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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA TEREZINHA DE JESUS LYRIO LOUREIRO JUVENTUDE E PROJETOS DE FUTURO: POSSIBILIDADES E SENTIDOS DO TRABALHO PARA OS ESTUDANTES DO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO (IFES) VITÓRIA 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

TEREZINHA DE JESUS LYRIO LOUREIRO

JUVENTUDE E PROJETOS DE FUTURO: POSSIBILIDADES E SENTIDOS DO TRABALHO

PARA OS ESTUDANTES DO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E

TECNOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO (IFES)

VITÓRIA

2013

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TEREZINHA DE JESUS LYRIO LOUREIRO

JUVENTUDE E PROJETOS DE FUTURO: POSSIBILIDADES E SENTIDOS DO TRABALHO

PARA OS ESTUDANTES DO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E

TECNOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO (IFES)

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Psicologia do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre. Orientadora: Profª. Drª. Maria das Graças Barbosa Moulin.

UFES Vitória, agosto de 2013.

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TEREZINHA DE JESUS LYRIO LOUREIRO

JUVENTUDE E PROJETOS DE FUTURO: POSSIBILIDADES E SENTIDOS DO TRABALHO PARA OS ESTUDANTES DO

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO (IFES)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre.

Aprovada em _____ de agosto de 2013.

COMISSÃO EXAMINADORA

_______________________________________ Profª. Drª. Maria das Graças Barbosa Moulin Universidade Federal do Espírito Santo - UFES

Orientadora

_______________________________________ Profª. Drª. Silvia Rodrigues Jardim Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

_______________________________________

Prof. Dr. Thiago Drumond Moraes Universidade Federal do Espírito Santo - UFES

_______________________________________ Profª. Drª. Luziane Zacché Avellar (suplente)

Universidade Federal do Espírito Santo - UFES

_______________________________________ Prof. Dr. Luiz Henrique Borges (suplente)

Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória - EMESCAM

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Ao meu filho, Lorenzo, razão da minha alegria. Aos meus pais, Dirceu e Alice, por minha vida. Aos meus irmãos, Sebastião e João Hermínio, pelo carinho e apoio de sempre.

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora Maria das Graças Moulin, com quem aprendi muito ao longo desses anos. Minha gratidão por me apresentar o mundo do trabalho e ter paciência em me conduzir até aqui. Seus ensinamentos seguirão comigo, sempre! Ao meu filho, Lorenzo, meu querido Lolô, a quem muito amo, meus agradecimentos e minhas desculpas! Parafraseando uma manifestação (carinhosa) dele: “A gente tem altos e baixos, mas continuamos nos amando, né!?” À minha mãe, Alice Lyrio Loureiro, que partiu cedo, mas me deixou o melhor dos exemplos para a construção do meu futuro: com fé, esforço e simplicidade a gente faz acontecer tudo! Ao meu pai, Dirceu Máximo Loureiro, que me ensinou ser importante e necessário ajudar o outro, acreditar nas pessoas, preciso viver todos os dias com bom humor, humildade, carinho, respeito e amor. Ao meu irmão, João Hermínio Lyrio Loureiro (Mano), que sempre torceu por mim, de longe e perto, sempre! Por ter me ensinado que coincidências não existem e por acreditar na vida que segue! Acho que cheirar talco na infância deu certo... Ao meu irmão Sebastião Lyrio Loureiro, que me apresentou a Psicologia, e, mesmo longe, tenho a certeza de que a torcida foi válida. À minha cunhada Cassia Venturin, que cuidou de Lolô nas minhas viagens para longe, para perto, até mesmo sem sair do lugar, para que eu estudasse um pouco mais. Às minhas sobrinhas e “filhotas do coração” Julia e Joana, que, ao meu lado, sempre me fizeram acreditar no futuro, no sorriso, na juventude. Agradecimentos, eternos, por cuidarem de Lolô na minha ausência, na minha presença e, também, de mim. À Sirley Trugilho , pelo incentivo para ingressar no mestrado, permanecer nele e concluí-lo. Sem a ajuda dela nada disso aconteceria. Minha admiração pelo seu profissionalismo, determinação e pela sabedoria de conduzir, com primazia e carinho, a amizade com uma escorpiana. À Grace Kelly Filgueiras, minha querida Super Poderosa, pela paciência, ajuda e amizade! À Sheila Domingues, outra Super Poderosa, em quem me espelhei durante esta caminhada. Ela é um exemplo a ser seguido: de paciência, persistência e serenidade. Obrigada pelo carinho e prontidão em me ajudar!

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À Manoela Pagotto, minha querida Manu, pelo carinho. Foram tantas emoções vividas pelas trocas de livros, artigos, ideias, angústias e sorrisos! Em Vitória, Anchieta, Iriri, Recife... Longe ou perto, nossa amizade permanecerá! À Arielle Scarpat, minha companheira de viagem! Ir a Portugal com ela foi um evento à parte, Que a vida nos proporcione mais encontros, aqui, ali ou acolá! À Lucia Fajóli, por sua disposição e prontidão em ajudar sempre! Sentirei saudades! À Neusinha e Marilda, que cuidaram da minha casa e do meu filho na minha ausência e na minha presença-ausente! Não tenho palavras para agradecer quão importantes vocês foram para mim nesta caminhada! Que Deus as abençoe, sempre! À Faculdade de Tecnologia Faesa – Cetfaesa – em especial, James Alexandre Zumerle Theodoro, Luiz Claudio Monjardim e Adiléa Bulhões. Meus agradecimentos, também, aos meus colegas professores e funcionários administrativos. Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, por proporcionar a realização deste estudo e pela oportunidade de crescimento profissional. Ao diretor do Ifes, professor Ricardo Paiva, por acreditar e viabilizar todas as etapas da pesquisa. Agradeço, imensamente, seu carinho e atenção! A Hudson Luiz Cogo e Kefren Calegari dos Santos , pelo incentivo, pela colaboração e pelo carinho. À Norma Suely Machado dos Santos e Danusa Simon Robers, pelo exemplo de dedicação ao trabalho, pela prontidão e disposição. À Alzira Soares, Dalva Rodrigues, Eloá Custódio e Raphael Gabrieli, pela força, pela amizade e pelo carinho! À Camila Belizário, no contato com os jovens estudantes. Às professoras do PPGP: Cristina Menandro, Zeidi Trindade e Edinete Rosa, que fizeram parte desta trajetória desde a graduação. Ao professor Thiago Drummond, que me acolheu como aluna ouvinte nas disciplinas da graduação e que muito contribuiu para a conclusão deste estudo com suas valiosas sugestões e orientações. Ao professor Luiz Henrique Borges, que participou do exame de qualificação e colaborou com seus ensinamentos e suas experiências no campo do trabalho.

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Aos meus amigos e familiares, de longe e de perto, que torceram por mim, me incentivaram e entenderam a minha vida de nerd durante esses anos. Agradeço de forma especial aos estudantes do Ifes/campus Vitória que participaram das entrevistas e me receberam com atenção e disposição, compartilhando suas dúvidas e incertezas, com bom humor e esperança de um mundo melhor. A Deus, por minha vida! Por me dar paciência nos momentos difíceis, por me dar fé nos momentos de desânimo, por me dar sabedoria nos momentos instáveis e por escutar as minhas preces sonolentas e apressadas! Que a Ele, cada dia, eu saiba agradecer mais e mais!

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Semente do Amanhã

(Gonzaguinha)

Ontem um menino que brincava me falou que hoje é semente do amanhã...

Para não ter medo que este tempo vai passar... Não se desespere não, nem pare de sonhar.

Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs... Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar!

Fé na vida, fé no homem, fé no que virá!

Nós podemos tudo, Nós podemos mais.

Vamos lá fazer o que será.

[...] o trabalho não é só um dever, mas um direito,

pois através dele o homem é homem, se faz, aparece;

enquanto cria, entra em relação com os outros, com o seu tempo,

cria o seu mundo, se torna reconhecido

e deixa impressa no planeta em que vive

a marca de sua passagem.

(Suzana Albornoz)

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RESUMO

O mundo do trabalho vem se transformando nas últimas décadas, apoiado em

novas tecnologias de informação e comunicação e novas formas de gestão

organizacional. Tais transformações resultaram, entre outros efeitos, na

diminuição do operariado industrial, no aumento do setor serviços, no ingresso

acentuado de mulheres na força de trabalho e, principalmente, em maior

desemprego, em precarização do trabalho e intensificação da jornada dos que

se encontram empregados. Alguns autores chegam a questionar a centralidade

do trabalho. Partindo do pressuposto que o trabalho ainda é fonte de

significação e de valoração da vida pessoal e social, interrogamo-nos como é

que os jovens se posicionam ante essas questões, mesmo imersos num

mundo de incertezas e fluidez. Por isso, a pesquisa teve como objetivo

conhecer e analisar os significados do trabalho de 16 jovens estudantes, de

ambos os sexos, com idade entre 16 e 19 anos, concluintes dos cursos do

Ensino Médio Integrado de Edificações, Eletrotécnica, Estradas e Mecânica do

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes).

Utilizando abordagem qualitativa e tendo como instrumento entrevistas

semiestruturadas, os depoimentos desses jovens estudantes foram analisados

pelo método de interpretação de sentidos, de acordo com a construção de suas

trajetórias e seus projetos de vida. As principais temáticas apresentadas e

analisadas foram estas: (1) os projetos de vida relatados pelos jovens

estudantes que apontam uma associação entre estudo e trabalho, ou seja, os

jovens têm o seu cotidiano permeado pela vida escolar visando ao ingresso

futuro no mundo do trabalho; (2) a aspiração de ingressar na universidade

como um meio de galgar uma vida profissional valorizada, o que requer esforço

e dedicação por meio da realização do exame vestibular; (3) baseando-se nas

novas exigências do mercado de trabalho e tendo o trabalho dos pais como

referência, o sentido do trabalho é apresentado e questionado pelos

participantes, ora como um dever, ora como natureza humana, ora como via de

realização de desejos e realização pessoal; (4) o “tempo livre” não é sinônimo

de lazer e descanso, sendo muitas vezes utilizado com atividades de

aprendizagem para reforçar as obrigações escolares. O futuro se apresenta

como uma gama de oportunidades e como fonte de incertezas. Pudemos

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observar que a atividade de trabalho está no centro da vida e das atividades

desses jovens, por meio da preparação para uma futura profissão, ancorando

outros projetos como possibilidade de viagens, de realização e mesmo de

sobrevivência.

Palavras-chave: jovens estudantes, trabalho, projetos de vida, ensino

profissional.

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ABSTRACT

The world of work has been transformed in recent decades, supported by new

information and communication technologies and new forms of organizational

management. Those changes resulted, among other effects, on the decrease in

industrial workers, the increase in the services’ sector, the marked entry of

women into the workforce and particularly in higher unemployment,

precariousness of work and intensification of the journey of those who are

employed. Some authors even question the centrality of labor. Supposing that

work is still a source of meaning and valuation of personal and social life, we

wonder how young people position themselves at those issues, even immersed

in a world of uncertainty and fluidity. Therefore, the research aimed to identify

and analyze the significance of work to 16 young students of both sexes, aged

between 16 and 19 years, graduating from technical courses in Building,

Electrical-Technic, Mechanics and Roads integrated with High School at the

Institute Federal Education, Science and Technology of Espírito Santo (Ifes).

Using a qualitative approach, taking semi-structured interviews as a tool, the

testimony of these young students were analyzed by the method of

interpretation of meanings, according to the construction of their careers and

their life projects. The main topics presented and discussed were the following:

(1) life projects reported by the young students show an association between

study and work, that is, young people have their day-to-day permeated by a

school life aiming at the future entry into the labor, (2) the aspiration to joining a

university as a means to ascend to a valued professional life, which requires

effort and dedication to take a university entrance exam , (3) based on the new

requirements of the labor market and taking their parents work as reference,

the meaning of work is presented and questioned by the participants, either as

a duty, or as human nature, sometimes as a means of wish fulfillment and

personal achievement, (4) the "free time" is not synonymous with leisure and

rest, often used with learning activities to boost school’s obligations. Future is

presented as a range of opportunities and a source of uncertainty. We observed

that the work activity is the center of life and activities of these youths, by way of

preparing for a future career, anchoring other projects as the possibility of

travel, realization and even survival.

Keywords: young students, work, life projects, and professional education.

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LISTA DE SIGLAS

Cefet – Centros Federais de Educação Tecnológica

Cefetes – Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo

Cerests – Centros de Referência de Saúde do Trabalhador Diesat – Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho

ETFES – Escola Técnica Federal do Estado do Espírito Santo

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Ifes – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada LBD – Lei das Diretrizes e Bases da Educação MEC – Ministério da Educação OIT – Organização Internacional do Trabalho

ONU – Organização das Nações Unidas

PEC – Proposta de Emenda à Constituição

Proep – Programa de Expansão da Educação Profissional

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.............................................................................................15 1 PSICOLOGIA E TRABALHO.........................................................................17 2 O TRABALHO E SEUS SENTIDOS NA HISTÓRIA......................................20 3. AS TRANSFORMAÇÕES DO MUNDO DO TRABALHO NO CAPITALISMO............................................................................................25 3.1 O TRABALHO SE TRANSFORMA: DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL À ERA DA INFORMAÇÃO.............................................................................................25 3.2 O NOVO MUNDO DO TRABALHO NO CAPITALISMO: FLEXÍVEL, GLOBALIZADO E HETEROGÊNEO.................................................................27 4 A CENTRALIDADE DO TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE...........33 5 A JUVENTUDE CONTEXTUALIZADA: SINGULAR E PLURAL..................38 6 O NOVO TRABALHADOR: EXIGÊNCIAS E EXPECTATIVAS NO MUNDO DO TRABALHO................................................................................................41 7 INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO – IFES.................................................................................44 8 JUSTIFICATIVA.............................................................................................49 9 OBJETIVOS...................................................................................................51 9.1 OBJETIVO GERAL......................................................................................51 9.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.......................................................................51 10 METODOLOGIA..........................................................................................52 10.1 PARTICIPANTES......................................................................................53 10.2 INSTRUMENTOS......................................................................................53 10.3 PROCEDIMENTOS...................................................................................54 10.4 ASPECTOS ÉTICOS.................................................................................54 10.5 ANÁLISE DOS DADOS.............................................................................55 11. RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................................56

11.1 CURSOS DO ENSINO MÉDIO INTEGRADO DO IFES............................56

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11.2 OS JOVENS ESTUDANTES E SUAS CARACTERÍSTICAS ...................58

11.2.1 Faixa etária............................................................................................58

11.2.2 Naturalidade e residência....................................................................58

11.2.3 Escolaridade dos pais e renda familiar..............................................58

11.2.4 Proveniência dos estudantes..............................................................59

11.3 JOVENS ESTUDANTES E SEUS PROJETOS DE VIDA........................59

11.3.1 Projeto de vida: a escolha do Ifes como estratégia..........................60

11.4. O TRABALHO COMO HORIZONTE.........................................................63

11.4.1. Exame vestibular como acesso à universidade................................64

11.4.2. A escolha profissional: (i)maturidade e (in)certezas........................67

11.4.3. Estágio e novas exigências do mercado de trabalho.......................70

11.5. A QUESTÃO DO TRABALHO ..................................................................73

11.5.1. O trabalho em questão........................................................................73

11.5.3.1. O trabalho dos pais como referência..................................................78

11.6 “TEMPO LIVRE” EM TEMPOS GLOBALIZADOS E OUTRAS

PERSPECTIVAS................................................................................................82

11.6.1 Lazer e sociabilidade: o uso do tempo livre.......................................82

11. 6. 2 2 A juventude, o futuro e suas possibilidades.................................85

12 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................88

13 REFERÊNCIAS............................................................................................90 APÊNDICES......................................................................................................99 APÊNDICE A – ROTEIRO DE QUESTÕES PARA ENTREVISTA.................100 APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO..101 APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

PARA PAIS......................................................................................................103

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APRESENTAÇÃO Concluí o curso de Psicologia na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES),

em 1993, e comecei minha inserção profissional desempenhando atividades

relacionadas à área da Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem, mas o meu

percurso profissional direcionou-me à área da Psicologia do Trabalho e Saúde do

Trabalhador, inclusive no exercício da atividade em docência.

Em 1995 ingressei no mundo do trabalho, como psicóloga, em uma escola

agrotécnica federal localizada no Estado do Espírito Santo e atualmente atuo, na

mesma função, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito

Santo (Ifes). Minhas atividades no Serviço de Psicologia, inicialmente, estavam

relacionadas à área de ensino, mais especificamente ao atendimento aos alunos da

antiga Escola Técnica Federal do Espírito Santo. Geralmente, eles eram

encaminhados pela supervisão pedagógica ou procuravam o Serviço de Psicologia

em busca de orientação profissional, entre outras demandas. Com o passar do

tempo e a chegada de uma colega de profissão, minha atuação foi direcionada para

atender outro público, igualmente relevante, nessa instituição de ensino: os

servidores técnico-administrativos e professores.

Por esse motivo, o interesse em investigar a articulação entre trabalho e juventude,

temática desenvolvida na perspectiva da Psicologia Social, decorre desses dois

momentos da minha atuação como psicóloga nessa instituição; anteriormente, pelos

alunos em busca de respostas sobre carreiras, profissões e mercado de trabalho e,

atualmente, pelos servidores insatisfeitos com os processos de trabalho em

constante transformação, causando-lhes descontentamento quanto ao trabalho

executado, entre outras queixas relacionadas à atividade laboral. Acredito que seja

necessário e urgente analisar o trabalho, suas relações, transformações e seus

significados, bem como sua importância para os jovens em busca de oportunidades

no mundo do trabalho.

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Tendo por referência esses dois momentos de minha experiência profissional – por

um lado, os jovens com dúvidas e incertezas quanto ao seu futuro; por outro, os

trabalhadores descontentes quanto ao presente trabalho –, instigou-me a ideia de

conhecer o que pensa o jovem que um dia virá a ser provavelmente um trabalhador.

Torna-se relevante confrontar os anseios e esperanças de vida desses jovens

quanto ao imperativo social relacionado ao trabalho. Muitas dúvidas permeiam o

assunto, até mesmo sobre qual seria o significado que, nos dias de hoje, os jovens

atribuem à atividade de trabalho.

Para Minayo (2010), a pesquisa tem o propósito de vincular pensamento e ação

porque as questões de investigação estão relacionadas a circunstâncias e interesses

socialmente condicionados. Assim, o interesse em estudar trabalho e juventude

decorre da minha prática profissional, pois “nada pode ser intelectualmente um

problema se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática”

(MINAYO, 2010, p. 16, grifos do autor).

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1. PSICOLOGIA E TRABALHO

O trabalho tem passado por mudanças ao longo das últimas décadas, e a

Psicologia, inserida no contexto contemporâneo, acompanha essas modificações, as

quais se encontram atreladas às questões políticas, econômicas e sociais. Trabalho

e Psicologia, de forma dialética, são alterados no decurso do tempo.

A Psicologia, ao longo da história do mundo ocidental, tem muito que contribuir para

melhor compreensão das transformações ocorridas no mundo do trabalho; portanto,

à medida que a sociedade muda, tais contribuições acompanham essas mudanças.

São colocadas novas questões com as quais surgem novos desafios (VERONA,

2010).

Para Sato (2003), trabalho e organizações constituem objeto de investigação e de

práticas para a Psicologia em duas vertentes: a Psicologia do Trabalho e das

Organizações e a Saúde do Trabalhador.

A primeira perspectiva, construída historicamente e reconhecida socialmente,

legitima-se como Psicologia do Trabalho e das Organizações. Essa vertente é uma

articulação entre a administração e a engenharia, por isso está associada com

demandas gerenciais e, consequentemente, “solicita da Psicologia uma abordagem

de recursos humanos, a partir do espraiamento nos locais de trabalho dos princípios

da administração científica de F.Taylor [...]” (SATO, 2003, p. 167-168).

O movimento da gerência científica, inaugurado por Taylor nas últimas décadas do

século XIX, significa a aplicação dos métodos ditos científicos aos problemas

relativos ao controle do trabalho nas indústrias capitalistas, então em crescente

expansão. Braverman (1986) aponta a relevância dos princípios tayloristas no

delineamento da empresa moderna, bem como de todas as instituições pertencentes

à sociedade capitalista que executam os processos de trabalho. Entretanto, não se

podem reduzir tais princípios ao cronômetro, aceleramento, tempo x movimento e o

homem certo no lugar certo, porque “além dessas trivialidades reside uma teoria que

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nada mais é que a explícita verbalização do modo capitalista de produção” (p. 83). O

autor destaca que o trabalho, baseado na lógica capitalista, é organizado conforme

os princípios tayloristas, enquanto os departamentos de pessoal se ocupam com

seleção, manipulação, adestramento, pacificação e ajustamento da mão de obra

com o propósito de adaptá-la aos processos de trabalho.

Por isso, reconhecida como Psicologia do Trabalho e das Organizações, essa

vertente, que é vista como “uma psicologia voltada para a gestão de recursos

humanos” (SATO, p. 168), é a mesma que mantém sua hegemonia até os dias de

hoje.

A segunda vertente importa-se com problemas humanos e sociais no ambiente de

trabalho e fora dele e é baseada nos preceitos da psicologia social, pois “interessa

compreender fenômenos como: identidade, processos de interação social,

processos de percepção e de cognição social e a subjetividade” (SATO, p. 169).

Essa vertente, mediante a articulação entre a psicologia social, a medicina latino-

americana e a saúde coletiva, vai emergir, do ponto de vista dos trabalhadores,

valorizando sua vivência, o trabalho e seus processos organizativos e a própria

transformação do trabalho.

No final da década de 70, a começar do reaparecimento do movimento sindical, a

Saúde do Trabalhador no Brasil assume um novo desenho. Dessa forma, no

Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de

Trabalho (Diesat), diversos profissionais têm um novo olhar em relação ao mundo do

trabalho por meio de questões relacionadas à saúde. Na década de 80 surgem

Programas de Saúde do Trabalhador implantados por intermédio das Secretarias

Estaduais de Saúde e os Centros de Referência de Saúde do Trabalhador (Cerests)

nas esferas estadual e municipal.

De acordo com Sato (2003), “o pressuposto então adotado para essa vertente da

psicologia inserida no campo da Saúde do Trabalhador toma como central o direito à

saúde e à cidadania” (SATO, 2003, p. 171). No campo da Saúde do Trabalhador, a

medicina social latino-americana vai oferecer suporte teórico, bem como articular um

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diálogo multidisciplinar, proporcionando compreender o processo saúde/doença,

como histórico, por meio do conceito do processo de trabalho.

