jornal lince_40

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LINCE De olho na notícia A BUROCRACIA QUE DIFICULTA CADA VEZ MAIS O FINANCIAMENTO ESTUDANTIL | PÁGINA 3 SAI UMA PORÇÃO DE "TORK RINDS WITH FRIED MANIOC": E AÍ, VAI ENCARAR? | PÁGINA 7 | PÁGINAS 14 E 15 Celton, um super-heroi tropical Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva Ano V | Nº 40 | Junho de 2010

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva

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Page 1: Jornal Lince_40

LINCE D e o l h o n a n o t í c i a

a buroCraCia Que DiFiCulta

CaDa Vez maiS o FiNaNCiameNto

eStuDaNtil| PáGina 3

Sai uma PorçÃo De "torK riNDS

WitH FrieD maNioC":

e aÍ, Vai eNCarar?| PáGina 7

| PáGinaS 14 e 15| PáGinaS 14 e 15

Celton, um super-heroi tropical

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton Paiva

ano V | nº 40 | Junho de 2010

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Junho/20102

"Essa disputa

transforma a notícia em uma novela; e notíca não é novela"

edit

or

ial

expediente

crônica

ReitoRLuis Carlos de Souza Vieira

PRó-ReitoR aCadêmiCoSudário Papa Filho

Co oR de na doRa do CuRSo de JoR na LiSmoPro fes sora ma ri a lice em bo ava

ReS Pon Sá VeL PeLa edi çãoPro fes sor eus tá quio trin dade netto (dRt/mG 02146)

PRo Jeto GRá FiCo e diReção de aRteHelô Costa (127/mG)

diaGRamação: alana amorimLeonardo moreirathamires Lopes

monitoReS: Frederico alvesLucas HortaPedro Henrique Silva

RePoRtaGenS:alu nos do 4º Pe rí odo do Curso de Co mu ni ca ção do Centro universitário new ton Paiva (manhã e noite)

Notícia

não é novela

Camila Nogueira

A transformação de fatos do cotidiano em espetáculo se destaca com maior intensidade, atualmente, nos meios de comunicação. A abordagem polêmica do acontecimento leva a população ao consumo da notícia de forma excessiva. Isso resulta em um julgamento preci-pitado das pessoas envolvidas. Para atingir o maior índice de audi-ência, a imprensa se rende ao aspecto teatral. Matérias que poderiam ser educativas e até mesmo reflexivas perdem espaço para o que cha-mamos de sensacionalismo. O jornalismo ético e de qualidade pre-cisa se previnir sempre dessa espetacularização da notícia.

Um acontecimento para se tornar notícia é preciso ser rele-vante e afetar se alguma forma os indivíduos que aquele meio de comunicação tem como público. Sociólogos e especialistas em comunicação de massa acreditam que a seleção das matérias que serão divulgadas pela imprensa está ligada, muitas vezes, com à posição socioeconômica dos envolvidos no fato. Dessa forma, o poder de comover o público poderá ser mais intenso. Para carateri-zar a espetacularização da notícia é impossível não citar seu prin-cipal adjetivo, ser dramática. A emoção impactada através do drama junto a forma da imprensa de abordar o fato, causa nas pessoas uma grande comoção e como consequência elas tendem a acompanhar o desfecho da noticia, com grande curiosidade.

Fazendo uma análise das coberturas jornalísticas, é notável que a televisão é o meio que tende a potencializar o caráter sensacio-nalista. Seu objetivo é fornecer aos telespectadores entretenimento, assim toda a sua programação é contaminada pelo desejo de receber produtos com teor de diversão, inclusive o jornalismo. Usando das imagens e áudios as emissoras estão em constante competição, quem escolhe o melhor ângulo, a mais polêmica entrevista, quanto mais espetacular a notícia melhor será a cobertura. Essa disputa acaba transformando o fato em uma novela que passa a ser exibida em vários canais com abordagens diferentes.

É recorrente a exposição excessiva na impressa de determi-nados assuntos como violência, tráfico e tragédias. O chamado caráter teatral é o que aumenta a curiosidade popular pela notí-cia e respectivamente, as vendas são acentuadas. É de extrema importância um posicionamento firme perante tal forma de tra-balho, pois são dedicamos quatro anos na universidade para aprender as fomas corretas de se produzir um jornalismo qualifi-cado e ético. A responsabilidade de tornar algo visível para socie-dade requer comprometimento com a informação e consciência da sua abordagem. Construir credibilidade e se fidelizar perante o público é o objetivo do jornalismo e não designar funções incabí-veis a sua profissão. O papel do jornalista é informar e não produ-zir novelas a partir de fatos.

masculinocopa do mundo

este é um jor Nal-la bo ra tó rio da dis ci plina la bo ra tó rio de jorna-lismo ii. Dis tri bu i ção gra tu ita. edi ção men sal. o jor nal não se res-pon sa bi liza pela emis são de con cei tos emi ti dos em ar ti gos as si na-dos e per mite a re pro du ção to tal ou par cial das ma té rias, desde que ci ta das a fonte e o au tor.

CoR ReS Pon dên CianP4 - Rua Ca tumbi, 546 – Bairro Cai çaraBelo Horizonte - minas Gerais CeP 31230-600 – te le fone: (31) [email protected]

SuzaNa Ferreira CoSta

um dos maiores eventos mundiais está para acontecer. É a Copa do mundo, 2010 que, dessa vez, será na áfrica do Sul. Porém, o que se trata de “mundial” parece englobar somente o universo masculino. Será que todo o mundo gosta de futebol? onde ficam as mulheres nessa história? ou melhor, será que, nem mesmo as mulheres que gostam de futebol, têm o direito de participar da mesma forma?

todos esses questionamentos vêm da falta que sentimos de um toque feminino na Copa. É isso mesmo! Já pensaram em pesquisar em sites a participação das mulheres nesse mundial? Pois é. Só é possível encontrar promoções de esmaltes, de bolsas nas cores do Brasil, camisas autografadas por galãs, ou pior! encontramos um guia para as mulheres durante os jogos que diz, basicamente: “mulheres, saiam da frente da televisão, porque, agora, vocês não têm um pingo de importância!”

não se fala mais em outra coisa além dos gramados artificiais, do time que está muito bom, ou muito ruim... as mulheres foram esquecidas. É claro que temos as exceções. a jornalista global Fátima Bernardes fará mais uma cobertura dos jogos. ela já é citada como a musa da seleção por ter acompanhado o Brasil em outras conquistas. mas, ainda assim, perce-bemos uma enorme diferença na inclusão da mulher nesses jogos. e no que diz respeito ao futebol, as mulheres estão sim, muito distantes de ter a mesma participação masculina.

entretanto, nós, mulheres, não deveríamos ser assim tão excluídas do universo “futebolís-tico”. mesmo porque, estamos cada vez mais envolvidas e já temos um mundial feminino (que é bem pouco abordado ou divulgado pela mídia, se comparado ao masculino). Porém, isso vem acontecendo não somente no futebol, mas também no trânsito e em diversas profissões. temos jornalistas que podem fazer papel de comentaristas porque mulher não entende ape-nas de ginástica e nado sincronizado.

ou seja, entra copa e sai copa, estamos sempre de lado quando o assunto é futebol. e você, mulher (principalmente as jornalistas de plantão)? Vai continuar deixando os homens “tomarem conta” dos gramados? Vamos ter que ficar apenas na arqui-bancada ou comprando esmaltes pela internet? É o nosso momento de mostrar que Copa do mundo não é só assunto de homem.

Page 3: Jornal Lince_40

Junho/2010 3Junho/2010 3

mesmo assim, o candidato deve se

informar corretamente antes de contratar o financiamento, para

evitar possíveis arrependimentos

FinanciamenTo estudantil pode facilitar

ingresso à faculdade

FieS

NatHÁlia gorito

estudantes que estão matricu-lados em instituições de ensino superior privadas já podem contra-tar o Fundo de Financiamento ao estudante do ensino Superior - FieS. as inscrições começaram no último dia 3 de maio e devem ser realizadas exclusivamente por meio do Sistema informatizado do Fies (Sisfies). Criado pelo ministério da educação, o programa é destinado a financiar, prioritariamente, cursos de graduação do ensino superior a quem não possui condições de cus-

tear a formação, possibilitando o financiamento integral ou parcial do curso. mas nem sempre é fácil conseguir a adesão.

neste ano de 2010, quem ade-rir ao FieS vai encontrar modifica-ções. a redução nas taxas, que variavam de 6,5% a 3,5% ao ano, de acordo com o curso desejado, será única e passará a ser de 3,4% ao ano. a nova taxa entrou em vigor para contratos assinados a partir de 26 de agosto de 2009 e vale para todos os cursos de graduação. outro estí-mulo aos alunos foi a prorrogação do prazo para quitação da dívida, que

subiu de duas para três vezes a dura-ção do curso contratado e também o prazo de carência, que subiu de seis meses para 18 meses. Por exemplo, um curso com duração de quatro anos, após a formação e o prazo de 18 meses de carência, o aluno terá 12 anos para a quitação da dívida.

aValiStaS

desde que haja disponibilidade de recursos, o FieS financiará, tam-bém, cursos técnicos de nível médio, pós-graduação, mestrado e douto-rado. isso vai ocorrer porque o

ministério da educação tem recur-sos para conceder 200 mil financia-mentos e, atualmente, existem ape-nas 35 mil contratos ativos. Para aumentar o número de concessão de crédito, o ministério aprovou ainda a solicitação do FieS em qual-quer época do ano, não sendo necessária a espera do processo seletivo anual. a contratação pode ser feita em qualquer agência da Caixa econômica Federal.

