jornal do fórum das 6 - dezembro de 2010

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STU Sintusp Sinteps Sintunesp Adusp - S. Sind. Adunesp - S. Sind. Adunicamp - S. Sind. DCE da Unicamp DCE da USP DCE da Unesp e FATEC Nº 2 - Dezembro 2010 Num claro desrespeito à inteligência de docentes, servidores e estudantes, os reitores vêm repetindo em 2010 a mesma política de anos anteriores. Apresentam previsões de arrecadação rebaixadas, baseiam-se nelas para negociar durante a data-base e, depois, quando os reais números vêm à tona, caem no mais sepulcral silêncio. De um prognóstico inicial de R$ 59 bilhões para 2010, a previsão já bate na casa dos R$ 66 bilhões. O dado consta de documentos oficiais da Unesp. Se o Cruesp conceder o reajuste de 16% pleiteado na data-base, o que representaria um acréscimo de 8,85% sobre os salários de agosto, ainda assim o comprometimento total das três universidades com a folha de pagamento não passaria dos 85%. Veja na página 3 R$ 66 bilhões Fórum cobra discussão democrática e garantia de isonomia entre as universidades - Págs. 3 e 4 Governo ameaça quebrar o vínculo entre Ceeteps e Unesp Leia na página 7 Ensino à Distância e formação inicial Argumentos frágeis, interesses sólidos Nas páginas 5 e 6, confira relato sobre os debates entre Fórum e Cruesp, no ano passado, e como está a implanta- ção do ensino à distância nas universidades e no Ceeteps Estudantes da Unesp reorganizam DCE e promovem atos Na pág. 8, leia também nota do Fórum das Seis contra as agressões durante o InterUnesp, em Araraquara Estrutura de poder nas universidades estaduais e no Ceeteps é antidemocrática Pág. 8 Expansão com qualidade! Defesa de mais recursos para a educação pública paulista estará na ordem do dia em 2011. Pág. 6 Reprodução: Informativo Adusp

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Jornal do Fórum das 6 - Dezembro de 2010

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Page 1: Jornal do Fórum das 6 - Dezembro de 2010

STUSintuspSintepsSintunespAdusp - S. Sind.Adunesp - S. Sind.Adunicamp - S. Sind.DCE da UnicampDCE da USPDCE da Unesp e FATEC

Nº 2 - Dezembro 2010

Num claro desrespeito à inteligência de docentes, servidores e estudantes, os reitores vêm repetindo em 2010 a

mesma política de anos anteriores. Apresentam previsões de arrecadação rebaixadas, baseiam-se nelas para

negociar durante a data-base e, depois, quando os reais números vêm à tona, caem no mais sepulcral silêncio.

De um prognóstico inicial de R$ 59 bilhões para 2010, a previsão já bate na casa dos R$ 66 bilhões.

O dado consta de documentos oficiais da Unesp.

Se o Cruesp conceder o reajuste de 16% pleiteado na data-base, o que representaria um acréscimo de 8,85% sobre

os salários de agosto, ainda assim o comprometimento total das três universidades com a folha de

pagamento não passaria dos 85%. Veja na página 3

R$ 66 bilhões

Fórum cobra discussão democrática e garantiade isonomia entre as universidades - Págs. 3 e 4

Governo ameaça quebrar ovínculo entre Ceeteps e Unesp

Leia na página 7

Ensino à Distânciae formação inicial

Argumentosfrágeis,

interessessólidos

Nas páginas5 e 6,

confirarelato sobreos debates

entreFórum e

Cruesp, no anopassado, e comoestá a implanta-ção do ensino à

distância nasuniversidades e

no Ceeteps

Estudantes da Unesp reorganizamDCE e promovem atos

Na pág. 8,leia também

nota doFórum das

Seis contra asagressõesdurante o

InterUnesp,em Araraquara

Estruturade

poder nasuniversidades

estaduais eno Ceeteps é

antidemocráticaPág. 8

Expansão comqualidade!Defesa de mais recursos para a educação

pública paulista estará na ordem do dia em 2011.Pág. 6

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Dezembro 2010 - Página 2 Jornal do Fórum das Seis

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ITO

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LA ‘modernidade’ do Cruesp e a

atualidade das nossas lutasE

DIT

OR

IAL A ofensiva dos reitores nesta

data-base, iniciada com aquebra da isonomia dereajuste entre as categorias eescancarada com a tentativade criminalizar o movimento,ganha novos contornos.

ExpedienteJornal do Fórum das Seis

é uma publicação conjunta do

Sindicato dos Trabalhadores da

Unicamp/STU, Sindicato dos

Trabalhadores da USP/Sintusp,

Sindicato dos Trabalhadores do

Centro Paula Souza /Sinteps,

Sindicato dos Trabalhadores da

Unesp/Sintunesp, Associação

dos Docentes da

USP/Adusp-S.Sind.,

Associação dos Docentes da

Unesp/Adunesp-S.Sind.,

Associação de Docentes da

Unicamp/Adunicamp S.Sind.,

Diretório Central de Estudantes

da Unicamp, Diretório Central

de Estudantes da USP e

Diretório Central de Estudantes

da Unesp/Fatec.

Jorn. Resp: Bahiji Haje

(MTB 19.458).

Tiragem desta edição:

25 mil exemplares.

reais números vêm à tona, caem no mais sepulcral silêncio. Deum prognóstico inicial de R$ 59 bilhões para 2010, a previsão já

bate na casa dos R$ 66 bilhões. O dadoconsta de documentos oficiais da Unesp.

A maior parte dos ofícios enviadospelo Fórum ao Cruesp ficou sem resposta.Queremos que os reitores cumpram o acorda-do com a categoria (acordo Fórum/Cruesp de1991) e agendem uma negociação ainda nestesemestre. Queremos debater a reposição sala-rial e os demais itens da Pauta Unificada 2010.

Reforma e privatizaçãoOs pontos elencados até aqui são o pano de fundo de

um cenário que delineia um projeto de privatização e destruiçãoda universidade pública. A ofensiva dos reitores nesta data-base,iniciada com a quebra da isonomia de reajuste entre as categoriase escancarada com a tentativa de criminalizar o movimento, ganhanovos contornos.

O documento “Princípios gerais para a criação de no-vos cursos de graduação na USP”, apresentado pelo reitor JoãoGrandino Rodas e aprovado pelo Conselho Universitário em 14/9,revela os novos passos que a burocracia universitária planeja dar,em consonância com a política privatista do governo de plantão emSão Paulo. As diretrizes, que vêm sendo chamadas de “reforma naUSP”, anunciam a possibilidade de rever currículos e até fecharcursos. Para incentivar as unidades a se ajustarem aos novos prin-cípios, o reitor sugere que elas compitam entre si por verbas suple-mentares. “No bom sentido, o objetivo é colocar emulação, incenti-

vo e concorrência dentro da USP. Uma unidade em que aspropostas dos dirigentes não têm coerência, que não se

mexe e que fica com o dinheiro parado, pode perdersuplementação, pois está mostrando que não éum bom investimento para a Universidade” (OEstado de S. Paulo, 1/10/2010, pág. A3).

