jornalmicrofonia#05

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MICROFONIA MÚSICA .FILME .HQ .SHOW Ano 1 nº 05 João Pessoa, Outubro 2011 Bráulio Tavares - O Rock da Silibrina Bráulio Tavares é escritor, poeta, compositor e roqueiro. Se você nunca ouviu falar no raio da silibrina, deve estar se perguntando que raios de rock é esse?! Pois bem, a seguir um pouco da história desse cara de Campina Grande (PB) que ganhou o mundo com seus versos. Sim, só um pouco porque nem uma vida inteira é suficiente para saber de toda história e histórias de Bráu- lio Tavares! Quem ou o que lhe levou para a música, especifica- mente para o rock? Eu sou a geração que testemunhou o desembarque do rock no Brasil, por incrível que pareça! (risos) Eu sou da geração Beatles, Rolling Stones e Bob Dylan. Sou do tempo do pop norte-americano da época de Elvis. Nunca me liguei muito em Elvis não, gostava de Elvis, mas era um cantor como qualquer outro. Era a época de Neil Se- daka... The Platters... Sim, The Platters também. Pronto! Um que sempre gos- tei: Ray Charles, eu gostava desde os 10 anos de idade. Ray Charles cantava demais. A gente tinha “I Can’t Stop Loving You”, eu e minha irmã Clotilde, uma pessoa mui- to importante nesse aspecto. Ela é três ou quatro anos mais velha do que eu. Ela era o pára-raios que atraia as coisas todas. Eu tinha 10 anos e ela 14, já tocava violão, ia pra festas... Eu não fazia nada e ela já fazia tudo! E eu era a oportunidade de diálogo dela em casa, era a caixa de ressonância dela: a gente tem que ouvir a rádio tal, que está tocando um tal de Little Richard, dizem que é muito bom... Chubby Checker, que foi na época do twist... A gente passou por esse negócio todo. Agora, só com os Beatles eu comecei a sentir uma coisa diferente. Beatles foi de fato um choque. Os Beatles que ouvi pela primeira vez com 13, 14 anos... Você lembra qual música ouviu? Foi “I Wanna Hold Your Hand”. Lembro a primeira foto dos Beatles que eu vi, numa matéria da revista O Cru- zeiro. Uma foto de página inteira de Ringo Starr com aquele cabelo, aquela venta, óculos escuros e um cigarro no canto da boca. Olhei assim e disse: que negócio louco da pleura! A matéria dizia: Os Beatles, novo conjunto que está fazendo sucesso... Aí eu disse: Beatles, peraí – deve ter alguma coisa a ver com beatnik, da literatura, do qual que eu já tinha ouvido falar... Gostei, legal isso. Depois já era uma febre! Entre ouvir “I Wanna Hold Your Hand” e saber de umas 20 músicas, passaram-se dois meses! Onde você ouviu? Na rádio Borborema e Cariri que eram as que mais toca- vam músicas. Na minha casa se ouvia rádio o dia inteiro. A primeira televisão entrou lá em casa quando eu tinha 15 anos de idade. Eu sou da geração rádio! Isso é uma coisa muito boa. No tempo em que o rádio era uma coisa livre, o que não é mais, você ficava sujeito a variadas influências. Os donos dos programas botavam as músicas que eles gostavam. Então, das 3 às 4 da tarde se ouvia Elvis, Neil Sedaka, Pat Boone, Paul Anka. Das 4 às 5 entrava um cara que gostava de samba, e você ouvia Elza Soares, Roberto Silva, Miltinho, Demônios da Garoa. Isso nos deu uma formação não preconceituosa. Você se ligava na música antes de saber que existiam rótulos. Hoje os jovens ouvem falar nos rótulos e vão ouvir se a música presta, mas o ideal é você ouvir a música primeiro e dizer: Quem é esse cara? A música hoje está relacionada com a imagem, com o vídeo-clipe e isso tirou um pouco da música em si... Um amigo meu estava ouvindo um som em casa, um filho com 5 anos de idade ficou na sala brincando, de re- pente começou a olhar e disse: Cadê, pai? O pai disse: O quê? A criança respondeu: A música. E ele: Aí, não tá to- cando a música? Sim, mas onde está passando a música? A criança estava procurando a imagem... Vários artistas dos anos 60, 70, a gente só teve acesso as imagens com a internet, youtube, etc... Depois que inventaram o youtube, às vezes eu fico tentando lembrar épocas, bandas que a gente ouvia... Como The Tremeloes... Eu só tinha um disco, via o nome, e agora estou vendo os caras pela primeira vez! The Hollies, Herman Hermits, Lovin’ Spoonful (cantaro- lando “Daydream”). “O problema ideológico do rock é o endeusamento da transgressão” Quando você começou a tocar? Foi também a sua irmã Clotilde que despertou você pra isso? Nós tivemos uma infância interligada, até os 15 anos. Ela começou a aprender violão com um vizinho nosso, e passava os acordes para mim. Quando eu fiz 16 anos meu pai me deu um violão. A gente ficava horas tocan- do no terraço, ela solava, eu acompanhava. Eu aprendi muita música... Eu não toco bem violão, meu violão é limitado, mas é o seguinte: a música tem uns esquemas... Os métodos de violão naquele tempo eram assim: pri- meira, segunda, terceira maior, terceira menor, etc... Era um esquema para você acompanhar 80% das músicas. Eu aprendi a tocar violão tocando bolero, valsa, sambas antigos, Noel Rosa... Então eu dava a impressão de saber muitas músicas, sem saber. Eu toco “Garota de Ipanema” em três ou quatro acordes. Amigos meus, que são grandes músicos, me dizem assim: “Você toca as músicas errado! Você não faz os acordes certos das músicas, mas você toca o suficiente para um monte de gente que não en- tende nada de música, achar que tá tudo certo”. Eu sou violonista para mesa de bar. Numa mesa de bar você não está querendo saber se o cara errou a sétima aumentada, a nona diminuta (risos), você só quer se divertir. Se você souber manter os baixos dentro do tom, fazer a sequencia normal, os breques... Eu não aprendi a tocar pensando em tocar rock, samba ou coisa nenhuma, era pensando em tocar qualquer tipo de música Quando você começou a compor? Por volta dos 16, 17 anos... Eu entrei para o Cineclube de Campina Grande, e conheci uma turma de beatlemanía- cos, principalmente Jakson Agra, já falecido, grande amigo meu. Foi a pessoa que me aplicou Beatles. Pra ter uma idéia, ele tinha duas coleções completas dos LPs dos Beatles, uma guardava e a outra ele ouvia. Quando gastava a que ele ouvia, ele vendia e começava a ouvir a que estava guardada, e comprava outra para guardar! E ele sabia tudo, né? Foi quando comecei a ouvir os Beatles por ordem cronológica, porque pra mim Eleanor Rigby e She Loves You eram da mesma época... Comecei a ou- vir os Rolling Stones também por causa dele, e também Bob Dylan. Eu tava falando um dia desses com o meu filho que tem 19 anos, mora comigo no Rio, e eu tinha mandado buscar uma caixa grande de vinis que estavam noutro lugar. Ele disse: Que legal, pai, tem muitos discos de Dylan! E eu: Tenha cuidado neles, e tenha cuidado em dois que são: Highway 61 e Bringin’ it all back home, porque são os primeiros discos de Dylan que ouvi, quan- do tinha a sua idade! Você pode dizer que Dylan foi o grande impacto na hora compor? Uma das grandes influências, maior do que Beatles? Sim. Eu desenvolvi, por ser mais letrista, um esquema como o da canção folclórica inglesa, irlandesa, em que Dylan se inspirou muito também. É uma estrofe musical que vai se repetindo, com letra diferente, e depois vem um estribilho. É o esquema básico de Dylan, e das can- ções folclóricas em geral. É isso que eu gosto de fazer! Isso me permite compor uma melodia limitada, mas fácil de decorar. E eu fico com essa melodia na cabeça, dias e mais dias, andando, indo na padaria, no metrô, cantaro- lando e botando a letra na cabeça, porque é mais fácil para mim botar a letra... O que é que vem primeiro, a música ou a letra? Às vezes você tem primeiro a idéia da letra, outras vez- es você tem a idéia da música. Geralmente eu começo bolando um esquema de acordes no violão, uma coisa gostosa de fazer e que eu cante com certa espontanei- dade. Não adianta eu querer fazer uma coisa Tom Jobim, porque não vou nem cantar, nem tocar. Então eu digo: isso aqui ta ótimo pra cantar, e começo a cantarolar bem muito. Tempos atrás eu tinha a obrigação de terminar uma letra no mesmo dia! Muitas músicas minhas são as- sim, inclusive “Balada do Andarilho Ramón” que é uma das minhas músicas mais longas, foi feita numa tarde, a letra inteira numa tarde. Hoje eu tenho músicas que estou há cinco anos cantarolando... Bob Dylan comenta no livro do Bill Flanagan – Den- tro do Rock - que fez Blowin’ in the Wind em 15 minu- tos... Provavelmente! Eu gosto muito desse livro... Alias, nesse mesmo livro, Dylan comenta que Ballad in Plain D é a única música que ele não deveria ter feito... Eu concordo... Você também tem alguma composição que se arre- pende de ter feito? Tenho várias, mas eu tenho uma vantagem em relação a Dylan... Eu nunca gravei! (risos) Só quem conhece sou eu! É uma grande vantagem! Às vezes você tem uma música legal, e porque tem 20 e poucos anos, bota uma letra falando de tais coisas... Dylan brigou com a namorada e fez essa música, cheia de azedume, dizendo coisas desagradáveis, pegou pesado! Ficou deselegante. E Dylan tem canções de dizer adeus de uma maneira altamente elegante, cavalheiresca, e o pior que deixa a mulher mais apaixonada ainda! (risos). Eu anoto coisas nos cadernos, e quando estou de bobeira pego essas coisas antigas e vou dar uma geral... Daí eu digo: “Essa música aqui tem uma levada boa, só essa le- tra que estraga...” E boto outra letra! Na maior, tranqüilo! E meus amigos dizem: “Eu já ouvi essa música...” “Ah, mas você ouviu quando era isso, aquilo...” “Tem razão, pô cara, aquela letra era ótima!” E eu digo: “Tá louco!” Mas eu só faço isso porque é uma música desconhecida, se eu tivesse gravado não poderia melhorar a letra depois... E daí eu pensei: Por que não? Quem me impede de refazer uma música minha por completo? Tem alguma lei? E se tivesse alguma lei? Melhor ainda, porque eu diria: Estou Fotos Sarah Falcão

