jornal o engenheiro - alexsandro teixeira ribeiro

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Março / Abril de 2009 Jornal do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná Ano 18. Número 99. Março/Abril de 2009 Impresso Especial 3600139608 - DR/PR SENGE CORREIOS Pedágio: um caminho sem volta? Lucrativa para as concessio- nárias, abusiva para os usuários, a concessão de rodovias no Paraná rompeu sua primeira década into- cada e intocável — apesar de ter passado mais da metade desse pe- ríodo sob um governo que prome- teu que o pedágio “baixaria ou acabaria”. Que os contratos são desequili- brados em favor de quem opera o pedágio, não parece haver dúvidas. Afinal, o “pai” do pedágio, o ex- governador Jaime Lerner (então no PFL), cortou as tarifas pela metade poucos meses após o início da co- brança — e às vésperas da sua reeleição. Eleito em 2002 com o repúdio ao pedágio como uma de suas principais bandeiras, o governo de Roberto Requião (PMDB) até agora não conseguiu sequer impe- dir os reajustes anuais das tarifas. E, tantos anos depois, o DER ainda não sabe dizer quais seriam os pre- ços justos para o pedágio. A associação que reúne as concessionárias avisa que o lucro é parte do negócio — ainda que as tarifas tenham subido muito acima da inflação, como mostra estudo do Dieese. E o presidente do Sen- ge-PR, Valter Fanini, lembra: as estradas privatizadas são bem conservadas, mas ruins. Leia entrevistas com o secretário estadual dos Transportes, Rogério Tizzot, o diretor-regional da ABCR, João Chiminazzo Neto, e o coordenador do Fórum Popular contra o Pedágio, Acir Mezzadri Valter Fanini: “Pagamos caro para usar estradas em péssimas condições operacionais”. Dieese: tarifa subiu 67% acima da inflação. + + Páginas 3 a 12 Senge-PR, 74 anos: um Sindicato respeitado pelo pluralismo, independência e força na defesa dos engenheiros Leia artigo do ex-presidente Daniel Lopes de Moraes, colaborador da direção do Senge-PR. Página 13 PESQUISA Salário médio do engenheiro no Paraná é superior a R$ 5 mil Páginas 18 e 19 Piso profissional: Sindicato vai à Justiça para garantir pagamento na Copel E Crea-PR pode multar a empresa por desrespeito a Lei Federal. Páginas 16, 17 e 20 Ilustração: Alexsandro Teixeira Ribeiro

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Page 1: Jornal O Engenheiro - Alexsandro Teixeira Ribeiro

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Março / Abril de 2009

Jornal do Sindicato dos Engenheiros no Estado do ParanáAno 18. Número 99. Março/Abril de 2009

ImpressoEspecial

3600139608 - DR/PRSENGE

CORREIOS

Pedágio: um caminho sem volta?Lucrativa para as concessio-

nárias, abusiva para os usuários, aconcessão de rodovias no Paranárompeu sua primeira década into-cada e intocável — apesar de terpassado mais da metade desse pe-ríodo sob um governo que prome-teu que o pedágio “baixaria ouacabaria”.

Que os contratos são desequili-brados em favor de quem opera opedágio, não parece haver dúvidas.Afinal, o “pai” do pedágio, o ex-governador Jaime Lerner (então noPFL), cortou as tarifas pela metadepoucos meses após o início da co-brança — e às vésperas da suareeleição.

Eleito em 2002 com o repúdioao pedágio como uma de suasprincipais bandeiras, o governo deRoberto Requião (PMDB) atéagora não conseguiu sequer impe-dir os reajustes anuais das tarifas.E, tantos anos depois, o DER aindanão sabe dizer quais seriam os pre-ços justos para o pedágio.

A associação que reúne asconcessionárias avisa que o lucroé parte do negócio — ainda que astarifas tenham subido muito acimada inflação, como mostra estudodo Dieese. E o presidente do Sen-ge-PR, Valter Fanini, lembra: asestradas privatizadas são bemconservadas, mas ruins.

Leia entrevistas com o secretário estadual dos Transportes, Rogério Tizzot,o diretor-regional da ABCR, João Chiminazzo Neto, e o coordenadordo Fórum Popular contra o Pedágio, Acir Mezzadri

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Valter Fanini: “Pagamos caro para usar estradas em péssimas condições operacionais”. Dieese: tarifa subiu 67% acima da inflação.+n+ Páginas 3 a 12

Senge-PR, 74 anos: um Sindicatorespeitado pelo pluralismo, independênciae força na defesa dos engenheiros

Leia artigo do ex-presidente Daniel Lopes de Moraes,colaborador da direção do Senge-PR. Página 13

PESQUISAl Salário médio do

engenheiro no Paranáé superior a R$ 5 mil

Páginas 18 e 19

Piso profissional: Sindicatovai à Justiça para garantirpagamento na Copel

E Crea-PR pode multar aempresa por desrespeito a LeiFederal. Páginas 16, 17 e 20

Ilustração: Alexsandro Teixeira Ribeiro

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O Engenheiro n.º 99

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“Não pode haver dinheiro públicopara subsidiar movimentos que agemcontra o Estado de direito. Dinheiropúblico para subsidiar ilicitude éilicitude”, disse há algumas semanaso presidente do Supremo TribunalFederal, Gilmar Mendes. A declaraçãofoi uma reação a convênios assinadosentre entidades ligadas a assentamen-tos de agricultores sem-terra e o gover-no federal. Por trás, a mais nova tentativa decriminalizar movimentos sociais, notadamenteo Movimento Social dos Trabalhadores Sem-Terra (MST).

Nesse momento, é mandatório dizer que oSenge-PR apoia os movimentos sociais e suasreivindicações, plenamente justas neste Paísrecordista mundial em desigualdade econômicae social. Claro que excessos, como o assas-sinato de quatro jagunços por sem-terras, emPernambuco, são caso de polícia, simples-mente. Mas, devagar no andor. Ao lado dessesquatro corpos, repousam os de 1,5 mil campo-neses mortos ao longo das últimas décadasem conflitos agrários pelo Brasil. Por que, então,a indignação seletiva?

Isso dito, nunca é demais lembrarmos algu-mas passagens da trajetória de Gilmar Mendes.Dele, o jurista Dalmo Dallari lembra que “es-pecializou-se em ‘inventar’ soluções jurídicasno interesse do governo” e que “foi assessormuito próximo do ex-presidente FernandoCollor, que nunca se notabilizou pelo respeitoao direito”.

Ainda Dallari, em artigo publicado em 2002na Folha de S. Paulo — “já no governo Fer-nando Henrique Cardoso, Gilmar Mendes apa-rece assessorando o ministro da Justiça, NelsonJobim, na tentativa de anular a demarcação deáreas indígenas. Alegando inconstitucionalidade,duas vezes negada pelo STF, ‘inventaram’uma tese jurídica que serviu de base para umdecreto do presidente revogando outro em quese baseavam as demarcações”.

Dalmo Dallari é professor catedrático daUnesco na cadeira de Educação para a Paz,Direitos Humanos e Democracia e Tolerância,criada na Universidade de São Paulo (USP).Já a biografia de Gilmar Mendes é bem menosimpressionante. Ele é, por exemplo, sócio doInstituto Brasiliense de Direito Público. Comsede em Brasília, o Instituto oferece cursos degraduação e pós-graduação em direito, e járecebeu R$ 2,4 milhões em repasses de

dinheiro público. Mendes nãoparece ver qualquer impedi-mento no fato de uma empresaparticular do presidente da maisalta corte do País receber dinheiropúblico. Ao menos, nunca se sen-tiu instado a fazer qualquer co-mentário sobre o caso.

A sobriedade esperada deum membro da mais alta corte

do País também não aparece quando GilmarMendes atua politicamente. Segundo a revistaCartaCapital, ele trabalhou com denodo paralevar a Diamantino (MT), sua cidade natal,uma unidade do Grupo Bertin. À época, eraprefeito seu irmão caçula, Francisco FerreiraMendes Júnior.

Relata a CartaCapital — “um dos gi-gantes das áreas agroindustrial, de infra-estrutura e de energia, o Bertin acabou emDiamantino após um poderoso lobby políticocapitaneado por Mendes com apoio dogovernador Blairo Maggi. À época, o gover-nador dizia, a quem quisesse ouvir, queMendes valia mais que todos os deputados esenadores do Mato Grosso.

Gilmar Mendes não indignou-se com as“ilicitudes” da empresa que ajudou a levar asua terra natal. O Bertin foi condenado peloConselho Administrativo de Defesa Econô-mica, dois meses após a assinatura do proto-colo, por formação de cartel com outros quatrofrigoríficos. Já em 2005, Bertin, Mataboi, Fran-co Fabril e Minerva eram acusados pelaSecretaria de Direito Econômico do Ministérioda Justiça de combinar os preços do gadoque vendiam.

Quando era anunciado o acordo parainstalação da Bertin em Diamantino, o proces-so estava na fase final. Como resultado, aempresa foi obrigada a pagar uma multaequivalente a 5% do faturamento bruto, algoem torno de 10 milhões de reais.

Por fim, uma dúvida: os inconfidentesmineiros e os abolicionistas também atentaram,em seu tempo, contra o Estado de direito. Seestivesse por lá, Mendes vomitaria impropérioscontra Tiradentes, Joaquim Nabuco, José doPatrocínio ou Rui Barbosa?

Com tudo isso, só nos resta fazer eco àspalavras de Dom Xavier Gilles de Maupeoud’Ableiges, Presidente da Comissão Pastoralda Terra — que Deus nos livre de juízes comoGilmar Mendes.

SINDICATO DOS ENGENHEIROSNO ESTADO DO PARANÁ SENGE-PR

Diretor-PresidenteValter FANINIVice-PresidenteErnesto Galvão Ramos de CARVALHODiretor-SecretárioUlisses KANIAKDiretor-Secretário AdjuntoMarcos Valério de Freitas ANDERSENDiretor FinanceiroLÍdio Akio SASAKIDiretor Financeiro AdjuntoJorge Irineu DEMÉTRIO

DiretoresADRIANO Luiz Ceni Riesemberg, Antonio Cezar QuevedoGOULART, CLEVERSON de Freitas, CLODOMIRO Onésimo daSilva, Décio José ZUFFO, DIMAS Agostinho da Silva,GISLENE Lessa, Joel KRUGER, José da Encarnação LEITÃO,LEANDRO Alberto Novak, Luiz Antônio CALDANI,MARGIT Hauer, PAULO SIDNEI Carreiro Ferraz, ROLF GustavoMeyer, SANDRA Cristina Lins dos Santos, Sérgio RobertoCAVICHIOLO Franco, WILSON Uhren

Sede Rua Marechal Deodoro, 630, 22.º andar.Centro Comercial Itália (CCI). CEP 80010-912Tel./fax: (41) 3224 7536. [email protected]

Diretores RegionaisRoberto Menezes MEIRELLES (Campo Mourão)HÉLIO Sabino Deitos (Cascavel)ROGÉRIO Diniz Siqueira (Foz do Iguaçu)ORLEY Jayr Lopes (Francisco Beltrão)WILSON Sachetin Marçal (Londrina)SAMIR Jorge (Maringá)Carlos SCIPIONI (Pato Branco)

Campo Mourão Avenida Capitão Índio Bandeira, 1400,sala 607, Centro, 87300-000.Tel./fax: (44) 3523 7386. [email protected]

Cascavel Rua Paraná, 3056,sala 703, Centro, 85801-000.Tel./fax: (45) 3223 5325. [email protected]

Foz do Iguaçu Rua Almirante Barroso, 1293,loja 9, Centro, 85851-010Tel./fax: (45) 3574 1738. [email protected]

Francisco Beltrão Rua Palmas, 1800,loja D, Centro, 85601-650.Tel./fax: (46) 3523 1531. [email protected]

Londrina Rua Senador Souza Naves, 282,sala 1001, Centro, 86010-170.Tel./fax: (43) 3324 4736. [email protected]

Maringá Travessa Guilherme de Almeida, 36,cj.1304, Centro, 87013-150.Tel./fax: (44) 3227 5150. [email protected]

Pato Branco Rua Guarani, 1444,sala 1, Centro, 85501-050.Tel./fax: (46) 3225 2678. [email protected]

Publicação bimestral do Sindicatodos Engenheiros no Estado do Paraná

Editor-responsável Rafael Martins (Reg. Prof. 3.849 PR)

Editor-assistente Alexsandro Teixeira Ribeiro

Fale conosco [email protected]

Artigos assinados são de responsabilidade dos autores.O Senge-PR permite a reprodução do conteúdo destejornal, desde que a fonte seja citada.

