jornalismo participativo na internet - o "eu, repórter" do globo online
DESCRIPTION
TRANSCRIPT
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Artigo científico produzido pelos alunos do curso de Jornalismo - 1º semestre de 2010
FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM JORNALISMO
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
THAÍS MIRIAN DA CRUZ
JORNALISMO PARTICIPATIVO NA INTERNET –
O “EU, REPÓRTER” DO GLOBO ONLINE: UM ESTUDO DE CASO
VOLTA REDONDA
2010
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Artigo científico produzido pelos alunos do curso de Jornalismo - 1º semestre de 2010
Resumo
O artigo propõe o estudo das novas formas de comunicação resultante das
tecnologias de informação propostas pela web ou ‘grande rede’. Além das mudanças
na prática jornalística, o estudo pretende enfatizar como a participação/colaboração
de leitores (internautas) no jornalismo online, transforma a cultura profissional e,
principalmente, a relação emissor-meio-mensagem-receptor. Os novos produtos
midiáticos, entre eles, blogs, redes sociais, como o Twitter, só vem a reforçar a
independência e autonomia dos internautas em produzir conteúdos livres e publicá-
los na internet. Este trabalho visa apresentar como simples leitores passam a atuar
fundamentalmente em jonais onlines, criando suas próprias notícias e interagindo
diretamente com o meio, através de comentários, sugestões etc. Desta forma, mais
que adequações e atualizações às novas técnicas do jornalismo (textos curtos,
tempo real, velocidade e outros), os jornalistas tornam-se mediadores de conteúdos.
Para identificar esse processo de interação utiliza-se noticiários produzidos por
leitores em jornais onlines como objeto (estudo de caso), buscando identificar como,
ou, até que ponto, o jornalismo participativo interfere ou ‘coloca em risco’ o papel
dos jornalistas, e ao mesmo tempo confere maior identificação e proximidade do
jornal com o seu público, ‘facilitando’ o processo de comunicação.
Palavras-chave: Jornalismo online; jornalismo participativo/colaborativo; interação;
prática jornalística
Introdução
As tecnologias da informação fizeram surgir a prática jornalística na
internet, o jornalismo online, caracterizado por: hipertextualidade – quando o texto
digital gera ligação com outro documento ou recurso; interatividade – comunicação
mediada por tecnologias; multimidialidade – convergência de todas as mídias;
personalização – publicação do conteúdo que mais interessa aos usuários/leitores,
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Artigo científico produzido pelos alunos do curso de Jornalismo - 1º semestre de 2010
em mídias de sua preferência; memória – arquivamento do conteúdo jornalístico
online; e atualização contínua – em tempo real (Palácios, 2002). Em consequência e
adequação às características próprias da web, desencadeia-se o jornalismo
participativo, em que a elaboração, produção e edição de notícia é desenvolvida por
usuários comuns, quando os mesmos tornam-se produtores de conteúdo jornalístico
em potencial.
No presente estudo abordamos o jornalismo participativo e seu peso sobre
os outros meios de comunicação de massa (rádio, TV e jornal impresso), bem como
sobre a prática jornalística. Deste ponto partimos para o questionamento de até que
ponto o jornalismo participativo ‘ameaça’ a relação do público com os outros meios e
o papel do jornalista.
Para entender o jornalismo online, na primeira parte do trabalho
apresentamos um traçado que vai desde seu surgimento – ainda como transposição
de outras mídias -, passando por seu desprendimento inicial dos outros meios de
comunicação, mantendo convenções que o identifiquem como produto jornalístico e
ao mesmo tempo buscando características diferenciadas; até o terceiro e último
momento em que já firmado no espaço midiático, recorre a novas ferramentas que o
conectem mais diretamente aos leitores/usuários, permitindo que os mesmos
participem interativamente da produção de notícias e modificando o modelo de
comunicação padrão, fazendo-se confundir os papeis das partes envolvidas
(jornalistas x leitores).
Aí então chegamos ao ponto que mais interessa e será mais desenvolvido na
segunda parte do estudo: a inversão dos papeis no processo de comunicação.
Como os leitores passam a atuar fundamentalmente no jornalismo online,
produzindo notícias e interagindo diretamente com o meio, nas sessões de
comentários, enquetes, fóruns, opiniões, sugestões. E assim, os jornalistas tornam-
se também mediadores de conteúdos. Utiliza-se para o desenvolvimento deste
trabalho o estudo de caso a respeito de um jornal online que disponibiliza espaços
de participação do leitor: a seção “Eu-Repórter”, do “Globo Online”.