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MICROFONIA MÚSICA .FILME .HQ .SHOWAno 1 nº 05 João Pessoa, Outubro 2011

Bráulio Tavares - O Rock da SilibrinaBráulio Tavares é escritor, poeta, compositor e roqueiro. Se você nunca ouviu falar no raio da silibrina, deve estar se perguntando que raios de rock é esse?! Pois bem, a seguir um pouco da história desse cara de Campina Grande (PB) que ganhou o mundo com seus versos. Sim, só um pouco porque nem uma vida inteira é suficiente para saber de toda história e histórias de Bráu-lio Tavares!

Quem ou o que lhe levou para a música, especifica-mente para o rock?Eu sou a geração que testemunhou o desembarque do rock no Brasil, por incrível que pareça! (risos) Eu sou da geração Beatles, Rolling Stones e Bob Dylan. Sou do tempo do pop norte-americano da época de Elvis. Nunca me liguei muito em Elvis não, gostava de Elvis, mas era um cantor como qualquer outro. Era a época de Neil Se-daka...

The Platters...Sim, The Platters também. Pronto! Um que sempre gos-tei: Ray Charles, eu gostava desde os 10 anos de idade. Ray Charles cantava demais. A gente tinha “I Can’t Stop Loving You”, eu e minha irmã Clotilde, uma pessoa mui-to importante nesse aspecto. Ela é três ou quatro anos mais velha do que eu. Ela era o pára-raios que atraia as coisas todas. Eu tinha 10 anos e ela 14, já tocava violão, ia pra festas... Eu não fazia nada e ela já fazia tudo! E eu era a oportunidade de diálogo dela em casa, era a caixa de ressonância dela: a gente tem que ouvir a rádio tal, que está tocando um tal de Little Richard, dizem que é muito bom... Chubby Checker, que foi na época do twist... A gente passou por esse negócio todo. Agora, só com os Beatles eu comecei a sentir uma coisa diferente. Beatles foi de fato um choque. Os Beatles que ouvi pela primeira vez com 13, 14 anos...

