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FACULDADE INTEGRADO DE CAMPO MOURÃO CURSO DE DIREITO JULGAMENTO DE EICHMANN, AUTORIA MEDIATA E TRIBUNAL DE EXCEÇÃO: UMA ANÁLISE JURÍDICO-PENAL E CONSTITUCIONAL MILENA ALVES CORREA QUARESMA CAMPO MOURÃO PR 2016

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Page 1: Julgamento de eichmann autoria mediata e tribunal de exceção uma análise jurídico penal e constitucional

FACULDADE INTEGRADO DE CAMPO MOURÃO CURSO DE DIREITO

JULGAMENTO DE EICHMANN, AUTORIA MEDIATA E TRIBUNAL DE EXCEÇÃO: UMA ANÁLISE JURÍDICO-PENAL E CONSTITUCIONAL

MILENA ALVES CORREA QUARESMA

CAMPO MOURÃO PR 2016

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MILENA ALVES CORREA QUARESMA

JULGAMENTO DE EICHMANN, AUTORIA MEDIATA E TRIBUNAL DE EXCEÇÃO: UMA ANÁLISE JURÍDICO-PENAL E CONSTITUCIONAL

Trabalho Integrador IV, apresentado à faculdade integrado de Campo Mourão, como requisito parcial para obtenção de nota na disciplina de Projeto Integrador, ministrado pela Professora Ana Paula Mansano Baptista Vareschini, no curso de Direito.

CAMPO MOURÃO PR 2016

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RESUMO

Entre as décadas de 1939 e 1945, acontecia um conflito mundial

armado envolvendo vários países da Europa. A ideologia nazista imperava no

território da Alemanha, donde os comportamentos ditatoriais passaram dos

limites, uma vez que, infringiram todos os Direitos de dignidade das pessoas

que lá habitavam. Um alemão que apoiava o nazismo, Adolf Eichmann, foi ao

meio de todo esse alvoroço um dos principais organizadores dos

acontecimentos macabros. Em razão desse fato, o presente trabalho retrata

uma visão crítica político-cultural e antropológica baseada no modo em que,

Eichmann, naquela época poderia ter visualizado toda a situação,

considerando ainda o ambiente que cresceu, e, com isto, apresentar os mais

adequados métodos de punição que poderiam se enquadrar no presente caso.

Isto é, para que se obtenha um desenvolvimento de uma conclusão racional e

proporcional de um julgamento justo que deveria ter sido considerado no ano

de 1961. As contradições do julgamento real serão citadas e relacionadas ao

Tratado Universal de Direitos Humanos.

Palavras-chave: Alemanha Nazista. Dignidade da Pessoa Humana. Julgamento. Obediência Hierárquica.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4

1. O TRIBUNAL DE EXCEÇÃO ................................................................. 6

2. CONCEITO DE AUTORIA MEDIATA ..................................................... 7

3. RELAÇÃO ANTROPOLÓGICA CULTURAL DO COMPORTAMENTO DE ADOLF EICKMANN COMO SER HUMANO.................................................. 8

4. CRÍTICA AO JULGAMENTO DE ADOLF EICHMANN ......................... 11

CONCLUSÃO ........................................................................................... 13

REFERÊNCIAS ........................................................................................ 14

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INTRODUÇÃO

O tema a ser comentado, com toda a certeza possui uma grande significância para o Direito Penal mundial a nível filosófico. Com isso, além de ramificar toda a análise teoria e sistemática, o trabalho em questão, defenderá que o fato de Adolf Eichmann ter escolhido o caminho que percorreu ao longo da história, vai muito além do pensamento de que, simplesmente, nasceu mau, ou então, que é um psicopata patológico.

Muitos dizem que nada justifica o que fizera em meados do segundo maior conflito mundial. A frieza que manifestou referente as malfeitorias no holocausto, como bem mostram as audiências filmadas no país de Israel, iludem facilmente os críticos, impedindo-os de tirarem conclusões lógicas e coerentes. No entanto, as argumentações que serão apresentadas, tornará possível uma rara e nova percepção referente ao cunho de aprendizado que Adolf Eichmann recebeu ao longo da vida, interligando, principalmente, seu próprio fator biológico.

