemos, também, nas páginas finais do romance,
que o sucesso de Fanny em sua juventude decorre das "[from] the advantages
of early hardship and discipline, and the consciousness of being born to
struggle and endure" (456). Talvez nós escutemos um eco dessa declaração na
observação de Dumbledore, perto do final de Phoenix, quando ele reflete sobre
a educação de Harry com os Dursley: "You arrived at Hogwarts," ele diz a
Harry, "neither as happy nor as wellnourished as I would have liked, perhaps,
yet alive and healthy" (737). Quando colocado ao lado do caráter estóico de
Fanny, a constância de Harry, o auto-sacrifício, e a elasticidade vem em
primeiro plano - qualidades que podem parecer ofuscadas em Goblet e em
Phoenix por sua raiva adolescente, mas que, todavia, sustentam seu contínuo
sucesso.
Fanny e Harry também compartilham a característica da humildade. Apesar de
muitos personagens dizerem a Harry que ele é famoso, altamente qualificado,
e digno de grande fama, Harry (ao contrário do pai do adolescente James) não
se vangloria. Ele modestamente acredita que Ron e Hermione estão brincando
quando lhe pedem para ensinar Defesa contra as Artes das Trevas para os
seus colegas, incapaz de entender que ele poderia ter recebido notas mais
altas do que Hermione nesta matéria ou que ele teve mais do que "sorte" em
suas batalhas contra Voldemort (Phoenix 291-94). A "abnegação e humildade"
que o tio Bertram de Fanny encontra tão carentes em suas próprias filhas ele
descobre em Fanny até o final do romance: enquanto suas primas, Maria e
Julia, não tinham sido incentivadas através da educação e do dever "[to] govern
their inclinations and tempers,‖ Fanny tem governado a dela (448). Com a
ênfase sobre "dominar as emoções" para o sucesso da Oclumência e para a
sobrevivência no mundo dos bruxos, Phoenix sugere que Harry, também, pode
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Potter, de J.K. Rowling
precisar completar sua humildade com uma capacidade de "governar" sua
"inclinação" e "gênio" se ele é capaz de suportar e vencer as forças movidas
contra ele. A humildade, como resolução estóica, desenfatiza desejos,
colocando-os na perspectiva de um propósito maior ou bem social. Para
Austen e Rowling, o valor da perspectiva, portanto, reside não só na
"penetração" simpática de um determinado ponto de vista, mas também em
uma resposta bem-humorada às vicissitudes da vida. Alguém deve por seu
próprio eu, assim como os outros, em perspectiva.
Este equilíbrio entre o engajamento solidário e a distância estóica - essa busca
de perspectiva - emerge em Mansfield Park de Austen e na série de Rowling
através de uma educação construída sobre leitura, reflexão e troca intelectual.
Fanny revela na leitura privada e na troca intelectual com Edmund sobre livros
compartilhados.15 A pequena biblioteca de Fanny em seu quarto no sótão é o
seu santuário, seu lugar de reflexão sobre seus próprios pensamentos e ações,
bem como sobre os dos outros. Longe de prejudicar o desenvolvimento de
Fanny, como Alan Richardson observa, "―[r]eading is associated throughout
Austen‘s novels with education in the broadest sense, that is, with intellectual
and moral development" (402). Como resultado, Fanny se beneficia da
negligência da tia Norris graças à sua própria leitura e reflexão privada e aos
ensinamentos alternativos de Edmund. Na série de Rowling, assim como no
romance de Jane Austen, experiências educacionais têm um influência
duradoura sobre as escolhas dos personagens e nos recursos - uma
consequência que nos dá uma pausa, quando pensamos em uma Hogwarts
sob o controle da censura e na censora Dolores Umbridge, que ensina apenas
para a prova e através do plano de aprendizagem, uma Hogwarts sem
alternativa tomando ensinamentos das aulas de Harry para o D.A. na Defesa
contra as Artes das Trevas. A educação prática, expansiva, não-ortodoxa e
freqüentemente ilegal de Harry durante seus anos em Hogwarts tem
habilmente preparado-o não somente para sua batalha contra Voldemort no
final de Phoenix, mas também para seus exames OWL: "Lower[ing] his eyes to
15
Aqui Fanny difere de Emma, que não pode seguir ―nenhum curso de leitura constante‖. (Emma 342).
