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Kalango#20 1 Kalango Kalango #20 - junho de 2014 UTOPIAS possíveis

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Revista Kalango edição #20 discute as UTOPIAS. Leia sem moderação :)

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KalangoKalango#20 - junho de 2014

UTOPIASpossíveis

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GPS(( LOCALIZE-SE ))

Revista Kalango. Edição #20. ANO IV. Junho de 2014. Editor: Osni Tadeu Dias MTb21.511. A Kalango é uma publicação independente, não tem vínculos políticos, econômicos, nem religiosos. A Kalango está no ar desde 2010. Quer anunciar? Quer ser colaborador? Ajude uma mídia independente. Escreva para [email protected] ou redaçã[email protected] Site: www. revistakalango.com.brConcluída em agosto de 2014.

5 Editorial6 Promessas da Grande Transformação - Leonardo Boff7 Pensando na brasilidade - Sonia Mara Ruiz Brown8 Por um suspiro e por um minuto - Maurício Andrade9 Utopia Política: o Estado de Direito - Orivaldo Leme Biagi10 Quem pensa- Delta9

Suassuna - Mario Sérgio de Moraes12 O impossível possível do que você faz16 Feira do Amor em Bragança Paulista17 Artista visual lança livro fotográfico - Alline Nakamura18 Pé de Pássaro20 Trogloditas virtuais e grande mídia - Marcelo Rio24 O nosso caminho é de sobrevivência para todo o planeta28 11 Mulheres de Chico: um breve ensaio 32 Tetê e convidados - Marcelino Lima36 Tatá Aeroplano - Osni Dias40 O desejo oculto em Severina Xique Xique - Fábio Sanchez44 “Eu canto a música brasileira”, Frank Aguiar - Monika Schulz46 Valeu a pena - Yndiara Macedo Lampros48 Omissão do governo contra os indígenas no Brasil52 Opção sexual: uma questão de cérebro - Leandro Oliveira54 Emoção no Campeonato Brasileiro de Rally58 Habemus Copa - Luis Pires76 ATIBAIA, 349 anos - Luciana Meinberg92 Carta à avó - Osni Dias Guarani93 Homenagem da Kalango: Aline Eusébio

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N osso mundo está cheio de seres vivos, signos, significados, pessoas e

coisas girando ao nosso redor. Desde que nascemos, vivemos numa busca incessante para compreender o que nos cerca e o que tudo isso representa. Porém, esse pensamento que nos move é o mesmo que nos impede de nos aproximarmos do que está a nossa frente: o outro. Criamos li-mitações e um milhão de descul-pas para ficarmos onde estamos, e esses obstáculos nos impedem de fluir e compartilhar aquilo que é bom, sem ressentimento, sem culpa, sem trauma e sem medo. Por isso a Kalango lança essa edi-ção destacando as Utopias Pos-síveis, porque acreditamos nas possibilidades. Nós acreditamos no ser humano. Devemos fazer a nossa parte, mesmo que por meio de pequenas ações e sem grandes recompensas. Podemos, enfim, ser o centro do Universo, um mundo feito por nós e que acolha, que agradeça e que aben-çoe. A Revista Kalango chega ao seu 4º aniversário acreditando que é possível ser diferente mes-mo caminhando sozinho na mul-tidão. Como nos ensinou Dham-mapada, “podemos vencer um milhão de homens em uma só batalha. O maior guerreiro, po-rém, é aquele que vence a si mes-mo”. Seja você, seja feliz. Uma boa leitura! Osni Dias Guarani

EditorialKalango #20 • Junho de 2014

NESTOR LAMPROS

NESTOR LAMPROS

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Por Leonardo Boff*

Promessas da Grande Transformação

Para pormos em curso outro tipo de Grande Transformação que nos

devolva a sociedade com mercado e elimine a deletéria sociedade unicamente de mercado, precisamos fazer algumas travessias improstergáveis. A maioria delas está em curso mas elas precisam ser reforçadas. Importa passar:- do paradigma Império, vigente há seculos para o paradigma Comunidade da Terra;- de uma sociedade industrialista que depreda os bens naturais e tensiona as relações sociais para uma uma sociedade de sustentação de toda a vida;- da Terra tida como meio de produção e balcão de recursos sujeitos à venda e à exploração para a Terra como um Ente vivo, chamado Gaia, Pacha Mama ou Mãe Terra;- da era tecnozoica que devastou grande parte da biosfera para a era ecozoica pela qual todos os saberes e atividades se ecologizam e juntas cooperam na salvaguarda da vida.- da lógica da competição de se rege pelo ganha-perde e que opõem as pessoas para a lógica da cooperação do ganha-ganha que congrega e fortalece a solidariedade entre todos.- do capital material sempre limitado e exaurível, para o capital espiritual e humano

ilimitado feito de amor, solidariedade, respeito, compaixão e de uma confraternização como todos os seres da comunidade de vida;- de uma sociedade antropocêntrica, separada da natureza, para uma sociedade biocentrada que se sente parte da natureza e busca ajustar seu comportamento à logica do processo cosmogênico que se caracteriza pela sinergia, pela interdependência de todos com todos e pela cooperação.

Se é perigosa a Grande Transformação da sociedade de mercado, mais promissora ainda é a Grande Transformação da consciência. Triunfa aquele conjunto de visões, valores e princípios que mais congregam pessoas e melhor projetam um horizonte de esperança para todos. Essa seguramente é a Grande Transformação das mentes e dos corações a que se refere a Carta da Terra. Esperamos que se consolide, ganhe mais e mais espaços de consciência com práticas alternativas até assumir a hegemonia da nossa história.Há um documento acima citado a Carta da Terra por seu alto valor de inspiração e gerador de esperança. Ela é fruto de uma vasta consulta dos mais distintos setores das sociedades mundiais,

PALAVRA

desde os povos originários, das tradições religiosas e espirituais até de notáveis centros de pesquisa. Foi animada especialmente por Michail Gorbachev, Steven Rockfeller, o ex-primeiro ministro da Holanda Lubbers, Maurice Strong, sub-secretário da ONU e Mirian Vilela, brasileira que, desde o início coordena os trabalhos e dirige o Centro na Costa Rica. Eu memo faço parte do grupo e tenho colaborado na redação do documento final e de sua difusão por onde posso.

Depois de 8 anos de intensos trabalhos e de encontros frequentes nos vários continentes, surgiu um documento pequeno mas denso que incorpora o melhor da nova visão nascida das ciências da Terra e da vida, especialmente da cosmologia contemporânea. Ai se traçam princípios e se elaboram valores no arco de uma visão holística da ecologia, que podem efetivamente apontar um camino promissor para a humanidade presente e futura. Aprovado em 2001 foi assumido oficialmente em 2003 pela UNESCO como um dos materiais educativos mais inspiradores do novo milênio.A Hidrelétrica Itaipu-Binacional, a maior do gênero no mundo, tomou a sério as propostas da Carta da Terra e seus dois

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diretores Jorge Samek e Nelton Friedrich conseguiram envolver 29 municípios que bordeiam o grande lago onde vive cerca de um milhão de pessoas. Deram início de fato a uma Grande Transformação. Lá se realiza efetivamente a sustentabilidade e se aplica o cuidado e a responsabilidade coletiva em todos os municípios e em todos os âmbitos, mostrando que, mesmo dentro da velha ordem, se pode gestar o novo porque as pessoas mesmas vivem já agora o que querem para os outros.Se concretizarmos o sonho da Terra, esta não será mais condenada a ser para a maioria da humanidade um vale de lágrimas e uma via-sacra de padecimentos. Ela pode ser transformada numa montanha de bem-aventuranças, possíveis à nossa sofrida existência e uma pequena antecipação da transfiguração do Tabor.Para que isso ocorra, não basta sonhar, mas importa praticar.

(*) Leonardo Boff escreveu A opção-Terra: a salvação da Terra não cai do céu, Record 2009.

Leonardo Boff é autor de O cuidado necessáro, Vozes 2013 e Funda-mentalismo, terrorismo, religião e paz: Vozes, Petrópolis 2009.

* Leonardo Boff é teólogo, escritor e autor de Saber cuidar. Ética do humano, compaixão pela Terrra, Editora Vozes.

www.leonardoboff.wordpress.com

Leia também:As ameaças da Grande Transformação (I)http://migre.me/l2M4C

As ameaças da Grande Transformação (II)http://migre.me/l2M8c

Sonia Mara Ruiz Brown

O Instituto Datafolha, segundo seu diretor, Mauro Paulino, em entrevista à revista VEJA, em abril, apurou que o número de pessoas que têm orgulho do Brasil vem diminuindo (de 87% para 78%), enquanto a porcentagem dos que se sentem envergonhados de ser brasileiros subiu (11% para 20%). Esses números levaram-me à reflexão.

Não tem o Brasil, conforme os versos do poeta romântico, um céu com “mais estrelas”, as várzeas “com mais flores”, as flores com “mais vida”, a vida com “mais amores”, além de primores só achados aqui? Não é constituído por um “povo heroico”, de acordo com nosso hino? Não é Deus brasileiro no dizer popular? Por que, então, 22% da população brasileira, e eu me incluo aí, não sentem orgulho de sua pátria? Seremos nós os que veem o copo meio vazio? Ou seremos aqueles que estão a par do que ocorre no nosso chão?

Dados comprovam a ineficiência de nossas escolas, pois, no exame PISA, estamos em 59º lugar, atrás de países como Uruguai, Cazaquistão, Albânia, substancialmente mais pobres do que nós. Estatísticas ainda comprovam nossa pouca integridade ética (72º lugar), nosso egoísmo (91º lugar em filantropia), nossa burocracia (116º lugar no ranking de facilidade para empreender)1, nossa leniência (na Nova Zelândia, a possibilidade de um aluno ter colado é de 21% , enquanto no Brasil é de 83% e 100% de ter testemunhado cola)2. Some-se ainda a decepção com o poder Judiciário na vergonhosa absolvição dos mensaleiros pelo crime de formação de quadrilha e os contínuos casos de corrupção noticiados diariamente.

É evidente que o sentir menos vaidoso de nossa terra não nos faz mais felizes. A decepção, o desencanto tiram nosso brilho, nosso entusiasmo, mas não podemos permitir que nos eximam de nossa vontade de lutar contra os maus resultados, contra as experiências negativas e esforçar-nos pela reconquista de nosso sentimento de orgulho por nosso país.

* Sonia Mara Ruiz Brown é doutora em Língua Portuguesa/USP. 1. Dados citados na reportagem “No país nº 1 em honestidade e no nº 72” de Diogo Schelp, VEJA, 2/4/2014 2. Dado presente no texto de Gustavo Ioschpe (“Enquanto isso, no Brasil”), publicado na revista VEJA de 2/4/2014

Pensando na brasilidade

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Por um suspiroe por um minuto

Por Maurício Andrade

PALAVRA

Por um breve instante, desses de um suspiro, não se veja aquém, nem além de ninguém, pois você não está mesmo. Não sinta medo, raiva, angústia, não julgue ninguém ou qualquer coisa que seja, mesmo que exista em teu pensar qualquer coisa assim. Por um instante, agora por mais um minuto, abra a mente para todas as possibilidades de paz, de vitória através do amor, apenas seja assim, por um minuto.

Por um suspiro e um minuto, não tenha inimigos ou aponte o mal que vem do mal, esvazie-se de todas as críticas contra si ou que tenha feito, pois, neste instante não existe nada além desse suspiro e um minuto. Nesse espaço tão sutil de tempo, perdoe agora, todas as palavras, ações e mesmo atrocidades, lembre-se, é um breve espaço de um suspiro e um minuto, não é tornar-se conivente com o mal, apenas perdoar com a paz que deseja ao mundo, sem sentenças, sem condenações, sem mesmo isolamento.

Por um suspiro e um minuto, perdoe-se, por duvidar da própria felicidade possível, perdoe-se por querer do mundo ao invés de ser para o mundo, perdoe por te ter permitido as dores, ou o pensamento obstinado de injustiça sobre si, pois, na verdade só há justiça, somos nós que somos injustos em nossas emoções, pensamentos e com nosso próprio corpo.

Por um suspiro e um minuto, peça amor, sabedoria e força para conseguir perdoar, o que quer e quem quer que seja. Por um suspiro e um minuto, abra-se inteiramente ao Amor de Deus, da Paz que vem da Verdade e permita-se acreditar, sem qualquer apego

aos desejos ou ao passado, aliás, perdoe todo o passado, suas imagens, emoções, e pensamentos que o mantém preso a um círculo sem fim, apenas perdoe.

Por um suspiro e um minuto, sinta-se abençoado para sempre, sinta-se amado para sempre, comungue o impossível para sempre. Por um suspiro e um minuto, seja gentil em suas opiniões, com o coração aberto, mente aberta e a existência aberta para novas ideias,

novas realizações, sem o crivo da história pessoal. Além do “vácuo

existencial”, preencha com objetivos, pensamentos e vida, o espaço aparente vazio. Que em um suspiro e um minuto, haja Paz e

Preparação contínuos, Esperança contínua, Verdade contínua e Força contínua, que é a característica dos pacificadores.

Por um suspiro e um minuto seja um pacificador. Em um suspiro e um minuto veja-se de mão dadas com todos os pajés e xamãs da Terra, cantando em volta do planeta, de mãos dadas com todos os desalojados em um novo lar de amor, que é o seu coração, a Casa de Deus. Em um suspiro e um minuto, que o som dos cânticos celestiais seja ouvido na pele, que inunde os olhos ao olhar para qualquer um, e num suspiro e um minuto, voltemos a ser crianças – e de mãos dadas com nossos filhos, as crianças índias, negras, brancas, asiáticas, não sintam mais dor, fome ou pobreza, em um suspiro e um minuto. Que nossos anciões sejam os novos sábios conselheiros das estrelas e finalmente consigamos estender pela eternidade esse suspiro e esse minuto.

Com amor e bênçãos, Maurício.

Por um suspiro e um minuto seja um pacificador. Em um

suspiro e um minuto veja-se de mão dadas com todos os pajés e

xamãs da Terra‘‘

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PALAVRA

Utopia Política: o Estado de DireitoPor Orivaldo Leme Biagi*

Pensar em “utopias possíveis” é como pensar em “finais em aber-to” – mesmo sabendo o que prova-velmente aconteceu, muita coisa ainda pode acontecer de qualquer forma. Mas pensar na possibilida-de de uma existência utópica e real ao mesmo tempo, apesar de ser praticamente impossível, permite reflexões interessantes.

