jornal da ufop | nº 196

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Páginas 4 e 5 Mostra de Profissões: UFOP se prepara para receber estudantes Página 2 Entrevista: Referência em Leishmaniose Pesquisadores da UFOP já patentearam duas vacinas para prevenção e tratamento da zoonose Eventos e projetos de extensão contribuem para a formação dos estudantes Página 7 Taxidermia: Museu de Ciências e Técnica possui acervo de animais empalhados Página 8 Francisco Horário Pereira de Oliveira: importância da economia criativa Página 8 Foto: Amanda Sereno Jornal da Universidade Federal de Ouro Preto Edição 196 - julho e agosto de 2014

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Publicação institucional da Universidade Federal de Ouro Preto - julho/agosto 2014

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Page 1: Jornal da UFOP | Nº 196

Páginas 4 e 5

Mostra de Profissões: UFOP se prepara para receber estudantes

Página 2

Entr

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ta:

Referência em Leishmaniose Pesquisadores da UFOP já patentearam duas vacinas para prevenção e tratamento da zoonose

Eventos e projetos de extensão contribuem para a formação dos estudantes

Página 7

Taxidermia: Museu de Ciências e Técnica possui acervo de animais empalhados

Página 8

Francisco Horário Pereira de Oliveira: importância da economia criativa

Página 8

Foto: Amanda Sereno

Jornal da Universidade Federal de Ouro Preto Edição 196 - julho e agosto de 2014

Page 2: Jornal da UFOP | Nº 196

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

EDITORIAL

Coluna do Museu

Vem aí a

Ana Elisa Siqueira

Em exposição no setor de Metalurgia do Museu está o modelo reduzido do motor a gás de 1910. Movido a lenha, era usado para acionar o gerador de eletricidade para o forno “Dr. Barbosa”, que atingiu o funcio-namento pleno em 1914. O for-no, projetado e construído pelo Dr. Augusto Barbosa da Silva, professor e pesquisador da Es-cola de Minas, foi considerado um dos primeiros fornos elétri-cos a produzir aço na América Latina.

O setor de Metalurgia foi implantado no mesmo local onde se encontra o forno elétrico. Os setores de Metalurgia, Química, História Natural, Mineração, Mineralogia, Metalurgia e Física/Ciência Interativa do Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas da UFOP estão abertos à visitação pública de terça a domingo, das 12h às 17h.

O Observatório Astronômico funciona aos sába-dos, das 20h às 22h. O setor de Siderurgia, localizado no Parque Metalúrgico Augusto Barbosa - Centro de Artes e Convenções da UFOP, atende ao público me-

diante agendamento. O setor de Transporte Ferroviá-rio está aberto à visitação pública de terça a domingo, das 9h às 17h, na Estação Ferroviária de Ouro Preto, no Projeto Trem da Vale.

Escolas e grupos podem agendar visitas pelos contatos:Telefone: (31)3559-3118E-mail: [email protected]: www.museu.em.ufop.br

Motor a gás de 1910

Foto: Leo Homssi

No dia 1º de novembro, acontece a VIII Mostra de Profissões da UFOP. O evento irá apresentar aos alunos do 3º ano do ensino médio de todo o País os 38 cursos presenciais oferecidos pela Universidade e as graduações na modalidade a distância.

Nesta edição, não haverá a inscrição prévia das escolas visitantes. O credenciamento do público e dos demais estudantes interessados será realizado no dia do evento, no campus Morro do Cruzeiro, em Ouro Preto, local de realização da Mostra.

Ao longo do dia, os participantes irão desfrutar de atividades culturais produzidas por discentes da UFOP, como apresentações musicais dos alunos do curso de Música. Além disso, haverá visitação às salas interativas dos cursos da Universidade.

Juliana Santos da Conceição, coordenadora do Nú-cleo de Apoio Pedagógico (NAP), destaca a palestra

Descomplicando a Escolha Profissional, ministrada pela equipe de psicologia da Pró-Reitoria Especial de Assun-tos Comunitários e Estudantis (Prace), que, pelo tercei-ro ano, integra a Mostra. “Os estudantes se interessam bastante pela palestra, por isso resolvemos incluí-la no-vamente na programação.”

Mais do que divulgar os cursos e as atividades de-senvolvidas dentro da UFOP, o evento é ocasião para o participante esclarecer suas dúvidas acerca das profis-sões, conhecer novas áreas de atuação e interagir com estudantes da Instituição.

A VIII Mostra de Profissões é uma realização da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd/UFOP), por meio do NAP, e acontece das 12h às 18h, no campus Morro do Cruzeiro, Ouro Preto – MG. Mais informações em

www.ufop.br ou [email protected]

Muito a comemorar, mas muito a fazer

A UFOP completa 45 anos. Tempo para come-morar, por mais que o mundo pareça complicado. Penso que justamente por isso devemos realmente celebrar, entendendo que os desafios impostos em nosso cotidiano precisam ser trabalhados com afin-co para que possamos honrar esta Universidade que carregamos com orgulho em nossos corações.

Somos uma Instituição com cerca de 15.500 alunos em todos os seus 42 cursos de graduação e 34 de pós-graduação stricto sensu, com mestrados e doutorados acadêmicos e profissionais. Projetamos para 2015 mais quatro cursos de pós-graduação: os mestrados em Direito, Engenharia Mecânica e Jor-nalismo e o doutorado em Ciência da Computação.

