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  • Direito Internacional Privado. Portugal

    PILAR BLANCO-MORALES *

    Sumario: I. Introduo. II. A Lex Fori como Lei do Processo. III. Fontes. 1. O pri-mado da CRP. 2. Direito da UE. 3. Tratados. IV. A Aplicao das Regras de Con-flitos. 1. A aplicao oficiosa das regras de conflitos. 2. Modalidades de conexo. 3. Qualificao. 4. O reenvio. Excluso do reenvio nos Regulamentos da UE. 5. Orde-namentos jurdicos plurilegislativos. A remisso para Ordenamentos jurdicos pluri-legislativos nos Regulamentos da UE. 6. Ordem Publica internacional. Direito da UE. V. Regras de Conflitos de Leis. 1. As obrigaes contratuais e os atos jurdicos. Regulamento (CE) n. 593/2008 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de Junho de 2008, sobre a lei aplicvel s obrigaes contratuais (Roma I). 2. As obri-gaes no contratuais. Responsabilidade civil extracontratual. Regulamento (CE) n. 864/2007 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 11 de Julho de 2007, rela-tivo lei aplicvel s obrigaes extracontratuais (Roma II). 3. Obrigaes alimenta-res. Regulamento (CE) n. 4/2009, de 18 de dezembro de 2008, relativo competn-cia, lei aplicvel, ao reconhecimento e execuo das decises e cooperao em matria de obrigaes alimentares. 4. Regulamento (UE) n. 1259/2010 do Conse-lho, de 20 de Dezembro de 2010, que cria uma cooperao reforada no domnio da lei aplicvel em matria de divrcio e separao judicial. 5. Testamentos e Suces-ses. Regulamento (UE) n. 650/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 4 de julho de 2012, relativo competncia, lei aplicvel, ao reconhecimento e execu-o das decises, e aceitao e execuo dos atos autnticos em matria de suces-ses e criao de um Certificado Sucessrio Europeu. 6. O estatuto pessoal e os aspetos relativos ao estado civil (nome, domiclio e capacidade) Arts. 25 a 32. 7. Estabelecimento da filiao, excluindo a temtica da adoo . 8. O casamento, as unies de facto. 9. O estatuto real.

    JURISMAT, Portimo, n. especial, 2014, pp. 33-59. * Professora Catedrtica de Direito Internacional Privado.

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    I. Introduo O Direito Internacional Privado (DIP) a disciplina jurdica que regula as situaes da vida privada internacional. Nas palavras de FERRER CORREIA, o DIP o ramo da cincia jurdica onde se procuram formular os princpios e regras conducentes determinao da lei ou das leis aplicveis s questes emergentes das relaes jurdico-privadas de carcter internacional e, bem assim, assegurar o reconhecimento no Estado do foro das situaes jurdicas puramente internas de questes situadas na rbita de um nico sistema de Direito estrangeiro (situaes internacionais de conexo nica, situaes relativamente internacionais. Segundo FERRER CORREIA, inclumos no mbito do DIP trs ordens de questes: conflitos de leis; e duas questes de direito processual civil internacional, competn-cia internacional; e reconhecimento de sentenas estrangeiras. O DIP no se confina ao estudo do Direito aplicvel a uma dada questo material controvertida, preocupando-se tambm com os problemas relativos eficcia e aos efeitos das decises emanadas, quer dos tribunais judiciais, quer dos tribunais arbi-trais. O processo mais geral de soluo dos problemas de Direito Internacional Privado o mtodo prprio do Direito de Conflitos. As disposies do Direito de Conflitos so constitudas por regras de carcter formal, regras de remisso ou de reconheci-mento, e no por regras de regulamentao material. O legislador portugus enten-de que a melhor maneira de solucionar casos de Direito Internacional Privado seria o mtodo de regulamentao conflitual atravs do qual procura-se encontrar a regula-mentao para a questo privada internacional, ou seja, saber qual o ordenamento jurdico material com a qual ou quais esta mesma questo conexa para dela se extrarem as normas aplicveis ao caso concreto normas de conflito. II. A lex fori como lei do processo O processo seguido perante os tribunais portugueses regulado pela lei portuguesa, ainda que ao fundo da causa se aplique uma lei estrangeira. O sistema jurdico portugus trata o Direito estrangeiro como Direito e no como facto.

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    Artigo 23. CC (Interpretao e averiguao do direito estrangeiro) 1. A lei estrangeira interpretada dentro do sistema a que per-tence e de acordo com as regras interpretativas nele fixadas. 2. Na impossibilidade de averiguar o contedo da lei estrangeira aplicvel, recorrer-se- lei que for subsidiariamente competente, devendo adoptar-se igual procedimento sempre que no for poss-vel determinar os elementos de facto ou de direito de que dependa a designao da lei aplicvel.

    Em Portugal a lei dispe que, quele que o invocar, compete fazer a prova da sua existncia e contedo, mas o tribunal deve procurar, oficiosamente, obter o respetivo conhecimento. Este conhecimento oficioso incumbe tambm ao julgador sempre que este tenha de decidir com fundamento no direito estrangeiro e nenhuma das partes o tenha invo-cado ou a parte contrria tenha reconhecido a sua existncia e contedo ou no haja deduzido oposio. A lei no exige qualquer meio de prova especfico, pelo que a parte ou o juiz podero recorrer a qualquer meio probatrio idneo para fazer a demonstrao visada (por exemplo, prova pericial ou documental). Na impossibili-dade de averiguar o contedo da lei estrangeira aplicvel, recorrer-se- que for subsidiariamente competente, devendo adotar-se igual procedimento sempre que no for possvel determinar os elementos de facto ou de direito de que dependa a desig-nao de tal lei. Caso no localize uma conexo subsidiria ou se revele impossvel averiguar o contedo do Direito designado por intermdio dessa conexo, o tribunal dever recorrer s regras do Direito comum portugus. O processo seguido perante os tribunais portugueses regulado pela lei portuguesa, ainda que ao fundo da causa se aplique uma lei estrangeira.

    III. Fontes As regras de Direito internacional privado portugus assentam em normas jurdicas escritas emanadas de autoridades com poder para as gerar, ou seja, em disposies imperativas orientadas para o estabelecimento de critrios gerais aplicveis a situa-es concretas, produzidas pelos rgos estatais competentes.

    Pluralidade Metodolgica Diversidade de fontes Disperso dos textos legais.

    As normas de conflito vertidas nos artigos 25. a 65. do Cdigo Civil, extravasa, atualmente, a legislao de fonte interna para assumir contornos eminentemente

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    internacionais supranacionais. A cooperao judiciria implementada na Unio Europeia repercute-se, quer ao nvel das normas de conflitos leis, quer no que diz respeito s normas de conflitos de jurisdies.