Talvez a burguesia, tão desejosa de lucro e de domínio político, te-nha ajudado a desenvolver a maior utopia do possível: o Estado de Di-reito, com a democracia represen-tativa como elemento fundamen-tal. Com certeza pode ser um ins-trumento para justificar o domínio de classe sobre a sociedade, como os marxistas sempre insistiram, mas o Estado de Direito ganhou di-mensões maiores.

A rotatividade de poder, indiferen-temente às questões ideológicas dos grupos que assumem o po-der, permite que as mais variadas visões e práticas sejam aplicadas, permitindo as questões sociais possam ser pensadas e trabalha-das dentro de várias perspectivas, evitando a paralisia e a estagnação típica de quem fica muito tempo no poder; a possibilidade de defe-sa das diferenças sociais fica mais efetiva, pois é a lei que define os li-mites de atuação de cada grupo; e os grupos nas disputas sociais po-dem ganhar, perder, recuar, avan-çar, fazer acordos, etc., garantindo que as questões de seu tempo, quer mais avançadas ou mais con-servadoras, possam ser discutidas e aplicadas efetivamente.

O leitor pode perguntar: mas já não a estamos vivendo? A sua es-trutura está montada no Brasil des-de o fim da ditadura militar (1985), mas os grupos sociais ainda não se adaptaram totalmente a ela. Percebemos muitas posições, tan-to de esquerda quanto de direita, imensamente autoritárias - e nem quero discutir o conservadorismo religioso dos últimos tempos que, inclusive, tem crescido de maneira significativa com pregações “divi-nas” e visivelmente financeiras –, que utilizam de métodos ilegais ou enganadores. Em outras palavras, ainda não aprendemos a viver com as diferenças.Minha utopia é a possibilidade de viver com as diferenças e o único processo político possível para tal ainda é o Estado de Direito - uma utopia, sem dúvidas, mesmo que (aparentemente) possível.

* Orivaldo Leme Biagi é pós-dou-tor pela Universidade de SP

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Por Mario Sérgio de Moraes*Suassuna

* Delta9 é extraterrestre, publicitário e atua no Judiciário.www.undiverso.blogspot.com/

Por Delta9*

Quem pensaBRISA

Morreu o escritor - contador - teatrólogo - professor/espetáculo mais genial do Brasil, Ariano Suassuna. Por ele aprendi:

1. Que nosso país possui duas dimensões: o Brasil oficial e o real. O primeiro é uma farsa e o segundo responde a tragédia com o cômico.2. Que o raciocínio cria riquezas, mas não sai da miséria. Mas a imaginação ultrapassa as duas. Nos faz levitar ao impossível. É o galope dos sonhos.3. Que ir na contramão da linguagem normalizada, do puritanismo, da história oficial, do nosso pensamento colonizado é mais que uma obrigação. É uma inspiração.4. Quem quiser conhecer o Brasil e seu fato mais importante leia sobre a guerra de

Canudos. Ali o vencido sobrepujou o vencedor. 5. Vivemos num grande pais que tem a possibilidade --- ainda não

clarificada ou projetada --- de ensinar o mundo que pode conciliar a igualdade com Justiça Social. Meu melhor livro, além de Grande Sertão Veredas, é A Pedra do

Reino. Ali se mistura política, romance, filosofia, lingüística, cultura popular.

Quem pensa, PENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSA PENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSA PENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSA PENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSAPENSA... SAPEN... Até ficar penso.

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Lenda da música e ativista, Paul McCartney oferece uma narração poderososa neste vídeo. Assista agora para descobrir por que todo mundo seria vegetariano se matadouros tivessem paredes de vidro. Official “Glass Walls”:https://www.youtube.com/watch?v=ql8xkSYvwJs#t=25

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O impossível possível do que

você fazEu acredito no impossível possível, acredito em utopias, tanto porque elas começam primeiro na mente e no coração, o lugar onde nasce o

sentido da existência, e não é assim com qualquer realidade que se estabelece a partir de pequenas

sementes plantadas na realidade?

Por Mauricio Andrade

OUÇA Linha do Horizonte - Azymuth http://grooveshark.com/#!/s/Linha+Do+Horizonte/2MkKE9?src=5

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Mas vamos começar sem muita filosofia, porque é exatamente

assim que alguns sonhos ficam – na esfera dos sonhos. Fomos tão doutrinados ao longo da histó-ria pelos poderes que fazem de tudo para manter a versão oficial em vigor, que se tornou prati-camente “orgânica” a crença de que tudo é exatamente como se apresenta e não existem outros caminhos para isso.

É preciso olhar com olhos transfigurados de uma criança, que sabe que tudo é possível, pois, para a criança, tudo é real-mente eterno, tudo é possível ser alcançado, tudo é só questão de querer e acreditar. Quando os especialistas dizem que não é as-sim que as coisas realmente são, tudo cai por terra, e nos rende-mos, outra vez, ao infortúnio da repetição. Como diria Stephen King, “o inferno é a repetição” e Indo agora para as possibilida-des, gostaria de falar sobre ini-ciativa positiva, e esse é o termo em minha mente para o desper-tar de utopias, pois existem vá-rias, significativas e que podem mudar a versão oficial do “isso não é possível”.

A iniciativa positiva vem da percepção alerta, com o esforço conjunto somado a uma enor-me ação sem sentido com mui-to amor. Isso mesmo, uma ação sem sentido para a ordem esta-belecida, e a crença radical do “vamos compartilhar tudo”.

Em minha jornada pelo uni-

verso de pesquisa e trabalho hu-manitário, de uma antropologia prática para a alma e não para os museus, tenho cruzado com “pequenos gigantescos” exem-plos de iniciativa positiva, no campo humanitário e no campo da educação e produção das fer-ramentas para os despertares. Despertares que, como pano de fundo, são os alicerces para as novas realidades, novas possi-bilidades que se estabelecerão, pois, se estamos falando de uma nova consciência, estamos falan-do do fim da antiga, da mudan-ça de uma sociedade que não se aguentará mais sobre as velhas e desgastadas estruturas criadas em cima de ideologias políticas e sociais. O novo requer mente nova, coração novo e exemplos vivos do novo.

O desenvolvimento de proje-tos, aplicação e disponibilização para instrumentalizar mentes e corações, além, é claro de tornar acessíveis os instrumentos da utopia, comungam com o que o próprio sistema oferece. Utopia não é revolução é transforma-ção pela comunhão. Vejam, não é somente o que é feito, mas a demonstração de que pode ser feito, a partir de um esforço de-sapegado da crença nos obstácu-los. O impossível é tangível e real

para quem percebe que a atual realidade é totalmente irreal!

No meio do caminho algu-mas pessoas, a exemplo do que estou dizendo estão realizando e construindo esses alicerces. Quero citar alguns personagens e trabalhos que para mim, tem me tocado e com o melhor de suas capacidades dado um gran-de exemplo. – Conheci o Projeto Raiz das Imagens há algum tem-po. Em seu site se descreve: “Raiz das Imagens é um projeto que tem como objetivo conscientizar o indivíduo indígena através de uma auto reflexão, difundir seu modo de vida, ensinar os instru-mentos audiovisuais e documen-tar a realidade atual e as origens da cultura indígena bem como as mesclas na raiz cultural brasilei-ra, utilizando como instrumento de diálogo o cinema e ferramen-tas audiovisuais”. Tenho acom-panhado de forma orgânica esse trabalho e mais do que um pro-jeto, tem trazido luz a novas dis-cussões, por disponibilizar de for-ma bem acessível todo o acervo imagético, realizando discussões abertas e abrindo espaços (isso é importante) para incentivar um novo processo de construção da consciência. Na foto, Edu Yatri Ioschpe (no meio), Jade Rainho e Lelo Lourenzo, fazem parte desse

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projeto, e estão em processo or-gânico de gerar iniciativas posi-tivas, alimentando, construindo os alicerces e dando vida a uma utopia não ilusória.

Jade Rainho, no processo do projeto Raiz das Imagens, abriu também um novo caminho com um documentário sério, emocio-nante e poético, “Flor Brilhante e as Cicatrizes de Pedra”, onde Flor Brilhante é a matriarca de uma família de rezadores Gua-rani-Kaiowá, que há 40 anos so-fre violações de direitos ambien-tais e humanos devido à minera-ção em terra indígena. O projeto de Jade, inclusive vai ser projeta-do no encontro da Anistia Inter-nacional na Inglaterra, em junho deste ano. Essas construções são, a meu ver, rochas sólidas e não poderão ser destruídas com palavras ou intentos, pois estão sendo forjadas no fogo do cora-ção da vida, e como diz Jade Rai-nho, profética e poeticamente: “Juntos somos imensidão”. Aqui: http://www.florbrilhanteeasci-catrizesdapedra.com/

Outro exemplo vivo é a de uma pedagoga que vive no Mato Grosso, Dora Marta Martins, que a mais de vinte anos tem atuado

recer-lhes nova dignidade. Neste caso a utopia é o reconhecimen-to de toda uma comunidade, que ainda em condições lamentáveis, percebe que o mais importante é o amor e o apoio. Ainda virá daí uma grande mudança, em meio a todas as contradições sociais, políticas e apostas contra. Nas palavras de Dora: “Não pode-mos pensar em futuro, o futuro é agora, hoje. Precisamos fazer para o próximo, precisamos nos doar para esse próximo, precisa-mos dar nosso tempo para esse próximo futuro”.

A importância de quem você é, em meio ao todo que vive, não pode ser mensurado por palavras, mas cada ação sua, cada crença no impossível possível vai muito, muito além de todas as críticas, comodismo circunstancial, inér-cia e medo. Não, não sinta medo de acreditar de forma prática, o que não podemos é estarmos sozinhos, acreditar que realmen-te não há saída para esta socie-dade, mas a sociedade começa em nossas ações. Nossas ações, pensamentos e crenças atraem por ressonância os que creem e desejam da mesma forma. Ao experimentarmos o desapego do condicional, vamos perceber que em grande parte o que nos apri-sionava eram mais nossas crenças do que nossas condições, e afinal de contas não precisamos fazer nada sozinhos. A única coisa que faremos sozinhos é tomar a deci-são de acreditar e agir.

A utopia somos nós amando o outro através do que fazemos e fazendo junto com os outros, o que descobrimos na constru-ção desse novo paradigma de amor. A utopia é a importância de quem você é.

com a comunidade indígena, e li-teralmente tem abrigado muitos em sua própria casa, dando-lhes de comer, vestir, além de educa-ção e amor. Eu mesmo vi, vivi e tentei com o melhor de minha capacidade colaborar com esse projeto. Marta tem a Associação Morada do Sol, voltada também para a ajuda humanitária e as-sistência. Os índios a chamam de “mãe”, mas não é ao acaso, e não é um simples caso de as-sistencialismo, é um movimento consciente aonde vem primeiro o amor, e então o desenvolvi-mento de projetos, parcerias e assistência, que nem sempre é completamente possível, exata-mente por causa da morosida-de das legislações e ignorância das pessoas sobre a verdadeira realidade do povo indígena, eu mesmo vi por volta de trinta mo-rando por sua casa. Hoje, temos ali o embrião de um projeto para ajudar a índias adolescentes que por inúmeros motivos acabaram morando na cidade e entram num processo de prostituição para sobreviver. Com o projeto “Costurando Sonhos”, espera-mos que, com algumas máqui-nas de costura, amor e ajuda ofe-

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Em agosto, Bragança Paulista, cidade situada a pouco mais de 80 km

de São Paulo, a Feira do Amor, projeto do grupo Abraço Social, formado por jovens que buscam integração de diversos grupos vulneráveis na comunidade. A ideia do grupo é levar esperança e alegria aos mais necessitados. Segundo eles, a proposta é praticar o amor ao próximo.

A Feira do Amor tem como objetivo “vender” produtos como livros, CDs, revistas e outros itens com uma moeda de troca diferente. Ao invés de dinheiro, o preço deve significar uma ação positiva para o comprador: proporcionar um valor para a coletividade, gerar algum tipo de utilidade ou provocar reflexão.

1) Dance tango com um desconhecido! 2) Pinte uma frase legal na testa e dê uma volta na praça. 3) Feche os olhos e caminhe, (finja que está flutuando!) 4) Faça massagem em alguém que passar na rua!

Feira do Amor em Bragança Paulista

De acordo com Larissa Lopes, coordenadora do Abraço Social, “os produtos são “negociados” com ações que promovam descontração, como “dançar um tango com alguém”. A Feira do Amor busca promover a reflexão da sociedade sobre o valor atribuído aos bens materiais e disseminar cultura, facilitando o acesso a ela.

Bom dia com “pagamento” da Feira do Amor fresquinho pra gente!!! A ação da Rose Ferreira Moropo era “Vista-se do jeito que tiver vontade e saia por aí!” Essa ação vale para refletir a importância que a gente dá a vestimenta, quando na verdade o essencial está no nosso coração. A Rose pagou com estilo! E ainda mandou foto da criançada fazendo a festa com o livro novo.

O Abraço Social divulgou em sua rede social o saldo da primeira edição da Feira do Amor: cerca de 170 compradores, mais de 200 ítens vendidos (entre livros, cds e revistas), muito amor, carinho e alegria distribuídos.

Recado da equipe do Abraço Social: Não deixe de inspirar as pessoas ao seu redor!!!

1. Faça algo inusitado pra tirar o sorriso de alguém! 2. Abrace 20 pessoas! 3. Faça um desenho! 4. Conte uma piada!

Marina Menezes Larissa Soares

Foram mais de 200 ítens vendidos na Feira,

com muito amor

Para saber mais sobre a Feira do Amor e outra ações do Abraço Social, abrace aqui: www.facebook.com/abracosocial/

OUÇA Aquele abraço - Elis Regina http://grooveshark.com/#!/s/Aquele+Abra+o/4eIm4m?src=5

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Kalango#20 • 17

“De longe, de perto” é uma obra que reúne fotografias capturadas por Alline Nakamura entre 2003 e 2011, além de desenhos feitos por ela em 2002 e 2003 – trabalhos já apresentados em mostras e exposições, bem como conteúdo inédito. As imagens foram produzidas em lugares onde a artista passou: Atibaia, Ibitinga, Lins, São Carlos e a própria capital paulista. Alline Nakamura é mestranda em Artes Plásticas pela Escola de Comunicação e Artes (ECA/USP) e já realizou exposições individuais no Instituto Itaú Cultural, em São Paulo e na Galeria de Arte Archidy Picado/FUNESC, em João Pessoa, na Paraíba.