Perspectiva, memória e autoridade moral: o legado de Jane Austen em Harry
Potter, de J.K. Rowling
the first question,‖ Harry lê, "a) Give the incantation and b) describe the wand
movement required to make objects fly. Harry had a fleeting memory of a club
soaring high into the air and landing loudly on the thick skull of a troll… smiling
slightly, he bent over the paper and began to write" (628). Esse episódio com o
troll, uma de suas primeiras infrações às regras da escola, é o resultado de
manobras colaborativas, briguentas e inspiradas de Harry e Rony para salvar
Hermione - o resultado de colocar uma formação teórica em prática, por sua
vez criando uma memória viva do ato.
A visão de Austen sobre educação, embora presente em toda a série de
Rowling, tem a sua apresentação mais presente em Phoenix com a
apresentação de Dolores Umbridge. O traço textual de Mansfield Park na série
de Rowling - o gato de Hogwarts, Mrs. Norris - nos orienta para esta conexão
entre Austen e Rowling. "Mrs. Norris" certamente parece um nome apropriado
para a gata de Filch, que perambula pelos corredores de Hogwarts ajudando
nos esforços de seu mestre para reduzir as violações sobre as regras e
regulamentos da escola pelos estudantes e pelo poltergeist. Como a gata de
Filch, a personagem Mrs. Norris em Mansfield Park "[is] walking all day" (69) e
é preenchida "[with] a spirit of activity" (42), mas o teor dos insultos de Mrs.
Norris para Fanny marcam tia Norris como uma tia Guida do período regencial,
enquanto a ameaça e o brilho da sede de poder motivando suas atividades em
torno da casa Bertram sugerem que ela também poderia ter inspirado Dolores
Umbridge de Phoenix. A visão da tia Norris sobre educação liga essas duas
vilãs. O defeito de educação das meninas Bertram, Maria e Julia, sob a
orientação de Mrs. Norris (55) não prevê guia moral nem compaixão, como Mr.
Thomas percebe no final do romance, quando ele lança essa futura educadora
para fora de Mansfield Park (448).16 A partida ignóbil de Dolores Umbridge no
final de Phoenix ecoa a destituição de Mrs. Norris de Mansfield Park, e
expurga, no momento, uma fisolofia educacional anti-intelectual e impraticável
dos salões de Hogwarts. Educação reflexiva, colaborativa, ligada à prática
16
O ―efeito da educação‖ atinge Mary Crawford e também seu irmão, de modo que Mary fala ―mal‖ da brincadeira (275), enquanto persegue riqueza e status social. Veja Kelly para uma visão geral da crítica de Austen dos preceitos educacionais contemporâneos.
Perspectiva, memória e autoridade moral: o legado de Jane Austen em Harry
Potter, de J.K. Rowling
cotidiana e de finalidade moral, é valorizada em ambos os mundos ficcionais de
Austen e Rowling para o desenvolvimento moral do eu.
Fala, memória: a mente particular a serviço da educação pública
A reflexão, quer por conta própria ou em troca de colaboração, depende da
memória, uma faculdade da mente humana que Austen e Rowling
particularmente admiram. Uma das ferramentas mais poderosas para a
educação moral de Harry na série de Rowling é a Penseira, um objeto
maravilhoso que permite armazenar memórias para recuperação futura ou
consideração, para um desabafar da mente e avaliar uma experiência passada
de forma isolada ou juntamente com outras lembranças para análise
comparativa. Para uma série que faz parte do Bildungsroman, a criação de
Rowling da Penseira dá em primeiro plano a importância da memória - de uma
pessoa e de outras - para os crescimentos intelectual, social e moral. O
desenvolvimento moral de Harry, ao que parece, depende do acesso e da
reflexão sobre o passado.