Na pós-graduação, tivemos melhora no concei-to Capes de vários programas, destaque ao primeiro conceito 6 (numa escala cujo teto é 7) da UFOP atribuído ao programa de pós-graduação em Ciên-cias Biológicas. Um fato a comemorar, haja vista que é sinônimo de qualidade internacional.

Outro marco importante a ser festejado é o fato de termos mais de 80% de nossos cursos de gradu-ação com nota 4 ou 5 no Exame Nacional de De-sempenho de Estudantes, o Enade, cujo máximo é 5. Outras avaliações, como a do Guia do Estudante da Editora Abril e o ranking da Folha de São Paulo, têm colocado vários de nossos cursos em lugar de destaque no cenário nacional. Queremos, no en-tanto, comemorar muito mais, melhorando nossos indicadores, aprimorando ações que estão em nossa agenda diária, mesmo em momento de contin-genciamento orçamentário no cenário nacional. Trabalhamos para manter um número expressivo de bolsas de graduação nas mais diferentes modali-dades, como iniciação científica, extensão, ensino, estímulo à docência e à educação tutorial. Regu-lamentamos o auxílio-pesquisador, um importante instrumento para facilitar a vida do pesquisador na realização de suas atividades.

Vale ressaltar que mesmo nesse cenário momen-taneamente adverso, assim espero, temos que fazer cumprir a Lei 13.005, que trata do Plano Nacional da Educação (PNE), sancionado em 25 de junho pela Presidência da República. Dentre as metas do PNE, está a de termos, pelo menos, 33% de nossos jovens no ensino superior.

Com todos os esforços, seja por meio do Reuni, que expandiu as ofertas de vagas nas federais, seja do Prouni, que fornece bolsas para universidades particulares, chegamos ao patamar de 17% contra os 33% almejados. Considerando que dos mais de 7 milhões de matriculados no ensino superior, pouco mais de 15,4% dos alunos estão nas universidades federais, ainda há muito o que fazer.

Isso aumenta a nossa responsabilidade como gestor da educação superior. Nós, que acreditamos na força da educação para transformar o mundo, não podemos nos furtar dessa missão. Uma missão, aliás, que transcende o universo do gestor, pois, cada um de nós, como membro desta comunidade, deve carregar essa missão em sua alma.

Vamos comemorar os 45 anos da UFOP refle-tindo sobre essa responsabilidade e, sobretudo, respeitando o trabalho de todos aqueles que por aqui passaram e que, acreditando nessa missão, buscaram fazer a diferença em suas ações.

Marcone Jamilson Freitas Souza

Reitor da UFOP

Reitor: Prof. Dr. Marcone Jamilson Freitas SouzaVice-reitora: Prof. Dr. Célia Maria Fernandes NunesCoordenador de Comunicação Institucional: Chico DaherCoordenadora da Assessoria de Comunicação Institucional: Verônica Soares Edição: Ana Paula Martins (MTb 12533), Adriana Moreira, Verônica SoaresProjeto Gráfico: Mateus MarquesDiagramação: Mateus MarquesRedação: Adriana Moreira, Ana Elisa Siqueira, Carol Antunes, Júlia Mara Cunha Colaboração: Aldo Damasceno, Amanda Sereno, Fernanda Mafia, Fernanda Marques, Flávia Gobato, Mariana Borba, Tamara PinhoColuna do Museu: Prof. Gilson Nunes

Núcleo Administrativo: Pedro Alexandre de Paula, Marco Antônio do Nascimento, Jeiniele Souza, Richard DiasRevisão: Rosângela Zanetti, Lucimar Mendes (estagiária)

Coordenadoria de Comunicação Institucional (CCI)Campus Morro do Cruzeiro, Ouro Preto – MG – CEP 35400-000Tel: (31) 3559-1222/1223 E-mail: [email protected]: www.ufop.br

2 Edição 196 - julho e agosto de 2014

Page 3: Jornal da UFOP | Nº 196

As estações mais frias do ano trazem consigo os sintomas desagradáveis da gripe, saiba como tratar e prevenir a doença

Ana Elisa Siqueira

Com os dias frios e a baixa umidade do ar que sen-sibilizam as vias aéreas, os sintomas da gripe logo apa-recem. A doença tem como sintomas quadro febril de início súbito, podendo ser acompanhado de calafrios, dor muscular (principalmente em pernas e região lombar), dor de cabeça, prostração e ocasionalmente dor nas juntas e problemas respiratórios, como tosse, dor de garganta e congestão nasal. O professor da Escola de Medicina da UFOP e especialista em pneu-mologia, Paulo César Corrêa, explica que os sintomas duram cerca de dois a cinco dias e, em alguns casos, a febre pode persistir por uma semana.

A gripe é uma doença respiratória aguda, causada pelo vírus influenza A, B e C, geralmente autolimi-tada, ou seja, o próprio organismo é capaz de com-batê-la. Os vírus da gripe são sazonais, comuns em determinados períodos do ano, registrando aumento no número de casos durante o outono e o inverno (entre os meses abril e setembro no hemisfério Sul). Todavia, os cuidados devem ser tomados durante todo o ano para se evitar a doença.

