juros no direito brasileiro

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LUIZ ANTONIO SCAVONE JUNIOR JUROS no Direito brasileiro Atualizado com a Emenda Constitucional n. 40, de 29.05.2003, e com o Código Civil de 2002

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Page 1: juros no direito brasileiro

LUIZ ANTONIO SCAVONE JUNIOR

JUROSno Direito brasileiro

Atualizado com a EmendaConstitucional n. 40, de 29.05.2003,

e com o Código Civil de 2002

Page 2: juros no direito brasileiro

© desta edição: 2003

EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA.

Diretor Responsável: CARLOS HENRIQUE DE CARVALHO FILHO

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Impresso no Brasil ( 07 - 2003 )

ISBN 85-203-2391-X

JUROSno Direito brasileiro

LUIZ ANTONIO SCAVONE JUNIOR

Page 3: juros no direito brasileiro

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO – ROBERTO SENISE LISBOA ............................................... 7

ABREVIATURAS ........................................................................................ 15

INTRODUÇÃO ............................................................................................. 17

1. ESCORÇO HISTÓRICO.......................................................................... 29

1.1 Os juros a partir da Idade Média e sua evolução ante o direito canônico 29

1.2 Os juros e o direito romano .............................................................. 35

1.3 A evolução da questão dos juros no direito brasileiro ..................... 37

2. LINEAMENTOS DOS JUROS ................................................................ 40

2.1 Conceito ........................................................................................... 40

2.2 Finalidades (remuneração do capital e neutralização do risco) ....... 45

2.3 Natureza jurídica .............................................................................. 48

2.4 Direito comparado ........................................................................... 50

2.4.1 Estados Unidos ..................................................................... 50

2.4.2 Inglaterra ............................................................................... 54

2.4.3 Argentina .............................................................................. 55

2.4.4 França ................................................................................... 59

2.4.5 Espanha ................................................................................. 62

2.4.6 Portugal ................................................................................. 65

2.4.7 Itália ...................................................................................... 67

2.4.8 Suíça ..................................................................................... 68

2.4.9 Alemanha .............................................................................. 69

2.4.10 Conclusões extraídas do direito estrangeiro ......................... 70

2.4.10.1 Limites das taxas de juros ...................................... 70

2.4.10.2 Anatocismo ............................................................. 71

2.4.10.3 Juros compensatórios e necessidade de pacto ex-presso ..................................................................... 71

2.4.10.4 Juros moratórios ..................................................... 72

Page 4: juros no direito brasileiro

10 JUROS

3. CLASSIFICAÇÃO ................................................................................... 73

3.1 A questão metodológica ................................................................... 73

3.2 Proposta de classificação dos juros .................................................. 74

3.3 Juros quanto à origem ...................................................................... 76

3.3.1 Juros legais ........................................................................... 76

3.3.2 Juros convencionais .............................................................. 80

3.3.3 Distinção ............................................................................... 81

3.4 Juros quanto ao fundamento ............................................................ 83

3.4.1 Juros compensatórios ............................................................ 83

3.4.1.1 Juros convencionais compensatórios ..................... 84

3.4.1.2 Juros legais compensatórios ................................... 85

3.4.1.3 Obrigação natural de juros compensatórios ........... 94

3.4.2 Juros moratórios ................................................................... 95

3.4.2.1 Mora ....................................................................... 97

3.4.2.2 Juros legais moratórios ........................................... 105

3.4.2.3 Juros convencionais moratórios ............................. 107

3.4.2.4 Início da contagem dos juros moratórios ................ 108

3.4.2.5 Juros moratórios nas obrigações decorrentes de atoilícito ...................................................................... 116

3.4.2.6 Juros moratórios nas obrigações negativas ............ 118

3.4.2.7 Juros moratórios nas dívidas de dinheiro ............... 120

3.4.2.8 Juros moratórios nas obrigações convertidas em per-das e danos – Inadimplemento absoluto ................ 126

3.4.2.9 Juros moratórios na mora do credor ....................... 127

3.4.2.10 Juros moratórios e mora simultânea ....................... 129

3.4.2.11 Juros moratórios nas moras ex persona especiais ... 130

3.4.2.12 Juros moratórios nos títulos de crédito ................... 131

3.4.2.13 Juros moratórios devidos pelo Estado .................... 135

3.4.2.14 Outros casos – Falência, concordata e administra-ção de portos .......................................................... 142

3.4.2.15 Desnecessidade de pedido expresso de juros mora-tórios ...................................................................... 143

3.4.2.16 Cumulação de juros moratórios com juros compen-satórios ................................................................... 144

3.5 Juros quanto à capitalização ............................................................ 147

Page 5: juros no direito brasileiro

11SUMÁRIO

3.5.1 Juros simples e compostos ................................................... 147

3.5.1.1 A taxa de juros nominal e efetiva como indicativode juros capitalizados de forma composta ............. 149

3.5.2 A proibição legal dos juros capitalizados de forma compostainserta no Decreto 22.626/33 ................................................ 150

3.5.2.1 Anatocismo ............................................................. 150

3.5.2.2 O alcance do art. 4.º do Decreto 22.626/33 ............ 154

3.5.3 Exceções que possibilitam a aplicação de juros compostos .... 155

3.5.3.1 Os juros capitalizados de forma composta e as obri-gações decorrentes de atos ilícitos ......................... 156

3.5.3.2 Os juros capitalizados nos débitos trabalhistas ...... 158

3.5.3.3 Os juros capitalizados de forma composta em nor-mas especiais ......................................................... 159

