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    RELAES CIVIL-MILITARESNO PRIMEIRO GOVERNO

    DA TRANSIO BRASILEIRAUma democracia tutelada (*)

    Jorge Zaverucha

    Introduo

    Em 15 de maro de 1985, durante a cerimnia presidencial de posse, Tancredo Neves se encontrava bastnfermo.(1)Jos Sarney assumiu o cargo interinamente e no dia 21 de abril de 1984 Tancredo Neves faleceu.(2iscusso sobre quem deveria inaugurar a Nova Repblica (3) teve um ingrediente militar. O Ministro do Exreneral Lenidas Pires Gonalves - mas no os ministros da Marinha e Aeronutica (4)- foi chamado pelo presid

    a Cmara de Deputados, Ulysses Guimares, para um encontro poltico. Consultado, o general Lenmediatamente apoiou Sarney como novo presidente. Assim sendo, Sarney, o ex-presidente do PDS,(5)o mesmoe havia oposto aprovao de emenda constitucional favorecendo a eleio presidencial direta, tornou-se o ldem governo que tinha como meta liderar a transio de um regime autoritrio para outro democrtico.

    Este artigo procurar mostrar que Sarney, em lugar de promover relaes civil-militares democrticaontribuiu para retardar a possibilidade de consolidao da democracia brasileira, contribuindo, desse modo, paortalecimento de uma democracia tutelada.(7) Por conseguinte, Sarney praticamente nada fez para diminuomportamento poltico autnomo dos militares e, com freqente ajuda do Congresso, concorreu para a manutenrvias prerrogativas militares. (8)

    Observaes tericas

    A literatura referente s relaes civil-militares bastante ampla. Apesar do volume, no entanto, nonhecem obras que focalizem as interaes estratgicas entre militares e civis. Ao analisar as causan)subordinao militar ao governo constitucional, alguns estudiosos levam em conta condies externas s Fo

    Armadas, como ciclos econmicos, variveis culturais, (9) presses de classe(10) e ausncia de instituimediadoras.(11) Outros atores tratam de caractersticas organizacionais, profissionais e ideolgicas das FoArmadas que poderiam impedir os militares de intervir(12)ou de favorecer a interveno.(13)H, ainda, especial14)que insistem em fatores institucionais e externos que, em conjunto, constituiriam as variveis-chave para expcomportamento dos militares em relaos aos civis.

    Sobre o desengajamento militar da poltica, a literatura sofre da mesma falta de explicao intencional, ou

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    o esclarece por que os atores polticos, dado um leque de opes, optaram por determinada alternativa. Welch, FSundhaussen,(15)por exemplo, relacionam alguns pr-requisitos funcionais necessrios para que o militar conc

    om a transio para a democracia. Esses atores, entretanto, nada dizem sobre o mecanismo que provocar a mudau sobre as razes que levariam os atores polticos a concordar com essa mudana.

    Rouqui (16) enfatiza que os militares tm sua prpria lgica quando decidem sobre a desmilitarizao deoder, mas ele tampouco nos mostra se a subordinao militar s autoridades civis ocorre por meio de uma estratntencional orientada (goal-oriented strategy) ou se, na deciso de abandonar o governo, os militares incorporam xpectativas sobre as reaes dos civis.

    Diante disso, sugiro que a tentativa governamental de impor seu controle sobre os militares assume o perfm jogo de soma varivel, por ser um jogo de conflito parcial, quer essa tentativa de controle se d por meio

    medidas disciplinares, quer por meio de mecanismos institucionais. (17)Isso significa que civis e militares podemerdendo ou ganhando no jogo, o que abre espao para a cooperao entre ambos. Portanto, no se pode aceitar a ie que, pelo fato de as Foras Armadas praticamente deterem o monoplio da coero, os civis no devemportun-las, sob o risco de serem dizimados. (18)