A magia da série de Rowling permite a seus personagens compreender todas
as vantagens de memória para o desenvolvimento moral, enquanto levantam
algumas complicações éticas quanto à sua utilização. Um dos mais longos
discursos espontâneos de Fanny em Mansfield Park mostra como os
benefícios de sua experiência educacional dependem da potência da memória
humana. Falando a uma não receptiva Mary Crawford, Fanny maravilha-se da
experiência individual do, e no, tempo: "How wonderful, how very wonderful the
operations of time, and the changes of the human mind!‖ (222). Ela, então,
continua,
If any one faculty of our nature may be called more wonderful than the rest, I do think it is memory. There seems something more speakingly incomprehensible in the powers, the failures, the inequalities of memory, than in any other of our intelligences. The memory is sometimes so retentive, so serviceable, so obedient—at others, so bewildered and so weak—and at others again, so tyrannic, so beyond control!—We are to be sure a miracle every way—but our powers of recollecting and of forgetting, do seem peculiarly past finding out. (222)
Perspectiva, memória e autoridade moral: o legado de Jane Austen em Harry
Potter, de J.K. Rowling
A criação de Rowling da Penseira alivia o lamento de Fanny sobre as falhas de
memória ("[that is] so bewildered and so weak") e, portanto, a Penseira permite
que aqueles que a utilizam se beneficiem das vantagens da memória – nas
palavras de Fanny, como a memória é "so retentive, so serviceable, so
obedient." No entanto, é aceitável romper os limites do eu particular, para
entrar a mente de outro? Quando é necessário fazê-lo? É possível manter
qualquer integridade do eu em um estado tão permeável de ser? É a
integridade do eu um ideal valioso? A magia no realismo social de Rowling
leva-nos a desenvolver estas questões éticas, se quisermos compreender o
que constitui a autoridade moral dentro da série, e o uso de feitiços bruxos de
modificação de memória, as habilidades complementares da Legilimência e da
Oclumência, e a Penseira nos ajuda a respondê-las. Em última análise,
Rowling defende-se exercendo tanto a imaginação como a varinha, a fim de
colher - eticamente – o conhecimento benéfico mantendo a própria integridade
do eu. Nos romances de Austen, assim como na série de Rowling, educação
moral e ação moral evoluem de um compromisso com o mundo bem-humorado
e imaginativo.
No mundo da série de Rowling, a mente particular torna-se freqüentemente
propriedade pública - não simplesmente através da penetração simpática mas
por transgressão literal. Os pensamentos da mente, especialmente as suas
memórias, são rotineiramente exploradas, modificadas, extraídas ou
erradicadas enquanto uma mente controla outra. Bruxos frequentemente
realizam feitiços de modificação de memória em trouxas, para que aqueles fora
da comunidade bruxa não sofram confusão ou curiosidade sobre pessoas
incomuns, lugares ou coisas. Na verdade, feitiços de memória são
Procedimentos de Operação Padrão para bruxos como Arthur Weasley e seus
colegas de Ministério. Esses feitiços são as institucionalmente aprovadas
reparações das conexões entre o mundo dos bruxos e dos trouxas. Como
podemos ver em toda a série, bruxos do Ministério são rápidos em apontar as
varinhas para trouxas e dizer "Obliviate" - na cena do crime (o "assassinato" de
Pedro Pettigrew), em um evento desportivo internacional (Copa Mundial de
Perspectiva, memória e autoridade moral: o legado de Jane Austen em Harry
Potter, de J.K. Rowling
Quadribol), durante um encontro casual com um objeto mágico (uma privada
regurgitante, uma xícara de chá que morde o nariz), ou para evitar um
telefonema inconvenientemente cronometrado de um presidente dos trouxas
para o primeiro-ministro britânico dos trouxas. Quer como os primeiros a
perceberem ou como grupos de limpeza, bruxos de vários departamentos do
Ministério usam modificação de memória mais do que qualquer outro feitiço
quando trouxas estão envolvidos.
Implícitos em tais atos, é claro, é a crença dos bruxos em seu direito de, bem
como a necessidade de, fazer trouxas esquecerem. De acordo com os livros
escolares de Harry, o direito de remover memórias dos trouxas deriva de
séculos de perseguição bruxa nas mãos trouxas, e a posterior necessidade da
comunidade bruxa se proteger para sobreviver - portanto, a criação do Estatuto
Internacional de Sigilo em Magia de 1692 (Quidditch 16). No entanto, nos
quatro exemplos acima, a necessidade de remover essas memórias é
diferente, sugerindo que o direito não está sempre alinhado a necessidade.
