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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 129 – MARÇO/2010 1 Desenvolver e promover informações científicas sobre o manejo responsável dos nutrientes de plantas para o benefício da família humana MISSÃO MISSÃO MISSÃO MISSÃO MISSÃO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N 0 129 MARÇO/2010 Veja também neste número: A importância do enxofre na agricultura brasileira .............................................................. 14 IPNI em Destaque ................................................ 21 Divulgando a Pesquisa ....................................... 22 Painel Agronômico ............................................. 24 Cursos, Simpósios e outros eventos .................. 26 Publicações Recentes ......................................... 27 Ponto de Vista ..................................................... 28 1 Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo (FZEA/USP), Pirassununga, SP; e-mail: [email protected] 2 Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo (ESALQ/USP). Piracicaba, SP. 3 Usina Açucareira São Manoel S.A., Fazenda Boa Vista, São Manuel, SP. Abreviações: ABNT = Associação Brasileira de Normas Técnicas; CS = coeficiente de simetria; GPS = sistema de posicionamento global; MAPA = Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; PRNT = poder relativo de neutralização total; SIG = sistema de informação geográfica. OTIMIZAÇÃO DA APLICAÇÃO DE CORRETIVOS OTIMIZAÇÃO DA APLICAÇÃO DE CORRETIVOS OTIMIZAÇÃO DA APLICAÇÃO DE CORRETIVOS OTIMIZAÇÃO DA APLICAÇÃO DE CORRETIVOS OTIMIZAÇÃO DA APLICAÇÃO DE CORRETIVOS AGRÍCOLAS E FERTILIZANTES AGRÍCOLAS E FERTILIZANTES AGRÍCOLAS E FERTILIZANTES AGRÍCOLAS E FERTILIZANTES AGRÍCOLAS E FERTILIZANTES Pedro Henrique de Cerqueira Luz 1 Rafael Otto 2 Godofredo Cesar Vitti 2 Nota: As opiniões expressas nos artigos não refletem necessariamente as opiniões do IPNI ou dos editores deste jornal. Thiago Aristides Quintino 3 Wellington Sacco Altran 2 Regis Ikeda 2 1. INTRODUÇÃO 1. INTRODUÇÃO 1. INTRODUÇÃO 1. INTRODUÇÃO 1. INTRODUÇÃO P ara obter sucesso no manejo químico das culturas é necessário levar em consideração conhecimentos das áreas de nutrição mineral de plantas, fertilida- de do solo, adubos e adubação e tecnologia da aplicação de corre- tivos e fertilizantes. Atualmente, observa-se que as informações sobre manejo da adubação, considerando a utilização de corretivos e fertilizantes e seu efeito na fertilidade do solo e na nutrição mine- ral de plantas, estão bem consolidadas e já dispõe de resultados práticos para os agricultores. Todavia, nota-se que a tecnologia de aplicação dos corretivos e fertilizantes – um dos fatores determi- nantes para o aumento da eficiência no fornecimento de nutrientes para o sistema solo-planta – muitas vezes não recebe a devida aten- ção por parte do produtor. A tecnologia de aplicação envolve diversas áreas do conhe- cimento agronômico, como propriedades dos corretivos e fertilizan- tes, máquinas aplicadoras, fertilidade do solo e nutrição mineral de plantas. Desta forma, para que se possa alcançar êxito na aplicação dos corretivos e fertilizantes, devem ser considerados vários aspectos ligados à tecnologia de aplicação, os quais serão discutidos a seguir, associados aos resultados de testes de aplicação de corretivos e fertilizantes que foram conduzidos em condições de campo. 2. CARACTERÍSTICAS DOS CORRETIVOS E 2. CARACTERÍSTICAS DOS CORRETIVOS E 2. CARACTERÍSTICAS DOS CORRETIVOS E 2. CARACTERÍSTICAS DOS CORRETIVOS E 2. CARACTERÍSTICAS DOS CORRETIVOS E FERTILIZANTES FERTILIZANTES FERTILIZANTES FERTILIZANTES FERTILIZANTES As características físicas, químicas e físico-químicas dos fertilizantes e corretivos são determinantes para o desempenho qualitativo e quantitativo da aplicação. INTERNATIONAL PLANT NUTRITION INSTITUTE - BRASIL Rua Alfredo Guedes, 1949 - Edifício Rácz Center, sala 701 - Fone/Fax: (19) 3433-3254 - Website: www.ipni.org.br - E-mail: [email protected] 13416-901 Piracicaba-SP, Brasil PRÊMIOS IPNI – SCHOLAR AWARD E SCIENCE AWARD PRÊMIOS IPNI – SCHOLAR AWARD E SCIENCE AWARD PRÊMIOS IPNI – SCHOLAR AWARD E SCIENCE AWARD PRÊMIOS IPNI – SCHOLAR AWARD E SCIENCE AWARD PRÊMIOS IPNI – SCHOLAR AWARD E SCIENCE AWARD Se você é um candidato, faça já sua inscrição! Mais detalhes na página 21

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 129 – MARÇO/2010 1

Desenvolver e promover informações científicas sobre omanejo responsável dos nutrientes de plantas para obenefício da família humana

MISSÃOMISSÃOMISSÃOMISSÃOMISSÃO

INFORMAÇÕESAGRONÔMICAS

N0 129 MARÇO/2010

Veja também neste número:

A importância do enxofre na agriculturabrasileira .............................................................. 14

IPNI em Destaque ................................................ 21

Divulgando a Pesquisa ....................................... 22

Painel Agronômico ............................................. 24

Cursos, Simpósios e outros eventos .................. 26

Publicações Recentes ......................................... 27

Ponto de Vista ..................................................... 28

1 Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo (FZEA/USP), Pirassununga, SP; e-mail: [email protected] Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo (ESALQ/USP). Piracicaba, SP.3 Usina Açucareira São Manoel S.A., Fazenda Boa Vista, São Manuel, SP.

Abreviações: ABNT = Associação Brasileira de Normas Técnicas; CS = coeficiente de simetria; GPS = sistema de posicionamento global; MAPA =Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; PRNT = poder relativo de neutralização total; SIG = sistema de informação geográfica.

OTIMIZAÇÃO DA APLICAÇÃO DE CORRETIVOSOTIMIZAÇÃO DA APLICAÇÃO DE CORRETIVOSOTIMIZAÇÃO DA APLICAÇÃO DE CORRETIVOSOTIMIZAÇÃO DA APLICAÇÃO DE CORRETIVOSOTIMIZAÇÃO DA APLICAÇÃO DE CORRETIVOSAGRÍCOLAS E FERTILIZANTESAGRÍCOLAS E FERTILIZANTESAGRÍCOLAS E FERTILIZANTESAGRÍCOLAS E FERTILIZANTESAGRÍCOLAS E FERTILIZANTESPedro Henrique de Cerqueira Luz1

Rafael Otto2

Godofredo Cesar Vitti2

Nota: As opiniões expressas nos artigos não refletem necessariamente as opiniões do IPNI ou dos editores deste jornal.

Thiago Aristides Quintino3

Wellington Sacco Altran2

Regis Ikeda2

1. INTRODUÇÃO1. INTRODUÇÃO1. INTRODUÇÃO1. INTRODUÇÃO1. INTRODUÇÃO

Para obter sucesso no manejo químico das culturasé necessário levar em consideração conhecimentosdas áreas de nutrição mineral de plantas, fertilida-

de do solo, adubos e adubação e tecnologia da aplicação de corre-tivos e fertilizantes. Atualmente, observa-se que as informaçõessobre manejo da adubação, considerando a utilização de corretivose fertilizantes e seu efeito na fertilidade do solo e na nutrição mine-ral de plantas, estão bem consolidadas e já dispõe de resultadospráticos para os agricultores. Todavia, nota-se que a tecnologia deaplicação dos corretivos e fertilizantes – um dos fatores determi-nantes para o aumento da eficiência no fornecimento de nutrientespara o sistema solo-planta – muitas vezes não recebe a devida aten-ção por parte do produtor.

A tecnologia de aplicação envolve diversas áreas do conhe-cimento agronômico, como propriedades dos corretivos e fertilizan-tes, máquinas aplicadoras, fertilidade do solo e nutrição mineral deplantas. Desta forma, para que se possa alcançar êxito na aplicaçãodos corretivos e fertilizantes, devem ser considerados vários aspectosligados à tecnologia de aplicação, os quais serão discutidos a seguir,associados aos resultados de testes de aplicação de corretivos efertilizantes que foram conduzidos em condições de campo.

