[josé william craveiro torres] amadís versus patín: resíduo de um conflito
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7/25/2019 [Jos William Craveiro Torres] Amads versus Patn: Resduo de um Conflito.
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AMADS VERSUSPATN:RESDUODE UM CONFLITO
Jos William Craveiro Torres1
Universidade de Coimbra UC
Resumo:O presente texto tem por objetivo apontar resduos clssicos no Amads de Gaula a
partir do episdio que narra o embate entre o personaem principal e !at"n# que# ao quetudo indica# retoma o motivo da $uerra de Troia%
Palavras-chave: Amads de Gaula& $uerra de Troia& con'lito& residualidade&intertextualidade& aluso literria%
Absrac:
T(is text aims to point passaes o' classic content in t(e medieval novel Amadis ofGaul t(rou( t(e episode t(at narrates t(e clas( bet)een t(e main c(aracter# or
protaonist *+madis,# and !at"n- t(is episode )e believe is based on t(e (istor. o't(e Trojan War%
!e"#or$s:Amadis of Gaul& Trojan War& con'lict& residuality& intertextuality& literaryallusion%
INTRODU%&O
/esde sempre# o conceito de 0'am"lia ultrapassou as 'ronteiras do parentesco- um
rupo de pessoas unidas pelos mesmos valores# por uma mesma ideoloia e pelos
mesmos propsitos pode per'eitamente abriar2se por trs desse termo% + 3iteratura da
+ntiuidade Clssica tra4 exemplos de (eris que tomaram para si as dores dos amios-
s para 'icarmos num exemplo# devemos lembrar de que 'oi a trai56o so'rida por
7enelau que levou os demais reos 8 uerra contra os troianos% 9ormou2se# ent6o# em
torno da nem sempre unida $rcia# uma rande 'am"lia% Os troianos# por sua ve4# eram0irm6os dos reos# pois possu"am ascendentes comuns e cultuavam os mesmos
deuses& en'im# comunavam das mesmas prticas culturais% + $uerra de Troia 'oi#
portanto# um con'lito entre irm6os%
:a ;dade 7dia# os cavaleiros comportavam2se# em boa medida# tambm como os
(eris antios- o que 'oi a Tvola
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entre o cl6 de +rtur e o de 3ancelote# aps aquele ter descoberto que este se deitava com
sua mul(er# a rain(a $enevra%
:este ensaio# pretendemos mostrar como o con'lito entre +mad"s e !at"n#
personaens do Amads de Gaula novela de cavalaria# ao que tudo indica# da
primeira metade do sculo E;F# de autoria descon(ecida recupera aquele travado
entre reos e troianos pelas plan"cies de Troia *a $uerra de Troia,& inclusive no que di4
respeito a ser um embate entre 0irm6os- neste caso# entre os que pertenciam ao cl6 de
+mad"s contra os que pertenciam ao cl6 do rei 3isuarte# ao qual passou a pertencer
!at"n# imperador de
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*09undida no mama do texto, ou explcita& corroboradora *0insere a obra que a
contm numa tradi56o comum julada dina de preservar2se, ou contestatria
*0implica uma atitude de incon'ormismo ou de repLdio,% Com exce56o da primeira
oposi56o binria *no literriaNliterria,# as demais *implcitaNexplcita&
corroboradoraNcontestatria, n6o constituem tipos de aluses- re'erem2se# na verdade#
8s maneiras pelas quais estas podem se mani'estar nos textos *implcita ou
explicitamente, e 8s 'un5Ges que elas podem exercer 'rente a elementos de textos
predecessores *corroborao ou contestao,& por esse motivo# as oposi5Ges binrias
implcitaNexplcita e corroboradoraNcontestatria n6o 'oram mencionadas por ?arl
7iner *1BK,# por enri 7orier *1B, ou por Carlos Ceia *DAA, nos seus estudos em
torno da classi'ica56o das aluses% 7assaud 7oiss# no entanto# prestou2nos j um
rande servi5o# por meio das palavras que empreou para conceituali4ar aluso# porque#
em poucas lin(as# ele apresentou aluns tra5os t"picos dela *relacionados 8