    1. O primado da CRP.

    Art. 13. - Todos os cidados tm a mesma dignidade social e so iguais perante a lei. Art. 18. - Os preceitos constitucionais respeitantes aos direitos, liberdades e garantias so directamente aplicveis e vinculam entidades pblicas e privadas. Art. 204. - Nos feitos submetidos a julgamento no podem os tri-bunais aplicar normas que infrinjam o disposto na Constituio ou os princpios nela consignados.

    hoje praticamente consensual que as regras de DIP no so totalmente tcnicas e formais, pelo que no se exigem mais desenvolvimentos a este respeito. Esta uma posio maioritria na doutrina nacional e estrangeira. No j a ideia, de certa forma tradicional, do espao livre de constitucionalidade, se expressa o Prof. RUI MOURA RAMOS: admitindo-se de forma mais ou menos clara a possibilidade de Interveno dos comandos constitucionais nas relaes jurdicas cuja regulamenta-o objecto do DIP, no possvel sem mais, no entanto, dar por resolvido o pro-blema do mbito espacial destas normas, isto , da determinao de quais as rela-es jurdicas concretas que no podero ficar imunes aos valores nelas contidos. Com efeito, se a questo da determinao de um mbito espacial de aplicao se pe para todas as normas jurdicas, no se v porque que a Constituio se veria dispensada de afrontar esta problemtica. Importa, pois, segundo o consenso gene-ralizado da doutrina, delimitar os casos da vida jurdica internacional a que, por assim dizer, a Constituio se vai aplicar. Com a reforma de 1977 do Cdigo Civil portugus, foram objeto de alterao aque-les preceitos, de entre os do Captulo relativo ao direito de conflitos, tidos por con-trrios Constituio de 1976. Por exemplo a substituio, pela reforma do Cdigo Civil de 1977, do elemento de conexo nacionalidade do marido (na norma refe-rente determinao do regime de bens do matrimnio, constante do art. 53. CC). A Constituio da Repblica Portuguesa (CRP.) consagra princpios com grande relevncia em matria de direito privado (v.g.: proibio de qualquer tipo de discriminao contra os filhos nascidos fora do casamento cfr. o artigo. 36, n. 4 da CRP).

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    Como nota o Prof. RUI MOURA RAMOS, tal soluo no levanta problemas no caso das relaes puramente nacionais em que a aplicao da lex fori de pre-ceito nem to pouco no das relativamente internacionais (afinal, o inverso do anterior) em que por fora se haver de aplicar a lei do pas em relao ao qual a situao se poder dizer puramente nacional. E a mesma lei dever ainda ser apli-cada a situaes no totalmente nacionais em relao a um Estado estrangeiro mas que tenham com este Estado os contactos que o foro considera suficientes para, se o caso surgisse, com as mesmas caractersticas, no seu mbito. 2. Direito da UE Sublinha o Professor MOURA VICENTE que o Direito da UE e o Direito Interna-cional Privado so dois ramos do Direito que durante largo perodo de tempo opera-ram em isolamento recproco. Mais essa situao comeou a alterar-se. O Direito da UE obriga, a repensar o Direito Internacional Privado e a modificar alguns dos seus esquemas tradicionais de funcionamento: Europeizao direta do Direito Internacio-nal Privado As liberdades fundamentais da UE de circulao dizem respeito a situaes jurdicas que transcendem as fronteiras de um Estado. Sucede que o Direito da UE no regula todos os aspetos destas situaes, entre outras razes porque no suprime a plurali-dade e a diversidade dos sistemas jurdicos nacionais, antes tem carter subsidirio relativamente a estes. Tal o motivo por que se suscitam muitas vezes conflitos de leis nas situaes intra-comunitrias, que compete ao Direito Internacional Privado resolver. Mas em que sentido? E de acordo com que mtodo ou mtodos? Trata-se, em suma, de saber:

    Se as liberdades europeias reclamam a consagrao de regras de conflitos especiais, mxime a que comanda a aplicao da lei do pais de origem as situaes intracomunitrias; e

    Se a tutela dessas liberdades postula, a superao, do mtodo clssico de regulao pelo do reconhecimento mtuo de situaes jurdicas constitudas no estrangeiro.

    As liberdades Europeias de circulao (pessoas, mercadorias, servios e capitais), os princpios da igualdade, do respeito pelos direitos fundamentais e de reconhecimento mtuo, e no enquadrado dentro de um mercado, mas um espao judicirio europeu, o contedo mais amplo, produziram uma metamorfose real do DIP Portugus.

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    As fontes de origem europeia que alimentam o DIP Portugus, como tem estudado o Professor LIMA PINHEIRO, passaram em poucos anos para ser fundamentais, des-locando as fontes convencionais de origem e de origem interna. Esta revoluo veio com o Tratado de Amesterdo de 2 de Outubro de 1997, em vigor desde 1 de Maio de 1999. Em particular, com a introduo de um novo Ttulo IV, intitulado Vistos, asilo, imigrao e outras polticas relativas livre circulao de pessoas", em cujo arts. 61-69 realizada a tarefa de construir um DIP prprio da Unio Europeia. O Tratado de Amesterdo a base jurdica necessria para a criao de um verda-deiro espao europeu de liberdade, segurana e justia, cuja principal impulsos pol-ticos tm ocorrido no Conselho Europeu de Tampere (1999), com o Programa de Haia (2004) e com o Programa de Estocolmo (2010). O Tratado de Lisboa, de 13 de Dezembro de 2007 o mais recente passo dado at agora no aprofundamento da europeizao do DIP. Ele aprecia o interesse do legis-lador europeu para fazer um remdio realmente eficaz, que a partir deste gira em torno do Tratado do princpio do reconhecimento mtuo. O art. 81 do TFUE, o sucessor de art. 65 TEC introduzido pelo Tratado de Amesterdo, investiga no s para o que a cooperao judiciria em matria civil com incidncia transfronteiria, mas estende-se os mecanismos que o Tratado deve ser dirigida para a rea judiciria europeia ser consolidada. Para realizar a europeizao do DIP, o Regulamento ser o tipo normativo utilizado para desenvolver seus padres. Deve-se salientar, no entanto, que a europeizao da DIP no afetou da mesma for-ma a todos os membros da Unio Europeia. Assim, a Dinamarca ficou para fora, a seu pedido, do Ttulo IV TCE, ao contrrio do Reino Unido e da Irlanda, que exer-ceu a clusula de opt-in, permitindo que eles sejam incorporados em todos os ins-trumentos europeus desenvolvidos para fecha. Esta situao nica tornou possvel a incorporao da Dinamarca, de um lado para o Regulamento (CE) n 44/2001 e seu regulamento sucessor (UE) 1215/2012 e, em segundo lugar Regulamento (CE) 1348/2000, aps Regulamento (CE) 1393/2007, dois acordos foram realizadas entre a Comunidade Europeia ea Dinamarca, com base das disposies do ex-art. 300 do TCE. O ltimo passo dado at agora pela Unio Europeia para esclarecer esse cenrio foi a adoo de dois regulamentos: Regulamento (CE) 662/2009 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 13 de Julho de 2009, que estabelece um procedimento para a nego-ciao e a celebrao de acordos entre Estados-Membros e pases terceiros relativa-mente a determinadas matrias referentes lei aplicvel s obrigaes contratuais e

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    extracontratuais, e do Regulamento (CE) 664/2009, de 7 de julho de 2009, pelo que estabelece um procedimento para a negociao e a celebrao de acordos entre Esta-dos-Membros e pases terceiros em matria de obrigaes alimentares competncia judiciria, reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial, de res-ponsabilidade parental e, e lei aplicvel alimentos75 obrigaes de manuteno, ambos com o objetivo de regulamentar o processo a ser seguido quando vrios Esta-dos-Membros quer celebrar acordos / Acordos com os pases terceiros em matria de assuntos para os quais a Unio tenha legislado. 3. Tratados Doutrina da Recepo Plena Artigos 161, 197 e 200 da CRP: aprovao pelo Governo ou pela Assembleia da Repblica. Artigos 161, 197 e 200 da CRP: aprovao pelo Governo ou pela Assembleia da Repblica. Artigo 138 da CRP: ratificao pelo Presidente da Repblica. Artigo 8 da CRP: publicao oficial IV. A aplicao das regras de conflitos 1. A aplicao oficiosa das regras de conflitos Impe-se ao julgador a ponderao da aplicabilidade das regras de conflitos de leis ainda que nenhuma das partes invoque um Direito estrangeiro. 2. Modalidades de conexo. A regra de conflitos destaca um elemento da situao de facto susceptvel de apontar para uma, e apenas uma, das leis em concurso. Este o elemento de conexo. As normas de conflito do Cdigo Civil no apresentam qualquer tipo de soluo para a resoluo do caso mas indicam qual o ordenamento jurdico que ir regular o caso

