justiÇa terapÊutica: uma prÁtica … · e estruturais dos estabelecimentos penais brasileiros...

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JUSTIÇA TERAPÊUTICA: UMA PRÁTICA RESSOCIALIZADORA DE DEPENDENTES QUÍMICOS QUE INFRINGEM A LEI PENAL Léo Dimmy Chaar Cajú 1 Antônio Carlos do Nascimento Osório 2 RESUMO: Este estudo analisa o Programa Justiça Terapêutica, que visa a redução do dano social, com base da experiência do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás TJGO. Trata-se de práticas ressocializadoras de sujeitos que cometem crimes e são usuários de drogas lícitas e/ou ilícitas. Entre os indicadores do Raio X do Sistema Prisional Brasileiro, em 2017 (G1, 2017) destaca-se que 32,6% da população carcerária é composta por indivíduos que respondem à Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006), número superior ao ano de 2005, antes do advento da referida Lei, em que esta população correspondia a 9% dos presos. O aumento da criminalidade nos últimos anos produziu um déficit de 273,4 mil vagas, gerando a superlotação destas instituições carcerárias, dificultando o tratamento adequado daqueles considerados delinquentes sociais da quarta maior população mundial. Visando resgatar os direitos humanos, o Programa emergiu como uma das possibilidades de cuidados com o indivíduo criminoso e dependente químico, redução da população carcerária, enfrentamento ao uso de drogas, diminuição de reincidência criminal e mitigação do custo social. Destaca- se que os resultados apontam as dificuldades inerentes frente ao fenômeno do aumento crescente de forma acelerada desta população e as especificidades que os indivíduos trazem em relação as questões pertinentes as suas condições de saúde. Palavras-chave: Direitos Humanos; Lei de Drogas; Justiça Terapêutica; População Carcerária. 1 INTRODUÇÃO A utilização de drogas cresce a nível mundial. Trata-se de um problema que atinge todas as camadas sociais, culturais e econômicas. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2001) a dependência química é uma doença e deve ser tratada. Pratta (2009) entende que esta doença possui uma questão de ordem social pois: 1 Mestrando do Programa de Psicologia da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e participante do Grupo de Estudos Acadêmicos do Referenciais Foucaultianos (GEIARF), vinculado ao CNPq. [email protected] 2 Professor Titular da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e Coordenador do Grupo de Estudos Acadêmicos do Referenciais Foucaultianos (GEIARF), vinculado ao CNPq. [email protected] Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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JUSTIÇA TERAPÊUTICA: UMA PRÁTICA RESSOCIALIZADORA DE

DEPENDENTES QUÍMICOS QUE INFRINGEM A LEI PENAL

Léo Dimmy Chaar Cajú 1

Antônio Carlos do Nascimento Osório 2

RESUMO:

Este estudo analisa o Programa Justiça Terapêutica, que visa a redução do dano social, com

base da experiência do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás – TJGO. Trata-se de práticas

ressocializadoras de sujeitos que cometem crimes e são usuários de drogas lícitas e/ou

ilícitas. Entre os indicadores do Raio X do Sistema Prisional Brasileiro, em 2017 (G1, 2017)

destaca-se que 32,6% da população carcerária é composta por indivíduos que respondem à

Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006), número superior ao ano de 2005, antes do advento da

referida Lei, em que esta população correspondia a 9% dos presos. O aumento da

criminalidade nos últimos anos produziu um déficit de 273,4 mil vagas, gerando a

superlotação destas instituições carcerárias, dificultando o tratamento adequado daqueles

considerados delinquentes sociais da quarta maior população mundial. Visando resgatar os

direitos humanos, o Programa emergiu como uma das possibilidades de cuidados com o

indivíduo criminoso e dependente químico, redução da população carcerária, enfrentamento

ao uso de drogas, diminuição de reincidência criminal e mitigação do custo social. Destaca-

se que os resultados apontam as dificuldades inerentes frente ao fenômeno do aumento

crescente de forma acelerada desta população e as especificidades que os indivíduos trazem

em relação as questões pertinentes as suas condições de saúde.

Palavras-chave: Direitos Humanos; Lei de Drogas; Justiça Terapêutica; População

Carcerária.