Esse último exemplo da abertura de Half-Blood Prince - um Presidente dos
Trouxas "esquecendo" de avisar o Primeiro-Ministro Britânico para que o
Primeiro-Ministro possa ao invés conversar com o Ministro da Magia - modifica
a memória, a fim de reorganizar eventos para a conveniência dos bruxos.
Bruxos do Ministério, deste modo, percebem a memória dos trouxas como
dispensáveis e infinitamente maleáveis, se eles estão ajustando a memória de
um presidente ou adaptando e re-adaptando com frenética repetição as
memórias do Sr. Roberts, o gerente de área de camping na Copa Mundial de
Quadribol, ou outras mentes trouxas. Em suma, os funcionários do Ministério
podem usar seu poder para modificar a memória para atender a conveniência
pessoal bem como políticas públicas. Sua própria integridade do eu é mais
valioso que o de um trouxa, um exercício de privilégio que a série ainda tem
que explorar plenamente.
Enquanto a série de Rowling questiona apenas indiretamente esse privilégio
bruxo para modificar a memória dos trouxas, os romances são rápidos para
indiciar bruxos que realizam esses feitiços uns contra os outros, especialmente
para fins pessoais ao invés de bem público. Gilderoy Lockhart, por exemplo,
Perspectiva, memória e autoridade moral: o legado de Jane Austen em Harry
Potter, de J.K. Rowling
procura a fama adquirindo as memórias daqueles melhores em Defesa Contra
as Trevas Artes e, em seguida, fazendo passar esses conhecimentos como
seus próprios; ele recebe o seu merecido castigo quando o seu próprio feitiço
sai pela culatra, apagando sua memória. Embora ele tenha posto em perigo
vidas através de suas habilidades educadas na modificação da memória,
Lockhart serve como uma ilustração humorística de quem abusa de tal magia -
pelo menos como pode ser visto através dos olhos de Harry na Chamber of
Secrets. Dois anos mais tarde, em The Goblet of Fire, as experiências de Barty
Crouch pai revelam os perigos de usar esses feitiços contra outros bruxos.
Crouch pai, aprendemos com Harry, modificou a memória do Ministro bruxo e
da fofoqueira Bertha Jorkins para que ela pudesse esquecer que tinha visto
viva uma pessoa que deveria estar morta: o filho adulto de Crouch, um
condenado Comensal da Morte. Embora Crouch sênior seja responsável por
remover esse conhecimento da circulação pública, ele também carrega a
responsabilidade de fazer de Bertha Jorkins uma verdadeira máquina de venda
automática de conhecimento para Voldemort. Feitiços de modificação de
memória, como o comando "Delete" no teclado do computador, pode deixar
vestígios da informações aparentemente desaparecidas; recuperar essas
informações é possível e pode causar danos permanentes na memória dessa
pessoa, se a recuperação acontece nas mãos de um bruxo como Voldemort,
que se preocupa com fins e não com meios. O feitiço egoísta de Crouch pai,
portanto, torna-o culpado por pelo menos duas razões: ele é responsável de
pôr em perigo o bem público, e, indiretamente, de acabar com a vida de Bertha
Jorkins.17 A perda pessoal de ação e subsequente morte de Crouch pai
enquanto sob a maldição Imperius de Voldemort pode ser visto como uma
punição justa, mas estamos longe das consequências bem-humoradas dos
motivos de engrandecimento de Lockhart e a justiça poética de seu errado
feitiço de memória.
17
A decisão de Slughorn de dar sua memória modificada com o objetivo de salvar sua pele oferece outro exemplo de modificação egoísta comprometendo o bem público (Prince 347-48). Somente os apelos de Harry a Slughorn pela estima a Lily Potter e ao desejo do não-sonserino para ser ―bravo e nobre‖ traz a memória alterada á luz.
