jornal samambaia agosto 2011

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J ORNAL L ABORATÓRIO DO CURSO DE J ORNALISMO DA UNIVERSIDADE F EDERAL DE GOIÁS | GOIÂNIA , J UNHO, 2011 Diagramação: Larissa Vieira e Frederico Oliveira Meio ambient e Estudos mostram que a flora original do Cerrado é o principal retentor de gases de efeito estufa no Brasil. Plantações e pastagens aprisionam menos carbono e mais calor que a mata nativa >> 8 e 9 CASA DE PRISÃO Detentos da CPP ganham oportunidade de trabalho >> 03 DANÇA DE SALÃO Ritmo a dois atrai público jovem para academias de dança >> 15 TRÁFICO Comércio ilegal de animais silvestres ameaça espécies de extinção >> 10 Samambaia

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Edição do Jornal Samambaia de Agosto de 2011.

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Page 1: Jornal Samambaia Agosto 2011

Jornal laboratório do curso de Jornalismo da universidade Federal de Goiás | Goiânia, Junho, 2011

Dia

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Meio ambienteEstudos mostram que a flora original do Cerrado é o principal retentor de gases de efeito estufa no Brasil. Plantações e pastagens aprisionam menos carbono e mais calor que a mata nativa >> 8 e 9

CASA DE PRISÃO

Detentos da CPP ganham oportunidade de trabalho >> 03

DANÇA DE SALÃO

Ritmo a dois atrai público jovem para academias de dança >> 15

TRÁFICO

Comércio ilegal de animais silvestres ameaça espécies de extinção >> 10

Samambaia

Page 2: Jornal Samambaia Agosto 2011

e d i t o r i a l

Combustível, inflação e aumento dos preçosTexto: Rômulo ChaulEdição: Laura de Paula

somos produtores. Logo, é hora de sa-bermos quem lucra com esta injustiça e corrigirmos a diferença.

Samambaia Ano XII – Nº 50, Junho de 2011Jornal Laboratório do curso de Jornalismo Faculdade de Comunicação e BiblioteconomiaUniversidade Federal de Goiás

ReitorProfessor Edward Madureira Brasil

Diretor da FaculdadeProfessor Magno Medeiros

Coordenador do Curso de JornalismoProfessor Juarez Ferraz de Maia

Coordenador Geral do SamambaiaProfessor Welliton Carlos

Editor de DiagramaçãoProfessor Sálvio Juliano

MonitoriaLaura de Paula Silva

DiagramaçãoAlunos da disciplina Laboratório Orientado – Diagramação

Edição ExecutivaAlunos da disciplina Jornal Impresso II

ReportagensAlunos da disciplina Jornal Impresso I

ContatoCampus Samambaia - Goiânia/GO - CEP 74001-970 Telefone: (62) 3521-1092. E-mail: [email protected]

Impressão: Cegraf/UFG Tiragem: 1000 exemplares

2 Samambaia >> Goiânia | Junho, 2011

UMORR Pietro Bottura

Dia

gram

ação

: Lar

a Le

ão

a r t i g o

A alta dos preços dos combustíveis em todo o Brasil foi a principal causa do aumento do índice de inflação do mês de abril e continuou sendo respon-sável no mês de maio e junho.

O próprio Governo Federal já toma medidas para reduzir o ICMS em cima do etanol e da gasolina na tentativa de conter o aumento da inflação, preven-do já o fim das entressafras.

Com o aumento da inflação a popu-lação brasileira, de modo geral, já sen-te o peso no bolso: aumento do preço da passagem de ônibus, dos alimentos e até mesmo de produtos de consumo primário.

O reflexo é imediato e a população já toma iniciativas. Em Goiânia, mobiliza-ções contra o aumento dos combustíveis foram vistas em toda a cidade, com on-das de protesto nas ruas e movimentos de repúdio via internet.

Enquanto o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirma que po-dem ocorrer novos problemas de abas-tecimento de etanol no País durante a próxima entressafra da cana-de-açúcar e o governo conversa com empresários do setor sucroalcooleiro para projetar o abastecimento de etanol para o próximo ano, quem paga o preço (alto na bomba) é a população. É verdade que ocorreu uma queda no mês passado, mas fal-ta muito. O Brasil é um dos países que mais paga pelo consumo de gasolina. E

Tudo bem, o mês que vamos falar aqui já passou. Mas produz acontecimentos que repercutem durante o ano. Maio é popu-larmente conhecido como mês das mães e também como mês das noivas. Moças ves-tidas de branco, véu e grinalda entrando na igreja para encontrarem seu príncipe encantando e viverem felizes para sempre, ou até começar o futebol ou acabar a cer-veja. É claro que o sonho de casar na igreja toda de branco com seu cavaleiro reluzente era o sonho das moças de antigamente, no tempo de Cora e da repressão do soutien.

As meninas de hoje sonham em cres-cer, ser independente, não precisar do di-nheiro do marido, aliás, não precisar nem de marido quanto mais de dinheiro. Que-rem ser grandes empresárias, juízas, dele-gadas, presidentas. Casamento e filhos que fiquem para depois, não existe esse negó-

cio de príncipe mesmo. Ou existe? Quando maio começou já se faziam

dois dias da lua de mel do casamento do ano. A realização de um sonho de menina em achar o príncipe encantado foi o que conseguiu a plebéia britânica Kate Midd-leton que se casou no dia 29 de abril com o príncipe William, filho do herdeiro do trono britânico, príncipe Charles, com a fa-lecida princesa Diana.

Foi tudo o que se espera de um casa-mento real: festa enorme, convidados ilus-tres e capas de jornais e revistas. Muitas capas de jornais e revistas.

A excitação dos britânicos pelo casa-mento é normal e justificável, mas o que esse jornal se pergunta é: não aconteceu mais nada de importante em abril? Re-vistas importantes de circulação nacional colocaram o fato na capa da revista, a foto da menina plebéia que sobe ao trono inglês através do amor.

Na Inglaterra é compreensível, mas

qual a relevância do fato no Brasil? Justifi-ca-se da tamanha importância do assunto em detrimento dos outros?

Em plena semana de páscoa esse foi o assunto mais importante da pauta na-cional brasileira: o casamento do filho do príncipe da Inglaterra. As mortes nas estra-das no feriado, as condições das estradas, a alta do preço do combustível, a alta no pre-ço das passagens de ônibus, o protesto dos estudantes, as promessas de campanha, as enchentes em São Paulo, Rio de Janeiro e no sul do País, a situação da Líbia... Nada interessa? Só sabemos que o casamento dos sonhos custou R$ 12 milhões.

Mas de que importa tudo isso mesmo se o mundo parou pra ver o casamento dos sonhos de todas as meninas que ain-da acreditam em príncipe encantado. Foi o momento da catarse mundial. Todo o mundo parou pra ver um conto de fadas. Agora, em junho, a vida segue, as notícias voltam e a dura realidade atinge o povo.

Mês para esquecermosTexto: Rômulo ChaulEdição: Laura de Paula

Page 3: Jornal Samambaia Agosto 2011

t r a b a l h o

Detentos ganham segunda chance Parceria entre emPresas Privadas e diretoria do comPlexo Prisional de aParecida de Goiânia oferece emPreGo aos Presos

Com o tema “Ressocialização, nós acreditamos!”, a Casa de Prisão Provisória (CPP), do Comple-

xo Prisional de Aparecida de Goiânia, emprega, em parceria com a Hering, aproximadamente 300 presos, divididos entres detentos tanto do complexo mas-culino quanto do feminino.

A linha de produção montada na unidade em Goiás etiqueta, dobra e embala 70 mil peças por dia. Segundo o diretor da CPP, Edílson de Brito, a in-tenção e o objetivo desse projeto é me-lhorar a qualidade de vida dos presos, possibilitar a qualificação profissional e diminuir o índice de reincidência crimi-nal, que ainda é significativo, com média de 70%. “Nós queremos trazer renda e oportunidades para os detentos, além de qualidade de vida”.

Além da Hering, mais de oito empre-sas, entre elas a Oi e a Telemont, realizam parceria com a CPP. Todos os presos en-volvidos no projeto recebem salário de acordo com a produção. Também são ana-lisados fatores como horário, disciplina e controle de qualidade da produção.

Em nota oficial, a empresa Hering ex-plica que o padrão de trabalho exigido no presídio é similar ao que eles enfrentarão no mercado de trabalho do lado de fora. “Tudo que é cobrado aos detentos será co-

Texto: Lara Leão e Raissa FalcãoEdição: Bruna DiasDiagramação: Luciano Castro

3Samambaia >> Goiânia | Junho, 2011

brado em qualquer atividade que vierem a desempenhar após o cumprimento de suas penas”, diz o documento.