1 INTRODUÇÃO

A utilização de drogas cresce a nível mundial. Trata-se de um problema que atinge

todas as camadas sociais, culturais e econômicas. Segundo a Organização Mundial de Saúde

(OMS, 2001) a dependência química é uma doença e deve ser tratada. Pratta (2009) entende

que esta doença possui uma questão de ordem social pois:

1 Mestrando do Programa de Psicologia da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e participante do

Grupo de Estudos Acadêmicos do Referenciais Foucaultianos (GEIARF), vinculado ao CNPq.

[email protected] 2 Professor Titular da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e Coordenador do Grupo de Estudos

Acadêmicos do Referenciais Foucaultianos (GEIARF), vinculado ao CNPq. [email protected]

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A dependência química na atualidade corresponde a um fenômeno amplamente

divulgado e discutido, uma vez que o uso abusivo de substâncias psicoativas

tornou-se um grave problema social e de saúde pública em nossa realidade.

Entretanto, falar sobre o uso de drogas, particularmente sobre a dependência

química, traz à tona questões relacionadas diretamente ao campo da saúde, o que

implica na necessidade de realizar uma reflexão sobre esse fenômeno no âmbito

das concepções sobre saúde e doença, vigentes ao longo da história do homem,

bem como no momento atual. Isso porque temas como saúde, doença e drogas

sempre estiveram presentes ao longo da história da humanidade, embora cada

período apresente uma maneira particular de encarar e lidar com esses fenômenos,

de acordo com os conhecimentos e interesses de cada época. (PRATTA, 2009, p.

203).

Assim, nota-se que o uso de substâncias psicoativas percorre parte da história da

humanidade, mas, foi recentemente que a relação saúde e drogas emergiu como uma

demanda cultural, o que tornou importante estuda-la enquanto fenômeno. Trata-se de uma

doença crônica que induz a pessoa a uma mudança progressiva de comportamento, que,

apesar de por vezes ser vista como incurável, no intuito de evitar problemas significativos

para os dependentes, ela pode ser tratada.

Pelo fato de ser uma doença com específica evolução associada ou não e que pode

chegar a ocasionar consequências graves, tais como, insanidade, prisão ou morte, a esfera

penal do poder judiciário buscou alternativas de sentença para dependentes químicos que se

envolvessem em fatos típicos e antijurídicos.

Por isso, este trabalho aborda o Programa judicial de redução do dano social

denominado Justiça Terapêutica, como prática ressocializadora de pessoas que cometem

delitos e são usuários ou dependentes de drogas lícitas e/ou ilícitas. Para isto, foi feito um

inventário de subsídios sobre o crescimento da população carcerária no Brasil com base no

Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – INFOPEN/2014 (BRASIL, 2016)

e no Raio X do Sistema Prisional/2017 (G1, 2017).

Entre as observações realizadas nas fontes secundárias, observa-se que os resultados

apontam que 32,6% da população carcerária brasileira são de pessoas submetidas à Lei de

Drogas (Lei nº 11.343/2006), número bem maior que no ano de 2005, antes do advento da

referida Lei, quando esta mesma população correspondia a 9% dos presos. Ressalta-se que

o Brasil conta com a quarta maior população carcerária do mundo com 668,2 mil presos e

um déficit de 273,4 mil vagas nestas instituições. A superlotação é apenas um dos fatores

que afetam a possibilidade de execução de políticas adequadas, os padrões organizacionais

e estruturais dos estabelecimentos penais brasileiros demonstram explicitamente a violação

dos direitos humanos das as pessoas privadas de liberdade.

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Portanto, observa-se que a prisão não é a solução mais efetiva no que concerne à

ressocialização, por isso, pensar em outras práticas para tentar sanar os problemas das

pessoas em conflito com a lei e que são usuários de drogas se faz necessário. Nesta direção,

a Justiça Terapêutica se mostra como uma possibilidade eficiente de diminuição da

população carcerária, de enfrentamento ao uso de drogas, de redução de reincidência na

conduta infracional e de redução do custo social.

Este trabalho toma por base o programa Justiça Terapêutica do Tribunal de Justiça

do Estado de Goiás – TJGO, que busca cumprir a legislação penal por meio de um trabalho

por parte dos operadores do direito e dos profissionais da saúde em conjunto, para que

efetivem um tratamento digno aos sujeitos que se envolvem em crimes e possuem alguma

ligação de uso ou dependência de drogas.