cateori4a56o# a 'ormas de mani'esta56o e a 'un5Ges, que s6o tambm inerentes 8
intertextualidade& assim# os leitores poder6o perceber# desde j# o qu6o prxima esta
est daquela# ou aquela desta%
/e acordo com 7oiss# 7iner classi'icou a aluso como- estrutural# que ocorre
quando um autor vale2se da estrutura de uma determinada obra para escrever a sua&
formal# quando um poeta utili4a as rimas de outro na sua composi56o& imitativa# por
meio da qual um autor# de 'orma espec"'ica# enrica ou parod"stica# remete2se 8 obra de
outro escritor& metafrica# 0quando a men56o desempen(a papel mais complexo#
entran(ada no contexto meta'rico em que se insere *7oiss# DA11# p% 1B,& pessoal# a
partir da qual o autor aponta para acontecimentos relevantes de sua vida& ou tpica#
sempre que um texto re'ere2se a 'atos recentes%
J 7orier propPs outra classi'ica56o- aluso !istrica# na qual ( uma re'erHncia a
um 'ato (istrico& aluso mitol"ica# sempre que ( men56o a um mito ou a uma'bula& aluso nominal# quando menciona um nome importante para a @ociedade# para
as CiHncias ou para as +rtes& ou aluso verbal# 0quando se re'ere a uma palavra
eradora de equ"voco *7oiss# DA11# p% 1B,%
?m DAA# Carlos Ceia procedeu a uma revis6o de tais estudos em torno do
'enPmeno da alusoe propPs a seuinte 'orma de classi'ica56o# que# con'orme podemos
notar# mescla as que 'oram propostas por ?arl 7iner e enri 7orier-
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!odemos distinuir os quatro seuintes tipos de alus6o# con'orme o objectode estudo- 1, #ominal# quando se re'ere a um nome prprio do con(ecimentoeral *Q,% D, $essoal# quando se re'ere a um indiv"duo do con(ecimento
particular do autor# podendo incluir2se nesta cateoria as auto2re'erHncias *Q,% R,%istrica# quando se re'ere a acontecimentos passados ou recentes *Q,% S,
Textual# quando se re'ere a textos preexistentes na tradi56o literria *Ceia# DAA,%
J sobre as rela5Ges entre aluso e parfrase e aluso e pardia# Carlos Ceia
assim se pronunciou-
pode2se di4er que a alus6o tem sempre um carcter meta'rico& porque condensanuma s express6o um conjunto de sini'icados interelacionados *sic, *Q,# temtambm um carcter para'rsico% + met'ora e a par'rase n6o devem ser# pois#condi5Ges di'erenciadoras dos vrios tipos poss"veis de alus6o *Ceia# DAA,%
9enmenos como a pardia e a stira podem recorrer 8 alus6o# mas porquetodos os tipos considerados podem servir2se destes recursos# n6o correcto 'alarde 0alus6o parod"stica e 0alus6o sat"rica como espcies di'erenciadas% *Q, ?ste
propsito de valida56o esttica e cient"'ica da alus6o e da cita56o n6o pode serpartil(ado pela pardia# que# pelo contrrio# n6o valida mas invalida o sentidooriinal parodiado% + alus6o e a cita56o baseiam2se numa rela56o decorrespondHncia verbal entre dois textos# ao passo que a pardia di'ere sempre dotexto que parodia% Como rera eral# certamente sujeita a excep5Ges# podemosdi4er que citamos eNou aludimos para comprovar um ponto 'orte e parodiamos
para mostrar uma 'raque4a *Ceia# DAA,%
O termo intertextualidade'oi cun(ado por Julia risteva# por volta da dcada de
sessenta# para se re'erir 8s rela5Ges dialicas que um texto mantm com outro*s,%
risteva# no entanto# n6o 'oi a primeira a perceber essas rela5Ges dialicas que os
textos estabelecem entre si% ?ssa quest6o j (avia sido levantada ( mais tempo% +s
ra"4es da intertextualidade# de acordo com F"tor 7anuel de +uiar e @ilva# devem ser
procuradas entre os estruturalistas% @aussure# com o seu conceito de ana"rama# 'oi o
primeiro a lan5ar as sementes do que mais tarde viria a ser c(amado de
intertextualidade% !or ana"ramapodemos entender o mesmo quepalavra&tema# ou seja#