Para que seja concluída a ade-são ao FieS, é avaliada a situação socioeconômica do candidato, em que o valor da mensalidade do curso

deve comprometer no mínimo 20% da renda familiar bruta per capta. Por esse motivo, o aluno de enge-nharia Luiz Paulo Rodrigues teve o pedido de financiamento negado. “meus pais recebiam algo em torno de 17 salários mínimos; eu, como dependente deles não consegui o financiamento”. apesar de todas as facilidades, foi constatado que uma das maiores dificuldades encontra-das pelos candidatos, na hora de aderir ao Financiamento estudan-til, é a exigência de avalistas. Por esse motivo, muitos candidatos têm o pedido do financiamento negado.

Dois ladoso financiamento é uma solu-ção para quem deseja cursar um ensino técnico ou superior, mas estudantes devem se informar cor-retamente para não fazer a escolha errada e se arrependerem do finan-ciamento. Foi o que aconteceu com a publicitária Clarisse Batista, 25, que afirma ter aderido ao financia-

mento para poder invest ir o dinheiro, que seria para o paga-mento das mensalidades da gradu-ação, na compra do primeiro carro. “eu me arrependi, por que se eu não tivesse feito o financiamento agora estaria livre de dívidas”, quando Clarisse aderiu ao FieS, a taxa era de 6,5% ao ano. ”eu não

repetiria isso, foi um erro; a taxa de juros está muito alta... até cheguei a pensar em vender o carro para pagar parte da dívida”, disse.

Quando o financiamento é feito com consciência, não há do que se arrepender. Para a analista de sistemas Geíse Campos, 28, o financiamento foi uma ótima solu-

ção para o tão sonhado ingresso à faculdade. “não me arrependo, o FieS me deu a oportunidade de fazer um curso superior”, afirma.

especialistas alertam que na hora de contratar um financia-mento, os candidatos devem se questionar com perguntas que apontam a prioridade, estabilidade

futura e taxa. Perguntas como: “eu preciso mesmo fazer este financia-mento agora ou posso deixar para fazê-lo mais tarde? depois de for-mado terei condições de pagar este financiamento? eu consigo taxas menores em outros lugares?” tudo isso ajuda na hora de tomar deci-sões. mas o melhor mesmo é evitar.

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Junho/20104 Junho/201044

marginais ou apenas

jovens carentes

que picham porque querem

chamar a atenção e mostrarem

o que sentem?

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tSid

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talitHa borgeS

É difícil saber, mas as pichações estão por toda parte. Lentamente, espaços revitalizados pela Prefeitura de Belo Horizonte vão acu-mulando rabiscos. nada escapa: vigas metálicas, via-dutos, telhados, muros e até telefones públicos não esca-pam do ato de vandalismo provocado por jovens que promovem a pichação pela cidade. Para muitos psicólo-gos e sociólogos, estes atos são, muitas vezes, apenas o re f l e xo d o a b a n d o n o e necessidade emocional que a juventude tem vivido.

Para a socióloga Jocélia de Castro Leão, ao pichar, os jovens manifestam um pro-testo, querem mostrar à socie-dade que “existem”. “Falta

atenção do povo com estes jovens... muitas vezes, quando picham um prédio público, eles querem mesmo é chamar a atenção do governo ou da sociedade para algum fato que lhes provoca insatisfação. São membros de grupos não acei-tos, e pichar, provoca neles um alívio, serve como o “direito de se expressar e ser ouvido”, afirma a socióloga.

o motivo que leva estes jovens a provocar este ato de vandalismo ainda é pauta de muitas discussões entre psicó-logos e psiquiatras. Para mui-tos, a escola, a família, o governo e a sociedade têm, cada um, sua parcela de culpa na exclusão e educação destes jovens infratores. e são estas mesmas esferas as responsá-veis pela coerção do jovem que picha. aqueles que são pegos

cometendo esta infração podem ser presos, obrigados a pagar cestas básicas ou fazer trabalhos sociais.

ainda para a socióloga Jocélia Leão, podemos definir de quem é a parcela maior de culpa dependendo de onde o jovem picha e o que ele picha. “Cada gangue quer expressar um pensamento diferente. temos que lembrar que faltam locais para que estes jovens ocupem seu tempo de outra forma mais produtiva. não concordo com o pagamento de cestas básicas por que isso não resolve. Como este ato é crime, o pichador tem que pagar pelo erro”. Para ela, a melhor solu-ção seria colocar os infratores para revitalizar os locais picha-dos, limpando tudo e entre-gando de volta à sociedade como estavam.

o uso da internet pelas gangues está associado à compulsão dos jovens picha-dores de dar visibilidade à própria ousadia — seja para impressionar colegas ou, principalmente, integrantes de grupos rivais. uma investi-gação do ministério Público descobriu que, além da picha-ção, os jovens agora exibem na rede internacional de computadores diversas cam-panhas fazendo apologia e incentivando outros jovens a pichar a cidade. Quanto mais difícil ou vigiado o local, mais valor tem a pichação.

Lenízio tem 25 anos e já foi preso duas vezes, pichando. Hoje, diz que não picha mais, porque tem medo da polícia e

chegou a ver um amigo ser baleado quando pichava um muro no bairro Paraíso. “ainda acho legal, mas não sei mais se tem tanto sentido assim sair pichando por aí; pichar muro de casa de família pobre não tem nada a ver, eu queria era pichar uma coisa maior, tipo o Palácio da Liberdade”, diz. nas duas vezes em que foi preso pela polícia, Lenízio teve que lavar e pintar os muros que pichou. e conta que apa-nhou — “Fiquei pelado e o Pm gastou todo o tubo de tinta no meu corpo; demorei mais de 20 dias pra tirar a tinta”.

o uso cibernético para divulgar pichações também se revelou uma faca de dois gumes, pois a polícia apren-

deu a comparar as fotos com os rabiscos e assim identificar as gangues. desde 2008, a Polícia militar vem intensifi-cando os esforços para identi-ficação das gangues e já pren-deu mais de 15 pichadores — muitos, menores de idade. o próprio Lenízio conta que começou a pichar com pouco mais de dez anos de idade — “o primeiro muro que pichei foi o da minha casa; levei uma surra do meu pai e continuei pichando, só por vingança”. a súbita transformação de Lenízio, no entanto, tem lá suas razões. ele está casado há dois anos e conta que ficou furioso quando o muro de sua casa apareceu pichado. nada como um dia após o outro...

Compulsão

OUVIDOUma forma de ser

siMone gueDes

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Junho/2010 5Junho/2010 5inter

net

Segundos depois do tre-mor, milhares de mensagens começaram a pipocar nas redes sociais. afinal, foi por meio da internet que os haitia-nos e seus parentes pelo mundo procuraram saber se seus familiares e amigos sobreviveram à tragédia. no twitter, internautas do mundo todo comentaram o terre-moto. Julmer04 pediu orações para a sobrinha e a filha de um casal de amigos. Horas depois, contou que as crianças esta-vam bem: "acabo de descobrir

que estão vivos; obrigado pelas preces!", publicou.

a agonia de Rosa Godoy, que mora em São Paulo durou seis horas. ela ficou sabendo do terremoto pela tV e correu para a internet para saber notícias do filho, o soldado Luiz Gustavo de Godoy, de 21 anos. “Quando vi na televisão eu entrei no orkut e comecei a procurar informações”, contou. Por volta de uma hora da manhã Rosa Godoy recebeu a notícia de que seu filho estava bem.

não pRa viveR sem ela

dÁ mais

“Obrigado pelas preces”

eNQuaNto iSSo...

