jornal medicina - ed. 210
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Jornal publicado pelo Conselho Federal de Medicina. Periodicidade: MensalTRANSCRIPT
Após ajustes, MP 568/12 segue para sanção presidencial. Pág. 3
Planos de saúdeAção unifi cada expõe
descontentamentoPág. 4
Novo Código PenalDiplomas estrangeirosPF apura suspeitas de
irregularidadesPág. 5
ANO XXVII • Nº 210• JULHO/2012
Ortotanásia e eutanásia são abordados
Pág. 9
Saúde pública
CFM e CRMs alertam gestores e sociedade para a necessidade de medidas que visem proteger a vida e o bem-estar dos brasileiros Págs. 6 e 7
Conselhos denunciam problemas na assistência
Elp
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2 EDITORIAL
Compromisso cidadão
Desiré Carlos CallegariDiretor executivo do jornal Medicina
Os conselhos de medi-cina vêm constantemente alertando aos governos e à sociedade sobre a perti-nência da adoção de ações urgentes que garantam ao brasileiro aquilo que lhe é de direito: acesso à assis-tência em saúde de forma universal, integral e gratui-ta. No entanto, os alertas têm sido ignorados, colo-cando médicos e pacientes na zona cinza da incerteza e da insegurança.
Nesta edição do jor-nal Medicina, mais uma vez, revelamos fragmen-tos do caos, incompa-tível com um país que anuncia sucessivamente importantes avanços na área econômica. Mas do que adianta entrarmos para o clube dos mais ricos do planeta, se no íntimo vemos a popula-ção conviver com reali-dades dignas dos piores indicadores de desenvolvi-mento humano?
Para mudar esse pa-norama, fomos a campo, como em Alagoas. O tra-balho realizado pela re-cente Caravana da Saúde - patrocinada pelo Conse-lho Federal de Medicina e por 15 CRMs – testifi cou o importante papel da fi s-calização, papel privilegia-do que consta do escopo
legal de nossas entidades. Ao exercê-lo, confi rma-mos nosso compromis-so com a classe médica e com a defesa do mode-lo assistencial brasileiro. Outro exemplo de compromisso com a saú-de pública veio do Conse-lho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte (Cremern), que de manei-ra inédita acionou o Go-verno do Estado na Justi-ça. O motivo do pleito nos ombreia com a cidadania: questiona-se a negligência dos gestores para com os pacientes e pede-se a repa-ração dos danos coletivos causados. A experiência, apresentada nesta edição, obrigou toda a sociedade potiguar a repensar sua responsabilidade com o fi m da injustiça e da desigual-dade social.
Também direcionamos nosso foco para os garga-los enfrentados pela saúde suplementar, cuja falta de regulamentação a aproxi-ma cada vez mais do co-tidiano do Sistema Único de Saúde (SUS). A ação abusiva das operadoras de planos, que mantêm-se fi eis à lógica do lucro em detrimento do cumpri-mento de seu compromisso com o bem-estar, reside na mira do movimento mé-
dico. A possibilidade de novo protesto nacional no setor se materializa no ho-rizonte como mecanismo de pressão pelas mudanças aguardadas por todos.
No entanto, o jornal Medicina também teste-munha que os conselhos não expressam apenas seu engajamento na luta por uma medicina me-lhor. Os debates relacio-nados aos temas da ética médica permanecem re-levantes, como ocorre-rá no Fórum de Direito Médico, que acontecerá em agosto, em Curitiba. No encontro, temas como direito à saúde e li-minares, reparação de da-nos e sigilo médico alimen-tarão ricos debates, que poderão nortear futuros atos do CFM.
Os participantes ressal-tarão o cerne do compro-misso conselhal: zelar pela ética, pela transparência e pela lisura, promovendo a coerência entre a intenção e o ato.
Abdon José Murad Neto (Maranhão), Aloísio Tibiriçá
Miranda (Rio de Janeiro), Antônio Gonçalves Pinheiro
(Pará), Cacilda Pedrosa de Oliveira (Goiás), Carlos
Vital Tavares Corrêa Lima (Pernambuco), Celso Murad
(Espírito Santo), Cláudio Balduíno Souto Franzen (Rio Grande do Sul), Dalvélio de Paiva Madruga (Paraíba),
Desiré Carlos Callegari (São Paulo), Edevard José de
Araújo (AMB), Emmanuel Fortes Silveira Cavalcanti
(Alagoas), Frederico Henrique de Melo (Tocantins),
Gerson Zafalon Martins (Paraná), Henrique Batista
e Silva (Sergipe), Hermann Alexandre Vivacqua Von
Tiesenhausen (Minas Gerais), Jecé Freitas Brandão
(Bahia), José Albertino Souza (Ceará), José Antonio
Ribeiro Filho (Distrito Federal), José Fernando Maia
Vinagre (Mato Grosso), José Hiran da Silva Gallo
(Rondônia), Júlio Rufi no Torres (Amazonas), Luiz
Nódgi Nogueira Filho (Piauí), Maria das Graças Creão
Salgado (Amapá), Mauro Luiz de Britto Ribeiro (Mato Grosso do Sul), Paulo Ernesto Coelho de Oliveira
(Roraima), Renato Moreira Fonseca (Acre), Roberto
Luiz d’ Avila (Santa Catarina), Rubens dos Santos
Silva (Rio Grande do Norte)
* Por motivo de espaço, as mensagens poderão ser editadas sem prejuízo de seu conteúdo
A ação abusiva
das operadoras
de planos, que
mantêm-se fi eis
à lógica do lucro
em detrimento do
cumprimento de
seu compromisso
com o bem-estar,
reside na mira
do movimento
médico
“
“ Conselheiros titulares
Ademar Carlos Augusto (Amazonas), Alberto
Carvalho de Almeida (Mato Grosso), Aldair Novato
Silva (Goiás), Alexandre de Menezes Rodrigues
(Minas Gerais), Ana Maria Vieira Rizzo (Mato Grosso do Sul), Antônio Celso Koehler Ayub (Rio Grande do Sul), Antônio de Pádua Silva Sousa
(Maranhão), Ceuci de Lima Xavier Nunes (Bahia),
Dílson Ferreira da Silva (Amapá), Elias Fernando
Miziara (Distrito Federal), Glória Tereza Lima Barreto
Lopes (Sergipe), Jailson Luiz Tótola (Espírito Santo),
Jeancarlo Fernandes Cavalcante (Rio Grande do Norte), Lisete Rosa e Silva Benzoni (Paraná), Lúcio
Flávio Gonzaga Silva (Ceará), Luiz Carlos Beyruth
Borges (Acre), Makhoul Moussallem (Rio de Janeiro),
Manuel Lopes Lamego (Rondônia), Marta Rinaldi
Muller (Santa Catarina), Mauro Shosuka Asato
(Roraima), Norberto José da Silva Neto (Paraíba),
Renato Françoso Filho (São Paulo), Wilton Mendes
da Silva (Piauí)
Conselheiros suplentes
Mudanças de en de re ço de vem ser co mu ni cadas di re ta men te ao CFM
pelo e-mail [email protected]
Os artigos e os comentários assinados são de in tei ra res pon sa bi li da de dos au to res, não
re pre sen tan do, ne ces sa ria men te, a opi nião do CFM
Diretoria
Presidente:1º vice-presidente:2º vice-presidente:3º vice-presidente:
Secretário-geral:1º secretário:2º secretário:
Tesoureiro:2º tesoureiro:
Corregedor:Vice-corregedor:
Roberto Luiz d’ Avila
Carlos Vital Tavares Corrêa Lima
Aloísio Tibiriçá Miranda
Emmanuel Fortes Silveira Cavalcanti
Henrique Batista e Silva
Desiré Carlos Callegari
Gerson Zafalon Martins
José Hiran da Silva Gallo
Frederico Henrique de Melo
José Fernando Maia Vinagre
José Albertino Souza
Diretor-executivo:Editor:
Editora-executiva:Redação:
Copidesque e revisor:Secretária:
Apoio:Fotos:
Impressão:
Projeto gráfi coe diagramação:
Tiragem desta edição:Jornalista responsável:
Desiré Carlos Callegari
Paulo Henrique de Souza
Vevila Junqueira
Ana Isabel de Aquino Corrêa
Nathália Siqueira
Thiago de Sousa Brandão
Napoleão Marcos de Aquino
Amanda Ferreira
Amilton Itacaramby
Márcio Arruda - MTb 530/04/58/DF
Gráfi ca e Editora Posigraf S.A.
Mares Design & Comunicação
350.000 exemplares
Paulo Henrique de Souza
RP GO-0008609
Publicação ofi cial doConselho Federal de Medicina
SGAS 915, Lote 72, Brasília-DF, CEP 70 390-150Telefone: (61) 3445 5900 • Fax: (61) 3346 0231
http://www.portalmedico.org.br [email protected]
Abdon José Murad Neto, Aloísio Tibiriçá Miranda,
Cacilda Pedrosa de Oliveira, Desiré Carlos Callegari,
Henrique Batista e Silva, Mauro Luiz de Britto Ribeiro,
Paulo Ernesto Coelho de Oliveira, Roberto Luiz d’Avila
Conselho editorial
Abdon José Murad Neto (Maranhão), Alceu José
Peixoto Pimentel (Alagoas), Aldemir Humberto Soares
(AMB), Aloísio Tibiriçá Miranda (Rio de Janeiro),
Cacilda Pedrosa de Oliveira (Goiás), Carlos Vital
Tavares Corrêa Lima (Pernambuco), Celso Murad
(Espírito Santo), Cláudio Balduíno Souto Franzen (Rio Grande do Sul), Dalvélio de Paiva Madruga (Paraíba),
Desiré Carlos Callegari (São Paulo), Gerson Zafalon
Martins (Paraná), Henrique Batista e Silva (Sergipe),
Hermann Alexandre Vivacqua Von Tiesenhausen
(Minas Gerais), Jecé Freitas Brandão (Bahia), José
Albertino Souza (Ceará), José Antonio Ribeiro Filho
(Distrito Federal), José Fernando Maia Vinagre (Mato Grosso), José Hiran da Silva Gallo (Rondônia), Júlio
Rufi no Torres (Amazonas), Luiz Nódgi Nogueira Filho
(Piauí), Maria das Graças Creão Salgado (Amapá),
Mauro Luiz de Britto Ribeiro (Mato Grosso do Sul), Paulo Ernesto Coelho de Oliveira (Roraima),
Pedro Eduardo Nader Ferreira (Tocantins), Renato
Moreira Fonseca (Acre), Roberto Luiz d’ Avila (Santa Catarina), Rubens dos Santos Silva (Rio Grande do Norte), Waldir Araújo Cardoso (Pará).
