jurisprudência da cidh - direito dos povos indígenas

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• Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni Vs. Nicarágua • Comunidade Indígena Yakye Axa Vs. Paraguai • Yatama Vs. Nicarágua • Povo Saramaka Vs. Suriname • Chitay Nech e Outros Vs. Guatemala • Comunidade Indígena Xákmok Kásek Vs. Paraguai • Povo Indígena Kichwa de Sarayaku Vs. Equador JURISPRUDÊNCIA DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS

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Casos contenciosos da CIDH sobre direito dos povos indígenas

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  • Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni Vs. Nicargua

    Comunidade Indgena Yakye Axa Vs. Paraguai Yatama Vs. Nicargua Povo Saramaka Vs. Suriname Chitay Nech e Outros Vs. Guatemala Comunidade Indgena Xkmok Ksek Vs. Paraguai

    Povo Indgena Kichwa de Sarayaku Vs. Equador

    JURISPRUDNCIA DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

    DIREITOS DOS POVOS INDGENAS

  • JURISPRUDNCIA DA COR TE INTERAMERICAN A DE DIREITOS HUMANOS

    DIREITOS DOS POVOS INDGENAS

  • EXPEDIENTE

    CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOSHumberto Antonio Sierra Porto, PresidenteRoberto F. Caldas, Vice-PresidenteManuel E. Ventura Robles, JuizDiego Garca Sayn, JuizAlberto Prez Prez, JuizEduardo Ferrer Mac-Gregor Poisot, Juiz

    Pablo Saavedra Alessandri, SecretrioEmilia Segares Rodrguez, Secretria Adjunta

    PRESIDENTA DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASILDilma Rousseff

    MINISTRO DA JUSTIAJos Eduardo Cardozo

    SECRETRIO EXECUTIVO DO MINISTRIO DA JUSTIAMarivaldo de Castro Pereira

    SECRETRIO NACIONAL DE JUSTIA E PRESIDENTE DA COMISSO DE ANISTIAPaulo Abro

    DIRETORA DA COMISSO DE ANISTIAAmarilis Busch Tavares

    DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE ESTRANGEIROSJoo Guilherme Granja

    DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE RECUPERAO DE ATIVOS E COOPERAO JURDICA INTERNACIONALRicardo Andrade Saadi

    DIRETORA DO DEPARTAMENTO DE JUSTIA, CLASSIFICAO, TTULOS E QUALIFICAOFernanda Alves dos Anjos

    GABINETE DA COMISSO DE ANISTIALarissa Nacif Fonseca, Chefe de GabineteMarleide Ferreira Rocha, Assessora

    GABINETE DA SECRETARIA NACIONAL DE JUSTIAFrederico de Morais Andrade Coutinho, Chefe de GabineteCristina Timponi Cambiaghi, Assessora

    Ficha elaborada pela Biblioteca do Ministrio da Justia

    1. Direitos humanos. 2. Direitos indgenas. 3. Direitos e garantias individuais. 5. Liberdade de expresso 6. Migrao. I. Brasil Ministrio da Justia. II. Corte Interamericana de Direitos Humanos.

    CDD

    ISBN : 978-85-85820-81-7

    341.27J95c Jurisprudncia da Corte Interamericana de Direitos Humanos / Secretaria

    Nacional de Justia, Comisso de Anistia, Corte Interamericana deDireitos Humanos. Traduo da Corte Interamericana de DireitosHumanos. Braslia : Ministrio da Justia, 2014.

    7 v.

    Capa e Projeto Grfi co: Alex FuriniTraduo: Secretaria da Corte Interamericana de Direitos HumanosReviso: Centro de Cincias Jurdicas da Universidade Federal da ParabaTiragem: 2.000 exemplaresImpresso por: Prol Editora Grfi ca Ltda

  • APRESENTAO 5

    CASO DA COMUNIDADE MAYAGNA (SUMO) AWAS TINGNI VS. NICARGUA 7

    CASO DA COMUNIDADE INDGENA YAKYE AXA VS. PARAGUAI 75

    CASO YATAMA VS. NICARGUA 167

    CASO DO POVO SARAMAKA VS. SURINAME 257

    CASO CHITAY NECH E OUTROS VS. GUATEMALA 305

    CASO DA COMUNIDADE INDGENA XKMOK KSEK VS. PARAGUAI 361

    POVO INDGENA KICHWA DE SARAYAKU VS. EQUADOR 429

    SUMRIO

  • 5

    A publicao desta Coleo indita em lngua portuguesa contendo decises da Corte Interamericana de Direitos Humanos supre uma lacuna histrica para a formao do pensamento jurdico e da jurisprudncia brasileira.

    O Sistema Interamericano de Direitos Humanos (SIDH), composto pela Comisso Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (CorteIDH) surgiu no contexto da evoluo ps-guerra do direito internacional e em complementaridade lgica, temporal e jurdica construo do Sistema Universal de proteo que comeou a ser erguido com a Declarao da ONU de 1948. Tanto em escala mundial quanto continental esse novo sistema representou uma reao normativa, jurdica, poltica, tica e moral aos confl itos e extermnios produzidos na Segunda Guerra.

    O SIDH constituiu-se como sistema regional de proteo e defesa dos direitos humanos, contribuindo para a difuso regional da ideia de que o Estado no o nico sujeito de direito internacional, passando-se a aceitar o indivduo como pleiteador de seus direitos em escala internacional. Tal movimento deu incio reviso do conceito de soberania estatal ps-Westphalia, admitindo-se um certo grau de interveno internacional no contexto interno, em nome da garantia e do respeito aos direitos humanos.

    A Comisso j completava dez anos de existncia quando veio luz o instrumento normativo que lhe garantiu estrutura institucional abrangente, a Conveno Americana sobre Direitos Humanos, em vigncia desde 1978. Desde essa data, passou a contar com seu ramo jurisdicional, a Corte Interamericana dos Direitos Humanos, sediada em So Jos da Costa Rica.

    Apesar de o Brasil ter ratifi cado a Conveno Americana sobre Direitos Humanos (Pato de San Jos da Costa Rica) em 25 de setembro de 1992, apenas seis anos depois, em 10 de dezembro de 1998, reconheceu a jurisdio contenciosa da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

    Antes disso, a Constituio Federal de 1988, a Constituio Cidad, j previa no art.7 dos Atos das Disposies Constitucionais Transitrias que O Brasil propugnar pela formao de um tribunal internacional dos direitos humanos.

    preciso reconhecer que, seja por desconhecimento ou difi culdades de acesso, os operadores do direito e administradores pblicos nos trs poderes do Estado brasileiro ainda fundamentam muito pouco as suas aes, demandas ou decises judiciais na jurisprudncia internacional, a despeito do longo acervo de Tratados e Acordos fi rmados pelo Brasil.

    Mas este cenrio est em mudana. Quase duas dcadas depois de reconhecida a competncia da Corte, pode-se afi rmar que os Tribunais brasileiros, em especial o Supremo Tribunal Federal, vm ampliando as citaes Conveno Americana sobre Direitos Humanos em suas decises, a exemplo do caso sobre priso do depositrio infi el, do duplo grau de jurisdio, do uso de algemas, da individualizao da pena, da presuno de inocncia, do direito de recorrer em liberdade e da razovel durao do processo. Afi nal, so mais de 160 sentenas j emitidas pela CorteIDH em distintos casos e cuja aplicabilidade vincula a todos os pases aderentes da Conveno.

    Assim, impulsionada pela sua misso institucional de promover e construir direitos e polticas de justia voltadas garantia e ao desenvolvimento dos Direitos Humanos e da Cidadania, por meio de aes conjuntas do poder pblico e da sociedade, a Secretaria Nacional de Justia (SNJ/MJ) e a Comisso de Anistia do Ministrio da Justia vem estreitando laos institucionais com a Corte Interamericana de Direitos Humanos.

    APRESENTAO

  • As primeiras iniciativas ocorreram por ocasio da realizao no Brasil do Curso sobre Controle de Convencionalidade e Jurisprudncia da Corte Interamericana de Direitos Humanos, quando durante uma semana membros da Corte e operadores judiciais de diversos pases e estados brasileiros se reuniram para discutir sobre a jurisprudncia do Sistema Interamericano de Direitos Humanos.

    Posteriormente foi fi rmado convnio com a Corte para o fortalecimento da difuso de sua jurisprudncia em lngua portuguesa para os operadores jurdicos brasileiros e cujo resultado mais concreto est na presente obra.

    Como produto foram selecionadas, editadas, sistematizadas e traduzidas as sentenas paradigmticas e mais relevantes da Corte de maneira a tornar acessvel seus critrios jurisprudenciais a todos os brasileiros, sejam agentes do Estado, sejam vtimas de violaes, e disponibilizando, assim, mais uma ferramenta de ampliao da efetividade da justia que poder ser aplicada de maneira que infl uencie nas normas, decises, prticas e polticas pblicas internas.

    A presente obra distribuda em 7 volumes que correspondem a diferentes temas de direitos protegidos pela Conveno Americana de Direitos Humanos, a saber: Volume 1: Direito vida (execues extrajudiciais e desaparecimentos forados), Anistias e Direito Verdade; Volume 2: Direitos dos Povos Indgenas; Volume 3: Direitos Econmicos Sociais e Culturais (DESC) e Discriminao; Volume 4: Direito Integridade Pessoal; Volume 5: Direito Liberdade Pessoal; Volume 6: Liberdade de Expresso; e Volume 7: Migrao, Refgio e Aptridas.

    com muita satisfao que esta obra trazida aos operadores de direito de todo o Brasil, sociedade civil, aos estudantes, professores e acadmicos, e aos advogados e defensores dos direitos humanos, esperando que essa iniciativa possa contribuir para a difuso e a ampliao do acesso a mais um instrumento da tutela efetiva dos direitos humanos, para o fortalecimento do interesse em sua aplicabilidade cotidiana e para a aproximao de sistemas jurdicos com mais profundo dilogo tcnico e humano entre as naes e povos do continente.

    Paulo AbroSecretrio Nacional de Justia

    Presidente da Comisso de Anistia

    Humberto Sierra PortoPresidente

    Corte Interamericana de Direitos Humanos

    ***

    Jos Eduardo CardozoMinistro da Justia

    Roberto F. CaldasVice-Presidente

    Corte Interamericana de Direitos Humanos

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    CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOSCASO DA COMUNIDADE MAYAGNA (SUMO) AWAS TINGNI VS. NICARGUA

    SENTENA DE 31 DE AGOSTO DE 2001(Mrito, Reparaes e Custas)

    No caso da Comunidade Mayagna (Sumo) Awas Tingni (doravante denominada a Comunidade, a Comunidade Mayagna, a Comunidade Awas Tingni ou Awas Tingni),

    a Corte Interamericana de Direitos Humanos (doravante denominada a Corte, a Corte Interamericana ou o Tribunal), integrada pelos seguintes juzes:

    Antnio A. Canado Trindade, Presidente;Mximo Pacheco Gmez, Vice-Presidente;Hernn Salgado Pesantes, Juiz;Oliver Jackman, Juiz;Alirio Abreu Burelli, Juiz;Sergio Garca Ramrez, Juiz;Carlos Vicente de Roux Rengifo, Juiz, eAlejandro Montiel Argello, Juiz ad hoc;

    presentes, ademais,

    Manuel E. Ventura Robles, Secretrio, ePablo Saavedra Alessandri, Secretrio Adjunto,

    de acordo com os artigos 29 e 55 do Regulamento da Corte (doravante denominado o Regulamento)*, profere a seguinte Sentena sobre o presente caso.

    IIntroduo da Causa

    1. Em 4 de junho de 1998, a Comisso Interamericana de Direitos Humanos (doravante denominada a Comisso ou a Comisso Interamericana) apresentou Corte uma demanda contra o Estado da Nicargua (doravante denominado o Estado ou Nicargua) que se originou na denncia n 11.577, recebida na Secretaria da Comisso em 2 de outubro de 1995.