4. SISTEMAS DE AMORTIZAÇÃO .......................................................... 160

4.1 Tabela price ..................................................................................... 160

4.1.1 Os fundamentos da tabela price ........................................... 163

4.1.2 A tabela price e o anatocismo frente à ciência matemática ... 164

4.1.3 A ilegalidade da tabela price tendo em vista o critério do art.6.º do Decreto 22.626/33 ..................................................... 171

4.1.4 Argumentos a favor da legalidade da tabela price ............... 177

4.1.5 Exemplo prático de aplicação ilegal da tabela price ............ 181

4.1.6 A tabela price diante do Código de Defesa do Consumidor .. 183

4.2 Sistema de amortização constante (SAC) ........................................ 190

4.2.1 Legalidade do sistema de amortização constante ................. 191

5. A LIMITAÇÃO DA TAXA DE JUROS .................................................. 195

5.1 O limite dos juros no direito brasileiro ............................................ 195

5.2 Os juros convencionais moratórios .................................................. 197

5.3 Os juros convencionais compensatórios .......................................... 198

5.4 Limites decorrentes de leis especiais e conclusões ......................... 202

6. OS JUROS E AS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS ............................... 205

6.1 A liberação das taxas de juros para as instituições financeiras ....... 205

6.1.1 A Constituição Federal de 1988 e a limitação das taxas de juros ..................................................................................... 213

6.1.2 Tese da competência constitucional exclusiva do CongressoNacional para legislar sobre matéria financeira ................... 221

Page 6: juros no direito brasileiro

12 JUROS

6.1.3 Tese da necessidade de demonstração da taxa liberada –Tendência jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiçaquanto à limitação das taxas de juros ................................... 225

6.2 Instituições financeiras e os juros capitalizados de forma composta 227

6.2.1 A Medida Provisória 1.963-17 e a questão da liberação doanatocismo para as instituições financeiras .......................... 230

6.3 Cédulas e notas de crédito rural, industrial, comercial e à exportação 235

6.3.1 O limite da taxa de juros nas cédulas e notas de crédito ...... 236

6.3.2 A capitalização de juros nas cédulas e notas de crédito ....... 237

6.3.3 Juros moratórios nas cédulas de crédito ............................... 239

6.4 Cédula de Crédito Bancário ............................................................. 239

6.4.1 Características da Cédula de Crédito Bancário .................... 245

6.4.1.1 Garantias ................................................................. 245

6.4.1.2 Penhor de direitos ................................................... 245

6.4.1.3 Penhor e tradição do bem ....................................... 246

6.4.1.4 Seguro ..................................................................... 246

6.4.1.5 Registro .................................................................. 246

6.4.1.6 Deteriorações .......................................................... 247

6.4.1.7 Cessão ..................................................................... 247

6.4.2 A capitalização dos juros na Cédula de Crédito Bancário ... 248

7. SISTEMA FINANCEIRO IMOBILIÁRIO EM RAZÃO DOS JUROSCOMPOSTOS .......................................................................................... 251

7.1 Sistema Financeiro Imobiliário – Considerações gerais .................. 251

7.1.1 Conceito e natureza jurídica ................................................. 251

7.1.2 Objeto ................................................................................... 254

7.2 Os juros no Sistema Financeiro Imobiliário .................................... 254

8. USURA ..................................................................................................... 257

8.1 Usura pecuniária e usura real ........................................................... 257

8.1.1 A etimologia de “juros onzenários” ...................................... 261

8.2 A usura e as taxas de juros ............................................................... 262

8.2.1 Usura real – lesão – em razão das instituições financeiras ... 262

8.2.2 Usura pecuniária ................................................................... 265

8.3 Medida Provisória 1.820 – Repressão à usura ................................. 267

8.3.1 Usura pecuniária ................................................................... 268

Page 7: juros no direito brasileiro

13SUMÁRIO

8.3.2 Usura real (lesão) .................................................................. 268

8.3.3 Garantia dissimulada nos negócios usurários ....................... 270

8.3.4 Inversão do ônus da prova .................................................... 271

8.3.5 Exclusão de incidência da norma ......................................... 271

8.4 A usura e o Código de Defesa do Consumidor ................................ 272

8.5 Títulos de crédito e usura ................................................................. 274

8.6 Vendas a prazo e usura disfarçada no preço .................................... 275

9. CORREÇÃO MONETÁRIA – DIFERENÇA ESPECÍFICA DE JURO 278

9.1 Conceito ........................................................................................... 278

9.2 Legislação vigente acerca de correção monetária ............................ 280

9.2.1 Periodicidade de correção monetária .................................... 280

9.2.2 Vedação da utilização de moeda estrangeira para correçãomonetária .............................................................................. 285

9.3 Termo inicial da correção monetária ............................................... 286

9.3.1 Ilícitos contratuais ................................................................. 286

9.3.2 Débitos decorrentes de decisão judicial ............................... 289

9.3.3 Títulos de crédito .................................................................. 290

9.3.4 Ato ilícito .............................................................................. 291

9.4 Taxas de juros – Indevida utilização como mecanismo de correçãomonetária .......................................................................................... 292

9.4.1 Taxa Referencial de Juros – TR ........................................... 293

9.4.1.1 Âmbito de abrangência da TR ................................ 300

9.4.1.2 Uso da TR nos contratos celebrados no âmbito doSFH após a Lei 8.177/91 ........................................ 303