    Adam Przeworski usa uma alegoria baseada em Herv Moulin (19)para descrever as relaes entre civmilitares. Suponha-se que um tanque de guerra e um fusca estejam se aproximando de um cruzamento rodovirio

    o possui semforo. Considera-se que o tanque trafega no sentido norte-sul, e o fusca no sentido leste-oeste. Qualois veculos ir parar no cruzamento? O motorista do tanque, sabendo que seu veculo muito maior que o fuscacelerar e passar pelo cruzamento sem ser importunado. Ele prev o efeito de sua escolha: se avanar, o motoristusca ter que parar. Uma outra resposta do fusca - no parar - no crvel, pois nesse caso o carro ser esmagado anque. Assim, a ditadura do mais forte que prevalece, isto , o motorista do tanque no encontra restrio aoomportamento.

    Embora a alegoria acima mencionada retrate muito bem a transio brasileira, convm lembrar que as FoArmadas nem sempre se parecem com um tanque nem os civis se assemelham a um fusca. Se todas as relaes cmilitares refletissem tal alegoria no haveria esperana para o estabelecimento do controle civil sobre os militares,

    s interesses das Foras Armadas terminariam sempre por prevalecer. Espanha e Grcia so os nicos exemploentativas bem sucedidas de se estabelecer um controle civil democrtico sobre os militares. Contudo, o fato deomente esses dois milagres tenham ocorrido, demonstra quo espinhosas continuam sendo as relaes civil-milit

    urante o processo de transio do autoritarismo para a democracia.

    Durante o processo de transio (20) faz-se necessrio reconciliar as foras democrticas com asemocrticas. Portanto, o desafio estratgico posto diante dos atores democrticos o de chegar democracia semxterminado no meio do caminho por aqueles que, na prtica, detm os meios de coero. Diante dos altos riubjacentes ao processo de transio, prevem-se trs situaes:

    a) a transio chega ao seu final quando os civis conseguem exitosamente controlar democraticamenomportamento poltico dos militares, i.e., os militares passam a obedecer repetidamente aos comandos civis nclaves autoritrios dentro do aparelho de Estado so abolidos;

    b) a transio falha totalmente quando os militares ou civis golpeiam as instituies democrticas ao derrotagrupo que procura democratizar o pas; (21)

    c) a transio no se completa nem um fracasso rotundo. Em outras palavras, os militares abandonaoverno mas continuam mantendo reas autnomas de poder poltico (enclaves autoritrios) margem da fiscalizemocrtica. Resulta da que os governos civis devem continuamente medir a reao dos militares s suas decis

    Chamemos essa situao de democracia tutelada, porque os militares continuam predeterminando alguns resultadonte ao intimidar os civis ou ainda controlam alguns resultados ex post, prejudicando o processo de consolidemocrtica, i.e., o estgio onde qualquer ator poltico pensa agir ao largo das instituies democrticas. A democrutelada pode surgir seja porque os civis no so capazes de suplantar o comportamento autnomo dos militares,orque os lderes civis nem mesmo tentaram controlar os militares, tal como ocorreu com Jos Sarney.(22)A diferntre os graus de tutela deve ser enfatizado. Ao contrrio da Argentina e do Chile, o que ocorreu no Brasil foi u

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    isvel relao simbitica, onde Samey e os militares se beneficiaram de uma cooperao no democrtica. Portaemocracia tutelada pode ser considerada um "tipo", enquanto tutela amistosa e tutela no amistosa podemonsideradas "casos".(23)

    Acreditando que os tomadores de deciso so tanto racionais como inteligentes,(24) tentar-se provar qunclaves autoritrios persistiram dentro do aparelho de Estado durante o mandato de Sarney. Examinar-se- a situtravs de uma seqncia histrica de 39 jogos,(25)jogos esses escolhidos por terem potencial de confronto entrem lado, interesses civis e, de outro, interesses militares.(26) Portanto, uma cronologia histrica detalhada teneconstruir a relao entre Samey e os militares. Diante disso, a dependncia estratgica do tempo (time stra

    ependence) faz-se presente quando a ao tomada em um determinado perodo pelo jogador depende da histriaes acontecidas no jogo at aquele instante. A cronologia que se segue no deve ser lida como um mero reistrico jornalstico; muito pelo contrrio, visa trs objetivos especficos, a saber:

    (i) retirar dos fatos os detalhes que ajudaro no estudo de como as escolhas estratgicas dos atores poltontriburam para avanar ou deter o controle civil democrtico sobre os militares durante o processo de transio democracia;

    (ii) detectar se houve seqncias repetidas de movimentos e contra-movimentos envolvendo tentativas civmpor o controle sobre os militares e a reao dos militares em burlar tais tentativas; e

    (iii) saber se o que prevaleceu foi um acordo tcito envolvendo lderes polticos civis e militares cujos tereriam de que os civis permitiriam aos militares manter seus enclaves autoritrios dentro do aparelho de Estadoasso que os militares se comprometeriam a no golpear as instituies democrticas. Na prtica, isso signusncia de seqncias de movimento e contramovimento em torno de disputas envolvendo civis e militares. utras palavras, o padro de comportamento a acomodao civil autonomia poltica dos militares. Desse modeitor deve decidir se cada um dos 39 jogos da amostra sugere a supremacia civil vis--vis os militares ou se, pontrrio, aponta para o fortalecimento do poder autnomo dos militares. (27)

    Cronologia

    1) A primeira crise militar ocorreu em 12 de agosto de 1985. Ao chegar a Montevidu com a comresidencial, a deputada Bete Mendes viu-se diante do coronel Carlos Brilhante Ustra, adido militar na embaix

    rasileira, e o reconheceu como seu torturador dos anos 70. Naquele perodo o coronel Ustra chefiava o Departame Operaes e Informaes - Centro de Operao e Defesa Interna (DOI-Codi) em So Paulo e era conhecido ome de "Doutor Tibira".(28) Bete Mendes se chamava "Rosa" e fora membro do grupo guerrilheiro Valmares. Nas instalaes do DOI-Codi o "Doutor Tibira" havia torturado sua "paciente", "Rosa". (29)

    A deputada Bete Mendes, ao deparar-se com o coronel, enviou uma carta a Sarney protestando conresena de Ustra como adido militar e pronunciou um discurso de desagravo no Congresso. A reao do Exrcitomediata: em nota distribuda com urgcia a todo o contingente militar, o ministro do Exrcito, Lenidas P

    Gonalves, declarava que o coronel Ustra permaneceria no posto (30)e merecia total confiana de seus superioAlm disso, Lenidas aproveitou para enaltecer aqueles que patrioticamente arriscaram suas vidas na luta contrubversivos.(31)

    verdade que tanto o coronel Ustra quanto os membros da guerrilha estavam protegidos pela Lei da Anisti8 de agosto de 1979. Portanto, Samey no poderia indici-lo. O ponto a ser ressaltado foi a falta de vontade pole Sarney de remover Ustra do cargo, e isso devido aberta presso militar oriunda especialmente de seu subordinministro do Exrcito.(32)

    2) No dia 30 de abril de 1981, uma bomba explodiu no interior de um carro dirigido por dois militareargento Guilherme Pereira do Rosrio faleceu e o capito Wilson Machado ficou ferido.(33)Levantaram-se suspe que eles estariam trabalhando para o servio de inteligncia do Exrcito. O plano seria, primeiro, detonar omba durante um show artstico de 1. de Maio organizado pela esquerda no pavilho do Riocentro. Em seguidsquerda seria responsabilizada pela exploso, de modo a abalar o processo de abertura do regime. Uma investiga

    militar liderada pelo coronel Job Lorena(34)concluiu que a bomba fora colocada no carro por terroristas. Em luga

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    erem acusados, os dois militares passaram a vtimas.