No livro , Alline convida o leitor a uma reflexão visual do seu entorno. Das paisagens tangíveis ao olhar, passando por estradas e ruas, até o interior das casas. Partindo de uma circunstância particular, a proposta é trazer para o público um livro que mostre o processo de reflexão visual da artista sobre locais, cidades e paisagens que fizeram ou fazem parte da sua memória e vivência: “A obra é um conjunto de imagens que tem a pretensão de provocar o leitor e fazê-lo compreender, de maneira mais compassada, não apenas o meu trabalho visual, mas estimulá-lo para uma análise mais profunda sobre o espaço urbano, auxiliando-o no desenvolvimento da percepção dos fatos, através do raciocínio visual, intuitivo e poético”, declarou a artista, que desde 2005 é participante do Clube Atibaiense de Fotografia.

Em projetos coletivos, teve trabalhos que passaram por vários pontos da capital paulista, por Bragança Paulista, Ribeirão Preto, Suzano, Limeira, Paraty (RJ), Monte Verde (MG), Belém do Pará e, até mesmo, na cidade de Contis, na França. Recentemente participou da exposição coletiva “Nada é sempre o mesmo! 13 fotógrafas”, realizada pela Incubadora de Artistas, em Atibaia. O trabalho teve apoio do PROAC.A

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OUÇA Tão Perto, Tão Longe - Lobão http://grooveshark.com/#!/s/T+o+Perto+T+o+Longe/lPPup?src=5

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Pé de Pássaro traz novidades para setembro

Pé de Pássaro: um encontro, um reencanto, um recanto para a música e a amizade. Gabriela

Gonçalves (SP) e Renato Torres (PA) seguem a tradição dos saltimban-cos que cruzam grandes distâncias, e voam além das próprias asas, no céu das canções em parceria. Este sabia-zeiro semeado – este Pé de Pássaro – procura ter suas raízes bem planta-das no chão para alcançar as alturas. A ideia é conhecer, reconhecer, discutir, produzir e tocar música brasileira com atenção voltada aos ecos de origem, evidentes no resultado da sonoridade que cada um entrega ao seu trabalho, e agora nesse trabalho em comum como artistas-articuladores entre a investigação, o desenvolvimento de caminhos e os encontros que se esta-belecem. O ponto de partida é o uni-verso da canção, que vislumbra outras linguagens no horizonte: poesia, artes cênicas, audiovisual. A palavra que tra-duz o vocabulário entre um caudaloso rio e uma altitude serrana, revelando raízes e presentificando-se no tempo--espaço entre artista e público.

O projeto já conta com apresenta-ções realizadas em Atibaia-SP, no Fes-tival de Inverno de 2013, no Acervo do Tuzzi, em Itatiba-SP em duas oportu-nidades (julho de 2013 e janeiro de 2014), em Belém no Sesc Boulevard

(setembro de 2013), além de passa-gens por espaços tradicionais da me-lhor música paraense – como o Espa-ço Cultural Boiuna e a Casa do Gilson – sempre arrancando aplausos e rea-ções emocionadas da plateia. Em Be-lém, o projeto aterrissou em solo fér-til: o Espaço Cultural Casa Dirigível, do Coletivo de Teatro Dirigível – terreno propício para novas investidas da du-pla em roupagem cênica, acentuando o uso de textos e a construção de per-sonagens que emergem do contexto das canções.

A apresentação contou com a par-ticipação dos músicos Armando de Mendonça (viola e acordeon) e Mau-rício Panzera (baixo). No começo do ano, a dupla fez uma apresentação no Puxadinho da Praça na Vila Madalena, em São Paulo-SP (janeiro de 2014). Em maio, uma pausa para o lançamento do primeiro livro do poeta, músico e compositor Renato Torres. Foram duas apresentações: dia 13, na Lapa, Rio de Janeiro e no sábado, 17, no Centro Cultural Sesc Boulevard, em Belém do Pará. O lançamento do livro coincidiu com o aniversário de 42 anos do au-tor. Em setembro Pé de Pássaro deve lançar seu novo trabalho. Tem fruto maduro pintando por aí. Na página ao lado, um pouco desse surpreendente trabalho. Fique de olho!

Dupla amadurece parceria e prepara novo trabalho

ARTE

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Pé de Pássaro no Parque Edmundo Zanoni (Atibaia- SP):https://www.youtube.com/watch?v=rrXK6_-G9Jg

Pé de Pássaro no soundcloud.com:https://soundcloud.com/pedepassaro

Entrevista no “Sem Censura”, no Pará:https://www.youtube.com/watch?v=EifgUP3a1Ag

Pé de Pássaro: notícia por onde passa

A mais recente apresentação da dupla, na Lapa, RJ, no lançamento do livro de poesia “Perifeérico”, de Renato Torres

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No final da década de 1990, quando acessar a internet ainda era privilégio para poucos no

Brasil, estudiosos debatiam a mudança que ocorreria dali a alguns anos na relação dos veículos de comunicação com o público. Ao contrário do tradicional modelo “emissor e receptor”, o segundo não seria mais um mero absorvedor de mensagens. Poderia, finalmente, debater a informação ou opinião, questionar, concordar, discordar, apresentar novos dados, e tudo isso dentro do próprio veículo que emitiu a mensagem. O tempo passou e pudemos constatar que a diferença entre a teoria e a prática foi brutal. Atualmente, os murais dos maiores portais, sites e blogs de notícias são dominados por trogloditas virtuais que, de maneira virulenta, espantam os que podem e querem debater com sobriedade. A grande mídia, que é dona desses portais, sites e blogs, tem como frear isso, mas de maneira cínica e irresponsável deixa o baixo nível reinar.

Nos últimos anos, tornou-se impossível para alguém com um mínimo de bom senso comentar qualquer fato nos murais e fóruns, pois, dependendo do que escrever, logo será atacado por trogloditas virtuais que passam o dia todo fiscalizando alucinadamente notícias postadas nas redes, especialmente as que tratam de temas relacionados à política. Em alguns desses sites, é informado o número de vezes que um internauta postou e aí três detalhes assustam: o primeiro é que há pessoas com 6, 7, 8 mil comentários, sendo que dezenas

em um mesmo dia (quanta ociosidade e falta de vida social); o segundo é que a quase totalidade das postagens dessas pessoas traz apenas inverdades ou ataques chulos a alguns políticos ou aos que ousam pensar diferente delas; e o terceiro é que muitas mensagens, além de ofensivas e inverídicas, são repetidas e utilizadas em diversos murais, ou seja, o valentão de araque usa do bom e velhor Ctrl C + Crtl V para multiplicar a sua sujeira.

Pensa que a insanidade para por aí? Espera que vem mais. Vários dos trogloditas virtuais criam inúmeros perfis falsos para dar a sensação de que há dezenas concordando com ele. Os exércitos fakes servem principalmente para bombardear quem, de maneira desavisada, entrou num mural e tentou dar uma opinião produtiva. Ao receber tantos ataques, é claro, a pessoa não volta mais. Não são dois ou três que adotam esse expediente, são vários. Até existem alguns mecanismos para poder se registrar e opinar nos grandes portais de notícias, mas é possível driblá-los com extrema facilidade (ainda mais para quem tem tempo de sobra) e criar quantos clones covardes e fascistas o internauta quiser.

Cinismo e omissão Graças a toda essa agressividade, a possibilidade de termos debates construtivos nos grandes portais, sites e blogs foi sepultada. Isso, por si só, já deveria ser motivo de preocupação para os que trabalham com a comunicação, mas há ainda um outro grave problema; sabendo

Trogloditas virtuais e grande mídia: TUDO A VER

Por Marcelo Rio

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da pouca capacidade de milhões de internautas distinguirem verdade de insanidade, os trogloditas virtuais já invadiram as redes sociais e com muita facilidade estão conseguindo fazer com que seu ódio e suas inverdades sejam compartilhados por pessoas de boa índole, mas que acreditam em qualquer absurdo. Lembram da história de que o governo pagaria um auxílio mensal a todas as prostitutas? Então, foi criada por eles, mas divulgada por milhares de inocentes (eufemismo) úteis.

Diante do caos instalado nos murais, chegamos à óbvia constatação de que os grandes portais, sites e blogs deveriam ser mais rigorosos com o conteúdo de seus usuários. Não basta apenas proibir palavras obscenas ou claras manifestações de preconceito; há várias formas de ser muito mais virulento sem recorrer ao “palavrão” e também há muitas maneiras de maquiar a intolerância usando de estratagemas dignos de Bolsonaros da vida. Portanto, caberia uma análise mais profunda do problema visando chegar à adoção de critérios que permitiriam a liberdade, mas não a libertinagem da expressão.

Antes que o lado cínico da mídia ou os trogloditas virtuais usem a desculpa de que impedir a baixaria doentia em murais seria uma forma de censura, cabe lembrar que regras fazem parte de qualquer sociedade civilizada. Quem realmente quer se expressar, encontra a maneira adequada de expor seu ponto de vista de maneira clara, sem necessitar da truculência, da mentira e da perseguição para inibir quem pensa de maneira diferente.

Velha mídia está um passo à frente Além disso, se houvesse seriedade por parte da grande mídia virtual, já teriam sido criados mecanismos mais eficientes para que um usuário pudesse postar apenas se estivesse devidamente identificado. Só isso já serviria para inibir os ataques dos trogloditas virtuais, sim, porque a “valentia” deles (que sempre começa e termina na internet) só existe porque eles se sentem seguros através dos vários perfis falsos que criam na rede.

As pessoas com capacidade de debater, ainda tem o consolo de existirem alguns endereços virtuais que, apesar de contarem com um número bem menor de internautas, propiciam a chance de opinar, concordar ou discordar, dentro de padrões de civilidade. Esses “locais” onde a pluralidade de ideias vem acompanhada do respeito, podem ser considerados como ilhas de decência, cercadas por um mar de sites, portais e blogs onde grandes e pequenos tubarões atacam ou contaminam os navegadores desatentos.

Quem acreditou que a internet revolucionaria o processo de comunicação e reduziria muito o poder de manipulação, hoje constata que foi utópico. A velha mídia sempre está um passo a frente e soube como usar a interatividade a seu favor. O que ela defende e o que ela ataca estão presentes mais do que nunca nesses murais, ou alguém acredita que se não estivessem, ela permitiria?

* Marcelo Rio é jornalista e professor universitário

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O nosso caminho é de sobrevivência para todo o planeta“A cidade não faz a pessoa saudável ou feliz. Isso é um engano e, quando eu sonho vejo que o planeta está doente”.

Grupo Yanomami em Demini (Foto: Fiona Watson/Survival International)

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Com a atenção do Mundo volta-da ao Brasil para o “jogo boni-to” é fácil de esquecer que para

muitos brasileiros a Copa do Mundo não passa de uma fachada cara. Um desses brasileiros é Davi Kopenawa. Um reverenciado Xamã entre os Ya-nomami, na Amazônia, e respeitado advogado dos direitos indígenas pelo mundo afora, Davi Kopenawa - “o Da-lai Lama da Floresta” - é um homem que vive equilibrando-se entre dois mundo bastante diferentes.

Nos momentos finais de prepara-ção para a Copa do Mundo, Davi pe-gou a estrada para falar sobre amea-ças cada vez mais viscerais contra Amazônia, pela disputa dos seus re-cursos - petróleo, minerais, terra e hi-droeletricidade. Com a ajuda da Survi-val International, eu falei com ele pelo Skype na sua primeira parada, em São Francisco, para falar de futebol, xama-nismo e sobre o espírito da história.

Meu caminho pertence à floresta“Eu nunca fui apaixonado por fute-

bol”, Davi me diz parecendo relaxado. “É um jogo, um jogo inventado para esquecer dos problemas - proble-mas na sua cabeça, problemas com pessoas brigando, criando dívidas, se preocupando com dinheiro e todos os problemas que as cidades têm”. “Futebol ajuda as pessoas esquece-rem isso, nesse sentido é uma coisa bonita. Mas eu nunca vou gostar dis-so porque meu caminho pertence à floresta”. “Os brasileiros sonham em ganhar, e isso é o que o governo brasi-leiro quer mostrar ao mundo - não as outras coisas.

Que outras coisas?“O que está acontecendo na Ama-

zônia, por exemplo. As pessoas não vêem porque é distante, mas existem muitos problemas na nossa terra, nas e nossas comunidades. Há garimpei-ros, pecuaristas, caçadores - todos os tipos de pessoas que invadem a nossa terra, causando danos e comendo os animais e a floresta. E há a atividade mineradora em larga escala. As notí-cias que chegam são de uma corrida

da caçada da mineração em larga es-cala. Se queremos, todos, viver bem, nós precisamos falar uns com os ou-tros”.

E, de fato, as ambições do gover-no brasileiro de abrir vastas áreas da Amazônia antiga para mineração e para a construção de hidroelétricas representam uma enorme ameaça para a floresta e seus povos.

Brasil, assim como o mundo todo, encara o desafio de equilibrar a entre-ga de melhorias para as populações urbanas em expansão com a dura realidade da mudança climática e da degradação ambiental. Mas, um ou-tro caminho é possível? Há algo que podemos aprender com os conheci-mentos indígenas de Davi e dos Yano-mami?

“Acho que as pessoas da cidade poderia aprender com nossos costu-mes e nossa maneira de olhar a Ter-ra. Mas existe uma falta de diálogo. Os líderes das cidades e os líderes das florestas precisam se unir e en-tender uns aos outros melhor, para que possamos mostrar ao povo da cidade nosso caminho, porque nosso caminho é de sobrevivência para o planeta inteiro. É preciso ter diálogo sobre natureza e espírito da Terra. O ocidente fala sobre progresso, mas um progresso baseado na destruição, em impulsionar os ricos - causando brigas e guerras. Se todos queremos viver bem, precisamos falar uns com os outros.Os antigos governos já se foram agora e foram esquecidos, e te-mos novos políticos, então é um novo caminho que precisamos tomar. Nós, os guardiões da floresta, precisamos falar com as pessoas brancas e elas precisam nos consultar e conversar conosco.”

