jornal sem terra - edição 312 maio 2011

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www.mst.org.br ANO XXX– Nº 312 – MAIO 2011 As contradições do crescimento e das grandes obras Páginas 3 e 10 ECONOMIA Páginas 4 e 5 Rascunho apresenta os desafios para os assentados ENTREVISTA Jornada de Abril mobiliza 19 estados e mostra a força dos Sem Terra Páginas 8 e 9 REFORMA AGRÁRIA

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Jornal do MST

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Page 1: Jornal Sem Terra - edição 312 Maio 2011

www.ms t . o rg . b r ANO XXX– Nº 312 – MAIO 2011

As contradições

do crescimento e das

grandes obras

Páginas 3 e 10

ECONOMIA

Páginas 4 e 5

Rascunho apresenta

os desafios

para os assentados

ENTREVISTA

Jornada de Abril

mobiliza 19 estados

e mostra a força

dos Sem Terra

Páginas 8 e 9

REFORMA AGRÁRIA

Page 2: Jornal Sem Terra - edição 312 Maio 2011

2 JORNAL SEM TERRA • MAIO 2011

EDITORIAL Reforçar as lutas é fundamental para conquistar direitos

Palavra do leitor FRASE DO MÊS

DIREÇÃO NACIONAL DO MST

Edição: Joana Tavares. Revisão: Igor Felippe Santos e Luiz FelipeAlbuquerque. Edição de imagens: Marina Tavares. Projeto gráfico ediagramação: Eliel Almeida. Assinaturas: Mary Cardoso da Silva.Impressão: Taiga Gráfica e Editora. Tiragem: 10 mil exemplares.Endereço: Al. Barão de Limeira, 1232 – CEP 01202-002 – São Paulo/SP – Tel/fax: (11) 2131-0840. Correio eletrônico: [email protected]ágina na internet: www.mst.org.br. Todos os textos do Jornal SemTerra podem ser reproduzidas por qualquer veículo de comunicação,desde que citada a fonte e mantida a íntegra do material.

Mande sua mensagempara o Jornal Sem Terra

Sua participação é muito importante. Ascorrespondências podem ser enviadas [email protected] ou para a Alameda Barão de Limeira,1232, Campos Elíseos, São Paulo/SP, CEP 01202-002. Asopiniões expressas na seção “Palavra do leitor” nãorefletem, necessariamente, as opiniões do Jornal sobreos temas abordados. A equipe do JST pode,eventualmente, ter de editar as cartas recebidas.

ESTAMOS ACOMPANHANDO de pertoas mudanças em curso na políticaeconômica brasileira, em especial o au-mento da taxa de juro, o corte de R$ 50bilhões no orçamento geral da União, oscortes em vários programas sociais emandamento. As explicações são várias:conter a inflação, diminuir o ritmo docrescimento, a crise econômica interna-cional, ou seja, um freio de arrumação.

O problema dessa lógica da políticaeconômica é que foram cortados gastosjustamente nas áreas que dizem respeitodiretamente aos trabalhadores do campo eda cidade, como na área da habitação, saláriomínimo, Reforma Agrária, saúde e outrosprogramas sociais importantes. Por outrolado, as obras do PAC continuam a todo ovapor, o governo não abriu mão de pagaros juros da dívida em dia e os bancoscontinuam ganhando muito dinheiro.

È um cenário de crise, mas ela apa-rece disfarçada pelas facilidades de au-

mento do consumo (e de endividamento)das camadas populares e com os grandesfaturando mais do que nunca.

Diante desse quadro, precisamos fazerum amplo debate com todas as forçaspolíticas do campo e da cidade e avaliar aprofundidade dessa crise e suas conse-quências, e quais devem ser as bandeirasunitárias que ajudarão a dialogar com opovo, a acumular forças e a barrar essalógica conservadora da economia.

É importante levar em consideraçãoque o governo Dilma, como já o era ogoverno Lula, é um governo ambíguo ede conciliação de classes. Mas é umgoverno que avançou em várias áreasimportantes. Tem uma clara política demelhorismos sociais, que vai além de umaestratégia compensatória: resolve parte dosproblemas do povo, mas sem enfrentaros grandes problemas estruturais.

Porém é um governo que tem muitoapoio popular e que dialoga direto coma nossa base, o que exige de nossosmovimentos e organizações umareflexão mais organizada de como de-bater essas questões e explicar anecessidade de fazer lutas para radicalizaressa política de melhorismos sociais eacumular força para pautar as grandesreformas estruturais que o país precisa.

Precisamos enfrentar essa conjunturacomplexa com um projeto e com luta de

massas. A esquerda e os movimentossociais não podem recorrer apenas aoinstrumento da negociação para avançarcom as conquistas dos trabalhadores. Omomento exige povo na rua e unidadenas bandeiras de luta e ações conjuntas.

Desafios políticose organizativos

A relação com governo é uma dasgrandes dificuldades para os movimentossociais, tendo em vista que precisamoscombinar lutas políticas e econômicaspara resolver os problemas imediatos denossa base, sem cair no adesismo, ou pelocontrário na luta oposicionista, anti-governo, já que a natureza do momentoexige relação com o Estado.

A segunda contradição a serenfrentada é a questão da organizaçãopopular. Depois de oito anos deneoliberalismo e oito anos de governoLula, sem que tivéssemos um quadrode reacenso da luta de massa, osmovimentos sociais e sindicais do campoe da cidade estão vivendo um períodode muitas dificuldades na organizaçãoda sua base. Cada vez mais precisamosfazer uma grande reflexão política sobrecomo ter organizações fortes eorganizadas nesse período .

Por último, precisamos construir umaplataforma que unifique as lutas e as de-

mandas dos trabalhadores e trabalha-doras, de forma a dar unidade políticaem todas regiões do país, nos maisdiversos locais de trabalho, nas fábricas,assentamentos, acampamentos de sem-teto, Sem Terra, e realizar atos políticosnas grandes cidades e em Brasília.

Hoje os temas em que mais avança-mos na construção da unidade são: re-dução da jornada de trabalho sem redu-zir salário, garantia de 10% do PIB paraeducação, fim do fator previdenciário,Reforma Agrária e assentamento ime-diato das famílias acampadas, reformaurbana e prioridade no construção decasas. Mas acreditamos que podemosavançar em outras demandas que sãoimportantes para o conjunto da esquer-da e dos trabalhadores.

Para este ano, temos uma certeza:precisamos reforçar as lutas. Caso con-trário, poderemos ter um governo comuma política econômica mais conser-vadora que governo anterior, o que difi-cultará ainda mais os avanços e con-quistas de direitos dos trabalhadores. Porisso convocamos ainda mais a militân-cia do MST para que contribua coletiva-mente nesse processo de organizaçãodas lutas do próximo período.

Precisamos fortalecer a unidade dos trabalhadores

È um cenário de crise, mas elaaparece disfarçada pelas facilidadesde aumento do consumo (e deendividamento) das camadaspopulares e com os grandesfaturando mais do que nunca

Militantes do MST no CAB, Bahia, Jornada de Abril de 2011. Crédito da foto: Rafael Martins/Agecom

“O MST éo mais vivo econsequentemovimento socialbrasileiro, que nãoaparece apenas em manchete dejornal e informe televisivo. É umMovimento que tem raízes profundasna sociedade brasileira. Apoio o MSTpela perspectiva internacionalistacom que ele se posiciona na lutasocial brasileira e latino-americana.O MST é um dos vetoresfundamentais da transformaçãoda sociedade brasileira.”

JOSÉ PAULO NETTO, professor da Escolade Serviço Social da Universidade

Federal do Rio de Janeiro.

Falta o Amazonas

Apoio o MST e me entristeço porvê-lo ausente no meu estado, oAmazonas. Graças a esta ausência,os famigerados coronéis de bar-ranco tripudiam de nosso sofridopovo. Reforma agrária epreservação ambiental sãopreocupações que deveriampermear também os ambientes

urbanos. Por isso, todo o meuapoio ao MST.

WELTON YUDI ODA

Formação da rede MST

Queria combinar teoria e prática comvocês aqui no estado do Rio deJaneiro. Queria poder, além de ler oJornal e a Revista Sem Terra, proporum encontro estadual dos leitores(as)

para uma possível formação dealiança operária e camponesa.Unircampo e cidade é uma das saídashistóricas para a classe dostrabalhadores, sobretudo porque 70%dos alimentos que consumimos nacidade vem da roça dos pequenosagricultores e assentados da ReformaAgrária no país.

CARLOS ANTONIO DA SILVA

([email protected])

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3JORNAL SEM TERRA • MAIO 2011

ESTUDO Dados da política fiscal, monetária, comercial, cambial e tecnológica comprovam a opção pela burguesia

FÁBIO BUENO

MESTRE EM ECONOMIA PELA UNICAMP E

MILITANTE DA CONSULTA POPULAR

A POLÍTICA econômica deve sempre serinterpretada a partir de dois referenciaisque permitem atribuir um sentido políticoe histórico às escolhas técnicas de manejode dimensões econômicas, abarcando des-de a arrecadação e gasto dos impostos (po-lítica fiscal), passando pela taxa básica dejuros e expansão das diversas modalidadesde crédito (política monetária), taxa decâmbio e acúmulo de moeda estrangeira(política cambial), chegando às tarifascomerciais e acordos bilaterais (políticacomercial) e a difusão de novas técnicas emétodos produtivos (política tecnológica).

O primeiro referencial, para a análiseda política econômica, é a delimitação dequais frações de classes sociais têm seusinteresses materiais atendidos pelas esco-lhas de política econômica. O segundo re-ferencial, em um país dependente eperiférico como o Brasil, é a compreensãodas margens de manobra que a economia

internacional nos oferece em determinadomomento histórico. Comecemos peloúltimo, fazendo uma breve tentativa deinterpretação da política econômica dogoverno Dilma.