    Conexo simples ou singular: existe quando a norma de conflito aponta para uma nica ordem jurdica por via de um s elemento (ex.: arts. 30; 33/1; 46/1 CC);

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    Conexo mltipla: quando as normas de conflito apresentam vrios elemen-tos de conexo:

    o Conexes sucessivas ou subsidirias: est-se perante duas ou mais elementos da conexo os quais s se iro aplicar caso falhe os anteriores (ex.: art. 52/1 e 2 CC);

    o Conexo alternativa: prev vrias conexes como possveis, mas apenas uma vai ser aplicada com vista obteno do resultado (ex.: art. 65/1 CC);

    o Conexes cumulativas: vai-se aplicar duas leis pessoais simulta-neamente, ou seja, aplicam-se ambas (ex.: art. 33/3 e 4 CC);

    o Conexo condicional: quando o segundo elemento de conexo chamado para regular o caso vai limitar a aplicabilidade da pri-meira lei (ex.: art. 55/2 CC).

    Conexo mvel ou varivel: aqueles elementos de conexo que podero

    sofrer alteraes (ex.: nacionalidade, residncia habitual); frente a Cone-xes imveis ou invariveis: fixam um momento em concreto e de nenhum modo se pode alterar (ex.: lugar da celebrao do ato). H casos em que se pode imobilizar um elemento de conexo mvel, art. 53 CC: elemento de conexo mvel a lei nacional dos nubentes e este elemento imobilizado ao tempo da celebrao do casamento. H casos em que, se consegue fixar o momento da determinao de um elemento de conexo mvel, art. 55/1 e 52 CC: elemento de conexo mvel a lei nacional mas o indeter-minismo reside no facto de no se saber quando que se ir determinar a lei nacional dos cnjuges. Estatuto suspenso: o elemento de conexo fixo ou imvel, mas em termos tais que o seu contedo apresenta-se temporaria-mente indeterminado (ex.: art. 62 CC). Sucesso de estatuto: quando se verifica a existncia de sucesses de leis aplicveis em consequncia de uma alterao do elemento de conexo utilizado quando existe duas suces-ses que sucedem no tempo. O problema da sucesso de estatutos verifica-se pela existncia de sucesso de leis aplicveis em consequncia de uma alterao do contedo concreto do elemento de conexo utilizado pela nor-ma de conflito. Art. 29 CC uma vez maior sempre maior art. 65 CC uma vez capaz, sempre capaz.

    Artigo 24. (Actos realizados a bordo) 1. Aos actos realizados a bordo de navios ou aeronaves, fora dos portos ou aerdromos, aplicvel a lei do lugar da respectiva matrcula, sempre que for competente a lei territorial. 2. Os navios e aeronaves militares consideram-se como parte do territrio do Estado a que pertencem.

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    3. Qualificao. Artigo 15. (Qualificaes) A competncia atribuda a uma lei abrange somente as normas que, pelo seu contedo e pela funo que tm nessa lei, integram o regime do instituto visado na regra de conflitos

    Vigora, no Direito portugus, princpio geral segundo o qual a referncia feita pelas normas de conflitos a qualquer lei estrangeira determina, apenas, na falta de preceito em contrrio, a aplicao do direito indicado, sendo que esta atribuio de compe-tncia abrange somente as normas que, pelo seu contedo e pela funo que assu-mam nessa lei, integrem o regime do instituto visado na regra de conflitos. 4. O reenvio

    Artigo 16. (Referncia lei estrangeira. Princpio geral) A referncia das normas de conflitos a qualquer lei estrangeira determina apenas, na falta de preceito em contrrio, a aplicao do direito interno dessa lei. Artigo 17. (Reenvio para a lei de um terceiro Estado) 1. Se, porm, o direito internacional privado da lei referida pela norma de conflitos portuguesa remeter para outra legislao e esta se considerar competente para regular o caso, o direito interno desta legislao que deve ser aplicado. 2. Cessa o disposto no nmero anterior, se a lei referida pela norma de conflitos portuguesa for a lei pessoal e o interessado residir habitualmente em territrio portugus ou em pas cujas normas de conflitos considerem competente o direito interno do Estado da sua nacionalidade. 3. Ficam, todavia, unicamente sujeitos regra do n. 1 os casos da tutela e curatela, relaes patrimoniais entre os cnjuges, poder paternal, relaes entre adoptante e adoptado e sucesso por mor-te, se a lei nacional indicada pela norma de conflitos devolver para a lei da situao dos bens imveis e esta se considerar com-petente.

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    Artigo 18. (Reenvio para a lei portuguesa) 1. Se o direito internacional privado da lei designada pela norma de conflitos devolver para o direito interno portugus, este o direito aplicvel. 2. Quando, porm, se trate de matria compreendida no estatuto pessoal, a lei portuguesa s aplicvel se o interessado tiver em territrio portugus a sua residncia habitual ou se a lei do pas desta residncia considerar igualmente competente o direito inter-no portugus. Artigo 19. (Casos em que no admitido o reenvio) 1. Cessa o disposto nos dois artigos anteriores, quando da aplica-o deles resulte a invalidade ou ineficcia de um negcio jurdico que seria vlido ou eficaz segundo a regra fixada no artigo 16., ou a ilegitimidade de um estado que de outro modo seria legtimo. 2. Cessa igualmente o disposto nos mesmos artigos, se a lei estrangeira tiver sido designada pelos interessados, nos casos em que a designao permitida.

    O Direito Internacional Privado Portugus conhece o mecanismo do reenvio e, na afirmativa, em que medida aceita que o Direito estrangeiro aplicvel reenvie para o Direito nacional ou para o Direito de um terceiro Estado. Apesar desta afirmao de princpio admitida, pelo Direito portugus, a figura do reenvio que se concretiza quando a lei estrangeira selecionada pela norma de con-flitos nacional no se considera aplicvel, antes remetendo para outra ordem jurdica, que poder ser a portuguesa ou a de um terceiro Estado. Assim, se o Direito Internacional Privado do sistema jurdico apontado pela norma de conflitos portuguesa remeter para a legislao de um terceiro Estado e esta se considerar competente para regular a situao, impe-se a aplicao da legislao indicada. O reenvio dever, ainda, ser aceite na eventualidade de se estar perante no trs leis mas quatro ou mais leis, desde que todas concordem em aceitar a mesma como a mais idnea para regular a questo privada internacional.