Atualmente, emerge, no campo da Psicologia Organizacional, uma prática dita nova,

a chamada “Qualidade de Vida no Trabalho”, que inclui práticas de ginástica laboral,

alimentação balanceada, entre outras. Tais práticas apontam uma compreensão da

saúde do trabalhador como um recurso necessário para garantir a produtividade, o

que difere, radicalmente, da perspectiva adotada pela Saúde do Trabalhador (SATO,

2003).

A despeito das dificuldades relacionadas à temática trabalho e saúde, entendemos

como Jacques (2010) que é possível “avançar na construção teórica e de propostas

de intervenção que levem em conta a complexidade da categoria trabalho. Enfim,

avançar no campo da saúde do trabalhador [...]” (p. 107).

Por muito tempo, a Psicologia não se preocupou com a relação trabalho/saúde e, no

início de seu percurso, voltou-se, principalmente, para a classificação dos indivíduos

em aptos ou inaptos, saudáveis e não saudáveis, atentos ou desatentos diante do

cotidiano de trabalho, desconsiderando a subjetividade do trabalhador. Dessa

maneira, “a Psicologia debruçou-se mais para a produção em busca de resultados,

do que para o trabalho e os/as trabalhadores/as” (GRISCI e LAZZAROTTO, 1998, p.

230). As autoras ressaltam que existe uma ideia, ainda vigente, de uma Psicologia

demarcada em áreas de atuação específicas, marcada por estereótipos.

Cabe, portanto, à Psicologia, como psicologia crítica do trabalho, proporcionar a

busca por novas possibilidades, pelo respeito das singularidades e pela

compreensão de que o trabalho também pode ser uma experiência com sentidos e

significados e isso se mostra urgente.

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2. O TRABALHO E SEUS SENTIDOS NA HISTÓRIA

O trabalho, como fato social, adquire novas formas, novos sentidos e contribui para

a produção da história. Ao analisar a trajetória da história, observa-se que não existe

um trabalho que atravessa o tempo; portanto, importa analisar as atividades que

deram origem a diversos conceitos sobre o trabalho e buscar compreender seus

diversos sentidos (GONDAR, 1989).

Recorremos à polissemia que envolve o vocábulo trabalho, pois, na linguagem

cotidiana, ele apresenta vários significados demonstrando uma oscilação em seu

conteúdo. Dessa forma, Albornoz (2008) ressalta que a palavra trabalho aparece,

“às vezes, carregada de emoção, lembra dor, tortura, suor do rosto, fadiga. Noutras,

mais que aflição e fardo, designa a operação humana de transformação da matéria

natural em objeto de cultura” (p. 8).

Assim como o trabalho, trabalhar tem mais de uma significação em quase todas as

línguas de cultura europeia, como o grego, latim, francês, italiano, espanhol, inglês e

alemão. Em português, embora haja labor e trabalho, a palavra trabalho possui

ambas as significações: “a de realizar uma obra que te expresse, que dê

reconhecimento social e permaneça além da tua vida; e a de esforço rotineiro e

repetitivo, sem liberdade, de resultado consumível e incômodo inevitável”

(ALBORNOZ, 2008, p. 9).

Em nossa língua, o vocábulo trabalho se origina do latim tripalium1, do verbo

tripaliare, que significa torturar. De acordo com Albornoz (2008), a palavra trabalho,

associada ao uso desse instrumento como meio de tortura, por muito tempo

significou algo como cativeiro e padecimento.

Mesmo mantendo ainda parte dessa conotação, ao longo dos anos a construção da

rede semântica do trabalho com o acréscimo de esforçar-se, obrar e laborar,

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decorrente de uma transformação do sentido do trabalho, alterou o conteúdo

semântico de sofrer; laborar, no sentido de esforço e cansaço, e obrar como

realização da obra. A atividade se transforma, e os significados também.

Apresentamos as alterações do vocábulo trabalho a respeito de significação. Mas,

para entender tais transformações, é preciso compreender o contexto em que elas

ocorrem. As variações histórico-político-sociais são específicas de cada época e

originam diferentes configurações de trabalho, visto como objeto histórico

(GONDAR, 1989).

Gondar (1989) apresenta três dessas configurações: a primeira refere-se à Grécia

Antiga em um momento em que não existe a categoria trabalho; a segunda aponta

uma concomitância entre o surgimento do trabalho e o nascimento da disciplina; a

terceira apresenta uma nova concepção de homem, tendo o trabalho como atividade

humana central, desde a revolução burguesa.

Na Grécia Antiga, não existia uma palavra para designar trabalho. A diversidade de

tarefas presentes nessa sociedade era tamanha, que seria impossível unificá-las,

subsumidas como categoria única, o trabalho humano, como é para o mundo

ocidental. A agricultura e o artesanato referem-se a dois tipos de atividades que

podem demonstrar o grau de diversidade das tarefas praticadas no mundo grego

(GONDAR, 1989).

A atividade agrícola não era considerada como trabalho nem vista como comércio

entre os homens. Tal atividade, por estar ligada ao cultivo da terra, era concebida

como um comércio com os deuses, apresentando-se mais como forma de conduta

religiosa do que como ideia de profissão. “Na cultura dos cereais, é por meio de um

esforço e de uma fadiga estreitamente reguladas que o homem entra em contato

com as força divinas” (GONDAR, 1989, p.25). Para os gregos, a atividade na

agricultura não era uma ação sobre a natureza a fim de transformá-la, pois o valor

conferido ao trabalho da terra era como um elo estabelecido com a divindade, já que

os deuses dirigiam a fertilidade da terra (ALBORNOZ, 2008).

1 Tripalium – instrumento usado no trabalho do agricultor – era feito de três paus aguçados, às vezes

com pontas de ferro, para rasgar e esfiapar o trigo, o linho e as espigas de milho.

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Quanto ao artesanato, as capacidades da profissão do artesão estavam

subordinadas à sua obra e, consequentemente, esta se encontrava “inteiramente

submissa à necessidade do usuário” (GONDAR, 1989, p. 25). A esse respeito fala

Albornoz (2008, p. 45):

A causa real da fabricação não está na vontade ou na força do artesão, mas fora dele, no produto feito, no fim a que se dirige a atividade. A essência de um objeto é a perfeita adaptação de todas as suas partes ao uso que se quer, à necessidade que se deseja atender com aquele objeto.

A atividade artesanal distinguia os homens, não os tornava iguais, mas, por estar

submetida à vontade alheia, era desvalorizada na cultura grega antiga. A autora

ainda ressalta:

[...] E uma vez que se aliena na forma concreta do produto e em seu valor de uso, o trabalho do artesão se manifesta para os gregos como serviço de outrem e, assim, um trabalho escravo. À mercê do usuário e servidor de um modelo que é uma norma, o artesão representa o papel de mero instrumento destinado a satisfazer as diferentes necessidades do usuário. (ALBORNOZ, 2008, p. 46).

A cidade grega, o espaço da polis, era o lugar onde cidadãos livres debatiam as

suas questões; o exercício do debate dos problemas da polis definia-se como

atividade significativa para o homem livre. Sendo assim, somente a atividade

intelectual, destinada para a filosofia e para a política, era valorizada, diferindo das

outras atividades, apresentadas anteriormente, consideradas desprezíveis e

realizadas pelos escravos. A divisão entre as atividades intelectual e manual

marcava uma sobrevalorização da primeira sobre a segunda, e tal classificação,

herdada por nós, é inscrita no contexto atual.

A segunda concepção do trabalho ocorre por volta do século III da Era Cristã e

propõe uma nova administração do tempo, do corpo, dos desejos de das ações

humanas; uma nova arquitetura do espírito. Era preciso enfraquecer a carne para

elevar o espírito (GONDAR, 1989).

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Nos primórdios do cristianismo, o trabalho servia como expiação dos pecados, servia

para “a saúde do corpo e da alma, e para afastar os maus pensamentos provocados

pela preguiça e pela ociosidade” (ALBORNOZ, 2008, p. 51).

Gondar (1989) revela que, por volta do século IV, muitos cristãos seguiam para os

desertos com o propósito de buscar a solidão e, com isso, dominar a carne; surgia,

assim, o ascetismo. Com o passar do tempo e o aumento do número de ascetas

solitários instalados nos desertos, nascia uma nova organização: a ordem

monástica. Os monastérios ou mosteiros eram compostos por celas individuais

isolando seus habitantes, os monges, com o propósito da meditação e do jejum.

Para os monges, o trabalho, considerado obrigatório, era realizado somente para

satisfazer as necessidades reais da comunidade e alternado com a oração. Era

preciso realizar alguma atividade que enfraquecesse a carne, o trabalho, visto como

dispêndio de energia e eliminação de qualquer desejo ou força presente no corpo. A

prática das atividades realizadas pelos monges era regulada por intervalos de

tempo: tempo de oração e tempo de trabalho, com isso, a disciplina e o tempo eram

instaurados como princípios fundamentais para o funcionamento do mosteiro. Nesse

contexto, o trabalho apresenta-se “como uma quantidade medida numa certa

variável de tempo: o trabalho torna-se um meio de disciplinar e sincronizar as ações

dos homens” (GONDAR, 1989, p. 28).

A visão do trabalho como instrumento de salvação ultrapassa os muros do mosteiro

e segue para a cidade. A tarefa monástica é a reabilitação espiritual do homem da

cidade, já que, nesse período marcado pelas invasões bárbaras, a população

necessitava de proteção: vidas degradadas em virtude dos saques, incêndios, fome

e doença. A vida monástica proporciona a paz, a ordem, a proteção e a disciplina

para os pecadores urbanos. Como o propósito da cidade medieval é viver uma vida

cristã, o trabalho nada mais é do que um instrumento de salvação, logo: trabalhar é

orar. Entretanto, nota-se que há um rompimento com o ideal ascético do monastério,

o trabalho vai privilegiar a função de produção como meio de reconstrução das

cidades para servir à Igreja – o crescimento urbano é sobreposto à mortificação da

carne (GONDAR, 1989).

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A vida comunitária tomava forma por meio das guildas, “associações de ofício que

propunham uma convivência fraterna e disciplinada entre indivíduos que exercessem

uma mesma atividade profissional” (GONDAR, 1989, p. 29). Era nesse contexto que

a Igreja Medieval estimulava o crescimento das cidades e conduzia a vida medieval

para um período de grande prosperidade: a expansão do comércio, a acumulação

de riquezas e o progresso técnico predominavam em toda parte. Com isso, surgia

uma nova classe – a burguesia.

Chegamos à terceira concepção de trabalho, que inaugura uma nova concepção de

homem desde a revolução burguesa. A classe burguesa precisa da religião do

trabalho, na qual o tempo rege a vida da burguesia e a perda do tempo surge como

o principal e o primeiro de todos os pecados (GONDAR, 1989; ALBORNOZ, 2008).

Os interesses da burguesia – o novo império – se sobrepõem aos da igreja, da fé

cristã e trazem a morte de Deus enquanto referencial central, tanto simbólico quanto

político, econômico e social: “a fé e o dogma punham obstáculos no caminho dos

novos desenvolvimentos, da expansão das indústrias, da plena realização dos ideais

da classe burguesa” (GONDAR, 1989, p. 31). Com a morte de Deus, que não

aconteceu de forma súbita2, o homem ocupa, com autoridade, a medida de todas as

coisas, tornando-se senhor da natureza e base moral de uma nova sociedade. O

trabalho tem o próprio homem em seu fundamento e a expressão de que “o trabalho

enobrece o homem” se apresenta como resquícios do cristianismo adquirindo, em

nossa sociedade, a forma do imperativo categórico: “é necessário trabalhar”.

O trabalho, como fato social, instiga a necessidade de questionamento diante de

uma realidade que apresenta o trabalho como fenômeno neutro e natural. Torna-se

indispensável considerar trabalho e trabalhador, na nova ordem do trabalho, em uma

perspectiva dinâmica contextualizada social e historicamente, e não somente na

busca de maximizar a produção em menor tempo e tantas outras exigências

baseadas na lógica do sistema capitalista.

2 Para Gondar (1989), a Revolução Francesa funciona como marco de referência do início do

processo da morte de Deus.

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3. AS TRANSFORMAÇÕES DO MUNDO DO TRABALHO NO CAPITALISMO 3.1 O TRABALHO SE TRANSFORMA: DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL À ERA DA INFORMAÇÃO O mundo do trabalho é modificado em decorrência de algumas contradições

advindas do modo capitalista de produção. Ao mesmo tempo que o trabalho é

estruturante do ser social e fonte de humanização, com base na lógica do capital ele

se torna alienado, degradado e estranhado (NAVARRO e PADILHA, 2007).

Albornoz (2008) informa que, desde o início da era moderna, são reconhecidos três

estágios de desenvolvimento da tecnologia: o primeiro é a revolução tecnológica do

século XVIII, com a invenção da máquina a vapor; o segundo é caracterizado pelo

uso da eletricidade no século XIX; o terceiro, como estágio mais recente da evolução

tecnológica, é representado pela automação, pela invenção do computador,

conhecido como a terceira onda da Revolução Industrial, tendo início no século XX.

A Revolução Industrial, também denominada como a Primeira Revolução Industrial,

ocorreu na Inglaterra, entre os séculos XVIII e XIX, provocando uma grande

transformação no mundo do trabalho. A indústria têxtil, com sua produção em larga

escala, foi o lugar pioneiro onde as máquinas movidas a vapor substituíram os

trabalhadores – homens especializados – além de, contratando mulheres e crianças

sob uma jornada diária de trabalho intensiva, representar uma mão de obra

superexplorada (DECA, 2009; LUCA, 2001; PRONI, 2006). O modo de vida das

pessoas foi transformado: a vida rural, campestre, cede lugar à vida urbana. Para

retratarmos esse cenário, encontramos, nas palavras de Deca (2009, p. 28), as

transformações da vida cotidiana provocadas pelo trabalho, também em

transformação:

As cidades, antes vilarejos voltados para o comércio, converteram-se em verdadeiras ‘florestas de chaminés’ de fábricas poluídas, onde uma grande multidão se acotovelava pelas ruas. Os relógios, antes existentes apenas nas torres das igrejas, multiplicaram-se e passaram a ditar o ritmo diário dos trabalhadores: o tempo passou a ser dinheiro. Assim, pode-se dizer que a Revolução Industrial

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produziu uma profunda modificação na vida das pessoas, em sua maneira de trabalhar, de viver; de se relacionar com os outros, de se divertir e, enfim, de compreender o mundo.

Com a Segunda Revolução Industrial, datada entre os séculos XIX e XX, a

maquinaria espraia-se por outros países da Europa, América e Ásia (OLIVEIRA,

2006). Nessa fase, o ferro e o carvão foram substituídos pelo petróleo, pelo aço e

pela eletricidade, “inaugurando a era das grandes empresas, baseadas em

sofisticada tecnologia, controladas por engenheiros e administradores profissionais,

com milhares de empregados e atuando em várias partes do planeta” (LUCA, 2001,

p.98).

A automação, as tecnologias de informação e a globalização marcam o que já é

conhecido como a Terceira Revolução Industrial. O mundo do trabalho também

assume a forma do mundo hightech – todos conectados, homens e máquinas

aumentando a produtividade e alterando o processo produtivo (LUCA, 2001).

Para Antunes (2005), em meio a tantas transformações, com a introdução das novas

tecnologias e as complexificações decorrentes da nova divisão do trabalho nessa

fase do capital mundializado, o trabalho não se tornou uma mera virtualidade,

mesmo que venha passando por mudanças significativas. A globalização, que

exerce grande influência sobre o mundo do trabalho, encontra-se (oni)presente nas

mais diversas organizações, espalhadas pelos quatro cantos do planeta.

O que se passa, então, com o mundo real do trabalho? Da General Motors à Microsoft, da Bennetton à Ford, da Toyota ao McDonald’s, será que o mundo produtivo e de serviços de fato não mais carece do trabalho vivo Este teria se tornado mera virtualidade? É ficção que a Nike se utiliza de quase 100 mil trabalhadores e trabalhadoras, esparramados em tantas partes do mundo, recebendo salários degradantes? (ANTUNES, 2011, p.174).

O trabalho vai se modificando por exigências da sociedade capitalista, e o

trabalhador, para atender às necessidades do capital, com a inclusão de novas

tecnologias e tantas outras novidades inerentes à globalização, perde o controle do

próprio trabalho, de sua subjetividade. Com o aumento da competitividade produzida

pelo mercado de trabalho baseado na lógica capitalista, o capital, no uso crescente

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do aparato tecnológico, traz como consequências, incluindo novas formas de

exploração do trabalhador, a pobreza, o desemprego. (ANTUNES, 2005).

O fato é que o trabalho é constituído e construído, em sua dimensão ontológica, por

distinções e sentidos, seja como “princípio educativo ou trabalho alienado por sua

subordinação ou subsunção real; trabalho concreto e abstrato, produtivo e

improdutivo, trabalho material e imaterial e mundo da necessidade e da liberdade

etc.” (FRIGOTTO, 2009, p.172).

Surge, então, a necessidade de um novo trabalhador para atuar no flexível mundo

do trabalho marcado pelo trabalho precarizado, pelo aumento das exigências para o

ingresso e pela permanência no mercado de trabalho (NARDI, 2006).

3.2 O NOVO MUNDO DO TRABALHO NO CAPITALISMO: FLEXÍVEL, GLOBALIZADO E HETEROGÊNEO

O trabalho como elemento estruturante da sociedade, como fato social, plural e

polissêmico, ocupa um papel importante na vida das pessoas. No entanto, para

atender às exigências do capital, a classe trabalhadora sofre consequências com a

intensificação das mudanças no mundo do trabalho.

De forma dialética, nos últimos três séculos, o capital transformou o trabalho da

mesma forma que este tem se transformado. Marx, apud Antunes e Alves (2004),

caracteriza a relação entre trabalho e capital como subsunção, e, nesse processo, o

capital, embora considerado dialético, marca sua superioridade, propõe que o

trabalho (e o trabalhador) se apresente(m) como seu(s) subordinado(s).

No decorrer do desenvolvimento do processo de trabalho no capitalismo, surgem

novas formas de intensificação e controle do trabalho baseadas nos princípios

taylorista, fordista e toyotista.

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O taylorismo aperfeiçoou a divisão do trabalho introduzida nas fábricas,

assegurando, com isso, controle do tempo do trabalhador determinado pela

gerência, que constituiu “uma separação extrema entre concepção e execução do

trabalho” (NAVARRO e PADILHA, 2007, p. 17). O fordismo, como continuidade do

taylorismo, introduz nas fábricas a esteira na linha de montagem e cria um novo

modo de gestão da força de trabalho, ao reduzir a quantidade de horas trabalhadas

com aumento de salário.

Nos anos setentas, com a crise vivida pelo capitalismo nesse período, taylorismo e

fordismo “passam a conviver ou mesmo a ser substituídos por outros modelos

considerados mais ‘enxutos’ e ‘flexíveis’, melhor adequados às novas exigências

capitalistas de um mercado cada vez mais globalizado” (NAVARRO e PADILHA,

2007, p. 17). Desde os anos oitentas, constatam-se grandes mudanças no mundo

do trabalho:

A reestruturação produtiva – mudanças advindas principalmente da introdução de novas tecnologias no processo de trabalho – tem levado, tendencialmente, à reafirmação da inseparabilidade entre a força de trabalho e o ser humano que a possui, através, por exemplo, dos novos modelos de gestão. Por sua vez, a globalização e as reformas neoliberais têm levado ao constante questionamento dos direitos do trabalho (CUNHA e LAUDARES, 2009, p. 64).

O toyotismo, com o objetivo principal de produzir a baixo custo pequenas séries de

produtos variados, “constitui um conjunto de inovações organizacionais cuja

importância é comparável ao que foram em suas épocas as inovações

organizacionais trazidas pelo taylorismo e pelo fordismo” (CORIAT, 1994, p. 24,

apud NAVARRO e PADILHA, 2007, p. 17). Considerada como fábrica magra3, a

Toyota tem como seu ponto forte e como principio organizador da produção o just in

time: fabricação de produtos para atender instantaneamente à demanda, com

estoque zero e com número reduzido de operários. A qualificação do trabalhador é

outra característica do modelo japonês, porque no toyotismo o trabalhador precisa

ser transformado em um funcionário “altamente qualificado”, ”polivalente”,

“multiprofissional” (NAVARRO e PADILHA, 2007, p. 17).

3 Coriat (1994) aponta como fábrica “magra”, transparente e flexível em oposição à fábrica fordista,

qualificada como “gorda”(NAVARRO e PADILHA, 2007).

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Trabalhador e trabalho subsumidos ao capital constituem a configuração do mundo

do trabalho – histórico e datado. Concordamos com Proni (2006, p. 23) quando

ressalta que

o termo ‘mundo do trabalho’ não deve evocar a ideia de um universo fechado em si, autônomo em relação às demais esferas da vida social. Pelo contrário, refere-se a um conjunto de situações e interações que só podem ser examinadas à luz de um quadro social mais amplo, no qual devem ser contemplados, por exemplo, a evolução cientifico-tecnológica e os embates políticos-ideológicos.

Antunes e Alves (2004, p. 336-342) apresentam as principais consequências das

transformações no processo de trabalho e a maneira como estas afetam o mundo do

trabalho:

1) a crescente redução do proletariado fabril, industrial, tradicional, manual e

especializado que se desenvolveu no binômio taylorismo/fordismo, dando lugar a

formas desregulamentadas de trabalho;

2) a expansão dos trabalhadores terceirizados, subcontratados, part-time, que

estão presentes em diferentes modalidades do trabalho precarizado e

temporário;

3) o aumento significativo do trabalho feminino, atingindo mais de 40% da força de

trabalho em diversos países avançados, absorvido pelo capital de forma

precarizada e com baixos níveis salariais;

4) o aumento dos trabalhadores do setor de serviços, resultante do processo de

reestruturação produtiva, das políticas neoliberais e do cenário de privatização;

5) a crescente exclusão dos jovens que atingem a idade de ingresso no mercado

de trabalho que, sem perspectiva de emprego, aceitam trabalhos precários ou

ficam desempregados;

6) o aumento da exclusão dos trabalhadores com idade aproximada aos 40 anos,

considerados ‘idosos’ pelo capital, que dificilmente reingressam no mercado de

trabalho, já que foram substituídos pelo trabalhador ‘polivalente e multifuncional’

da magra empresa toyotista;

7) a expansão do trabalho do ‘Terceiro Setor’ que acaba por absorver

trabalhadores e trabalhadoras que foram expulsos do mercado de trabalho

formal;

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8) a expansão do trabalho em domicílio, que, por meio da telemática, permite a

desconcentração do processo produtivo e a expansão de pequenas unidades

produtivas, conectadas ou integradas às empresas, com isso, possibilitando o

crescimento e a aceleração das atividades transnacionais;

9) a configuração transnacional do mundo do trabalho que provoca tanto o

surgimento de novas regiões industriais quanto o desaparecimento de muitas,

desenvolvendo uma classe trabalhadora mesclada, em sua dimensão local,

regional, nacional, com a esfera internacional.