Quando sonho, vejo que o plane-ta está doente

“Para muitos a parte mais impor-tante da história humana é o progres-so tecnológico e econômico. Com uma população crescente, que alter-nativas são possíveis para o desen-volvimento e o uso dos recursos na-turais. O mundo não-indígena pensa

diferente das pessoas indígenas, par-ticularmente as pessoas da cidade. Eles falam que é melhor ter desenvol-vimento, construir casas mais altas, ter mais e mais habitantes.Eles que-rem que os outros vejam o que estão criando e olhem com admiração. Mas qual é o propósito de construir mais e mais prédios altos quando não se preocupam com a terra?

As pessoas da cidade usam a ter-ra, as pedras, a areia, o petróleo, o gás, a tecnologia para construir suas cidades. Eles apenas continuam des-truindo, tudo porque isso os mantém ricos. Mas a cidade não faz as pessoas saudáveis ou felizes. É uma decepção, e quando sonho vejo que o planeta está doente.”

Nós precisamos cuidar da Terra“Nós precisamos cuidar da terra,

esse é o objetivo dos povos indíge-nas. Viver em paz e viver bem - e isso não está baseado em tirar os ricos da terra. Não é necessário tirar tudo da terra, deixe-nos trabalhar por saúde e felicidade. Se os Yanomani não es-tivessem trabalhando pela floresta e suas riquezas, a cidade já teria acaba-do há um bom tempo”.

A nova geração de políticos está ouvindo sua mensagem?

“Os grandes políticos estão alia-dos, por todas regiões, em cada terra - todos os governos estão juntos por todo o mundo. Não é só no Brasil, mas também Estados Unidos, Euro-pa, todos os lugares. E dessa aliança vem a exploração, eles apenas que-rem explorar. Realmente tudo em que estão interessados é mercadoria. Eles querem apenas extrair os recur-sos naturais da terra. Para eles, nós somos pessoas bem pequenas, sem importância”.

Então onde está o problema? É apenas uma simples questão de im-perativos econômicos ou há um pon-to mais profundo ?

“Para povos indígenas, parece que as autoridades, em todos os países, se perderam no caminho. Eles pensam sobre mais estradas e outras rotas que levam à uma política de destruição da

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natureza e do subsolo, de extração de pedras preciosas e de urânio para usar em suas máquinas de guerra”.

Guiado por espíritosQue insight seu xamanismo traz

sobre a luta entre cidade e floresta?Davi se aproxima da câmera.

“Vou explicar sobre Shpiri Xamanico - os espíritos antigos do Xamanismo Yanomami”. “Os Shapiri não são es-píritos como nas igrejas e religiões dos brancos, mas são os espíritos da floresta e da terra, e são cheios de luz. Mas você tem que estudar para conhecer o Shapiri. Precisa passar um mês tomando Yagoana, esperan-do a medida que o Shapiri se apro-xime. Durante esse tempo, você não pode comer ou beber muito, é preci-so silêncio absoluto - sem barulhos. Então você entra na fase de sonhos, quando isso acontece o Shapiri che-ga com uma luz muito forte, trazen-do com eles uma casa muito alta. E embora o Shapiri sejam pequenos eles têm a força para carregar essa enorme casa como se estivessem flutuando e a casa paira sobre nós, como a lua. É assim que aprendemos com espíritos. E tem muitos outros povos que também têm suas tradi-ções xamânicas. Mas você sofre para se tornar um Xamã. É um processo longo e difícil.”

“Isso pode soar como um velho clichê”

Para os ouvidos ocidentais, falar sobre “Yagoana” e viagens no mun-do dos espíritos começou, em muitos sentidos, a ser um velho clichê. Parte de uma narrativa simplista sobre co-nhecimentos originários que reduz a tradição, trivialidades gravadas em quinquilharias nas lojas à beira-mar.

O xamanismo verdadeiro, no Rei-no Unido, foi proibido pela Lei de Dro-gas de 2005, mesma que criminaliza a colheita e ingestão de cogumelos mágicos nativamente britânicos.

Davi, o fato do mundo moderno estar tão profundamente alienado desse modo de experiência xamâni-ca, que você descreve, explica que al-guns problemas da nossa sociedade e a natureza coexistam?

“Nossos ancestrais nos dizem que no início do mundo, o início do tem-po, os povos não indígenas tomavam Yagoana como nós. Mas eles criaram escolas e esqueceram das suas tradi-ções. Os mais velhos dizem que nosso povo, no passado, se perdeu, mas nos velhos tempos vocês usavam remé-dios como nós e eles eram importan-tes para vocês.

Mas na medida em que vocês perdem suas tradições, vocês come-çaram a fazer outros remédios, não baseados nas forças da natureza. Nós

Yanomani somos os últimos sobrevi-ventes dos antigos caminhos, moran-do nas longínquas nascentes do Brasil e tentando explicar aos não indígenas para que eles possam entender me-lhor o mundo”.

O caminho do conhecimento do planeta Terra

“Se você vier à minha aldeia, você começaria a ver o que o xamanismo realmente é. Veria que não é sobre se drogar, é algo completamente di-ferente. Ser um Xamã permite que você veja uma linda luz. Através dos espíritos xamânicos você vê o cami-nho do conhecimento e o caminho do Planeta Terra. Nós mantivemos isso e não queremos perder. Por esse processo nós curamos mulheres, crianças e idosos nas nossas comuni-dades quando estão doentes. E regu-lamos as forças da natureza. Quando fica muito quente, ou chove muito, ou venta muito, quando as marés enchem, nós xamãs cuidamos disso, tentando manter o equilíbrio para que o universo não caia sobre nossas cabeças. Vocês também tinham este conhecimento no mundo não indíge-na, mas perderam isso”.

Publicado originalmente em:https://ninja.oximity.com/article/O-nos-so-caminho-%C3%A9-de-sobreviv-1

http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/br/

Davi Kopenawa em casa, na floresta

Foto: Survival International

Nós precisamos cuidar da terra, esse

é o objetivo dos povos indígenas. ‘ ‘

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À primeira vista, o verbo “experimentar” usado como referência a um tipo de rela-ção entre pessoas, pode parecer, aos olhos mais criteriosos, uma expressão de mau gosto. Explicamos. Ao nos envolvermos na missão de escrever sobre as mulheres de Chico Buarque sabemos que estamos nos enveredando em um campo já bastante vi-sitado, sob diferentes olhares, múltiplos en-foques e intenções também diversas. Nosso intuito, porém, é mais lúdico que analítico no sentido político, linguístico ou artístico e, por isso, menos pretensioso. Ainda que tais elementos possam ser mobilizados para compor o nosso ensaio. Trata-se, sobretu-do, de dizer quem são essas mulheres que Chico desenha com palavras, sensações e símbolos ao ouvido e olhos de quem as experimenta, de quem as experiencia por meio da leitura ou escuta das canções. Ou seja, buscamos sintetizar uma descrição de uma mulher qualquer que conhecemos há um tempo. Conhecemos as pessoas por ler sobre elas, por conviver, por escutar sobre. As mulheres de Chico são também por isso nossas conhecidas. Fazemos imagens delas. Podemos vê-las caminhando, chorando, sor-rindo, pedindo, querendo, transando, ne-gando, odiando… sendo. Suas expressões, gestos, gostos e até o cheiro nos pode ser criado. Essa criação feita por nós, a partir da subjetividade de quem escreve, é o que o leitor vai encontrar neste texto.

Geni - Geni é, sem dúvida, das mulheres mais intensas, complexas e queridas de Chi-co. A narrativa que compõe a personagem de Geni é prato cheio para análises políticas, sociais, linguísticas. Na Ópera do Malandro, Geni é retratada como uma travesti que oni-ricamente se torna mártir de uma cidade. Popularmente, Geni é uma mulher que divi-

de sensações e opiniões. Há quem diga que se trata de uma prostituta que sempre foi tratada com desdém e humilhações pela so-ciedade. Há outros porém, que vê em Geni não uma prostituta, mas uma doce e alegre mulher, querida no mundo marginal, livre praticante de sua sexualidade e dona do teu

11 MULHERES DE CHICO:um breve ensaio sobre como as “experimentamos”

Liliane Santos de CamargosPaulo Gabriel Franco dos Santos

corpo, que se resigna diante de uma si-tuação que lhe causa asco para um bem maior: a redenção da cidade. A segunda parece a descrição mais alinhada com o que se expressa na canção. Geni apre-senta uma constância de personalidade de menina à adulta. Isso porque a música consegue exprimir, de alguma maneira, esta linha do tempo. Uma mulher boa, gentil, amável e amada no contexto do

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“submundo”. Na tal alta sociedade, porém, onde transitam os banqueiros, o prefeito e o bispo, Geni é a digna de apedrejamento por sua suposta libertinagem. Estes são os mesmos personagens que se prostram e im-ploram que Geni empreste sua fêmea dian-te da ameaça de aniquilação da cidade por canhões em um Zepelim de um magnata. Novamente Geni mostra sua genuinidade: prefere amar os bichos a se deitar com um

tou até sorrir”... mas a sociedade é injusta, Geni! E como se estivesse saindo de um pe-sadelo, passado de relance por segundos de uma doce realidade [ainda onírica], entra em outro sonho nebuloso: a realidade como tal.

Impossível falar de Geni sem mobilizar sua história. Geni vai se revelando nos seus atos, no seu gracejo de menina, no seu ato mártir com a gente da cidade, na inocência de achar que tudo estivesse resolvido, nas suas escolhas e rejeições.

Beatriz - Quando se escuta Beatriz, arma-se uma grande tenda ao redor e um universo circense, fantástico e fantasioso começa a se movimentar. Uma rígida artista circense. Ama a arte da acrobacia, “dança no sétimo céu e acredita que é outro país”, entrega-se total-mente ao ofício artístico sendo isto o que lhe proporciona alegria. Beatriz, porém, poderia ser representada pelo arquétipo do palhaço triste (Será que é mentira? Será que é comé-dia? Será que é divina a vida da atriz?). Bea-triz se lança a sua casa cenográfica, etérea, mas chora em um quarto de hotel. Não há outra possibilidade para Beatriz. Está imersa na vida circense e sabe disso. O que lhe resta é entregar-se de maneira total ao espetáculo e assim sê-lo. “Para sempre é sempre por um triz... Diz quantos desastres têm na minha mão?”, até que um dia Beatriz despenca do céu. E se despencar, se os pagantes pedirem bis, por visceral que é circo em sua vida, Bea-triz vai em pedaços repetir o ato.

Carolina - Carolina é a mulher triste, me-lancólica, carregada, indiferente a um mun-do que não seja o da sua dor. Trata-se de uma mulher que reflete já do exterior, exala pelos poros, seu abatimento, prostração, tristeza, amargura: “Nos seus olhos fun-dos”; “Seu pranto não vai ajudar”; “Nos seus olhos tristes”. Qual é o fardo de Carolina? Chico narra Carolina na posição de alguém que tentou, se esmerou em arrefecer a me-lancolia de Carolina (“Eu já lhe expliquei” / “Eu já convidei pra dançar” / “Eu bem que mostrei sorrindo” / “Eu bem que avisei” / “Mil versos cantei pra lhe agradar”), mas Carolina manteve-se indiferente e, por fim,

nobre homem cheirando a brilho e a cobre. Tão intenso quanto o asco de se dar luxu-riosa à nobreza é o tamanho do seu cora-ção e acaba satisfazendo coro que a queria atendendo aos desejos do nobre ameaça-dor. Ocorre que no ápice da sua inocência e pureza, julgando ter realizado o grande ato mártir e redentor da cidade e de si, “num suspiro alividado, ela se virou de lado e ten-

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já não sabe mais como explicar, o tempo passa e passam os esforços para desenhar um mundo lugar dócil para Carolina.

Nina - Nina é a mulher estrangeira, ao que tudo indica, russa. É cheia de joviali-dade, frescor, tem o seu interlocutor como confidente online. Não há amor arrebata-dor. Aliás, aparentemente nem amor há. Trata-se de uma amizade, por meio da qual Nina conduz ao outro a um mundo curioso, a se descobrir, desvelando sua cultura es-trangeira e se interessando pela do outro. (A valsinha que compõe a canção é uma das delícias que vale destacar).

Rita - a Rita foi vítima de uma sacanagem sem tamanho e ficou colérica, ou Rita é co-lérica e fez uma sacanagem sem tamanho. Pelo menos quando se trata de uma reação mais enérgica, Rita mostra a que veio. De qualquer forma, Rita é a que sai de casa, de-vastadora, e deixa o sujeito que fica arrasa-do, se lamentando por cada peça que Rita reclamou pra si e pelos estilhaços deixados. Rita é daquelas mulheres que não ficam no prejuízo por submissão, ao contrário, tira proveito, passa por cima, causa “perdas e danos”. O que resta, entre os cacos deixados por este furacão de mulher, é o lamento de quem conta a história daquela com quem um dia teve planos (agora levados) e um amor (agora morto de vingança).

Ana de Amsterdã - A vida de Ana não é fácil...Veio para em busca de um amor ver-dadeiro, buscava compromisso (“Eu cruzei o oceano, na esperança de casar”), resta a dúvida se havia uma promessa de casa-mento ou se foi um ‘tiro no escuro’ (“Fiz mil bocas pra Solano, fui bejada pro Gaspar”)... Mas o que encontrou foi diferente do que esperava, e seu destino mudou, até que a esperança se esvaísse (“Hoje sou carta mar-cada, Hoje sou jogo de azar”). Não dá para falar de Ana sem que lágrimas me venham aos olhos, teria encontrado (e se mantido) a prostituição por falta de opção? Ou neste mundo ela Se encontra e, por isto se resigna já que sabe ser o único mundo possível?

Joana Francesa - Joana vive um mundo muito diferente do de Ana, vida glamourosa já que é dona do Negócio... isto resta evi-dente em sua narrativa: ela não se lamuria de sua situação, mas aproveita o que está posto. Sabe-se que a personagem depois se enamora por um cliente, mas a narrati-va da letra não transparece isto. O que resta evidente é que ela se realiza em seu mundo (“Mata-me de rir, fala-me de amor”) e rea-liza o que seus clientes dela esperam: seja um consolo “Vem molhar meu colo Vou te consolar” ou algo mais “Vem, mulato mole Dançar dans mes bras”; “Vem, moleque me dizer Onde é que está”.

Rosa (de “A Rosa”) - De inicio, restam du-vidas se ela era a mesma que dividia o cara com Lia, da Ilha, e por isto, agora, vingava-se fazendo o mesmo que o sujeito com ela fizera. MAS uma analise mais delicada das duas letras mostra que não: são mulheres distintas, em historia e em comportamento.