Economia internacionalAtualmente, a economia internacional

vem se caracterizando pelo processo derecuperação, ainda que lento, da crise de2008 nas economias do centro capitalista;pela manutenção de um intenso fluxo decapital destinado à periferia capitalista; epor um elevado ritmo de crescimento naÁsia, que integra o Brasil como grandefornecedor de matérias-primas.

Tais características da economiamundial vêm permitindo um cenárioexterno favorável, sem maiores entravesà continuidade do crescimento daeconomia brasileira nos últimos anos, pois

garante a demanda para as exportaçõesbrasileiras, sobretudo dos setoresprodutores de commodities; e direciona umgrande volume de capital internacional parao país, que aprecia a taxa de câmbio emrelação ao dólar e ajuda tanto no combatea pressões inflacionárias, como nasustentação de nosso déficit externo (somadas remessas de lucros e importaçõessuperando sistematicamente o valor dasexportações) nos últimos anos.

É sob a margem de manobra relativa-mente ampla deste cenário externo que ogoverno Dilma adotou, no início de 2011,algumas escolhas muito marcantes: cortesde R$ 50 bi na previsão de gastos públicos;elevação da taxa básica de juros para11,75% ao ano, sob o argumento de contro-le da expansão da demanda doméstica queestaria causando pressões inflacionárias;aumento do salário mínimo para R$ 545;correção da faixa de isenção na tabela doImposto de Renda (IR), compensada pelaelevação dos impostos sobre bebidas ecompras com cartão de crédito no exterior;e tentativa de conter a valorização cambialpela elevação do Imposto sobre OperaçõesFinanceiras (IOF) para investimentos deestrangeiros no Brasil.

Interesses envolvidosQuais interesses podem ser identifica-

dos por este conjunto de medidas depolítica econômica? Na parte fiscal, o cortede R$ 50 bi, centrado nas despesas de cus-teio ou funcionamento do setor público,deixa intocado o recurso destinado aopagamento da dívida pública em posse dosetor financeiro. A importância desse setorna definição da política econômica fica

ainda mais ressaltada quando consideramoso aumento da taxa básica de juros. Nessesentido, a política fiscal e monetária dogoverno Dilma, voltada à fração financei-ra, mostra continuidade em relação aosgovernos dos últimos 20 anos no Brasil.

Já a política de apreciação cambialtraz algumas contradições: beneficia asfrações financeiras e do capital interna-cional que realizam remessas de lucro edividendos (mais dólares por cada realde lucro); prejudica parte das fraçõesexportadoras, sobretudo a industrial, quetem seus preços em dólar aumentadoscom a apreciação cambial, mas permitea importação de insumos mais baratos,diminuindo os custos de produção dessasmesmas frações, ainda que às custas daprodução interna destes insumos (desin-dustrialização). Para os trabalhadores,a apreciação aumenta o poder de comprapara o conjunto dos assalariados, poistorna os produtos importados mais bara-tos, mas afeta o nível de emprego nossetores afetados negativamente pelocâmbio, os quais supostamente aumenta-riam o emprego caso exportassem maispelo barateamento de seus produtos viadesvalorização cambial.

Ora, com tantos interesses contraditó-rios envolvidos, como interpretar o sentidoda política cambial? A resposta vem emcomo está sendo tratado o principal fatorde valorização cambial, a entrada de capi-tais internacionais. O governo não propõecontrole ou proibições ao movimento decapitais, mas apenas uma elevação do IOFpara tornar menos rentável as aplicaçõesno mercado financeiro doméstico. Ou seja,mantém intocado o interesse do capital

internacional e das frações financeiras. Obenefício da valorização para outrasfrações de classe torna-se um mero acaso,um efeito colateral sem peso na conduçãoda política econômica brasileira.

As medidas de política econômicado governo Dilma até aqui discutidasapontam claramente para os interessesda burguesia em primeiro lugar.Entretanto, alguns poderiam argumentarque apesar da hegemonia inconteste dasfrações burguesas, os interesses dostrabalhadores teriam um maior espaçodentro da política de governo.

Quando consideramos a correção databela do IR em apenas 6,46%, opequeno aumento no valor do saláriomínimo para 2011 concedido a

contragosto e o enquadramento dofuncionalismo público pela suspensão deconcursos e aumentos salariais, nãoencontramos elementos objetivos parasustentar que os interesses do conjuntoda classe trabalhadora estão com maiorespaço na agenda do governo Dilma.

Não existem sinais aparentes de mudan-ças para os próximos anos quanto aosinteresses prioritários na política econômicabrasileira. Apenas a reversão na economiainternacional e/ou a retomada da mobili-zação popular, ambas alterando a correla-ção de forças no Brasil, trazem a possibili-dade de mudanças da política econômica.

A economia do governo Dilma

O corte de R$ 50 bi,centrado nas despesas decusteio, deixa intocado orecurso destinado aopagamento da dívida públicaem posse do setor financeiro

Não encontramos elementosobjetivos para sustentar que

os interesses do conjuntoda classe trabalhadora estão

com maior espaço naagenda do governo Dilma

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Política fiscal e monetária é voltada para a fração financeira

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Desenvolvimento deve ser pensado de uma forma integrada, garantindo a produção de alimentos e a cooperaçãoENTREVISTA

JADE PERCASSI

PARA O SETOR DE COMUNICAÇÃO

JST - Quais as políticaspúblicas voltadas para a produção dosassentamentos?

MF - Existe uma série de políticas pú-blicas ou ações governamentais desti-nadas ao desenvolvimento dos assenta-mentos. Porém, existe uma dificuldadepor parte do Estado na sua operaciona-lização. Quando falamos em assenta-mentos, temos que pensar não somentena produção agrícola, mas também nainfraestrutura, na habitação, na escola eno lazer. Pois se alguns destes aspectosfalharem, a família não vive como deveriaser. Fica num eterno improviso.Destacamos como as políticas públicasmais importantes para os assentamentoshoje o programa de assistência técnica; acomercialização; educação e formação;infraestrutura e políticas de crédito.

JST - Em que sentido se devepressionar o poder público?

MF - Creio que hoje não existe um pro-grama no governo que vise ao desen-volvimento dos assentamentos como umtodo. Na maioria das vezes, se trabalhacom ações isoladas, que têm pouco im-pacto na realidade dos assentamentos.Diante disso, devemos realizar uma açãoforte, junto à assistência técnica. Houveum avanço com a nova lei de Ater, po-rém a sua operacionalidade é muito fra-ca. Depois de um ano e meio da as-sinatura da nova lei, ainda temos váriosestados sem assistência técnica. Em

alguns, como o Mato Grosso, sãovários anos sem assistência. Concor-damos que a assistência técnica tem queser universal, ou seja, que todas as fa-mílias assentadas possam ter acom-panhamento técnico adequado e seminterrupção. Para garantir que o acom-panhamento seja adequado, precisamosagir no sentido de disputar também omodelo de formação exigido paraquem vem atuar junto aos assenta-mentos da Reforma Agrária. Os qua-dros técnicos que saem hoje das uni-versidades foram formados dentro dopacote da chamada revolução verde.Em relação ao crédito, parece que fi-cou claro para setores dentro do go-verno que o Pronaf não é adequado àrealidade dos assentamentos. Pode serque para a Agricultura Familiar eleconsiga responder às necessidades dasfamílias. Mas precisamos construir umprograma de crédito que seja adequadoà realidade da família que é assentada,

bem diferente do pequeno agricultorque depositou na sua pequena parcelade terra o trabalho de até 30 anos.

JST - Quais as linhaspara as cooperativas ligadasaos assentamentos?

MF - Durante vários anos, tivemos mui-tas dificuldades para avançar na coope-ração agrícola e consequentemente nocooperativismo. Foi um período longo,principalmente na segunda metade dadécada de 1990 até a metade da décadapassada. Neste período, tivemos váriascooperativas que acabaram parando suasatividades, por uma série de problemas,como a dificuldade de gestão, o problemada descapitalização, a falta de suporte porparte do governo em enfrentar as suces-sivas crises econômicas e principalmenteem querer copiar aquilo que as cooperati-vas ligadas ao agronegócio faziam. Estefoi um erro estratégico: querer desenvol-ver a cooperação buscando competir

com grandes empresas ou cooperativascapitalistas, em vez de fortalecer oscooperados e cooperadas. Creio queaprendemos com os erros e estamosretomando a cooperação, é claro, commuitas dificuldades, buscando construircooperativas menores, porém maissólidas, com linhas de produção bemdefinidas dentro dos assentamentos.

JST - Como são essaslinhas de produção?

MF - Hoje, dentro dos assentamentos,consolidamos algumas linhas de produ-ção que estão se expandindo. Destaco aprodução de arroz orgânico no RioGrande do Sul, que, em pouco mais deuma década, saiu de uma experiência dedois para mais de 3.500 hectares planta-dos nesta última safra, em que as famíliasorganizadas em grupos de produção eem cooperativas ajudam no controle dacertificação. O importante neste caso éque os assentados controlam todo oprocesso de produção, desde o plantio,passando pela colheita, armazenagem,beneficiamento e a comercialização.Outra linha de produção já consolidadanos assentamentos é a produção de leite,comum em quase todos os assentamentos,de norte a sul do Brasil. Dentro destalinha de produção, cada vez mais osassentamentos vão assumindo atividadesque complementam a cadeia do leite,como o resfriamento e o beneficiamento.Destacamos a experiência da Cooperoes-te, que há mais de dez anos vem indus-trializando o leite de toda a região oestede Santa Catarina, bem como recolhendoleite produzido no Rio Grande do Sul eno sudoeste do Paraná. Outra experiênciaimportante vem do Nordeste, no Sergi-pe. Praticamente todo o leite adquiridopelo programa PAA Leite do governofederal vem de áreas de assentamento.Estamos também inovando no processoprodutivo do leite, produzindo um leite

“Praticamente todo o leiteadquirido pelo programaPAA Leite no Sergipe vemde áreas de assentamento”

“Precisamosde cooperativasmais sólidas”

“Quando falamos em assentamentos, temos que pensar não somente na produção

agrícola, mas também na infraestrutura, na habitação, na escola e no lazer, na

necessidade de políticas públicas integradas e mais amplas”. É nesse contexto

que Milton Fornazieri, o Rascunho, presidente da Confederação Nacional

das Cooperativas de Reforma Agrária no Brasil (Concrab), coloca os desafios

para a produção dos agricultores. Na entrevista, ele fala da necessidade e

dificuldades das cooperativas, dos avanços e exemplos bem-sucedidos de

comercialização de leite, arroz e agrocombustível. Mas destaca: a tarefa dos

assentamentos é a produção de alimentos, e deve ser garantida a diversidade.