E, para que não restem dúvidas deque a evolução da USP deve ser a privatiza-ção, Rodas foi explícito: “Em um mundo emconstante evolução, para que a universida-de, pública ou privada, se mantenha atuali-zada, são necessários orçamentos cada vezmaiores. Tal fenômeno verifica-se tanto noexterior quanto no Brasil, não sendo poracaso que as universidades mais importan-

tes do mundo sejam também as campeãs na captação de recur-sos” (Folha de S. Paulo, 10/9/2010).

A ofensiva de Rodas, aparentemente mais afoito queseus colegas reitores, não é uma particularidade da USP. A con-duta do Cruesp nesta data-base mostrou que a política das trêsuniversidades está em sintonia. De nossa parte, é preciso cons-truir, no bojo das lutas que nos desafiam agora e no próximo ano,uma campanha em defesa da universidade pública e gratuita, con-tra quaisquer tentativas de privatização.

O segundo período letivo caminha para o encerra-mento. Muitas das batalhas que nos moveram neste ano conti-nuam na ordem do dia: a questão sala-rial, a democratização das estruturasde poder nas universidades e no Cen-tro Paula Souza, a necessidade de maisverbas para a educação pública, políti-cas efetivas de permanência estudan-til, realização de um debate amplo edemocrático sobre a carreira docente ede servidores, repúdio à criminalizaçãodo movimento, o ensino à distância, aterceirização, entre outros.

Sobre cada um destes temas, seria possível escrevervárias páginas. A edição passada do Jornal do Fórum procu-rou aprofundar alguns deles, como a terceirização e a crimina-lização do movimento. Nesta edição atual, avançamos sobreoutros. Nas páginas 3 e 4, veremos que as propostas de mu-danças na carreira docente caminham a passos largos nastrês universidades, deixando um rastro de sérias dúvidas nacategoria e evidenciando um embate entre concepções deuniversidade. A carreira dos servidores também suscita ques-tionamentos.

O início da primeira licenciatura à distância na USP,que se soma ao curso de Pedagogia oferecido pela Unesp,ambos em parceria com a Universidade Virtual do Estado de SP(Univesp), é assunto das páginas 5 e 6. A expansão de vagaspor vias virtuais, ao que parece, é um dos caminhos encontra-dos pelo governo, com a cumplicidade das direções das uni-versidades estaduais paulistas, para tentardriblar a demanda por educação superiorpública de qualidade em São Paulo.

A necessidade de democra-tização das estruturas de poder naUSP, Unesp, Unicamp e Centro PaulaSouza – tema tratado na página 8 –pode ser resumida em um númerorevelador: no processo oficial desucessão do reitor da USP, em 2009,apenas 0,3% da comunidade univer-sitária esteve envolvida.

A luta por mais verbaspara a educação (pág. 6) e a retoma-da da organização estudantil naUnesp (pág 8) também são temas da edição. A contextualizaçãodo vínculo existente entre o Centro Paula Souza e a Unesp,novamente ameaçado, entra em debate na página 7.

Bem... e os números do ICMS? Como mostra matériana página seguinte, eles falam por si. Num claro desrespeito àinteligência de docentes, servidores e estudantes, os reitoresvêm repetindo em 2010 a mesma política de anos anteriores.Apresentam previsões de arrecadação rebaixadas, baseiam-senelas para negociar durante a data-base e, depois, quando os

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Page 3: Jornal do Fórum das 6 - Dezembro de 2010

Jornal do Fórum das Seis Dezembro 2010 - Página 3

REAJUSTE SALARIAL

O Cruesp se cala, mas os números falam por si!

A Assessoria de Planejamen-to e Orçamento (Aplo) da Unesp prevêuma arrecadação do Imposto sobre Circu-lação de Mercadorias e Serviços (ICMS),em 2010, superior a R$ 66 bilhões.

A informação aparece formal-mente na Peça Orçamentária da Universi-dade para 2011. Como mostrado na tabela3 (página 10 do documento), a Aplo pre-vê, no item “Recursos do Tesouro”, que aUnesp receberá R$ 1.555.073.504 em 2010.Considerando que a cota parte da Unespé 2,3447% do total repassado às universi-dades estaduais paulistas, tem-se umaestimativa para a arrecadação de ICMSsuperior a R$ 66 bilhões em 2010.

Antes de analisar este dado, épreciso resgatar alguns fatos.

Os orçamentos das três univer-sidades para 2010, apro-vados no final de 2009,utilizaram como base aprevisão de arrecadaçãooficial (feita pela Secreta-ria da Fazenda) de R$ 59bilhões para o ICMSdeste ano. Na primeirareunião da ComissãoTécnica do Cruesp como Fórum das Seis, realiza-da em 06/05/2010, bem

Documento oficial da Unesp supera previsões mais otimistas e projeta arrecadação do ICMS parapatamar superior a R$ 66 bi em 2010. Queremos discutir a reposição salarial no segundo semestre e a

ampliação dos recursos à permanência estudantil

como na primeira reunião do Fórum com oCruesp, em 11/05/2010, os técnicos doCruesp informaram que, com base noefetivamente arrecadado até aquele mo-mento, estavam utilizando, como previsãoda arrecadação do ICMS para 2010, ovalor de R$ 61,2 bilhões. O Fórum dasSeis questionou estes números desde oprimeiro momento, pois estava óbvia atentativa, mais uma vez, de intimidar acampanha salarial da categoria com previ-sões de arrecadação rebaixadas.

No dia 17/8, em reunião com oFórum das Seis, a Comissão Técnica doCruesp disse que havia revisto sua previ-são, ampliando-a para R$ 63 bilhões.

Na edição de agosto do Jornaldo Fórum, foram apresentados algunscenários para a arrecadação do ICMS.

Trabalhando com uma estimativa conser-vadora – R$ 65 bi –, o Fórum constatouque o Cruesp poderia conceder o reajustede 16% pleiteado na data-base, o que re-presentaria um acréscimo de 8,85% sobreos salários de agosto. Com isso, o com-prometimento total das três universidadescom a folha de pagamento ficaria em tornode 85%, limite utilizado pelo próprio Cruespquando definiu o reajuste de 6,57%, emmaio. Vale lembrar que este reajuste tevecomo base a arrecadação de R$ 61,2 bi.

Agora, com a previsão superan-do os R$ 66 bi, é óbvio que os reitorespodem conceder o reajuste reivindicadona data-base. Esta mesma simulação,como mostra a tabela, na qual o Cruespconcede 16% na data-base, leva o com-prometimento médio das três universida-

des com a folha depagamento, em 2010,para 84,55% (adotan-do-se arrecadação deR$ 66 bi).

