jornal samambaia - dezembro de 2015

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3 samambaia JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS GOIÂNIA, DEZEMBRO DE 2015 nº 071/ ANO XV PRECONCEITO INVISIBILIDADE SOCIAL Auxiliares de serviços gerais reclamam por atenção 7 11 MOBILIZAÇÃO PRIMAVERA DAS MULHERES [p. 8 e 9] COMPORTAMENTO ALTERNATIVA AOS ABSORVENTES Coletores menstruais ganham mercado e conquistam adeptas [p. 5] Reproducão CIDADES RESGATE RESPONSÁVEL Animais abandonados ganham um lar e uma segunda chance CULTURA IDENTIDADES NEGRAS Cabelos crespos são mote para discussão sobre racismo Editores de Capa NATÁLIA MOURA, LUCAS BOTELHO, ELISAMA XIMENES, VINÍCIUS PONTES | Criação e Design de Capa LUCAS BOTELHO E NATÁLIA MOURA | Fotografia LUCAS BOTELHO

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Goiás

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Page 1: Jornal Samambaia - Dezembro de 2015

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samambaia

JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

GOIÂNIA, dezembrO de 2015

nº 071/ ANO XV

precONceItO

INVISIBILIDADE SOCIALAuxiliares de serviços gerais

reclamam por atenção

711

MOBILIZAÇÃO

PRIMAVERA DAS MULHERES

[p. 8 e 9]

cOmpOrtAmeNtO ALtErNAtIVA AOS ABSOrVENtES

Coletores menstruais ganham mercado e conquistam adeptas

[p. 5]

Reprod

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cIdAdes

rESgAtE rESpONSáVELAnimais abandonados ganham

um lar e uma segunda chance

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IDENtIDADES NEgrASCabelos crespos são mote para

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2 s a m a m b a i a GOIÂNIA, DEZEMBRO DE 2015

s a m a m b a i a

Ano XV - Nº 71, Dezembro de 2015Jornal Laboratório do curso de Jornalismo Faculdade de Informação e Comunicação

Universidade Federal de Goiás

Lucas BotelhoVinicius de Morais

MONITORES

Laboratório de Jornal Impresso IIEDIÇÃO EXECUTIVA

Laboratório de Jornal Impresso IPRODUÇÃO

Luciene DiasCOORDENADORA GERAL DO SAMAMBAIA

Alfredo JoséCOORDENADOR DE PRODUÇÃO

Sálvio JulianoEDITOR DE DIAGRAMAÇÃO

Orlando Afonso Valle do AmaralREITOR

Magno MedeirosDIRETOR

Angelita Pereira de LimaCOORDENADORA DO CURSO DE JORNALISMO

FIC

Contato: Campus Samambaia | Goiânia-GO - CEP 74001-970 | Telefone: (63) 3521-1854 - email: [email protected] | Versão online no issuu.com/jornalsamambaia | Impressão pelo Cegraf/UFG - Tiragem de 1000 exemplares

- O P I N I Ã O -

DE LÁ E DE CÁPor NATHÁLIA PERES | Diagramação ELISAMA XIMENES

O Jornal Samambaia é uma produção dos estudantes de jornalismo da Univer-

sidade Federal de Goiás. Suas pro-duções são voltadas para assuntos relacionados a academia e também à assuntos que afetam a Universi-dade e aos estudantes. E nesta pri-meira edição do segundo semestre de 2015, o ambiente universitário é abordado em conjunto com temas sociais e culturais.

A temática dos animais aban-donados é abordada trazendo uma re� exão sobre o cuidado, o zelo com os bichos, a castração e outros meios de garantir um lar aos peque-nos animais. Nesta edição a saúde da mulher também é colocada em foco, através de informações a res-peito de coletores menstruais e do tabu da menstruação.

Na sessão “Olhares”, foram re-tratados os projetos de extensão da própria Universidade que são aber-tos para a comunidade acadêmica e também para a comunidade como um todo. A dança do ventre foi o projeto escolhido para representar este eixo da UFG.

O esporte também é pautado nesta edição, através do Rugby e do uso do Centro de Esportes da pró-pria Universidade. Os repórteres ul-trapassam as barreiras acadêmicas ao abordar o Rugby, levantando tam-bém informações sobre o time goia-no, Goianos Rugby Clube.

A cidade goianiense também é abordada através do cenário da arte urbana que vem ganhando mais es-paço e vem sendo considerada como arte. Esta edição aborda temas que refletem na sociedade como um todo.

RUMO

- C R Ô N I C A -

UMA FLOR SÓ NÃO FAZ PRIMAVERAPor ELISAMA XIMENES

O laço não era de � ta, mas da-queles de pano que a gente compra em loja de R$1,99.

Assistia à TV compenetrada, porém não sem deixar de pensar na noite pas-sada. Maria, a � lha, fazia a tarefa de casa sem perceber a angústia da mãe. Voltava do serviço, já passava das dez da noite. Horário em que era liberada da jornada de trabalho no shopping. O ponto de ônibus estava cheio de gente que era obrigada a � car longe de casa até tal hora. O cansaço era visível. Os braços cruzados e a postura impacien-te dominavam a cena.

A maioria era de mulheres, não fosse por um homem. Este a olha-va sem parar desde que chegara. Da cabeça aos pés. Quis gritar com ele. Quis falar “que é que ta olhando?”. Mas a posição de subalterna na situ-ação não lhe deu a segurança de que precisava. Naquele momento, só con-seguia rezar para que ele não pegasse o mesmo coletivo que ela. Sabe-se lá o que podia acontecer.

Meia hora depois, nenhum ôni-bus havia passado, mas já dava pra ver, de longe, o 026. “Finalmente meu ônibus” pensou. Mas, quase ao mes-mo tempo, o sentimento de alívio fora interpelado pelo de preocupação. Du-rante os dez segundos de chegada do ônibus no ponto, Lívia só conseguia torcer para que o fulano não subisse junto com ela. O barulho do freio foi alto e a porta se abriu com rapidez. Tentou ser a última a entrar. Caso ele subisse, ela esperaria o próximo. O homem permaneceu intacto. Então, pôs os pés na escada com a esperança de que aquele não fosse o ônibus dele.

Enquanto passava na roleta, sentiu uma respiração forte aproximando-se. Quis virar-se para ver quem era, mas o medo lhe congelou a espinha, de modo que mal conseguia mexer o pescoço. A roleta girou e olhar foi quase que inevi-tável. Era ele. O ônibus lotado. Não ti-nha pra onde fugir. Descer estava fora das opções, sabe-se lá dos novos perigos que correria do lado de fora novamente.

Uma mulher sentada no primeiro banco percebera sua angústia. Como de impulso, Lívia arregalou os olhos para a moça, que respondeu rapidamente. “Amiga, você aqui! Quanto tempo”. Lívia � cou confusa, nunca tinha visto aquela pessoa na vida, mas preferiu entrar no teatro, era sua chance. As duas falavam em voz alta o su� ciente para que todos as escutassem. Continuaram conver-sando sobre coisas aleatórias como se os assuntos lhes fossem comuns.

Poucos minutos depois, escutou a campainha que anuncia a próxima des-cida. Olhou e era o fulano. Ele não tinha parado de observá-la. Mas dessa vez a expressão era ressabiada. Quando ele desceu, ela só sabia agradecer a desco-nhecida. Na sala de casa, imaginava as coisas que podiam ter acontecido caso não tivesse arregalado os olhos para a mulher. Pensou que agora podia estar em um hospital, ou mesmo na farmácia comprando a pílula do dia seguinte. Nem conseguia pensar na possibilidade de es-tar morta de tão assustadora que era.

Era quarta-feira e, no jornal, a chamada “A Comissão de Constitui-ção e Justiça e de Cidadania da Câ-mara dos Deputados aprovou a PL 5069”. Quis saber do que se tratava. “Eduardo Cunha propõe, na lei, que as vítimas de estupro terão que re-alizar um boletim de ocorrência e fazer um exame de corpo de delito para, só então, serem atendidas em uma unidade de saúde”. Aquilo lhe desceu frio pela garganta e parou na boca da barriga.

A lei também vetava a pílula do dia seguinte. Ela revivia a noite passada e percebia que as flores que ganhava no dia da mulher não lhe asseguravam nenhuma proteção do Estado que a presenteava. Percebeu que a flor era ela própria e ninguém lhe podia dar ou tirar isso. Apren-deu que, junto a outras, poderiam formar um jardim de resistência a tais tipos de leis e opressões. Viu que deveriam começar uma prima-vera. A das mulheres.

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s a m a m b a i aGOIÂNIA, DEZEMBRO DE 2015 3

Hoje, aposentada, Ivoni lembra bem como era atuar em uma empresa ter-ceirizada de limpeza em Goiânia. “Eu trabalhava numa � rma que se chamava JCS, mas prestava serviço em bancos”.

Ivoni conta que a invisibilidade é algo real para quem trabalha com limpeza. “As pessoas tratam diferente, quase passam por cima da gente, � n-gem que não veem e olham torto por-que é da limpeza”. Suas reclamações são o salário baixo e a falta de assistência social que os pro� ssionais da limpeza enfrentam. “Eu ganhava um salario mínimo – na época R$ 136,00 – mais o vale transporte, só isso, e como nem comida eles davam, tinha vez que eu � cava com fome o dia todo”, protesta.

BULLYING

A psicóloga Jessyca Rocha aponta que, quando o individuo não está ou não se sente inserido no meio social, diversos problemas emocionais podem se manifestar. “Depressão, desamparo,

angústia, desilu-são – isso tudo in� uencia tanto emocional quanto � siologicamente e leva a pessoa à ne-cessidade de ajuda pro� ssional”.

Jessyca conta que o “menos-prezo do trabalho da pessoa em si

e o julgamento da incapacidade em crescer profissionalmente” também é considerado bullying, tanto no am-biente de trabalho quanto fora. Cabe à sociedade, à empresa e aos órgãos públicos investirem em meios de in-clusão desses profissionais. “Existem palestras coordenadas por órgãos públicos para conscientizar e pro-mover a inclusão na sociedade, assim como existem palestras sobre violên-cia, discriminação, e sobre bullying em qualquer ambiente”, completou.

- P R O F I S S Ã O -

VÍTIMAS DA INVIS IBIL IDADE SOCIAL

São 5 horas da manhã e o desperta-dor toca. Ela levanta, toma banho e passa um café. Acorda os � lhos

antes de sair de casa e vai para o traba-lho. Assim começa o dia de uma fun-cionária de 34 anos, que prefere não ser identi� cada, responsável por cui-dar – além da casa e dos quatro � lhos – da limpeza de um prédio da Univer-sidade Federal de Goiás (UFG).