Os vírus são organismos que precisam entrar nas células para sobreviver, e o influenza tem predileção pelas células do sistema respiratório. Quando ele ven-ce as defesas celulares e começa a se replicar, a pessoa

demora entre três e quatro dias para manifestar os sintomas da gripe provocados pela multiplicação dos vírus e pela resposta inflamatória que induzem.

TratamentoO Ministério da Saúde indica o uso de medica-

mentos como analgésicos, antitérmicos e o “oselta-mivir”, que é um inibidor da replicação viral. Estudos clínicos mostraram que o “oseltamivir” é eficaz em reduzir a intensidade e a duração dos sintomas da gripe, quando utilizado nas primeiras 48 horas dos sintomas. O tratamento é iniciado empiricamente, ou seja, mesmo que não haja ainda a confirmação laboratorial da infecção pelo influenza. A hidratação também é importante em doenças respiratórias, com a aplicação e lavagem com soro fisiológico.

PrevençãoA vacina tem como objetivo fazer com que a pessoa

não contraia a infecção ou, se isso não for possível, que tenha um quadro mais leve da doença, evitando compli-cações, como a pneumonia bacteriana após a gripe. A vacinação deve ser repetida anualmente, já que a vacina muda de acordo com as alterações sofridas pelos vírus. Crianças de seis meses a cinco anos, pessoas com mais de

60 anos, profissionais da saúde, gestantes, mulheres até 45 dias depois do parto, imunossuprimidos (transplan-tados, pacientes com HIV) e doentes crônicos, como obesos, diabéticos e pessoas com insuficiência cardíaca, estão entre aqueles que devem tomar a vacina todos os anos.

“É importante que idosos e crianças menores de cinco anos vacinem, pois os idosos têm doenças preexis-tentes com mais frequência e as crianças podem ter o sis-tema imunológico ainda imaturo e incapaz de controlar a infecção pelo influenza”, afirma a professora Carolina Coimbra Marinho, da Escola de Medicina da UFOP. A docente lembra que as gestantes também devem se va-cinar devido ao risco de desenvolver apresentações mais graves da infecção pelo vírus influenza.

Como a transmissão do vírus acontece por via respi-ratória, os doentes devem cobrir o nariz e a boca ao tos-sir e espirrar e evitar ambientes fechados que facilitam a transmissão. O pneumologista Paulo César aconselha aos pais não mandarem os filhos para a escola caso ini-ciem os sintomas da gripe. Assim, o contágio é evitado. Cuidados simples, como lavar as mãos com água e sabão várias vezes ao dia, evitar tocar o rosto, não compartilhar objetos de uso pessoal, manter os ambientes arejados, com portas e janelas abertas também previnem a gripe.

Cuidados simples como lavar as mãos com água e sabão várias vezes, não compartilhar objetos de uso pessoal, manter os ambientes arejados ajudam a prevenir a gripe.!O

Gripe versus resfriadoO médico Paulo César esclarece que a infecção cau-

sada pelo vírus influenza pode não ter sinais aparentes ou se manifestar apenas como um resfriado comum. Isso faz com que as pessoas frequentemente confundam gripe com resfriado.

Segundo Paulo César, o resfriado comum pode ser

provocado por diferentes vírus respiratórios (rinovírus, adenovírus, parainfluenza, vírus influenza, dentre ou-tros) e, clinicamente, apresenta sintomas de vias aéreas superiores, como coriza, obstrução nasal, prurido nasal, dor de garganta, conjuntivite, tosse. “No resfriado, os pacientes apresentam pouco ou nenhum comprometi-

mento sistêmico”, destaca.Já a gripe é provocada exclusivamente pelo vírus

influenza e, além de apresentar os sintomas de vias aéreas superiores, há também os das vias aéreas infe-riores como bronquite e pneumonia, com repercussão sistêmica e comprometimento do estado geral.

Foto: National Institutes of Health - NIH (USA)

Micrografia eletrônica de transmissão mostrando partículas do vírus influenza H1N1.

Época de Espirros e Tosses

3Edição 196 - julho e agosto de 2014

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Referência em Leishmaniose Visceral

A leishmaniose visceral é um pro-blema epidemiológico considerado tão grave quanto a aids. Ela acomete tanto o cão quanto o homem. Em Minas Gerais, o aumento no número de casos chama a atenção de pesquisadores que vêm bus-cando soluções para eliminar ou minimizar os danos causados pela doença. No Nú-cleo de Pesquisa em Ciências Biológicas (Nupeb) da UFOP, são desenvolvidas pesquisas para a criação de vacinas. Em 2013, o núcleo patenteou duas vacinas: a LBSap (Leishmania Braziliensis Saponina), dos professores pesquisadores Alexandre Barbosa Reis (UFOP), Rodrigo Correa Oli-veira (CPqRR-Fiocruz) e Rodolfo Cordeiro Giunchetti (UFMG), e a LBMPL (Leish-mania Braziliensis com adjuvante MPL), do doutorando Bruno Roatt (UFOP).

