judith buttler - corpos que pensam -resumo

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  • 8/18/2019 Judith Buttler - corpos que pensam -Resumo

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    “Mulheres” como sujeito do feminismo 

    Publicado em 30 de agosto de 2012 por carlabarreto 

    O Grupo de estudos Cultura Visual Queer, que pertence ao Grupo de Pesquisa Transviações – 

    Visualidade e Educação, do Programa de Pós-graduação em Arte da Universidade de Brasília,apresenta seus estudos em questões de sexo, gênero e sexualidade. O grupo com encontros

    quinzenais tem como objetivo, na sua primeira etapa, discutir o livro “Problemas de Gênero – 

    feminismo e subversão da identidade” de Judith Butler. O Programa pode ser consultado na

    página do blog “sobre”. 

    Capítulo I . Sujeitos do sexo/gênero/desejo … 1. “Mulheres” como sujeito do feminismo 

    Judith Butler inicia uma de suas grandes obras “Problemas de Gênero – feminismo e subversão

    da identidade[1]“(2003) identificando que na essência da teoria feminista há um

    entendimento de uma identidade fixa. Tal entendimento ocorre devido a uma necessidade de

    representação política para promover a visibilidade das mulheres. Porém, essa concepção vem

    entrando em colapso no interior do discurso feminista, ao questionar o sujeito das mulheres,

    que passa a ser reconhecido não mais em “termos estáveis ou permanentes” (Butler, pág. 18).

    No primeiro capítulo – Sujeitos do sexo/gênero/desejo, discute-se a essencialização que

    orienta a mulher enquanto o sujeito do feminismo. “Foucault observa que os sistemas

     jurídicos de poder produzem os sujeitos que subsequentemente passam a representar” (p. 18). 

    A noção de sujeito é apontada como vital para a política, na medida em que esta delimitaria

    seu alcance, recusas, exclusões. Quem é o sujeito do feminismo? Essa pergunta suscita tensões

    para o feminismo, ao se deflagrar em território cravejado de paradoxos, expondo os

    dispositivos de legitimação e exclusões, que perpetram a ideia de circunscrição, isto é, ter de

    delimintar qual seria o sujeito do feminismo. Se for apenas a mulher, isso, mais uma vez, traria

    a velha binaridade, aliada à heteronormativade homem x mulher. Tais questões jurídicas

    propiciam impasses, na medida em que acabam por constringir as delimitações de sujeito e

    suas políticas, dentro do território das especificidades duras. Nesse sentido, o discurso

    feminista, ao afirmar o sujeito feminista apenas como “mulher”, estaria corroborando com a

    lógica do sistema jurídico de formação discursiva sobre os sujeitos. E assim, jamais teria

    sucesso sobre a emancipação das “mulheres”, pois as mesmas estruturas de poder que

    produzem o sujeito do feminismo, são as mesmas estruturas que também reprimem.

    Butler justifica essa análise, ao informar que a construção dos sujeitos para o poder jurídico

    ocorre vinculada a objetivos de legitimação e de exclusão. Ela ainda explica que essa

    legitimação do sujeito perante ao poder jurídico ainda é um vestígio da hipótese do estado

    natural, localizado no liberalismo clássico invocado no contrato social.

    https://culturavisualqueer.wordpress.com/2012/08/30/mulheres-como-sujeito-do-feminismo/https://culturavisualqueer.wordpress.com/2012/08/30/mulheres-como-sujeito-do-feminismo/https://culturavisualqueer.wordpress.com/2012/08/30/mulheres-como-sujeito-do-feminismo/https://culturavisualqueer.wordpress.com/2012/08/30/mulheres-como-sujeito-do-feminismo/https://culturavisualqueer.wordpress.com/2012/08/30/mulheres-como-sujeito-do-feminismo/https://culturavisualqueer.wordpress.com/2012/08/30/mulheres-como-sujeito-do-feminismo/https://culturavisualqueer.wordpress.com/author/carlabarreto/https://culturavisualqueer.wordpress.com/author/carlabarreto/https://culturavisualqueer.wordpress.com/author/carlabarreto/https://culturavisualqueer.wordpress.com/2012/08/30/mulheres-como-sujeito-do-feminismo/#_ftn1https://culturavisualqueer.wordpress.com/2012/08/30/mulheres-como-sujeito-do-feminismo/#_ftn1https://culturavisualqueer.wordpress.com/2012/08/30/mulheres-como-sujeito-do-feminismo/#_ftn1https://culturavisualqueer.wordpress.com/2012/08/30/mulheres-como-sujeito-do-feminismo/#_ftn1https://culturavisualqueer.wordpress.com/author/carlabarreto/https://culturavisualqueer.wordpress.com/2012/08/30/mulheres-como-sujeito-do-feminismo/https://culturavisualqueer.wordpress.com/2012/08/30/mulheres-como-sujeito-do-feminismo/