Uma colega, que também não quer o nome divulgado, descreve, com jeito calmo e voz mansa, sua rotina de limpar corredores, escadas, salas e ba-nheiros. Conta que faz isso porque não conseguiu emprego em outros lugares. Mora perto do campus, tem o segun-do grau completo e, em suas palavras, “não tenho que reclamar de muita coi-sa.” Considera que todos e todas a tratam bem, independente do uniforme ou da atividade que exerce.

Entretanto, uma de suas companheiras de trabalho dis-corda desde o começo. Estudante do primeiro ano do ensino médio, a auxiliar de limpeza é negra e vê diferen-ça no tratamento e na atitude das pes-soas em relação a ela. “Às vezes fazem pouco caso de mim, você reconhece no olhar da pessoa, no agir, o que a pessoa quer dizer”, recla-ma a mulher. “Qualquer um percebe um ar de críti-ca, de superioridade, a pes-soa pode estar com deboche mesmo”, completa.

Apesar de visivelmen-te desconfortável e insegura, a mulher desabafa. “Não tem como citar alguém numa situa-ção dessas, até porque são várias pessoas.” Com � rmeza, ela con-tinua. “Se eu estivesse aqui em outra posição, acho que com certeza iam me olhar diferen-te, com uma a� nidade maior, e tudo seria bem diferente”.

TRABALHADORAS FALAM DOS

PRECONCEITOS SOFRIDOS NA PROFISSÃO

Reportagem LUCAS BOTELHO

NATÁLIA MOURA

Ediçãoe Diagramação ELISAMA XIMENES

Grande parte da comunidade acadêmica parece ignorar as difi culdaes das profi ssionais que lidam com a limpeza

‘‘

Claudete e Josineth trabalham na limpeza da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC). Ambas já prota-gonizaram casos de preconceito e in-visibilidade. Claudete conta que sente diferença no tratamento das pessoas, quando veste a camiseta cinza e a calça azul. “Há uma discriminação, né? Tem pessoas que olham e fazem pouco caso da gente, mas tô nem aí”, ela reage.

Claudete revela que começou esse trabalho há quatro anos por ter sido o que surgiu de imediato, quando veio de Brasília para Goi-ânia. Precisava continuar pagando a faculdade e não hesitou quando a vaga surgiu. “Não é humilhante, toda profissão é importante, eu precisava pegar algum serviço”, conta de forma espontânea. Atualmente, já formada em Serviço Social, ela espera ser de-

mitida para que possa exercer a profissão de formação.

Mesmo com bom humor, Claudete não conseguiu fugir

de situações constrangedo-ras. Certa vez, um alu-no desentendeu-se com a auxiliar, chamando-a pejorativamente de lim-

padeira de chão. “Eu posso até ser limpadeira de chão, mas eu tenho nome, e você está desprezando a pro� ssão da gente”, respondeu. “Se a gente não estivesse aqui, em que ambiente você estaria?”, relembra a discussão.

A auxiliar de servi-ços gerais a� rma sentir-se invisível diversas vezes. “Quando você tá limpando mesmo, muita gente passa e não quer nem saber.” Mas a principal queixa no momento é só uma,

“quero ser mandada embora”, conta, rindo.

Josineth, de for-ma semelhante, não teve muita opção.

‘‘“Vim de uma família muito pobre, saí de casa muito cedo e tive que sus-tentar as minhas filhas, mas eu não tenho vergonha da profissão.” Ela completa, “às vezes a gente passa por algumas coisas muito desagradáveis com algumas pessoas na universida-de, muitos aqui nem olham na minha cara, não conhecem a gente, só veem o uniforme.”

E os casos continuam. “Tem um senhor também que � ca com graci-nha, � ca pedindo para a gente en-graxar o sapato dele”. Os casos mais frequentes, entretanto, vêm de outro grupo. “Quem mais trata a gente mal são os alunos, muitos não tem um pingo de educação”, acusa.

Em meio a tantos problemas, o que mais entristece Josineth é não ser chamada pelo próprio nome. “Me cha-mavam por menina da limpeza, não me chamavam por meu nome, e é uma coisa que eu não admito, pois eu tenho nome, é só perguntar.”

PASSADO

Engana-se quem pensa que os problemas relacionados à pro� ssão são atuais. Já na década de 80, uma senho-ra vinda do interior e casada à força, só conseguiu trabalho e liberdade com o emprego de auxiliar de limpeza. Essa é a história de Ivoni Dutra, 65, natural de Anicuns, cidade do interior do estado de Goiás. O sonho de estudar foi impe-dido pela morte de seu pai. Trabalhou como auxiliar de limpeza por 17 anos.

sa.” Considera que todos e todas a tratam bem, independente do uniforme ou da atividade que

Entretanto, uma de suas companheiras de trabalho dis-corda desde o começo. Estudante do primeiro ano do ensino médio, a auxiliar de limpeza é negra e vê diferen-

soas em relação a ela. “Às vezes fazem pouco caso de mim, você reconhece no olhar da pessoa, no agir, o que a pessoa quer dizer”, recla-ma a mulher. “Qualquer um percebe um ar de críti-ca, de superioridade, a pes-soa pode estar com deboche

Apesar de visivelmen-te desconfortável e insegura, a mulher desabafa. “Não tem como citar alguém numa situa-ção dessas, até porque são várias pessoas.” Com � rmeza, ela con-tinua. “Se eu estivesse aqui em outra posição, acho que com certeza iam me olhar diferen-te, com uma a� nidade maior, e tudo seria bem diferente”.

vaga surgiu. “Não é humilhante, toda profissão é importante, eu precisava pegar algum serviço”, conta de forma espontânea. Atualmente, já formada em Serviço Social, ela espera ser de-

mitida para que possa exercer a profissão de formação.

Mesmo com bom humor, Claudete não conseguiu fugir

de situações constrangedo-ras. Certa vez, um alu-no desentendeu-se com a auxiliar, chamando-a pejorativamente de

padeira de chãoaté ser limpadeira de chão, mas eu tenho nome, e você está desprezando a pro� ssão da gente”, respondeu. “Se a gente não estivesse aqui, em que ambiente você estaria?”, relembra a discussão.

A auxiliar de servi-ços gerais a� rma sentir-se invisível diversas vezes. “Quando você tá limpando mesmo, muita gente passa e não quer nem saber.” Mas a principal queixa no momento é só uma,

“quero ser mandada embora”, conta, rindo.

ma semelhante, não teve muita opção.

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Lucas Botelho

Quase passam por cima da gente, fi ngem que não veem e olham torto porque é da limpeza.

IVONI DUTRAAposentada

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4 s a m a m b a i a GOIÂNIA, DEZEMBRO DE 2015

Ingressar em uma universidade pú-blica é motivo de muita alegria e sa-tisfação para alunos. Porém diver-

sos fatores podem tornar a experiência estressante e cansativa, em muitos ca-sos causando o adoecimento mental.

A adolescência costuma ser con-turbada para a maioria dos jovens. São momentos de decisões importantes e rompimentos. A necessidade de esco-lher uma carreira pro� ssional cada vez mais jovem, e o consequente ingresso no mundo adulto, impõe uma pressão que, em determinados casos, contribui para um adoecimento mental. Junto com todas estas a� ições, o adolescen-te se sente muito inseguro, sobre sua aparência, amizades, amores, convívio e não a toa tem crescido a preocupação com esta faixa etária da população.

Ao perceber esta crescente dete-rioração da saúde mental, a Universi-dade Federal de Goiás criou em 2003 o programa “Saudavelmente”, aberto a alunos e servidores. A primeira inicia-tiva ocorreu em 1988 através de uma inciativa do serviço social que atendia apenas funcionários administrativos e professores. Para participar do pro-grama, basta comparecer no prédio da PROCOM, atrás da CEU (Casa do Es-tudante Universitário), no Setor Uni-versitário e agendar o seu “acolhimen-to” que será o primeiro passo para um acompanhamento psicológico.

Para a psicóloga do programa “Sau-davelmente”, Viviane Ferro, há uma

grande procura de atendimento por parte dos alunos do primeiro e último ano. Entre os recém-chegados, o princi-pal temor é a adaptação. Há uma quebra de expectativa sobre como seria a expe-riência universitária, e os alunos ainda procuram a vivência do ensino médio.

Muitos estudantes precisam sair da casa dos pais no interior do Estado, ou até mesmo em outras unidades fe-derativas, para começar uma nova vida na capital goianiense. Com isso, as queixas, sobretudo entre os morado-res da Casa do Estudante Universitá-rio (CEU) tornam-se são recorrentes. Romper o cordão umbilical de manei-ra tão abrupta pode ser fator determi-nante para o adoecimento mental dos universitários.

Na turma dos formandos, a afli-ção recai sobre a constante pressão da sociedade a cerca do sucesso pro-fissional. De repente, um jovem que convivia grande parte do seu tempo no meio acadêmico se vê sozinho para desbravar o mundo. O medo é “deixar de ser estudante e se tornar estatística”, e a constante pergunta que passa a assombrar esse jovem é: e agora o que eu faço?

Entre mestrandos e doutorandos há ainda o constante temor da relação “orientando-orientador”, o receio de não conseguir estabelecer grau satisfatório de comunicação ou de ver sua pesquisa parada. Para inúmeros pós graduandos ocorre o primeiro contato com a sala de aula, e junto com esta experiência surge a agonia, o nervosismo e em casos menos comuns o ataque de pânico.

Segundo Viviane, no caso dos ser-vidores ocorre um processo de adoeci-mento, ligado a di� culdade em outras esferas da vida, como as decorrentes de problemas � nanceiros, desajustes familiares, entre outros. O acompa-nhamento desses pro� ssionais percor-re um caminho mais longo, já que em média o tempo de serviço de um fun-cionário público é de trinta anos.

Para a psicóloga embora o pro-grama Saudavelmente já tenha se ex-

SAUDAVELMENTE E A DEPRESSÃO NA UFGPROGRAMA DA

INSTITUIÇÃO QUER GARANTIR SAÚDE

MENTAL E VIDA COM QUALIDADE

Reportagem CALIPSO CARELINEDiagramação LUCAS BOTELHO

pandido e aumentado sua capacidade de atendimentos, ainda há um deficit se for considerado o tamanho da co-munidade UFG, entre alunos servi-dores e professores.