Bom comportamento

Os presos não são selecionados alea-toriamente. A maioria é réu primário ou recebe a oportunidade de trabalho devido ao bom comportamento dentro da pri-são. Atendendo a estes requisitos, eles são “convidados” a participar do projeto. Para se adequarem as condições de trabalho, o módulo em que estão detidos possui horá-rios diferentes dos demais.

Além disso, no módulo Respeito, os detentos se comprometem a seguir as normas que regem a organização do espaço, limpeza e comportamento. Eles ficam em um local mais arejado e huma-nizado, podendo participar de cursos, reuniões, trabalhos e atividades de es-porte e lazer.

Com pausa somente para o almoço, o detento Cammel, 26 anos, preso por tentativa de tráfico, afirma que apesar do horário puxado, até as 18 horas, é muito melhor trabalhar do que ficar desocupa-do na prisão.

A Gerência de Reintegração Social da Superintendência do Sistema de Exe-cução Penal (Susepe) é responsável pelo desenvolvimento e execução das ações que auxiliam na reinserção social do presidiário. Ela também criou o núcleo de seleção dos detentos, que foi implan-tado no sistema prisional em 2009. Este órgão faz a triagem da população carce-rária, encaminhando-os às vagas de em-prego de acordo com o interesse, perfil e qualificação.

Não existem fórmulas prontas capa-zes de reverter o quadro atual da crimi-nalidade. A entrada do sentenciado no cárcere é algo crítico para ele. Ao sair da cadeia, o ex-presidiário passa por um mo-mento delicado. A fórmula adotada pela CPP, que procura ressocializar o preso, encarando-o não mais como um crimino-so, e, sim, como um reeducando, oferece

ao detento uma pers-pectiva para retomar o curso de sua vida.

O direito ao tra-balho é um dos ele-mentos fundamentais para garantir a digni-dade do ser humano. Por isso, quando uma pessoa é presa, ela não perde este direi-to. De acordo com a Lei de Execuções Pe-nais, o trabalho é tanto um direito quanto um dever daqueles que foram condenados e estão nos estabeleci-mentos prisionais.

No entanto, estas atividades não devem se assemelhar a traba-lhos forçados, cruéis ou degradantes, como mostram os filmes de ficção. Segundo a representante da He-ring, Marisa Ferreira, o trabalho destinado aos presos não é uma segunda punição àquele que já teve a liberdade cerceada. A iniciativa, pelo contrário, pretende rea-bilitar, dar oportunidade e ressocializar o preso, auxiliando sua recuperação, ampliando suas perspectivas e prepa-rando-o para reconstruir a sua vida em sociedade através das oportunidades oferecidas pelo mercado de trabalho.

Educação também é o caminho“ Nós queremos trazer renda e

oportunidades para os detentos, além de qualidade de vida”

Edílson de Brito,diretor da CPP

Detentos trabalham em confecção dentro da CPP

Div

ulga

ção

Interior

As boas oportunidades também se estendem para os municípios do interior. Cinquenta detentos dos regimes aberto e semiabertovão trabalhar em serviços gerais e administrativos de 25 comarcas judiciais de Goiás. O convênio entre o governo do Estado e o Tribunal de Justiça foi assinado no dia 19 de abril.

Além das vagas de trabalho, os de-tentos também podem dar continui-dade aos estudos ou iniciá-los durante o cumprimento das penas. Atualmente, o módulo “Ressocialização, nós acredita-mos!” oferece oportunidade de estudo a 1.571 presos que são atendidos desde cursos de alfabetização até graduação

em nível superior. O projeto é realizado através de parce-

rias do Banco do Brasil, SESI, Faculdade Alfredo Nasser e Secretaria da Educa-ção com a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Aqueles que fazem graduações têm bolsas/convênio e pagam preços dife-renciados pelos estudos.

Page 4: Jornal Samambaia Agosto 2011

O homicídio é a principal causa de morte de jovens entre 15 e 24 anos no país, revelam dados

do “Mapa da Violência 2011 – Os Jovens do Brasil”, lançado pelo Ministério da Justiça em parceria com o Instituto San-gari. O estudo informa que 62,8% das mortes de jovens ocorreram por homicí-dios, acidentes com meios de transpor-tes e suicídios.

No período analisado, alguns esta-dos reduziram a média de homicídios. É o caso de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, enquanto Pará, Alagoas e Goiás praticamente dobraram os seus números. A pesquisa sugere que essa inversão nos índices dos estados pode ter sido provocada pelo Plano Nacional

v i o l ê n c i a

Por que os jovens morrem cedo?Em Goiás, dE 1998 a 2008, a taxa dE mortEs por homicídios subiu dE 19,6 para 57,7 para cada 100 mil habitantEs

Texto: Raíssa Falcão Edição: Thamara FaguryDiagramação: Thamara Fagury

Francisco das Chagas perdeu seu filho em 2008

4 Samambaia >> Goiânia | Junho, 2011

Fotos: Raíssa Falcão

>>A partir de 1999

surge um processo de estagnação nas

capitais e a violência começou a crescer

no interior

de Segurança Pública e pelo Fundo Na-cional de Segurança. Esses dois projetos canalizaram seus recursos para o equi-líbrio da situação nas regiões de maior incidência, o que provocou a migração do número de mortes para locais de me-nor risco, aumentando os homicídios no Centro-Oeste, por exemplo.

Apesar do aumento de homicídios em alguns estados, o mesmo documento aponta que, em 2004, foi detectada que-da expressiva nos índices por dois anos consecutivos. Essa baixa significativa é atribuída ao projeto “Campanha do De-sarmamento” lançado naquele ano.

O estudo ainda aponta que deter-minados pontos observados em pes-quisas anteriores ainda prevalecem, como a quase totalidade das vítimas de homicídios serem do sexo masculino e o fato do número de vitimas negras continuar maior que o número de víti-

mas de cor branca.No ano de 2008, o jovem Lean-

dro das Chagas comprou uma mo-tocicleta para facilitar a sua função no emprego. O rapaz não usava nenhum tipo de droga e trabalhava com o pai, Francisco das Chagas, nas Centrais de Abastecimento de Goiás (Ceasa). Leandro se envolveu em um acidente de trânsito e mor-reu aos vinte anos de idade, na ma-drugada do dia 16 de julho de 2008. O jovem faz parte da estatística.

Migração da violência

A falta de uma política cultural sistemática, a má qualidade dos processos educativos e a dificulda-de de acesso à justiça são os motivos do aumento dos índices de homicí-dios em Goiânia, aponta o professor Dijaci David de Oliveira, especia-lista em sociologia da violência. Ele afirma que é possível notar no Brasil e no estado de Goiás uma interiori-zação da violência. Até metade dos

anos 1990, os pólos dinâmicos da margi-nalidade se concentravam nas grandes cidades. A partir de 1999, começa um processo de estagnação nas capitais, e a violência começou a crescer no interior.

A situação que, há algum tempo alarmava quase que unicamente a ca-pital goiana e o entorno, hoje é moti-vo de preocupação também em muitas cidades do interior. O sociólogo afirma que a precariedade das escolas goianas influencia bastante esse dado. “Pesqui-sa bem recente, de 2009, realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pes-quisa (Inep) demonstrou, por exemplo, que mais de 98% dos jovens das esco-las brasileiras cometeram ou cometem alguma atitude preconceituosa. O que falta é uma escola que educa para a ci-dadania”, diz.

Falta incentivo cultural

Dyscreto, o diretor da Central Única das favelas de Goiás (Cufa), acredita que a ausência de uma política direcionada à formação de jovens cidadãos é o fator alarmante da atual situação goiana.

Leandro das Chagas, morto aos 20 anos, em um acidente de trânsito: parte da estatística

Para o rapper, falta investimento. Um dos desafios apresentados pela Cufa-Goiás diz respeito ao acesso cultural de jovens em condição de risco.

A instituição participou da elabora-ção de propostas para políticas públicas que promovam esse acesso, discutindo estruturação e a integração das escolas com jovens e suas famílias. São estraté-gias para construção da imagem positi-va e auto-estima da juventude que mora em favelas. Entretanto, sem investimen-tos a ação fica imobilizada.

Page 5: Jornal Samambaia Agosto 2011

e n t r e v i s t a

“O jornalista transmite informação e o professor transmite um saber consolidado”Entrevista: Rubens SalomãoEdição: Wynne BorgesDiagramação: Laura de Paula

7Samambaia >> Goiânia | Agosto, 2011

Lisa França é um dos nomes que foram destaque durante anos no corpo docente da Facul-dade de Comunicação e Bibliote-conomia da UFG. Em maio de 2011, Lisa lecionou a última aula na universidade e se aposentou. A professora, querida por todos, tem agora novos projetos pela frente e resolveu se dedicar a outra paixão que ela vinha con-ciliando junto com o ensino do jornalismo, a Psicanálise.