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    Chris Cunninhgam é um diretor inglês de clips de música e videoartista. Retratou em muitos de

    seus trabalhos corpos e sujeitos queers. Essa imagem é do clip do artista Richard D. James

    (Aphex Twin) Windowlicker.

    O problema não acaba por ai. Butler ressalta sobre o problema político produzido pelo

    feminismo ao supor um sujeito definido pelas “mulheres”. Ela explica que essa noção de

    mulher está associada a uma identidade comum limitante que não dialoga com intersecções

    nas identidades discursivamente constituídas, raciais, classistas, étnicas, sexuais e regionais, e

    porque o gênero não se constitui totalmente como coerente e consistente. Além disso, a

    noção freqüente de que a opressão das mulheres é única, singular e a mesma em todo o

    mundo, favorece e fortalece, não apenas um movimento de universalizar práticas sexistas

    ocidentais, mas também de colocar tal prática como um barbarismo intrínseco e naturalizado.

    Butler levanta algumas questões que surgiram em muitos debates (pág. 21):

    http://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-BR&prev=/search%3Fq%3DChris%2BCunningham%26hl%3Dpt-BR%26client%3Dsafari%26sa%3DX%26rls%3Den%26biw%3D1680%26bih%3D930%26prmd%3Dimvnso&rurl=translate.google.com.br&sl=en&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Aphex_Twin&usg=ALkJrhjjPpy4AYJv1romZXiesuYEpEwbnghttp://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-BR&prev=/search%3Fq%3DChris%2BCunningham%26hl%3Dpt-BR%26client%3Dsafari%26sa%3DX%26rls%3Den%26biw%3D1680%26bih%3D930%26prmd%3Dimvnso&rurl=translate.google.com.br&sl=en&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Aphex_Twin&usg=ALkJrhjjPpy4AYJv1romZXiesuYEpEwbnghttp://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-BR&prev=/search%3Fq%3DChris%2BCunningham%26hl%3Dpt-BR%26client%3Dsafari%26sa%3DX%26rls%3Den%26biw%3D1680%26bih%3D930%26prmd%3Dimvnso&rurl=translate.google.com.br&sl=en&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Aphex_Twin&usg=ALkJrhjjPpy4AYJv1romZXiesuYEpEwbnghttp://translate.googleusercontent.com/translate_c?depth=1&hl=pt-BR&prev=/search%3Fq%3DChris%2BCunningham%26hl%3Dpt-BR%26client%3Dsafari%26sa%3DX%26rls%3Den%26biw%3D1680%26bih%3D930%26prmd%3Dimvnso&rurl=translate.google.com.br&sl=en&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Aphex_Twin&usg=ALkJrhjjPpy4AYJv1romZXiesuYEpEwbnghttps://culturavisualqueer.files.wordpress.com/2012/07/windowlicker.jpg

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    Existiriam traços comuns entre as “mulheres”, preexistentes à sua opressão, ou estariam as

    “mulheres” ligadas em virtude somente de sua opressão? 

    Há uma especificidade das culturas das mulheres, independente de sua subordinação pelas

    culturas masculinistas hegemônicas? 

    Caracterizam-se sempre a especificidade e a integridade das práticas ou lingüísticas das

    mulheres por oposição e, portanto, nos termos de alguma outra formação cultural

    dominante? 

    Existe uma região do “especificamente feminino”, diferenciada do masculino como tal e

    reconhecível em sua diferença por uma universalidade indistinta e conseqüentemente

    presumida das “mulheres”? 

    Claude Cahun – Sem título, fotografia P&B, sem data. Fotógrafa e escritora francesa, Cahun

    frequentemente trabalhou conceitos de gênero e sexualidade nas suas produções artísticas.