    2. Em sua demanda, a Comisso invocou os artigos 50 e 51 da Conveno Americana sobre Direitos Humanos (doravante denominada a Conveno Americana ou a Conveno) e os artigos 32 e seguintes do Regulamento. A Comisso apresentou este caso com o fi m de que a Corte decidisse se o Estado violou os artigos 1 (Obrigao de Respeitar os Direitos), 2 (Dever de Adotar Disposies de Direito Interno), 21 (Direito Propriedade Privada) e 25 (Proteo Judicial) da Conveno, em razo de que a Nicargua no demarcou as terras comunais da Comunidade Awas Tingni, nem tomou medidas efetivas que assegurassem os direitos de propriedade da Comunidade em suas terras ancestrais e recursos naturais, bem como por haver outorgado uma concesso nas terras da Comunidade sem seu consentimento e por no haver garantido um recurso efetivo para responder s reclamaes da Comunidade sobre seus direitos de propriedade.

    3. Igualmente, a Comisso solicitou Corte que declarasse que o Estado deve estabelecer um procedimento jurdico que permita a rpida demarcao e o reconhecimento ofi cial dos direitos de propriedade da Comunidade Mayagna, bem como abster-se de outorgar ou considerar a outorga de qualquer concesso para o aproveitamento de recursos naturais nas terras usadas e ocupadas por Awas Tingni, at que se resolva a questo da posse da terra que afeta a Comunidade.

    *De acordo com a Resoluo da Corte de 13 de maro de 2001, sobre Disposies Transitrias ao seu Regulamento, a presente Sentena sobre o mrito deste caso proferida nos termos do Regulamento adotado atravs da Resoluo da Corte de 16 de setembro de 1996.

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    JURISPRUDNCIA DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

    4. Finalmente, a Comisso solicitou Corte que condene o Estado a pagar uma indenizao compensatria equitativa pelos danos materiais e morais que a Comunidade sofreu, e ao pagamento das custas e gastos gerados na tramitao do caso na jurisdio interna e perante o Sistema Interamericano.

    IICompetncia

    5. A Nicargua Estado Parte na Conveno Americana desde 25 de setembro de 1979 e reconheceu a competncia contenciosa da Corte em 12 de fevereiro de 1991. Portanto, a Corte competente para conhecer do presente caso, nos termos do artigo 62.3 da Conveno.

    IIIProcedimento Perante a Comisso

    6. Em 2 de outubro de 1995, a Comisso Interamericana recebeu em sua Secretaria uma denncia apresentada pelo senhor Jaime Castillo Felipe, Sndico da Comunidade, em seu nome e em representao desta. Nesta denncia, tambm foi solicitada a adoo de medidas cautelares, em virtude de que o Estado supostamente dispor-se-ia a outorgar uma concesso empresa Sol del Caribe, S.A. (SOLCARSA) (doravante denominada SOLCARSA) para comear a explorao de madeira nas terras comunitrias. No dia 6 do mesmo ms e ano, a Comisso acusou o recebimento desta comunicao.

    7. Em 3 de dezembro de 1995 e em 4 de janeiro de 1996, a Comisso recebeu escritos mediante os quais foi reiterado o pedido de medidas cautelares a que faz referncia o pargrafo anterior.

    8. Em 19 de janeiro de 1996, os peticionrios solicitaram uma audincia Comisso, mas esta lhes informou que no seria possvel conced-la.

    9. Em 5 de fevereiro de 1996, a Comisso iniciou a tramitao do caso e enviou ao Estado as partes pertinentes da petio, solicitando a este que enviasse a informao correspondente em um prazo de 90 dias.

    10. Em 13 de maro de 1996, o senhor James Anaya, representante jurdico da Comunidade, apresentou Comisso dois artigos de imprensa referentes outorga da concesso SOLCARSA e uma carta enviada pelo Ministro do Ambiente e Recursos Naturais ao Presidente da SOLCARSA, na qual lhe informava que o pedido de concesso fl orestal esta[va] em trmite[,] e o que falta[va] e[ra] assinar o contrato de concesso, e que o principal obstculo eram as reclamaes da Comunidade.

    11. Mediante comunicao de 28 de maro de 1996, os peticionrios enviaram Comisso um projeto de memorando de entendimento para chegar a uma soluo amistosa no caso, documento que, segundo o senhor James Anaya, representante jurdico da Comunidade, havia sido apresentado aos Ministros das Relaes Exteriores e do Ambiente e Recursos Naturais.

    12. Em 17 de abril de 1996, o senhor James Anaya, representante jurdico da Comunidade, apresentou um documento mediante o qual outras comunidades indgenas da Regio Autnoma Atlntico Norte (doravante denominada a RAAN) e o Movimento Indgena da Regio Autnoma Atlntico Sul (RAAS) aderiam petio apresentada perante a Comisso.

    13. Em 3 de maio de 1996, foi realizada uma reunio informal entre os peticionrios, o Estado e a Comisso com o fi m de alcanar uma soluo amistosa sobre este caso. No dia 6 do mesmo ms e ano, a Comisso colocou-se disposio das partes para procurar esta soluo e concedeu-lhes um prazo de 30 dias para que enviassem sua resposta a esse respeito. Em 8 e 20 de maio de 1996, os peticionrios e o Estado, respectivamente, concordaram com essa proposta.

    14. Em 20 de junho de 1996, foi realizada uma segunda reunio entre os peticionrios, o Estado e a Comisso. Nesta reunio, a Nicargua recusou o projeto de memorando de entendimento apresentado pelos peticionrios (par. 11 supra). Por sua vez, propuseram que uma delegao da Comisso visitasse a Nicargua para dialogar com as partes.

    15. Em 3 de outubro de 1996, foi realizada uma terceira reunio entre os peticionrios, o Estado e a Comisso. Nesta, os peticionrios solicitaram ao Estado que no outorgasse mais concesses na zona, que iniciasse o processo de

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    DIREITOS DOS POVOS INDGENAS - CASO DA COMUNIDADE MAYAGNA (SUMO) AWAS TINGNI VS. NICARGUA

    demarcao das terras da Comunidade e as diferenciasse das terras estatais. Por sua vez, o Estado apresentou alguns documentos probatrios, anunciou a criao da Comisso Nacional de Demarcao e convidou os peticionrios a participar nela.

    16. Em 5 de maro de 1997, os peticionrios reiteraram Comisso seu pedido de medidas cautelares (pars. 6 e 7 supra) ante a ameaa do incio das operaes fl orestais nas terras indgenas e, no dia 12 do mesmo ms e ano, a Comisso concedeu ao Estado um prazo de 15 dias para que apresentasse um relatrio a esse respeito. Em 20 de maro de 1997, a Nicargua solicitou Comisso uma extenso de 30 dias para responder a seu pedido, a qual foi concedida.

    17. Em 3 de abril de 1997, os peticionrios informaram Comisso sobre a deciso da Sala Constitucional da Corte Suprema de Justia da Nicargua de 27 de fevereiro de 1997, que resolveu o recurso de amparo interposto por membros do Conselho Regional da RAAN e declarou a inconstitucionalidade da concesso outorgada pelo Ministrio do Ambiente e Recursos Naturais (doravante denominado MARENA) SOLCARSA, em razo de que no contava com a aprovao do Conselho Regional da RAAN, tal como indica o artigo 181 da Constituio nicaraguense. Tambm informaram que o Estado no havia suspendido a concesso.

    18. Em 23 de abril de 1997, a Nicargua solicitou Comisso que rejeitasse as medidas cautelares solicitadas pelos peticionrios (pars. 6, 7 e 16 supra), com fundamento na sentena proferida pela Sala Constitucional da Corte Suprema de Justia, a qual se comprometia a cumprir. Entretanto, em 11 de junho do mesmo ano, os peticionrios informaram Comisso que o Estado e a SOLCARSA continuavam atuando como se a concesso fosse vlida, apesar da sentena da Sala Constitucional da Corte Suprema de Justia.

    19. Em audincia realizada na Comisso em 8 de outubro de 1997, os peticionrios indicaram que prosseguiam as operaes fl orestais nas terras da Comunidade e solicitaram Comisso que observasse a situao in situ. Em 27 de outubro do mesmo ano, trs dias antes da visita programada pela Comisso Nicargua, o Estado informou Comisso que no era necessria esta visita, em razo de que preparava um relatrio adicional a esse respeito.

    20. Em 31 de outubro de 1997, a Comisso solicitou ao Estado que adotasse as medidas cautelares (pars. 6, 7, 16 e 18 supra) que fossem necessrias para suspender a concesso outorgada SOLCARSA, e fi xou um prazo de 30 dias para que a Nicargua informasse sobre aquelas medidas.

    21. Em 5 de novembro de 1997, o Estado solicitou Comisso que encerrasse o caso, baseado em que o Conselho Regional da RAAN havia ratifi cado a aprovao da concesso outorgada SOLCARSA, a qual corrigiu o erro de forma cometido e, deste modo, tornou-se vigente a concesso.

    22. Em 17 de novembro de 1997, os peticionrios manifestaram Comisso que o ponto central da denncia era a falta de proteo por parte da Nicargua dos direitos da Comunidade sobre suas terras ancestrais, situao que ainda permanecia vigente. Igualmente, com relao ratifi cao do Conselho Regional da RAAN da concesso outorgada SOLCARSA, indicaram que este Conselho era parte da organizao poltico-administrativa do Estado e que havia atuado sem levar em conta os direitos territoriais da Comunidade. Finalmente, solicitaram Comisso que prestasse um relatrio de acordo com o artigo 50 da Conveno.

    23. Em 4 de dezembro de 1997, o Estado enviou uma comunicao Comisso, na qual indicou que os peticionrios haviam interposto, em 7 de novembro de 1997, um recurso de amparo perante o Tribunal de Apelaes de Matagalpa com o fi m de que aquele declarasse nula a concesso outorgada SOLCARSA. Por isso, a Nicargua alegou que no se haviam esgotado os recursos internos e invocou a aplicao dos artigos 46 da Conveno e 37 do Regulamento da Comisso.

    24. Em 2 de maro de 1998, o Estado comunicou Comisso que, em 22 de janeiro do mesmo ano, os peticionrios haviam apresentado perante a Corte Suprema de Justia um pedido de execuo da sentena de 27 de fevereiro de 1997, proferida por aquele tribunal (par. 17 supra). Nesta oportunidade, a Nicargua reiterou sua posio no sentido de que no se haviam esgotado os recursos internos e solicitou Comisso que se abstivesse de continuar conhecendo do caso.

    25. Em 3 de maro de 1998, a Comisso Interamericana aprovou o Relatrio n 27/98, que foi transmitido ao Estado no dia 6 do mesmo ms e ano, e concedeu Nicargua um prazo de dois meses para que informasse sobre as medidas que houvesse adotado para dar cumprimento s recomendaes. Neste Relatrio, a Comisso concluiu:

    141. Com base nas aes e omisses examinadas, [...]o Estado da Nicargua no cumpriu suas obrigaes sob a Conveno Americana de Direitos Humanos. O Estado da Nicargua no demarcou as terras

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    JURISPRUDNCIA DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

    comunitrias da Comunidade Awas Tingni, nem de outras comunidades indgenas. Tampouco tomou medidas efetivas que assegurem os direitos de propriedade da Comunidade em suas terras. Esta omisso por parte do Estado constitui uma violao dos artigos 1, 2, e 21 da Conveno, os quais, em seu conjunto, estabelecem o direito a estas medidas efetivas. Os artigos 1 e 2 obrigam os Estados a tomar as medidas necessrias para implementar os direitos contidos na Conveno.

    142. O Estado da Nicargua responsvel por [violar o] direito propriedade de forma ativa, consagrado no artigo 21 da Conveno, ao outorgar uma concesso companhia SOLCARSA para realizar nas terras [de] Awas Tingni trabalhos de construo de estradas e de explorao madeireira, sem o consentimento da Comunidade Awas Tingni.

    143. [...]o Estado da Nicargua no garantiu um recurso efetivo para responder s reclamaes da Comunidade Awas Tingni sobre seus direitos a terras e recursos naturais, de acordo com o artigo 25 da Conveno.

    Igualmente, a Comisso recomendou Nicargua que:

    a. Estabele[cesse] um procedimento em seu ordenamento jurdico, aceitvel s comunidades indgenas envolvidas, que t[ivesse] como resultado a rpida demarcao e o reconhecimento ofi cial do territrio de Awas Tingni e dos territrios de outras comunidades da Costa Atlntica;

    b. Suspend[esse], com a maior brevidade, toda atividade relativa concesso madeireira outorgada SOLCARSA pelo Estado dentro das terras comunitrias de Awas Tingni, at que a questo da posse da terra que afeta as comunidades indgenas h[ouvesse] sido resolvida, ou que se h[ouvesse] chegado a um acordo especfi co entre o Estado e a Comunidade Awas Tingni; []

    c. Inici[asse] no prazo de um ms um dilogo com a Comunidade Awas Tingni, a fi m de determinar sob qu[e] circunstncias seria po[ssvel] chegar a um acordo entre o Estado e a Comunidade Awas Tingni.