“É um caminho sem volta”. assim, Léo comentou sobre o des-tino das redes sociais nos próximos anos. “a cada ano observamos um aumento do número de usuários ativos, melhoria no acesso e, prin-cipalmente, na qualidade da reso-lução dos vídeos que são publica-dos”, destacou o professor. no entanto, ainda há vários países em situação de acesso precário como o próprio Haiti.

Cada vez mais, a internet se torna indispensável na vida de mui-tos cidadãos do planeta. Segundo um estudo elaborado pela universal mcCann, o Brasil era, até 2009, o quarto país com maior utilização das mídias sociais. no ano passado, 69% dos internautas brasileiros pesquisa-dos disseram ter perfis nessas redes. enquanto você lê esse texto, milha-res de pessoas se cadastram em alguma rede social na internet.

Antes, um passatempo;

agora, com as redes

sociais, a internet

possibilita que o cidadão

participe da transmissão da

informação.

“Obrigado pelas preces”

PHiliPPe HiPólito

Bate papo, pesquisas e entretenimento. a cada dia, a internet proporciona novas atividades. nos últimos anos, as redes sociais – como orkut, Facebook e twitter – viraram fontes de informação de pri-meira mão para acompanhar os desastres pelo mundo. tam-bém para fazer pedidos de ajuda e mostrar solidariedade ao fato ocorrido. Com isso, a maior rede de comunicação e informação criada pelo homem deixa de lado a diversão e os estudos para demonstrar uma coletividade sem fronteiras.

assim que o forte terre-moto de 7 graus na escala Richter atingiu o Haiti, a inter-net mostrou mais uma vez que

pode desempenhar funções vitais. em meio ao caos, à falta de luz e com as linhas de tele-fone fixo mudas em Porto Príncipe, as redes sociais se tornaram o único meio para mobilizar ajuda humanitária e facilitar a difusão de informa-ções sobre a tragédia. Para Hely Costa, professor e coor-denador do curso de pós-gra-duação em mídias Sociais do Centro universitário newton Paiva, agora realmente temos a notícia em tempo real. “É o usuário destas redes, que está no local das tragédias e nos informa o que está aconte-cendo”. ¬e ainda ressalta: — “Se antes tínhamos que espe-rar pela equipe de tV ou rádio chegar ao local, hoje temos essa informação inloco”.

maiS PróXimo

Com o desastre no Haiti, informações relacionadas ao tema aumentaram na rede mundial de computadores. Segundo a empresa de segu-rança eletrônica Zscaler, o número de cliques relaciona-dos com a palavra-chave “Haiti” cresceu 1.558 % nas primeiras 24 horas após o tremor. Léo magno, professor de multimí-dia do Centro universitário newton Paiva, destacou que as pessoas estão cada vez mais engajadas com os aconteci-mentos, sobretudo com as catástrofes. Há uma mobiliza-ção em torno dos fatos e quando necessário, as pessoas estão tomando atitudes humanitá-

rias, para o voluntariado. — “É sem dúvida, provocada pela forma com que as redes sociais integram as pessoas em um mundo mais próximo.”

o twitter foi utilizado para dar informações sobre detalhes dos acontecimentos e o status da situação da região afetada, enquanto as redes de satélite forneceram mapas detalhando danos e ajuda humanitária. tanto o Google quanto o site Face-book elaboraram listas de desaparecidos em tempo real. no orkut, rede social mais popular do Brasil, internau-tas deixaram mensagens de conforto nas páginas pessoais dos soldados brasileiros víti-mas dos terremotos.

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Junho/20106

joSé melgaço

a primeira pergunta de qualquer pessoa que já assistiu a qualquer uma destas séries policiais norte-americanas que dominam a grade da tV é: isso é mesmo possível? Fios de cabelo encontrados no carpete imenso de uma sala, saliva em um talher, microgotas de san-gue seco sob as unhas da vítima, qualquer resquício de material humano é suficiente para se fazer um exame de dna — que por sua vez é feito em questão de minutos — em programas como CSi, nCiS ou Law and order, em suas diversas franquias. e na reali-dade, a vida imita a arte?

É claro que todo mundo sabe que isso não é possível, assim como não é real o que se mostra em filmes de ação, quando um homem consegue matar 100 soldados forte-mente armados e treinados, com uma simples arma — e ainda sem nunca acabar a munição — só levando tiros de raspão ou na perna. mas até

onde a tecnologia pode real-mente influenciar na solução de um crime?

o diretor do instituto de Criminalística da Polícia Civil de minas Gerais, márcio Costa Ribeiro, respondeu algumas dúvidas que os cidadãos comuns costumam ter sobre como funciona mesmo o tra-balho de um perito técnico. Segundo ele, todas as pessoas que trabalham nesta área pas-sam por concurso público, mesmo que ele já tenha ingressado na Polícia Civil. deles é exigido apenas o nível superior de escolaridade, sem área específica. Começa aí a lista de diferenças para com as personagens de ficção, onde todo mundo parece ser PHd em química e biologia.

em todo o estado de minas Gerais, existem 600 peritos técnicos da Polícia Civil, sendo que 200 destes atuam na Grande Belo Hori-zonte. o número de ocorrên-cias que um profissional pode atender varia bastante, uma vez que os crimes no trânsito e

contra o patrimônio são mais comuns do que o restante. Peritos de crimes contra a vida atendem em média duas ocor-rências por dia, que transitam entre homicídio, suicídio, ten-tativa de homicídio, tentativa de suicídio, encontro de feto, afogamento etc.

DoCumeNtoS CoPia?

o trabalho da Perícia é dividido entre trabalhos inter-nos e externos. no primeiro caso, os agentes realizam exa-mes divididos em diversas seções. existem as seções de áudio, Vídeo e Fonética Forense; Crimes informáti-cos; Perícias Contábeis; docu-mentoscopia (descobrir se qualquer documento, público ou privado, é falso); Papilosco-pia e moldagem (impressões digitais); Balística Forense (examinar disparos de armas); Biologia Legal (dna) e Quí-mica Legal (drogas).

os agentes externos tam-bém são divididos em seções: Crimes contra a Vida; Crimes

contra o Patrimônio; Perícias de trânsito; engenharia Legal e Crimes ambientais. ainda de acordo com márcio Ribeiro, em especial nos casos que envolvem a vida humana, os trabalhos precisam ser bas-tante meticulosos. “o agente examina toda a cena do crime à procura de vestígios, tirando fotografias, fazendo desenhos, coleta de materiais (como san-gue, cabelo e impressões digi-tais), que ajudem na elucida-ção do caso”, conta o diretor.

o Código Penal Brasileiro garante que em toda “infração que deixar vestígios será indis-pensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado”. mas nem sem-pre é possível que as investi-gações sejam feitas perfeita-mente. “o trabalho deles depende principalmente do isolamento e preservação da cena do crime. Se o local não sofreu alterações profundas, certamente os Peritos terão sucesso na investigação”, explica Ribeiro.

A tecnologia possível

em minas já existe um banco de dna’s que foram coletados, mas ainda não é uti-lizado um banco de impressões digitais, como existem nos seriados televisivos, onde todas as informações são digitaliza-das e a identificação se dá em segundos. no entanto, foi assi-nado recentemente um convê-nio com a Secretaria nacional de Segurança Pública que pre-tende implanta o sistema aFiS (Sistema automático de impressões digitais), com fun-cionamento previsto para até o fim do ano. Com isso, depois que for estabelecido um banco de dados, a identificação por meio de impressões digitais será feita assim como nas séries da tV, por meio de um compu-tador, porém, obviamente, não tão rápido.

Com relação aos trabalhos periciais da época pré-compu-tação, nos dias de hoje se tem uma eficiência muito maior, mais credibilidade, facilidade e agilidade na execução das tare-fas, segundo o diretor márcio Ribeiro. “mas ainda existem muitas diferenças entre o que se vê na televisão e a vida real, principalmente no que se rela-ciona com a estrutura de um modo geral, dos equipamentos utilizados, na valorização do profissional e, principalmente, no índice de criminalidade que é muito maior no dia a dia”, pondera. a vida, pelo menos em termos de Brasil, ainda vai demorar um pouquinho para imitar a arte.

O CSI da vida real

Até que ponto a tecnologia — exibida

com exuberância inimaginável nas séries da TV — pode influenciar

completamente na elucidação

de crime?