Experiência do arroz orgânico de Porto Alegre se expande para outras regiões

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mais sadio através do Manejo RacionalVoazin, técnica que utiliza de modoracional as pastagens existentes noassentamento. Nesse processo, as vacasconsomem somente capim, o que leva auma produção chamada de “leite verde”.É um processo que visa à produçãoorgânica do leite.

JST - Além do arroz e do leite, o quevocê destaca nos assentamentos?

MF - Outra cadeia que vem se estrutu-rando, principalmente no Semi-árido éa produção de mamona e girassol, con-sorciado com a produção de alimentos,para a produção de biodiesel. Esta produ-ção vem se estruturando em parceria coma Petrobio, e vem se ampliando nos esta-dos nordestinos. A experiência começouna Bahia, Ceará e Norte de Minas. Nãopodemos esquecer que a tarefa dosassentamentos é a produção de alimentos,primeiro para o autoconsumo e posterior-mente para atender a população urbana.Por isso buscamos garantir a diversidadena produção, pois temos como princípiolutar contra a monocultura, seja em gran-de ou pequena escala, pois a monoculturanão gera vida, apenas lucro.

JST - Sobre o modo de produção:como estão as associações ecooperativas da Reforma Agrária hoje?

MF - Acompanhamos mais de 100 co-operativas espalhadas nos assentamen-tos do Brasil. Estas cooperativas sãomuito diversas, algumas são integral-mente coletivas, outras de prestação deserviços, outras organizadas a partir deagroindústrias. Todas elas exercem umpapel importante para o desenvolvi-mento dos assentamentos. Além dascooperativas existem muitas associa-ções, que também contribuem no pro-cesso organizativo dos assentados,porém têm enfrentado limites, tantode ordem jurídica como organizativa,mas cumprem uma função importanteno processo. A formalização é secun-dária, o importante é que se realize acooperação, superando assim o indivi-dualismo tão presente no meio rural.A tendência de criação de novascooperativas se dá principalmente por-que o Estado está organizado de formaque, para acessar políticas públicas,cada vez mais é necessária uma re-presentação jurídica, e a cooperativa énossa única saída. A necessidade pelaformalização de cooperativas se dápara possibilitar a instalação de agro-indústrias nos assentamentos e na co-

mercialização através de mecanismospúblicos, por exemplo.

JST - Quais as políticas públicas - e osgargalos - para a comercialização deprodutos da Reforma Agrária?

MF - A história tem nos mostrado queem geral o pequeno agricultor dominabem o processo produtivo e historica-mente sempre fez isso, deixando o pro-cesso da comercialização para o atraves-sador ou para as grandes cooperativas,deixando assim boa parte do ganho daprodução para eles. Dentro dos assenta-mentos isso não é diferente. Muitas boasexperiências de cooperação tiveram seufim por não saberem lidar com o merca-do. No início do governo Lula, começouum processo de aquisição de alimentosproduzidos em áreas de assentamentos eda agricultura familiar camponesa. Esteprograma, conhecido como PAA, veiotrazer segurança para camponesesinseridos no programa, pois era sóproduzir que o governo (via CompanhiaNacional de Abastecimento - Conab)comprava. Isso faz uma diferença gran-de, pois ajuda a organizar a produção,gerando renda para as famílias. Com aexperiência positiva do PAA, foi dadomais um passo no processo de comerciali-zação. Em 2009 foi assinada a lei quediz que 30% da alimentação servida emtodas as escolas do Brasil tem que vir daagricultura familiar, de agricultores eassentados da Reforma Agrária. Masainda há grandes gargalos destas duasimportantes ferramentas de comercializa-ção. O primeiro é que, tanto no PAAcomo na Alimentação Escolar, um

“Este foi um erro estratégico:querer desenvolver a cooperaçãobuscando competir com grandes

empresas ou cooperativascapitalistas, em vez de

fortalecer os cooperados”

número bastante baixo de assentados temacesso. Isso acontece por falta de infor-mação e capacidade técnica de elaborara Cédula do Produto Rural (CPRs), mastambém e principalmente por falta derecursos. Estima-se que 60 mil famíliasacessem o PAA, dentro das três modali-dades. Um segundo gargalo da comercia-lização está ligado ao problema do bene-ficiamento e da logística, principalmentena Alimentação Escolar, em que grandeparte dos alimentos adquiridos necessitade um processo de beneficiamento. Hojefaltam muitas agroindústrias nos assenta-mentos, o que impede que mais famíliasse beneficiem do programa. Por fim, te-mos o problema da logística. A maioriados assentamentos é muito carente detransporte, e mais grave do que transporteé o problema do armazenamento. Serianecessário garantir centros de armazena-gens e distribuição dos produtos, prin-cipalmente nos grandes centros urbanos,bem como em todas as cidades.

JST - Qual a relação entre aprodução dos assentamentos daReforma Agrária e a Campanhacontra o Uso dos Agrotóxicos?

MF – Em alguns lugares, principalmenteno centro-sul do Brasil, há uma adesão àprodução de grãos, principalmente sojae milho, com o uso de agrotóxicos,seguindo o modelo imposto peloagronegócio. Mas é justamente nestaregião que vêm crescendo e fortalecendoduas grandes experiências de produçãoorgânica. A partir da prática, elasmostram que é possível produzir sem ouso de agrotóxicos. Refiro-me à Bionatur,

que mostra como se pode produzirsementes orgânicas. Além disso, temosa experiência do arroz orgânico da regiãoda Grande Porto Alegre, que agora seexpande para todos os assentamentos doestado que produzem arroz. Fico alegrequando prefeituras como Guarulhos eSanto André (estado de São Paulo) entreoutras, decidem que todo o consumo dearroz consumido na alimentação escolardeve ser orgânico. Nosso desafio na luta

contra os agrotóxicos é chegar até omercado das cidades, ser uma opção paraquem realmente quer deixar de consumira sua cota diária de veneno, que hojechega a mais de cinco litros de agrotóxicopor pessoa por ano. Um outro caminhoé trabalhar junto à assistência técnica paraencontrar saídas alternativas para que asfamílias de assentados que produzematravés do uso de agrotóxicos possampassar por uma transição de matriztecnológica para um processo alternativo,diminuindo gradativamente o uso dosagrotóxicos. A produção agroecológicados assentamentos, tendo condições dechegar até as cidades, poderia ser umaalternativa aos alimentos envenenados.

Grande desafio é a comercialização dos produtos orgânicos, que são uma alternativa aos alimentos contaminados

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6 JORNAL SEM TERRA • MAIO 2011

ESTADOS Outdoors em defesa da Reforma Agrária são colocados nas ruas de Pernambuco

ANTÔNIO CARLOS SENKOVSKI

JACKELINE FLORÊNCIO

TERRA DE DIREITOS

“REFORMA AGRÁRIA: Esperançapara o campo, comida na sua mesa”.A mensagem encontra-se estampadaem vários outdoors por todo o estadode Pernambuco.

Tal medida é fruto da assinaturade um Termo de Ajustamento de Con-duta (TAC) pela Associação dos Mili-tares de Pernambuco (AME, antigaAOSS – Associação de Oficiais, Sub-tenentes e Sargentos da Polícia Mili-tar de Pernambuco), que garantiu aretratação aos trabalhadores SemTerra, em decorrência da veiculaçãomassiva de propagandas de cunhodifamatório e preconceituoso promo-vida pela antiga AOSS, em 2006.Ainda de acordo com o TAC, a as-sociação publicou retratações públi-cas aos Sem Terra no jornal de circu-lação interna aos membros da as-sociação – e que chega também aosquadros da Polícia Militar e do Corpode Bombeiros – além de publicar napágina eletrônica da Associação.

VitóriaInédita, a ação do Ministério Público

representa um grande passo na reparaçãoaos danos sofridos pelos trabalhadores,principalmente em um estado como Per-nambuco, que tem um dos maiores índicesde violência contra trabalhadores rurais ede conflitos agrários no Brasil.

Além de garantir a retratação aos cam-poneses, o direito de resposta reafirma aimportância da luta pela Reforma Agráriapara o conjunto da sociedade. Em umaconjuntura de constante criminalização daluta e de avanço do agronegócio, apoiadopelas políticas governamentais, essa é umaimportante vitória para os movimentos do

JADE PERCASSI

MILITANTE MST/SP

“TRABALHO de criança não pode sercom facão, tampouco com veneno paraplantação... trabalho pra criança não é nocanavial, é dar milho pras galinhas queandam lá no quintal!”

Foi com muita poesia e musicalidadeque iniciamos as atividades de formaçãode Arte Educadores do Campo das regiõesSul, Sudeste e Centro-oeste, com o curso

Trabalhadores Sem Terra ganham direito de respostapor campanha de criminalização em 2006

campo. “A campanha corresponde a umavitória política do instrumento do direitode resposta frente às mensagenspreconceituosas veiculadas em 2006. Masessa é principalmente uma vitória daReforma Agrária contra o discurso de quenão é mais necessária e representa a legi-timação da luta para sua efetivação”, afir-mou Cássia Bechara, da Direção Estadualdo MST em Pernambuco.