    26. Em 7 de maio de 1998, a Comisso Interamericana recebeu a resposta do Estado. A Comisso indicou que, mesmo que esta resposta tinha sido apresentada extemporaneamente, analisaria seu contedo para ser acrescentado aos autos. A respeito das recomendaes da Comisso Interamericana, a Nicargua manifestou que:

    a) A fi m de dar cumprimento s recomendaes da [Comisso] em relao a estabelecer um procedimento jurdico aceitvel s comunidades indgenas envolvidas que t[ivesse] como resultado a demarcao e o reconhecimento ofi cial do territrio de Awas Tingni e de outras comunidades da Costa Atlntica, o Governo da Nicargua conta com uma Comisso Nacional para a Demarcao das Terras das Comunidades Indgenas da Costa Atlntica.

    Com este mesmo objetivo, [... procedeu]-se a preparar um Projeto de Lei de Propriedade Comunitria Indgena que tem trs componentes:

    1. Estabelecer o relativo acreditao das comunidades indgenas e de suas autoridades.

    2. Proceder delimitao e titulao das propriedades.

    3. Soluci[onar o c]onfl ito.

    Este projeto de lei pressupe dar uma soluo jurdica propriedade indgena ou de minorias tnicas. O referido projeto ser consultado com a sociedade civil, e, uma vez consensuado, ser apresentado Assembleia Nacional para sua discusso e posterior aprovao. O prazo aproximado para todo este processo de cerca de trs meses a partir desta data.

    b) Em relao recomendao de suspender toda atividade relativa concesso madeireira outorgada SOLCARSA e cumprir a sentena da Corte Suprema de Justia, o Governo da Nicargua cancelou esta concesso em 16 de fevereiro de 1998 e no mesmo dia notifi cou o Senhor Michael Kang, Gerente Geral da SOLCARSA[,] que a partir dessa data a concesso se tornava sem efeito e sem nenhum valor. Igualmente, foi comunicado que ordenasse a suspenso de toda ao, sob pena de violar o artigo 167 da Constituio Poltica e se fazer merecedor de interpor contra si indistintamente a ao civil e penal.

    c) A respeito da recomendao de iniciar um dilogo com a [C]omunidade de Awas Tingni, o Governo da Nicargua tem a fi rme vontade de dar uma soluo global a todas as comunidades indgenas da [C]osta [A]tlntica, no contexto do projeto de lei de propriedade comunitria, para o qual ser feita tambm uma ampla consulta com estas comunidades.

    27. Em relao s concluses contidas no Relatrio n 27/98, o Estado nicaraguense expressou seu reconhecimento dos direitos das comunidades indgenas, consagrados em sua Constituio, e outras normas legislativas. Ademais, indicou que

    deu fi el cumprimento s anteriores disposies legais, e portanto, sua atuao foi conforme o ordenamento jurdico nacional e o que estabelecem as normas e procedimentos da Conveno [Americana sobre] Direitos Humanos. Por sua vez, a Comunidade de Awas Tingni exerceu seus direitos consignados na lei e teve acesso aos recursos que a mesma lhe confere.

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    DIREITOS DOS POVOS INDGENAS - CASO DA COMUNIDADE MAYAGNA (SUMO) AWAS TINGNI VS. NICARGUA

    Finalmente, a Nicargua solicitou Comisso Interamericana que desse por concludo o presente caso.

    28. Em 28 de maio de 1998, a Comisso decidiu apresentar o caso perante a Corte.

    IVProcedimento Perante a Corte

    29. A Comisso apresentou a demanda perante a Corte em 4 de junho de 1998.

    30. A Comisso designou como delegados, os senhores Claudio Grossman e Hlio Bicudo; como assessores jurdicos, os senhores David Padilla, Hernando Valencia e Bertha Santoscoy, e como assistentes, os senhores James Anaya, Todd Crider e Mara Luisa Acosta Castelln.

    31. Em 19 de junho de 1998, a Secretaria da Corte (doravante denominada a Secretaria), aps um exame preliminar da demanda realizado pelo Presidente da Corte (doravante denominado o Presidente), a notifi cou ao Estado informando-lhe igualmente sobre os prazos para contest-la, opor excees preliminares e nomear sua representao. Alm disso, o Estado foi convidado a designar um Juiz ad hoc. Nesse mesmo dia, a Secretaria solicitou Comisso que enviasse algumas folhas dos anexos demanda que estavam ilegveis.

    32. Em 2 de julho de 1998, a Nicargua designou o senhor Alejandro Montiel Argello como Juiz ad hoc e o senhor Edmundo Castillo Salazar como agente.

    33. No mesmo dia, a Comisso apresentou Corte cpias das folhas dos anexos da demanda solicitadas pela Secretaria (par. 31 supra), bem como os endereos e as procuraes dos representantes das vtimas, com exceo da procurao concedida ao senhor Todd Crider, a qual foi enviada em 24 de julho de 1998.

    34. Em 18 de agosto de 1998, o Estado acreditou como assessores jurdicos os senhores Rosenaldo J. Castro S. e Bertha Marina Argello.

    35. Em 19 de agosto de 1998, a Nicargua interps a exceo preliminar de no esgotamento dos recursos da jurisdio interna, em conformidade com os artigos 46 e 47 da Conveno, e solicitou que a Corte declarasse a demanda inadmissvel.

    36. Em 25 de setembro de 1998, a Comisso apresentou suas observaes exceo preliminar interposta pelo Estado.

    37. Em 19 de outubro de 1998, o Estado apresentou a contestao demanda.

    38. Em 27 de janeiro de 1999, a Organizao de Sndicos Indgenas do Caribe Nicaraguense (OSICAN) apresentou um escrito na qualidade de amicus curiae. Em 4 de fevereiro de 1999, foi recebida na Secretaria uma nota do senhor Eduardo Conrado Poveda, por meio da qual se aderiu ao anterior escrito de amicus curiae.

    39. Em 15 de maro de 1999, a Secretaria solicitou ao Estado o envio de diversos documentos oferecidos como anexos nos escritos de contestao de demanda e de excees preliminares que no haviam sido apresentados em seu momento. Do escrito de contestao da demanda foram solicitadas as: folhas 129 e 130 do anexo 10; mapas e descries fsicas oferecidas no anexo 15, bem como documentos relativos titulao de comunidades vizinhas de Awas Tingni oferecidos nesse mesmo anexo. Do anexo 10 do escrito de excees preliminares foram solicitados os seguintes documentos: projees aproximadas da localizao geogrfi ca da rea pretendida pela Comunidade Awas Tingni, reivindicaes de outras comunidades, mapas de sobreposio de reivindicaes, ejidos, terras nacionais e outras ilustraes pertinentes ao caso; certido do Instituto Nicaraguense de Reforma Agrria (doravante denominado INRA) em relao ao pedido de titulao da Comunidade Awas Tingni; Constituio Poltica da Nicargua; certides de artigos de Cdigos de Leis da Nicargua, Leis e Decretos pertinentes, e certido do atuado por instituies de organismos do Governo Central, organismos descentralizados ou entes autnomos e outras instituies da Assembleia Nacional e da Corte Suprema de Justia da Nicargua.

    40. Em 26 de maio de 1999, o Estado apresentou um escrito ao qual anexou os seguintes documentos: Constituio Poltica da Nicargua com suas reformas, Lei de Amparo, Lei n 290 e pginas 8984 a 8989 do Dirio Ofi cial La Gaceta n 205 de 30 de outubro de 1998. No mesmo escrito, a Nicargua manifestou que no apresentaria os mapas e descries fsicas, oferecidos como anexo 15 em seu escrito de contestao da demanda, porquanto os mapas apresentados com o escrito de excees preliminares demonstram a localizao geogrfi ca da rea pretendida pela Comunidade, reivindicaes de outras comunidades, descries fsicas etc.. Igualmente, expressou que no apresentaria a certido do INRA referente ao pedido de titulao da Comunidade Awas Tingni,

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    JURISPRUDNCIA DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

    oferecida como anexo 10 do escrito de excees preliminares, porquanto no mesmo escrito [...] foi includa declarao desta instituio, sobre o mesmo assunto, de data de 5 de agosto de 1998. Igualmente, quanto s folhas 129 e 130 do anexo 10 do escrito de contestao da demanda, afi rmou que este anexo realmente fi nalizava na pgina 128. No que concerne aos documentos referentes titulao de outras comunidades indgenas, indicou que, considerando-os oportunos, os apresentaria em um momento processual posterior.

    41. Em 28 de maio de 1999, a organizao Assembly of First Nations (AFN), do Canad, apresentou um escrito em idioma ingls, na qualidade de amicus curiae. Em fevereiro de 2000, foi apresentada a verso em espanhol deste documento.

    42. Em 31 de maio de 1999, a organizao International Human Rights Law Group apresentou um escrito em idioma ingls, na qualidade de amicus curiae.

    43. Em 31 de maio de 1999, foi realizada uma audincia pblica sobre excees preliminares na sede da Corte.

    44. Em 1 de fevereiro de 2000, a Corte proferiu Sentena de excees preliminares, por meio da qual rejeitou a exceo preliminar interposta pela Nicargua.

    45. Em 2 de fevereiro de 2000, a Secretaria solicitou Comisso o envio da lista defi nitiva das testemunhas e peritos propostos por ela para comparecer na audincia pblica sobre o mrito do caso. No dia 18 do mesmo ms e ano, a Comisso apresentou esta informao.

    46. Em 20 de maro de 2000, o Presidente proferiu uma Resoluo mediante a qual convocou a Comisso Interamericana e o Estado a uma audincia pblica sobre o mrito, que seria realizada na sede da Corte em 13 de junho de 2000. Esta audincia pblica no foi realizada em razo das redues oramentrias que determinaram que a Corte suspendesse seu XLVIII Perodo Ordinrio de Sesses, no qual seria realizada esta audincia.

    47. Em 7 de abril de 2000, o Estado enviou um escrito indicando os nomes das pessoas que explicar[iam] o contedo e alcance dos documentos probatrios oportunamente oferecidos, com o fi m de que as seguintes pessoas fossem recebidas na qualidade de testemunhas e peritos na audincia pblica sobre o mrito do presente caso: senhores Marco Antonio Centeno Caffarena, Diretor do Escritrio de Titulao Rural; Uriel Vanegas, Diretor da Secretaria de Demarcao Territorial do Conselho Regional da RAAN; Gonzalo Medina, assessor e especialista em Geodsia e Cartografi a do Instituto Nicaraguense de Estudos Territoriais, e Mara Nella Rocha, Procuradora Especial do Meio Ambiente da Procuradoria Geral da Repblica.

    Os argumentos apresentados pelo Estado neste escrito indicam que as intervenes das testemunhas e dos peritos propostos contribuiriam a estabelecer:

    a) o prejuzo resultante para os direitos de propriedade das comunidades indgenas vizinhas Comunidade Mayagna de Awas Tingni, no caso de que proceda titulao da superfcie desproporcional pretendida por esta Comunidade[;]

    b) o prejuzo que resultar para as reivindicaes de terras do resto das comunidades indgenas existentes na Costa Atlntica da Nicargua, se for atribuda Comunidade Indgena de Awas Tingni a superfcie desproporcional que pretende;

    c) o interesse do Estado em conduzir um processo de titulao equnime e objetivo das terras das Comunidades Indgenas que salvaguarde os direitos de cada uma das Comunidades; argumentos expostos nos escritos de Excees Preliminares e Contestao da Demanda e suportados documentalmente por meio dos Anexos referidos.

    48. Em 13 de abril de 2000, a Comisso enviou um escrito no qual solicitou Corte que ordenasse ao Estado que adotasse as medidas necessrias para assegurar que seus funcionrios no atuem de maneira que tenda a pressionar a Comunidade a renunciar a sua demanda, ou que tenda a interferir na relao entre a Comunidade e seus advogados[, e] que deixe de tentar negociar com os membros da Comunidade sem que haja um acordo ou entendimento prvio com a Comisso e a Corte a esse respeito. Em anexo, apresentou um escrito de 12 de abril de 2000, encaminhado pelo senhor James Anaya, representante jurdico da Comunidade, ao senhor Jorge E. Taiana, Secretrio Executivo da Comisso, que continha como anexo o relatrio elaborado pela senhora Mara Luisa Acosta Castelln sobre a reunio entre funcionrios do Estado e a Comunidade Awas Tingni, realizada nos dias 30 e 31 de maro de 2000 nos escritrios da Chancelaria da Nicargua.