Parabéns pela campanha. Fiquei orgulhoso pelo
posicionamento do CFM e CRMs. Há tempos
pleiteamos melhores condições de trabalho e
remuneração. Jamais fomos atendidos de forma
justa como a importância de nossa profi ssão e a
urgência da situação exigem. Quanto mais realista
e direta for nossa reivindicação, maior será a nossa
chance de sucesso nessa luta. Estamos juntos!
Luiz Fernando Luz Barreiros CRM-RJ 560944
Parabéns pela campanha veiculada em junho. De-
vemos, como classe, exercitar o poder do conven-
cimento para conquistar o óbvio: a valorização dos
conhecimentos aplicados a nossa sociedade, por
conta de uma saúde pública que não oferece as con-
dições mínimas necessárias para um atendimento.
Joseane Ribeiro de Menezes GranjaCRM-AL 730
Por que nossas entidades de classe não fazem
mobilização contra as péssimas condições de
atendimento e de trabalho no SUS, contra as
remunerações aviltantes e a ingerência políticas
nos serviços médicos públicos?
Alberto Veiga CRM-MG 9628
CFM Responde – O CFM e os CRMs têm
lutado pela solução desses problemas. Já ocor-
reram mobilizações nacionais, como a de 25 de
outubro de 2011, quando médicos de todo o país
chamaram a atenção para a crise no setor. Reu-
niões com gestores e parlamentares buscam tam-
bém respostas para este quadro. É importante o
engajamento de todos os colegas no esforço de
sensibilizar o país para a valorização da medi-
cina e a defesa da qualidade na assistência, não
por acaso tema da campanha recém-lançada.
Até que enfi m estamos reagindo diante de ta-
manha irresponsabilidade e falta de respeito a
nós, profi ssionais, e à população em geral. Por
ser quem somos devemos lutar por condições
ideais de trabalho e por uma assistência digna
para nosso povo! Parabéns a todos!
Eliane da Conceição Remígio CamachoCRM-AL 1327
Parabéns aos conselhos por mostrarem as condi-
ções de trabalho e de atenção à saúde. Há muitos
brasileiros morrendo nos serviços de emergência.
Está decretada a desumanização em todos os ní-
veis. Essa situação deve ser divulgada, cobrando-
se uma saúde pública digna.Como cidadãos, te-
mos que cobrar dos gestores um atendimento
melhor, respeitando os dogmas da medicina.
Mozar Dias de AlmeidaCRM-RN 1264
Cartas* Comentários podem ser enviados para [email protected]
3POLÍTICA E SAÚDE
A partir de agora, a atenção dos brasileiros direciona-
se para as eleições municipais de 2013, quando serão es-
colhidos os novos prefeitos e vereadores. No momento em
que o país apresenta um cenário promissor de desenvolvi-
mento social e econômico, este pleito tem significado es-
pecial para a saúde, uma das áreas mais negligenciadas
pelos nossos governantes ao longo da história.
Como o arcabouço legal do atual modelo de assistên-
cia brasileiro prevê a regionalização e a descentralização
da assistência entre seus princípios norteadores, caberá
aos que forem eleitos implementarem as medidas – em
sua esfera de atuação – que terão efeito nas condições
de trabalho de médicos e outros profissionais da saúde.
Tais ações repercutirão, inevitavelmente, onde mais
interessa: na melhoria do atendimento oferecido aos cida-
dãos e em sua satisfação com os serviços e cuidados realiza-
dos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Impossível ignorar
que o brasileiro ainda avalia mal esse modelo, exemplar
em seus marcos teóricos, contudo distante da efetivida-
de na rotina de consultórios, postos de saúde e hospitais.
As pesquisas de opinião confirmam isso. Os sucessi-
vos levantamentos colocam a insatisfação com a saúde
como a pedra no sapato do governo federal. Por exten-
são, não é difícil imaginar que este cenário se reproduz na
grande maioria dos municípios, onde proliferam denún-
cias e casos escabrosos, apresentados pela imprensa, que
transformam os prontos-socorros em símbolos do caos.
É preciso vontade política, empenho técnico e o envol-
vimento de cada cidadão no processo eleitoral para um
Brasil mais ético e justo. Quando o eleitor faz a sua parte,
a nação entra no trilho certo.
Mas como fazer isso? É simples: basta se apropriar de
forma responsável de seu direito de escolha. Este ato impli-
ca, entre outros pontos, em uma avaliação de candidatos
e propostas para escolher aqueles realmente preparados
e comprometidos com o bem público. Este esforço cívico
coletivo pode dar o impulso para superar a crise na saúde.
Neste processo, os médicos têm papel de responsabi-
lidade. Conhecem as engrenagens do SUS e, principal-
mente, as necessidades sociais.
Vivemos, ainda, um momento ímpar. Uma série de
medidas e ações implementadas significam o amadu-
recimento de nossas estratégias e têm se traduzido em
avanços e conquistas. Assim, o domínio da arte de fazer
política – de forma positiva – tem sido usado em benefício
dos médicos e pacientes.
Não por acaso, conseguimos reverter a trajetória da
MP 568/12, tirar a Agência Nacional de Saúde Suple-
mentar (ANS) de sua inércia e agregar apoios importan-
tes para temas fundamentais.
E é assim que queremos dar nossos passos. Livres de
interesses políticos, partidários ou ideológicos, mas – de
forma individual e por meio de nossas instituições – ofe-
recendo contribuições para que o Brasil – como projeto
de nação – seja ancorado na percepção de que avanços
econômicos somente são válidos se seus ganhos forem es-
tendidos aos cidadãos também na área social. Continua-
remos nesta luta pela medicina, pela saúde e pelo direito
constitucional de 196 milhões de pessoas.
JORNAL MEDICINA - JUL/2012
MP 568/12
O Conselho Federal de Medicina (CFM)
avalia positivamente o encaminhamento dado à Medida Provisória (MP) 568/12 após as manifes-tações dos médicos no Congresso Nacional, que conquistaram o apoio dos parlamentares. Foram cor-rigidas graves distorções que atingiam a classe mé-dica e o texto segue, agora, para sanção presidencial.
O relatório do senador Eduardo Braga (PMDB-AM), que recebeu aval dos médicos, foi aprovado em 4 de julho na Câmara dos Deputados e uma se-mana depois, no dia 11 de julho, também no Senado Federal, com as correções pertinentes à carga horária e aos artigos que instituíam remuneração fi xa de grati-fi cação por insalubridade e periculosidade, bem como a exclusão, do texto, da
chamada Vantagem Pes-soal Nominalmente Identi-fi cada (VPNI).
Foram dois importan-tes passos favoráveis à ca-tegoria médica, após várias mobilizações e engajamen-to de entidades estaduais e nacionais contra a MP que altera a remuneração de diversas categorias do serviço público federal, in-cluindo médicos. O texto inicial reduzia em 50% a remuneração dos médicos em razão de alterações na carga horária, entre outros prejuízos.
Ao comentar a apro-vação no Senado, os con-selheiros do CFM ressal-taram a importância da articulação da categoria para reverter o texto e questionaram a posição do governo federal, que tratou as distorções como um “equívoco”. Para a entidade, trata-se de um
movimento claro no Brasil e no mundo de políticas de austeridade que estão sendo impostas “para a po-pulação pagar a conta de um défi cit pelo qual não é responsável; pagar a conta da anarquia fi nanceira que tomou conta de vários paí-ses”, defendeu o presidente do CFM, Roberto d’Avila. “É a tramitação de uma MP que nunca deveria ter sido editada. A nosso ver, não foi nada improvisa-do, era uma real intenção do governo essa redução dentro do programa de austeridade imposta ao funcionalismo público, que agora faz signifi cativo mo-vimento reivindicatório em todo o país. Essa MP foi, sim, planejada, haja vista ser proveniente do Minis-tério do Planejamento, Or-çamento e Gestão, sendo revertida graças à mobili-zação dos médicos”, des-taca Aloísio Tibiriçá, que coordena no CFM a Co-missão Nacional Pró-SUS. Após a aprovação no Senado, a MP passou a tramitar como Projeto de Lei de Conversão (PLV) 14/12, que segue para san-ção da presidente Dilma Rousseff, podendo haver algum veto. As entidades médicas esperam que seja mantido o relatório do se-nador Eduardo Braga.
Texto vai à sançãoApós movimento contra distorções no texto inicial,relatório acolhe reivindicações e é aprovado no Congresso Roberto Luiz d’Avila
PALAVRA DO PRESIDENTE
Vitória: Senado aprova a MP com distorções corrigidas
Se
na
do
Fe
de
ral
As lideranças médicas
continuam acompanhando
o trâmite da MP 568/12
e pretendem avançar nas
conquistas em direção ao
plano de cargos, carreiras
e salários para os médicos
e na implantação de uma
carreira de Estado. O con-
selheiro federal Alceu José
Peixoto Pimentel, coor-
denador da Comissão de
Assuntos Políticos (CAP)
– que agrega membros do
CFM, Associação Médica
Brasileira (AMB) e Fede-
ração Nacional dos Médi-
cos (Fenam) –, destaca que
o movimento médico tem
que comemorar a aprova-
ção, mas ter bem claro o
entendimento de que “essa
foi a vitória que buscava a
manutenção de conquistas
já consolidadas”.
De acordo com o re-
lator, senador Eduardo
Braga (PMDB-AM), os
médicos não serão prejudi-
cados e a expectativa é de
que estes meses de prejuízo
sejam ressarcidos – o novo
texto prevê a retroatividade
destes valores.
Pimentel destaca, ain-
da, que o movimento pre-
cisa fi car mobilizado na
perspectiva de avançar
com o objetivo de atingir
metas que são bandeiras
históricas de luta, “como a
carreira de Estado, os em-
bates contra a revalidação
automática de diplomas e a
busca do fortalecimento do
projeto Revalida, dos mi-
nistérios da Educação e da
Saúde, na perspectiva de
avaliar se o candidato está
apto a atender à sociedade
com qualidade, caso con-
trário poderá haver dano”.