De caráter amplo e estrutural, a Refor-ma Agrária garante o acesso e a concretiza-ção de outros direitos humanos, como odireito à moradia, à alimentação e ao traba-lho. Além disso, são esses mesmos trabalha-dores rurais, que lutam pela Reforma

“Cultura da Infância: cantando e encantan-do com as crianças do campo” entre osdias 5 a 9 de abril, em São Paulo, organiza-do pelos setores de Educação e Cultura.Participaram educadores e educadorasmilitantes das áreas de acampamentos eassentamentos de nove estados (SP, RJ,MG, ES, PR, MS, GO, MT, RO) e doInstituto de Educação Josué de Castro.

Por meio dos estudos, debates eexercícios práticos, o curso proporcionouimportantes momentos de reflexão sobreo trabalho desenvolvido junto à Infânciano Movimento, identificando a importân-cia de estarmos atentos ao conjunto devalores em que vivem nossos Sem Ter-rinha. Em tempos em que seus espaços desocialização estão permeados por contra-dições, sobretudo pela forte presença daindústria cultural, em especial através datelevisão e da publicidade, as linguagensartísticas e a música em particular apare-

Agrária, os responsáveis pela construçãoda soberania alimentar do país.

PreconceitoDurante os primeiros meses de 2006,

a população de Pernambuco foi sur-preendida com uma ostensiva propagan-da contra trabalhadores Sem Terra, as-sinada pela então AOSS.

A Associação havia colocado nasprincipais vias públicas da cidade do Recifee nas rodovias do estado outdoors com aseguinte mensagem: “Sem Terra: sem lei,sem respeito e sem qualquer limite. Comoisso tudo vai parar?”. A mesma mensagemfoi reproduzida em jornais de circulaçãolocal, internet, além de emissoras de TV erádio. Também foram publicados textosigualmente preconceituosos e difamatóriosno jornal interno da Associação.

Em resposta à propaganda, entidadesde defesa dos direitos humanos, como oMovimento Nacional de Direitos Humanos(MNDH), a Comissão Pastoral da Terra(CPT) e a Terra de Direitos denunciaramo caso ao Ministério Público dePernambuco, afirmando que o estado éum local de extrema tensão agrária e acampanha publicitária, de criminalizaçãoda luta legítima dos trabalhadores, incitavaos policiais militares a agirem de maneiraviolenta contra os camponeses, estimulandoainda mais o conflito existente no campo.

Além disso, o material publicitário vei-culado atentava contra os princípios cons-titucionais, especialmente a dignidade hu-mana, o direito à organização política e,acima de tudo, o direito de lutar por direitos.

Após a denúncia, o Ministério Públicoabriu o procedimento para apurar os fatos,o que desembocou no Termo de Ajusta-mento de Conduta citado.

cem como possibilidade de construçãode contrapontos ao que se apresenta àscrianças pelos meios de comunicaçãocomo bom, bonito, desejável. A músicapode ser apreciada, estudada, apreendidaem suas diferentes dimensões – suapoesia, ritmos, melodias, movimentos,mensagem – mas também pode sercriada e recriada junto com as criançasa partir de um compartilhar de histórias,memórias, reflexões e sentimentos.

Para além de aprendermos e com-partilharmos todas as músicas e artes dequalidade já produzidas pela classe tra-balhadora, o grande desafio colocadopara todo o Movimento no trabalho comos Sem Terrinha consiste em construirmetodologias para observar, ouvir einterpretar os meninos e meninas, incen-tivando-os a ousar e criar novas formasde expressão de sua identidade, formadapela luta e nos processos coletivos.

Cultura da Infância: cantando e encantando com as crianças do campo

Retratação pública foi vitória dos componeses

Educadores de nove estados participaram do seminário

Page 7: Jornal Sem Terra - edição 312 Maio 2011

7JORNAL SEM TERRA • MAIO 2011

ESTADOS Sem cimento, areia e aço, telhado de grama permite o cultivo de flores

TALLES REIS

DA PÁGINA DO MST

FORAM ALGUNS mesesde intensos trabalhos. Oque era para ser uma

simples reforma de uma casa tornou-se uma experiência viva de como é pos-sível construir fora da lógica capitalistadominante, hegemonizada pelo uso doconcreto e do ferro. A necessidade dese reformar uma das casas da EscolaNacional Florestan Fernandes, queserve de moradia para militantes da Bri-gada Apolônio de Carvalho, permitiua realização da experiência de cons-trução do telhado de grama, tambémconhecido por telhado vivo, telhadoverde ou ecotelhado.

A definição foi tomada coletivamentepela coordenação da ENFF e porestudantes e arquitetos do Laboratório deCulturas Construtivas (Canteiro Experi-mental), do Epa! Espaço de Projeto eAção, ambos coletivos da Faculdade deArquitetura e Urbanismo da USP.

Entre as vantagens do telhado estãoo maior conforto térmico e acústico dosambientes internos, aumento da áreaverde, possibilidade de melhor aprovei-tamento da água da chuva, melhorrelação ecológica da casa com o seuentorno, produção de um jardim ouhorta e a utilização de materiais locais.

Na construção priorizou-se a utiliza-ção de materiais da própria escola, como

a terra, o bambu e a grama. O trabalho foitodo construído no sistema de mutirão, noqual trabalharam militantes, educandos,educadores e também os arquitetos.

Chico Barros, arquiteto do Epa! edo Laboratório de Culturas Construti-vas, ressalta que, do ponto de vista po-lítico, o “telhado verde é também umsímbolo do combate à transferência dedinheiro ao grande capital: reduzindo oconsumo global do cimento, areia e aço,reduzimos também - ainda que re-sidualmente, com valor mais simbólicoque efetivo - o dinheiro que transferimosà Votorantim, à Gerdau, às empresas queestão acabando com o Vale do Paraíbaextraindo areia predatoriamente”.

ENFF desenvolve técnica do ecotelhadoem parceria com arquitetos

LEANDRO UCHOAS

PARA A PÁGINA DO MST

NO AUDITÓRIO, eram maisde 500 lugares completa-mente tomados por homens

de mãos calejadas, mulheres de rugasno rosto, e jovens de lágrimas nosolhos. Um mar de bonés vermelhosformava um desenho raro numaassembleia nem sempre tão popularquanto deveria ser.Falas emocionadas, cânticos exaltados,encenações. Nenhuma arma apontada,

nenhum antijornalista. A homenagemao MST, no dia 14 de abril, lotou aAssembleia Legislativa do Rio deJaneiro (Alerj).Concedida pelo deputado estadualPaulo Ramos (PDT), a MedalhaTiradentes fez parte das atividadesrelacionadas aos 15 anos do Mas-sacre de Eldorado dos Carajás (PA).“Tivemos dificuldades, aqui, deaprovar essa medalha ao MST. Nessepaís, é mais fácil premiar umbanqueiro do que um movimento so-cial”, disse o deputado.MST recebe Medalha Tiradentes na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro

Aos heróis, medalhas

Maior conforto térmico e acústico e melhor aproveitamento da água são vantagens da obra pioneira

Desta rica experiência, constituiu-se o Coletivo Socialista de Construto-res, que coletivamente faz tudo, se rela-cionando por meio do diálogo fraternoem assembleia democrática. Participampintor, pedreiro, telhadista, eletricista,projetista, arquiteto, engenheiro, enca-nador... E na composição é que cole-tivamente fazem arte, constroem casase solidificam sonhos.

Geraldo Gasparin, coordenador daENFF, ressalta que desta primeiraexperiência poderão ser realizadas outrasiniciativas de bioconstrução. O caráterreplicador da técnica é fundamental,visto que muitos dos trabalhadores quese envolveram na construção eram de

outros estados e até mesmo de outrospaíses, podendo agora construir outrostelhados verdes em seus assentamentos,acampamentos e comunidades.

A casa do teto verde, como tem sidochamada, integra-se em certo sentido àmística do Movimento: cobre-se com terrapara buscar abrigo e para viver, a mesmaterra que é objeto da luta dos Sem Terra.

Entre os bambus colhidos na escolausados na sustentação da cobertura e aterra propriamente dita que a configura,há uma lona preta que impede ainfiltração de água. Esta lona é ocoração do sistema construtivo e semela o sistema se tornaria inviável.

A lona remete às muitas lonas quecaracterizam as ocupações realizadaspelo MST e que indicam o caminhodo futuro. A lona preta é um símboloimportante para o Movimento. Nestacasa, em certo sentido, antes de secobrir com terra estamos nos cobrindocom a lona. A terra, objetivo e meioda luta, surge para reduzir o calor etornar a existência mais bonita.

Quem contribuiu nosmutirões de construção:

Cocó, Tom, Zé Arnor, Diego, Talles,Chico, Pedro, Rafael, Sérgio, Lucas,Manoel, Rafael, Xisco, Tchesco,Cristiano, Geraldo, Eridan, Donizete(Piá), Gabriel, Fernando... e tantosoutros nos sábados e outras atividadesde trabalho dos estudantes da escola.

Talle

s Reis

Arqu

ivo M

ST

Page 8: Jornal Sem Terra - edição 312 Maio 2011

ESPECIAL Audiências foram realizadas com diversos ministérios para resolver a situação dos acampados

98 JORNAL SEM TERRA • MAIO 2011JORNAL SEM TERRA • MAIO 2011

SETOR DE COMUNICAÇÃO

A Jornada Nacional de Lutaspela Reforma Agrária,organizada no mês de abril,mobilizou 19 estados, somando-se ainda a atividades emBrasília, na Câmara dosDeputados, e um ato emmemória aos 15 anos deimpunidade do Massacre deEldorado dos Carajás.