Fotolitos/impressão Reproset

Tiragem 12 mil exemplares

Carta do presidente

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Filiado à Federação Interestadual de Sindicatos de EngenheirosA indignação seletiva

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Valter Fanini

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Quase ninguém gosta dele.Mas o pedágio resiste

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Resquício dos anos dourados do neoliberalismo à brasileira, o modelo deconcessão de rodovias implantado no Paraná em 1998 é quase umaunanimidade às avessas. A sociedade concorda que as tarifas são altasdemais face à qualidade das rodovias. Mas os contratos seguem intocados

Há mais de onze anos que pagamos pedágiopara rodar em boa parte das principais rodoviasque cortam o Paraná. E pagamos caro. Épraticamente consensual, na sociedade parana-ense, que o custo do pedágio é excessivo. Tantoque o slogan “ou o pedágio baixa, ou o pedágioacaba” foi decisivo para alçar Roberto Requião(PDMB) pela segunda vez ao Palácio Iguaçu,nas eleições de 2002. Mais de seis anos depois,o pedágio não acabou — nem baixou. O go-verno amarga sucessivas derrotas nas batalhasque travou com as concessionárias de rodovias,na Justiça, tentando impedir reajustes de tarifas– ainda que argumente, com razão, que aindanão há decisão final nos processos em quequestiona o equilíbrio financeiro dos contratosde concessão.

E, que os contratos são desequilibrados emfavor das concessionárias, não parece haverdúvidas. Tanto que o ex-governador JaimeLerner (então no PFL, atual DEM, hojeno PSB), que entregou 2,5 milquilômetros de estradas àiniciativa privada, resolveu,pouco tempo depois —e às vésperas do pleitoque o reconduziu aoPalácio Iguaçu —reduzir unilateral-mente as tarifas em50%. O resultado— decisões judi-ciais obtidas pelasconcessionáriassuspenderam todasas obras em andamentonas rodovias, à época, até que a situação seresolvesse, com um aumento de 116% nopedágio, longos meses depois.

Sob Requião, o governo do estado alega queas concessionárias já arrecadaram 8 bilhões de

seja – aí cai por terra o argumento de que nãohavia, mesmo à época, condições do Estadocuidar de seu próprio patrimônio.

No caso paranaense, há ainda um agravan-te, como explica o presidente do Senge-PR, oengenheiro civil Valter Fanini. Embora estejamem razoáveis condições de conservação, asrodovias administradas pelo setor privado há 11anos continuam em péssimas condições ope-racionais. Trata-se de rodovias antigas, ultra-passadas, projetadas nas décadas de 1950, 60 e70, boa parte delas com pista simples e duplamão de tráfego.

Para não deixar dúvidas, façamos uma com-paração entre duas rodovias administradas pelomesma concessionária. O pedágio no trechoCuritiba-Paranaguá da BR-277, administradopela Ecovia, custa R$ 12,50 para automóveis.

Embora duplicada, é umarodovia antiga, sinuosa naSerra do Mar. Em SãoPaulo, no sistema Anchie-

ta/Imigrantes, que liga a capi-tal à Baixada Santista, admi-

nistrado pela Ecovias, o pedá-gio custa R$ 17, mas paga-se

só num dos sentidos. Ou seja:custa menos rodar pela moderna

Imigrantes — parcialmente cons-truída pelas empresas que cobram o pe-

dágio — que na velha BR-277. Faz sentido?Nas páginas a seguir, leia artigos de Valter

Fanini, do economista Fabiano Camargo, da sub-seção do Dieese no Senge-PR, e entrevistas deJoão Chiminazzo Neto, do presidente do FórumPopular Contra o Pedágio (movimento de queo Sindicato participa), Acir Mezzadri, e do secre-tário estadual dos Transportes, Rogério Tizzot.Veja também quem são as empresas e gruposfinanceiros por trás das concessionárias queadministram as rodovias desde os anos 1990.

reais desde o início das concessões, em 1998, epor isso cobra na Justiça a devolução de 600milhões de reais que alega estarem acima dasmargens de lucro estipuladas no contrato. Maisuma ação que espera sentença judicial — oque pode, e deve, demorar bons anos, ainda.

Enquanto isso, as concessionárias seguema lucrar. Pragmático, o presidente regional daABCR, associação que representa as empresas,João Chiminazzo Neto, não vê problemas nisso— “da iniciativa privada, se espera competênciae lucro” —, ainda que conteste os números apre-sentados pelo governo do estado. Para a ABCR,o lucro foi de “apenas” 60 milhões de reais em2007.

E talvez esteja, aí mesmo, a raiz do problemadas concessões de rodovias feitas na décadade 1990, os anos de ouro do neoliberalismo à

brasileira. É certo que o setorprivado lucre com a exploração de ro-

dovias construídas com dinheiro público?Ainda mais quando se sabe que 70% do capitalinicial investido pelas empresas que cuidam dos2,5 mil quilômetros de rodovias concedidas noParaná é financiado pelo Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico e Social(BNDES) — um organismo 100% público. Ou

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Ilustração: Alexsandro Teixeira Ribeiro

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Pagamos caro para usarrodovias em péssimascondições operacionaisValter Fanini , presidente do Sindicato, mostra que o DER, mais dedez anos após as concessões, ainda não conseguiu calcular os valoresjustos para o pedágio, e que as empresas que administram as rodoviasconfundem condições operacionais com condições de manutenção.E conclui — estamos mal, de ambos os lados

Há um sentimento generalizadoentre os paranaenses de que oscontratos de concessão derodovias assinados na década de1990 são fortemente desequili-brados a favor das concessio-nárias, e contra os usuários, a sociedadeparanaense. No entanto, sentimento não é fatosuficiente para alterar um contrato. É necessáriodemonstrar onde está o desequilíbrio, para quea Justiça julgue a partir de fatos concretos.

Ninguém, pessoa física ou instituição, éobrigado a cumprir um contrato quando ficardemonstrado que existe desequilíbrio na relaçãoentre direitos e obrigações a favor de uma daspartes. Esse é um preceito legal, que valemesmo que não esteja expresso no texto docontrato. As concessões de rodovias, portanto,não são exceção — tanto que os contratospreveem a revisão tarifária. A cláusula XIX docontrato estipula que, sempre que o Depar-tamento de Estradas de Rodagem (DER) dis-cordar dos cálculos de reajuste apresentadospelas empresas, deverá apresentar novos cál-culos, apontando de forma clara as incorreçõesverificadas. Obviamente, cabe à parte lesadademonstrar tal desequilíbrio — no caso, aoestado do Paraná, ao DER. No entanto, quandopedimos ao DER quais os valores econo-micamente justos a serem cobrados em cadapraça de pedágio, não recebemos a respostaesperada, adequada. Frise-se, o DER é a ins-tituição de governo responsável por administraros contratos de concessão.

Os números não foram fornecidos por umarazão simples — ainda não foram calculados,mais de dez anos após o início da cobrança de

pedágio. Certamente, não faltacapacidade técnica ao DER.

Assim, parece improvável que asociedade paranaense consiga

uma vitória nesse caso, com a reduçãodas tarifas, se dependermos da ação do estado,que representa a todos nós, cidadãos parana-enses, nessa relação contratual.

Na trincheira oposta, as concessionárias justi-ficam os preços que cobram dizendo que as ro-dovias apresentam excelentes condições opera-cionais. Ora, isso está muito distante da verdade.Talvez eles confun-dam condições ope-racionais com algomuito diferente, ascondições gerais demanutenção — es-sas melhores do queantes da vigênciados contratos. Asboas condições ope-racionais de uma ro-dovia tornam pos-sível que veículos— sejam automó-veis, ônibus ou ca-minhões — façamuma viagem a umavelocidade constan-te — seja ela de 90km/h ou 110 km/h — de forma segura. Ou seja:uma rodovia de boas condições operacionaisnão oferece obstáculos ou dificuldades que obri-guem o motorista a efetuar paradas ou reduçõesexcessivas de velocidade. Pois as rodovias para-naenses — inclusive as administradas pela

iniciativa privada — possuem em boa parte desua extensão péssimas condições operacionais,porque foram construídas a partir de conceitoshoje ultrapassados, de geometrias que previamveículos trafegando a velocidades mais baixasque as de hoje, que resultaram em estradas comcurvas fechadas, de raio pequeno, aclives edeclives acentuados. Ou seja — nossas estradastêm condições operacionais ruins. E isso não foialterado durante o período de concessão.

Dois aspectos das péssimas condições sãoevidentes — ausência de terceiras faixas em

trechos com eleva-da declividade econflito com o trá-fego urbano, inclusi-ve de pedestres, natravessia de cida-des. As concessio-nárias não elimina-ram o conflito, im-plantando dispositi-vos de interface ro-doviária/urbana co-mo trincheiras, via-dutos, passarelas,vias marginais ouduplicação da via.Preferiu-se o cami-nho mais fácil e pe-rigoso — impor aos

veículos que trafegam pela rodovia a reduçãodrástica de velocidade. Para isso, lança-se mãoaté de dispositivos considerados ilegais peloCódigo de Trânsito Brasileiro, como lombadas.

Como se vê, estamos mal arranjados. Deum lado e de outro.

Uma relação desequilibrada, em que o usuário perde sempre

Alexsandro Teixeira Ribeiro

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“As rodovias foram concedidaspelo Estado à iniciativa privada.O lucro, portanto, é parte donegócio”, diz o diretor regionalda Associação Brasileira deConcessionárias de Rodovias noParaná e Santa Catarina (ABCR), João Chi-minazzo Neto.

“O lucro é o resultado positivo do serviçoprestado. Qualquer comerciante, industrial,empreiteiro, escritório, busca o lucro. E mesmoo Estado admite o lucro: Copel e Sanepar, porexemplo, têm resultados maiores a cada ano,que são sobejamente divulgados”, argumenta,em entrevista por e-mail ao jornal OEngenheiro.

Assim Chiminazzo fala de uma dasquestões centrais na composição das altastarifas cobradas nas praças de pedágio dasrodovias federais e estaduais concedidas háquase onze anos à iniciativa privada. Se nemmesmo nas cifras governo e concessionáriasconcordam, o próprio executivo admite que asempresas lucraram quase R$ 60 milhões em2007.

Para a ABCR, os lucros estão plenamentejustificados pelos serviços prestados “comeficiência, modernidade e economia”. “Nossosusuários estão trafegando em ótimas rodovias,viajam com segurança, podem planejar aviagem em qualquer horário, podem parar edescansar num dos postos de serviços aosusuários, contar com socorro médico emecânico, serviço de guincho e com oatendimento imediato em caso de acidente, depneu furado, de pane”, justifica. E vai além —“o desenvolvimento do Paraná nos últimos dezanos foi propiciado pela qualidade das rodovias”privatizadas.

Segundo Chiminazzo, o governo do estado,que “teima em vilanizar o setor de concessões”,é quem torna “inviáveis” as negociações deuma possível redução nas tarifas. O diretor daABCR sugere uma série de alternativas que,

considerar o seguinte: o lucro é o resultadopositivo do serviço prestado. Qualquercomerciante, industrial, empreiteiro, escritório,busca o lucro. E mesmo o Estado admite olucro: Copel e Sanepar, por exemplo, têmresultado maiores a cada ano, que sãosobejamente divulgados. As concessionáriasde rodovias são fiscalizadas pelo PoderConcedente (o Departamento de Estadas deRodagem, vinculado à Secretaria Estadual dosTransportes), cumprem as funções determi-nadas nos contratos e vão muito além, gerandoprogramas de relacionamento com a comuni-dade — os quais só não vê, e não comprovasua importância, quem não quer.

Mas consideremos ainda a questão dolucro. Concessionárias seguem internamenteas normas da ISO 9000, de qualidade total.Com isso, conseguem economizar, racionalizarcustos, otimizar serviços prestados. Não hádesperdício ou prejuízo com falta deplanejamento. É o que se espera da iniciativaprivada: competência e lucro. As rodoviasforam concedidas pelo Estado à iniciativaprivada. O lucro, portanto, é parte do negócio.

Senge-PR — DER e ABCR se acusammutuamente pela inviabilidade de negociaruma redução das tarifas. O que de fatoacontece? A ABCR já afirmou que anegociação passa pela redução dosimpostos cobrados sobre a tarifa. Issosignifica que, na prática, o preço só cai seo governo também perder arrecadação?

Chiminazzo — A ABCR já esteve pre-sente em audiências em comissões da Assem-bleia Legislativa para apontar alguns caminhospara a negociação. Ela não é inviável, pelocontrário. Basta que as duas partes tenhamreal interesse de levá-la adiante. Até hoje ogoverno do estado sinalizou apenas alternativasunilaterais e de cunho político — “baixe a tarifae depois conversamos”. Isso não é negociação,é imposição. Com relação à redução deimpostos, trata-se de uma possibilidade, mas>>

ABCR: “Da iniciativa privada,se espera competência e lucro”Diretor regional da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodoviasno Paraná e Santa Catarina, João Chiminazzo Neto diz que lucroé “parte do negócio” e culpa governo do estado por “vilanizar”empresas e tornar negociações “inviáveis”

adotadas, acabariam por baixaros preços — redução de

impostos, fim de taxa paga aoDER, extensão de prazos das

concessões, ampliação da malharodoviária, redução das obrigações, aumentoda base de pagantes. Interessante notar que,em todas elas, perdem a sociedade ou o Estado— mas nunca as concessionárias.

O executivo argumenta que a ABCR “estáalertando para um prejuízo” causado pela“postura política do governo”. E vaticina —“A administração das rodovias pela iniciativaprivada não é dispensável” no Paraná.

Leia a entrevista de Chiminazzo.