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cia

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Junho/2010 7diV

erS

ida

de

Imagine o pavor dos turistas

estrangeiros que se

aventurarem pelos bares e restaurantes da capital,

onde criatividade

dos cardápios beira a ficção

científica

ToRK Rinds WiTH FRied manioctamireS De FÁtima

Cardápio: de acordo com o dicionário aurélio é a lista de iguarias dos bares e restau-rantes. Como um árabe veria uma porção de torresmo, que é parte da carne de um animal proibidíssimo pelo islamismo? o atual surto de criatividade que povoa os cardápios dos bares de Beagá pode ser, em alguns momen-tos, muito estimulante, mas também deve trazer problemas para os proprietários de estabelecimentos que desejam agradar aos turistas, já pensando na Copa de 2014, quando será necessária a adoção de cardápios bilingues.

Belo horizonte tem noites badaladas e é conhecida por ser a “capital dos botecos”. não por acaso. afinal, possui cerca de 14 mil bares, maior média brasileira. Sua culinária, com características peculiares — marcadas pela geografia e costumes — é apreciada internacionalmente. a nomenclatura tão específica, no entanto, sugere a necessidade de alguma adequação para melhor aceita-ção.

Para o dono da Pizzaria e Restaurante Capresia, Fabiano augusto, sempre que acontece um evento de grande porte, como ele acredita que será a Copa do mundo, seu estabelecimento procura inovar e se ade-quar. mas ele não pretende fazer mudanças

bruscas no cardápio. “a princípio, não temos a intenção de mudar nenhum item”. Para ele, o turista deve ter a oportunidade de conhecer a culinária brasileira da forma como ela é, sem disfarces. “temos uma gas-tronomia rica — comer feijoada ou frango com quiabo são riquezas e delícias que irão agradar em cheia ao turista”, analisa.

Vencedor do concurso “Comida di Buteco”, o Café Palhares também não pre-tende fazer mudanças. Segundo o gerente do bar, edson Soares, sequer será feita uma tradução do cardápio para outros idiomas. “Já recebo muito estrangeiro por aqui; nor-malmente eles trazem alguém para traduzir ou orientar”, comenta. Para ele, o cardápio deve ser mantido. “o estrangeiro vem com a intenção e a curiosidade de comer comida brasileira e o cardápio em português não atrapalha”, acredita.

Já para o gerente Carlos anacleto, do Res-taurante Parrillero, próximo ao mineirão, há a necessidade de tradução, sim. “temos a obri-gação de ter o cardápio traduzido; nós já traba-lhamos com ele no inglês e no espanhol”, comenta. o torresmo com mandioquinha frita, por exemplo, pode ser lido em inglês como tork rinds with fried manioc and lemon, já para o espanhol o prato aparece como Chi-charro com yuca frita y limon. a professora de inglês débora Heringer concorda com Carlos.

Para ela deve, sim, haver uma tradução dos cardápios. “a culinária brasileira não pode perder sua essência e cultura, porém acho que o modo de preparo, escrito em inglês, fará com que o turista se sinta à vontade para escolher e experimentar os pratos típicos com maior segurança e satisfação”, diz ela. Viajante expe-riente, o economista Luís Sérgio Prates acha que deve ter “alguma tradução”, mas sem exa-geros. “no Japão ou na europa, alguém traduz alguma coisa pro português?” — questiona.

mas, em relação ao atendimento, pro-prietários e gerentes foram unânimes: é preciso melhorar a qualidade e isso exige preparação. o coordenador da área de Gas-tronomia e Hotelaria do SenaC mG, Jack-son Cabral, lembra que o curso da institui-ção, referência no estado, oferece todo embasamento teórico na preparação dos garçons para atuar diante das diversidades culturais, mas não oferece disciplinas de idiomas. É bom que os garçons, então, tomem a iniciativa para quando tiverem que explicar aos possíveis turistas o que vem a ser, em seus países de origem, algo como pequi, ora-pró-nobis, quiabo, jiló, caldo de mocotó, moelinha, carne de sol e outras, digamos, pérolas de nossa diversi-dade gastronômica... isso, para que nin-guém caia na tentação de traduzir o contra-filé como “against filé”.

Paulo aKa

Page 8: Jornal Lince_40

Junho/20108 Junho/20108

Ge

nT

e

Wander Sá acredita que a internet ajudou muito a vida dos cantores. Para ele, se a divulgação é o ponto chave, com o poder de baixar músicas, os Cds perdem mercado, mas o cantor tende a ganhar mais dinheiro com shows. tanto

que, mesmo com a dificul-dade de fazer um Cd nos

dias de hoje, Wander já recebeu pro-

posta para ser

agenciado. além disso, ele já consegue inserir músicas suas em seu repertório. “acontece de eu chegar para cantar e as pessoas pedirem uma música minha”, conta.

apesar disso, ele já pensou em desistir da carreira por falta de reconhecimento. “minha esposa me incentivou a não parar”, conta. ainda bem que não desistiu. o sonho que não era sonho tornou-se reali-

dade. agora, falta tornar reali-dade outra parte desse sonho, que é cantar no Palácio das artes — “nem que seja só voz e violão... Pra mim, já vai ser o bastante”. Que nada! Lem-brando outro grande poeta, com certeza, depois desse show, Wander só se lem-brará de uma coisa: “jamais cantei t ã o l i n d o assim”.

Jamais cantei tão lindo assim...

oocanToR da noiTe

uma ageNDa baCaNa

Ele canta o que o cliente pede. Ou melhor, ordena. Sonhos nascem e morrem nos bares da vida

barziNHoS SÃo eSCola

o pai era violeiro nato, chegado em música caipira. Com a influência, tomou gosto pela música, e começou a cantar. diferente de mui-tos, não possuía a ambição de ser famoso. o que, para o menino de 18 anos, era pura diversão de roda de amigos e distração, tornou-se compro-misso sério, definindo, de vez , seu futuro. em sua mente, conseguir, um dia, tocar em bares ou coisa do tipo, estava longe de aconte-cer. “num tenho condição pra isso não, sô” — dizia o

mineirinho acuado e desa-creditado dos elogios e incen-tivos recebidos. a história teve início por causa de um amigo do amigo do dono do bar mais famoso de timóteo (no Vale do aço), que reco-nheceu seu talento e o incen-tivou a cantar lá.

mal sabiam — “os amigos” e Wanderson da Silva, filho do violeiro nato, o tal menino de 18 anos... — que a primeira “canja” no bar mais frequentado de timóteo determinaria o início de uma grande história. depois desse dia, o telefone tocou. era o

dono do bar. “Garoto, quanto você cobra pra cantar lá, hein?”. Sem noção nenhuma de quanto pedir, Wanderson — que ainda era Wanderson da Silva — fatu-rou, em seu primeiro cachê como cantor, o que seria, mais ou menos, o valor de 50 reais. a partir daí, não parou mais. após passar pelos palcos de timóteo, veio morar em Belo Horizonte com os pais. Voltou a timóteo porque conheceu sua esposa. depois do casamento, os dois vieram para BH, uma vez que no interior é bem mais difícil fazer esse tipo de trabalho.

ooComeçou a can-tar em eventos parti-culares, bares, e res-taurantes de BH e região — dentre eles, “Hunters” e “Pala-dino”, na Pampulha, e “engenho”, de Venda nova. Participou do programa “Caleidos-cópio”, da tV Hori-zonte e, nesse meio-tempo, compôs várias canções. Para dar mais identidade à imagem, adotou o nome artístico “Wan-der Sá”. Hoje, aos 40 anos, Wander Sá tem muita história para contar. dentre elas, as dificuldades de um cantor da noite, que não são poucas.

“um dos maiores problemas é a oscila-ção de agenda; tem mês que você fecha uma agenda bacana, tem mês que não”, explica. de acordo com ele, esse é um problema que a maio-ria dos artistas possui, exceto os cantores sertanejos, que estão “bombando” na mídia. “esses caras, que têm um cachê de dez mil reais, podem cantar uma vez por mês, ao contrário dos outros cantores da noite”, reitera. Segundo ele, outro problema é a falta de segurança em relação aos compro-missos firmados. “É tudo contrato de boca, não tem nada assi-nado, a pessoa pode desmarcar com você q u a n d o q u i s e r ” , lamenta.

tem o caso do bêbado, que tropeçou e derramou conhaque no seu violão; daquela n o i t e , e m q u e o público foi à loucura a ponto de subir nas mesas e cadeiras, e daquele dia, que o cara pediu “Vítor e Léo”, sendo que o seu estilo musical é mPB e Pop Rock, e o seu can-t o r f a v o r i t o — o melhor do mundo, de acordo com ele — é djavan... daria um livro só de casos engra-çados, desagradáveis, prazerosos e, princi-palmente, de muito aprendizado. afinal, c omo Wan d e r Sá mesmo disse, “barzi-nhos são escolas de cantores, não tem como negar”. Porém, “é uma escola onde todos querem se for-mar, e sair um dia de lá”, lembra.

a verdade é que a maior parte dos “can-tores da noite” não quer f i ca r com a marca de eterno “can-tor de barzinho”. Sus-tentar família com a renda desse trabalho não é fácil. não é à toa que Wander Sá, além de trabalhar em casa com manutenção de computadores e ela-boração de programas, procura avançar na carreira musical, e gravar um Cd. o pro-jeto está caminhando. Possui suas canções, tem trabalho autoral, fez um Cd demo, e o definitivo sai no meio deste ano.