uma palavra em torno da qual irradiam uma srie de outras# que estabelecem# com essa
palavra&tema# determinadas rela5Ges sintamticas% @aussure teria percebido que essa
palavra&tema estabeleceria sempre determinadas rela5Ges sintamticas com outros
vocbulos# independentemente do texto em que ela se encontrasse% ?nt6o# ele come5ou
a veri'icar o 0comportamento de uma mesma palavra&temaem textos di'erentes% +
aproxima56o dos mais variados textos# portanto# dava2se# para @aussure# a partir da
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palavra&temapor eles utili4ada% @ n6o podemos di4er que @aussure 'oi o primeiro a
tratar de intertextualidadeporque# quando 'alamos de intertextoou de intertextualidade#
estamos a tratar de estruturas linu"sticas que se encontram acima da mor'olica# como
a sinttica e a semntica% Um *ps2,estruturalista que se voltou para o estudo da
intertextualidadenos mbitos sinttico e semntico 'oi 7ic(el
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@ilva o'ereceu as seuintes de'ini5Ges de intertextualidade e intertexto-
0intertextualidadecomo a interac56o semitica de um texto com outro*s, texto*s,
*+uiar e @ilva# DAAK# p% KD,& 0intertextocomo o texto ou o corpusde textos com os
quais um determinado texto mantm aquele tipo de interac56o *+uiar e @ilva# DAAK# p%
KD,%
?m Teoria da Literatura# F"tor 7anuel de +uiar e @ilva assinalou a existHncia de
dois tipos de intertextualidade- a intertextualidade exoliterria# que podemos entender
como o diloo que uma obra literria estabelece com textos que n6o pertencem ao
mbito literrio& e a intertextualidade endoliterria# que a rela56o dialica que uma
obra literria estabelece com outras obras do mesmo Hnero% +inda sobre essa quest6o
em torno do*s, diloo*s, que uma obra literria estabelece com outros textos# n6o
podemos esquecer de que esse diloo pode ser !etero&autoral# quando uma obra
literria estabelece rela5Ges com obra*s, de outro*s, autor*es,# ou !omo&autoral# quando
uma obra literria estabelece contatos com obras do autor que a escreveu%
+ intertextualidade# para +uiar e @ilva# pode se mani'estar de duas 'ormas- de
modo explcito# atravs de citaes# dapardiae da imitao declarada& e de modo
implcito# ocultoou dissimulado# por meio de aluses%
:6o poder"amos concluir esta breve explana56o sobre intertextualidadesem que
'alssemos da importncia# para a 3iteratura# do diloo que as obras literrias
estabelecem entre si% !ara F"tor 7anuel de +uiar e @ilva# ra5as 8 intertextualidade
que n6o podemos 'alar em literatura puramente lLdica ou em divertimento ratuito% !ara
o estudioso portuuHs# atravs da intertextualidadeque uma obra literria a'irma ou
nea alo& da" ele 'alar nas funescorroboradora e contestatria *ousubversiva, da
intertextualidade% +funo corroboradora mani'esta2se# nas obras literrias# a partir de
citaese da imitao declarada# ou seja# quando uma obra literria rea'irma# con'irma#
valida ou exalta outra% J a 'un56o contestatria 'a42se sentir por meio da pardia#expediente pelo qual uma obra literria re'uta# invalida ou menospre4a outra%
+ de'ini56o de residual# certamente o termo que mais interessa a quem se propPs a
ler este ensaio# 'oi elaborada pelo cr"tico literrio
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passado e que# de aluma 'orma eNou por alum motivo# vieram 8 tona em um momento
(istrico ulterior ou se arrastaram por vrios per"odos (istricos posteriores ao da sua
oriem% Williams# no seu livro# deu a esses elementos culturais eNou a esses 'enPmenos
sociais os nomes residuale arcaico% Fale salientar que ele admitiu# j no come5o do seu
texto# a di'iculdade de se distinuir# na prtica# um do outro- 0ualquer cultura inclui