Logo, o Programa tem o objetivo de reduzir o dano social destes infratores

promovendo-lhes uma perspectiva de vida e cidadania, por meio de ações e medidas capazes

de mudar a situação degradantes destes indivíduos.

Assim, a eleição para fazer parte do projeto é o cometimento de um crime, em regra

de menor potencial ofensivo, e o envolvimento no uso de drogas. Desta maneira, ao invés

do encarceramento, lhes é proporcionado um tratamento terapêutico na qual cada sujeito

promove a sua mudança de comportamento, podendo optar inclusive na desistência do

benefício.

Sendo assim, verifica-se que o Programa se mostra como uma eficaz alternativa

proporcionada aos autores de crimes envolvidos com o uso de drogas e como enfrentamento

ao uso de álcool e outras drogas, já que, possibilita o resgate da dignidade e promoção de

uma nova forma de vida calcado na moral e nos bons costumes

2 A JUSTIÇA TERAPÊUTICA

Visando recuperar os usuários de drogas que se envolvem em crimes de menor

potencial ofensivo, alguns magistrados brasileiros propõem transações penais, como é o caso

da Justiça terapêutica, que oferece aos envolvidos a oportunidade de receberem

atendimentos especializados.

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As práticas culturais mostram que desde o século XVIII a delinquência é vista como

algo relacionado ao aspecto econômico e de produção. A ociosidade, por sua vez, “matriz

geral da delinquência” (FOUCAULT, 2015, p. 43) está atrelada aos crimes e vícios.

Portanto, pensar novas práticas de cuidado do sujeito que se envolve em crimes e possui uma

relação estreita com as drogas não é uma tarefa fácil.

Superar as práticas punitivas de reclusão, onde o delinquente é visto como inimigo

social é uma das tarefas do programa Justiça Terapêutica, já que:

O confinamento da prisão deve ser entendido em dois sentidos: a prisão era onde

se confinavam os delinquentes, mas era também o sistema por meio do qual a

delinquência era confinada como uma espécie de fenômeno social autônomo, bem

fechado em si mesmo. (FOUCAULT, 2015, p. 139).

Além do mais, as instituições possuem uma “íntima relação entre discurso e poder”

(OSÓRIO, 2010, p. 98) que fomentam modelos de docilização do sujeito, não se

preocupando com a sua subjetividade.

Assim, não há uma preocupação com a unidade da doença mental causada pelo uso

de drogas, diferente das patologias orgânicas, as psicopatologias são mais difíceis de serem

identificadas empiricamente, deste modo:

A psicologia nunca pôde oferecer à psiquiatria o que a fisiologia deu à medicina:

o instrumento de análise que, delimitando o distúrbio, permitisse encarar a relação

funcional deste dano ao conjunto da personalidade. (FOUCAULT, 2000, p. 17).

É esta dificuldade de percepção das psicopatologias que fundamentam na

contemporaneidade a prática de exclusão de determinados indivíduos da sociedade e sua

incurabilidade, o internamento é visto como espaço de salvação e exclusão ao mesmo tempo,

como lembra Foucault (2014a):

No século XV a sucessão da figura do leproso foi substituída pelos doentes

venéreos Fato curioso a constatar: é sob a influência do modo de internamento, tal

como ele se constituiu no século XVII, que a doença venérea se isolou, numa certa

medida, de seu contexto médico e se integrou, ao lado da loucura, num espaço

moral de exclusão. (FOUCAULT, 2014a, p. 8).

Antes de tudo, a prisão é um espaço moral de exclusão, não um lugar de

ressocialização dos indivíduos que lá se encontram, fere significativamente a própria

existência do sujeito ao invés de matá-lo, abole a sua liberdade:

Quase sem tocar o corpo, a guilhotina suprime a vida, tal como a prisão suprime a

liberdade, ou uma multa tira os bens. Ela aplica a lei não tanto a um corpo real e

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susceptível de dor quanto a um sujeito jurídico, detentor, entre outros direitos, do

de existir. Ela devia ter a abstração da própria lei” (FOUCAULT, 2014, p. 18).