Perspectiva, memória e autoridade moral: o legado de Jane Austen em Harry
Potter, de J.K. Rowling
As memórias dos bruxos, então, podem ser tão vulneráveis a modificações
quanto as mentes dos trouxas, mas existem poucos exemplos aprovado pelo
Ministério de tal modificação. Apenas um exemplo é exibido até agora na série:
o auror Quim Shacklebolt modifica a memória da estudante Marietta Edgecome
quando ela está prestes a revelar aos funcionários do Ministério detalhes
incriminadores sobre as aulas suplementares de Defesa Contra as Artes das
Trevas que Harry tem ensinado aos seus colegas (Phoenix 548). Mesmo aqui,
porém, a "aprovação" depende de nós vendo Harry, Dumbledore e Shacklebolt
como estando do lado "certo" em duas guerras secretas: uma contra o inepto
Ministro Fudge, e outra contra Voldemort. Voltaremos a esse contexto de
guerra, mas por agora podemos concluir o seguinte sobre feitiços de memória:
Primeiro, que a modificação da memórias dos trouxas ou dos bruxos para o
bem de muitos é mais adequado do que fazê-lo para poucos ou para benefício
próprio. Em segundo lugar, independentemente do "direito" de realizar tais
manipulações de memória, podemos ter certeza de que a memória oferece
uma frágil, ou pelo menos incerta, fundação para a construção de uma
compreensão dos outros e de si mesmo, uma vez que podem ser modificadas
a qualquer momento. Um eu mais fluido, poroso, vulnerável é, portanto,
inevitável no mundo de Harry, a menos que bruxos defendam suas mentes e
memórias, e exercitem, nas palavras de Olho-Tonto Moody, "Vigilância
constante."
A prevalência de feitiços de memória contra trouxas e bruxos só começa a
sugerir o grau de permeabilidade entre o eu e o outro na série de Rowling, a
tensão entre um eu estável e fluido. Como aprendemos em Order of the
Phoenix, o ato de Legilimência também pode transformar uma mente particular
em propriedade pública. Legilimência (acesso a outra mente) e Oclumência
(resistência a intrusão do outro) são dois lados da mesma moeda: a questão de
cada habilidade é a integridade da mente, quer penetrando ou preservando-a.
Aqueles poucos bruxos qualificados para um tendem a ser qualificados para o
outro - Voldemort e Snape são bem sucedidos em ambos, como Dumbledore -
e seu sucesso está ligado a capacidade de controlar suas emoções e
concentrar o foco de suas mentes. Talvez porque a habilidade seja tão rara,
Perspectiva, memória e autoridade moral: o legado de Jane Austen em Harry
Potter, de J.K. Rowling
Legilimência eatá sob o radar de fiscalização do Ministério. Os leitores
meticulosamente atentos do Harry Potter Lexicon especulam que Legilimência
pode ser regulada ou "restrita legalmente", como o uso de Veritaserum, a
poção da verdade ("Legilimência"), mas, até agora na série, só sabemos que
Voldemort, Snape e Dumbledore são todos Legilimens qualificados e que não
transmitem esse talento. O acesso a outros rendimentos mentais, nas palavras
de Snape, "access to memories [they] fear," que por sua vez, tornam-se
"weapons" (Phoenix 473). A capacidade de ver em outra mente, ganhando
acesso a memórias e emoções, juntamente com a capacidade de bloquear um
olhar intrusivo de outra pessoa, concede a esses três bruxos poderes incríveis
em um mundo que corre no conhecimento tático e emoção humana.
A emoção humana, porém, é o calcanhar de Aquiles do sucesso da
Legilimência e da Oclumência: como Snape diz a Harry, "Fools who wear their
hearts proudly on their sleeves, who cannot control their emotions" (Phoenix
473), deixam-se vulneráveis a invasões, um fácil alvo de Voldemort ou, no caso
de Harry, de Voldemort e Snape. Essa qualidade desejável da sensibilidade ou
da simpatia, como discutido anteriormente, pode ser uma suscetibilidade e não
uma habilidade. Durante as aulas particulares de Oclumência, as quais Harry
tem para que possa aprender a bloquear o acesso de Voldemort a sua mente,
Snape ganha acesso fácil às memórias de Harry, sabendo que Harry está com
angústia adolescente e raiva. Uma onda de emoção sem foco, uma perda de
controle, também pode inverter a corrente de poder e transformar os índices de
acesso, como Snape e Harry descobrem quando Harry ganho acesso às
memórias de infância de Snape (Phoenix 519-20). Quando Snape baixa a
guarda, as lembranças que Harry observa - "a hook-nosed man was shouting at
a cowering woman, while a small dark-haired boy cried in a corner," por
exemplo (521) - ilustram as "armas‖ que Harry agora tem à sua disposição
contra um professor odiado e ex-Comensal da Morte. Harry, sendo Harry, está
"nervoso" pelo que viu e responde com uma promessa simpática, mas em
outras mãos essas memórias poderiam ser munições prontas ao invés de uma
oportunidade para fazer uma pausa e reflexão. Para qualquer uso, as
lembranças não são mais somente de Snape: aquela parte do seu eu
Perspectiva, memória e autoridade moral: o legado de Jane Austen em Harry
Potter, de J.K. Rowling
particular, contra a sua vontade, tornou-se pública para outra mente. As
habilidades duplas de Legilimência e Oclumência mostram-nos que a mente
individual pode ser tanto a mais permeável fronteira de defesa, uma vez que
pode ser penetrado, bem como a última linha de defesa contra tais intrusões,
se alguém pode empacotar as emoções e devolver o golpe, preservando a
memória e, portanto, a integridade do eu.