elementos dispon"veis do seu passado# mas seu luar no processo cultural
contemporneo pro'undamente varivel *Williams# 1BB# p% 1D,% 0!or XresidualY
quero di4er aluma coisa di'erente do XarcaicoY# embora na prtica seja di'"cil# com
'reqIHncia# distinui2los *Williams# 1BB# p% 1D,%
!ara
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do residual *distinuindo2se este do arcaico, que 'oi incorporada# em rande parteou totalmente# pela cultura dominante *Williams# 1BB# p% 1D,%
Um elemento cultural residual 'ica# (abitualmente# a certa distncia da culturadominante e'etiva# mas certa parte dele# certa vers6o dele em especial se o
res"duo vem de aluma rea importante do passado ter# na maioria dos casos#sido incorporada para que a cultura dominante ten(a sentido nessas reas*Williams# 1BB# p% 1DK,%
+lm disso# em certos pontos# a cultura dominante n6o pode permitir demasiadaexperiHncia e prticas residuais 'ora de si mesma# pelo menos sem um risco% Z
pela incorpora56o daquilo que ativamente residual pela reinterpreta56o#dilui56o# proje56o e inclus6o e exclus6o discriminativas que o trabal(o detradi56o seletiva se 'a4 especialmente evidente *Williams# 1BB# p% 1DK,%
Com base nesse conceito de residual# de urVe& e o de cristali*ao# de James /% /ana #
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modo a considerar como resduotudo aquilo que remanesce do passado# independente
de ter sido retomado de 'orma consciente ou inconsciente por parte de um indiv"duo ou
de um rupo ou camada social% +contece que !ontes# como muitos antroploos
contemporneosD# sabe das di'iculdades de se provar a *in,consciHncia de um ato
praticado por um indiv"duo ou por um arupamento social% ? assim c(eamos ao
conceito de resduovisto a partir da Teoria daResidualidade-
O resduo aquilo que resta de aluma cultura% 7as n6o resta como materialmorto%
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menos o texto ao qual determinada obra 'a4 re'erHncia% :6o esperamos que toda men56o
0intertextual esteja sempre presa# sinttico2semanticamente# 8 estrutura de um
determinado trec(o da obra re'erida# como queria
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textuais podem acabar c(amando a aten56o para questGes mais pro'undas# culturais% 9oi
o que aconteceu no nosso caso# em que as alusese as intertextualidades0clssicas
presentes noAmads de Gaula# como mostraremos no prximo tpico# 'i4eram com que
nos voltssemos para o estudo do ima"inrio do antio (eri reco2romano que se
encontra# por essa novela# na 'iura do cavaleiro medieval%
)( Prese*+a $a ,uerra $e Troa *oAmads de Gaula: aluses. intertextose resduos
+ presen5a da $uerra de Troia noAmads de Gaula s se 'a4 sentir quando o
leitor entra em contato com o seuinte excerto da novela-
/espus que no me vistes# mis buenos se[ores# muc(as tierras estra[as (e
andado# randes aventuras (an pasado por m" que laras ser"an de contar& pero lasque ms me ocuparon . ma.ores peliros me atraxeron 'ue socorrer due[as .don4ellas en muc(os tuertos . aravios que les 'a4"an# porque ass" como stasnascieron para obedescer con 'lacos nimos . las ms 'uertes armas su.as seanlrimas . sospiros# as" los de 'uertes cora5ones estremadamente entre las otrascosas las su.as deven tomar# amparndolas# de'endindolas de aquellos que con
poca virtud las maltratan . des(onran# como los rieos \.] los romanos en lostiempos antiuos lo 'i4ieron# passando las mares# destru.endo las tierras#venciendo batallas# matando re.es . de sus reinos los ec(ando# solamente porsatis'a4er las 'uer5as . injurias a ellas 'ec(as# por donde tanta 'ama . loria dellosen sus istorias (a quedado# . quedar en cuanto el mundo durare *7ontalvo# DAAM#;;# pp% 1DMD21DMR,%