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1. O TRIBUNAL DE EXCEÇÃO

O Tribunal de Exceção foi o método utilizado para julgar Adolf Eichmann, acusado de cometer crimes contra a humanidade além de várias outras atrocidades. Este método foi aceito em vários países em casos excepcionais, principalmente pelos países ditatoriais. Contudo, a âmbito mundial, hodiernamente, é visto pela maioria dos juristas como a pior opção, porque na realidade acaba por ser uma ‘’exceção’’ que visa desconsiderar os direitos de quem está sendo julgado, opondo-se, desse modo, a alguns princípios constitucionais brasileiros tais como o princípio da ampla defesa, do contraditório, igualdade, dignidade da pessoa humana, legalidade e do juiz natural. Como se pode ver ocorre praticamente uma abstinência das medidas de segurança para com os direitos da pessoa humana, criadas após a segunda guerra mundial.

Avalia-se uma grande ironia a respeito do julgamento de Eichmann, por este, ter sido julgado propriamente pelo famoso Tribunal de Exceção, o mesmo método que desrespeita todos esses princípios, da mesma forma que o acusado os desrespeitou. Isto é, os envolvidos que decidiram fazer justiça através do Tribunal de Exceção também se esqueceram dos direitos humanos, caminhando pelos mesmos tramites da ideologia nazista, para qual nenhuma regra mais importava, mas sim, apenas o desejo constante de realização de um objetivo, neste caso, o de punir.

Ante ao exposto, eis as características de um Tribunal de Exceção:

1Primeiro e mais claro é que eles invariavelmente não são imparciais, uma vez que a sua criação é direcionada para um caso específico. Ou seja, só é criado um tribunal de exceção quando há algum interesse na direção das decisões e do resultado. Outro problema é que a pessoa, ao ser julgada por um tribunal de exceção, perde algumas das outras garantias do processo, como a do duplo grau de jurisdição e do juiz natural, por exemplo. E não necessariamente o tribunal é formado por juristas, podendo ser composto por qualquer pessoa, para julgar qualquer caso, contra qualquer pessoa. É uma boa forma de se acabar com a segurança jurídica.

Deve-se frisar que independentemente dos atos que o agente cometer, regras, principalmente as que estão alojadas como princípios base de uma constituição justa e necessária para um julgamento ‘’humano’’, precisam ser levadas em consideração, e, aliás, elas existem justamente para o ordenamento jurídico e os indivíduos que o compõem não se esquecerem que todas as pessoas são dignas de direitos humanos, e devem ser tratadas com 1 O que é um Tribunal de Exceção? Disponível em: <http://oprocessopenal.blogspot.com.br/2008/06/o-que-um-tribunal-de-exceo.html>. Acesso em: 06 de outubro de 2016, ás 18:00.

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dignidade, tendo tratado outras com dignidade ou não, pois caso contrário, se todos que cometerem crimes surpreendentemente brutais forem tratados como seres desprezíveis de respeito, teremos no final um círculo vicioso de violência e abuso propagado pelo próprio Estado, o mesmo que nos impõem e nos ensina os bons costumes e leis a serem seguidas.

Assim sendo, vê-se que o julgamento de Adolf Eichmann assim como muitos outros julgados através do dito Tribunal de Exceção não passam de uma versão teatral elaborada por alguns, visando interesses distintos, desconsiderando, por assim dizer, a possibilidade do réu defender-se livremente de parcialidades provindas dos julgadores, ou seja, um retrocesso total.

2. CONCEITO DE AUTORIA MEDIATA

É muito importante discutir o significado das principais espécies de

autorias, para que haja um melhor entendimento acerca do tema. Os tipos de

autoria que predominam nos estudos dos operadores de Direito Penal

brasileiro são; a autoria individual; autoria coletiva; imediata; e autoria mediata.

A autoria individual se faz presente quando o agente (autor do crime) atua sem

concorrência, ou seja, não concorre para o crime, de forma que o pratica

sozinho sem a colaboração de outras pessoas. Enquanto na autoria coletiva,

duas ou mais pessoas podem concorrer para a prática de um crime, pois atuam

em coletividade.

Pois bem, quando se discorre a respeito da diferenciação entre autoria

mediata e imediata, diferentemente dos dois primeiros tipos, aqui não mais se

trata do número de participantes que contribuíram para o fato danoso, mas por

outro lado se a pessoa que agiu com dolo o praticou diretamente ou

indiretamente. Sendo assim, o agente praticaria de modo direto (imediato) no

caso de, por exemplo, conseguindo uma arma e querendo o resultado, atirasse

na cabeça de alguém a engatilhando com os próprios dedos, estando, portanto,

fisicamente presente no momento, e executando o efeito.

