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Jornal laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba. 25 de fevereiro à 03 de março de 2002.

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Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social, produzido e editado pelos alunos de Jornalismo e Publicidade & Propaganda da Universidade de Uberaba

As opiniões emitidas em artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores.

Edição: Alunos do curso de Comunicação Social • • • Supervisão de Edição: Alzira Borges • • • Projeto Gráfico: André Azevedo ([email protected]) • • • Diretor do Curso de Comunicação Social:Edvaldo Pereira Lima ([email protected]) • • • Coordenadora da habilitação em Jornalismo: Alzira Borges da Silva ([email protected]) • • • Coordenadora da habilitação em Publicidade e Propagan-da: Érika Galvão Hinkle • • • Professores Orientadores: Norah Shallyamar Gamboa Vela ([email protected]), Vicente Higino de Moura ([email protected]) e Edmundo Heráclito([email protected]) • • • Técnica do Laboratório de Fotografia: Neuza das Graças da Silva • • • Distribuição: Assessoria de Imprensa • • • Reitor: Marcelo Palmério • • • Ombudsman da Universidadede Uberaba: Newton Mamede ([email protected]) • • • Jornalista e Assessor de Imprensa: Ricardo Aidar • • • Impressão: Jornal da Manhã Internet: http://www.revelacaoonline.uniube.br •••Contatos: Universidade de Uberaba - Depto. de Comunicação Social - Bloco L - Av. Nenê Sabino 1801 - Bairro Universitário - Uberaba/MG - CEP 38.055-500

2 25 de fevereiro a 3 de março de 2002

A avaliação dos cursos universitários noBrasil, pelo Exame Nacional de Cursos – oconhecido Provão –, tem “punido” e “pre-miado” as instituições que os ministram,conforme os resultados adversos ou positi-vos alcançados. Contestada, rejeitada e boi-cotada pelos alunos, no início de sua ado-ção, em 1996, o certo é que essa forma deavaliação das universidades brasileiras “pe-gou”, cresceu e estabeleceu-se no quotidia-no acadêmico. De três cursos avaliados naprimeira edição desse Exame, atualmentejá passam de dez. Contra os protestos inici-ais, a reação oficial foi mantê-lo e ampliá-lo, o que culminou com sua consagração.

Embora nem sempreos resultados obtidos pe-los alunos reflitam a rea-lidade de algumas esco-las e cursos, todavia suadivulgação constitui umponto de referência soci-al, um marco e um pa-drão de qualidade comque as universidades são vistas e conside-radas pela sociedade. E, daí, os famososfatores de insucesso ou de sucesso.

Como é comum o interesse coletivo co-mentar e divulgar mais os fracassos do queos sucessos, um resultado adverso é lem-brado por muito mais tempo do que um posi-tivo. Então, para alimentar e avivar a memó-ria do sucesso, é necessário que consideremos,aqui, os elevados conceitos que alguns doscursos de nossa Universidade de Uberabaobtiveram no último Provão, realizado em2001. E essa memória é mesmo necessária,não para propaganda gratuita, mas para que acomunidade, a sociedade tome ciência e cons-ciência do que ela possui de bom e de eleva-do valor. Para que a sociedade uberabensevalorize e divulgue o que é seu.

Em 2001, QUATRO cursos da Univer-sidade de Uberaba foram classificados com

a nota máxima, com o conceito “A”: Le-tras (pela segunda vez consecutiva), Jor-nalismo, Pedagogia e Administração. E,num também honroso conceito, o curso deMatemática foi classificado com “B”. Semcontar que, em avaliações de anos anterio-res, os cursos de Administração e de Jorna-lismo já obtiveram conceito “B”.

O derrotismo, muitas vezes, leva o“santo de casa a não fazer milagre”. Ve-mos, com freqüência, pessoas de nossa ci-dade ridicularizarem os nossos cursos, ouas nossas instituições. Chegam a sair deUberaba, às vezes até incentivadas e pa-trocinadas por escolas de ensino médio,

para estudarem noutras“plagas”. Enquantoisso, alunos de várias re-giões do Brasil, algu-mas distantes, do Nor-deste e do Norte, procu-ram Uberaba para reali-zarem seus estudos uni-versitários. Especial-

mente, a nossa Universidade de Uberaba.Sinal de confiança. Padrão de honra.

Defeitos, todos os têm. Perfeição, nin-guém a possui. Então, temos o dever, aobrigação de reconhecer e de exaltar asnossas qualidades, os nossos valores.Apesar dos defeitos e das imperfeições.A Universidade de Uberaba é, sim, umaescola superior que detém conceito tam-bém superior. Não é futilidade declararisso. É, antes, o reconhecimento do tra-balho sério que ela persegue e desenvol-ve. Com vontade de acertar. Com vonta-de de vencer.

Quatro conceitos “A”. Num mesmo ano.E de uma universidade particular. E do in-terior. Não é para sentir orgulho?

Newton Luís Mamede éOmbudsman da Universidade de Uberaba

ConceitosuperiorNewton Luís Mamede

Rodolfo Rodrigues4º período de Jornalismo

A Universidade de Uberaba este anoresolveu inovar na recepção dos calouros.Fruto da idealização de um grupo de pro-fessores, alunos e funcionários da Univer-sidade de Uberaba, a calourada dentro doCampus foi mais cidadã, pois utilizou uma

proposta nova de camaradagem, até então,inédita para os alunos veteranos. Os cursosde Comunicação, Turismo, Serviço Social,Terapia Ocupacional e Educação Física fi-caram responsáveis pela recepção e toda adivulgação dos eventos. A descontração dosveteranos mesclada ao nervosismo e a re-beldia dos calouros deram o sabor especialà festa de recepção da calourada 2002.

Veteranos receberamcalouros comAtitude Cidadã

Voluntários orientaram os novatos nos primeiros dias de aula

Universidade incentivou camaradagem entre colegas

Neuza das Graças

Em 2001, quatro cursos daUniversidade de Uberaba foramclassificados com a notamáxima, com o conceito “A”

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3325 de fevereiro a 3 de março de 2002

Vaides JúniorAntônio Marcos1° período de Jornalismo

Como todos sabemos, começo deano é sempre aquela confusão. Dúvidasem relação às salas de aula, incertezassobre o curso escolhido, e principalmentereceio sobre os trotes a serem recebidos.O segurança encarregado de equipe daUniversidade de Uberaba, SebastiãoVargas, informa que não houve casos deabuso no trote dentro das dependências doCampus II. “Alguns calouros saíram demãos dadas, a pedido dos veteranos. Masfoi uma coisa tranquila, em que todosconcordaram”, diz.