Finalizando o estudo, apresentamos os impactos causados pelo jornalismo
participativo na internet. Como fica o jornalismo tradicional, a relação entre
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Artigo científico produzido pelos alunos do curso de Jornalismo - 1º semestre de 2010
emissores (jornalistas) e receptores (leitores/usuários), a prática e cultura
jornalística.
O desenvolvimento midiático na Web: Breve histórico das transformações do
jornalismo online
A ascensão do jornalismo online – desenvolvido através de tecnologias de
transmissão de dados em rede e em tempo real (Mielniczuk, 2003) - ainda pode ser
considerada recente e em constante mutação.
Em sua fase inicial podemos considerar a prática jornalística na internet como
uma transposição de outras mídias, principalmente de jornais impressos, em que o
jornalismo online servia apenas como reprodução das publicações dos meios de
comunicação de massa.
Até então, além de estar inserido na web ou ‘grande rede’, nada diferenciava
o jornalismo online das outras formas de comunicação já conhecidas dos jornais
impressos, TV ou rádio.
Segundo Palacios (2002), nem todas as características do webjornalismo
representam aspectos realmente novos. Muitos deles já existiam em outras mídias e
sua utilização não passa de uma continuidade no novo suporte. Apesar do modelo
de comunicação de massa (emissor-mensagem-meio-receptor) ganhar uma nova
‘roupagem’ a partir do jornalismo online – de jornalista-notícia-jornal-leitor para
jornalista-notícia-site-usuário -, a lógica de transmissão continua inalterada.
Num segundo momento, o jornalismo online começa a valer-se de novas
formas que o diferenciem dos outros meios já conhecidos anteriormente pelo
público, como a publicação do conteúdo em tempo real, por exemplo. Nessa etapa
começa a transformação do processo de interação entre emissores (jornalistas) e
receptores (leitores/usuários). De acordo com Luciana Mielniczuk (2003), o
webjornalismo ou jornalismo online – termo escolhido para o presente trabalho -
passa por um momento de dualidade: ao mesmo tempo em que é necessário manter
convenções a fim de que o público – leitores/usuários – reconheça e se identifique
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Artigo científico produzido pelos alunos do curso de Jornalismo - 1º semestre de 2010
com o produto jornalístico, também é preciso que rupturas aconteçam para que os
webjornais se firmem como uma opção singular e com atrativos diferenciados diante
do público.
Na terceira e atual fase – a que mais interessa ao estudo proposto -, o
jornalismo online já aprofunda o desenvolvimento e uso de ferramentas e linguagem
próprias que o tornam ‘independente’ de outras mídias, as quais passam a ser
aproveitadas somente para somar à prática na web, por meio da absorção de suas
características. Deste momento em diante o processo de comunicação ‘padrão’ é
modificado e permite que os leitores/usuários participem interativamente do
jornalismo online, desde a sugestão até a produção de notícias para a internet.
Embora o jornalismo participativo – entendido por Primo e Träsel (2006),
como práticas desenvolvidas em seções ou na totalidade de um periódico noticioso
na Web que utilizam da colaboração ou participação de cidadãos comuns
(leitores/internautas) - já fosse praticado antes do advento da internet, nos outros
meios (TV, impresso, rádio) o sistema produtivo do conteúdo a ser publicado
mantém papeis bem delimitados entre receptores (público) e emissores (jornalistas).
Claro que qualquer notícia destes meios contam, sim, de alguma forma, com a
participação de seu público. Mas nenhum deles utiliza da interação colaborativa
presente na internet, que favorece a atuação de qualquer cidadão na sugestão,
produção e discussão de notícias, tornando tênue a antiga fronteira entre emissores
e receptores.
Nos meios tradicionais, o jornalismo participativo era ‘escasso’ e limitado,
dependendo da utilização de outros meios como e-mail, telefone, ou envio de cartas
para a concretização do mesmo e dispondo de pouco espaço para a efetivação da
participação do público. Em comparação com o praticado na internet, entende-se
que o verdadeiro jornalismo participativo foi aberto na prática online, que ao dispor
de espaço virtualmente ilimitado para publicação de conteúdo para o seu público
alvo, disponibiliza mais espaço e novas ferramentas para a participação de
leitores/usuários, que consequentemente se sentem mais diretamente parte do
processo jornalístico, seja pela troca de emails com jornalistas, por meio da
disponibilização da opinião dos leitores (fóruns e comentários), bem como através
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Artigo científico produzido pelos alunos do curso de Jornalismo - 1º semestre de 2010
de sessões específicas de colaboração, nas quais o público interage desde a
sugestão, elaboração e publicação de conteúdo (textos, fotos, vídeos e áudios).