Através da Legilimência, as memórias particulares e emoções de uma pessoa
circulam diretamente à mente de outra pessoa; uma circulação maior depende
da vontade somente da segunda pessoa. A Penseira expande a circulação do
conhecimento consideravelmente, aumentando as apostas na privacidade
individual e as implicações éticas do conhecimento compartilhado dentro do
mundo bruxo. Com o formato de uma tigela e rodando com a névoa da
memória, a Penseira oferece uma forma de desafogar a mente e avaliar uma
experiência passada de forma isolada ou juntamente com outras lembranças
para análise comparativa. Estas memórias podem ser as próprias ou da mente
de outra pessoa, recuperada com a permissão ou pela força; uma vez na
Penseira, a memória está em exposição, realizada a partir do ponto de vista
original para quem entra nela. Como Rowling explicou em uma entrevista em
2005, "The Pensieve recreates a moment for you, so you could go into your
own memory and relive things that you didn‘t notice [at] the time" (Anelli e
Spartz). Quando as memórias são revistas apenas pelo seu criador, a interação
com a Penseira possibilita uma reflexão particular. Quando as lembranças são
revistas por outra pessoa, por acaso ou intencionalmente, a interação com a
Penseira oferece desempenho do conhecimento. A memória fala, e o privado
se torna espetáculo público.
Enquanto a Penseira fornece a Harry novos conhecimentos de como ser bom e
fazer o bem no mundo, graças aos seus benefícios de simpática "penetração" e
reflexão, levanta algumas questões difíceis sobre recuperar, armazenar e exibir
a experiência de outra mente. Por um lado, a Penseira certamente
desempenha um papel crucial na educação moral de Harry, concedendo-lhe a
possibilidade de experimentar outros pontos de vista e ampliando sua
capacidade de simpatia. É por meio da penseira, por exemplo, que Harry
Perspectiva, memória e autoridade moral: o legado de Jane Austen em Harry
Potter, de J.K. Rowling
aprende sobre os limites do sistema democrático jurídico no mundo dos bruxos
quando acidentalmente atravessa uma das memórias de Dumbledore (Goblet
509-19). Através da penseira, ele também observa, por conta própria, a relação
entre seu pai e Snape, do ponto de vista de Snape - conhecimento que acaba
com a visão idealizada de Harry sobre o caráter de seu pai e lhe concede a
simpatia, até mesmo empatia, para com o professor que ele tanto despreza
(Phoenix 564-73). Mergulhado na recordação de Snape das provocações de
James enquanto ainda em si mesmo, Harry experimenta uma visão dupla de
consciência que produz um conhecimento doloroso de seu pai, de Snape, e de
si mesmo. Por outro lado, que direito Harry tem de ver as recordações de
Dumbledore e Snape sem a sua permissão? Por que a educação moral de
Harry deveria vir à custa da privacidade alheia? Harry Potter and the Half-Blood
Prince caminha ao lado desta questão ética fazendo da Penseira uma
ferramenta pedagógica sancionada na educação de Harry e na luta contra
Voldemort, enquanto Harry se encontra com Dumbledore para aulas
particulares. No entanto, as várias lembranças que Dumbledore e Harry
revisam juntos ao entrar, nas palavras de Dumbledore, ―the murky marshes of
memory" (Prince 187) levantam questões semelhantes, uma vez que algumas
dessas memórias foram recuperados através de "persuasão" e não dadas
livremente (188).