Luta por correções continua
4 POLÍTICA E SAÚDE
JORNAL MEDICINA - JUL/2012
4 POLÍTICA E SAÚDE
Planos de saúde
Médicos preparam ação unifi cadaAlvos são os honorários recebidos; para movimento, relação entre médicos e operadoras atingiu ponto crítico
Médicos de todo o Brasil preparam
movimento unifi cado em protesto aos honorários das empresas de planos de saúde. A ação está prevista para outubro. Até lá, as negociações e assembleias ocorrerão regionalmente, pois as tratativas com as ope-radoras vêm sendo rea-lizadas estado por estado.
Segundo a Comissão Nacional de Saúde Suple-mentar (Comsu), a rela-ção de várias operadoras de saúde com os médicos chegou a um ponto críti-co. “Exigimos valorização e relação ética, já que dela
depende a adequada as-sistência a nossos pacien-tes”, apontou o grupo.
Busca-se dar um basta aos problemas que per-meiam a atual relação do trabalho médico com as operadoras. “Os pacientes pagam altos custos pela assistência, e os aumentos periódicos nas mensalida-des nunca são repassados no mesmo patamar aos médicos”, alerta o conse-lheiro federal Paulo Ernes-to. A categoria defende a adoção da Classifi cação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médi-cos (CBHPM) por todas as operadoras, reajuste
anual (com previsão em resolução da Agência Nacional de Saúde Suple-mentar (ANS), mas nun-ca cumprida) e respeito à autonomia do ato médico.
Distorção – Con-secutivos reajustes au-torizados pela ANS aci-ma do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) consolidam o cenário criticado pelas entidades médicas. Em geral, onera-se o usuá-rio e os honorários médi-cos continuam defasados.
Este ano, a ANS fi xou em 7,93% o índice máxi-mo de reajuste, superando a infl ação média acumula-
da no período, de 4,99%.
Para se ter uma ideia da
distorção, segundo dados
da própria ANS, o valor
médio pago por consulta
subiu apenas 28,2% de
2005 a 2010, passando de
R$ 31,38 para R$ 40,23,
enquanto o faturamento
anual dos planos médico-
hospitalares aumentou
101,1% no mesmo período.
Segundo a Comsu, o
médico é o único profi s-
sional que não tem o re-
ajuste garantido. “O que
tem garantido o nosso ho-
norário é a mobilização”,
afi rma o coordenador da
comissão, Aloísio Tibiriçá.
O formato das novas ações e outras estratégias de mobilização serão avaliadas pelos estados e encaminhadas na próxima reunião da Co-missão Nacional de Saúde Suplementar (Comsu), marcada para 17 de agosto. Após a realização dos protestos de 25 de abril, as entidades nacionais orientam as comissões estaduais de honorários médicos a prosseguirem negociando com as operadoras de planos de saúde em nível local. O movimento médico avalia que há avanços nas negociações com os planos de saúde desde as últimas mobilizações – a de abril deste ano e as de 2011 (em 7 de abril e 21 de setembro) –, nas quais médicos suspenderam atendimentos aos planos e realizaram atos pú-blicos. Os médicos entendem, porém, que os avanços alcançados ainda são insuficientes. Paralelamente a esse movimento, as entidades médi-cas cobram da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) a edição de uma resolução normativa que efetivamente garanta a assinatura de contratos adequados entre operadoras e médicos, e reajustes satisfató-rios. Uma normativa chegou a ser apresentada em maio pela ANS, mas não agradou a categoria médica por não garantir com eficácia o reajuste de contratos e estabelecer que o médico negociasse diretamente com os planos, mantendo-o em uma relação desigual, onde ele é mais fraco. Também será discutido com a ANS como evitar as glosas, a questão da inserção de critérios de credenciamento/descredenciamento etc.
Estratégias a definir
Para quem tem plano
de saúde em Belo Hori-
zonte (BH) a média de
espera no atendimento de
urgência e emergência é de
três horas, segundo levan-
tamento do CRM-MG. O
dado coloca o setor em pé
de igualdade com o serviço
prestado pelo SUS, com o
socorro chegando, em mé-
dia, a quatro horas.
Para o CRM-MG, a
rede particular está satura-
da na cidade e região me-
tropolitana, bem como em
outras capitais do Sudeste.
BH tem 1,28 milhão de
pessoas atendidas por meio
de planos de saúde, 25%
a mais que os 972 mil de-
pendentes da rede pública.
O conselheiro do CFM
representante de MG,
Hermann von Tiesenhau-
sen, compara a má presta-
ção do serviço dos planos
de saúde ao que ocorre no
setor de telefonia: “A rede
suplementar de saúde ven-
deu muitos planos, mas a
estrutura de atendimento
não foi ampliada”.
Para ele, na rede pública
a causa principal da falta de
preenchimento de postos
de trabalho decorre “dos
baixos salários, condições
de trabalho precárias e
falta de política de gover-
no no que concerne a um
plano de cargos, salários e
carreira adequado. Em pa-
ralelo, na saúde suplemen-
tar a baixa remuneração
é fator preponderante”.
Os planos de saúde fo-
ram alvo de uma média de
33 reclamações/mês no
Procon da Assembleia Le-
gislativa – que recebeu, até
25 de julho, 237 denúncias
relacionadas a mau aten-
dimento, demora, falta de
médicos e outros proble-
mas que causaram a insa-
tisfação dos conveniados.
A situação está sendo
tratada como crime pela
OAB de MG.
A garantia de reajustes anuais aos médicos que prestam serviços às ope-radoras de planos de saú-de teve mais uma vitória importante. A Comissão de Seguridade Social e Fa-mília (CSSF) da Câmara dos Deputados aprovou, por unanimidade, no dia 4 de julho, o parecer do deputado Eleuses Paiva (PSD/SP) pela aprovação do projeto que garantirá reajustes anuais aos médi-cos que prestam serviços às operadoras de planos de saúde: o Projeto de Lei 6.964/10.
Importante papel tam-bém teve o presidente da CSSF, deputado Mandet-ta (DEM/MS), que garan-
tiu a votação do projeto. “A atuação desses parla-mentares e das entidades médicas foi fundamental para o resultado fi nal”, avalia o coordenador da Comsu, Aloísio Tibiriçá.
Esta é antiga reivin-dicação do movimento médico. As comissões de Assuntos Políticos (CAP) e de Saúde Suplementar (Comsu) do CFM come-moraram a aprovação no Congresso. “Esse proje-to signifi ca o resgate das condições mínimas de di-reito do trabalhador”, dis-se o coordenador da CAP, Alceu Pimentel.
A tramitação do pro-jeto só ocorreu porque os deputados federais
Bruno Araújo (PSDB-PE) e Marcus Pestana (PSDB-MG) se sensibili-zaram com a mobilização das entidades médicas de seus estados e retiraram o pedido de apensamen-to do projeto a outras 40 matérias. A medida faria com que o projeto fi casse parado no Congresso.
O PL torna obrigatória a existência de contratos escritos entre as opera-doras de planos de saúde e os profi ssionais de saúde (pessoa física) ou estabe-lecimentos de saúde (pes-soa jurídica). Prevê em seu art. 3º (parágrafo 3º) a periodicidade anual e os critérios para reajuste dos valores dos serviços.
PL 6.964/10 recebe novo impulso
Em MG, saúde privada tem realidade de SUS
Respeito ao médico: movimento contra operadoras teve ações em abril
Va
lte
r C
am
pa
na
to A
Br
Longas fi las: a falta de cobertura prolonga a espera dos pacientes
5POLÍTICA E SAÚDE
JORNAL MEDICINA - JUL/2012
Fórum de Ensino Médico
Expostos desafi os à boa qualidadePolíticas para abertura de vagas e discussões sobre humanização tiveram destaque durante evento do CFM
Para o 1º vice-presiden-te do Conselho Fede-
ral de Medicina (CFM),
Carlos Vital, o plano de
o governo federal abrir
novas vagas em escolas
médicas terá efeitos nega-
tivos imediatos. “Primeiro
precisamos perguntar que
tipo de médico o Brasil
precisa”, avalia. A defesa
ocorreu durante o III Fó-
rum Nacional de Ensino
Médico, entre os dias 5 e 6
de julho, em Brasília (DF).
Vital afi rmou que o
Brasil ainda não tem do-
centes qualifi cados su-
fi cientes para as 196 es-
colas médicas existentes.
Defendeu ainda a con-
solidação do Exame Na-
cional de Revalidação de
Diplomas Médicos (Re-
valida) e declarou apoiou
ao Projeto de Lei 138/12,
do senador Paulo Davim
(PV/RN), que tem esse
propósito.
Humanização – O
segundo dia do fórum foi
destinado a discussões
sobre a humanização na
medicina. Para ampliar o
debate, o conferencista Abram Josek Eksterman ressaltou que terapêutica não é prescrever medica-mentos, mas sim estabele-cer vínculos. “O remédio mais utilizado na medicina é o próprio médico. O ato médico deve ser baseado na singularidade do doen-te”, defendeu.
A defesa dos valo-res humanos na relação médico-paciente foi outro destaque do encontro. O secretário-geral do CFM, Henrique Batista e Silva, defendeu uma medicina mais humanizada e ple-na: “Na idade moderna pensou-se que a razão do conhecimento e da tecno-logia seria sufi ciente para o progresso e a plena sa-tisfação da pessoa huma-na”, ponderou.
No mesmo sentido, Cláudia Burlá, geriatra integrante de câmaras técnicas do CFM que dis-cutem terminalidade da
vida, cuidados paliativos
e geriatria, defendeu uma
formação humanitária:
“Nosso compromisso não
é com a doença e sim com
a pessoa que merece toda
nossa consideração”. E
completou: “O tratamen-
to é absolutamente perso-
nalizado, pois cada pessoa
tem suas características,
o que nos obriga a ter a
visão do todo e não só de
um órgão doente”.
Para Burlá, por meio
do conhecimento da me-
dicina podemos aliviar
a dor, mas o sofrimento
transcende a medicina.
“Nós, médicos, temos a
obrigação de cuidar e pro-
teger nossos pacientes e
dar-lhes segurança”, diz a
especialista.