    49. Em 14 de abril de 2000, a Secretaria concedeu um prazo de 30 dias ao Estado para que apresentasse suas observaes ao escrito anterior. Em 10 de maio do mesmo ano, a Nicargua afi rmou que no tinha exercido nenhuma presso sobre a Comunidade, nem interferido em suas relaes com seus representantes jurdicos. Ademais, afi rmou sua disposio de procurar uma soluo amigvel atravs de conversaes diretas e exclusivas

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    DIREITOS DOS POVOS INDGENAS - CASO DA COMUNIDADE MAYAGNA (SUMO) AWAS TINGNI VS. NICARGUA

    com a Comisso. Em anexo, apresentou um documento com data de 3 de fevereiro de 2000, intitulado ata de nomeao de representantes dos habitantes que formam o grupo tnico Mayagna da Comunidade de Awas Tingni, Municpio de Wa[s]pam, Rio Coco, RAAN.

    50. Em 10 de maio de 2000, a Comisso enviou um escrito no qual expressou que a Nicargua, em sua contestao demanda, no havia proposto testemunhas ou peritos. Ademais, acrescentou que o Estado no havia alegado fora maior, nem outros motivos que justifi cassem a admisso de provas no indicadas em sua contestao, de modo que solicitou Corte que declarasse improcedente a convocatria das testemunhas e dos peritos propostos pela Nicargua (par. 47 supra).

    51. Em 1 de junho de 2000, a Secretaria solicitou ao Estado que apresentasse, o mais tardar no dia 15 de junho do mesmo ano, os fundamentos ou comentrios sobre seu oferecimento de testemunhas e peritos, para que o Presidente considerasse sua admissibilidade. Igualmente, mediante Resoluo de 18 de agosto de 2000, a Corte reiterou ao Estado o pedido de que apresentasse os fundamentos que motivaram a proposta extempornea de testemunhas e peritos (par. 47 supra); ademais, solicitou-lhe que especifi casse que pessoas foram oferecidas para prestar declarao na qualidade de testemunhas e quem na qualidade de peritos.

    52. Em 31 de maio de 2000, o escritrio de advocacia Hutchins, Soroka & Dionne apresentou um escrito de amicus curiae em idioma ingls, em representao da Comunidade Indgena Mohawks de Akwesasne.

    53. Em 5 de setembro de 2000, o Estado apresentou uma comunicao mediante a qual informou que as pessoas indicadas em seu escrito de 7 de abril de 2000 (par. 47 supra) haviam sido propostas na qualidade de peritos. No dia seguinte, seguindo instrues do Presidente, a Secretaria pediu Comisso que enviasse suas observaes ao referido escrito, bem como sua lista defi nitiva de testemunhas e peritos, para o que concedeu prazo at o dia 12 de setembro de 2000.

    54. No dia 12 de setembro de 2000, a Comisso enviou uma nota na qual manteve seu pedido de que fosse declarada improcedente a nomeao de peritos propostos pelo Estado, em razo de que este ltimo no indicou os motivos que fundamentavam a proposta extempornea. Na mesma nota, a Comisso apresentou a lista defi nitiva de suas testemunhas e peritos, na qual incluiu o senhor Theodore Macdonald Jr. na qualidade de perito, que na demanda havia sido proposto como testemunha.

    55. Mediante Resoluo de 14 de setembro de 2000, o Presidente decidiu que o oferecimento de prova efetuado pelo Estado em 7 de abril de 2000 (par. 47 supra) era extemporneo; entretanto, como prova para melhor resolver, de acordo com o artigo 44.1 do Regulamento, convocou o senhor Marco Antonio Centeno Caffarena para que comparecesse perante a Corte na qualidade de testemunha. Ademais, o Presidente recusou a proposta feita pela Comisso de que o senhor Theodore Macdonald Jr. atuasse como perito, por ser extempornea, e este foi admitido na qualidade de testemunha, tal como havia sido proposto originalmente. Igualmente, o Presidente citou as testemunhas Jaime Castillo Felipe, Charly Webster Mclean Cornelio, Wilfredo Mclean Salvador, Brooklyn Rivera Bryan, Humberto Thompson Sang, Guillermo Castilleja e Galio Claudio Enrique Gurdin Gurdin, e os peritos Lottie Marie Cunningham de Aguirre, Charles Rice Hale, Roque de Jess Roldn Ortega e Rodolfo Stavenhagen Gruenbaum, todos propostos pela Comisso em sua demanda, para que prestassem declarao na audincia pblica sobre o mrito do caso, que seria realizada na sede da Corte em 16 de novembro de 2000.

    56. Em 5 de outubro de 2000, a Comisso apresentou um escrito, mediante o qual solicitou Corte seus bons ofcios para que a audincia pblica sobre o mrito fosse realizada na sede da Corte Suprema de Justia da Costa Rica, em razo do grande nmero de pessoas que haviam expressado interesse em assistir a esta audincia.

    57. Em 20 de outubro de 2000, o Presidente proferiu uma Resoluo mediante a qual informou Comisso e ao Estado que a audincia pblica convocada por Resoluo de 14 de setembro de 2000, seria realizada na sede do Tribunal Superior Eleitoral da Costa Rica, a partir das 16:00 horas do dia 16 de novembro de 2000, com o fi m de receber as declaraes e relatrios, respectivamente, das testemunhas e peritos j convocados.

    58. Em 26 de outubro de 2000, o Estado enviou um escrito no qual pediu Corte que recusasse o pedido da Comisso de realizar a audincia pblica sobre o mrito na sede da Corte Suprema de Justia da Costa Rica, por considerar que as razes alegadas eram puramente especulativas e que no constituam motivo jurdico sufi ciente para justifi car a transferncia de tais audincias.

    59. Em 27 de outubro de 2000, a Comisso enviou um escrito que continha uma lista de 19 membros da Comunidade Awas Tingni que assistiriam audincia pblica na qualidade de observadores.

    60. Nesse mesmo dia, o Presidente proferiu uma Resoluo na qual considerou que, em razo de que o Estado havia

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    JURISPRUDNCIA DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

    solicitado que a audincia pblica sobre o mrito fosse realizada na sede da Corte e de que o nmero de membros da Comunidade Mayagna que assistiriam mesma, segundo a Comisso, era muito menor que o originalmente previsto, no existia o motivo considerado para realizar a audincia pblica fora da sede do Tribunal e, por isso, decidiu que ela fosse realizada na sede da Corte, no mesmo dia e no mesmo horrio estabelecidos em sua Resoluo de 20 de outubro de 2000 (par. 57 supra).

    61. No ms de novembro de 2000, o senhor Robert A. Williams Jr., em representao da organizao National Congress of American Indians (NCAI), apresentou um escrito, em idioma ingls, na qualidade de amicus curiae.

    62. Nos dias 16, 17 e 18 de novembro de 2000, a Corte recebeu, em audincia pblica sobre o mrito, as declaraes das testemunhas e dos peritos propostos pela Comisso e a declarao da testemunha convocada pela Corte conforme o artigo 44.1 do Regulamento. Ademais, a Corte escutou as alegaes fi nais orais das partes.

    Compareceram perante a Corte:

    Pela Comisso Interamericana de Direitos Humanos:

    Hlio Bicudo, delegado;Claudio Grossman, delegado;Bertha Santoscoy, advogada; eJames Anaya, assistente.

    Pelo Estado da Nicargua:

    Edmundo Castillo Salazar, agente;Rosenaldo Castro, assessor;Betsy Baltodano, assessora; eLigia Margarita Guevara, assessora.

    Testemunhas propostas pela Comisso Interamericana de Direitos Humanos:

    Jaime Castillo Felipe (Intrprete: Modesto Jos Frank Wilson);Charly Webster Mclean Cornelio;Theodore Macdonald Jr.;Guillermo Castilleja;Galio Claudio Enrique Gurdin Gurdin;Brooklyn Rivera Bryan;Humberto Thompson Sang; eWilfredo Mclean Salvador.

    Peritos propostos pela Comisso Interamericana de Direitos Humanos:

    Rodolfo Stavenhagen Gruenbaum;Charles Rice Hale;Roque de Jess Roldn Ortega; eLottie Marie Cunningham de Aguirre.

    Testemunha convocada pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (artigo 44.1 do Regulamento):

    Marco Antonio Centeno Caffarena.

    63. Durante seu comparecimento na audincia pblica sobre o mrito do caso no dia 17 de novembro de 2000, o senhor Marco Antonio Centeno Caffarena ofereceu vrios documentos para fundamentar seu testemunho, e em 21 de novembro de 2000 apresentou oito documentos (pars. 79 e 95 infra).

    64. Em 24 de novembro de 2000, de acordo com o artigo 44 de seu Regulamento, a Corte resolveu que era til agregar ao acervo probatrio do presente caso os seguintes documentos oferecidos pelo senhor Marco Antonio Centeno Caffarena: cpia certifi cada por notrio pblico da certido de 22 de fevereiro de 1983 da inscrio no Registro Pblico da Propriedade Imvel do Departamento de Zelaya de 10 de fevereiro de 1917 da propriedade n 2.111,

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    DIREITOS DOS POVOS INDGENAS - CASO DA COMUNIDADE MAYAGNA (SUMO) AWAS TINGNI VS. NICARGUA

    e parecer etnogrfi co realizado pelo senhor Ramiro Garca Vsquez sobre o documento elaborado por Theodore Macdonald, intitulado Awas Tingni um Estudo Etnogrfi co da Comunidade e seu Territrio (pars. 79 e 95 infra).

    Ademais, a Corte requereu ao Estado que, o mais tardar em 15 de dezembro de 2000, apresentasse cpia da totalidade do estudo intitulado Diagnstico da posse da terra das comunidades indgenas da Costa Atlntica, elaborado pelo Central American and Caribbean Research Council.

    65. Em 20 de dezembro de 2000, o Estado apresentou, em cumprimento do requerido pela Corte na Resoluo indicada no pargrafo anterior, cpia do Contexto Geral, Resumo Executivo e Relatrio Final do documento intitulado Diagnstico geral sobre a posse da terra nas comunidades indgenas da Costa Atlntica, elaborado pelo Central American and Caribbean Research Council (par. 80 e 96 infra).

    66. Em 29 de janeiro de 2001, a Comisso apresentou uma nota na qual acompanhou trs documentos: comentrios de Theodore Macdonald de 20 de janeiro de 2001, e comentrios de Charles Rice Hale de 7 de janeiro de 2001, ambos com respeito ao parecer etnogrfi co elaborado por Ramiro Garca Vsquez sobre o documento elaborado por Theodore Macdonald intitulado Awas Tingni um Estudo Etnogrfi co da Comunidade e seu Territrio (pars. 81 e 97 infra); e cpia do documento intitulado Awas Tingni Um Estudo Etnogrfi co da Comunidade e seu Territrio. Relatrio 1999.

    67. Em 21 de junho de 2001, seguindo instrues do Presidente, a Secretaria concedeu Comisso e ao Estado prazo at 23 de julho do mesmo ano para apresentar seus escritos de alegaes fi nais. Em 3 de julho de 2001, a Comisso solicitou extenso at 10 de agosto do mesmo ano para a apresentao de seu escrito. Em 6 de julho de 2001, seguindo instrues do Presidente, a Secretaria informou Comisso e ao Estado que havia sido concedida a extenso solicitada.

    68. Mediante nota de 31 de julho de 2001, seguindo instrues do Presidente e de acordo com o artigo 44 do Regulamento, a Secretaria solicitou Comisso que apresentasse os documentos de prova e as alegaes que confi rmassem o pedido de pagamento de reparaes, custas e gastos apresentado pela Comisso no ponto petitrio de sua demanda (par. 4 supra), e concedeu prazo at o dia 10 de agosto de 2001.