A situaçãoeconômico-financeiradas universidadespúblicas paulistas émuito confortável,reforçando a convic-ção de que era e ainda

Cenário 1O Cruesp não concede reajusteadicional

Cenário 2Reajuste de 16% na data-base(isto representa um acréscimo de8,85% sobre os salários atuais)

Comprometimento acumulado do orçamento das universidades em2010 com as folhas de pagamento, considerando uma arrecadação

de R$ 66 bilhões (em %)

Universidades/Cenário Unesp Unicamp USP Total

82,30 81,70 78,65 80,24

86,73 86,06 82,87 84,55

é possível ampliar os recursos para o pa-gamento de salários daqueles que traba-lham nessas universidades e fazem delas osegmento mais forte do ensino superior eda pesquisa no país.

O Fórum enviou vários ofícios aoCruesp, solicitando o agendamento dereunião para discutir esta questão e, tam-bém, a continuidade da negociação daPauta Unificada 2010. Não houve retorno.

Que o Cruesp cumpraa palavra

O Fórum das Seis quer que oCruesp cumpra a palavra empenhada noacordo celebrado com as categorias em1991, que prevê negociações no segun-do semestre de cada ano. Queremos de-bater qual destino deve ter este expres-sivo excedente de arrecadação.

Para o Fórum, o investimentodeve se concentrar em recursos huma-nos, tendo como perspectiva a reivindi-cação da data-base 2010, de forma isonô-mica para servidores docentes e técnico-administrativos. Parte deste excedentedeve ser revertido para a permanênciaestudantil (construção de restaurantes,moradia etc), além dos gastos regularesjá efetuados com a gratuidade ativa. Coma palavra, os reitores!

Embora a discussão sobre acarreira docente não tenha sido parte dasreivindicações do Fórum das Seis nosanos anteriores, em 2009 ela entrou empauta nas três universidades. Desta forma,o tema tornou-se de interesse essencialpara a categoria e, indiscutivelmente, paraa definição do projeto de universidadeque se deseja. Porém, até agora, o debatenão teve a amplitude necessária. Brota-ram as dúvidas iniciais: quais as razõesacadêmicas para essa mudança? Comoficaria a isonomia nas três instituições?

A situação na USPOficialmente, tudo começou na

USP, quando, em votação tumultuada, no

Carreira docente - Fórum cobra discussão democráticae garantia de isonomia entre as universidades

dia 4 de março de 2009, o Conselho Univer-sitário (Co) aprovou a introdução de altera-ções na carreira docente. Após discussãoem assembleia da Adusp, foram impetradospor docentes 17 mandados de segurançaindividuais contra a então reitora, reivindi-cando que fosse anulada a votação.

A aprovação no Co levou à edi-ção da Resolução 5.529/09 que, em seuartigo 10, determina que o “Conselho Uni-versitário indicará Comissão destinada aapresentar, no prazo de 60 dias, propostade critérios e procedimentos necessários àregulamentação da passagem para osníveis de Professor Doutor 2, ProfessorAssociado 2 e Professor Associado 3.”

Um dos argumentos elencados

pela advogada da Adusp, ao contestar avalidade da aprovação da nova carreira, éde que a criação da citada comissão nadamais seria do que um artifício para driblara exigência do quórum de 2/3 para a vota-ção dos critérios de progressão. Em 16/11/2010, a juíza Simone Gomes RodriguesCasoretti, da 9ª Vara da Fazenda Pública,em seu julgamento de mérito do proces-so, considerou a ação procedente emparte, declarando nulo o artigo 10º daResolução 5.529/09, por contrariar o esta-tuto da Universidade, em seu artigo 16,parágrafo único, alínea 8. Assim, perma-nece a exigência de quórum de 2/3 para avotação dos critérios de progressão.

Para a Adusp, a proposta de

carreira aprovada no Co tem um viés pro-dutivista. Em informativo de 1/11/2010, aentidade reivindica que a Universidadeinstale um processo de discussão sobre“que modificações no estatuto são neces-sárias, em particular na carreira acadêmica,para avançarmos no sentido da constru-ção de uma universidade onde se faça, deforma integrada, a capacitação ao trabalhoe a reflexão crítica sobre a sociedade naqual está inserida, assim como a produçãodo conhecimento, o desenvolvimento e ademocratização do saber crítico em todasas áreas da atividade humana”.

Page 4: Jornal do Fórum das 6 - Dezembro de 2010

Dezembro 2010 - Página 4 Jornal do Fórum das Seis

O que o Fórum defendeA assembleia de associados à

Adusp, de 26/10, reiterou posição contráriaà introdução de níveis horizontais na carrei-ra e manifestou sua preocupação com aimplementação de uma carreira que foi apro-vada em votação irregular.

Na UnicampNa Unicamp, os primeiros pas-

sos foram dados em junho de 2009, quan-do a reitoria designou uma comissão paraapresentar estudo sobre a carreira docen-te. Em agosto, foi divulgado um projetoque previa, em suma, a criação de doisníveis de carreira intermediários, um entreMS-3 e MS-5 e outro entre MS-5 e MS-6.Em 24/11/2009, o projeto foi aprovadopelo Conselho Universitário.

Posteriormente, o Cruesp criouuma comissão, composta pelos três vice-reitores, para discutir os pontos conver-gentes e divergentes entre as propostasem tramitação nas três universidades. Combase no documento elaborado pela comis-são do Cruesp, a reitoria da Unicamp colo-cou novamente em discussão a carreiradocente. A reunião do Consu prevista para30/11, data de fechamento desta edição,tem na pauta a revogação da deliberaçãoaprovada em 2009 (A-O5/09) e sua substi-tuição por uma nova deliberação. A ques-tão central é a introdução de mais um nível

entre MS-5 e MS-6.Além do viés produtivista, um

outro problema central apontado pelaAdunicamp é a exclusão dos aposenta-dos frente às novas regras.

Na UnespNa Unesp, o tema entrou em

pauta no início de 2008, quando o atualreitor e presidente do Conselho de Ensi-no, Pesquisa e Extensão (CEPE) na épo-ca, Herman Voorwald, constituiu umacomissão para elaborar uma proposta decarreira docente. O projeto – que estabe-lece níveis intermediários entre as cate-gorias já existentes de Professor Assis-tente Doutor, Professor Adjunto e Pro-fessor Titular –foi aprovado pelo Conse-lho Universitário em março de 2010. Damesma formaque na Uni-camp, deixade fora osaposentados.

Asnovas carrei-ras ainda nãoentraram emvigor em ne-nhuma dastrês universi-dades.

O Fórum das Seis vem realizandouma série de debates internos para avaliaras propostas aprovadas nas três universi-dades e traçar uma luta conjunta. Há con-senso de que a carreira deva orientar o tra-balho docente de forma não impositiva,respeitando demandas e perfis de cada ins-tituição, mas sem ferir a isonomia.

A situação dos aposentados é umimbróglio. Nas três universidades, fica cla-ra a intenção de excluí-los do processo.Ainda que reunissem, na época da apo-sentadoria, as condições para atingir de-terminado “nível”, não poderiam fazê-lo.