Jornal Samambaia - Como você chegou a lecionar na Facomb? Depois de vários anos, o que de lá fica na memória?

Lisa França - Eu entrei com alguns anos de profissão. Já estava trabalhando no jornalismo há 16 anos. Comecei com o impresso na Folha de Goiás e depois no Diário da Manhã. Continuei em Brasília, no jornal O Globo, e depois voltei para Goiânia como correspondente do Jornal do Brasil e, posteriormente, como corres-pondente da Gazeta Mercantil. Paralela-mente a isto, fazia um trabalho na televi-são, na TV Brasil Central como jornalista, e em um núcleo de imagem onde fazia documentários.

Samambaia - Depois de vários anos, o que de lá fica na memória?

Lisa - O que ficou mais em mim de-pois deste período de aulas foi o contato com os alunos. Essa riqueza que é você poder passar sua experiência e apren-der com eles, acompanhar mudanças. O que mais me animava e entusiasmava na universidade era o contato com o aluno.

Guardo uma lembrança muito boa das amizades construídas ali.

Samambaia - O que é jornalismo e como deve ser a formação acadêmica de um jornalista?

Lisa - Jornalismo é transmissão de saber e de informação. Acho que tanto o jornalismo como a academia têm muito o que contribuir porque, para o censo co-mum, o jornalista transmite informação e o professor transmite um saber conso-lidado, um conhecimento fechado e qua-drado. Mesmo quando caiu a exigência do diploma, a procura no vestibular não diminuiu para os cursos de comunicação e nem as empresas contrataram mais jor-nalistas que não são formados.

Os professores têm que questionar, o tempo todo, este saber consolidado. Você não pode só transmitir informação para não ser manipulado pela sua fonte. É preciso um conhecimento prévio, uma reflexão crítica, uma contextualização.

Samambaia - Quais serão suas ativida-des depois da aposentadoria?

Lisa - Agora estou engajada na for-mação de um núcleo de psicanálise em Goiânia ligado ao Corpo Freudiano (es-cola de psicanálise) que é ligado à Con-vergência Internacional.

O trabalho do psicanalista é muito solitário e nós precisamos desta inter-locução e da crítica constante. Além de publicar. Eu sempre publiquei, sempre escrevi. É uma forma de dar a cara pra bater. Você dá um testemunho do que você pode transmitir, da sua trajetória, mas é também uma forma de colocar em jogo e lançar para a crítica o que você trabalhou .

Samambaia - O que é realização para Lisa França?

Lisa - Tenho um sentimento de gra-tidão muito grande pela vida, pela mi-nha profissão, pelo meu trabalho, por-que tudo o que fiz, fiz com muita paixão e amor. Acho que a realização é essa: a gente não pode perder o que a gente tem pra viver, que são as 24 horas. É o mo-mento. Eu sempre consegui, de alguma forma, valorizar muito o meu momento.

Lisa França: após muitos anos em sala de aula, a dedicação agora é outra

Rubens Salomão

Galeria

Encontro Internacional das Nações Indígenas no Pará, durante o protesto Caiapó contra a usina de Belo Monte

Redação do Folha de Goiás, com Elton Campos, editor do jornal

Festival de Cinema e Literatura em Portugal, com o premiado cineasta português Lauro Antônio

Lisa com o jornalista Washington Novaes, sus esposa Virgínia Novaes e o ex-reitor da UFG, Ricardo Buffaiçal

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Page 6: Jornal Samambaia Agosto 2011

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Ginástica para a melhor idadePrática de exercícios na terceira idade Pode ser alternativa Para combater a dePressão e retardar os efeitos do envelhecimento

A expectativa de vida da popu-lação aumentou, e praticar exercícios físicos regularmen-

te pode ser uma alternativa para quem pretende estar na terceira idade com boa saúde.

Envelhecer é um processo natural da vida e, como em qualquer fase, tem as suas peculiaridades. Segundo a fisioterapeuta e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Ge-rontologia, Viviane Lemos Silva Fer-nandes, várias dimensões devem ser consideradas ao analisar o processo de envelhecimento de um indivíduo. Isso significa que além do aspecto físi-co (rugas, cabelos brancos e fragilida-des motoras, por exemplo), as partes psíquica e social não podem ser deixa-das de lado. A maneira como a pessoa viveu ao longo da vida influi direta-mente na velhice que ela terá. “A jovia-lidade conta muito nessa fase da vida. Às vezes encontramos pessoas idosas mais saudáveis do que outras mais jo-vens”, lembra Viviane Fernandes.

Dentro dessa lógica, a fisiotera-peuta explica que os exercícios físicos desempenham papel importante no retardamento dos efeitos do envelhe-cimento biológico, psíquico e social do indivíduo.

Atividade física

Combate a radicais livres, preven-ção de doenças e liberação de neuro-transmissores que proporcionam pra-zer e sensação de bem estar são alguns dos benefícios da prática regular de atividade física. Além disso, a fisiotera-peuta afirma que os exercícios oferecem maior oxigenação cerebral, ajudando a memória, e auxiliam a parte óssea no combate à osteoporose.

Texto: Flávia GomesEdição: Wynne BorgesDiagramação: Alana Sales

Antônio Salustiano Correia, 75, não dispensa a musculação

6 Samambaia >> Goiânia | Junho, 2011

Flávia GomesProporcionar ao idoso fortaleci-

mento muscular e resistência física, de forma a contribuir na diminuição das quedas e fraturas, são benefícios que a professora de educação física da UniE-vangélica, Cristina Gomes Oliveira Teixeira, destaca na prática da muscu-lação na terceira idade. Segundo ela, a atividade auxilia na sustentabilida-de física do corpo e no ganho de força dos membros inferiores e superiores, o que aumenta a resistência motora. A professora acrescenta que a práti-ca ajuda na queda da pressão arterial, controla os níveis glicêmicos e abaixa os triglicerídeos (lipídios que circulam na corrente sanguínea e são capazes de alterar o nível de colesterol).

Ela destaca que no período de oito a doze semanas qualquer indivíduo é capaz de sentir as adaptações fisioló-gicas que podem acontecer no orga-nismo com a prática da musculação.

Entretanto, algumas condições são necessárias para a obtenção dos bene-fícios. “As mudanças somente aconte-cerão se os exercícios estiverem sendo realizados corretamente e respeitando

a periodicidade de pelo menos três vezes na se-mana, com cada sessão durando entre 40 e 60 mi-nutos”, explica Cristina.

Cuidados

Para Viviane Fernandes, a pes-soa deve sentir prazer ao reali-zar atividades fí-sicas. Por isso ela considera impor-tante uma ava-liação que trate da especificidade de cada pessoa. Cristina Teixei-ra ratifica esse cuidado na esco-lha de exercícios adequados para o idoso. “Isso significa que não se deve direcio-nar determinados exercícios a um idoso com escoliose”, exemplifica a professora.

Considerar as particularidades do idoso que iniciará uma atividade física é consenso entre os especialistas. De acordo com o educador físico Hugo Rios, os exercícios devem ser direcio-nados de acordo com a necessidade. Segundo ele, o trabalho realizado na academia de musculação visa auxiliar o idoso em atividades simples do co-tidiano que se tornam difíceis com o passar dos anos, como caminhar, su-bir escadas e até mesmo tomar banho sozinho. “A musculação deve ajudar o idoso a reconquistar a independência, auxiliá-lo na diminuição das dores e aumento do sono durante a noite”.

De acordo com Antônio Salustiano Correia, 75, sua disposição em ativida-des diárias aumentou após a prática de musculação. “Andar muito tempo, subir escadas se tornaram mais fáceis desde que comecei uma atividade re-gular de exercícios.” Os benefícios, se-gundo ele, foram visíveis. Ele destaca a diminuição da flacidez e o aumento da resistência muscular desde que come-çou há seis anos.

Envelhecer é algo a que todos nós estamos sujeitos. Nos resta apenas pro-curar alternativas para que esse enve-lhecimento ocorra de maneira saudável. A prática de exercícios físicos é uma dessas maneiras para se ter uma melhor idade com qualidade de vida jovem.