    Algum tempo depois, no entanto, o surgimento de novas pistas justificou a retomada das investigaes. (3oronel da reserva Cesar Wachulec e o engenheiro Nilton Ferreira Nepomuceno, que trabalhavam no Riocentroite do atentado, prestaram depoimentos na terceira auditoria militar, trazendo tona uma nova verso. Wachuleco apenas uma, mas duas bombas sendo removidas do carro por um policial.(36)Ao ser indagado sobre as razesue omitira essa informao em 1981, respondeu que o advento da Nova Repblica e a resoluta tentativa de esclarmorte de Baungarten (37) haviam-no convencido a falar.(38)Os novos dados apresentados ao promotor de ju

    George Tavares no foram suficientes para convencer Sarney ou Ulysses Guimares, presidente da Cmar

    Deputados e do PMDB, a determinarem a reabertura do caso Riocentro. Ambos optaram por esquecer o que poderie sido o maior ato terrorista urbano da histria do Brasil.(39)

    3) O deputado Jorge Uequed (PMDB) props uma ampla Lei de Anistia, que beneficiaria 2.600 militunidos pelo regime militar. Se a lei fosse aprovada esses militares poderiam ser promovidos ou reintegrados aomo se jamais tivessem deixado as Foras Armadas. Alm disso, seriam recompensados por perdas materiais

    ministros militares se opuseram a essa emenda, alegando que o custo financeiro para reabsorv-los seria muito elevque havia problemas tcnicos: os militares que tivessem mais de quarenta anos de idade no suporta

    reinamentos rgidos.

    A principal razo, no entanto, era outra. As Foras Armadas haviam alegado que esses militares haviam pereus direitos polticos por m conduta disciplinar. Se a emenda Uequed fosse aprovada os acusados poderiam oberdo por terem sido "politicamente perseguidos". O retorno desse militares ativa representava uma amearupo que os punira.

    O assunto era to grave para as Foras Armadas que os ministros do Exrcito, Marinha e Aeronutica foramCongresso anunciar que no tolerariam a emenda. (40)Sarney, Ulysses Guimares e os ministros militares aceita

    ma anistia mais branda, proposta pelo deputado Valmor Giavarina, tambm do PMDB. No plenrio, todavia, Ulyotou pela Emenda Uequed, para em seguida, sob fortes presses dos militares, voltar atrs na votao final.(41)

    4) Uma greve inslita marcou o incio de dezembro de 1985. Pela primeira vez na histria do ArsenaMarinha os metalrgicos fizeram uma passeata pelas ruas do Rio de Janeiro. Usando mscaras para no seeconhecidos, os grevistas e seus familiares reivindicavam melhores condies de trabalho e salrios maiores. Em

    odos os grevistas fossem civis, o ministro do Trabalho, Almir Pazzianotto, um ex-advogado de sindicatos, ignorouompleto a manifestao.

    O ministro da Marinha, almirante Henrique Sabia, teve um comportamento distinto. Preocupou-se coreve a ponto de encontrar o motivo: a Central nica dos Trabalhadores (CUT) tentava se infiltrar nas dependn

    militares. (42) Desse modo, a greve, em vez de ser vista como uma luta por melhores condies materiaisnterpretada como uma luta entre a Marinha e a CUT. Apesar da ampla divulgao do movimento pela imprens

    ministro Sabia considerou a greve ilegal e demitiu cerca de cem grevistas. O que me chamou a ateno no ftitude do ministro Sabia, mas o fato de que tanto Sarney como Pazzianotto apoiaram seu comportamento.

    5) O presidente Sarney no se mostrou disposto a defender os grevistas, mas permitiu que os militareeserva expressassem sua opinio sobre a poltica. A 17 de dezembro de 1985, assinou um decreto abolindoecreto anterior que determinava a punio dos militares reformados que fizessem declaraes polticas. Apesar ecreto s se referir aos militares da reserva, os generais da ativa - como os ministros do Exrcito, Marin

    Aeronutica e o chefe do EstadoMaior das Foras Armadas - no se sentiram constrangidos em expressar suas opincerca das eleies diretas, durao do mandato presidencial e Constituinte. O porta-voz do presidente, Fernando C

    Mesquita, explicou que eles poderiam falar sobre poltica desde que no fosse contra o governo Sarney...(43)