Já na autoria mediata, o que acontece é praticamente o oposto, porém

o dolo continua presente por parte da pessoa que desejou o enredo, esta,

utiliza outro indivíduo, metaforicamente falando, como se fosse uma marionete

para executar diretamente o malfeito. Para a constatação desta autoria, enseja

um procedimento mais complexo de modo a ser exigida uma situação

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específica para a sua caracterização, ademais, dentre elas, há uma em que se

encaixa ao caso de Adolf Eichmann:

Quando o agente imediato, que serve de instrumento, atua dentro de

uma estrutura de poder (caso de obediência hierárquica): o agente

secreto mata uma pessoa por determinação do superior. O superior é

autor mediato e responde pelo homicídio. Nesse caso o autor

imediato (o agente secreto) também responde pelo crime, porque se

tratava de ordem manifestamente ilegal. Embora tenha atuado com

dolo, em razão da estrutura de poder não há como afastar o domínio

do agente mediato sobre a vontade do executor. Por isso é que não

fica descartada a autoria mediata.2

Conforme o trecho exposto acima se percebe que no caso de Adolf

Eichmann ocorre situação muito parecida, ele era utilizado como instrumento

para a realização dos atos, assim como também cumpria com as obrigações

impostas pelo superior hierárquico.

Todavia, há uma diferenciação que pode mudar o julgamento diante de

todos os atos que tenha cometido ao longo dos anos que serviu ao Estado, e

esta, deve-se a realidade de que naquela época e lugar, os atos que cometeu,

não eram considerados crime, e, portanto, cogita-se a possibilidade de isenção

ou diminuição de pena.

Porém, ao mesmo tempo em que obedeceu a ordens de seu superior,

e ao mesmo tempo em que estas não eram consideradas manifestamente

ilegais, o fato é que, Adolf Eichmann, agiu com dolo diante de tudo o que

cometeu, pois é procedente admitir que uma pessoa convivente em sociedade

têm ciência de que a prática de atos cruéis como os que ele executou causam

danos ao próximo, tanto físico quanto emocional.

2AUTORIA mediata em direito penal: <https://jus.com.br/artigos/8099/autoria-mediata-em-direito-penal> Acesso em: 16 de outubro de 2016, ás 16:52.

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3. RELAÇÃO ANTROPOLÓGICA CULTURAL DO

COMPORTAMENTO DE ADOLF EICKMANN COMO ANIMAL

HUMANO

Todos provêm de uma cultura, e por ela a maioria das pessoas além de

obter tradições são induzidas a contribuir em índices de violência específicos,

lembrando que isto pode ser comprovado ainda nos dias de hoje ao obter

análise científico-sociológico como, por exemplo, os comportamentos

machistas, homofóbicos, xenofóbicos e afins que cada lugar desenvolve na

medida de seus costumes.

Portanto, será que há causa para essas situações? Ora, aqui está uma

pergunta muito engraçada! O mais interessante é que ela apenas persiste por

que os humanos esquecem que são animais, ainda que se considerem

racionais, continuam a ser animais humanos, tendo uma coisa em comum com

todos os outros animais terrestres- o instinto.

E o que isto significa? Significa que sim, há causa para essas

situações, pois todos os animais são um produto biológico do tempo e espaço

em que se encontram, e os estímulos que lhe são causados são propensos a

causar-lhes emoções, paixões ideologias e etc, os seres humanos fazem parte

desta categoria, estando literalmente drogados pelos próprios hormônios

constantemente, e tornando-se perigosos quando certos estímulos egoístas

são acentuados por algo ou alguém. Mas o que se pode fazer então, para se

amenizar as más escolhas causados pelos instintos que podem levá-los à

própria ruína?

Bem, historicamente, é fato de acordo com o entendimento discorrido,

que todas as pessoas, sem exceção, contribuíram e continuam contribuindo

para um processo de evolução a que se percebe hoje em dia. Pensa-se ao

seguir esta lógica, que um humano nunca contribuirá perfeitamente na

evolução de acordo com o que seja considerado correto, até por que, nem o

que é considerado correto os humanos conseguem definir. Aliás, importante

constar que na época que Adolf Eichmann cometeu todas as barbaridades, os

Direitos Humanos Internacionais ainda não existiam.