Clara est# nesse trec(o# a aluso *o termo deve ser mesmo esse, 'eita pela
personaem principal# o +mad"s *nesse momento da narrativa autodenominava2se
0Cavallero $rieo,# 8 $uerra de Troia& a'inal# teria sido pelo ultraje 'eito 8 elena#
devido a seu rapto por !ris# que 0os reos *Q, em tempos antios *Q, \atravessaram]
os mares# destruindo as terras# vencendo batal(as# matando reis e de seus reinos
expulsando2os# somente por satis'a4er as 'or5as e injLrias a ela 'eita *tradu56o nossa,%?sse discurso 'oi pro'erido por +mad"s aos seus quando ele soube que a sua amada#
Oriana# estava prometida ao imperador de
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/e todo modo# +mad"s# com esse discurso# apelou aos seus para que aissem em de'esa
de Oriana como os antios reos airam em de'esa de elena# destruindo os inimios%
+mad"s sabia que# com o apoio de seus amios# excelentes cavaleiros# a sua vitria
sobre o imperador de runeo# traxo seis cientos cavalleros% 3and"n# sobrin(ode don Cuadraante# traxo de ;rlanda seis cientos cavalleros% ?l re. 3adasn de
?spa[a embi a su (ijo don >rian de 7onjaste dos mil cavalleros% /on $andalestraxo del re. 3anuines de ?scocia# padre de +rajes# mil . quinientos cavalleros%
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3a ente del ?mperador de Constantinopla que traxo $astiles# su sobrin(o# 'ueronoc(o mil cavalleros% Todas estas entes que la istoria cuenta llearon a ^nsola9irme *7ontalvo# DAAM# ;;# p% 1SDD,%
Trata2se# como se pode 'acilmente notar# do rol de (eris que 'oram ajudar
+mad"s contra os (omens que estavam a servi5o do rei 3isuarte# outrora seu rande
amio# quase pai% ?ssa lista lembra imenso o catloo das naus presente no Canto ;; da
+ladaou aquele presente na,neida# que mostra quem 'oram os apoiadores de ?neias
contra 3atino e Turno% + derrota de !at"n deu2se# primeiramente# por mar# como nos
mostra esta passaem- 0_ ass" se 'i4o que# desbaratada la 'lota de los romanos .
muertos muc(os . los otros presos# 'ue por nosotros tomada . socorrida esta !rincesa
\Oriana] con todas sus due[as . don4elas *7ontalvo# DAAM# ;;# p% 1RS1,% :o entanto# a
sua derrocada deu2se de 'orma inequ"voca num embate que travou contra +mad"s#
tempos depois%
+pesar de a $uerra de Troia ter sido matria principal das duas randes epopeias
da $rcia antia +ladae -disseia# devemos di4er que n6o parece ter sido delas#
ou de suas losas medievais# que o*s, autor*es, eNou o re'undidor do Amads de Gaula
'oi*'oram, retirar inspira56o para a elabora56o do episdio em causa- o do con'lito entre
+mad"s e !at"n% ;sso porque# seundo 9ernando $me4
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?n cuanto a los autores de los romansmedievales es evidente que se trata de(ombres esencialmente cultos- conocen el lat"n . poseen una importante culturaclsica% !ara componer sus obras toman materiales de la literatura latina .conocen con pro'undidad las obras de Firilio . Ovidio *$il2+lbarellos# 1BBB# p%1M,%
Una arquitectura narrativa de estas dimensionesSrequiere de la acumulacin detodas las 'uentes posibles que los `auctores medievales pudieran allear& laantiIedad clsica 'ija sus imenes en obras tan consultadas como las
(etamorfosis o las %eroidas& Firilio aporta interpretaciones . secuelasarumentales *$me4
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sculo E;F e arriscar"amos di4er# aqui# que at mesmo depois desse per"odo #
quando a +lada ainda n6o tin(a sido tradu4ida ou losada# os autores do 7edievo
tin(am o Dirio da Guerra de Troia e a %istria da Destruio de Troia como os
0texto\s] ms unitario\s] . abarcador\es] de que se dispon"a *Cristbal 3pe4# DAA1# p%
1R,# 8 poca# sobre o assunto%