A desvinculação entre carreira eestrutura de poder é outro aspecto fulcral

para o Fórum. Na USP,onde o problema é maisagudo, o segmento dosprofessores titulares con-trola todos os colegiadose tem o privilégio — ve-dado aos demais docen-tes — de candidatar-seaos principais cargos daadministração: reitor, dire-tores de unidade e chefesde departamento. Para oFórum, a disputa de po-

der no interior da universidade deve aco-lher todos os interessados, independentedo grau da carreira em que estejam.

O Fórum defende, também, quequalquer alteração na carreira precisa sebasear em argumentos de natureza acadê-mica e não salarial. A correção salarial e areparação de defasagens nos vencimen-tos devem ser discutidas durante os perí-odos de data-base, em negociações dire-tas entre Fórum e Cruesp.

Resgatando os princípios histo-ricamente defendidos pelo Andes – Sin-dicato Nacional em relação à carreira do-cente, o Fórum destaca: carreira única,com base no princípio “trabalho igual, sa-lário igual”; regime jurídico único; ingres-so por concurso público; critérios exclu-sivamente acadêmicos.

Considerando a importância dodebate e o impacto que as reformas nascarreiras têm sobre as condições do tra-balho docente e sobre a própria concep-ção de universidade pública de qualida-de, o Fórum interpelou o Cruesp, atravésde ofícios, ao longo de 2009 e 2010, pro-pondo que o assunto seja discutido, ini-cialmente, no âmbito da Comissão de Iso-nomia Fórum/Cruesp. Não houve retorno.

Valorização dos níveisiniciais da carreira

No final de 2009, o Fórum dasSeis discutiu a elaboração de uma pro-posta de valorização dos níveis iniciaisda carreira docente, aí incluídos os salá-rios dos Auxiliares de Ensino e Assis-tentes. A reivindicação, que não foi en-tregue aos reitores devido à proximida-de da data-base 2010, deve voltar à pau-ta de discussões do Fórum.

A exemplo do que acontece comos docentes, não há entre as universida-des estaduais paulistas um plano de carrei-ra isonômico para os servidores técnico-administrativos.

Na data-base 2010, como produtoda longa greve dos servidores contra aquebra da isonomia de reajuste entre ascategorias, o assunto voltou a ser ventila-do. Na Unesp, está em tramitação nos ór-gãos colegiados um projeto de equipara-ção das funções com a USP e a Unicamp. Aavaliação do Sintunesp é que a equipara-ção, antiga reivindicação da categoria, so-mente saiu do papel graças ao movimentode 2010. A proposta final do Grupo de Re-estruturação da Carreira está nas mãos doreitor, Herman Voorwald, e o Sindicato co-bra a imediata implementação da proposta.

Na Unicamp, a carreira foi tema detrês seminários em 2010, organizados peloSindicato dos Trabalhadores da Unicamp(STU). No evento do dia 20/10, a atividadecontou com representantes da DiretoriaGeral de Recursos Humanos (DGRH), que

A carreira dos servidores técnico-administrativosexpuseram uma nova proposta de CarreiraPaepe (Profissional de Apoio ao Ensino ePesquisa). A atual coordenadora da DGRHadmitiu que, nos últimos 20 anos, “apenas11% dos funcionários tiveram promoçãoacelerada, enquanto para 53% os níveis depromoção foram críticos na Unicamp”. Issocomprova a razão das inúmeras reclama-ções da categoria acerca da carreira e oquanto é necessário haver mudanças.

Na ocasião, o STU apresentou suaproposta de carreira, criada em 1998/1999 eque recebeu várias sugestões dos trabalha-dores nos últimos anos. O Sindicato defen-de que a carreira não perca de vista o tipo defunção exercida, a experiência do profissio-nal, a formação e os títulos adquiridos, con-siderando a função pública da Universida-de. Para o STU, o debate precisa prosseguir.A entidade entende que carreira não deveser uma discussão restrita a gabinetes e, sim,com toda a comunidade envolvida. Casoisso não ocorra, a ‘nova’ carreira estará fa-dada ao fracasso e, como a anterior, não aten-derá às expectativas dos trabalhadores.

Na USP, a partir de vários seminá-rios organizados pelo Sintusp nos últimosanos, os servidores buscam construir umaproposta de carreira para a categoria. A rei-toria já anunciou que pretende implemen-tar um novo plano de carreira em 2011, comresultados em 2012 e 2013. Em reunião rea-lizada no dia 3/11, o Departamento de Re-cursos Humanos (DRH) da USP concor-dou em montar uma comissão paritária paradiscutir o assunto. Entre os pontos defen-

Nas ETEs e FATECs, carreira veio depoisde 10 anos e manteve distorções

Às vésperas do início de uma greve dos professores e funcionáriosdas escolas técnicas (ETEs) e faculdades de tecnologia (FATECs) que com-põem o Centro Paula Souza (Ceeteps), em fevereiro de 2008, o governo Serraanunciou o envio à Assembleia Legislativa (Alesp) de sua proposta de planode carreira. O projeto tramitou ao longo do ano e acabou sendo aprovado semnenhuma das emendas defendidas pelo Sinteps, sindicato que representa acategoria e que faz parte do Fórum das Seis. Após 10 anos de promessas, oplano não atendeu às expectativas da maioria dos trabalhadores. As propos-tas do Sinteps para a carreira de professores e funcionários, aprovadas noscongressos da categorias, podem ser conferidas em www.sinteps.org.br.

didos pelos servidores está a redução dosdegraus e o estabelecimento de critériosclaros e objetivos de ascensão, de acordocom as expectativas e área de atuação decada funcionário, dentro das especificida-des das unidades.

O Fórum das Seis defende que oCruesp abra o debate sobre a carreira dosservidores de forma ampla e democrática,inicialmente no âmbito da Comissão de Iso-nomia Fórum/Cruesp.

Page 5: Jornal do Fórum das 6 - Dezembro de 2010

Jornal do Fórum das Seis Dezembro 2010 - Página 5

A Universidade Virtualdo Estado de São Paulo (Univesp)foi criada em outubro de 2008. Se-gundo o governo paulista, seu ob-jetivo é “ampliar o acesso à educa-ção superior pública”, em parceriacom a Unesp, USP, Unicamp e Cen-tro Paula Souza (Ceeteps). A estru-tura consorciada da Univesp agre-ga, ainda, a Fundação Padre Anchi-eta, a Fapesp, a Fundap e a Impren-sa Oficial. O projeto acadêmico,conteúdos, processo de seleçãopara ingresso e avaliação de desem-penho nos cursos cabem às insti-tuições de ensino envolvidas.

Na Unesp, a primeira gra-duação à distância implantada é ade Pedagogia, com duração de trêsanos. Após processo seletivo, os1.350 aprovados iniciaram as aulasem março deste ano. De acordocom o site da Univesp, o cursoterá 3.390 horas, sendo 60% à dis-tância, em atividades realizadasnos pólos distribuídos por 21 cida-des paulistas.