2. CARACTERÍSTICAS DOS CORRETIVOS E2. CARACTERÍSTICAS DOS CORRETIVOS E2. CARACTERÍSTICAS DOS CORRETIVOS E2. CARACTERÍSTICAS DOS CORRETIVOS E2. CARACTERÍSTICAS DOS CORRETIVOS EFERTILIZANTESFERTILIZANTESFERTILIZANTESFERTILIZANTESFERTILIZANTES

As características físicas, químicas e físico-químicas dosfertilizantes e corretivos são determinantes para o desempenhoqualitativo e quantitativo da aplicação.

INTERNATIONAL PLANT NUTRITION INSTITUTE - BRASILRua Alfredo Guedes, 1949 - Edifício Rácz Center, sala 701 - Fone/Fax: (19) 3433-3254 - Website: www.ipni.org.br - E-mail: [email protected]

13416-901 Piracicaba-SP, Brasil

PRÊMIOS IPNI – SCHOLAR AWARD E SCIENCE AWARDPRÊMIOS IPNI – SCHOLAR AWARD E SCIENCE AWARDPRÊMIOS IPNI – SCHOLAR AWARD E SCIENCE AWARDPRÊMIOS IPNI – SCHOLAR AWARD E SCIENCE AWARDPRÊMIOS IPNI – SCHOLAR AWARD E SCIENCE AWARDSe você é um candidato, faça já sua inscrição! Mais detalhes na página 21

2 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 129 – MARÇO/2010

2.1. Corretivos2.1. Corretivos2.1. Corretivos2.1. Corretivos2.1. CorretivosAs características físicas dos corretivos (calcário e gesso),

como umidade, granulometria e ângulo de repouso, são maisdeterminantes da eficiência da aplicação do que as característicasquímicas. Para os produtores, a umidade é um dos principais fato-res que dificultam a aplicação do calcário, considerando que nesseinsumo não há limites de garantia de teor mínimo, o que implica navariabilidade de valores encontrados nos produtos comerciais. Le-vantamento realizado em cargas comerciais do produto mostrouvalores de umidade variando de 2,1% até cerca de 15%. Para ogesso essa variável é ainda mais crítica, como se observa nos da-dos de Coelho et al. (1992), com valores de 23,6% a 28,5% de umida-de, em contraste com o de Luz (1995), de 35% de umidade.

A granulometria dos corretivos é outro fator muito impor-tante, principalmente quando são utilizados equipamentos que fa-zem lançamento mecânico do insumo. Normalmente, os corretivosapresentam granulometria classificada como pó ou farelado, poisgeralmente são pouco solúveis, e em função da estratégia de açãoda correção do solo é necessário colocá-los em contato com grandevolume de solo para promover maior reação. Um produto que apre-senta grande variação na granulometria ficará sujeito à segregaçãoquando aplicado mecanicamente por lançamento. As partículas commaior tamanho e densidade atingirão maiores distâncias, compara-das às partículas menores e menos densas. Assim, quanto maior auniformidade do produto, menor a segregação na aplicação.

Os calcários apresentam granulometria que varia desde apeneira ABNT 10 (2,00 mm) até a peneira 50 (0,30 mm), frações essasque afetam sua reatividade no solo na unidade de tempo. Sendoassim, a eficiência relativa é de 20% para a fração retida na peneira20 (0,84 mm), 60% para a que fica na peneira 50 (0,30 mm) e 100%para a fração que passa nesta última, para um período de cerca de50 dias. Como a reatividade é utilizada para o cálculo do poderrelativo de neutralização total (PRNT) do calcário, juntamente como equivalente de carbonato de cálcio (ECaCO3%), seu valor afetaráo valor do potencial de reação do calcário no solo. Isto significaque a segregação do produto altera o PRNT na faixa de aplicação.

Todo produto sólido, na forma granulada ou pó, quando édescarregado em queda livre forma um monte, cujos taludes (lateral

do cone) apresentam um ângulo de inclinação característico, denomi-nado de ângulo de repouso. Tal ângulo funciona como um indicadorda tendência de escoamento do produto dentro dos distribuidores/aplicadores, de forma que quanto maior o valor do ângulo, menor afacilidade de escoamento. O ângulo de repouso varia principalmenteem função da granulometria (tamanho, forma e aspereza) e da umida-de do produto, e irá influenciar diretamente a fluidez ou a escoabilidadedo produto no mecanismo aplicador e distribuidor das máquinasaplicadoras. Essa propriedade foi avaliada em alguns corretivos efertilizantes (Luz, P.H.C., dados não publicados), obtendo-se valoresde ângulo de repouso de 42% para gesso, 40% para calcário, 36%para mistura de grânulos 06-12-06 e 32% para uréia. Observa-se queos corretivos apresentam maior ângulo de repouso que os fertilizan-tes, o que implica em maior dificuldade na aplicação, no campo, decorretivos, comparada à aplicação de fertilizantes.

2.2. Fertilizantes2.2. Fertilizantes2.2. Fertilizantes2.2. Fertilizantes2.2. FertilizantesPara os fertilizantes, as características físicas, químicas e

fisico-químicas devem ser levadas em consideração quando sediscutem aspectos relacionados à tecnologia de aplicação. Asprincipais características que devem ser analisadas são: estadofísico, granulometria, dureza dos grânulos, fluidez ou escoabilidade,densidade, higroscopicidade e empedramento.

Quanto ao estado físico, os fertilizantes são classificados emsólidos, líquidos e gasosos, sendo que, na agricultura brasileira, aforma mais utilizada é a sólida. Fertilizantes líquidos são utilizados poralgumas empresas, principalmente as do setor sucroalcooleiro (cana-de-açúcar), podendo-se também incluir empresas do setor de papel ecelulose e de citricultura. A principal vantagem dos fertilizantes líqui-dos reside na sua melhor qualidade de distribuição, pois são menossujeitos à segregação. Já o uso de fertilizante no estado gasoso refe-re-se ao emprego direto da amônia anidra. Embora apresente o menorcusto por unidade de nutriente, esta forma não é utilizada no Brasil.

Segundo a Instrução Normativa do Ministério da Agricultu-ra, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a granulometria dos fertili-zantes é avaliada por peneiras e dividida em seis grupos, de acordocom o diâmetro das partículas, conforme consta na Tabela 1. Devi-do à estratégia de ação físico-química no sistema solo-planta, com

Tabela 1. Granulometria dos fertilizantes e corretivos segundo a legislação em vigor.

Especificação granulométricaPeneira Passante Retido

Granulado e mistura granulada: produto constituído de partículas em que 4 mm (ABNT nº 5) 95% mínimo 5% máximocada grânulo contenha os elementos declarados ou garantidos do produto 1 mm (ABNT nº 18) 5% máximo 95% mínimoMistura de grânulos: produto em que os grânulos contenham, separadamente 4 mm (ABNT nº 5) 95% mínimo 5% máximoou não, os elementos declarados ou garantidos do produto 1 mm (ABNT nº 18) 5% máximo 95% mínimoMicrogranulado 2,8 mm (ABNT nº 7) 90% mínimo 10% máximo

1 mm (ABNT nº 18) 10% máximo 90% mínimoPó 2,0 mm (ABNT nº 10) 100% 0%

0,84 mm (ABNT nº 20) 70% mínimo 30% máximo0,3 mm (ABNT nº 50) 50% mínimo 50% máximo

Farelado fino 3,36 mm (ABNT nº 6) 95% mínimo 5% máximo0,5 mm (ABNT nº 35) 75% máximo 25% mínimo

Farelado 3,36 mm (ABNT nº 6) 95% mínimo 5% máximo0,5 mm (ABNT nº 35) 25% máximo 75% mínimo

Farelado grosso 4,8 mm (ABNT nº 4) 100% 0%1,0 mm (ABNT nº 18) 20% máximo 80% mínimo

Fonte: MAPA (2007).

Natureza física

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 129 – MARÇO/2010 3

enfoque na nutrição mineral das plantas, via de regra os fertilizantesapresentam os nutrientes em forma mais solúvel e, portanto, maisdisponível para as plantas. Nesse sentido, além do tamanho dosgrãos, o seu formato também é importante, e a forma granulada é amais comum e também a que apresenta melhor desempenho, consi-derando os aspectos de fluidez, higroscopicidade e empedramento,pois implica em menor superfície de contato e exposição ao meio.