Você lembra qual música ouviu?Foi “I Wanna Hold Your Hand”. Lembro a primeira foto dos Beatles que eu vi, numa matéria da revista O Cru-zeiro. Uma foto de página inteira de Ringo Starr com aquele cabelo, aquela venta, óculos escuros e um cigarro no canto da boca. Olhei assim e disse: que negócio louco da pleura! A matéria dizia: Os Beatles, novo conjunto que está fazendo sucesso... Aí eu disse: Beatles, peraí – deve ter alguma coisa a ver com beatnik, da literatura, do qual que eu já tinha ouvido falar... Gostei, legal isso. Depois já era uma febre! Entre ouvir “I Wanna Hold Your Hand” e saber de umas 20 músicas, passaram-se dois meses!

Onde você ouviu?Na rádio Borborema e Cariri que eram as que mais toca-vam músicas. Na minha casa se ouvia rádio o dia inteiro. A primeira televisão entrou lá em casa quando eu tinha 15 anos de idade. Eu sou da geração rádio! Isso é uma coisa muito boa. No tempo em que o rádio era uma coisa livre, o que não é mais, você ficava sujeito a variadas influências. Os donos dos programas botavam as músicas que eles gostavam. Então, das 3 às 4 da tarde se ouvia Elvis, Neil Sedaka, Pat Boone, Paul Anka. Das 4 às 5 entrava um cara que gostava de samba, e você ouvia Elza Soares, Roberto Silva, Miltinho, Demônios da Garoa. Isso nos deu uma formação não preconceituosa. Você se ligava na música antes de saber que existiam rótulos. Hoje os jovens ouvem falar nos rótulos e vão ouvir se a música presta, mas o ideal é você ouvir a música primeiro e dizer: Quem é esse cara?

A música hoje está relacionada com a imagem, com o vídeo-clipe e isso tirou um pouco da música em si...Um amigo meu estava ouvindo um som em casa, um filho com 5 anos de idade ficou na sala brincando, de re-pente começou a olhar e disse: Cadê, pai? O pai disse: O quê? A criança respondeu: A música. E ele: Aí, não tá to-cando a música? Sim, mas onde está passando a música?

A criança estava procurando a imagem...Vários artistas dos anos 60, 70, a gente só teve acesso as imagens com a internet, youtube, etc...Depois que inventaram o youtube, às vezes eu fico tentando lembrar épocas, bandas que a gente ouvia... Como The Tremeloes... Eu só tinha um disco, via o nome, e agora estou vendo os caras pela primeira vez! The Hollies, Herman Hermits, Lovin’ Spoonful (cantaro-lando “Daydream”).

“O problema ideológico do rock é o endeusamento da

transgressão”

Quando você começou a tocar? Foi também a sua irmã Clotilde que despertou você pra isso?Nós tivemos uma infância interligada, até os 15 anos. Ela começou a aprender violão com um vizinho nosso, e passava os acordes para mim. Quando eu fiz 16 anos meu pai me deu um violão. A gente ficava horas tocan-do no terraço, ela solava, eu acompanhava. Eu aprendi muita música... Eu não toco bem violão, meu violão é limitado, mas é o seguinte: a música tem uns esquemas... Os métodos de violão naquele tempo eram assim: pri-meira, segunda, terceira maior, terceira menor, etc... Era um esquema para você acompanhar 80% das músicas. Eu aprendi a tocar violão tocando bolero, valsa, sambas antigos, Noel Rosa... Então eu dava a impressão de saber muitas músicas, sem saber. Eu toco “Garota de Ipanema” em três ou quatro acordes. Amigos meus, que são grandes músicos, me dizem assim: “Você toca as músicas errado! Você não faz os acordes certos das músicas, mas você toca o suficiente para um monte de gente que não en-tende nada de música, achar que tá tudo certo”. Eu sou violonista para mesa de bar. Numa mesa de bar você não está querendo saber se o cara errou a sétima aumentada, a nona diminuta (risos), você só quer se divertir. Se você souber manter os baixos dentro do tom, fazer a sequencia normal, os breques... Eu não aprendi a tocar pensando em tocar rock, samba ou coisa nenhuma, era pensando em tocar qualquer tipo de música

Quando você começou a compor?Por volta dos 16, 17 anos... Eu entrei para o Cineclube de Campina Grande, e conheci uma turma de beatlemanía-cos, principalmente Jakson Agra, já falecido, grande amigo meu. Foi a pessoa que me aplicou Beatles. Pra ter uma idéia, ele tinha duas coleções completas dos LPs dos Beatles, uma guardava e a outra ele ouvia. Quando gastava a que ele ouvia, ele vendia e começava a ouvir a que estava guardada, e comprava outra para guardar! E ele sabia tudo, né? Foi quando comecei a ouvir os Beatles por ordem cronológica, porque pra mim Eleanor Rigby e She Loves You eram da mesma época... Comecei a ou-

vir os Rolling Stones também por causa dele, e também Bob Dylan. Eu tava falando um dia desses com o meu filho que tem 19 anos, mora comigo no Rio, e eu tinha mandado buscar uma caixa grande de vinis que estavam noutro lugar. Ele disse: Que legal, pai, tem muitos discos de Dylan! E eu: Tenha cuidado neles, e tenha cuidado em dois que são: Highway 61 e Bringin’ it all back home, porque são os primeiros discos de Dylan que ouvi, quan-do tinha a sua idade!