Compreender o mundo do trabalho marcado por diversas tendências que promovem

uma nova classe trabalhadora implica discutir a associação entre trabalho e

emprego com base na lógica do capital e no modo de produção capitalista.

O uso do termo trabalho é utilizado como sinônimos de emprego, profissão ou

qualquer outra atividade que, como troca, oferece um salário; sistema de troca

próprio da sociedade capitalista. Para Marx, o trabalhador vende sua força de

trabalho ao capital, a ele se submetendo e transformando-a em mercadoria

(ANTUNES e ALVES, 2004; DUARTE, 2004).

A associação entre trabalho e emprego foi construída, historicamente, na sociedade

industrial, na qual o emprego se tornou

[...] importante referencial para o desenvolvimento emocional, ético e cognitivo do indivíduo ao longo do seu processo de socialização, para o seu reconhecimento social, para a atribuição de prestígio social intra e extragrupal (LIEDKE, 2002, p. 345, apud NARDI, 2006, p. 31).

Trabalho e emprego se apresentam interligados como produtores de processo de

socialização, como forma de prestígio social para o trabalhador, mas se distinguem:

emprego como relação de trabalho e o trabalho enquanto atividade (LIEDKE, 1997

apud NARDI, 2006; SPINK, 2009).

Vale dizer que, se trabalho e emprego se encontram interligados, emprego e

consumo também se associam pela lógica do capital. Singer, apud Albornoz (2008,

p.81) ressalta que

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[...] hoje, na prática, emprego não se entende, em primeiro lugar, como uma atividade peculiar, no sentido técnico de trabalho ou produção, mas sim como recurso de acesso, mesmo que parcial e defeituoso, a uma parte da renda e, consequentemente, ao consumo. As pessoas trabalham antes para poder consumir do que propriamente para produzir alguma coisa.

A cultura do novo capitalismo, marcada pelo consumo, pelo medo de se tornar

supérfluo e ficar para trás e pela a busca do trabalho (ou por um emprego), traz

novas exigências. Novas estruturas, novas formas de poder, novas relações de

trabalho em que as práticas de flexibilidade norteiam as organizações

contemporâneas (SENNETT, 2008; 2010).

Para Sennett (2010, p. 54-65), três elementos produzem o sistema de poder que se

esconde por trás das modernas formas de flexibilidade: a) a reinvenção descontínua

de instituições, que é marcada pela redução de empregados nas empresas e, com

isso, ocorre a sobrecarga de trabalho devido à multiplicidade de tarefas a cumprir, e

práticas, como reengenharia (fazer mais com menos) e delayering (remover

camadas, níveis hierárquicos), são executadas porque a organização precisa provar

ao mercado que pode mudar; b) a especialização flexível de produção é

caracterizada pela colocação de produtos mais variáveis no mercado e cada vez

mais rápido, como antítese ao sistema fordista, tendo como aliada a alta tecnologia,

em que a estrutura interna das instituições é determinada pela mutante demanda do

mundo externo; c) a concentração de poder sem centralização dá uma ideia falsa de

que os funcionários de categorias inferiores têm mais controle sobre suas atividades,

e, nas organizações que utilizam essa prática, a dominação do alto é muito forte e

informe.

Por isso, a nova forma de trabalho presente nas organizações flexíveis, exigências

advindas da reestruturação produtiva, demanda trabalhadores ágeis que assumam

riscos de forma contínua e adaptáveis às mudanças em curto prazo, o que

[...] não causa apenas sobrecarga de trabalho para os que sobreviveram ao enxugamento dos cargos, mas acarreta grande impacto para a vida pessoal e familiar de todos os trabalhadores; sejam eles empregados ou desempregados (NAVARRO E PADILHA, 2007, p. 19).

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Tais impactos espraiam nos jovens que intencionam a entrada no mercado de

trabalho e buscam o trabalho como satisfação de suas necessidades.

Abramo e Branco (2005) relataram na pesquisa “Perfil da juventude brasileira”4, na

qual foi questionado aos jovens entrevistados “Qual das seguintes palavras se

aproxima mais do que você pensa sobre trabalho? Para você, trabalho é:”. As

respostas obtidas foram as seguintes: necessidade (64%), independência (53%),

crescimento (47%), autorrealização (29%) e exploração (4%).

Em pesquisa semelhante, Bock e Liebesny (2003), citados por Menandro, Araújo e

Oliveira (2010), em estudo realizado com estudantes de escolas públicas e

particulares, constataram que o trabalho era elemento central nos projetos de vida

dos participantes, embora para os alunos do ensino público o trabalho tenha sido

visto como uma necessidade e para os do ensino privado o trabalho fosse derivado

de uma boa formação recebida.

Com base em reflexões discutidas no próximo capítulo, alguns autores questionam

se o trabalho seria, ainda, uma categoria central para pensar o mundo social e até a

sociabilidade humana (MÉDA, GORZ, HABERMAS, OFFE, RIFKIN, KURZ, apud

ANTUNES, 2011; NARDI, 2006). Nesse debate outros autores defendem o trabalho

como categoria central, tanto no aspecto da estrutura, dos significados para o

mundo social quanto no aspecto psíquico dos indivíduos.

Mesmo tendo sido modificado pelo capital, sofrendo inúmeras transformações

(reestruturação produtiva, globalização, flexibilidade, políticas neoliberais, entre

outras) e produzindo novas formas de intensificação do trabalho e de controle da

subjetividade do trabalhador, o trabalho, segundo esses autores, permanece central

na vida das pessoas (ANTUNES, 2005; PRONI, 2006; POCHMANN, 2006;

NAVARRO e PADILHA, 2007).

4 A pesquisa Perfil da Juventude Brasileira foi realizada com 3.501 jovens entre 15 e 24 anos, de

ambos os sexos, representantes de todos os segmentos sociais e residentes no território brasileiro em 2003.

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4. A CENTRALIDADE DO TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE As profundas transformações provocadas pela lógica capitalista afetaram (e ainda

afetam) o mundo do trabalho. Para Albornoz (2008), a expansão da tecnologia,

desde o século XIX, trouxe à tona um velho sonho da existência de uma terra

abençoada, onde não seria mais necessário trabalhar; o ócio e a preguiça seriam

privilégios da maioria, já que a automação libertaria a humanidade do pesado fardo

do trabalho. Entretanto, a autora mostra que o indivíduo moderno enfrenta

dificuldades em dar sentido à sua vida e complementa, com as palavras de Hannah

Arendt, que

a sociedade que está por libertar-se dos grilhões do trabalho é uma sociedade de trabalhadores, que desconhece outras atividades em benefício das quais valeria a pena conquistar aquela liberdade. A possibilidade de uma sociedade de trabalhadores sem trabalho não aparece como uma libertação do mundo da necessidade, mas como uma ameaça inquietante. As massas contemporâneas seriam destituídas da única atividade que lhes resta (ARENDT, apud ALBORNOZ, 2008, p. 24).

O avanço tecnológico advindo do mundo moderno, que trazia como possibilidade a

conquista da libertação do trabalho, trouxe ao mundo contemporâneo uma ameaça

inquietante. Graças à tecnologia, houve o aumento da produtividade e muitas

profissões tornaram-se obsoletas, outras até desapareceram, em virtude da

informatização, provocando um aumento contínuo no índice de desemprego (LUCA,

2001).

Essa “sociedade de trabalhadores” que vem sofrendo as transformações

organizacionais e tecnológicas advindas da gestão do capital se depara, então, com

um contexto de flexibilização das formas de trabalho, desemprego, precarização do

trabalho, enfraquecimento das representações coletivas dos trabalhadores, o que vai

gerar um acirramento do individualismo e da competitividade.

Discutir a centralidade do trabalho em nossa sociedade baseada no modo de

produção capitalista remete a questões relativas do mundo do trabalho na

atualidade, as quais surgem associadas:

Trabalho e desemprego, trabalho e precarização, trabalho e gênero, trabalho e etnia, trabalho e nacionalidade, trabalho e corte geracional,

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trabalho e imaterialidade, trabalho e (des)qualificação, muitos são os exemplos da transversalidade e da vigência da forma trabalho (ANTUNES, 2011, p. 174).

Dessa forma, Antunes (2005) aponta como desafio a compreensão da nova

morfologia ou a nova polissemia do trabalho para se contrapor a tese da finitude do

trabalho. A tendência que aponta uma perda da centralidade do trabalho manteve-se

dominante nas últimas décadas, apesar de questionada e enfraquecida

recentemente. Em relação aos estudos que apontam a tese do fim do trabalho, são

destacados os seguintes: “Adeus ao proletariado”, do sociólogo francês A. Gorz, e

“Trabalho: a categoria chave da sociologia?", do sociólogo alemão C. Offe, ambos

produzidos nos anos oitentas. De acordo com De Toni (2003, p. 253),

[...] esses autores buscaram interpretar as mudanças no mundo do trabalho pela via da perda de centralidade do trabalho como elemento fundante das relações sociais e da construção identitária dos indivíduos, aportando questionamentos para a teoria e a pesquisa nas ciências sociais.

De Toni (2003) ressalta que, na década de 90, outros estudos ampliam as

discussões nesse campo, como os do escritor americano Jeremy Rifkin, o sociólogo

alemão Ulrich Beck e a filósofa francesa Dominique Méda. A proposta de Méda, por

exemplo, é baseada na criação de mecanismos para a redução do espaço que o

trabalho ocupa na vida dos indivíduos: o espaço, antes ocupado pelo trabalho, deve

ser preenchido com atividades familiares e outras ligadas à amizade (NARDI, 2006).

Mas como ampliar o tempo livre ou diminuir a jornada de trabalho em uma sociedade

subsumida ao capital, marcada pelo desemprego e pelo trabalho precarizado?

Apesar de esses autores apontarem uma perda da centralidade do trabalho, as

transformações contemporâneas revelam que o trabalho continua central no aspecto

da construção material e psíquica dos indivíduos e da estrutura social (NARDI,

2006). Se, de um lado, temos a sociologia com seu debate sobre a finitude ou perda

da centralidade do trabalho, de outro, temos as contribuições da Psicodinâmica do

Trabalho, representada por Dejours, no que diz respeito às situações de trabalho e

ao trabalhador.

Nas palavras de Dejours e Abdoucheli (2010, p. 143),

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o trabalho revela-se, com efeito, como um mediador privilegiado, senão único entre inconsciente e campo social e entre ordem singular e coletiva. [...] O trabalho não é apenas um teatro aberto ao investimento subjetivo, ele é também um espaço de construção do sentido e, portanto, de conquista da identidade, da continuidade e historicização do sujeito.

A centralidade do trabalho na vida do trabalhador é um dos alicerces da teoria da

Psicodinâmica do Trabalho, em que trabalhar é o preenchimento da lacuna existente

entre o prescrito e o real do trabalho. Para Dejours (2004, p. 29), o trabalho é aquilo

que implica o fato de trabalhar. Do ponto de vista humano, são “gestos, saber-fazer,

um engajamento do corpo, a mobilização da inteligência, a capacidade de refletir, de

interpretar e de reagir às situações; é o poder de sentir, de pensar e de inventar,

etc.”.

E se há um engajamento do corpo do trabalhador, a saúde deste está implicada nas

mais diversas relações de trabalho. Para a Psicodinâmica do Trabalho, importa

compreender como os trabalhadores, mesmo estando submetidos a condições de

trabalho desestruturantes, conseguem alcançar equilíbrio psíquico (DEJOURS,

DESSOURS e DESRLAUX, 1993; MERLO, 2002).

De acordo com Merlo (2002), a teoria da Psicodinâmica do Trabalho encontrou muita

ressonância entre os pesquisadores e técnicos brasileiros que atuam na área da

Saúde do Trabalhador e buscam preencher lacunas no conhecimento em saúde e

trabalho. De fato, houve aumento significativo na produção científica brasileira no

que concerne às relações entre trabalho e saúde, trabalho e subjetividade, dando

maior visibilidade às mais diversificadas situações de trabalho, com base nos

pressupostos tanto da psicodinâmica do trabalho quanto da ergonomia, ergologia,

psicossociologia do trabalho, entre outras possibilidades teórico-metodológicas. Tais

pressupostos diferem relativamente a suas práticas científicas, embora tenham em

comum a ética da valorização do saber fazer, da subjetividade dos trabalhadores e

da intervenção nos processos de trabalho que porventura possam ser adoecedores.

Esses estudos têm em comum, também, apontar o trabalho como fato social

estruturante no aspecto da identidade, da sociabilidade ou da produção da

subjetividade humana. Ou seja: são autores que apontam o trabalho como central na

vida humana, a despeito de suas transformações (ANTUNES, 2005, DEJOURS,

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2004; JACQUES, 1996; JARDIM, 2011; MERLO, 2010; MOULIN, 2007; NARDI,

2006; NAVARRO e PADILHA, 2007; SATO, 2009; SELIGMANN-SILVA, 2011).

No universo dos jovens, as mudanças do mundo do trabalho também têm seus

efeitos. Por isso, tais transformações levaram Guimarães (2008) a questionar, em

seu estudo, “Trabalho: uma categoria-chave no imaginário juvenil?”5, que buscou

compreender os múltiplos significados que o trabalho tem para os jovens e constatou

que o trabalho permanece central para os jovens brasileiros, com 30% das respostas

dos participantes, indicando-o como o principal problema desta nação. Dessa forma,

a autora arrisca que a centralidade do trabalho para a juventude diz respeito muito

mais a uma demanda a ser satisfeita do que a um valor a ser cultivado. Ademais,

complementa:

[...] o trabalho se manifesta como demanda urgente, necessidade, no centro da agenda de parcela significativa da juventude brasileira. Ou, de outra forma, é por sua ausência, por sua falta, pelo não-trabalho, pelo desemprego, que o mesmo se destaca (GUIMARÃES, 2008, p.159).

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelou, em fevereiro de 2011,

dados que comprovaram a situação em que a juventude brasileira se encontra. Dos

desempregados no Brasil, 54% são jovens na faixa etária de 18 a 29 anos. Por mais

que se esforcem para a entrada no mercado de trabalho, 45% desses jovens estão à

procura de emprego há mais de seis meses e 25% deles se encontram

desempregados há mais de um ano (Disponível em: www.opiniaoenoticia.com.br.

Acesso em: 2 abr. 2012).

Entretanto, de acordo com o relatório de Tendências Mundiais do Emprego Juvenil

2012, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o crescimento econômico

ocorrido no Brasil, nos últimos anos, provocou uma diminuição no índice de

desemprego juvenil devido à criação de mais postos de trabalho. Importa ressaltar

que esse crescimento não se converteu em trabalhos qualificados para a juventude.

O setor serviços foi o protagonista do aumento da oferta de empregos,

frequentemente vinculados a atividades de terceirização, empregos temporários,

marcados pela precarização, com baixa remuneração e com direitos trabalhistas

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reduzidos. O mesmo relatório da OIT constatou que a informalidade e a

precariedade são maiores entre os jovens quando comparadas às dos adultos.

(SALATI, 2013).

Falar em juventude implica considerar o jovem como sujeito de direitos, expressão

cunhada na última década, apontando uma interseção entre os direitos de cidadania

e direitos humanos (NOVAES, 2009), bem como compreender as desigualdades e

as inseguranças que atingem particularmente essa parcela da população, que vão

além de uma simples questão etária.

5 Estudo como parte integrante de “Retratos da juventude brasileira: análises de uma pesquisa nacional”(ABRAMO e BRANCO, 2008).

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5. A JUVENTUDE CONTEXTUALIZADA: SINGULAR E PLURAL

Os dados do Censo Demográfico 2010, apresentados pelo Instituto Brasileiro De

Geografia e Estatística (IBGE), revelam que há 51 milhões de jovens no Brasil, dos

quais, 49,1% são homens e 50,9%, mulheres. Contudo, há divergências na

caracterização da faixa etária que define a população juvenil.

A Organização das Nações Unidas (ONU) determina que a juventude abrange as

pessoas com idade entre 15 e 24 anos. Contudo, no Brasil, de acordo com a

Proposta de Emenda à Constituição (PEC), aprovada pelo Congresso Nacional em

2010, é considerada jovem a população que se encontra entre 15 e 29 anos

(SALATI, 2013).

Importa ressaltar que as denominações de adolescência e juventude se confundem,

pois não há uma concordância na literatura científica que delimite a faixa etária exata

que caracteriza uma pessoa ser adolescente ou jovem (ROSA, et al., 2007). Os

limites que vão demarcar adolescência e juventude são considerados inconsistentes,

mas as idades que caracterizam a adolescência podem variar de 10 a 19 anos, e a

juventude, de 12 a 35 anos, de acordo com estudos nacionais e internacionais

(MENANDRO, TRINDADE E ALMEIDA, 2010).

Embora deva ser relativizado, o critério etário é um aspecto que não pode ser

descartado “visto que juventude não se limita a uma determinada geração, por ser,

sobretudo, uma representação ou criação simbólica associada a comportamentos e

atitudes” (GARCIA6, 2009, p.19).

Em meio a tanta diversidade que permeia o mundo juvenil, somos levados a pensar

e falar em juventudes, em vários contextos, por vários motivos (VELHO e DUARTE,

2010). Falar em juventude é ver semelhanças e diferenças; um paradoxo que faz

sentido quando os jovens se assemelham quando podem projetar seus sonhos e

suas esperanças, ou seja, eles têm possibilidades materiais e simbólicas para

6 A autora faz referência a posturas, responsabilidades e comportamentos característicos do adulto

que são adquiridos pelos jovens. Em seu estudo detectou jovens que trabalham desde os 13 anos de idade.

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pensar e projetar seu futuro. Por outro lado, há uma parcela de jovens que não

possuem essas possibilidades, sua capacidade de escolha é limitada ou nula. Dessa

forma, são configuradas duas juventudes: uma que se prepara para o mundo adulto

por meio da educação e ensino e outra que já faz parte da classe de trabalhadores,

que nem é vista como jovem (BOURDIEU, 1978, CASTRO et al., 2009).

Em relação à pluralidade de juventudes, é necessário buscar compreender esse

público marcado por contrastes e diversidades, pois, com base em

cada recorte sociocultural, classe social, estrato, etnia, religião, mundo urbano ou rural, gênero, saltam subcategorias de indivíduos jovens, com características, símbolos, comportamentos, subculturas e sentimentos próprios. Cada juventude pode reinterpretar à sua maneira o que é ser jovem, contrastando-se não apenas em relação às crianças e adultos, mas também em relação a outras juventudes (GROPPO, 2000, p.15).

Para Velho e Duarte (2010), tratar a juventude como plural vem salientar a

complexidade que envolve a sociedade moderno-contemporânea. Ademais, é

preciso estar atento tanto para as dimensões locais quanto para a sua dimensão

enquanto fenômeno mundial. “É preciso identificar diferenças, sem perder de vista o

caráter mais universal das experiências da juventude contemporânea e com uma

permanente preocupação comparativa” (p. 8).

A despeito da heterogeneidade da juventude brasileira, o perfil de jovens estudantes

do ensino médio noturno da rede pública paulista, trabalhadores em sua maioria, foi

analisado por Garcia (2009) por meio de questões sobre a escola, trabalho e

projetos de vida. Constatou-se que o sentido que o trabalho representa para os

participantes da pesquisa está relacionado à sobrevivência, realização pessoal,

autonomia e independência, ascensão social, consumo, estabilidade e segurança

associada com uma carreira. Garcia (2009, p. 295) também percebeu que “os jovens

trabalhadores consideram o trabalho como fonte de recursos para a satisfação de

suas necessidades, das mais imediatas às mais supérfluas”.

Lachtim e Soares (2011) analisaram os valores atribuídos ao trabalho por jovens de

diferentes grupos sociais de um município da região metropolitana de São Paulo e

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concluíram que os jovens de todos os grupos percebem o trabalho como algo

valoroso, também associado à independência financeira, com o propósito de

consumo da cultura jovem (roupas, baladas e viagens).

A resultados semelhantes chegaram Leão, Dayrell e Reis (2011), ao investigarem

um grupo de jovens estudantes do ensino médio de três cidades do Estado do Pará.

Para uma parcela significativa desse grupo, o trabalho surge como uma dimensão

importante da condição juvenil, permitindo garantir o mínimo de recursos para o

lazer, o namoro ou o consumo.

No mundo marcado pelo consumo e pela dimensão do novo capitalismo,

caracterizado por novas formas de trabalho, perfis exigidos para um novo

trabalhador, introdução de novas tecnologias nas organizações, entre outras

transformações, trabalho e juventude(s) encontram-se entrelaçados. Tanto a

categoria trabalho quanto a temática juventude estão imersas num contexto,

anteriormente apresentado, de predomínio de tecnologias de informação e

comunicação, num mundo globalizado, sujeitos a novos paradigmas organizacionais

que recomendam um tipo de sociabilidade e subjetividade aos trabalhadores.

Essa realidade nos instiga a questionar como os jovens estão vivenciando a

construção (ou não) de seu futuro. Os projetos de vida da juventude estarão

ancorados na constituição de uma profissão? E, afinal, quais os significados que os

jovens vêm atribuindo ao trabalho?

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6. O NOVO TRABALHADOR: EXIGÊNCIAS E EXPECTATIVAS NO MUNDO DO

TRABALHO

Jovens ágeis e flexíveis, esse é o apelo da sociedade capitalista exigindo que os

novos trabalhadores sejam proativos e adaptáveis às mudanças que o mundo

organizacional determina como regra inegociável. Moraes (2002) retrata com clareza

tal realidade ilustrada no folheto da TAM (companhia aérea) em busca de novos

funcionários para a composição de seu quadro de pessoal, por meio da exigência de

uma série de (pré)-requisitos, como “bom humor, entusiasmo, espírito de servir,

apresentação pessoal, seja bilíngue (inglês, francês, alemão, italiano)” (p. 126).

O que chama mais a atenção do autor são dois aspectos do novo trabalho e do novo

trabalhador: o primeiro refere-se à distribuição do folheto nos próprios voos da TAM,

caracterizando um modo inovador de divulgação para o recrutamento de novos

funcionários; o segundo segue a ordem de requisitos do folheto, em que a

humanidade tem prioridade em relação a cursos específicos na área de aviação, por

exemplo. Com o título Peço-lhe que me ajude!, o panfleto é categórico, ao exigir: “se

você tem, no seio da sua família, ou no seu círculo de amizade, uma pessoa jovem

que tenha os atributos abaixo, pela ordem, por favor indique-a para a TAM”

(MORAES, 2002, p. 132, grifos nossos). Novos trabalhadores necessitam se adaptar

ao novo trabalho, vivendo sob pressões, metas e tantas outras exigências feitas pelo

mercado de trabalho.