Viviane relata que tem perce-bido uma quebra no tabu a cerca das questões mentais e psicológi-cas. Para ela, os alunos têm dado o exemplo e procurado cada vez mais a ajuda profissional necessária, sem se preocupar tanto com os para-digmas sociais que negativizam as questões mentais. Já os professores demonstram resistência maior. Mui-tos procuram horários alternativos para que não sejam vistos enquanto são aconselhados ou atendidos.

Por outro lado, Viviane alerta para a banalização da tristeza, “Em tempos modernos é proibido ao in-divíduo ficar triste por um momento de sua vida ou preferir se isolar”. Se-gundo a psicóloga, a tristeza é nor-mal e recorrente ao ser humano. Na vida de todos acontecem situações desagradáveis e a resposta natural é se entristecer, mas isso não significa que esta pessoa será diagnosticada com depressão.

BARREIRAS

Marcela* (nome � ctício), 19, conta que tem depressão a mais de dez anos, ingressar em uma universidade agra-vou sua ansiedade e nervosismo. “An-tes de entrar na Universidade eu tinha uma visão pré moldada de como tudo seria e me decepcionei bastante, prin-cipalmente com as pessoas”.

A universitária, que nunca se con-sultou com um especialista, relata ter re-ceio de como será vista em casa. “Moro só com minha mãe e ela é muito atrasada em alguns aspectos, depressão para ela é coisa de gente atoa, doença de rico. Não quero procurar um tratamento e ser hu-milhada quando voltar para casa”, diz.

A estudante, que até então não co-nhecia o programa “Saudavelmente”, a� rma que pretende procurar ajuda em breve. Ela ainda acrescenta “Mui-ta gente pensa que a depressão crônica nos deixa tristes o tempo todo, mas não é assim. Há dias em que está tudo bem, semanas inteiras sem nenhum surto, mas as vezes algo acontece e tudo de-saba, porém tenho me esforçado para que minha condição não atrapalhe os estudos”, conclui.

Fonte: Departamento de Saúde Pública do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

OITO SINTOMAS DA DEPRESSÃO QUE VÃO ALÉM DA TRISTEZA

Problemas digestivos A dor na parte gastrointestinal é muito comum em pes-soas com depressão. Em muitos casos, desenvolve-se a síndrome do intestino irritável, que causa dores abdominais, � a-tulência e mudanças do hábito intestinal.

Dor de cabeça A depressão pode mo-tivar dores do tipo cefaleia, que são in-conscientes e se medicadas de maneira a ignorar o psicológico terão um alívio apenas momentâneo.

Distúrbios do sono Em pacientes com depressão é muito comum um sono de má qualidade. O paciente ou dorme de-mais, buscando no sono uma fuga de seus problemas, ou dorme pouco por não con-seguir se desligar de sua realidade.

Tensão na nuca e nos ombros A pes-soa com depressão tende a � ca constan-temente em estado de alerta e isso se re� ete em tensão na musculatura, prin-cipalmente da nuca e ombros.

Cansaço ou fadiga Sintomas como fraqueza, cansaço, falta de ânimo e fal-

ta de iniciativa para executar ativida-des do cotidiano é um sintoma comum entre pacientes com depressão.

Mudanças no apetite e peso A depressão é frequentemente asso-ciada a transtornos alimentares, causando alterações no apetite, des-sa forma a pessoa pode comer pouco ou em excesso.

Dores no corpo Pacientes com de-pressão frequentemente se queixam de dores generalizadas, especial-mente nas costas. O sedentarismo,

também recorrente em depressivos, agrava a situação.

Imunidade baixa A depressão leva o indivíduo à prostração, ele não se sente bem física e mentalmente, isso pode, de maneira indireta, interferir na imu-nidade. A adoção de comportamentos de risco como ingestão excessiva de álcool, tabagismo, uso de drogas, má alimentação e sedentarismo, todos fa-tores que interferem diretamente na imunidade, deixam o indivíduo mais vulnerável a infecções oportunistas, como gripes, resfriados e herpes.

- S A Ú D E -

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s a m a m b a i aGOIÂNIA, DEZEMBRO DE 2015 5- C O M P O R T A M E N T O -

Eu encontrei a solução de um problema tãovelho quanto Eva

LEONA CHALMERSCriadora do coletor

menstrual

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O COLETOR– Preços variam entre R$79 e R$181, em função da durabilida-de. Um coletor dura em média dez anos, se bem cuidado. Por ano, a mulher gasta cerca de R$100 com absorventes externos. Em dez anos, ela terá gasto R$1 mil. A economia pode ser de até R$920, consideran-do o preço do modelo mais barato.

– Para higienizá-lo, basta lavar com água e sabão neutro, e ao fim do ci-clo, ferver na água quente por cin-co minutos. Dependendo do fluxo, ele dura até 12 horas dentro do canal vaginal, podendo ser usado debaixo d’água e ao fazer esportes.

– Como o sangue não entra em contato com o algodão do absor-vente descartável, não há a presen-ça do mau cheiro.

ABSORVENTES REUTILIZÁVEIS SÃO OPÇÃOJunto com o pensamento da

sustentabilidade, existe outra op-ção para a higiene da mulher: os absorventes recicláveis. Externos e feitos de pano, vêm em vários mo-delos, todos coloridos. A carioca e economista Ellen Lopes é adep-ta dos reutilizáveis há seis meses e possui cinco deles, comprados por R$15 cada um.

Ela comenta que não gostava do cheiro dos absorventes tradicionais e da quantidade de lixo que geravam. Por isso preferiu parar de usá-los e apostar em uma opção mais ecológica. “A mulher não precisa ter nenhum cui-dado diferente. Eu lavo uma vez após usar, uso em média um durante o dia e outro à noite. Esses absorventes são maravilhosos, nunca vazam”, a� rma.

Ellen também comenta sobre a du-rabilidade dos produtos. “Pelo o que li, eles duram em média cinco anos, e por serem feitos de algodão são total-mente biodegradáveis”. Os absorventes de pano também são encontrados na internet: “É surpreendente como eles � cam limpinhos, nunca vi uma mulher reclamando ou querendo voltar para os descartáveis”, conclui.

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MENSTRUAÇÃO SEM TABU

Indispensáveis para as mulheres durante o período menstrual, os absorventes descartáveis começa-

ram a ser comercializados no Brasil na década de 1930. Apesar de am-plamente utilizados, são frequentes as reclamações femininas acerca do produto. Elas se queixam do descon-forto causado, de alergias, vazamen-tos e até mesmo da produção de lixo. Mas, como o assunto menstruação ainda é tabu, a maioria das mulheres adere aos descartáveis como única solução disponível, ignorando a exis-tência de alternativas.

Uma das opções disponíveis é o coletor menstrual, ou, como é conhe-cido popularmente, copinho. Trata-se de um pequeno copo maleável feito de silicone, que se encaixa no canal va-ginal e “guarda” o sangue expelido. Foi inventado em 1937 por Leona Chal-mers, mas só recentemente ganhou adeptas. No começo era feito de látex, plástico que causou reações alérgicas. Atualmente é de silicone medicinal, produto maleável e resistente.

BOM E BARATO

A estudante universitária Fernan-da Siqueira, 19 anos, usa o coletor menstrual há dois meses. Ela aponta o desconforto como principal cau-sa para o abandono dos absorventes externos. “Tenho muita alergia e ir-ritação quando uso absorvente. Tudo me incomoda. Fiquei sabendo dos coletores ao ouvir algumas meninas comentando e decidi entrar em grupo no Facebook para saber mais”.

ALTERNATIVASSUSTENTÁVEIS

AOS ABSORVENTES DESCARTÁVEIS

GANHAM ADEPTAS

Reportagem CAROLINE BRANDÃO

Edição e Diagramação LORENA LARA

Ela a� rma gastar bem menos do que com os tradicionais e acon-selha: “Com ele você conhece mais o seu corpo, o seu ciclo menstrual, o seu � uxo. Você descobre o que te dá alergia ou não. Além do que, com ele, não sinto nada, nem parece que estou menstruada”. Fernanda re-vela, entusiasmada, que o copinho “não tem nenhuma desvantagem!”

MARCAS

Os coletores estão à venda prin-cipalmente pela internet. O produ-to não é facilmente encontrado em farmácias ou outras lojas, mas há empresas especializadas, como Holy Cup e a InCiclo - essa última dispo-nibiliza em seu site endereços de lo-jas físicas. Jacqueline Silva, criadora da empresa Holy Cup, comenta que a empresa nasceu em 2013 e que é in-crível participar desse processo.

“São muitas as questões que en-tram em jogo ao decidir usar o co-letor. É difícil questionar o que sua mãe e avó ensinaram, ou o que ainda dizem alguns médicos, deixando cla-ro que não estudaram o assunto por

mostrarem argumentos rasos”, de-clara. Ela a� rma ser grati� cante ver o resultado do que idealizou. “A ideia foi de que pelo menos as mulheres te-nham ciência de que o coletor existe.”

USO

A reportagem entrou em contato com ginecologistas e órgãos de saúde, mas não foi encontrado profissional que pudesse dar informações quanto às alternativas aos absorventes tradi-cionais. Devido ao coletor ser uma novidade e uma opção diferente da recomendada nos consultórios, seu uso ainda não é abertamente comen-tado pelos médicos.

Mesmo com poucos pro� ssionais da saúde cientes dos coletores mens-truais, há consenso entre as usuárias de que o produto não altera a � ora vaginal.

Segundo o site da fabricante Me Luna Brasil, o uso do coletor só não é aconselhável no período do pós-parto ou por mulheres virgens. As últimas até podem usá-lo, mas com certo cuidado para não romper o hí-men, já que sua posição indicada é no começo do canal vaginal.

Adepta do copinho, a estudante Fernanda Siqueira posa com o seu coletor

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Page 6: Jornal Samambaia - Dezembro de 2015

6 s a m a m b a i a GOIÂNIA, dezembrO de 2015

A realidade penal do Brasil é in-sustentável: o país tem a quarta maior população carcerária do

mundo, segundo o Ministério Público Federal, com mais de 600 mil presos, que vivem em situação de insalubrida-de, em celas lotadas e sujas, com pou-quíssimas chances de reinserção na sociedade. O quadro se agrava quando se constata que muitos desses presos não têm acesso básico à justiça, nem conseguem ter seus direitos legais re-presentados, pois a defensoria pública não consegue atender a todos os casos. O resultado dessa equação são pessoas presas, muitas vezes sem julgamento, sem direito a liberdade provisória e, muitas vezes, cumprindo penas mais longas do que deveriam.