    69. Em 31 de julho de 2001, seguindo instrues da Corte e conforme o artigo 44 do Regulamento, a Secretaria concedeu prazo Nicargua at o dia 13 de agosto de 2001 para que fosse enviada como prova para melhor resolver, a seguinte documentao: ttulos de propriedade existentes da Comunidade Awas Tingni (Comunidade Mayagna); das Dez Comunidades (Comunidade Miskita); da Comunidade Indgena de Tasba Raya (tambm conhecida como Seis Comunidades), que inclui as comunidades de Miguel Bikan, Wisconsin, Esperanza, Francia Sirpi, Santa Clara e Tasba Pain (Comunidades Miskitas,) e da Comunidade Indgena de Karat (Comunidade Miskita). Estes documentos no foram apresentados Corte.

    70. Em 8 de agosto de 2001, o Estado apresentou uma objeo a que fosse concedida s partes a possibilidade de apresentar alegaes fi nais escritas e solicitou que, caso a Corte decidisse seguir adiante com a admisso destas alegaes, fosse concedida uma extenso para sua apresentao at o dia 10 de setembro de 2001. No dia seguinte, seguindo instrues do Presidente, a Secretaria informou ao Estado que tem sido prtica constante e uniforme da Corte conceder s partes a oportunidade de apresentar alegaes fi nais escritas, entendidas estas como um resumo das posies das partes manifestadas na audincia pblica sobre o mrito, no entendimento de que estes escritos no esto sujeitos a observaes adicionais contraditrias das partes. Em relao ao pedido de extenso para a apresentao das alegaes fi nais do Estado, a Secretaria manifestou a este que, seguindo instrues do Presidente, em ateno ao tempo que as partes tiveram para apresentar suas alegaes fi nais escritas, e com o fi m de no prejudicar o equilbrio que deve o Tribunal resguardar entre a proteo dos direitos humanos, a segurana jurdica e a equidade processual, foi concedido um prazo improrrogvel para ambas as partes at o dia 17 de agosto de 2001.

    71. Em 10 de agosto de 2001, a Comisso apresentou seu escrito de alegaes fi nais, ao qual incluiu um anexo (par. 82 infra).

    72. Em 17 de agosto de 2001, a Nicargua apresentou seu escrito de alegaes fi nais.

    73. Em 22 de agosto de 2001, a Comisso apresentou extemporaneamente o escrito referente s reparaes, custas e gastos (par. 159 infra).

    74. Em 25 de agosto de 2001, o Estado solicitou Corte que se abstivesse de conhecer o escrito enviado pela Comisso sobre reparaes, custas e gastos, por haver sido apresentado extemporaneamente.

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    JURISPRUDNCIA DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

    VA Prova

    A) Prova Documental75. Com o escrito de demanda (pars. 1 e 29 supra), a Comisso Interamericana apresentou cpia de 58 documentos,

    contidos em 50 anexos.1

    1. cf. anexo C.1, esboo da rea de localizao da Comunidade Awas Tingni na RAAN; anexo C.2, escrito de 8 de novembro de 1992 de Charly Webster Mclean Cornelio; anexo C.3, documento de fevereiro de 1996 intitulado Awas Tingni. Um estudo Etnogrfi co da Comunidade e seu Territrio, Rascunho do Relatrio Preliminar elaborado pelo Projeto de Demarcao Territorial Awas Tingni, pesquisador principal: Theodore Macdonald; anexo C.4, mapa intitulado Territrio Awas Tingni; mapa intitulado Territrio Awas Tingni. Delimitao Proposta; anexo C.5, mapa intitulado Posse de Terra dos Mayagna de Awas Tingni na rea da Concesso SOLCARSA; anexo C.6, declarao prestada por Theodore Macdonald Jr. em 3 de janeiro de 1996; anexo C.7, mapa de novembro de 1997 intitulado Mapa de Ocupao e Usos de Subsistncia da Comunidade Indgena de Awas Tingni; anexo C.8, escrito de 11 de julho de 1995 de Mara Luisa Acosta Castelln, advogada da Comunidade Awas Tingni, encaminhado a Milton Caldera C., Ministro do MARENA, ao qual foram anexados: documento de janeiro de 1994 intitulado Direitos Territoriais da Comunidade Indgena Awas Tingni realizado pela Universidade de Iowa como parte de seu Projeto de Apoio Comunidade Awas Tingni; anexo C.9, escrito de 23 de outubro de 1995 de James Anaya, representante jurdico da Comunidade Mayagna Awas Tingni, encaminhado a Milton Caldera Cardenal, Ministro do MARENA; anexo C.10, documento de dezembro de 1994 intitulado Plano de Manejo Florestal de Latifoliadas Cerro Wakambay, (Edio Final), realizado por Swietenia S.A. Consultores para KUMKYUNG CO., LTD; anexo C.11, declarao prestada por Charly Webster Mclean Cornelio em 4 de dezembro de 1995; anexo C.12, documento de 4 de janeiro de 1996 intitulado Memorandum in support of supplemental request for provisional measures. In the Case of the Mayagna Indian Community of Awas Tingni and Jaime Castillo Felipe, on his own behalf and on behalf of the Community of Awas Tingni, against Nicaragua elaborado por James Anaya, John S. Allen, Mara Luisa Acosta Castelln, Jeffrey G. Bullwinkel, S. Todd Crider e Steven M. Tullberg; anexo C.13, escrito de maro de 1996 que solicita o reconhecimento ofi cial e demarcao das terras ancestrais da Comunidade Mayagna Awas Tingni encaminhado ao Conselho Regional da RAAN, ao qual foram anexados: documento intitulado Censo Geral da Comunidade de Awas Tingni correspondente ao ano 1994; anexo C.14, escrito de 20 de maro de 1996 de James Anaya, representante jurdico da Comunidade Mayagna Awas Tingni, encaminhado a Ernesto Leal, Ministro das Relaes Exteriores; anexo C.15, escrito de 20 de maro de 1996 de James Anaya, representante jurdico da Comunidade Mayagna Awas Tingni, encaminhado a Claudio Gutirrez, Ministro do MARENA; anexo C.16, documento intitulado Projeto de Memorando de Entendimento; anexo C.17, artigo do Dirio La Prensa intitulado Peligra hbitat indgena por explotacin maderera, publicado em 24 de maro de 1996; anexo C.18, artigo do Dirio New York Times intitulado Its Indians vs. Loggers in Nicaragua, publicado em 25 de junho de 1996; anexo C.19, escrito de 17 de maio de 1996 de James Anaya, representante jurdico da Comunidade Mayagna Awas Tingni, encaminhado a Jos Antonio Tijerino, Representante Permanente da Nicargua ante a Organizao dos Estados Americanos (OEA); anexo C.20, relatrio de 8 de maio de 1996 realizado por Mara Luisa Acosta Castelln, encaminhado a James Anaya; anexo C.21, testemunho da escritura nmero um do protocolo nmero vinte do notrio pblico Oscar Saravia Baltodano, na qual consta o Contrato de Manejo e Aproveitamento Florestal assinado em 13 de maro de 1996 entre Claudio Gutirrez Huete, representante do MARENA, e Hyong Seock Byun, representante da companhia SOLCARSA; anexo C.22, disposio administrativa n 295 de 28 de junho de 1995 da Junta Diretiva do Conselho Regional da RAAN; anexo C.23, escrito de 8 de dezembro de 1995 de Alta Hooker Blandford, Presidente do Conselho Regional da RAAN, e Myrna Taylor, Primeira Secretria da Junta Diretiva do Conselho Regional da RAAN, encaminhado a Roberto Araquistain Cisneros, Diretor Geral Florestal; anexo C.24, documento intitulado Relatrio sobre a segunda reunio da Comisso Nacional para a Demarcao das Terras Comunais da Costa Atlntica da Nicargua realizada em 14 de novembro de 1996 em Puerto Cabezas; anexo C.25, documento de 14 de novembro de 1996 intitulado Declarao dos indgenas perante a Comisso Nacional para a Demarcao das Terras das Comunidades Indgenas da Costa Atlntica da Nicargua; anexo C.26, escrito de 21 de novembro de 1996 de Ned Archibold e outros, da Organizao de Sndicos Indgenas do Caribe Nicaraguense (OSICAN), encaminhado a James Wolsensohn, Presidente do Banco Mundial; anexo C.27, escrito de 5 de dezembro de 1996 de Fermn Chavarra, Coordenador do Movimento Indgena da RAAS, encaminhado a Enrique Brenes, Presidente Interino da Comisso Nacional de Demarcao das Terras Comunais da Costa Atlntica; anexo C.28, Consideraes Gerais ao documento intitulado Plano de Manejo Florestal de Latifoliadas Cerro Wakambay (Rascunho Final), elaborado por Claude Leduc; Consideraes Gerais ao documento intitulado Plano de Manejo Florestal de Latifoliadas Cerro Wakambay (Rascunho Final), elaboradas por Fidel Lanuza; anexo C.29, declarao prestada por Jotam Lpez Espinoza em 11 de junho de 1997; anexo C.30, resoluo ministerial n 0297 de 16 de maio de 1997 do Ministro do MARENA; anexo C.31, artigo do Dirio La Tribuna intitulado Concesin ilegal contina despale en Atlntico Norte, publicado em 29 de maio de 1997; anexo C.32, artigo do Dirio La Tribuna intitulado Los rboles caen lejos y nadie los oye, publicado em 29 de maio de 1997; artigo intitulado Derechos ancestrales?; anexo C.33, artigo do Dirio La Tribuna intitulado Un despale en tierra de nadie, publicado em 12 de junho de 1997; anexo C.34, declarao prestada por Mario Guevara Somarriba em 3 de outubro de 1997; anexo C.35, ofcio MN-RSV-0377.97 de 29 de maio de 1997 de Roberto Stadhagen Vogl, Ministro do MARENA, encaminhado a Efrain Osejo Morales, Presidente do Conselho Regional da RAAN; anexo C.36, memorando de 5 de agosto de 1997 da Comisso Avaliadora do Caso SOLCARSA encaminhado a Roberto Stadhagen Vogl, Ministro do MARENA, mediante o qual se envia o Relatrio de Avaliao Empresa SOLCARSA; anexo C.37, declarao prestada por Guillermo Ernesto Espinoza Duarte, Vice-Prefeito, nesse momento Prefeito interino de Bilwi, Puerto Cabezas, RAAN, em 1 de outubro de 1997; anexo C.38, comunicado emitido pelas Autoridades de Betania, assinado por Guillermo Lagra, Rechinad Daniwal, William Fidencio, Guillermo Penegas, Pinner Sinforiano e Guillermo Enrique, em 16 de outubro de 1997; anexo C.39, documento intitulado SOLCARSA tampouco faz caso Resoluo Ministerial elaborado por Magda Lanuza; anexo C.40, artigo intitulado Privatizing the rain forest- a new era of concessions publicado em julho de 1997 no Reporte CEPAD; anexo C.41, resoluo n 17-08-10-97 de 9 de outubro de 1997 do Conselho Regional da RAAN; anexo C.42, carta de protesto de 2 de novembro de 1997 da OSICAN encaminhada Comisso Interamericana; anexo C.43, recurso de amparo interposto em 11 de setembro de 1995 perante o Tribunal de Apelaes de Matagalpa por Mara Luisa Acosta Castelln, em seu carter de procuradora especial de Jaime Castillo Felipe, Marcial Salomn Sebastin e Siriaco Castillo Fenley, Sndico e Suplentes do Sndico, respectivamente, da Comunidade Mayagna Awas Tingni, contra Milton Caldera Cardenal, Ministro do MARENA, Roberto Araquistain, Diretor do Servio Florestal Nacional do MARENA, e Alejandro Linez, Direo de Administrao Florestal Nacional do MARENA; anexo C.44, resoluo de 19 de setembro de 1995 do Tribunal de Apelaes da Sexta Regio, Sala Civil, Matagalpa, em relao ao recurso de amparo interposto por Mara Luisa Acosta Castelln, em seu carter de procuradora especial de Jaime Castillo Felipe, Marcial Salomn Sebastin e Siriaco Castillo Fenley, Sndico e Suplentes do Sndico, respectivamente, da Comunidade Mayagna Awas Tingni, contra Milton Caldera Cardenal, Ministro do MARENA; Roberto Araquistain, Diretor do Servio Florestal Nacional do MARENA; e Alejandro Linez, Direo de Administrao Florestal Nacional do MARENA; anexo C.45, recurso de fato interposto em 21 de setembro de 1995 perante a Corte Suprema de Justia da Nicargua por Mara Luisa Acosta Castelln, representante legal da Comunidade Awas Tingni; anexo C.46, comunicao judicial de notifi cao de 28 de fevereiro de 1997 mediante a qual se notifi ca a Mara Luisa Acosta Castelln a sentena n 11 de 27 de fevereiro de 1997 da Sala Constitucional da Corte Suprema de Justia da Nicargua; anexo C.47, resoluo de 12 de novembro de 1997 do Tribunal de Apelaes da Sexta Regio, Sala Civil, Matagalpa, em relao ao recurso de amparo interposto por Mara Luisa Acosta Castelln, em representao de Benevicto Salomn, Siriaco Castillo Fenley, Orlando Salomn Felipe e Jotam Lpez Espinoza, em nome prprio e como Sndico, Coordenador, Juiz do Povo e Responsvel pela Floresta, respectivamente, da Comunidade Awas Tingni, contra Roberto Stadhagen Vogl, Ministro do MARENA; Roberto Araquistain, Diretor Geral do Servio Florestal Nacional do MARENA; Jorge Brooks Saldaa, Direo de Administrao Florestal Estatal do MARENA, e de Efran Osejo e outros, membros da Junta Diretiva do Conselho Regional da RAAN; anexo C.48, sentena n 12, de 27 de fevereiro de 1997 da Sala Constitucional da Corte Suprema de Justia da Nicargua em relao ao recurso de amparo interposto em 29 de maro de 1997 perante o Tribunal de Apelaes de Matagalpa por Alfonso Smith Warman e Humberto Thompson Sang, membros do Conselho Regional da RAAN, contra Claudio Gutirrez, Ministro do MARENA, e Alejandro Linez, Direo de Administrao