Você pode dizer que Dylan foi o grande impacto na hora compor? Uma das grandes influências, maior do que Beatles?Sim. Eu desenvolvi, por ser mais letrista, um esquema como o da canção folclórica inglesa, irlandesa, em que Dylan se inspirou muito também. É uma estrofe musical que vai se repetindo, com letra diferente, e depois vem um estribilho. É o esquema básico de Dylan, e das can-ções folclóricas em geral. É isso que eu gosto de fazer! Isso me permite compor uma melodia limitada, mas fácil de decorar. E eu fico com essa melodia na cabeça, dias e mais dias, andando, indo na padaria, no metrô, cantaro-lando e botando a letra na cabeça, porque é mais fácil para mim botar a letra...

O que é que vem primeiro, a música ou a letra?Às vezes você tem primeiro a idéia da letra, outras vez-es você tem a idéia da música. Geralmente eu começo bolando um esquema de acordes no violão, uma coisa gostosa de fazer e que eu cante com certa espontanei-dade. Não adianta eu querer fazer uma coisa Tom Jobim, porque não vou nem cantar, nem tocar. Então eu digo: isso aqui ta ótimo pra cantar, e começo a cantarolar bem muito. Tempos atrás eu tinha a obrigação de terminar uma letra no mesmo dia! Muitas músicas minhas são as-sim, inclusive “Balada do Andarilho Ramón” que é uma das minhas músicas mais longas, foi feita numa tarde, a letra inteira numa tarde. Hoje eu tenho músicas que estou há cinco anos cantarolando...

Bob Dylan comenta no livro do Bill Flanagan – Den-tro do Rock - que fez Blowin’ in the Wind em 15 minu-tos...Provavelmente! Eu gosto muito desse livro...

Alias, nesse mesmo livro, Dylan comenta que Ballad in Plain D é a única música que ele não deveria ter feito...Eu concordo...

Você também tem alguma composição que se arre-pende de ter feito?Tenho várias, mas eu tenho uma vantagem em relação a Dylan... Eu nunca gravei! (risos) Só quem conhece sou eu!

É uma grande vantagem!Às vezes você tem uma música legal, e porque tem 20 e poucos anos, bota uma letra falando de tais coisas... Dylan brigou com a namorada e fez essa música, cheia de azedume, dizendo coisas desagradáveis, pegou pesado! Ficou deselegante. E Dylan tem canções de dizer adeus de uma maneira altamente elegante, cavalheiresca, e o pior que deixa a mulher mais apaixonada ainda! (risos). Eu anoto coisas nos cadernos, e quando estou de bobeira pego essas coisas antigas e vou dar uma geral... Daí eu digo: “Essa música aqui tem uma levada boa, só essa le-tra que estraga...” E boto outra letra! Na maior, tranqüilo! E meus amigos dizem: “Eu já ouvi essa música...” “Ah, mas você ouviu quando era isso, aquilo...” “Tem razão, pô cara, aquela letra era ótima!” E eu digo: “Tá louco!” Mas eu só faço isso porque é uma música desconhecida, se eu tivesse gravado não poderia melhorar a letra depois... E daí eu pensei: Por que não? Quem me impede de refazer uma música minha por completo? Tem alguma lei? E se tivesse alguma lei? Melhor ainda, porque eu diria: Estou

Fot

os S

arah

Fal

cão

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violando a lei! Dylan tem melodias idênticas com letras diferentes, com 15, 20 anos de diferença. Acho que o cara tem toda a autorização para ficar refazendo letra, refa-zendo música, tirando pedaços, ele é o dono!

Você falou em gravar... Você nunca gravou nada?Não, eu tenho muito shows gravados...

Eu tinha um desses shows que Edu, irmão de Edy Gonzaga (Cabruêra), gravou e um dia eu digitalizei a gravação da fita cassete...Foi de um show que fiz em Campina Grande. Eu já tive vontade de fazer um disco assim, “Braulio Tavares Ao Vivo”! Com uma faixa gravada em João Pessoa, outra no Rio, outra em São Paulo... Mas aí começam os problemas técnicos, equalizar som... Como eu gosto de controlar as coisas, ou eu daria para uma pessoa de total confiança, que não existe (risos) ou teria que ficar enfurnado num es-túdio resolvendo essas coisas. Mas eu não tenho tempo, e estúdio profissional, cheio de recursos, é algo muito caro. A primeira gravação de uma música minha foi por Elba Ramalho, “Caldeirão dos Mitos”, em 1980, foi a primeira vez que entrei num estúdio, no Rio. O processo é longo, complexo, você não tem controle total. Eu preferiria ter controle estético total sob o produto, ter o que eu tenho na literatura! Quando estou mexendo no texto, eu tenho poder total sobre aquilo.

Música sempre tem muita gente envolvida...Você convida alguém pra tocar no disco, o cara vem, toca e vai embora. Quando vai ouvir, não ficou legal... E ago-ra? Tira, deixa? Fica uma coisa chata, se você deixa é um erro, se você tira o cara vai reclamar... Mas não é impos-sível que eu venha a gravar um disco em estúdio um dia... Agora, no momento não tenho projeto nenhum...Em que momento você parou de compor? Quando estava produzindo textos para a televisão?Mesmo trabalhando na TV, quando você volta para casa de noite está tranqüilo, não tem que correr atrás. Você pega o violão, fica tocando sem compromisso, sem ser para atender uma encomenda. Uma coisa não empata a outra. Agora, já passei quase cinco anos sem terminar uma música, tocando pouco, compondo pouco. Algo que eu percebi a posteriori, é que me animo muito quando es-tou convivendo com quem compõe. Uma das épocas em que fiz mais músicas foi quando eu e Fuba morávamos juntos no Rio de Janeiro. Eu era casado com Emília e eu repartia a casa com Fuba. Era em Santa Teresa, a gente tinha acabado de chegar, todo mundo sem um tostão no bolso, não tinha o que fazer. A gente passava o dia inteiro em casa, tocando, ouvindo música e compondo. Porque ver os outros fazer me dá o que eu chamo de “a inveja boa”. Uma turma que me botou para compor a sério foi Fuba, Tadeu Mathias, Lula Queiroga, Lenine, Ivan San-tos, Alex Madureira...

Pedro Osmar também?Pedro Osmar menos... Eu sou muito fã e admirador de Pedro, mas nunca convivemos de ficar compondo, to-cando, porque ele nunca morou no Rio.