    6) Alguns dias depois, Samey foi convidado por 143 oficiais-generais das trs foras para um almoo de fe ano. Em seu discurso, o presidente prometeu "no transigir nem com a anarquia nem com desobedincia cieferindo-se ecloso de greves sindicais. Numa cerimnia militar, Samey proferiu um discurso contra os civis, oeliciou os militares. O ministro da Aeronutica, brigadeiro Moreira Lima, disse que em 43 anos de carreira nuavia presenciado tamanho apoio a um presidente. "Este o presidente !" (44)

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    As Foras Armadas tinham outras razes para apoiar o presidente. O oramento da Marinha, durante o regmilitar, fora reduzido de 5% para 2,3%, mas Sarney liberou 3 milhes de cruzeiros, em valores da poca, ecuperar a queda oramentria. Alm disso, num pas que atravessava grave crise econmica, o Exrcito consegurilho de cruzeiros para um projeto de modernizao e reorganizao que inclua sofisticado sistema informatizadomunicaes, com o objetivo de permitir ao presidente o controle de toda a estrutura de guerra e defesa civil, omo as comunicaes militares e dos governadores de estado.(45)

    7) Em 21 de janeiro de 1986 o ministro da Justia, Fernando Lyra, entregou a Sarney a Lei de Defesa

    stado. Ela deveria substituir a Lei de Segurana Nacional (LSN), produto do regime autoritrio. Sarney ignororojeto de Lyra, mas no se esqueceu de afastar do ministrio o mais progressista de seus ministros. Era um sinaue Sarney caminhava para a direita do espectro poltico.(46)

    8) Em 7 de abril de 1986, a justia militar fez uso da LSN para condenar a um ano de priso (sem sursider sindical Vicente Paulo da Silva, por ter difamado o presidente Figueiredo. (47)Essa foi a primeira condena

    Nova Repblica baseada na LSN. Dez dias depois do caso Vicentinho, a deputada do PMDB Ruth Escobar tambmondenada com base no Cdigo Penal Militar por ter ofendido as Foras Armadas. A LSN at hoje no foi abolida.

    9) Em 11 de julho de 1986, na cidade de Leme, em So Paulo, dois trabalhadores rurais foram mortos durma greve. O ministro da Justia, Paulo Brossard, imediatamente responsabilizou o PT pelas mortes. De acordo arney, era um sinal de que o PT havia optado pela luta armada e a violncia. As investigaes provaram, entretaue os assassinos eram policiais militares, e o Estado foi condenado a pagar indenizao famlia das vtimas. Narney nem Brossard se retrataram de suas declaraes.(48)

    10) Reforma agrria sempre foi um assunto delicado na poltica brasileira. Sarney anunciou um plano unha em conflito camponeses e donos de terra e no abrangia terras da Unio e da Igreja. A interferncia militarardou. O general Bayma Denys, secretrio-geral do Conselho de Segurana Nacional, elaborou um pnterministerial indicando como o governo deveria proceder com a reforma agrria.(49)O SNI, por sua vez, fornecarney um relatrio poltico sobre a equipe do ministro da Reforma Agrria, Nelson Ribeiro. Segundo o relatrio, t

    membros do Incra, a principal agncia responsvel pela reforma agrria, eram militantes de faces comunistasaviam se infiltrado no ministrio. Ribeiro havia criado dezesseis grupos de 87 pessoas para elaborar o primeiro Pe Reforma Agrria, e o SNI revelou que 47% deles tinham sido de esquerda.(50)A equipe de Ribeiro terminou se

    espachada do governo, mas o SNI continuou sua prtica de interferir na poltica interna do pas.