No jornalismo online, o meio torna-se um verdadeiro canal de comunicação,
onde realmente existe uma maior interatividade entre as partes envolvidas (emissor-
receptor). Neste contexto, muitas vezes, o papel de cada uma pode ser confundido
ou ‘modificado’.
Com o jornalismo participativo, as fontes independentes (leitores/internautas)
ganham espaço e até certa credibilidade nos jornais onlines, o que também faz
surgir a necessidade de filtragem ou moderação do conteúdo, momento em que
jornalistas atuam como mediadores da interação. É o caso de seções disponíveis à
participação do público (produção de notícias e fotos, comentários, fóruns, enquetes,
sugestões) nos jornais onlines.
Além do jornalismo participativo – colaboração direta do público nas ações de
produção de conteúdo - o aperfeiçoamento de outras ferramentas, até mesmo já
presentes no jornalismo tradicional, ou o desenvolvimento de novas e próprias
características do jornalismo online, diferenciam a prática jornalística neste ‘novo’
produto midiático. Entre estas novas características está a atualização contínua e
em tempo real, nunca antes vista no jornalismo tradicional, que não terá atenção
especial neste trabalho, mas possivelmente será citada como um dos elementos que
distanciam o jornalismo online das práticas utilizadas em outros meios.
A interferência popular no conteúdo do jornalismo online
Toma-se para o desenvolvimento deste artigo, o estudo de caso da seção
EU-REPÓRTER do site oglobo.com. A partir da coleta de dados e análise do
jornalismo participativo praticado nesta sessão do jornal O Globo Online, observa-se
que a abertura à participação de usuários comuns (leitores/internautas) para
publicação de notícias, vídeos e fotos, é restrita apenas a usuários previamente
cadastrados no site. Entretanto, não é necessário ser assinante da edição impressa
do O Globo, podendo os interessados realizar o cadastro rapidamente pelo site.
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Artigo científico produzido pelos alunos do curso de Jornalismo - 1º semestre de 2010
Não se faz aqui necessário, colocar em questão se o jornalismo participativo
realmente se dá de forma diferenciada do já praticado em meios tradicionais (TV,
rádio e impresso), mas entende-se esta restrição como o mínimo de controle que
pode ser utilizado por este veículo de comunicação, visando garantir a seriedade
das notícias veiculadas na web e prezar pela credibilidade de seu conteúdo, para
benefício do próprio meio e do público direta ou indiretamente ligado à sua
veiculação.
Seguindo a análise, durante um dia de acompanhamento do EU-REPÓRTER
foi possível confirmar a grande participação do público na produção de notícias, em
resposta positiva à abertura do jornalismo participativo no oglobo.com. No dia 21 de
junho de 2010, ao todo nove notícias enviadas por leitores/internautas foram
publicadas na seção colaborativa do O Globo Online.
Em todas as notícias, a mediação de editores ou jornalistas responsáveis pela
sessão fica clara: o lead é produzido pela equipe do O Globo Online, para que os
outros leitores/internautas tenham conhecimento de cada caso. Mas no decorrer das
notícias, os textos enviados pelos cidadãos-repórteres são incluídos para ilustrar
mais detalhadamente os fatos e também para apresentar o posicionamento das
pessoas que vêem cada situação sob diferentes olhares do que talvez seria
produzido por jornalistas profissionais.
Com isso ressaltamos que, o jornalismo participativo não representa ameaça
à prática dos jornalistas, nem mesmo sua diminuição enquanto profissional, mas é
sim um desafio, que, segundo Cristiane Lindemann (2007) exige uma atualização da
forma de encarar a prática profissional.
Para além de emissores, os jornalistas tornam-se também mediadores e suas
atribuições ganham maior responsabilidade, a partir do momento em que estes
profissionais passam a filtrar o conteúdo disponível na Web ou enviado por
colaboradores (leitores/internautas) e tem a missão de preservar a credibilidade do
conteúdo jornalístico neste novo contexto.