No caso dos fertilizantes, a segregação pode ocorrer tantono transporte e manuseio do produto (sacos de 50 kg ou big bag de500 a 1.000 kg) quanto na aplicação no campo, como demonstradono esquema apresentado na Figura 1. Em ambos os casos, o proble-ma torna-se ainda maior com o uso de produtos contendo mais deum nutriente (misturas N-P-K), embora também ocorra com o uso deum produto simples. Quando um fertilizante que apresenta grânu-los de tamanhos distintos é submetido ao lançamento mecânico,poderão ocorrer variações na dosagem e nos teores dos nutrientesao longo da faixa de aplicação. Nesse sentido, avaliou-se a varia-ção transversal da composição química de um fertilizante 22-00-22,composto da mistura de uréia e cloreto de potássio, aplicado porequipamento com mecanismo dosador gravitacional e mecanismodistribuidor tipo pendular (Figura 2) (Luz, P.H.C., dados não pu-blicados). Os resultados demonstraram uma variação expressivanos teores de N-K da fórmula ao longo da faixa de aplicação,causada pela variação no peso dos grânulos da uréia (mais leves) edo cloreto de potássio (mais pesados).

Figura 1. Aplicação de grânulos de fertilizante com diâmetros distintos,pela mesma máquina aplicadora, evidenciando o efeito da segre-gação na aplicação no campo.

A dureza dos grânulos é função da matéria-prima utilizadana fabricação do insumo e da umidade do ambiente, podendo apre-sentar comportamentos denominados de “moles” até “muito du-ros”, que estão associados à sua dissolução e à tendência de rom-pimento ou quebra. Quando “moles”, ficam suscetíveis à quebra,porém terão fácil dissolução, enquanto os “duros” terão tendênciacontrária. O fato de apresentar tendência de quebra está relaciona-do aos cuidados no empilhamento e ao comportamento nos dosa-dores volumétricos, principalmente nos helicoidais, enquanto afacilidade de dissolução está voltada à disponibilidade dos nutrientespara as plantas.

A fluidez ou escoabilidade, já discutida para os corretivos,está muito associada à granulometria e à umidade do produto. Nocaso particular dos fertilizantes, a fluidez é intimamente depen-dente da higroscopicidade. Embora os fertilizantes apresentemboas características de escoamento, devido às característicasfisico-químicas dos grânulos, ficam sujeitos à umidade do ar eapresentam umidades relativas críticas variadas e, por isso, difi-culdade de fluir nos dosadores e distribuidores das adubadoras.Além de afetar a aplicação no campo, a absorção de água pelofertilizante leva ao empedramento, principalmente quando arma-zenado, o que terá reflexos negativos no momento de distribuí-losno campo.

2.3. Modos de aplicação2.3. Modos de aplicação2.3. Modos de aplicação2.3. Modos de aplicação2.3. Modos de aplicaçãoPara os corretivos e fertilizantes, há três modos principais

de aplicação, quais sejam: a) a lanço, b) em faixa e c) em linhas ousulco. A adoção de um ou outro tipo está relacionada com o produ-to a ser aplicado, com a cultura a ser explorada e com a fase dosistema produtivo.

No caso de calcário, gesso e fosfatos, geralmente a reco-mendação é a aplicação a lanço em área total, devendo-se utili-zar os distribuidores que fazem distribuição a lanço, como serávisto mais adiante. Nas condições de culturas perenes, existe apossibilidade de aplicação dos corretivos e fertilizantes em fai-xa, quando se deseja alterar com maior intensidade as proprieda-des químicas do solo numa faixa pré-determinada. Para tanto,são utilizados os aplicadores a lanço, porém com o uso de dispo-sitivo específico para o direcionamento do produto em faixa. Tal

dispositivo é chamado de direcionador, poden-do-se regular a largura da faixa bem como a po-sição a ser colocado o insumo.

Por outro lado, o modo de aplicação maisutilizado para os fertilizantes é o localizado emlinha ou filete contínuo ou em sulco, que direcionaa distribuição do produto próximo às linhas desemeadura ou plantio, visando fornecer os nu-trientes para o sistema radicular das plantas, querno ato de semeadura/plantio, quer em coberturacom a cultura já implantada.

3. EQUIPAMENTOS DISTRIBUIDORES3. EQUIPAMENTOS DISTRIBUIDORES3. EQUIPAMENTOS DISTRIBUIDORES3. EQUIPAMENTOS DISTRIBUIDORES3. EQUIPAMENTOS DISTRIBUIDORES

Quando se pretende discutir tecnologiade aplicação, deve-se dar especial atenção àmáquina. Sendo assim, serão apresentados aseguir os principais aspectos das máquinaspara aplicação de corretivos e fertilizantes, des-tacando-se os componentes de particular inte-resse.

Distância

Distância

M aior diâmetro e

densidade

M enor diâmetro e

densidade

Figura 2. Segregação química do fertilizante 22-00-22 (mistura de uréia e cloreto de potássio) aolongo da faixa de aplicação em equipamento com mecanismo dosador gravitacionale mecanismo distribuidor pendular.

Fonte: LUZ, P.H.C. (dados não publicados).

4 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 129 – MARÇO/2010

3.1. Aplicadores a lanço3.1. Aplicadores a lanço3.1. Aplicadores a lanço3.1. Aplicadores a lanço3.1. Aplicadores a lançoAs máquinas destinadas à aplicação de calcário, gesso e

fosfatos pertencem ao grupo dos aplicadores de corretivos. Estespodem ser tratorizados, normalmente os mais utilizados, ou autopro-pelidos, como os caminhões com caçamba aplicadora.

A Figura 3 apresenta um esquema geral dos aplicadores decorretivos, com os seus principais elementos constituintes. Ênfaseserá dada ao distribuidor e ao dosador, pois afetam diretamente odesempenho da aplicação.

Figura 3. Esquema dos elementos constituintes de um aplicador decorretivos.

O mecanismo dosador é o responsável pelo fluxo do produ-to do depósito para o distribuidor, ou seja, pela dosagem do corre-tivo ou fertilizante. De acordo com Mialhe (1986), o mecanismodosador pode ser gravitacional ou volumétrico.

No dosador gravitacional o fluxo de produto do reservató-rio ao distribuidor ocorre por gravidade, sendo auxiliado, em algunscasos, por um agitador mecânico, que opera sobre um orifício deabertura regulável. No mercado brasileiro, encontramos dosadorgravimétrico associado com distribuidor pendular, centrífugo, comum ou com dois discos.

Por outro lado, o dosador volumétrico promove um fluxo,com um determinado volume de produto, o qual é controlado demaneira contínua, sendo retirado do fundo do depósito e encami-nhado ao distribuidor. Os principais tipos de mecanismos volu-métricos são: a) esteira; b) roseta e c) prato giratório. Os dosadoresvolumétricos são acionados por elementos mecânicos que possibi-litam a manutenção ou regularidade da vazão. Os elementos mecâ-nicos, por sua vez, são acionados pelos seguintes sistemas mecâ-nicos: a) roda de terra; b) tomada de potência do trator e c) motorhidráulico.

Atualmente, o principal avanço tecnológico nos dosadoresdiz respeito ao acionamento por motor hidráulico, que possibilitouo desenvolvimento da tecnologia de aplicação em taxa variável, ouseja, a vazão do corretivo ou fertilizante varia em função da rotaçãodo motor hidráulico, que por sua vez responde ao comando de umsistema eletro-mecânico comandado por computador, que processaos mapas de recomendação de adubação. Esses mapas de reco-mendação são fruto da amostragem georreferenciada da fertilidadedo solo, diferentemente da amostragem tradicional em ziguezagueno campo, que leva à dosagem fixa por área.

O mecanismo distribuidor é aquele responsável pela efetivaaplicação do produto, que vem do dosador, no solo ou na planta,podendo fazê-lo em queda livre ou por lançamento mecânico, dan-do origem ao perfil transversal da aplicação, que será discutidoposteriormente. Os princípios de distribuição caracterizam os tiposde distribuidores, sendo, de acordo com Mialhe (1986), classifica-dos em queda livre, força centrífuga e movimento pendular.

O tipo queda livre promove a distribuição do corretivo poração da gravidade, caindo livremente sobre a superfície do solo,podendo ser em linhas espaçadas de 10 a 15 cm, que é a mais co-mum, ou em faixas finas. Os principais representantes desse distri-buidor no mercado são os conhecidos como tipo cocho, podendoestar associados ao dosador gravimétrico ou volumétrico com es-teira transversal.