Senge-PR — Os balanços publicadospelas empresas revelam que cinco das seisconcessionárias que administram 2,5 milquilômetros de rodovias começaram aoperar no azul antes da previsãocontratual. Até o final de 2007, o lucrochegou a R$ 238,9 milhões, em valorescorrigidos. Uma das concessionárias jádistribuía lucros em 2000, apenas dois anosapós o início da cobrança. Isso não mostraque há gordura suficiente que permite umaredução nas tarifas? Qual o corte possívelnos lucros das empresas?

João Chiminazzo Neto – A ABCR nãocomenta os resultados individuais de cadaconcessionária, por se tratarem de empresasde capital aberto com ações no mercado. Noentanto, a afirmação de que “que cinco dasseis concessionárias que administram 2,5 milquilômetros de rodovias começaram a operarno azul antes da previsão contratual” éequivocada, já que as concessionáriaspassaram a atuar “no azul” somente a partirde 2007, quando o resultado (lucro) geral foide R$ 59,3 milhões.

Com relação a “gordura” e “possíveiscortes” nos lucros das empresas, temos a

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>> não da única, para baixar tarifas. Um exemplo— as concessionárias do Anel de Integração(nome com que o então governador JaimeLerner batizou as rodovias federais e esta-duais que concedeu à iniciativa privada)pagam ao DER um percentual para a fisca-lização das concessionárias. Essa verba é ne-cessária? Poderia ser cortada? É um ponto aconsiderar. Há outros: extensão de prazos dasconcessões, ampliação da malha rodoviária,redução das obrigações, aumento da base depagantes.

As concessões do Anel de Integração estãocompletando 11 anos. Nesse período, muita coisamudou. A economia mundial, a economiabrasileira, os governos. Novas concessões foramcriadas, com formatos muito distintos. Elespodem ser adaptados. Pegue-se o exemplo daEcovia, que é a mais criticada pela tarifa cobradaem sua única praça. Somente 23% dos usuáriosda Ecovia chegam à praça de pedágio eefetivamente pagam tarifa. A maioria dosusuários fica nos trechos de São José dos Pinhaise trafegando entre Paranaguá e Antonina,também sem pagar pedágio. Ainda assim,utilizam todos os serviços da rodovia, poisressalte-se que a demanda por atendimentomédico nos trechos urbanos é muito maior. Sehouvessem mais pontos de cobrança nestetrecho de aproximadamente 140 quilômetros,as tarifas poderiam seriam menores. Há,portanto, diversas possibilidades. Até hoje, só odiálogo com o governo foi inviável, porque seteima em vilanizar o setor de concessões, comose a administração das rodovias pela iniciativaprivada fosse dispensável. Mas não é — odesenvolvimento do Paraná nos últimos dez anosfoi propiciado pela qualidade das rodoviasadministradas no Anel de Integração.

Senge-PR — Numa discussão recentecom o governo do estado, as conces-sionárias brandiram um prejuízo de R$ 300milhões desde 2003. Qual a origem de talprejuízo?

Chiminazzo — A discussão sobre reequi-líbrio econômico-financeiro não é recente. AABCR não está “brandindo” o prejuízo que vemsendo acumulado: está alertando que ele existe.A origem do prejuízo está na postura política dogoverno. Vamos aos exemplos concretos.Durante a execução dos contratos, muitas obrasque foram solicitadas pelo DER estavam forado cronograma anual. O custo não-planejadoentra, então, no cálculo do equilíbrio econômico-financeiro que, pelo contrato de concessão,deveria ser avaliado anualmente. Mas ointeresse não deveria ser apenas nosso. O DERtambém deve ter outras demandas para tratarcom as concessionárias. Mas não sabemos,porque esse diálogo não existe desde 2003.

Outro ponto de origem do prejuízo: asinvasões do MST, a cada data de protesto —seja numa votação de interesse do governo (oque já ocorreu em 2003) ou no “evento” AbrilVermelho (Nota do Editor: o Senge-PR res-peita a organização e as reivindicações detrabalhadores rurais sem terra organizadosem movimentos sociais, e lamenta a ironiado diretor da ABCR. A entrevista foi respon-dida por e-mail, e as aspas constam da res-posta enviada pela assessoria de Chimi-nazzo). As concessionárias são invadidas,integrantes do MST tomam as cabines, destroemcâmeras, monitores, cancelas. O governo doestado nunca, repito, nunca, cumpriu as ordensde reintegração de posse obtidas pelasconcessionárias na Justiça.

Sem contar as demandas judiciais ou asvezes em que o governo age politicamente –aprovando leis obrigando a isenção de motos emoradores, por exemplo, que duram alguns dias.São atitudes vazias de sentido, já que obviamenteferem os contratos, mas cheias de intençõespolíticas. Elas geram despesas, prejuízos que se

acumulam. E vai sendo empurrado com abarriga para um próximo governo.

Senge-PR — “As empresas queadministram as rodovias privatizadas têmlucros exorbitantes, só comparáveis aos dotráfico internacional de drogas”, disse emmeados de 2008 o subprocurador geral daRepública, Aurélio Veiga Virgílio Rios. O quea ABCR diz a respeito?

Chiminazzo — Obviamente foi uma ofensadescabida que atinge desde o acionista deconcessionária até o funcionário da cabine dopedágio. O subprocurador voltou atrás,tergiversou, mas aí já tinha conseguido holofotessuficientes para ser convidado a repetir aacusação na reunião semanal (do secretariado)do governador Roberto Requião – o que nãofez, diga-se de passagem. Aliás, só aqui noParaná essa declaração é relembrada a cadavez que algum veículo ligado ao governo pretendefazer uma “matéria” sobre pedágio.

Senge-PR — Desde 2003, as tarifas depedágio cobradas no Paraná sãoaumentadas sem a concordância dogoverno. Nenhum dos aumentos teve aaprovação do DER, mas as conces-sionárias recorreram à Justiça e sempreobtiveram liminares para aumentar ospreços. Por que o Estado perdeu sempre,até agora? A argumentação contra osaumentos é falha?

Chiminazzo — O contrato de concessãoprevê, em sua Cláusula XIX, que o valor datarifa será reajustado anualmente, com base nosíndices de correção calculados pela FGV –Fundação Getúlio Vargas. Esse reajuste não éum aumento; é a reposição da inflação, em cimada tarifa básica definida pelo DER no edital delicitação. A cláusula é bem clara: cabe ao DERverificar a aplicação dos índices na fórmulaparamétrica que ele mesmo criou para o cálculo.É uma fórmula interessante, porém bastantecomplexa. Se o índice das tarifas no Paranáfosse apenas o IGP-M, por exemplo (como emSão Paulo), hoje as tarifas estariam mais caras.Mas a fórmula inclui diversos aspectos do setor.Cabe ao DER verificar se esse cálculo estácorreto, já que a reposição inflacionária éobrigatória, pelo contrato – novamente, comparocom as tarifas da Sanepar e Copel: elas tambémsofrem reajustes anuais. A argumentação dogoverno tem sido a mesma: não vamos olhar oscálculos do reajuste porque não concordamoscom ele. Mais uma vez, uma postura política,intransigente e unilateral, que serve apenas àpropaganda oficial. Na prática, vale o que estáno contrato.

Senge-PR — Poucos meses apósimplantar o pedágio, o ex-governador JaimeLerner — então candidato à reeleição —

Chiminazzo: “Governo vilaniza concessões”

Divulgação/ABCR

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DER quer reduçãode 50%, mas aindacalcula quais seriamas tarifas ideaisGrupo que governa o estado chegou ao poderprometendo “baixar ou acabar”com o pedágio.Mais de seis anos depois, governo se apoia emnovas concessões feitas pela União para estimarquais seriam as tarifas ideais para as rodoviasentregues à iniciativa privada há 11 anos

Roberto Requião (PMDB) foieleito governador do Paraná, em2002, prometendo que o pedágioou baixaria ou acabaria. Pas-sados mais de seis anos desde aposse de Requião, o governo ain-da não fez nem uma coisa nem outra. O pedágiocontinua em vigor, e as concessionárias nãoapenas não reduziram tarifas como têm obtido,na Justiça, os aumentos previstos nos contratosde concessão — ainda que o DER se recuse aembasar os cálculos apresentados pelasconcessionárias. Sinal de que o governo se pre-parou mal para a disputa judicial? Não, afirma osecretário estadual dos Transportes e presidentedo Departamento de Estradas de Rodagem(DER), Rogério Tizzot.

“Conseguimos barrar aumentos por certotempo e vamos continuar alimentando o poderjudiciário com informações e dados que com-provam que há uma margem grande para adiminuição das tarifas. Não acredito que a argu-mentação é falha, até por que não há decisãofinal sobre o tema, os debates estão ocorrendodiariamente em diversos tribunais estaduais efederais”, argumenta Tizzot. Ainda assim, o DERnunca divulgou quaisquer estudos que justi-fiquem, embasem a posição do governo, mos-trando em quanto o pedágio poderia ser reduzidosem inviabilizar o modelo de concessão. Mas osecretário garante que isso está sendo feito —agora.

“Estamos finalizando umamplo estudo que engloba todo

o modelo do pedágio do Paranáe o traz para dentro das bases do

pedágio federal, que apresentou ta-rifas até dez vezes mais baixas. É um trabalhoextenso, que pretende estabelecer um pontoreferencial de qual deveria ser a tarifa justaaplicada ao usuário, em função da nova con-juntura econômica do País”, explica o secretário.

Mesmo sem tais estudos, o governo pleiteiana Justiça uma redução média de 50% nas ta-rifas, baseando-se nos lucros das conces-sionárias, que considera abusivos. “Até o finaldo ano passado, em números atualizados, asconcessionárias já haviam arrecadado cerca deR$ 8 bilhões para cuidar de apenas 2,5 milquilômetros de rodovias. Os números falam porsi só, os ganhos das empresas são enormesdentro desse modelo concentrador de riquezascriado equivocadamente na década de 1990.”

“Cinco das seis empresas que atuam noParaná começaram a distribuir lucro aosacionistas antes do previsto pelo contrato. E hoje,todas já estão operando no azul”, prossegueTizzot. Em mais uma ação judicial, o DER cobraa devolução de R$ 600 milhões que, garante,ultrapassam a margem de lucro prevista noscontratos. Enquanto isso, a discussão de umaredução pactuada nos preços esbarra na faltade interesse das concessionárias em rever oscontratos, diz o secretário. >>

reduziu os preços em 50%. As concessio-nárias foram à Justiça, e conseguiram odireito de interromper todas as obras emandamento nas rodovias. Em 2000, um termoaditivo aos contratos de concessão reajustouas tarifas em 116%. Apesar disso, asconcessionárias livraram-se da obrigaçãode construir 487 quilômetros de duplicações,contornos, marginais e terceiras faixas,segundo o DER. Outras obras importantestiveram o prazo de entrega postergado parao final do prazo de concessão, que é de 25anos. Ou seja, o prejuízo é dos usuários. Oque a ABCR diz a respeito?

Chiminazzo — De fato, as tarifas foramrecompostas para voltar ao patamar inicial. Masjá havia perdas relevantes para as con-cessionárias. Ninguém consegue levar adianteum negócio por dois anos apenas com metadede sua previsão de receita. As concessionáriasnão “se livraram” das obras: o acordo postergouaquelas que não eram as mais urgentes. Fala-se muito de duplicação, mas o fluxo das rodoviasem média é 18% menor do que o previsto emcontrato. Isso quer dizer que as duplicaçõespodem até parecer necessárias nos períodos deférias, quando há um maior fluxo. Na média,porém, as terceiras faixas são mais do quesuficientes para atender a demanda.

A ABCR não vê aí “prejuízo” aos usuários.Às concessionárias, inclusive, é proibido causarprejuízos com atitudes unilaterais – como aogoverno. A diferença é que obedecemos oscontratos. Como disse no começo da entrevista,nossos serviços estão sendo prestados comeficiência, modernidade e economia. Nossosusuários estão trafegando em ótimas rodovias,viajam com segurança, podem planejar a viagemem qualquer horário, podem parar e descansarnum dos postos de Serviços Aos Usuários(SAU), contar com socorro médico e mecânico,serviço de guincho e com o atendimento imediatoem caso de acidente, de pneu furado, de pane.Podem viajar à noite. Nosso usuário nos dá altosíndices de aprovação dos serviços, em pesquisasinternas.

Temos orgulho de cumprirmos uma funçãosocial no Paraná. Empregamos 6,6 mil pessoas,em cidades do interior, que normalmenteestariam sofrendo com a migração para osgrandes centros. Pagamos ISS que vai diretopara o caixa de 92 prefeituras – verba que setransforma em escolas, estradas, creches, postosde saúde (foram R$ 51 milhões só em 2008).Estamos seguros que o desenvolvimentoeconômico e social do Paraná reflete claramentea importância do papel que nós desempenhamos,ao dotarmos o Estado de uma infraestruturarodoviária condizente com as necessidadeslogísticas atuais.