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    DIREITOS DOS POVOS INDGENAS - CASO DA COMUNIDADE MAYAGNA (SUMO) AWAS TINGNI VS. NICARGUA

    76. Ao apresentar sua contestao demanda (par. 37 supra), o Estado anexou cpia de 16 documentos contidos em 14 anexos.2

    77. Durante a etapa de excees preliminares, o Estado apresentou cpia de 26 documentos.3

    78. A Comisso apresentou cpia de 27 documentos durante a etapa de excees preliminares. 4

    Florestal Nacional do MARENA; anexo C.49, resoluo de 3 de fevereiro de 1998 da Sala Constitucional da Corte Suprema de Justia da Nicargua, em relao ao pedido de execuo de sentena apresentado por Humberto Thompson Sang, membro do Conselho Regional da RAAN; pedido de execuo da sentena n 12, de 27 de fevereiro de 1997 da Sala Constitucional da Corte Suprema de Justia da Nicargua, apresentado em 22 de janeiro de 1998 ante a Secretaria da Sala Constitucional da Corte Suprema de Justia da Nicargua por Humberto Thompson Sang, membro do Conselho Regional da RAAN; anexo C.50, nota de 5 de novembro de 1997 de Felipe Rodrguez Chvez, Embaixador, Representante Permanente da Nicargua perante a OEA, encaminhada a Jorge E. Taiana, Secretrio Executivo da Comisso; escrito de 24 de outubro de 1997 de Julio Cesar Saboro A., Diretor Geral de Organismos Internacionais do Ministrio das Relaes Exteriores da Nicargua, encaminhado a Felipe Rodrguez Chvez, Embaixador, Representante Permanente da Nicargua perante a OEA; e resoluo n 17-08-10-97 de 9 de outubro de 1997 do Conselho Regional da RAAN.2. cf. anexo I, contrato para o manejo integral da fl oresta assinado em 26 de maro de 1992 entre Jaime Castillo Felipe, Siriaco Castillo, Charly Webster Mclean Cornelio, Marcial Salomn, Genaro Mendoza e Arnoldo Clarence Demetrio, em representao da Comunidade Awas Tingni, e Francisco Lemus Lanuza, em representao de Maderas y Derivados de Nicaragua S.A.; anexo II, Lei n 14 Reforma Lei de Reforma Agrria publicada no Dirio Ofi cial La Gaceta n 8 de 13 de janeiro de 1986; anexo III, certido notarial do artigo 50 da Lei n 290 publicada no Dirio Ofi cial La Gaceta n 102 de 3 de junho de 1998; anexo IV, Lei n 28 Estatuto da Autonomia das Regies da Costa Atlntica da Nicargua publicada no Dirio Ofi cial La Gaceta n 238 de 30 de outubro de 1987; anexo V, documento intitulado Anexo A Universo de Estudo; anexo VI, ofcio DSP-E-9200-10-98 de 13 de outubro de 1998 do Secretrio da Presidncia da Repblica da Nicargua encaminhado a Noel Pereira Majano, Secretrio da Assembleia Nacional; escrito de 13 de outubro de 1998 de Arnoldo Alemn Lacayo, Presidente da Repblica da Nicargua, encaminhado a Noel Pereira Majano, Secretrio da Assembleia Nacional; projeto de lei de 13 de outubro de 1998 intitulado Lei Orgnica que Regula o Regime de Propriedade Comunal das Comunidades Indgenas da Costa Atlntica e BOSAWAS; anexo VII, escrito de 12 de setembro de 1998 de Roberto Wilson Watson e Emilio Hammer Francis, Presidente e Secretrio, respectivamente, Das Dez Comunidades Indgenas, encaminhado a Virgilio Gurdin, Diretor do Instituto Nicaraguense de Reforma Agrria (INRA); anexo VIII, declarao prestada em 11 de setembro de 1998 por Otto Borst Conrrado, representante legal da Comunidade Indgena de Tasba Raya; anexo IX, escrito de 11 de setembro de 1998 de Rodolfo Spear Smith, Coordenador Geral da Comunidade Indgena de Karat, encaminhado a Virgilio Gurdin, Ministro do INRA; anexo X, documento intitulado Bloco das Dez Comunidades correspondente s pginas 125 a 130 do Diagnstico geral sobre a posse da terra nas comunidades indgenas da Costa Atlntica. Estudos de casos, sees etnogrfi cas analticas e etnomapas. Relatrio Final, de maro de 1998, realizado pelo Central American and Caribbean Research Council; anexo XI, documento de 5 de maio de 1995 mediante o qual a Administrao Florestal Estatal do MARENA faz de conhecimento pblico o Pedido de Manejo e Aproveitamento Florestal da empresa KUMKYUNG Co. Ltd.; anexo XII, ofcio DSDG-RMS-02-Crono-014-10-98 de 8 de outubro de 1998 de Rosario Meza Soto, Subdiretora Geral do Instituto Nacional de Estatsticas e Censos (INEC), encaminhado a Fernando Robleto Lang, Secretrio da Presidncia; anexo XIII, nota de 11 de setembro de 1998 de Garca Cantarero, Drew, Assessor do Ministro do MARENA, encaminhada a Edmundo Castillo, da Secretaria da Presidncia; e anexo XIV, escrito de 11 de setembro de 1998 de Garca Cantarero, Drew, Assessor do Ministro do MARENA, encaminhado a Edmundo Castillo, da Secretaria da Presidncia.3. cf. ofcio MN-RSV-02-0113.98 de 16 de fevereiro de 1998 de Roberto Stadhagen Vogl, Ministro do MARENA, encaminhado a Michael Kang, Gerente Geral da SOLCARSA; sentena n 11 de 27 de fevereiro de 1997 da Sala Constitucional da Corte Suprema de Justia da Nicargua em relao ao recurso de amparo interposto em 11 de setembro de 1995 perante o Tribunal de Apelaes de Matagalpa por Mara Luisa Acosta Castelln em seu carter de procuradora especial de Jaime Castillo Felipe, Marcial Salomn Sebastin e Siriaco Castillo Fenley, Sndico e Suplentes do Sndico, respectivamente, da Comunidade Mayagna Awas Tingni, contra Milton Caldera Cardenal, Ministro do MARENA, Roberto Araquistain, Diretor do Servio Florestal Nacional do MARENA, e Alejandro Linez, Direo de Administrao Florestal Nacional do MARENA; quadro intitulado Entrada de Recursos de Amparo de 1995 a 15 de agosto de 1998; quadro intitulado Anlise Comparativa das Sentenas de Amparo proferidas de 1995 ao primeiro semestre de 1998; declarao prestada em 5 de agosto de 1998 por Virgilio Gurdin Castelln, Ministro Diretor do INRA; cpia da primeira pgina do escrito de maro de 1996 que solicita o reconhecimento ofi cial e demarcao das terras ancestrais da Comunidade Mayagna Awas Tingni encaminhado ao Conselho Regional da RAAN; documento de 7 de fevereiro de 1997 intitulado Confl itos da Propriedade na Nicargua, 1996 realizado por John Strasma; declarao prestada em 18 de agosto de 1998 por Edgar Navas, Assessor e Assistente do Ministro da Presidncia; declarao prestada em 5 de agosto de 1998 por Virgilio Gurdin Castelln, Ministro Diretor do INRA; mapas e projees de agosto de 1998 sobre a localizao das reas indgenas no territrio nacional nicaraguense correspondente RAAN, elaborados pela Direo de Geodesia e Cartografi a do Instituto Nicaraguense de Estudos Territoriais (INETER); relatrio de agosto de 1998 intitulado Contexto Jurdico e Atividades Realizadas pelo Estado para a Demarcao e Titulao das Terras das Comunidades Indgenas da Costa Atlntica da Nicargua, realizado pela Direo Superior do INRA; lista de projetos e programas de apoio apresentados pelo Governo da Nicargua no Grupo Consultivo em Estocolmo, Sucia, encaminhados ao apoio das Regies Autnomas do pas e, concretamente s comunidades indgenas; cpia autenticada por notrio pblico da pgina duzentos e noventa e cinco pgina trezentos e dois do Boletim Judicial da Corte Suprema de Justia da Nicargua de 1990; cpia autenticada por notrio pblico da pgina trezentos e um pgina trezentos e nove do Boletim Judicial da Corte Suprema de Justia da Nicargua de 1991; cpia autenticada por notrio pblico da pgina trezentos e quarenta e cinco pgina trezentos e cinquenta e dois do Boletim Judicial da Corte Suprema de Justia da Nicargua de 1992; cpia autenticada por notrio pblico da pgina trezentos e dezesseis pgina trezentos e vinte do Boletim Judicial da Corte Suprema de Justia da Nicargua de 1993; cpia autenticada por notrio pblico da pgina duzentos e setenta e oito pgina duzentos e oitenta e trs do Boletim Judicial da Corte Suprema de Justia da Nicargua de 1994; cpia autenticada por notrio pblico das quatro pginas do Boletim Judicial da Corte Suprema de Justia da Nicargua correspondentes sentena n 19 de 7 de maro de 1994 da Corte Suprema de Justia da Nicargua; cpia autenticada por notrio pblico das duas pginas do Boletim Judicial da Corte Suprema de Justia da Nicargua correspondentes sentena n 2 de 19 de janeiro de 1994 da Corte Suprema de Justia da Nicargua; cpia autenticada por notrio pblico da pgina duzentos e setenta e um pgina duzentos e setenta e seis do Boletim Judicial da Corte Suprema de Justia da Nicargua de 1995; cpia autenticada por notrio pblico da pgina seiscentos e seis pgina seiscentos e dezesseis do Boletim Judicial da Corte Suprema de Justia da Nicargua de 1996; declarao prestada em 27 de maio de 1999 por Humberto Useda Hernndez, Diretor de Servios Jurdicos do Escritrio de Titulao Rural da Intendncia da Propriedade do Ministrio da Fazenda e Crdito Pblico da Nicargua; Constituio Poltica da Repblica da Nicargua publicada em El Nuevo Diario em 4 de julho de 1995; Lei n 49 Lei de Amparo publicada no Dirio Ofi cial La Gaceta n 241 de 1988; Lei n 290 Lei de Organizao, Competncia e Procedimentos do Poder Executivo publicada no Dirio Ofi cial La Gaceta n 102 de 3 de junho de 1998; e pginas 8984 a 8989 do Dirio Ofi cial La Gaceta n 205 de 30 de outubro de 19984. cf. escrito de 4 de dezembro de 1997 de Felipe Rodrguez Chvez, Embaixador, Representante Permanente da Nicargua perante a OEA, encaminhado a Jorge E. Taiana, Secretrio Executivo da Comisso; escrito de 19 de dezembro de 1997 de Felipe Rodrguez Chvez, Embaixador, Representante Permanente da Nicargua perante a OEA, encaminhado a Jorge E. Taiana, Secretrio Executivo da Comisso; escrito de 14 de fevereiro de 1998 de Felipe Rodrguez Chvez, Embaixador, Representante Permanente da Nicargua perante a OEA, encaminhado a Jorge E. Taiana, Secretrio Executivo da Comisso; escrito de 6 de maio de 1998 de Felipe Rodrguez Chvez, Embaixador, Representante Permanente da Nicargua perante a OEA, encaminhado a Jorge E. Taiana, Secretrio Executivo da Comisso, ao qual se anexou: escrito de 6 de maio de 1998 de Lester Meja Sols, Embaixador, Diretor Geral, Direo Geral de Organismos Internacionais, encaminhado Comisso Interamericana;