Lembro de uma foto bem antiga de você, Pedro e Fuba...Essa foto é de um show que a gente fez no Rio: eu, Pedro, Fuba, Jarbas Mariz e Paulinho Machado, que era tecla-dista e arranjador de Zé Ramalho na época, em 1982. Por incentivo e muita pressão de Pedro, a gente ensaiou e fez esse show. Teve uma coisa engraçada porque a gente não tinha título pro show. E daí prometi levar 30 títulos para o ensaio do dia seguinte. Passei a noite na máquina de escrever bolando títulos... Pedro escolheu o último que eu botei, que era assim: “E se alguém encostasse o Brasil na parede e pedisse para ver os documentos?” Esse foi o nome do show!

Esse título é a cara de Pedro mesmo!E ele disse: Você é um gênio! É exatamente isso! Mas eu guardei os outros, eu não jogo nada fora!

Você tem um texto onde você fala sobre como cortar um texto... Você tem o mesmo hábito para com a letra de uma música?Você tem cortar muito! Letra de música precisa ficar bem encaixada na melodia, você não pode se satisfazer com a

primeira escolha, que geralmente é um lugar comum. A primeira coisa que você pensa sempre parece com algo que você já ouviu. Quando estou compondo com outra pessoa e achamos legal, eu sempre digo – isso aqui é a primeira idéia! Tem outra idéia melhor escondida por trás dessa, e a gente só vai ver se tirar essa. Ou entrar por dentro dessa. A música está cheia de coisas que você diz: Esse verso poderia ter sido um verso banal, mas é um verso de Chico Buarque, de Caetano, de Bob Dylan. Ele, provavelmente, pensou esse verso banal e não se conten-tou: “Isso aqui qualquer um diria, eu tenho a obrigação de ir um pouco mais além”. É o senso de responsabilidade de quem é mais cobrado do que os outros. Quando você não é muito cobrado manda qualquer coisa, ninguém tá prestando atenção mesmo! Quando as pessoas esperam de você sempre o melhor, aí você vai mostrar se consegue dar sempre o melhor. Caras como Dylan, Lennon, Chico Buarque, Gilberto Gil, eu costumo comparar com quem joga buraco. No buraco, quando você já tem muitos pon-tos você é “vulnerável”, não pode baixar qualquer jogo, jogo pequeno, só pode baixar jogo grande, isso é estar vulnerável no buraco. Todo esse pessoal é vulnerável. Uma vez Elba Ramalho tava gravando um disco e eu levei algumas músicas. Ela ouviu mas não quis gravar, e eu perguntei por que. Ela disse: Ficou faltando alguma coisa. Aí perguntei o que já tava no disco. Ela disse, aca-bei de receber uma do Nando Cordel que será a faixa de abertura: “doida muito doida eu sou” (cantando). Quando terminou eu disse: Se eu mandasse um troço desse você gravava? E ela respondeu que não. Que era uma música de Nando, com quem ela se identificava, ia ser sucesso, porque ele é muito querido e faz esse tipo de música. “Agora, imagine eu cantando essa música sendo de Bráulio Tavares! As pessoas iriam dizer que Bráulio tava virando um picareta, imitando alguém pra vender, e que Elba estaria sendo maternalista porque está gravando um Bráulio de segunda ordem porque é amigo. Não pegaria bem pra ninguém”. E eu entendi: minhas músicas não estavam no nível que ela esperava. Um cara como Chico Buarque deve ser um terror pra compor, porque dele só se espera o melhor. Como Neymar ou Ronaldinho Gaúcho, não pode ser um gol bobo, tem que ser um gol de placa! Tem que ir atrás da segunda idéia, tem que cortar e re-escrever muito!

Jesuíno Oliveira, colaborador do jornal, lembrou de um episódio envolvendo os Sebomatos, onde você to-cava guitarra, que a banda foi obrigada a mudar do rock para o samba...Foi na boate do Treze em Campina Grande, a “Preto e Branco”, que funcionou nos anos 60/70, por trás do está-dio do Treze. A gente fazia cover dos Beatles, mas tam-bém tocava bandas brasileiras como Renato e Seus Blue Caps, Os Incríveis, Brazilian Beatles, samba. Aí subiu no palco um capitão do Exército, isso foi no tempo da dita-dura. Ele subiu no palco meio bêbado, e disse: “Vocês es-tão pensando que isso aqui é o que? Os Estados Unidos? Aqui é o Brasil, vocês tem que tocar música brasileira!” Tem um ditado antigo que diz: o problema da ditadura não é o ditador, é o guarda da esquina. Porque tudo que o guarda da esquina fizer está bem feito. Ele não era o gen-

EXPEDIENTE

Editores Responsáveis: Adriano Stevenson/Olga Costa(DRT – 60/85)Colaboradores:Jesuíno Oliveira Editoração:Josival Fonseca/Olga CostaIlustração:Josival FonsecaAgradecimentos:Erivan Silva Contato/Anúncios:3512 2330E-mail:[email protected]/jornalmicrofoniaTwitter:@jmicrofoniaTiragem:3.000 exemplares

eral Médici, mas era o guarda da esquina de Campina. Se ele quisesse acabar com aquela noitada ali, se quisesse le-var a gente preso, ele levava, quem é que ia dizer que não? Era outro tempo! Aí a gente se olhou e começou a tocar Martinho da Vila, que estava estourando. A gente tinha uma brincadeira na época, porque o pessoal queria muito que a gente tocasse Martinho da Vila, a gente cantava mu-sicas de Martinho com letras dos Beatles... Por exemplo (cantando) “Quem é do mar não enjoa/ não enjoa/chuva fininha é garoa/é garoa, e eu cantava – “In the town where I was born / lived a man who sailed the sea / and he told us of his life / in the land of submarines... / e quem é do mar não enjoa/não enjoa”. Versos dos Beatles na melodia de Martinho da Vila, a gente tirava umas ondas desse tipo.

“O Slayer toca pra caralho!”