Tomando ainda o pressuposto apresentado por Palacios (2002), em ‘Fazendo
Jornalismo em Redes Híbridas: Notas para discussão da Internet enquanto suporte
mediático’, reforça-se a ideia de que com o jornalismo online e suas ferramentas de
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Artigo científico produzido pelos alunos do curso de Jornalismo - 1º semestre de 2010
interatividade, o papel dos jornalistas ganha peso muito maior. O autor cita como
referencial o levantamento de Dominique Wolton sobre a capacidade das Novas
Tecnologias da Informação (NTC), no que se refere à oferta de informação, de
bancos de dados, destacando que tal massa de informação requer, e cada vez mais,
processos profissionais de filtragem, triagem, validação:
Comunicação direta, sem mediações, como uma mera performance técnica. Isso apela para sonhos de liberdade individual, mas é ilusório. A Rede pode dar acesso a uma massa de informações, mas ninguém é um cidadão do mundo, querendo saber tudo, sobre tudo, no mundo inteiro. Quanto mais informação há, maior é a necessidade de intermediários- jornalistas, arquivistas, editores, etc- que filtrem, organizem, priorizem. Ninguém quer assumir o papel de editor chefe a cada manhã. A igualdade de acesso à informação não cria igualdade de uso da informação. Confundir uma coisa com a outra é tecno-ideologia. (WOLTON,1999b).
Vale destacar também que, segundo abordam Primo e Träsel (2006), o
jornalismo online participativo surge com o papel de cobrir o que falta em
publicações dos meios tradicionais, já que sobre o jornalismo praticado nos
mesmos, ganham maior peso ou ‘espaço’ conteúdos de grande repercussão social,
política e econômica. Já no jornalismo praticado na internet e aberto à participação
de usuários comuns, o conteúdo é pautado pela necessidade e apelo popular, tendo
livre espaço para veiculação de temas que fogem ao padrão pregado anteriormente
e viabilizam a personalização, na qual busca-se atender os interesses específicos de
cada leitor.
No EU-REPÓRTER, os temas enviados com maior frequência pelos
leitores são justamente os que tocam em implicações deixadas de lado por outros
meios, devido a tantos padrões impostos, seja pela linha editorial ou pelo público
alvo para o qual o veículo é destinado. Esta observação reforça a teoria de Primo e
Träsel citada anteriormente, já que a maioria das notícias, fotos e vídeos, enviadas
pelo internautas retratam a insatisfação ou reivindicação quanto à prestação de
serviços públicos de responsabilidade dos órgãos municipais, estaduais ou federais;
bem como o registro de acidentes ou outros fatos que muitas vezes fogem ao olhar
dos jornalistas ou até mesmo não são alcançados pela estrutura disponibilizadas
pelos veículos de comunicação de massa.
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Artigo científico produzido pelos alunos do curso de Jornalismo - 1º semestre de 2010
Como último ponto deste estudo de caso, foi possível analisar a interação
entre os meios tradicionais e o online, que cada vez mais servem de complemento
uns para os outros, conforme visto com a publicação periódica de notícias do EU-
REPÓRTER na edição impressa do jornal O Globo. Observou-se neste ponto uma
transposição do conteúdo online para o impresso, invertendo os papeis
determinados no início do jornalismo online, em que o mesmo era apenas um cópia
do jornal impresso para a tela do computador.
Essa interação entre os meios só vem a confirmar a ideia apresentada por
Henry Jenkis em ‘Cultura da Convergência’, explicando que nos anos 90 a retórica
da revolução digital apresentava uma suposição implícita e explícita, de que os
novos meios de comunicação substituiriam os antigos: novas empresas falaram em
convergência, mas no sentido de que as tecnologias da informação eliminariam
completamente os antigos meios de comunicação, como rádio e jornal impresso.
O estouro da bolha pontocom jogou água fria nessa conversa sobre revolução digital. [...] Se o paradigma da revolução digital presumia que as novas mídias substituiriam as antigas, o emergente paradigma da convergência presume que novas e antigas mídias irão interagir cada vez mais complexas. O paradigma da revolução digital alegava que os novos meios de comunicação digital mudariam tudo. Após o estouro da bolha pontocom a tendência foi imaginar que as novas mídias não haviam mudado nada. Como muitas outras coisas no ambiente midiático atual, a verdade está no meio termo. Cada vez mais, líderes da indústria midiática estão retornando a convergência como uma forma de encontrar sentido, num momento de confusas transformações [...] (Jenkins, Henry. p. 31 e 32).