Ao perceber tal cenário, a Arqui-diocese de Goiânia e o curso de Direito da Universidade Federal de Goiás - UFG se juntaram para criar um projeto de extensão que ajude a mudar essa re-alidade. Assim surgiu a AJURIPH (As-sessoria Jurídica ao Preso Hipossufi-ciente), que tem como objetivo prestar assessoria jurídica aos presos da Casa de Prisão Provisória de Goiânia (CPP) e da Penitenciária Coronel Odenir Guimarães (POG), ambas da Agência Goiana de Sistema de Execução Penal.

Alunos da faculdade podem entrar no projeto a partir do segundo período do curso, sob orientação das professo-ras Franciele Cardoso, Cláudia Louren-ço, Carolina Chaves e Cláudia Quintino. Segundo Julia Faipher, coordenadora da AJU-RIPH, o projeto surgiu a partir da análise da realidade do Estado de Goiás, que foi um dos últimos no Brasil a ter uma defensoria públi-ca instalada. Mesmo sem quadro completo, o órgão vem se empe-nhando em mudar a realidade penal local. “É claro para nós que o direito, não só o penal, mas principalmente ele, atende a demandas e interesses de cate-gorias sociais específicas. A postura do direito penal no Brasil tem uma atuação discriminatória e seletiva, bem próxima do clichê de que aqui só se prendem la-drões de galinha. As pessoas que mais

justiça para quem precisaProjeto AjUrIPH

AUxIlIA Presos sem Acesso A jUstIçA

e estImUlA empatia de AlUnos dA FAcUldAde de

dIreIto dA UFG

Reportagem Yasmin CabedoEdição JÚLia PonTes

Diagramação LUCas boTeLHo

- d i r e i t o -

prejudicam a sociedade têm poder aquisitivo para contratar advogados e não precisam recorrer à defensoria pú-blica”, analisa Julia.

A necessidade do projeto foi perce-bida também pela Pastoral Carcerária da Arquidiocese de Goiânia, que já prestava serviço social a algumas penitenciárias e recorreu à ajuda da faculdade. Muitos presos contatados pela Pastoral tinham direitos não cumpridos, como liberdade provisória e até mesmo mandado de sol-tura vencido, porém a impossibilidade de a defensoria pública tratar todos os casos mantinha os processos dessas pes-soas parados. Após o convênio das duas instituições, a Pastoral passou a enviar à

faculdade, todas as semanas, nomes de presos que necessitam da assessoria jurí-dica prestada pelos alunos, que redigem as peças jurídicas, sempre com orienta-ção de professores, dando sequência ao processo dos presos. Julia frisa que o pro-jeto não consegue cobrir toda a deman-da. “São muitos presos que necessitam dessa ajuda e nós temos dificuldades em

atender a todos os nomes mandados pela Pastoral”, pondera.

O coordenador da Pastoral Carce-rária, Ramon Curado, lamenta o pro-jeto não ter começado antes. Segundo ele, são muitas pessoas que necessitam dessa ajuda. “São presos e presas que não têm seu direito garantido. O trabalho da Pastoral, especificamente, não é de cunho evangelizador, porque os presos, na maioria, não são católicos. Nossa mis-são é levar solidariedade e amor cristão a pessoas que estão numa situação muito desfavorável”, comenta Ramon. O coor-denador também esclarece que o fato de essas pessoas terem cometido crime não exclui o direito delas de acesso à justiça,

e é nesse ponto que o convênio com a UFG presta assistência.

prognóstico

Iniciada em no-vembro de 2015, a parte prática não be-neficia somente os presos. O contato com a prática é extre-mamente importante

para os alunos, que muitas vezes não veem o direito penal fora da teoria ao longo do curso. O grupo do projeto é, em sua maioria, composto por mulhe-res, fato que é mera coincidência para Julia. Mas a aluna Keilla Ingrid, partici-pante do projeto, conta que, apesar de acidental, em algumas instâncias, o fato de ter mais mulheres atuando nessa área gera mais empatia em certos casos. “Em uma visita de outra matéria, uma mu-lher presa não via o filho há seis meses, pois a entrada de crianças na penitenci-ária estava suspensa. Seis meses sem ver a mãe é muito tempo para uma criança e isso faz com que a gente pense e tenha mais empatia em relação a pessoas na-quela situação”, conta Keilla.

Julia espera que o projeto consiga ajudar ao maior número de presos pos-síveis e conscientizar mais o corpo dis-cente. “Aqui na faculdade a gente lida pouco com o lado humano do direito, que na teoria, deveria ser o foco princi-pal. Muitos alunos sonham em ser pro-motores ou delegados, com um espírito de justiceiro da sociedade, esquecendo que a cabeça de alguém, um ser humano, vai para a guilhotina”, diz a aluna. A pro-liferação do ódio é outro aspecto que o projeto visa combater, indo de encontro à ideia de que presos sem condições fi-nanceiras são pessoas marginais e devem mofar na cadeia, como pregam vários meios de comunicação sensacionalistas.

O projeto AJURIPH não se baseia em nenhuma religião específica: é in-tegrado por alunos de diversas religi-ões e também por ateus.

A postura do direito penal no Brasil tem uma atuação discriminatória e seletiva,

bem próxima do clichê de que aqui só se prendem ladrões de galinha

JULia FaipHer coordenadora da AjUrIPH

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As estudantes Julia Faipher e Keilla Ingrid, participantes do projeto AJURIPH

Yasm

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Page 7: Jornal Samambaia - Dezembro de 2015

s a m a m b a i aGOIÂNIA, dezembrO de 2015 7- C I D A D E -

EM BUSCA DA FELICIDADE ANIMAL reabilitação para animais

abandonados nas ruas de Goiânia

Reportagem Jhessyka Monteiro roberta rodrigues

Edição yasMin CabedoLorena Lara

Diagramação yasMin Cabedo

A comunidade acadêmica da UFG comunica com pesar o falecimento do cão comuni-

tário do Campus II, conhecido como Linguinha.

Nosso amigo canino levou uma vida difícil, foi negligenciado, vi-vendo nas ruas e nos parâmetros do Câmpus. Chamou atenção do corpo discente por dormir com a língua de fora, origem de seu nome. Era queri-do pelos alunos e odiado por outros habitantes do campus, os macacos.

Os alunos amavam e conviviam com Linguinha, porém o cão não

Edio

nary

Agu

iar

n o ta d e Fa l e c i m e n t o

Atualmente é possível en-contrar cães e gatos de rua perambulando por Goiânia.

Às vezes os animais passam desper-cebidos, como parte da paisagem. Outras vezes sua presença incomo-da algumas pessoas e, por isso, so-frem maus tratos, são agredidos ou mesmo mortos.

O Centro de Controle de Zoo-nozes (CCZ) é um canil munici-pal onde os animais após serem capturados ficam por três dias esperando reclamação pelo desa-parecimento. Caso não sejam pro-curados, são selecionados os que estão sadios e têm perfil para ado-ção. Estes entram para o programa de castração. São esterilizados e posteriormente postos à adoção. Os demais são sacrificados.

O CCZ captura animais que apresentem zoonose ou que repre-sente ameaça à sociedade. “Não te-mos dados do número de animais abandonados, porque para isso eles teriam que possuir chips. Lidamos com saúde pública”, informa um fun-cionário do CCZ. Em situação de frio, fome e sede, esses animais são recolhidos por protetores indepen-dentes e abrigos.

diFeRencial

Naiana Cruz, protetora indepen-dente de animais abandonados na ci-dade, é uma pessoa que faz a diferen-ça. Abriga 44 bichos em sua casa, 36 gatos e oito cachorros, e ainda alimen-ta 12 felinos nas ruas. Para ela, os úni-cos responsáveis por essa situação são os donos dos animais abandonados, que, ao adquiri-los, deveriam pensar nos gastos, no cuidado necessário, no trabalho e na responsabilidade com os seres vivos.

Naiana também aponta a necessi-dade de se castrar os animais ou impe-di-los que tenham acesso às ruas, por-que os filhotes certamente vão nascer nas ruas: “Castrar é um ato de amor, pois não existem casas para todos os bichos. Castrar não é crueldade. Ajuda

Esse é um problema que precisa ser prevenido e combatido, não apenas arrastar esses animais para abrigos públicos, mas cuidar e evitar que o

abandono aconteçanaiana cRUZ

protetora independente

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O profissional entende sua situação e facilita o atendimento dos ani-mais, oferecendo serviço destinado exclusivamente a protetores, cria-dores e veterinários. Naiana pro-cura a prefeitura apenas para obter vacinas contra raiva. “Um serviço de castração gratuita seria de imen-sa ajuda, assim como campanhas de conscientização sobre prevenção do abandono”, acrescenta.

A protetora afirma não exis-tir em Goiás políticas públicas de cuidados com animais. “Esse é um problema que precisa ser preve-nido e combatido, não apenas ar-rastar esses animais para abrigos públicos, mas cuidar e evitar que o abandono aconteça, pois abri-go não é a solução, assim como o sacrifício desses animais também não”, conclui.

ViVa Gato

O projeto Viva Gato é uma or-ganização não-governamental que trabalha e funciona com a ajuda de voluntários e doações. O grupo hoje abriga mais de 70 felinos. Monik Bats, colaboradora do projeto, rela-ta: “Os animais são resgatados por algum voluntário do projeto Viva Gato”. Algumas vezes eles estão tão fracos e famintos que fica fácil pegá-los e levá-los ao veterinário.

Malagueta, gatinha resgatada pelo Projeto Viva Gato

Rafa

ella

Pes

soa

a prevenir doenças como a piometra nas fêmeas, uma espécie de infecção uterina, e acalma muito os machos, evitando fugas”, explica.

aJUda

Naiana não possui ajuda f ixa. Conta apenas com a compreen-são de um médico veterinário.

Outras vezes os animais estão ariscos ou assustados demais, e aí são usadas armadilhas conhecidas como gatoeiras para a captura”. Os animais resgatados só são colocados para adoção depois de serem vaci-nados, castrados e vermífugados, além de obterem atestado de saúde emitido pelo veterinário responsá-vel. “Os adotantes também assinam um termo de responsabilidade e nós acompanhamos a adoção para saber sempre se está tudo certo”, diz Mo-nik. Para arrecadar fundos extras, o projeto promove eventos em Goi-ânia, como o Meow Tattoo e Viva Doce, onde a renda é revertida para cobrir os gastos do abrigo.

possuía tutor, assim como outros cães comunitários, que assim são chamados devido a terem vários “cuidadores”, porém nenhum responsável.