Desde então, o que acontece é que todos os seres humanos são

educados por outros seres humanos, que também foram educados um dia,

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assim como no caso de Adolf, que também é um animal humano e além de ter

sido educado pelos próprios pais, recebeu fortes interferências ideológicas pela

própria nação, assim como vários outros soldados que praticavam torturas

contra outras pessoas na época, concomitantemente, consideravam os ideais

de Hitler necessários para uma ‘’nação melhor e mais organizada’’.

Levando em conta todo este contexto, chega-se a outra conclusão:

assim como é lógico concordar que Eichmann é um animal e possui instintos e

descontrole emocional, também possui o poder de escolha e de oposição a

certas condutas, e é isto que fundamenta a existência de penalidades pelo

mundo, o livre arbítrio.

Aí estão dois fatores importantíssimos que entrelaçam imediatamente,

tanto com os fatores culturais familiares repassados, quanto às regras de

superiores que interferiram no livre arbítrio de Adolf Eichmann. De todo modo,

é sempre, muitíssimo importante, prestar atenção onde o governo direciona as

pessoas, pois esta é a maior interferência na realidade das nações e do

mundo.

Dessarte, assim como existe a educação precária dos pais para com

as crianças que na maioria dos casos se tornam futuras criminosas, isto é,

constatadas com diversas comprovações psicológicas e sociológicas, também

far-se-á necessária admitir a presença do desvirtuamento do estado para com

o cidadão, que na verdade interfere, de modo geral, ainda mais do que a

simples educação repassada de pais para filhos, pois no caso de interferência

do Estado na educações de seu povo, não é uma ou duas crianças, mas sim,

os pais das crianças, os avós, toda a sua família, induzindo todos que não

possuírem opinião formada a abandonarem os princípios de paz e

disponibilizar ‘’fidelidade’’ à nação -advérbio muito utilizado nesta época, para

converter os cidadãos a concordarem com as atrocidades cometidas utilizando

de artimanhas psicológicas da consciência dos mesmos.

Esta é a relação que condiz com a motivação de Eichmann ter se

comportado de determinada forma, mesmo ninguém podendo comprovar que

possuíra uma educação precária e muito menos o que tenha passado em seus

pensamentos. Porém, com uma breve análise do comportamento de todos os

integrantes da Alemanha e os demais simpatizantes da causa nazista, os quais

possuíam tamanho respeito e admiração aos ideais de Hitler, não foi

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exclusivamente por causa deste ditador, que o preconceito e apoio ás

barbaridades provindos do povo alemão se tornaram tão imediatos.

Seria ingenuidade atribuir toda a responsabilidade a Adolf Hitler, pois,

apesar de muitos alemães da época não concordarem com suas ideologias,

haviam muitas pessoas, na verdade a maioria, que compartilhavam do mesmo

pensamento, o pensamento de que os judeus e outros imigrantes iriam roubar

seus empregos, suas casas, ‘’desandar’’ a economia do país, entre outros.

Contribuíram para a existência de um ódio profundo e vontade de se livrar

dessas pessoas imediatamente, porque acreditavam ser intrusas. Hitler apenas

contribuiu como um ‘’ponta pé’’ inicial para que tudo iniciasse.

Torna-se óbvio que assim como Adolf Eichmann ordenou e até

executou todas essas barbaridades, outro soldado também se orgulharia e

morreria obtendo prazer em ter contribuído com a ideologia da nação em nome

do que fora alimentado dentro de si continuadamente.

Portanto, em vista do analise comportamental de Adolf Eichmann, vê-

se, por um lado, que a única coisa que o diferenciava de outros soldados era a

eficiência demonstrada no cargo que recebeu, e por outro, o que não há

diferença alguma, deve-se ao fato de que é um humano vulnerável à

ideologias, assim como todos os outros.

Considerando a sua humanidade, a melhor opção para que seja

disseminado um novo contexto educacional em vista do julgamento dado a ele,

seria a sociedade negar a dar continuidade à própria raiva para com os

criminosos, tendo ciência de que a punição deve-se ser aplicada apenas para

manter a paz. É preciso abster-se de utilizar os atos horrendos dos indivíduos

criminosos como argumento para justificar linchamentos, é necessário também,

deixar de descontar os próprios instintos nos mesmos, ressarcindo-se de

sentimentos cruéis e vingativos, tais como a forca. Eis um exemplo de

vingança, muito parecido com as atitudes de muito bandidos, assim como os

soldados nazistas, e é por isso que, todos os que prejudicarem o próximo

devem passar por medidas de recuperação e reinserção na sociedade,

independente de quem seja e os atos que cometeu, os direitos humanos e os

princípios universais de Direito ainda devem prevalecer, contrariamente ao que

ocorreu no Julgamento de Adolf Eichmann.