Wander não abre mãodo sonho de cantar no Palácio das artes

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joSé ViCtor melgaço

o que esperar de um filme do tarantino? muita imaginação, violência, diálo-gos tensos e fina ironia. o diretor fez seu primeiro f i l m e , C ã e s d e a l u g u e l (1992), com recursos escas-sos, mas acabou criando uma espécie de fórmula para todos os outros que viriam. de Pulp Fiction a Kill Bill, ele sempre usou e abusou da violência e do deboche como elementos centrais de seus roteiros. não seria diferente em Bastardos inglórios, seu filme mais recente, mesmo com um tema delicado como o nazismo.

tarantino criou uma ver-são mais “leve” (entre aspas, devido às várias cenas pratica-mente trash do longa) para um tema que costuma ser tratado sempre com certos pudores — afinal, o holocausto não foi nenhuma piada. a ação se passa na França invadida pelo 3º Reich e já começa com um impacto: enquanto o camponês francês Perrier LaPadite (denis menochet), que esconde judeus em sua casa, corta lenha, a trilha sonora apresenta a música mais tocada nos mor-tíferos caminhões de gás, “Pour elise” (Beethoven).

É desse início que surge a personagem Shoshanna dreyfuss (mélanie Laurent), que representa outra fixação do tarantino: as loiras vinga-tivas, assim como a musa do diretor, uma thurman. ela é a judia que viu a família ser assassinada debaixo de um

assoalho e consegue fugir, até virar a principal estrela no clímax do filme, que é a explosão de um cinema cheio de nazistas.

o próprio Hitler foi alvo de uma das principais carac-terísticas de tarantino, que é a ironia. ele foi retratado como um homenzinho afe-tado, que só fala gritando, quase burro e ainda mais sar-cástico e sádico — é mar-cante a cena em que o dita-dor se remói de r isadas, enquanto assiste à matança de soldados aliados durante a estréia do filme orgulho da nação, promovido por Joseph Goebbels. a imagem irônica de Hitler chega a lembrar a famosa retratação caricata do ditador, por Charles Cha-plin, no antológico o Grande ditador. o diferencial é que no longa do tarantino, o dita-dor alemão é rebaixado de protagonista a um reles per-sonagem secundário.

a atuação do galã Brad Pitt também surpreende. Com um cinismo de dar inveja a qualquer ator cult, ele inter-preta o general aldo Raine, que comanda uma tropa de soldados judeus com o princi-pal objetivo de matar todos os nazistas que encontrassem. e da forma a mais cruel possível. “os Bastardos”, como era conhecido o grupo, escalpe-lam todos os soldados alemães, e isso é mostrado em alta defi-nição. Sem contar o sinistro costume do general de marcar os sobreviventes, para que pudessem ser reconhecidos mesmo sem a farda, com uma

Nem tão inglórios assim...

suástica desenhada na testa. em ponta de faca! e aí está outra fixação explícita de tarantino, as facas, espadas e objetos cortantes em geral.

outro bom momento da atuação de Pitt resultou em uma das cenas mais engraça-das do filme. três dos “bas-tardos” fingem ser italianos para se infiltrarem no cinema onde haveria uma estréia nazista. o problema é que nenhum deles sabe falar ita-liano... a cena acontece no meio da operação Kino, que

planeja explodir o cinema na estréia do filme de Goebbels.

o plano conta com a parti-cipação de uma espécie de espiã, a atriz alemã Bridget Von Hammersmark (diane Kru-ger), que acaba assassinada pelo grande vilão do filme, o coronel Hanz Landa (Christophe Waltz). É somente na estréia do filme que os personagens se cruzam, uma vez que, sem saber da operação, Shoshanna também planejou explodir o cinema e ainda gravou um vídeo em que ela avisa aos nazista que

todos eles vão morrer pelas mãos de uma judia.

além disso, outras carac-terísticas do diretor aparecem. entre elas, a fixação por histó-rias em quadrinhos — precisa-mente na separação em capí-tulos. em síntese, Bastardos inglórios tem tudo o que qual-quer pessoa espera de um filme de Quentin tarantino, e é merecedor de todos os prê-mios que ganhou. a estética da violência, no entanto, tem lá seu preço. É um filme só para quem tem estômagos fortes.

o oscar, mais uma

vez, esnobou o último filme de

tarantino, mas

“bastardos inglórios” traz uma síntese

do que o diretor tem de melhor

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Doença preocupa veterinários

e donos de cães; segundo dados da

PBH houve aumento significativo do

numero de mortes

cRescem casos de“a Leishmaniose é uma

doença considerada negligen-ciada pelo governo e, por isso, frente a outras doenças, tem poucos métodos de combate e prevenção”. assim, o veteriná-rio adriano marchandeau descreveu o panorama da Leishmaniose em Belo Hori-zonte. Só no ano passado, na região noroeste, onde está o Caiçara, foram verificados nove casos humanos da doença e um aumento de 19,3% no número de mortes.

essa não é uma doença contagiosa; é causada por parasitas que infectam, princi-

palmente, os cães. Sua trans-missão se dá através da picada do mosquito flebótomo infec-tado. existem ainda dois tipos — a leishmaniose visceral cutânea e a visceral; esta última também conhecida como calazar. os sintomas variam de acordo com o gênero dessa patologia. no caso da cutânea, surge pequena eleva-ção avermelhada na pele, que aumenta até se tornar uma ferida com secreção puru-lenta. Já na visceral, ou calazar, a pessoa infectada tem febre irregular, anemia, perda de peso e insuficiência renal.e

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EUTANÁSIA X PREVENÇÃOPara marta neves, as

campanhas de prevenção ainda não são tão eficazes. ela ressalta que há ainda outro problema, o crescimento urbano desordenado. “através do inchaço que as cidades enfrentam, com novas popu-lações que vêm de fora e habi-tam lugares sem saneamento básico, começa a se criar focos de doenças que antigamente estavam extintas aqui no Bra-sil—que não se ouvia mais falar, mas que voltaram”.

marchandeau também acredita que a forma de pre-venção adotada pela prefei-tura é ineficaz, pois não são feitas campanhas que aler-tam e informam de maneira adequada. ele conta que na clínica onde trabalha, o filho de um funcionário teve le ishmaniose e morreu. “tivemos, aqui, um caso dentro da clínica, em que uma criança de oito meses de idade, filha de um funcio-nário ficou um mês e meio internada por causa da doença, teve insuficiência renal e morreu”, disse. a prefeitura de Belo Hori-zonte, através da Regional noroeste e do departamento de Zoonoses, foi procurada e não quis se manisfestar sobre o assunto.

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a prefeitura de Belo Hori-zonte adota ações de controle voltadas para o cachorro. São feitos exames laboratoriais e eutanásia dos animais soropo-sitivos. além disso, são realiza-das borrifações com inseticidas nas casas, para combater os mosquitos transmissores. Só que, para marchandeau, o sacrifício dos cães não resolve o problema. “a prefeitura ima-gina que os casos humanos vão diminuir com a eutanásia dos cães; isso não resolve, pois se não tem cachorro, o mosquito vai ter que picar alguém; ou seja, a leishmaniose humana vai aumentar”.

ainda segundo o veteri-nário, o exame de sangue feito pela prefeitura nos bichos não apresenta 100% de fidelidade aos resultados. “existem outros maneiras de diagnóstico mais apuradas, como o de medula óssea.

nesse método você consegue ver o protozoário”, explica.

Professora da disciplina estética e Criatividade, no curso de Jornalismo, a artista plástica marta neves conta que seu cão — que atende pelo simpático nome de “nelsinho” — teve Leishmaniose e há dois anos vem, desde então, se subme-tendo a tratamento com sessões de quimioterapia — “Hoje, ele se encontra saudável”.

entretanto, marta lembra que o cachorro terá que tomar um medicamento todos os dias até o fim de sua vida, além de fazer exames anuais. ela reco-nhece que os cuidados aos quais seu bicho de estimação é submetido não são acessíveis a muita gente. “não é uma coisa viável para a maioria da popu-lação; varia entre mil e dois mil reais, o sujeito que ganha salá-rio mínimo e cria cachorro não consegue fazer isso”, avalia.