“A musculação deve ajudar o idoso a reconquistar a independência,

auxiliá-lo na diminuição das dores

e aumento do sono durante a noite”

Hugo Rios, educador físico

Page 7: Jornal Samambaia Agosto 2011

por Raisa Ramos

7 Samambaia >> Goiânia | Junho, 2011

POLITIQUÊS

Com Demóstenes Torres (DEM), Thiago Peixoto (PSD), Armando Vergílio (PSD) e Fábio Sousa (PSDB) querendo a cadeira maior do Palácio das Campinas, todos querem saber quem o governador vai apoiar. Ele só bate o martelo depois de ler pesquisas de opinião.

E agora, Marconi?Nos bastidores, todos comentam

que o PMDB não está muito confiante na aliança com o PT e que pode lançar candidato próprio. Os principais no-nomes cotados são Wagner Siqueira (Waguinho), Bruno Peixoto e Samuel Belchior.

Independência

Edição: Rômulo ChaulDiagramação: Thiago Lobos

BoladaSó nos três primeiros meses deste

ano, o governo estadual já conseguiu arrecadar quase R$ 3,5 bilhões em impostos. O ICMS foi o principal res- ponsável pelo feito, totalizando, sozinho, aproximadamente R$ 2,5 bilhões.

TricôUltimamente Marconi Perillo tem

arrastado asa para cima do prefeito Pau-lo Garcia, com quem fechou algumas parcerias. Será que o tucano vai surpre-ender os eleitores e apoiar o petista? Se-ria uma forma de fazer graça para Dilma Rousseff e sair da geladeira presidencial.

Uma coisa é certaA disputa pela prefeitura de Goiânia

em 2012 será bem mais concorrida do que a de 2008. Nas eleições municipais passadas, Iris Rezende (PMDB) ganhou de lavada de seu então principal rival, o pepista Sandes Júnior.

CelgA responsabilidade de recuperação

da Celg agora está nas mãos do banco Credit Suisse. Esta é a sexta tentativa do Estado de reerguer a companhia. Se-gundo a previsão de José Eliton (DEM), vice-governador e presidente da Celg, o programa deve levar de 6 meses a 1 ano para ser implantado.

No ano de 2000 Marconi fez a pri-meira tentativa de salvar a Celg. Não obteve sucesso. O valor total da dívida é R$ 6 bilhões.

PSDCom 32 deputados federais, o partido

de Kassab já nasce com bancada maior do que as do PTB e PSB.

TrindadeGeorge Morais, Flávia Morais,

Jânio Darrot e Ricardo Fortunato são nomes mais cotados para a prefeitura da cidade. PSDB quer voltar a ter domínio na terra santa. PDT também.

RedeO Twitter continua sendo o site de

relacionamento mais popular entre os políticos. O Facebook ainda não cativou esse público específico.

Por mais que que cada processo eleitoral seja dife-rente, os rituais são sempre robotizados. Ou seja: o momento atual refere-se às articulações nos basti-dores. Alguns políticos já estão se articulando por conta das eleições para prefeituras e câmaras mu-nicipais dos Estados. Em Goiânia, políticos já elei-tos deram indícios de interesse em comandar a capital. É o caso do senador Demóstenes Torres (DEM), que chamou a atenção do país por con-ta do seu expressivo saldo eleitoral: mais de 2,1 milhões de votos. O próprio prefeito Paulo Gar-cia (PT) é outro forte concorrente para 2012. Ele tentará a reeleição. Armando Vergílio (PSD) também é um dos cotados para entrar na briga. Vergílio foi eleito, no ano passado, deputado federal, mas abandonou o car-go para integrar a equipe do gover-nador Marconi Perillo e hoje está à frente da Secretaria de Cidades. Outro secretário, Thiago Peixo-to, também ameaça concorrer à prefeitura, o que pode ge-rar a primeira crise interna do mais recente partido brasileiro. Jovair Arantes (PTB), eleito deputado fe-deral, pode tentar a vaga. O petebista já tem experiência na área. Entre 1993 e 1995, foi vice--prefeito de Goiânia, durante o governo de Darci Accorsi e sempre deixou clara sua intenção de comandar a cidade. O deputado estadual Fábio Sousa, atual presidente do PSDB em Goiânia, já disse que quer entrar na briga. Tem chan-ces de disputar, mas precisa demonstrar perfil religioso que atenda todos os segmentos e não apenas uma igreja.

Briga por Goiânia

Page 8: Jornal Samambaia Agosto 2011

m e i o a m b i e n t e

Cerrado brasileiro é aliado no combate às mudanças climáticasPreservar o bioma da região central do brasil Pode ajudar a amenizar o efeito estufa, informam Pesquisadores

Uma das maiores preocupações do século 21 é a aceleração do aquecimento da Terra devido

à atividade humana. O Cerrado deve ser uma das regiões mais afetadas pelas mudanças climáticas, ao passo que sua destruição contribui gravemente para a piora do quadro.

A devastação da savana brasileira é responsável por um terço da emissão de gases do efeito estufa no Brasil. A boa no-tícia, entretanto, é que o bioma também torna-se um importante renovador do ar. Ou seja, preservar pode ser uma opção no combate ao aquecimento global.

O Cerrado é o segundo maior ecos- sistema brasileiro, atrás apenas da Flores-ta Amazônica. Abriga umas das maiores

Texto: Vítor TeodoroEdição: Bárbara ZaidenDiagramação: Bárbara Zaiden

8 Samambaia >> Goiânia | Junho, 2011

Fotos: Kim-Ir-Sen

mudanças climáticas. Além de o desmatamento liberar dió-

xido de carbono (CO2), que a vegetação nativa aprisiona, a interferência no solo diminui a renovação do ar, aumentando a retenção de calor. Esse processo acon-tece porque a flora original do Cerrado

é o principal sumidouro de carbono do Brasil, isto é, ela retém gases de efeito estufa. Plantações e pastagens aprisio-nam menos carbono e mais calor que a mata nativa.

Pesa ainda o fato de a maior parte da madeira proveniente do desmatamen-to da região queimar em carvoarias. Pesquisas apontam que 80% do carvão vegetal consumido no Brasil vêm das ár-vores do Cerrado.

Agricultura e pecuária

Um dos maiores desafios para a pre-servação ambiental na região central brasi-leira é a sua vocação para a agropecuária.

Segundo o professor Valter Machado da Fonseca, mestre em Educação Ambien-tal, a qualidade do solo, o clima e o relevo da região são fortes incentivos naturais à expansão da fronteira agrícola. Ele desta-ca a quantidade total de chuvas, a tempe-ratura amena e a energia solar abundante como atrativos para a monocultura.

A mecanização da agricultura facilita-da pela topografia e solos profundos e de boa drenagem também estimula o desen-volvimento do agronegócio.

Cerrado é o segundo bioma brasileiro mais afetado pela ocupação humana

biodiversidades do planeta, com mais de 1200 espécies animais. Muitas delas são endêmicas, ou seja, só existem na região.

O bioma também é o segun-do mais afetado pela ocupação humana, superado apenas pela Mata Atlântica, de acordo com a organização não-governamental WWF Brasil.

Três das mais importantes ba-cias hidrográficas da América do Sul (Tocantins-Araguaia, São Fran-cisco e Prata), incluindo as nascen-tes de alguns de seus afluentes, banham as terras do Cerrado.

Efeito estufa

A geógrafa e educadora am-biental Elisvalda Beatriz da Silva, especialista em Cerrado, afirma que a elevação da temperatura mundial pode promover a ampliação do bioma. Num primeiro momento, a sava-na avançaria sobre a Floresta Amazôni-ca. Entretanto, logo em seguida, o bioma sofreria uma intensa desertificação. Con-forme a pesquisadora, somente a preser-vação do ecossistema pode amenizar as

Como preservar o CerradoProblema Sugestão

Poucas áreas de conservação definidas por lei Triplicar a área de preservação legal para 4,5% e fiscalizar as reservas

Falta de conhecimento sobre o ecossistema Projetos de educação ambiental e pesquisa ecológica

Falta de comunicação entre gestores ambientais e o meio científico

Integração entre as unidades de conservação federais, estaduais e municipais; criar comunicação entre meio acadêmico e Estado

Burocracia e corrupção nos órgãos ambientais Melhorar a remuneração dos servidores, equipar as instituições e treinar os funcionários

Isolamento das áreas de proteção Criar corredores ecológicos ligando as reservas ambientais

Page 9: Jornal Samambaia Agosto 2011

Cerrado brasileiro é aliado no combate às mudanças climáticas

99

Fonseca aponta a mentalidade governa-mental brasileira como forte empecilho para a preservação do Cerrado. Segundo ele, a partir da expansão para o Oeste, marca do getulismo, cresceu no imaginário social e político a ideia de que a salvação da Ama-zônia é desmatar o Cerrado. “Transformar o Centro-Oeste numa grande fazenda mante-ria a floresta tropical a salvo. Isso bastaria”.