Por isso, fizemos uma enquete comalguns alunos de diversos cursos, paramostrar como foram recebidos pelosveteranos, como foram as experiênciasfora do Campus, além de conhecer suasopiniões sobre o tão temido trote.

BICHO TAMBÉMÉ GENTE!Calouros contam suas experiênciasdentro e fora do Campus

Haron FreiriPublicidade“O trote foi legal e divertido.”

Fernanda ÁvilaBiomedicina“Foi uma falta de respeito! Mas nofundo foi legal, mesmo tendo que darR$5,00 para a cerveja dos veteranos.”

Patrícia e PatríciaAdministração“Foi legal, tivemos até quematar formiga a grito.”

Tiago Cardoso - Turismo“Não foi tão bom assim, masacho necessário.”

Gustavo “Pinguim”Publicidade e Propaganda“Foi uma sacanagem.Raparam e descoloriram meucabelo que era na cintura.Mas foi uma experiênciainteressante.”

Silvia BruneleFisioterapia“Os trotes foram horríveis, apesar denão ter gostado levei na brincadeira.”

VanessaFarmácia Industrial“Não gostei. Só participei porque meobrigaram.”

Ludwig JardimHistória“Devido o pessoalser mais velho,quase nem houvetrote. Mas gostariade ter recebido.”

Patricia HelenaQuímicaNão gostei do trote, pois fiqueicom hematomas, mas gosteimuito do curso.

HarielePedagogia“Foi bom, levei na base da amizade.”

Fotos: Vaides Júnior e Antônio Marcos

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Wagner Ghizzoni Júnior6º período de Jornalismo

A Secretaria de Educação de MinasGerais está preocupada em melhorar o ní-vel de ensino da rede púbica e garantir es-cola pública de boa qualidade para todos,como forma de contribuir para a constru-ção de uma sociedade mais justa, democrá-tica e solidária.

Para isso, está implementando o Proje-to Veredas, um curso a distância cujo obje-tivo, além de elevar o nível de competênciados professores municipais e estaduais, édesenvolver a identidade do profissional daeducação em três dimensões: a profisional,a social e a cidadã.

A Universidade de Uberaba foi umadas 18 universidades selecionadas para par-ticipar do projeto. Treze professores, dasáreas de Licenciatura e Pedagogia, além decolaboradores, participam do curso.

O cursoO Projeto Veredas tem duração de 3200

horas, divididas em sete módulos semestraisde 16 semanas cada um. Cada módulo temuma semana de aulas presenciais, ou seja,o professor-aluno deve comparecer ao lo-cal determinado e ter as primeiras ativida-des com os profissionais de ensino superi-or. Depois, as demais aulas são a distância.

Em cada encontro de aulas presenciais,além das aulas propriamente ditas, há ativi-dades em conjunto para uma interação entre

os cursistas, os tutores e a agência formadora.Ao fim de cada módulo, são feitas ava-

liações, para que cada um tenha consciên-cia de sua evolução – além, é claro, de quese não for aprovado, não passa para o pró-ximo módulo.

O I Encontro de Atividades Presenciaisdo Veredas começa na segunda-feira, 25 defevereiro, e vai até o dia1º de março, no SESCVenda Nova, em Belo Horizonte. Cada pro-fessor cursista receberá a programação de-talhada no primeiro dia de encontro. Valelembrar que também haverá atividades cul-turais no evento (confira quadro abaixo).

Os professores alunosO Governo de Minas Gerais expôs a

idéia de os professores da rede pública re-ceberem aulas para melhorar seu desempe-nho, mas não impôs a participação de to-dos. Só quem se interessou prestou o “ ves-tibular” para participar do curso. Ou seja,os professores-alunos foram motivados aaprender, e não foram “forçados” a fazeremalgo que não quisessem, conforme informouLuciana Faleiros Cauhi Salomão, integran-te da equipe da Universidade de Uberaba,que coordena este projeto. Ela cedeu estasinformações em meio a muita correria. To-dos funcionários da Uniube envolvidos noprojeto mostravam empolgação.

Mais esclarecimentos sobre o projetoVeredas,, ligue para 0800-343113 ou acesseINK http://www.uniube.br/ead/veredaswww.uniube.br/ead/veredas

Universidade de Uberabaparticipa do projeto VeredasProfessores- alunos participam das primeiras aulas presenciais em Belo Horizonte

PROGRAMAÇÃO CULTURAL25 / 02 – 25 / 02 – 25 / 02 – 25 / 02 – 25 / 02 – Apresentação teatral / Peça “O Mar de Estorias26 / 02 – 26 / 02 – 26 / 02 – 26 / 02 – 26 / 02 – Apresentação de dança com o Grupo Beth Dorça, de Uberaba27 / 02 – 27 / 02 – 27 / 02 – 27 / 02 – 27 / 02 – Musical com o tenor Henrique BotelhoDurante toda a semana haverá exposição de árvores brasileiras, exposição depintura a óleo sobre tela,da artista plástica Noeme Maria Silva, e biblioteca a dis-posição para leitura de jornais e revistas e empréstimos de livros.

captura de tela

25 de fevereiro a 3 de março de 2002

Exposição dasartistas plásticas

Fabiana LacombDayse Capucci

Vernissage com bandaF.A.C.EDia 1º de março, às 20h30

Centro CulturalCecília Palmério

Até 7 de março

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Wagner Ghizzoni Júnior6º período Jornalismo

Se você nunca ouviu falar no Circo doPovo, não é de se admirar. Isso porque hojeem dia não é feita uma divulgação tão gran-de como na época em que ele surgiu emUberaba. E, se você já ouviu algo a respei-to, já conferiu pessoalmente? Se a respostatambém for não, não sabe o que está per-dendo. O Circo do Povo é o pioneiro noBrasil de um tipo de circo diferente, e já foiaté motivo de matérias na França.

Quando surgiu o Circo do PovoEm 1983, mais precisamente de 26 de

fevereiro a 6 de março, aconteceu em SãoPaulo a I Feira da Cultura Brasileira. Comoespectador lá estava Beethoven LuisTeixeira, que voltou à Uberaba com o cére-bro a todo vapor.

Beethoven sabia que em Uberaba havi-am muitos artistas de diversos tipos em to-dos os bairros. Sua idéia era reunir todos numsó lugar para apresentações à comunidade.

Ao chegar em Uberaba, Beethoven ex-pôs sua idéia ao prefeito de então, Wagnerdo Nascimento. O prefeito ficou conhecidona cidade por ser uma pessoa muito próxi-ma do povo, especialmente dos mais caren-tes. E Wagner não teve receio em apoiar ainiciativa de Beethoven.