Foram realizadas atividadesem Alagoas, Bahia, Ceará,Goiás, Maranhão, Mato Grosso,Mato Grosso do Sul, MinasGerais, Rio de Janeiro, RioGrande do Sul, Rondônia, SantaCatarina, São Paulo, Sergipe,Pará, Paraíba, Paraná,Pernambuco, Tocantins e DistritoFederal (veja panorama ao lado).

Foram mais de 30 milfamílias em luta, ocupando maisde 70 ocupações de latifúndios,mobilizações em 14 sedes doIncra, além de fechamento deestradas, acampamentos nascapitais, distribuição dealimentos sem agrotóxicos,debates com a sociedade,audiências públicas e ações emdiferentes órgãos dos governoslocais responsáveis pelaReforma Agrária.

“O balanço da jornada ébastante positivo e mostrou aforça do nosso Movimento,casando lutas de massa eatividades políticas. Fizemosocupações de latifúndios emanifestações em 19 estados,além de audiência comministros, governadores esecretários estaduais,atividades políticas noCongresso Nacional e emassembleias legislativas,distribuição de alimentos semagrotóxicos para a população. Éuma das jornadas de abril commais ocupações desde 2004”,avalia o integrante daCoordenação Nacional do MST,José Batista de Oliveira.

A jornada, promovida peloMST em todo o país, é realizadaem memória aos 19companheiros assassinados noMassacre de Eldorado dosCarajás, em operação da PolíciaMilitar, no município deEldorado dos Carajás, no Pará,no dia 17 de abril de 1996.

A data é Dia Nacional de Lutapela Reforma Agrária, assinadopelo presidente FernandoHenrique Cardoso, a partir deproposta da então senadoraMarina Silva.

MST mobiliza 19 estados e faz mais de 70 ocupações de latifúndios

Paraná

• Ciclo de audiências públicaspara discutir o desenvolvimentoem áreas de Reforma Agrária nonorte e centro-oeste do Paraná

Mato Grosso

• Acampamento no Trevodo Lagarto, na saídade Várzea Grande

• Protesto nas BR 364 e 163

Mato Grosso do Sul

• Ocupação do pátio do Incraem Campo Grande e entrega deum documento ao MPF(Ministério Público Federal).

O Movimento fez audiênciascom vários ministérios,buscando resolver o problemados acampados e fortaleceros assentamentos, garantindoos direitos sociais dasfamílias. O ministro GilbertoCarvalho (Secretaria-Geral)anunciou que o governo vairesponder em maioa pauta apresentada.

Onde participamos de audiências:• Ministério do

Desenvolvimento Agrário• Incra• Ministério da Educação• Secretaria Geral da Presidência• Companhia Nacional de

Abastecimento – Conab• Ministério do Trabalho• Ministério do

Desenvolvimento Social

Em maio, governo federal apresentauma resposta à pauta do Movimento

Santa Catarina

• Duas ocupações de terras,na fazenda Xaxim I,localizada no município deCuritibanos, com 150 famíliase da Fazenda Batatais

Rondônia

• 500 famílias ocuparam a sede da Unidade Avançadado Incra, em Ji-Paraná

Pará

• Semana Nacional de Luta Camponesae Reforma Agrária no Pará

• Acampamento Político Pedagógicoda Juventude com mil jovens

• Ato político-cultural no dia 17 de Abrilna Curva do S, em Eldorado dos Carajás

Rio Grande do Sul

• 500 assentados ocuparam o Incra em Porto Alegre• Ocupação da fazenda Guerra, em Coqueiros do Sul

Distrito Federal

• Ocupação da “Reserva D”,em Brazlândia (DF)

• Ocupação da sededo Incra do DF

• Seminário “Eldorado dosCarajás 15 anos deimpunidade” no Congresso

Goiás

• 800 famílias ocuparam o IncraTocantins

• 300 famílias ocuparam a fazenda Dom Augusto, entre Palmas e Porto Nacional• Marcha até Palmas e acampamento na frente do Incra

Sergipe

• 300 famílias realizaram umacampamento em frenteao Incra em Aracaju

Paraíba

• Três ocupações no interior,mobilizando mil famílias

• Acampamento na sede do Incra emJoão Pessoa

Pernambuco

• Foram ocupadas 15 áreas, em um totalde mais de 3 mil famílias mobilizadas.

Bahia

• Ocupação de 36 fazendas, envolvendomais de 10 mil famílias no estado

• Ocupação da Secretaria deAgricultura, Irrigação e ReformaAgrária (Seagri) em Salvador

• Protesto no Incra• Homenagem ao MST na Assembleia

Legislativa

Alagoas

• Mil famílias mobilizadas

• Bloqueio da BR-101 nosmunicípios de JoaquimGomes e Junqueiro

• Ocupação de agênciado Banco do Brasil deSão Luiz do Quitunde

• Ações de diálogocom a população emDelmiro Gouveia

Ceará

• Ocupação do Incrae da Secretaria deDesenvolvimento Agrário

• Ocupação dequatro latifúndios

Maranhão

• Cerca de 400 trabalhadoresocuparam as sedes do Incraem Imperatriz e São Luiz

São Paulo

Foram realizadas 15 atividades

• Ocupação de seis fazendas

• Ocupação da sede do Incra

• Doação de alimentos emRibeirão Preto

Minas Gerais

• Acampamento em BeloHorizonte com 1.500 SemTerra, com ocupação do Incra

• Ato na praça da AssembleiaLegislativa de Minas Gerais

• Protesto no Tribunal de Justiça

Rio de Janeiro

• Ocupação da sede do Incra

• Homenagem ao Movimento coma maior comenda do Estado doRio de Janeiro na AssembleiaLegislativa do Rio de Janeiro(Leia mais na pág. 7)

Encontro das Escolas do campo reúne 300 crianças em São Paulo

Page 9: Jornal Sem Terra - edição 312 Maio 2011

10 JORNAL SEM TERRA • MAIO 2011

Crescimento da economia e obras volumosas não significam avanços sociaisREALIDADE BRASILEIRA

ANDRÉ CARDOSO

ASSESSOR DO DIEESE E MILITANTE

DA CONSULTA POPULAR

A PARALISAÇÃO de mais de 170 miloperários no mês de março, apresenta-da por um estudo do DepartamentoIntersindical de Estatística e EstudosSocioeconômicos (Dieese), revela àsociedade as contradições criadas porum modelo de desenvolvimento quetem como objetivo principal o enri-quecimento de grandes empresas,como a Odebrecht e Camargo Corrêa,em detrimento de uma proposta dedesenvolvimento sustentável e inte-gradora, que beneficie as comuni-dades locais.

O levante ocorrido em Jirau e SantoAntônio são apenas a ponta do icebergde uma situação que não é nova noBrasil: essa é a lição que se tira desteestudo. Nos diversos cantos do país,encontram-se trabalhadores nas piorescondições possíveis de trabalho,moradores sendo expulsos de suas casas,camponeses sendo enxotados de suasterras para dar vazão a esse projeto. Ascausas destas mobilizações devem seranalisadas para que as forças popularestenham o entendimento do que enfrenta-rão neste período que se abre.

O pano de fundo do Brasil é umaeconomia que mantém o crescimentoeconômico iniciado em 2009, sustenta-do pela recuperação da demanda inter-na e o aumento da taxa de investimento(privados e públicos), mesmo em meioàs incertezas quanto aos desdobramen-tos da crise econômica internacional.

Crescimento da economiaEm 2010, o PIB brasileiro (tudo que

foi produzido no país em forma demercadorias ou serviços no ano) cresceu7,5% em relação ao ano anterior, o maiordesde 1986, ficando apenas atrás da Chinae da Índia. Esse crescimento teve forteimpulso do setor da construção civil, quecresceu 12%, seguido pela indústria, comcrescimento de 10,1%.

A recuperação da demanda internaé observada na análise de alguns indi-cadores econômicos que respaldam talcrescimento: o consumo das famíliasem 2010 cresceu 7%, seguido por umcrescimento de 8,2% da massa salarial,segundo os dados do IBGE. O cresci-mento da concessão de crédito parapessoas físicas foi de 17,6%.

Seguindo estes números positivos, osdados apresentados do mercado de trabalhodo ano de 2010 foram da criação de 2,5milhões de novos empregos formais,segundo os dados do Ministério doTrabalho e Emprego (RAIS e CAGED).A taxa de desemprego medida pelo Dieesefoi de 14% em 2009 para 11,9% em 2010na média das regiões metropolitanas.

O quadro apresentado, de forma bemresumida, deve-se a um conjunto decondições econômicas favoráveis vividaspelo país, mas também pela centralidadedas obras públicas como o PAC (Programade Aceleração do Crescimento 1 e 2), oPrograma Minha Casa, Minha Vida erecentemente os investimentos nas obrasde infraestrutura para a Copa do Mundo2014 e as Olimpíadas de 2016 no Rio deJaneiro, implementadas pelo governofederal, bem como os planos de

investimento da Petrobras, em especial ofoco no Pré-sal.

Grandes obrasSegundo os dados do governo federal

em 2010, os investimentos em infraestru-tura desembolsados de 2007 a 2009cresceram 84% (de R$ 24,3 milhões paraR$ 44,6 milhões). As projeções para 2011-2014 do PAC 2 é de R$ 1,59 trilhão,somado ao programa Minha Casa, MinhaVida. O setor de energia é o que maisreceberá recursos: R$ 465,5 bilhõesinvestidos até 2014. No programa MinhaCasa, Minha Vida a meta do governofederal é construir um milhão de mora-dias entre 2009 e 2011.

As obras voltadas para a Copa doMundo de 2014 atingirá não só ascidades-sede dos jogos (Belo Horizonte,Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza,Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife,Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo),mas também seus municípios vizinhos,que poderão ser “beneficiados” comrealização de obras e demanda deserviços. A construção ou reforma dosestádios das cidades-sede são apenas umaparcela dos investimentos. Osinvestimentos em infraestrutura giramem torno de R$ 33 bilhões. Asestimativas para as Olimpíadas 2016giram em torno de R$ 28,75 bilhões.