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    Excluso do reenvio nos Regulamentos da UE. Entende-se por aplicao da lei de qualquer pas designada pelo presente regula-mento, a aplicao das normas jurdicas em vigor nesse pas, com excluso das suas normas de direito internacional privado. Unicamente o Regulamento 650/2012 (art. 34) aceita o reenvio quando das regras de conflito de leis estabelecidas podem resul-tar na aplicao da lei de um Estado terceiro. Nesses casos, haver que atender s regras do direito internacional privado da lei desse Estado. Se essas regras previrem o reenvio para a lei de um Estado-Membro ou para a lei de um Estado terceiro que aplicaria a sua prpria lei sucesso, esse reenvio dever ser aceite a fim de assegu-rar a coerncia internacional. O reenvio dever, todavia, ser excludo nos casos em que o falecido tiver feito uma escolha de lei a favor da lei de um Estado terceiro

    Artigo 20. (Ordenamentos jurdicos plurilegislativos) 1. Quando, em razo da nacionalidade de certa pessoa, for com-petente a lei de um Estado em que coexistam diferentes sistemas legislativos locais, o direito interno desse Estado que fixa em cada caso o sistema aplicvel. 2. Na falta de normas de direito interlocal, recorre-se ao direito internacional privado do mesmo Estado; e, se este no bastar, considera-se como lei pessoal do interessado a lei da sua resi-dncia habitual. 3. Se a legislao competente constituir uma ordem jurdica ter-ritorialmente unitria, mas nela vigorarem diversos sistemas de normas para diferentes categorias de pessoas, observar-se- sempre o estabelecido nessa legislao quanto ao conflito de sis-temas.

    Remisso para Ordenamentos jurdicos plurilegislativos nos Regulamentos da EU 1. Sempre que um Estado englobe vrias unidades territoriais, tendo cada uma nor-mas de direito prprias em matria de obrigaes extracontratuais, cada unidade territorial considerada um pas para fins de determinao da lei aplicvel por fora do presente regulamento. 2. Um Estado-Membro em que diferentes unidades territoriais tenham normas de direito prprias em matria de obrigaes extracontratuais no obrigado a aplicar o presente regulamento aos conflitos de leis que respeitem exclusivamente a essas unidades territoriais.

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    5. Ordem pblica internacional

    Artigo 22. (Ordem pblica) 1. No so aplicveis os preceitos da lei estrangeira indicados pela norma de conflitos, quando essa aplicao envolva ofensa dos princpios fundamentais da ordem pblica internacional do Estado portugus. 2. So aplicveis, neste caso, as normas mais apropriadas da legislao estrangeira competente ou, subsidiariamente, as regras do direito interno portugus.

    5.1. Noo No seio do ordenamento jurdico portugus, a ordem pblica internacional encontra-se consagrada, desde logo, no artigo 22. do Cdigo Civil (artigo j por ns ante-riormente referenciado), funcionando como um limite aplicao do direito estran-geiro. Com efeito, nos termos desta disposio legal, os preceitos da lei estrangeira, indicados pela norma de conflitos, no sero aplicveis quando essa aplicao envolva ofensa dos princpios fundamentais da nossa ordem pblica internacional (n. 1) caso em que sero ento aplicveis as normas mais apropriadas da legisla-o estrangeira competente ou, subsidiariamente, as regras do direito interno portu-gus (n. 2).

    A ordem pblica pode tambm funcionar como um limite ao reconhecimento de uma deciso estrangeira ou dos efeitos de um ato pblico estrangeiro. Assim se com-preende o disposto na alnea f) do artigo 1096. do Cdigo de Processo Civil (reviso de sentenas estrangeiras), nos termos do qual para que a sentena estrangeira seja confirmada ser necessrio que a mesma no contenha deciso cujo reconheci-mento conduza a um resultado manifestamente incompatvel com os princpios da ordem pblica internacional do Estado Portugus. A inspirao desta alnea f) do artigo 1096. do Cdigo de Processo Civil, no fundo, idntica do artigo 22., n. 1, do Cdigo Civil. O mesmo se diga, alis, a respeito dos artigos 1651., n. 2, do Cdigo Civil (casamentos sujeitos a registo), e 6., n. 1, do Cdigo de Registo Civil (actos lavrados pelas autoridades estrangeiras) outros preceitos legais onde a ordem pblica internacional se encontra igualmente consagrada. Importa salientar que a ordem pblica internacional manifesta-se em concreto, isto , perante o resultado a que conduza a aplicao do Direito ou de sentena estrangei-ras. Deste modo, em rigor, no poderemos dizer logo se certo instituto ou no contrrio ordem pblica internacional teremos de simular a sua aplicao. Por exemplo, no se poder dizer, a priori, que uma lei estrangeira viola a nossa ordem

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    pblica internacional pelo facto de conter elementos discriminatrios em funo da raa, religio, etc.. O que se pode dizer, desde logo, que no ser aceite uma solu-o discriminatria a que esta lei eventualmente conduza no caso concreto, por exemplo na hiptese de atribuir menos direitos ou impor mais deveres a uma pessoa em funo da sua religio.

    esta, de resto, a concluso a que nos conduz o prprio n. 1 do artigo 22. do Cdi-go Civil, nos termos do qual no sero aplicveis os preceitos da lei estrangeira competente quando essa aplicao envolva ofensa dos princpios fundamentais da nossa ordem pblica internacional.

    5.2. Direito da UE REGULAMENTO (CE) N. 593/2008 DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO de 17 de Junho de 2008 sobre a lei aplicvel s obrigaes contratuais Roma I. Artigo 21. Ordem pblica do foro. A aplicao de uma disposio da lei de um pas designada pelo presente regulamento s pode ser afastada se essa aplicao for manifestamente incompatvel com a ordem pblica do foro. REGULAMENTO (CE) N. 864/2007 DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO de 11 de Julho de 2007 relativo lei aplicvel s obrigaes extracon-tratuais (Roma II). Artigo 26. Ordem pblica do foro. A aplicao de uma disposio da lei de qualquer pas designada pelo presente regulamento s pode ser afastada se for manifestamente incompatvel com a ordem pblica do foro. REGULAMENTO (UE) N. 1259/2010 DO CONSELHO de 20 de Dezembro de 2010 que cria uma cooperao reforada no domnio da lei aplicvel em matria de divrcio e separao judicial. Artigo 12. Ordem pblica. A aplicao de uma disposio da lei designada nos ter-mos do presente regulamento s pode ser recusada se essa aplicao for manifesta-mente incompatvel com a ordem pblica do foro. REGULAMENTO (CE) N. 44/2001 DO CONSELHO de 22 de Dezembro de 2000 relativo competncia judiciria, ao reconhecimento e execuo de decises em matria civil e comercial.

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    Artigo 34. Uma deciso no ser reconhecida: 1. Se o reconhecimento for manifes-tamente contrrio ordem pblica do Estado-Membro requerido. REGULAMENTO (CE) N. 2201/2003 DO CONSELHO de 27 de Novembro de 2003 relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em mat-ria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regula-mento (CE) n. 1347/2000. Artigo 22. Fundamentos de no-reconhecimento de decises de divrcio, separao ou anulao do casamento. Uma deciso de divrcio, separao ou anulao do casamento no reconhecida: a) Se o reconhecimento for manifestamente contrrio ordem pblica do Estado-Membro requerido. REGULAMENTO (CE) N. 4/2009 DO CONSELHO de 18 de Dezembro de 2008 relativo competncia, lei aplicvel, ao reconhecimento e execuo das decises e cooperao em matria de obrigaes alimentares. Artigo 24. Motivos de recusa do reconhecimento. Uma deciso no reconhecida: a) Se o reconhecimento for manifestamente contrrio ordem pblica do Estado-Membro em que pedido o reconhecimento. O critrio da ordem pblica no pode ser aplicado s regras de competncia. REGULAMENTO (UE) N. 650/2012 DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO de 4 de julho de 2012 relativo competncia, lei aplicvel, ao reco-nhecimento e execuo das decises, e aceitao e execuo dos atos autnticos em matria de sucesses e criao de um Certificado Sucessrio Europeu. Artigo 35. Ordem pblica (ordre public). A aplicao de uma disposio da lei de um Estado designada pelo presente regulamento s pode ser afastada se essa aplica-o for manifestamente incompatvel com a ordem pblica do Estado-Membro do foro. Artigo 40. Fundamentos do no reconhecimento. Uma deciso no reconhecida: a) Se o reconhecimento for manifestamente contrrio ordem pblica do Estado-Membro requerido. Non obstante, importa salientar o Considerando (58), que junto a possibilidade de afastar certas disposies da lei estrangeira quando a sua aplicao num caso especfico seja manifestamente incompatvel com a ordem pblica do Estado-Membro em causa refere expressamente que os rgos jurisdicionais ou outras autoridades competentes no devero poder invocar a exceo de ordem pblica para afastar a lei de outro Estado-Membro nem recusar reconhecer ou, consoante o caso, executar uma deciso j proferida, um ato autntico ou uma tran-sao judicial provenientes de outro Estado-Membro, quando a aplicao da exce-