Na USP, teve início em 18de outubro a Licenciatura em Ciên-cias à distância. Os 360 seleciona-dos estão vinculados a uma dasquatro cidades pólo: São Paulo, SãoCarlos, Ribeirão Preto e Piracicaba, com90 vagas cada. O curso terá um total de2.835 horas, sendo 52% à distância. Aaula inaugural, realizada no campus Bu-tantã, em 23/10, foi presencial e contoucom a participação do reitor João Grandi-no Rodas e do coordenador do curso, Gilda Costa Marques. “Tudo está planejadoe o diploma será tão válido quanto o doensino superior”, explicou Marques (Uni-vesp Notícias, em 25/10/2010).

No Centro Paula Souza, estásendo preparado o lançamento do cursode Tecnologia em Processos Gerenciaisà distância, com duração de três anos e3.200 vagas, com pólos de apoio emFATECs de 40 cidades. Em 2009, cerca de200 professores e diretores da instituiçãofinalizaram o Curso de Capacitação Do-cente para o Ensino Semipresencial, ofe-

Ensino à Distância e formação inicial

Argumentos frágeis, interesses sólidosCom a implantação de cursos à distância para formação de professores na Unesp e na USP,

o governo tenta consolidar o EàD como via de expansão de vagas públicas

recido pela Secretaria de Ensino Superiordo Estado e ministrado na Unicamp. Aolongo de 2010, outras capacitações estãosendo realizadas com a mesma finalidade.

Na Unicamp, o Conselho Uni-versitário não autorizou o início de ne-nhum curso de graduação à distância atéo momento.

Debates em 2009A criação da Univesp suscitou

pesadas críticas por parte da comunidadedas três universidades e do Ceeteps. Nagreve de 2009, a rejeição à Univesp erauma das principais bandeiras de estudan-tes, docentes e funcionários.

O Fórum das Seis tem procura-do estimular o debate e a reflexão acercado significado desta iniciativa. Comofruto das negociações da data-base

2009, foi realizado um ciclode debates, organizado con-juntamente pelo Fórum epelo Cruesp, sobre o tema,com três eventos.

O primeiro deles ocor-reu no dia 21/10/2009, com otema “EàD: Por que e paraquem? Limites e Possibilida-des”, no campus da Unespde Bauru. Os debatedoresforam os professores CésarAugusto Minto e Maria A.Segatto Muranaka (pelo Fó-rum), Cleide Mara RibeiroSouza e José Armando Valen-te (pelo Cruesp).

O segundo debate, nodia 11/11/2009, foi realizadona Unicamp, com o tema“Faltam professores? Ensi-no à Distância é a solu-ção?”. À mesa, estavam osprofessores Otaviano Hele-ne e Ivany Rodrigues Pino(Fórum), Bernardete Gatti eMaria Elizabeth B. de Almei-da (Cruesp).

O último encontro dasérie ocorreu na USP, no dia2/12/2009, com o tema“Como formar quadros para

o país?”. Debateram os professoresEdmundo Fernandes Dias e Sueli Guade-lupe de L. Mendonça (Fórum), KlausSchlünzen Junior e Manoel Oriosvaldode Moura (Cruesp).

Transmitidos pela Internet, osdebates conseguiram expor os principaisargumentos favoráveis e contrários aoEàD. A carência de professores na educa-ção básica foi um dos mais citados entreos defensores do ensino à distância. Emsua exposição, o professor OtavianoHelene, da USP, procurou demonstrar queele não procede. O primeiro aspecto adestacar, segundo o docente, é que nãofaltam professores no país. Considerandoo número dos que se aposentam anual-mente, seriam necessários, em média, 50mil novos profissionais a cada ano. Ocor-re que o país forma cerca de 170 mil pro-

fessores todos os anos. Sem evasão, onúmero de formados seria de 480 mil.

“A questão é que parte consi-derável destes professores não vai paraa sala de aula, por problemas que vãodesde os baixos salários até as condi-ções precárias de trabalho”, explicou.“Assim, apresentar EàD como soluçãosó fará crescer o número de professoresfora da sala de aula.”

Outra contradição, segundoOtaviano, é o grande número de vagas àdistância oferecidas na área de Pedago-gia. “O curioso é que a Pedagogia ofere-ce 170 mil vagas presenciais e formacerca de 70 mil pessoas por ano, o queseria mais do que suficiente para cobrir ademanda”, exemplificou.

Para ele, o crescimento acelera-do de EàD no Brasil nos últimos anospode ter explicações bem concretas. Umadelas seria a exigência prevista no PlanoNacional de Educação (PNE), de que 30%dos jovens entre 18 e 24 anos estejammatriculados no ensino superior até 2011.Outra seria a pressão das grandes empre-sas de informática.

Otaviano também lembrou que oinvestimento do governo está muitoaquém do que deveria ser em educação.“Há espaço enorme para expandir o ensi-no presencial com qualidade”, afirmou.Ele citou, também, que o Brasil tem 100mil doutores e cerca de 200 mil mestresatualmente. “É irônico que, no momentoem que temos tantos profissionais qualifi-cados para assumir a educação presenci-al, eles passem a ser substituídos portutores em EàD.” Formação para a cidadania

Para o Fórum das Seis, a criaçãoda “universidade virtual” materializa aintenção do governo de instituir ensinode qualidade diversificada para diferentesparcelas da sociedade, preservando os“centros de excelência” para a formaçãodos quadros dirigentes e o EàD e outrasformas aligeiradas de ensino para a maio-

Os debates entre Fórum e Cruesp. Na foto do alto, oevento em Bauru, no dia 21/10/2009. Logo acima, fala oprofessor Otaviano Helene, durante o segundo evento,

em Campinas, no dia 11/11/2009

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Dezembro 2010 - Página 6 Jornal do Fórum das Seis

Filão para ainiciativa privada

Os dados mais recentes divul-gados pelo MEC, acerca do ensino supe-rior à distância no Brasil, trazem númerosimpressionantes: de 2000 a 2008, subiude 1.682 para 760.599 o número de alu-nos de graduação que estudam por meiodessa modalidade de ensino no país.Destes, 72% (551.860) estavam em insti-tuições particulares.

Os lucros movimentados narede privada são crescentes. Projeçãoelaborada pelo Sindicato das EntidadesMantenedoras de Estabelecimentos deEnsino Superior no Estado de SP (Se-mesp) indica que o setor do ensino àdistância deve movimentar um volumede R$ 3 bilhões em 2010.

ria dos que concluem o ensino médio.É inegável a potencial contribui-

ção das novas técnicas de informação ecomunicação e da pesquisa em EàD paraa otimização do ensino e da aprendiza-gem. O EàD pode ser útil para a oferta decursos de extensão ou especialização, etambém para a formação continuada, masde modo algum na formação inicial.