Em consonância com o entendimento consolidado pelo CFM, o con-selheiro Waldir Cardoso destacou, durante o fórum, que permanece o acompanhamento rigoroso do Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab) pelas entidades médicas. O essencial é assegurar que os compromissos estabelecidos durante a elaboração da proposta sejam cumpridos. Os participantes expuseram vários desafios ao seu aperfeiçoamento e defenderam a carreira de Estado como uma solução permanente de fixação.A presidente da Associação Nacional dos Médicos Residentes (ANMR), Beatriz Costa, expôs a insatisfação com o descumprimento de várias cláusulas acordadas durante a etapa de formulação do programa, considerado por ela “uma desculpa à população”, já que 70% das va-gas não foram ocupadas. Mônica Sampaio, diretora do Departamento de Gestão da Educação na Saúde (Deges), do Ministério da Saúde, disse estar ciente da dificuldade de provimento e afirmou que a ado-ção da carreira está em estudo. No entanto, diz que será mantida a estratégia de ampliar vagas “de forma ordenada, que dialoguem com a expansão da rede e com as necessidades do SUS”.
Conselhos atentos ao Provab
Em Brasília: discussões sobre formação e valores humanos
Revalidação é alvo de investigação da PFO CFM está colabo-
rando com investigações da Polícia Federal (PF) baseadas em indícios que apontam que algumas uni-versidades públicas esta-riam se benefi ciando com a revalidação de diplomas de medicina obtidos no exterior. Há relatos de que instituições chegam a co-brar o equivalente a R$ 4 mil pelo processo. O con-selho encaminhou à PF informações sobre regis-tros emitidos nos últimos três anos pelos CRMs, a partir de diplomas origi-nários de outros países. O CFM defende a con-validação do diploma de medicina feita com rigor e critério para proteger a so-ciedade do exercício ilegal da prática médica, impe-dindo a discriminação (no que se refere ao acesso aos serviços de qualidade) e assegurando o padrão mínimo a ser oferecido. O presidente do CFM, Ro-berto d’Avila, ressalta que
o processo de revalidação “deve acontecer a partir de marcos técnicos e le-gais bem delineados”.
Revalida – Para a convalidação destes diplo-mas, as entidades médicas apoiam a aplicação do Re-valida, projeto desenvol-vido a partir de uma par-ceria entre os ministérios da Educação e da Saúde. Até o momento, foram realizadas duas edições do exame, em 2010 (projeto piloto) e 2011.
As universidades que estão sendo investigadas
pela PF não aderiram ao Revalida, ou seja, man-têm processos paralelos de revalidação. Por conta disso, etapas importantes poderiam não estar sen-do cumpridas. O exame apoiado pelo CFM exige dos candidatos compro-vação documental dos cursos realizados e resul-tados positivos em provas teóricas, práticas, cogniti-vas e deontológicas. Pes-soas nascidas no exterior também devem compro-var profi ciência no idioma português.
Rigor: cumprimento de critérios garantem profi ssional preparado
Regras para registroCursos de pós-graduação lato sensu, ainda que reconhecidos pelo MEC, não têm valor para a atividade profissional e não habilitam ao médico se anunciar como especialista, tendo somente valor acadêmico.Apenas duas formas podem levar o médico a obter a especialização: por meio de uma prova de títulos e habilidades das sociedades de es-pecialidades filiadas à Associação Médica Brasileira e/ou por residên-cia médica reconhecida pela Comissão Nacional de Residência Médica. O alerta é feito pelo CFM, que tem debatido constantemente o assunto e está atento a propagandas de alguns cursos que induzem a interpre-tação equivocada. A entidade ressalta ainda que a residência multiprofissional é uma modalidade lato sensu destinada às categorias profissionais da área da saúde, exceto a médica (Lei 11.129/05). Em se tratando dessas três opções (residência multiprofissional, cursos de especialização e residência médica), apenas aos que cursaram esta última pode ser conferido o título de especialista.O médico somente poderá anunciar especialidade quando o título esti-ver registrado no CRM. A Resolução CFM 1.634/02 traz mais detalhes sobre a questão.
Lato sensu não é especialização
6 POLÍTICA E SAÚDE
JORNAL MEDICINA - JUL/2012
O Ministério Público
Federal (MPF), por meio
dos procuradores regionais
dos Direitos do Cidadão
de cinco estados da região
Amazônica, encaminhou
ofício ao Ministério da
Saúde (MS) para reco-
mendar a implantação de
melhorias nas condições
de trabalho de médicos vi-
sando fi xar os profi ssionais
na região.
No ofício, os procu-
radores de Amapá, Ma-
ranhão, Pará, Rondônia e
Tocantins indagam sobre
as medidas que vêm sen-
do adotadas para reduzir
o défi cit de médicos no
interior desses estados. O
MS tem 30 dias para apre-
sentar respostas ao MPF.
Na avaliação do presi-
dente do CFM, Roberto
Luiz d’Avila, a iniciativa do
MPF promove na socieda-
de uma refl exão mais pro-
funda sobre a desigualda-
de de acesso à assistência
médica no Brasil. Em seu
entender, a criação de uma
carreira de Estado para o
médico do SUS é a melhor
solução para regiões como
a Amazônica.
Com a implementa-
ção da proposta, o médico
que ingressasse na carrei-
ra contaria com melhores
condições de exercer seu
papel. Os conselheiros
Abdon José Murad Neto
e Maria das Graças Creão
Salgado, respectivamente
representantes do Ma-
ranhão e do Amapá no
CFM, confi rmam que os
médicos se sentem deses-
timulados a fi xar residência
no interior de seus estados.
“Em geral, as condi-
ções de trabalho são ina-
dequadas, os contratos de
trabalho são precários, os
salários são baixos e não
há preocupação com a ne-
cessidade de um programa
de educação continuada
para os profi ssionais”, diz
Maria das Graças.
“A falta de estrutura
de trabalho e de estímulos
para que o médico se fi xe
em municípios do interior
é um fato. A iniciativa
do Ministério Público se
soma aos nossos esfor-
ços para que a situação
seja corrigida”, acrescenta
Murad Neto. “Com políti-
cas públicas que permitam
que cidadãos brasileiros
da Amazônia sejam pri-
vados de atendimento
médico, e que imponham
deslocamentos por ho-
ras ou dias de barco para
consultas simples ou para
atendimentos médicos
de urgência com risco de
agravamentos e mortes
para quem não reside em
grandes cidades, não se
tem a concretude práti-
ca da nossa Constituição
Federal para os povos na
Amazônia, no que tange ao atendimento à saúde e a garantia à vida de forma digna”, avaliam os procu-radores no ofício (veja outros itens abaixo).
De acordo com dados da pesquisa Demografi a
médica no Brasil: dados gerais e descrições de de-sigualdades, do CFM, o Brasil tem média de 1,95 médicos por mil habitan-tes. A região Norte, 0,95 médico por mil habitantes; a região Nordeste, 1,19.
Os representantes dos
conselhos regionais de medi-
cina (CRMs) decidiram, du-
rante reunião com diretores
do CFM, em Brasília, unir
esforços para capilarizar em
vários estados a Campanha
pela valorização da Me-
dicina e da assistência em
Saúde, lançada pelo CFM
em junho. O objetivo é sen-
sibilizar a população para a
ausência de políticas públi-
cas que afeta o setor saúde
e a falta de recursos para
garantir o funcionamento
do Sistema Único de Saú-
de (SUS) em sua plenitude.
Para superar esse quadro,
os médicos cobram melho-
rias na rede de assistência
e condições de trabalho.
O apelo à sociedade já
foi veiculado em canais de
TV a cabo e deve, agora,
ser replicado em mídias lo-
cais e regionais e veículos
institucionais de alguns con-
selhos, de acordo com a dis-
ponibilidade de cada um. A
campanha também aparece
em distintas peças, como
cartazes, banners de inter-
net, spots de rádio e fi lmes
para a televisão. No vídeo,
também disponível no site
do CFM (www.portal-
medico.org.br), pacientes
e médicos mostram estar do
mesmo lado na batalha diá-
ria por um atendimento de
qualidade. Em sua primeira
parte, atores reproduzem
depoimentos colhidos junto
a pacientes; na conclusão,
uma atriz – representando a
classe médica – afi rma que
a categoria também não
está satisfeita com a situa-
ção e espera por mudanças.
No hotsite da cam-
panha (fl avors.me/va-
lorizacaodamedicina) é
possível conhecer detalhes
da iniciativa, assistir ao
vídeo, conhecer e baixar
as peças, além de ouvir
o spot de rádio. O CFM
enviará aos CRMs o ví-
deo para veiculação local.
Saúde pública
Campanha dos conselhos: objetivo é sensibilizar a sociedade
Conselhos e MPF cobram respostasO Brasil enfrenta momento delicado na assistência pública em saúde. Os problemas se multiplicam e soluções estruturantes tardam a acontecer. Os conselhos agem pela superação das difi culdades e reforçam seu compromisso com a sociedade. Em reuniões periódicas entre os conselheiros federais e os presidentes de CRMs, o cenário passa por avaliação. Recente recomendação do MPF mostra que a preocupação não se limita às entidades médicas. Nas páginas 6 e 7, apresentamos alguns exemplos da crise e a repercussão nos estados.
CRMs darão reforço a campanhaE
lpíd
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ún
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SSSSaaaaúúdddeeee nnnnnnnnnoooooooo BBBrraaaasssssssiiiiiiilll.. O país tem uuuuuuuuurrrrrrrrrrrgggggggêêêêênnnnnnncccccciiiiiaaaaa ddddddddddddddeeeeeeee seeeerrrrr bbbbbemmmm tttttttttrraaaaaaattttttttttttaaaaaaaadddddddddddoooooooo. EEEEEEE ooooooo ssssseeeeeeeuuuuuuuuuuu mmmmmmmmmmmmmméédicccooo tttttttaaaaaaammmbbbbbbbbbbéééééémmmmmm..
www.portalmedico.org.br
i i d l di bl
Procuradores questionam Ministério da Saúde
Destaques do pedido encaminhado• A saúde é direito de todos e dever do Estado, competindo a este garantir, por meio de políticas sociais, a redução do risco de doenças e o acesso universal e igualitário às ações e serviços.