O tema *comum, sobre o qual versam os textos de /"ctis e /ares a $uerra de
Troia e a componente blica desses escritos s6o apenas dois pontos que os
aproximam das epopeias da +ntiuidade Clssica% Os outros s6o os inLmeros diloos
que eles estabelecem com a +lada# com a -disseia e com a ,neida# no n"vel da
intertextualidade# quando corroboram ou re'utam o que nelas vai dito& alis# mais
re'utam que corroboram# visto que o Dirio da Guerra de Troia e a %istria da
Destruio de Troia0pretenden ser testemonios coetneos# autnticos . 'idedinos# de
la propia uerra de Tro.a# anteriores# por tanto# a omero *Cristbal 3pe4# DAA1# p%
11,& ou seja# re'utar omero e Fer"lio# poetas renomados da +ntiuidade Clssica#
sini'icava# tanto para /"ctis quanto para /ares# dotar ainda mais a sua obra que se
queria sobretudo (istrica# n6o esque5amos de verossimil(an5a%
ODirio da Guerra de Troiae a%istria da Destruio de Troiatambm aludem
a episdios mitolicos que n6o est6o pela +lada# pela -disseiaeNou pela,neida% Um
desses episdios aquele que di4 respeito 8 morte de Ulisses pelas m6os de seu 'il(o#
Telono# que podemos encontrar pelo texto de /"ctis% Outro o que remonta 8
destrui56o da mural(a de Troia por rcules# nos tempos de 3aomedonte# devido a um
perjLrio de acordo com a vers6o de /"ctis ou a uma injLria seundo a vers6o
de /ares que este cometeu com rela56o 8quele%
?ste episdio da destrui56o de Troia por rcules bem como o do assassinato
de Ulisses por Telono tambm se encontra pelo Amads de Gaula# motivo pelo
qual o mencionamos% O narrador desta novela de cavalaria citou2o para exempli'icar oque costumava acontecer aos reis perjuros e soberbos- eles acabavam por se dar mal em
alum momento%
:a nossa opini6o# o Dirio da Guerra de Troia e a %istria da Destruio de
Troia in'luenciaram o*s, autor*es, e o re'undidor do Amads apenas quanto aos
episdios mitolicos# pois percebemos que esta novela de cavalaria remete2se# de
aluma 'orma# 8s trHs (istrias que podemos encontrar pelos textos de /"ctis e /ares&
qual sejam- a de Jas6o e dos demais aronautas em busca do velocino de ouro# por meiode uma aluso mitol"ica& a da $uerra de Troia *seus antecedentes ou sua causa# o seu
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desenrolar e as suas consequHncias,# por meio de aluses mitol"icas e de resduos
clssicos& e a do assassinato de Ulisses pelas m6os de seu 'il(o bastardo# Telono# por
meio de um resduo clssico% :oAmads de Gaula# ( uma aluso8 destrui56o do porto
de @imeonta por rcules# ocasi6o em que este (eri deu es"one# a 'il(a de
3aomedonte# a Telmaco% !raticamente todas as randes obras da +ntiuidade Clssica
+lada# -disseia# ,neidae (etamorfoses mencionam este episdio& no entanto#
somente a%istria da Destruio de Troia# de /ares# aponta o porto de @imois como
aquele que 'oi destru"do por rcules% O episdio do assassinato de Ulisses por
Telono# seu 'il(o bastardo# que teria seundo 7aria aixa ;dade
7dia de romances a novelas de cavalaria *entre estas# o Amads de Gaula,#
passando por obras que se queriam (istricas e por crPnicas 'oram mesmo enormes&
o que s re'or5a a nossa tese de que 'oram sobre os seus trHs episdios mitolicos
*0Jas6o e os demais aronautas em busca do velocino de ouro# 0$uerra de Troia e0+ssassinato de Ulisses por Telono, que os escritores do 7edievo primeiro
>enot de @ainte27aure& depois /% +l'onso E *ou alum a seu mando,# $uido de
Colonna# 3eomarte etc% alicer5aram suas (istrias em torno da matria troiana% Os
poemas de Ov"dio *(etamorfoses# %eroidasQ,# que tambm in'luenciaram 'ortemente
aluns desses autores notadamente /% +l'onso E *ou alum por ele indicado,#
$uido de Colonna e 3eomarte # teriam ajudado a desenvolver mel(or esses trHs