Quando o rock começou a ficar chato?O rock fica chato ciclicamente. É como um carrossel, dá uma volta, e você diz: Lá está aquele cavalinho de novo! Aí aparece um punk rock... Aí aparece uma música ele-trônica... Aparece alguém que dá um chute no pau da bar-raca, vai tudo pelos ares, começa tudo de novo. O rock já tinha começado a ficar chato quando era só aquele negócio ‘meu amorzinho não sei viver sem você’, aí os Beatles se trancaram num estúdio e fizeram Revolver, Sgt. Pepper’s, Album Branco, Abbey Road e explodiu tudo! Porque o rock tava chato! Estava virando uma coisa só... Aí veio Rick Wakeman com seus arranjos sinfôni-cos, Emerson, Lake and Palmer e os punks disseram – ah meu amigo, vá se fuder! Isso aqui não é Concerto Para a Juventude não! (risos). Quando começa a ficar muito des-gastado, muita pose, aí aparece uma galera e dá uma in-

EDITORIALE faltava o editorial... Começamos a escrever quando chegou a notícia sobre Redson. E o edi-torial que nunca foi o último a ser feito, tinha ficado, pela primeira vez, no final da fila. Era a sincronicidade presente, como já citou diversas vezes em seus escritos o nosso entrevistado, Bráulio Tavares. Uma das colunas inaugural E O VENTO LEVOU... ser sobre uma banda punk. O punk, também citado em trecho da entrevista, quando indagamos BT sobre a chatice do rock. Tudo é cíclico. Tem ainda os zumbis que pre-cisam morrer para voltar a ‘vida’ como criatu-ras famintas por seres vivos - ZUMBILANDIA é a outra nova coluna que trata de tudo relacionado aos mortos-vivos. É o carrossel e a repetição dos cavalinhos. É o que o vento traz e o que o vento leva. E muitas vezes, o vento leva o que não queremos, inclusive as respostas de tantas perguntas, várias delas presentes numa canção de Dylan, que o vento também já levou. O mesmo vento que arrebatou Redson do Cólera. O que nos resta são as canções – aquelas que permanecem sussurrando baixinho – junto com os versos im-pregnados na mente. Porque no final, nem as can-ções nem os versos o vento não pode nos tirar.

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MICROFONIA 3

amente a transgressão. Tem que ter algum momento que você diz: “Tá, mas isso aqui fica, isso aqui tá certo, isso aqui eu não discuto, não questiono”. Uma grande ala do rock se impôs como sendo o som da transgressão, o som do ‘sou contra’. Tá beleza, vamos tirar isso aí, qual é a segunda idéia depois? Tem que ter uma segunda idéia. Se o mundo não é assim, vai ser como? O problema ide-ológico do rock é o endeusamento da transgressão, que é ótimo quando você está embaixo de uma ditadura. Mas quando acaba a ditadura e você está com 35, 40 anos de idade, não tem mais transgressão. Você tem que propor a construção de alguma coisa, porque a vida é construção e transgressão. Você constrói e depois quebra as barreiras que você construiu. Se você só construir e ficar preso lá dentro, fica cantando as músicas de Pat Boone até hoje, entende? Você tem que transgredir, ao mesmo tempo afir-mando alguma coisa. A transgressão musical tudo bem, porque na hora mesmo que você está compondo, você já está propondo uma maneira diferente. Agora, trans-gressão comportamental é mais sutil. É por isso que de 15 em 15 anos surge uma nova geração dizendo assim: Eu não tenho nada a ver com essas bichas gordas que es-tão aí, milionárias, ganhando Grammys, eu quero tocar fogo, explodir tudo, eu gosto é do Osama Bin Laden!... E depois de 15 anos são eles que estarão milionários, e ouvindo o barulho lá na rua.

Você lembra quando você fez um show só com com-posições próprias?Foi em Olinda, em 1979, um show com Zé Rocha (com-positor pernambucano, parceiro de Lenine) chamado ‘Ba-tida de Madrugada’ no Centro Cultural Luiz Freire. Eu tinha essa música chamada ‘Batida’ de estrofes reiterati-vas, como as de Dylan, uma música que diz assim: “Pra

haver uma saída / e salvar seu coração / basta um copo de batida de limão... Para a boca contraída / imaginar que está sorrindo / basta um copo de batida de tamarindo... / Para a alma dolorida / ter onde repousar / basta um copo de batida de maracujá...” E no final: “Pra curar o mal da vida / quando não restar mais nada / basta um carro e uma batida de madrugada”. Termina assim, por isso o nome do show.

jeção de juventude, não etária, mas juventude de espírito, pode até ser um cara de 45 anos! O rock hoje tá chato no sentido de frívolo, superficial. As músicas que meu filho ouve... Ele gosta de coisas boas como Neil Young, Patti Smith, Bob Dylan, Tom Waits, mas ele ouve umas bandas que eu digo, vem cá o que é isso? E ele: “É uma banda nazista satânica lá da Alemanha!” Se for de verdade é ter-rível, se for de mentira é ridículo! Meu filho me pediu pra levar pra ver o Slayer no Rio, ele devia ter uns 15 anos, não ia sozinho pra show. Fui com o pé meio atrás, mas a curiosidade jornalística também. Digo a mim mesmo que estou indo como jornalista, vou me documentar. Resul-tado: os caras tocam pra caralho, tocam na boa, e a banda brasileira que abriu pra eles era muito mais cheia de caras e bocas. Quando o Slayer entrou, estavam tranqüilos, tocam muito, o guitarrista é muito bom, o baterista fan-tástico, agora, os caras uns senhores, né? Eu até brinquei depois, pra onde eu me virava na plateia eram uns caras de jeans, camisa preta, barrigudo e com um cabelão meio grisalho, eu avistei 30 vezes Alex Madureira e Paulinho Rafael (risos). Vale a pena você ter uma imagem e não corresponder a essa imagem? Vale a pena você, roqueiro, ter uma imagem de contestador e ser um burguês paci-fico no recesso do seu lar? Isso é sempre contraditório. Se você diz que não é, então morre cedo, como Sid Vicious, Amy Winehouse agora. Você jamais imaginaria Amy com 50 anos, gordona, milionária, com piteira e casaco de pele, chegando de limousine pra ganhar um Grammy. Nem ela nem Janis Joplin. Ela era uma pessoa rock’n’roll. Vale a pena a pessoa se destruir tão cedo, ou vale a pena ficar de piteira?