• As desigualdades socioeconômicas e sanitárias no país têm forte ex-pressão territorial, indicando a importância da execução de políticas pú-blicas regionais de saúde.
• Indicador [do estudo “Demografia médica no Brasil”, do CFM] demons-tra que, quanto maior o número, maior será o total de médicos que atuam na área privada, em detrimento da pública.
• Cabe ao Ministério da Saúde a análise e criação de políticas nacionais, que levem em consideração as peculiaridades locais, que possam auxiliar na fixação e interiorização de médicos em municípios da Amazônia Legal.
• O Ministério Público Federal, por meio de procuradores regionais dos Di-reitos do Cidadão que atuam na Amazônia Legal recomenda a realização de medidas que fixem e deem condições de trabalho a maior quantidade de médicos na Amazônia Legal.
7POLÍTICA E SAÚDE
JORNAL MEDICINA - JUL/2012
O Conselho Regional
de Medicina do Estado de
Alagoas (Cremal) visitou,
com o projeto Caravana
Nacional da Saúde, três
municípios do estado e ve-
rifi cou que os serviços de
assistência em saúde estão
aquém das necessidades da
população. “É sobretudo o
nosso espírito de cidadania
que nos trouxe aqui, nessa
caravana. Ouvimos a opi-
nião dos usuários do serviço
público a fi m de colhermos
a percepção que eles têm”,
disse o presidente do Cre-
mal, Fernando Pedrosa.
Uma queixa recorren-
te é a falta de acesso ao
médico, principalmente
no caso de consultas ele-
tivas. O número de pro-
fi ssionais costuma ser
insufi ciente e, na triagem,
apenas os pacientes mais
graves são atendidos.
A rota da caravana teve
início na cidade de Porto de
Pedras, cuja população é
de 8.419 habitantes, segun-
do dados coletados pelo
governo do estado em par-
ceria com o Instituto Bra-
sileiro de Geografi a e Es-
tatística (IBGE), em 2011.
Em seguida, a caravana
esteve em Pão de Açúcar
(23.809 habitantes) e, de-
pois, em Poço das Trinchei-
ras (13.873 habitantes).
Os IDH desses municí-
pios, respectivamente, são
0,499; 0,614 e 0,499. As
visitas ocorreram em maio.
Entre os problemas en-
contrados nessas cidades
pela equipe de fi scalização
do Cremal estão ausência
de diretor-técnico e de co-
missões de ética médica e
controle de infecção, pre-
cariedade e falta de plane-
jamento das instalações
para assistência, número
insufi ciente de unidades
de transporte de pacientes,
horário reduzido de plan-
tão, ausência de especialis-
tas, esterilização inadequa-
da e falta de equipamentos
em consultório de emer-
gência e de medicação bá-
sica em farmácia. Os rela-
tórios de fi scalização foram
entregues aos gestores de
saúde locais e aos próprios
médicos na solenidade de
encerramento da caravana.
Um processo na Justi-ça Federal, mediante
ação civil pública com pe-dido de tutela antecipada contra o governo do Rio Grande do Norte, foi a medida que o conselho regional de medicina local (Cremern) tomou para tentar conter o caos ins-talado no maior hospital público potiguar: o Hos-pital Monsenhor Walfre-do Gurgel.
Esse tipo de ação, considerada pioneira, tendo o Cremern como órgão titular, denuncia a falta de condições de atendimento. Exige-se do governo que cumpra as obrigações para sanar os problemas apresentados, e que se repare o dano moral coletivo praticado contra a população.
Durante coletiva para a imprensa no Rio Grande do Norte, realizada no dia 21 de junho, o Cremern, pela primeira vez, divul-gou para a mídia local fo-tos e vídeos sobre o que se passa nos setores a que só os médicos têm pleno acesso. Em Brasília (DF),
a situação foi apresentada pelo presidente Jeancarlo Cavalcante a lideranças de todo o país em reunião da Diretoria do CFM com os presidentes dos CRMs, no dia 10 de julho.
Cavalcante explicou que a iniciativa resultou do processo de amadu-recimento a partir de di-versas ações ordinárias prévias sem efetividade. O presidente do Cre-mern enumerou alguns desafi os, como o fato de o governo alegar limitação de recursos orçamentá-rios para justifi car a im-possibilidade de atender demandas de saúde – a chamada “reserva do pos-sível”. Segundo ele, este argumento, no entanto, não é válido quando se trata de saúde e educação. A ação na Justiça Fe-deral solicita que o Esta-do providencie leitos para o setor de politrauma e condições de atendimen-to digno no Centro de Recuperação de Ope-rados (CRO), além de melhorias no setor do necrotério, sob pena de
pagar multa diária de R$
20 mil, na pessoa da go-
vernadora do Estado. A
ação também cobra uma
indenização no valor de
R$ 1 milhão por dano mo-
ral coletivo – que deve ser
enviado ao fundo de saú-
de e a duas instituições
sugeridas pelo Cremern.
“O grande quê des-
ta ação não é a pecúnia,
não é o dinheiro, mas sim
a responsabilização do
governo ao ter que in-
denizar os seus cidadãos
por não ter feito o míni-
mo necessário. É possível
abrirmos o precedente
para esse tipo de ação,
com a vantagem de que
ela possibilita o contato
direto conselho-governo,
sem intermediários, com
a possibilidade de cul-
minar com indenização,
impactando para solucio-
nar”, explica Jeancarlo.
O presidente do CFM,
Roberto Luiz d’Avila, pa-
rabenizou a iniciativa e
destacou que “os conse-
lhos estão defendendo a
população que está ali,
sujeita a riscos e à morte”.
7
Saúde pública
Pedido por dano moral coletivo à saúde da população é considerado pioneiro; objetivo é responsabilizar o governo
Cremern acionaestado na Justiça
Caos: situação foi apresentada à mídia local em coletiva no RN
Porto de Pedras: população participou da pesquisa e assistiu a fi lme
Elp
ídio
Jú
nio
r
Fá
tim
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asc
on
ce
llos
A ação foi destinada
para a 4ª Vara Federal e
despachada pela juíza fe-
deral Gisele Maria da Silva
Araújo Leite. Em audiência
de conciliação ocorrida em
9 de julho, o Cremern não
fez acordo com a Procu-
radoria Geral do Estado.
O presidente Jeancarlo
Cavalcante enfatizou que
“não se pode transigir com
a vida” e preferiu prosse-
guir com o processo. No
documento que propõe
a ação, o Cremern alega
“risco de dano irreparável”
e a necessidade de proteger
o direito fundamental à
saúde e o princípio cons-
titucional da dignidade da
pessoa humana. Por suges-
tão do MPF, acolhida pelo
Cremern, a Justiça incluiu
o município de Natal como
parte ré. A juíza Gisele
Maria já ofi ciou cinco hos-
pitais da rede privada para
informar se existe dispo-
nibilidade de leitos para o
estado, bem como disponi-
bilidade de contratação.
Confi ra o andamento
Caravana revela problemas em Alagoas
Ação do Cremerj barra OSs no Rio
O Cremerj obteve provimento a um mandado de segurança que proíbe à Prefeitura licitar organizações sociais (OSs) para gerenciar unidades de saúde já existentes. Os hospitais municipais Lourenço Jorge, Miguel Couto, Salgado Filho e Souza Aguiar, e os postos de assistência médica do Irajá e de Del Castilho, são atingidos pela decisão. O Cremerj entende que a contratação de OSs é permitida apenas para a gestão de novas unidades. O juiz argumentou que a transferência da administração para entidades particulares “fragiliza demasiadamente o controle público (...) e destoa dos princípios (...) e da legislação atinente ao SUS”.
PLENÁRIO E COMISSÕES 8
JORNAL MEDICINA - JUL/2012
Faltam evidências
científi cas que justifi quem
a prática da medicina
antienvelhecimento, ou
anti-aging. Esta é a con-
clusão de extensa revisão
de estudos científi cos rea-
lizada pelo CFM, cujos
resultados estão expres-
sos no Parecer 29/12,
aprovado em julho.
Nos últimos quatro
anos, a entidade cassou
o registro profi ssional de
cinco médicos que pratica-
vam esses procedimentos
sem comprovação científi -
ca. Outras nove punições
(como suspensão e cen-
sura pública) também fo-
ram aplicadas em demais
casos envolvendo médicos,
além dos processos que
tramitam no âmbito dos
CRMs. As penalizações
geralmente são agrava-
das pela publicidade imo-
derada, sensacionalista
e promocional – muitas
garantindo resultados, o
que contraria o Código
de Ética Médica (CEM).
Quanto à técnica, a
principal crítica do parecer
diz respeito à reposição
hormonal e à suplemen-
tação com antioxidantes,
vitaminas e sais minerais,
normalmente associadas
a “tratamentos” que pro-
metem rejuvenescimen-
to – muitas vezes iguais
àqueles prescritos para
pacientes com hipofunção
glandular.
Além de colocar a vida
do paciente em risco, a
prática também contra-
ria o Código de Ética na
orientação que veda ao
médico usar qualquer tipo
de terapêutica sem a de-
vida liberação dos órgãos
competentes.
O coordenador da Câ-
mara Técnica de Geriatria
do CFM, Gerson Zafallon
Martins, alerta que os pro-
cedimentos causam mais
danos do que benefícios.
Há aumento, inclusive,
do risco de câncer. “Pres-
crever hormônio do cresci-
mento para ‘rejuvenescer’
um adulto que não tem
defi ciência desse hormônio
é submeter o paciente ao
risco de desenvolver dia-
betes e até alguns tipos de
neoplasias”, exemplifi ca.
O documento pode
ser acessado no portal do
CFM (www.portalmedi-
co.org.br).
O Conselho Federal de
Medicina (CFM) aprovou
dois pareceres sobre a prá-
tica oftalmológica. O pri-
meiro deles, sob o nº 13/12,
aponta que “as diferenças
numéricas nos vários diag-
nósticos e receitas oftal-
mológicas são frequentes
e quando pequenas não
signifi cam, necessariamen-
te, exames equivocados
dos erros de refração”.
A consulta efetuada ao
CFM levantou dúvidas
sobre o exame de refração,
abrangendo adaptação de
óculos, erros de refração e
retorno à consulta médica
e ampliou o esclarecimen-
to já prestado por parece-
res de conselhos regionais
sobre a questão.