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“Qualquer negociação a respeito do pedágiopassa por uma profunda revisão dos contratos,inclusive com a modificação da Taxa Internade Retorno, que nas concessões do Paraná estána casa dos 20% e no pedágio federal é deapenas 8%”, afirma. “Já as concessionáriaspedem para negociar o aumento do número depraças, a redução de impostos ou a prorrogaçãodos contratos por mais alguns anos. Sãopossibilidades que não nos interessam, que vãocontra o interesse público.”

O secretário e presidente do DER deixaclaro que o governo não se satisfaz com umasimples redução nas tarifas. “O pedágio, daforma como foi estabelecido, nem deveria existir.Se uma empresa quer cobrar por um trajeto,que construa o trecho desde o seu primeirometro cúbico de terraplenagem”, argumenta.

Leia a entrevista de Rogério Tizzot.

Senge-PR — O governo do Paranáafirma desde 2003 que o preço do pedágionas rodovias privatizadas na década de1990 é abusivo. O DER tem cálculos queconfirmem, que embasem tal tese? Qual adiferença em relação aos preços atuais? ODER pode fornecer todos os valores, emforma de tabela? Tais cálculos, se existem,já foram apresentados à Justiça nas con-testações dos aumentos de tarifa concedidosàs concessionárias?

Rogério Tizzot — Creio que não hádúvidas que as tarifas são abusivas. O Paranáé unânime ao afirmar que o pedágio é extre-mamente caro. Não há equação econômica quejustifique os preços praticados. E isso estácomprovado nos próprios balanços dasconcessionárias: cinco das seis empresas queatuam no Paraná começaram a distribuir lucroaos acionistas antes do previsto pelo contrato.E hoje, todas já estão operando no azul. Até ofinal do ano passado, em números atualizados,as concessionárias já haviam arrecadado cercade R$ 8 bilhões para cuidar de apenas 2,5 milquilômetros de rodovias. Os números falam porsi só, os ganhos das empresas são enormesdentro desse modelo concentrador de riquezascriado equivocadamente na década de 1990.

Senge-PR — Mas qual seria, para oDER, o valor correto a ser cobrado em cadapedágio no Paraná?

Tizzot — Os técnicos do DER de diversasáreas e regiões do Estado estão finalizando umamplo estudo que engloba todo o modelo dopedágio do Paraná e o traz para dentro das basesdo pedágio federal, que apresentou tarifas atédez vezes mais baixas. É um trabalho extenso,que pretende estabelecer um ponto referencialde qual deveria ser a tarifa justa aplicada ao

usuário, em função da nova conjunturaeconômica do País. Quanto ao valor justo a sercobrado, as ações judiciais do DER contra asconcessionárias — baseadas nos lucrosalcançados pelas concessionárias antes e acimado que os contratos estipulam — indicam queas tarifas deveriam ser reduzidas, em média,em 50%. Mas ressalto que continuamos com aposição de que o pedágio é desnecessário. Hárecursos públicos para manter as estradas emboas condições. Basta aplicá-los com eficiênciae com rigor. O Paraná demonstrou isto ao paísao executar entre 2003 e 2006 um dos maioresprogramas de investimentos rodoviários de suahistória. As estradas do Estado que antesestavam em situação lastimável passaram a serdestaque nacional.

Senge-PR — No início de fevereiro, oDER divulgou que está na Justiçareivindicando a devolução de R$ 600 milhõesque as concessionárias arrecadaram a maisem função de tarifas abusivas. Qual acomposição desse valor? Em que pé estáessa ação?

Tizzot — Os números são resultados daanálise dos balanços anualmente publicadospelas concessionárias que mostraram que oslucros das empresas estavam acima do que estáestipulado nos contratos. Os contratos sãoadministrativos e movidos por uma cláusulaeconômica. As concessionárias têm o seu lucropré-fixado. Não é uma loteria, o lucro não podeser maior nem menor do que o estipulado con-tratualmente. Como disse anteriormente, busca-mos na Justiça que esses valores sejam devol-vidos aos usuários em forma de desconto dastarifas. Essas ações tramitam em primeira ins-tância em diversas varas federais de Curitiba.

Senge-PR — O DER diz ter os balan-ços publicados pelas concessionáriasrevelam que cinco das seis empresas tive-ram lucros antes do que o contratoestabelecia. Esses argumentos foram le-vados à Justiça?

Tizzot — Sim. Fazem parte do processoem que buscamos a devolução dos valoresarrecadados antes do previsto.

Senge-PR — DER e ABCR se acusammutuamente pela inviabilidade de negociaruma redução das tarifas. O que de fatoacontece?

Tizzot — Veja bem, qualquer negociaçãoa respeito do pedágio passa por uma profundarevisão dos contratos, inclusive com a mo-dificação da Taxa Interna de Retorno (TIR)— fator que reflete o lucro das empresas —,que nas concessões do Paraná está na casados 20% e no pedágio federal é de apenas8%. Contratos longos como esse do pedágio,de 24 anos de duração, não podem terelementos fixos. A conjuntura econômica muda,como na verdade, mudou. A TIR hoje deveriaser muito mais baixa, e isso tem impacto diretona tarifa. Já as concessionárias pedem paranegociar o aumento do número de praças, aredução de impostos ou a prorrogação doscontratos por mais alguns anos. São possibi-lidades que não nos interessam, que vão contrao interesse público.

Me recordo de que recentemente a Asso-ciação de Comerciantes do Litoral pediu umaaudiência para evitar o aumento do pedágiono sentido das praias às vésperas datemporada. Foi então marcada uma audiênciacom a Ecovia. Contudo, a concessionária veioao nosso encontro com a decisão tomada, nosentido de que não havia a menor possibilidadede ocorrer essa redução. Isso retrata muitobem a posição das concessionárias em relaçãoa qualquer acordo.

Senge-PR — Desde 2003, as tarifasde pedágio cobradas no Paraná são au-mentadas sem a concordância do governo.Nenhum dos aumentos teve a aprovaçãoTizzot: “O pedágio já nasceu errado no Paraná”

AEN

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Da Justiça, sempre omesmo argumento:reajustes estãoprevistos nos contratosDER não questionou aumentos na formaprevista, escrevem juízas nas decisõesque autorizaram reajustes no fim de 2008

Uma rápida análise de trêsdecisões judiciais recentes queautorizaram aumentos no pedágiocobrado nas rodovias concedidasà iniciativa privada na década de1990 faz saltar aos olhos umasemelhança — em todos os casos, os reajustesforam concedidos sob a justificativa de que oDepartamento de Estradas de Rodagem (DER)não questionou os cálculos apresentados pelasconcessionárias.

Trata-se de uma questão técnica — o DERnão usou a ferramenta prevista nos contratospara contestar os aumentos. Logo, eles devemser concedidos, como rezam os contratos. Daleitura das decisões que autorizaram os aumen-tos, depreende-se que o DER argumentou queos aumentos ferem o interesse público — parauma das magistradas, um “conceito jurídicoindeterminado” — e que os contratos são dese-quilibrados em favor das concessionárias. Logo,argumenta o DER, nenhum aumento deveriaser concedido até que se julguem as ações quequestionam o desequilíbrio dos contratos.

Porém, concordam as três juízas federais, odesequilíbrio deve ser questionado de “formaadequada”, com a “necessária instauração deprocesso administrativo, com observância daampla defesa e do contraditório, conforme prevêa lei e também o contrato em suas cláusulas”.“O poder concedente possui instrumentos parapromover a redução tarifária, os quais, inclusive,segundo se observa do próprio ato atacado, vêmsendo exercidos, através de ações judiciais quebuscam o reequilíbrio econômico-financeiro docontrato — o que, ressalte-se, não se confundecom o reajuste da tarifa”, escreve a juíza federalDanielle Perini Artifon, numa decisão favorávelà concessionária Viapar.

Ou seja — os argumentosusados pelo DER, até aqui, não

são suficientes para barrar novosaumentos de tarifas. Em boa parte

dos casos, muito acima da inflação,como mostra análise do economista FabianoCamargo, da subseção do Dieese no Senge-PR. Ficam aqui duas perguntas — não é possívelquestionar os reajustes na forma prevista nocontrato? Isso seria mais fácil se o DER tivesseem mãos, onze anos após as concessões, osvalores que considera justos e adequados paraas tarifas em cada uma das praças de cobrança?

Leia trechos das três decisões judiciais.

“O DER não discordou especificamentedo cálculo apresentado, pois, no ofício DG-314, limitou-se a fundamentar a nãohomologação do reajuste anual tarifário pelapendência de ações judiciais tratando deaspectos econômico-financeiros do contrato.

“Entretanto, não vislumbro, por ora, justacausa para a não homologação do reajustetarifário pretendido pela concessionária autora,uma vez que o contrato é imperativo emdeterminar que, não havendo discordância doDER/PR quanto aos cálculos, o reajustedeverá ser homologado. No ponto, registroque o reajuste das tarifas, na forma prescritano contrato, é questão técnica. Dessa forma,não havendo discordância específica quanto àaplicação dos índices, não cabe ao DER/PR ainvocação de qualquer outro motivo para nãohomologar os cálculos apresentados.”

Soraia Tullio, juíza federal substituta,em decisão que autorizou aumento do pedágio

para a concessionária Rodovia das Cataratas emnovembro de 2008 >>

do DER, mas as concessionáriasrecorreram à Justiça e sempre obtiveramliminares para aumentar os preços. Por queo Estado perdeu sempre, até agora? Aargumentação contra os aumentos é falha?

Tizzot — São discussões em que o governotem que entrar. Lutas que buscam o interessepúblico, a proteção de nossa economia. Conse-guimos barrar aumentos por certo tempo e va-mos continuar alimentando o Poder Judiciáriocom informações e dados que comprovam quehá uma margem grande para a diminuição dastarifas. Não acredito que a argumentação éfalha, até por que não há decisão final sobre otema, os debates estão ocorrendo diariamenteem diversos tribunais estaduais e federais.

Cito o caso de duas decisões recentes dajustiça que foram favoráveis ao governo. Emdiscussões judiciais com as concessionáriasEconorte e Ecovia, magistrados federaisacataram os argumentos do Estado. O corpojurídico do DER , em conjunto com a PGE,trabalha no sentido de apresentar aosmagistrados as mazelas que esse sistemacausa ao nosso Estado.

Senge-PR — Poucos meses apósimplantar o pedágio, o ex-governadorJaime Lerner — então candidato àreeleição — reduziu os preços em 50%. Asconcessionárias foram à Justiça, econseguiram o direito de interromper todasas obras em andamento nas rodovias. Em2000, um termo aditivo aos contratos deconcessão reajustou as tarifas em 116%.Apesar disso, as concessionárias livraram-se de obrigação de construir 487 qui-lômetros de duplicações, contornos, mar-ginais e terceiras faixas, segundo o DER.Outras obras importantes tiveram o prazode entrega postergado para o final do pra-zo de concessão, que é de 25 anos. Comoo DER avalia essa decisão?

Tizzot — Se o sistema de pedágio no Pa-raná nasceu errado, com essa decisão foi total-mente deturpado. E hoje o usuário paga por umatarifa cheia, estipulada lá no início dos anos 1990,mas não vai ter quase 500 quilômetros de obrasnovas e só poderá usufruir de outras tantas obrasdepois de 2019. Essas modificações no contratotambém são motivo de ações do Estado contraas empresas, pedimos na Justiça a nulidade dosaditivos que eliminaram e postergaram obras,aumentaram e deslocaram algumas praças eainda criaram os degraus tarifários, gatilhos paraagir em anos pré-estipulados e que elevaramainda mais os preços das tarifas. O pedágio, daforma como foi estabelecido, nem deveria existir.Se uma empresa quer cobrar por um trajeto,que construa o trecho desde o seu primeiro metrocúbico de terraplenagem.

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“Da leitura da cláusula XIX do contrato deconcessão, percebe-se que a homologação doreajuste é imperativa caso haja a concordân-cia com os índices aplicados. Não há margempara a invocação de qualquer conceito jurídicoindeterminado — no caso, o interesse público— tampouco há previsão para que as ques-tões envolvendo o desequilíbrio financeiro decontrato sejam óbices para o indeferimento doreajuste. (…) Entendo que as questões envol-vendo tal equilíbrio financeiro não podeminterferir no reajuste, que é mera atualizaçãomonetária da tarifa. Se o DER quisessediscutir o equilíbrio financeiro do contratodeveria ter utilizado o meio contratual ade-quado. O reajuste das tarifas, na forma pres-crita no contrato, é questão técnica. (...)Nesse particular, é de se observar que oDER, ao negar a homologação dos cálculos,não pautou sua conduta pelo quanto estabele-cido no contrato. Isto é, não houve expressadiscordância do DER quanto aos aspectostécnicos relacionados aos cálculos elaboradospela concessionária.”

Giovanna Mayer, juíza federal substituta, emdecisão que autorizou aumento do pedágio para a

concessionária Ecovia em novembro de 2008

“Se há desequilíbrio econômicofinanceiro, a averiguação de tal situaçãodeve ser objeto de revisão contratual, queimpõe a necessária instauração de processoadministrativo, com observância da ampladefesa e do contraditório, conforme prevê alei e também o contrato em suas cláusulas.O DER não reconheceu ou afastou a retidãodos cálculos apresentados. Em verdade,provocado a tanto, deixou de apurar ditacorreção, negando a homologação doreajuste sob o argumento de que necessárioo trânsito em julgado de inúmeras açõesjudiciais em que se discute a tarifa e ocontrato, pautando-se na existência deinteresse público a justificar seu agir.