9.4.2 Taxa Selic ............................................................................. 310

9.4.2.1 Fixação da taxa Selic e os juros decorrentes de cré-dito tributário .......................................................... 310

9.4.2.2 Natureza jurídica da taxa Selic ............................... 316

9.4.3 Comissão de permanência .................................................... 318

9.4.4 Outros mecanismos que não representam correção monetária 322

9.4.5 O uso indevido de taxa de juro como correção monetária cu-mulada com taxa de juro ....................................................... 323

CONCLUSÃO ............................................................................................... 325

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................... 345

Page 8: juros no direito brasileiro

14 JUROS

1. Livros ................................................................................................... 345

2. Artigos ................................................................................................. 351

3. Dissertações e teses ............................................................................. 354

4. Internet ................................................................................................. 354

5. Periódicos, textos e compilações ......................................................... 355

APÊNDICE ................................................................................................... 357

1. Medida Provisória 2.170-36, de 23 de agosto de 2001 ....................... 357

2. Medida Provisória 2.172-32, de 23 de agosto de 2001 ....................... 359

3. Medida Provisória 2.183-56, de 24 de agosto de 2001 ....................... 360

4. Medida Provisória 2.160-25, de 23 de agosto de 2001 ....................... 363

5. Súmulas do STJ ................................................................................... 369

6. Emenda Constitucional n. 40, de 29 de maio de 2003 ........................ 370

Page 9: juros no direito brasileiro

ABREVIATURAS

AASP – Associação dos Advogados de São Paulo

a.C. – Antes de Cristo

ADCT – Ato das Disposições Constitucionais Transitórias

ADIn – Ação Direta de Inconstitucionalidade

Andib – Associação Nacional dos Bancos de Investimento e Desen-volvimento

art. – Artigo

arts. – Artigos

CDB – Certificado de depósito bancário

Cetip – Central de Liquidação e Custódia de Títulos Privados

Cit. – Citada. Citadas

Copom – Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil

FRC – Fator de recuperação do capital

FVA – Fator de valor atual

ns. – Números

Ob. – Obra

ORTN – Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional

OSB – Ordem de São Bento

p. – Página

RDA – Revista de Direito Administrativo

RDB – Recibo de depósito bancário

REsp – Recurso especial

RJTJESP – Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado deSão Paulo, Editora Lex.

RT – Revista dos Tribunais

RTFR – Revista do Tribunal Federal de Recursos

Page 10: juros no direito brasileiro

5

A LIMITAÇÃO DA TAXA DE JUROS

SUMÁRIO: 5.1 O limite dos juros no direito brasileiro – 5.2 Os juros con-vencionais moratórios – 5.3 Os juros convencionais compensatórios – 5.4Limites decorrentes de leis especiais e conclusões.

5.1 O limite dos juros no direito brasileiro

Ao revés do que ocorre, em regra, no direito estrangeiro, no Brasil exis-tem normas que limitam as taxas de juros que podem ser convencionadasnos contratos (juros convencionais).

Nem sempre foi assim. Com efeito, impregnado por exacerbado libe-ralismo e individualismo, o Código Civil de 1916 determinou a liberdadede fixação das taxas de juros compensatórios decorrentes de mútuofeneratício,1 obrigatoriamente previstos no contrato, na exata medida dadisposição insculpida no seu art. 1.262, nos seguintes termos: “é permiti-do, mas só por cláusula expressa, fixar juros ao empréstimo de dinheiro ououtras coisas fungíveis. Esses juros podem fixar-se abaixo ou acima da taxalegal (art. 1.062), com ou sem capitalização”.

Somente nos casos em que, embora houvesse previsão de incidênciade juros, inexistisse pactuação da taxa a ser aplicada, como vimos, aplica-va-se a taxa legal de juros, ou seja, de 6% ao ano, nos termos dos art. 1.063do Código Civil de 1916.

Quanto aos juros moratórios, de acordo com os arts. 1.062 e 1.064, doCódigo Civil de 1916, mesmo que as partes sequer tivessem convenciona-do sua incidência, a taxa legal era de 6% ao ano.

No âmbito do Código Civil de 2002, conforme tratamos no capítulo 3(3.3.1), na ausência de estipulação entre as partes, foi estabelecida uma taxa

(1) O mútuo de dinheiro no qual se estipula a cobrança de juros compensatórios édenominado mútuo feneratício.

Page 11: juros no direito brasileiro

197A LIMITAÇÃO DA TAXA DE JUROS

Posta assim a questão, tirante as hipóteses de juros legais, convém verifi-car as limitações incidentes à contratação da taxa de juros, ou seja, até que pontoas partes podem, mediante manifestação volitiva elevar as taxas legais de juros.

5.2 Os juros convencionais moratórios

Os juros convencionais moratórios, ou seja, aqueles devidos em razãoda mora e da convenção entre as partes, estão limitados à taxa 12% ao ano.O limite imposto aos juros convencionais moratórios decorre dos arts. 1.ºe 5.° do Decreto 22.626/33, este último determinando que é admitido, pelamora dos juros contratados, “que estes sejam elevados de 1% e não mais”.

Essa é a mesma conclusão que se extrai do Código Civil de 2002, namedida da interpretação do seu art. 406, cumulado com o art. 5.° do De-creto 22.626/33 e art. 161, § 1.°, do Código Tributário Nacional.

Sendo assim, ainda que o art. 406 do Código Civil de 2002 tenha defi-nido apenas a taxa legal de juros moratórios, aplicável quando não houverconvenção dessa espécie ou quando a lei determinar sua aplicação, certo éque as partes não poderão convencionar livremente esses juros, ainda quea Emenda Constitucional 40/2003 tenha suprimido o limite de 12% ao anodo § 3.º do art. 192 da CF de 1988.