O investimento total previsto pelaPetrobras segundo o Plano de negóciospara o período de 2009 a 2013 é de R$174,4 bilhões, sendo nas áreas deexploração e produção, abastecimento, gáse energia, petroquímico, corporativo,distribuição e bicombustíveis.

Mobilizações popularesAs forças populares devem prestar

atenção a esses programas. Se o quadro

conjuntural aparenta uma melhoria nascondições de vida dos trabalhadores, ébem certo que a centralidade dasempresas tem como fim a ampliaçãode seus lucros a todo custo. Observarde perto quais as movimentações quevêm ocorrendo em cada grande obraapresentada como a “salvadora” doBrasil é necessário.

O pólo dinâmico neste momento enos próximos anos se encontra no setorde construção civil, dada a centralidadedas obras em infraestrutura. O epicentrodas recentes mobilizações encontra-senos trabalhadores alocados neste setor.Com um crescimento acima do PIB (em12% frente aos 7,5%), as contradiçõespresentes na construção civil se mantêm.O setor é caracterizado pela altainformalidade, em que 39,2% sãotrabalhadores por conta-própria, 24,6%não têm carteira de trabalho assinada esó 28,2% possuem registro em carteira,segundo dados da PNAD/2008 (IBGE).Além dos rendimentos serem muitobaixos, a jornada de trabalho é uma dasmais extensas, acompanhada de umarotatividade muito elevada em relaçãoaos outros setores.

A aceleração das obras por partedas grandes empresas para anteciparseus lucros, aumentando ainda mais aintensidade do trabalho, colocam à tonaum quadro que já existia de precariza-ção do trabalhado e das condições evida do trabalhador e trabalhadora. Oslevantes que aconteceram são fruto des-ta conjuntura apresentada. As reivindi-cações dos trabalhadores da construçãocivil encontram-se em torno de melho-res condições de trabalho, pagamentode horas-extras e alojamentos maisestruturados, dentre outras pautas.Outras lutas podem vir.

Grandes investimentos, poucos retornos

EixosPAC Cidade Melhor

PAC Comunidade Cidadã

PAC Habitação

PAC Água e Luz para todos

PAC Transportes

PAC Energia

Total

2011 - 201457,1

23,0

278,2

30,6

104,5

461,6

955,0

Pós 2014-

-

-

-

4,5

626,9

631,4

InvestimentosR$ bilhões

Total57,1

23,0

278,2

30,6

109,0

1088,5

1586,4

Page 10: Jornal Sem Terra - edição 312 Maio 2011

11JORNAL SEM TERRA • MAIO 2011

Vamos fazer uma grande Campanha de leitura e assinaturasREALIDADE BRASILEIRA

SETOR DE COMUNICAÇÃO

O JORNAL SEM TERRA está comple-tando 30 anos. Ele é o precursor dasatividades de comunicação do MST. Sur-giu em maio de 1981, no acampamentoEncruzilhada Natalino, no Rio Grandede Sul. Quando o acampamento foi tor-nado área de segurança nacional peloregime militar e cercado pelo Exército,as famílias acampadas procuraram umaforma para romper o cerco, físico epolítico, imposto pela ditadura militar ecriaram o Boletim Sem Terra. O objetivoera informar a sociedade sobre a realidadedas famílias acampadas e conquistarsolidariedade à luta pela Reforma Agrária.

Em 1984, no primeiro Encontro Na-cional do MST, em Cascavel, o Boletimque já possuía o formato de Jornal foideclarado órgão oficial da organizaçãoe a circulação passou a ser nacional.

A principal função do JST é ser umveículo de informação e formação dostrabalhadores rurais. Em relação à infor-mação, busca atender a duas necessida-des: divulgar à sociedade as lutas, avançose conquistas dos trabalhadores rurais elevar ao conhecimento dos Sem Terra aslutas que ocorrem em todo o país.

SimbologiaO Jornal Sem Terra representa uma

grande conquista na história do MST, poissurgiu antes mesmo da criação oficial doMovimento e no decorrer dos anos seconsolidou como um instrumento decomunicação fundamental na unificaçãodas ações nacionais da luta pela terra.

Nesses 27 anos de luta, o JST se

tornou o principal veículo de comunica-ção para informar a sociedade sobre aslutas do MST e levar informações so-bre as lutas nos estados para toda a basedo Movimento, em todo o país.

Precisamos transformar o Jornal emum instrumento pedagógico de forma-ção e informação para toda a base doMST, resgatando a mística da leitura edos zeladores do JST, em todos os espaços

30 anos do Jornal Sem Terra

Propostas de ações

Estamos propondo realizar algumas ações paramarcarmos a comemoração deste tãoimportante veículo de comunicação. São elas:• Realizar atividades públicas com temas

atuais e com debates, como parte dascomemorações dos 30 anos,principalmente em São Paulo, Rio deJaneiro e Brasília, e em outros estadosonde houver condições.

• Durante todo o ano de 2011, todas asatividades internas do Movimentodeverão abordar o Jornal, sua história eos elementos da campanha deassinaturas.

• Publicação do manual de redação dosveículos Sem Terra. É um documento queirá trazer questões políticas e orientaçõessobre a produção dos veículos decomunicação do Movimento.

• Realizar a campanha de leitura eassinaturas do Jornal, no intuito deampliar a abrangência política deformação e informação do mesmo. Ameta para o período da campanhaé angariar 5 mil novas assinaturas.Ela terá inicio em agosto deste ano e seencerra no 6º Congresso Nacional doMST no ano de 2012.

• Mais informações sobre a campanha esobre assinaturas:[email protected]

Veja também mais sobre a históriado Jornal Sem Terra no encarte destaedição das Crianças Sem Terrinha.

do Movimento; reuniões, cursos, encon-tros, escolas, centros de formação, as-sentamentos e acampamentos, etc.

Todas e todos os Sem Terra preci-sam assinar o Jornal, garantindo a suasustentação e tornando-o uma fonte in-dispensável de leitura e ferramentafundamental de luta.

É fundamental garantirmos quetodos os militantes, dirigentes e profis-sionais, como, por exemplo, técnicos,advogados, educadores, entre outros,que estão nas instâncias e nos espaçosde luta do movimento assinem o JST.Além disso, não devemos perder aperspectiva de que buscar assinantespara os nossos meios de comunicaçãoé um trabalho militante permanente.

Precisamos transformar o Jornalem um instrumento pedagógicode formação e informaçãopara toda a base do MST

Encarte sobre os 20 anosdo JST (acima) e trabalhadoreslendo o jornal na Bahia (esq.)

Page 11: Jornal Sem Terra - edição 312 Maio 2011

12 JORNAL SEM TERRA • MAIO 2011

Lições que podemos tirar dos acontecimentos na regiãoINTERNACIONAL

DA REDAÇÃO

EM DEZEMBRO DE 2010, umvendedor de frutas e verduras,Mohamed Bouazizi, de 26 anos, naTunísia, depois de não ter conseguidopagar propinas aos fiscais, não obterlicença para trabalhar e de ter suasmercadorias apreendidas, se suicidouateando fogo no próprio corpo. Odrama do jovem tunisiano provocouuma onda de revoltas populares que sealastraram, nos meses seguintes, ainúmeros outros países árabes: Iêmen,Egito, Mauritânia, Argélia, Marrocos,Líbia, Arábia Saudita, Bahrein... É a“revolução dos Jasmins”, como estásendo conhecido esse conjunto derevoltas populares árabes.

A intensidade e a velocidade dasrevoltas populares impuseram trêsquestionamentos à população mundial:a) qual o próximo governo ditatorial,após a queda dos governos da Tunísiae do Egito, que não resistirá e cairáfrente aos protestos populares? b)haverá governo que passará incólume

à força das massas nas ruas? c) qual aextensão e profundidade dasreivindicações e transformaçõesexigidas por essas revoltas populares?Passados quase cinco meses do iníciodas revoltas populares essas sãoquestões que ainda não possuemrespostas e conclusões definitivas.

No entanto, esses acontecimentostrouxeram a todos que lutam por ummundo socialmente justo, igualitário edemocrático, algumas lições.

A primeira delas é a força das mas-sas mobilizadas. Foram derrotados osque diziam que as revoluções eram coi-

sas do passado e que os povos estavamadestradamente submetidos ao domíniodos países imperialistas e à força dogrande capital. Venceu o princípio deque os povos sempre lutarão por me-lhores condições de vida e por liberda-des e conquistas democráticas.

A segunda lição refere-se à respon-sabilidade das potências capitalistasocidentais sobre a realidade econômica,política e social daquela região. Os go-vernos dos países imperialistas, ven-cedores da Segunda Guerra Mundial,redesenharam a geografia do OrienteMédio, criaram artificialmente novospaíses, introduziram os valores e o mo-do de vida das sociedades capitalistas,incentivaram o surgimento de uma elitemilionária e corrupta e impuseram,financiaram e mantêm até hoje apoioa governos ditatoriais. Tudo para, emtroca, obter facilidades para saquear asriquezas naturais e, principalmente,obter o total controle sobre as maioresreservas mundiais de petróleo.

Agora, frente ao surgimento e aforça das revoltas populares, os EstadosUnidos e a União Europeia buscam pro-mover uma “transição ordenada”, quenão fuja do seu controle, não afete osseus interesses estratégicos e, se pos-sível, refaça os pactos de domínio em

condições mais favoráveis às potênciascapitalistas. Sem mencionar que algunsgovernantes, como da França e dosEUA, com baixos índices de aprovaçãojunto à população dos seus países, vi-ram nos conflitos árabes uma oportuni-dade de melhorar a aprovação de seusgovernos. Verdadeiras aves de rapina.