“Não se pode porém considerar ditanegativa como válida, na ausência dequalquer fundamento legal ou mesmocontratual que assim ampare o poderconcedente, sendo certo que ele possuiinstrumentos para promover a reduçãotarifária, os quais, inclusive, segundo seobserva do próprio ato atacado, vêm sendoexercidos, através de ações judiciais quebuscam o reequilíbrio econômico-financeirodo contrato — o que, ressalte-se, não seconfunde com o reajuste da tarifa.”

Danielle Perini Artifon, juíza federal substituta,em decisão que autorizou aumentodo pedágio para a concessionária

Viapar em novembro de 2008

>> Em dez anos, tarifasaumentam 40% maisque a inflaçãoFabiano Camargo , economista do Dieese, mostraque tarifas das rodovias concedidas nos anos 1990sobem mais que o índice oficial de inflação; naCuritiba-Litoral, aumento real chega a 67%

A história da privatização derodovias no Paraná começa em1996, ano em que a Uniãodelegou ao governo do estadoa administração de trechos deestradas federais. Um anomais tarde, saía a concorrência pública querepassou um lote de rodovias federais eestaduais — reunidas sob o nome de Anel deIntegração — à iniciativa privada. Assim, em1998, as concessionárias começaram atrabalhar — e a cobrar o pedágio.

Avaliamos a progressão das tarifas de pe-dágio cobradasem praças dasseis concessio-nárias que ope-ram no estadodesde a décadade 1990. O re-sultado — de1998 ao últimoreajuste, em de-zembro passa-do, os preços tiveram aumento médio de176,17%. No mesmo período, a infla-ção oficial,medida pelo Índice de Preços ao ConsumidorAmplo (IPCA),do IBGE, cres-ceu 96,93%.Logo, o aumen-to real médio dopédágio é de40,45%. A tari-fa subiu mais napraça de pedá-gio do trechoCuritiba-Litoralna BR-277, o-perada pela E-covia. Ali, os motoristas pagam hoje 229% mais

que em 98, aumento real de67,29%. No gráfico abaixo, verifi-camos de forma mais clara o

comportamento das tarifas médiasde pedágio, e fica claro que elas subi-

ram muito mais do que a inflação no período.Para este estudo, selecionamos apenas

uma praça de pedágio de cada concessionáriaque atua no estado do Paraná. Desse modo,indicamos a média da evolução das tarifas depedágio, e não a variação das tarifas no con-junto total de praças de pedágio existentes.

Mesmo quem não usa as rodovias compedágio paga, in-diretamente, pe-las tarifas. Gran-de parte dos pro-dutos que abas-tecem nossas ci-dades ou que ex-portamos trafe-gam por rodo-vias. Dessa for-ma, os preços fi-

nais de quase tudo embute o custo do pedágio.Infraestrutura adequada, com estradas bem

conservadas, é um importante instrumento deincentivo para ocrescimento e-conômico. É dese esperar que opedágio não setorne empeci-lhos ao desen-volvimento. Pa-ra isso, é funda-mental que hajaequilíbrio entretarifas aceitáveise a justa remune-

ração dos investimentos das concessionárias.

Evolução das tarifas de pedágio Jun/98 Dez/08 Variação (%) Aumento real (%)

Ecovia 3,80 12,50 228,95 67,29

Econorte 3,70 11,50 210,81 58,07

Viapar 3,20 7,80 143,75 23,96

Rod. Cataratas 3,00 7,60 153,33 28,84

Rodonorte 2,80 7,30 160,71 32,59

Caminhos do PR 2,80 6,60 135,71 19,88

Preço Médio 3,22 8,88 176,17 40,45Fonte: Concessionárias de rodovias. Elaboração: Dieese

Os aumentos da inflação e do pedágio

50%

100%

Jun/1998 2003 2008

0%

150%

180%

Inflação (IPCA) Pedágio

- 50%

- 100%

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Março / Abril de 2009 11

“Só pressão como na defesada Copel pública muda pedágio”Acir Mezzadri , coordenador do Fórum Popular Contra o Pedágio diz que,sem pressão popular forte, pedágio não baixa nem acaba

O presi-dente do Fó-

rum PopularContra o Pedágio,

Acir Mezzadri, diz queas tarifas nas rodovias concedidas à

iniciativa privada durante os anos 1990 só irãobaixar se houver pressão semelhante à queimpediu a venda da Copel. “Acho que a questãopedágio só será resolvida num processosemelhante, com envolvimento da sociedadecomo um todo. Senão, não sairemos do lugar”,afirma, em entrevista ao jornal O Engenheiro.

“Vamos apresentar uma proposta quedetermina que um político só poderá privatizarpatrimônio público se isso estiver expresso noprograma de governo. Caso contrário, só poderáfazer mediante plebiscito ou referendo. Osprogramas de governo do Fernando HenriqueCardoso, do Lula, não falam nada, pelo contrário,Lula disse que era radicalmente contra o pedágioe a (privatização da) Vale do Rio Doce. Noentanto, não aconteceu nada”, argumenta ocoordenador do Fórum — movimento da socie-dade organizada que conta com a participaçãodo Senge-PR.

Ex-deputado estadual pelo PMDB, Mezza-dri se mostra algo decepcionado com o peeme-debista Roberto Requião, eleito em 2003 tendono combate ao pedágio uma de suas principaisbandeiras eleitorais. “Acreditava que o caso seriaresolvido no primeiro mandato. Escuto muitagente reclamar, gente que não aceita ver essecaso sem solução. Mas ainda está em tempo,ele ainda é governador, tem ferramentas paraisso, tem a opinião pública (a seu favor)”, diz. Ogovernador, reeleito em 2006, está no sétimoano de mandato.

Com Lula, outro crítico das privatizações,mais decepção. “Acreditamos piamente nocompromisso de Lula, que disse que iria resolver(a questão do pedágio). Não aconteceu nada”,diz. E por que? “É tudo jogo de cena”, afirma.“Olha, se até o contrato do casamento pode serrompido, com o divórcio, por que que não podeanular os contratos com as concessionárias? Nãoexiste contrato eterno e permanente, e esse é

lesivo aos interesses da população. Por isso éque defendemos que políticos eleitos possamfazer contratos com vigência apenas duranteseus mandatos. Eles não têm legitimidade parafirmar contrato com vinte anos de duração, sesão eleitos por quatro, ou no máximo oito anos.”

Leia a entrevista de Acir Mezzadri.

Senge-PR — Em audiência pública nofim de 2008, o Fórum Popular Contra oPedágio disse ser possível uma redução de50% nas tarifas do pedágio no Paraná.Como?

Acir Mezzadri — Entendo que o pedágio,hoje, deve ser reduzido em 61%. Todas asrodovias em que hoje pagamos pedágio pararodar foram construídos com dinheiro público.De forma arquitetada, num plano de entrega do

patrimônio público, deixaram que essa malhaficasse deteriorada, sucateada, com crateras,sem qualquer manutenção, para daí, junto comas empreiteiras, privatizar as rodovias. É umpedágio malandro, uma máquina de arrecadardinheiro. A decisão de conceder as rodovias àiniciativa privada foi política. Foi politicamenteque se resolveu doar as rodovias. As empresasganharam as concessões por um determinadotempo, não são proprietárias das rodovias. Háuma cartilha do governo do estado que diz queas concessionárias não são transparentes, e que30% do faturamento delas seriam mais que osuficiente para a manutenção das rodovias.Quero lembrar também que a manutenção dasestradas está embutida nos impostos quepagamos, no IPVA, no ICMS. É isso quequeremos colocar para discussão nas ruas doParaná, do Brasil. Vamos apresentar umaproposta que determina que um político só poderáprivatizar patrimônio público se isso estiverexpresso no programa de governo. Casocontrário, só poderá fazer mediante plebiscitoou referendo. Os programas de governo doFernando Henrique Cardoso, do Lula, não falamnada. pelo contrário, esse (Lula) disse que eraradicalmente contra o pedágio e a (privatizaçãoda) Vale do Rio Doce. No entanto, nãoaconteceu nada.

Senge-PR — DER e concessionáriasculpam um ao outro pelas altas tarifas. Parao governo, as margens de lucros dasempresas são abusivas. Para as empresas,o governo é quem impede uma negociaçãoque reduza os valores.

Mezzadri — É tudo jogo de cena. Participeido movimento que impediu a venda da Copel, eacho que a questão pedágio só será resolvidanum processo semelhante, com envolvimentoda sociedade como um todo. Senão, nãosairemos do lugar, pois uma andorinha só nãofaz verão. Lula assumiu um compromisso públicode que não iria mais privatizar rodovias, Requiãodisse que o pedágio ou baixava ou acabava.Veja bem, toda a economia do País passa pelarodovia. Tudo o que consumimos sofre o impactodo pedágio. Milhares e milhares de toneladas>>

Mezzadri quer referendo popular antes dep r i v a t i z a ç õ e s

Fotos: Alexsandro Teixeira Ribeiro

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Quem são os donosdas concessionárias

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de bens e produtos passam pelas rodovias, pelopedágio, e nós na ponta consumidora é quevamos pagar a conta, fazendo a alegria dosempreiteiros que não são fiscalizados porninguém. Já pagamos tributos, impostos, para amanutenção das estradas, pagamos aconstrução das rodovias. No Paraná, ogovernador tem instrumentos para resolver aquestão do pedágio, tem o DER, tem umcompromisso. Se ele nos chamar, iremos paraa briga. A Assembleia Legislativa votou, no iníciodo governo dele, uma lei que foi aprovada porunanimidade, para encampação das rodovias,encaminhada pelopróprio Requião. Porque que isso nãoandou? (Segundo ogoverno do estado,a discussão judicialdas indenizaçõesseria muito comple-xa e demorada, e aencampação foiabandonada).

Senge-PR —Requião está em seusétimo ano demandato. Acha queo pedágio irá mesmobaixar ou acabaraté 2010, quandotermina o governodele?

Mezzadri —Não posso acharnada, hoje, poisacreditava que o casoseria resolvido noprimeiro mandato.Escuto muita gentereclamar, gente quenão aceita ver essecaso sem solução.Mas ainda está em tempo, ele ainda égovernador, tem ferramentas para isso, tem aopinião pública (a seu favor). Acreditamospiamente no compromisso de Lula, que disseque iria resolver (a questão do pedágio). Ogovernador é um homem sério, mas ele afirmounos quatro cantos do Paraná, em todos osmunicípios, que o pedágio iria baixar ou acabar.Sem apoio e pressão da opinião pública, nadavai mudar. Sou a favor de rodovia boa, até dopedágio, mas administrado pelo Estado. Mas,hoje, o que temos é bitributação. Asconcessionárias não têm mais parque demáquinas, mas corpos jurídicos bem formados.E você não sabe exatamente quem são elas,quais as empresas que as formam, há nomesfantasia que escondem grandes empresas

acionistas das concessionárias. É preciso, antesde tudo, fazer um levantamento de quem são asempresas que ficam com o nosso dinheiro.

Senge-PR — Por que as concessio-nárias via de regra vencem na Justiça? Oscontratos são bem amarrados? A argumen-tação do DER, do governo, do Fórum, é in-consistente?

Mezzadri — Olha, se até o contrato docasamento pode ser rompido, com o divórcio,por que que não pode anular os contratos comas concessionárias? Não existe contrato eternoe permanente, e esse é lesivo aos interesses da

população. Por isso éque defendemos quepolíticos eleitos pos-sam fazer contratoscom vigência apenasdurante seus man-datos. Eles não têmlegitimidade para fir-mar contrato com vin-te anos de duração,se são eleitos por qua-tro, ou no máximo oitoanos. Só vamos solu-cionar isso no planonacional. Veja o casodo Rio Grande do Sul— faltam dez anospara vencerem oscontratos das rodo-vias, tal qual aqui. Emmensagem à Assem-bléia Legislativa, en-viada na época doNatal, a governadora(Yeda Crusius, doPSDB) propunha es-tendê-los por mais 30anos. Pois houve mo-bilização dos gaúchos,o povo assumiu o

compromisso de ir às ruas, e o que aconteceu?A governadora recuou, respeitou a opinião pú-blica. Por isso é que mobilizaremos a populaçãopara que não ganhemos outro presente de Nataldas concessionárias, época em que via de regraas tarifas sobem 10%. E, sobre contratos, temosuma boa notícia — o processo do pedágio deJacarezinho gerou uma jurisprudência.

De uma corte de quinze desembargadoresfederais, treze votaram a favor da população,dizendo que não há como haver pedágio emrodovia que não seja duplicada, e mesmo assim,tem que haver alternativa, o que não há emnenhum lugar do Brasil. Portanto, essa é umacoisa nova, um grande fato criando jurisprudênciapara todo o Brasil.

É nossa carta na manga.