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    JURISPRUDNCIA DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

    79. Em 21 de novembro de 2000, o senhor Marco Antonio Centeno Caffarena, Diretor Geral do Escritrio de Titulao Rural da Nicargua, enviou cpia de oito documentos (pars. 63 e 64 supra).5

    80. Em 20 de dezembro de 2000, a pedido da Corte, o Estado apresentou cpia de um documento (par. 65 supra).6

    81. Mediante nota de 29 de janeiro de 2001, a Comisso ofereceu trs documentos (par. 66 supra).7

    82. Em 10 de agosto de 2001, juntamente com o escrito de alegaes fi nais, a Comisso apresentou um documento como anexo ao referido escrito (par. 71 supra).8

    B) Prova Testemunhal e Pericial

    83. Na audincia pblica realizada nos dias 16, 17 e 18 de novembro de 2000 (par. 62 supra), a Corte recebeu as declaraes de oito testemunhas e de quatro peritos propostos pela Comisso Interamericana, bem como a declarao de uma testemunha convocada pelo Tribunal em uso das faculdades indicadas no artigo 44.1 do Regulamento. As referidas declaraes so sintetizadas a seguir, na ordem em que foram produzidas:

    ofcio MN-RSV-02-0113.98 de 16 de fevereiro de 1998 de Roberto Stadhagen Vogl, Ministro do MARENA, encaminhado a Michael Kang, Gerente Geral da SOLCARSA; cpia do Decreto n 16-96 Criao da Comisso Nacional para a Demarcao das Terras das Comunidades Indgenas na Costa Atlntica de 23 de agosto de 1996, publicado no Dirio Ofi cial La Gaceta n 169 de 6 de setembro de 1996; escrito de 19 de maio de 1998 de Felipe Rodrguez Chvez, Embaixador, Representante Permanente da Nicargua perante a OEA, encaminhado a Jorge E. Taiana, Secretrio Executivo da Comisso; declarao juramentada prestada por Charly Webster Mclean Cornelio em 30 de agosto de 1998; declarao juramentada prestada por Jaime Castillo Felipe em 30 de agosto de 1998; declarao juramentada prestada por Marcial Salomn Sebastin em 30 de agosto de 1998; declarao juramentada prestada por Benevicto Salomn Mclean em 30 de agosto de 1998; declarao juramentada prestada por Wilfredo Mclean Salvador em 30 de agosto de 1998; declarao prestada por Sydney Antonio P. em 30 de agosto de 1998; declarao prestada por Ramn Rayo Mndez em 29 de agosto de 1998; declarao juramentada prestada por Miguel Taylor Ortez em 30 de agosto de 1998; declarao juramentada prestada por Ramn Rayo Mndez em 30 de agosto de 1998, qual se anexou: cpia de documento escrito mo com datas de 28, 11 e 18 de junho de 1993, correspondente ao Registro que, supostamente, mantinha a Delegao Regional do INRA; declarao juramentada prestada por Brooklyn Rivera Bryan em 30 de agosto de 1998; declarao juramentada prestada por Benigno Torres Cristian em 8 de setembro de 1998; resoluo n 08-12-9-96 de 12 de setembro de 1996 do Conselho Regional da RAAN; declarao juramentada prestada por Ned Archibold Jacobo em 30 de agosto de 1998; comunicao judicial de notifi cao de 12 de agosto de 1998 assinada por Martha Lpez Corea, Ofi cial Notifi cadora, Sala Constitucional da Corte Suprema de Justia da Nicargua, mediante a qual se notifi ca a Mara Luisa Acosta Castelln o auto de 6 de agosto de 1998 da Sala Constitucional da Corte Suprema de Justia da Nicargua; declarao juramentada prestada por Humberto Thompson Sang em 31 de agosto de 1998; documento intitulado Terra, Recursos Naturais e Direitos Indgenas na Costa Atlntica da Nicargua. Refl exes Jurdicas para a Defi nio de uma Estratgia de Participao Indgena nos Projetos de Participao e Desenvolvimento de julho de 1996 realizado por The World Bank, Technical Department Latin America & the Caribean; sentena n 163 de 14 de outubro de 1998 da Sala Constitucional da Corte Suprema de Justia da Nicargua em relao ao recurso de amparo interposto por Mara Luisa Acosta Castelln, em representao de Benevicto Salomn Mclean, Siriaco Castillo Fenley, Orlando Salomn Felipe e Jotam Lpez Espinoza, em nome prprio e como Sndico, Coordenador, Juiz do Povo e Responsvel pela Floresta, respectivamente, da Comunidade Awas Tingni, contra Roberto Stadhagen Vogl, Ministro do MARENA, Roberto Araquistain, Diretor Geral do Servio Florestal Nacional do MARENA, Jorge Brooks Saldaa, Direo de Administrao Florestal Estatal do MARENA, e de Efran Osejo e outros, membros da Junta Diretiva do Conselho Regional da RAAN; e documento intitulado Terra Indgena na conjuntura atual nicaraguense e As instituies do Estado correspondente s pginas 80 a 89 e 119 a 128 do Diagnstico geral sobre a posse de terra nas comunidades indgenas da Costa Atlntica. Contexto geral, de maro de 1998, realizado pelo Central American and Caribbean Research Council.5. cf. cpia autenticada por notrio pblico da certido de 22 de fevereiro de 1983 da inscrio do Registro Pblico da Propriedade Imvel do Departamento de Zelaya de 10 de fevereiro de 1917 da propriedade n 2112; cpia autenticada por notrio pblico da certido de 22 de fevereiro de 1983 da inscrio do Registro Pblico da Propriedade Imvel do Departamento de Zelaya de 10 de fevereiro de 1917 da propriedade n 2111; cpia autenticada por notrio pblico da certido de 7 de maro de 1983 do flio 95 do livro da Comisso de Titulao da Moskitia que contm a inscrio n 111 de 9 de fevereiro de 1917 do Registro Pblico da Propriedade Imvel do Departamento de Zelaya; nota de 15 de setembro de 2000 de Ramiro Garca Vsquez, arquelogo do Departamento de Pesquisas Antropolgicas do Museu Nacional, encaminhada a Marco Antonio Centeno Caffarena, Diretor Geral do Escritrio de Titulao Rural; documento intitulado Parecer etnogrfi co ao documento realizado pelo Dr. Theodore Macdonald intitulado Awas Tingni um Estudo Etnogrfi co da Comunidade e seu Territrio, realizado por Ramiro Garca Vsquez; documento intitulado Consideraes etnogrfi cas sobre a populao sumo, etnia que se assentou em uma parte do territrio autnomo do Atlntico Norte, Nicargua, realizado por Ramiro Garca Vsquez; contrato para o manejo integral da fl oresta assinado em 26 de maro de 1992 entre Jaime Castillo Felipe, Siriaco Castillo, Charly Webster Mclean Cornelio, Marcial Salomn, Genaro Mendoza e Arnoldo Clarence Demetrio, em representao da Comunidade Awas Tingni, e Francisco Lemus Lanuza, em representao de Maderas y Derivados de Nicaragua S.A.; e documento intitulado Seis comunidades individuais da plancie Norte do Rio Coco: Francia Sirpi, Wisconsin, Esperanza, Santa Clara, Tasba Pain, Miguel Bikan e Etno mapa. Seis Comunidades individuais da Plancie do Rio Coco Francia Sirpi, Wisconsin, Esperanza, Santa Clara, Tasba Pain, Miguel Bikan correspondente s pginas 153 a 162 do Diagnstico geral sobre a posse de terra nas comunidades indgenas da Costa Atlntica. Estudos de casos, sees etnogrfi cas analticas e etnomapas. Relatrio Final, de maro de 1998, realizado pelo Central American and Caribbean Research Council. 6. cf. Diagnstico geral sobre a posse da terra nas comunidades indgenas da Costa Atlntica. Contexto geral, de maro de 1998, realizado pelo Central American and Caribbean Research Council; Diagnstico geral sobre a posse da terra nas comunidades indgenas da Costa Atlntica. Resumo executivo, de maro de 1998, realizado pelo Central American and Caribbean Research Council; e Diagnstico geral sobre a posse da terra nas comunidades indgenas da Costa Atlntica. Estudos de casos, sees etnogrfi cas analticas e etnomapas. Relatrio Final, de maro de 1998, realizado pelo Central American and Caribbean Research Council.7. cf. documento intitulado Comentrios por: Theodore Macdonald/ 20 de janeiro de 2001 em relao ao documento intitulado Parecer etnogrfi co ao documento elaborado pelo Dr. Theodore Macdonald realizado por Ramiro Garca Vsquez; documento de 7 de janeiro de 2001 intitulado Parecer Etnogrfi co ao Documento realizado pelo Dr. Teodoro MacDonald. Por Ramiro Garca Vsquez, Arquelogo realizado por Charles Rice Hale; e documento intitulado Awas Tingni. Um Estudo Etnogrfi co da Comunidade e seu Territrio. Relatrio 1999, realizado pelo Projeto de Demarcao Territorial Awas Tingni, pesquisador principal: Theodore Macdonald.8. cf. sentena n 163 de 14 de outubro de 1998 da Sala Constitucional da Corte Suprema de Justia da Nicargua em relao ao recurso de amparo interposto por Mara Luisa Acosta Castelln, em representao de Benevicto Salomn Mclean, Siriaco Castillo Fenley, Orlando Salomn Felipe e Jotam Lpez Espinoza, em nome prprio e como Sndico, Coordenador, Juiz do Povo e Responsvel pela Floresta, respectivamente, da Comunidade Awas Tingni, contra Roberto Stadhagen Vogl. Ministro do MARENA, Roberto Araquistain, Diretor Geral do Servio Florestal Nacional do MARENA, Jorge Brooks Saldaa,Direo de Administrao Florestal Estatal do MARENA, e de Efran Osejo e outros, membros da Junta Diretiva do Conselho Regional da RAAN.

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    DIREITOS DOS POVOS INDGENAS - CASO DA COMUNIDADE MAYAGNA (SUMO) AWAS TINGNI VS. NICARGUA

    a. Testemunho de Jaime Castillo Felipe, membro da Comunidade Awas Tingni (Intrprete: Modesto Jos Frank Wilson)Nasceu em Awas Tingni, em 15 de junho de 1964, e atualmente reside na Comunidade Awas Tingni. Pertence etnia Mayagna e sua lngua materna a Sumo Mayagna.

    Os outros membros da Comunidade Awas Tingni so Sumos tambm. verdade que na Comunidade existem pessoas que no so da etnia Mayagna, mas so poucas, que chegaram a viver a ou formaram casal com membros da Comunidade. Esto em Awas Tingni h mais de 50 anos e anteriormente viviam em Tuburs. No sabe exatamente em que ano foi formada a aldeia de Awas Tingni. So os donos da terra na qual habitam, porque viveram no territrio por mais de 300 anos, e isso se pode demonstrar devido existncia de lugares histricos, bem como porque desenvolve-se trabalho nesse territrio. Houve membros da Comunidade de Tilba-Lupia que viveram em Awas Tingni. A testemunha poderia indicar quais pessoas compem a Comunidade.

    Foi sndico da Comunidade Awas Tingni de 1991 a 1996. Sndico quem se ocupa de solucionar os confl itos que possam surgir na comunidade, bem como quem faz gestes, em coordenao com as autoridades comunais, perante as instncias estatais.

    Durante o tempo em que foi sndico, administrou ante o INRA a titulao ou demarcao das terras a favor da Comunidade, mas essas gestes foram infrutferas, haja vista que no obteve resposta at o presente momento. Em 12 de maro de 1996, realizou uma gesto ante o Governo Regional da RAAN. A resposta das autoridades foi que iriam estudar seu pedido, mas no recebeu nenhuma resposta a esse respeito. Nessa oportunidade, apresentou mapas da Comunidade, o censo da populao de Awas Tingni e um documento referente ao territrio da Comunidade realizado pelo Doutor Theodore Macdonald, da Universidade de Harvard.