Em parceria com o amigo Antônio CarlosMarques, Beethoven começou a percorrertodos os bairros da cidade para catalogar osartistas. Eram fichados desde mágicos e pa-lhaços até empalhadores e doceiras.

Em 4 de março de 1983 foi inauguradoo Circo do Povo, no Bairro Abadia. No co-meço o circo tinha capacidade para mil e100 pessoas. O circo ficava 2 ou 3 mesesem cada bairro e em seguida se deslocavapara outro bairro mais distante. A estraté-gia era que a cada mudança o próximo bairronão fosse perto do anterior.

O diferencialDesde o começo, o Circo do Povo não

era um circo comum. Uma vez por semanahaviam as apresentações dos artistas: palha-ços, mágicos, cantores,dançarinos. Muitasvezes o prefeito Wagner ia ao circo cantar amúsica “Fuscão Preto”, que havia sido tema

em sua campanha eleitoral.Mas, o diferencial do Circo do Povo esta-

va nas atividades durante a semana. O Circoficava aberto todos os dias para a comunidade.Não era apenas um lugar para espetáculos.Beethoven conseguiu o que queria em seu pro-jeto inicial: fazer do circo um lugar para a po-pulação. Se era necessário uma reunião entreos moradores do bairro, o circo era o local. Umareunião de pais e professores da escola? Mar-cavam no circo. Tinha queixas contra a Prefei-tura? O prefeito e os vereadores se encontra-vam com os moradores no circo.

Outro grande barato do circo eram as ati-vidades que eram oferecidas. Havia naGibiteca mil e 837 gibis de 53 tipos. Cursosde instrumentos musicais e de xadrez eramministrados. Entre outras apresentaçõe, o cir-

co promovia Festival de Pipas e Papagaios,Festival de Folclore, Concurso de Violeiros,Semana da Criança, Semana de Prevençãode Acidentes, Exposição de Fotografias, emparceria com a Universidade de Uberaba,então Fiube), Semana Excepcional, Concur-so de Histórias de pescador, Clube de mães,Festas Juninas, Congado...

De 10 a 15 de fevereiro de 1986, o Circodo Povo foi sede do I Seminário Latino-Ame-ricano de Ludotecas. Participaram quase 200professores do Brasil e do exterior (Uruguai,Colombia, Argentina e Equador). Foram mi-nistrados cursos de artes cenicas, músicas, brin-cadeira de papel e folclore. O Circo do Povofoi divulgado em toda América Latina pelaFundação Latino-Americana de Ludotecas.

E foi justamente em 1986 queBeethoven deixou de ser o administrador

do Circo do Povo. Segundo ele, depois queWagner do Nascimento deixou de ser o pre-feito, o Circo perdeu espaço. “Antes eramoferecidas até refeições para as pessoas maiscarentes. Hoje em dia está muito diferen-te”, diz Beethoven, que tem passagens pelapublicidade, comunicação social e história.Hoje em dia, ele se dedica à FundaçãoPeirópolis de Paleontologia.

O circo hojeO Circo do Povo mantem-se como uma

coisa inédita e extraordinária. Atualmenteestá no bairro Valim de Melo. A capacidadeatual é para 3 mil pessoas. Por isso, o Circonão mantém o esquema de mudanças debairro, pois é cara. Além disso, de acordocom Antônio Carlos Marques, não adianta

dar os cursos em curta temporada, pois nãoresolvem o problema do aprendizado. Ocirco oferece vários outros serviços sociais,por exemplo, na área de saúde, com as pes-soas diabéticas e hipertensas. “Quer dizer,se você fica dois ou três meses apenas nãodá para fazer o acompanhamento. Temospalestras uma vez por semana e paraconscientizarmos as pessoas tem que haverum acompanhamento”, atesta Antonio Carlos.

Atualmente, a família de artistas circen-ses Bartolo dá aulas de circo para as crian-ças no local. “Tem uma boa procura. O maisimportante é tirar as crianças do bairro daociosidade”, orgulha-se Antonio. Mas, reve-lações tem aparecido no meio da garotada.

Além disso, outras atividades permane-cem desde a época do surgimento do Circodo Povo. A Gibiteca, infelizmente, não é uma

delas. Pois vários exemplares foram “leva-dos” pelos leitores e assim perdeu-se asequência da coleção. Mas permanecem, porexemplo, os cursos profissionalizantes, comocrochê, pintura em tecido, corte e costura eartesanato em geral. Enquanto as mães estãonestes cursos ou em reuniões, os filhos se ocu-pam, e muito bem: a Brinquedoteca permane-ce até hoje. Na época em que foi lançada, foimotivo de reportagens em várias revistas doBrasil. Com tinta, argila, papel e sucata emgeral, as crianças não vêm o tempo passar.

Outra atividade que permanece é aCinemateca, que atrai mais ou menos 100pessoas à cada seção. “Temos lá um telão euma vez por semana exibimos documentáriose filmes que não incitam violência, pois issoa televisão já faz”, explica Antônio Carlos.

Os cursos e a Cinemateca não custamnada, assim como o espetáculo, que aconte-ce aos sábados, a partir das 20 horas. Artis-tas, tanto da comunidade, como outros, seapresentam e o fluxo de pessoas por apre-sentação é em torno de mil e 500 pessoas.

O cadastro de artistas continua. “A gentedá oportunidade para as pessoas que têm domartístico mostrar seu trabalho. Conhecemosvários artistas profissionais que começaramlá e esse pessoal sempre volta, seja por retri-buição ou para incentivar os que estão come-çando”, conta Antonio. “Não plagiando oMilton Nascinemto, o artista tem que ir ondeestá o povo, e o povo está na periferia.”

De acordo com Antonio, não há uma di-vulgação maior do Circo do Povo na mídiaporque o público atual atende a demanda. Etambém porque há um preconceito em rela-ção ao circo. “A classe média não vai ao circo.Tem gente em Uberaba que nunca foi, issocom o circo tendo quase 20 anos”. Por outrolado escolas solicitam visitas constantemente.

A concorrênciaQuando outros circos vem à Uberaba

isso não significa concorrência. Estes cir-cos precisam da Prefeitura para liberaçãodo alvará. Então, o pessoal do Circo doPovo divulga, ajuda, e em troca, o circovisitante leva alguns números para aque-las pessoas que não têm condição de pagarpara assistir ao espetáculo.