O distribuidor centrífugo se caracteriza pelo lançamentoradial do corretivo, utilizando, para tanto, de um ou dois discos(rotores) horizontais. Estes discos possuem aletas dispostasradialmente, podendo ser fixas ou não e, quanto à forma, retasou curvilíneas. No mercado brasileiro são conhecidos como dis-tribuidores centrífugos com um ou dois discos e são amplamen-te utilizados para aplicação de corretivos, principalmente calcário,sendo normalmente tracionados por trator. Uma tendência queestá sendo observada para culturas que necessitam de preparode solo de grandes áreas de uma única vez, como é o caso dacana-de-açúcar, é a instalação do depósito com o mecanismodosador tipo esteira central sobre o eixo de um caminhão, tor-nando-se um aplicador autopropelido. A principal vantagem destetipo de equipamento é o elevado rendimento e a versatilidade naaplicação de diversos produtos, como calcário, gesso e fontesde fósforo.

O tipo pendular é aquele distribuidor que possui um tubohorizontal, ligado a um mecanismo excêntrico que descreve um mo-vimento pendular. É usado por produtores médios ou pequenos,por se tratar de um equipamento de pequeno investimento; toda-via, apresenta baixa capacidade de carga, devido ao fato de seracoplado ao engate de três pontos do trator, além de estar associa-do a dosadores gravimétricos.

3.2. Aplicadores em linha3.2. Aplicadores em linha3.2. Aplicadores em linha3.2. Aplicadores em linha3.2. Aplicadores em linhaOs distribuidores em linha geralmente estão associados com

a aplicação de fertilizantes, dispondo-os ao lado ou abaixo das se-mentes, ou em superfície ao lado ou em cima das linhas da cultura.Desta forma, o mecanismo distribuidor geralmente é do tipo que-da livre, com tubo de saída individual por linha. Por outro lado omecanismo dosador pode ser do tipo: a) helicoidal ou rosca semfim; b) roseta; c) prato giratório ou discos horizontais rotativos;d) correias ou correntes e e) cilindros canelados.

Atualmente, o mecanismo dosador em linha mais utilizadopelos fabricantes é do tipo helicoidal (Figura 4), que consta de umparafuso colocado sob o depósito de fertilizante, que é acionadopor um sistema de transmissão por engrenagens, sendo que a va-zão de fertilizante é função da especificação do helicóide, referenteaos diâmetros interno e externo e do “passo” ou distância entre asespirais, e da velocidade de acionamento.

Os dosadores de rotores denteados foram muito utilizadosnas semeadoras de grãos miúdos, sendo montados no fundo dodepósito de fertilizante. É composto por um rotor denteado, dispos-to de modo horizontal, que gira sobre uma placa de apoio que con-tém o orifício de saída do fertilizante. A vazão do fertilizante é dadapela velocidade de rotação do rotor, associada com uma linguetaajustável, que controla a espessura da camada de fertilizante que éempurrada pelos dentes do rotor.

O dosador de disco horizontal rotativo foi muito empregadonos sulcadores e adubadoras utilizados em cana-de-açúcar, cons-tando de um disco rotativo liso acoplado a uma engrenagem coroa,que gira contra uma lingueta raspadora e que direciona o fertilizantepara o copo coletor e deste para o tubo de saída.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 129 – MARÇO/2010 5

Figura 4. Esquema de um distribuidor em linha de fertilizantes comdosador do tipo helicoidal.

4. AGRICULTURA DE PRECISÃO4. AGRICULTURA DE PRECISÃO4. AGRICULTURA DE PRECISÃO4. AGRICULTURA DE PRECISÃO4. AGRICULTURA DE PRECISÃO

O sistema de aplicação de corretivos e fertilizantes predomi-nante na agricultura brasileira é o convencional, ou seja, trabalha-secom uma condição representativa da fertilidade do solo, que gerauma recomendação constante para a área. Nesse caso, a aplicação érealizada a taxas fixas, o que representa a técnica de adubação pelamédia. Considerando que o solo é, por natureza, variável em seusatributos químicos, a aplicação de corretivos e fertilizantes em taxafixa não leva em consideração essa variabilidade e, desta forma,ocasionará uma subestimativa ou superestimativa da dose adequa-da de corretivo ou fertilizante para determinado local do terreno.Sendo assim, surge a necessidade de considerar essa variabilidadeespacial dos atributos físico-químicos do solo e realizar a aplicaçãode insumos a taxa variável – um dos pré-requisitos para a implanta-ção do sistema de agricultura de precisão.

No mapeamento dos atributos dos solos e das plantas sãofeitos levantamentos sistemáticos das características que se pre-tende estudar, de forma georreferenciada, ou seja, cada amostra éretirada de um ponto do qual se conhecem a longitude, a latitude ea altitude. Por esse motivo, a implantação do sistema de posicio-namento global (GPS) tem sido considerada um marco no desenvol-vimento e na utilização da agricultura de precisão, uma vez que apartir da possibilidade de uso dos mesmos sensores em qualquerparte do globo terrestre, o georreferenciamento dos pontos amos-trados deixou de ser uma tarefa difícil e complicada.

Fundamentalmente, a agricultura de precisão é um jogo deações que tentam reduzir as ineficiências na produção agrícola eaumentar o retorno econômico do produtor. A adoção de técnicasde agricultura de precisão só faz sentido quando o produtor estiverfazendo todo o esforço para melhorar a eficiência da produção agrí-cola. Ineficiências identificadas através de técnicas de agriculturade precisão incluem os fatores limitantes e a aplicação excessiva oudeficiente de insumos de produção. Uma forma comum de ineficiên-cia de produção é a produtividade de uma determinada área ficarlimitada por algum fator, que poderia ser controlado por geren-ciamento (BALASTREIRE, 2000).

4.1. Mapeamento da fertilidade do solo4.1. Mapeamento da fertilidade do solo4.1. Mapeamento da fertilidade do solo4.1. Mapeamento da fertilidade do solo4.1. Mapeamento da fertilidade do soloElevadas produtividades agrícolas têm sido obtidas com a

utilização de grandes quantidades de insumos, devido à indis-ponibilidade e alto custo para aquisição de novas áreas para plantio.Porém, embora benéficos, os fertilizantes nem sempre são eficientespara todos os tipos de solo e para todas as culturas agrícolas. Esta

heterogeneidade pode ocasionar situações nas quais a exigêncianutricional do cultivo não é atendida, por falta de nutrientes, ouhaver desperdício de recursos, por excesso de adubação.

O mapeamento da fertilidade dos solos é uma das principaisferramentas da agricultura de precisão. Consiste na amostragemdetalhada dos solos e da produtividade, com o uso de equipamen-tos e de técnicas modernas (GPS, quadriciclo, amostrador automá-tico e softwares compatíveis). O princípio básico fundamenta-seem relacionar os resultados das análises químicas e físicas, efetuadasem laboratório, com as posições geográficas, obtidas através doGPS, durante a amostragem (BALASTREIRE, 2000).

O método mais comum de estudar a variabilidade espacialconsiste na utilização de geoestatística. A geoestatística é funda-mentada na teoria das variáveis regionalizadas, segundo a qual osvalores de uma propriedade do solo estão de alguma forma relacio-nados à sua distribuição espacial; logo, as observações tomadas acurtas distâncias devem ser mais semelhantes do que aquelastomadas a distâncias maiores (VIEIRA et. al, 1997; citado por BALAS-TREIRE, 2000). Guedes Filho (2009) utilizou essa ferramenta em umaárea cultivada em rotação de culturas sob semeadura direta du-rante 23 anos e observou que, embora os atributos químicos apre-sentassem, de forma geral, teores médios adequados ao desenvol-vimento das culturas, sua variabilidade espacial justificou o manejodiferenciado quanto à aplicação de calcário e fertilizantes.

O uso de técnicas de agricultura de precisão com a finalidadede manejar a variabilidade de atributos de fertilidade do solo introduzum fato novo nas lavouras, na medida em que deixa de considerardeterminadas áreas agrícolas como uniformes para dividi-las em pe-quenos talhões ou zonas de manejo, que, por possuírem característi-cas próprias e serem determinadas sobre os índices de produtividadeobtidos, passam a ser analisadas individualmente quanto ao tipo equantidade de fertilizantes a receber (SARAIVA, 2000).

4.2. Aplicação a taxa variável4.2. Aplicação a taxa variável4.2. Aplicação a taxa variável4.2. Aplicação a taxa variável4.2. Aplicação a taxa variávelA aplicação de fertilizantes a taxa variável tem o potencial

de otimizar o uso de fertilizantes e minimizar os impactos negati-vos da atividade agrícola no ambiente. Embora seja utilizada emlarga escala, esta prática ainda não possui muitos estudos quecomprovam seus efeitos positivos para o agricultor e para oambiente.