Texto: Paula NogueiraEdição: Sarah Marques

Valorizar os frutos do Cerrado, por meio da culinária, é uma forma de preservar o ecossistema que é símbolo de Goiás. Há algum tempo, iniciati-vas coletivas e particulares procuram agregar valor ao pequi, ao jatobá, à guariroba, dentre outros ex-emplares típicos da região.

O festival Brasil Sabor, criado pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), em parceria com o Sebrae e o Ministério do Turismo, ocorre simultaneamente em diversos estados brasileiros. O objetivo é divulgar culinárias re- gionais. A sexta edição do festival ocorreu em maio e trouxe para Goiás diversos participantes que buscam valorizar os temperos, cores e aromas particulares de suas terras.

Para Paulo Soulmucci Júnior, presidente da Abrasel nacional, os benefícios de iniciativas como essa extrapolam os limites geográficos. “A culinária brasileira deixou de ser um fator secundário para se tornar mais um atrativo turístico, um diferen-cial para o turismo no Brasil.”

Os pratos que mais chamaram atenção no festi-

val combinam elementos típicos deste bioma com a alta gastronomia. Um exemplo é o prato Combi-nado Brasil Japão, oferecido pelo Restaurante Ha-kone, uma mistura entre sashimi de salmão com pequi e milho verde.

De acordo com a dona do estabelecimento, Maria Tereza Veras, seu cardápio oferece pratos que valorizam a fusão da comida japonesa com elementos tipicamente goianos. “O Cerrado tem muito a oferecer à alta culinária. Mas é papel dela ter coragem de inovar, de ousar mais”, afirma.

Sustentabilidade

Mais importante do que produzir, é preservar. A sustentabilidade está presente em uma inicia-tiva goiana que deu certo: a sorveteria Frutos do Brasil, conhecida anteriormente como Frutos do Cerrado. A empresa foi criada para aproveitar as frutas nativas na fabricação de picolés e sorvetes, fazendo jus à tendência de mercado que visa ex-plorar a natureza de forma sustentável.

De acordo com seu fundador, Clóvis de Al-meida, as sementes retiradas das frutas são doa-das para a Embrapa e o Ibama, além de ONGs e

viveiros particula-res que realizam a seleção e o replantio. Uma alternativa de contribuir para que essas espécies de fru-tos não corram o risco de extinção.

Além de preservar a natureza, essas ini-ciativas beneficiam o consumidor. A biblio-tecária Michele Pan-dini admite que adora o picolé de pequi, o que, às vezes, causa certo estranhamento entre seus amigos de outras cidades. “Isso é opinião de quem nunca experimentou”. Para aqueles que não gostam de pequi, existem outros sabores do Cerrado em sor-vetes e picolés: cajá, umbu, cupuaçu e até gabiroba.

Não importa o sabor. O bom mesmo é aproveitar o clima característico da região para se refrescar com os frutos típicos ou se deliciar com a alta gastronomia oferecida pela natureza. Mas acima de tudo devemos garantir a preservação do nosso Cerrado.

Valo

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Divulgação

9Samambaia >> Goiânia | Junho, 2011

O problema se agravou nos anos 1980 e 1990, com a intensificação da monocultura de soja e, nos últimos anos, com o cresci-mento da indústria sucroalcooleira.

Largamente estabelecida no Centro--Oeste do país, a pecuária também é um problema sério. A digestão do gado bovino contribui com a emissão de metano, um dos piores gases do efeito estufa.

Além da decomposição dos dejetos de várias espécies animais, pesa o fato de a maior parte da produção de gado na região ser de regime extensivo, o que utiliza grandes áreas agricultáveis.

O que resta

Além de preservar a fauna, a flora, o

Topografia do Cerrado favorece mecanização da agricultura e do agronegócio Pecuária em regime extensivo utiliza grandes áreas e pressiona fronteira agrícola

relevo e as águas da região, salvar o Cerra-do ajuda a humanidade a enfrentar um de seus maiores desafios: as mudanças climá-ticas.

Do total de 1.783.200 km² originais do Cerrado central, restam apenas 356.630 km², segundo a Conservation International. Esse número equivale a 20% da área total. Apenas 1,5% está em áreas de preservação.

Clóvis de Almeida: frutos do Cerrado viram sorvete

Page 10: Jornal Samambaia Agosto 2011

m e i o a m b i e n t e

Fauna brasileira ameaçadaFalta de rigor na aplicação das leis e impunidade impede que tráFico de animais diminua

O Brasil é um dos países com maior riqueza de fauna do mundo. Com um território composto de cinco

ecossistemas diferentes, estima-se que o país abrigue aproximadamente 10% de todas as espécies do planeta. Apesar dessa variedade de animais da fauna brasileira gerar a idéia de abundância, o que nor-malmente se encontra são grupos relati-vamente pequenos de animais, concen-trados em algumas áreas e muitas vezes fragilizados diante dos impactos do des-matamento e da caça. Apesar de muitas organizações se empenharem em preser-var esse patrimônio, mais de 208 espécies foram incluidas na lista de ameaçadas de extinção no último ano.

De acordo com relatório publicado pela Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais (Renctas) antecedido pela a des-truição do habitat, a caça, para subsistência ou comércio, é a segunda maior ameaça à fauna silvestre brasileira. O comércio ilegal de animais silvestres, que inclui a fauna e seus produtos, movimenta de 10 a 20 bilhões de dólares por ano. É a tercei-ra maior atividade ilícita do mundo, atrás apenas do tráfico de armas e drogas.

O quadro econômico pouco favorável encontrado no Brasil tem contribuído de maneira significativa para o crescimento da captura de animais da natureza. Dener Giovani, fundador da organização não go-vernamental Renctas, afirma que “a falta de recursos força populações que vivem próximas às matas a vender animais para conseguir dinheiro. Além disso, a fraca fiscalização é garantia de impunidade”. Nesses locais, a idéia predominante é a de que os recursos disponíveis na natureza são infinitos, e suportam qualquer grau de exploração e degradação.

Até meados da década de 1950, não ha-

Texto: Illa RachelEdição: Bruna DiasDiagramação: Gilana Nunes

via no Brasil preocupação com assuntos li-gados à natureza. Mas o agravamento dos problemas ambientais, e a maior conscien-tização das pessoas, fez com que atitudes começassem a ser tomadas. Atualmente, a legislação brasileira contra crimes am-bientais se baseia principalmente nas leis 5.197 /67 e 9.605/98.

A caça e o comércio predatório só pas-saram a ser considerados crimes em 1967, quando foi instaurada a primeira legisla-ção própria de proteção à fauna silvestre, a Lei Federal nº 5.197. Essa lei declara que todos os animais da fauna silvestre nacio-nal, e seus produtos, são propriedade do Estado, que não podem ser caçados, captu-rados, comercializados ou mantidos sob a posse de particulares.

A partir dessa lei, a fauna silvestre e seus habitats naturais passaram a ser proprieda-de do Estado, sendo então proibida a sua utilização, perseguição, destruição, caça ou captura. A agressão contra a fauna passou a ser considerada contravenção penal, ou seja crime passível de menor punição. Foi proibido o exercício da caça profissional, e também a comercialização de espécimes da fauna silvestre e seus produtos, exceto os provenientes de criadouros legalizados. A caça para controle de animais silvestres considerados “prejudiciais” ao ecossistema ainda é permitida, desde que obedeça a re-comendações estabelecidas por lei. A caça amadora é prevista, se esta estiver vincula-da à formação de clubes e sociedades ama-

doristas onde são construí-dos criadouros para fins eco-nômicos e in-dustriais.

Já a lei nº. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, ou Lei de Crimes Ambientais , estabeleceu a possibilidade de fiança para crimes contra a fauna, além

de descriminalizar a caça de subsistência, isto é, para consumo próprio. Essa norma permitiu que as penas privativas de liber-dade pudessem ser substituídas por penas restritivas de direito, tais como prestação de serviço à comunidade, suspensão temporá-ria de direito, suspensão parcial ou total de atividades, dentre outros.

Grandes traficantes

De acordo do o advogado Carlos Eduar-do Balzi Gonçalves, apesar de ser um bom instrumento à disposição dos juízes, muitas vezes sua aplicação não é adequada, como no caso de grandes traficantes e/ou comér-cio com espécies ameaçadas e de grande va-lor. A nova Lei de Crimes Ambientais ainda possui lacunas em relação ao combate do tráfico, por não prever, por exemplo, o co-mércio ilegal por meio da internet.