episdios# acrescentando2l(es personaens *7edeia# +polo# CirceQ, e dotando as jexistentes *os (eris reco2romanos# por exemplo, de novos comportamentos# de novas
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(abilidades ou# simplesmente# de novas in'orma5Ges acerca de suas vidas# relacionadas
8s suas concep5Ges# aos seus nascimentos# 8s suas exposi5Ges# 8s suas in'ncias# 8s suas
juventudes# 8s suas 'orma5Ges inicitica eNou aos seus ritos de passaem% atal(a dos 3pitas e Centauros, e personaens mitolicos
*7edeia# +polo# CirceQ, somente encontrveis pelas obras ovidianas% /"ctis e /ares
*mas tambm Ov"dio, 'oram# portanto# os escritores da +ntiuidade Clssica que mais
'orte in'luHncia exerceram sobre os da >aixa ;dade 7dia# suplantando mesmo Fer"lio#
cuja in'luHncia s iria se 'a4er sentir# pelo 7edievo# a partir do sculo EF;% +ssim#
temos# como disse Ficente Cristbal 3pe4 no pre'cio que escreveu 8s edi5Ges
castel(anas doDirio da Guerra de Troia# de /"ctis# e da%istria da Destruio de
Troia# de /ares# a partir destas obras e ao lono de todo o 7edievo 0una
intertextualidad en cadena *Cristbal 3pe4# DAA1# p% 11,% +penas completar"amos-
uma intertextualidade endo e exoliterria# visto que ocorreu entre textos literrios e
n6o2literrios& !etero&autoral# j que envolveu obras que sabemos terem sido escritas
por di'erentes autores& e# na sua esmaadora maioria# corroboradora# porque
para'rsicas# essas obras# uma ve4 que repisavam os conteLdos dos textos de /"ctis e
/ares%
O resduoem torno do con'lito entre +mad"s e !at"n# acreditamos ter 'icado claro#
di4 respeito 8 retomada que 'oi 'eita da $uerra de Troia a partir da trans'iura56o de
personaens *nova roupaem, e mesmo da prpria situa56o em que se desenrolou a
contenda# de modo a quase perdermos a re'erHncia mitolica que o oriinou% + redeintertextualque se deu entre os textos da ;dade 7dia# a partir das obras de /"ctis e
/ares# certamente ajudou nessa 0dilui56o da (istria em torno da $uerra de Troia#
'acilitando a sua reelabora56o residualpor parte do*s, autor*es, eNou do re'undidor do
Amads de Gaula%
CONCLUS&O
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7/25/2019 [Jos William Craveiro Torres] Amads versus Patn: Resduo de um Conflito.
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+o cabo de tudo o que 'oi dito# acreditamos ter 'icado claro que o Amads de
Gaula# em boa medida# recupera# de modo residual# os episdios mitolicos presentes
no Dirio da Guerra de Troia# de /"ctis# e na %istria da Destruio de Troia# de
/ares- 'oi o que procuramos mostrar a partir das aluses8 (istria da $uerra de Troia
que podemos encontrar esparidas pela prpria novela e da rede intertextual que
sabemos ter existidoNexistir entre as obras de /"ctis e /ares e as narrativas medievais#
em verso ou em prosa# 'iccionais ou de teor (istrico# da >aixa ;dade 7dia%
Tambm esperamos ter dado aluma contribui56o quanto 8s di'eren5as e 8s
semel(an5as existentes entre as aluses literrias e as intertextualidades# n6o raro
tomadas umas pelas outras%
REFER/NCIAS 0I0LIO,R1FICAS
+uiar e @ilva# Fitor 7anuel de *DAAK,% Teoria da Literatura% Coimbra- +lmedina%
Ceia# Carlos *DAA,%,&Dicionrio de Termos Literrios% Capturado em DM aosto DA1#de (ttp-NN)))%edtl%com%ptNbusiness2director.NKBNalusaoN
Cristbal 3pe4# Ficente *DAA1, *trad%,%Diario de la Guerra de Troia de Dictis 0retensey %istoria de la Destruccin de Troya de Dares 1ri"io% 7adrid- ?ditorial $redos%
$il2+lbarellos# @usana *1BBB,% 2Amads de Gaula3 y el "/nero caballeresco en ,spa4a%Falladolid- @ecretariado de !ublicaciones e ;ntercambio ?ditorial N Universidad deFalladolid%
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