Outro parecer reco-
mendou ao Conselho Na-
cional de Trânsito (Con-
tran) a retirada de artigo
de sua Resolução 267/08,
que exige equipamentos
para mensurar a sensação
de ofuscamento. O po-
sicionamento do CFM –
teor do parecer 14/12 – é
respaldado pelo Conselho
Brasileiro de Oftalmologia
(CBO) e Associação Bra-
sileira de Medicina de Trá-
fego (Abramet) e se deve
ao fato de não haver apa-
relhos com reconhecida
efi cácia para a mensuração
desta perturbação visual.
O relator do documen-
to, José Fernando Vinagre,
ressalta que restrições (re-
ferentes ao condutor ou
adaptação veicular) devem
ser reportadas quando
houver necessidade de re-
gistro na CNH: “A restri-
ção que veda dirigir após
o pôr do sol, por exemplo,
não encontra diretrizes
adicionais no Código de
Trânsito Brasileiro (CTB),
resoluções do Contran
ou diretrizes da especia-
lidade, devendo fi car a
critério do médico perito
examinador de trânsito,
decidida após exame de
aptidão física e mental”.
Confi ra os pareceres
no portal do Conselho Fe-
deral de Medicina, clicando
no menu “Legislação/Pro-
cesso”; depois, “Outras
legislações e decisões”, e
então “Pareceres”.
O Conselho Federal de Medicina (CFM)
recomenda a exigência de
título de especialista para
a supervisão técnica de
equipe profi ssional. A di-
retriz consta no Parecer
18/12, aprovado em julho.
A entidade ressal-
ta, no documento, um
entendimento ético já
consolidado: “O médico
devidamente inscrito no
CRM está apto ao exer-
cício de sua profi ssão em
qualquer dos seus ramos
ou especialidades”. E es-
tabelece, adicionalmente:
“Aos médicos respon-
sáveis pelas direções ou
supervisões dos serviços
assistenciais especializa-
dos devem ser exigidos
os títulos de especialistas,
emitidos de acordo com
as normas do CFM”.
O documento respon-
de consulta do Ministério
Público Federal/Procu-
radoria da República em
Santa Catarina, que colo-
ca em análise o item 4.3.5,
alínea “b” do Anexo I da
Portaria 741/05 da Secre-
taria de Atenção à Saúde/
Ministério da Saúde. Este
item aborda o “Serviço
de oncologia pediátrica” e
exige um responsável téc-
nico médico habilitado em
Cancerologia/Cancerolo-
gia Pediátrica. A portaria
exige ainda esta habilita-
ção dos demais profi ssio-
nais médicos integrantes
da equipe – exigência
contestada pelo CFM:
“Além de não serem in-
dispensáveis [as titulações
requeridas] a sua rotina,
seriam inviáveis na prática
médica do país, pois não
há, nos programas de pós-
graduação sob responsa-
bilidade do Estado, oferta
de vagas sufi cientes à de-
manda assistencial para as
titulações referidas”.
O relator do docu-
mento, 1º vice-presidente
Carlos Vital, assinala ain-
da que “devem ser envi-
dados esforços para que o
Ministério da Saúde har-
monize a referida portaria
com as concepções éticas
deste Conselho”, expres-
sas no documento. A ín-
tegra do parecer pode ser
acessada no site do CFM
(www.portalmedico.org.
br) ou, diretamente, pelo
link http://bit.ly/M6zFrL.
Pareceres aprovados
PLENÁRIO E COMISSÕES 8
Direção técnica exige especialidadeCFM recomenda título a médicos responsáveis pelas direções ou supervisões de serviços assistenciais especializados
Abordadas regras do Contran e diagnósticosAnti-aging é condenado
Destaques do Parecer 13/12
Teor: documento aprovado em julho questiona item de portaria do MS
• Pequenas variações de até 0,50 dioptrias nos graus prescritos podem ocorrer, mesmo com todos os cuidados preconizados na literatura cien-tífica, e não causam transtornos aos pacientes.
• A prescrição de lentes corretoras não é imperiosa e deve ser ponde-rada conforme os riscos e benefícios para cada paciente. Há quesitos da literatura a serem considerados para prescrições de óculos (que in-cluem até mesmo a história prévia concernente ao uso de óculos e sua adaptabilidade).
• A refratometria é composta pelo exame objetivo e subjetivo. Como medidas refratométricas objetivas podem ser subordinadas a erros, recomenda-se que sejam aperfeiçoadas e complementadas pela “refra-tometria subjetiva”, com franca colaboração do paciente.
• O subjetivismo do significado da palavra “conforto” torna difícil esta-belecer objetivamente essa condição, mas evidências clínicas diretas e indiretas a respeito do desempenho visual e queixas relacionadas ao uso dos óculos permitem algumas estimativas.
• No retorno de paciente insatisfeito, convém observar se houve mu-dança na curva base, principalmente nas altas refrações, se a centrali-zação para perto e longe estão adequadas no caso de multifocal, se as lentes são muito espessas, se a distância interpupilar está ajustada etc. Caso nenhuma dessas alternativas seja contemplada, é recomendado refazer o exame refracional.
PLENÁRIO E COMISSÕES 9
JORNAL MEDICINA - JUL/2012
O Conselho Federal de Medicina (CFM)
considera positivas as
abordagens relativas à eu-
tanásia e à ortotanásia no
anteprojeto que vai orien-
tar a elaboração do novo
Código Penal. O texto,
fruto do trabalho de mais
de sete meses de uma co-
missão de 15 juristas, pre-
vê a descriminalização da
ortotanásia (consolidando
entendimento defendido
pelo CFM na esfera ética)
e atenuantes no caso da
prática da eutanásia.
O 1º vice-presidente
do CFM, Carlos Vital,
destaca que os médicos
são contrários à prática
da eutanásia desde os
tempos hipocráticos, que
essa conduta continuará
sendo crime (punível com
prisão, de dois a quatro
anos), mas que a ate-
nuante é uma medida coe-
rente com os princípios
fundamentais do direito
da razoabilidade e da pro-
porcionalidade. “Vem ao
encontro de fundamen-
tos, de bases, da opera-
cionalização do Direito,
de forma que o CFM vê
a mudança dentro de as-
pectos condizentes com
o que já se aplica em uma
série de outras tipifi ca-
ções penais”, ressalta.
Carlos Vital destaca
ser importante esclarecer
para a sociedade a dife-
rença entre a eutanásia,
que é crime e considerada
antiética pelos médicos, e
a ortotanásia, que rece-
be apoio da comunidade
médica e é abordada no
Código de Ética – que
desaconselha ações diag-
nósticas ou terapêuticas
inúteis ou obstinadas em
casos de doença incurável
e terminal. “A ortotanásia
e a eutanásia são institu-
tos completamente dife-
rentes. A eutanásia é o
aceleramento do proces-
so de morte por meios ar-
tifi ciais, por ação omissiva
ou comissiva, enquanto a
ortotanásia é a não inter-
ferência no processo na-
tural de morte, deixando
que esse processo ocorra
naturalmente, sem re-
tardar nem acelerar, em
circunstância de termi-
nalidade da vida, doença
crônica ou outro proces-
so de caráter irreversível
onde não há como salvar
o doente e manter-lhe a
vida”, explica Vital.
Em consonância com
o entendimento defendido
pelo CFM, o texto pro-
posto pela comissão de ju-
ristas exclui a ortotanásia
de ilicitude, assegurando
que “não há crime quan-
do o agente deixa de fazer
uso de meios artifi ciais
para manter a vida do pa-
ciente em caso de doença
grave irreversível, e desde
que essa circunstância es-
teja previamente atestada
por dois médicos e haja
consentimento do pa-
ciente, ou, na sua impos-
sibilidade, de ascendente,
descendente, cônjuge,
companheiro ou irmão”.
O anteprojeto será
convertido em projeto de
lei e começará a ser ana-
lisado pelos senadores na
Comissão de Constitui-
ção, Justiça e Cidadania
(CCJ).
Novo Código Penal
PLENÁRIO E COMISSÕES 99
Previstas atenuantes para a eutanásia
Para o CFM, proposta condiz com princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, bases da operacionalização do Direito
O novo Código Penal será um dos te-mas do III Congresso Brasileiro de Direito Médico, que acontece em Curitiba (PR), nos dias 14 e 15 de agosto. Sob a responsabilida-de do Conselho Fe-deral de Medicina, o evento será realizado no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná
(TJPR) e é direcionado a médicos, advogados, magistrados, represen-tantes do Ministério Público e interessados em Medicina, Saúde, Direito e Justiça. A programação abrange também temas como direito à saúde e limi-nares; reparação de danos; responsabilida-de civil em obstetrícia,
cirurgia plástica e erro de diagnóstico; e sigilo médico, entre outros. Todas essas questões têm refl exos diretos na prática cotidiana da medicina e do Judiciá-rio. Na próxima edição, poderá ser conferida a cobertura completa do evento. Mais infor-mações: www.eventos.cfm.org.br.
Congresso aprofunda discussões
Giro médico
Plenário – Três novos médicos passam a integrar o corpo de conselheiros titulares do CFM. Ala-goas passa a ser representada por Alceu Pimentel (à esq.), em substituição a Emmanuel Fortes (licen-ciado); a AMB tem novo representante: Aldemir Humberto Soares (ao centro), no lugar de Edevard José de Araújo; e o Tocantins conta com Pedro Nader Ferreira (à dir.), que assume a função de Frederico Henrique de Melo (também em licença). Os conselheiros mantêm os propósitos institucio-nais dos conselhos, quais sejam: normatizar, fisca-lizar e defender o exercício da medicina no Brasil.
Santa Catarina – Tomou posse, no dia 2 de julho, a nova diretoria do Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina (Cremesc). O novo presidente é o médico dermatologista Vicente Pacheco Oli-veira. A solenidade ocorreu na sede da Associação Catarinense de Medicina (ACM), em Florianópo-lis (SC), e contou com a presença do presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila, e de diretores da enti-dade. A vice-presidência foi assumida por Tanaro Pereira Bez. Os secretários são Aurea Gomes No-gueira e Odi José Oleiniscki; e os tesoureiros, Julia-no Pereima de Oliveira Pinto e Diogo Nei Ribeiro.