O estudo realizado por Maia e Mancebo (2010) – “Juventude, trabalho e projetos de

vida: ninguém pode ficar parado” – analisa as maneiras como os jovens, na

atualidade, constroem seus projetos de vida com base nas novas configurações que

o trabalho apresenta. Os resultados desse estudo revelaram que o trabalho estava

relacionado com os projetos de vida de jovens estudantes universitários e

estagiários de uma grande empresa, de classe média alta do Rio de Janeiro.

Algumas temáticas foram observadas nos depoimentos dos participantes, tais como:

o estágio aparece como aprendizado para a construção dos sujeitos; os contatos, ou

network, surgem como facilitadores para a entrada do jovem no mercado de

trabalho, bem como a sua permanência nele; a concepção de futuro é vista como

múltiplas possibilidades e oportunidades. As autoras verificaram que o trabalho,

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como meio de transformação, é um elemento importante na construção da

identidade desses jovens universitários, “permeados pelas ideias de flexibilidade,

mudança, aceleração, movimento constante e abertura do novo” (MAIA e

MANCEBO, 2010, p. 387).

A despeito das especificidades que caracterizam o universo juvenil, há também

semelhanças. Luca (2001, p. 10) mostra que a juventude tem muitas coisas em

comum, mesmo em diferentes partes do mundo, quando ressalta:

Se tomar Coca-Cola, almoçar no McDonald´s, usar Benetton e acompanhar os clips da MTV tornaram-se experiências comuns a jovens, de Salvador, Amsterdã ou Chicago, eles também compartilham a insegurança quanto ao futuro, o medo da violência, a dúvida na escolha da profissão e a perspectiva do desemprego.

Menandro, Trindade e Almeida (2010, p. 139) confirmam o pensamento de Luca

(2001), ao considerarem que milhões de pessoas, incluindo os jovens, estão

conectados por meio da internet e, portanto, “assistimos a uma uniformização de

padrões culturais, de gostos, de valores, com a emergência de uma cultura global”.

A discussão sobre o trabalho na contemporaneidade envolve questões sobre

capitalismo, globalização, emprego, subjetividade, entre outras. Por isso, para Spink

(2009, p. 60), é importante questionar: “De que trabalho estamos falando? [...] Que

trabalho é este que as pessoas falam que devemos buscar e para qual nós nos

devemos preparar?”.

O fato é que, como o autor citado aponta, o trabalho faz parte da vida, do cotidiano,

como elemento formador de identidade. E, quando surge a pergunta: “o que você vai

ser quando crescer?”, não sugere uma resposta sobre independência, maturidade,

idade ou tamanho, mas exige uma resposta profissional, e não de amadores

(SPINK, 2009). Isso parece sugerir que o trabalho seja ainda significativo para os

jovens no mundo contemporâneo.

De acordo com Jacques (1996, p. 24), com base em estudos empíricos, a identidade

de trabalhador vai-se constituir por meio da identificação com modelos adultos e/ou

por meio da inserção concreta no mundo do trabalho. “O ingresso no mundo

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concreto do trabalho confere valor social, reproduzindo o imaginário coletivo de

valorização moral ao ser trabalhador”. Por esse motivo, o trabalho, como atividade

humana por excelência, representa um papel importante para a constituição

identitária do indivíduo (DEJOURS e ABDOUCHELI, 2010; JACQUES 1996;

MOULIN, 2007).

Considerando as transformações no mundo do trabalho e as especificidades que

permeiam o universo juvenil, bem como as questões sobre a centralidade do

trabalho na vida das pessoas, nosso interesse diz respeito em apreender o sentido

atribuído ao trabalho para os jovens estudantes, concluintes dos cursos de Estradas,

Eletrotécnica, Edificações, Mecânica e Ensino Médio Integrado do Instituto Federal

de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes).

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7. INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO – IFES

Para conhecer as vivências e significados atribuídos ao trabalho, este estudo

propõe-se ter como participantes jovens inseridos em cursos técnicos

profissionalizantes em Estradas, Eletrotécnica, Edificações e Mecânica, integrados

ao Ensino Médio do Ifes/campus Vitória, uma vez que o objetivo da rede federal de

ensino é qualificar profissionais para a atuação nos diversos setores da economia

brasileira, bem como desenvolver novos produtos, processos e serviços.

Consideramos relevante apresentar um breve histórico para melhor entendimento

das transformações ocorridas, tomadas em sua historicidade, no ensino técnico

brasileiro até os dias atuais, de modo a entender como foi construída a imagem de

que “As escolas que compõem a rede federal são referência nesta modalidade de

ensino, prova que seus alunos sempre estão entre as primeiras colocações em

avaliações nacionais” (BRASIL, 2009).

O início dessa trajetória ocorre em 1909, quando foram criadas 19 Escolas de

Aprendizes Artífices, como instrumento de política para as classes desprovidas

(BRASIL, 2009). Uma dessas unidades foi criada em Vitória – Escola de Aprendizes

Artífices do Espírito Santo – com objetivo de formar profissionais, artesãos,

direcionados para o trabalho manual, fator de grande relevância social e econômica

no contexto brasileiro. Nilo Peçanha, então presidente do Brasil, no decreto de

criação das Escolas de Aprendizes Artífices ressalta que “se torna necessário [...]

habilitar os filhos dos desfavorecidos da fortuna, com o indispensável preparo

técnico e intelectual [...]” (SUETH et al., 2008, p. 37).

Em 19377, a Escola de Aprendizes Artífices do Espírito Santo recebeu o nome de

Liceu Industrial de Vitória com o propósito de capacitar profissionais para a produção

em série. A Constituição brasileira de 1937 foi pioneira em tratar, de forma

7 Em 13 de janeiro de 1937, foi assinada a Lei 378, que transformava as Escolas de Aprendizes e

Artífices em Liceus Profissionais, destinados ao ensino profissional, de todos os ramos e graus (BRASIL, 2008).

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específica, do ensino técnico, profissional e industrial, a qual, em seu art. 129,

menciona:

O ensino pré-vocacional e profissional destinado às classes menos favorecidas é, em matéria de educação, o primeiro dever do Estado. Cumpre-lhe dar execução a esse dever, fundando institutos de ensino profissional e subsidiando os de iniciativa dos Estados, dos Municípios e dos indivíduos ou associações particulares e profissionais. É dever das indústrias e dos sindicatos econômicos criar, na esfera de sua especialidade, escolas de aprendizes, destinadas aos filhos de seus operários ou de seus associados. A lei regulará o cumprimento desse dever e os poderes que caberão ao Estado sobre essas escolas, bem como os auxílios, facilidades e subsídios a lhes serem concedidos pelo poder público (BRASIL, 2008, p. 4).

Nessa época, o cenário político-econômico brasileiro era marcado pelo crescimento

industrial e por sua diversificação, em que novos setores começam a ganhar

importância, tais como o mecânico, o metalúrgico, de materiais elétricos, químico e

farmacêutico (LUCA, 2001).

No ano de 19428, a Escola Técnica de Vitória funciona sob os regimes de internato e

externato, com oficinas, salas de aula, teatro, entre outras dependências para

atender os alunos dos cursos de Alfaiataria, Artes de Couro, Marcenaria, Mecânica

de Máquinas, Serralheria, Tipografia e Encadernação (SUETH et al., 2008). Desse

ano em diante, inicia-se, como formal, o processo que vinculava o ensino industrial à

estrutura do ensino do Brasil, “uma vez que os alunos formados nos cursos técnicos

ficavam autorizados a ingressar no ensino superior em área equivalente à da sua

formação” (BRASIL, 2008, p. 4).

As Escolas Industriais e Técnicas são transformadas em autarquias com o nome de

Escolas Técnicas Federais em 1959, quando ganham autonomia didática e de

gestão e, com isso, “intensificam a formação de técnicos, mão de obra indispensável

diante da aceleração do processo de industrialização” (BRASIL, 2008, p. 4).

Entretanto, somente em 1965, passa a ser chamada de Escola Técnica Federal do

Estado do Espírito Santo (ETFES), com o objetivo de atender às exigências

estabelecidas pela sociedade industrial e tecnológica (SUETH et al., 2008). Nesse

período, com a instalação das empresas multinacionais no território brasileiro, o

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capital externo passou a ter o controle dos setores mais dinâmicos da economia

nacional: “[...] a Vemag foi comprada pela Volkswagen, a Fábrica Nacional de

Motores pela Alfa-Romeo, as Tintas Ipiranga pela Esso, a Cervejaria Caracu pela

Skoll, a Grapete pela Anderson Clayton [...]” (LUCA, 2001, p. 90).

Acompanhando as mudanças socioeconômicas brasileiras, foi criada a LDB – Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Brasileira – 5.692, de 11 de agosto de 1971, que

torna, de maneira compulsória, técnico-profissional, todo currículo do segundo grau. Um novo paradigma se estabelece: formar técnicos sob o regime da urgência. Nesse tempo, as Escolas Técnicas Federais aumentam expressivamente o número de matrículas e implantam novos cursos técnicos (BRASIL, 2008, p. 5).

Dessa forma, com a reformulação da estrutura escolar, a ETFES é levada a formar

somente técnicos de 2º grau em nível profissionalizante e, a partir de 1973, o curso

técnico passou a ser hegemônico, preparando os alunos para exercer profissões

técnicas (FRIGOTTO, CIAVATTA e RAMOS, 2005; SUETH et al., 2008).

Em 1978, com a Lei 6.545, as Escolas Técnicas Federais dos Estados do Paraná,

Minas Gerais e Rio de Janeiro são transformadas em Centros Federais de Educação

Tecnológica (CEFETs). Tal mudança “confere àquelas instituições mais uma

atribuição, formar engenheiros de operação e tecnólogos, processo esse que se

estende às outras instituições bem mais tarde” (BRASIL, 2008, p. 5, grifos do autor).

Na década de 90, o presidente Fernando Henrique Cardoso aponta uma clara

separação entre a parte profissional e acadêmica, no sistema técnico de ensino, pois

“todo o processo começou a tender para novos rumos relacionados com a

orientação que o neoliberalismo ia imprimindo cada vez mais nas práticas

educativas” (SUETH et al., 2008, p.100).

Em 1996 foi sancionada a Lei 9.394, considerada como a segunda LDB, seguida

pelo Decreto 2.208/1997, que regulamenta a educação profissional e cria o

Programa de Expansão da Educação Profissional (Proep) como “novos instrumentos

8 Em 1942, as Escolas de Aprendizes e Artífices são transformadas em Escolas Industriais e Técnicas, passando a oferecer a formação profissional em nível equivalente ao do secundário.

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da formação profissional no Brasil, adequados ao processo de diminuição dos custos

com a reprodução da força de trabalho” (SUETH et al., 2008, p.101, grifos nossos).

Em meio a essas complexas e polêmicas transformações da educação profissional

brasileira, o processo de transformação das Escolas Técnicas Federais em Centros

Federais de Educação Tecnológica, que teve seu início em 1978, é retomado em

1999 (BRASIL, 2008). Portanto, em março de 1999, o Centro Federal de Educação

Tecnológica do Espírito Santo (Cefetes) passa a oferecer os cursos de nível médio,

pós-médio e de graduação.

As palavras de Lima (2010, p. 166) ilustram esse processo de mudança:

A ETFES transformada em CEFET/ES viu alterados os seus modelos pedagógicos nos mais diversos aspectos: a duração dos cursos, a clientela, os pré-requisitos, a sustentabilidade, a continuidade, enfim, a escola mudou muito de Liceu para ETV; de ETFES para CEFET/ES as alterações foram muito mais radicais.

Em 2004, o Decreto 5.154 permite a integração do ensino técnico de nível médio ao

ensino médio. Entretanto, Saviani (1997), apud Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005)

sinalizam que

o ensino médio integrado ao ensino técnico, conquanto seja uma condição social e historicamente necessária para a construção do ensino médio unitário e politécnico, não se confunde totalmente com ele porque a conjuntura do real assim não o permite. Não obstante, por conter os elementos de uma educação politécnica, contem também os germens de sua construção (p. 44, grifo do autor).

Ramos (2005, p. 125) complementa o pensamento dos autores, quando afirma que

a presença da profissionalização no ensino médio deve ser compreendida, por um lado, como uma necessidade social e, por outro lado, como meio pelo qual a categoria trabalho encontre espaço na formação como princípio educativo.

Em 2008, o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sanciona a Lei

11.892, que cria 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia no país. No

estado do Espírito Santo, o Cefetes e as Escolas Agrotécnicas de Alegre, de

Colatina e de Santa Teresa se integram em estrutura única: o Instituto Federal do

Espírito Santo.

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O Instituto Federal do Espírito Santo conta, atualmente, com 179 campi: Alegre,

Aracruz, Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Colatina, Guarapari, Ibatiba, Itapina,

Linhares, Nova Venécia, Piúma, Santa Teresa, São Mateus, Serra, Venda Nova do

Imigrante, Vila Velha e Vitória (IFES, 2012).

O campus Vitória é o mais antigo do Ifes, desde 1942 situado na cidade de

Vitória/ES, onde desenvolve suas atividades de ensino, pesquisa e extensão. O

quadro de pessoal do campus Vitória, incluindo os servidores cedidos à Reitoria, é

composto por docentes efetivos, docentes substitutos e técnicos administrativos.

De acordo com dados obtidos pelo Sistema Acadêmico do Ifes, o corpo discente do

campus Vitória é formado por 4.030 alunos, regularmente matriculados. Os cursos

ofertados no campus Vitória são os seguintes: Técnicos integrados com o Ensino

Médio em Estradas, Eletrotécnica, Edificações e Mecânica; Técnicos integrados com

o Ensino Médio para Jovens e Adultos em Edificações, Metalurgia e Segurança do

Trabalho; Técnicos concomitantes em Edificações, Estradas, Eletrotécnica,

Geoprocessamento, Mecânica e Metalurgia; Licenciaturas em Letras/Português e

Matemática; Engenharia Elétrica, Engenharia Metalúrgica, Engenharia Sanitária e

Ambiental; Especialização em Proeja e Mestrado em Engenharia Metalúrgica e de

Materiais e Educação em Ciências e Matemática.

O contexto de mudanças aceleradas no Ifes possivelmente decorre das inúmeras e

complexas transformações ocorridas no mundo produtivo. Dessa forma, este estudo

tem o propósito de analisar os significados atribuídos ao trabalho para os estudantes

dos cursos do ensino médio integrado desse instituto, de acordo com seus projetos

de vida.

9 O campus Centro-Serrano encontra-se em fase de construção, localizado no município de Santa

Leopoldina.

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8. JUSTIFICATIVA

A juventude tem sido objeto de reflexão de vários estudos em razão dos desafios

que esse público traz para a vida social e cotidiana por meio de estudos sobre

violência, uso de drogas, maternidade/paternidade precoce, inserção em vários

grupos, enfim, sobre a sociabilidade e os modos de andar a vida desses jovens que

sofrem mudanças na medida em que estejam inseridos num mundo repleto de

incertezas, riscos e transformações (ABRAMO e BRANCO, 2005; CASTRO,

AQUINO e ANDRADE, 2009; CAMARANO, 2006; GARCIA, 2009; MENANDRO,

TRINDADE e ALMEIDA, 2010; LACHTIM e SOARES, 2011).

É em um cenário permeado por inúmeras transformações que muitos jovens,

preocupados com questões referentes ao mundo adulto, se preparam para o

ingresso no mercado de trabalho. Nesse contexto , Garcia (2009) afirma que

juventude e trabalho estão intimamente ligados à sociedade capitalista por meio de

relações complexas.

A opção de analisar os jovens estudantes dos cursos do ensino médio integrado de

Edificações, Eletrotécnica, Estradas e Mecânica do Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes) se deve ao fato de que estão

concluindo o ensino médio integrado e são pertencentes a um contexto educacional

específico que visa à formação profissional.

Por isso, com base na discussão travada até aqui, surgem algumas questões que

precisam ser analisadas. Quais seriam os valores que permeiam a vida desses

jovens? O que esses jovens pensam a respeito do futuro? E o trabalho continua a

ser uma atividade central na construção de seus projetos de vida? São nessas

reflexões que este estudo se ancora.

No aspecto científico poderá contribuir para fomentar as questões relacionadas com

a temática do trabalho e da juventude, dando visibilidade aos anseios e significados

que os jovens atribuem ao trabalho. Este estudo poderá também contribuir para a

formulação de políticas públicas para a juventude e para o trabalho, em que a

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atividade de trabalho deixe de ser pensada de forma naturalizada e esteja mais

próxima ao cotidiano do universo juvenil.

Este estudo dá visibilidade para a relação entre juventude e trabalho porque é

preciso reconhecer as transformações que envolvem os dois fenômenos

pertencentes à vida cotidiana. Trabalho e juventude surgem de forma múltipla no

contexto social contemporâneo, como questões sociais relevantes.

Dessa forma, há a possibilidade de contribuir para melhor compreender os jovens e

o trabalho, temática associada à área da Psicologia Social, bem como incentivar

novos estudos a esse respeito identificando lacunas e apontando novos caminhos.

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9. OBJETIVOS 9.1 OBJETIVO GERAL Compreender e analisar a posição e os significados do trabalho de acordo com os

projetos de vida dos jovens estudantes dos cursos do ensino médio integrado de

Edificações, Eletrotécnica, Estradas e Mecânica do Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes)/campus Vitória-ES.

9.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS a) Registrar como os estudantes enunciam seus projetos de vida.

b) Elencar os elementos que compõem seus projetos de vida (trabalho, família,

cultura, lazer).

c) Registrar a posição ocupada pelo trabalho nos projetos de vida desses jovens.

d) Registrar os sentidos atribuídos ao trabalho por esses jovens.

e) Verificar se a atividade educacional em que esses jovens estão imersos tem

articulação com a atividade de trabalho.

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10. METODOLOGIA

A temática juventude e trabalho investigada neste estudo sugeriu uma abordagem

qualitativa que responde a questões específicas, peculiares das Ciências Sociais,

pois “trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das

crenças, dos valores e das atitudes” (MINAYO, 2010, p. 21).

A abordagem qualitativa justifica-se porque essa temática pertence a um contexto

marcado por inúmeras e constantes transformações em que é imperativo o esforço

de tornar socialmente visível a juventude brasileira, bem como a relação dos jovens

com o trabalho (CASTRO et al., 2009).

Flick (2009) ressalta que a pesquisa qualitativa é de grande relevância para as

Ciências Sociais, pois aborda pontos de vista subjetivos para melhor compreensão

dos fenômenos estudados. Ou como afirma González Rey (2005, p. 48):

A abordagem qualitativa no estudo da subjetividade volta-se para a elucidação, o conhecimento dos complexos processos que constituem a subjetividade e não tem como objetivos a predição, a descrição e o controle.

Este estudo pode ser classificado como exploratório, pois, de acordo com Gil (2009,

p. 27), as pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o propósito de oferecer

uma visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fenômeno. O autor

acrescenta que a pesquisa exploratória

tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores.

Na pesquisa qualitativa, a realização do trabalho de campo deve ser baseada em

referenciais teóricos e de aspectos operacionais, pois não se pode imaginar um

trabalho de campo neutro. Minayo (2010) conceitua campo, na abordagem

qualitativa, como “um recorte especial que diz respeito à abrangência, em termos

empíricos, do recorte teórico correspondente ao objeto de investigação” (p. 62).

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10.1 PARTICIPANTES

Por ocasião da coleta de dados, o campus Vitória contava com 4.030 alunos

matriculados nos cursos oferecidos pelo Ifes. Elegemos, por conveniência, direcionar

o estudo para os jovens estudantes de ambos os sexos, matriculados e concluintes

dos cursos do ensino médio integrado do Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia do Espírito Santo.

Uma vez que esta pesquisa possui caráter exploratório de natureza qualitativa,

importa ressaltar o que se refere à seleção dos participantes, de acordo com

Driessnack; Sousa e Mendes (2007, s.p.):

Na pesquisa qualitativa os participantes são selecionados propositalmente pelas suas experiências com relação ao fenômeno de interesse, ao contrário da seleção ou amostragem aleatória de uma população maior. Os dados dos participantes selecionados são considerados ricos em detalhes e freqüentemente [sic] são referidos como descrições densas ou pesadas. Tamanhos típicos de amostras variam desde alguns poucos até 30 participantes, o que é bastante diferente das amostras quantitativas que normalmente demandam um número maior de participantes baseados em análise de poder. O poder em pesquisa qualitativa está na riqueza da descrição e detalhes de experiências específicas, processos sociais, culturas, e narrativas.

A escolha pelos jovens estudantes justificou-se também por estarem inseridos em

cursos técnicos profissionalizantes em Estradas, Eletrotécnica, Edificações e

Mecânica integrados ao ensino médio do Ifes/campus Vitória, uma vez que o

objetivo desses cursos é qualificar profissionais para a atuação nos diversos setores

da economia brasileira. Os critérios de inclusão e exclusão foram definidos mediante

a aceitação dos estudantes em participar da pesquisa. Sendo assim, foram

realizadas entrevistas com 16 estudantes.

10.2 INSTRUMENTOS

Para a coleta dos dados deste estudo, utilizamos como instrumento a entrevista

semiestruturada. Segundo Minayo (2010), essa entrevista é uma combinação de

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perguntas fechadas e abertas na qual o participante da pesquisa tem a possibilidade

de discorrer sobre a temática em questão e não se prender à pergunta formulada.

Dessa forma, as sessões foram realizadas no Instituto Federal de Educação, Ciência

e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes) e tiveram como norteador principal o tema –

Qual o sentido que o trabalho tem em seu projeto de vida? (APÊNDICE A) –, por

meio do qual foram desdobradas as questões de interesse a este estudo.

Os dados coletados nas entrevistas foram registrados por meio da gravação de voz,

transcritos na íntegra e complementados por anotações.

10.3 PROCEDIMENTOS

A pesquisa foi apresentada ao diretor-geral do Ifes/campus Vitória para solicitar

autorização da realização da pesquisa com os alunos dessa instituição de ensino. A

pesquisa seguiu os padrões da Resolução CNS 96/1996 do Ministério da Saúde,

que regulamenta pesquisas que envolvem seres humanos, justificando seus motivos

e a escolha dos entrevistados, bem como a garantia de anonimato deles (MINAYO,

2010).

De acordo com a Resolução referida, entende-se que o estudo pode ser classificado

como de risco mínimo, pois os procedimentos que foram adotados não provocaram

riscos maiores dos que os encontrados nas atividades cotidianas dos participantes.

Também foi colocada a possibilidade de os participantes desistirem de contribuir

com este estudo em qualquer momento ou etapa dele. Concedida a autorização, o

contato com os participantes foi feito em seguida para o agendamento dos horários,

de acordo com a disponibilidade de cada um, para a realização das entrevistas no

Ifes/campus Vitória.

10.4 ASPECTOS ÉTICOS

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Foi elaborado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE B),

assinado por ambas as partes, pesquisadora e participantes, além de uma

autorização de um adulto responsável, no caso dos estudantes menores de 18 anos.