A vacina LBSap, que utiliza Leishmania (Viannia) braziliensis como adjuvante, é re-sultado de trabalho desenvolvido integral-mente na UFOP ao longo de dez anos, com várias pesquisas, teses e dissertações na área. O produto foi criado para ser utilizado em cães e possui um grande potencial de resposta celular duradoura e efetiva, além de ter baixo custo de produção que, prova-

velmente, refletirá um valor mais baixo ao consumidor final. “O estudo é importante para o Brasil e para o mundo, uma vez que amplia a utilização de adjuvantes na medicina veterinária”, explica o professor Alexandre Reis.

Outra importante contribuição da LB-Sap para a Universidade e para a popu-lação foi a transferência da biotecnologia para a empresa brasileira Ouro Fino Saúde Animal, que foi licenciada para exploração, produção em larga escala e comercialização do produto. “A expectativa é de que a vaci-na desenvolvida na UFOP sirva como uma medida de saúde pública no controle dessa zoonose e seja adquirida pelo governo fe-deral para ser aplicada gratuitamente em grandes campanhas de vacinação, a fim de que todos tenham acesso”, explica Reis.

Outra pesquisa que deu origem a uma vacina foi a “Desenvolvimento de Estra-tégias Terapêuticas Utilizando Imunofár-macos Aplicadas a Ensaios Pré-Clínicos na Leishmaniose Visceral”, do doutorando Bruno Mendes Roatt. A vacina produzida foi a LBMPL que foi associada ao adjuvante Monofosforil Lipídeo-A (MPL). A pesqui-sa faz parte do Programa de Pesquisas para

o Sistema Único de Saúde (PPSUS – Rede), da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais e o Conselho Nacional de Desenvol-vimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Nova classe de tratamentoO estudo utilizou a imunoterapia como

tratamento para que a resposta imune fosse favorável, ou seja, o sistema imune do pa-rasita é ativado e começa a agir no combate à doença. Esse tipo de terapia pode tam-bém ser aplicado contra herpes, hepatite C e câncer. Assim como para a produção da LBSap, o cão foi utilizado como mode-lo experimental, porém, o animal não é o alvo, mas, sim, o ser humano. “A doença no cão se manifesta muito semelhante à hu-mana. Os testes concluíram que a vacina LBMPL produz melhora clínica nos cães.” Com os resultados favoráveis, a LBMPL foi patenteada pela UFOP para o tratamento da leishmaniose visceral canina e humana. “Para ser aplicada em seres humanos, será necessário realizar testes para descobrir

se a metodologia usada durante o estudo é adequada ou se teremos que adaptá-la”, afirma Roatt.

Espera-se que a vacina LBMP possa ser utilizada para tratar os casos mais graves de leishmaniose visceral, principalmente em pessoas com HIV, pacientes que não respondem ao tratamento convencional. “Por se tratar de um tratamento terapêuti-co, o indivíduo que já está infectado pode ter seu tempo de internação reduzido e os custos para o SUS serem menores com os medicamentos. Isso se deve à associação da quimioterapia com a imunoterapia.”

CuidadosEm regiões endêmicas, é preciso ter

cuidado com acúmulos de lixo no quintal e descartá-lo adequadamente para evitar

Pesquisadores do Núcleo de Pesquisa em Ciências Biológicas desenvolveram vacinas para prevenir e tratar a doença

A UFOP já possui duas vacinas

patenteadas no combate à doença

Imagem: Aspiração de medula óssea - Leishmaniose (Leishmania sp.) em um receptor de transplante de fígado.

Foto: CDC - Frank Collins

Edição 1964

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Referência em Leishmaniose VisceralJúlia Mara Cunha

a proliferação dos mosquitos, conservar o ambiente do cão, o quintal ou a varanda sempre limpos, livre de fezes e acúmulo de restos de alimentos e folhagens, manter a grama e o mato sempre cortados, com retirada de entulhos e lixo, evitando a formação de uma fonte de umidade e de matéria orgânica em decomposição, além de utilizar spray repelentes ou inseticidas ou cultivar plantas com ação repelente, como a citronela.

SintomasA doença se manifesta de duas formas:

a tegumentar – que se divide em cutânea, cutâneo-mucosa e difusora, caracterizada por feridas na pele que não cicatrizam – e a visceral – que é a mais grave e atinge ór-gãos internos (baço, fígado e medula ós-sea). A tegumentar é conhecida como úl-cera de bauru, nariz de tapir, ferida brava e é causada pelos protozoários Leishmania braziliensis, Leishmania guyanensis e Leish-mania amazonensis. Já a leishmaniose vis-ceral (LV), chamada também de calazar, é transmitida pelo protozoário leishmania spp. Esses dois tipos têm como transmissor da doença o flebótomo, conhecido como

mosquito palha ou “birigui”.

Leishmaniose visceral humana: febre irregular, prolongada, anemia, indispo-sição, palidez da pele e ou das mucosas, falta de apetite, perda de peso, inchaço do abdômen devido ao aumento do fígado e do baço.

Leishmaniose visceral canina: lesões graves na pele, acompanhadas de desca-mações e, em alguns casos, de úlceras, falta de apetite, perda de peso, lesões oculares, atrofia muscular e crescimento exagerado das unhas. Em um estágio mais avançado, o animal apresenta problemas nos rins, no fígado e no baço, levando-o à morte. A leishmaniose tegumentar atinge pernas, braços e rosto, causando feridas que podem se alastrar para o nariz, a boca e a faringe.