É cediço que lei geral posterior não revoga e tampouco altera lei espe-cial anterior.

Nesse caso, o Código Civil de 2002, de caráter geral, como temos in-sistido, não revoga ou altera o Decreto 22.626/33, que regula e limita osjuros nos contratos.

Como esse decreto, também denominado Lei de Usura, limita os jurosmoratórios a 1% ao mês no seu art. 5.º, resta evidente que as partes nãopodem convencionar juros superiores sob pena de nulidade do excesso. Emoutras palavras, convencionando ou não, as partes devem se submeter à taxade 1% ao mês para os juros moratórios.

Aliás, diga-se de passagem, o Código Civil de 2002 resgatou toda ainspiração social que pautou diplomas legais da mesma época, como, porexemplo, além da Lei de Usura, o Decreto-lei 58/37, que veio proteger opromitente comprador, sem contar a Consolidação das Leis do Trabalho.

Nesse sentido, encontramos no atual Código Civil a função social, aboa-fé, a probidade e a transparência como princípios contratuais expres-sos (arts. 421 e 422).

Portanto, o Código Civil de 2002 está longe de liberar as taxas de jurosconvencionais moratórios, como pode parecer diante de uma primeira edesatenta leitura do seu art. 406.

Page 12: juros no direito brasileiro

200 JUROS

Sendo assim, em suma, para os juros moratórios, as partes estão limi-tadas a convencioná-los à taxa de 1% ao mês, a teor do que dispõe o art. 5.ºdo Decreto 22.626/338 (Código Civil de 2002, art. 406 c/c o art. 161, § 1.º,do Código Tributário Nacional).

Essa taxa de juros de 1% ao mês passa a ser, portanto, a taxa legal dejuros moratórios e, por analogia, taxa de juros legais compensatórios.

Como a Lei de Usura, Decreto 22.626/33, limita o pacto de juros, ou seja,limita os juros convencionais compensatórios ao dobro da taxa legal para to-dos os contratos, com exceção do contrato de mútuo que está subsumido aoart. 591, a taxa máxima de juros compensatórios que poderá ser pactuada nes-ses outros contratos no âmbito do Código Civil de 2002 é de 2% ao mês.

Sendo assim, por exemplo, nos financiamentos imobiliários, com ex-ceção daqueles regulados pelo Sistema Financeiro da Habitação que sesubmetem a limites especiais, além dos financiamentos de bens móveis emgeral, as partes poderão prever taxa de juros compensatórios de 2% ao mês(Código Civil de 2002, art. 406, Código Tributário Nacional, art. 161, §1.º, e Decreto 22.626/33, art. 1.º).

Esse limite não se aplica ao contrato de mútuo, em razão da limitaçãoespecial exsurgente do art. 591 do Código Civil de 2002.

Com efeito, no contrato de mútuo para fins econômicos, como o mú-tuo feneratício, ou seja, o empréstimo de dinheiro com o pagamento de juroscompensatórios, a taxa não poderá exceder a taxa fixada no art. 406.

Em consonância com o acatado, o Código Civil de 2002 limitou a taxade juros no contrato de mútuo para fins econômicos a 1% ao mês, sem que

Factoring – Atividade não abrangida pelo Sistema Financeiro Nacional - Ina-plicabilidade dos juros permitidos às instituições financeiras.I – O factoring distancia-se de instituição financeira justamente porque seusnegócios não se abrigam no direito de regresso e nem na garantia representadapelo aval ou endosso. Daí que nesse tipo de contrato não se aplicam os jurospermitidos as instituições financeiras. É que as empresas que operam com ofactoring não se incluem no âmbito do sistema financeiro nacional.II – O empréstimo e o desconto de títulos, a teor de art. 17, da Lei 4.595/64, sãooperações típicas, privativas das instituições financeiras, dependendo sua prá-tica de autorização governamental. III – Recurso não conhecido. Relator: Ministro Waldemar Zveiter”.

(8) Os juros moratórios e compensatórios podem ser legais, cuja taxa é de 12% aoano no Código Civil de 2002: arts. 406 e 591, combinados com os art. 161, § 1.º,do Código Tributário Nacional.

Page 13: juros no direito brasileiro

202 JUROS

De outro lado, o art. 184 do Código Civil de 2002 (art. 153 do CódigoCivil de 1916), dispõe que a nulidade parcial de um ato não o prejudicarána parte válida, se esta for separável.

De qualquer forma, a quantia deverá ser restituída em dobro, a teor doque dispõe o art. 42 do Código de Defesa do Consumidor e o art. 1.º daMedida Provisória 1.820, de 05.04.1999 (n. 2.172-32, de 23.08.2001) nasrelações civis.

Entretanto, segundo o verbete 159, da Súmula do Supremo TribunalFederal, não se aplica a regra da devolução em dobro no caso da cobrançaexcessiva de boa-fé. Nesse caso a devolução se faz pelo excesso acrescidode correção monetária e juros legais. De acordo com essa orientação, a menslegis foi coibir práticas gravemente culposas ou dolosas.

Todavia, a orientação merece reparo. No âmbito da responsabilidadecontratual não há qualquer distinção entre culpa leve ou grave, de tal sorteque a simples cobrança negligente, mesmo que de boa-fé, deve ensejar adevolução dobrada.