O Circo do Povo é mantido pela Funda-ção Cultural, que arca com suas despesas,como funcionários, água, energia, dentre ou-tras. No total são 18 funcionários, sendo sóum contratado, o palhaço. “A Fundação ne-gocia e paga em média o que ganhariam emoutros lugares, por exemplo, cantores numbar ou boate”, explica Antonio Carlos.

Se você nunca foi ao Circo do Povo,não espere mais: ele está na Avenida Cen-tral, perto do posto de saúde.

Mais que um simples circo,

É O CIRCO DO POVO!

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25 de fevereiro a 3 de março de 2002

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6 25 de fevereiro a 3 de março de 2002

André AzevedoAndré AzevedoAndré AzevedoAndré AzevedoAndré Azevedo1º período de Jornalismo1º período de Jornalismo1º período de Jornalismo1º período de Jornalismo1º período de Jornalismo

Na praça Rui Barbosa, coração deUberaba, apodrece lentamente, aos olhos detodos, uma das casas históricas maisimportantes da cidade. Construída em 1889,foi a terceira edificação no município feitainteiramente de tijolos. Anteriormente, ascasas eram de pau-a-pique, ripa e barro,recobertas com uma argamassa de areia eestrume de vaca. Chegaram a dizer, naépoca, que as casas de Uberaba nãopassavam de “feias arapucas”, escreveu ohistoriador Hildebrando Pontes. Foi só coma chegada da estrada de ferro que aparecemos imigrantes, arquitetos e construtores quetrouxeram técnicas usadas na Europa,impulsionando a modernização da cidade.

O primeiro proprietário dessa casa foiTobias Rosa, dono do maior jornal deUberaba na época, a Gazeta de Uberaba,fundado em 1876 – antes mesmo doLavoura & Comércio. A memória popularregistra que Tobias Rosa, jogadorcompulsivo, em certa ocasião apostou eperdeu a mansão em um jogo de cartas. Seusogro, João Machado Quincas Borges – umdos organizadores da primeira exposição deZebu de Uberaba – decidiu, mais tarde,comprá-la.

A mansão, cuja beleza de estilo ecléticoé de encher a alma, foi palco e testemunhade movimentos importantes na história dacidade. Mas hoje, está abandonada. Um dosmais encantadores patrimônios históricos eculturais de Uberaba está encoberto porcartazes sujos e rasgados, escondido atrásde placas publicitárias e pontos de ônibus.Suas fachadas enegrecidas, sua pintura

descascada e o cheiro de mofo que exaladas janelas são uma verdadeira ofensa aosfrequentadores da região central. Conhecera casa por dentro é uma experiência queinspira profunda perplexidade peloinexplicável desamparo. Ao andar pela casa,o pensamento que vêm à cabeça é: não épossível que isso acontece! Uma casaenorme, no centro de Uberaba,completamente abandonada! As portas dosfundos estão arrombadas. Quartos, salas ecorredores imundos. As tábuas do piso

exalam odores de urina e poeira. Há vidrosquebrados e fios de instalação elétrica portoda a parte. Uma escada em espiral demadeira, toda suja de terra, dá para osegundo piso do sobrado. As janelas, em suamaioria, estão permanentemente abertas eficam batendo dia e noite com o vento. Asmadeiras dos batentes estão podres einfestadas de cupim. Um adesivo de umaempresa afixado na janela informa que acasa foi dedetizada em setembro de 1993.Em um dos quartos, lâmpadas de luz fria

estão espatifadas no chão. O tapete rasgadodeixa à mostra o piso de tacos infestado demusgo. A desolação dos cômodos ecorredores é total, chega a ser agressiva.Nem fantasmas habitam essa casa. Háalguns anos a prefeitura chegou a alugar amansão e instalou alguns serviços públicos– entre eles a Fundação Cultural. Mas desdemeados década de noventa está deserta.Ninguém sabe direito há quanto tempo estáabandonada. Os comerciantes ao ladodivergem, uns falam em três ou quatro anos,outros em sete ou oito. A casa estáliteralmente largada às traças e, como setratasse de um cálculo matemático oueconômico, deteriora-se com umavelocidade que inspira demolição.

A antiga casa de Tobias Rosa é depropriedade privada. Atualmente, a área dosfundos é alugada é foi transformada emestacionamento. Fanney HumbertoFatureto, 18, cuida do negócio. “As portasdos fundos ficam abertas. Às vezes ummendigo ou outro entra e passa a noite aí.A dona quer vender, mas como é tombado,não pode demolir e nem reformar, entãoninguém quer comprar”, diz. Quandoperguntado se pretende alugar a casa,responde: “Alugar pra quê?”

Teatro das memórias coletivasO risco que a comunidade corre ao

ignorar seu patrimônio histórico é a perdado que os cientistas sociais chamam de“memória coletiva”. Cada casa carregaconsigo uma história que diz muito sobreas relações sociais que permanecem na

Escombrosda memóriacoletivaCasas históricas deterioradas, desfiguradasou obstruídas escondem fragmentosde narrativas populares

Um dos mais importados patrimônios históricos da cidade está abandonado e encoberto por cartazes sujos

Palacete do coronel Antônio Pedro Naves, localizado na esquina das ruas Manoel Borgescom Major Eustáquio, virou uma aberração arquitetônica

fotos: André Azevedo

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725 de fevereiro a 3 de março de 2002

cidade. No livro chamado “Memória doSocial”, o estudioso Henri-Pierre Jeudyargumenta que a ligação entre umademolição e um estado de “amnésiacoletiva”, não é apenas uma metáfora. Amaioria das histórias dessas casas não estáescrita; sobrevivem graças à tradição oral demoradores mais antigos, que reproduzemrelatos de seus pais e avós. Quando símbolosculturais importantes são demolidos, a cidadeperde referências fundamentais queprejudicam definitivamente a compreensãode seu passado e, consequentemente, perdema consciência histórica do presente. No casoda mansão de Tobias Rosa, é uma parte dahistória da vida dos habitantes de Uberabaque apodrece.

O uberabense Sebastião Aidar faz 75anos no dia 2 de março, aniversário dacidade. Em 1940 trabalhava em um bar queficava embaixo do antigo Jóquei Club,depois transformado em casa de jogos. Osobrado é o mesmo onde hoje funciona umrestaurante, na praça Rui Barbosa, naesquina do calçadão da Arthur Machado.“Meu pai jogou muito pif-paf lá. O donoera um tal de Custódio. Ele mesmo nuncajogava. Ganhou um dinheirão”, lembra. Umdos frequentadores mais assíduos da casado Custódio era um famoso matadorprofissional da região: Aníbal Vieira. “Todomundo morria de medo dele, inclusive odelegado da época. Ele sempre se safava dosentreveros com a polícia. Costumava seesconder na fazenda de um coronel lá emCampo Florido e atuava como matador emtoda a região”, conta Aloysio FerreiraJunqueira, 59.