Buscando quebrar os paradigmas culturais, o Programa Justiça Terapêutica busca

resgatar possibilidades de existência e liberdade ao sujeito que se insere no projeto. A relação

de cuidado dos profissionais se voltam ao cuidado do sujeito que antes era visto como um

simples inimigo social. Assim, os profissionais da área jurídica e da saúde se mostram mais

interessados em fazer o papel de mestre como lembra Foucault (2010):

O mestre é aquele que cuida do cuidado que o sujeito tem de si mesmo e que, no

amor que tem pelo seu discípulo, encontra a possibilidade de cuidar do cuidado

que o discípulo tem de si próprio. Amando o rapaz de forma desinteressada.

(FOUCAULT, 2010, p. 55).

Não se trata apenas de uma medida alternativa de cumprimento de uma pena, mas

sim, uma oportunidade para reflexão sobre o uso de substâncias químicas e a relação com a

criminalidade cometida por determinados sujeitos, bem como, o resgate da sua dignidade.

Existe a necessidade de um consenso entre o juiz, promotor e advogado na análise de

determinados crimes praticados em decorrência do uso de álcool ou outras drogas, além da

identificação de infratores que se enquadrem no perfil do programa.

Faz-se necessário ainda o diálogo do poder judiciário com profissionais da área de

saúde com vias a se pensar nas melhores práticas de inserção do beneficiado no programa.

Também é importante a participação de familiares para serem informados sobre o

tratamento, suas técnicas e até relatos pessoais de uso de drogas ou de experiências de

superação.

Vale frisar que a adesão ao Programa não é obrigatória, assim, após ser orientado

sobre o tratamento, o infrator ainda pode optar em não concordar com a sua participação,

neste caso, seguirá respondendo o processo das medidas legais cabíveis.

Desta maneira, a aceitação da participação no Programa enseja a admissão em um

compromisso de seguir as medidas pactuadas sob a fiscalização do órgão público competente

e ser acompanhado por profissionais da área de saúde.

No caso de o beneficiado desistir do Programa, os responsáveis no poder judiciário

o ouvirão pessoalmente e verificarão a opinião dos profissionais de saúde sobre possíveis

alternativas de intervenção.

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Após o cumprimento da medida terapêutica, o beneficiado tem a sua punibilidade

extinta e o caso se dá por encerrado, pois, entende-se que a sua ressocialização foi efetiva.

Vale notar que o Brasil possui, inclusive, uma entidade voltada para fomentar a

prática deste Programa de redução de danos, a Associação Brasileira de Justiça Terapêutica

(ABJT). O referido projeto parte do pressuposto que há uma gama de delitos que estão

relacionados ao fator preponderante do uso de alguma substância psicoativa para praticar

certo tipo de violência (SILVA, 2008).

Um exemplo se relaciona ao uso abusivo de álcool antes de dirigir um veículo, onde,

a ingestão de bebida alcóolica não é proibida no Brasil, o que se proíbe é o consumo de

bebidas alcóolicas antes de dirigir. Isto porque, as consequências são nefastas e causam

muitas mortes no Brasil atualmente.

Este tipo de violência se resolve simplesmente encarcerando o sujeito infrator?

Dependendo da quantidade de pena, dificilmente o indivíduo vai preso na primeira

oportunidade e, quando sai a sua sentença, a pena é mínima. Ao sair do cárcere, é bem

provável que ele cometa o delito novamente.

Portanto, este sujeito deve ser tratado ao invés de condenado a uma prisão, pois, caso

contrário, ele continuará no binômio droga-crime. Neste sentido, a Justiça Terapêutica pode

se mostrar como uma experiência eficaz junto aos infratores dependentes químicos.

Vale ressaltar que o surgimento remonta o Estatuto da Criança e do Adolescente

(ECA - 1990) que possui o princípio da atenção integral, conforme os artigos 101 e 102,

onde menores que cometem pequenos delitos e estão envolvidos com o uso de entorpecentes

podem ser encaminhados para tratamento.

Em 1995, com a promulgação da Lei dos Juizados Especiais (Lei 9.099/1995), esta

experiência passou a ser aplicada também aos adultos, já que há uma avaliação de saúde,

feita antes da audiência por profissionais da área de psiquiatria, psicologia e assistente social,

capaz de identificar a dependência química.

Assim, os profissionais da área criminal, que até então tinham a responsabilidade de

decidir sobre a ida ou não do sujeito à cadeia, agora possuem novas possibilidades de

ressocialização mais efetiva, o tratamento terapêutico ao invés de uma punição ineficaz.