Tratando-se de relação de consumo,12 a responsabilidade em regra éobjetiva. Portanto, de acordo com os arts. 42 e 51 do Código de Defesa doConsumidor, o contratante lesado poderá ver-se ressarcido de valor equi-valente ao dobro do que eventualmente tenha pago em excesso,13 vez que énula a parte da cláusula que estabelece juros excessivos, dando ensejo aação declaratória, de repetição de indébito ou até consignatória, entre ou-tras, em virtude do disposto nos arts. 6.º, III e IV; 42 e 51, XV, da Lei 8.078/90, além dos arts. 1.º, 4.º, 11 e 13 do Decreto 22.626/33.

5.4 Limites decorrentes de leis especiais e conclusões

Ainda que a Emenda Constitucional 40/2003 tenha suprimido o li-mite de 12% ao ano imposto pelo § 3.º do art. 192 da CF, certo é que, apar dos limites gerais impostos pela Lei de Usura e pelo Código Civilde 2002 para os juros convencionais moratórios e compensatórios,existem outros limites que devem ser respeitados, decorrentes de le-gislação extravagante.

(12) Para que se configure relação de consumo, mister se faz um consumidor e umfornecedor, acorde com o critério objetivo adotado pelos arts. 2.° e 3.° da Lei8.078/90.

(13) Súmula 159 do STF. “Cobrança excessiva, mas de boa-fé, não dá lugar às san-ções do art. 1.531 do Código Civil de 1916”.

Page 14: juros no direito brasileiro

204 JUROS

d) juros convencionais compensatórios nos contratos de mútuo: 1%ao mês (Código Civil de 2002, arts. 406 e 591); e,

e) juros convencionais compensatórios nos demais contratos: 2% aomês, ou seja, o dobro da taxa legal de juros (Decreto 22.626/33, art. 1.º, Có-digo Civil de 2002, art. 406, e Código Tributário Nacional, art. 161, § 1.º).

Page 15: juros no direito brasileiro

BIBLIOGRAFIA

1. Livros

ALMEIDA, Carlos Ferreira de. Os direitos dos consumidores. Coimbra: Almedina,1982.

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ALTAVILA, Jayme de. Origem dos direitos dos povos. 2. ed. São Paulo: Melhora-mentos, 1987.

ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. Rio de Janeiro: Forense, 1978.Vol. 1,

ALVIM, Agostinho. Da inexecução das obrigações e suas conseqüências. São Paulo:Saraiva, 1980.

AMARAL JUNIOR, Alberto do. Comentários ao Código de Proteção do Consumi-dor. São Paulo: Saraiva, 1991.

ARRUDA ALVIM; ALVIM, Thereza; ARRUDA ALVIM, Eduardo; MARINS,James. Código do consumidor comentado. 2 ed. São Paulo: RT, 1995.

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Page 19: juros no direito brasileiro

APÊNDICE

1. MEDIDA PROVISÓRIA 2.170-36, DE 23 DE AGOSTO DE 2001

Originária: Medida Provisória 1.963-17, de 30 de março de 2000.

Dispõe sobre a administração dos recursos de caixa doTesouro Nacional, consolida e atualiza a legislação pertinenteao assunto e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art.62 da Constituição, adota a seguinte Medida Provisória, com força de lei:

Art. 1.º Os recursos financeiros de todas as fontes de receitas da União e de suasautarquias e fundações públicas, inclusive fundos por elas administrados, serão de-positados e movimentados exclusivamente por intermédio dos mecanismos da con-ta única do Tesouro Nacional, na forma regulamentada pelo Poder Executivo.

Parágrafo único. Nos casos em que características operacionais específicas nãopermitam a movimentação financeira pelo sistema de caixa único do Tesouro Na-cional, os recursos poderão, excepcionalmente, a critério do Ministro de Estado daFazenda, ser depositados no Banco do Brasil S.A. ou na Caixa Econômica Federal.

Art. 2.º A partir de 1.º de janeiro de 1999, os recursos dos fundos, das autarquiase das fundações públicas federais não poderão ser aplicados no mercado financeiro.

§ 1.º O Ministro de Estado da Fazenda, em casos excepcionais, poderá autorizaras entidades a que se refere o caput deste artigo a efetuar aplicações no mercado fi-nanceiro, observado o disposto no parágrafo único do art.1.º.

§ 2.º Às entidades a que se refere o art. 1o que possuem, em 15 de dezembro de1998, autorização legislativa para realizar aplicações financeiras de suas disponibi-lidades é assegurada a remuneração de suas aplicações, que não poderá exceder àincidente sobre a conta única.

§ 3.º Os recursos que se encontrarem aplicados no mercado financeiro em 31 dedezembro de 1998 deverão ser transferidos para a conta única do Tesouro Nacionalno dia 4 de janeiro de 1999 ou, no caso de aplicação que exija o cumprimento de pra-zo para resgate ou para obtenção de rendimentos, na data do vencimento respectivoou no dia imediatamente posterior ao do pagamento dos rendimentos.

Page 20: juros no direito brasileiro

359APÊNDICE

2. MEDIDA PROVISÓRIA 2.172-32, DE 23 DE AGOSTO DE 2001

Originária: Medida Provisória 1.820, de 5 de abril de 1999.