Aidar também se recorda da época áureado Hotel Regina, localizado na Rua ManoelBorges, de estilo art déco e hoje abandonadoe caindo aos pedaços. “O Regina era o hoteldos viajantes de passagem pela cidade,mascates e representantes comerciais que

vinham na estrada de ferro”, recorda.Uberaba era um importante entrepostocomercial entre São Paulo e Goiás. Aprofessora de História da Universidade deUberaba, Eliane Mendonça, relata que ohotel era um dos mais ‘chiques’ da cidade.Foi construído na década de 20, época áureado Zebu. Só perdia para o Hotel doComércio, hoje demolido, localizado na ruaVigário Silva, mais ou menos na área ondehoje está o Magazine Luíza.

O professor da Universidade deUberaba, Newton Luís Mamede, tem umade suas histórias saborosas ocorrida já nadécada de 70 e encenada em frente ao HotelRegina. “Eu estava com o carro parado e vium sujeito saindo do hotel, provavelmenteum vendedor da região. Ele parou à soleirada porta e acendeu tranquilamente o cigarro.Subitamente, a Dora Doida – figura popularna cidade, que na época estava no auge desua ‘atividade’ – aparece pela ManoelBorges, vê o sujeito e começa a gritar: –Olha que homem bonito. Está com cara queacabou de tomar banho. A cueca dele deveestar limpiiiiiiiinha e cheirosa. O sujeito deusó mais uma tragada e, assustado, entrourapidinho de volta ao hotel. Deve terpensado: essa cidade só tem doido!”

Outro Hotel que hoje, apesar derelativamente conservado, está com afachada parcialmente desfigurada, é o HotelModelo, edificado em 1923 pelo construtoritaliano Eugênio Borelli. Está localizado àesquina da rua Arthur Machado com GetúlioVargas. O respeito ao arranjo original éfundamental para que a memória sejapreservada. A arquiteta Elaine SilvaFurtado, mestre em Arquitetura eUrbanismo pela Universidade Mackenzie eprofessora na Universidade de Uberaba,descreveu em sua dissertação de mestradoas relações da arquitetura local com odesenvolvimento econômico da cidade naprimeira metade do século XX. No iníciodo século, Uberabacresceu rapidamentecom a introdução dogado Zebu, e teveque se modificarpara receber osi m i g r a n t e sacostumados comconforto. Até então,o estilo predominante era o eclético. O artdecó despontou na segunda fase do apogeudo Zebu, quando os pecuaristasdemonstravam seu poder aquisitivo atravésda edificação de palacetes que seguiam esseestilo predominante nos grandes centros. Ahistória econômica da cidade está, portanto,expressa na sua arquitetura. Intervençõesdesordenadas, reformas intrusivas ouobstruções ao redor do imóvel – o chamadoentorno – prejudicam a coerência dodiscurso arquitetônico. É mais ou menoscomo se um engraçadinho suprimisse umparágrafo da história da cidade e inserisse,por conta própria, palavrões evulgaridades. É o que acontece comalgumas lojas instaladas em diversosprédios históricos da cidade.

De frente ao Hotel Modelo, na rua

Nos anos 30, a casa de jogos do Custódio recebiaum ilustre e temido personagem: Aníbal Vieira, omais famoso matador profissional da região

O Hotel Regina, hoje abandonado e caindo aos pedaços, acolhia viajantes, mascates e representantescomerciais. Hotel Modelo, apesar de relativamente conservado, está com a fachada desfigurada.

Getúlio Vargas, onde hoje existem algumaspalmeiras, havia a igreja dos Rosário, ouigreja dos negros, construída por PadreZeferino Batista do Carmo em meados doséculo XIX. Ela foi demolida no final dadécada de 10, ou começo de 20 do séculopassado, em nome do progresso. Segundoa professora Eliane Mendonça, não existemfotos ou pinturas que a retratem. Há apenasum croqui, feito à partir de relatos detestemunhas. José Carlos Machado Borges(o Juquita), 91, possui em seus arquivos umafoto parcial de sua escadaria. Ele se lembrada igreja. “Eu era menino e passava à portaquando ia comprar balas e figurinhas decoleção na confeitaria. Era mais bonita que a

(igreja) Santa Rita”, diz.Mais um pedaço da

história da vida dascomunidades que sefoi, definitivamente.Nunca mais. Morreu.Acabou.

A b e r r a ç õ e sarquitetônicas

Na Praça Rui Barbosa há um tristeexemplo de desrespeito ao entorno. Opalacete de Arthur de Castro e Cunha,localizado entre o prédio da CâmaraMunicipal e uma galeria de lojas, foiconstruído na segunda década do séculopassado. É marcado por um arquitetura deestilo eclético com característicasmouriscas. Lamentavelmente, suavisibilidade está definitivamente obstruídapor essa galeria que foi projetada e edificadasem nenhuma consideração quanto àrelevância cultural do palacete. O descasoé explícito, o patrimônio histórico foisimplesmente ignorado. Não é mais possíveladmirar a beleza da mansão. Suaexuberância está condenada a passardespercebida para sempre.

Intervenções desordenadas,reformas intrusivas ouobstruções ao redor do imóvelprejudicam a coerência dodiscurso arquitetônico

Ontem HojeExuberância do palacete de Arthur Castro e Cunha está condenada a passar despercebida

arquivo Eliane Mendonça André Azevedo

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Parece que alguém planejoureformá-la algum dia, mas desistiuno meio do caminho, deixando ostijolos enfeiarem o sobrado

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Hoje, moram no andar de baixo dopalacete, há 12 anos, o casal Vera Lúcia deOliveira e Geraldino Diogo de Oliveira comseus filhos Diogo e Graziela. Segundo VeraLúcia, há uns dois anos a casa foi visitadapor uma equipe do Arquivo Público paraque fossem levantados os custos da reforma.A estrutura foi considerada muito boa, semrachaduras ou falhas graves. Apenas aspinturas interna e externaencontram-se em mauestado.