Linguinha morreu devido a uma insuficiência renal, 3 semanas após ter sido adotado por uma aluna da Universidade. O amigo deixará sau-dades, tendo ganho um mural em sua homenagem dentro do Câmpus II e sua morte levanta a discussão do abandono e negligência de cães den-tro da Universidade.Linguinha

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8 s a m a m b a i a GOIÂNIA, DEZEMBRO DE 2015

Símbolo do Feminismo protagonizava os cartazes

UNIDAS PARA DERRUBAR O PL 5069/13

PRIMAVERA DAS MULHERES EMERGE CONTRA

A INTERVENÇÃO DO ESTADO SOBRE O CORPO FEMININO

Reportagem NATÁLIA MOURAEdição ELISAMA XIMENES

PALLOMA BIASIDiagramação VINICIUS PONTES

ELISAMA XIMENES

abortos clandestinos e na taxa de mor-talidade das mulheres.

Maria Laura Porto também apon-tou as di� culdades que os pro� ssionais de saúde terão para ajudar essas mu-lheres. “O mesmo Projeto prevê penas especí� cas   para   quem ‘induzir a ges-tante vítima de violência sexual à prá-tica do aborto”. A pro� ssional também conta que isso limita “a competência dos Serviços de Assistência às Vítimas de Violência Sexual, que promovem a estas mulheres, acesso à prevenção da gravidez indesejada e ao Aborto Pre-visto em Lei”, a� rmou.

GOIÂNIA

Na quarta feira, quatro de novem-bro de 2015, as mulheres de Goiânia foram à rua para protestar contra a aprovação da PL 5069/13 e pelo � m das decisões do Estado sobre o cor-po feminino. O evento foi organiza-do pelo Coletivo Feminista UFG com parceria com outros coletivos da capi-tal. Lívia Freitas, técnica administrati-va da Universidade Federal de Goiás, atuou diretamente na organização do ato. “Nós aqui em Goiânia começa-mos a nos articular no meio da se-mana e juntamos várias mulheres de coletivos feministas universitários, mulheres independentes, autônomas e de todas as idades”, contou.

Mariana Lopes Barbosa, feminista e técnica administrativa da UFG, ex-põe a importância desses atos na situa-ção atual do país. “Eu acho que a gente tem mostrar a luta agora porque depois que isso passar vai ser muito mais difí-cil de ser revertido e o Eduardo Cunha

Em todo o Brasil, mu-lheres têm articula-do protestos contra

o Projeto de Lei 5069/13. Nas redes sociais, grupos feministas de diversas ci-dades organizaram atos que pedem, além da não aprovação do PL 5069, a saída do presi-dente da Câmara dos Deputados, Eduar-do Cunha, autor do projeto. Campa-

nhas como Mulheres Contra Cunha e Primave-

ra das Mulheres dominam os tópicos dos principais sites de interação social, blogs e jornalismo.

O projeto de lei em questão trata-se da alteração ao Decreto nº 2.848, de dezembro de 1940. Se aprovado passa a ser crime o anúncio de método abor-tivo e o auxilio/instigação do aborto a mulheres grávidas. Além disso, a agressão só será considerada estupro caso resulte em danos físicos ou psi-cológicos às mulheres. Elas terão que passar por um exame de corpo de de-lito para comprovar o crime antes de receber atendimento médico.

ASSISTÊNCIA

A ginecologista Maria Laura Porto, coordenador do Ambulatório Girassol do Hospital e Maternidade Dona Íris para vítimas de violência sexual, a� rmou em um artigo destina-do a imprensa, que as mudanças feitas pela PL 5069/13 di� cultarão o aces-so da vítima de estupro à prevenção. Além disso, complica a interrupção da gravidez indesejada, o que impli-cará também no aumento de casos de

Manifestação em Goiânia levou para as ruas centenas de mulheres e apoiadores da causa, um dos clamores populares foi a queda do presidente da Câmara, Eduardo Cunha

Lucas Botelho

Page 9: Jornal Samambaia - Dezembro de 2015

s a m a m b a i aGOIÂNIA, DEZEMBRO DE 2015 9- M O B I L I Z A Ç Ã O -

UNIDAS PARA DERRUBAR O PL 5069/13

tem feito, não só esse, mas vários ataques às mulheres”. Mariana também conta que o movimento feminista tem tomado es-paço na capital. A militante credita o cres-cimento à marcha das vadias de 2012.

Ao som de gritos e cantos com temática feminista, aproximadamen-te mil pessoas se reuniram em frente à Assembleia Legislativa de Goiânia e seguiram rumo à Praça Universitá-ria. Em meio ao trajeto mulheres, ho-mens e até crianças seguravam carta-zes e faixas contrárias à aprovação do PL 5069/13. A Terapeuta Corporal e Doula, Lana Paula Luna, compareceu ao ato. Acompanhada de seus � lhos Joana e Pedro. “Os meus � lhos estão aqui porque eles precisam desde cedo entender como é que funciona a socie-dade e se a gente quer transformá-la,

Manifestação em Goiânia levou para as ruas centenas de mulheres e apoiadores da causa, um dos clamores populares foi a queda do presidente da Câmara, Eduardo Cunha

precisamos começar desde a barriga, desde a hora que o bebê nasce, desde a escolha do parto”, a� rmou.

Lana também conta que soube do Ato e da PL 5069/13 através das redes sociais e diante das demandas, pensa que as mulheres devem seguir unidas. “É cada vez mais importante que as mulheres se unam, acho que a sorori-dade tem que � orescer”. E completa “se queremos um mundo melhor a gente tem que começar agora, e tem que co-meçar pelas mulheres”. Seguidas pela Polícia Militar e pela Secretária Muni-cipal de Trânsito (SMT), o ato durou aproximadamente duas horas. Após a caminhada foi realizada uma plenária na Praça Universitária para saber da sequência do movimento e discutir en-caminhamentos.

O QUE MUDA SE A PL 5069/13 FOR APROVADA?

HOJE COM A PL 5069/13

Toda forma de violência sexual é considerada estupro.

Só é considerado estupro se houver

dano físico ou psicológico a vítima.

Não é necessário

exame de corpo de

delito para provar o

estupro, é levado em

consideração só o

relato da vítima.

Para ser atendida a mulher

deve primeiro fazer um

exame de corpo de delito

e depois um boletim de ocorrência.

Qualquer pro� ssional de saúde pode informar sobre o aborto legal a vítimas de estupro.

Hospitais serão

desobrigados de avisar sobre

método de aborto legal às

vítimas de estupro.

Apenas a gestante pode

ser presa por prática de

aborto ilegal.

Qualquer pessoa que

induzir ou instigar a

gestante a métodos

abortivos pode ser presa.

Caso seja um pro� ssional

de saúde ou se a gestante

for menor de 18 anos, a pena é agravada e varia de seis meses a três anos. Fonte: Comissão de Constituição e

Justiça e de Cidadania (CCJ)

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Page 10: Jornal Samambaia - Dezembro de 2015

10 s a m a m b a i a GOIÂNIA, DEZEMBRO DE 2015

EXTENDENDO

Por JÚLIA PONTES

No dia 25 de outubro deste ano, vimos o caso de um detento que tentou fugir do Complexo Pri-sional de Aparecida de Goiânia usando máscara de idosa e roupas femininas. A fuga não obteve suces-so porque um dos seguranças descon� ou da forma como a “senhora” caminhava. Diante de tal situação, podemos ver a necessidade e a utilidade de um dos projetos realizados na área de inteligência arti� cial no Instituto de Informática da UFG (INF-UFG). A proposta é elaborar um método de identi� cação automática das pessoas por meio do seu caminhar, através de biometria. A ideia seria muito e� ciente na segurança, mas será que há meios su� cientes para projetos como esse saírem do meio acadêmico?

Um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) constatou que o câncer de pele é o mais frequente no Brasil. A taxa da doença corresponde a 25% de todos os casos de tumores no país. Pensando nessa estatística, � ca mais fácil entender a atividade da iniciação cientí� ca realizada na Faculdade de Farmácia da UFG (FF-UFG). Levando o nome de Nanotecnologia na área de cosméticos, o projeto estuda a formulação de um protetor solar nanoestruturado, com melhor capaci-dade de proteção. É interessante e muito signi� cativo, principalmente no cenário brasileiro, mas a expectativa logo diminui quando se pensa não só na quantidade extensa de testes a serem feitos, mas também na burocracia exaustiva que existe entre o laboratório e o mercado.

VIGILÂNCIA

LACUNAS

O GETA (Grupo de Estudos em Tecnologia Agrícola) é um grupo de estudo que funciona na Escola de Agronomia da UFG (EA-UFG) e tem o foco no plantio de alimentos, reduzindo os custos com tecnologia. Como o grupo é novo, há a necessidade de patrocínio para adubos e insumos agrícolas em geral para que a produção comece a ser realizada. Porém, a di� culdade para conseguir esse auxílio é enorme e apenas alguns profes-sores possuem certa in� uência para ganharem esse benefício. “As empresas não arrumam nada sem visar lucro ou algo em troca”, revela um dos alunos participantes do grupo. Tudo acaba sendo uma grande ironia porque o que temos no mercado já passou um dia pelo meio acadêmico. É um ciclo, e o mínimo que deveria haver era uma retribuição sem pretensões lucrativas.

SEM RETORNO

ESTRUTURA PRECÁRIA

Uma iniciação cientí� ca que está sofrendo com a falta de estrutura é a realizada pela Faculdade de Odontologia da UFG (FO-UFG). O objetivo do projeto é desenvolver um medicamento que trate da candidíase, mas que cause menos efeitos colaterais. Muitos pacientes sofrem muito não só com a doença que possuem, mas também com o próprio tratamento. Os efeitos colaterais podem ser extremamente desgastantes e severos, deixando a pes-soa bastante debilitada. Estudar a redução desses efeitos é importantíssimo, mas até quando a falta de estrutura das universidades públicas vai continuar inviabilizando projetos tão primordiais?

- C U L T U R A -

CELEBRAÇÃO À ARTE POPULAR

Ana Dirino não está para brin-cadeira quando diz que a Uni-versidade pertence ao povo. A

estudante de Direito e Bruno Borges, es-tudante de História, ambos da UFG, reu-niram-se no amor à arte e transpiraram para deixar a agenda goiana recheada.

Bruno comenta que o interesse por atividades culturais tem crescido em Goiânia: “Eu acho que existe um cenário cultural acessível, porém ainda é algo muito restrito por não haver de fato um interesse que leve esses espa-ços para toda a comunidade goiana.”