A Penseira, como uma ferramenta educacional para o desenvolvimento moral,
assim capta o cerne da questão a respeito da integridade da personalidade
individual e a integridade da personalidade dos outros: em busca de uma
moralidade própria, é oportuno invadir a privacidade de alguém? É melhor
manter a própria ligação intacta, ou dividir a personalidade com os outros? E se
você compartilhar, qual é o custo - para você e para os outros? Dado que
Dumbledore e Harry estão envolvidos em uma guerra contra um líder tirânico e
fascista, o controle imediato sobre o próprio eu particular pode precisar dar
forma a fim de evitar a perda total de si mesmo no futuro. No entanto, talvez
Rowling pretende fazer um ponto menos contextualizado sobre o eu e
privacidade para a educação moral, especialmente através das ações de
Dumbledore para compartilhar informações em contraste ao sufocamento da
Perspectiva, memória e autoridade moral: o legado de Jane Austen em Harry
Potter, de J.K. Rowling
circulação do conhecimento de Voldemort.18 Se memórias particulares podem
ser recuperadas, circuladas e compartilhadas com respeito e cuidado, então as
forças potencialmente poderosas, como Harry, que poderiam agir sem
preocupação com os outros, podem adquirir simpatia e compaixão de
temperamento e canalizar o seu uso da força.
Adquirida neste processo é a persopectiva, que pode vir do envolvimento
imaginativo, bem como de um novo fato – na realidade, a imaginação
desempenhará um papel na transformação desse fato em um enigma existente
de experiência e desempenhará um papel na reflexão sobre seu significado. A
imaginação, portanto, oferece uma maneira de ganhar experiência que é não-
invasiva, que preserva a própria integridade, que não é uma ameaça para a
privacidade das mentes dos outros ou de si mesmo. Alguns momentos
históricos podem pedir o uso de feitiços de modificação de memória, para
Legilimência, para "persuadir" outros a produzir memórias para o consumo
público (ou o seu equivalente em nosso mundo), mas a imaginação, e por
extensão a arte, oferta uma forma ética e segura para manter a mente privada
interiormente - para ter fala de memória e para transformar a si mesmo.
O papel que a memória e a imaginação desempenham na educação moral,
certamente liga Rowling a Austen, que reúne a apresentação formal de seus
mundos fictícios e os temas apresentados ali. Nos romances de Austen,
personagens como Fanny, que pode reconhecer "how wonderful, how very
wonderful the operations of time, and the changes of the human mind‖ e ―[the]
faculty‖ da "memória‖ (222) são os personagens que pode ser "[the] moral
agents‖ dentro do mundo (De Rose 227). Para Austen e para Rowling, o
conhecimento do passado - suas próprias memórias e outras experiências -
podem criar indivíduos moralmente responsáveis no presente e no futuro. Ao
apresentar esses pontos de vista para seus leitores, Austen e Rowling
partilham o objectivo artístico de apresentar ―[a] picture of [their characters‘]
mind" (Mansfield Park 412) para retratar uma autoridade moral para o mundo
18
A questão aqui é a circulação de conhecimento em relação ao poder: a idéia de poder de Voldemort depende da consolidação do poder dentro de uma pessoa – uma teoria talvez em desacordo com sua decisão de fragmentar e dispersar sua alma – enquanto Dumbledore está disposto a dividir seu conhecimento e, por conseguinte, seu poder com os outros.
Perspectiva, memória e autoridade moral: o legado de Jane Austen em Harry
Potter, de J.K. Rowling
social. Embora alguns críticos dos romances, como Philip Hensher, ainda
afirmarem que eles sejam apenas enredo - "And then, and then, and then‖ – o estilo da
narrativa de Rowling ainda nos lembra que personagem e ponto de vista, bem
como uma trama bem trabalhada, são os prazeres da série e parte de suas
forças. Se apreciamos a representação do mundo de Rowling através dos
olhos de um personagem, sua chamada para simpatia, e seu ponto de vista da
própria moralidade, então sua dívida narrativa para com Austen nos mostra o
caminho.
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REFERÊNCIA:
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