O tratamento localizado – objetivo final da agricultura de pre-cisão – não é, exclusivamente, uma consequência direta da utilizaçãode equipamentos dotados de sensores, sistema de posicionamento esistemas computacionais de controle de aplicação de insumos. An-tes, é a integração destes e de outros sistemas na geração, análise eutilização de informações que refletem a variação que pode ser trata-da de forma localizada. Nesse sentido, são relevantes os recursosgeoestatísticos para análise da variabilidade espacial, os sistemas esensores de mapeamento da produtividade, o sistema de informaçãogeográfica (SIG) e o GPS. Além dessas, outras tecnologias favorece-ram o desenvolvimento da tecnologia de aplicação em taxa variável,como controladores de aplicação de insumos e a barra de luz, queauxilia os operadores no espaçamento entre as passadas da máquinaaplicadora.

O uso desta abordagem possibilitou ao produtor manejar ouvariar as taxas de aplicação de fertilizantes em um talhão, de acordocom as diferenças de produtividade da cultura ou dos parâmetrosdo solo. Diferentemente da aplicação uniforme de fertilizantes ecorretivos, que podem resultar em áreas com aplicações abaixoou acima da dose necessária, a aplicação a taxas variáveis pode

6 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 129 – MARÇO/2010

favorecer a produtividade pelo aumento na eficiência do uso dosnutrientes, com simultânea redução do potencial de poluiçãoambiental (Robert, 1993, citado por MACHADO et al., 2004).

Estudo de caso realizado pela S/A Agroindustrial Eldorado,em Uberlândia, MG, para o cultivo de milho, evidenciou os benefí-cios da agricultura de precisão, visando a aplicação de insumos ataxa variável. A Tabela 2 contém as dosagens médias de calcário,gesso, P e K para aplicação em área total, antes do plantio, pelosistema tradicional de avaliação da fertilidade do solo. Observa-seque as dosagens são únicas para toda a quadra da Fazenda, pelofato de as amostras terem sido retiradas por quadra.

Nesta mesma Fazenda foi realizada amostragem de solo emtalhões de 4 hectares, sendo o local da amostragem georreferenciadopara posterior interpolação dos resultados e geração dos mapas defertilidade e recomendação das práticas corretivas. Em caráter de-monstrativo, as Figuras 5 e 6 apresentam os mapas de variabilidadeespacial de alguns atributos do solo, como saturação por bases (V%)e teores de S, P e K, assim como os mapas de recomendação decalagem, gessagem, fosfatagem e potassagem em taxa variada, obti-dos pelos resultados das análises de solo provenientes da amos-tragem georreferenciada. Embora tenha sido apresentado o mapa doteor de S, a recomendação de gessagem foi feita com base nos teoresde alumínio e na saturação por bases da camada subsuperficial.Para recomendação de calagem, gessagem, fosfatagem e potassagemfoi adotada a mesma metodologia utilizada no sistema tradicional.

Observa-se que o solo apresentou uma grande variabilidadeespacial dos atributos químicos apresentados. Dessa maneira, a do-sagem de corretivos recomendada também variou significativamen-te, inclusive em áreas que não necessitam da aplicação dos insumoscalcário e gesso (Tabela 3). Ainda, pode-se observar a variação maiorna dose mínima e máxima no sistema de agricultura de precisão, quan-do comparado ao sistema tradicional, que permite a aplicação de umadose única em toda a área da quadra.

Dessa maneira, o sistema de agricultura de precisão adota-do nessa Fazenda gerou uma economia de 411 t de calcário, 3 t defósforo (P2O5) e 3 t de potássio (K2O), enquanto o consumo degesso foi 119 t maior, quando comparado com o sistema tradicionalde amostragem de solo e recomendação de insumos (Figura 7).Esses dados demonstram que a agricultura de precisão pode gerareconomia de insumos em alguns casos, e em outros, aumentar anecessidade de insumos. Entretanto, deve-se ter em mente que aprincipal vantagem da agricultura de precisão é a de recomendar aquantidade adequada de insumos para cada local do terreno, consi-derando a variabilidade espacial dos atributos químicos do solo.

Tabela 2. Recomendações de práticas corretivas para a Fazenda Tamanduá (S/A Agroindustrial Eldorado) pelo sistema tradicional de amostragem desolo e recomendação. Uberlândia, MG.

Área Calagem Gessagem Fosfatagem (P2O5) Potassagem (K2O)

ha t ha-1 Total (t) t ha-1 Total (t) kg ha-1 Total (t) kg ha-1 Total (t)

AI 77,3 1,0 77,3 0 0 100 7,7 75 5,8AII 93,9 0,5 47,0 0 0 100 9,4 75 7,0BI 102,9 1,0 102,9 0,5 51,5 100 10,3 60 6,2BII 136,3 1,0 136,3 0,5 68,2 100 13,6 75 10,2C 160,1 1,0 160,1 0,5 80,1 100 16,0 60 9,6D 100,1 1,5 150,2 0,5 50,1 100 10,0 60 6,0

Total 670,7 673,9 249,8 67,1 44,9

Quadra

Tabela 3. Recomendações de práticas corretivas para a Fazenda Taman-duá (Eldorado S/A Agroindustrial) pelo sistema de agriculturade precisão de amostragem e recomendação. Uberlândia, MG.Talhão de 4 hectares.

Fósforo Potássio(P2O5) (K2O)

Área de aplicação (ha) 355,3 476,2 670,7 670,7Dose mínima (kg ha-1) 500 200 50 34,4Dose máxima (kg ha-1) 2.443 3.000 140 85,6Consumo (t) 263,4 369,2 63,6 42,0

Fonte: APAGRI (dados não publicados).

Informações Calcário Gesso

5. DESEMPENHO DOS APLICADORES5. DESEMPENHO DOS APLICADORES5. DESEMPENHO DOS APLICADORES5. DESEMPENHO DOS APLICADORES5. DESEMPENHO DOS APLICADORES

O desempenho dos aplicadores de corretivos e fertilizan-tes, segundo Coelho et al. (1992), está relacionado tanto a parâ-metros construtivos como operacionais. Segundo Vitti e Luz(1997), na discussão sobre desempenho da aplicação de correti-vos e fertilizantes nos dias atuais, os agricultores, muitas vezes,vinculam a produção aos aspectos operacionais, e se preocupamsomente com a quantidade de trabalho realizada, sendo que a ava-liação qualitativa, que trata do aspecto da qualidade do serviçorealizado, é na maioria dos casos negligenciada. Esta atitude podelevar ao insucesso da etapa de manejo químico do solo para a ob-tenção de elevadas produtividades. Isso normalmente é decorrentedo desconhecimento, por parte dos agricultores, de algunsparâmetros de avaliação, como perfil transversal e longitudinal, si-metria e segregação.

A Figura 8 apresenta os principais parâmetros quantitativose qualitativos de avaliação da aplicação mecanizada de corretivos efertilizantes.

5.1. Pârametros para avaliação5.1. Pârametros para avaliação5.1. Pârametros para avaliação5.1. Pârametros para avaliação5.1. Pârametros para avaliaçãoCom o intuito de facilitar o entendimento das variáveis rela-

cionadas ao desempenho dos aplicadores de corretivos e fertilizan-tes, é pertinente relembrar os conceitos de:• Vazão = massa ou quantidade do produto liberada por unidade de

tempo; por exemplo, kg min-1, t h-1;• Dosagem = massa ou quantidade do produto aplicado por uni-

dade de área, podendo ser expressa em kg ha-1, t ha-1, kg alq-1,t alq-1;

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 129 – MARÇO/2010 7

Figura 5. Variação espacial (A) da saturação por bases na camada de 10 a 20 cm de profundidade, (B) da recomendação de calagem, (C) do teor de enxofrena camada de 10 a 20 cm de profundidade e (D) da recomendação de gessagem para a Fazenda Tamanduá da S/A Agroindustrial Eldorado,em Uberlândia, MG.

Fonte: APAGRI (dados não publicados).

Figura 6. Variação espacial (A) do teor de fósforo (resina) na camada de 10 a 20 cm de profundidade, (B) da recomendação de fosfatagem (kg ha-1 de P2O5),(C) do teor de potássio na camada de 10 a 20 cm de profundidade e (D) da recomendação de potassagem (kg ha-1 de K2O) para a FazendaTamanduá da S/A Agroindustrial Eldorado, em Uberlândia, MG.

Fonte: APAGRI (dados não publicados).

Figura 7. Comparativo da necessidade de insumos entre o sistema tradi-cional de amostragem de solo e o sistema de agricultura de pre-cisão (talhão de 4 ha) em uma Fazenda de 671 ha no municípiode Uberlândia, MG.