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3 O PROGRAMA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS

A Justiça Terapêutica emergiu como uma maneira de cumprir harmonicamente a

legislação penal brasileira, mediante medidas sociais de tratamento das pessoas que usam

drogas e cometem crimes. Trata-se de uma gama de medidas que objetiva engrandecer as

possibilidades da efetiva ressocialização de infratores que são usuários e/ou dependentes

químicos, melhorando o seu comportamento e a sua saúde.

Deste modo, engloba tanto o aspecto legal e social do direito, quanto o terapêutico

de tratamento e de reparação de uma psicopatologia. Logo, tem-se um novo paradigma de

enfrentamento à violência e criminalidade que se refere ao uso de drogas lícitas ou ilícitas

capazes de causar danos ao convívio social.

Vale notar que a atividade não se dá apenas aos infratores que são usuários ou

dependentes de drogas conforma o artigo 28 da Lei de drogas:

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo,

para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com

determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:

Vai além, pois envolve pessoas que cometeram outras infrações, desde que haja

estreita ligação entre o delito e o uso de álcool ou outras drogas. Assim, o programa se

compromete a possibilitar ao infrator o entendimento que existem das questões a serem

abordadas, uma concernente ao aspecto legal e outra à saúde, para que, assim, busque

resolver as duas.

Logo, tem-se uma maneira mais eficaz do que o cárcere de submeter o infrator a uma

punição social, já que, diminui a possibilidade de cometimento de novos delitos e do uso de

entorpecentes e emerge como uma forma substitutiva da pena privativa de liberdade. Uma

outra vantagem se refere ao fato da diminuição dos custos de manutenção de um presídio, já

que, não existe a necessidade de manter o indivíduo nesta instituição ultrapassada que evade

qualquer forma de reinserção social do infrator no mundo extramuros.

Com base na Constituição Federal de 1988, a Justiça Terapêutica está

contextualizada nos direitos e garantias fundamentais, essencialmente aos direitos à vida e à

saúde, bem como, aos princípios da dignidade da pessoa humana e cidadania.

O objetivo do programa é o de proporcionar um efetivo tratamento ao infrator que é

usuário ou dependente de drogas, onde haja relação da criminalidade com o uso do

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entorpecente. Deste modo, afasta este tipo de infrator do sistema carcerário, pondo-o em um

tratamento terapêutico por profissionais especializados; visa extirpar o binômio droga-crime,

para que não haja mais a atividade criminosa pelo sujeito, proporcionando um bem-estar

físico e mental, efetivando, assim, o seu direito à cidadania e redução do custo social para o

Estado, promovendo a conscientização social.

3.1 FUNCIONAMENTO DO PROGRAMA

A implementação do programa prescinde de legislação nova, isto porque, a atual

fundamenta a aplicação do benefício. No caso dos crimes de menor potencial ofensivo, a

vantagem pode ser aplicada como medida alternativa, consequentemente, o infrator poderá

escolher entre o processo criminal e à medida terapêutica autônoma ou somada a medidas

alternativas.

Caso opte pela medida terapêutica, seguir-se-á a mesma base da fase conciliatória da

Lei dos Juizados Especiais (Lei 9.099/1995) e da Lei do Sistema Nacional de Políticas

Públicas sobre Drogas – Sisnad (Lei 11.343/2006), por não se tratar de uma imposição de

pena ou admissão de culpa. Para que não haja dúvida na melhor escolha, faz-se necessário o

acompanhamento de um advogado durante esta fase processual.

No caso da aplicação do programa em momento posterior à condenação, tem-se uma

amplitude maior de emprego, pois, pode estender-se a crimes com penas mais rígidas. Deste

modo, visa mitigar a prática segregatória, tão comum a estes tipos de crime, pois materializa

a recuperação do transgressor fora da cadeia.

Neste caso, a aplicação pode se dar autonomamente ou cumulativamente à pena

restritiva de liberdade por penas restritivas de direito previstas no Código Penal:

Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas

de liberdade, quando:

I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime

não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a

pena aplicada, se o crime for culposo;

II – o réu não for reincidente em crime doloso;

III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do

condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa

substituição seja suficiente.