Normalmente as leis contra o meio am-biente sujeitam o autor do crime à detenção de seis meses a um ano e multas que podem variar de R$ 50 a R$ 5 mil reais. A opinião de Luziano Severino de Carvalho, delegado titular da Delegacia Estadual de Proteção ao Meio Ambiente de Goiás (DEMA), é que a lei de crimes ambientais seria suficiente para punir os envolvidos com o tráfico de animais se ela fosse de fato cumprida.

“A lei de crimes ambientais do Brasil é uma das melhores do mundo. O que falta é o ser humano respeitar os animais. Leis não são suficientes para resolver problemas sociais.”,

Com seu habitat natural destruído, os animais se tornam presas fáceis

afirma o delegado.Existem muitas dificuldades em todas

as regiões do país para combater o tráfico de animais. Fiscalizações e controles mais rí-gidos de aeroportos e fronteiras, bem como severidade na aplicação das leis seriam pas-sos fundamentais para começar a pensar numa virada de jogo.

O Ministério do Meio Ambiente tem um projeto de lei que procura equiparar o tráfi-co de animais silvestres ao tráfico de armas e drogas. Nesse projeto, os envolvidos com o tráfico devem ter condenações equipara-das com tráfico de drogas e armas, receben-do penas de quatro a 15 anos de prisão.

A solução para a punição de crimes am-bientais parece estar longe de um final feliz, pois se de um lado existem ONG’s e órgãos engajados nessa luta, do outro, há uma maioria da população que ainda não tem consciência da gravidade dessas infrações. É preciso, antes de tudo, promover educação ambiental entre as pessoas, e mostrar que cri-mes contra a fauna, em qualquer região do país, são prejudiciais para todo o planeta.

Font

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ww

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sfa.

org

everystockphoto.com

10 Samambaia >> Goiânia | Junho, 2011

- De cada dez animais capturados na natureza, nove morrem de sede, fome, frio ou asfixia

- Os animais traficados são escondidos em fundos falsos de malas ou caixotes, sem ventilação, e ficam vários dias am-arrados e sem alimentação

- Os traficantes mutilam os animais: ce-gam os pássaros e cortam as suas asas, ar-rancam os dentes e serram as garras dos animais para torná-los menos agressivos

- Macacos têm as presas arrancadas e são dopados com altas doses de anal-gésicos para parecerem mansos

- O papagaio é a ave mais vendida no Brasil e no exterior. Araras, periquitos, micos, tartarugas e tucanos também são listados entre os mais comercializados. A Suíça é o maior comprador de jara-raca, serpente brasileira que não existe naquele país

Page 11: Jornal Samambaia Agosto 2011

c o m p o r t a m e n t o

Humanização dos petsDonos impõem hábitos humanos para animais ao reDuzir Diferenças entre as espécies. saúDe Dos cachorros poDe ficar prejuDicaDa

Você pagaria R$ 3 mil para ho-menagear seu bichinho de es-timação e dar a ele um velório

digno? E o alimentaria somente com proteína vegetal, retirando a carne de sua dieta? Ao que parece, práticas desse tipo tem se tornado frequentes e geram discussão: até que ponto é sau-dável para a sociedade e para os ani-mais esse cuidado exagerado dado aos bichos domésticos?

Há pelo menos 12 mil anos, homens e cachorros vivem juntos. Cada vez mais a linha que separa uma espécie da outra se torna mais estreita, ignorando a racionalidade que diferencia os seres. Para o médico do Hospital Veteriná-rio da Universidade Federal de Goiás (UFG) Apóstolo Ferreira Martins, essa relação de carinho entre homens e ani-mais pode ser benéfica desde que seja dosada. “Tudo o que é excessivo, é pre-judicial”, argumenta.

Impor ao bichinho originalmente carnívoro uma dieta vegetariana é um exemplo claro dessa prática de “hu-manização” dos pets. Apesar de ter se

Texto: Raisa RamosEdição: Vinícius BragaDiagramação: Anamaria Rodrigues

Beth Alamino vai frequentemente ao veterinário levar a cadela Clarinha

Fotos: Raisa Ramos

>>Impor ao bichinho

originalmente carnívoro uma dieta vegetariana é um exemplo claro dessa prática de humanização

dos pets

popularizado só agora, este hábito é praticado desde o final dos anos 1960, nos Estados Unidos, e causa polêmica, inclusive entre os adeptos do vegeta-rianismo. “Gatos e cachorros possuem metabolismos extremamente diferen-tes do humano e precisam de proteína animal”, afirma o médico veterinário Luciano Marra.

Para Apóstolo Ferreira, este trata-mento pode não ser benéfico, justa-mente por interferir nas características naturais do animal. Em decorrência disso, o corpo de um cachorro vegeta-riano, por exemplo, pode consumir os próprios músculos para gerar energia. Nos gatos, a privação de fontes de pro-teína animal é ainda pior, podendo de-sencadear cegueira e problemas cardía-cos. Tais exemplos evidenciam os riscos da humanização de bichos domésticos. Apesar da intenção de beneficiar o ani-mal, o dono, na verdade, o prejudica. “Se o homem passa a entender o animal como sendo uma pessoa, ele confunde algumas questões como, por exemplo, a longevidade do bicho, que tem a vida muito mais curta do que a do ser huma-no”, problematiza Apóstolo.

Amor valioso

De acordo com a Associação dos Fabri-cantes de Produtos para Animais de Esti-mação, Anfalpet, em 2010, o mercado de animais de estimação movimentou R$ 11 bi-lhões. Não precisamos ir longe para compro-var os números. A goiana Beth Alamino confessa que gasta, em média, R$ 500 por mês com seus cinco cães. Contudo, os maiores gastos são destinados

à Clarinha, uma Cocker inglesa.Clarinha tem 4 anos e muitos pro-

blemas de saúde. Atenciosa, a dona vai frequentemente ao veterinário, além de não descuidar da medicação, que não é barata. Além disso, cada um dos seus cachorros tem cama, lençóis, cober-tores e roupas de frio próprios. Beth assume que trata os bichos como se fossem parte da família e faz questão

Veterinário Apóstolo Martins: tudo o que é excessivo, prejudica

de ensinar para seu filho Gustavo, de apenas 2 anos, que “os animaizinhos são nossos amiguinhos”. Apesar do aparente excesso, ela garante que im-põe limites. “Os cachorros têm o espa-ço deles”, afirma.

Refúgio emocional

De acordo com a psicóloga Mei-re Farias, este apego pode estar ligado a uma carência afetiva do dono ou até mesmo depressão. “O cachorro é conhe-cido como o ‘melhor amigo do homem’ porque, independente das nossas ações, ele fica feliz e abana o rabo. Essa atitude é muito bem-vinda a qualquer pessoa, principalmente para as que sofrem de alguma carência afetiva”. Meire reite-ra que esta relação é conveniente para aqueles que já passaram por traumas emocionais, já que os animais nunca vão rejeitar ou magoar os sentimentos de seu dono. Essa parece ser a maior lição que um animal doméstico nos deixa.

11Samambaia >> Goiânia | Junho, 2011

Page 12: Jornal Samambaia Agosto 2011

c o m p o r t a m e n t o

Bisturi é a nova solução dos jovensAdolescentes procurAm cirurgiAs plásticAs pArA lidAr com insAtisfAções no corpo. cuidAdos devem ser tomAdos pArA evitAr Arrependimentos. desejo pode esconder problemA psicológico

Texto: Bruna DiasEdição: Tchela BorgesDiagramação: Layane Palhares e Laura de Paula

Petrônio Fleury: opinião dos pais é sempre necessária

Arquivo pessoal

12 Samambaia >> Goiânia | Junho, 2011

Na puberdade, os adolescentes passam por intensas trans- formações, tanto físicas quan-

to psicológicas. Tais mudanças acarre-tam incertezas e insatisfações que, às vezes, fazem o jovem tomar atitudes talvez equivocadas. Uma delas é a ci-rurgia plástica, que está sendo muito procurada por adolescentes.

O último levantamento nacional realizado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) indica que a faixa etária de 12 a 19 anos corresponde a cerca de 6% do total de procedimentos cirúrgicos realizados no Brasil. Outra pesquisa aponta que, nos últimos cinco anos, houve aumento de pelo menos 30% na procura por cirurgias plásticas entre jovens de 12 a 21 anos. Somente em 2009, a SBCP estimou 130 mil crian-

ças e adolescentes que se submeteram a esse tipo de operação.