A verdadeira formação para acidadania exige relações presenciais,professores bem formados e estudanteslivres para desenvolverem trocas cogni-tivas que demandam espaços de diálogoe discussão, condições fundamentaispara o exercício da construção de sabe-res cada vez mais úteis à sociedade e,algo de importância fundamental, a opor-tunidade de formar cidadãos competen-tes e solidários.

Em 2010, o Fórum das Seisvoltou a apresentar emendas à Lei deDiretrizes Orçamentárias (LDO/2011),na Assembleia Legislativa de São Pau-lo (Alesp). A LDO define os percentu-ais de recursos do orçamento a sereminvestidos em cada um dos setorespúblicos (educação, saúde, moradiaetc) no ano seguinte.

A exemplo dos anos anterio-res, as emendas reivindicavam o au-mento de recursos para a educação:33% das receitas globais do estadopara a educação pública paulista, aíincluídos 11,6% do ICMS às universi-dades estaduais e 2,1% do ICMS parao Centro Paula Souza (Ceeteps).

No dia 8 de junho, numa dasaudiências públicas convocadas pelaAlesp para debater a LDO, o professorFrancisco Miraglia, da USP, falou emnome do Fórum e criticou a posturasubserviente da maioria dos deputa-dos frente ao governo. “Os princípiosrepublicanos são uma ficção nestacasa, pois o que prevalece aqui é aexpressa vontade do governador”,disse. Ele também ressaltou que o Im-posto sobre Circulação de Serviços eMercadorias (ICMS) é bastante injus-to, pois tributa pobres e ricos da mes-ma forma. “Por isso, nada mais justodo que a arrecadação do governo comesse imposto ser revertida às necessi-dades básicas da população, especial-mente em saúde e educação.”

No dia 30 de junho, o plenárioda Alesp aprovou a versão final daLDO/2011. Nenhuma das emendas apre-sentadas pelo Fórum foi aprovada. Paraas universidades, ficou tudo como está,ou seja, 9,57% do ICMS. Nada mudoupara o Ceeteps também: nenhuma dota-ção orçamentária específica.

Expansão sem recursosNa Pauta Unificada da data-

base 2010, o Fórum das Seis apontou anecessidade de participação efetiva doCruesp na luta pelo aumento dos in-vestimentos do estado na educaçãopública em geral. É lamentável que osreitores não emitam qualquer sinal de

Mais verbas para a educação pública,uma luta que continua na ordem do dia

protesto com relação ao fato de que ogoverno promoveu uma expressiva ex-pansão de vagas e cursos nas três uni-versidades, nos últimos anos, mas nãoaumentou a sua dotação.

A expansão na Unesp, iniciadaem 2002, resultou na criação de setenovos campi e, embora cercada de pro-messas do então governador GeraldoAlckmin, foi implantada praticamentesem a injeção de recursos extras. Quan-do a extinta Faenquil/Lorena, hoje Esco-la de Engenharia de Lorena (EEL), foianexada à Universidade de São Paulo,havia o compromisso de um aporte extrade 0,07% da quota-parte do ICMS, o quenão aconteceu. Para a Unicamp, quecriou o campus de Limeira, a promessade 0,05% da quota-parte do ICMS tam-bém foi “esquecida”. ETEs e FATECs

Embora rejeite a vinculação deverbas para o Centro Paula Souza, o go-verno tucano não tem o menor pudor deusar, exaustivamente, as ETEs e FATECscomo moeda eleitoral. Nos últimos anos,as “inaugurações” de novas unidadesforam manchete constante na imprensa. Aexpansão ganhou fôlego a partir de 2002,na gestão de Geraldo Alckmin, que am-pliou o Centro de 100 (em 2002) para 167unidades em 2007. Em novembro/2010, jáao final do governo Serra/Goldman, asinformações oficiais apontam a existência

de 192 ETEs e 49 FATECs, em 152municípios paulistas.

Investimentos baixosAs reivindicações apresen-

tadas pelo Fórum das Seis anualmen-te na Assembleia Legislativa tomampor base as propostas aprovadas no“Plano Estadual de Educação: Pro-posta da Sociedade Paulista”, quetramita na Alesp como PL nº 1.074/2003. Os diagnósticos ali apresenta-dos indicam a necessidade de aplica-ção de 10% do PIB paulista na educa-ção pública por, pelo menos, umadécada. A partir daí, seria possíveloferecer, de fato, educação pública deboa qualidade à sociedade, fator in-dispensável ao exercício da cidadaniae ao desenvolvimento do estado.

Em vez disso, o governopaulista aplica, em média, não maisdo que 3,5% do PIB estadual emeducação. Expansão de qualidade

O Fórum das Seis é defensorincondicional da expansão do ensinopúblico, mas advoga que venha acom-panhada dos necessários recursos. Opadrão único de qualidade é um princí-pio inegociável, ou seja, qualidade épara todos e não apenas para alguns.Esta é uma luta que, com certeza, esta-rá na ordem do dia em 2011.

Manifestação durante a data-base 2010, em São Paulo

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Jornal do Fórum das Seis Dezembro 2010 - Página 7

Não raro, os docentes, servi-dores e estudantes das universidadesestaduais ouvem notícias sobre as escolastécnicas (ETEs) e faculdades de tecnolo-gia (FATECs). Mas poucos as conhecemde perto. E poucos sabem como elas estãoprofundamente ligadas aos destinos daUnesp, USP e Unicamp. As ETEs e FA-TECs integram o Centro Paula Souza(Ceeteps) e, a exemplo das universidadesestaduais, também estão na mira perma-nente dos governos tucanos de plantão.

A afinidade do Centro Paula Sou-za com essas instituições e com a suacomunidade não se restringe ao fato detambém serem públicas e mantidas comos recursos do estado de São Paulo. OCeeteps é vinculado diretamente à Unesp.

Na reunião do Conselho Univer-sitário (CO) da Unesp de 21 de outubro, oreitor Herman Voorwald anunciou a inten-ção de propor, em fevereiro de 2011, aquebra deste vínculo. A afirmação acen-deu sinal de alerta no Ceeteps. Na esteirado desvínculo, a intenção mal disfarçadado governo tucano é a privatização.

Mas, afinal, o que a comunidadedas três universidades tem a ver com essadiscussão? Os trechos a seguir têm o obje-tivo de ajudar a esclarecer esta questão.

Discussão antigaO Ceeteps foi criado em 06/10/

1969 e transformado em autarquia de regi-me especial associada e vinculada àUnesp, por ocasião da criação da universi-dade, em janeiro de 1976. É uma instituiçãopública, responsável pela oferta de ensinoprofissional de nível médio e superior.

De tempos em tempos, a questãodo vínculo é reapresentada ao ConselhoUniversitário (CO) da Unesp, mudandoapenas a nuance envolvida na discussão.

No início da década de 90, porocasião da discussão do Regimento Geralda Unesp, foram propostas alterações nocapítulo destinado a regulamentar asvinculações de outras autarquias com aUniversidade e, de maneira especial, a doCeeteps. Neste período, a discussão foino sentido de estreitar e definir a associa-ção e as condições da vinculação.