• Simetria = refere-se ao posicionamento do produto em relação aoeixo de aplicação, ou seja, indica se as quantidades que são apli-cadas do lado esquerdo são iguais às do lado direito. Pode seravaliada pelo Coeficiente de Simetria (CS):

Dosagem média do lado direito (kg ha-1)Dosagem média do lado esquerdo (kg ha-1)

• Segregação = é o processo que ocorre na distribuição das fra-ções granulométricas originais do produto, quando este é sub-metido a lançamento mecânico, ou seja, compara-se a distribui-ção das diferentes frações granulométricas do produto antes edepois da aplicação.

• Perfil transversal = refere-se à distribuição do produto no sentidoperpendicular ao eixo da aplicação, definindo a largura ou a faixatotal de alcance do mesmo. Para coletá-lo, utiliza-se de coletoresdispostos transversalmente ao sentido de deslocamento do tra-tor (Figura 9).

• Perfil longitudinal = refere-se à distribuição do produto no sentidodo deslocamento do equipamento (Figura 9), sendo também re-colhido por meio de coletores dispostos paralelamente ao eixode aplicação.

CS =

P res1 10-20 cm0-7 mg dm-3 (0 ha)7-15 mg dm-3 (135,5 ha)15-25 mg dm-3 (433,7 ha)25-40 mg dm-3 (124,8 ha)> 40 mg dm-3 (0,2 ha)

Fosfatagem – Milho50-69 kg ha-1 (63,6 ha)69-85 kg ha-1 (132,5 ha)85-98 kg ha-1 (181,2 ha)98-112 kg ha-1 (204,8 ha)112-140 kg ha-1 (112 ha)

K1 10-20 cm< 0,7 mmolc dm-3 (0,1 ha)0,7-1,5 mmolc dm-3 (25,8 ha)1,5-2,3 mmolc dm-3 (329 ha)2,3-3,0 mmolc dm-3 (219,8 ha)> 3 mmolc dm-3 (119,5 ha)

Potassagem – Milho34-50 kg ha-1 (66,2 ha)50-58 kg ha-1 (121,1 ha)58-64 kg ha-1 (162,7 ha)64-70 kg ha-1 (230,5 ha)70-86 kg ha-1 (113,7 ha)

V1 10-20 cm< 25% ( 0 ha)25-40% (126,6 ha)40-55% (340 ha)55-70% (177,7 ha)> 71% (49,8 ha)

Calagem – Milho500-631 kg ha-1 (207,4 ha)631-870 kg ha-1 (67,1 ha)870-1164 kg ha-1 (74 ha)1164-1569 kg ha-1 (25,8 ha)1569-2443 kg ha-1 (12 ha)

S1 10-20 cm< 5 mg dm-3 (7,2 ha)5-10 mg dm-3 (187,8 ha)10-15 mg dm-3 (239,5 ha)15-30 mg dm-3 (249 ha)> 30 mg dm-3 (10,6 ha)

Gessagem – Milho200-395 kg ha-1 (97,9 ha)395-754 kg ha-1 (204,7 ha)754-1194 kg ha-1 (118,7 ha)1194-1836 kg ha-1 (69,8 ha)1836-3000 kg ha-1 (21,9 ha)

8 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 129 – MARÇO/2010

Figura 8. Aspectos quantitativos e qualitativos da aplicação mecanizada de corretivos e fertilizantes.

5.2. Metodologia para avaliação5.2. Metodologia para avaliação5.2. Metodologia para avaliação5.2. Metodologia para avaliação5.2. Metodologia para avaliaçãoDeve-se ressaltar que a metodologia aqui descrita para ava-

liar a qualidade de distribuição de corretivos e fertilizantes visaanalisar esses parâmetros nas reais condições de aplicação destesprodutos no campo, na propriedade do produtor. Não se refere aosensaios que são realizados com as máquinas pelos fabricantes, emcondições controladas e com equipamentos novos.

Portanto, na avaliação da qualidade da aplicação no campo,uma série de fatores pode interferir nos resultados, como vento(velocidade e direção), condições do terreno, condições do equipa-mento aplicador e do trator, operador, condições dos produtos(granulometria, umidade), entre outros. Dessa forma, deve-se ten-tar minimizar esses efeitos sempre que possível. Os principais cui-dados que se deve ter ao planejar um teste de qualidade de aplica-ção são os seguintes:• Escolha do local para o teste: escolher um local plano, com o solo

bem preparado;• Condições do equipamento: embora o objetivo seja avaliar a qua-

lidade da distribuição dos insumos nas reais condições de aplica-ção, sugere-se realizar reparos básicos nos equipamentos, quan-do forem necessários, visando diminuir as interferências no teste,pois é evidente que equipamentos com falta de manutenção irãoproduzir resultados negativos;

Figura 9. Perfil transversal e longitudinal de avaliação da qualidade dedistribuição de corretivos e fertilizantes.

• Treinamento: treinar o operador para que utilize a mesma marcha ea mesma rotação do motor em todas as passadas sobre os cole-tores;

• Direção do vento: sempre que possível, direcionar os coletorestransversalmente à direção predominante do vento;

• Qualidade do produto: verificar se os produtos estão em condi-ções normais de uso, sem umidade excessiva e sem empedramento.

Informações que devem ser anotadas em cada teste deaplicação: a) direção predominante e intensidade do vento; b) tem-peratura média e umidade relativa do ar; c) marcha utilizada notrator e rotação do motor durante o teste (deve ser a mesmautilizada no campo, na condição da aplicação); d) número depassadas do conjunto trator-aplicador sobre os coletores, queirão representar as repetições; e) dosagem média programada deaplicação.

As etapas para a realização do teste de aplicação são asseguintes:

1) Instalação dos coletores: os coletores devem ser instala-dos no sentido transversal e longitudinal à passagem do conjunto.Para instalação dos coletores no sentido transversal (Figura 10),utilizar 100 coletores de 1,0 x 0,25 m, que é padrão para esse tipo deteste.

Figura 10. Detalhe da instalação dos coletores para a coleta do perfiltransversal.

Perfillongitudinal

Perfiltransversal

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 129 – MARÇO/2010 9

Começar a montar os coletores no sentido do centro para asextremidades, ou seja, os primeiros coletores a serem instalados sãoaqueles que ficarão no centro do rodado do trator, sendo colocadosnormalmente dois coletores nessa posição. Deixar um espaço suficien-te para a passagem do rodado e continuar a instalação dos coletores,sem deixar espaços entre eles. A largura do perfil transversal será,portanto, de 25 m (100 bandejas de 0,25 m) mais o espaço deixado paraa passagem do rodado do trator, ou seja, suficiente para a avaliação dequalquer tipo de equipamento e produto. No sentido longitudinal(Figura 11), também é possível utilizar coletores de 1,0 x 0,25 m ououtro tipo de coletor. É importante que esses coletores sejam dispos-tos em sequência, um ao lado do outro, até completar uma distânciade cerca de 25 m. No interior do coletor coloca-se uma tela fina paraamortecer o impacto dos grânulos e evitar que caiam fora do coletor.

2) Passagem do conjunto trator-aplicador: carregar a ca-çamba do equipamento com uma quantidade média de produto.Com a mesma marcha e rotação do motor utilizada para a aplicaçãono campo, bem como a mesma regulagem do equipamento, ligar oequipamento cerca de 20 metros antes do início dos coletores, pararegularizar a aplicação. Realizar a passagem sobre toda a área conten-do os coletores. Repetir de 6 a 10 vezes a passagem sobre as bande-jas. Em cada uma dessas passadas deve-se observar a velocidade dotrator. Para tanto, anotar o tempo gasto para percorrer o percurso(anotando o tempo zero no início das bandejas e o tempo final notérmino das mesmas, assim como a distância). Sugere-se, ainda, emcada passada, anotar a velocidade do vento em cinco posições aolongo do trecho, pois rajadas de vento podem comprometer a avalia-ção. Por exemplo, se o perfil longitudinal possui 25 m, anotar a velo-cidade do vento no início (0 m) e aos 6,25 m, 12,5 m, 18,75 m e 25 m. Oconjunto trator-aplicador irá passar somente no centro do perfil trans-versal. Não realizar passadas simulando a aplicação do produto nasfaixas vizinhas, como ocorre no campo. Isso porque a sobreposiçãoserá simulada em planilhas eletrônicas no computador.

3) Pesagem dos coletores: sugere-se depositar a quantida-de de produto dentro de cada coletor em um saco plástico identifi-cado e realizar a pesagem da massa de produto em laboratório,evitando interferência do vento. Se não for possível, pesar o produ-to no campo e anotar a massa de cada coletor em planilha específi-ca, para fazer os cálculos posteriormente. Se for necessário, após apesagem realizar análises químicas e granulométricas no produtoproveniente dos coletores.