>>

“Não existe contratoduradouro e permanente,ainda mais se for lesivo

aos interesses dapopulação, caso dos

contratos de concessãode rodovias”

Fonte: DER

Lote 1. Econorte

Cambé/Assaí/Santo Antônio da Platina/São Paulo

> Triunfo Participações e Investimentos S/A

Lote 2. Viapar

Cascavel-Arapongas, Porto Rico-Arapongas

> Construtora Cowan Ltda.

> Queiroz Galvão Participações Concessões S/A

> Strata Concessionáris Integradas S/A

> Camargo Campos S/A Engenharia e Comércio

> Preservar Participações S/A

> CCNE Carioca Concessões S/A

Lote 3. Ecocataratas

Foz do Iguaçu-Guarapuava

> Primav Ecorodovias S/A

Lote 4. Caminhos do Paraná

Guarapuava-Ponta Grossa, Prudentópolis-Balsa

Nova, Porto Amazonas-Araucária

> José Cartellone Construcciones Civiles S/A

> Goetze Lobato Engenharia Ltda

> Tucumann Eng. e Empreendimentos Ltda

> América Empreendimentos Ltda

> Vereda Administração e Empreendimentos Ltda

> Pattac Indústria e Comércio de Minerais Ltda

> Codi do Brasil Ltda

Lote 5. Rodonorte

Curitiba-Jaguariaíva, Curitiba-Arapongas

> CCR Companhia de Concessões Rodoviárias

> Porto de Cima Concessões S/A

> Cesbe S/A Engenharia e Empreendimentos

Lote 6. Ecovia

Curitiba-Litoral

> Primav Ecorodovias S/A

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Um Sindicato forte e respeitadoSenge-PR, 74 anos

Daniel Lopes de Moraes , ex-presidente e atual colaborador, diz que a forçae credibilidade do Senge-PR partem de três pilares fundamentais —pluralismo, independência de governos e partidos políticos edefesa dos interesses legítimos dos engenheiros

A força e o respeito que o Senge-PR con-quistou no Paraná se baseiam em pilares funda-mentais — o pluralismo e a independência degovernos e partidos políticos, sem nunca deixarde cumprir sua função básica de representar edefender os interesses legítimos dos engenheiros.A resultante desses três vetores está na posiçãode protagonista que o Sindicato assumiu embusca das mudanças necessárias para construir-mos uma sociedade mais justa e igualitária.

Somos politicamente ativos, mas apartidá-rios. Praticamos a política que consideramos jus-ta, correta, olhando para a frente, com a perspec-tiva de mudanças em benefício de toda a socie-dade, e não de apenas algumas de suas cama-das. Do nosso pluralismo ideológico resulta umaposição de vanguarda, pautada sempre pelaética, e com uma visão progressista que propõee defende as mudanças necessárias para umasociedade mais justa.

Dessas diretrizes, dessa linha de atuação, oSindicato não arredou pé desde que o Movimen-to Renovação e Fortalecimento venceu suaprimeira eleição, em 1987. Essa postura é re-ferendada pela maioria absoluta dos mais de 2mil associados do Senge-PR, a base de que adireção do Sindicato nunca se descolou.

Ao lado da humildade que nos faz certos deque não seremos, nunca, unanimidade — e nempoderíamos, numa democracia —, temos a satis-fação de ver um trabalho de 22 anos aprovadopor nossos associados. E seguimos trabalhando,na defesa dos direitos dos engenheiros e naampliação de seu espaço de participação políticana sociedade paranaense e brasileira.

O Senge-PR completou 74 anos de lutasem defesa dos direitos dos engenheiros e deuma sociedade melhor em 6 de abril. Fundadoem 1935, sob o Estado Novo, e inicialmenteatrelado ao aparelho de Estado, o Sindicatopassou por profundas transformações aolongo de sua existência. “Um de seusprincipais marcos é a eleição do engenheiroDaniel Lopes de Moraes como presidente,pelo Movimento Renovação e Fortalecimentodo Senge-PR , em 1987”, explica o presidenteValter Fanini.

O MRF nasceu, em 1983, quando o Brasilvivia uma grave crise econômica, que ajudoua fortalecer uma grande movimentação pelaredemocratização do País. A idéia era revitali-zar o Senge-PR, então pequeno e pouco re-presentativo. “Defendíamos um Sindicatomais independente do governo, mais demo-crático, mais representativo, especialmentedos profissionais assalariados”, explica Daniel.

Derrotado por 63 votos na eleiçãosindical de 1984, o Movimento manteve-seorganizado. “Éramos maioria nas assem-bleias, propusemos a criação das delegaciasno interior para aumentar a representatividadedo Sindicato fora da Capital”, lembra. Em1987, veio a vitória nas urnas. “Foi um casoinédito de chapa única, mas de oposição. Apartir daí, seguiu-se um processo de mudançano Senge-PR, inclusive na estrutura, queculminou na nova sede no Centro ComercialItália, em Curitiba”, diz Daniel.

“Hoje, lutamos efetivamente pelos direitosdos engenheiros, pelo respeito à engenhariacomo pilar do desenvolvimento humano e peladefesa do patrimônio público”, diz Fanini.

Um poucoda históriado Senge-PR

“ Do nosso pluralismoideológico resulta uma

posição pautada pela éticae em defesa as mudanças

necessárias para umasociedade mais justa”

Senge-PR liderou luta pela Copel pública, em 2001

Marlise de Cássia Bassfeld

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Senge-PR define pauta deprojetos para período 2009/11

Em defesa dos engenheiros

Ideia é organizar e sistematizar o rol de ações do Sindicato junto aosrepresentados e à sociedade civil, explica o presidente Valter Fanini

A diretoria do Senge-PR trabalha numa sériede projetos para fortalecer o Sindicato eaumentar a participação dos engenheiros nasgrandes discussões da sociedade paranaense.“Nossa missão é representar e defender nossacategoria, auxiliar a sociedade em questões daengenharia e contribuir para a democratizaçãodas instituições e para o desenvolvimento

Programa Sindical

Dinamização e interiorizaçãoO que pretende? Ampliar as ações e a atuação doSenge-PR no interior do Estado.Como? Melhorando a organização das DiretoriasRegionais; motivando engenheiros das basesregionais a atuar no Sindicato; buscando novaslideranças da categoria; buscando especialistas paradesenvolver estudos nas áreas profissionais,intelectuais e políticas; desenvolvendo temasregionais convergentes com os temas nacionais emdebate e promovendo debates nesses temas;buscando ações e atividades de sucesso deentidades correlacionadas.

Aprimoramento da comunicaçãoO que pretende? Aumentar a eficácia nosmecanismos e instrumentos de comunicação doSindicato, para torná-lo mais conhecido ereconhecido pela categoria e pela sociedade.Como? Formulando princípios e diretrizes para umacomunicação moderna; desenvolvendo percepçõesmais acuradas das demandas de informação porparte da categoria; estabelecendo sistemas decomunicação mais eficazes .

Ampliação do quadro associativoO que pretende? Implantar e operar ações paramanutenção e ampliação do quadro associativo.Como? Estreitando contatos com os atuais sócios,aproveitando oportunidades geradas pelas atividadesdesenvolvidas pelo Senge-PR; desenvolvendocampanhas específicas.

Programa Setorial

Acompanhamento de Políticas PúblicasO que pretende? Fomentar a visão crítica,qualificada e eficaz de Políticas Públicas nas áreastecnológicas, com foco especial nos orçamentos,

humano. Isso exige que nos organizemos paralevarmos adiante ações eficazes”, explica opresidente Valter Fanini.

“Os projetos nada mais são que uma formade organizarmos, de sistematizarmos o rol deações do Senge-PR”, argumenta. “A pauta deprojetos estratégicos do Senge-PR obedece eprocura atender, nos aspectos abrangidos, as

diretrizes, a missão, os princípios, a finalidade eos compromissos da gestão eleita para o período2008-2011”, fala o engenheiro Luiz CarlosCorrea Soares, coordenador-geral dos projetos.

Ao todo, o Senge-PR trabalha em 14 pro-jetos, aprovados pela Diretoria Executiva. Elesestão agrupados sob quatro grandes temas —sindicais, setoriais, político-sociais e institucionais.

além dos focos naturais na qualidade dosinvestimentos e nos interesses dos destinatáriosprioritários dos resultados – a população mais pobre.Como? Motivando e aprimorando lideranças doSenge-PR para lidar com questões econômicas;acompanhando os investimentos em áreastecnológicas e sociais (o PAC, por exemplo);desenvolvendo pesquisas econômicas e deorçamento público nessas áreas; oferecendoinstrumentos e informações para críticas de açõesgovernamentais.

Engenharia no Setor PúblicoO que pretende? A interação entre atores públicos eprivados na busca de novos paradigmas deexecução de projetos e supervisão de obras,valorizando os engenheiros do setor público.Como? Debatendo o modelo de execução deprojetos de engenharia e os procedimentos defiscalização e supervisão de obras públicas;debatendo a formulação de contratos com empresasde Engenharia Consultiva.

Engenheiros do Setor PúblicoO que pretende? Dedicar atenção especial àcarreira de engenheiro no serviço público.Como? Lutando pela aplicação da Lei Estadual nº13.666, que altera critérios para a progressão e apromoção salariais); negociando com os demaissindicatos de servidores sobre propostas a seremapresentadas ao governo do estado; negociando epressionando pelo cumprimento da legislação.

O futuro da Região Metropolitana de CuritibaO que pretende? Organizar o debate entreentidades de engenharia, arquitetura e urbanismosobre temas ligados ao desenvolvimentometropolitano e dos municípios integrantes daGrande Curitiba.Como? Elaborando um modelo de gestão das

funções públicas de interesse comum da RegiãoMetropolitana; contribuindo para a definição daspolíticas de uso e ocupação do solo regional eurbano e a preservação das bacias de mananciaisde água; participando da definição do Sistema deTransporte Público de Passageiros; participando dadefinição do Sistema Viário Metropolitano e urbano;participando do debate da habitação de interessesocial.

Programa Político-social

Interface e apoio aos movimentos sociaisO que pretende? Contribuir para a organização e odesenvolvimento dos movimentos sociais, seusestudos, debates, ações e intervenções emquestões políticas, econômicas, tecnológicas esociais.Como? Auxiliando na formulação política etecnológica dos movimentos sociais; contribuindocom a informação e as lutas das massas populares;apoiando a organização de entidades de luta social ea realização de eventos políticos-sociais.

FormaçãoO que pretende? Organizar e implementar açõespara aprimorar o conhecimento filosófico, político,econômico, sindical, organizativo e comunicacionaldos profissionais representados pelo Sindicato.Como? Promovendo e organizando cursos,conferências, palestras, debates, oficinas e eventosque aprimoramem os profissionais da engenhariaem aspectos não profissionais, para formarlideranças; oferecer espaços de discussão para aparticipação de entidades movimentos sociais.

Cultura e lazerO que pretende? Fomentar a consciência críticados engenheiros e seus familiares, estudantes deengenharia e sociedade em geral, com a divulgaçãoe promoção de eventos culturais e de lazer.

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Março / Abril de 2009

Trem que descarrilou na Serra do Mar, em 2004, no maior acidente ferroviário do Paraná, era monoconduzido

Arquivo Senge-PR

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Como? Divulgando eventos e obras de interessecultural, histórico, econômico, social e político;divulgando eventos e festivais de cinema, teatro,música, literatura, dança e artes plásticas; divulgandoe oferecendo aos associados e representados livros,revistas e outras publicações; promovendo eventose obras de interesse dos engenheiros e dosestudantes de engenharia; promovendo opções delazer para representados em dia com suasobrigações associativas.

Relacionamento com estudantesO que pretende? Ampliar a seguir com ações derelacionamento com os estudantes de engenharia esuas entidades.Como? Selecionando temas e buscando formas deatração dos estudantes para as ações do Senge-PR; promovendo debates sobre questõestecnológicas com o devido contexto político,econômico, estratégico e social com a participaçãode alunos e professores de universidades efaculdades.

Programa Institucional

Relacionamento com a FisengeO que pretende? Participar de projetos deiniciativa da Federação Interestadual de Sindicatosde Engenheiros.Como? Participando do 8.º Consenge, da novagestão da Fisenge e de projetos específicosdesenvolvidos pela entidade que tenhamdesdobramento regional no Paraná.

Relacionamento com o Sistema Confea/CreaO que pretende? Participar de projetos deiniciativa do Confea e do Crea-PR.Como? Instalando e coordenando odesenvolvimento do Núcleo Regional Paraná dosProjetos Pensar o Brasil e Construir o Futuro daNação, do Confea; participando de outros projetosem parceria com o Confea e o Crea-PR.

Relacionamento com governosO que pretende? Participar de projetos deiniciativa dos governos federal, estadual emunicipal.Como? Participando das Conferências dasCidades, do Comitê da Bacia do Alto Iguaçu e deoutros projetos de interesse da engenharia e dosengenheiros.

Justiça proíbe ALL deoperar trens conduzidospor um só maquinista

Decisão liminar da 20.ª Vara do Trabalhode Curitiba proibiu a América Latina Logística(ALL) de usar a monocondução — isto é, fazertrafegar trens comandados por apenas ummaquinista. A decisão é fruto de ação judicialconjunta do Senge-PR e Sindicato dosMaquinistas e Ferroviários do Paraná e deSanta Catarina (Sindimafer), impetrada no iníciodo ano.