Maranhão – Dando continuidade à política de in-tegração de sua atual gestão, o CFM promoveu, em 3 de julho, um encontro entre seus diretores e representantes do Conselho Regional de Medicina do Estado do Maranhão (CRM-MA). Para o pre-sidente do CRM-MA e conselheiro federal Abdon Jose Murad Neto, esses encontros são importan-tes para fazer um levantamento das necessidades dos CRMs e dos problemas nos estados. Murad Neto destaca que a iniciativa também proporciona importante aprendizado técnico.
Humanidades – Para ampliar o debate sobre a for-mação humanística dos médicos e a responsabili-dade social, o CFM realiza o II Congresso Brasilei-ro de Humanidades em Medicina. O evento está previsto para o período de 9 a 11 de outubro, no Esporte Clube Sírio, na cidade de São Paulo. O encontro é direcionado para médicos, professores e estudantes de medicina. As inscrições são gra-tuitas. Mais informações: www.eventos.cfm.org.br.
Bioética – O CFM participou, de 18 a 20 de julho, em Lisboa, Portugal, do VII Encontro Luso-Bra-sileiro de Bioética. O evento teve como objetivo promover o diálogo sobre responsabilidade social e ética em saúde em torno de dois grandes temas: acesso e cooperação em saúde. As principais pro-blemáticas éticas relativas à investigação, à clíni-ca, à saúde pública, ao ambiente e aos direitos hu-manos também constaram na pauta.
Dignidade: condutas éticas devem pautar o processo de morte
JORNAL MEDICINA - JUL/2012
10 INTEGRAÇÃO
A Secretaria-geral do Conselho Federal
de Medicina (CFM), em
parceria com o Setor de
Tecnologia da Informação
(Setin), inicia um circui-
to de visitas a conselhos
regionais de medicina
(CRMs) para a implemen-
tação de iniciativa com
vistas a um padrão nacio-
nal de atendimento aos
médicos.
O projeto também será
benefi ciado pela proposta
de nova resolução com
normas para procedimen-
tos administrativos dos
conselhos, já pronta e que
deve ser votada em ple-
nária. Atualmente, essas
normas estão contidas na
Resolução 1.651/02, que
traz um Manual de proce-
dimentos administrativos
editado em 2002 e em vias
de ser renovado. As no-
vidades previstas devem
rever alguns aspectos com
o objetivo de aperfeiçoar a
operacionalização das ati-
vidades dos conselhos e de
consolidar uma estrutura
administrativa capaz de
dar base a essas demandas.
Foram selecionados os
cinco primeiros CRMs a
receber as visitas: Distrito
Federal (em 6 e 7 de agos-
to), Sergipe (em 4 e 5 de
setembro), Amazonas (em
20 e 21 de setembro), Rio
Grande do Sul (em 25 e 26
de outubro) e Minas Ge-
rais (13 e 14 de novembro).
Todos os estados entrarão
na programação completa,
que está sendo defi nida.
A novidade foi anun-
ciada pelo secretário-geral
do CFM, Henrique Ba-
tista, que sugeriu o cro-
nograma preliminar de
visitas durante reunião da
diretoria da entidade com
os presidentes dos CRMs,
em 10 de junho, em Bra-
sília (DF). O presidente
do CFM, Roberto Luiz
d’Avila, elogiou a iniciativa
e esclareceu: “São visitas
de colaboração, de ajuda,
para trabalharmos unidos
na parte operacional. Com
essas visitas queremos um
padrão comum de rotinas,
de procedimentos. A meta
é funcionarmos efetiva-
mente como um sistema”.
Procedimentos administrativos
Capacitação: treinamentos periódicos visam aprimoramento
CFM busca excelência nos serviçosVisitas aos conselhos regionais ajudarão na troca de experiências para consolidar um padrão comum de rotinas
Entrevista Luiz Nódgi Nogueira Filho
O CFM dará início a uma série de visitas a conselhos regionais (CRMs) para implantar um padrão na-cional de atendimento aos médicos. Como avalia essa iniciativa?Alcançar os propósitos maiores dos conselhos de medicina – regulamenta-ção da profi ssão médica e prática ética da medici-na em benefício da saúde
da pessoa humana – só é possível com a convicção dos médicos de que o papel dessas instituições pode ser bem desempenhado, por meio de uma padronização inteligente, consensual e objetiva das relações.
Para além da esfera admi-nistrativa, os conselhos têm buscado unidade de atua-ção em outras esferas, como a política e a regulatória.
O senhor considera esse movimento bem-vindo?Isso parece importante porque está claro que a in-tervenção dos conselhos de medicina na sociedade ga-nhou força e prestígio nos últimos anos exatamente graças à mudança de men-talidade das lideranças médicas na conceituação e execução das atitudes e po-sições que verdadeiramen-te competem aos conselhos de medicina e que se dão em benefício da sociedade.
Ao se apresentar como um sistema unifi cado, os CRMs diluem diferenças de tratamento, prazos e roti-nas eventualmente existen-tes entre si. Como vê esse processo?
Sendo o país extenso e he-terogêneo, particularida-des locais podem merecer atendimento diferenciado, mas é evidente a necessida-de de procura de um meio termo balizador, nacional, que proporcione o mais perfeito entendimento e a maior harmonia possível entre os atos praticados nas diferentes regiões, isto é: a racionalização dos proce-dimentos administrativos, de modo a simplifi cá-los, reduzi-los, unifi cá-los, à se-melhança, por exemplo, do que existe em relação aos regimentos dos conselhos.
De que modo melhorias ad-ministrativas podem apri-morar o relacionamento dos médicos com os conselhos?
Assim como ocorre no caso dos regimentos, é impres-cindível para a adoção de novas práticas que sejam abandonados eventuais egoísmos, de modo a que se possa aparelhar adequada-mente os conselhos e arregi-mentar como aliados uma quantidade ainda maior de médicos conscientes. Sen-do conduzida com racio-nalidade, a administração atrai de modo positivo a atenção de quem se rela-ciona com nossas institui-ções. E a colaboração dos profi ssionais nos debates e decisões é fundamental no sentido de uma atuação mais efetiva dos conselhos em busca dos grandes inte-resses da profi ssão.
“Sendo conduzida com racionalidade, a administração atrai de modo positivo a atenção”
Representante do Piauí no CFM, Luiz Nódgi Nogueira Filho integra a Comissão de Tomada de Contas e coordena a Câmara Técnica de Medicina Marítima. Cardiologista, formado pela atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, o conselheiro é membro fundador da Academia de Medicina do Piauí e sócio efetivo da Sociedade Brasileira de Cardiologia e da Associação Médica Brasileira. Nesta entrevista, fala sobre os recentes esforços do CFM para aperfeiçoar suas práticas e modernizar os serviços prestados aos médicos.
O processo de emis-
são do novo modelo de
identidade médica (CRM
Digital) teve início em pelo
menos 19 unidades da Fe-
deração até o mês de julho.
Cerca de 3.000 docu-
mentos foram solicitados
aos CRMs. Além disso,
foram distribuídas outras
1.500 identidades produ-
zidas no âmbito do pro-
jeto piloto que abrangeu
cinco estados.
“Os técnicos foram
treinados e gradual-
mente todos os mé-
dicos terão acesso ao
novo documento”, afi r-
ma o 1º secretário do
CFM, Desiré Callegari.
Entre os estados que
iniciaram o processo está
o de São Paulo, que desde
o início de julho emite a
médicos recém-formados
o novo modelo.
Em uma segunda eta-
pa, todas as cédulas ex-
pedidas terão o novo for-
mato. Mais informações
sobre o CRM Digital em:
http://portal.cfm.org.br/
crmdigital.
CRMs emitem identidade
JORNAL MEDICINA - JUL/2012
11INTEGRAÇÃO
A exigência da partici-pação dos alunos egressos das escolas médicas em um exame de fi m de curso para aqueles interessados em se registrar no Conse-lho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) será debati-da pelo plenário do CFM ainda em agosto. Por meio de uma resolução com validade em âmbito esta-dual, o Cremesp institui a regra que, no entan-to, não vincula o registro ao desempenho na pro-va, mas à sua realização. Por meio de nota, o CFM afi rmou concordar com a adoção de medidas que contribuam e estimu-lem a avaliação de estu-dantes e escolas médicas, tendo em vista a neces-
sidade de aperfeiçoar o processo de formação dos profi ssionais. No entanto, a entidade ressaltou que outras propostas neste sentido estão em análise.
Além do exame de fi m de curso, semelhan-te ao formato proposto pelo Cremesp, existe, por exemplo, o teste de pro-gresso, que seria realizado em momentos específi cos – durante a graduação – e vincularia os resultados à exigência de ações imedia-tas para corrigir eventuais falhas no processo.
A busca de soluções para a crise no ensino mé-dico, decorrente da aber-tura sem critérios de novas escolas médicas e de mais vagas nas já existentes, está entre as prioridades
do CFM e dos CRMs. “Este cenário, prejudicial ao exercício da boa medici-na, tem sido denunciado à sociedade pelos conselhos de medicina”, ressaltou o CFM em nota.
O Cremesp embasa sua decisão em números que mostram o fraco de-sempenho dos recém-for-mados. O presidente do conselho paulista, Renato Azevedo, associa o cres-cimento vertiginoso no número de cursos de medi-cina, de 2000 a 2011, com o aumento – em São Paulo – de 302% no total de pro-cessos contra médicos no período, principalmente re-lacionados a erros médicos. O Brasil conta com 196 escolas médicas, sen-do 114 privadas. Em São
Paulo, foram abertos 36
novos cursos nos últimos
11 anos. Azevedo escla-
receu que o exame de
fi m de curso vendo sen-
do realizado há sete anos
de forma voluntária pelos
egressos. A taxa média de
reprovação era de 46,7%.
O próximo exame
está previsto para 11 de
novembro e contará com
o mesmo índice de difi cul-
dade, em nove áreas básicas
do conhecimento médico.
A transferência de registro
para o estado pode ser feita
independentemente da rea-
lização da prova. As ins-
crições estão abertas no
período de 11 a 30 de ou-
tubro no site da Fundação
Carlos Chagas.