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    o de ordem pblica seja contrria Carta dos Direitos Fundamentais da Unio Europeia, em especial ao artigo 21. que probe qualquer forma de discriminao. V. Regras de conflitos de leis

    1. As obrigaes contratuais e os atos jurdicos. Regulamento (CE) n. 593/2008 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de Junho de 2008, sobre a lei aplicvel s obrigaes contratuais (Roma I) O Regulamento Roma I consagrou um princpio segundo o qual as partes podem escolher a lei aplicvel ao contrato ou a parte deste, podendo mesmo acordar, em qualquer momento, na substituio da lei designada. Porm, a escolha de lei estran-geira no pode afastar a aplicao das normas imperativas do sistema jurdico do Estado em que, no momento dessa escolha, se localizem os outros elementos da situao em apreo. Na ausncia de escolha, o contrato regulado pela lei do pas com o qual apresente uma conexo mais estreita. Caso as partes no tenham escolhido a lei aplicvel para contratos de venda de mer-cadorias, prestao de servios, franquias ou distribuio, a mesma ser determinada com base no pas de residncia do principal contraente do contrato. No caso dos contratos relativos a bens imveis, aplica-se a lei do pas no qual se situa o imvel, salvo nos casos de arrendamento temporrio para uso pessoal (no mximo, seis meses consecutivos). Nestes casos, a lei aplicvel a do pas de residncia do pro-prietrio do imvel. No caso da venda de mercadorias em hasta pblica, aplica-se a lei do pas onde se realiza a hasta pblica. No que se refere aos instrumentos finan-ceiros regidos por uma nica lei, esta ser a lei aplicvel. Caso nenhuma, ou mais de uma, das regras referidas se apliquem a um contrato, a lei aplicvel ser determinada com base no pas de residncia do contraente principal do contrato. No entanto, se o contrato apresentar uma relao mais estreita com um pas diferente dos casos previstos pelas presentes regras, aplica-se a lei desse pas. O mesmo se aplica quando no for possvel determinar a lei aplicvel. Para os seguintes tipos de contrato, o regulamento prev opes para a seleo da lei aplicvel e determina a lei a aplicar na ausncia de escolha:

    contratos de transporte de mercadorias na ausncia de escolha, a lei apli-cvel ser a do pas de residncia do transportador, desde que esse seja tambm o local de receo ou entrega, ou a residncia do expedidor. Caso contrrio, aplica-se a lei do pas no qual ser efetuada a entrega;

    contratos de transportes de passageiros a lei aplicvel pode ser escolhida entre o pas de residncia do passageiro ou do transportador, o pas onde se

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    situa a administrao central do transportador ou o pas de partida ou des-tino. Na ausncia de escolha, aplica-se a lei do pas de residncia do passa-geiro, desde que este seja tambm o local de partida ou destino. Ainda assim, se o contrato estiver mais estreitamente relacionado com outro pas, aplica-se a lei deste ltimo;

    contratos de consumidores, celebrados entre consumidores e profissionais a lei aplicvel a lei do pas de residncia do consumidor, desde que este seja tambm o pas no qual o profissional exerce as suas atividades ou para o qual as suas atividades esto direcionadas. Segundo o princpio da liber-dade de escolha, as partes podem tambm aplicar outra lei, desde que a mesma proporcione o mesmo nvel de proteo ao consumidor que a lei do pas de residncia deste;

    contratos de seguro na ausncia de escolha, a lei aplicvel ser a lei do pas de residncia do segurador. Contudo, se o contrato estiver mais estrei-tamente relacionado com outro pas, aplica-se a lei deste ltimo;

    contratos individuais de trabalho a lei aplicvel pode ser determinada com base no princpio da liberdade de escolha, desde que o nvel de proteo conferido ao trabalhador permanea igual ao conferido pela lei aplicvel na ausncia de escolha. Neste ltimo caso, a lei pela qual se rege o contrato ser a lei do pas no qual, ou a partir do qual, o trabalhador realiza as suas tarefas. Caso no seja possvel determinar o acima referido, a lei aplicvel ser a do pas onde se situa o estabelecimento. Contudo, se o contrato esti-ver mais estreitamente relacionado com outro pas, aplica-se a lei deste ltimo.

    2. As obrigaes no contratuais. Responsabilidade civil extracontratual. Regu-lamento (CE) n. 864/2007 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 11 de Julho de 2007, relativo lei aplicvel s obrigaes extracontratuais (Roma II) Prescreve o art. 4., n. 1 do Regulamento Roma II, Salvo disposio em contrrio do presente regulamento, a lei aplicvel s obrigaes extracontratuais decorrentes da responsabilidade fundada em ato lcito, ilcito ou no risco a lei do pas onde ocorre o dano, independentemente do pas onde tenha ocorrido o facto que deu ori-gem ao dano e independentemente do pas ou pases onde ocorreram as consequn-cias indirectas desse facto. Esta norma estabelece, como regra geral, que a lei aplicvel s obrigaes extra-contratuais decorrentes da responsabilidade fundada em ato lcito, ilcito ou no risco a lei do pas onde ocorre o dano, contrariamente ao que dispe o art. 45., n.1, do Cdigo Civil, segundo o qual, a regra aplicvel nestes casos a do local onde ocor-reu o facto lesivo, ou lugar da conduta (lex loci).

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    Cumpre salientar, no entanto, que a regra geral vertida no art. 4., n.1 do Regula-mento (CE) n. 864/2007 comporta excees. Conforme se l no n. 2: () sempre que a pessoa cuja responsabilidade invocada e o lesado tenham a sua residncia habitual no mesmo pas no momento em que ocorre o dano, aplicvel a lei desse pas. Para respeitar o princpio da autonomia das partes e reforar a certeza jurdica, as partes devero poder escolher a lei aplicvel a uma obrigao extracontratual. Esta escolha dever ser expressa ou demonstrada com um grau de certeza razovel pelas circunstncias do caso. Ao determinar a existncia de acordo, o tribunal dever res-peitar as intenes das partes. necessrio proteger as partes mais vulnerveis, impondo determinadas condies a esta escolha. O Regulamento Roma II tem tambm vrias disposies especiais em matria de:

    responsabilidade por produtos defeituosos (artigo 5.), concorrncia desleal e atos que restrinjam a livre concorrncia (artigo

    6.), danos ambientais (artigo 7.), violao de direitos de propriedade intelectual (artigo 8.), enriquecimento sem causa (artigo 10.), gesto de negcios (artigo 11.) e culpa in contrahendo (artigo 12.).