4) Avaliação dos resultados: o perfil transversal permite ob-ter informações referentes a:a) taxa de aplicação média; b) largurade trabalho ótima; c) coeficiente de simetria; d) composição física equímica e d) segregação. O perfil longitudinal permite obter: a) va-zão do dosador; b) dosagem média, máxima e mínima; c) variação dadosagem com a altura de carga (para tanto deve-se anotar a alturade carga em cada passada).

Para avaliar os resultados, deve-se considerar como acei-tável um coeficiente de variação entre 15 e 20% (15% para fertili-zantes e 20% para corretivos), quando o mecanismo distribuidor éa lanço, e entre 5 e 10% (5% para fertilizantes e 10% para correti-vos) quando é em queda livre. Em relação ao coeficiente de sime-tria, são aceitáveis valores entre 0,9 e 1,1. Em relação às dosagens,são aceitáveis variações na dosagem entre 5 e 10%. Entretanto,deve-se ter como meta uma variação entre 2 e 3% da dosagemmédia.

5.3. Resultados experimentais5.3. Resultados experimentais5.3. Resultados experimentais5.3. Resultados experimentais5.3. Resultados experimentais

5.3.1. Calagem5.3.1. Calagem5.3.1. Calagem5.3.1. Calagem5.3.1. CalagemFoi realizado um teste de aplicação de calcário na Usina

São Manoel, no município de São Manoel, SP, nos dias 5 e 6 demarço de 2007. Utilizou-se implemento autopropelido da marcaSTARA, modelo Hercules 24000 (Figura 12), com mecanismodosador volumétrico tipo esteira central e mecanismo distribuidorcentrífugo com disco duplo. No dia do teste, a temperatura mé-dia era de 29,2oC, a umidade relativa de 42% e a velocidade dovento no momento do teste de 8,0 km h-1. A velocidade média docaminhão foi de 11,2 km h-1. Utilizou-se calcário dolomítico com1,8% de umidade no dia da aplicação. O equipamento estava regu-lado para aplicação de 2,0 t ha-1.

Figura 12. Detalhe do equipamento Hercules 24000, da Empresa Stara,com mecanismo dosador volumétrico tipo esteira central emecanismo distribuidor centrífugo com disco duplo.

Os dados foram trabalhados em planilhas eletrônicas simu-lando diversas faixas de sobreposição. Observou-se que a largurade trabalho ótima, ou seja, a maior largura de trabalho que proporcio-nou o menor coeficiente de variação (CV), entre 15 e 20%, foi de12,25 m (Figura 13). O coeficiente de simetria foi de 1,05, adequadopara o tipo de produto.

O perfil longitudinal desta avaliação evidenciou dosagem má-xima, mínima e média, respectivamente de 2.295 kg ha-1, 1.375 kg ha-1

e 1.875 kg ha-1, com coeficiente de variação de 13,2% (Figura 14).Esses dados demonstram que o conjunto aplicador conse-

guiu obter uma boa qualidade da aplicação do calcário nas condi-ções do teste, obtendo excelente rendimento de trabalho, levando-se em consideração a velocidade média de trabalho de 11,2 km h-1 elargura de trabalho de 12,25 m.

Figura 11. Detalhe da instalação dos coletores para a coleta do perfillongitudinal.

10 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 129 – MARÇO/2010

Figura 13. Perfil transversal de aplicação de calcário com equipamento autopropelido (STARA Hercules 24000), com largura de trabalho ótima de12,25 m.

5.3.2. Gessagem5.3.2. Gessagem5.3.2. Gessagem5.3.2. Gessagem5.3.2. GessagemNo dia 5 de março de 2007 foi realizado um teste de aplicação

de gesso agrícola com o mesmo equipamento descrito anteriormen-te. Utilizou-se gesso com 15% de umidade em equipamento regula-do para aplicação de 2 t ha-1 do produto. A temperatura média do arera de 34oC, a umidade relativa de 32% e a velocidade do ventode 3,0 km h-1. A velocidade média do caminhão nas 10 passadassobre os coletores foi de 10,7 km h-1.

Observou-se que o implemento foi eficiente na aplicação dogesso agrícola, que apresenta a desvantagem de possuir elevadaumidade, o que normalmente dificulta a aplicação no campo.

Adotando-se o mesmo procedimento utilizado para o cálcu-lo das sobreposições de calcário, observou-se que a largura detrabalho ótima para o as sobreposições de gesso foi de 15,25 m,com CV de 17,1% e coeficiente de simetria de 1,11. Nessas condi-ções, a dosagem média foi de 1.765 kg ha-1 (Figura 15).

No teste longitudinal, a dosagem máxima, mínima e média foi de2.355 kg ha-1, 930 kg ha-1 e 1.720 kg ha-1, respectivamente, com um CVde 18,5% (Figura 16). Ou seja, a variação da dosagem ao longo da faixa

Figura 14. Perfil longitudinal de aplicação de calcário com equipamento autopropelido (STARA Hercules 24000).

de aplicação foi maior do que para ocalcário, o que está relacionado àmaior umidade do gesso agrícola, quedificulta a escoabilidade do produtono mecanismo distribuidor (tipo es-teira central) do equipamento.

5.3.3. Fosfatagem5.3.3. Fosfatagem5.3.3. Fosfatagem5.3.3. Fosfatagem5.3.3. FosfatagemAinda utilizando o cami-

nhão STARA Hercules 24000, foirealizado teste de aplicação comfosfato reativo de Gafsa, que apre-sentou umidade de 5,1% no dia daaplicação. A temperatura média doar era de 32oC, umidade relativa de38% e velocidade média do ventode 3,1 km h-1. A velocidade média

do caminhão, que estava regulado para a aplicação de 520 kg ha-1

do produto, era de 11,8 km h-1 durante as 10 passadas sobre oscoletores.

Observou-se que a largura de trabalho ótima, de 7,25 m, ébastante inferior à obtida para os produtos calcário e gesso, devidoà menor dosagem de aplicação do fosfato reativo. O coeficiente devariação foi < 21,1% e o coeficiente de simetria foi 1,09 (Figura 17).

O teste longitudinal evidenciou uma elevada variação nas do-sagens do fosfato reativo ao longo dos coletores. A dosagem máxima,mínima e média foi, respectivamente, de 580 kg ha-1, 125 kg ha-1 e430 kg ha-1, com um CV de 33,5% (Figura 18). Essa elevada varia-ção provavelmente ocorreu devido a um entupimento momentâ-neo na saída do produto quando o mesmo passava sobre os pri-meiros coletores, o que acabou comprometendo os resultados.Como a dosagem de fosfato normalmente é pequena, é necessáriodiminuir a altura do mecanismo dosador, o que acaba facilitando oentupimento deste. Como essa é uma situação que normalmenteocorre no campo, deve-se verificar constantemente se o produtoestá fluindo pelo mecanismo dosador, pois esse tipo de equipa-mento apresenta alguma limitação para trabalhar com baixas dosa-gens de insumos.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 129 – MARÇO/2010 11

Figura 15. Perfil transversal de aplicação de gesso com equipamento autopropelido (STARA Hercules 24000), com largura de trabalho ótima de 15,25 m.

entre tipos de aplicadores e qua-tro fontes de cloreto de potássio(KCl), provenientes de diferentesregiões do mundo. Os aplicadorestestados foram: a) centrífugo comdois discos planos (Rotaflow);b) centrífugo com dois discos côn-cavos (Superflow); c) centrífugocom um disco (Soft) e d) pendular(Royalflow). Os tipos de KCl tes-tados foram os provenientes de:Rússia, Canadá, Israel e Alema-nha. A Figura 19 apresenta um de-talhe dos equipamentos avaliados.Todos os equipamentos testadosapresentavam mecanismo dosadordo tipo queda livre. Os produtosde diferentes origens utilizadosnos testes foram coletados direta-mente nos navios dentro do por-to, logo após a importação, paraeliminar os efeitos do carregamen-to, descarregamento e transportedo produto nas propriedades físi-cas dos fertilizantes, o que pode-ria interferir nos resultados.

Todos os testes foram con-duzidos em condições ambientaisnormais, com temperatura varian-do entre 24 e 34oC, umidade relati-va variando de 30 a 50%, veloci-dade do vento variando de 0,2 a1,22 km h-1 e velocidade do cami-nhão variando de 7,5 a 8,3 km h-1.