Nação Árabe

Cabe ainda ressaltar a terceira liçãodo redescobrimento da solidariedadeárabe. Desde 1967, quando o Egito foiderrotado por Israel, na Guerra dos SeisDias e o Estado israelita estabeleceu,com apoio do EUA, a supremacia mili-tar na região, os povos árabes enfrenta-vam dificuldades para ações unitáriase solidárias em prol de suas reivindica-ções comuns. Nessa guerra, o Egito nãofoi derrotado isoladamente. Foi der-rotada a tentativa, liderada pelo presi-dente egípcio Gamal Nasser, de criar agrande Nação Árabe. Por isso, essesacontecimentos, para o escritor e ativis-ta paquistanês Tariq Ali, “assinalam umrenascer autêntico do mundo árabedesde a derrota de 1967”. Assim, essasrevoltas populares devem ser vistascomo uma reação aos governos dita-toriais e aos governos que os apoiam.

Mas também devem ser vistas comouma renovação da memória históricada tentativa de construir a Nação Ára-be, interrompida em 1967.

A quarta lição diz respeito ao do-mínio e a exploração capitalista. As polí-ticas neoliberais, impostas à região pra-ticamente no mesmo período em que fo-ram adotadas na América Latina, estãoentre as causas que originaram as revoltaspopulares. Na maioria dos países árabeso povo foi às ruas para protestar contrao aumento dos preços dos alimentos, dastarifas de água e energia elétrica, dodesemprego massivo, do empobreci-mento da classe média, da rapinagemdas riquezas naturais e de governos cadavez mais corruptos, ditatoriais e submis-sos aos interesses dos países imperialis-tas. Enquanto na América o povo foi àsurnas para promover a eleição de umaonda de governantes progressistas, nospaíses árabes o povo foi às ruas paraderrubar os ditadores.

As bandeiras reivindicatórias queoriginaram as mobilizações continuamsendo empunhadas e continuam ali-mentando as lutas em defesa de con-quistas maiores. O povo árabe se man-tém nas ruas exigindo maiores oportu-nidades de trabalho; maior participaçãona política e maior liberdade de expres-são; melhores condições econômicas esociais, além de se opor à subjugaçãodo mundo árabe aos interesses e domí-nio dos países capitalistas ocidentais.

Para o sociólogo estadunidense Im-manuel Wallerstein, os acontecimentosdo mundo árabe mostram que “os ven-tos estão soprando. Sua direção e impul-so não são constantes e portanto nãosão previsiveis”. Mas, desde o surgi-mento dessas revoltas, o mundo árabejá não é mais o mesmo. O conflitoIsrael x Palestina certamente entraránuma nova fase em busca da sua solu-ção. A Arábia Saudita, uma das maioresditaduras na região e porto seguro dosEUA, assentada sobre a maior reservamundial de petróleo, também dá sinaisde que o povo está nas ruas exigindomudanças. A guerra civil que se prolon-ga na Líbia, com ingerência direta daUnião Europeia e dos EUA, tem re-sultados e consequências imprevisíveis.São os ventos imprevisíveis. Mas,voltando às palavras de Tariq Ali,“estamos no princípio da mudança”.

As revoltas populares no Oriente Médio

Ações, como a do Egito, devem ser vistas como a renovação da tentativa de construir a Nação Árabe

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Com força das revoltas populares,os Estados Unidos e a UniãoEuropeia buscam promover uma“transição ordenada”, que nãofuja do seu controle, não afete osseus interesses estratégicos e, sepossível, refaça os pactos dedomínio em condições maisfavoráveis às potências capitalistas

Page 12: Jornal Sem Terra - edição 312 Maio 2011

13JORNAL SEM TERRA • MAIO 2011

Padre José Comblin é grande exemplo de internacionalismo e compromisso socialLUTADORES DO POVO

SEVERINO RAMOS FIGUEIREDO - PASTORAL

DOS CATADORES DIOCESE DE NAZARÉ (PE)

ALDER JÚLIO CALADO –

FORMADOR DAS ESCOLAS MISSIONÁRIAS

O PADRE José Comblin (1923-2011)é dos grandes exemplos de interna-cionalismo e compromisso social comos pobres da terra. De origem belga,chegou ao Brasil em 1958, saindo deuma Europa que já vivia a origemde uma crise religiosa. Contrariandoseu tio que também era padre eachava que seu lugar era na academia- dada a capacidade intelectual ma-nifestada pelo doutor em teologiapela Universidade de Lovaina - elese torna missionário.

No Brasil, o padre José, como mui-tos de sua geração, se aproxima de umajuventude marcada pelo método daAção Católica (ver-julgar-agir). E o in-telectual belga, tímido, se contagia comum jeito de ser brasileiro que nuncamais o abandonou. Após uma primeiratemporada no Chile, foi convidado paravir ao Brasil por Dom Helder Câmara,de quem se torna assessor direto. Dessaamizade surge a articulação com outrosbispos da mesma linha, e vem logo emseguida a Conferência Geral dos Bis-pos da América Latina, realizada emMedellín (Colômbia), em 1968. Juntocom intelectuais como Gutiérrez (Pe-ru) e Juan Luis Segundo (Uruguai), essegrupo é responsável por fazer surgir aexpressão “opção pelos pobres”, quenada é que a expressão do compromis-so vivido nesse momento histórico.

Em 1972, os militares expulsamComblin do Brasil. Ele volta para oChile, em plena efervescência populardo governo Allende, e aí contribui coma promoção dos direitos dos pobres,sobretudo com a formação dos jovenscamponeses, na região de Talca. Coma implantação da ditadura de Pinochet,de lá também é expulso, em 1980. Re-torna então para o Brasil, para dar se-guimento à experiência de formaçãoda Teologia da Enxada, com os jovensdo campo, em Serra Redonda (PB).

Seja como teólogo de reconheci-mento internacional, seja como forma-dor, Comblin se fez um militante dacausa dos pobres latino-americanos,sendo frequentemente convidado a darconferências em vários países. Ele

também deu aula na Escola NacionalFlorestan Fernandes.

Nos anos 1980, esse competenteintelectual e assessor, escritor com maisde 70 livros e centenas de artigos,seguiu tendo nas classes populares aexpressão mais radical do seucompromisso. Disso foram provadiversas iniciativas de formação que eleinspirou e acompanhou pessoalmente,até o final de sua vida, destinadas aformar lideranças comunitárias epopulares, agentes de pastoral paraviver o seguimento ao evangelho nomeio dos mais pobres. Nesse momento,sua dedicação passa a ser de formarjovens missionários pela imensidão doNordeste. Experiência pedagógica quefortalece sua radicalidade e de seusescritos, inclusive contra a ideologiada segurança nacional, consolidando,ao mesmo tempo, seu compromissoevangélico com o mundo dos pobres.

Há 20 anos, padre José iniciou comuma equipe de missionários e missio-nárias populares mais uma relevanteexperiência formativa: a criação devárias escolas missionárias, em Juazeiro(BA), em Mogeiro (PB), em Esperan-tina (PI), e mais recentemente em

Floresta (PE) e em Barra (BA). A boasemente começa a brotar, e da Teologiada Enxada começam a florir diversasexpressões de vivência cristã, tais comoa Associação dos Missionários eMissionárias do Campo, a Fraternidadedo Discípulo Amado, uma comunidademonástica, em Colônia Leopoldina (AL),a Associação das Missionárias Populares,entre outras nascidas a partir do Centrode Formação Missionária, em SerraRedonda, sem esquecer o grupo deperegrinos e peregrinas.

Influências e pau-brasil

O formador não para, vai se en-cantando com modelos que estão forada rota convencional, como é o casodo maior missionário do Nordeste,o padre Ibiapina (1806-1883), quededicou sua vida como missionáriocomprometido com os pobres. Apartir dos seus 47 anos, Ibiapina,depois de ter sido juiz de direito emQuixeramobim (CE), tornou-se padree saiu das rodas sociais dos grandescentros, entrando pelo sertão paranunca mais voltar. Ele fundou casasde caridade e morreu pobre.

A esperança dos pobres vive

Quando procurado por alguém em crise com os rumos da hierarquia da Igreja,sua reflexão era sempre de que não falta espaço no mundo dos pobres

A admiração de Comblin porIbiapina o fez manifestar o desejo deser sepultado na mesma cidade, SantaFé. Semanas antes de morrer, Comblin,em visita à cidade, plantou uma mudade pau-brasil, dizendo que a plantafaria sombra junto a seu túmulo.

O padre José morreu em 27 de marçodeste ano, no exercício de sua função deformador. Ele morreu numa casa deformação habitada por mulheres pobresem Simões Filho. Sua morte nos ques-tiona sobre o nosso compromisso com omundo dos pobres com as mudançassociais, e nos coloca o questionamentosobre o que e como estamos construindoa luta social transformadora.

Seja como teólogo dereconhecimento internacional,

seja como formador, Comblin sefez um militante da causa dos

pobres latino-americanos, sendofrequentemente convidado a dar

conferências em vários países

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14 JORNAL SEM TERRA • MAIO 2011

“Fiz a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores”LITERATURA

ROSANA FERNANDES

DIREÇÃO MST-GO

Ana era seu nome: Ana Lins doGuimarães Peixoto Brêtas, nome cheio designificados - está sempre pronto a seaventurar, muito cheio de energia, possuiuma personalidade ativa e decidida. Nãovê graça numa vida sem desafios. E porser uma líder por natureza, atrai as outraspessoas com seu entusiasmo, podendo setornar uma pessoa teimosa. Um poucodisso tudo foi a vida da poetisa maisconhecida do estado de Goiás, que teveseu nome artístico de Cora Coralina.

A vida de Cora Coralina foi intensae longa. Nasceu em 20 de agosto de 1889e faleceu no dia 10 de abril de 1985,construindo uma história de quase umséculo. Todo esse tempo misturou oaçúcar e as frutas com seus deliciosospoemas, que não foram saboreados aomesmo tempo por todos. Seus docesforam conhecidos primeiramente,depois seus escritos caíram nas graçasdos apreciadores dos doces no papel.