Estabelece a nulidade das disposições contratuais quemenciona e inverte, nas hipóteses que prevê, o ônus da prova nasações intentadas para sua declaração.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art.62 da Constituição, adota a seguinte Medida Provisória, com força de lei:

Art. 1.º São nulas de pleno direito as estipulações usurárias, assim consideradasas que estabeleçam:

I – nos contratos civis de mútuo, taxas de juros superiores às legalmente permi-tidas, caso em que deverá o juiz, se requerido, ajustá-las à medida legal ou, na hipó-tese de já terem sido cumpridas, ordenar a restituição, em dobro, da quantia paga emexcesso, com juros legais a contar da data do pagamento indevido;

II – nos negócios jurídicos não disciplinados pelas legislações comercial e dedefesa do consumidor, lucros ou vantagens patrimoniais excessivos, estipulados emsituação de vulnerabilidade da parte, caso em que deverá o juiz, se requerido, resta-belecer o equilíbrio da relação contratual, ajustando-os ao valor corrente, ou, na hi-pótese de cumprimento da obrigação, ordenar a restituição, em dobro, da quantiarecebida em excesso, com juros legais a contar da data do pagamento indevido.

Parágrafo único. Para a configuração do lucro ou vantagem excessivos, consi-derar-se-ão a vontade das partes, as circunstâncias da celebração do contrato, o seuconteúdo e natureza, a origem das correspondentes obrigações, as práticas de mer-cado e as taxas de juros legalmente permitidas.

Art. 2.º São igualmente nulas de pleno direito as disposições contratuais que, como pretexto de conferir ou transmitir direitos, são celebradas para garantir, direta ouindiretamente, contratos civis de mútuo com estipulações usurárias.

Art. 3.º Nas ações que visem à declaração de nulidade de estipulações com am-paro no disposto nesta Medida Provisória, incumbirá ao credor ou beneficiário donegócio o ônus de provar a regularidade jurídica das correspondentes obrigações,sempre que demonstrada pelo prejudicado, ou pelas circunstâncias do caso, a veros-similhança da alegação.

Art. 4.º As disposições desta Medida Provisória não se aplicam:

I – às instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar peloBanco Central do Brasil, bem como às operações realizadas nos mercados financei-ro, de capitais e de valores mobiliários, que continuam regidas pelas normas legais eregulamentares que lhes são aplicáveis;

Page 21: juros no direito brasileiro

362 JUROS

§ 3.º O disposto no caput deste artigo aplica-se também às ações ordinárias deindenização por apossamento administrativo ou desapropriação indireta, bem as-sim às ações que visem a indenização por restrições decorrentes de atos do PoderPúblico, em especial aqueles destinados à proteção ambiental, incidindo os jurossobre o valor fixado na sentença.

§ 4.º Nas ações referidas no § 3.º, não será o Poder Público onerado por juros com-pensatórios relativos a período anterior à aquisição da propriedade ou posse tituladapelo autor da ação.”

“Art. 15-B. Nas ações a que se refere o art. 15-A, os juros moratórios destinam-se a recompor a perda decorrente do atraso no efetivo pagamento da indenizaçãofixada na decisão final de mérito, e somente serão devidos à razão de até seis porcento ao ano, a partir de 1o de janeiro do exercício seguinte àquele em que o paga-mento deveria ser feito, nos termos do art. 100 da Constituição.”

“Art. 27. (...)

§ 1.º A sentença que fixar o valor da indenização quando este for superior ao pre-ço oferecido condenará o desapropriante a pagar honorários do advogado, que serãofixados entre meio e cinco por cento do valor da diferença, observado o disposto no§ 4.º do art. 20 do Código de Processo Civil, não podendo os honorários ultrapassarR$ 151.000,00 (cento e cinqüenta e um mil reais).

(...)

§ 3.º O disposto no § 1.º deste artigo se aplica:

I – ao procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o processode desapropriação de imóvel rural, por interesse social, para fins de reformaagrária;

II – às ações de indenização por apossamento administrativo ou desapropria-ção indireta.

§ 4.º O valor a que se refere o § 1.º será atualizado, a partir de maio de 2000, no dia1.º de janeiro de cada ano, com base na variação acumulada do Índice de Preços aoConsumidor Amplo – IPCA do respectivo período.”

(...)

Art. 8.º Ficam convalidados os atos praticados com base na Medida Provisória2.183-55, de 27 de julho de 2001.

Art. 9.º Esta Medida Provisória entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 24 de agosto de 2001; 180.º da Independência e 113.º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Page 22: juros no direito brasileiro

363APÊNDICE

4. MEDIDA PROVISÓRIA 2.160-25, DE 23 DE AGOSTO DE 2001

Originária: Medida Provisória 1.925, de 14 de outubro de 1999.

Dispõe sobre a Cédula de Crédito Bancário.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art.62 da Constituição, adota a seguinte Medida Provisória, com força de lei:

Capítulo IDA CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO

Art. 1.º A Cédula de Crédito Bancário é título de crédito emitido, por pessoa fí-sica ou jurídica, em favor de instituição financeira ou de entidade a esta equiparada,representando promessa de pagamento em dinheiro, decorrente de operação de cré-dito, de qualquer modalidade.

§ 1.º A instituição credora deve integrar o Sistema Financeiro Nacional,sendo admitida a emissão da Cédula de Crédito Bancário em favor de institui-ção domiciliada no exterior, desde que a obrigação esteja sujeita exclusivamenteà lei e ao foro brasileiros.

§ 2.º A Cédula de Crédito Bancário em favor de instituição domiciliada no exte-rior poderá ser emitida em moeda estrangeira.

Art. 2.º A Cédula de Crédito Bancário poderá ser emitida, com ou sem garantia,real ou fidejussória, cedularmente constituída.