Rosa consegue, de modo brilhante, levar os dois relacionamentos. É ‘meigo’ o modo como Rosa consegue enganar os sujeitos, por um tempo, até o momento que um des-cobre (“arrasa o meu projeto de vida”).

Neste desdobrar-se, comete pequenos deslizes (“às vezes me chama Alberto”, “me trouxe uma roupa justa”), por outras, seu desdobramento agrada (“pagou a nossa despesa”, “inventa cada carícia”). Fica claro

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que a brincadeira acaba, “Ah, Rosa, e o meu projeto de vida? Bandida, cadê minha es-trela guia; Vadia, me esquece na noite escu-ra”. Ela escolhe um dos dois, por fim? Não é possível concluir… Talvez tenha partido em outras aventuras amorosas.

Cecília - É uma das grandes musas. Um amor platônico (ou pueril). O homem ena-morado por ela chega a perder a fala quan-do dela se aproxima. Ele não fala em beleza física (diferentemente de Renata, onde fica claro que a contemplação é física, só).

Quem não quis ser a Cecilia de alguém que atire a primeira pedra (“Eu te murmuro, eu te suspiro, eu que soletro teu nome no escuro”). Em alguns momentos parece ser perseguição (“Te olho, Te guardo, Te sigo, Te vejo dormir”), ou a contemplação de quem conquistou a musa amada.

A paixão provocada por Cecília faz com que o artista não consiga usar seu dom para enaltecê-la (“Quantos artistas Entoam bala-das Para suas amadas Com grandes orques-tras. Como os invejo, Como os admiro”), é um sentimento inebriante, (“eu, que te vejo e nem quase respiro”) e tão intenso que não pode ser compartilhado com a sociedade (“Mas nem as sutis melodias Merecem, Ce-cília, teu nome Espalhar por aí”).

Sem dúvida é uma das mulheres mais en-volventes que Chico já cantou.

Renata Maria - Esta é a musa cuja contem-plação é física, estrita e pura. O mundo para ao redor dela (“pranchas coladas nas cristas das ondas, suspensas no ar”). Mas é uma paixão que não prospera, ficando apenas na admiração física... ele a quer, tenta abordá--la, mas as palavras ficam aprisionadas. Ele a espera, pensa que ela vai voltar, mas ela não volta (“Tão fulgurante visão, Não se produz duas vezes no mesmo lugar”). A paixão por Renata Maria poderia ter evoluído ao nível da de Cecilia? Não é possível saber, pois Re-nata Maria não retorna àquela praia, apesar da espera (“Dia após dia na praia com olhos vazados de já não a ver”).

Lily Braun - Lily é uma artista estonteante, provoca no seu admirador uma paixão tão avassaladora que ele já não pode mais viver sem tê-la. De outro lado, ele é tudo que ela desejou (“O homem dos meus sonhos me apareceu no dancing”): queria ela uma vida ‘estável’ que O Circo não poderia jamais fornecer? O desejo brota instantaneamen-te de ambas as partes: “Ele me comia Com aqueles olhos de comer fotografia”; “Fui perdendo a pose E até sorri, feliz”. Durante toda a temporada, ele voltou (“me mandava as vezes uma rosa e um poema”; “E voltou No derradeiro show Com dez poemas e um buquê”) e é quando ela vive seu maior dile-ma: ficar com ele ou ir com os seus: “Eu dis-se adeus Já vou com os meus numa turnê”. Como ele era o homem de seus sonhos, ela escolhe ficar. Neste momento, descobrem que nenhum dos dois era o que o outro que-ria: ele a queria esposa, e ela era uma artista o que não era possível esquecer ou se des-vencilhar. O que resta? Uma vida infeliz para Lily: “Uma rosa nunca Nunca mais feliz”.

As mulheres de Chico são encantadora-mente reais. Desde a “gringa” conhecida pela internet, até a musa inspiradora, pas-sando pelas mulheres mais comuns que qualquer um de nós nos deparamos pela vida, todas elas são descritas, desveladas, compartilhadas de maneira poética. Os sím-bolos presentes nas músicas nos alertam para a imediata identificação. É inevitável a composição dessas mulheres por parte de quem ouve. Compõe-se os corpos, os risos, as expressões, os gestos, a vida, o cenário. Por vezes, as relacionamos com mulheres das nossas vidas, sejam elas reais, ou per-sonagens de filmes e livros. De todas as for-mas, são mulheres conhecidas que nos são reapresentadas com todo o requinte artísti-co e com um convite a nos encantarmos e deliciarmos com seus mistérios.

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MÚSICA

TETÊ ESPÍNDOLA E CONVIDADOS

A cantora esteve no SESC Osasco, cidade da Grande São Paulo, na noite de 14 de junho, para mais

uma apresentação da turnê do álbum duplo formado por “Pássaros na garganta” (1982) e

“Asas do etéreo“, lançamento do selo SESC.

Por Marcelino Lima

OUÇA Cuiabá - Tetê Espíndola http://grooveshark.com/#!/s/Cuiab/3RoKrg?src=5

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FOTOS: MARCELINO LIMA

TETÊ ESPÍNDOLA E CONVIDADOS

OUÇA Cuiabá - Tetê Espíndola http://grooveshark.com/#!/s/Cuiab/3RoKrg?src=5

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Tetê abriu o repertório com “Fio de Cabelo”, sozinha, no palco. Ao conversar

pela primeira vez com o público, desejou boas vindas a um show de “tons e timbres”. Então, literalmente cumpriu o anunciado: interpretou as demais 16 canções ao seu consagrado estilo, explorando toda a virtualidade da voz campeã do Festival dos Festivais da Rede Globo, em 1985. A plateia, então, curtiu uma variação de pios, silvos, uivos, gramilvos, cricris, assovios, coachares e outros sons sibilantes ora intensos, ora suaves, vocalises que libertariam do âmago dela não apenas aves bem como sapos, pererecas, jacarés, grilos, borboletas, vagalumes, cigarras e outros seres e elementos característicos e presentes tanto em seu meio pantaneiro-cuiabano-diamantino, como no folclore nacional, gosto de amora brava, zum de abelha em voo de araras…

Tetê tirou e soltou no SESC todos os bichos que tem em sua sala,

têm sua cara, sua exuberante natureza. E abriu um mapa dos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para reverenciar cidades de ambos, convite para uma viagem. Visceral sem deixar de ser doce, espontânea ou provocativa, com bailados e sua peculiar gestualidade, entoou desde cantigas habitadas por elfos, salamandras e orixás ao sertanejo lisérgico, tal qual ela mesma classificaria mais tarde “Diga não”, que compôs com Arrigo Barnabé. Nas letras dela e dos parceiros como Hermeto Pascoal, Marta Catunda, Carlos Rennó, o mano Geraldo Espíndola e Bené Fonteles, entre outros, cabem lugares como Ibiporã, a fauna e flora elementares e populares. Nesta alquimia se juntam tudo o que contiver uma galáxia ou se acolhe numa casca de noz; o amálgama faz-se de orquídeas, acácias, buritis, lisas brisas, palavras, palavretas, brisoletas, asalegres, pelepétalas, pacus, furrundus; em resumo, ela corporifica tudo isso: é triz que acende chamas e xamãs, seiva

viva, rios de fartas águas e veios poéticos; volátil e cicatriz; motriz que emana em todas as cores; insólita lagarta que ao manejo da craviola transmuta-se mais do que em ponto de luz; crisálida da qual irrompe e ascende interestelar, atriz. Com as bênçãos de Tupã!

A filha ilustre de Campo Grande (MS), portanto, por si só já seria atração. A escala dela em Osasco, entretanto, ainda contou com as presenças de luminares cujos atributos já são sinônimo de escolas: Félix Wagner (piano e vibrafone), Bocato (trombone) , Paulo Lepetit (baixo), Adriano Magoo (acordeon), Jaques Morelenbaum (cello), e Dani Black (voz) . A direção do show coube a Arnaldo Black e à filha, Milene, para a qual dedicou “Menina”.

Aquele que talvez seja considerado o maior sucesso da carreira de Tetê Espíndola, da lavra do marido Arnaldo Black e de Carlos Rennó, por sinal, estava reservado ao bis de encerramento. “Escrito nas

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Estrelas”, vencedora em 26 de outubro de 1985 daquela edição do Festival dos Festivais, bateu asas em uníssono das gargantas de todos os fãs, há pouco minutos imersos em um brejo para imitar a saparia em um exercício vocal para fazer fundo a uma das músicas: se nada mais ficou em falta para tornar o ambiente ainda mais efluvioso e o show marcante, restavam os merecidos aplausos. Em pé!

O programa do show do SESC Osasco contém um texto de Tetê Espíndola sobre Pássaros na Garganta e “Asas do Etéreo”, que abaixo reproduzo: “Todo mundo me conhece com a cantora de voz aguda. Realmente, em Pássaros na Garganta (1982), eu estava no auge de minha tessitura de soprano. As minhas composições tinham um ‘cheiro de mato’ quando comecei a explorar sons da natureza através das colagens.

Felix Wagner tocou piano e vibrafone

Jaques Morelenbaun ficou com o cello

O repertório do show do SESC Osasco teve 17 músicas, além do bis especial

O trompetista Bocato ajudou com seu instrumento Tetê Espíndola a libertar pássaros e outros animais

Dani Black

E hoje, em Asas do Etéreo, sinto a maturidade do meu lado de instrumentista. Escolhi 12 músicas especiais e inéditas que compus durante estes anos* e convidei amigos que fazem parte da minha trajetória. Para cada composição um tom da escala musical, um timbre de instrumento diferente e uma emissão de voz única, onde a novidade é o contralto.”

* Os amigos mencionados por Tetê Espíndola, além dos já citados no texto acima, são: Egberto Gismonti, Duofel, Almir Sater, Trio Coroa e Teco Cardoso.

Bocato, Félix Wagner, Tetê Espíndola, Jaques Morelenbaun, Adriano Magoo e Paulo Lepetit

Saiba mais sobre Tetê aqui: http://www.teteespindola.com.br/

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Tatá Aeroplano, músico, compositor e produtor, lança seu segundo disco intitulado

“Na Loucura & Na Lucidez”, com produção de Dustan Gallas e Junior Boca

anuncia seu segundo álbum soloTATÁ AEROPLANO

anuncia seu segundo álbum solo

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anuncia seu segundo álbum soloTATÁ AEROPLANO

anuncia seu segundo álbum solo

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Dezembro de 2013. Dustan Gallas, Junior Boca e Bruno Buarque. O mesmo time que gravou e produziu o primeiro disco de Tatá Aeroplano se reuniu novamente no Estúdio Minduca para gravar, produzir e criar o álbum “Na Loucura & Na Lucidez”, segundo trabalho do artista. O novo trabalho foi feito sob

forte inspiração coletiva. Todos entrosados, tocando juntos. Boa parte das canções que estão no disco foram gravadas ao vivo, tudo valendo. A canção “Na Loucura”, que abre o disco é o primeiro take de voz, violão, bateria, baixo e guitarra feito na gravação. Se a vida é sonho, a noite é delírio. E é na noite, entre discotecagens, amores, shows, biritagens e encontros filosóficos boêmios que Tatá Aeroplano busca inspiração para suas letras e melodias. Está tudo ali em “Mulher Abismo” e “Entregue A Dionísio”, esta em parceria com Meno Del Picchia, que dividiu apartamento com Tatá por um período. Certa manhã, Meno deixou uma poesia em cima da mesa, depois que os dois passaram três dias freqüentando o festival “As Satirianas” na Praça Roosevelt. Tatá pegou o violão e escreveu inspirado no poema, a letra e a melodia da canção.“Na Loucura & Na Lucidez” é o fim e o começo do amor ... a dor do fim de um relacionamento... quandose percebe que não existe mais nada a fazer a não ser se jogar no abismo da loucura para curar aschagas do amor... voltar à lucidez e recomeçar tudo de novo.

Com a palavra, Tatá Aeroplano:“ As canções desses discos foram feitas de maneira muito intuitiva. Quando eu comecei a reunir materialpra entrar em estúdio, me deparei com uma canção que me tocou profundamente, era do início de 2013,mas não lembrava de quem era a letra, tinha certeza que não era minha. Passei uma semana tentandoencontrar o autor, pensei que era de um amigo próximo, mas não era. Fiz pesquisas de todos os tipospela net e não achei nada, mandei a música para os amigos parceiros e nada também. Foi então que eucheguei numa mensagem recebida na minha fanpage de um rapaz chamado Alan Brasileiro. Ele tinha meenviado a letra dia 05 de janeiro de 2013. Lá pelo dia 10 de janeiro quando voltei de viagem, vi a letra emfrente ao computador, estava com o violão no colo, pintou inspiração e gravei ela. Foi um presente e tantopara mim. Não podia deixar também de firmar mais uma parceria com o poeta arrudA. Tive o privilégio de colocar a melodia na poesia “Onde Somos Um” e chamei minha amiga e compositora Bárbara Eugênia para cantar comigo.

“Na Loucura & Na Lucidez” foi produzido por Dustan Gallas e Junior Boca. Gravamos com o BrunoBuarque no Minduca e o Dj Marco tocou com a gente em duas faixas: “Mulher Abismo” e “Entregue ADionísio”. Eles são parceiros de boa parte das canções do álbum”. O disco será lançado nos formatos CD e Vinil, e distribuição digital pela One RPM. O trabalho está disponível para download gratuito no site do artista, no endereço www.tataaeroplano.com

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SOBREVOOQuando fiz faculdade, eu gostava muito do Jefferson Airplane (Jefferson Airplane foi uma banda estadunidense de rock psicodélico formada em São Francisco, nos Estados Unidos, no verão de 1965) e uma amiga começou

a me chamar de Aiplane (eu tinha um visual meio sixty).

A música entrou em minha vida desde criança. Minhas memórias são todas pautadas pela música. Tenho uma história muito louca. Com uns 3 anos de idade me lembro de sair de Atibaia pra Bragança com meu pai, minha mãe e um tio – e tocou 3 músicas que eu nunca vou me esquecer. Meu pai comprou um single do Raul (lado a lado B) e tocou essa música (Há 10 mil anos atrás). Eu compus a primeira música aos seis anos, eu fiz a melodia na cabeça - veio a letra eu tava lá no calçadão, no Guarujá.