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Pode também ser executada como suspensão da pena, regimento aberto domiciliar,

livramento condicional ou outras formas pelas quais o magistrado ache conveniente. Deste

modo, a Justiça Terapêutica também cabe àqueles que cometeram crimes mais graves, desde

que seja possível nestes crimes o benefício da liberdade provisória, onde o programa se dará

como substituição da liberdade provisória. Até mesmo nos casos que não possuem nenhum

direito a benefícios, mas se mostre estimulado pelo programa poderão ser aprovados na

participação.

3.2 POSSIBILIDADES DE APLICAÇÃO

A aplicação do programa pode se dar antes ou durante a instauração do processo

criminal, depois da sentença condenatória transitada em julgado ou até sem haver vinculação

ao processo criminal. No primeiro caso pode ocorrer o caso da transação penal em todos os

casos de crimes ou contravenções de responsabilidade dos Juizados Especiais Criminais,

conforme o artigo 76 da Lei 9.099/1995:

Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública

incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá

propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser

especificada na proposta.

§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá

reduzi-la até a metade.

§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:

I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena

privativa de liberdade, por sentença definitiva;

II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela

aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;

III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do

agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a

adoção da medida.

§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida

à apreciação do Juiz.

§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração,

o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em

reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício

no prazo de cinco anos.

§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no

art. 82 desta Lei.

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§ 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de

certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo

dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível

no juízo cível.

Na primeira hipótese ainda, pode ser aplicado na conjectura da suspensão condicional

do processo, caso se trate de crime em que a pena seja de no máximo um ano, nos conformes

do artigo 89 da Lei 9.099/1995:

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um

ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia,

poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o

acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime,

presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena

Também pode ser aplicado o benefício nas hipóteses de substituição da prisão

provisória, no momento anterior ou concomitante a instauração do processo criminal.

Depois da condenação, a Justiça Terapêutica pode ser usada nos casos de suspensão

condicional da pena, sursis, conforme o artigo 77 do Código Penal:

Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos,

poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que:

I - o condenado não seja reincidente em crime doloso;

II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do

agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do

benefício;

III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste

Código.

§ 1º - A condenação anterior a pena de multa não impede a concessão do

benefício.

§ 2o A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos,

poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde que o condenado seja maior de

setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a suspensão.

Após o trânsito em julgado da sentença condenatória, o programa também pode ser

aplicado nos casos de livramento condicional e na substituição das penas privativas de

liberdade pelas penas restritivas de direito, de acordo com o Código Penal.

Poderá ainda ser utilizado o benefício terapêutico quando não houver vinculação com

o processo criminal em qualquer crime, mesmo que o transgressor não possua direito a

nenhum benefício que se volte para o arquivamento ou suspensão processual ou da pena, nos

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casos em que o tratamento se mostre vantajoso para sua recuperação e o sujeito tenha feito

a adesão ao tratamento.

3.3 A EXECUÇÃO DO PROGRAMA

A equipe é composta por profissionais da área do direito, da assistência social, da

psicologia, da pedagogia e da psiquiatria. O programa é composto por quatro fases: processo

de avaliação, cumprimento da medida terapêutica, acompanhamento da medida terapêutica,

fiscalização do cumprimento da medida terapêutica

O processo de avaliação pelo grupo de acolhimento e pelo grupo de avaliação. O

início se dá pelo grupo de acolhimento, onde os favorecidos que aceitarem a intervenção

terapêutica nas audiências dos juizados especiais ou das varas criminais serão atendidos sob

a coordenação de um psicólogo e um assistente social. Este grupo será responsável pelo

trabalho da ansiedade advindo do processo judicial, que é desgastante, bem como, na

identificação das demandas e prioridades em cada hipótese, fatores determinantes na ordem

de programação do processo de avaliação e tratamento. Também terá o papel de dissertar

sobre informações acerca da equipe técnica e da proposta do programa, o que possibilitará

uma ligação entre o beneficiário e os respectivos profissionais. Para isso, também será

realizado um exercício motivacional para a inserção no benefício e abertura para

possibilidades de tratamento.

Ainda na primeira fase, o grupo de avaliação buscará identificar, por meio de

entrevistas junto ao assistente social, a conjuntura sócio-econômica, a relação familiar, a

vida com as drogas e outras demandas relacionadas ao trabalho, educação e saúde. Assim,

busca levar o beneficiado a uma reflexão sobre o seu papel na família, na sociedade e com

ele próprio, bem como, seus direitos e deveres. O psicólogo, por sua vez, buscará se

aproximar das motivações individuais que fundamentaram o cometimento da transgressão e

os problemas do envolvimento com as drogas, por meio de avaliações específicas.