Pesquisadores do Núcleo de Pesquisa em Ciências Biológicas desenvolveram vacinas para prevenir e tratar a doença

Atendimento na UFOPNo ambulatório de doenças infecciosas e parasitárias no Centro de Saúde da UFOP, no campus Morro do Cruzeiro, em Ouro Preto, os pacientes com suspeita ou infectados com leishmaniose podem buscar atendimento. Segundo o professor de Medicina George Luiz Lins Machado Coelho, o laboratório de epidemiologia das doenças parasitárias da Escola de Medicina dá apoio ao ambulatório na realização de diagnóstico parasitológico e imunológico, e o laboratório de fisiopatologia molecular apoia no diagnóstico molecular das leishmanioses.

Pesquisa aplicadaA UFOP já assinou um convênio de parceria com

a Prefeitura de Governador Valadares, na região leste de Minas Gerais, onde só no ano passado foram regis-trados 2.247 casos positivos de leishmaniose. O projeto será gerenciado pelos professores Evandro Marques de Menezes Machado (UFOP) e Wendel Coura Vital (UFMG), com a coordenação de Alexandre Barbosa Reis (UFOP) e o apoio da Secretaria de Estado de Saú-de e do Ministério da Saúde.

A primeira etapa da pesquisa será um estudo epide-miológico para detectar as áreas de maior prevalência da doença, que podem chegar a 40%. Após essa fase, o Centro de Zoonose de Valadares e os pesquisadores da UFOP vão separar os cães sadios em três grupos. Um deles vai receber coleiras impregnadas com del-tametrina, substância repelente do mosquito palha (transmissor da doença); o outro, a vacina LBSap, que foi desenvolvida na Universidade, e o último recebe a coleira e a vacina.

O professor Alexandre Barbosa destaca que a uti-lização da LBSap será uma oportunidade de levar a tecnologia e o conhecimento desenvolvido dentro da UFOP para a população. “É importante que se tenha a participação de pesquisadores nesse ensaio clínico de grande porte. O estudo deve durar de três a cinco anos, e seis mil cães devem receber a coleira com o repelente e três mil, a coleira e a vacina”, afirma Barbosa.

Para o reitor Marcone Jamilson Freitas Souza, essa aproximação dos municípios com as instituições de pesquisa é um passo importante para a ampliação de parcerias que possam contribuir para promover o de-senvolvimento local. Segundo o reitor, essa etapa é o fechamento de um ciclo que começa com a pesquisa, passa pela transferência da tecnologia e chega a essa nova fase de testes. “Transformar ideias em produtos que possam, efetivamente, ser aplicados na sociedade é uma missão da Universidade e estamos trabalhando para ampliar essas ações na UFOP”, conclui Marcone.

Na América Latina, a zoonose já foi encontrada em pelo menos 12 países, sendo que 90% dos casos ocorrem no Brasil, especialmente nas regiões Nordeste e Sudeste, cujo clima é propício para o surgimento do transmissor. Em Minas Gerais, em 2013, houve notificação de 414 casos de leishmaniose tegumentar e 143 casos da visceral.i

Foto: Paulo Henrique Orlandi Mourao

5julho e agosto de 2014

Page 6: Jornal da UFOP | Nº 196

Taxidermia: preservação, educação e prática

Não é apenas de rochas e minerais que vive o Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas da UFOP. O espaço abriga um acervo especial de animais do final do século XIX e começo do século XX. São 130 objetos, dentre eles animais taxidermizados, esqueletos, peles e cou-ros. A taxidermia (empalhamento) é uma atividade que tem como objetivo resgatar material biológico, reconstituindo suas características físicas e comportamentais e, quando necessário, simulando também seu habitat.

O projeto de extensão Taxidermia: preservação, educação e prática busca for-talecer, por meio da pesquisa e da práti-ca, a política de preservação da coleção de Taxidermia do Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas. Em 2010, quando houve a reestruturação do pro-jeto, a equipe observou a necessidade de cuidados específicos no âmbito da conser-

vação da coleção. Segundo Edson Fialho de Rezende, coordenador do Laboratório de Conservação e Restauração do Depar-tamento de Museologia, as condições do acervo não eram favoráveis à conservação dos animais, “resolvemos desenvolver um projeto visando à conservação, organiza-ção e documentação museológica dele”.

Questões relacionadas à umidade, temperatura e iluminação não estavam favorecendo a preservação do acervo, por isso a equipe substituiu a exposição dos animais por uma de médio prazo que se chama “Osteologia animal”, composta por esqueletos de alguns animais. A ex-posição anterior foi levada para reserva técnica do Museu, espaço que oferece condições climáticas, de segurança, higie-nização e limpeza de poluição favorável à preservação da coleção.

Com o acervo técnico, o projeto co-meçou a intensificar as ações educativas

com visitas previamente agendadas e guiadas. Edson conta que o grupo tem de-senvolvido trabalhos junto às escolas da região, “entramos em contato com alguns professores da área de Ciências ou que lecionam disciplinas com conteúdos asso-ciados à coleção, ou seja, da fauna e flora, de biomas e da região de Ouro Preto”.