Essa coisa com música é uma coisa instuitiva, desde pequeno. Nunca fui de pegar um instrumento, isso de fato aconteceu aos 18 anos, quando aprendi a tocar violão. E eu guardava... Escrevia a letra, a melodia eu guardava na cabeça.

Em São Paulo, desde que eu comecei (em 1997), definitivamente vi que iria viver de música. Hoje eu conheço muita gente. Existe uma coisa em SP, uma integração entre as pessoas que estão fazendo música que é uma coisa que remete muito ao interior. Tem gente de todos os lugares do Brasil. Sou amigo do Flanders, do Vanguart – eles são de Cuiabá. Agora tem uma galera de Uberlândia, Porta Borboletas. O Stanilau e o Moisés estão vivendo em SP. A Bárbara Eugênia, grande amiga, morou em Atibaia um tempo e no Rio, agora está em SP. A Tulipa mesmo, conheci há mais de 10 anos, é de São Lourenço e foi morar em SP. O convívio com essa galera toda ajuda mesmo, é um momento muito bacana, de muita gente fazendo música. Isso tá rolando no mundo inteiro e é muito benéfico pra todos.

Tom Zé. Vou te contar... sou muito fã do Tom Zé, um dos caras muito importantes em minha vida. Foi um presente... Quando eu conheci a obra do Tom Zé foi daquelas bombas de informação que a gente recebe. Eu comecei a ir aos shows, lá por 98 (fico até emocionado). Sempre fui muito fã e só pinta essa história de fazer uma música xingando o Tom Zé. Quando a gente se encontrou (ele, eu, o Galo e o Marcelo Segretto) ele disse: “quero que vocês façam uma música, entrem lá no Facebook e me xinguem mesmo”. Aí eu disse: pô Tom Zé, é impossível!

Mas o mais fantástico de tudo isso é que foi uma aula pra todo mundo. A liberdade que ele deu pra gente chegar lá, com os arranjos – com um cara que é uma referência e trocar, conversar – é um presente mesmo. A gente tem vontade de trocar ideia com ele, sempre. O bacana é essa coisa assim, a gente tem que ser muito centrado e não pode parar, é uma dádiva continuar conectado, abrindo os canais. Dá pra chegar e envelhecer bonitamente fazendo música, o que é uma coisa maravilhosa...

“Tudo parado na city”. Essa música tem uma história meio doida. Eu compus em 2005. Sempre ando com um gravadorzinho de fita k7. Cheguei em casa, compus (na época com a banda Jumbo Eletro) e pegava o som que eu compunha e fazia tipo um sampler no palco... O show acontece. Voltei pra casa, no dia seguinte, fui pegar o gravador pra gravar a música e cadê a fita k7? Ela tinha desaparecido, eu só lembrava do “parado na city”, eu não me lembrava mais da letra. Um dia caiu uma chuva e saí pra ir pra casa, a pé, subindo a Teodoro Sampaio. Lembrei da música! Repesquei a música do insconsciente e fui cantando ela, peguei o violão e peguei de novo...

Engraçado, essa coisa de sentir a cidade. Eu vivo intensamente, ando muito a pé, faço tudo, ando quilômetros e comecei a sentir a cidade com os nervos à flor da pele. A energia da cidade mudou, a frequência das pessoas mudou também. Sempre andei muito tranquilo na cidade e, de um tempo pra cá, comecei a sentir uma energia diferente, alguma coisa cósmica aconteceu, isso não só em São Paulo, é no mundo inteiro. Chegamos num ponto em que precisamos pensar na humanidade, respeitar a natureza, esse é o primeiro ponto. Minha cabeça, hoje, é pra viver e entender o mundo. Não sei explicar muito bem, mas o caminho é respeitar a natureza.

SOBREVOO

http://porcasborboletas.tnb.art.br/http://www.vanguart.com.br/

http://www.barbaraeugenia.com/site/http://www.tuliparuiz.com/

Por Osni Dias

Entrevista concedida em novembro de 2013.

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Por Fábio Sanchez

O desejo oculto em

Severina Xique Xique

De todas as vontades insanas e reprimi-das, o bico do seio da mãe é de longe o segredo mais intrigante. Há quem

atribua a perda da memória dos prazeres da primeira infância a um positivismo biológico (o hipocampo cerebral não está totalmente for-mado), mas o bico do seio da mãe não existe apenas em si, nem só naquele momento da primeira mamada. Ele é também uma refe-rência, um totem fantasmático, um ícone que Freud transformou em pista para o entendi-mento do humano. Ele está aqui e agora, pre-servadíssimo e viçoso, cutucando nossa boca em qualquer evento que, em nossa epopeia pessoal, sugira prazer. Ou melhor dizendo, gozo (que também está no desprazer, como comprovam mazoquistas e histéricos).

Por essa e outras, como a sugestão de que a psique feminina se forma baseada na inve-ja do pênis, pesa sobre Freud a acusação de pansexualismo. Mas o tempo não passa sem lembrar a todo momento que somos, sim, se-res desejantes em tempo integral. Não há a menor dúvida a respeito dessa constante em nossas vidas. O que muda é, isso sim, a forma de tentar escondê-la, ou revelá-la.

O filósofo Slavoj Žižek refere-se à assertiva da série de televisão Arquivo X (“a verdade está lá fora”) para garantir que é impossível esconder qualquer ideologia ou característica da cultura, e principalmente os desejos. Está tudo aí explícito no dia-a-dia, na arte, na ar-quitetura, nos hábitos, até no jeito de lavar louça ou na configuração dos vasos sanitários

Severina Xique-Xique - Genival Lacerda http://grooveshark.com/#!/s/Severina+Xique+Xique/3UCJ6a?src=5

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(El acoso de las fantasias, Ed. Akal, 2011, pg . 9 a 11).

Essa ideia de que nossos desejos não po-dem ser escondidos me veio ao ouvir um dos mais recentes trabalhos do músico Nando Reis, o “Bailão do Ruivão”. Ele canta a clássi-ca “Severina Xique Xique”. Para quem é jovem demais para ter frequentado os comícios das Diretas ou do Fora Collor, explico que este é um baião (tendendo ao xote) que conta a his-tória de Pedro Caroço. Interesseiro, ele passa o dia “fazendo cena” para a moça do título porque está “de olho na butique dela”. Segun-do a letra, a butique, provavelmente uma loja com produtos de beleza, fatura bem e tornou Severina interessante, ela que, quando crian-ça, jamais chamou a atenção masculina. Mas acontece que todas as falas intercaladas de quem canta (e Nando Reis não é exceção, pois também exercita essa malícia iniciada já pelo cantor original, Genival Lacerda) deixam bem claro que a butique que gera o interesse em Severina é outra coisa, é algum prazer carnal não dito mas o tempo todo sugerido por Ge-nival (“Você querendo um sócio, olha aqui seu Babá”) e Nando, ainda menos sutil (“Eita buti-cão gostoso...”)

A utopia que move os homens na direção dessa mulher, e que atrai não apenas o per-sonagem mas acaba por envolver os próprios cantores é evidentemente esse ícone que Freud não teria receio em incluir na categoria de seios de mãe. Um prazer ancestral, incons-ciente, que resolve e dá sentido à plenitude do mundo, todo o mundo pode parar ali. Mas esse gozo, e aí é que está a questão, não pode ser dito. É um prazer proibido, que pode ser apenas emulado, que só tem graça quando subentendido. O que é dito explicitamente, o que está autorizado na letra da música, é o mau caráter de Pedro Caroço. Todos sabem, todos cantam de modo a deixar claro, que ele quer fornicar. Mas essa intenção é reprimida em favor de tornar moeda corrente o golpe do baú interesseiro. Cabe a pergunta: por que o mau caratismo é permitido onde o sexo é ex-pulso?

Outro caso, este do fim de maio: em Los Angeles, uma das maiores polêmicas do ano foi apontada pelo colunista do jornal “NY

Post”, Emily Smith: a Motion Picture Asso-ciation of America (MPAA), responsável pela (auto)regulamentação do cinema nos Estados Unidos, proibiu o pôster do filme “Sin City 2: A Dama Fatal”, de Frank Miller e Robert Rodri-guez. O motivo: “a nudez – curva abaixo dos seios e o círculo dos mamilos/aréolas escuro visível através da camisola.” Detalhe: a atriz Eva Green aparece na foto, belíssima e de fato com o bico do seio insinuado, segurando um enorme revólver. Sim, nenhuma palavra quan-to ao revólver no país onde já houve dezenas de massacres a escolas infantis (veja o blog de Rodrigo Salem, do Yahoo! Cinema, e a imagem no final deste texto). O bico do seio não pode, mas o revólver, tudo bem. Há algo errado na libido dessa indústria. A menos que o revolver seja um emblema fálico.

Aos que ainda acham que, no caso de Seve-rina, essa ocultação do desejo pode ser ape-nas uma herança da nossa tradição católica, ampliemos a análise e vamos entrar de sola no assunto que nos interessa a todos, o Jornalis-mo e a Comunicação: Tomemos por exemplo um caso de divórcio entre a “opinião pública” e a mídia: o affair entre o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, e uma estagiária da Casa Branca, Monica Lewinsky. Clinton dei-xou a presidência de seu país em 2001, após um longo e tumultuado escândalo em que se verificou que ele manteve encontros sexuais com a estagiária, em ambiente de trabalho. Neste caso, a ação condutivista (caracterizada pela cobertura ostensiva, intensa, exagerada, com viés partidário e portanto oposicionista) causou o que os norte-americanos chamaram de “obsessão da mídia” pelo caso, num exces-so de conteúdo divulgado que gerou, da parte do americano médio, uma clara redução da credibilidade na imprensa como produtora de informações equilibradas sobre este assunto.

Uma pesquisa publicada pelo Media Stu-dies Center, instituição norte-americana de estudos sobre Comunicação, no auge da co-bertura sobre o caso, no final de 1998, indicou que apenas 18% da população acreditavam que os repórteres que cobriam o affair e suas implicações teriam padrões éticos “altos” ou “muito altos”. E Clinton deixou o governo com a aprovação de seis em cada dez norte-ame-

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ricanos. Ainda hoje é amado pelos eleitores, tornou-se um dos palestrantes mais bem pa-gos do mundo e foi solicitado pelo atual pre-sidente, Barack Obama, para atividades con-juntas quando este vivia sua própria crise de popularidade, em 2012.

O que aconteceu aí? Para Žižek, a mídia perdia tempo ao insistir que Bill Clinton men-tia, porque desconsiderava a subjetividade do receptor e sua relação com o “grande Outro” (conceito de Lacan), uma entidade percebida por todos como um tipo de tutor não-dito, ex-tremamente autoritário e presente. E como esse “grande Outro” é um produto de nossa própria mente, faz o que achamos que deve fazer. E achou por bem não se importar com a escapada de Clinton. Por mais que uma no-tícia espelhe a moral vigente, jamais poderá vencer o fato de que as pessoas oprimidas por esta moral podem intima-mente, ou inconscientemente, discordar dela, dependendo de onde situa esse “grande Ou-tro”. Se a resposta à pergunta “o que quer o outro?” permitir um desencontro entre a moral e a libido, esse desencontro será aceito pelo sujeito. A Psi-canálise admite que frequente-mente ocorre a aceitação des-se desencontro (embora não como conflito), demonstrando novamente a comunicação não-dita que permeia a relação da mídia com seu receptor: São estas as pala-vras de Žižek:

A maioria das pessoas pensava que havia qualquer coisa entre eles, que Clinton men-tia quando o negava; contudo, apoiavam-no. Apesar de suspeitarem que ele mentia quan-do negava ter tido uma aventura sexual com «aquela mulher», Monica Lewinsky, ele men-tia com toda a sinceridade, com íntima con-vicção, acreditando de certo modo na própria mentira, levando-a a sério. Esse paradoxo deve ser, em si, levado a sério, pois designa o elemento-chave da eficiência de um enuncia-do ideológico. Por outras palavras, enquanto a

mentira de Clinton não era apreendida/grava-da pelo grande Outro, enquanto lhe era possí-vel salvar as aparências (da «dignidade» presi-dencial), o próprio facto de nós sabermos (ou presumirmos) que ele mentia servia de fun-damento suplementar para a identificação da opinião pública com a sua pessoa – o facto de a opinião pública saber que ele mentia e que se passava efectivamente qualquer coisa entre ele e Monica Lewinsky, não só não quebrava sua popularidade, como participava até acti-vamente no seu crescimento. Nunca nos deve-mos esquecer que o carisma do Líder se apóia nas próprias características (sinais de fraqueza e de «humanidade» comum) que podem pa-recer minálo. (ŽIŽEK,O Sujeito Incômodo. Ed.

Relógio DÁgua, 2009, pg. 328)

Estamos, portanto, sob o dogma cínico de um prazer condenado a ser silencia-do, uma utopia para sempre muda, uma butique conde-nada a ser sempre um geni-tal insinuado como uma loja de produtos de beleza, mas que já não é segredo para ninguém. Isso está aí todo o tempo. Os gestos obscenos de masturbação na coreografia de Michael Jackson, que não causavam escândalo porque, afinal, se trata de um Peter Pan moderno. Os beijinhos

entre jogadores de futebol após o gol, sabe como é, a emoção é forte. Os selinhos entre cantoras e atrizes nos programas de auditórios ou nas cerimônias de premiação, apenas uma provocação ao mainstream. Ou seja, está tudo ali. Mas não está, não pode estar, e estamos condenados pela indústria cultural ao pudor . Só que não. A verdade teima e sempre estará também ali, como que a dizer que toda utopia vale a pena.

* Fábio Sanchez é jornalista e mestre em Di-vulgação Científica e Cultural pelo Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) e pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Uni-camp).