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4. CRÍTICA AO JULGAMENTO DE ADOLF EICHMANN

Como já retratado no conceito de Tribunal de Exceção, este

desrespeita princípios constitucionais brasileiros e o posicionamento de vários

outros países. Pois bem, agora, há uma crítica muito maior em relação ao

Tratado Universal de Direitos Humanos.

Está registrada na história que a segunda guerra mundial terminou no

ano de 1945, no mesmo em que Adolf Hitler se suicidou. Assim como, o

importantíssimo tratado Universal de Direitos Humanos surgiu em 1948 com a

fundamentação de que todos detêm direito à chamada dignidade humana, e a

várias outras colocações criadas após toda exploração humana que ocorreu

em alguns países na época, principalmente pelo o holocausto na Alemanha.

No Tratado Internacional de Direitos humanos, em seu inciso X,

discorre:

3Artigo X - Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma

audiência justa e pública por parte de um Tribunal independente e

imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento

de qualquer acusação criminal contra ela.

Analisando o inciso acima, traz que, obrigatoriamente, para haver um

julgamento justo para uma pessoa, deverá usufruir de um ‘’Tribunal imparcial

para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer

acusação contra ela’’. Desde a criação das primeiras leis, todos sabem que são

criadas para serem cumpridas, principalmente os Tratados Internacionais, que

equivalem para o mundo inteiro.

Entretanto, no caso de Eichmann, provavelmente devido a todo o abalo

descontrole emocional da população por causa das atrocidades praticamente

encaminhadas por ele, a maioria das pessoas, tanto as vítimas do holocausto,

quando as que imaginavam o que ele fez, o viam como um monstro e

desejavam para ele nada menos do que a morte.

3 DECLARAÇÃO Universal Dos Direitos Humanos (1948): <http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/2decla.htm> Acesso em: 20 de outubro de 2016, ás 14:20.

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O fator mais interessante, que diretamente afeta a legitimidade do

julgamento, é que os Juízes que o julgaram se admitiam declaradamente

Judeus, o que obviamente interfere na parcialidade do julgamento.

Repetindo, o Tratado de Direitos Internacionais surgiu após dois anos

do término da segunda guerra mundial, porém, treze anos antes do julgamento

de Eichmann. Por isto que o inciso X deveria ter sido considerado, mas não o

foi, causando uma grande ironia e cometendo, independentemente se for para

fazer ‘’justiça’’, o mesmo erro que os nazistas, que é a desconsideração da

imperatividade do tratado internacional e o princípio da imparcialidade

jurisdicional. Mais um exemplo de um erro hipócrita de um ordenamento

jurídico que apenas aplica o sentido das leis ao bel prazer ou pela maioria do

povo.

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CONCLUSÃO

Por fim, o que se pode extrair de um análise jurídico-penal e

constitucional do julgamento de Adolf Eichmann resta clara que a decisão

tomada fora direcionada por pessoas totalmente segmentadas, já tendendo a

um castigo elaborado, em relação aos crimes que cometeu, principalmente por

se tratar de um Tribunal de Exceção, erro grave cometido pela jurisdição de

Israel ao utilizar-se deste método tão desrespeitoso com umas das principais

regras mundiais.

A resolução ideal de julgamento, concretizaria se Adolf Eichmann fosse

julgado mediante a consideração da autoria mediata, pois todas as

características deste tipo de autoria poderiam facilmente ser aplicadas na

situação concreta, donde um indivíduo que serviu ao Estado, obtinha assim

como muitos, um forte dependência ideológica para a prática de todos os atos,

devendo ter por direito, no final, a uma pena justa e digna, sempre levando em

consideração a personalidade da pessoa humana.

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REFERÊNCIAS

AUTORIA mediata em direito penal: <https://jus.com.br/artigos/8099/autoria-mediata-em-direito-penal> Acesso em: 16 de outubro de 2016, ás 16:52.

DECLARAÇÃO Universal Dos Direitos Humanos (1948):

<http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/2decl

a.htm> Acesso em: 20 de outubro de 2016, ás 14:20.

O que é um Tribunal de Exceção? Disponível em:

<http://oprocessopenal.blogspot.com.br/2008/06/o-que-um-tribunal-de-

exceo.html>. Acesso em: 06 de outubro de 2016, ás 18:00.