O cirurgião plástico Petrônio Fleu- ry, membro da SBCP, explica que esse aumento, em parte, se deve ao acesso mais universal a informações médicas disponíveis na internet. Esse fator, ali-ado à influência de amigos e parentes da mesma idade que obtiveram bons resultados com cirurgias plásticas, in-centiva mais jovens a encararem o bis-turi dos médicos.

Imaturos

Estes pacientes imaturos, no en- tanto, precisam de um tratamento que dispensa mais atenção às suas motivações, problemas, incertezas e às consequências que a cirurgia pode acarretar. “É importante o mé-dico entender que o adolescente se mostra um paciente diferenciado. Por ser uma fase de constantes transfor-mações físicas e psicológicas é muito importante escutar o jovem e saber realmente o que ele deseja”, recomen-da Petrônio Fleury.

Enquanto nos adultos os procedi-mentos que antecedem a cirurgia são relativamente curtos, nos adoles-centes esse processo pode se estender até a constatação de que a operação não provocará malefícios para o jo-vem. Os cuidados pós-operatórios devem ser redobrados a fim de ga-rantir que o paciente siga as orien-tações médicas e permaneça em re-pouso após a cirurgia.

Segundo Petrônio Fleury, os jovens costumam ter expectativas maiores quanto ao resultado. Por isso é impor-tante que o profissional seja sincero com seu paciente e lhe mostre os lim-ites do procedimento, explicando que, na maioria das vezes, a intervenção cirúrgica é irreversível.

A presença dos pais durante as consultas é essencial, principalmente quando o jovem se mostra tímido e não consegue expor sua opinião ou relatar vontades. Porém, cabe ao mé-dico ouvir o paciente e saber se ele realmente quer realizar a intervenção cirúrgica ou se está sendo influen-ciado pelos pais, tanto negativamente quan- to positivamente.

De acordo com Fleury, a opinião dos pais é essencial na consulta mé-dica, mas a decisão final na escolha da cirurgia deve ser do paciente.

A psicóloga e psicopedagoga Ma-ria Fernanda Assis alerta que é bem mais complexo determinar os efeitos de uma cirurgia em uma mente que ainda está em transformação. Além do aspecto físico, às vezes o psicológi-co do paciente e da família também necessita de avaliação. Em alguns casos, os jovens procuram solução

no bisturi para amenizar a baixa auto-estima. A psicóloga explica que, nesse tipo de situação, o médico deve promover o acompanhamento desses traumas, para só então julgar se o procedimento realmente é necessário para o jovem.

Perfeição

Além disso, Maria Fer-nanda considera impor-tante avaliar se a decisão de realizar uma cirurgia ainda tão jovem pode ser resultado de influências do meio em que vive o adolescente, de possíveis traumas ou mesmo de bullying sofrido na escola.

Algumas vezes, a ima-turidade e a busca inces-sante pela perfeição física levam os jovens a realiza-rem atitudes impensadas e a julgar os semelhantes

não pelo que são, mas, sim, pelo que aparentam.

Ela frisa ainda que a obsessão do adolescente em parecer o que não é, ou ser igual ao artista famoso, tam-bém faz o jovem procurar uma ci-rurgia. A psicóloga ressalta que, se o jovem não estiver preparado para a transformação, os resultados podem ser devastadores.

Nestes casos, Fleury explica que a cirurgia estética é a ponta do iceberg de um problema muito mais sério, pois atrás de um paciente que procura uma intervenção desnecessária, há uma pessoa fragilizada emocionalmente ou mesmo deprimida que vê na cirurgia a solução para todos seus problemas. Caberá, então, ao profissional identifi-car este paciente, negar o tratamento cirúrgico e auxiliá-lo, encaminhando-o a profissionais que, primeiro, tratarão de sua saúde mental.

“Por ser uma fase de constantes

transformações físicas e psicológicas é muito

inportante escutar o paciente e saber

realmente o que ele deseja”

Petrônio Fleury,cirurgião plástico

Page 13: Jornal Samambaia Agosto 2011

13Samambaia >> Goiânia | Junho, 2011

Cirurgias mamárias são mais procuradasAtualmente, as meninas são campeãs

na busca por cirurgias estéticas. A maioria delas reage com naturalidade à consulta médica, sendo auxiliadas pelas mães e normalmente influencia-das por amigas que fizeram o mesmo procedimento. Já os meninos têm certo receio e não ficam à vontade na frente dos médicos.

Entre as cirurgias plásticas mais procuradas pelas adolescentes no consultório de Fleury estão a prótese mamária, a rinoplastia (plástica no nariz), a otoplastia (correção de orelha de abano), a lipoaspiração e, por úl-timo, a cirurgia de redução mamária.

Para os meninos, a cirurgia mais bus-cada tem sido a ginecomastia (redução da mamária masculina), seguida pela otoplastia e rinoplastia.

Mayra Peres, 16 anos, está se preparan-do para colocar uma prótese mamária. Ainda com temor do pós-operatório, ela resolveu adiar o procedimento até o término desse ano letivo. “Desse ano não passa, já me decidi e coloco 180 ml até dezembro”, afirma a jovem.

Apesar de aparentar firmeza quan-do fala do procedimento, Mayra é reticente quando questionada sobre os motivos de optar pela cirurgia. Ela diz que sempre teve vontade e conta que al-

gumas amigas fizeram a cirurgia e teria ficado perfeito.

Mayra já passou por duas consultas avaliativas e garante que está contando os dias para ver o resultado final.

Mesmo com todos os benefícios que a cirurgia plástica pode oferecer é bom lembrar que se trata de um pro-cedimento cirúrgico e pode apresentar riscos de morte. O interessado não deve leiloar seu corpo à procura de baixos preços. É importante procurar sempre um profissional certificado pela SBCP, pois casos mal sucedidos como os do ex-médico Marcelo Caron deixam se-quelas para a vida toda.

Influenciada pelas amigas, a jovem Mayra quer colocar silicone nos seios

Bru

na D

ias

Quais exames fazer antes da cirurgia?Não importa se a cirurgia é

simples ou complexa. A realiza-ção de exames é uma etapa fun-damental para assegurar o suces-so da operação.

Um dos principais é o hemo-grama, exame de sangue comple-to que pode detectar infecções ou doenças ainda não identificadas. O HIV é solicitado para diagnos-ticar AIDS, bem como garantir a segurança da do paciente e da equipe médica.

Para identificar o grau de coagulação do sangue ou a pre-sença de algum distúrbio é bom realizar um coagulograma. Al-gumas pessoas possuem anoma-lias que aceleram a coagulação sanguínea, enquanto outras pes-soas têm problemas para que o sangue coagule na velocidade certa. Isso não chega a impedir a cirurgia, mas pode agravar a re-cuperação do paciente.

Através do sangue também é possível detectar o diabetes e im-pedir a realização da operação, pois ele pode provocar coágulos, infecções, má cicatrização e aci-dentes vasculares; por isso an-tes de fazer a cirurgia, o médico Fonte: www.fiquelinda.com.br, com adaptações

pode solicitar o exame glicêmico.O eletrocardiograma é rápido e

indolor e detecta problemas no co-ração que podem causar transtor-nos na operação. Se algo for visu-alizado no exame, é preciso, antes da cirurgia, se consultar com um cardiologista.

Os testes de ureia e creatinina servem para avaliar se as funções re-nais estão funcionando bem. No caso da lipoaspiração, que infiltra substân-cias para inchar a pele, é fundamental que os rins estejam trabalhando para eliminar, no final da cirurgia, tudo o que foi injetado. Caso isso não ocor-ra, há risco de o paciente sofrer um choque no pós-operatório.

O raio X do tórax é pedido para os fumantes, já que a função pulmonar deve ser avaliada para evitar problemas.

Alguns exames são específicos e dependem do tipo de procedimen-to que o paciente vai realizar. Uma cirurgia plástica na área dos olhos por exemplo, deve ser avaliada por um oftamologista. Mulheres que de-sejam fazer operação nas mamas de-vem comunicar ao seu ginecologista ou mastologista.

Page 14: Jornal Samambaia Agosto 2011

c u l t u r a

Vida das celebridades nos quadrinhos

Texto: Vítor Santana Edição: Vinicíus BragaDiagramação: Laura de Paula

14 Samambaia >> Goiânia | Junho, 2011

Produtoras de histórias em quadrinhos investem em biografias de famosos Para amPliar o estilo e alcançar novos Públicos

Se antes as histórias em quadrinhos eram exclusividade para crianças ou nerds viciados em super heróis,

hoje, a realidade é outra. Prova disso é o público que frequenta a Gibiteca Jorge Braga, localizada no prédio da Bibliote-ca Marieta Teles, na Praça Cívica. “Tem pessoas de todas as idades que vêm ler gibis por aqui, do mendigo ao chique”, afirma Helenir Machado, bibliotecária responsável pelo projeto.