Cora Coralina nasceu na cidade deGoiás, casou-se após fugir para Jaboti-cabal (SP), em 1911, com o advogadodivorciado paulista Cantídio Brêtas, quemorreu em 1934. Foi mãe de seis filhos:Paraguaçu, Enéias, Cantídio, Jacintha,Ísis e Vicência. Teve 15 netos e 19 bisne-tos. A filha caçula declara: “Mamãe foiuma mulher à frente do seu tempo”, em

seu livro biográfico “Cora Coragem Co-ra Poesia”. “Dona de uma mente aberta,sempre nos passou a lição de coragem eotimismo”, diz. Aos 70 anos, decidiuaprender datilografia para preparar suaspoesias e enviá-las aos editores. Cora, quecomeçou a escrever poemas e contos aos14 anos, cursou apenas até a terceira sériedo primário. Nos últimos anos de vida,quando sua obra foi reconhecida, partici-pou de conferências, homenagens e pro-gramas de televisão, e não perdeu a do-çura da alma de escritora e confeiteira.

Mesmo tendo iniciado tão cedo suahistória de poetisa, somente em 1965,aos 75 anos, ela conseguiu realizar osonho de publicar o primeiro livro:“Poemas dos Becos de Goiás e EstóriasMais”. Ana Lins dos Guimarães PeixotoBrêtas viveu por muito tempo de suaprodução de doces, até ficar conhecidacomo Cora Coralina, a primeira mulhera ganhar o Prêmio Juca Pato, em 1983,com o livro “Vintém de Cobre – MeiasConfissões de Aninha”.

Em 1922, seu marido a proíbe deintegrar-se à Semana de Arte Moderna,a convite de Monteiro Lobato. Em1928 muda-se para São Paulo (SP).Em 1934, torna-se vendedora de livrosda editora José Olímpio que, em 1965,lança seu primeiro livro, “O Poema dosBecos de Goiás” e, depois, “EstóriasMais”. Em 1976, é lançado “Meu Livrode Cordel”, pela editora Cultura Goia-na. Em 1980, Carlos Drummond deAndrade, como era de seu feitio, apósler alguns escritos da autora, manda-lhe uma carta elogiando seu trabalho.Essa carta, ao ser divulgada, desperta

o interesse do público leitor e faz Coraficar conhecida em todo o Brasil. Sin-tam a admiração do poeta, manifestadaem carta dirigida a Cora em 1983:“Minha querida amiga Cora Coralina:Seu “Vintém de Cobre” é, para mim,moeda de ouro, e de um ouro que nãosofre as oscilações do mercado. Époesia das mais diretas e comunicativasque já tenho lido e amado. Que riquezade experiência humana, que sensibi-lidade especial e que lirismo identi-ficado com as fontes da vida! Aninhahoje não nos pertence. É patrimôniode nós todos, que nascemos no Brasile amamos a poesia ( ...).”

No dia 10 de abril de 1985, faleceem Goiânia. Seu corpo é velado na Igrejado Rosário, ao lado da Casa Velha daPonte. “Estórias da Casa Velha da Ponte”é lançado pela Global Editora. Postuma-mente, foram lançados os livros infantis“Os Meninos Verdes”, em 1986, e “AMoeda de Ouro que um Pato Comeu”.

Na Cidade de Goiás, hoje Patrimô-nio Histórico da Humanidade, a 130 kmda capital, existe um bonito museu de-nominado “Casa de Cora”, às margensdo Rio Vermelho. Lá encontramos seusobjetos pessoais, seus escritos e sua his-tória, além da bela imagem de uma senho-ra olhando o rio da sua janela. Assim co-mo seus doces, seus poemas também es-tão cristalizados na memória da humani-dade, especialmente do povo goiano.

Aninha e suas pedras(...)

“Recria tua vida,sempre, sempre...

Remove pedras e plantaroseiras e faz doces

Recomeça.”(...)

Cora Coralina: entre poemas e doces

Não sei...

Não sei se a vida é curta ou longapara nós, mas sei que nada doque vivemos tem sentido, se nãotocarmos o coração das pessoas.Muitas vezes basta ser: colo queacolhe, braço que envolve, palavraque conforta, silêncio que respeita,alegria que contagia, lágrima quecorre, olhar que acaricia, desejoque sacia, amor que promove.E isso não é coisa de outromundo, é o que dá sentido à vida.É o que faz com que ela não sejanem curta, nem longa demais,mas que seja intensa, verdadeira,pura enquanto durar.

Mascarados

Saiu o Semeador a semearSemeou o dia todoe a noite o apanhou aindacom as mãos cheias de sementes.Ele semeava tranqüilosem pensar na colheitaporque muito tinha colhidodo que outros semearam.Jovem, seja você esse semeadorSemeia com otimismoSemeia com idealismoas sementes vivasda Paz e da Justiça.

Poeminha Amoroso

Este é um poema de amortão meigo, tão terno, tão teu...É uma oferenda aos teus momentosde luta e de brisa e de céu...E eu,quero te servir a poesianuma concha azul do marou numa cesta de flores do campo.Talvez tu possas entender o meu amor.Mas se isso não acontecer,não importa.Já está declarado e estampadonas linhas e entrelinhasdeste pequeno poema,o verso;o tão famoso e inesperado verso quete deixará pasmo, surpreso, perplexo...eu te amo, perdoa-me, eu te amo...

Alguns dos prêmios

que recebeu:

• Doutor Honoris Causa -Universidade Federalde Goiás (1983)

• Troféu Juca Pato - União Brasileirados Escritores (1983)

• Troféu Cora Coralina -Coordenadoria de Moral e Civismoda Secretaria de Educação do Riode Janeiro (1982)

• Grande Prêmio da Crítica -Associação Paulista deCríticos de Arte

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15JORNAL SEM TERRA • MAIO 2011

Para não esquecerMaio

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Integração donegro na sociedadede classeswww.expressaopopular.com.br

AUTOR: Florestan Fernandes

A integração do negro na sociedadede classes (o legado da “raçabranca”) de Florestan Fernandes, éum marco na sociologia brasileira emmais de um sentido. De um lado, éuma das teses mais famosas jáapresentadas na USP (1964). Deoutro, é a consolidação de nossomaior sociólogo, assim como o plenodesenvolvimento de sua sociologiahistórica (marca da “escolapaulista”). Por fim, representa umahistórica virada crítica na auto-imagem do país, virada estasintetizada na expressão “o mito dademocracia racial” (título de um doscapítulos). A presente reedição éparte das Obras reunidas deFlorestan Fernandes (coordenaçãoMaria Arminda NascimentoArruda), que vem mantendo essaobra fundamental acessível aopúblico em geral e a estudantes eprofessores em particular.

No século XIX, milhares detrabalhadores e trabalhadoras deChicago (EUA) foram às ruas,protestar em greve geral contra asmás condições de vida.Protestavam também pela reduçãoda jornada de trabalho de 13 para8 horas por dia. A manifestação foifortemente reprimida: centenas depresos e feridos. Em setembro de1891, durante o segundo

“Porque Marx era, acima de tudo,um revolucionário. Cooperar, desteou do outro modo, para aderrubada da sociedade capitalista edas instituições políticas criadaspor ela, contribuir para aemancipação do proletariadomoderno, a quem ele tinhainfundido pela primeira vez aconsciência da própria situação edas suas necessidades, a consciênciadas suas condições de emancipação:tal era a verdadeira missão da suavida. A luta era seu elemento. E lutou

com uma paixão, uma tenacidade eum sucesso como poucos.”Discurso diante do túmulo deMarx (Frederich Engels)

Congresso da II InternacionalComunista, foi aprovada aresolução que torna o 1o de Maioum dia no qual os trabalhadores etrabalhadoras do mundo tododeveriam manifestar os objetivoscomuns de suas reivindicações,bem como sua solidariedade.

(Veja vídeo em: http://softwarelivre.org/portal/comunidade/animacao-maio-nosso-maio)

1 de Maio: Dia do Trabalhadore da Trabalhadora

2 Assassinato de Antônio Tavares, líderSem Terra, Paraná (2000)

2 Greve dos Petroleiros (1995)

Entre maio e junho de 1995 (31 dias), ostrabalhadores da Petrobras realizaram umagrande greve, que tinha como objetivoparalisar completamente o país. O governoenviou tropas especiais e tanques para ocuparas refinarias e acabar com a greve. A OITcondenou, posteriormente, a ação dogoverno brasileiro, inclusive a demissãoilegal de 85 dirigentes sindicais.

www.radioagencianp.com.br

Uma visão popular doBrasil e do Mundo

www.brasildefato.com.br

2 Nascimento de Milton Santos (1926)

5 Nascimento de Karl Marx (1818)

6 Privatização da Companhia Vale doRio Doce (1997).

Vendida durante o governoFHC por apenas R$ 3,3 bilhões,enquanto, na época, segundoestudos, a empresa valiaaproximadamente R$ 40 bilhões.10 Assassinato do Padre

Josimo Tavares (1986)

13 Lei de Abolição daEscravatura (1888)

19 Nascimento de Malcolm X (1925)

“Neste país o negroé tratado como animal

e os animais nãotêm sobrenome.”

“Nem o medo me detém. É hora deassumir. Morro por uma causa justa.Agora, quero que vocês entendam o

seguinte: tudo isso que estáacontecendo é uma consequência

lógica do meu trabalho na luta edefesa dos pobres, em prol do

Evangelho, que me levou a assumiressa luta até as últimas

consequências. A minha vida nadavale em vista da morte de tantos

lavradores assassinados, violentados,despejados de suas terras, deixando

mulheres e filhos abandonados, semcarinho, sem pão e sem lar”. Testamento

do Padre Josimo, escrito em 1986

http:/ /www.malcolmx.com

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