Nem todo mundo tem a saúde do Keith Richards...É a contradição do rock! Você não pode pregar continu-

Enquanto isso na redação...

TELEGRAMA236 – NOITES BRANCAS CD(PB) O que você faria se recebesse em sua casa um telegrama? Fabbio Q. e Harm-no fizeram de um fato, hoje em dia nada corriqueiro, o nome para um projeto que insistia em mostrar a cara. Fabbio Q. traduz em Noites Brancas (título de um livro de Dostoievski) o agora, sem dramas. Palavras diretas, sem firulas, que propõem mudan-ças, se assim o ouvinte queira entender e estas comungam perfeitamente com a sonoridade low-fi, a tanto esquecida, em meio a parafernália exarcebadas de produções em detrimento de um formato horrendo, musicalmente falando, e no entanto, a melhor fer-ramenta de divulgação via net: o MP3. O imediatismo do nosso agora está nas letras: “liga agora e peça o seu” - ele traz a felici-dade pelo preço/que cada um pode pagar. Entre o otimismo (Tudo Certo), os vícios da vida (Vinícius) e a mola que tudo move (O Rock é Foda), as noites podem até serem brancas, se você quiser, mas em branco o telegrama não passará. Altamente recomendado!

MONSTRO - S/T CD EP (PB) E o Monstro foi criado... Ninguém sabe ao certo o dia ou hora, só que foi em algum mês de 2010. Ele não tem a feiúra de um Frankstein, ao contrário da inteligente criatura de Shelley, que despertava ódio e preconceito, os músicos paraibanos cativam pela diversidade e criatividade musical de cada um de seus integrantes: Lucas Moura - guitarra (ex-Nublado), Bruno Lima - baixo (Afetami-na), Xyco de Assis - bateria e Pedro Reggading - percussão (ambos Pedecoco). O quarteto apresenta soluções musicais que remetem ao trab-alho mais destoante do The Clash – Sandinista! como na faixa “Surfin’ Old”. Já em “Biquini de Oncinha” a guitarra parece ter sido inspirada na sonoridade de Mr. Rilley, uma coincidência musical certamente, pois, o anoréxico músico inglês não é uma influência citada pela banda. Participação especial de David Neves(Ubella Preta) no teclado/efeitos e Vinícius (Pedecoco) no sax. Monstruosamente recomendável!

El Mariachi

DALVA SUADA –S/T EP(PB)Nesse segundo EP a banda anda mais desenvolta e criativa. Stoner?Dalva está ainda mais suada e deixa o stoner stone! Esse EP é a prova cabal. Existe um sotaque que é nosso por mais externas que se-jam as influências. As palavras inquietas do Piras - Na lábia da fala de quem se cala/cabritado da pele áspera da ago-nia - assim como em “Elephant Talk”, driblam os ecos belewnianos da guitarra de Felipe que se espalham sobre a base sólida da cozinha formada por Nildo (bateria) e Daniel (baixo), como constatamos em “Cabritado”. Quase meia hora de música em quatro faixas. Será que Piras tem um zoo particular que nem o Andrian Belew?

BURRO MORTO – BAPTISTA VIROU MAQUINA CD (PB) O que é virar uma máquina? É ter sua vida movida a diesel? Chaplin sem dizer palavra nos mostrou como se vira uma maquina. O que isso tem a ver com a música do Burro Morto? Sem, também, dizer palavras, Daniel Jesi (baixo), Leo Marinho (guitarra), Haley Arthur (moog opus3 / programação / sampler / microkorg) e Ruy José (bateria) desconstroem o samba, a máquina em funcionamento, que falha e automatiza como em “Foda do Futuro”, promovendo fusões musicais que ora lembram João Donato (pelo fusion/afro-beat/jazz), ora Johnny Alf. Já em “Cataclisma” (a segunda faixa onde Ruy José não toca, a primeira é Volks Velho) é recriada uma atmosfera de trilha sonora como se estivéssemos vendo imagens numa tela. Só entende quem escuta. Para en-tender melhor música e imagem assista ao DVD que acompanha o CD, ta tudo e todos lá! Não entende quem não quer! Baptista recomenda!

BATE BOLARock’n’Roll – música negra com tecnologia branca

Cordel – verso europeu com melodia nordestina

Luiz Gonzaga – primeiro artista pop nordestino

Beatles – um grupo ainda incompreendido

Sexo – drogas e rock’n’roll

Bob Dylan – a maior herança de Bertolt Brecht para a música popular

Governo – soy contra

Drogas – sou a favor com ressalvas

Cachaça – deixei de beber há mais de 15 anos

Bráulio Tavares – o raio da silibrina

Page 4: Jornalmicrofonia#05

MICROFONIA4

E o Vento Levou... Zumbilandia

Quando perguntava pra minha avó se ela tinha medo dos mortos, com sua sabedoria ela respon-dia: ¨ Tenho mais medo dos vivos ¨. Apesar de nunca ter assistido um filme de George Rome-ro, ela tinha razão. Nessa HQ, escrito por Max Brooks e muito bem ilustrado pelo brasileiro Ibrain Roberson, o leitor é convidado a presenciar os mortos-vivos em momentos da história desde a savana africana passando pelo império romano até os dias atuais. Analisando mais de perto os zumbis são gente boa, andam atrás de comida como qual-quer um, você que lê esse texto provavelmente já comeu algo hoje. O lado negativo é que andam maltrapilhos , fazendo um grunhido perturbador e o odor...ah o odor, esse é insuportável, até então isso é um padrão normal pois meu vizinho que não é zumbi atende a essas características. Mas na obra de uma boa literatura zumbi o problema nunca são os mortos e sim os vivos. Max Brooks exemplifica que a intolerância e preconceito jun-tamente com o instinto de sobrevivência, deixa cair a mascara da humanidade, ficamos a mercê do cada um por si e foda-se o restante. Na história de Santa Lucia Leste do Caribe 1862, os negros escravos matam os zumbis e os brancos que vão a ilha matam os negros. As histórias são de re-alidades críveis, o autor já entrou pra verbete do mundo zumbi citando o vírus que cria os mortos-vivos chamado de salmoni. Leia e prepare-se, eles estão mais perto do que você imagina.ASObs:Não confundir com Proteção Total Contra os Mortos-Vivos do mesmo autor.