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oDaNiela meNDoNça

Seguindo à risca os versos do baião de Luiz Gonzaga e Humberto teixeira, coitado do jiló, ninguém ia gostar dele. mas o povo gosta. e não é só porque o jiló virou a estrela do recente festival gastronômico “Comida di buteco”. no centro da cidade, no mercado Central e até mesmo nas residências mais simples da periferia, o amargo do jiló não espanta ninguém. Combinado com fígado, carne moída ou até empanado, o jiló é o tal.

Você conhece o Solanum gilo? É o nome erudito do nosso conhecido jiló. Geralmente con-siderado um legume, o jiló é na realidade o fruto de uma planta da família das solanáceas, tal como a berinjela. Sua origem é desconhecida, mas é muito abundante na áfrica e no Brasil. o jiló contém diversos elemen-tos nutritivos, como os carboi-dratos, as proteínas, gorduras e minerais, como fósforo, cálcio e ferro — essenciais na prevenção e no combate à anemia. Sem falar nas vitaminas a, do com-plexo B e C.

o funcionário público João

Bat is ta medeiros , 54, não esconde que o jiló é o prato de que mais gosta. Por isso, não entende o porquê de tantas pes-soas não gostarem. “Bem feiti-nho, o jiló não amarga; pra não amargar, é só colocar na água com vinagre”, receita. João Batista conta que na sua infân-cia, comia jiló ao invés de carne — “minha infância era muito sofrida, toda criança queria comer arroz, feijão e carne, mas como em minha casa éramos m u i t o p o b re s , n ã o t i n h a dinheiro para carne, então, comíamos jiló, acho que por isso tomei gosto”.

Porém, talvez por causa do amargo, o jiló ganhou também a fama de “comida de macho”. mas tudo indica que é lenda. Há muitas mulheres que não abrem mão de um bom prato com jiló. uma delas é a bibliotecária dora aparecida, 52, que gosta muito do jiló e acha que esse papo de que “só macho é que gosta”, é pura crendice — “isso é um mito, jiló é uma verdura com todas as outras; tem gente que gosta de chuchu e tem gente que gosta de jiló”. dora tem uma boa justificativa para gostar de

jiló, ela gosta justamente pelo seu gosto amargo.

mas , por inc r í ve l que pareça, há pessoas, como o estu-dante matheus Fonseca, 17, que nunca comeu jiló, só por ouvir dizer que é ruim e amargo. “nunca experimentei, de tanto ouvir o que meus pais falavam e que só passarinho é que come: fiquei com receio de comer”.

a observação de matheus procede. muitos criadores de pássaros usam o jiló para alimen-tar as aves. o criador antônio Carlos Viegas, 45, usa diaria-mente o jiló para complementar a alimentação de seus canários e periquitos. mas disputa com os pássaros, o consumo do produto. em sua casa, o jiló surge em receitas diversas, que vão do chips (cortado em rodelas finís-simas e temperado com sal, limão e vinagre ou azeite) ao tra-dicional casamento com fígado bovino. a popularidade do jiló pode ser medida pelo número de pessoas que viajam distâncias e vêm provar esse prato no nosso mercado Central. “Comida di Buteco” só confirmou o que todo mundo já sabia: com ou sem amargor, o jiló está com tudo.

“ai quem me dera voltar,

pros braços do meu xodó, saudade

assim faz doer e amarga qui

nem jiló” (luiz gonzaga e

Humberto teixeira)

DaNiela meNDoNça Batis ta medeiros , 54, não jiló, ela gosta justamente pelo

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Daniela MenDonça

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Junho/201012 Junho/201012

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Não é raro ver erros ortográficos escandalosos ou "gracinhas" como essa em placas e outdoors; mas é bom saber que a

ignorância ou o senso de humor podem ser multados.

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nas ruas de metrópoles, nas cidades do interior, pelas estradas do Brasil e, até mesmo, na internet, as pla-cas — de trânsito e de comér-cios — e outdoors com erros estridentes de português chamam atenção. Por pura ignorância ou com a inten-ção de atrair olhares, elas colocam, há tempos, uma questão em debate: os donos de placas com erros ortográ-ficos devem ser multados?

em dezembro de 2007, uma lei foi sancionada pelo então prefeito do Rio de Janeiro, César maia, para mul-tar cariocas que errassem o português. ela determinava o início da cobrança de multa de R$ 55 por dia de quem exibisse faixas, placas, letreiros ou outdoors com erros. na cidade de São Paulo, também foi criada uma lei durante a gestão do ex-prefeito Paulo maluf, a exemplo da sancionada pelo colega carioca. do mesmo modo, ocorreu em outras cida-des do Brasil , mas até hoje não se conhecem casos em que pessoas foram multadas por exibir cartazes ou faixas com erros de ortografia.

São várias as opiniões a respeito do assunto. o pro-fessor de Língua Portuguesa, everton Luís é favorável à purificação da língua, mas acredita que a multa é muito difícil de ser aplicada. “Você vai multar a pessoa com base em quê? na ignorância de l a? Se f o r a s s im , no mínimo a metade da popula-ção brasileira vai ter que ser multada”, reconhece. o

vendedor Bruno Barroso, 31, que tem um “à partir” escrito onde trabalha, acha que “é muito radical multar erros de português nas pla-cas”. de acordo com ele, a melhor solução é ter um fis-cal que peça apenas a reti-rada das mesmas.

PoDer PÚbliCo erra

multando ou não, elas estarão sempre presentes. nem mesmo as placas de trânsito escapam dos equí-vocos. Por quase todas as rodovias do país, encontra-mos dizeres do tipo: “oBRaS À 50 m”. a crase, neste caso, aparece empregada de forma incorreta, já que números são palavras masculinas. uma placa sinalizadora, às margens da rodovia BR 116, apresenta o vocábulo “verifi-que” escrito da seguinte forma: “verefique”. Só para constar, a referida placa per-tence à classe de “placas e d u c a t i v a s ” d o C ó d i g o nacional de trânsito.

o caso é mais sério nesses exemplos porque o erro é do poder público, uma vez que as placas citadas não foram colo-cadas por um cidadão comum, mas sim pelo órgão que admi-nistra as estradas. a comer-ciante Heloisa Helena Ferreira, 46, amante da língua portu-guesa, declarou que está can-sada de se deparar com erros de português nas placas de trânsito. Segundo ela, “alguns são tão comuns que as pessoas até acreditam que estão corre-tos e se assustam quando são contrariadas pela gramática.”

QuaSe NuNCa aCertam

os erros mais comuns e “lights” são: “entregas à domi-cílio (em vez de “em domicílio” ou “no domicílio”), “vendas à prazo”, “lavagem à seco” (não se usa crase antes de palavras masculinas), e “preços à partir de...” (de acordo com a gramá-tica, não se emprega crase antes do verbo). everton Luís afirma que é raro ver a palavra “muçarela” escrita correta-mente. “em contrapartida, as pessoas escrevem “paço o ponto”, indigna-se. o que é também muito usado nas pla-cas e outdoors, é o apóstrofo. “no caso do apóstrofo — por exemplo, Leonardo’s bar —, penso que a pessoa usa porque acha chique, mas, na maioria das vezes, ela não tem nem noção do que é”, explica. e o que será que o professor diria de “against Filé”? acredite se quiser, mas também há quem traduza o intraduzível.

É uma realidade não muito agradável, mas é certo que a maior parte dos brasilei-ros não sabe a língua portu-guesa. Quem sabe, indigna-se ou diverte-se. Se você sabe, vale a dica: http://kibeloco.com.br/kibeloco/page/5/. nesse endereço, encontram-se alguns dos equívocos mais inacreditáveis. divirta-se! mas não sinta-se tão superior por conta desses absurdos. um dia, quem sabe, você pode ser mul-tado por errar uma simples ortografia. e lembre-se: a nossa querida língua portuguesa é mestre em pregar peças. ou seria “pessas”?