Após longo estudo de uma co-missão composta por conselheiros doCO, foi aprovada a Resolução Unesp 63/95, que define, em resumo: “A Unespexercerá sobre as autarquias vinculadasum sistema de controle didático-científi-co, administrativo, patrimonial e de resul-tados”. Este controle seria exercido atra-vés dos órgãos colegiados centrais e dareitoria da Unesp.

A Resolução 63/95 define, tam-bém, a organização do Ceeteps e a estru-tura de seus órgãos administrativos, am-pliando a composição do Conselho Deli-berativo da autarquia, incluindo nele aparticipação de representantes da comu-nidade, eleitos por seus pares.

A Resolução Unesp 63/95 nuncachegou a ser implantada. Em abril de1997, atendendo às pressões do governoestadual, a reitoria da Unesp criou umaComissão Tripartite para rediscutir o vín-culo. Ao final dos estudos, a Comissãoentendeu que o Ceeteps deveria ser des-vinculado da Unesp e, para efetivar suadecisão, propôs a edição de um projetode lei, o PL 96/98.

Ao conhecer seu teor, a comuni-dade do Ceeteps reagiu contra o projetoe, numa manobra regimental, conseguiuretirá-lo da pauta de votação da Assem-bleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

Em 2000, em meio à greve dostrabalhadores do Ceeteps, o Secretário daCiência e Tecnologia, José Aníbal, voltouà carga e colocou o PL 96/98 novamenteem tramitação na Alesp. Naquele mesmoano, a comunidade da Unesp, reunida emAssembleia Universitária, havia aprovadoa continuidade do vínculo e associaçãodo Ceeteps à Unesp, nos termos da Reso-lução Unesp 63/95.

A comunidade do Ceeteps no-vamente reagiu contra o PL 96/98, destavez contando com o apoio da comuni-dade unespiana. Chamado novamente ase manifestar, o CO da Unesp reviu seuposicionamento anterior (proposto pelaComissão Tripartite) e deliberou pelacontinuidade do vínculo, bem comopela suspensão da tramitação do PL 96/98 na Alesp.

Diantedeste posicio-namento do COda Unesp, areitoria encami-nhou ofício aopresidente daAlesp pedindoa suspensão doPL 96/98, o quefoi acatado deimediato.

Serra e o vínculoEm 2007, novamente o assunto

voltou à tona, desta vez em função dareorganização do estado proposta pelorecém-empossado governador José Serra.

Por meio de decre-to, o Ceeteps foialocado na Secreta-ria de Desenvolvi-mento (ex-Secreta-ria de Ciência, Tec-nologia e Desen-volvimento Econô-mico), enquanto asuniversidades fica-ram na Secretariade Ensino Superior.A medida teve a

clara intenção de isolar o Ceeteps e, comisso, facilitar a quebra do vínculo e poste-rior privatização.

A quem interessa o desvínculoO rompimento do vínculo pas-

sou a interessar ao governo e à Superin-tendência do Ceeteps a partir da cassa-ção do mandato do Diretor Superinten-dente escolhido pela comunidade, substi-tuído por um interventor, em 1996. Antesda intervenção, a discussão entre as au-tarquias era no sentido de estreitar e defi-nir o vínculo, como prova a ResoluçãoUnesp 63/95.

Nestes quase 15 anos de tenta-tivas do governo em romper o vínculo, aUnesp, quando foi chamada a discutirem profundidade o assunto, sempredefendeu o Ceeteps de experiênciasgovernamentais.

Nenhuma das duas autarquiasse prejudica com o vínculo. A Unesp nãodivide sua dotação orçamentária com oCeeteps, que tem orçamento próprio, euma não interfere nas atividades da outra.O papel da vinculação é de supervisão eorientação e não de interferência.

Por muito tempo, os servidores edocentes beneficiaram-se até dos reajus-tes salariais, muitas vezes negociadosentre o Fórum das Seis e o Cruesp, esten-didos ao Ceeteps por Resolução daUnesp. Mesmo sem este benefício, des-respeitado pelo governo desde 1996, acomunidade continua defendendo que aaproximação do Ceeteps à Unesp foi fun-damental para alicerçar a oferta de cursostécnicos e tecnológicos de qualidade.

O que pede a comunidadedo Ceeteps

É evidente que o vínculo e aassociação trazem mais benefícios parao Ceeteps do que para a Unesp, mas aUniversidade pode, como já fez no pas-sado, utilizar a estrutura das FATECs eETEs para o desenvolvimento de ativi-dades de extensão de serviços à comu-nidade, implantando-os e supervisionan-do-os, bem como desenvolver ramos depesquisa educacional tecnológica quecontribuam para o desenvolvimento doestado mais rico da federação.

A comunidade do Ceetepsquer o vínculo e associação à Unespporque sabe da seriedade e da respon-sabilidade dessa Universidade nas dis-cussões acerca dos destinos do sistemapúblico de educação do nosso estado.

As entidades que constituemo Fórum das Seis entendem que essevínculo favorece a futura construçãode um Sistema Estadual de Educação,previsto pelo “Plano Estadual de Edu-cação – Proposta da Sociedade Pau-lista”, que visa garantir a todos os ci-dadãos do estado de São Paulo umaeducação de qualidade em todos osníveis e modalidades.

Governo prepara nova investida contra ovínculo do Centro Paula Souza à Unesp

Intenção é isolar as ETEs e FATECs e facilitar a privatização. Saiba porquê acomunidade das universidades estaduais tem muito a ver com essa discussão

Manifestação conjunta entre trabalhadorese estudantes na FATEC/SP, no início de 2010

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Dezembro 2010 - Página 8 Jornal do Fórum das Seis

A ocupa-ção militar da USP,em junho de 2009, es-tampou a faceta maisautoritária de um re-gime ossificado: a es-trutura de poder dasuniversidades esta-duais paulistas.

A greve deprofessores e estu-dantes, deflagrada em reação aessa ocupação e que se somouà greve dos servidores técnico-administrativos, bem como oprocesso de eleição direta parareitor organizado pela Adusp nosegundo semestre daquele ano,provocaram um debate públicoem torno da necessidade de de-mocratizar a universidade.

Essa discussão conti-nua mais atual do que nunca.

Ainda que o processoseja antidemocrático nas trêsuniversidades, há algumas di-ferenças que colocam a USP naretaguarda do processo. NaUnesp e na Unicamp, é realiza-da uma consulta à comunidadeno início do processo eleitoral.Na Unicamp, os docentes têmpeso de 60% na consulta, ca-bendo 20% para funcionários e20% aos estudantes. Na Unesp,são reservados 70% do pesoaos docentes e os 30% restan-tes divididos igualmente entrefuncionários e estudantes. Emambas as universidades, entrefuncionários e estudantes égrande o questionamento sobrea inexistência da paridade.