Assim, o grupo de avalição buscará se voltar para as peculiaridades do sujeito, refletir

sobre a pertinência da inserção no programa, verificar a designação para tratamento em

alguma unidade de saúde ou de inserção nos grupos terapêuticos da Divisão de Apoio à

Justiça Criminal (DAJ) de acordo com o perfil tanto da entidade quanto do indivíduo. Em

decorrência da complexidade, as entrevistas podem durar vários meses, daí mostra-se a

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importância desta fase, pois, com base neste momento, poder-se-á promover um tratamento

adequado ao indivíduo. As próximas fases se basearão no relatório chamado sumário

psicossocial que será composto dos pareceres técnicos resumidos e a possibilidade de

inserção ou não do sujeito no programa, este documento deverá ser anexado ao processo e

ratificação do juiz competente.

A segunda fase é caracterizada pelo cumprimento da medida terapêutica, onde se

encaminha o beneficiado a uma instituição especializada para que seja feito o tratamento

adequado. O tratamento pode ainda ser feito pela própria equipe do DAJ composta pelo

grupo de reflexão e pelo atendimento individual. O grupo de reflexão é voltado para os

beneficiários que não possuem indicação de tratamento pontual na fase de avaliação. Possui

uma frequência quinzenal e um viés didático-terapêutico que visa elevar a autoestima no

momento presente por meio de abordagens de temas relacionados ás drogas, família,

sexualidade, trabalho, dentre outros. A participação do grupo não encerra o tratamento, já

que o sujeito pode ainda ser encaminhado para o tratamento específico em outras

instituições. O atendimento individual se fará necessário quando o beneficiário não puder

frequentar as reuniões quinzenais e que não estejam incluídos em um tratamento específico.

O acompanhamento do cumprimento da medida terapêutica caracterizará a terceira

fase do programa e é composta dos grupos de acompanhamento e do acompanhamento

individual pela equipe técnica. Os grupos de acompanhamento se voltam para os

beneficiários que estão em tratamento nas instituições, onde, possibilitará uma reflexão e

câmbio de experiências cobre o tratamento com periodicidade mensal ou bimestral. O

acompanhamento individual se dará quando o adicto não puder participar dos grupos de

acompanhamento e busca trabalhar com as particularidades de cada caso e identificação dos

benefícios do tratamento, onde, por meio das entrevistas, possibilitar-se-á a intervenção

profissional apropriada.

Na quarta fase há a fiscalização do cumprimento da medida terapêutica, por meio do

acompanhamento da frequência ao tratamento pela equipe técnica, pelo relatório informativo

de acompanhamento e pelo relatório final. A primeira parte tem o viés de controlar a

assiduidade dos sujeitos atendidos pelo programa, do qual se gera um relatório com a

frequência e benefícios alcançados que são repassadas ao magistrado competente. Caso o

tratamento termine ou seja interrompido, a equipe técnica requererá as especificações para

quem sejam encaminhadas para a autoridade competente que decidirá sobre o fato.

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Bimestralmente a equipe técnica elaborará um relatório constante da frequência,

cumprimento e benefícios ao sujeito proporcionados pelo tratamento. Quando do

encerramento do programa, a equipe técnica elabora um relatório com a estratégias

interventivas e reverberações psíquicas e sociais decorrentes do tratamento.

As equipes multidisciplinares realizam ainda grupos de orientações de familiares dos

participantes do programa, desde que não sejam agraciados pelas instituições conveniadas.

Estes grupos têm a finalidade de dar suporte à família, pelo fato de esta ser indispensável no

processo de mudança do beneficiário. Essas equipes também se responsabilizam pelo

acompanhamento das instituições de tratamento com o intuito de aproximar as relações entre

as equipes do programa com as entidades terapêuticas, discutir sobre o convênio e sobre

outras questões administrativas.

A rede externa de atendimento se vinculará ao órgão competente do poder judiciário

e deverá ter a característica de tratamento psicológico ou psiquiátrico, bem como, ser capaz

de receber os beneficiários participantes do programa para proporcionar a eles a superação

de suas dificuldades e fortificar o exercício de cidadania.