“A decisão da Justiça é um ganho não sópara os trabalhadores, que sofrerão menospressão em sua atividade profissional, mastambém para a segurança de toda a sociedade”,diz o presidente do Senge-PR, Valter Fanini.

O Sindicato atua para proibir amonocondução desde 2001, quando, após uma

Senge-PR atua para proibir a monoconduçãodesde 2001, quando após uma série de acidentessolicitou ao Ministério Público do Trabalho aabertura de Procedimento Investigatóriocontra a concessionária

série de acidentes motivados pela prática, oSenge-PR solicitou ao Ministério Público doTrabalho a abertura de ProcedimentoInvestigatório. No decorrer do processo 973/01, o Senge-PR contratou o perito IlimarCandido Kasper para elaborar laudo técnicoque embasou todo o processo defendido peloSindicato.

“Esta conquista dos TrabalhadoresMaquinistas Ferroviários do Paraná tem queser compartilhada com os companheiros doSenge-PR, que sempre acreditaram eapoiaram esta causa, dando suporte técnicofundamental à elaboração do laudo pericial”,diz Vilson Osmar Martins Júnior, assessorjurídico do Sindimafer.

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Nos 43 anos do piso salarial,mais a lamentar que a comemorar

Em defesa dos engenheiros

Ulisses Kaniak , diretor-secretário, explica o que a Assessoria Jurídica doSenge-PR está fazendo para garantir o cumprimento da Lei Federal 4.950-Ae mostra bons e maus personagens dessa história

Neste abril de 2009, a Lei Fe-deral 4.950-A, que instituiu o pisosalarial profissional, completa 43anos. Já falei noutras ocasiõessobre a lei, uma grande conquistapara os trabalhadores da enge-nharia, arquitetura, agronomia,química e medicina veterinária,além de outras profissões reco-nhecidas depois pelo sistemaConfea/Crea — geologia, geogra-fia e meteorologia.

Tantos anos passados, e infelizmente vive-mos um momento em que há pouco a se come-morar. Empresários e poder público se mostrampouco dispostos a valorizar seus profissionais e— de forma escancarada ou por subterfúgios— descumprem sistematicamente a lei.

No serviço público, a situação é pior, dado oentendimento legal de que o piso profissionalnão se aplica aos profissionais do regime estatu-tário. Ainda que isso não devesse impedir o admi-nistrador público (ciente da importância de terprofissionais qualificados, que serão respon-sáveis por obras e serviços fundamentais aodesenvolvimento do município, estado ou País)de valorizar e respeitar seu quadro funcional.

Ano passado, vivemos nova ofensiva dosbatalhões dos departamentos jurídicos dasempresas, sempre ávidos por demonstrar quealguma lei benéfica ao corpo funcional pode serdesconsiderada ou atropelada.

A “panacéia da vez” a aliviar o bolso dospatrões foi a incompreendida Súmula Vinculanten.º 4 do Supremo Tribunal Federal – editada, naverdade, para dirimir dúvidas sobre o pagamentodo adicional de insalubridade, outrora vinculadoincorretamente ao salário-mínimo. Ou seja,tentam usar contra o trabalhador um instrumentoque veio em benefício dele.

Mas os sindicatos e seus departamentosjurídicos, que também têm suas armas, alertamque a Justiça do Trabalho não deixou de reconhe-

cer nosso piso salarial profissional.Mesmo para o caso gerador dacitada súmula, o Tribunal Superiordo Trabalho (TST) e o próprioSTF mantêm o entendimento deque “deve continuar sendo cal-culado com base no salário-mínimo, enquanto não superada ainconstitucionalidade por meio delei ou coleção coletiva”. Logo, sóa edição de uma nova lei pode fa-

zer com que a atual deixe de ter efeito.

As ações coletivas no ParanáA Assessoria Jurídica do Senge-PR tem

vasta experiência na defesa do cumprimentoda Lei 4950-A, na esfera individual ou coletiva.Já em 1999, um primeiro grupo de engenheiros,funcionários da Empresa Paranaense deAssistência Técnica e Extensão Rural (Emater),ia aos tribunais em ações plúrimas, em buscado cumprimento desse direito, obtendosentenças vitoriosas na Justiça.

Depois, muitos deles tiveram que buscar, emnovos processos, a continuidade do cumprimentoda primeira decisão judicial, pois o salário daempresa voltou a ficar defasado e, até hoje, aEmater segue sem pagar o piso profissional.Essa longa espera demonstra com clareza odescaso pela profissão de engenheiro, no Pa-raná, que independe do governante de plantão.

No setor privado, o pessoal da CoagelCooperativa Agroindustrial foi pioneiro embuscar na Justiça o cumprimento da lei do pisoprofissional. A ação, impetrada em 2007, foijulgada recentemente, com sentença favorávelaos engenheiros, e em breve deve entrar emfase de execução. Em vista disso, a empresapartiu para o desespero, assediando moralmenteseus engenheiros agrônomos, tentando forçá-los a desistir do processo.

Contra o Instituto de Tecnologia para oDesenvolvimento (Lactec), uma Organização

Social de Interesse Público (Oscip), o Senge-PR também entrou com ação em 2007. OLactec alega que muitos dos postulantes nãosão contratados como engenheiros, mas simpesquisadores, e que por isso não cabe opagamento do piso profissional. Não é o queentende a Justiça, pois as funções que elesexercem são diretamente ligadas à suaformação em engenharia. Na Itaipu Binacional,o desrespeito ao piso suscitou ação também em2007. Ainda não houve qualquer decisão judicial.

O caso mais recente de descumprimentoda Lei Federal 4.950-A — e que teve reaçãoimediata do Sindicato — é o da Copel. Emfevereiro de 2009, a empresa de economia mistanão fez o devido reajuste no piso após o aumentodo salário-mínimo. Nossa empresa pública deeletricidade, orgulho dos paranaenses, que oSenge-PR defendeu de uma tentativa deprivatização no início da década, tornou-se a maisnova “fora-da-lei” em nossa lista.

Os fujõesAlguns sindicatos patronais que negociavam

com o Senge-PR deixaram de fazê-lo na últimameia década. Antes praticantes da Lei 4.950-A, passaram a sistematicamente tentar nosconvencer de que ela não é correta. Em funçãode nossa insistência pelo cumprimento, setorescomo o metal-mecânico, o da construção civil eo das cooperativas foram “se esquecendo” dechamar o Senge-PR para a mesa de negociaçãoem suas datas-bases. Já a Cohab de Curitiba,diferente da co-irmã Urbs, não pratica o piso e,quando inquirida, prefere desconversar.

Os bons exemplosPara que não se diga que “os sindicalistas

estão isolados, se acham os senhores da ver-dade”, e para que não cometamos injustiças, éimportante citar quem continua a praticar o quediz a Lei. A Sanepar é um bom exemplo. Apesarde um achatamento na curva salarial, a empresa

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não deixa de pagar, com correção, o mínimoexigido por lei a seus profissionais. Já a Empresade Urbanização de Curitiba (Urbs) implantouhá dois anos o piso em seu plano de carreira,como parte de acordo para a retirada de açãoque o Senge-PR movera seis meses antes.

A iniciativa privada também tem seus “mo-cinhos”. A Daiken, em Colombo, Grande Curiti-ba, é um exemplo de empresa que faz questãode deixar claro que não paga a seus funcionáriosmenos do que determina a lei. Certamente, nãoé à toa que tem só crescido no mercado. Valori-zar quem promove o crescimento da empresaou o bem comum da comunidade nunca foi máideia. Pena que muitos administradores por aíainda rezem pela cartilha do “foco no lucroimediato e descaso às pessoas”, a mesma quecausou a atual crise da economia mundial.

A lei e as entidades de classeOs órgãos de regulamentação e defesa da

profissão têm agido conjuntamente em prol dopagamento do que é devido a seus represen-tados. O Conselho Federal de Engenharia,Arquitetura e Agronomia (Confea) conta comAssessoria Parlamentar que tem, dentre asatribuições, discutir e convencer o parlamentobrasileiro a criar, por força de lei, um piso quevalha para todos profissionais do sistema, semdistinção, com um texto que não deixe margema interpretações dúbias ou mal-intencionadas.

A Federação Interestadual dos Sindicatosde Engenheiros (Fisenge) articula discussões en-tre os sindicatos e coordena o projeto de Valoriza-ção Profissional do Confea. O Crea-PR age nafiscalização e, impulsionado pelo Sindicato, tembuscado aprimorar seus métodos. E nós, no Sen-ge-PR, estamos à disposição da categoria paralutar pelos seus direitos. Se você recebe menosque o piso profissional, ou conhece alguém nessasituação, entre em contato conosco. Junte-seàs nossas batalhas. Não mediremos esforçospara garantir o respeito a essa conquista histórica.

Senge-PR vai à Justiçapara obrigar Copel acumprir a lei e pagarpiso profissionalAção foi impetrada na Justiça Trabalhista em março

Copel para que explicasse como e quando fariao reajuste do piso salarial dos engenheiros. Masempresa simplesmente comunicou que ratifi-caria o desrespeito aos engenheiros e não au-mentaria o piso. Assim, só restou ao Sindicatobuscar a Justiça para corrigir o erro da Copel.

A conquista do pagamento do piso salarialprofissional em Acordo Coletivo de Trabalho éresultado de uma luta de muitos anos dos en-genheiros e do Senge-PR. Há dez anos que aempresa acatou a reivindicação e passou a res-peitar um direito fundamental da categoria, aindaque até 2004 entendesse que ele valia oitosalários-mínimos e meio. Em mais uma vitóriados engenheiros e do Senge-PR, a Copel passoua respeitar o piso de nove mínimos em outubrode 2004. Agora, lamentável e arbitrariamente,quer retirar de seu corpo técnico um direitodefinido em lei e conquistado após muita luta.

Tramita na Justiça trabalhista desde marçoa ação movida pelo Senge-PR para obrigar aCopel a pagar o piso salarial profissional dosengenheiros, definido pela Lei Federal 4.950-A/66 em nove salários-mínimos. Nas difíceisnegociações do Acordo Coletivo de Trabalho2008/09, a empresa deixou claro que não iriareajustar o salário dos engenheiros após o au-mento do mínimo, em fevereiro.

Para justificar a irregularidade, a empresase apoia numa interpretação equivocada desúmula vinculante do Supremo Tribunal Federalque desvincula reajustes adicionais deinsalubridade do salário-mínimo. Mas, ainda nasreuniões do ACT, o Senge-PR esclareceu quea súmula não diz respeito ao piso profissional,mas sim ao cálculo do adicional de insalubridade.

No início de janeiro, às vésperas do aumentoanual do salário-mínimo, o Senge-PR pediu à

Copelianos na assembleia do ACT 2008/09, em que a Copel resolveu passar por cima de direito histórico da categoria

Alexsandro Teixeira Ribeiro

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A remune-ração média dos11.144 enge-nheiros com em-prego formal noParaná era deR$ 5.301,77 em2007, indicam osdados da Rela-ção Anual de In-formações So-ciais. A Rais, como é conhecida, é um registroadministrativo do Ministério do Trabalho eEmprego (MTE) que nos permite mensuraro estoque de empregos formais nos finais dedezembro. Ou seja — o levantamento nãoinclui engenheiros que atuam como profis-sionais autônomos. Os dados coletados em2007 são os mais atuais disponíveis.

A Rais também indica que vem aumen-tando a participação das mulheres no mercadode trabalho de engenharia, ainda que em pro-porção menor que a observada na maioriadas outras categorias profissionais. Em 2007,as mulheres eram 14,51% de todos os enge-nheiros empregados no Paraná. Ante 2006,o número de engenheiros empregados cres-ceu 10,18% no Paraná, com a criação de1.030 empregos formais na área. A maiorparte dessas novas vagas foi ocupada pormulheres — a participação delas no mercadode trabalho formal de engenharia cresceu14,11% entre 2006 e 2007, ante um aumentode 6,85% na ocupação dos homens no período.

Da mesma forma, o rendimento dasmulheres subiu bem mais que o dos homens– o aumento médio foi de 9,54% e 2%,respectivamente. Mas a desigualdade salarialpersiste – as mulheres recebem 77% dosalário dos engenheiros. O salário médio dasengenheiras, em 2007, era de R$ 4.252,06,ante rendimento mensal médio de R$ 5.479,94dos engenheiros – uma diferença substancial,de R$ 1.227,88.