    11) No mesmo perodo o Brasil reatou relaes diplomticas com Cuba, rompidas imediatamente aps o ge 1964 como parte da linha anticomunista do novo governo. Em agosto de 1985 o ministrio das Relaes Exteri havia recomendado o reatamento das relaes com Cuba, mas a deciso foi adiada devido s presses militaresortanto, somente um ano depois, quando tais presses refluram, que Samey resolveu restabelecer relaiplomticas com Cuba.(51)

    12) Em agosto de 1986, o jornal Folha de S. Paulo denunciou a existncia da base de Cachimbo: o govonstrura poos profundos numa rea de 4 milhes de hectares, que seria usada para experimentos nucleareotcia alimentou suspeitas de que as Foras Armadas tivessem um projeto nuclear clandestino. Em vez de incentivontrole legislativo sobre atividades nucleares, Samey retirou a Comisso Nacional de Energia Nuclear (CNENurisdio do Ministrio das Minas e Energia. A CNEN passou a ser controlada diretamente pela Presidnci

    Repblica. Na prtica, Sarney militarizou a comisso. O general Bayma Denys, alm de ser o ministro da Casa Mira o presidente do Conselho de Segurana Nacional, que na prtica cuidava da CNEN.(52)

    13) Em novembro de 1986 Sarney declarou, numa entrevista, que no desejava uma "Primavera de Pragarasil.(53)Essa declarao parecia estranha, pois Sarney tinha grande popularidade e as eleies de 15 de noveme 1986 confirmaram a receptividade do eleitor para com o Plano Cruzado.(54)PMDB teve uma vitria avassaladlegeu 22 dos 23 governadores de estado, sendo que o PFL, que formava com o PMDB a Aliana Democrtica, elm governador. Seis dias depois, as palavras de Sarney passaram a fazer sentido. O ministro da Fazenda, Diunaro, surpreendeu a populao com um pacote econmico: os preos dos servios pblicos, acar, cerve

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    igarros subiram 100%; carros novos foram majorados em 80%; e a gasolina sofreu aumento de 60%. O PCruzado estava afundando e tanto o governo quanto o PMDB esperaram pela vitria eleitoral para confessar que Pstava mais perto de Braslia do que se imaginava.

    As primeiras reaes populares emergiram imediatamente. As duas principais centrais sindicais, CUT e Convocaram uma grande manifestao diante dos prdios dos ministrios. O protesto terminou em violentos distrSarney convocou a Polcia Militar e foras do Exrcito, incluindo tanques, para restabelecer a ordem.(55)To lo

    nflao disparou, a hostilidade do PMDB para com Samey recrudesceu e o presidente decidiu apoiar-se ainda mas Foras Armadas para garantir sua sobrevivncia poltica.(56)

    14) Em 12 de dezembro de 1986, diante da ameaa de uma greve geral, Samey convocou foras do Exrcia Marinha em lugar de foras policiais. Pela primeira vez desde 1968, tanques cruzaram a avenida, Rio Branco

    Rio de Janeiro, com o objetivo de controlar posies estratgicas, como a refinaria de Volta Redonda. A Marontrolou os portos de Santos e Rio de Janeiro.(57)Sarney conseguiu transformar um problern de segurana pbuma operao de contra-insurgncia.

    15) O programa militar nuclear tornou-se menos clandestino em janeiro de 1987. (58) Uma conta abertanco do Brasil sob o nome de Delta Trs pertencera ao presidente da Comisso Nacional de Energia Nuc

    CNEN), Rex Nazareth Alves, e seu assistente, Coronel Carlos Lemos de Campos. O procurador federal Juarez Trdenou Polcia Federal, sob a jurisdio do Ministrio da Justia, que investigasse a origem daquele dinheirontanto, trs dias depois a conta foi encerrada e seu dinheiro transferido para um lugar desconhecido. Samey ressionou pela continuao das investigaes e, na prtica, deu o caso por encerrado.

    16) Em maro de 1987 Sarney voltou a "chamar os urutus" - expresso que se tornou comum na NRepblica, adotando-se o nome do tanque para designar as Foras Armadas. Os tanques foram mandados para protefinarias de petrleo em Duque de Caxias, a trinta quilmetros do Rio de Janeiro, e em Paulnia, em So Pauloarefa das tropas era defender as instalaes contra cerca de 60 mil trabalhadores que exigiam aumento salaria4%.