Na casa já funcio-naram os escritórios dediversos ministérios, abiblioteca municipal e umaassociação de municípios. Hoje, o andar decima está abandonado. No porão da casa –porões altos em rua de declive eramexigência do código de posturas queregulava as normas urbanísticas da época –está instalado o mais tradicional consultóriode radiologia de Uberaba, do Dr. NoraldinoAlves de Melo. O consultório, que pertence

a Noraldino há 38 anos, foi o primeiro naregião a utilizar o aparelho de raio Xpanorâmico. Importada do Japão em 1975,a boa e velha Panoramax funciona até hoje,junto a outra máquina mais moderna. Oconsultório é um bom exemplo de ocupaçãode imóvel histórico. As paredes e o pisoestão limpos, bem conservados. “Isso aquiera um porão horrível. Fui arrumando,arrumando, e hoje está isso aí”, dizNoraldino.

Na cidade há casos flagrantes deaberrações arquitetônicas que chegam achocar. Um exemplo gritante é o palacetedo coronel Antônio Pedro Naves (ver fotona página 6), localizado na esquina das ruas

“A recusa de preservarassemelha-se a umaordem de demolição”

Manoel Borges com Major Eustáquio.Segundo Hugo Prata, professor naUniversidade de Uberaba, o palacete foiprojetado pelo engenheiro FranciscoPalmério, pai de Mário Palmério. Hoje, naparte de baixo funcionam uma lanchonete,pintada de branco, e uma casa de pagamentode contas de cor azul com letreiros amarelos.A parte de cima está abandonada e imunda.

Há uma placa de tecidotoda rasgada e embolo-rada de um self-serviceque já deixou defuncionar há váriosanos. Torna-se difícildesvendar a beleza do

palacete por trás de tanto entulho.Semáforos, placas publicitárias e postesrepleto de cartazes complementam odesgosto do entorno. É talvez a fachadamais feia, mais desfigurada do centro dacidade. Não é capaz de inspirar nenhumahistória. O processo de tombamento dopalacete já está em andamento no Arquivo

Público Municipal. Pelo menos essa boanotícia. É aguardar pra ver.

Abandono e destruiçãoExiste um ditado popular entre

estudiosos de patrimônio que mostrabastante bom senso: “A recusa de preservarassemelha-se a uma ordem de demolição”.Para garantir a manutenção do imóvel, éessencial sua ocupação. A quantidade decasas antigas abandonadas no centro dacidade não é assustador, mas há muitas deindiscutível relevância cultural queencontram-se em estado preocupante. Umexemplo é a casa na rua Vigário Silva ondehá alguns anos funcionava o Centro

Nacional de Valorização da Raça Negra(Ceneg). Linda e hoje abandonada. Ou osobrado localizado no calçadão da ruaArthur Machado onde funcionava ajoalheria mais famosa da cidade, depropriedade de Raul Terra. Hoje a parte decima está abandonada. Parece que alguémplanejou reformá-la algum dia, mas desistiuno meio do caminho, deixando os tijolosenfeiarem o sobrado. A parte de baixo éalugada para uma loja que desfigurou emabsoluto o arranjo arquitetônico com asplacas das cores de sua marca. Além disso,o sobrado está espremido entre dois prédios.Sua visibilidade é quase nula.

Uma casa misteriosaDe todas essas casas abandonadas no

centro da cidade, existe uma, entretanto, quepreocupa particularmente porque, comopoucas, costuma exercer um fascínioespecial por causa de suas característicasmuito particulares. Aquele átrio cilíndrico,aquela cobertura de entablamento onduladosustentada por pilares retangulares, aquelaescadinha heli-coidal protegida porum guarda-corpo deferro batido, aquelepináculo sobre acobertura francesada varanda inspiramum encantamentoque atrai a atenção de todos que passampor ela.

Gustavo Vitor Pena, aluno do curso deHistória da Universidade de Uberaba, dizque se interessou muito pela casa quando aviu pela primeira vez. “Esse tipo dearquitetura é raro na cidade. Se tivessedinheiro, compraria a casa para preservá-la”, diz. A arquiteta Elaine Furtado concordaque é uma construção singular no panorama

de Uberaba. “A moda que predominou nacidade foram os estilos eclético e art decó.Esta casa de fato possui uma linguagemdiferente”, afirma. O músico e tatuadorRenato Zaca estava inspirado quando sereferiu à mansão: “Ela é inesquecível. É umacasa ‘bem-assombrada’. Quase todo mundo

tem vontade deconhecer pordentro. Ela mesurpreende, pareceque é meio viva”,diz. MárciaStacciarini, alunade Arquitetura na

Universidade de Uberaba, escreve que “essacasa representa o que resta da história deUberaba que, infelizmente, ao longo dotempo, vem sendo substituída por umaarquitetura de péssimo gosto e sempropósito algum”.

Localizada à rua Senador Pena, nº 62,quase na esquina com a avenida Leopoldinode Oliveira, a mansão está ameaçada porcausa do entorno e do abandono. Construída

Casa abandonada, onde já funcionou o Ceneg, localizada na rua Vigário Silva

Sobrado onde funcionou a joalheria de Raul Terra, nocalçadão, hoje o andar de cima está abandonado

Casa localizada na rua Arthur Machado onde, segundo José Carlos Machado Borges, morou Paschoal Toti, paido historiador uberabense Gabriel Toti. Hoje encontra-se toda retalhada e desfigurada

fotos: André Azevedo

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para João Quintino Teixeira, dono daprimeira sesmaria (lote de terra) de Uberabae deputado federal representando MinasGerais na primeira eleição à Câmararealizada no país, englobava originalmenteum terreno que avançava quase até ondehoje encontra-se a avenida Santos Dumont.Atualmente, está espremidaentre um estacionamento euma galeria de butiques. Norelatório do Instituto Estadualde Patrimônio Histórico eArtístico de Minas Gerais(Iepha/MG) com dados de1989, disponível no ArquivoPúblico de Uberaba, está escrito que, apesardo estado de conservação ser bom,“lamentável é o fato da edificação vizinhater vedado visualmente o prédio emquestão”.

Dona Antônia Fernandes faz companhiapara a atual herdeira. Elas moraram juntasna casa até há dois anos atrás. Hoje, amansão está desocupada. Para nãoabandoná-la por completo, as duas fazemvisitas esporádicas ao local, além de daremgorjeta a um funcionário do estacionamento

para que ele “dê uma olhadinha” de vez emquando. Dona Antônia diz que decidiramsair de lá porque estavam sentindo-seincomodadas. Segundo ela, uma manilha deescoamento instalada no prédio vizinhodespeja todo o acúmulo de água da chuvanas dependências da casa. “Eu desgostei de

morar aqui por causadisso. A água queentrava sujou toda aparede do quarto”,afirma. A garagem e umanexo são alugadospara um consultórioondontológico. A

situação atual da mansão é um caso emandamento, pois envolve a herdeira que, pormotivos de saúde, depende de um tutorresidente em São Paulo.