A Tabela 4 apresenta, para cada equipamento e produto,valores de maior largura de trabalho com coeficiente de variaçãomenor que 20% (os equipamentos RoyalFlow e Soft não atingiramCV < 20% com o KCl proveniente da Rússia). Os resultadospermitiram concluir que a maior fonte de variação na qualidade de

Figura 17. Perfil transversal de aplicação de fosfato reativo de Gafsa com equipamento autopropelido (STARAHercules 24000), com largura de trabalho ótima de 7,25 m.

5.3.4. Fertilizantes5.3.4. Fertilizantes5.3.4. Fertilizantes5.3.4. Fertilizantes5.3.4. FertilizantesFoi realizado estudo sobre tecnologia de aplicação de ferti-

lizantes na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos daUSP, em Pirassununga, SP, com o objetivo de verificar a interação

Figura 16. Perfil longitudinal de aplicação de gesso com equipamento autopropelido (STARA Hercules 24000).

12 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 129 – MARÇO/2010

aplicação foram os equipamentos aplicadores, com maior influênciana qualidade da aplicação, comparados aos tipos de KCl. O equipa-mento RoyalFlow (pendular) é o menos tecnificado entre os equi-pamentos testados, e foi o que apresentou o pior desempenho en-tre eles, com menor largura de trabalho, elevado coeficiente de va-riação e baixo rendimento operacional (Tabela 4).

O equipamento Soft (dosador centrífugo com um disco) tam-bém apresentou resultados pouco satisfatórios para todos os pro-dutos testados. Cabe salientar que equipamentos de distribuiçãocom esses tipos de mecanismos distribuidores são amplamente uti-lizados na agricultura brasileira, especialmente por produtores queadotam baixo nível de tecnificação.

Os equipamentos com mecanismo distribuidor centrífugocom dois discos (RotaFlow e SuperFlow) apresentaram o melhordesempenho, para todos os produtos testados. O desempenhodesses equipamentos foi superior ao do Soft e do RoyalFlow,permitindo trabalhar com elevada largura de trabalho e baixo coefi-ciente de variação, o que conferiu um elevado rendimento ope-racional (Tabela 4). No perfil transversal, o equipamento SuperFlowapresentou menor CV em relação ao RotaFlow, enquanto para o

Figura 19. Detalhe dos equipamentos avaliados no teste de aplicação defertilizantes: A) com mecanismo distribuidor pendular; B) cen-trífugo com um disco; C) centrífugo com dois discos côncavose D) centrífugo com dois discos planos.

A B

C D

perfil longitudinal o RotaFlowapresentou menor CV, eviden-ciando maior homogeneidade daaplicação ao longo da linha deaplicação. Isso pode ser devido àmaior tecnologia incorporada nosistema de discos giratórios doRotaFlow, no qual um sistema dedistribuição faz com que os grâ-nulos dos fertilizantes já estejamem rotação quando alcançam aspás dos discos, que continuam aacelerar os grânulos em uma tra-jetória horizontal, diminuindo oefeito do vento na distribuição doproduto.

Analisando a Figura 20,observa-se que a adoção de equipamentos com maior nível de tecno-logia permite aumentar a largura de trabalho e o rendimento operacio-nal e, ainda, melhorar a qualidade da distribuição dos fertilizantesdevido à diminuição do coeficiente de variação da aplicação, quan-do considerado o perfil transversal de avaliação. Entretanto, sabe-se que, normalmente, o que impede a aquisição de equipamentosmais tecnificados é justamente o custo, o que poderia ser ameniza-do por meio de programas federais de incentivo à aquisição oufinanciamento de máquinas agrícolas.

Considerando-se as amostras e o conjunto de parâmetrosutilizados para a avaliação da qualidade de aplicação, por ocasiãodesse estudo, observou-se que o KCl proveniente de Israel propor-cionou melhor desempenho entre os produtos testados, seguidopelo KCl da Alemanha, da Rússia e do Canadá.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS6. CONSIDERAÇÕES FINAIS6. CONSIDERAÇÕES FINAIS6. CONSIDERAÇÕES FINAIS6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O sucesso do manejo químico do solo visando a otimizaçãono fornecimento dos nutrientes às plantas depende da tecnologia deaplicação de corretivos e fertilizantes. Apesar da sua importância, namaioria das vezes essa área tem sido relegada a segundo plano.

Os testes de aplicação, via de regra, refletiram os avançostecnológicos dos aplicadores ao longo dos últimos anos. Os princi-pais avanços em tecnologia de aplicação de corretivos e fertilizan-tes foram o mecanismo dosador tipo helicoidal, os aplicadoresautopropelidos, os sensores barra de luz – que utilizam o GPS parapermitir a largura fixa de trabalho–, o mapeamento da fertilidade dosolo em talhões – para geração de mapas para aplicação em taxavariável – e o uso de controladores para gerenciar a aplicação deinsumos.

Os resultados dos testes de aplicação demonstram que nãoé aconselhável generalizar recomendações quanto à largura e velo-cidade de trabalho e tipo de equipamento a ser utilizado para cadainsumo, pois as variações nas condições do ambiente, dos insumose do equipamento interferem nos resultados. Portanto, testes deaplicação devem ser realizados frequentemente, para cada tipo deproduto e máquina a ser utilizada, associados ao constante treina-mento de operadores no campo.

Finalmente, para se obter o sucesso no manejo químico dosolo visando a obtenção de elevadas produtividades, recomenda-se aos produtores que, além da preocupação com o rendimento dasmáquinas, dêem mais atenção à questão da qualidade da distribui-ção dos insumos no campo, o que muitas vezes vem sendo negli-genciado pelo setor produtivo.

Figura 18. Perfil longitudinal de aplicação de fosfato reativo de Gafsa com equipamento autopropelido (STARAHercules 24000).

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 129 – MARÇO/2010 13

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Tabela 4. Parâmetros do perfil transversal (largura de trabalho = LT, coeficiente de variação = CV, coeficiente de simetria = CS, rendimentooperacional = R.O.) e longitudinal de aplicação de quatro tipos de KCl em quatro tipos de equipamentos aplicadores.

Perfil transversal Perfil longitudinalLT CV C S R.O.1 CV Dosagem (kg ha-1)m % ha h-1 % Máxima Mínima Média

Pendular Rússia 6,3 31,7 1,83 2,9 4,9 575 485 535Canadá 9,3 18,4 0,71 5,0 7,6 645 460 550Israel 9,3 19,1 1,19 4,8 5,9 535 420 478

Alemanha 6,8 19,9 0,84 3,3 7,1 600 530 589Média 7,9 22,3 1,14 4,0 6,4 589 474 538

Centrífugo com Rússia 8,3 30,5 1,66 4,1 6,5 220 170 194 um disco Canadá 11,8 19,7 1,19 6,4 5,9 345 265 310

Israel 12,3 18,8 0,80 6,9 9,7 265 140 234Alemanha 9,3 18,6 1,28 4,8 10,0 245 175 208

Média 10,4 21,9 1,23 5,6 8,0 269 188 237

Centrífugo com Rússia 14,3 17,9 1,18 7,9 4,0 284 236 261 dois côncavos Canadá 12,3 19,8 1,34 6,3 5,5 310 240 280

Israel 13,3 17,5 1,08 7,2 4,3 241 196 221Alemanha 12,3 16,4 1,24 6,4 4,0 248 211 228

Média 13,0 17,9 1,21 6,9 4,5 271 221 248

Centrífugo com Rússia 14,3 13,5 0,86 8,3 12,3 285,0 165,0 235 dois discos Canadá 14,3 12,6 0,87 8,5 11,5 390,0 235,0 321 planos Israel 14,3 11,0 0,92 8,3 11,9 350,0 195,0 270

Alemanha 14,3 12,1 0,90 8,3 9,6 300,0 200,0 259Média 14,3 12,3 0,89 8,3 11,3 331,3 198,8 271

1 Rendimento operacional calculado considerando-se eficiência de trabalho de 65% para largura de trabalho menor que 12 m e de 70% para maior que 12 m.Nota: Para a avaliação do desempenho da qualidade de aplicação, tanto dos aplicadores quanto dos fertilizantes, considerou-se os seguintes parâmetrose critérios: CV = o menor valor inferior a 20%; CS = conformidade obtida quando o valor estiver entre 0,9 e 1,1; LT = o maior valor alcançado; e RO =o maior valor obtido.

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Aplicadores Origem

Figura 20. Largura de trabalho (LT), rendimento operacional (RO) e coeficiente de variação (CV) dosperfis transversal e longitudinal de quatro tipos de equipamentos para aplicação de cloretode potássio. Considerou-se eficiência de trabalho de 65% a 70% para o cálculo do RO.