DiÊgo augusTo/CPJ

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Segundo a ex-deputada e presidente do movimento das donas de Casa de minas Gerais (mdCmG), Lúcia Pacífico, é importante o con-sumidor se orientar sobre o consumo consciente. “Com-prar menos, aproveitar ao máximo o alimento consu-mindo talos, folhas e até mesmo casca, ajuda a dimi-nuir o desperdício, o impacto ao meio ambiente e os gas-tos”, afirma. o mdCmG possui equipe treinada e, semanalmente, cinco donas de casa são escaladas para pesquisar preços em super-mercados sempre alertando o consumidor sobre a impor-tância da pesquisa, uma vez que cada produto pode ter variação de até 200% de um supermercado para outro. “É importante substituir os alimentos que estão caros por outros da mesma classe, mas que estão na safra,

assim o consumidor paga m e n o s e n ã o p e rd e o s nutrientes necessários”, ressalta Lúcia Pacífico.

a dona-de-casa edna da Silva afirma que o mdCmG desempenha um importante papel ao orientar consumi-dores nos diversos setores da economia. “eu já fui a várias palestras no movimento e achei muito proveitosas, nós aprendemos a economizar de várias maneiras”, diz.

a associação movimento das donas de Casas de minas Gerais desenvolve também atividades como atendimento jurídico referente aos direitos do Consumidor e Legislação da empregada doméstica, encaminha denúncias relati-vas a abusos em preços e frau-des na qualidade de produtos e serviços; promove campa-nhas de orientação e esclare-cimento e realiza ainda pales-tras educativas.IN

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assim o consumidor paga m e n o s e n ã o p e rd e o s nutrientes necessários”,

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Quando o tempo está bom demais, os preços das frutas, verduras e legumes podem cair. entretanto, o preço das carnes, do leite e s e u s d e r i v a d o s p o d e m aumentar, uma vez que os pastos secam e os fazendei-ros precisam complementar a alimentação do gado com ração. Fatores dos mais estranhos e diversos podem provocar oscilações na infla-ção, fazendo com que con-sumidores desinformados sofram com o aumento dos preços. inflação é um pro-ce s so pe l o qua l oco r re aumento generalizado nos preços dos bens e serviços, provocando perda do poder de compra da moeda. isso quer dizer menos dinheiro e mais necessidade dele. mui-tas vezes os índices inflacio-ná r i o s d i vu l gados pe l o Governo, aos olhos do con-sumidor, são muito menores que os encontrados nos supermercados. Segundo o e c o n o m i s t a m o i s é s machado, isso ocorre porque o índice é uma média de todos os preços. inclusive os encontrados nos supermer-cados. “no supermercado, o

consumidor só notará os que tiveram maior aumento, os que vão afetar mais no seu orçamento. eles não são rea-justados pelo índice de cesta básica, mas pelos seus cus-tos próprios”, diz.

Consumidores como dioclédio Ferreira afirmam que o aumento dos preços preocupa. “agora, estou com-prando apenas o necessário. não dá pra comprar e deixar sobrar, fazer gracinha”, afirma. Comerciantes como Pedro Vitor dos Santos Filho, que está há 56 anos no mer-cado Central, também recla-mam com a alta dos preços. “as vendas caíram uns 30%. as pessoas estão comprando em menor quantidade. minha sorte é que já tenho meus fre-gueses certos. Só na Semana Santa que deu pra vender um pouco mais”, afirma. Já o comerciante elias Vieira, que está há três anos no mercado Central, diz que as vendas caíram muito e só é possível recuperar o prejuízo nos fins de semana. “meio de semana é um fracasso! as verduras vêm pequenas e feias e, mesmo assim, o que eu ven-dia a R$1 hoje vendo a R$2,50 ou R$3. todo mundo reclama, mas fazer o quê?”.

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CaroliNe loPeS

L acarmél io al fêo de araújo é conhecido pelos belo-horizontinos como Cel-ton, o personagem das revis-tas em quadrinhos que ele mesmo produz. nascido em 1959, em inhapim, interior de minas, desde criança já se interessava por histórias em quadrinhos. Suas revistas preferidas na infância eram as de tarzan, marvel e Capi-tão américa. Como a mãe só o presenteava com histórias do Walt disney, ele lia escon-dido as revistinhas do irmão e amigos. a paixão pelo dese-nho apareceu bem cedo na vida de Lacarmélio, ele tinha apenas 13 anos quando veio para Belo Horizonte com sua família, e foi quando surgiu a idéia de produzir e vender suas histórias. Hoje, Celton vive nas grandes avenidas da capital mineira vendendo suas revistas em quadrinhos a apenas dois reais, e é desta forma, que ele ganha todo o seu sustento e de sua família.

Lince - Quando surgiu a vontade de produzir seus próprios quadrinhos?

Celton - Quando eu tive idade pra viajar sozinho. na década de 70, eu comecei a ir atrás de editoras no Rio de Janeiro e em São Paulo pra tentar a publicação das revis-tinhas, mas não deu certo. Como isso era algo que eu queria muito, então pedi pra m i n h a m ã e f a z e r u m empréstimo no banco pra eu mesmo conseguir bancar a publicação. ela fez o emprés-timo, e foi exatamente em 1985 que publiquei minha primeira revista. detalhe: não vendeu nada!

Lince - Quando o Cel-ton nasceu?

Celton - na década de 70. Quando eu criava histó-rias em quadrinhos na minha infância, eu criei o Celton, ele era um super-herói da mesma linhagem dos personagens das revistas que eu gostava de ler quando era criança.

Lince - Porque o nome Celton?

Celton - Quando eu criei o Celton, eu não queria por o nome dele de homem e algum bicho, igual os super-heróis, sabe? eu queria um nome fácil de falar, eu queria um super-herói com um nome como se fosse um oi, olá, que fosse fácil de assimi-lar. eu queria um herói dife-rente, um cara tranqüilo, na dele. o Celton está cada vez mais simples, ele tem uma superforça e corre em alta velocidade, mas não tem identidade secreta. ele tem uma oficina mecânica, onde ele conserta de tudo. nor-malmente, o brilho da histó-ria não fica em cima do Cel-ton, mas dos personagens que têm a ver com o roteiro,

o Celton é como um apre-sentador de televisão.

Lince - Quando você teve a idéia de vender as revistas nos sinais de trân-sito?

Celton - tive a idéia de vender as revistas na rua para pagar o empréstimo que minha mãe tinha feito. Primeiro, comecei a vender em barzinhos, porta de faculdade. Como não estava dando muito certo, parti para os sinais.

Lince - E de onde sur-giu toda essa sua experi-ência para vendas na rua?

Celton - a partir dos meu 13 anos eu já vendia coisas na rua. Vendia loteria, picolé, doce, também fui engraxate, ou seja, eu tenho uma expe-riência muito rica de rua.

Lince - Em sua opinião, qual foi o motivo para que as vendas das revistinhas crescessem tanto?

Celton - É que eu já não

estava mais escrevendo o que eu tinha influência, eu comecei a sacar o que as pessoas gostavam de ler. eu escrevo o roteiro hoje, depois gasto muito mais tempo pra adaptar o roteiro pra uma linguagem simples e popular. eu escrevia muito pra mim; hoje eu escrevo pro leitor.

Lince - Qual é a tira-gem das revistas?

Celton - Quando come-cei, a primeira tiragem foram cinco mil. Hoje são 20 mil revistas por edição, e eu tenho que vender as 20 mil. tudo o que você está vendo aqui em casa, esse estúdio aqui, é tudo dinheiro reti-rado da revista. inclusive o cenário das histórias que eu escrevo, são as ruas de Belo Horizonte, isso foi muito importante para que as ven-das aumentassem.

Lince - Qual fo i a revista mais rápida que

você produziu? E a mais demorada?

Celton - Foi em dois meses a mais rápida. a mais demorada foi um ano. Quando eu faço o roteiro é uma coisa; quando eu parto pra produção, eu começo a ver se vai dar certo. a mais demorada teve uma aven-tura em duas partes, a pri-meira parte foi “o Fantasma de ouro Preto’’; e a segunda parte “o apocalipse de Belo Horizonte’’, que é uma his-tória de um fantasma que sai de ouro Preto e vem pra Belo Horizonte tomar o título de capital de minas Gerais. ai, eu vou vendendo elas até a seguinte ficar pronta.

Lince - Qual a revisti-nha campeã de vendas?

Celton – “o combate da sogra com o capeta’’. essa revista vendeu as 20 mil e não parava de vender — che-guei a uma tiragem de 45 mil. eu fiz também “o com-

Celton, o nossoTiro minhas histórias da rua. “A sogra

maldita” foi quando eu vi um carro

parado na rua, a sogra no banco de

trás, o casal na frente, e a sogra brigando com a nora.

Caroline loPesCaroliNe loPeS Lince - Quando surgiu

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Lince - Você deve passar por algumas situações inusitadas no trânsito...Celton - duas que eu tô lembrando aqui. Quando eu tava vendendo “o capeta do

Vilarinho’’, eu estava carregando uma placa assim: neste número, o capeta do Vilarinho, e no período que eu estava vendendo a revista, apareceu um cara que arrancou a bíblia do bolso e começou a esfregar na placa, e ele gritava assim: ‘Jesus vai amarrar esse bicho, Jesus vai amarrar esse bicho’. depois teve outra, em frente ao minas Shopping. um casal mais velho passou de carro, quando eles viram o nome capeta na placa, o cara começou a jogar pedra e falou a mesma coisa do outro, ‘Jesus vai amarrar esse bicho’. e a mulher dele ficava fazendo sinal da cruz toda hora, sem parar. ontem mesmo, uma senhora da janela do ônibus gritou: Sai daí, sai daí.

bate do galo com a raposa’’, mais ainda não vendeu como a da sogra com o capeta. a próxima vai ser “o taxista e a passageira’’. olha só outro titulo que está na minha cabeça, “o marido, a esposa, a amante e o Ricardão’’.