(APÊNDICE C).

Esse estudo foi conduzido de acordo com o Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da

Universidade Federal do Espírito Santo, conforme as orientações referentes aos

preceitos éticos a serem considerados na realização de pesquisas científicas

envolvendo seres humanos: voluntariedade, proteção ao anonimato, ponderação

entre riscos e benefícios, garantia de que danos previsíveis seriam evitados,

consideração da relevância social.

10.5 ANÁLISE DOS DADOS

A análise e o tratamento dos dados obtidos pelas entrevistas foram feitos de acordo

o método de interpretação de sentidos. A proposta de interpretação de dados de

pesquisa qualitativa – denominada de método de interpretação de sentidos – “trata

de uma perspectiva das correntes compreensivas das ciências sociais que analisa:

(a) palavras; (b) ações; (c) conjunto de inter-relações; (d) grupos; (e) instituições; (f)

conjunturas, dentre outros corpos analíticos” (GOMES, 2010, p. 97).

Para o autor, o método de interpretação de sentidos compreende as seguintes

etapas: a) fazer uma leitura compreensiva do material selecionado para ter uma

visão de conjunto e apreender as particularidades do material na perspectiva dos

atores, das informações e das ações coletadas; b) explorar o material e buscar ir

além dos fatos e das falas, identificando e problematizando ideias explícitas e

implícitas e outros sentidos mais amplos (socioculturais) atribuídos a elas; c)

elaborar uma síntese interpretativa quando se procura articular entre os objetivos do

estudo, a base teórica adotada e os dados empíricos obtidos (GOMES, 2010, p.

100-101).

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11. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Realizou-se uma pesquisa qualitativa com o propósito de apreender, de forma mais

significativa, o universo permeado por aspirações, projetos e planos de um grupo

específico de jovens estudantes do Ifes. O instrumento utilizado para a coleta de

dados foi a entrevista semiestruturada, realizada por meio de roteiro com tópicos

específicos que funcionaram como norteadores para as entrevistas com os jovens

estudantes.

Foram entrevistados 16 jovens, dos quais oito do sexo masculino e oito do sexo

feminino frequentando os últimos anos dos cursos do Ensino Médio integrado de

Edificações, Eletrotécnica, Estradas e Mecânica do Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes)/campus Vitória-ES.

Nesta seção, apresentamos os cursos do ensino médio integrado do Ifes, de acordo

com o perfil do profissional e de sua área de atuação, os participantes deste estudo

e suas características e, a seguir, a análise dos dados. A análise de dados obtidos

pelas entrevistas resultou em quatro categorias: jovens estudantes e seus projetos

de vida (11.3); o trabalho como horizonte (11.4); a questão do trabalho (11.5); “tempo

livre” em tempos globalizados (11.6).

11.1. CURSOS DO ENSINO MÉDIO INTEGRADO DO IFES

O ensino público brasileiro inserido na estrutura capitalista contemporânea assume

as características próprias desse modo de produção. Por isso, a educação contribui

para a formação dos jovens estudantes com o objetivo de ocupar futuras vagas no

mercado de trabalho. Dessa forma, baseado no Decreto 5.154/2004, o ensino médio

integrado surge com a função de associar a educação profissional à educação

básica (BORGES, 2009).

Técnico em Edificações Integrado

O aluno do curso técnico em Edificações é capacitado a elaborar projetos

arquitetônicos, estruturais e de instalações hidráulicas e elétricas, gerenciar e

acompanhar canteiros de obras e controlar a qualidade dos materiais. Ademais, é

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preparado para elaborar cronogramas e orçamentos e orientar, acompanhar e

controlar as etapas da construção. O profissional formado no curso técnico em

Edificações pode trabalhar em empresas de construção civil, em canteiros de obras

e em escritórios de projetos. O curso é oferecido no turno matutino e tem duração de

quatro anos, com a carga horária de 3.450 horas e 300 de estágio opcional.

Técnico em Eletrotécnica Integrado

O curso técnico em Eletrotécnica habilita o estudante a planejar atividades do

trabalho, atuar na área comercial, treinar pessoas, assegurar a qualidade de

produtos, elaborar estudos e projetos, executar manutenção e operar sistemas

elétricos. O eletrotécnico pode atuar em concessionárias de energia elétrica, em

atividades de manutenção e automação e na fabricação de máquinas, componentes

e equipamentos elétricos. Além disso, pode atuar em empresas de manutenção e

automação industrial e em laboratórios de controle de qualidade e de manutenção e

pesquisa.

Técnico em Estradas Integrado

O técnico em Estradas é habilitado a supervisionar a execução de projetos,

coordenando equipes de trabalho e elaborando cronogramas e orçamentos. Em sua

profissão, também pode executar e auxiliar trabalhos de levantamentos topográficos,

locações e demarcações de terrenos, realizar ensaios tecnológicos de laboratório e

de campo e elaborar representação gráfica de projetos. O profissional formado no

curso técnico em Estradas pode trabalhar em empresas de construção e

manutenção de vias terrestres, órgãos de fiscalização e manutenção de estradas e

em laboratórios de controle tecnológico. Este curso é oferecido no turno vespertino,

com a duração de quatro anos (oito módulos), com a carga horária de 3.602 horas.

Técnico em Mecânica Integrado

O curso técnico em Mecânica forma profissionais qualificados para atuar com

funções dos eixos de controle e processos industriais. O técnico em Mecânica

exerce atividades relacionadas à elaboração de projetos e produtos, ferramentas,

máquinas e equipamentos mecânicos. Também cumpre as funções de operação,

instalação, inspeção, coordenação e execução de serviços de manutenção de

instalações, máquinas e equipamentos industriais, aplicando normas técnicas e

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relacionadas à segurança. O profissional formado poderá trabalhar em indústrias,

metalúrgicas, empresas fabricantes de máquinas, equipamentos e componentes

mecânicos e laboratórios de controle de qualidade, de manutenção e pesquisa. O

curso é oferecido no turno matutino, com a duração de quatro anos, com a carga

horária de 3.510 horas de créditos em disciplinas e 480 horas de estágio não

obrigatório (www.ifes.edu.br, acesso em: 02 fev. 2013).

11. 2. OS JOVENS ESTUDANTES E SUAS CARACTERÍSTICAS

11.2.1. FAIXA ETÁRIA

As idades dos 16 jovens entrevistados variam de 16 a 19 anos.

11.2.2. NATURALIDADE E RESIDÊNCIA

A maioria dos jovens é natural do Estado do Espírito Santo, exceto três, que

nasceram nos Estados de Minas Gerais e Bahia. Todos residem nos bairros da

Grande Vitória: Vitória, Vila Velha, Cariacica e Serra.

11.2.3. ESCOLARIDADE DOS PAIS E RENDA FAMILIAR

A escolaridade dos pais apresenta-se de forma diversificada e varia do ensino

fundamental incompleto ao ensino superior completo com titulação em PhD10. No

entanto, a maioria dos pais dos jovens estudantes possui o ensino médio completo e

o ensino superior completo, respectivamente.

Os pais dos jovens estudantes estão empregados exercendo suas profissões,

exceto dois que se encontram aposentados. Pode-se observar que, em grande

parte, as mães dos jovens estudantes são donas de casa.

A renda familiar aparece com uma variação de R$2.000,00 a R$20.000,00 mensais.

Possivelmente, a escolaridade dos pais esteja associada à renda familiar, ou seja,

quanto maior o grau de instrução, maior é o rendimento da família dos jovens

estudantes.

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PhD: (philosophiae doctor) título reconhecido como maior grau acadêmico.

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11.2.4. PROVENIÊNCIA DOS ESTUDANTES

Os jovens estudantes, em sua maioria, são provenientes da escola particular onde

concluíram o ensino fundamental ou já cursaram o ensino médio. Alguns jovens

revelam que estudaram, pelo menos, um ano em escola pública e também

frequentaram cursos supletivos.

11. 3. JOVENS ESTUDANTES E SEUS PROJETOS DE VIDA

Para Velho (1994), toda noção de projeto remete à ideia de indivíduo-sujeito, em que

é considerado indivíduo aquele que faz projetos. O projeto nada mais é do que uma

conduta organizada para atingir objetivos específicos (SCHUTZ, 1974, apud VELHO,

1994) e encontra-se ligado a um campo de possibilidades.

A noção de campo de possibilidades é vista como pertencente a um contexto

sociocultural que promove a formulação e a implementação de projetos. Igualmente,

as noções de projeto e campo de possibilidades “podem ajudar a análise de

trajetórias e biografias enquanto expressão de um quadro sócio-histórico, sem

esvaziá-las arbitrariamente de suas peculiaridades e singularidades” (VELHO, 1994,

p. 40). O autor acredita que um sujeito pode ter mais de um projeto, mas que, em

princípio, há um projeto principal ao qual outros estão subordinados, tendo-o como

referência, e complementa que “[...] o projeto é dinâmico e é permanentemente

reelaborado, reorganizando a memória do ator, dando novos sentidos e significados,

provocando com isso repercussões na sua identidade” (VELHO, 1994, p. 104).

Na medida em que a possibilidade de preparar projetos depende de condições

sócio-históricas, subentende-se que nem todos têm condições necessárias de

elaborá-los. Então, uma primeira questão se impõe: Será que esses jovens

estudantes aqui pesquisados têm possibilidades para construir um projeto? Com

base nas condições de escolaridade e renda das famílias, tudo indica que sim. Nas

falas dos jovens pudemos observar que a inserção no Ifes emerge como um pré-

projeto que servirá de ponte a outros projetos, como veremos ao longo da análise.

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A maioria dos jovens estudantes aponta o interesse em ingressar no Ifes, no que diz

respeito tanto à qualidade de seus cursos quanto ao objetivo de ser uma instituição

que obtém elevado índice de aprovação no vestibular: “ser aluno do Ifes” já é um

projeto a princípio.

Para compreendermos a inserção no Ifes como um projeto que antecede outros,

buscamos entender como é que ocorreu a escolha da instituição pelo jovem

estudante. Será que houve influência de amigos ou parentes nessa escolha? Como

foi feita essa escolha entre outras possíveis? Qual é o sentido de ser aluno do Ifes

para esses jovens? Foram questões que nortearam o próximo tópico.

11.3.1. PROJETO DE VIDA: A ESCOLHA DO IFES COMO ESTRATÉGIA

A identidade dos atores que compõem o universo juvenil remete a trajetórias e

projetos de vida a serem desenhados. Isto posto, a maioria dos participantes

apresentou como principal objetivo “passar no Ifes”, não importando o curso técnico

como escolha; já o restante entrou no instituto com o propósito de frequentar um

curso técnico específico oferecido pelo Ifes ou, posteriormente, um curso superior

relacionado com a área das ciências exatas, associado ao curso técnico. Se não,

vejamos o que pontuam os jovens estudantes:

O Ifes tem uma história, né!? E eles (os pais) conheciam a qualidade da escola e sempre quiseram que eu entrasse aqui, aí, eu comecei a me interessar também. Só que eu não tinha muita noção do que seria um curso técnico e mesmo assim, entrei. (E 08

11, 18 anos, sexo masculino, curso de

Mecânica).

Olha, eu escolhi, porque na época eu tava pensando muito, como a gente tava vendo o crescimento da área de construção civil, né, eu pensei na arquitetura ou na engenharia, aí eu escolhi Edificações (E 15, 16 anos, sexo masculino, curso de Edificações).

A escolha pelo Ifes foi atribuída, principalmente aos pais, colegas de escola,

concluintes do último ano do ensino fundamental e também aos amigos que já

estudavam no instituto.

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Segundo Bohoslavsky (2007), psicólogo argentino e teórico da Orientação

Profissional, o jovem, quando escolhe algo, inclusive sua profissão, toma como

referência dois grupos dos quais originam as principais pressões e as principais

informações de suas escolhas: o grupo familiar e o grupo de amigos (BOCK,

FURTADO e TEIXEIRA, 2008).Tal fato é corroborado nas falas de dois entrevistados:

Bom...em relação à escola, a minha família tem um certo histórico de ter passado por aqui e...dentre as opções que tinha de curso, por indicação do meu pai, ele sempre deixou muito aberto para eu fazer o que quisesse, mas dizia que dentro da área de Eletrotécnica sempre surgiam as melhores oportunidades dentre os cursos que eu tinha opção. (E 02, 18 anos, sexo masculino, curso de Eletrotécnica)

Eu sou do interior e ninguém sabe o que é Ifes, o que é Cefetes, na época, aí, eu mudei de escola e fui estudar em Campo Grande, e lá todo mundo, 8ª.série, aquele negócio frenético prá estudar, prá passar no Ifes. Eu falei: o quê que é isso? Aí, fui olhando...ah, parece legal! (E 12, 18 anos, sexo feminino, curso de Mecânica)

De acordo com o resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2011,

divulgado pelo Ministério da Educação (MEC), o Ifes/campus Vitória encontra-se

entre as 100 escolas com as melhores notas, no total de 10.076 escolas brasileiras.

Dessas 100 escolas, dez são públicas – duas estaduais e oito federais – e o Ifes/

campus Vitória ocupa a 40ª posição (http://gazetaonline.globo.com, acesso em: 01

mai. 2013). Esses números ilustram a posição da instituição em relação ao ranking

de escolas que o Enem e as aprovações nos vestibulares produzem e provocam o

interesse de jovens e suas famílias na inserção nesse universo que já é “vencedor”.

Trata-se de um universo carregado de significados e valores aos quais os jovens

acabam por aderir. A inserção num curso voltado para futura profissão na mesma

instituição e/ou a possibilidade de passar no vestibular são os objetivos mais

comuns entre os jovens entrevistados.

A escolha da futura profissão está vinculada a condições sociais do indivíduo, o que

interfere na busca de uma escola que venha atender às aspirações dos estudantes

ingressantes do ensino médio. Os jovens estudantes participantes deste estudo

identificam o Ifes como uma escola de referência, evidenciando a excelência do

11

Convencionamos que as designações E + o número diante de alguma declaração significam o

estudante da pesquisa mais o respectivo número, em razão da obrigatoriedade do sigilo.

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ensino nele praticado. Tal fato é analisado dentro de um contexto sócio-histórico

cultural, já que o Instituto Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo ainda

é conhecido por Cefetes (Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito

Santo) ou ETFES (Escola Técnica Federal do Espírito Santo). O Ifes tem um papel

relevante no cenário educacional capixaba, conforme relatam os participantes.

Eu acho que...então...pela fama da escola, pela escola ser boa no que é...[...] ainda se tem aquela coisa: Me formei no Ifes, o emprego é, praticamente garantido, entendeu? É uma escola que abre muitas portas e, crescimento pessoal também, porque a escola dá...dá um crescimento como pessoa, né, muito grande! (E 02, 18 anos, sexo masculino, curso de Eletrotécnica)

[...] aqui dá uma boa formação! Porque a empresa que vê assim, né, queiram ou não, as empresas vêem: Ah, você foi formado aonde? Não tem uma escola técnica melhor que aqui! É brincadeira! Não tem! Não tem jeito! (E 08, 18 anos, sexo masculino, curso de Mecânica)

Para Bourdieu (1978), um dos efeitos fundamentais da escola é a manipulação das

aspirações. A escola “[...] não é um simplesmente um lugar onde se aprende coisas,

saberes, técnicas, etc.: é também uma instituição que concede títulos, isto é,

direitos, e, ao mesmo tempo, confere aspirações” (p. 4). É interessante observar

essa aspiração na fala da jovem estudante entrevistada:

[...] eu tenho também tenho muita vontade de voltar para o Ifes, mas dando aula, né!? Porque eu gostei muito da instituição, eu gosto muito daqui e acho que mudou muito a minha vida e eu queria passar isso para as outras pessoas! (E 06, 17 anos, sexo feminino, curso de Mecânica)

No que concerne ao papel do Ifes nos planos de futuro desses jovens, o instituto

ocupa um lugar diferenciado em seus projetos de vida. De acordo com os jovens

entrevistados, os ensinamentos recebidos nesse instituto facilitarão seus planos para

o futuro no que se refere às suas trajetórias profissionais e pessoais.

Acho que aqui na escola, o grande diferencial que eu vejo é a preparação pro lado profissional da coisa. [...] O grau de aprovação (no vestibular) dos estudantes daqui em Medicina, Engenharia é altíssimo, acho que maior que qualquer escola particular [...].(E 08, 18 anos, sexo masculino, curso de Mecânica)

O estudo abre muita porta! Primeiro, o estudo que eu tenho, que eu tive aqui no Ifes, né, [...] vai abrir uma porta para a universidade, você já vai ter um amadurecimento! [...] E, como o instituto ele não...ele parece...tipo assim, ele não é uma escola particular que se preocupa muito com o aluno, assim...[...] a gente vai aprendendo, que...ah, se eu não for à aula, eu tô

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perdendo a matéria! [...] Quem não aprende, leva um tapa, né!? (risos) (E 06, 17 anos, sexo feminino, curso de Mecânica)

Além dos ensinamentos adquiridos, outro aspecto apresentado pelos jovens

estudantes diz respeito ao amadurecimento que eles adquiriram depois que

ingressaram no Ifes, fazendo comparações com a escola particular, já que a maioria

deles é proveniente do sistema particular de ensino.

A frase que eu lembro, de um professor, quando eu entrei aqui foi: Aqui é o lugar onde você chora e sua mãe não vê! (risos). A frase que eu lembro até hoje! E, é exatamente isso, né!? [...] mas, sua mãe não tem que te cobrar não, você tem que meter a cara! [...] Amadureci aqui dentro 100%, mil vezes! (E 08, 18 anos, sexo masculino, curso de Mecânica)

Aqui, eu tive que aprender a estudar, aprender a estudar sozinha, aprender a me virar, aprender, entender, pegar, porque os professores não mandam! Se você fizer, bem e se não fizer o problema é seu, entendeu!? Aí, eu aprendi a ficar mais esperta assim [...] Eu acho bom, porque eu era muito sonsa, muito sonsinha e ficava esperando tudo! E, aqui deu prá amadurecer bastante [...] (E 14, 17 anos, sexo feminino, curso de Edificações)

O amadurecimento apresentado pelos jovens participantes deste estudo sugere um

aspecto positivo na construção de suas trajetórias e seus projetos de vida.

De modo geral, ao serem questionados sobre seus projetos, os jovens estudantes

afirmam a existência de planos para o futuro. Todos os planos são complementares,

marcando os múltiplos aspectos das aspirações desses jovens: passar no vestibular,

seguir uma profissão, constituir uma família, ter filhos, viajar, tudo são propósitos

para os entrevistados. Para a maioria desses jovens, seus planos remetem a passar

no vestibular e ter uma profissão, sugerindo que estudo e trabalho se apresentam

atrelados e interdependentes.

Sendo essa a primeira visão dos projetos de vida da população investigada, nosso

interesse constitui em saber como esses jovens estudantes pensam seus futuros e

qual é a importância da atividade de trabalho em seus planos. E, se vinculados à

atividade de trabalho, como é que eles pensam esse futuro e o que fazem para pôr

em prática ações e atividades que visam a alcançar seus objetivos.

11.4. O TRABALHO COMO HORIZONTE

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As trajetórias de vida desses jovens estudantes, subsumidas no capitalismo

contemporâneo, apontam a busca da qualificação profissional. Nesse caso, o

diploma surge como passaporte para a competitividade e empregabilidade (GARCIA,

2009). E assim, na tentativa de ingressar em uma universidade pública de

referência, não resta outra via senão realizar o exame vestibular ou “passar no

vestibular”.

Tenho (planos)! Passar no vestibular! (E 02, 18 anos, sexo masculino, curso de Eletrotécnica)

11.4.1. EXAME VESTIBULAR COMO ACESSO À UNIVERSIDADE

O vestibular é o exame aplicado pelas universidades brasileiras (instituições públicas

e privadas) para os alunos, geralmente concluintes do ensino médio que pretendem

ingressar em um curso superior. Dessa forma, a entrada na universidade está

submetida à realização do exame vestibular que pode ser visto como a porta de

entrada dos jovens candidatos a uma vaga no mercado de trabalho.

Dos 16 estudantes entrevistados, seis já tinham passado pela experiência de fazer o

pré-vest12 e três estavam frequentando o curso preparatório para o ingresso no

ensino superior. Esses jovens, além de frequentarem seus cursos técnicos no Ifes,

em outro turno dividiam o tempo se preparando para o exame vestibular.

Os relatos apresentam a dificuldade, o cansaço, além da pressão de passar no

vestibular, causando ansiedade e estresse para esses jovens que querem ingressar

no mundo do trabalho. Por isso, a preocupação e o medo provocados pelo vestibular

afetam os estudantes e vão aumentando conforme a aproximação da realização do

exame (ALVES, 1995, apud D´AVILA & SOARES, 2003).

A rotina desses estudantes é alterada pelo ingresso no curso preparatório para o

vestibular, além disso, interfere diretamente na saúde dos jovens participantes.

Relatos sobre as alterações no sono, a privação de refeições ou uma alimentação

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inadequada são consequências diretas sofridas pelos vestibulandos que frequentam

os cursinhos.

Ano passado eu fiz pré de manhã, aí eu fazia pré-vest de manhã, vinha pro Ifes a tarde, aí ficava estudando na biblioteca à noite e, no sábado, também acabava que tinha aula o dia inteiro, aí só tinha o domingo, né!? E, no domingo eu dormia bastante!! Ai, ai...já desmaiava no corredor de sono!! (E 10, 18 anos, sexo masculino, curso de Estradas)

[...] como eu decidi que queria fazer vestibular, como eu decidi que queria fazer medicina, eu comecei a fazer pré-vestibular no ano passado, eu comecei fazendo à noite, aí eu saía do pré, dez e pouco (depois das 22h), dez e vinte, e eu chegava em casa onze e pouco (depois das 23h...) e minha mãe ficava preocupada, aí eu conversei lá e passei para a manhã. [...] eu acordava mais cedo, então, era muita correria porque...quando eu fazia à noite, eu saía daqui e ia direto pro pré, porque começa lá às...seis e cinquenta (18h50) e aqui acaba seis e dez (18h10), aí, rapidinho, eu comia uma coisinha e corria! Aí, de manhã é ainda mais corrido, porque acaba meio dia e meia lá (12h30) e aqui começa meio dia e cinquenta (12h50), então, tinha dia que eu nem almoçava direito, às vezes não almoçava, comia um lanche, às vezes eu almoçava correndo, chegava tarde na aula, levava alguma falta...(E 05, 17 anos, sexo feminino, curso de Estradas)

Uma jovem estudante, que já tinha passado pela experiência do preparatório,

assinala que, além da mudança em sua rotina diária, existe a pressão sofrida nesse

momento de incertezas e a “necessidade” de prestar o vestibular em mais de uma

universidade:

Semana passada eu ‘tava muito nervosa, porque eu fiquei como suplente na Unicamp

13, só que pelos anos anteriores eu iria ser chamada, só que

este ano, chamaram menos gente, aí, então..., eu não fiquei triste porque...ai, eu ‘tava com muito medo, assim...de ter que largar tudo aqui, largar o curso, largar tudo e largar a família é que tava me incomodando mais, eu ‘tava passando mal, ‘tava muito assim...Até porque eu nem terminei e falta mais de um ano no Ifes, né!? Eu ia largar o curso e tudo! Só que aí, eu acho que não vou ser chamada não! Assim, da Ufes

14 eu também

não tô muito confiante não, porque eu errei umas bobeirinhas, né, embora o pessoal não tenha ido muito bem, mas eu errei algumas coisas que vão me condenar, na Ufes, aí, eu vou ter que fazer de novo! A experiência foi válida e não me arrependo de ter feito pré-vestibular o ano passado, não! (E 07, 17 anos, sexo feminino, curso de Estradas)

Lidar com a ansiedade e estresse é uma tarefa que concorre em importância com a

preparação acadêmica. Trata-se de um momento crucial para o jovem que tem como

projeto passar no vestibular como forma de inserção futura no mundo do trabalho. O

12

Também conhecido como "cursinho pré-vestibular" ou "cursinho". 13

Universidade Estadual de Campinas.