Parágrafo único. A garantia constituída será especificada na Cédula deCrédito Bancário, observadas as disposições do Capítulo II desta Medida Pro-visória e, no que não forem com estas conflitantes, as da legislação comum ouespecial aplicável.

Art. 3.º A Cédula de Crédito Bancário é título executivo extrajudicial e repre-senta dívida em dinheiro, certa, líquida e exigível, seja pela soma nela indicada, sejapelo saldo devedor demonstrado em planilha de cálculo, ou nos extratos da conta-corrente, elaborados conforme previsto no § 2.º.

§ 1.º Na Cédula de Crédito Bancário poderão ser pactuados: I – os juros sobre a dívida, capitalizados ou não, os critérios de sua incidência e,

se for o caso, a periodicidade de sua capitalização, bem como as despesas e os de-mais encargos decorrentes da obrigação;

II – os critérios de atualização monetária ou de variação cambial como permiti-do em lei;

III – os casos de ocorrência de mora e de incidência das multas e penalidadescontratuais, bem como as hipóteses de vencimento antecipado da dívida;

Page 23: juros no direito brasileiro

365APÊNDICE

VI – a assinatura do emitente e, se for o caso, do terceiro garantidor da obriga-ção, ou de seus respectivos mandatários.

§ 1.º A Cédula de Crédito Bancário será transferível mediante endosso em preto,ao qual se aplicarão, no que couberem, as normas do direito cambiário, caso em queo endossatário, mesmo não sendo instituição financeira ou entidade a ela equipara-da, poderá exercer todos os direitos por ela conferidos, inclusive cobrar os juros edemais encargos na forma pactuada na Cédula.

§ 2.º A Cédula de Crédito Bancário será emitida por escrito, em tantas viasquantas forem as partes que nela intervierem, assinadas pelo emitente e peloterceiro garantidor, se houver, ou por seus respectivos mandatários, devendo cadaparte receber uma via.

§ 3.º Somente a via do credor será negociável, devendo constar nas demais viasa expressão “não negociável”.

§ 4.º A Cédula de Crédito Bancário pode ser aditada, retificada e ratificada me-diante documento escrito, datado, com os requisitos previstos no caput deste artigo,passando esse documento a integrar a Cédula para todos os fins.

Capítulo IIDAS GARANTIAS CEDULARMENTE CONSTITUÍDAS

Art. 5.º A constituição de garantia da obrigação representada pela Cédula deCrédito Bancário é disciplinada por esta Medida Provisória, sendo aplicáveis as dis-posições da legislação comum ou especial que não forem com ela conflitantes.

Art. 6.º A garantia da Cédula de Crédito Bancário poderá ser fidejussória ou real,neste último caso constituída por bem patrimonial de qualquer espécie, disponível ealienável, móvel ou imóvel, material ou imaterial, presente ou futuro, fungível ouinfungível, consumível ou não, cuja titularidade pertença ao próprio emitente ou aterceiro garantidor da obrigação principal.

Parágrafo único. O penhor de direitos constitui-se pela mera notificação aodevedor do direito apenhado.

Art. 7.º A constituição da garantia poderá ser feita na própria Cédula de CréditoBancário ou em documento separado, neste caso fazendo-se, na Cédula, menção atal circunstância.

Art. 8.º O bem constitutivo da garantia deverá ser descrito e individualizado demodo que permita sua fácil identificação.

Parágrafo único. A descrição e individualização do bem constitutivo da garan-tia poderá ser substituída pela remissão a documento ou certidão expedida por enti-dade competente, que integrará a Cédula de Crédito Bancário para todos os fins.

Art. 9.º A garantia da obrigação abrangerá, além do bem principal constitutivoda garantia, todos os seus acessórios, benfeitorias de qualquer espécie, valorizaçõesa qualquer título, frutos e qualquer bem vinculado ao bem principal por acessão físi-ca, intelectual, industrial ou natural.

Page 24: juros no direito brasileiro

368 JUROS

da pelo seu titular ou mandatário com poderes especiais e averbada junto à institui-ção financeira emitente, no prazo máximo de dois dias.

§ 5.º As despesas e os encargos decorrentes da transferência e averbação docertificado serão suportados pelo endossatário ou cessionário, salvo conven-ção em contrário.

Capítulo IVDAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 20. Aplica-se às Cédulas de Crédito Bancário, no que não contrariar o dis-posto nesta Medida Provisória, a legislação cambial, dispensado o protesto paragarantir o direito de cobrança contra endossantes, seus avalistas e terceiros ga-rantidores.

Art. 21. Os títulos de crédito e direitos creditórios, representados sob a formaescritural ou física, que tenham sido objeto de desconto, poderão ser admitidos aredesconto junto ao Banco Central do Brasil, observando-se as normas e instruçõesbaixadas pelo Conselho Monetário Nacional.

§ 1.º Os títulos de crédito e os direitos creditórios de que trata o caput considerar-se-ão transferidos, para fins de redesconto, à propriedade do Banco Central do Bra-sil, desde que inscritos em termo de tradição eletrônico constante do Sistema de In-formações do Banco Central – SISBACEN, ou, ainda, no termo de tradição previstono § 1.º do art. 5.º do Decreto 21.499, de 9 de junho de 1932, com a redação dada peloart. 1.º do Decreto 21.928, de 10 de outubro de 1932.

§ 2.º Entendem-se inscritos nos termos de tradição referidos no § 1.º os títu-los de crédito e direitos creditórios neles relacionados e descritos, observando-se os requisitos, os critérios e as formas estabelecidas pelo Conselho Monetá-rio Nacional.