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“Eu canto a música brasileira”

Frank Aguiar

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Por Monika Schulz*

Em agosto a 8° Festa Nordestina de Atibaia contou com a participação do ilustre “cãozinho dos teclados”, Frank Aguiar. Cantor, compositor e instrumentista, Francineto Luz de Aguiar nasceu em setembro de 1970 em Itainópolis, no Piauí. Formado em Direito e pós-graduado em ciências humanas, é ativo em sua carreira política. Em 2007, assumiu o cargo de Deputado Federal por São Paulo, sendo eleito com 144.797 votos. Aguiar lançou 24 álbuns, 3 coletâneas e 2 vídeos. Gravou seu primeiro disco em 1992 e em 2012, junto à Universal Music, ofereceu ao público um CD e DVD gravados em sua própria residência, em São Bernardo do Campo, que contou com a participação de grandes artistas como Tato, do Fala Mansa, Reginaldo Rossi e Beto Barbosa. Participa de vários meios de comunicação e apresenta o seu programa “Frank Aguiar e Amigos” na Rádio Imprensa e na Rede TV. Antes de seu show, o artista falou com a reportagem da Revista Kalango. Percebemos a presença de diversos gêneros musicais que fazem parte de seus programas, shows e gravações de CDs e DVDs. Fale sobre essa diversidade. Eu canto a música brasileira, mas com as características da personalidade do meu show. Por exemplo, uma música de uma banda de Rock, eu a transformo no meu estilo e assim as pessoas vão lembrar do Frank quando ouvi-las.

Quais músicas não podem ficar fora de seu show?Se eu não cantar músicas tão gostosas como a Moranguinho do Nordeste, a Prenda e a Mulher Madura, não têm como fazer o show.

Como foi a preparação do seu novo CD, Safadin?Sempre é uma pergunta que faço e é uma resposta que vem do público, dos meus fãs. Eu converso muito com eles na Internet e fico por dentro do que gostariam que viesse no novo trabalho. E eu não sou bobo de não respeitar os sentimentos. Ultimamente eu preparo assim, combinando a opinião deles com a qual me identifico.

Além de cantor, compositor e instrumentista, você é pai de família e possuí uma vida política. Como consegue conciliar todos estes momentos?Eu concilio bastante, não é fácil administrar a política, a família e a parte artística. Como hoje, aqui se encontram a minha filha Luma, meu filho Breno e Ítalo. Todos vieram para terem convívio comigo. Aproveito os shows que mais gosto e que são perto de casa, para eles verem como é o trabalho do pai. O que te motivou seguir a carreira política? Eu venho de uma família política, onde pais, irmãos e tios sempre participaram. Acho que não podemos ficar reclamando e dizendo que só tem político corrupto. Temos que identificar os problemas e ver o que está precisando fazer. Em 2014 quais são os seus objetivos na carreira política?Continuo defendendo a educação e a cultura brasileira. Fazer manifestações culturais, saúde e segurança são critérios muito importantes e que precisam melhorar.

* Monika Schulz é acadêmica de jornalismo da FAAT Faculdades

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Há coisas na vida que não tem preço e, para todas as outras, nem sempre serve o cartão de crédito. Em 19

de julho o Ateliê Lampros realizou uma exposição dos trabalhos de seus alunos, em parceria com a Global Papelaria Magazine, em Atibaia. A exposição ocupou o piso superior da loja da Global, no centro da cidade, aberto com um gostoso coquetel de guloseimas que incluíam aquelas deliciosas balinhas de fruta que tem cheiro e gosto de infância.

Desde cedo houve bastante movimento e a exposição foi muito prestigiada pelo público em geral. Isso é muito importante não apenas para a divulgação do trabalho do Ateliê Lampros, mas para homenagear o trabalho de seus alunos. Para quem não sabe, o Professor Nestor Lampros mantém o Ateliê há 12 anos, onde produz suas obras e ensina pintura, desenho de observação, história em quadrinhos e mangá. O público é diversificado, mas a maior procura é por parte de crianças e adolescentes. O Professor Nestor conta com alunos que começaram no Ateliê aos

Por Yndiara Macedo LamprosValeu a pena

8, 9 anos de idade e hoje estão na faixa dos 16, como o jovem Marcelo Mares Guia e Vinícius Teodoro , dois dos expositores.

O maior cuidado do Ateliê Lampros é manter um ambiente agradável e saudável aos alunos, com preocupação permanente do professor Nestor – Licenciado em Letras pela FESB e Arte Educador pela FAAT – em desenvolver o senso crítico juntamente com a criatividade e o fazer artístico. A exposição procurou destacar os trabalhos dos alunos com critério artístico, mas com ênfase em estimular o crescimento dos pupilos, prestigiando sua produção.

Sentimo-nos particularmente gratificados por vermos como os pais, em especial, estavam felizes com o desenvolvimento de seus filhos e orgulhosos com suas produções artísticas. Recebemos visitas muito especiais, como a da Sra. Neusa Monteleone, Arte Terapeuta – que foi quem primeiro deu oportunidade ao professor Lampros de trabalhar no Ateliê Monteleone, em 1996 – bem como de amigos da Global, da Fabiana, proprietária da loja e do Nestor.

Tudo Vale a Pena - Pedro Luís e a Parede http://grooveshark.com/#!/s/Tudo+Vale+A+Pena/38LKvY?src=5

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O Sr. Claudio Verza, pai do aluno Vinicius Camilo Verza, embora recuperando-se de problemas de saúde, fez questão de ir à exposição. Ao chegar, acompanhado do filho e da esposa, Lúcia, disse em alto e bom som que “não perderia aquilo por nada”. Nos emocionamos com o amor de pai que o Cláudio derramava em cada palavra, em cada gesto e olhar, enquanto apreciava os trabalhos do filho e a exposição num todo. Ao final, agradeceu à Global e ao Professor Lampros, numa demonstração de respeito e humildade que hoje em dia está ficando raro de se ver.

– Não, seu Cláudio, nós é que agradecemos a sua visita, seu exemplo de amor paterno, de respeito e de paixão pela Arte e pela vida.

São esses momentos que não têm preço, pois ultrapassam qualquer medida. Tão imensurável quanto o amor do seu Cláudio, é o amor do Professor Lampros pelos seus alunos e pelo seu trabalho, desenvolvido com certos obstáculos em um país mais preocupado com banalidades e figurinhas de futebol do que com seu desenvolvimento social. Mesmo assim, em momentos como esse, olhando para os olhos emocionados do seu Cláudio, sentimos que vale a pena, que sempre vale a pena, citando o grande Fernando Pessoa:

“ Tudo Vale a Pena,

Se a Alma não é pequena.

Quem quer passar além do bojador,

Tem que passar além da dor.”

O professor Nestor Lampros, Yndiara Lampros e Fabiana Costa Romera

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Por Patrícia Bonilha

Omissão do governo é a maior causa da violência

contra os indígenas no Brasil

ETNO

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Na publicação, organizada pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a falta

de empenho e vontade política na proteção e promoção dos direitos desses povos fica evidente também em uma análise dos dados do Orçamento Geral da União de 2013.

Os dados do relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil referentes a 2013 evidenciam que a política indigenista em curso no país é omissa no que tange ao cumprimento das diversas obrigações constitucionais e da efetivação dos direitos indígenas. A total paralisação dos processos de demarcação de terras indígenas, os altos índices de mortalidade infantil, suicídio, assassinato, racismo e de desassistência nas áreas de saúde e educação indicam uma atitude de extremo descaso do governo em relação às populações indígenas.

Um dos mais explícitos indícios da omissão governamental foi a total paralisação das demarcações de terras indígenas no ano passado, que teve um reflexo direto no acirramento dos conflitos nas aldeias em todo o país. Apesar de uma homologação ter sido assinada, nenhum procedimento demarcatório foi concluído em 2013. Desse modo, a média anual de terras demarcadas da presidenta da República Dilma Rousseff diminuiu para 3,6, a pior média desde o fim da ditadura militar, consolidando-a como a chefe de Estado que menos demarcou terras indígenas na história recente do país.

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dos recursos que deixaram de ser aplicados. Portanto, as razões para a não demarcação são vinculadas ao plano político e aos projetos de desenvolvimento do país, nos quais os povos indígenas têm sido considerados irrelevantes e desnecessários”, afirma Iara Bonin, em sua análise sobre a execução orçamentária.

Apesar do orçamento para a assistência em saúde indígena, segundo a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), ter quadruplicado nos últimos quatro anos, ela continuou marcada por uma absoluta omissão na implementação de ações - algumas bastante básicas - que poderiam salvar milhares de vidas anualmente. Um exemplo devastador dessa omissão é o índice de mortalidade infantil em 2013. Dados da Sesai informam que morreram 693 crianças de 0 a 5 anos entre os meses de janeiro e novembro. O caso mais impressionante é o do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Yanomami, em Roraima, com 124 mortes. Enquanto a Sesai relata que nesse mesmo período ocorreram 17 mortes de crianças menores de 5 anos no Mato Grosso do Sul, dados mais recentes do Dsei, de abril de 2014, apresentam um total de 90 óbitos de crianças menores de 5 anos somente neste estado, entre os meses de janeiro a dezembro. Ainda de acordo com o Dsei/MS, o coeficiente de mortalidade infantil de menores de 5 anos é de 45,9 para cada 1.000 indígenas nascidos, mais que o dobro da média nacional em 2013, que é de 19,6 segundo o IBGE, variando de acordo com as regiões.

Novamente, verifica-se que o problema não está relacionado à falta de recursos. Para o programa Saneamento Básico em Aldeias Indígenas para Prevenção e Controle de Agravos foi autorizada a execução de R$ 27,7 milhões, mas o governo utilizou irrisórios

De acordo com os dados do relatório, das 1.047 terras indígenas reivindicadas pelos povos atualmente, apenas 38% estão regularizadas. Cerca de 30% das terras estão em processo de regularização e 32% sequer tiveram iniciado o procedimento de demarcação por parte do Estado brasileiro. Das terras indígenas regularizadas, em termos de extensão territorial, 98,75% se encontram na Amazônia Legal. Enquanto isso, 554.081 dos 896.917 indígenas existentes no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, vivem nas outras regiões do país, que têm apenas 1,25% da extensão das terras indígenas regularizadas.

Existem 30 processos de demarcação de áreas já identificadas pela Fundação Nacional do Índio (Funai) como terras indígenas tradicionais que não têm nenhum impedimento administrativo ou litígio judicial. Ou seja, não há nenhuma pendência ou obstáculo para a efetivação da demarcação dessas terras. Desses 30 processos, 12 dependem somente da assinatura da Portaria Declaratória pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, 17 terras indígenas aguardam a homologação pela presidenta da República, Dilma Rousseff, e um processo aguarda a expedição do Decreto de Desapropriação, também pela presidenta Dilma. Outros cinco processos estão na mesa da presidenta da Funai, Maria Augusta Assirati, aguardando apenas a assinatura de aprovação do Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação. Estes dados evidenciam ainda que a proposta de realizar Mesas de Diálogo como forma de resolver a morosidade dos processos de demarcação e os conflitos fundiários foi totalmente fracassada.

De acordo com a Constituição

Federal, todas as terras indígenas deveriam ter sido demarcadas até 1993. No entanto, os compromissos assumidos com os setores vinculados ao agronegócio, às empreiteiras, mineradoras e empresas de energia hidrelétrica impossibilitam o governo de cumprir suas obrigações constitucionais. Os interesses privados destes grupos encontram ressonância na política desenvolvimentista praticada pelo governo e também em seus interesses eleitoreiros. “Como é de conhecimento público, estes setores são justamente os inimigos históricos dos povos indígenas e os principais responsáveis pelos massacres, etnocídios e espoliações dos territórios destes povos, além de outros tipos de violência”, evidencia Cleber Buzatto, secretário executivo do Cimi.

Também não é pela falta de recursos financeiros que as demarcações não foram realizadas. Nos desdobramentos do programa Fiscalização e Demarcação de Terras Indígenas, Localização e Proteção de Índios Isolados e de Recente Contato existe uma ação denominada “Delimitação, Demarcação e Regularização de Terras Indígenas”, cuja dotação orçamentária em 2013 foi de R$ 21,642 milhões. No entanto, foram liquidados apenas R$ 5,4 milhões (ou 24,96% do montante). “Observa-se, portanto, que muitos outros procedimentos administrativos poderiam ter sido conduzidos com os 76,04%

Clique aqui para ler o Relatório http://migre.me/kHQii

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Os polêmicos vídeos dos deputados federais Luis Carlos Heinze (PP-RS) e Alceu Moreira (PMDB-RS) inserem-se nesses casos de racismo e incitação à violência contra os povos indígenas. “Em 2013, o crime de racismo manifestou-se de diferentes formas contra os povos indígenas: no impedimento de usarem o transporte coletivo ou de estudantes frequentarem a escola; na não contratação, mesmo que para subempregos; nas inúmeras agressões e ofensas verbais; no não reconhecimento da sua condição de indígena; na impossibilidade de acesso a benefícios sociais; na recusa de receberem atendimento médico; na obrigação de crianças indígenas lavarem banheiros nas escolas e no recebimento de merenda menor que as crianças não indígenas; e na condenação por crimes, mesmo sem provas substanciais, como foi o caso que envolveu o povo Tenharim, no Amazonas”, resume a antropóloga Lúcia Rangel, coordenadora da pesquisa do relatório.

Em relação a este episódio, Egydio Schwade, ex-secretário executivo do Cimi e profundo conhecedor da Amazônia, afirma em seu artigo que as agressões ao povo Tenharim são bastante antigas e a sua motivação sempre foi de ordem econômica espoliadora. “Nesse sentido, não se avista nenhuma justiça para os povos indígenas da região no curto prazo. Nenhum relatório conclusivo que vá ao encontro da justiça. Ao contrário, os inquéritos policiais acabam levando a um e mesmo beco sem saída justa, porque a justiça já foi previamente programada para a condenação de inocentes, dos índios no plural, como bodes expiatórios. Tudo para proteger os interesses em jogo dos madeireiros, mineradores, fazendeiros e agronegociantes”, conclui Schwade.

(FONTE: CIMI) http://cimi.org.br/site/pt-br/

1,39%, deixando de aplicar, portanto, RS 27,3 milhões. A utilização destes recursos para a construção de poços artesianos em várias regiões brasileiras certamente diminuiria o índice de doenças e agravos que vitimizam especialmente as crianças, como a diarreia. “Apesar de todas as denúncias apresentadas pelo movimento indígena e por entidades indigenistas, além de ações judiciais impetradas pelo Ministério Público Federal (MPF), o governo federal mantém-se insensível frente às mortes causadas por doenças facilmente tratáveis”, considera Roberto Liebgott, representante do Cimi na Comissão Intersetorial de Saúde Indígena (Cisi).

O Mato Grosso do Sul continua sendo o estado que mais viola os direitos indígenas. Em 2013 foram registradas no estado 33 vítimas de assassinatos (62% do total no país), 16 casos de tentativas de assassinatos (de um total de 29 no país) e, segundo a Sesai, 73 vítimas de suicídios. Este índice configura-se como o maior em 28 anos, de acordo com os registros do Cimi. Dos 73 indígenas que se suicidaram, 72 eram do povo Guarani-Kaiowá, a maioria com idade entre 15 e 30 anos.