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vestibular reveste-se de muitos significados – condensa todo o esforço dos pais e do

jovem para prepará-lo para esse momento vivenciado como decisivo. Os jovens

sentem-se pressionados em várias vertentes. Fazer o vestibular implica antes

escolher um curso que deverá guiar uma profissão que, em princípio, deverá durar a

vida toda. Trata-se de uma escolha difícil de realizar. Não se tem nesse momento a

ideia da profissão como uma construção que dura a vida toda e que tem revezes

como tudo na vida. Os pais, os amigos, os conhecidos, todos parecem ter também

expectativa quanto ao fato de o jovem passar ou não no vestibular, como sucesso ou

como fracasso. Em outra vertente, os jovens incorporam essas pressões e têm eles

mesmos as próprias cobranças.

Pode não ser fácil para esses jovens lidar com tensão, ansiedade, pressão e

estresse. A ansiedade também é vigente pela própria cobrança do jovem de obter

boas notas e pela sobrecarga de atividades escolares.

Eu era muito ansiosa, ainda eu sou um pouco, mas, assim, eu era muito, me atrapalhava muito mesmo! [...] Nossa, eu já fui muito...eu sou muito nervosa, ansiosa! Eu tenho problema de ansiedade, assim quando eu ficava estressada demais, meu braço fica cheio de bolinha, eu ficava coçando e era horrível, entendeu!? (E 05, 17 anos, sexo feminino, curso de Estradas)

Eu sou do tipo que quando eu tô muito estressada com muita coisa, quando eu fiz muita coisa, eu fico com alguma doença e fico doente por um bom tempo! No caso, foi minha garganta, ela inflamou muito e eu fiquei muito tempo com ela inflamada e demorou muito para ela curar! Então o que me salvou no ano retrasado foi a greve, aí eu não consegui frequentar o pré- vestibular, eu fui por um mês e quando deu um mês e meio, tipo, eu não aguento ficar aqui dentro! (E 13, 18 anos, sexo feminino, curso de Edificações)

Outro aspecto que parece provocar ansiedade para os jovens estudantes, não

somente para quem está fazendo o preparatório para o vestibular, é a escassez do

tempo. Para eles, não se pode abrir mão de estudar em virtude de outros

acontecimentos da vida social que são vistos como secundários.

Por exemplo, prá sair, eu tenho muito peso na consciência, se eu tenho que estudar...tipo assim, tenho uma prova amanhã, aí hoje eu não posso sair, eu não consigo! Igual, a avó dos meus amigos faleceu nesse Carnaval, assim...eu acho que eu deveria ir lá hoje, mas só que eu tenho prova amanhã e eu preciso estudar! Então, eu vou ter que pedir desculpas para eles e ir lá outro dia, porque eu não vou deixar de estudar prá minha prova

14

Universidade Federal do Espírito Santo.

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para ir lá falar com eles, entendeu!? E, se eu fosse, eu ia me sentir muito mal, entendeu!? (E 05, 17 anos, sexo feminino, curso de Estradas)

Todavia, a escassez do tempo provocada pela velocidade e o ritmo acelerado das

mudanças do mundo contemporâneo se espraiam para a vida afetiva dos jovens.

Esses jovens estudantes têm uma visão bastante pragmática de seus

relacionamentos, marcados pela fragilidade e efemeridade.

Antes de fazer o pré-vestibular...antes, eu tinha um namorado. Só que acho que...as pessoas falam que namorado não atrapalha, mas atrapalha a estudar...muito! [...] e, eu me estressei, nossa! Eu terminei, não foi nem porque eu não gostava mais dele, mas é porque eu me sentia muito pressionada! (E 05, 17 anos, sexo feminino, curso de Estradas)

Terminei com a namorada porque ela trabalhava à noite e assim, sem tempo. E, esse ano, ela que ‘tá no pré (curso pré-vestibular) aí...já era, Medicina ainda...Não ‘tá fácil prá ninguém não! (E 10, 18 anos, sexo masculino, curso de Estradas)

Não tenho namorado! Ano passado (ano que frequentou o pré-vestibular) eu nem tinha tempo de sair, eu falo que eu não tinha tempo nem de dormir, vou ter tempo para outras coisas?! (risos) Pois é... (E 07, 17 anos, sexo feminino, curso de Estradas)

Os relacionamentos amorosos parecem não afligir tanto esses jovens estudantes.

Todavia, percebemos que a preocupação central que acompanha a maioria desses

jovens prestes a ingressar no mundo do trabalho se refere à escolha profissional.

Pressões sociais, pressão familiar, expectativas de futuro, o sonho de ser um jovem

bem-sucedido e as dificuldades que o mercado de trabalho apresenta em quase

todas as áreas também surgem como dilemas para o universo juvenil (BOCK,

FURTADO e TEIXEIRA, 2008).

11.4.2. A ESCOLHA PROFISSIONAL: (I)MATURIDADE E (IN)CERTEZAS

Os jovens estudantes entrevistados apresentam suas dúvidas em relação à escolha

profissional e sentem-se incomodados com as incertezas ante uma escolha “para

toda a vida”.

Planos eu tenho, só não sei muito bem quais são eles! As pessoas falam: [...] se você está fazendo edificações, você tem que fazer engenharia civil, arquitetura! Eu não tenho que fazer! [...] Me incomoda o fato de eu não ter certeza do que eu sou realmente boa, [...] porque eu acho assim, as pessoas falam muito que adolescente não é responsável e que não sabe

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escolher nada, só que colocam em cima do ombro de um adolescente o fato dele ter que fazer uma escolha do que ele vai fazer prá vida inteira. Aí, depois vira um adulto infeliz porque foi um adolescente infeliz que não soube escolher bem [...] (E 14, 17 anos, sexo feminino, curso de Edificações).

Embora o ensino do Ifes seja destinado à educação profissional, científica e

tecnológica, tal fato não implica que os alunos que nele estudam, necessariamente,

escolherão profissões específicas da área tecnológica e associadas aos cursos que

frequentam.

Meu sonho é...eu sempre gostei da área de pediatria, porque eu sempre gostei muito de criança! Quando eu era novinha, queria ser babá, mas eu vi que não dava muito dinheiro! (risos) (E 05, 17 anos, sexo feminino, curso de Eletrotécnica)

Só que eu tenho um sonho de escrever, ser escritor! Se um dia eu puder...ou trabalhar só como escritor ou fazer à parte, entendeu?! Aí, não sei...Eu já escrevi crônica, não sou muito habilidoso em poesia não, mas eu gosto de escrever muito história, crônica, conto e tal. (E 15, 16 anos, sexo masculino, curso de Edificações)

No passado, tão somente o diploma era necessário para conseguir um bom

emprego. “Hoje, as empresas não contratam apenas pelo diploma. Há uma bateria

de exames para saber se aquele certificado vem acompanhado de pessoas que

sabem aquilo que em tese deveriam conhecer” (POCHMANN, 2011). Para além do

diploma, existe a preocupação de aliar teoria e prática, a necessidade de ser um

bom profissional e de ser reconhecido por sua futura profissão.

Plano para o futuro? Tenho, eu pretendo ter a minha própria firma de construção civil e fazer sucesso, sabe, ser reconhecido pelo o que eu faço! (E 16, 17 anos, sexo masculino, curso de Edificações)

[...] mas tem coisas, na prática, que eu não entendo porque estou fazendo ...Ai, meu Deus, como eu vou ser uma boa profissional se eu não entendo o que eu faço!? Eu quero fazer uma coisa que eu seja boa! Igual...eu entendo que seja uma boa profissional, e ser reconhecida, né...aí, eu sei que eu vou ganhar bem e tal...e poder concretizar meus planos... (E 03, 19 anos, sexo feminino, curso de Eletrotécnica)

Quero ser engenheira, depois eu já me imagino fazendo uma especialização... me especializar na parte de arquitetar, sabe, depois fazer arquitetura como especialização. Eu venho pensando nisso...(E 07, 17 anos, sexo feminino, curso de Estradas)

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Segundo dados fornecidos pelo IBGE, o número de jovens dobrou no período de

dez anos no ensino superior, passando de 6,9% em 1998 para 13,9% em 2008. No

entanto, esse crescimento esteve mais associado ao incentivo à iniciativa privada do

que ao investimento para ampliar o acesso à universidade pública (SALATI, 2013). A

maioria dos jovens estudantes entrevistados apontou como aspiração o ingresso em

uma universidade pública, gratuita e de qualidade.

Pretendo fazer Ufes porque eu quero ficar aqui (no estado), então eu quero ficar aqui com meus pais, não quero estudar fora. Mas, se eu não conseguir, se conseguir federal só fora, eu vou prá fora, eu não quero particular, não, entendeu!? (E 05, 17 anos, sexo feminino, curso de Eletrotécnica)

Ingressar numa universidade boa! [...] Eu vou tentar o IME

15, gostaria muito

de passar, vou tentar a Ufes, vou tentar UERJ16

, também tem...Viçosa17

, vou ver se tem (o curso de Engenharia Mecânica, eu não vi...Mas, assim, faculdades boas! (E 11, 17 anos, sexo masculino, curso de Mecânica)

Nunca pensei em fazer uma faculdade particular, até pelo meu pai porque nunca...até porque ele prefere até me mandar para fora do estado do que pagar por aqui. Na cabeça dele sempre foi assim, em relação ao Ifes: Ah, é bom estudar lá porque você passa na Ufes! (E 10, 18 anos, sexo masculino, curso de Estradas)

Para esses jovens estudantes, as expectativas em torno do ingresso no mundo do

trabalho frequentemente estão associadas ao fim da formação escolar, apontada

como um evento relevante da trajetória individual, uma vez que “[...] ingressar no

mercado de trabalho seria a continuidade de uma trajetória de saída do sistema

escolar, faces de uma mesma moeda, do processo de individualização [...]”

(GUIMARÃES, 2006, p. 172).

A construção dos projetos de vida desses jovens remete a incertezas e conflitos.

Cabe ressaltar que para alguns jovens existe a possibilidade de uma segunda

escolha: outro curso superior (ou outra profissão) a ser considerado como uma

atividade prazerosa, além disso, como outra fonte de renda.

O meu foco é ser engenheiro e trabalhar nessa área de eletricidade, mas eu sempre gostei de cozinhar, também [...] Queria um lugar que eu trabalhasse e sentisse prazer. Eu, por exemplo,eu faço o que gosto e o que me dá

15

Instituto Militar de Engenharia – RJ. 16

Universidade Estadual do Rio de Janeiro – RJ.

17

Universidade Federal de Viçosa – MG.

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prazer. Assim...é uma coisa que de fato dá dinheiro, tem como você ser um profissional bem remunerado é o que eu gosto de fazer, e eu não teria só isso para trabalhar, porque fazendo gastronomia que é outra coisa que eu gosto de fazer, me dá prazer também, eu teria mais uma outra função e se no caso, acontecesse alguma coisa com a engenharia lá, eu já teria uma segunda função e eu já fazendo francês aí, já é mais um caminho para eu poder ir para outro lugar, acontecendo alguma coisa...Então, eu penso assim, eu vou ser um profissional que tem uma ampla gama de trabalho aí, um leque muito grande para poder trabalhar. (E 01, 19 anos, sexo masculino, curso de Eletrotécnica)

A cozinha é um hobby, eu gosto de estar lá, ajudar minha avó a fazer as coisas! Gosto de fazer bolo, pão, torta...esses negócios assim, mais massa e doce! [...] (Penso em) fazer gastronomia, abrir um restaurante ou fazer qualquer coisa assim relacionada à comida. Porque é uma coisa que eu gosto, assim... e, vai ser uma fonte de renda, também! (E 11, 17 anos, sexo masculino, curso de Mecânica)

Observa-se aqui uma questão presente nos planos dos jovens estudantes: é

necessário aliar trabalho e prazer, mesmo que seja necessária uma formação

complementar. Para os jovens entrevistados, há uma diferença entre a profissão

como fonte de dinheiro e prestígio e a profissão como fonte de prazer.

Para Rocha (2008), os jovens que estão em busca do primeiro emprego são

afetados pelo contexto adverso do mercado de trabalho atual, “uma vez que,

normalmente, já estão em situação de desvantagem devido às suas características

específicas, como a falta de experiência e a busca de experimentação” (p. 534).

Uma das primeiras oportunidades de os jovens obterem experiência profissional é

por meio da prática do estágio, e, atualmente, para concorrer a uma vaga como

estagiário(a) é também exigida uma prática profissional anterior, dificultando ainda

mais a situação do jovem com esse propósito.

11.4.3. ESTÁGIO E NOVAS EXIGÊNCIAS DO MERCADO DE TRABALHO

A educação profissional promove a transição entre a escola e o mundo do trabalho.

O estágio, em sua dimensão profissionalizante, tem por finalidade propiciar a

complementação do ensino e da aprendizagem (OLIVEIRA, 2004).

A carga horária complementar referente ao estágio extracurricular nos cursos

integrados do ensino médio no Ifes é optativa, ou seja, não há obrigatoriedade

quanto a sua realização. Embora seja registrada pelos estudantes entrevistados a

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importância do estágio, também sugere incômodo pela não realização dele ou pela

dificuldade de encontrar uma vaga como estagiário.

[...] seria bom entrar num estágio, num emprego agora (no final do curso). O estágio não faz parte da grade (curricular), porque algum tempo foi obrigatório [...] (É importante) a gente poder fazer, ah...um estágio...que a gente aprende muito mais, assim trabalhando, que é ali que a gente vai por o quê a gente sabe em prática. (E 04, 18 anos, sexo feminino, curso de Eletrotécnica)

Difícil de achar oportunidade de estágio! Eu já me inscrevi no IEL-ES

18 e no

CIEE19

, mas nenhum dos dois até agora, eu achei oportunidade de estágio! (E 16, 17 anos, sexo masculino, curso de Edificações)

A escassez do tempo, provocada pelo excesso das atividades escolares desses

jovens, é apontada como a principal causa da impossibilidade da prática do estágio.

Como a gente estuda à tarde, só temos a possibilidade de trabalho de 4 horas, pela manhã, né!? E várias empresas não aceitam, a Vale, a Garoto, todos com esse empecilho de 6 horas. (E 01, 19 anos, sexo masculino, curso de Eletrotécnica)

E, eu já até cheguei a fazer umas 3 ou 4 entrevistas que o cara gosta de você, mas na hora do vamo vê, aí ele vê, pô, você tem que estar na escola de 12h50 às 18h30, perde totalmente...não tem tempo! Então, geralmente, tem empresa que oferece estágio de 4h, e a gente acaba ficando para trás nesse aspecto, entendeu?! (E 02, 18 anos, sexo masculino, curso de Eletrotécnica)

Além da falta de tempo, da dificuldade de vagas, existe a preferência por gênero. Tal

fato também se torna uma demanda, que é vista como impedimento para a prática

do estágio.

E, no estágio, eu também já vi, eles dão preferência a homens. (Os cursos de) Estradas e Edificações têm mais meninas, a (turma de) Mecânica é mais masculina, mas também tem meninas. As meninas da minha sala já tentaram estágio, mas eles dão preferência a homem! Aí, um menino conseguiu e ela (uma colega de turma), não, por causa disso! (E 03, 19 anos, sexo feminino, curso de Eletrotécnica)

O ingresso no mundo do trabalho é marcado por uma série de restrições, junto com

exigências de qualificações cada vez maiores. Baseado nas estratégias do novo

18

Instituto Euvaldo Lodi (ES) faz parte do Sistema Confederação Nacional de Indústria e tem como objetivo promover a interação entre a indústria e a escola, ofertando programa de estágios e bolsas educacionais. 19

O Centro de Integração Empresa-Escola é uma instituição filantrópica, mantida pelo empresariado nacional, que trabalha em prol da juventude estudantil brasileira.

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modelo de gestão, o perfil exigido ao candidato que busca um emprego pela

primeira vez é necessário dispor de potencial de desenvolvimento, ou seja, “ter

raciocínio lógico, iniciativa, garra, espírito de equipe, facilidade de comunicação e

disposição para aprender” (NARDI, 2006, p. 115).

Considerando as novas configurações assumidas pelo trabalho, as mudanças

ocorridas no mundo do trabalho parecem afetar diretamente a juventude e seus

projetos de vida. Algumas palavras são correntes nos discursos que configuram os

cenários organizacionais contemporâneos, tais como: empregabilidade, flexibilidade,

terceirização, empreendedorismo, entre outras. Dessa forma,

Quer veiculados em meio a empresários, analistas de mercado ou trabalhadores em geral, tais discursos instituem novas práticas sociais e legitimam conceitos que, uma vez incorporados no imaginário social, passam a perpetuar essas práticas e a regular novos modos de subjetivação (VALORE & SELIG, 2010, p. 391).

Valores e conceitos tornam-se práticas que antecedem a entrada do jovem no

mercado de trabalho, e isso é vivenciado no âmbito estudantil. O jovem se apropria

do discurso da gestão e, para além do discurso, o transforma em prática. A fala

abaixo é de uma das entrevistadas mais novas, que relaciona as responsabilidades

da vida estudantil, vivenciadas na sala de aula, às (possíveis) exigências que

surgirão no mercado de trabalho.

Hoje em dia, o mercado de trabalho pede pessoas muito mais proativas, você tem que ver a coisa antes dela acontecer! Você tem que ficar mais esperto assim...porque se você ficar esperando muito as ordens, esperando muito que alguém diga prá você o que você tem que fazer isso atrasa totalmente o desenvolvimento de algum trabalho, de alguma coisa. Igual, por exemplo, aqui (no Ifes), quando a gente tem que fazer algum trabalho, algum exercício, tem aquelas pessoas que pegam e começam a fazer no mesmo dia e tem aquelas pessoas que pegam e ficam procrastinando, deixando até o último dia prá fazer depois e ainda ficam perguntando o quê é prá fazer. Você tem que mandar, dar a ordem! E, dizer assim: Ah, você faz isso, você faz aquilo, você faz aquilo outro e se você não falar isso, ninguém vai fazer até o último dia, até o dia anterior da entrega, por exemplo! E, esse tipo de coisa não dá certo não, porque fica esperando muito até um dia antes, tem muita coisa que dá errado, tem muita coisa que não sai certo, tem muito negócio que acaba depois ficando mal feito... E, hoje em dia as pessoas no mercado de trabalho, não têm muita paciência pro negócio mal feito não, porque o trabalho mal feito custa dinheiro, então é dinheiro que você perde ou então, é dinheiro que você deixa de ganhar. E, ninguém quer perder dinheiro, ninguém quer deixar de ganhar dinheiro! (E 14, 17 anos, sexo feminino, curso de Edificações)

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A lógica que controla o mundo do trabalho também invade as demais instâncias da

vida pessoal. Dessa forma, ao bom profissional é exigida uma série de atributos

pessoais, como a condição de empregabilidade (SENNETT, 2010; VALORE &

SELIG, 2010). A escolaridade ganha um novo sentido como elemento básico para a

empregabilidade e competitividade.

A empregabilidade é qualidade individual para o emprego, que exige uma formação em habilidades no campo das condutas, dos conhecimentos e dos valores que possibilite certa ‘flexibilidade’ pessoal para adaptar-se a situações imprevistas, ao desemprego, às mudanças de funções, à cognição de conhecimentos e condutas que o transformem em um cidadão multifuncional (GARCIA, 2009, p. 74)

Em 2012, o índice médio de desemprego no Brasil foi o menor em onze anos: 5,5%,

de acordo com os dados coletados pelo IBGE em seis regiões metropolitanas.

Entretanto, o índice de desocupação entre os jovens de 16 a 24 anos foi de 13,3%. A

insegurança quanto ao futuro profissional, à instabilidade e a precarização podem

afetar a nova geração (VALLE, 2013).

Diante das transformações decorrentes da reestruturação produtiva, da

globalização, da precarização do trabalho e da flexibilidade do trabalho e do

trabalhador, (in)justificadas pelo ideário do progresso, cabe perguntar aos jovens

estudantes: O que é trabalho? Para que trabalhar?

11.5. A QUESTÃO DO TRABALHO

O mundo do trabalho é acompanhado por uma série de contradições. Navarro &

Padilha (2007) apresentam uma dessas contradições, quando afirmam que “ao

mesmo tempo em que o trabalho é a fonte de humanização e é o fundador do ser

social, sob a lógica do capital se torna degradado, alienado, estranhado”(p. 15).

Por isso, vejamos como o trabalho, marcado por transformações e contradições, se

apresenta para esses jovens estudantes.

11.5. 1 O trabalho em questão

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Para alguns jovens entrevistados, o trabalho aparece com o significado de fonte de

renda, aliado ao desenvolvimento da tarefa a ser realizada e ao fazer o de que

gosta.

Eu sempre quis fazer alguma coisa que eu goste, assim...alguma coisa que eu vá poder fazer o que eu sei fazer que eu possa ficar feliz e não prá ganhar dinheiro, sabe!? Eu escolhi essa área por afinidade mesmo, é uma boa área, mas...eu nunca imaginei o trabalho como uma coisa só prá “vou ganhar rios de dinheiro”! (E 07, 17anos, sexo feminino, curso de Estradas)

Bom, assim, é uma fonte de renda, claro, é... mas, na verdade é uma fonte de trocas, né!? Porque você fornece seu esforço e em troca você recebe! Mas, eu acho que você pode amenizar a carga da palavra “trabalho” [...]. Então, a partir do momento que você faz o que você gosta, tem uma carga menor, entendeu!? Então eu acho que...o trabalho é uma fonte de renda, mas desde que você faça aquilo que você gosta, pode ser prazeroso (E 02, 18 anos, sexo masculino, curso de Eletrotécnica)

Para outros, o trabalho é uma forma de pôr em prática tudo o que aprendeu na

teoria, ou seja, a aplicabilidade do ensino se faz por meio do trabalho. Também é

visto como forma de dedicação e forma de sustento e de estabilidade.