Amigo leitor, você que lê este artigo, é fã de futebol e odeia os nossos vizinhos Argentinos por causa do Maradona e toda a seleção de lá, darei uma chance de se redimir e começar a gostar de nossos “herma-nos”: leia as histórias em quadrinhos da Fierro Brasil.A revista surgiu em 1984 e durou até 1992 pela Editorial de la Urraca, sob a direção de Andrés Cascioli. Após quatorze anos de intervalo, a re-vista resurge em novembro de 2006 pelo Jornal Pagina/12, agora sob a tutela de Juan Sasturain (jornalista, escritor, apresentador de TV e crítico). É vendida junto com o informativo sempre no se-gundo sábado de cada mês e traz 64 páginas de histórias bem variadas. Comartistas veteranos da antiga versão como Juan Gimenez, Henrique Breccia e Carlos Trillo e também novos talen-tos como Liniers, Salvador Sanz, Lucas Varela e muitos outros. É esse material da nova versão que compila a Fierro Brasil, que será semestral conforme indica o site da editora. Junto ao nome dos artistas citados acima estão alguns brasileiros como Gustavo Duarte (Táxi) e Danilo Beyruth (Necronauta e Bando de Dois). Alguns autores argentinos já tiveram trabalhos publicados por aqui em revistas como a Skorpio (Ed. Vecchi), lançada em 1979 até 1981 com doze edições. Outros já deram a cara na Animal em edições especiais e/ou coletâneas por outras editoras como Jyme Cortez, Maitena e o próprio Liniers. O mix traz material bem diversificado, tanto na escrita quanto na arte, com histórias que vão do humor ao erotismo, passando pelo surrealismo e a ficção científica. O estilo de histórias lembra bem a Heavy Metal que teve versão em português (23 eds, de 1995 a 1999). A revista é direcionada ao público adulto, e embora tenha um preço sal-gado, vale cada centavo. Para mim foi uma sur-presa a minha curiosidade em conhecer esse mate-rial, o que correspondeu as minhas expectativas, desde que fiquei sabendo de seu lançamento. Isso se fortalece pela variedade, coisa que gosto muito em uma revista em quadrinhos. Que venha a nova edição de Fierro em verde e amarelo. JF

Redson Não Mora Mais Aqui

Amor à Queima RoupaAntologia de Historietas

Argentinas da Revista Fierro e de Quadrinhos

Brasileiros Zara-batana Books. Formato: 21 x

28 cm; Páginas: 160; colorido e P&B preço vari-ante entre R$ 41,00 a 59,00

Guia deSobrevivência a

Zumbis- AtaquesRegistrados.

Max Brooks e Ibraim

Roberson .Ed. Rocco144 págs.

preço variante entre R$ 32,00 a

40.00

Em 1978 as ilhas Dominica, Solomon e Tuvalu, localizadas no Caribe, se tornaram independentes do Reino Unido. No mesmo ano, os Sex Pistols acabaram. O oba oba do punk já tinha passado e pairava um sentimento de duvida, se era melhor continuar empunhando a bandeira punk ou deban-dar pra outras paragens. Os que ficaram tornaram-se mais puristas. O ano seguinte foi marcado pelo ineditismo de uma mulher como primeira ministra na Inglaterra: Margaret Thatcher. Ainda no mesmo ano, paralelamente, em outra ilha do Reino Unido, quatro escoceses formaram uma banda chamada The Exploited, cujo primeiro álbum (Punks Not Dead) afirmava a presença contestatória dos punks e que, como tal, seria uma pedra no sapato do siste-ma e da sociedade. Na verdade, Wattie Buchan (vocal) se apaixonou pela Thatcher. Como seu amor era impossível, ele o transformou em ódio, o que tornou Maggie (apelido carinhoso cunhado pela banda a “dama de ferro”) uma das suas prin-cipais inspirações. Em 1982, os nossos herma-nos da Argentina acordaram de mau humor e resolveram tomar o território povoado pelos britânicos nas ilhas Malvinas. Lá do outro lado, na sua ilha, a toda poderosa Thatcher, com uma TPM de lascar, disse: “o Reino Unido não irá perder mais um pedaço de terra! Vamos começar uma guerra agora!”. Wattie, já com a resposta na ponta da língua disparou: Let’s Start a War... Said Maggie One Day batizando o disco que seria lançado no ano seguinte, e que primava por uma sonoridade visceral da primeira a última faixa. LSTW tornou-se um símbolo real da anti guerra e anti Thatcher: vamos começar uma guerra disse Maggie um dia/lutar pelo seu país/como eles morreram ninguém saberá /não existirá nenhum túmulo com seus nomes gravados. Além da música que dá título ao terceiro trabalho da banda, Buchan escreveu uma God Save the Queen, sem a ironia do Johnny Rot-ten: Deus salvou a rainha em meio a um tiroteio/por trás das cortinas fechadas o terror impera. Thatcher enfrentava uma onda de desemprego e se mantinha inflexível diante dos sindicatos, mas ao ganhar a Guerra das Malvinas sua popularidade subiu. Infelizmente, hoje em dia, a musa inspirado-ra de Wattie, nem consegue lembrar direito de seus dias de glória e poder. No cinema Meryl Streep será “A Dama de Ferro” que estréia ano que vem por aqui. E o Exploited? Vai muito bem, obrigado!AS

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Quanto Vale A Liberdade?Pra vocês ela tem um preçoQuanto vale a confiança?Não quero esperarNão acredito no seu dinheiroOnde está o seu caráterDeve estar perdido em algum becoHoras você enlouqueceE depois quer fugirSe refugia como um animal, como um animalDia após dia eu procuro ir em frenteVê se me entende, não há razão, não há razãoJá não pode mais pensarOlhe para tudo como estáAgora eu sei que não há preçoMas me sinto acorrentadoDia após dia, e não há razão, não há razãoQuanto vale a liber-dade?Quanto vale a liberdade?Não importa, eu vou em frente

1962-2011