§ 3.º A inscrição produzirá os mesmos efeitos jurídicos do endosso, somente seaperfeiçoando com o recebimento, pela instituição financeira proponente doredesconto, de mensagem de aceitação do Banco Central do Brasil, ou, não sendoeletrônico o termo de tradição, após a assinatura das partes.

§ 4.º Os títulos de crédito e documentos representativos de direitos creditórios,inscritos nos termos de tradição, poderão, a critério do Banco Central do Brasil, per-manecer na posse direta da instituição financeira beneficiária do redesconto, que osguardará e conservará em depósito, devendo proceder, como comissária del credere,à sua cobrança judicial ou extrajudicial.

Art. 22. Ficam convalidados os atos praticados com base na Medida Provisória2.160-24, de 2 de julho de 2001.

Art. 23. Esta Medida Provisória entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 23 de agosto de 2001; 180.º da Independência e 113.º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Page 25: juros no direito brasileiro

369APÊNDICE

5. SÚMULAS DO STJ

Súmula 12 — Em desapropriação, são cumuláveis juros compensatórios emoratórios.

Súmula 29 — No pagamento em juízo para elidir falência, são devidos corre-ção monetária, juros e honorários de advogado.

Súmula 54 — Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso deresponsabilidade extracontratual.

Súmula 56 — Na desapropriação para instituir servidão administrativa são de-vidos os juros compensatórios pela limitação de uso da propriedade.

Súmula 69 — Na desapropriação direta, os juros compensatórios são devidosdesde a antecipada imissão na posse e, na desapropriação indireta, a partir da efetivaocupação do imóvel.

Súmula 70 — Os juros moratórios, na desapropriação direta ou indireta,contam-se desde o trânsito em julgado da sentença.

Súmula 93 — A legislação sobre cédulas de crédito rural, comercial e indus-trial admite o pacto de capitalização de juros.

Súmula 102 — A incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios, nasações expropriatórias, não constitui anatocismo vedado em lei.

Súmula 113 — Os juros compensatórios, na desapropriação direta, incidem apartir da imissão na posse, calculados sobre o valor da indenização, corrigido mone-tariamente.

Súmula 114 — Os juros compensatórios, na desapropriação indireta, incidema partir da ocupação, calculados sobre o valor da indenização, corrigido monetaria-mente.

Súmula 131 — Nas ações de desapropriação incluem-se no cálculo da verbaadvocatícia as parcelas relativas aos juros compensatórios e moratórios, devidamentecorrigidas.

Súmula 176 — É nula a cláusula contratual que sujeita o devedor a taxa de jurosdivulgada pela Anbid/Cetip.

Súmula 186 — Nas indenizações por ato ilícito, os juros compostos somentesão devidos por aquele que praticou o crime.

Súmula 188 — Os juros moratórios, na repetição do indébito, são devidos a partirdo trânsito em julgado da sentença.

Súmula 204 — Os juros de mora nas ações relativas a benefícios previdenciá-rios incidem a partir da citação válida.

Page 26: juros no direito brasileiro

370 JUROS

6. EMENDA CONSTITUCIONAL N. 40, DE 29 DE MAIO DE 2003

Altera o inciso V do art. 163 e o art. 192 da ConstituiçãoFederal, e o caput do art. 52 do Ato das DisposiçõesConstitucionais Transitórias.

As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do § 3.º doart. 60 da Constituição Federal, promulgam a seguinte Emenda ao texto constitu-cional:

Art. 1.º O inciso V do art. 163 da Constituição Federal passa a vigorar com aseguinte redação:

“Art. 163. [...]

“[...]

“V – fiscalização financeira da administração pública direta e indireta;

“[...]”

Art. 2.º O art. 192 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o de-senvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em to-das as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será reguladopor leis complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do capital es-trangeiro nas instituições que o integram.”

“I – (Revogado).

“II – (Revogado).

“III – (Revogado).

“a) (Revogada).

“b) (Revogada).

“IV – (Revogado).

“V – (Revogado).

“VI – (Revogado).

“VII – (Revogado).

“VIII – (Revogado).

“§ 1.º (Revogado).

“§ 2.º (Revogado).

“§ 3.º (Revogado).”

Art. 3.º O caput do art. 52 do Ato das Disposições Constitucionais Transitóriaspassa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 52. Até que sejam fixadas as condições do art. 192, são vedados:

Page 27: juros no direito brasileiro

371APÊNDICE

“[...]”

Art. 4.º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, em 29 de maio de 2003.

Mesa da Câmara dos Deputados: Deputado JOÃO PAULO CUNHA, Presidente –Deputado Inocêncio de Oliveira, 1.º Vice-Presidente – Deputado Luiz Piauhylino,2.º Vice-Presidente – Deputado Geddel Vieira Lima, 1.º Secretário – Deputado Se-verino Cavalcanti, 2.º Secretário – Deputado Nilton Capixaba, 3.º Secretário – De-putado Ciro Nogueira, 4.º Secretário.

Mesa do Senado Federal: Senador JOSÉ SARNEY, Presidente – Senador Paulo Paim,1.º Vice-Presidente – Senador Eduardo Siqueira Campos, 2.º Vice-Presidente – Se-nador Romeu Tuma, 1.º Secretário – Senador Alberto Silva, 2.º Secretário – SenadorHeráclito Fortes, 3.º Secretário – Senador Sérgio Zambiasi, 4.º Secretário.

Page 28: juros no direito brasileiro

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