É uma forma de sustento, uma estabilidade financeira, é um dever seu, trabalhar! Acho que só...uma forma de sustento mais. (E 11, 17 anos, sexo masculino, Mecânica)

É o jeito de você botar a parte que você conhece assim, em prática. Cada um entende de uma área, né, juntando tudo dá uma coisa maior assim, e tal... (E 10, 18 anos, sexo masculino, Estradas)

Alguns jovens ficaram reticentes, já que a maioria não teve experiência profissional.

Ah...trabalho!? (risos) É difícil essa pergunta!...Eu acho que...ah...é uma atividade que você faz...que você faz em prol de alguma pessoa, de alguma empresa que pode ser remunerado ou não, porque tem muita gente que trabalha voluntariamente aí...[...] Eu acho que é isso...eu não tenho um conceito bem formado sobre essa palavra! (E 04, 18 anos, sexo feminino, Eletrotécnica)

É difícil, né!? São perguntas tão bobas e a gente nunca para prá pensar! É...primeiro (a gente trabalha) ‘pro nosso próprio sustento e...eu acho que também é uma realização pessoal, sabe!? Você concluir seu período de ensino, de educação e você ‘tá podendo aproveitar aquilo tudo depois, acho que é por aí! (E 15, 16 anos, sexo masculino, Edificações)

Além disso, o trabalho parece tão “natural” para o jovem estudante, que se torna

difícil pensar no assunto.

(Quanto ao sentido de se trabalhar tem) até essa questão mesmo de conhecer outras pessoas, não estar preso naquele negócio todo dia, na rotina, é...várias situações, você aprende assim, dar a volta e tal. Não sei se

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é até o sentido certo, é tão comum você trabalhar... nunca parei para pensar! (E 10, 18 anos, sexo masculino, curso de Estradas)

Outros são mais enfáticos e sem hesitação, com respostas baseadas em um

discurso alicerçado na nova organização do trabalho pautada na lógica capitalista.

Por que a gente trabalha? A gente vive num mundo capitalista, a gente precisa de dinheiro! Então, a gente ganha dinheiro; a gente dá um jeito de ganhar dinheiro! Pode ser meio socialista isso, mas é como eu vejo, assim...sei lá, porque se você não tivesse que...se as coisas não custassem dinheiro, acho...não sei se as pessoas trabalhariam! Elas trabalhariam prá fazer as coisas que precisam, mas... existem coisas que não são realmente necessárias, são tipo luxo que você consegue só com o seu dinheiro mesmo! E, só se tem dinheiro, trabalhando! (E 14, 17 anos, sexo feminino, Edificações)

Em relação à inserção no mercado de trabalho, a maioria dos jovens estudantes não

ingressou no mundo do trabalho. Dos 16 jovens entrevistados, 13 não fizeram

estágio nem possuíram alguma experiência profissional, circunstância que gera

apreensão quando indagados sobre a temática.

Nunca tive uma experiência profissional e isso me incomoda...quero muito entrar no mercado de trabalho. (E 03, 19 anos, sexo feminino, Eletrotécnica)

Isso me preocupa um pouco porque eu já tenho 18 anos e nunca fiz nada, em empresa, nada, nada! (E 04, 18 anos, sexo feminino, curso de Eletrotécnica)

Para Alves (2013), as políticas neoliberais dificultam a realização do trabalho

decente20 e as novas gerações enfrentam um cenário adverso no mercado de

trabalho. O autor ressalta que a falta de empregos decentes provocou o crescimento

do “precariado” – que diz respeito a uma nova camada social do proletariado

composta especificamente por jovens-adultos altamente qualificados – porém,

subsumidos, por vezes, em relações de trabalho e emprego precário.

O relato abaixo é de um jovem estudante que já foi Menor Aprendiz21, em uma

empresa de telemarketing e hoje é estagiário na coordenadoria do curso de

20

Segundo definição da OIT, Trabalho Decente é um "trabalho adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, capaz de garantir uma vida digna". 21

O Programa Jovem Aprendiz é uma ação do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), que une ensino formal a cursos de qualificação. A proposta se baseia na chamada Lei do Aprendiz, que entrou em vigor em 2000 e determina que empresas de médio e grande porte contratem jovens entre 14 e 24 anos, para capacitação profissional prática e teórica (http://www2.planalto.gov.br).

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Eletrotécnica do Ifes. Segundo o entrevistado, desde pequeno acompanhava e

ajudava o trabalho de seus pais e, atualmente, nos finais de semana, faz faxinas

para complementação de renda de sua família.

Na Brasil Center eu fiquei 19 meses, aí, quando eu entrei eu fiquei...19 meses era o contrato, né!? Eu fiquei 11 dias no 102, auxílio à lista, no telemarketing, né, depois de 11 dias, a gerente do RH me convidou para eu ser ,estagiário, menor aprendiz de lá, era claro que eu queria, né, porque, tipo assim, lá é muito desgastante o 102, mesmo que o 102 é um dos mais fáceis que tem ali, é muito desgastante, cansa muito e você fica enjoado de tanto ouvir. [...]De trabalho formal, foi a primeira experiência. Que antes, eu ia com minha mãe, fazia alguma faxina, ou trabalhava com meu pai, assim, também, auxiliava ele, qualquer coisa! [...] Eu acabei lá (na empresa de telemarketing), em 15 de abril, e comecei aqui, eu já estava estudando aqui...e quando eu acabei lá, eu já virei bolsista aqui da escola, foi uma coisa após a outra. [...] (Nos finais de semana) aí, (risos) às vezes, quando alguém me chama, eu faço alguma manutenção em...algum reparo, instalado um ventilador, o que tiver. E, faço faxina também [...] é R$100,00 por faxina. (E 01, 19 anos, sexo masculino, Eletrotécnica)

Outro jovem estudante relata sua primeira experiência profissional, como estagiário,

na agência central dos Correios.

O estágio nos Correios não era a área que eu queria atuar, mas foi muito bom porque eu conheci como era o ambiente profissional. O trabalho era muito repetitivo, todo dia a gente uma...as metas para fazer: Ah, você chega, você faz isso, ficou pronto isso, faz isso! Era muito repetitivo e eu não gostava disso! Mas, eu ia fazia! E, foi bom que eu conheci assim, como é que é...Eu não imaginava como era. [...] Isso vai me facilitar demais quando eu for começar a trabalhar porque eu já tenho a noção de como é o sistema [...] (E 11, 17 anos, sexo masculino, Mecânica)

O ingresso no mundo do trabalho desses jovens estudantes, além de decorrer por

meio de atividades terceirizadas e pelo estágio extracurricular, é efetivado por

empregos temporários com intuito exclusivo de ganhar dinheiro, e não como

realização profissional ou associado à área de estudo do jovem estudante.

Eu trabalhei, tipo, 1 mês só em shopping, tipo nas férias, prá pegar um dinheiro, assim e tal. Trabalhei de caixa, assim, em loja, nada demais, não! [...] Ah, tô de férias, vou juntar dinheiro, comprar as coisas que eu quero, foi basicamente por isso mesmo! Na verdade, minha irmã tava saindo, do caixa dessa loja, aí ela comentou, meu irmão quer trabalhar nas férias, aí o patrão dela, ah, pode trazer sim! [...] Aí, foi só isso mesmo. E, era loja de sapato de mulher, entendia nada, assim! (risos). Nossa, cada coisa que passa naquele lugar! (risos). Loja de mulher, é sacanagem! (risos). (E 11, 17 anos, sexo masculino, Mecânica)

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Com as metamorfoses sofridas pelo mundo do trabalho na era da globalização,

consolidam-se novas exigências para os trabalhadores, além da flexibilidade e

competitividade. “Exigem-se novos idiomas, conforme o mercado internacional vai se

modificando e abrindo espaço para novos países” (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA,

2008, p. 316). Exemplo disso é a constatação de que todos os jovens estudantes

entrevistados cursaram ou estavam frequentando, pelo menos, um curso de língua

estrangeira, principalmente o inglês.

A possibilidade de sair do país em busca de novas oportunidades é premente

quando há perspectiva em aliar ensino à prática e aperfeiçoar o idioma estrangeiro.

O depoimento abaixo ilustra o desejo de o jovem estudante participar de um

treinamento em Singapura.

Aí, imagina, eu voltaria com contrato, com fluência em inglês técnico, o vocabulário mecânico, experiência no exterior e, ganhando dinheiro, tipo, então...Imagina, você conseguir isso tudo em um ano é um grande feito, né!? [...] E o pessoal que foi prá lá, já fui procurar saber, né, disseram que a casa é boa, é um apartamento de 3 quartos, 2 pessoas para cada quarto, tem máquina de lavar...tem estrutura, né!? E, Singapura é um país superdesenvolvido, a gente tem preconceito, mas é como se fosse Dubai, assim, é super desenvolvido! [...] Eles (os alunos) vão de metrô para a escola e é uma das melhores instituições de ensino, do mundo, lá, pelo o que eu ouvi falar também, então...é uma grande chance, né!? Vou de olhos fechados para lá! (E 08, 18 anos, sexo masculino, Mecânica)

A exigência da mobilidade contínua sustenta a ideologia do capitalismo flexível ante

as carreiras profissionais (VALORE & SELIG, 2010; ALVES, 2013). Os jovens

estudantes entrevistados associam o trabalho à rotina de fazer a mesma coisa, da

mesma forma, todos os dias.

Lógico que cada dia tem uma coisa diferente, tem que resolver problemas diferentes, mas é sempre a mesma coisa! E tem gente que gosta, tudo bem, mas eu não gosto! Aí, eu não me interesso por esse lado da carreira, né!? A questão da rotina, fazer a mesma coisa todos os dias! E, eu me canso rápido das coisas! Eu me canso muito rápido das coisas, então eu acho que eu tenho capacidade de ganhar dinheiro sem precisar fazer isso, entendeu!? [...] Eu tenho mais interesse em ganhar dinheiro, né!? (risos) Não é verdade!? (E 08, 18 anos, sexo masculino, Mecânica)

Esse negócio de ficar repetindo a mesma coisa gosto não, me dá dor de cabeça! (E 14, 17 anos, sexo feminino, Edificações)

Para esses jovens estudantes, também há uma procura por trabalho no serviço

público, visto como garantia de segurança. O aumento significativo na procura por

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concursos públicos pode possibilitar uma melhor trajetória profissional, baseada em

planos de cargos e salários e remuneração acima do setor privado (ALVES, 2013;

POCHMANN, 2010, apud VALORE & SELIG, 2010).

[...] tenho algumas opções, tipo, trabalhar na área que eu vou me formar, eu gostaria que fosse Direito, ou alguma coisa relacionada a (área de ciências) humanas...é, e se eu não for trabalhar na área, passar em um bom concurso público! Essas seriam minhas opções! Se você só se foca...prá mim, né, se você se foca só numa coisa, e você não consegue ela, você fica frustrado, né, então tem que ter várias opções! (E 08, 18 anos, sexo masculino, Mecânica)

Igual, por exemplo, [...]se eu fosse estudar Direito eu poderia, sei lá, passar num concurso público, porque todo mundo que faz Direito quer passar num concurso público, enfim... (E 14, 17 anos, sexo feminino, Edificações)

O projeto de passar em um concurso e ingressar no serviço público aparece como

possibilidade entre outras oferecidas, segundo os relatos desses jovens. Entretanto,

é a experiência de trabalho de seus pais que eles possuem como parâmetro para

suas futuras escolhas.

11.5.1.2 O TRABALHO DOS PAIS COMO REFERÊNCIA

A cultura das organizações produzida pelo novo capitalismo estabelece novos

paradigmas. Com base na experiência laboral vivida por seus pais, os jovens

estudantes atribuem um aspecto negativo ao trabalho. A ideia de trabalhar como os

pais é um exemplo a não ser seguido. A falta de tempo, o cansaço e a rotina são

elementos que preocupam os jovens estudantes quanto ao futuro profissional.

[...] eu olho para os meus pais que trabalhavam muito! Chegava final de semana que tem o dinheiro para poder gastar, não tem nem vontade, não tem ânimo de sair, entendeu!? Então, de que adianta você trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar para poder chegar no dia e não ter... não poder sair, não poder fazer nada!? Não desfruta! Então você trabalha prá poder ter vida, prá comer, prá viver e você só trabalha, trabalha, trabalha! E isso para mim, não é felicidade! (E 05, 17 anos, sexo feminino, Estradas)

É bem assim...meus pais, eles tem uma rotina. Uma rotina que eu vejo assim...caramba, bicho, eu tenho 18 anos e vejo eles fazerem isso todo dia! Mais ou menos isso...eu vejo eles fazendo a mesma coisa todo dia e eu não acho isso legal assim! Assim...eu não queria isso prá mim! Imagina! Eu não quero me ver 40 anos fazendo a mesma coisa! (E 08, 18 anos, sexo masculino, Mecânica)

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Bauman (2001) ilustra tal fato, ao discriminar a lógica do pensamento

contemporâneo e do pensamento moderno, quando afirma que “quem começa uma

carreira na Microsoft não tem a mínima ideia de onde ela terminará. Quem

começava na Ford ou na Renault podia estar quase certo de terminar no mesmo

lugar” (p. 135).

Para além da família, existem outros exemplos que surpreendem os jovens que

estão às portas do mundo do trabalho. O trabalho é associado a outros fatos que

fazem parte dos noticiários, ou seja, presentes em nossa vida diária e chamam a

atenção desses jovens estudantes.

Caramba, é tanta coisa que tá aí, o pessoal tá...tá ficando atolado, não tá aguentando tanta coisa, vira a noite! Igual lá em São Paulo, a pessoa tem...tem academia 24horas!! A pessoa tem tanta coisa prá fazer, que vai fazer academia de madrugada!? Caramba, isso é ...entendeu!? (E 04, 18 anos, sexo feminino, Eletrotécnica)

Sabe esses casos do pai que esquece o filho no carro? Eu sempre acho que é por causa disso (do excesso de trabalho)! Ele tá tão fissurado no trabalho, tão fissurado que ele se esquece de que ele tem um filho, que ele tá trabalhando prá manter aquele filho, que eu fico, tipo...cara, você tá trabalhando prá manter aquele filho, você ignora ele? (E13, 18 anos, sexo feminino, Edificações)

O cotidiano do trabalho dos pais, bem como suas repercussões, é analisado por

esses jovens estudantes. A fadiga, como consequência da realização de um trabalho

contínuo, provoca alterações no comportamento do restante da família.

Meu pai reclama mesmo é do cansaço, tanto que quando ele chega, a gente evita barulho, porque meu pai já tem pressão alta, essas coisas assim, então...É um trabalho que estressa muito, principalmente com as pessoas que ele convive, né, que às vezes são...é, trazem problemas,né!? Mas, é muito cansativo prá ele, é muita cobrança e uma coisa que ouço muito do meu pai é que ele faz muita coisa, tipo assim [...] sempre sobra prá ele, porque ele sabe fazer mais coisa, é mais experiente na empresa, então, a maior parte vai prá ele. [...] só ele que sabe no setor dele, aí tem que ensinar outra pessoa prá não poder ficar só ele, então é muita cobrança! Acaba desgastando...( E 06, 17 anos, sexo feminino, Mecânica)

Os efeitos do ritmo do trabalho e da atividade em turnos alternados também

emergem na fala dos jovens estudantes. Os jovens reconhecem as mudanças

ocorridas no mundo do trabalho, como a responsabilidade em liderar uma equipe e

desafios diários em motivar os trabalhadores para cumprir as metas exigidas pelo

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sistema de gestão, além da sobrecarga que determinadas atividades laborais

demandam.

Eu vejo reclamação da parte dele (do pai) que eu me preocupo com relação a essa mudança de escala, com relação assim... às mudanças na empresa que, de um tempo para cá, mudou muito, em relação ao auxílio (benefício) , ela diminuiu muito assim...tudo o que ela ajudava o funcionário, é uma carga, como líder de equipe que, no caso é uma das funções dele, ter que lidar com pessoas...pessoas que não tem mais aquela motivação para trabalhar, isso tudo...Acho isso muito complicado! É carga de liderar uma equipe, né!? (...) Meu pai gosta do que faz, assim...de uns tempos para cá diminuiu muito o prazer que ele tinha por aquilo, por tudo isso. Ele, por exemplo, sempre falava que quando tivesse que morrer, ele gostaria de morrer trabalhando, e hoje ele já não fala mais tanto isso! (risos). Mas, ainda vejo nele, assim...a vontade de trabalhar! (E 02, 18 anos, sexo masculino, Eletrotécnica)

Meu pai trabalha demais! Eu fico preocupado, porque meu pai, às vezes, trabalha por escala 12x36

22 e aí, tem escala que cai no domingo, tem escala

que cai no Natal, tem escala que...pega um dia assim, não é apropriado, mas tem que ir! Então, eu acho que isso atrapalha assim...de alguma forma, porque ele vai tá sempre fora nessas datas assim, mas depois um dia ele fica mais prá família, assim, resolver as coisas de casa...Mas, ele trabalha demais!! (E 09, 18 anos, sexo masculino, Estradas)

Para o jovem que já teve sua primeira experiência profissional, o trabalho apresenta

aspecto negativo tanto pelo cansaço quanto pela interferência em sua vida pessoal.

Os laços de amizade se tornam frágeis em razão da sobrecarga do estudo e, mais

tarde, daquela produzida pelo trabalho.

[...] por exemplo, ano passado eu estava estudando para passar (no vestibular) e depois trabalhar, o tempo que tomava era praticamente o dia inteiro , porque eu acordava as 5 horas, chegava em casa as 21h e assim, já morto de sono, dormia, caía duro já e no ano passado, eu me afastei muito de algumas pessoas que eu sempre via, assim, por causa disso, aí, agora que eu tô voltando, conseguindo e tal. [...] É porque agora é o estudo, depois vai ser assim no trabalho, então...Acho que afasta as pessoas assim, acaba ficando preso nessa...com quem você convive no dia a dia no trabalho. (E10, 18 anos, sexo masculino, Estradas)

A relação interpessoal no trabalho também é considerada no discurso dos jovens

estudantes. Os atuais discursos de gestão acabam por proporcionar um trabalho

individualista, embora a organização do trabalho seja baseada no trabalho em

equipe. Segundo a visão desses jovens, não é a execução do trabalho que gera

22

A jornada 12x36 é aquela em que o empregado trabalha 12 horas e descansa 36 horas.

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cansaço e preocupação, mas as pessoas que fazem parte desse trabalho podem

proporcionar desgaste e insatisfação ao trabalhador.

É interessante isso, quando eu vejo as pessoas reclamando do trabalho, eu vejo as pessoas reclamando das pessoas (colegas de trabalho) e não tanto do trabalho. [...] Eu acho que tem um pouco de diferença nisso. (E 14, 17 anos, sexo feminino, Edificações)

Tendo como referência o trabalho de seus pais e baseando-se nas próprias

referências profissionais, mesmo que incipientes, houve o interesse em saber como

seria o trabalho idealizado pelos participantes. Quando os jovens entrevistados

relatam como seria o trabalho dos sonhos, alguns são práticos e objetivos, enquanto

outros relatam a necessidade de ganhar dinheiro e não trabalhar tanto, e outros que

imprimem um aspecto de impossibilidade quanto à sua realização.

Ficar em casa e ganhar muito! (risos) (E 11, 17 anos, sexo masculino, Mecânica)

É ter uma empresa e não ter que trabalhar como um funcionário normal, é ter uma empresa, junto com meus amigos, assim...[...] cada um fazendo seu trabalho, acho que seria muito bom! E, ganhando muito dinheiro, provavelmente...melhor assim! (risos) (E09, 18 anos, sexo masculino, Estradas)

O emprego dos meus sonhos? É a medicina porque é o que eu sempre quis! Só que se eu pudesse trabalhar um pouco menos e ficar mais tempo com a minha família, eu ia gostar, entendeu!? Por exemplo, três vezes na semana? Que não acontece! É muito difícil! (risos) Eu tô falando...seria o emprego dos sonhos, dos sonhos! Mas, não existe, entendeu!? ( E05, 17 anos, sexo feminino, Estradas)

Embora os jovens estudantes apresentem seus sonhos, é diante de um futuro

permeado por incertezas e inseguranças que eles relatam seus medos e

preocupações quanto à impossibilidade de realização de seus projetos de vida.

Geralmente, os jovens ficam ansiosos em relação aos estudos e ao trabalho no

tempo que já está porvir.

Medo só de ter dificuldade em achar emprego, achar emprego e ganhar mal, fora isso, acho que não! Todos dizem que o mercado de trabalho está favorável prá minha profissão e isso me acalma um pouco. (E16, 17 anos, sexo masculino, Edificações)

Medo, eu acho (do curso) da Engenharia, porque dá medo mesmo e que é muito difícil. Eu sei que pode ter uma reprovação ou outra...porque é muito normal de toda Engenharia. É, acho que é isso... (E01, 19 anos, sexo masculino, Eletrotécnica)

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Tenho medo de não conseguir me decidir, de ficar tarde demais, medo de não conseguir entrar numa faculdade pública...tenho esses medos assim...não arrumar emprego! (E03, 19 anos, sexo feminino, Eletrotécnica)

(Tenho medo) de eu me arrepender depois, de eu escolher uma coisa que eu não vou gostar! De eu tá fazendo uma coisa que eu vou tá infeliz naquilo ali, eu acho tão triste uma pessoa tá fazendo uma coisa porque ela não tem opção, não tem escolha! (E14, 17 anos, sexo feminino, Edificações)

Apesar de o trabalho fazer parte dos projetos de vida desses jovens estudantes,

existem outras perspectivas que compõem suas trajetórias futuras. Estudo, trabalho,

lazer parecem estar alinhavados aos projetos de vida dos jovens estudantes

entrevistados.

11.6 “TEMPO LIVRE” EM TEMPOS GLOBALIZADOS E OUTRAS

PERSPECTIVAS

11.6.1 LAZER E SOCIABILIDADE: O USO DO TEMPO LIVRE

De acordo com Mancebo (2002), os meios de comunicação proporcionam a

incorporação de novos conceitos sobre as nossas necessidades. Novos modos de

consumo e estilos de vida caracterizam as práticas de sociabilidade e lazer na

contemporaneidade. Dessa forma, o mercado globalizado promove novas formas de

consumo, como é o caso da compra coletiva. A compra coletiva, realizada por meio

de sites da internet, consiste em um grupo de consumidores reunidos para alcançar

o menor preço de um produto ou um serviço. Para esses jovens estudantes, a

compra coletiva, além proporcionar diversão, é uma oportunidade de reunir os

amigos de turma.