Mais recursos para a saúde
Exame de fi m de curso
Rio lança movimento por assinaturasObjetivo é aprovar um projeto de lei de iniciativapopular que assegure recursos da União para a saúde
O Rio de Janeiro ade-riu ao Movimento
Nacional em Defesa da Saúde Pública, que exige, em nome da sociedade, a correta aplicação dos re-cursos no Sistema Único de Saúde (SUS) para ga-rantir acesso justo à saú-de e de qualidade para o povo brasileiro.
O lançamento aconte-ceu no dia 20 de julho, na seccional fl uminense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), e con-tou com a participação de representantes do Conse-lho Regional de Medicina do Estado do Rio de Ja-neiro (Cremerj) – um dos organizadores de abaixo-
assinado para aprovar projeto de lei de iniciativa popular que propõe mu-danças na EC 29 – e do Conselho Federal de Me-dicina (CFM). A intenção das entidades é conseguir que o repasse de 10% das receitas correntes bru-tas da União para a saú-de pública brasileira seja efetivo, alterando a Lei Complementar 141, de 13 de janeiro de 2012.
O objetivo é alcançar o recolhimento de 1,5 milhão de assinaturas, o que corresponde a 1% do eleitorado nacional. Para isso, a causa conta com o apoio do CFM, da Aca-demia Nacional de Medi-
cina (ANM) e de entida-des civis como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “O cres-cimento econômico tem sido propalado, mas não há repasse para a saúde. Essa luta não é corpora-tiva, mas sim de toda a sociedade”, ressaltou a presidente do Cremerj, Márcia Rosa de Araujo. Dom Antônio Augus-to Dias Duarte, represen-tante da CNBB, afi rmou que “a Confederação tem em seu histórico momen-tos importantes no Brasil
e é a favor das grandes causas que benefi ciem a sociedade”. Também participam do movimento vereadores e parlamen-tares, a Federação das Misericórdias e Entidades Filantrópicas e Benefi cen-tes do Estado do Rio de Janeiro (Femerj), a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Central dos Trabalhadores e Traba-lhadoras do Brasil (CTB). Acrescentam-se, ainda, o apoio da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), do Sindicato dos Trabalhadores em Edu-cação da Universida-de Federal Fluminense (Sintuff), da Associação
Médica de Madureira e Adjacências (Amma) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Meta-bologia (Sbem).
Após o recolhimento das assinaturas, o material será apresentado à Câ-mara dos Deputados, nos termos do art. 61, pará-grafo 2º, da Constituição Federal. Atualmente, a União investe na saúde o montante do ano anterior mais a variação nominal do Produto Interno Bruto (PIB). Os estados preci-sam aplicar 12% do que arrecadam anualmente em impostos, enquanto os municípios investem 15% de sua receita.
Engajamento: conselhos de medicina querem aumento de investimentos
Ensino: preocupação com a qualidade dos futuros médicos
Neste mês de julho, os estados de Pernam-buco, Roraima e Ala-goas também aderiram ao movimento. O Cre-mepe, o CRM-RR e o Cremal participaram e promoveram o lança-
mento local, nos dias 13, 19 e 25, respectivamen-te. Vários outros esta-dos também articulam a coleta de assinaturas. O formulário está dis-ponível em http://bit.ly/MkwAEB. Ele deve ser
impresso, preenchido e encaminhado para os conselhos regionais, que organizam as assina-turas para serem apre-sentadas, junto com o projeto, à Câmara dos Deputados.
Pernambuco, Roraima e Alagoas aderem
Clá
ud
io P
om
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CFM analisará proposta do Cremesp
ÉTICA MÉDICA12
JORNAL MEDICINA - JUL/2012
O Conselho Regional de Medicina do Es-
tado da Paraíba (CRM-
PB) lançou, em junho, a
terceira edição da cartilha
com orientações éticas e
jurídicas para os médicos
candidatos às eleições
municipais de 2012. O
documento faz um aler-
ta quanto à necessidade
de obediência à legisla-
ção e ao Código de Ética
Médica (CEM) durante
o período de campanha.
Algumas regras gerais de
conduta, bastante sinto-
nizadas com o cotidiano,
como não utilizar o tra-
balho médico para auferir
dividendos políticos ou
não utilizar a televisão e o
rádio para consultas per-
sonalizadas, por exemplo,
além de evitar distribuir
medicamentos e amos-
tras-grátis, constam na
publicação.
De acordo com o
presidente do CRM-PB,
João Medeiros Filho, no
estado o número de médi-
cos candidatos é expressi-
vo e uma publicação que
norteie a conduta médica
é fundamental. “É natural
que, em face da estreita
relação que estabelece
com o paciente, o médico
desponte como liderança,
principalmente nas comu-
nidades menores”, ressal-
ta o conselheiro.
Além das informações
sobre a Lei Eleitoral e o
CEM, o guia traz exem-
plos de decisões da Justi-
ça. “Esperamos que esses
lembretes éticos evitem
que a desinformação
acarrete denúncias junto
aos conselhos regionais de
medicina e à Justiça Elei-
toral”, afi rmou Eurípedes
Mendonça, diretor do de-
partamento de fi scaliza-
ção do CRM.
O conselheiro Dalvélio
Madruga, representante
do estado no CFM, ava-
lia a importância da pu-
blicação: “A cartilha pode
evitar a utilização da me-
dicina como instrumento
para conseguir votos. O
envolvimento dos CRMs,
ao lado de representações
da sociedade, zelando pela
ética, primando pela trans-
parência e lisura, faz com
que tenhamos ações com-
promissadas e coeren-
tes com ditames éticos”.
Médicos paraibanos
que se candidataram, par-
tidos políticos e outras en-
tidades devem receber a
cartilha.
Oitenta e nove anos de
idade. Nascida aos sete me-
ses em 22 de junho de 1923
após um “susto” que a mãe
levou com a notícia do capo-
tamento do carro do pai. Pri-
meira médica a obter registro
profi ssional no Conselho Re-
gional de Medicina do Esta-
do da Paraíba (CRM-PB),
sob o nº 89. Esta é Maria
de Lourdes Britto Pessoa,
psiquiatra, que contra a
vontade da mãe formou-se
em 1948 pela Faculdade de
Medicina da Universidade
do Recife, atual Universida-
de Federal de Pernambuco
(UFPE). “Fui contra muitas
contenções da família, eu
bem novinha, com vinte e
poucos anos de idade. Daqui
para Recife não era o que é
hoje. Era uma viagem com
muitas peripécias, dormia-
se na estrada, pegava-se
trem, ônibus, carro. Fiz
tudo para vencer porque
queria ser médica, fazia
questão de ser médica. Lutei
muito para isso”, destaca.
Desde criança gostava
de ler e estudar. Ainda pe-
quena montou uma bibliote-
ca em casa com uma “placa
suntuosa” rendendo home-
nagem ao avô, chamando o
espaço de “Biblioteca Ores-
tes Britto”. Emprestava os
livros, congregava-se com as
amigas para discutir e dialo-
gar. Também foi colabora-
dora de diversos jornais.
Sua trajetória profi ssio-
nal como médica sempre foi
permeada por atenção e ca-
rinho por parte dos colegas e
pacientes. “Muitos me cha-
mavam ‘a doutorinha’, era
engraçado. Eu era uma jo-
vem médica, magrinha, e as-
sim despertava a curiosidade
das pessoas que faziam a
imagem de uma médica sen-
do uma pessoa mais forte,
mais equilibrada, mais po-
derosa. Mas, apesar de bem
franzina e jovem, eu inspira-
va, graças a Deus, confi ança
nos meus pacientes” – relata.
Com serenidade, Maria
de Lourdes ganhou desta-
que na comunidade médica
paraibana. Foi professora
titular de Psicologia Médica
na Universidade Federal da
Paraíba (UFPB) por mais
de 30 anos e presidente da
Academia Paraibana de
Medicina por dois manda-
tos; também atuou em diver-
sos órgãos públicos.
A parte afetiva da vida é
bastante destacada pela mé-
dica: os pais, os cinco fi lhos,
os treze netos, os onze bis-
netos e o marido – também
médico, que conheceu du-
rante o curso de medicina e
com quem dividiu “27 anos,
quatro meses e sete dias de
amor, ternura, compreensão
e felicidade”. Do pai obteve
o apoio para buscar a reali-
zação profi ssional. “O meu
pai foi muito importante na
minha vida porque foi a pes-
soa que me deu todo o apoio,
que me formou a personali-
dade. Apesar de ter passa-
do dez anos fora de casa,
escrevia diariamente para
mim, mas não opinava so-
bre minhas decisões, deixa-
va que eu própria decidisse.
E assim aprendi a ser essa
mulher forte que sou”, diz.
“Deus me deu uma for-
ça muito grande, porque até
hoje, com 89 anos, ainda
atendo algumas pessoas que
me procuram como amiga,
telefonam, marcamos a hora
e elas comparecem à minha
casa. Então conversamos
sobre o problema que as afl i-
ge”, confessa. Assim, com
vitalidade inabalada apesar
das limitações naturais de-
correntes da idade, Maria
de Lourdes Britto Pessoa
continua sua trajetória com
a delicadeza e a sensibili-
dade que sempre marcaram
sua vida e o convívio com
colegas e pacientes. (Texto e
foto: Kaylle Vieira)
Eleições 2012
Personagem médico
PB relança cartilha para candidatosPublicação do conselho paraibano traz orientações éticas e jurídicas; Código de Ética é parâmetro importante
Parceria com Romário
Lourdes: ‘a doutorinha’ relembra trajetória e carinho dos pacientes
“Fiz tudo para vencer porque queria ser médica,fazia questão de ser médica”
O CFM, em parceria com a Federação Brasileira de Hospitais (FBH), planeja campanha que visa garantir vagas para treinamento e qualifi-cação de pessoas com necessidades especiais em estabelecimentos de saúde. As entidades firmaram parceria com Romário, deputado federal e ex-jogador de futebol, que tem dedicado seu mandato pela luta à in-clusão de minorias. Uma cartilha está sendo desenvolvida para a cam-panha e retrata – em história em quadrinhos – Romário (como jogador) explicando a importância de se enfrentar o preconceito: “É mais do que ganhar copas, é ganhar o respeito pelas diferenças”, retrata a cartilha. O lançamento será próximo ao Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência, comemorado em 21 de setembro.“Apesar do preconceito que ainda existe, procuraremos reverter esse quadro a favor das pes-soas com deficiência”, enfatizou Romário.
Na
thá
lia S
iqu
eir
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