    Ele e os membros da Comunidade vivem da agricultura, da caa e da pesca, entre outras atividades. Para caar, realizam uma viagem de 15 dias. A Comunidade seleciona o que consome e, dessa forma, no destri os recursos naturais.

    As terras so ocupadas e exploradas por toda a Comunidade. Ningum individualmente dono da terra, os recursos desta so coletivos. Se a pessoa no pertence Comunidade, no pode explorar a terra. No existe o direito de expulsar algum da Comunidade. Para negar o direito ao uso da terra a algum dos membros da Comunidade, o assunto tem que ser considerado e decidido pelo seu conselho. Quando uma pessoa morre, seus familiares tornam-se donos daquelas coisas que possua o morto. Mas, ao serem as terras propriedade coletiva da Comunidade, no h maneira de que um membro transmita a outro livremente os direitos que possui em relao ao seu uso.

    No tem conhecimento se seus antepassados haviam obtido algum ttulo de propriedade. No momento em que foi realizado um convnio entre a empresa madeireira Maderas y Derivados de Nicaragua S.A. (MADENSA) (doravante MADENSA) e a Comunidade, no ano de 1992, esta ltima afi rmou que tinha ttulo de propriedade reconhecido pelo Governo Central e pelo Governo Nacional, pois a testemunha e os demais membros da Comunidade sentem-se como verdadeiros donos das terras, em razo de que nela residem h mais de 500 anos.

    A Comunidade apresentou a demanda perante a Comisso Interamericana porque necessita do ttulo de propriedade solicitada em vrias oportunidades e nunca obteve resposta do Estado. Esperam ter uma resposta baseada na justia e no direito das comunidades indgenas. Inicialmente, o propsito era resolver de forma amistosa a reivindicao da terra, mas agora, uma vez esgotados todos os mecanismos e havendo chegado instncia da Corte Interamericana, espera sua deciso para que seja posto fi m ao confl ito.

    b. Testemunho de Charly Webster Mclean Cornelio, Secretrio da Comisso Territorial de Awas TingniNasceu em Awas Tingni, Nicargua, e membro da Comunidade Mayagna, que signifi ca no idioma mayagna fi lho do sol. Ocupou o cargo de Responsvel pela Floresta dentro da Comunidade, razo pela qual protegia a fl oresta dos danos e cuidava dos animais. Atualmente, ocupa o cargo de Secretrio da Comisso Territorial de Awas Tingni e, em 1991, participou junto com os demais lderes da Comunidade na elaborao do mapa que indica os limites territoriais da Comunidade Mayagna.

    A Comunidade qual pertence possui 1.016 habitantes, e integrada por 208 famlias; somente quatro famlias esto formadas pelo casamento de homens miskitos e mulheres mayagna. O nmero de habitantes foi estabelecido por um censo elaborado recentemente pelos lderes da Comunidade. Segundo um censo

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    JURISPRUDNCIA DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

    realizado anos atrs, as cifras apresentadas pelo Estado indicam que o nmero de membros da Comunidade oscila entre 300 e 400, mas essa cifra no a atual.

    A luta dos mayagna para conseguir que o Estado reconhea o direito histrico que possuem sobre suas terras data de muito tempo atrs. Dentro das ltimas tentativas que realizaram para obter o respeito ao direito a suas terras est a elaborao, sem assessoria, de um documento intitulado Lutando para Mayagna Sumo, no qual pedem ao Estado que reconhea seu direito de propriedade. Esse documento foi colocado em conhecimento do ento delegado do INRA, senhor Alberto Escobar. Posteriormente, dirigiram-se a Managua para dialogar com o Ministro do INRA, mas no obtiveram a titulao de sua terra.

    Em 1992, a Comunidade assinou um contrato com a empresa MADENSA, sem contar com assessoria. Os lderes da Comunidade manifestaram aos representantes da MADENSA que tinham ttulo sobre essas terras no sentido de que tinham direito a elas por sua posse histrica. Depois assinaram outro convnio com a MADENSA, contando com assessoria e com a participao do MARENA, o qual adquiriu o compromisso de ajudar a Comunidade na demarcao de seu territrio, mas isso no foi cumprido.

    Depois, o Estado outorgou uma concesso empresa SOLCARSA. Sua inconformidade com esta concesso est baseada em que o Estado no realizou uma consulta prvia Comunidade para determinar a convenincia da concesso e, alm disso, porque as obras da SOLCARSA seriam desenvolvidas em 62.000 hectares do territrio de Awas Tingni. Portanto, a Comunidade reagiu e realizou uma Assembleia Geral, na qual decidiu elaborar uma carta para demandar o Estado.

    Os lderes da Comunidade, para alcanar o respeito de seu territrio, elaboraram um mapa. A Comunidade tem 13 quilmetros dentro da montanha, est localizada a partir de Puerto Cabezas, 21 quilmetros ao lado do municpio de Waspm, e, segundo o mapa, suas fronteiras esto dentro dos seguintes limites: a partir de Cao Coco Lano, passa por Kisak Lain, por Suku Was, Kalwa, Kitan Mukni, Kuru Was, Kiamak, Cao Turuh Wasni, Cao Rawa Was, Tunjlan Tuna at Kuah Sahna. Este mapa mostra a rea que esto reclamando. Os lderes da Comunidade fi zeram referncia a seu territrio e no falaram de hectares. Desconhece que os Doutores Anaya e Acosta, no ano de 1993, tenham solicitado um ttulo de propriedade de 16.000 hectares para a Comunidade. Por sua vez, o Estado afi rmou que a extenso do territrio reclamado pelos Mayagna excessiva, tendo em conta o nmero de membros da Comunidade estabelecido pelo censo ofi cial, e que a rea reclamada por esta Comunidade no guarda proporo com a rea efetivamente ocupada por ela. Os Mayagna tiveram alguns confl itos por reivindicaes de terras com as comunidades Francia Sirpi, Santa Clara e Esperanza, os quais foram resolvidos pacifi camente. Segundo o Estado, parte de seu territrio reclamado pelos grupos das Dezoito Comunidades e das Dez Comunidades, os quais afi rmam serem possuidores desde antes que chegassem os Mayagna, e que como gesto de boa vontade lhes permitiram assentar-se em seu territrio. Diante de tal afi rmao, indica a testemunha que os territrios destas comunidades fi cam muito distantes dos de Awas Tingni e que, portanto, no entendem porque se fala de confl ito de terras, se no existe.

    Esclarece que para chegar do povoado de Awas Tingni, onde est a maioria da Comunidade, at Tuburs, tambm habitada por membros da Comunidade Mayagna, devem deslocar-se por meio de pipantes, um tipo de canoas impulsionadas a remo, e demoram, em tempo de seca, um dia e meio, e no inverno, dois dias e meio.

    O territrio dos Mayagna vital para seu desenvolvimento cultural, religioso e familiar, e para sua prpria subsistncia, pois realizam trabalhos de caa (caam catetos) e pesca (deslocando-se ao longo do Rio Wawa) e, ademais, cultivam a terra. um direito de todo membro da Comunidade trabalhar a terra, caar, pescar e coletar plantas medicinais; entretanto, est proibida a venda e a privatizao destes recursos.

    O territrio sagrado para eles, e ao longo deste esto vrias colinas de grande importncia religiosa, como o Cerro Mono, o Cerro Urus Asang, o Kiamak e o Cerro Quitirs. Tambm existem outros lugares sagrados, nos quais a Comunidade tem rvores frutferas de pupunha, limo e abacate. Quando os habitantes de Awas Tingni passam por estes lugares, que datam de 300 sculos, segundo o que seu av lhes dizia, o fazem em silncio, como sinal de respeito a seus mortos, e cumprimentam Asangpas Muigeni, o esprito do monte, que vive debaixo das colinas.

    c. Testemunho de Theodore Macdonald Jr., antroplogoEsteve em contato com a Comunidade Awas Tingni. Fez trs visitas Comunidade, em maro e julho do ano de 1995 e em janeiro de 1999. O objetivo destas visitas era estudar a relao entre as pessoas do assentamento de Awas Tingni e a terra que utilizam, o que requeria um estudo sociopoltico e histrico, bem

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    DIREITOS DOS POVOS INDGENAS - CASO DA COMUNIDADE MAYAGNA (SUMO) AWAS TINGNI VS. NICARGUA

    como pesquisas. Comeou a trabalhar neste estudo graas a um projeto fi nanciado pelo Fundo Mundial para a Natureza, World Wildlife Fund. Eles contrataram a Universidade de Iowa, e esta universidade o contratou para fazer esse trabalho.

    Os resultados do estudo que realizou com a Comunidade Awas Tingni foram documentados, primeiro como relatrio preliminar, em 1996, no qual apresentou um mapa das terras do assentamento de Awas Tingni, e depois em outro relatrio de janeiro de 1999. O propsito de fazer este ltimo relatrio foi ampliar o relatrio de 1996, j que esse teve carter preliminar, e, alm disso, porque, ao retornar, deu-se conta de que havia muitas coisas que queria conhecer da histria da Comunidade Mayagna. Entre esses dois relatrios no existem contradies, embora no segundo tenha se aprofundado do ponto de vista etnogrfi co, de modo a obter maiores detalhes para respaldar o estudo.

    A Comunidade Awas Tingni elaborou um mapa, aproximadamente no ano de 1992, sem contar com sua assessoria, realizaram-no por si mesmos e o apresentaram quando comeou o estudo da testemunha. Segundo os Mayagna, esse mapa representa o territrio que lhes pertence. Neste mapa possvel ver a fronteira, o lugar onde se assenta a comunidade principal, onde esto localizadas outras comunidades, os lugares sagrados e outros lugares mais antigos nos quais viveram antes. Tambm se v o Rio Wawa, que corre a partir do oeste e chega Costa Atlntica.

    H outros dois mapas elaborados pela testemunha. O primeiro deles foi elaborado em 1996, com um sistema de computao chamado Sistema de Informao Geogrfi ca (GIS, sigla em ingls). O que fez foi colocar os dados e elementos recompilados pela Comunidade para determinar o territrio em toda sua extenso. Nesse mapa possvel observar o assentamento da Comunidade Awas Tingni, o Rio Wawa, Tuburs, os lugares sagrados e tambm a fronteira. O segundo mapa, preparado em 1999, quase igual. A diferena principal que est feito mo, mas ambos os mapas so baseados na mesma informao.

    A metodologia para a elaborao do mapa foi a seguinte: primeiro se iniciou na Comunidade Awas Tingni com um Sistema de Posicionamento Geogrfi co (GPS, sigla em ingls), que trabalha com base em satlites. Na primeira etapa, subiu o Rio Wawa com cinco membros da comunidade, para tomar dados sobre o uso da terra em todo o territrio e para confi rmar a informao que haviam recebido da Comunidade. Na segunda etapa, os membros da Comunidade, depois de haver recebido uma capacitao por parte da testemunha, percorreram o territrio com o aparelho GPS. Eles registraram mais de 150 pontos de referncia nessas visitas.

    Para realizar o trabalho de localizao de pontos de referncia a fi m de elaborar o mapa, foram capacitados dois jovens da Comunidade. Assim, sua elaborao no campo foi feita pelos indgenas de Awas Tingni. Uma vez colocada essa informao no sistema de localizao de pontos no h forma de ser manipulada.

    Os pontos de referncia obtidos foram traados em um mapa base, elaborado por um cartgrafo profi ssional (estudante de direito da Universidade de Harvard, que havia aprendido a manejar o Sistema de Informao Geogrfi ca -GIS, sigla em ingls- e que era um especialista em computao).

    Para falar dos Mayagna como comunidade, tudo tem de ser visto como um processo. Atualmente um grupo que tem liderana e forma de organizao social prprias e que se reconhece como uma comunidade indgena.

    Quanto posse atual da terra da Comunidade Awas Tingni, a testemunha considera que primeiro necessrio falar da histria. A Comunidade tem se identifi cado como uma comunidade Mayagna, mas pouco a pouco, com base no crescimento demogrfi co e tambm na comunicao contnua que tem tido com pessoas de outras zonas, foi identifi cando a