Do total de 33 assassinatos no estado, 31 ocorreram entre indígenas do povo Guarani-Kaiowá e dois casos do povo Terena. Nos últimos 11 anos, os levantamentos do Cimi mostram que pelo menos 616 indígenas foram assassinados no país, sendo que 349 destas mortes ocorreram no Mato Grosso do Sul, onde a maioria das comunidades vive em situação de extrema precariedade, em acampamentos improvisados nas margens das rodovias, nas áreas de preservação obrigatória – faixa de domínio – dentro das fazendas, ou confinados em pequenas reservas criadas pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI), no início do século passado. A Reserva Indígena de Dourados, por exemplo, apresenta a maior densidade populacional entre todas as comunidades tradicionais do país, abrigando mais de 13 mil indígenas em 3,6 hectares de terra. Nela aconteceram 18 dos 73 casos de suicídio no estado em 2013.

Também foi frequente em 2013 a difusão de discursos com teor preconceituoso e racista em meios digitais de informação, jornais, televisão e rádio. Com o registro de 23 ocorrências, estes casos mais que dobraram em relação a 2012, quando 11 registros foram feitos.

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PALAVRA

Opção sexual: uma questão de cérebroPor Leandro Soares Oliveira*

Quando chega a hora do sexo, você gosta de homens ou mulheres? Acha que isso

é uma escolha consciente ou a mera constatação das preferências do seu cérebro? Acredita que um único gene possa interferir no seu comportamento? Preferência sexual, afinal, é biologia ou psicologia?

Sexo é um assunto tão importante em termos biológicos, sociais e evolutivos (afinal, é o que torna possível a continuidade das espécies) que existem regiões do cérebro dedicadas a ele. Várias ficam no famoso hipotálamo, estrutura responsável pela regulação de diversos aspectos do funcionamento corporal, como a freqüência cardíaca, pressão arterial e, acredite, comportamentos razoavelmente complexos como a aproximação com fins sexuais e até mesmo a cópula.

Mexa no hipotálamo do jeito certo e você alterará o comportamento sexual do animal. Um estudo mostrou que o bloqueio da produção de um único receptor para hormônios femininos em uma área da região hipotalâmica é suficiente para abolir o comportamento sexual de camundongas. Com o hipotálamo – e somente Ele – tornado insensível ao estrogênio, camundongas adultas deixam de aceitar investidas dos machos. Pior: elas passam a rejeitá-los. E tudo isso porquê um único gene foi silenciado.

Outros artigos põem mais lenha na fogueira da preferência sexual e, dessa vez, em humanos. Dois estudos de pesquisadores do Instituto Karolinska, na Suécia, mostraram recentemente que diferenças no hipotálamo estão associadas a uma de nossas características individuais mais

fundamentais: a sexualidade.

Para desespero daqueles que acham que podem “consertar” as preferências sexuais dos outros (e geralmente para consolo das partes mais interessadas), toda a neurociência aponta para uma determinação biológica (genética e hormonal) da preferência sexual, e precoce, ainda no útero. Que padres e políticos esperneiem à vontade, mas não há qualquer evidência de que o ambiente social influencie

Ao que parece, a identidade sexual – e é a nomenclatura que me sinto mais seguro em utilizar – está associada à maneira como o hipotálamo responde a feromônios, segundo os estudos suecos. Feromônios são substâncias produzidas por indivíduos da mesma espécie e causam nestes alterações fisiológicas e comportamentais, sempre de cunho social. Numa definição ainda mais ampla e curiosa, estas substâncias são

a preferência sexual humana – biologicamente falando. Cerca de 10% dos homens e das mulheres procuram, preferencialmente, parceiros do mesmo sexo, e o número não muda entre pessoas criadas por pai e mãe, pai e pai, mãe e mãe, com ou sem religião, na área urbana ou rural... Não se trata, portanto, de “opção” sexual, tanto que tentativas sociais de convencer humanos ou outro animais a mudar de identidade (ou “condição”) sexual nunca deram muito certo. Seja você heterossexual ou homossexual, imagine-se sendo obrigado a adotar a preferência sexual oposta. Não gostou do resultado? Pois é.

usadas pelas mais variadas espécies, das leveduras que fermentam a cerveja aos javalis, passando pelo ser humano para unir gametas – promovendo o encontro dos seres que os transportam. O esquema é engenhoso: cada invidíduo produziria o feromônio característico da sua espécie, na versão “homem” ou “mulher”, dependendo do tipo de gameta produzido, e esse feromônio surtiria um efeito avassalador sobre o cérebro dos indivíduos do sexo oposto. Portadores de gametas de um e outro tipo então se aproximariam, passando pela versão de paixonite aguda possível àquela espécie e acabariam por, digamos colocar seus gametas em

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contato. Se tudo funciona, o casal é premiado com um rebento, que por sua vez produzirá feromônios e será atraído por outros, de acordo com seu sexo – e é aí que o esquema se autopropaga.

Todos os feromônios são pouco voláteis: é preciso chegar perto do indivíduo que o produz; feito isso,

seguir uma cascata de eventos em outras regiões cerebrais (como a amígdala, córtex cerebral e sistema de recompensa, que provocam excitação sexual e fazem com que se busque o dono ou dona do feromônio que ativou o sistema) e, assim, eles preferirão se aproximar delas, e elas, deles. E em imaginar que tudo isso começou no nariz...

Segundo, ainda, os estudos suecos, no entanto, nem todo hipotálamo masculino responde a feromônios femininos e vice-versa. O padrão de resposta do hipotálamo concorda não com o sexo de cada pessoa, e sim com sua identidade sexual ou, provavelmente o contrário: a identidade sexual de cada um depende do padrão orgânico de resposta de seu hipotálamo. Homens e mulheres, cujo hipotálamo responde ao EST, feromônio feminino, e não ao

deve levar em conta todas as dificuldades psicológicas que a discriminação traz. Mas, até onde se sabe, para a neurociência a identidade sexual é biológica e não psicológica. Revelada quando o cérebro adolescente, sensibilizado pelos hormônios sexuais produzidos sob seu controle, expressa o caminho que tomou ainda na gestação - sem qualquer interferência social. Identidade sexual não se escolhe: descobre-se. Tentar mudá-la é como insistir que uma pessoa troque de cor de pele, se torne mais baixa ou tenha um olho de cada cor. É inevitável. É inútil. É injusto.

AND, gostam de mulheres; se o hipotálamo responde ao AND e não ao EST, gostam de homens.

Claro, existe a possibilidade teórica de a preferência do hipotálamo ter mudado por causa do comportamento homossexual dos voluntários, ao invés de tê-lo causado. No entanto, com tudo o que se conhece sobre a dificuldade de “converter” a hetero ou homossexualidade e comprovável indiferença das influências sociais isso é muito pouco provável.

O que cada um faz com sua identidade sexual já é outra estória, esta sim é uma opção (preferência ou seja lá como você prefira classificar) que lamentavelmente

eles entram pelo nariz - onde são detectados pelo órgão vomeronasal (e não pelo epitélio olfativo, razão pela qual não existe um cheiro detectável), e esse órgão encaminha a informação ao cérebro direção hipotálamo. O comportamento que se segue parece depender radicalmente de como essa zona se ativa em resposta. Nos homens heterossexuais, mas não nas mulheres heterossexuais, o hipotálamo responde fortemente ao feromônio feminino (EST). Ao contrário, nessas mulheres, e não nesses homens, o cérebro responde ao feromônio masculino (AND). Com tudo o que se conhece sobre a região envolvida, deve se

Referencial Bibliográfico:

HERCULANO, Suzana. Pílulas de Neurociência. Ed. Sextante. 2009.

LANGSTROM, Niklas. Genetic and Environmental Effects on Same-sex Sexual Behaviour. Karolinska Intitutet. 2008.

* Leandro Soares Oliveira é acadêmico de Medicina em Campo Grande, MS.

Publicado originalmente no blog dissertativa(mente)

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Emoção, velocidade e poeira no Campeonato Brasileiro de RallyDimas e Rodrigo König vencem etapa do Catarinense

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De 8 a 10 de agosto, a cidade de Tijucas, situada a 50 km de Florianópolis, Santa Catarina,

recebeu a 3ª etapa do Campeonato Brasileiro de Rally de Velocidade depois de 5 anos fora do calendário. Válida, ainda, pelas 3ª e 4ª etapas do Catarinense e pela 4ª etapa do Paranaense, a prova foi um sucesso na organização e competitividade. As disputas do Rally de Tijucas foram realizadas no sábado, onde as duplas fizeram 3 passagens em 2 especiais, uma de 28 km e outra de 7 km, e no domingo, com 2 passagens em uma especial de 19 km. A organização preferiu deixar a parte mais pesada do rally para o sábado, para que as

equipes e competidores pudessem curtir a tarde do Dia dos Pais com a família. Na principal categoria do Campeonato Brasileiro de Rally, a CBR1, com carros de tração 4x4, aexperiência da dupla Ulisses Bertholdo e Marcelo Dalmut, falou mais alto, levando a equipe a sua segunda vitória no ano, reassumindo a liderança do campeonato. Porém, o destaque entre os fãs e a mídia, ficou por conta da dupla Paulista, Dimas Pimenta e Rodrigo König, que vinham de um capotamento na prova de Erechim e fizeram um excelente trabalho na etapa Catarinense. Nos bastidores, todos queriam saber um pouco mais sobre o protótipo da Promacchina,

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com seus mais de 350 cavalos e câmbio sequencial, único na categoria. O ronco do motor de 3 litros, fez o público, que estava nas especiais, vibrar a cada passagem. “Como capotamos em Erechim, nosso objetivo era melhorar a cada especial, e foi cumprido. Conseguimos ser seguros e rápidos, e consegui voltar a domar o XRC.” – disse Dimas ao final do rally. Rodrigo, após analisar os resultados e os dados da telemetria, completa: “O Dimas conhece muito de carros, e a parceria com o Mauricio Neves (Chefe de Equipe) está sendo muito importante para a nossa adaptação no 4x4. Chegamos a 190 km/h, na terra, que só pode ser atingida com

um equipamento de confiança e qualidade. Estamos muito felizes com o resultado.” Dimas e Rodrigo, que ficaram em 2º lugar no Campeonato Brasileiro, assumiram a 3ª colocação na geral, a poucos pontos dos líderes. Em Tijucas, a 3ª e 4ª etapa do Catarinense, foram vencidas pela dupla, que agora lideram o campeonato, a frente de Ricardo Malucelli e Giovani Bordin. A dupla, patrocinada pela Dimep, quer agora, fazer mais treinos, para que, em Ponta Grossa, próxima etapa do Brasileiro, no dia 19 e 20 de setembro, o time versus máquina esteja em maior entrosamento.

Saiba mais no www.rallybr.com.br e facebook.com/rodrigokonigbr

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Habemus Copa!(ou: é nóis na fita)

Por Luis Pires

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LUCIANA MEINBERG

ATIBAIA, 349 anos

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Vó,*

A Kalango está comemorando quatro anos de vida com nosso projeto de revista, não é legal? Bem, a senhora sabe. Não temos patrocínio, nem apoio ainda, né. Será que isso é sinal dos tempos, ou vivemos um tempo de sinais, como falou aquele moço, o Zé Ramalho, vó? Mas uma coisa é certa, a gente faz o que gosta, do jeito que a senhora

sempre recomendou. Lembro que a senhora dizia pra gente, desde criança – “o que é de gosto, regalo da vida”. Quer dizer, se é do nosso gosto, que seja feito e pronto! Ditado dos antigos. Por falar nisso, estou lendo pela segunda vez um livro muito bacana, de um francês chamado Pierre. É, vó, ele estudou filosofia na faculdade, mas lá no estrangeiro, bem longe. É desses homens estudados que viajam esse mundão afora pra ensinar pessoas a pensarem. Mas esse livro fala também de outras coisas, vó. Diz que pensar é ilusão. Consegue entender, isso vó? Ele fala que a gente sofre só de pensar. Que a vida é sofrimento. Isso a senhora sempre disse, que era assim desde os tempos antigos, lá na roça, no tempo dos escravos. Ele também diz o seguinte: qualquer que seja a relação em que você se envolva, que seja o amor seu principal motivo. Bonito, né, vó? Então, não é igual a senhora diz sobre o regalo da vida? Pois é. Tem mais. Ele diz no livro dele que não é pra gente olhar aquilo que a gente vê. É pra sentir. “Sinta o que a visão faz no seu coração”, ele falou. Não é pra ficar pensando, vó. Para ele, o que a gente constrói no pensamento impede a gente de sentir no momento, no instante, nesse redemoinho de sensações. E tudo isso acontece pelo medo que a gente tem de sofrer. O medo nos afasta das nossas experiências, nos extravia. E mais: motivados pelo medo, tornamos tudo ilusório... E por vivermos na ilusão e sofremos. Pra terminar vó, vou te contar a última. Hoje, ele soltou mais essa: “para reconhecer a cobiça e a agressão, em si e nos outros, pare de pensar e comece a sentir”. Será que é por causa disso que a gente está sempre entristecido - e nunca descobrimos quem somos de verdade? A gente corre, corre, corre atrás das coisas que achamos que vai trazer felicidade, mas a gente sempre se ilude, sem tempo para parar - e sentir - o que estamos fazendo. Nunca temos tempo, dizemos e ouvimos o tempo todo. No fundo, vó, eu acho que é isso mesmo que acontece. A gente faz planos, vamos ficando insensíveis, mas o único jeito de conseguir dominar essa nossa angústia nesse fim dos tempos, como a senhora diz, é parando tudo. Estudando. Tentando entender isso. Só desse jeito a gente vai poder retomar essa nossa capacidade de olhar pra dentro da gente mesmo e recuperar nossa sensibilidade. E vai mudar de vez o que precisa ser mudado. Não é a Dilma, não é o Aécio, não é a Marina, minha avó. A solução para o Brasil, sabe qual é? É a gente mesmo.

* Crõnica do Osni Dias tentando parafrasear o grande e memorável Henfil.

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HOMENAGEM DA KALANGO À ETERNA AMIGA E COMPANHEIRA ALINE EUSÉBIO. ESTEJA COM DEUS!

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VOLTE SEMPRE

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