A inspiração veio de Florianó-polis, dos estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que já realizaram a festividade duas vezes e assim, atentos para a importância da valorização da arte em comunhão com a participação social, importaram o evento, buscando a diversidade nas apresentações.

CONTRATEMPOS

Como todo planejamento, os proble-mas tiveram vez e os goianos quase per-deram a festa. O evento que chegou a ser embargado pela Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA) por problemas acústicos no Diretório Central dos Estu-dantes (DCE), no Setor Universitário.

O DCE em parceria com o Motim Cultural, o grêmio do Instituto Federal de Goiás (IFG) e os estudantes da Universi-

COMUNIDADE É CONVOCADA A

INVADIR OS ESPAÇOS ACADÊMICOS E CELEBRAR A CULTURA POPULAR

Reportagem ANA LUÍZA ANDRADE LARISSA ARTIAGA

Edição ELISAMA XIMENES VINICIUS DE MORAIS

Diagramação VINICIUS DE MORAIS

Banda Erotori é inspirada na cultura do povo indígena Guarani.

dade Estadual de Goiás (UEG), desenvol-veram o projeto praticamente sem orça-mento próprio e com pouco apoio.

Os espaços para a realização da SAPo foram conquistados mediante lon-gos e cansativos diálogos com a reitoria da UFG e com as prefeituras de Goiânia e da Cidade de Goiás. Bruno classi� ca a realização do evento na capital como um desa� o. Pretendendo atrair tanto a par-ticipação voluntária dos artistas, quanto conquistar o apoio da universidade na disponibilização de espaços.

Outro ponto interessante é que nenhuma das bandas recebeu cachê e, ainda assim, “várias (bandas) nos pro-curaram para tocar”. A proposta é que desde as o� cinas até os shows sejam completamente gratuitos.”

RECOMPENSA

Com o evento, os artistas tiveram a oportunidade da exposição e do reconhe-cimento regional de seu trabalho. É o caso da ilustradora Luisa Plaza dos Santos, que ensina suas técnicas de aquarela em uma o� cina. Luisa aguardou ansiosa um mo-mento para expor seu portfólio. Ela acres-centa que “o mais legal é o incentivo que o evento traz à artistas amadores”.

Uma das atrações foi a Banda Erotori que, “inspirada na tradição do povo indígena Guarani, celebra a vida por meio do canto coletivo, em roda e de mãos dadas”. Paula de Paula, inte-grante do grupo crê que são os próprios estudantes que devem propor e criar esses espaços de dialogo com a comu-nidade. “O governo e as entidades não farão isso por nós”, complementa.

A cantora pensa que “nos aco-modamos nos eventos (criados) no facebook” e que é necessário repen-sar sobre meios de atingir um pú-blico mais amplo. Uma boa opção seria o convite feito pessoalmente à comunidade que abriga as escolas públicas no entorno dos locais do evento, sugere Paula.

Ana Dirino aposta que o sucesso do evento está mesmo na diversidade. “Tem um dia só de forró e outro com rap e cada o� cina tem um tema diferente”.

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s a m a m b a i aGOIÂNIA, dezembrO de 2015 11

Os cabelos são um instrumento forte de expressão da persona-lidade e um traço marcante da

aparência das pessoas. Mas a questão das escolhas capilares vai além da es-tética. As mulheres são levadas a pen-sar que cabelos lisos são mais bonitos e aceitáveis. Esse processo de impregna-ção de tal pensamento é todo o tempo reforçado pelos meios de comunicação.

Grandes cabeleiras lisas estampam as fotos das revistas femininas. Atrizes de TV e modelos das passarelas, na maioria das vezes, apresentam o visual liso. Influenciadas por essas informa-ções que bombardeiam as garotas des-de muito jovens, as mulheres sentem

dificuldade em admirar a beleza de um modelo de penteado diferente. Por isso, assumir um cabelo crespo é uma ques-tão afirmativa.

Força

A estudante de jornalismo Mileny Cordeiro diz que apesar de sempre ad-mirar as cacheadas e reconhecer a bele-za dos cachos, em certa época foi con-vencida de que o alisamento a deixaria mais bonita. “Desde pequena sempre lidei bem com o meu cabelo, sempre gostei dele, na adolescência resolvi fa-zer selagem porque colocaram na mi-nha cabeça que ela amenizava o volume e que facilitava os cuidados com o cabe-lo”. Ela conta que ficou triste com o re-sultado, porque o procedimento alisou seus cachos.

A autônoma Paula Tamires tam-bém precisou se fortalecer para sim-plesmente deixar os cabelos naturais. Lembra o quanto o processo é difícil pois os comentários acabam atingindo a auto-estima das mulheres. Ela conta o motivo de ter deixado de lado os ali-samentos “entre muitos acontecimen-tos, me senti mais segura para assumir minha verdadeira identidade.” Paula também comenta que começou os pro-cessos químicos capilares para se sentir mais aceita pela sociedade.

Mais que aparência, uMa questão de identidade

CabeloSCaCheadoS,

CreSpoS e afrorESISTEM aoao raCiSmo

Reportagem AríciA LeãoLudimiLA mendonçA

Edição eLiSAmA XimeneSDiagramação eLiSAmA XimeneS

- E S T É T I C A -

TranSIção

Uma das complicações no processo de transição – do liso para o cacheado – é fazer as pessoas entenderem que o cabelo liso é tido como mais bonito por uma questão de imposição de padrão. “Muitos me criticaram dizendo que meu cabelo era lindo como era (liso), e colocam minha auto-estima lá em baixo, como se assumir um cabelo afro fosse uma coisa muito errada”, lamenta Mileny.

A diferença de textura entre a parte alisada e os cabelos naturais também é um incômodo durante a transição. Mil-leny relata que o que mais me incomo-dava eram os comentários de pessoas próximas sobre o cabelo em transição.

PrEço

Mileny fala que não gasta muito pra manter a textura original dos cabelos e que essa conversa de que os cachos mui-to trabalho é um discurso permeado por racismo. “A verdade é que o cabelo cacheado, o cabelo crespo, ainda é vis-to como indomável, bagunçado, cabelo ruim” e afirma “a verdade é que isso é racismo, muitas pessoas acham que é difícil cuidar do meu cabelo, mas não é”.

Paula discorda. Ela acha que os pro-dutos de alisamento são mais acessíveis,

no sentido de que são difíceis de encon-trar. “Os de alisamento de qualidade são bem mais acessíveis que os destinados a manter os cachos”. O mercado oferece muito mais alternativas para quem quer alisar, do que quem quer deixar os cabe-los naturais. Daí a necessidade de mais pesquisa pra encontrar esse tipo de pro-duto.

rIScoS

Os processos de alisamento são vio-lentos e oferecem riscos para a saúde. O uso descuidado de produtos – como o for-mol – por salões de beleza é muito comum, apesar das recomendações dos órgãos de saúde. A facilidade de acesso a esses produ-tos pode colocar em risco inclusive a saúde das crianças. Milleny fala do que acontece em sua família, “hoje as pessoas fazem se-lagem em casa! As minhas tias fazem sela-gem nos cabelos das minhas primas de sete e oito anos, eu acho um absurdo!”.

Mileny lembra que “cabelo crespo não é questão de moda, mas sim uma questão política, de se posicionar contra esse racis-mo que destrói muitas mulheres”. Mulhe-res que têm cabelos assumidos, ou estão em transição, ou com uma ponta de vonta-de de voltar à textura natural, todos os dias, ouvem comentários sobre sua aparência e têm de aprender a tapar os ouvidos para muitos deles.

Com a proposta de repensar o lu-gar da negritude afirmada pelo cabelo crespo, Goiânia recebeu

no dia 22 de novembro, na Feira da Estação, a quarta edição do Encrespa Geral. As atividades do dia envolveram

encrespa GeraL eM GoiâniaPor eLiSAmA XimeneS

oficinas, exposições, dança, história e relatos. De acordo com a coordenação do Encrespa em Goiânia, Andressa Lo-pes Cherem, é muito gratificante ver a estética negra sendo afirmada e reafir-mada em atividades como esta.

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Page 12: Jornal Samambaia - Dezembro de 2015

12 s a m a m b a i a GOIÂNIA, dezembrO de 2015

- C U L T U R A -

A R T E U R B A N A D Á V I D A À S C I D A D E S

Ruas mais coloridas e interação en-tre indivíduos e espaço urbano. Essa é uma das princiais caracte-

rísticas da arte de rua - a street art -, que a cada dia ganha mais popularidade.

A arte de rua engloba todo tipo de manifestação artística desenvolvida em espaços públicos. Trata-se de uma for-ma alternativa de comunicação dentro da sociedade que, além de ornamentar espaços coletivos, busca causar refle-xões com o seu caráter subversivo.

As obras não seguem um padrão estético definido - a street art é con-siderada uma arte livre. Pintura 3D, instalações, projeções de vídeos, sti-

GRAFFITIS E MURAIS nAS RuAS

dESpERTAm O OlhAR REFlExIvO

dAS pESSOAS Reportagem Alline Flores

Edição CArMeM CUrTi Diagramação CArMeM CUrTi

lUCAs BoTelHo

ckers, cartazes e esculturas: tudo é arte nesse movimento.

Um exemplo da pluralidade da arte urbana é o que o artista britâni-co Bansky (ver box) expoente nessa área, expôs na Dismaland. A instala-ção artística é uma sátira dos parques da Disney. Lá, a Cinderela tem sua carruagem capotada, numa alusão ao acidente que matou a Princesa Diana, e várias das obras parecem criticar o mo-delo capitalista em que vivemos.

INCENTIVO

O Professor Ricardo Santos, for-mado em História pela Universida-de Federal de Goiás, é graffiteiro por hobby. Ele tem obras espalhadas pela Marginal Botafogo e Avenida Leste-O-este na capital goianiense.

O docente se interessou pela arte ainda criança e até cogitou a possibilida-de de uma formação específica, mas de-sanimou com os obstáculos financeiros.

Mesmo não se dedicando exclu-sivamente à arte, convive com muitos amigos que usam o graffiti como pro-fissão. Ele sintetiza a fórmula do suces-so de um profissional de artes plásticas: “para viver de arte, o artista tem de ter

capacidades inatas para a área e contar com o incentivo do governo.”

POlêmICA

Em maio des-se ano aconteceu em Goiânia o Fes-tival Bananada, que promove shows de bandas nacionais e internacionais e ou-tras ações culturais. Entre as ações, um mural foi pintado em uma das paredes do prédio principal do Centro Cultural Oscar Niemeyer.