    O ento presidente do PFL, Aureliano Chaves, apoiou a interveno militar. Para ele, as Foras Armradicionalmente tm a misso de garantir a segurana interna. Enquanto os urutus controlavam os grevistas,

    milho de trabalhadores rurais invadiam mais de cem agncias bancrias, alm de fecharem estradas feder

    staduais. Tambm eles protestavam contra a poltica econmica do governo, mas as manifestaes no foonsideradas questo de segurana interna. Por isso no foram surpreendidos por nenhum urutu. O critrio de SarnAureliano a respeito de violao da lei e da ordem no parecia muito claro...

    17) Com uma inflao mensal de 19%, a situao de Sarney era instvel. Por conta disso, parte do PMessuscitou a bandeira das eleies diretas. Em resposta, em 18 de maio de 1987, Sarney anunciou em discelevisionado que pretendia governar por um perodo de cinco anos, ou seja, almejava o mais longo mandato deoverno interino na histria das transies para a democracia.(59)Em 12 de junho de 1987 o governo lanou um nlano antiinflacionrio: o plano Bresser, elaborado pelo novo ministro da Fazenda, Lus Carlos Bresser Pereirlano chegou tarde demais. Em 25 de junho, Sarney viajou para o Rio de Janeiro. Uma multido enraivecida apedrnibus em que Sarney se encontrava. Um dos manifestantes, supe-se que com uma picareta, quebrou a janel

    nibus, na tentativa de ferir Sarney. O presidente reagiu maneira de um general-presidente: aplicou a LSN colguns suspeitos (60)tentando intimidar futuros manifestantes.

    18) A popularidade de Sarney atingia seu nvel mais baixo. No incio de julho de 1987, oitocentos soldarmados de metralhadoras tiveram que proteger o presidente contra insultos e apedrejamento, durante uma missatedral de Braslia.

    Dois dias depois, foram convocados 1.200 soldados, alm da Polcia Militar e da Polcia Federal, alvaguardar o presidente da ira popular, numa visita ao Acre.(61)

    19) Em 23 de julho de 1986 Sarney criou uma taxa sobre gasolina, passagens areas e carros novos e usama espcie de emprstimo compulsrio que seria devolvido populao. Como o slogan do governo era "Tudo

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    ocial", a quantia arrecadada deveria formar o Fundo Nacional de Desenvolvimento (FND), destinado a erradicmisria e as disparidades regionais. No incio de agosto, todavia, os brasileiros ficaram sabendo que, devido ao d

    ramentrio, um milho de dlares do FND seriam alocados pelo governo para a produo do jato militar AMXrojeto talo-brasileiro. O Congresso no foi consultado nem procurou acompanhar o desenrolar da questo.(62)

    20) Ao final de agosto, os militares se fizeram, mais uma vez, ouvir. Durante uma reunio ministerial, o genenidas Pires Gonalves, fez um discurso no qual criticou asperamente o processo de elaborao da Constitu

    Momentos antes, o deputado Bernardo Cabral, presidente da Comisso de Sistematizao, havia entregue a UlyGuimares, presidente da Constituinte, a primeira verso da Constituio. Nela, as Foras Armadas haviam perdi

    ireito, no existente em qualquer democracia consolidada, de serem as guardis da lei e da ordem. Conseqentemgeneral Lenidas tinha boas razes para demonstrar seu descontentamento. O ministro do Exrcito tambm atac

    arlamentarismo, que seria objeto de votao no Congresso, deixando claro que os militares defenderiam o sistresidencialista de governo.(63) Alm disso, declarou que uma minoria ativa e vigilante estava conduzindrabalhos da Constituinte.(64)O deputado Jos Loureno, lder do PFL, aclamou o discurso de Lenidas, Quandenador Fernando Henrique Cardoso pediu a Sarney o direito de contestar as palavras de Lenidas, o presidncerrou a reunio. (65)

    21) Em seguida, durante a cerimnia do Dia do Soldado, o governador de Braslia, Jos Aparecido, amntimo de Sarney, enalteceu o discurso de Lenidas e o papel do Exrcito na vida poltica brasileira. So tambmos Aparecido as palavras: "A Nova Repblica foi fundada tendo por base a honra de Lenidas como soldado."