Percebe-se assim que o programa Justiça Terapêutica é uma boa alternativa de

execução de medida ressocializadora aos indivíduos que se envolvam em um crime que

esteja relacionado ao uso ou dependência de drogas lícitas ou ilícitas.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O programa Justiça Terapêutica é um grande avanço no que concerne ao tratamento

dado aos sujeitos que cometem crime e possuem dependência de drogas lícitas ou ilícitas.

Apesar de nem toda a esfera do poder judiciário brasileiro aplicar este benefício, vale notar

que em alguns Estados aplica-se sem denominar desta forma.

Trata-se de uma possibilidade de redução de danos dos indivíduos que estão

envolvidos com o uso de drogas e que cometem determinado crime. O projeto se volta

inicialmente aos crimes de menor potencial ofensivo, mas também pode ser aplicado em

crimes mais graves.

Neste último caso, de fato, não há uma aceitação unânime da sociedade

contemporânea, já que o senso comum só vê na cadeia a possibilidade de resposta para um

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homicida, por exemplo, negam qualquer outra forma de prática efetivamente

ressocializadora. É por isso que o sistema carcerário nos moldes atuais existe e se justifica

pelas práticas culturais.

Apesar de se achar que o avanço dos marcos regulatórios desencadeia em uma

melhoria na qualidade de vida de uma sociedade, o que se nota é que não é bem assim, já

que as mudanças servem quase que exclusivamente para uma efetivação de novos exercícios

de poder que originam novos saberes.

Deste modo, não é o fato de surgir uma lei que aparenta ser mais benéfica que novas

práticas melhores emergirão. Exemplo disto é que, a Lei de Drogas, que no seu surgimento

se mostrou humanizadora por classificar e diferenciar o traficante do usuário. Haveria, a

partir daí uma redução do número de prisões em decorrência do porte de entorpecentes, ao

qual se daria um tratamento diferente ao usuário, que seria considerado um contraventor,

não mais um criminoso.

Todavia, ao invés de reduzir o número de pessoas detidas pelo porte de drogas

ilícitas, o que houve foi um aumento significativo de pessoas detidas em decorrência do

advento da lei de 2006. Atualmente, quase um terço da população carcerária brasileira é de

sujeitos que foram enquadrados na Lei de Drogas.

O uso ou dependência de entorpecentes é um problema de saúde pública que afeta o

mundo inteiro. Além do mais, o uso destas drogas fomenta consideravelmente o aumento da

violência na sociedade contemporânea, já que, em vários crimes os indivíduos se encontram

sob efeito destas substâncias.

Destarte, o sistema carcerário brasileiro, apesar de ter como uma de suas finalidades

a ressocialização do sujeito encarcerado, na verdade, intensifica as suas condições

degradantes subjetivas. Os presídios são instituições decadentes que ao invés de melhorar as

possibilidades do indivíduo, só contribuem para uma significativa decadência.

A interdisciplinaridade promovida pelo programa também é um dos fatores

preponderantes no seu êxito. Assim, o judiciário não se restringe ao aspecto positivado

jurídico-penal da lei e busca novas possibilidades junto à área de saúde.

Desta maneira, promove-se uma oportunidade de tratamento relativo ao uso de

drogas, logo, é uma possibilidade de efetivação dos direitos humanos mais do que

estritamente do direito penal. A prisão não é o remédio de uma pessoa que possui uma

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patologia que justifica o comportamento criminoso, ao contrário, é um aspecto

desumanizador.

As pessoas possuem direito à saúde segundo a Declaração Universal dos Direitos

Humanos e a Constituição da República Federativa do Brasil, logo, não tratar com este

caráter terapêutico é ferir significativamente o direito básico à saúde.

Encarcerar não é solução, tratar sim. A população carcerária brasileira é a quarta

maior do mundo e possui um déficit de aproximadamente um terço das vagas necessárias.

Um terço é a população de pessoas detidas em decorrência da lei de drogas atualmente.

Portanto, a Justiça Terapêutica representa não só uma possibilidade eficaz para o

cuidado da saúde dos sujeitos criminosos e usuários de drogas, mas também, uma estratégia

política de redução de gastos com o sistema penitenciário, já que tratar terapeuticamente

vem se mostrando uma alternativa mais barata do que prender o delinquente.

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