Rais: salário médio do engenheiroparanaense é superior a R$ 5 mil

Economia

Mas mulheres ainda ganham cerca de R$ 1 mil por mês a menos,aponta levantamento do Ministério do Trabalho. A avaliação é doeconomista Fabiano Camargo , da subseção do Dieese no Senge-PR

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O salário médio, por gêneroEmpregos formais % Salário médio (em R$)

Homens 9.527 85,49 5.479,94

Mulheres 1.617 14,51 4.252,06

Total 11.144 100 5.301,77

A distribuição por categoriaEmpregos formais % Salário médio (em R$)

Engenheiros mecatrônicos 4 0,04 3.929,65

Pesquisadores de engenharia e tecnologia 213 1,91 5.087,69

Engenheiros em computação 105 0,94 4.965,51

Geólogos e geofísicos 92 0,83 5.300,56

Engenheiros civis e afins 3.255 29,21 4.724,51

Engenheiros eletricistas, eletrônicos e afins 1.721 15,44 6.835,11

Engenheiros mecânicos 1.216 10,91 6.041,45

Engenheiros químicos 492 4,41 5.581,31

Engenheiros metalurgistas e de materiais 118 1,06 6.862,58

Engenheiros de minas 17 0,15 6.820,95

Engenheiros agrimensores e cartógrafos 79 0,71 3.730,59

Eng. de produção, qualidade e segurança 1.417 12,72 5.058,33

Engenheiros agrônomos 2.386 21,41 4.705,05

Geógrafos 29 0,26 4.353,42

Total 11.144 100 5.301,77

Fonte: Rais/Subseção Dieese/Senge-PR

Os engenheiros, por faixa de rendaEmpregos formais % Salário médio (em R$)

Até 5 salários-mínimos 884 8,74 745,00

De 5 a 7 mínimos 1.119 10,04 2.309,92

De 7 a 10 mínimos 2.437 21,87 3.317,84

De 10 a 15 mínimos 2.894 25,97 4.658,62

De 15 a 20 mínimos 1.590 14,27 6.539,17

Mais de 20 mínimos 1.985 17,81 11.773,88

Remuneração ignorada 179 1,61 —

Total 11.144 100 5.301,77

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Março / Abril de 2009 19

Em 2007, 58,05% dos engenheiros pos-suíam rendimento superior a 10 salários-mínimos. A Rais indica que a maior partedos engenheiros (25,97%) recebia entre 10,01e 15 salários mínimos. Embora a distribuiçãodos engenheiros por faixa salarial tenhamudado pouco em relação a 2006, houvequeda significativa (15,54%) na participaçãodos engenheiros na faixa de rendimento demais de 20 salários-mínimos, que explica oaumento de 6,9% na quantidade de profis-sionais recebendo entre 10,01 e 15 mínimos.Além disso, 18,78% dos engenheiros tinhamrendimento mensal inferior a sete salários-mínimos – ou seja, menor que o piso profis-sional de nove mínimos, definido pela LeiFederal 4.950-A.

Categorias e faixas etáriasA maior parte dos engenheiros empre-gados

formalmentem em 2007 eram civis (29,21%),agrônomos (21,41%), eletricistas, eletrônicos eafins (15,44%) e de produção, qualidadesegurança (12,72%), aponta a Rais. A pesquisaindica que engenheiros metalurgistas e de mate-riais são os que possuíam a maior remuneraçãomédia — R$ 6.862,58. Por outro lado, os enge-nheiros agrimensores e cartógrafos recebiamem média R$ 3.730,59 — 45,37% menos queos maiores salários médios da categoria.

De acordo com a Rais, os engenheiros comidades entre 30 e 39 anos eram 30,69% dosprofissionais com empregos formais em 2007.Além disso, os trabalhadores com idades até 39anos eram 55,99% do total de empregados.

Na distribuição dos engenheiros por setorde atividade econômica, vemos que a maiorparte está empregada na indústria detransformação (30,69%). Os maiores saláriosmédios estão na atividade extrativa mineral (R$10.186,45). Na outra ponta, a construção civilpaga os menores rendimentos – média de R$3.478,29. Nesse caso, o menor salário médioequivale a 34,15% do maior salário médio.

Giro pelo interior

Campo Mourão: Sindicatodenuncia Coagel por assédiomoral e desrespeito ao piso

O Senge-PR denunciou em março aCoagel Cooperativa Agroindustrial por faltade pagamento do piso salarial dos enge-nheiros, do adicional de insalubridade eassédio moral. Na denúncia apresentada aoMinistério Público do Trabalho (MPT), oSindicato explica que a Coagel orientouseus gerentes a coagir os empregados paraque desistissem de ações trabalhistas —caso contrário, sofreriam punições. O Sen-ge-PR apurou que os gerentes recebiamofícios com os nomes dos empregados quemoviam ações contra a empresa. O pisosalarial dos engenheiros, que vale novesalários-mínimos, é definido pela lei federal4.950- A/66. Mas a Coagel paga saláriosinferiores, o que é ilegal. Os engenheiros daCoagel trabalham expostos a agentes noci-vos à saúde, mas a empresa se recusa apagar o adicional de insalubridade. “ACoagel submeteu seus funcionários atrabalhar sem o adicional assegurado porlei, e utilizou-se de abominável condutaabusiva, respaldada no abuso do podereconômico, produzindo verdadeiro terrorpsicológico contra os trabalhadores, quenão tiveram escolha que não sesubmeterem à exposição humilhante econstrangedora”,diz o ofício enviado peloSenge-PR ao MPT. O Sindicato pede aoMinistério Público para apurar as denúnciase tomar as medidas administrativas ejudiciais cabíveis. Além disso, requer aintimação da Coagel, para que a empresacompareça a audiência com participaçãodo Senge-PR.

Pato Branco: por indicação doSenge-PR, Crea irá homenagearValter Bianchini

O Crea-PR vai homenagear o secre-tário da Agricultura e Abastecimento, ValterBianchini, com a medalha de mérito daCâmara de Agronomia. A indicação para ahomenagem partiu do diretor regional doSenge-PR em Pato Branco, Carlos Scipi-oni, e recebeu aprovação unânime dos con-selheiros em reunião realizada em abril. Deacordo com Scipioni, que também é

O trabalho das diretorias regionais do Senge-PR4

conselheiro do Sindicato no Crea-PR, a in-dicação deve-se a dois feitos de Bianchinirelevantes para o País, quando era secre-tário nacional de Agricultura Familiar doMinistério do Desenvolvimento Agrário —a retomada do Programa Nacional deAssistência Técnica e Extensão Rural, coma contratação de mais de cinco mil exten-sionistas, e o aumento nos investimentos doPrograma Nacional de Fortalecimento daAgricultura Familiar (Pronaf), de R$ 2 bi-lhões para R$ 4 bilhões. “O secretário eengenheiro agrônomo Valter Bianchini de-senvolveu e implantou diversos programasque colaboram para o avanço da agriculturano Paraná, como o Trator Solidário. Ele éresponsável por um grande trabalho no cres-cimento da agricultura com desenvolvimentosocial e humano” afirma Scipioni.

Francisco Beltrão: Senge-PRparticipa do Observatório Social

O escritório regional de Francisco Bel-trão do Senge-PR participa das reuniõessemanais do Observatório Social. De acor-do com o diretor regional Orley Jayr Lopes,o Observatório congrega representação dasociedade civil e do Movimento Nacionalpela Cidadania Fiscal, além de atuar comoorganismo de apoio à comunidade parapesquisa, análise e divulgação de informa-ções sobre o comportamento ético e a apli-cação de recursos por entidades e órgãospúblicos. “O Senge-PR participa do Obser-vatório para colaborar com o desenvol-vimento da sociedade”, diz Orley.

Londrina: Sindicato participa doComitê da Bacia do Paranapanema

Os diretores regionais do Senge-PR emLondrina, Nelson Salim Abbud, membro doComitê da Bacia do Rio Tibagi, e Almir DelPadre, do Comitê da Bacia do Rio das Cin-zas, participam das reuniões do Comitê daBacia do Rio Paranapanema. O Comitê, queenvolve os governos do Paraná e de SãoPaulo, é o primeiro trabalho dessa magnitudeno Brasil. O Senge-PR auxilia em questõestécnicas e políticas. Criado em março, oComitê é responsável por promover acooperação entre órgãos de coordenação egestores dos recursos hídricos.

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O Engenheiro n.º 99

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REMETENTE:Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná

Rua Marechal Deodoro, 630, 22.º andar, Curitiba.CEP 80010-912. Tel.: (41) 3224 7536. e-mail: [email protected]

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Agenda SindicalInformações sobre o dia-a-dia e a atuação do Senge-PR

A pedido do Senge-PR, O Crea está tomando providências parafiscalizar o cumprimento da lei federal 4.950-A/66 pela Copel, quedefine piso salarial de nove salários-mínimos para engenheiros. Nofinal de abril, a empresa deveria entregar a fiscais do Conselho umaplanilha com detalhes como cargo, local de atuação e salário dos en-genheiros copelianos.

“Após a análise da planilha, vamos ver qual caminho tomar. Oprimeiro passo deverá ser convocar reunião com a superintendência

Crea-PR pode autuar Copel pordescumprimento da lei do piso profissional

de Recursos Humanos da empresa para verificar qual a posição arespeito do piso salarial profissional. Ao final do processo, a Copelpode ser autuada por descumprir o piso salarial profissional”, explicaMario Guelbert Filho, gerente regional do Crea-PR em Curitiba. “ALei Federal 4.950-A, que criou o piso, está em vigor”, diz, taxativo.

O Senge-PR pediu fiscalização do pagamento do piso salarial naCopel em março, em ofício enviado por Valter Fanini ao presidente doCrea-PR, o engenheiro agrônomo Álvaro José Cabrini Júnior.

Copel elege engenheiro paraConselho de Administração

O engenheiro eletricista Nilton Camar-go Costa, da Diretoria de Distribuição, foieleito representante dos funcionários noConselho Administrativo da Copel emeleição realizada na segunda-feira (23). Omandato vai até 2011. “A eleição de Niltoné uma grande notícia. Temos certeza deque os empregados serão representadosno Conselho de Administração por alguémconsciente com o seu dever. Nilton jácomprovou sua competência como repre-sentante dos empregados na comissão quetrata da Participação nos Lucros eResultados e como conselheiro do Crea,eleito pelo Senge-PR”, afirma UlissesKaniak, diretor-secretário do Sindicato.

Assembleia geral discutealterações no Estatuto doSindicato; participe

O Senge-PR realiza em maio aprimeira Assembleia Geral Ordinária de2009. Na reunião, o Sindicato vai apre-sentar o relatório de contas e atividadessindicais de 2008 e propor, discutir, e votaralterações no Estatuto. A Assembleia serárealizada em duas etapas — a primeiraem 4 de maio, às 19 horas, em todas assedes do Sindicato, e a segunda no dia 9,em Curitiba, às 13h30. Todos os associa-dos com as mensalidades em dia podemparticipar. No dia 9, também se reúne oConselho Deliberativo do Senge-PR, queirá discutir e aprovar eleições complemen-tares para a direção do Sindicato.

Construa um mundo melhor:seja voluntário em obrasde moradia popular

O Senge-PR convida todos os enge-nheiros com experiência em construçãocivil a prestarem assistência técnica vo-luntária em obras de moradias para famí-lias de baixa renda na Grande Curitiba ouem assentamentos rurais no Paraná. Osvoluntários vão receber do Sindicato auxí-lio financeiro para transporte e alimen-tação durante o trabalho. A atividade fazparte do projeto Casa Fácil, convênio fir-mado pelo Senge-PR com o Crea e o Sin-dicato dos Arquitetos do Paraná (Sindarq)em novembro passado. O projeto foi cria-do simultaneamente à lei federal 11.888,que garante assistência técnica pública egratuita no projeto, construção e reformade casas de famílias com renda de até trêssalários-mínimos. A lei reforça o artigo 6.ºda Constituição Federal, que assegura odireito social à moradia. Participe! Sejasolidário! Entre em contato com o Senge-PR pelo telefone (41) 3224 7536 (fale coma Neusa) ou mande email para [email protected] informando seu nome,endereço e telefone.

Senge-PR e Sindarqprestam assistência técnicaa assentados na Lapa

O presidente do Senge-PR, Valter Fanini,e a presidente do Sindicato dos Arquitetos eUrbanistas do Paraná (Sindarq), Ana Car-men de Oliveira, assinaram em março acor-do de prestação de assistência técnica

gratuita de reforma e ampliação de moradiasdas 108 famílias que vivem no assentamento,desde 7 de fevereiro de 1999. Coordenadopelo Movimento dos Trabalhadores RuraisSem Terra (MST), o Contestado também ésede de uma Escola Rural. As casas foramconstruídas às pressas, com recursos doadospelo Incra. Agora, cada família vai recebermais R$ 5 mil, para obras de melhoria nascasas. Para entregar o dinheiro, o Incraexige planejamento arquitetônico e de enge-nharia — papel do Sindarq e do Senge-PR.Os Sindicatos também vão ajudar na amplia-ção e melhoria de prédios de uso comum —caso da Escola Rural, de dormitórios paravisitantes e do refeitório.

Movimento quer metrôpúblico em Curitiba

Líderes departidos deoposição e demovimentossociais vãotrabalhar para que a prefeitura de Curitibareveja o modelo de parceria público-privadaescolhido para o metrô. Na última edição dojornal O Engenheiro, o presidente ValterFanini chamou a atenção para a fórmula —que socializa custos e privatiza lucros — epropôs que a sociedade fique com os ganhosdo metrô, administrando o sistema com umaempresa pública de abrangência metro-politana. A proposta chamou a atenção dodeputado estadual Tadeu Veneri, presidenteda Comissão de Assuntos Metropolitanos daAssembleia Legislativa, e da vereadoraProfessora Josete, ambos do PT.

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