    3. Obrigaes alimentares. Regulamento (CE) n. 4/2009, de 18 de dezembro de 2008, relativo competncia, lei aplicvel, ao reconhecimento e execuo das decises e cooperao em matria de obrigaes alimentares Entrou em vigor em 31/01/2009, mas s aplicvel a partir de 18 de Junho de 2011 (art. 76). Este Regulamento prev uma srie de medidas que permitam facilitar o pagamento das prestaes de alimentos em situaes transfronteirias. Estas presta-es decorrem da obrigao de ajudar os familiares em situao de necessidade. Podem, por exemplo, assumir a forma de uma penso alimentar paga a um filho ou a um ex-cnjuge aps um divrcio. No quadro do presente Regulamento, que essas normas de conflitos de leis apenas determinam a lei aplicvel s obrigaes alimentares e no a lei aplicvel ao estabe-lecimento das relaes familiares em que se baseiam as obrigaes alimentares. O estabelecimento das relaes familiares continua a ser regido pelo direito nacional dos Estados-Membros, nele estando includas as respetivas regras de direito interna-cional privado.

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    3.1 Competncia O tribunal competente por deliberar em matria de obrigaes alimentares :

    o tribunal do local do domiclio do arguido ou do credor; ou o tribunal competente por apreciar uma ao relativa ao estado das pessoas

    (um divrcio, por exemplo) ou responsabilidade parental, quando o pedi-do relativo a uma obrigao alimentar est associado a esta ao (desde que esta competncia no se baseie unicamente na nacionalidade de uma das partes).

    Salvo se o diferendo estiver relacionado com uma obrigao alimentar respeitante a menores de dezoito anos, as partes podem, em determinadas condies, celebrar um acordo sobre o tribunal ou os tribunais de um Estado-Membro competente(s) pela resoluo do diferendo. Quando o arguido comparece perante um tribunal de um Estado-Membro, esse tri-bunal competente, salvo se o arguido contestar a competncia do mesmo. Se nenhuma das condies anteriormente mencionadas estiver cumprida, o diferendo poder, em determinadas condies, ser apresentado perante os tribunais do Estado-Membro de origem de ambas as partes. Se assim no for e o processo no puder ser apresentado num pas fora da UE que esteja estreitamente relacionado com o diferendo, o pedido poder ser apresentado perante o tribunal de um Estado-Membro com o qual o diferendo apresenta uma conexo suficiente. Enquanto o credor continuar a residir no Estado-Membro que proferiu a deciso em matria de obrigaes alimentares, o devedor no poder, salvo algumas excees, propor uma ao para alterar esta deciso noutro Estado-Membro. No entanto, o credor poder aceitar que o diferendo seja dirimido por outro tribunal. Independentemente do tribunal competente para conhecimento do mrito, os pedidos de medidas provisrias e cautelares podem ser apresentados junto de qualquer tribu-nal de um Estado-Membro, desde que estejam previstos na legislao do Estado em questo.

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    3.2. Reconhecimento e execuo das decises Qualquer deciso relativa a obrigaes alimentares proferida por um Estado-Mem-bro tem de ser reconhecida por outro Estado-Membro, sem nenhum procedimento especial. 3.3. Autoridades centrais Cada Estado-Membro deve designar uma autoridade central responsvel por prestar assistncia s partes no estabelecimento e cobrana de penses de alimentos. Deve-ro, nomeadamente, transmitir e receber os pedidos previstos no regulamento e tomar todas as medidas apropriadas para iniciar ou facilitar a introduo da instncia necessria. 4. Regulamento (UE) n. 1259/2010 do Conselho, de 20 de Dezembro de 2010, que cria uma cooperao reforada no domnio da lei aplicvel em matria de divrcio e separao judicial O presente regulamento institui um quadro jurdico claro e completo em matria de lei aplicvel ao divrcio e separao judicial nos Estados-Membros participantes e garantir aos cidados solues adequadas em termos de segurana jurdica, previsi-bilidade e flexibilidade, bem como impedir situaes em que um cnjuge pede o divrcio antes do outro para que o processo seja regido por uma lei especfica, que considera mais favorvel salvaguarda dos seus interesses. A lei determinada pelas normas de conflito de leis do presente regulamento dever aplicar-se aos fundamentos de divrcio e de separao judicial. Questes preliminares, tais como a capacidade jurdica e a validade do casamento e questes como os efeitos patrimoniais do divrcio ou da separao judicial, o nome, a responsabilidade parental, as obrigaes alimentares ou outras eventuais medidas acessrias devero ser determinadas pelas normas de conflito de leis aplicveis no Estado-Membro participante em questo. Este Regulamento permite escolher a lei aplicvel em caso de divrcio de casais com nacionalidades diferentes, bem como de casais que vivem em pases diferentes ou que coabitam num pas diferente do seu pas de origem. Visa reduzir o fenmeno da procura do foro mais vantajoso e proteger os cnjuges mais vulnerveis durante os processos de divrcio.

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    Um acordo de escolha de lei dever poder ser celebrado ou alterado o mais tardar na data da instaurao do processo em tribunal, e mesmo durante o processo, se a lei do foro o previr. Nesse caso, dever bastar que seja registada em tribunal a designao da lei aplicvel nos termos da lei do foro. Na falta de escolha da lei aplicvel, o R regulamento instaura normas de conflitos de leis harmonizadas partindo de uma escala de elementos de conexo sucessivos baseados na existncia de uma conexo estreita entre os cnjuges e a lei em causa, com vista a garantir a segurana jurdica e a previsibilidade e a impedir situaes em que um dos cnjuges pede o divrcio antes do outro para garantir que o processo seja regido por uma lei especfica que considera mais favorvel salvaguarda dos seus interesses. A novas regras aplicar-se-o em primeiro lugar em 14 Estados-Membros da UE, enquanto os outros conservam o direito de se lhes associar no futuro: Blgica, a Bulgria, a Alemanha, a Espanha, a Frana, a Itlia, a Letnia, o Luxemburgo, a Hungria, Malta, a ustria, Portugal, a Romnia e a Eslovnia. 5. Testamentos e Sucesses. Regulamento (UE) n. 650/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 4 de julho de 2012 , relativo competncia, lei aplicvel, ao reconhecimento e execuo das decises, e aceitao e execuo dos atos autnticos em matria de sucesses e criao de um Certificado Sucessrio Europeu Em 4 de julho de 2012, foi dado um importante passo para facilitar as sucesses transfronteirias com a adoo de normas europeias que tornam mais simples para os cidados europeus o tratamento dos aspetos jurdicos de um testamento ou sucesso internacional. Estas novas normas so aplicveis sucesso das pessoas falecidas a partir de 17 de agosto de 2015 (inclusive). O Regulamento assegurar o tratamento coerente de uma determinada sucesso, por uma nica autoridade e ao abrigo de uma nica lei. Em princpio, a lei aplicvel sucesso e o tribunal competente sero determinados pela ltima residncia habitual do falecido; no entanto, os cidados podem escolher a lei do Estado da sua naciona-lidade como lei aplicvel sucesso. Isto permitir evitar processos paralelos e deci-ses judiciais contraditrias, assegurando simultaneamente o reconhecimento mtuo das decises relativas a sucesses na UE. A Dinamarca, a Irlanda e o Reino Unido no participam na adoo do Regulamento. Assim sendo, as aes sucessrias instauradas nesses trs Estados-Membros conti-nuaro a ser julgadas exclusivamente de acordo com as normas nacionais.