    Essa noção universalizante do patriarcado hegemônico contribui para uma estratégia de

    fortalecimento de representatividade das reivindicações do feminismo e ainda, reforça arelação binária masculino/feminino, que conseqüentemente, reforça a matriz heterossexual.

    Butler sugere como ponto de partida para debater sobre a genealogia crítica das estruturas

     jurídicas da linguagem e da política é o presente histórico de Karl Marx, que resumidamente

    seria a crítica às categorias de identidade. Mas ela reforça que pode ser o grande momento

    para o movimento feminista livrar-se de uma base única e invariável e refletir sobre a

    exigência de construir um sujeito do feminismo e principalmente, construir uma teoria

    feminista com “construção variável da identidade como pré-requisito metodológico e

    normativo, senão como um objetivo político.” (pág. 23). 

    https://culturavisualqueer.files.wordpress.com/2012/07/claude-cahun-06.jpg

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    “A identidade do sujeito feminista não deve ser o fundamento da política feminista, pois a

     formação do sujeito ocorre no interior de um campo de poder sistematicamente encoberto pela

    afirmação desse fundamento.” (pág. 23). 

    Em seu prefácio, Problemas de Gênero, a mulher, enquanto fonte de mistério, foi,

    criticamente, entendida por Simone de Beauvoir, como leitura malévola, por ser excludente ,separaratista e distanciadora, produzida pelos fálicos inventores dessa trama. Entretanto, o

    “objeto feminino” intervém e reverte o lugar confortável dos narradores, da autoridade da

    posição masculina, expondo-os, dependentes, e desmontanto a ilusoriedade desta autonomia,

    coisas da metafísica dialética hegeliana, repensando os lugares de gozo entre senhor e

    escravo. Pode-se, a contrapelo, dispensar tais medidas, pois manter esses lugares de diferença

    ontológicos significa manter um sistema de classificação:

    “Rir de categorias seria indispensável para o feminismo” (p. 8). Esta frase desmonta o nó

    mulher/feminismo, que afirmaria e se prenderia a papéis binários.

    Michel Foucault, reevocando Friedrich Nietzsche, vem com a noção de “genealogia” para

    recusar as “origens do gênero”, mas mapeia as narrativas e suas políticas, deixando instável a

    estabilidade do feminino.

    Dzi Croquettes é um grupo de atores e bailarinos, documentados no filme de Tatiana Issa e

    Raphael Alvarez (2009), que subverteram a política de repressão da ditadura militar no Brasil

    com seus espetáculos. “O grupo revolucionou os palcos cariocas com seus espetáculos

    andróginos. Desobedientes e debochados, decidiram desrespeitar a ordem do regime militar

    com inteligência. Os sapatos de salto alto e as roupas femininas propositalmente exibiam as

    pernas cabeludas e a barba cultivada pelos homens do grupo.” 

    … 2. A ordem compulsória do sexo/gênero/desejo 

    Butler relaciona a distinção sexo/gênero como uma descontinuidade radical. Explica que

    mesmo que possamos considerar a estabilidade do sexo binário, não é possível apenas

    https://culturavisualqueer.files.wordpress.com/2012/07/dzi2.jpg

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    considerar a “construção de “homens” aplique-se exclusivamente a corpos masculinos, ou que

    o termo ‘mulheres’ interprete somente corpos femininos.” (pág. 24) 

    E o que é afinal o ‘sexo’? Algumas perguntas, nos ajudam a nortear para o debate: 

    É ele natural, anatômico, cromossômico ou hormonal, e como deve a crítica feminista avaliaros discursos científicos que alegam estabelecer tais “fatos” para nós? 

    Teria o sexo uma história? 

    Possuiria casa sexo uma história ou histórias diferentes? 

    Haveria uma história de como se estabeleceu a dualidade do sexo, uma genealogia capaz de

    expor as opções binárias como construção variável? 

    Seriam os fatos ostensivamente naturais do sexo produzidos discursivamente por vários

    discursos científicos a serviço de outros interesses políticos e sociais? 

    São questões que ainda não se esclareceram e talvez, não terão oportunidade de se

    pronunciarem. Mas indiscutivelmente, Butler afirma que “na conjuntura atual , já está claro

    que colocar a dualidade do sexo num domínio pré-discursivo é uma das maneiras pelas quais a

    estabilidade interna e a estrutura binária do sexo são eficazmente asseguradas.”(pág. 25). 

    [Anna Amélia Faria e Carla Barreto]