Na USP, o processo éfracionado em dois turnos: no pri-meiro, reúne-se o colégio eleito-ral, composto pelo Conselho Uni-versitário, os conselhos centraise as congregações. No segundoturno, as congregações são ex-cluídas. Em 2009, por exemplo, ototal de eleitores potenciais noprimeiro turno era de 1.925, nú-mero que caiu para 325 no segun-do turno (!). Na época, a institui-ção contava com 109.334 mil pes-soas, entre alunos (88.261), pro-fessores (5.732) e funcionários(15.341). Ou seja, cerca de 0,3%daqueles que participam da vida

A diretoria provisóriado DCE da Unesp/Fatec promo-veu um ato público em frente àreitoria da Unesp, no dia 15/10.O ato reuniu cerca de 150 estu-dantes, de vários campi daUnesp e também das FATECs,USP e Unicamp. O eixo da mani-festação foi a luta contra a pre-carização e a mercantilização daeducação, pelas demandas ge-rais (mais recursos para a perma-nência estudantil) e específicasdas universidades, discutidasem assembleias nas unidades, econtra a repressão a estudantese trabalhadores.

Da reitoria da Unesp,eles seguiram em passeata até aFaculdade de Direito da USP,no Largo São Francisco, paraprotestar contra a repressão aestudantes e servidores naque-

Estrutura de poder nasuniversidades estaduais e no

Ceeteps é antidemocrática

universitária indica odirigente máximo dainstituição. Cabe des-tacar ainda que, naUSP, tanto nessas“eleições” quanto nacomposição dos co-legiados, é desres-peitada a represen-tação de 70% de do-centes e 30% de es-

tudantes e funcionários.Em comum, as três

universidades têm o fato de quesó podem se candidatar a rei-tor os professores titulares e,ainda, a constituição de umalista tríplice, encaminhada aogovernador. Não é exagero afir-mar que, no frigir dos ovos, oreitor é escolhido por um úni-co eleitor! A indicação de JoãoGrandino Rodas à reitoria daUSP, segundo mais votado naúltima “eleição”, no final de2009, é um bom exemplo disso.

Ceeteps, a pérola doautoritarismo

A situação no CentroPaula Souza (Ceeteps), que man-tém as escolas técnicas (ETEs) efaculdades de tecnologia (FA-TECs), é quase pré-histórica.Cabe ao seu Conselho Delibera-tivo, composto por seis pesso-as (nenhuma eleita pela comuni-dade), montar listas tríplices paraos cargos de superintendente evice-superintendente e enviá-las ao governador, que dá a ca-netada final. Assim, o voto desete pessoas (os membros doCD e o governador) substituia vontade de cerca de 150 milpessoas (total estimado dealunos, professores e funcio-nários das ETEs e FATECs).

Vale lembrar que nemsempre a situação no CentroPaula Souza foi assim. Entre osanos de 1992 e 1996, antes doinício do governo tucano, a ins-tituição chegou a eleger um su-perintendente pela via direta (oprofessor Elias Horani). Em1996, ele foi afastado do cargopelo recém-empossado gover-nador Mário Covas, que deu iní-cio à intervenção no Centro.

Estudantes da Unesp reorganizam DCEe promovem atos em frente à reitoria

Manifestação nadata-base de 2009

la universidade e em repúdio àchamada “Reforma na USP”,que prevê a reformulação e até

o fechamento de cursos.Uma comissão de alu-

nos foi recebida por represen-tantes da reitoria, que concorda-ram em agendar uma reuniãocom o reitor, professor HermanVoorwald, para 17/11. Novo atofoi realizado nesta data. Na reu-nião com o reitor, os represen-tantes fizeram a entrega de umapauta unificada de reivindica-ções do movimento estudantilda Unesp. Entre os pontos dis-cutidos, destaque para o com-promisso da reitoria da Unespde ampliar em 20% o número debolsas de auxílio socioeconômi-co aos estudantes.

A direção provisória doDCE Unesp/Fatec foi eleita du-rante o Congresso dos Estudan-tes da Unesp e da Fatec (CEUF),em setembro.

Os fatos ocorridosdurante os jogos universitáriosrealizados em Araraquara, oInterUnesp, de 9 a 12 de outu-bro, ganharam dimensão nacio-nal. Um grupo de alunos organi-zou um “rodeio” para conferirquem conseguiria ficar maistempo “montado” em colegasobesas. O acontecimento mere-ceu manifestações e notas derepúdio em todo o país.

O Fórum das Seis repu-dia o ocorrido e transcreve a se-guir trechos de notas distribuídaspor entidades que o compõem.

Fórum das Seis repudia agressões em AraraquaraPara o DCE da Unesp e

Fatec, o “feito animalesco destesexecráveis estudantes expressadentro da Universidade os valo-res mais conservadores da socie-dade: o racismo, a opressão àsmulheres, a homofobia etc.”

Para a Adunesp e oSintunesp, que assinaram notaconjunta, “a insensibilidadediante da dor do outro e o dese-jo inconsciente de eliminar osconsiderados frágeis ou, sim-plesmente, diferentes, refletemcomportamentos que levaram,historicamente, a movimentos

xenófobos e a extremos como ofascismo e o nazismo.”

A nota alerta para orisco da banalização dos aconte-cimentos. “A capacidade de nosindignarmos contra a opressão,em qualquer âmbito da vida emque ocorra, é um tesouro do qualnão podemos abrir mão. É comela que devemos contar parabarrar os ataques à prática do-cente e aos direitos dos trabalha-dores, o produtivismo exacerba-do que campeia na universidadepública, as pressões privatistas ea busca da saída individual dian-te das más condições salariais ede trabalho, entre outros.”

“I Festival InterUnespContra as Opressões”

O DCE da Unesp eFatec promove o “I FestivalInterUnesp Contra as Opres-sões”, entre os dias 3 e 5 dedezembro, no campus de Marí-lia, com debates, shows e mani-festações culturais diversas. Oobjetivo é repudiar os fatosocorridos em Araraquara e mos-trar que a universidade pode serespaço de confraternização, emcontraponto às festas que legiti-mam as opressões.

Reitoria da USP processa estudantesA tentativa de criminalizar os movimentos sociais ganha

novos contornos sob a gestão Rodas. A mais recente iniciativa,neste sentido, é a abertura de processo administrativo disciplinarcontra quatro estudantes. Eles são acusados de haver participadodo “ato de invasão” da reitoria da USP em 2007 e de “assim con-correrem para os danos dela decorrentes”. A instauração do pro-cesso foi recomendada pelo relatório final da comissão sindicantecriada pela reitora Suely Vilela, em setembro de 2007.

Este é mais um fato a agravar a crescente repressãodentro das universidades. A ofensiva contra o direito de grevena data-base deste ano, que culminou com o desconto de diasparados, posteriormente revogado, escancarou a postura anti-democrática das administrações universitárias e exige respostasfirmes do movimento.

Estudantes da Unesp duranteato em frente à reitoria, em

15/10/2010