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    As questes relacionadas com o imposto sucessrio ficam excludas do mbito de aplicao do Regulamento. Salvo disposio em contrrio do Regulamento, a lei aplicvel ao conjunto da suces-so a lei do pas onde o falecido tinha residncia habitual no momento do bito. Uma pessoa pode escolher como lei para regular a sua sucesso a lei do pas de que nacional no momento em que faz a escolha ou no momento do bito. Uma pessoa com nacionalidade mltipla pode escolher a lei de qualquer dos pases de que nacional no momento em que faz a escolha. A lei rege nomeadamente:

    as causas, o momento e o lugar da abertura da sucesso; a determinao dos beneficirios, das respetivas quotas-partes e das obriga-

    es que lhes podem ser impostas pelo falecido, bem como a determinao de outros direitos sucessrios;

    a capacidade sucessria; a deserdao e a incapacidade por indignidade; a transmisso dos bens, direitos e obrigaes que compem a herana aos

    herdeiros e, consoante o caso, aos legatrios; os poderes dos herdeiros, dos executores testamentrios e outros adminis-

    tradores da herana, sem prejuzo de regras especficas sobre a nomeao e os poderes dos administradores de heranas em determinadas situaes;

    a responsabilidade pelas dvidas da sucesso; a quota disponvel da herana, a legtima e outras restries disposio

    por morte, bem como as pretenses que pessoas prximas do falecido pos-sam deduzir contra a herana ou os herdeiros;

    a colao e a reduo das liberalidades, adiantamentos ou legados aquando da determinao das quotas dos diferentes beneficirios;

    a partilha da herana. Para e mais informaes sobre o direito das sucesses de outros Estados-Membros, pode consultar o stio Web http://www.successions-europe.eu/pt/home, gerido pelo Conselho dos Notrios da Unio Europeia Ate o 17 de agosto de 2015 o Cdigo Civil Portugus que define as leis aplicveis em matria de sucesso por morte. Por regra, competente para regular as sucesses a lei pessoal do falecido. Por esta lei se regem tambm a sucesso por morte e os poderes do administrador da herana e do executor testamentrio. Esta lei pessoal , em princpio, a da nacionalidade. A sucesso por morte abrange quer a sucesso determinada por lei quer a voluntria (caracterizada por os herdeiros serem designados por testamento ou por via contra-tual).

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    Quanto sucesso testamentria, a regra geral limitada relativamente a alguns aspetos. Assim, a capacidade para fazer, modificar ou revogar uma disposio testamentria tambm regulada pela lei pessoal do seu autor ao tempo da declarao. Esto ainda sujeitas a esta lei as exigncias de forma especial para as disposies por morte em razo da idade do disponente. O autor, se depois de feita a disposio por morte mudar de lei pessoal e a nova lei no lhe reconhecer capacidade para testar, pode ainda revogar aquela disposio nos termos da lei anterior. Compete lei pessoal do autor da sucesso (o falecido) ao tempo da declarao (ou seja, da feitura do testamento) regular: a) A interpretao das clusulas e disposies do testamento, salvo se o testador se referir, expressa ou implicitamente, a outra lei (caso em que ser esta ltima a competente); b) A falta e vcios da vontade do testa-dor; c) a admissibilidade de testamentos de mo comum (aqueles em que duas pes-soas fazem as suas disposies por morte num nico ato) e de pactos sucessrios (no sentido que aqui releva de atos de natureza contratual que operam a instituio nego-cial de herdeiro). A admissibilidade destes pactos est sujeita lei pessoal do autor da sucesso ao tempo da declarao, salvo quando se trate de pacto sucessrio inserto em conven-o antenupcial, caso em que aplicvel a regra de conflitos que reja tambm as convenes antenupciais (por regra, nestes casos, aplicvel a lei nacional dos nubentes ao tempo da celebrao do casamento). Ao estatuto da sucesso por morte cabe, em geral, regular todas as questes relativas abertura da sucesso, aceitao da herana, devoluo, repdio, transmisso e partilha desta. Compete-lhe, ainda, definir o mbito da sucesso (por exemplo, con-cretizar o que se transmite aos herdeiros) e a capacidade para adquirir por via suces-sria. Cumpre, tambm, lei da sucesso definir a composio e hierarquia dos sucessveis e os respetivos direitos. Diversamente ocorre quanto transferncia de propriedade dos bens, j que esta regulada pela lei relativa ao direito real em causa. Tal lei poder ter, ainda, relevo no que tange ao estatuto sucessrio em matria de partilha de bens. No que respeita forma vigora, designadamente, a Conveno Relativa Lei Uni-forme sobre a Forma de Um Testamento Internacional (de 26/10/1973).

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    6. O estatuto pessoal e os aspetos relativos ao estado civil (nome, domiclio e capacidade) Arts. 25 a 32 O estatuto pessoal , geralmente, regido pela lei pessoal dos sujeitos em causa, con-forme dispe regra de conflitos contida no Cdigo Civil Portugus. A lei pessoal a lei da nacionalidade do indivduo ou, se este for aptrida, a do lugar da sua residncia habitual (se se tratar de um cidado maior de idade) ou do domic-lio legal (se se tratar de um menor ou interdito). Na falta de residncia habitual, a lei pessoal corresponder do lugar da residncia ocasional ou, se esta no puder ser determinada, do local onde se encontrar. De acordo com o mesmo encadeado de normas, so fixados pela lei pessoal o incio e o termo da personalidade jurdica. tambm da competncia da lei pessoal regular a existncia, contedo, formas de tutela e restries impostas ao exerccio dos direitos de personalidade (direito ao nome, imagem e reserva sobre a intimidade da vida privada). Em matria de direito ao nome vigora em Portugal a Conveno de Istambul Rela-tiva a Alteraes de Apelidos e de Nomes Prprios (de 4/9/1958) e a Conveno de Munique sobre a Lei Aplicvel aos Nomes Prprios e Apelidos (de 5/9/1980). Tais normas assumem prevalncia sobre as regras de conflitos do Direito Portugus. Compete lei pessoal regular a capacidade genrica de gozo e de exerccio de direi-tos das pessoas singulares. Arts. 33 e 34 CC. Por sua vez, as pessoas coletivas tm como lei pessoal a do Estado onde se encontre situada a sede principal e efetiva da sua administrao. A transfe-rncia da sede de um Estado para outro no extingue a sua personalidade jurdica, se nisso concordarem as leis de uma e outra sede. A fuso de entidades com lei pessoal diferente apreciada face a ambas as leis pessoais. A lei pessoal das pessoas coletivas internacionais a designada na conveno que as tenha criado ou nos respetivos estatutos. Na falta de designao, a lei do pas onde estiver a sede principal. 7. Estabelecimento da filiao, aqui se incluindo a temtica da adoo Esta matria regulada no Cdigo Civil Portugus, Arts. 56 a 61. Constitui regra geral, neste domnio, a aplicao da lei pessoal dos sujeitos envolvi-dos.