EducaçãoAs ações educativas apresentam as

características dos animais do acervo, o bioma da região e a extinção, “muitas crianças relatam que o pai come tatu, nes-se momento, explica-se sobre as doenças que podem ser transmitidas por animais silvestres e a caça associada à extinção”, conclui. Edson explica que o grupo tenta associar a coleção com o próprio papel do museu, da preservação de um acervo mu-seológico e da preservação ambiental. As ações pedagógicas envolvem alunos dos

Departamentos de Museologia e Biologia, em parceria com as Secretarias de Educa-ção e Meio Ambiente de Ouro Preto.

O projeto também aborda a prática da taxidermia, a técnica e sua importância para o contexto histórico social. Por meio de oficinas oferecidas para o público em geral, a iniciativa garante a qualidade e a ampliação da coleção, pois os animais que são trabalhados nas oficinas são inseridos na coleção do Museu. Edson conta que, desde 2010, cerca de 20 animais foram incorporados ao acervo, porém, a oferta dessa atividade não é constante, pois en-volve diversas questões como a presença de um “professor especializado, animais para serem trabalhados e para isso precisa ser feito o contato com reservas ecológi-cas e oficializar as doações, e os animais precisam ter condições físicas adequadas para serem recebidos, além de garantir o público”, explica Edson.

Projetos mostram Museu como um lugar lúdico e educativoA partir do acervo do Museu de

Ciência e Técnica da Escola de Minas, são desenvolvidos projetos de extensão de divulgação científica que compõem o Programa Integrado de Extensão para o Ensino e Divulgação da Ciência (Pró-Ciência). Os projetos do Pró-Ciência realizam visitas monitoradas, oficinas, observações no telescópio do Observa-tório Astronômico e sessões no planetá-

rio inflável para a comunidade, turistas e escolas da região.

Em 2010, houve a sistematização das ações com a criação do setor edu-cativo, assim alguns projetos foram reestruturados, como o “Taxidermia: preservação, educação e prática”, em parceria com o Museu e o Departamen-to de Museologia (Demul). O objetivo do Pró-Ciência é fazer do Museu um

espaço lúdico, popularizando a ciência e democratizando a cultura. Pensando nisso, a aluna do curso de Artes Cê-nicas da UFOP Marta Vieira Babsky criou a personagem Juju que faz parte do projeto Ciência-contação-media-ção. Segundo Gilson Nunes, professor do Demul e orientador do projeto, a personagem contribui para divulgar, dinamizar, enriquecer e potencializar

o conhecimento científico. “Pensando não apenas na necessidade da apropria-ção da própria história, mas também na função social da transmissão da história da qual o sujeito é portador”, comenta. As mediações com a personagem Juju acontecem às quartas e sextas-feiras, das 13h às 17h, destinadas ao público em geral.

Ana Elisa Siqueira

Fotos: Íris Zanetti

6 Edição 196 - julho e agosto de 2014

Page 7: Jornal da UFOP | Nº 196

Festival de Inverno também é espaço de formação

Estudantes da UFOP têm oportunidade de trabalhar em suas futuras profissões durante o Festival

Carol Antunes

Esquentando os ânimos do inverno do mês de julho, o Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana - Fórum das Artes 2014 ocorreu do dia 4 a 20 de julho reple-to de atrações para todos os gostos. Por trás de todo o trabalho, há a participação de quem ainda não é graduado, mas está em processo de formação. Todos os anos, promovendo a oportunidade de estudan-tes de todos os cursos experimentarem um pouco do futuro profissional que os espera lá fora, em diversas áreas, o Festi-val ajuda a trilhar a formação profissional única e de qualidade.

De acordo com o reitor da UFOP, pro-fessor Marcone Jamilson Freitas Souza, essa é uma iniciativa fantástica para os alunos da Universidade Federal de Ouro Preto. Ele acredita que é um evento de laboratório para a formação dos graduan-dos, no qual todos que participam saem ganhando. Para exemplificar, ele destaca os alunos de Jornalismo que têm a opor-tunidade de fazer entrevistas de rádio e televisão, escrever matérias sobre as atrações do evento, participar da produ-ção das reportagens, realmente vivenciar o dia a dia de uma emissora de rádio e de televisão. Os de Turismo aprendem a organizar um grande evento e entender os detalhes de seu planejamento, como vivenciar o funcionamento de um ceri-monial. Estudantes dos cursos de Músi-ca e Artes Cênicas têm a possibilidade de participar da produção e direção de espetáculos, antecipando a prática pro-fissional. Discentes de Engenharia de Produção e Administração se envolvem com a logística e as planilhas de custos do evento e outras atividades. Estudantes de Ciência da Computação se encarre-gam do desenvolvimento e suporte ao site do evento e aperfeiçoam o aplicativo uGuide, destinado a notificar o público sobre os eventos, orientar sobre pontos turísticos e acessar as notícias da página na web. “Enfim, poderia citar diversas possibilidades de atuação dos alunos que participam do Festival. Todos ganham

conhecimento e experiência prática na sua área de atuação profissional. O mais gratificante de tudo é que, além desse trabalho, os alunos se divertem”, aponta Marcone.