Os autores da obra, a dupla de de-signers goianienses conhecida como Bicicleta Sem Freio, Douglas Pereira e Renato Reno, foram muito elogiados e o mural amplamente fotografado du-rante o Bananada.

Mas isso não agradou a todos. O painel passou a receber algumas críticas,

como a de que a obra profanava a arte do ar-quiteto que dá nome ao lugar, e que a es-trutura da construção não deveria fugir a seus propósitos.

A edificação, contudo, foi constru-ída em 2006 e pro-jetada para ser uma biblioteca, mas nun-ca funcionou ple-namente, por apre-sentar problemas estruturais. Além das goteiras presentes, o prédio não compor-taria o peso das es-tantes e livros.

No mesmo mês, um debate públi-co decretou que o mural deveria ser apagado. Toda essa

GAleRIA NotURNA No ceNtRo dA cApItAl

Além do viés subversivo e críti-co, este estilo de arte também pode tornar cidades mais bonitas e hu-manas. É isso que “Galeria Notur-na” está fazendo na Avenida Goiás, em Goiânia. Criado e coordenado pelo produtor cultural e artista plás-tico Gutto Lemes, o projeto é uma iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura (Secult) de Goiânia, em

parceria com empresários e entida-des ligadas ao comércio local.

De acordo com Ivanor Florêncio, ti-tular da Secult, “a proposta do ‘Galeria’ é inserir Goiânia no cenário mundial da Arte Urbana e atrair as pessoas de volta para o centro da cidade”. No projeto, as portas das lojas são transformadas em grandes painéis, pintados por artistas plásticos e grafiteiros goianos.

A artista plástica Berly Oliveira participou da Galeria Noturna deco-rando um dos espaços disponíveis , en-tende que a repercussão do projeto foi de extrema importância para ela. Ela considera que, além da revitalização do centro, a iniciativa propôs uma cidade mais bonita e humana, além do incen-tivo à população goiana a desenvolver uma nova

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Stencil de El Mendez em Goiânia.

Cartaz “Mais amor por favor” e grafite feito com Stencil, ambos no Centro de Goiânia.

discussão se embasou no que é ou não arte. Na época, um texto anônimo cir-culou na internet criticando o trabalho dos designers. O escrito continha a afirmação de que “O painel é design e design não é arte, mas, sim, decora-ção”. A alegação causou indignação nas redes sociais.

Em entrevista ao site ideafixa, o pro-dutor cultural Fabrício Nobre, respon-sável pelo evento, afirmou acreditar que o pedido de retirada do mural tem mais a ver com ciúmes de uma velha guarda artística em relação a uma nova geração.

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VOCê SABIA?– Bom exemplo da característica mi-litante da arte urbana são as obras do graffiteiro, diretor de cinema e pintor britânico Bansky. Sua identidade real é desconhecida - o que incitou a curiosi-dade das pessoas, tornando-o famoso.

– Com latas de tinta e humor sombrio, Banksy faz críticas políticas à socieda-de e a guerra. Seus graffitis aparecem em ruas, paredes e pontes por todo mundo, de Londres à Palestina. Usa a técnica de Stencil, na maioria das ve-zes, que lhe garante rapidez para não ser pego.

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Em setembro a inauguração do Centro de Esportes Campus Samambaia (Cecas-UFG) com-

pletou um ano. Localizado ao lado da Casa do Estudante (Ceu5), o prédio tem uma grande academia e um giná-sio poliesportivo que contribuem para buscando desenvolver e instigar a prá-tica de exercícios físicos e lazer na co-munidade acadêmica e local.

Segundo Lara Silva, estagiária da academia do Cecas existe uma lista de espera e reserva para as mo-dalidades mais procuradas, como musculação, treino funcional e er-gométrico, futsal, basquete e badmi-ton, todos oferecidos no horário de funcionamento do Cecas, de 7 a 22 horas em dias úteis.

Elcio Junior, coordenador do gi-násio do Cecas, explica que a grande procura é um dos motivos para o ba-lanço positivo das atividades previstas e desenvolvidas no local. Outro ponto favorável é que o local é utilizado para treinamento de equipes que represen-tam a universidade, como a Federa-ção Goiana de Desporto Universitário (FGDU) e a Confederação Brasileira de Desporto Universitário CBDU).

O espaço também é requisitado para festivais esportivos e competi-

ções entre alunos e servidores e aos poucos, tornou-se um ambiente de convivência, lazer e troca de apren-dizados, pois o acesso é aberto a pessoas com experiências muito di-ferenciadas e em momentos distin-tos de suas vidas.

Prática

Estudante de Ciências Sociais e praticante de futsal às terças e quintas, Wellington Viní-cius acompanhou a evolução do centro de espor-tes como morador do bairro Itatiaia, onde se localiza o Cecas. Registra que o local é mui-

malhar no campus ficou mais fácilinauguração do

Centro de esportes traz oportunidades

e humanização

Reportagem Gabriela alvesEdição ÁlvarO CasTrO

MaTHeUs FerreiraDiagramação lUCas bOTelHO

- E S P O R T E -

to receptivo à comunidade acadêmica e aos moradores da região: “Quanto a disponibilidade da quadra o lugar merece nota máxima. Como o meu curso é noturno, ter a opção de jogar depois das aulas é fantástico.”

A qualquer momento, os in-teressados podem procurar o local e se inscrever na modalidade e horário desejados, para garantir uma vaga, o acesso é totalmente gratuito e con-fortável, pois o centro de esportes

possui vestiários, com duchas e ar-mários. Técnico de Engenharia da UFG, Jessé Miranda Silva comenta que se matriculou com facilidade e logo foi chamado. Ele frequenta a aca-demia no horário do almoço desde o início de 2015: “Pra mim é óti-mo, pois cuido da minha saúde no meu interva-lo de trabalho.

Centro de Esportes UFG atende docentes, discentes, técnicos e comunidade em geral

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o nosso trabalho aqui não envolve só o exercício físico, é mais uma

conversa, um convívio

Lara SiLVaMonitora da academia

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Considero positivo mesclar minha vida aqui com os exercícios físicos, ainda mais com a ótima estrutura que se têm lá.”

oPortunidade

Para a manutenção do centro de esportes foi necessário abrir de vagas de trabalho e estágio na área de Educação Física. Assim, tor-nou-se possível vincular profissio-nalmente os próprios estudantes da UFG às atividades esportivas ali desenvolvidas.

Estudante do 4º período de Educação Física na Faculdade de Educação Física e Dança (FEFD), Lara Silva soube da oportunidade de estágio ao praticar musculação no Cecas. Contemplada com uma vaga de monitora, atualmente ela trabalha na própria academia. A universitária comenta que sempre desejou participar da área de ensi-no de práticas esportivas e ali está sendo possível desenvolver habili-dades para tal. “O nosso trabalho aqui não envolve só o exercício físico, mas também o contato pro-fessor-aluno. Ninguém me procura como personal trainer, é mais uma conversa, um convívio,” conta.

Vinicius Souza, estagiário há três meses no centro de esportes, diz estar aprendendo muito com a oportunidade. “Quando me fa-laram da vaga topei, na hora. Fiz a entrevista, fui aprovado e logo comecei a trabalhar como monitor da quadra. Agendo horários, dou apoio nos jogos,” diz.Academia do Centro de Esportes mantém equipamentos para várias atividades

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- L A Z E R -

RUGBY DESPERTA PAIXÕES GOIANAS

O Rugby, esporte de origem in-glesa trazido para o Brasil no século XIX, tem conquistado

cada vez mais adeptos em Goiás, tal-vez pela similaridade de regras com o futebol. Tanto que os adeptos já dispu-tam diversos campeonatos no Estado e em outras regiões. Mateus Catenassi comenta que a adesão à modalidade é explicada pela cordialidade por trás da agressividade, um “jogo de ogros joga-do por cavalheiros”, expressão que de-fine bem o esporte.

O capitão do UFG Rugby conta que seu primeiro contato com o esporte foi em 2007, através de um amigo recém-chegado da África do Sul, trazendo a novidade para o Brasil. “Eu praticava judô, que prega quase os mesmos prin-cípios de vida, mas, me apaixonei rapi-damente pelo rugby”, conta Catenassi. Segundo ele, a modalidade é regida por princípios como o respeito, disci-plina, paixão, solidariedade e espírito de equipe.

Projeto

O capitão revela que o projeto dentro da faculdade surgiu após a inserção do rugby em um campe-onato interdisciplinar, o InterUFG pois, vários alunos já eram adeptos à modalidade. “Daí surgiu o interes-se dos professores Marcel Gustavo Freuneu e Juracy Guimarães, ambos da Faculdade de Educação Física, para começarem o projeto de ensino básico do jogo na faculdade. Hoje o projeto ainda existe com o ensi-no juvenil e infantil do esporte e as equipes principais treinam em horá-rios distintos”.

Mateus afirma que, atualmente, o time principal e o projeto trilham caminhos diferentes, já que este não tem fins de competição. Por suges-tão da Faculdade de Educação Física (FEF), foi criado o “Projeto de Ru-gby” e os times que levam o nome da instituição para as competições fa-zem parte dele. “Nós criamos um clu-be para podermos participar não só de competições universitárias, mas também de competições amadoras”, explica Catenassi.

O esPorte já fOrmOu dOis times em GOiás,

O GOianOs ruGby Clube e O ufG ruGby

Reportagem Cynthia Costa LuCiana Gomides

Edição eLisama XimenesnatáLia esteves

Diagramação natáLia esteves

O Time de Engenharia inaugura a modalidade praticada por mulheres em 2009. O intuito era competir no Torneio das Engenharias do Centro Oeste, o TECO, e os treinos eram re-alizados na Escola de Engenharia da UFG. Durante a competição, algumas atletas entraram em contato com o Goiânia Rugby Clube (hoje, Goianos Rubgy Clube). “Depois do TECO, al-gumas atletas se interessaram em con-tinuar treinando, e se juntaram com as meninas do Goiânia”, conta a capitã Laís Magno.

Assim, oficializava-se o primeiro time feminino de Rugby no Estado. Dois anos depois, algumas atletas ini-ciaram um movimento para formar um time na UFG. Laís conta que a ini-ciativa deu certo, permitindo que ho-mens e mulheres vinculados à univer-sidade treinassem no UFG Rugby. “No entanto, os times masculino e femini-no só se consolidaram neste ano, com a participação e vitória no Campeonato Brasileiro de Sevens.