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    constituio da filiao aplicvel a lei pessoal do progenitor data do estabele-cimento da relao. Tratando-se de filho de mulher casada, tal constituio, relati-vamente ao pai, regulada pela lei nacional comum da me e do marido; na falta desta, aplicvel a lei da residncia habitual comum dos cnjuges e, se esta tambm faltar, a lei pessoal do filho. Para os referidos efeitos, atender-se- ao momento do nascimento do filho ou ao da dissoluo do casamento, se for anterior quele. As relaes entre pais e filhos so reguladas pela lei nacional comum dos pais e, na falta desta, pela lei da sua residncia habitual comum; se os progenitores residirem habitualmente em Estados diferentes, aplicvel a lei pessoal do filho. Se a filiao apenas se achar estabelecida relativamente a um dos pais, aplica-se a lei pessoal deste; se um dos progenitores tiver falecido, competente a lei pessoal do sobrevivo. constituio da filiao adotiva aplicvel a lei pessoal do adotante. Porm, se a adoo for realizada por marido e mulher ou o adotando for filho do cnjuge do adotante, competente a lei nacional comum dos cnjuges e, na falta desta, a lei da sua residncia habitual comum; se tambm esta faltar, ser aplicvel a lei do pas com o qual a vida familiar dos adotantes se ache mais estreitamente conexa. As relaes entre adotante e adotado, e entre este e a famlia de origem, esto sujeitas lei pessoal do adotante. Se a lei competente para regular as relaes entre o adotando e os seus progenitores no conhecer o instituto da adoo, ou no o admitir em relao a quem se encontre na situao familiar do adotando, a adoo no permitida. Se, como requisito da perfilhao ou adoo, a lei pessoal do perfilhando ou ado-tando exigir o consentimento deste, ser a exigncia respeitada. Ser igualmente respeitada a exigncia do consentimento de terceiro a quem o interessado esteja ligado por qualquer relao jurdica de natureza familiar ou tutelar, se provier da lei reguladora desta. A lei aplicvel constituio da filiao adotiva regula os requisitos substanciais da adoo (diferena de idades entre adotante e adotado, ausncia de filhos do adotante, situao familiar do adotante e do adotado, etc.), os respetivos vcios e a sua revoga-o. O domnio de aplicao da lei reguladora das relaes entre pais e filhos abrange, no essencial, o poder paternal. No entanto, a Conveno da Haia Relativa Competn-cia das Autoridades e Lei Aplicvel em Matria de Proteo de Menores (de 5/10/1961) aplicvel sempre que o menor tenha residncia habitual num Estado contratante sujeita o poder paternal lei da nacionalidade do menor. Assim, quan-do for aplicvel esta Conveno, o Cdigo Civil tem um campo de aplicao muito

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    limitado (por exemplo, aplicar-se- para efeitos de determinao do domiclio legal do filho menor). Por outro lado, a Conveno de Munique sobre a Lei Aplicvel aos Nomes Prprios e Apelidos submete os efeitos da filiao sobre o nome do filho lei da sua naciona-lidade. 8. O casamento, as unies de facto. Arts. 50, 51, 52, 53 e 54 CC No que respeita s condies de validade do casamento vigora, em Portugal, a Con-veno da Haia para Regular os Conflitos de Leis em Matria de Casamento (12/6/1902). Este texto internacional, no entanto, tem assumido um relevo muito limitado em virtude do reduzido nmero de Estados a ele vinculados. Tm, assim, um maior campo de aplicao as normas de conflitos emergentes do Cdigo Civil Portugus. A lei competente para regular as relaes de famlia, incluindo o casamento, , via de regra, a lei pessoal dos respetivos sujeitos. A capacidade para contrair casamento e a definio do regime da falta e dos vcios da vontade, em relao a cada nubente, so reguladas pela respetiva lei pessoal. Em princpio, a lei pessoal tambm aplicvel unio de facto, se esta for configu-rada por aquela lei como uma relao de famlia. Em matria de forma (condies de validade formal) do casamento aplica-se, em regra, a lei do Estado em que o ato celebrado. So permitidos, no entanto, desvios a esta regra no que respeita aos casamentos celebrados perante agentes diplomticos ou consulares e ao casamento celebrado de harmonia com as leis cannicas. O regime de conflitos constante do Cdigo Civil Portugus, dispe que as relaes entre os cnjuges so reguladas pela lei nacional comum. No tendo estes a mesma nacionalidade, aplicvel a lei da sua residncia habitual comum e, na falta desta, a do pas com o qual a vida familiar se ache mais estreitamente conexa. Se, porm, na constncia do matrimnio, houver mudana da lei competente, s pode fundamentar a separao ou o divrcio algum facto relevante ao tempo da sua verificao.

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    As relaes pessoais e patrimoniais entre os cnjuges (salvo as que respeitem ao regime de bens) so reguladas, em princpio, pela lei nacional comum. Se aqueles no tiverem a mesma nacionalidade, aplicvel a lei da sua residncia habitual comum e, na falta desta, a do pas com o qual a vida familiar se ache mais estreita-mente conexa. A lei designada regula, entre outros, os deveres dos cnjuges, o direito a alimentos, a administrao de bens do casal e o regime da responsabilidade pelas dvidas (salvo os aspetos que dependam de um particular regime de bens, que regulado pela lei aplicvel a estes). A definio, o contedo e os efeitos do regime de bens, seja ele imposto por lei ou escolhido pelas partes, so regulados pela lei nacional dos nubentes ao tempo da celebrao do casamento. Se aqueles no tiverem a mesma nacionalidade, aplic-vel a lei da sua residncia habitual comum data do casamento ou, se esta tambm faltar, a da primeira residncia conjugal. Se a lei aplicvel for estrangeira e um dos nubentes tiver a sua residncia habitual em territrio portugus, pode ser convencionado um dos regimes de bens admitidos no Cdigo Civil. Os cnjuges podem modificar o regime de bens, legal ou convencional, desde que tal seja permitido pela lei nacional comum ou, na falta desta, pela lei da sua residncia habitual comum ou ainda, no se aplicando esta ltima, pela lei do pas com o qual a vida familiar se ache mais estreitamente conexa. Caso venha a ser modificado o regime de bens, a nova Conveno no ter efeito retroativo (ou seja, no poder valer para situaes j constitudas) em prejuzo de terceiro. 9. O estatuto real Arts. 46, 47 e 48 CC Em matria de posse, propriedade e outros direitos reais (usufruto, uso e habitao, direito real de habitao peridica, direito de superfcie e servides prediais) apli-cvel a lei do Estado em cujo territrio se achem situadas as coisas sobre as quais incidam esses direitos. Esta regra vlida tanto para bens imveis como para bens mveis. H, no entanto, dois regimes especiais: a) Para as coisas em trnsito (aquelas que sejam objeto de um transporte internacional e se encontrem em circulao entre um pas e outro) e b) Para os meios de transporte submetidos a um regime de matrcula.

  • DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. PORTUGAL

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    Relativamente s coisas em trnsito aplica-se a lei do pas do destino. Porm, se a coisa der entrada no comrcio jurdico de um local onde se encontrava apenas de passagem, ser aplicvel a lei do pas da sua localizao. Os meios de transporte submetidos a um regime de matrcula (automveis, aerona-ves, motociclos e vages de caminho de ferro) so regulados pela lei do pas onde a matrcula tiver sido efetuada. Se se tratar de matria relativa a direitos reais sobre navios, aplicvel a lei da nacionalidade que aqueles tiverem ao tempo da constitui-o, modificao, transmisso ou extino do direito em causa. definida pela lei da situao da coisa a capacidade para constituir direitos reais sobre coisas imveis ou para dispor deles, desde que essa lei assim o determine; de contrrio, aplicvel a lei pessoal. A lei designada pela regra de conflitos do Cdigo Civil regula a constituio ou transferncia de direitos reais sobre coisas.

    Informaao sobre ligaes teis: "Dario da Repblica:http://www.dre.pt/ Bases Jurdico-Documentais: http://www.dgsi.pt/ Rede Judiciria Europeia em matria civil e comercial.Portugal: https://e-justice.europa.eu/content_jurisdiction-85-pt-pt.do Cooperao judiciria em matria civil: http://europa.eu/legislation_summaries/ justi-ce_freedom_security/judicial_cooperation_in_civil_matters/index_pt.htm".