A última boa história ocorrida na casafoi uma festa no Dia das Bruxas. A idéia foi

de Cleide Sara, 30, que declara-seapaixonada pela sua arquitetura. “Ela temum clima misterioso, eu morria decuriosidade de entrar lá. A fachada sempreme impressionou. Quando passo em suacalçada, especialmente à noite, fico viajandona casa”, diz. Em outubro do ano passado,Cleide conseguiu alugá-la por uma noite,para fazer uma festa de Dia das Bruxas. Aidéia acendeu o imaginário de todo o seucírculo de amigos. Uma festa naquela casa?Era demais! Todos teriam oportunidade deconhecê-la, afinal. Foram feitos conviteslimitados. A divulgação foi praticamenteboca-a-boca. Cleide convidou umas bandase decorou os interiores com quadros,mandalas e tecidos. O amigo Robinho, da

Rarus – popular sebo de discos na cidade – ,cuidaria da seleção das músicas no aparelhode som. O Zé Leôncio, gaiteiro conhecidode todos, vai estar lá, quem sabe dá umapalhinha no final? A festa começou à meianoite. Poucos minutos depois que o “SeuJuvenal” – uma das bandas convidadas –começou a tocar, (estavam na segunda outerceira música) a polícia bate à porta e pedepra parar, informando que todos os vizinhosligaram furiosos por causa do barulho. Sembanda, a turma chateada, começaram todosa debandar. A tão aguardada festa acabouquase antes de começar pra valer. Mas ogostinho de ter conhecido a casa, nem queseja por uma noite, esse ninguém tira.

Casa construída para João Quintino Teixeira provoca admiração pelo seu arranjo arquitetônico singular. Espremida entre uma galeria de butiques e um estacionamento, está ameaçada por causa do semi-abandono

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“Lamentável é o fato daedificação vizinha tervedado visualmente oprédio em questão”

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André Azevedo1º período de Jornalismo

Uma questão fundamental está sempreà espreita e invariavelmente salta aos olhosquando é discutido o problema dapreservação do patrimônio histórico: paraquê, afinal, conservar casa velha, em vezde arrebentar tudo e construir outra?Lembro-me de um colega que achava graçada opinião do avô,morador antigo dacidade de Ouro Preto,reclamando do cheirode mofo das casas:“tinham é que baterfoto de tudo quanto éjeito, pra lembrar, eentão demolir a cidade toda”, dizia.

De fato, o problema é complexo eenvolve questões culturais, históricas,econômicas, sociais e estéticas. Aargumentação que sempre vem à mentedos preservacionistas é que o patrimôniohistórico representa a valorização damemória coletiva das sociedades em seusterritórios. No contexto da enorme

O enigma daconservaçãoPatrimônio histórico e cultural só tem sentidoenquanto consciência crítica do presente

Casa do Coronel Geraldino Rodrigues da Cunha, demolida na década de 80. Situava-

se na praça Rui Barbosa, no terreno onde hoje funciona o Elvira Shopping.

DEMOLIDAarquivo Eliane Mendonça

velocidade das transformações industriaise diante da ameaça de desaparecimentodesses símbolos urbanos, a conservaçãopromoveria a manutenção das referênciasque garantiriam a identidade cultural.Assim como um indivíduo viveria mal semmemória, também uma coletividadeprecisa de uma representação constante doseu passado. Para eles, o objetivofundamental é garantir às gerações futuras o

direito de usufruir de ummeio ambiente saudável ede uma herança históricaque os distinga eidentifique perante osdiferentes povos.

Por outro lado, aobsessão pela conser-

vação pode desembocar em uma nostalgiaromantizada de um passado que nãoexistiu. Entusiastas acríticos costumamreivindicar a mera petrificação de todosos imóveis urbanos, desejando conservarreferências mortas do passado que nadadizem ao presente, além de relegar asegundo plano justamente o que, na teoria,pretenderiam conservar: o imaginário social das memórias coletivas.

Portanto, faz-se necessário uma distinçãocrítica entre o que deve ser conservado e oque deve ser destruído. “A preservação, purae simples, não basta; ela deve ser estimuladapor um interesse coletivo de apropriação ede recolhimento”, escreve o cientista SocialHenri-Pierre Jeudy. Isso significa que aconservação do patrimônio só tem sentidose a comunidade inteira assim o desejar.Além disso, esse desejo deve ser expressoatravés de propostas claras para o usufrutodo imóvel, e que sejam acessíveis à toda apopulação. Para Jeudy, a cultura daconservação só adquire sentido se inseridano desenvolvimento econômico e social dacidade. A ação cultural, além de enfocar osproblemas existenciais, deve estar voltadapara problemas reais de trabalho, habitação,lazer, família e comunidade.

Tombamento O advogado Aflaton Castanheira,

professor na Universidade de Uberabaespecializado em Direito do Estado, afirmaque um dos maiores problemas nesta ação

cultural é que a comunidade desconhece alegislação municipal, que tem plenospoderes para promover proteção dopatrimônio. O Instituto Estadual doPatrimônio Artístico e Cultural de MinasGerais (Iepha/MG) informa que qualquercidadão pode solicitar o processo detombamento de um bem cultural, seja emâmbito municipal, estadual ou federal. Arelevância do patrimônio histórico é entãoexaminada por uma comissão competentee, se for verificada a importância daproteção legal, o proprietário é notificadoe o processo será aberto. O Arquivo Públicode Uberaba é o órgão que cuida dolevantamento dos bens históricos e culturaisda cidade. Marta Zednik Casanova,pesquisadora e coordenadora do Arquivo,informa que já existem quinze benstombados em nível municipal, entre eles alocomotiva “Maria Fumaça” – que segundoela está sendo restaurada. Existem aindatrês imóveis cujos processos já estão emandamento. A coordenadora afirma quedesde 1990 o poder público vem aplicando

Obsessão pela conservaçãopode desembocar em umanostalgia romantizada de umpassado que não existiu.

arquivo Eliane Mendonça

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Prédio onde funcionou a antigaEscola de Farmácia e Odontologia de Uberaba, na rua Manoeal Borges

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Esse prédio, localizado na praça Rui Barbosa, foi construído para o MajorEustáquio, o fundador de Uberaba. Posteriormente, foi residência de Borges Sampaio,personagem fundamental da história da cidade. Adquirida pela família Ricciopo, noprédio funcionou durante vários anos a Notre Dame de Paris, famosa loja na regiãocentral. Foi demolida no início da década de 80. Situava-se no terreno onde hoje fun-ciona o Chaves Palace Hotel, inaugurado em 1988.