Crianças dividem o espaço com fun-cionários engravatados de escritórios e gabinetes que trabalham perto do local, além de pais que levam seus filhos para conhecerem a gibiteca. Os adultos voltam à infância, reencontram quadrinhos que liam quando mais novos e mergulham novamente na literatura.

Apostando nessa democracia de público e estilos de quadrinhos, produ-toras como a Bluewater investem cada vez mais em biografias de celebridades no formato de desenhos. A presença de pessoas do “mundo real” nos gibis não é um fenômeno recente. “A ficção se espelha na realidade, sendo um dos fatores que a faz tão atrativa a públicos de todas as idades. Várias figuras céle-bres do mundo real já foram retratadas nos quadrinhos”, revela Rubem Borges, professor da disciplina Histórias em quadrinhos de super heróis na socie-dade contemporânea, ministrada na Faculdade de Comunicação e Biblioteco-nomia (Facomb), da Universidade Fed-eral de Goiás. Ele cita como exemplos ex-presidentes norte-americanos (John Kennedy, Ronald Reagan, Bill Clinton,

George W. Bush) e, mais recentemente, Barack Obama, que tiveram passagens em títulos importantes como Homem-Aranha, Super-Homem, Capitão Amé- rica e Vingadores.

Exclusividade

Alguns desenhistas vão mais longe e fazem revistas exclusivas para as ce-lebridades. Entre os exemplos de fa-mosos que ganharam suas versões em desenho estão Johnny Cash, Black Eyed Peas, Lady Gaga, Justin Bieber, Adam West, Oprah Winfrey e Angelina Jolie. O Brasil também não fica de fora desse estilo. As bandas Matanza e Velhas Vir-gens já tiveram seus músicos transpor-tados para a literatura, vivendo as aven-turas cantadas em suas letras.

Seriam tais celebridades os novos modelos de super heróis? Talvez possa ser um exagero denominar ídolos dessa forma. Contudo, esta modalidade pode ser mais um dos fatores que contribuem para o sucesso de venda e crítica que o gênero biográfico vem fazendo nos últimos anos. A Bluewater, produtora

da biografia em quadrinhos de Lady Gaga, comemora o esgotamento de duas tiragens dos gibis somente pela internet. A grande vendagem levou a empresa a preparar a terceira edição, com mais detalhes sobre a vida e a car-reira da cantora.

As histórias em quadrinhos não se limitam apenas a histórias infantis ou

super heróis que tentam salvar o mun-do de vilões malignos. “Existem vári-os outros tipos de quadrinho. MAUS, por exemplo, conta uma história real que ocorre na época do nazismo, mas usando gatos e ratos como perso-nagens”, afirma a pedagoga Josiane Iwamoto. Ela reitera que essa diversi-dade de estilos é que faz os quadrinhos tão ecléticos, tanto de idade quanto de classes sociais.

Incentivo

Além da distração, as biografias de famosos estampadas em histórias em quadrinhos incentivam os leitores de gibis a consumirem outras formas de literatura. “Eu acredito que os quadrinhos são um meio muito in-teressante e propício para se retratar a vida de celebridades e figuras im-portantes. Acredito inclusive que, em formato de quadrinhos, uma signifi-cativa parcela de leitores não apenas se sinta mais atraída, mas também es-timulada a ler as biografias”, opina o professor Rubem Borges.

“A ficção se espelha na realidade, sendo um dos fatores que a faz tão atrativa a

públicos de todas as idades”

Rubem Borges,professor

Bieber, Lady Gaga e Cash ganham revistas exclusivas

Page 15: Jornal Samambaia Agosto 2011

c o m p o r t a m e n t o

Dança de salão conquista público jovemAumento do número de bAres e boAtes onde se pode dAnçAr A dois em GoiâniA incentivA mudAnçA de público nA práticA dA modAlidAde

A s danças de salão surgiram após o Renascimento e durante muito tempo foram consideradas práti-

cas de um público de meia idade. Hoje, basta visitar uma academia onde se ensi-nam ritmos de dançar a dois para perce-ber que o público interessado tem muda-do de faixa etária.

Ary Demosthenes é proprietário e professor de uma academia de dança de salão em Goiânia e conta que o nú-mero de praticantes dessa modalidade tem crescido especialmente entre pes-soas com idade entre 15 e 30 anos. Ele aponta que a maioria dos jovens procu-ra a dança de salão para se socializar e para minimizar os problemas relaciona-dos à timidez.

O professor atribui o crescimento da prática de dança de salão entre o público jovem à maior divulgação feita por filmes e programas de televisão. “A mídia tem divulgado mais a modalidade, mostran-do que dança de salão não é coisa para velhos e que envolve ritmos mais enérgi-cos, como a salsa, o zouk e o samba de ga-fieira, que são, hoje, os mais procurados pelo público jovem”.

Weder Barbosa, 23 anos, é professor e integrante de uma companhia de dan-ça de salão. “Comecei a dançar porque queria muito aprender e me profissio-nalizar”, afirma. Como professor, Weder

Texto: Gilmara RobertoEdição: Alisson CaetanoDiagramação: Larissa Vieira

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observa que a procura pela dança de sa-lão entre jovens e idosos é motivada por interesses diferentes. “Os adolescentes tem interesses estéticos e querem dançar bem numa festa. Já os idosos procuram as aulas de dança para estabelecer contatos sociais que foram perdendo ao longo da vida ou mesmo por recomendações de médicos e fisioterapeutas”.

Izabella Alfaix, 15 anos, é adepta da dan-ça de salão há um ano. Hoje, a jovem perce-be mudanças em sua vida social e em seu comportamento devido às aulas de dança: “Sou uma pessoa tímida e depois que co-mecei a dançar percebo que fiquei mais de-sinibida. Além disso, conheci muitas pesso-as e sempre saio para dançar”. Em relação a outras atividades físicas, Izabella considera que a dança tem suas vantagens. “É mais fácil, mais agradável e menos agressiva que

muitos esportes”, comenta.

História

As primeiras manifestações da dança de casais ou dança social, como era cha-mada na época, surgiram no século XVI após o Renascimento.

Naquela época, a dança de salão tinha valor social e era praticada exclusivamen-te nos salões da nobreza como meios de entretenimento e lazer. Durante esse pe-ríodo, a França se encarregava de impor-tar os tipos de danças que surgiam pelo mundo, exportando-os posteriormente com formas mais estilizadas e elaboradas.

As primeiras danças de casais foram o pavane e as “bases dances” ou dan-ças baixas, nas quais os parceiros mal se tocavam ao dançar. No final do século

XVIII, esses ritmos deram lugar à valsa, que virou febre nos salões europeus do século XIX.

A partir de 1910, a dança de salão so-freu uma série de transformações ao che-gar no continente americano, recebendo influências de ritmos afros e do jazz. No Brasil, a dança de salão chegou no século XIX, com a vinda da suíça Louise Poças Leitão para São Paulo.

Nos anos de 1930 e 1940, o tango era o ritmo de dança de salão mais dançado no Brasil, cedendo lugar ao bolero e ao samba nos anos 1950, juntamente com o chachachá e o baião de Luiz Gonzaga.

Com o advento das discotecas em 1970 e 1980, a prática de dança de salão no Brasil declinou e só voltou a ser po-pular com a lambada, no final da déca-da de 1980.

Ary Demosthenes e aluna garantem fôlego e animação durante as aulas: atrativo para quem busca espantar a timidez

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“A dança é mais fácil, mais agradável e menos

agressiva que muitos esportes”

Isabella Alfaix, adepta da dança

Page 16: Jornal Samambaia Agosto 2011

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A bonança econômica vivida pelo Brasil não é capaz de ocultar a injustiça social. Presenciamos uma desigualdade óbvia, mas nossos olhos são treinados a ignorá-la. São exercícios quase que diários para grande parte da população urbana. Fechamos o vidro do carro para pedintes ou simplesmente afirmamos “hoje não” ou “não tenho nada”. Passamos por moradores de rua camuflados pelo movimento das grandes avenidas e nem ao menos olhamos para aqueles trabalhadores que nada mais pedem do que alguns centavos. Nesse contexto de observação, podemos apontar a grande diferença entre ver e enxergar. Ver é apenas reconhecer uma imagem; enxergar é ter sensibilidade para decifrá-la. Alguma mudança poderá acontecer quando nosso exercício diário passar a ser o de enxergar.

O pior cego é aquele que não quer enxergar

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Texto e edição: Alissom CaetanoFotos:Thamara Fagury

Diagramação: Isadora Pícolo