Conclusão: O impacto do jornalismo participativo
Em meio à explosão das tecnologias de informação vimos o surgimento do
jornalismo online como produto do ‘boom’ da web. Nesta nova prática midiática fez-
se necessário também o desenvolvimento de ferramentas diferenciadas para romper
com os padrões do jornalismo tradicional e buscar sua identificação própria como
produto midiático. Entre essas ferramentas está o jornalismo participativo, que é
comumente praticado em veículos de comunicação online, proporcionando interação
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Artigo científico produzido pelos alunos do curso de Jornalismo - 1º semestre de 2010
com o público de diversas formas, em diferentes níveis, conforme Primo e Träsel
(2006) explicam:
[…] tanto a leitura de um jornal impresso quanto a audiência de um telejornal são processos interativos. Não se pode dizer que não haja interação, mesmo que não exista uma conversação entre produtores e público. No caso do webjornalismo, a simples navegação por entre as páginas digitais do site já é um processo interativo. No entanto, trata-se de uma interação reativa (Primo, 2004). Nos noticiários online fechados à intervenção, o internauta não pode transformar o conteúdo, deixar suas marcas. É um processo interativo, mas cujas trocas encontram-se pré-determinadas no par ação-reação. Por outro lado, novas formas de participação vêm sendo oferecidas no webjornalismo, chegando ao limite de ampla e irrestrita redação e edição por parte de qualquer pessoa com acesso à rede. Abre-se, assim, espaço para a interação mútua (Primo, 2004), na qual o desenvolvimento do processo interativo é negociado entre os participantes […]. (PRIMO; TRÄSEL, 2006. P.9)
Pontanto, o presente trabalho entende o jornalismo participativo na internet
como emergente das Novas Tecnologias da Comunicação e como parte essencial
do processo de consolidação do jornalismo online como produto midiático e seu
desprendimento dos meios tradicionais (TV, rádio e impresso). Desconsidera-se aqui
a teoria apresentada anteriormente por alguns autores como Lévy (1999), de que o
jornalismo online seria responsável pelo desaparecimento de outras mídias, até
mesmo porque há mais de dez anos de seu surgimento, este no produto midiático
ainda não alcançou tal efeito e nem deve alcançar. Contudo o atual estudo
compartilha da mesma ideia apresetada por Jenkins (2008), de que ao invés de
substituírem umas as outras, as mídias convergem entre si.
Também fica claro aqui que o jornalismo participativo e suas ferramentas
não representam ameaça à prática profissional, mas exige novas aplicações no
exercício de jornalistas, que passam a ter relacionamento mais interativo e intenso
com seu público, tendo também a função de intermediar a colaboração de usuários
comuns (internautas/leitores) nos veículos pelos quais respondem, visando zelar
pela credibilidade do mesmo, bem como preservar sua identidade como profissional
da comunicação.
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Artigo científico produzido pelos alunos do curso de Jornalismo - 1º semestre de 2010
Referências bibliográficas
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
FERRARI Polyana. Jornalismo Digital. São Paulo: Contexto, 2009.
JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2008.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
MIELNICZUK, Luciana. Webjornalismo de Terceira Geração: continuidades e
rupturas no jornalismo desenvolvido para a web. Disponível em,
http://galaxy.intercom.org.br:8180/dspace/bitstream/1904/17332/1/R0816-1.pdf.
Acesso em 19.05.2010.
PALACIOS Marcos. Fazendo Jornalismo em Redes Híbridas: Notas para
discussão da Internet enquanto suporte mediático. Minas Gerais: Lista JnCultural,
2003.
——————. Ruptura, Continuidade e Potencialização no Jornalismo Online: o
Lugar da Memória. Disponível em,
http://www.facom.ufba.br/jol/pdf/2003_palacios_olugardamemoria.pdf. Acesso em 14
de jun. 2010
PRIMO, Alex; TRÄSEL, Marcelo Ruschel. Webjornalismo participativo e a
produção aberta de notícias. Contracampo (UFF), v. 14, p. 37-56, 2006.
QUADROS, Cláudia Irene de. A participação do público no webjornalismo.
Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em
Comunicação: 2005.