DEMOLIDAarquivo Eliane Mendonça

Prédio construído para abrigar o cine Polyteana, na rua Manoeal Borges. Posterior-mente desativado, foi ocupado por lojinhas e bares ordinários, onde “moças de boafamília” eram proibidas de frequentar. Foi demolido depois que um incêndio deixousua estrutura comprometida. Localizava-se mais ou menos no terreno onde funcio-nava a filial das Lojas Brasileiras, e hoje está desocupado.

DEMOLIDA arquivo Eliane Mendonça

uma política municipal de tombamento. “OArquivo tem uma equipe de pesquisadoresque se preocupam com o levantamentohistórico desses bens. É um trabalhocomplicado porque em muitos casos ospróprios donos dos imóveis colocamempecilhos”, diz. O único bem tombado peloInstituto de Patrimônio Histórico e ArtísticoNacional (Iphan) é a Igreja Santa Rita, atualMuseu de Arte Sacra.

Aflaton Casta-nheira informa que otombamento constitui-se em um regimejurídico especial depropriedade, levando-se em conta sua funçãosocial. “Esse recursonão altera os direitosfundamentais do proprietário; permite queo imóvel seja vendido, alugado oureformado. Entretanto, as transações devemser previamente autorizadas pelo órgãocompetente que deve garantir a continuidadeda memória”, diz.

Contudo, mais uma vez, é essencial aparticipação e vigilância ativa dacomunidade, à qual compete decidir sobre ofuturo de seus bens culturais. Até porque,como escreveu o historiador Nelson WerneckSodré, “na selvageria de que é capaz ocapitalismo num país subdesenvolvido comoo nosso, a eficácia de tais instituições e aaplicação de tais leis são muito precárias”.

Política de incentivosNas Diretrizes para Proteção do

Patrimônio Cultural elaborado pelo Iepha/MG, são enumeradas várias medidas deestímulo às ações de preservação, tais comoo incentivo à instalação de órgãos públicos

em prédios históricos, isenção de IPTU parafacilitar aos proprietários de imóveistombados o cuidado com sua manutenção,além das leis estaduais e federais de incentivoque prevêem percentuais de renúncias fiscaispara empresas que investem em cultura. Umadas medidas empreendidas pelo Estado é obônus construtivo, que visa “premiar oproprietário com ações que venham a

beneficiar objetivosurbanísticos”. Em suapágina na Internet(www.iepha.mg.gov.br)o instituto encarregadoda proteção do patri-mônio cultural doEstado dá informaçõessobre seus programas e

orienta acerca dos diversos mecanismos deproteção e legislação.

Ruínas e qualidade de vida“Um espírito malicioso definiu a

América como uma terra que passou dabarbárie à decadência sem conhecer acivilização”. Assim, o antropólogo ClaudeLevi-Strauss, em Tristes Trópicos, começao capítulo que descreve o desenvolvimentode São Paulo. “A passagem dos séculosrepresenta uma promoção para as cidadeseuropéias; para as americanas, a simplespassagem dos anos é uma degradação”,observa. O escritor Inácio de Loyola Brandãocompartilha dessa análise. “Produzimosruínas mais rapidamente que eles [oseuropeus]. Nossos prédios se decompõem emvinte anos. Os deles levaram quinhentos, milpara se corroer”, escreve.

Para Pedro Álvares Fernandes, professordo curso de Serviço Social da Universidade

de Uberaba, a presença de prédiosdeteriorados no espaço urbano refletenegativamente na qualidade de vida daspessoas. “Quando falam sobre preservaçãoambiental, normalmente as pessoas pensamna proteção de rios e matas, mas seesquecem que a rua em que moram, osbairros e o centro da cidade são o meioambiente em que vivem de fato”, afirma.Pedro Fernandes lembra ainda que existemestudos relacionando a degradação dopatrimônio com a violência urbana.“Quando o cidadão sente que o poderpúblico é omisso ou está desrespeitando acidade, sente-se no direito de desrespeitá-latambém. Pesquisas feitas em periferiasdemonstraram que os índices de vandalismoe violência diminuem naturalmente quandoa administração pública mantém os bairroslimpos e bem cuidados”, diz o professor.Para ele, o desprezo pelos prédios históricosé uma agressão à toda comunidade.

Mas afinal,preservar para quê, mesmo?Infelizmente – ou felizmente, sei lá – é

impossível esgotar a discussão sobre anecessidade da preservação em seis páginasde jornal. Entretanto, o caminho apontadono estudo “Memórias do Social”, de Henri-Pierre Jeudy, mostra-se relevante emerecedor de futuras discussões. De acordocom sua argumentação, se o patrimôniohistórico e cultural representa a memóriacoletiva, o objetivo último a ser alcançadonas iniciativas de preservação é, portanto, aprópria memória, e não sua representaçãoatravés do patrimônio que, isolado de seu

contexto, de fato, não passa mesmo do quechamam de “uma casa velha qualquer”. Aconservação pela conservação perde osentido quando desvinculada dos aspectosdinâmicos do que ele chama de “construçãodo edifício da memória coletiva”. Portanto,o que parece ser cada vez mais o objeto deconservação é “a própria vida social e afetivada comunidade”.

Ele escreve que o patrimônio históriconão deve ser entendido como um objetoportador de uma memória estática, pois, sepor um lado serve como símbolo de umaépoca, por outro está inserido em umprocesso histórico que – perdoem aobviedade – está em andamento, ainda nãoacabou. Assim como a sociedade, ossímbolos culturais sofreriam mutações designificados no decorrer dos anos. Ele vaialém. Jeudy argumenta que o patrimônionão configura-se como um depósito damemória, mas como um elementodetonador de investigações culturais ou, emsuas palavras, “fundador de umainterrogação sobre o sentido das mutaçõesda sociedade”. O patrimônio cultural seriaválido na medida em que inspirasse, atravésde sua existência material, momentos dereflexão histórica no dia-a-dia da cidade.Trocando em miúdos, o espírito dapreservação monumental torna-seimportante não só por causa de suascaracterísticas de testemunha da memóriacoletiva, mas, sobretudo, enquantoconsciência crítica do presente e comopromessa de um modelo dedesenvolvimento que respeite o cotidiano,os movimentos culturais e a história da vidados habitantes de Uberaba.

“Quando o cidadão sente queo poder público é omisso ouestá desrespeitando acidade, sente-se no direitode desrespeitá-la também.”

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