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Atualmente, Goiânia conta com dois times, o Goianos Rugby Clube, fundado em 2010 e o UFG Rugby. Segundo Ma-teus, as duas equipes possuem relação estreita, já que membros do UFG com-petem, também, pelo Goianos. Mateus explica que há duas modalidades no Rugby, o XV e o Sevens (ou seven-a-si-de). “A primeira joga com 15 jogadores iniciais na partida e dois tempos de 40 minutos e a segunda com sete jogadores iniciais e dois tempos de sete minutos”.

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‘‘O time do Goianos se concentra

na modalidade de XV, ao passo que as equipes da UFG focam na Se-ven-a-side, que permite a inscrição de até doze jogadores nas competi-ções. Devido ao intenso condicio-namento físico exigido, os atletas se preparam bastante, dentro e fora de campo. Os treinos de uma hora e meia acontecem três vezes por se-mana e é onde são estudados e pra-ticados passes e situações de jogo. Como complemento, os jogadores adotam atividades como crossfit e musculação

CamPeonatos

O Goianos Rugby já disputou, neste ano, três campeonatos nacio-nais, o LDU Rugby 7’s, do qual saí-ram campeões, o Berlândia Sevens, levando a medalha de prata e, o Cir-cuito Goiano de Sevens, cuja com-petição ainda está em andamento, sendo a próxima etapa a ser realiza-

da em Caldazinha. Neste ano, o time ainda participa do Pequi Sevens, em Brasília e Cuiabá, e o SPAC Lions, projeto do Clube SPAC de São Pau-lo, no mês de dezembro.

De acordo com a capitã do time da UFG, os circuitos femininos de Sevens proporcionam a participação de equipes de várias regiões, devido ao caráter itinerante das disputas. Ao todo, os times viajaram por várias regiões do país, passando por São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso e Bahia, além de rece-ber competições na capital goianien-se, o que mostra a difusão do Rugby em território nacional, angariando cada vez mais adeptos.

DifiCulDaDes

Apesar da visibilidade no cenário esportivo, o time de Rugby em Goiás ainda enfrenta algumas dificuldades e praticamente paga para se manter. Se-gundo Mateus, o apoio da UFG ainda é pequeno, oferecendo à equipe espa-ço de treino para um dia na semana, o campo da Faculdade de Educação Física, além do salário de 6 meses do treinador. Os treinos são realizados nas tardes de sábado, das três e meia até antes do Sol se pôr, já que o campo não tem iluminação.

Para complementar o preparo e não ficar com apenas um treino se-manal, as equipes precisaram buscar alternativas. Para isso, os times mas-culino e feminino treinam, nas noites de quarta feira, no clube da Assesgo – Associação dos Serviços da Saneago. Cada atleta precisa desembolsar R$10 para pagamento do campo e, com o dinheiro, os times ainda tentam ad-quirir mais material para treino que, por enquanto, é escasso.

As dificuldades, porém, não supe-ram os benefícios da prática do espor-te. Além do espírito de cordialidade e respeito ressaltado por Mateus, há a melhoria na qualidade de vida em ge-ral, já que o esporte trabalha com for-ça, resistência, velocidade e raciocínio rápido. Além disso, como ressalta Laís, os benefícios também estão incutidos nos exercícios praticados durante os treinos e na alimentação voltada para os resultados satisfatórios.

Apesar da recente fundação, o time UFG Rubgy já coleciona medalhas

Equipe feminina mostra que o esporte não é só para o público masculino

um jogo de ogros jogado por cavalheiros

mateus CatenassiCapitão do ufG rugby

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D epois de uma semana estres-sante de trabalho e estudos, os moradores de Goiânia têm pro-

curado alternativas para relaxar com a família e amigos, longe movimento dos shopping centers. Para isso, o Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON), espaço situado no setor Fazenda Ga-meleira, na região sul da capital, rece-be semanalmente diversos eventos que atendem à demanda cada vez maior por lazer e cultura na capital. Inaugurado em março de 2006, o CCON é um complexo de espaços cul-turais com 26 mil metros quadrados. O Centro é formado pela biblioteca, Museu de Arte Contemporânea (MAC), Palácio da Música Belkiss Spenzièri, Monumen-to aos Direitos Humanos e pelo espaço mais utilizado pelos goianienses, a Espla-nada Juscelino Kubitschek.

ESPLANADA

A esplanada Juscelino Kubitschek (JK) é um espaço de cerca do 20 mil me-tros quadrados, destinado a exposições, apresentações artísticas, eventos, shows e lazer. O acesso ao local pode ser feito pelas rodovias GO-020 e BR-153 e conta com estacionamento para 473 automó-veis, mas quem pretende lá chegar via transporte público encontrará di� culda-de, já que não há linha de ônibus com iti-nerário próximo ao Centro Cultural.

Para os que conseguem chegar à esplanada JK, a diversão é garantida.

GOIÂNIA OFERECE DIVERSAS OPÇÕES DE CULTURA E LAZER NO

FIM DE SEMANA

Reportagem CESAR FONTENELLEEdição CAROLINE MENDONÇA

Diagramação CAROLINE MENDONÇA

GOIANIENSES APROVEITAM FINS DE SEMANA COM NIEMEYER

Toco y me voy

São mais de 3 anos de “obras”. Por 3 vezes a inaugu-ração foi cancelada. Ao passar pela avenida Paranaíba, pode-se perceber que tudo está mui-to longe de um � nal. Além do futebol, o Estádio Olímpico se-ria um ponto importante para o atletismo em todo o estado. O descaso do poder público com esse caso não dá esperança para uma solução rápida. Enquan-to isso, o histórico Olímpico continua como um fantasma cravado no centro da capital.

Para alguém que mora nas redondeza, lembrar que faz mais de dez anos desde a últi-ma partida no Estádio Olím-pico dá uma grande tristeza. Sim, mais DEZ ANOS do clás-sico Vila Nova e Goiás, em 27 de fevereiro de 2005. E quando pensamos que agora ele volta, sofremos novas desilusões e nada da obra � car pronta. Goi-ânia precisa do Olímpico, faz parte da história da cidade. A reforma está quase pronta, Mas sermos iludidos mais uma vez?

VILA NOVAUm ano para nenhum tor-

cedor colocar defeito. Se 2014 foi veio dois descensos consecu-tivos, 2015 a redenção chegou com 2 acessos. Vencer a Divisão de Acesso do Goiano foi mais que a obrigação. Já retornar à Série B foi uma batalha des-gastante mas vitoriosas. Pontos para a diretoria comandada por Gustavo Veronez, para o gru-po de jogadores que demons-traram muita força na Série e, principalmente, ao torcedor vilanovense, o mais � el do esta-do. O Vila será forte em 2016!

Machucado, com o orgulho ferido, mas sempre ao lado do time. Esse foi a tônica do torce-dor colorado. E foi ele quem re-ergueu o Vila do fundo do poço, após um 2014 com dois rebai-xamentos. Apoiou nas arqui-bancadas e foi a mão de obra na reforma do Estádio Onésio Bra-sileiro Alvarenga, literalmente. Os frutos vieram, colhidos e plantados pela torcida, que ago-ra comemora. O Tigrão está no caminho certo. Caminho trilha-do por milhares que provaram merecer ainda mais alegrias.

GOIÁSSe do lado vermelho de Goi-

ânia a festa está garantida, pelo lado verde as coisas não andam bem. O título do Goianão foi uma obrigação, constatada até mesmo pelos torcedores. O período de crise � nanceira e austeridade continuaram em 2015. O Goiás não demonstra a mesma força de outrora, não é mais temido jogando do Ser-ra Dourada. Pelo segundo ano seguido a pior média de públi-co da Série A e com a eminente chance de cair para Série B. As eleições para presidente no � -nal do ano serão decisivas para o Verdão. Reage, Goiás!

Se tem algo de bom a ser retirado de bom do ano es-meraldino é como não agir na gestão de um time de fu-tebol. Seguidas trocas de téc-nicos, contratações de jo-gadores desconhecidos que não acrescentaram ao elenco, negociações sem sucesso de atletas, profissionais sem ex-periência em cargos impor-tantes de direção, aposta em jogadores da base que ainda não estavam preparados para jogar no time principal. E o que dizer da polêmica entre-vista do Hailé Pinheiro? É pre-ciso mudar muito para 2016...

Por ÁLVARO DE CASTRO Por MATHEUS FERREIRA

ESTÁDIO OLÍMPICO

Pessoas de diferentes pontos da cida-de se encontram para andar de patins, skate, e bicicleta ou para soltar pipa e tomar um sorvete. Quem não levar seu próprio par de patins, não tem des-culpa para � car só olhando, pois há bancas de aluguel desses brinquedos, além de equipamentos de segurança. O aluguel de um par custa R$ 10 por hora e, para garantir as se-gurança, vale a pena desembol-sar mais R$ 5 pelo mesmo tempo. “Minha amiga e eu alugamos um par de patins e equipamentos de seguran-ça por uma hora. Ela usou por meia hora e eu durante os outros 30 minu-tos”, ensina a estudante Carolina Otto, 21 anos, para quem quiser economizar. FESTIVAIS

Na esplanada ocorreram os dois prin-cipais festivais de música de Goiânia em 2015. Os festivais Bananada e Vaca Amarela trouxeram para o CCON atrações como Caetano Veloso, Karol Conka, Fresno, Emicida e Criolo. A grande a� uência de público em am-bos eventos mostram o interesse dos goianienses por eventos desse tipo. Os festivais proporcionaram à população � nais de semana com arte urbana, de-bates sobre a cena de festivais indepen-dentes, festas e, claro, muita música.

ALTERNATIVAS

Para os que não conseguem chegara facilmente ao CCON, há outras opções de eventos culturais e de lazer espalha-dos por diferentes pontos da capital. Novos grupos têm surgido com o obje-tivo de proporcionar um � nal de sema-na agradável à população. Um exemplo, é o Grande Hotel Sound System, orga-nizado por amigos do Coletivo Casa de Música, que leva música, arte e dança à Avenida Goiás, na região central da cidade. A primeira edição do evento ocorreu em 27 de setembro e reuniu centenas de adultos, jovens e crianças.

Espaço é utilizado como opção de lazer por pessoas de todas as idades

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A dança do ventre é uma das danças femininas mais an-tigas que se tem registro. Há milhares de anos, mulheres ancestrais criaram movimentos para homenagear deusas geradoras da vida. Essa dança teve vários sentidos ao longo do tempo, mas continua a ser um caminho para a sabedo-ria e é o que propõe as aulas oferecidas pela Faculdade de Educação Física e Dança da UFG, em que mulheres vibram e ondulam seus ventres em busca de autoconhecimento e transformação de si mesmas.

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