Mais do que experiênciasEstudante de Artes Cênicas da UFOP

Gael Morais participa pela terceira vez nos bastidores do Festival, começando como monitor, depois assistente de pro-dução de rua. Neste ano, ele trabalhou na produção do Teatro Ouro Preto (no Cen-tro de Artes e Convenções da UFOP). Definindo como seria o Gael antes e depois do Festival, ele revela: “Em estado de arte permanente e com vontade de continuar”. Recebendo as informações sobre os eventos que aconteceram no es-paço, conferindo as checklists e buscando atender às demandas em planilhas para melhor organização, Gael evoluiu muito.

Já a estudante de Jornalismo da UFOP Anna Clara Antoun trabalhou neste ano como assistente da Assesso-ria de Imprensa do Festival. Em 2013, fazendo cobertura pela Rádio UFOP Educativa, ela já tinha certa experiência com o evento. Ela atuou em várias áreas da comunicação, desde o contato com os curadores, artistas e outras fontes, gestão de mídias sociais até o atendimento aos jornalistas, além de produção de textos, por exemplo. “Trabalhar na assessoria do Festival de Inverno é uma experiência in-crível para quem estuda Jornalismo. Pude conhecer melhor os projetos de extensão da Universidade, o seu funcionamento, a

lidar com a imprensa. Grandes eventos em geral proporcionam uma grande expe-riência, no Festival colocamos em prática o que aprendemos na faculdade. Com certeza hoje sou uma profissional mais preparada para o mercado de trabalho”, comemora.

Pedro Hagá, coordenador do recepti-vo, é estudante do 7° período de Turismo da UFOP e já trabalhou como monitor do receptivo no Festival em 2012. Apesar de ter experiência nessa área, trabalhar na coordenação foi algo novo para ele. Com diversas funções, ele teve nas mãos o ge-renciamento de trabalhos como recepção dos convidados no aeroporto, montagem kits, cartas de boas-vindas, apresentação da cidade, telefones úteis, confecção de crachás, distribuição de materiais e outras atividades ligadas ao cerimonial. “Nossa função no receptivo era bem dinâmica, atendemos demandas. Nossa equipe operacional esteve em boa sintonia, e o trabalho fluiu muito bem”, avalia Pedro. Para ele, trabalhar no Festival é sempre uma experiência nova. Primeira vez coordenando uma equipe, ele teve uma grande contribuição em sua formação, na qual o cargo exigiu muita atenção na exe-cução das tarefas, pró-atividade, espírito de equipe e jogo de cintura.

Nos bastidores, as pessoas aprendem a trabalhar em grupo e organizar um gran-de evento. Estudantes se colocam nos seus cargos do futuro e experimentam um pouco do mercado de trabalho. Em um ambiente agradável, participantes do Festival conhecem novas pessoas, trocam

O Festival ajuda a trilhar uma formação

profissional única e de qualidade

“O mais gratificante é que, além do trabalho, os alunos se divertem”

Saiba mais emwww.festivaldeinverno.ufop.br.

O FestivalNos 17 dias de evento, mais de

400 atrações (a maior parte gratui-ta, para um público de aproxima-damente 170 mil pessoas) foram exibidas por meio de espetáculos de teatro e dança, shows e concertos, exposições, filmes, atividades para as crianças, oficinas, palestras e me-sas de debate divididos nas curado-rias de Artes Cênicas, Artes Visuais, Audiovisual, Festival com a Escola, Infantojuvenil, Literatura, Música e Patrimônio.

ideias e, acima de tudo, se divertem. Com o fim do Festival, o que ficou foram as experiências ali absorvidas, os estudantes tiveram a oportunidade de expandir os horizontes.

Foto: Biel Machado

7Edição 196 - julho e agosto de 2014

Page 8: Jornal da UFOP | Nº 196

ENTREVISTA

8 Edição 196 - julho e agosto de 2014

O que é economia criativa? Como e por que ela permite o desenvolvimento sustentável?

A economia criativa pode ser classifi-cada como a produção de bens e serviços de caráter cultural e intelectual, baseada na criatividade e nos valores simbólicos de um local, região, país ou em valores com representatividade global. É impor-tante observar que essa definição também pretende incorporar as atividades e a pro-dução relacionadas ao entretenimento. A atribuição de valores aos produtos e ser-viços da economia criativa não decorre apenas do consumo em si, mas da expe-riência e do prazer proporcionados pelas mercadorias e serviços. Nesse sentido, a economia criativa abrange não somente a produção de filmes, livros, artesanatos, mas também a visita a museus, peças de teatro, exposições de música e dança, en-tre outras atividades que não envolvem necessariamente um ato de consumir

Economia criativa em focoAdriana Moreira

A economia criativa é responsável pelo sucesso de empresas e organiza-ções que dependem do talento e da criatividade para sobreviverem, mas esse campo não se restringe apenas ao setor empresarial, já que a economia criativa também pode ser responsável pelo crescimento econômico de uma cidade, de um estado e de um país. Ouro Preto e Mariana são exemplos disso, por serem cidades históricas conhecidas mundialmente, atraindo muitos visitantes. Além disso, a pre-sença da Universidade caracteriza as duas cidades como centros de apren-dizagem e experimentação, locais em que a cultura e as artes estão em cons-tante processo de desenvolvimento e inovação.