Lince - E da onde você tira as histó-rias escreve?

Celton - na rua mesmo. Primeiro, eu lancei “a sogra maldita’’, e foi a partir de uma observação no trânsito, quando eu estava vendendo a revista no sinal, que criei o roteiro do combate da sogra com o capeta. eu estava parado vendendo a revista no sinal fechado, e tinha dentro de um carro parado na rua, a sogra sentada no banco de trás e o casal na frente, e a sogra brigando com a nora, na maior discussão. então, eu fiquei pensando: ‘nossa, que bacana!”. e aí virou história. ela vende legal, porém muita sogra começou a falar mal de mim na rua. na revista tem meu telefone e elas ligavam pra minha casa, me xingando. Pensei né, vou lançar uma revista pra essas sogras e vou conquistá-las. Lancei ‘’a sogra maravi-lhosa’’, que não vendeu nada.

Lince - Você já vendeu as revistas em outro estado?

Celton - Sim, em são Paulo. a partir de agora estou ligado em assuntos mais nacio-nais pra poder vender aqui e lá, sem ter que produzir uma revista especifica pra cada estado. mas o cenário das revistas continua sendo de BH. a próxima vez que eu for ven-der em São Paulo, eu vou produzir uma revista com cenas de são Paulo. eu tiro fotos pra conhecer a cidade, tiro muita foto, e ai desenho. eu trabalho o tempo todo. onde tem trânsito, tem o Celton.

Lince - A única forma de divulgação das suas revistas em quadrinhos são as ruas, mas já ouvi falar de pichações em muros sobre suas obras. É verdade?

Celton – É. isso foi 1981. Comecei a pichar as paredes das casas na rua. eu escre-via assim: ‘leia Celton’, e embaixo, ‘magní-fico’. olha, a revista ficou bem conhecida naquele período viu? mas depois eu fui pro-curado por muita gente e tive que pintar os muros de novo — e eu pintei muitos muros. Pintava o muro todinho.

Lince - Qual a história que você teve mais prazer em escrever?

Celton - ‘’o apocalipse de BH’’, porque gosto muito de história e geografia e a revista exigiu muita pesquisa, deu muito trabalho. também gostei de escrever “o capeta do Vilarinho’’, porque eu conseguir criar um roteiro em cima da lenda, sem desvendá-la. a lenda você tem que deixar continuar, “a loira do Bonfim”’ também gostei de escrever e vou lançar novas edições com ela.

Lince - Você já ganhou algum prêmio?

Celton - Já, um do instituto dos arquite-tos do Brasil, por causa dos cenários de Belo Horizonte que rolam na minha revista. Já ganhei um prêmio da Prefeitura, e alguns outros prêmios por ai. muito bom.

Eu tenho uma experiência

muito rica da rua. Desde os meus 13 anos

que eu já vendia coisas

na rua. Vendia loteria, picolé, doce, também fui engraxate...

Lince - Você acha que tem o reconhe-cimento que merece?

Celton - eu sou um cara prático; pra mim, o reconhecimento aparece com a venda da revista por que eu preciso dela pra viver. Quando o Jô Soares me convidou para ir até o programa dele — eu já fui lá duas vezes, você sabe né? —, muita mídia de BH, que antes nem me via, começou a me ver. a minha obra começou a sair nessas revistas de critica de literatura sabe? e antes era abaixo da critica, (risos). eu considero isso um reconhecimento. agora há pouco, o maurício Kubrusly, aquele repórter do “Fantástico”, esteve aqui em casa e gravou também. e eu já apareci em alguns progra-mas locais de São Paulo.

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Junho/201016 Junho/201016

O essencial é invisível aos olhos!

Roberto Minuzzi consola Samuel,

heroi da conquista do Minas, e a

câmera de Carlos Roberto capta toda

a emoção

per

Fil

Mais adiante, ao se referir

a esse “essencial”,

o escritor francês

Antoine de Saint-

Exupery, autor da frase

acima, diria que, esse essencial,

“só o coração é que vê”

SHeila meNDeS

apesar de todo o stress que rola dentro e fora de uma redação de jornal, o fotógrafo Carlos Roberto se supera para fazer da fotografia, uma arte. nascido em Curvelo, Carlos trabalha há 14 anos como fotógrafo do Jornal Hoje em dia. durante esse tempo, o que não faltaram foram momentos históricos, espe-ciais, marcantes, todos devida-mente registrados por sua câmara.

acostumado a trabalhar sob pressão, para cumprir a pauta do jornal, Carlos sempre acreditou que isso não é desculpa para um trabalho robotizado, de tirar fotos como se as imagens fossem apenas mais uma testemunha para acompanhar uma noticia — “Saber como observar faz toda a diferença para que o trabalho de qualquer fotógrafo não se torne exaustivo”, comenta.

Pensando assim, ele sempre procura uma maneira de se rein-ventar naquilo que já sabe sobre fotografia. Para ele, cada foto, cada imagem tem uma historia a mais para contar, ”além daquela que ela

própria já conta, tudo é uma ques-tão de interpretação, pode ser uma foto para uma matéria policial, ou sobre dicas culturais, qualquer ima-gem têm um pouco de nossa cul-tura, nossos costumes e valores; a fotografia deve expressar como é o ser humano segundo o olhar do outro”, ensina.

atento aos detalhes de uma imagem, ele busca ver nos objetos, e principalmente nas pessoas, deta-lhes que possam passar desperce-bido por muitos.

“tenho como característica observar por horas algo. Procuro regis-trar o momento que melhor expresse o que pretendo mostrar. É importante deixar claro que o fotojornalismo não é uma obra de arte, é um trabalho, que, feito com tamanha perfeição, pode se tornar uma arte sem a pretensão”, disse Carlos Roberto.

Com uma simplicidade de dar inveja, Carlos contou com muita timidez sobre sua infância, e sua tra-jetória profissional. Vindo de uma família humilde, Carlos Roberto teve, quando era criança, uma vida tran-quila. acostumado a brincar como

seus amigos, fez tudo o que tinha direito e o que não tinha: soltou papa-gaio, jogou vôlei, quebrou vidraças, caçou pássaros e confessou (bastante envergonhado) que até roubou uma rosa de um jardim, para sua profes-sora... até os 18 anos, Carlos não tinha a menor preocupação quanto à formação profissional, mas a natural curiosidade de menino, o fez ganhar um concurso de fotografia promovido pela telemig, que buscava novos talentos. Carlos ganhou por sua cria-tividade ao fotografar um vizinho que construía uma casa muito linda, enquanto a sua e ra bas tan te humilde...

Foi tirando uma foto aqui, outra ali, que Carlos Roberto decidiu fazer um curso por correspondên-cia. Começava ali uma nova vida e nascia um fotógrafo que teria muita história para contar e fotos para mostrar. desde então sua vida nunca mais foi a mesma.

mas a foto que mais o emocionou oculta uma bela história, trágica, dra-mática, emocional. Foi no final da Superliga de Vôlei, em 2007, entre o telemig Celular minas e a Cimed, de

Santa Catarina. na quadra, o capitão Roberto minuzzi, do minas, abraçava Samuel Fuchs, seu colega de equipe, que na véspera, havia perdido seu irmão mais novo, andreas, em um acidente de moto. “Quando vi a cena, sabia que algo de muito humano estava acontecendo e resolvi registrar aquele instante, que para mim repre-sentou muito. a vitoria do minas tinha que ser noticiada, mas o que estava acontecendo entre os dois atle-tas, não poderia jamais passar desper-cebido”, disse Carlos Roberto, ainda emocionado.

no dia a dia do fotojornalismo, é preciso filtrar, separar e tentar entender que por trás de cada furo de reportagem, estamos lidando com pessoas que têm sentimentos, e que estão, antes de mais nada, querendo a todo o momento se expressar. ao retratar a dor pro-funda de Samuel, Carlos Roberto resgatou esse raro sentimento, aquele instante mágico que, como bem disse Saint-exupery, pode ter-sido invisível para alguns olhos, mas não para quem fez de sua câmera seu próprio coração.

Fo

To

s C

ar

lo

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To