Amigos, sempre a gente sai, e assim...aqui na escola (Ifes) , como a gente ainda é estudante, não tem muito dinheiro, né!? Aí, o que a gente faz: a gente compra no Peixe Urbano, um site de compra coletiva e sai para se divertir, porque sempre tem coisa, pizzaria, cinema, então, tudo a gente sai, a gente não fica parado, dá para arrumar tempo, bem que a semana é apertada, mas a gente sempre arruma um tempo para sair, a gente nunca fica parado não, dá para fazer muita coisa! No final da semana a gente faz muito, mas dentro a semana ainda dá, pega um final do dia, para tarde, dá para encaixar aí, não é difícil não, dá tempo! (E01, 19 anos, sexo masculino, Eletrotécnica)

[...] tem as ofertas de compras coletivas, a gente tá sempre antenado e, sempre que tem alguma coisa interessante, que a gente pode passar para a

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turma, aí a gente passa porque fica mais em conta e dá prá todo mundo se divertir, entendeu, ainda mais que a gente que é estudante, né, com pouca grana...(risos).(E04, 18 anos, sexo feminino, Eletrotécnica)

Além do usufruto das ofertas de compras coletivas, outras práticas de sociabilidade

juvenil, na esfera do lazer e do tempo livre, são apresentadas pelos jovens

estudantes entrevistados.

Sábado e domingo geralmente fico em casa [...] Eu não sou muito da balada, eu até gosto de sair, mas...assim...as minhas maiores amizades estão aqui dentro, aí, aqui como um fica em Vila Velha, um na Serra, outro...muita gente espalhada é difícil de juntar. Geralmente, a gente sai no meio da semana mesmo, a gente sai daqui (do Ifes) e vai ali na pizzaria, alguma coisa assim...então, final de semana não faz muita coisa. (E02, 18 anos, sexo masculino, Eletrotécnica)

Final de semana, às vezes, vou prá praia, vou comprar umas coisas, nada fora disso. Final de semana eu adoro assistir filme, ir prá praia de vez em quando, não com muita frequência, mas vou, e assim...é isso! ... (E04, 18 anos, sexo feminino, Eletrotécnica)

No entanto, o preenchimento do tempo livre encontra-se associado ao

gerenciamento de um cotidiano ocupado, em grande parte, pelas obrigações

escolares, principalmente para os jovens estudantes que têm o objetivo de “passar

no vestibular”.

Eu não tenho tempo, prá sair mesmo! [...] Por exemplo, prá sair, eu tenho muito peso na consciência, se eu tenho que estudar... tipo assim, tenho uma prova amanhã, aí hoje eu não posso sair, eu não consigo! (E05, 17 anos, sexo feminino, Estradas)

A existência de tempo livre não implica, necessariamente, lazer. Para alguns jovens,

além das atividades escolares, a realização das tarefas domésticas preenche a

ocupação do tempo livre nos fins de semana.

Final de semana é para arrumar a casa, porque todo mundo estuda durante a semana. Domingo, eu descanso, vejo alguma coisa na internet, também, arrumo a casa, fico com a família, estudo. Domingo é o almoço tradicional de domingo mesmo, aí, é isso! (E01, 19 anos, sexo masculino, Eletrotécnica)

As redes sociais também ocupam parte do tempo livre desses jovens estudantes. As

interações sociais mediante a tecnologia digital

abarca uma gama variada de espaços de troca, que vão desde os correios eletrônicos (e-mails), passando pelas salas de bate-papo (chats), os

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programas de mensagens instantâneas (MSN, Google Talk), até chegar nas chamadas comunidades online (Orkut, MySpace, Facebook). (NEVES & PORTUGAL, 2011, p. 15).

Dessa forma, o uso do computador, o acesso à internet e obtenção de notícias por

meio de redes sociais são atividades que fazem parte do cotidiano dos jovens

entrevistados durante a semana, mas principalmente nos fins de semana. A

praticidade e a rapidez ao acesso às informações necessárias são mais um atrativo

para esses jovens.

Final de semana, [...] assisto um pouco de tv, [...] computador...Internet, basicamente...Facebook, essas coisas... (E13, 18 anos, sexo feminino, Edificações)

(Computador) Ah, uso bastante! Ou é prá alguma coisa superficial, como usar rede social, ou jogando algum jogo, ou é prá estudar quando você entra prá fazer alguma pesquisa, porque eu acho mais prático. Eu tenho uma enciclopédia em casa, mas na maior parte das vezes eu prefiro usar a internet porque é mais rápido, mais prático. Geralmente, eu fico umas 2 horas por dia. (E16, 17 anos, sexo masculino, Edificações)

No computador, eu passo umas 4 horas por dia, mas não no só no Facebook, checando email, lendo alguma coisa de curiosidade ou lendo...mais lendo ou ouvindo música. Quando tem uma coisa interessante e que tá me prendendo, às vezes eu fico procrastinando...ah, mais um pouquinho! (E14, 17 anos, sexo feminino, Edificações)

As tecnologias de comunicação e informação (TICs) fazem parte da vida da

juventude contemporânea e estão cada vez imbricadas na sociabilidade e

construção de identidades (NOVAES, 2013). Entretanto, nem só a tecnologia e

outros atrativos hightech preenchem o tempo livre dos jovens estudantes

entrevistados.

Final de semana, geralmente eu tô estudando ou fazendo alguma coisa prá minha iniciação (científica), mas assim, eu intercalo mais um pouco, não fico estudando 6 horas direto! Aí, assisto um pouco de tv, toco violão, ando de bicicleta, eu vou prá casa dos meus pais, no interior, em Domingos Martins, aí, é basicamente isso... (E12, 18 anos, sexo feminino, Mecânica)

(Nos finais de semana) eu costumo ir ao cinema ou com um outro grupo de amigos meus (que não são do Ifes), ir a Pedra da Cebola, eu ando por ali, toco violão, converso com eles. Não sou muito de descansar e de dormir não. (E16, 17 anos, sexo masculino, Edificações)

Ainda nos fins de semana, os jovens estudantes também dedicam seu tempo livre à

religião. A religiosidade entre os jovens entrevistados revela que praticam a mesma

religião de seus pais, predominando a católica e a protestante (evangélica).

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No domingo, de manhã e à noite eu vou prá igreja, eu sou cristã protestante da Assembleia de Deus, aí então na sexta feira tem ensaio, a noite, do coral da igreja, então também vou e mais tarde a gente sai porque tem as orações dos jovens, aí eu fico, aí então [...] é mais ou menos isso! (E14, 17 anos, sexo feminino, Edificações)

Geralmente, eu não abro mão de ir à igreja, mas as outras coisas eu abro mão para estudar! Vou à igreja e depois eu saio prá lanchar com os amigos e depois eu volto prá casa. Sou atuante na igreja, faço parte do grupo de jovens, sempre tem encontro, eu vou...sou do EAC (Encontro dos Adolescentes com Cristo) (E11, 17 anos, sexo masculino, Mecânica)

O namoro também é influenciado pela família e pela religião por ela praticada,

conforme declara a jovem estudante.

Não, não! (não tem namorado) Nosso Deus, meu pai me pega! Casar, ter filho é uma coisa muito longe...Namorado assim, pelo menos daqui a uns dois anos, não tenho prazo não! Não tenho esse desespero. Igual, eu acho engraçado, as meninas reclamando, ah, eu não tenho namorado, eu morro de rir e tiro sarro da cara delas! Se for prá casar, eu acho que eu não me casaria antes dos meus 25 não! Mas, sei lá, até lá, acho que Jesus já voltou e o mundo já acabou! Não acho que eu vá casar ainda nesse século, também! (risos). (E14, 17 anos, sexo feminino, Edificações)

11.6.2 A JUVENTUDE, O FUTURO E SUAS POSSIBILIDADES

As viagens também fazem parte dos projetos desses jovens estudantes. Conhecer

outros lugares para aprender novos idiomas e conhecer outras culturas, além da

possibilidade de aliar prazer, lazer e adquirir novos conhecimentos para

aperfeiçoamento educacional e/ou profissional são projetos vislumbrados para a

juventude globalizada.

Porque assim, eu penso em terminar minha Engenharia, na..., na França, porque eu já faço francês na Ufes, [...] por exemplo, eu sendo tecnólogo em Gastronomia e já tendo francês, quando eu for fazer lá na França, terminar a minha Engenharia, eu já posso arranjar algum emprego lá em algum restaurante porque é mais fácil, eu falando francês e tendo conhecimento, pelo menos, prá lá, de Gastronomia, é mais fácil (E01, 19 anos, sexo masculino, Eletrotécnica)

Eu pretendo viajar muito, conhecer outros países, outras culturas. [...] só quando eu tiver meu emprego mesmo! Eu tenho muita vontade de conhecer a Europa, os Estados Unidos, a África, também...acho tudo muito interessante!( E03, 19 anos, sexo feminino, Eletrotécnica)

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Importa ressaltar a diversidade existente no Ifes. Enquanto alguns jovens pretendem

conhecer novos lugares depois da conclusão de seus estudos, outros viajam, com

frequência, principalmente com suas famílias em período de férias.

Vou prá Rússia daqui a duas semanas. Todo ano a gente (a família) viaja prá um lugar diferente prá não ficar repetindo! Já fui para os Estados Unidos e Espanha... (E16, 17 anos, sexo masculino, Edificações)

Já fui à França e à Suíça, aqui (no Brasil), fui a Gramado, muito bom, adorei, é, São Paulo... e tô prá ir pro Canadá este ano, passar um mês lá. (E12, 18 anos, sexo feminino, Mecânica)

Chamamos a atenção para essa jovem estudante que tem o propósito de viajar para

estudar, mas, com a economia do próprio dinheiro, ajudada por seu pai.

Vou pro Canadá fazendo curso de inglês, na verdade no Canadá francês, fazer curso de inglês, que aí eu tenho as duas línguas, tenho que aproveitar ao máximo. Essa viagem pro Canadá, eu que tô pagando, porque...assim, não porque, mas eu que quis pagar! Eu acho que seria interessante assim eu tá indo viajar com meu próprio dinheiro que eu juntei esses últimos anos prá...justamente prá isso (para aperfeiçoar os idiomas)! (E12, 18 anos, sexo feminino, Mecânica)

Ainda ela complementa que suas intenções quanto ao futuro são de uma jovem

estudante que parece saber o que quer e para onde vai, com tudo alinhavado entre

presente e futuro. Essa jovem estudante parece ter um projeto de vida bem

delineado e representa a possibilidade de programar um futuro e elaborar outras

formas para atingi-lo.

(Quero) entrar na faculdade, começar a fazer aula de alemão, é...provavelmente tentar um Ciências sem Fronteiras, ou alguma coisa assim, prá estudar fora, na França ou na Alemanha. Por que a França? Porque minha madrasta é francesa, então eu falo alemão, falo francês um pouco, tenho onde ficar, então...sou apaixonada pela França [...] Nossa! A França é perfeita, é não querer voltar! (risos). [...] Depois que eu passar, se eu conseguir um Ciências sem Fronteiras...meu projeto (de iniciação científica) também...foi uma das coisas que me animou fazer o meu projeto é porque os créditos dele contam bastante na seleção prá esse programa, essas bolsas do governo e tal.(E12, 18 anos, sexo feminino, Mecânica)

Além dos planos de conhecer novos lugares, o desejo de constituir uma família é

relatado como uma possibilidade em longo prazo. A fala de um jovem chama a

atenção sobre a responsabilidade de constituir uma família e suas consequências.

No lado pessoal, ou me casar ou morar junto com alguém e acho que eu não quero ter filhos não! Por enquanto eu acho que não, quem sabe no futuro, mas agora eu acho...não ter filhos agora, agora eu penso que no

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futuro...quem sabe depois eu mude de ideia, mas por enquanto...(E 16, 17 anos, sexo masculino, curso de Edificações)

O relato de uma jovem estudante indica que casamento e maternidade parecem não

fazer parte, de forma imediata, de seu projeto de vida.

Casar e ter filhos não aparece nos meus planos, não! Sinceramente, não! Pelo menos, agora não, assim por enquanto...Eu não me vejo assim, sabe!? Tendo filho? Não! (E12, 18 anos, sexo feminino, Mecânica)

Certamente, os projetos de vida desses jovens são plurais e construídos com base

em suas experiências e suas subjetividades. Concluir ensino médio, ingressar no

ensino superior, entrar no mercado de trabalho e conhecer novos lugares e casar

foram aspectos apresentados que, possivelmente, farão parte do futuro dos jovens

estudantes do Ifes. Dessa maneira, um mosaico de possibilidades será evidenciado

em uma perspectiva de atualização de seus planos individuais (MAIA & MANCEBO,

2010).

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12. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As transformações do mundo contemporâneo e seus desdobramentos no mundo do

trabalho trazem repercussões psicossociais, sobretudo para os jovens que, em

transição para a vida adulta, vivenciam suas dúvidas ante as escolhas profissionais

e a imprevisibilidade quanto ao futuro.

Qualificar a juventude como plural significa apreciá-la como uma categoria

heterogênea, complexa e pertencente a um contexto contemporâneo em que

prevalecem as mudanças, as incertezas e os desafios (VELHO, 2006; GARCIA,

2009).

O trabalho que, também, possui um caráter plural e polissêmico ocupa grande parte

do tempo e do espaço da vida dos indivíduos. A centralidade atribuída ao trabalho

na sociedade capitalista contemporânea permite considerar dois aspectos: de um

lado, existem (muitas) pessoas sem empregos; de outro, (muitas) outras que

executam um trabalho excessivo que, por vezes, causa adoecimento.

Consideramos que não se pode naturalizar juventude e trabalho, já que surgem de

condições sociais, históricas e culturais em que foram produzidos, como fenômenos.

De acordo com os jovens entrevistados, ser aluno do Ifes sugere, em princípio, um

projeto de vida que pode proporcionar outros projetos. Os principais motivos para o

ingresso no Ifes e para a escolha dos cursos profissionalizantes encontram-se

alinhados com o campo de possibilidades, podendo favorecer opções de

oportunidades e facilitar o ingresso em universidades públicas e, consequentemente,

a entrada desses jovens no mercado de trabalho. Permanecer como aluno do

instituto requer persistência e dedicação desses jovens estudantes. Suas trajetórias

escolares são lineares, sem reprovações nem interrupções, e todos consideram ser

bem sucedidos.

Com base nas entrevistas realizadas com os participantes desse estudo,

observamos que suas perspectivas de futuro e seus projetos de vida revelam uma

apropriação da ideologia no mundo do trabalho, na qual a qualificação é uma

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exigência premente. Por isso, para esses jovens estudantes, estudo e trabalho

encontram-se atrelados.

A noção desses jovens de que “o trabalho é a evolução do estudo” é baseada na

lógica do mercado de trabalho que exige profissionais escolarizados e qualificados.

Por meio do ideário da “sociedade do conhecimento”, os jovens estudantes

associam a conquista de um bom emprego à maior qualificação.

O sentido do trabalho apresenta-se de forma contextualizada nos projetos de vida

dos jovens estudantes. O trabalho é reconhecido como “um dever”, “uma coisa tão

comum”, como meio de concretização de desejos de consumo, mas também como

realização pessoal. Dessa maneira, o trabalho parece constituir um valor relevante

para os participantes, apresentando-se como central em seus projetos de vida.

O lazer e a ocupação do tempo livre também são apresentados por esses jovens

estudantes. O “tempo livre” é preenchido por atividades que não prejudicarão as

tarefas escolares. Para os estudantes que acumulam os estudos do Ifes e as

obrigações do pré-vestibular, o “tempo que sobra” é destinado ao sono e descanso.

Medos e esperanças também são relatados por esses jovens estudantes. Enquanto

uns parecem acreditar no futuro, outros relatam seus medos. Medo de perder tempo,

medo de não passar no vestibular ou medo de fazer uma escolha errada são

apresentados por esses jovens.

É preciso considerar que os sentidos atribuídos ao trabalho pelos jovens estudantes,

bem como os outros aspectos que foram evidenciados por este estudo como

integrantes de seus projetos de vida, não esgotam todos os significados socialmente

construídos sobre o trabalho, assim como os estudos existentes não foram

suficientes para abarcar toda a complexidade que envolve trabalho e juventude. Tais

fenômenos merecem novas contribuições em virtude da relevância que ambos

representam para a sociedade contemporânea.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – ROTEIRO DE QUESTÕES PARA ENTREVISTA

Questões sociodemográficas

Sexo: ( )Feminino ( )Masculino Idade: _________

Naturalidade: ( ) ES ( ) Outro:________________________

Curso: ( ) Edificações ( ) Eletrotécnica ( ) Estradas ( ) Mecânica

Período: ________ Turno: ( ) Matutino ( ) Vespertino ( ) Noturno

Por que escolheu esse curso? Influência de alguém? Onde estudou antes de ingressar no Ifes? ( ) escola particular ( ) pública Seus pais estudaram até que série? (Escolaridade dos pais) Pai: ______________________ Mae: _____________________ Estudaram no Ifes: ( ) Sim ( ) Não Qual curso? Algum parente estudou no Ifes? Pai trabalha em quê? E, sua mãe? Renda Familiar: Aproximadamente R$ __________ Bairro onde reside: ____________________ Mora com os pais:( ) sim ( ) não Como é o seu dia a dia? (O que você faz? Há alguma coisa que você gostaria de fazer e não pode ou não consegue?)

Você tem planos para o futuro? (Quais? O que gostaria de fazer quando terminar seus estudos no Ifes? Como você pretende concretizar seus planos?)

Você acha que seus estudos facilitarão os seus planos para o futuro? Você já teve ou tem alguma experiência profissional? (Como foi essa experiência? Você acha que essa experiência te ajudou ou te ajudará em relação aos seus planos de futuro?) O que é trabalho para você? Qual é o sentido de trabalhar para você? Você tem alguma preocupação em particular em relação ao futuro?

Ressaltamos que as questões aqui propostas em forma de indagação expressam os aspectos referentes aos projetos de futuro que julgamos pertinentes para a compreensão das possibilidades e sentidos do trabalho, e se destinam apenas a orientar a pesquisadora na interação com os participantes. Não constituem, portanto, um questionário.

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APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado para participar da pesquisa Juventude e projetos de futuro: possibilidades e sentidos do trabalho para os estudantes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes), que tem como objetivo identificar os significados que os jovens estudantes dos cursos do ensino médio integrado de Edificações, Eletrotécnica, Estradas e Mecânica do Ifes/campus Vitória-ES atribuem ao trabalho. Para participar você será entrevistado/a para descrever as suas características e para conhecer um pouco sua opinião sobre aspectos relacionados aos jovens e suas perspectivas para o futuro. Entende-se que o estudo pode ser classificado como de risco mínimo, pois os procedimentos que serão adotados não provocarão riscos maiores dos que os encontrados nas atividades cotidianas dos participantes. As respostas dos participantes serão analisadas em conjunto e serão tomados todos os cuidados para garantir que você e os outros participantes não sejam identificados na organização e divulgação das informações levantadas. A sua participação é voluntária e você pode desistir a qualquer momento, sem nenhum prejuízo ou punição. Asseguramos que todas as informações prestadas serão utilizadas somente para esta pesquisa. Os dados serão divulgados em eventos acadêmicos e científicos, e os nomes dos participantes serão mantidos em sigilo. Você receberá uma cópia deste termo e pode entrar em contato com o pesquisador principal para tirar suas dúvidas sobre o projeto pelos telefones (27)3331-2143 e (27)9963-4783 e do endereço: Av. Vitória, 1729, Vitória-ES (Serviço de Psicologia – Ifes). Desde já, agradecemos sua contribuição para o desenvolvimento desta atividade de pesquisa.

Autorização: Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que li ou que foram lidas por mim, descrevendo o estudo. Eu discuti com Terezinha de Jesus Lyrio Loureiro sobre a minha decisão em participar. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que a minha participação é isenta de despesas e que tenho garantia do acesso aos resultados. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e

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poderei retirar o meu consentimento a qualquer hora, antes ou durante ele, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido. A minha assinatura neste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) dará autorização ao patrocinador do estudo ao Comitê de Ética de utilizar os dados obtidos quando se fizerem necessários, incluindo a divulgação deles, sempre preservando minha privacidade. Assino o presente documento em duas vias de igual teor e forma, ficando uma em minha posse. ________________, ______ de ________________ de ________. (Local) (dia) (mês) (ano) Nome e Assinatura do sujeito da pesquisa: ___________________________ Nome e Assinatura do pesquisador responsável: _______________________

Caso você tenha dificuldade em entrar em contato com o pesquisador responsável,

comunique o fato à Comissão de Ética em Pesquisa

pelos telefones 4009-7645 e 4009-2505 ou

pelo e-mail [email protected]

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APÊNDICE C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Aos Senhores Pais ou Responsáveis Realizaremos uma pesquisa sobre juventude e projetos de futuro, suas possibilidades e sentidos do trabalho para os estudantes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes), que tem como objetivo identificar os significados que os jovens estudantes dos cursos do ensino médio integrado de Edificações, Eletrotécnica, Estradas e Mecânica do Ifes/campus Vitória-ES atribuem ao trabalho em seus projetos de vida. Para participar o adolescente será entrevistado por aproximadamente 40 minutos. Serão realizadas perguntas para descrever as características dos adolescentes e também conhecer um pouco a opinião desses estudantes sobre aspectos relacionados à juventude e suas perspectivas para o futuro. As informações serão analisadas para que se possa, no futuro, auxiliar os adolescentes. A participação de seu(sua) filho(a) é voluntária e ele(a) pode desistir a qualquer momento, sem nenhum prejuízo ou punição. Entende-se que o estudo pode ser classificado como de risco mínimo, pois os procedimentos que serão adotados não provocarão riscos maiores dos que os encontrados nas atividades cotidianas dos participantes. A pesquisadora responsável por esta pesquisa é Terezinha de Jesus Lyrio Loureiro, servidora do Ifes, conduzirá as entrevistas. As informações levantadas por meio das entrevistas serão guardadas no Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento da UFES e destruídos após o período de cinco anos. Desde já, agradecemos sua contribuição para o desenvolvimento desta atividade de pesquisa e estamos à disposição para esclarecimentos pelos telefones 4009-7645 e 4009-2505. Este documento foi revisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFES. ___________________________________________________________________ Autorização: Eu_____________________________________ (nome do responsável pelo participante) fui informado(a) dos objetivos e da justificativa desta pesquisa sobre fatores de proteção no desenvolvimento de adolescentes, de forma clara e detalhada. Recebi informações sobre como a pesquisa será realizada. Terei liberdade de desistir da participação na pesquisa em qualquer momento. Ao assinar este Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, concordo que meu filho participe desse estudo. Autorizo a participação de meu filho neste estudo ( )sim ( )não ___________________________________________________ Assinatura do responsável Data __/__/__ _____________________________________________________ Assinatura da Pesquisadora da UFES Data __/__/__