Na entrevista, o professor Fran-cisco Horácio Pereira de Oliveira, do Departamento de Ciências Econômicas e Gerenciais, do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, aborda o fato de es-tes dois setores – turismo e educação superior – serem importantes para impulsionar a economia criativa das cidades, uma vez que a diversidade cultural da região promove geração de emprego e renda.

Francisco Horário Pereira de Oliveira

padrão ou um consumo de “massa”. O consumo dessa economia pode se dar exclusivamente no local ou região onde os “bens e serviços” estão localizados. Nesse sentido, nações ou regiões com diversidade cultural possuem um maior potencial para investir nas atividades criativas, pois essa diversidade cultural é o insumo mais básico dessa economia. Ela promove o desenvolvimento sustentável porque se sustenta na sinergia entre cria-tividade, empreendedorismo e, como dito anteriormente, nos valores simbólicos da região. Assim, consegue-se gerar valor e emprego sem “destruir” seu insumo mais básico: a diversidade cultural. Ao contrá-rio, a economia criativa pode aumentar a divulgação dessa cultura e as atividades de entretenimento, o que aumenta a sua demanda, criando mais valor. Esse ciclo virtuoso ocorre sem esgotar os recursos básicos que movimentam a economia criativa, gerando um desenvolvimento sustentável ao longo do tempo.

Quais os processos que caracterizam esse segmento da economia?

Os processos que caracterizam a eco-nomia criativa são muito complexos por-que envolvem uma diversidade de setores econômicos. O termo “economia criativa” surgiu a partir de um projeto denominado Creative Nation, em 1994, na Austrália, onde foram estudados os impactos das atividades criativas sobre o seu desen-volvimento econômico. Posteriormente,

o governo do ex-primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, organizou uma divisão multissetorial que pudesse captar os setores que compõem a chamada eco-nomia criativa. Entre aqueles que foram observados, 13 foram destacados com maior potencial, sendo todos ligados à exploração da indústria criativa e de ser-viços culturais, abrangendo três grandes áreas: I) mídia e espetáculos ao vivo; II) design e visual e III) patrimônio históri-co. Os segmentos classificados criativos, a partir da pesquisa iniciada no Reino Unido, em 1997, foram: publicidade e propaganda; arquitetura; mercados de arte e antiguidades; artesanato; design; moda; filme e vídeo; software de lazer ou de entretenimento interativo e serviços de computação; música; artes do espetá-culo (performing arts); edição, editoração e publicação; televisão e rádio.

Como é possível implementar a eco-nomia criativa?

É importante, antes de tudo, conhecer a potencialidade local para impulsionar a economia criativa. Muitas vezes existe a diversidade cultural, as atividades em si, como a produção artesanal ou grupos locais de artes cênicas, mas elas não estão organizadas de forma a gerar um valor no mercado. Em outras palavras, elas podem não estar organizadas para gerar renda. Se for esse o caso, é importante o poder público local ofertar uma capacitação mais focada no empreendedorismo e no associativismo, na expectativa de que os agentes dessa economia criativa possam estruturar suas empresas e cooperativas/associações. Outra forma de impulsionar a economia criativa é com a criação de eventos que possam atrair a demanda para o setor, como feiras, festivais, ex-posições, ou seja, atividades que possam divulgar a produção cultural e de entre-tenimento do setor para que a demanda possa alavancar e divulgar a economia criativa regional.

A economia criativa está inserida em Ouro Preto e Mariana, cidades his-tóricas mundialmente conhecidas?

Certamente, por todo o patrimônio histórico, artístico e cultural, Ouro Preto e Mariana são polos de economia criati-va. Toda a diversidade cultural da região atrai profissionais - artistas, artesãos, músicos, pintores, escultores - que trans-formam essa diversidade em geração de emprego e renda. A combinação destes outros dois elementos - turismo e univer-sidade - é fundamental para impulsionar a economia criativa. O turismo, por moti-vos evidentes, traz os consumidores para

esse setor, além de promover a divulgação da economia criativa regional para outros lugares do Brasil e do mundo. Os univer-sitários também são grandes divulgadores dessa economia, mas também podem interagir com ela de forma orgânica, for-necendo pessoal qualificado tanto para trabalhar nas atividades fins - produção artística e de eventos, conservação do pa-trimônio, entre outras - como também na organização de empresas e cooperativas para impulsionar esses setores de produ-ção cultural e de entretenimento.

O Festival de Inverno, também nas duas cidades, promove uma troca cultural entre a população e a Univer-sidade e também atrai turistas de todo o País e estrangeiros. O evento pode ser visto como caso de economia criativa?

Por todos os motivos expostos acima, certamente o Festival de Inverno é um produto resultante da economia criativa da região.

Consegue-se gerar valor e emprego

sem destruir o insumo

mais básico: a diversidade

cultural

Uma forma de impulsionar a economia

criativa é com a criação

de eventos, e o Festival

de Inverno é exemplar neste

sentido

Economia criativa é a produção de

bens e serviços de caráter cultural e

intelectual, baseada na criatividade e em valores simbólicos

de uma comunidade

Foto: Amanda Sereno