    O governador atribua ao general o mrito de ter iniciado o processo de transio para a democracia.No incio de setembro foi a vez de Sarney efgiar o ministro do Exrcito. Durante uma visita fbric

    xplosivos localizada na cidade de Piquete, So Paulo, Samey insistiu em dizer que "o Exrcito hoje um dos mortes pilares de nossa transio para a democracia". (67)

    22) Alguns dias depois, o "pilar da democracia" se fez novamente presente. Os trabalhadores da hidreltrictaipu, em Foz do Iguau, fizeram uma manifestao por aumento salarial e foram dispersados por tropas do Exrno por foras policiais armadas de baionetas. Um trabalhador foi ferido. Um ms depois, outro grupo protestou

    melhores salrios mas no foi tratado com baionetas. Eram cinqenta soldados, sob o comando do capito ernando Walter de Almeida, que tomaram de assalto a prefeitura de Apucarana. A crise econmica fazia estraisciplinares na caserna. Quase simultaneamente a revista Veja denunciou a conspirao "Beco sem Sada"- da

    eria feito parte o hoje deputado Jair Bolsonaro - que visava explodir bombas em dependncias militares como a Militar e a Academia de Agulhas Negras. O plano seria acionado caso o governo concedesse aumentos salanferiores a 60%.(68)

    23) O ministro da Fazenda, Bresser Pereira, que pouco antes lanara um plano de congelamento de salrireos, foi chamado por Sarney ao seu gabinete. O presidente desejava que o ministro assinasse um decretumento salarial para os militares que fosse alm do concedido aos civis. Bresser Pereira mostrou-se preocupado chamada do presidente. Em situaes semelhantes envolvendo civis, ele fora o primeiro a ser consultado

    residente. Sarney explicoulhe que no desejava uma crise militar, pois j enfrentava uma crise econmica e soresser Pereira negou-se a assinar o decreto, mas teve que negociar algumas concesses com os militares. Por issoreciso autorizar tambm um aumento para os civis, deitando por terra a idia do congelamento de salrios.(69)

    24) Diante da grave crise econmica, a extenso do mandato de Samey, a ser decidida pela Constituornou-se um assunto de extremo interesse. Sentindo-se pressionado pelos civis, o presidente, como de costuanou mo dos militares - e novamente escolheu uma cerimnia militar para atacar os polticos. A bordo do nascola Brasil, criticou a diviso das foras civis e suas lutas internas. Para Sarney, essas disputas enfraqueciamnstituies existentes e prejudicavam o processo de transio. As Foras Armadas, por sua vez, vinham apresentam comportamento irretocvel, segundo o presidente, pois haviam permanecido unidas e imunes provocao. Saisse ainda que a democracia representava um "estado de conscincia", ou seja, era to-somente uma estratgia aonstantemente reavaliada sob a luz de novas opes. (70)

    25) Em 2 de maro de 1988 Sarney chegou a dizer: "Existe dentro do Congresso um grupo de radica

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    portunistas que almeja dilacerar a ordem. [...] Se eles pensam que me nocautearo, esto totalmente equivocados.e derramamento de sangue for necessrio, ento isso ocorrer".(71)A mensagem era clara: para Sarney, a redu

    mandato era interpretada como uma tentativa de derrub-lo do governo.(72)

    26) s vsperas da votao da Constituinte sobre a extenso do mandato presidencial e o regime de govparlamentarismo ou presidencialismo), os militares novamente se alinharam com Sarney e ameaaram o Congrom um golpe caso o mandato presidencial de Sarney fosse reduzido e o parlamentarismo aprovado.(73)No h rara se acreditar que essa ameaa fosse crvel, (74)por duas razes principais: em primeiro lugar, o custo de fecha

    Congresso mobilizado que no representava ameaa ideolgica seria muito alto para os militares; em segundo luga

    oras Armadas j no tinham um inimigo comum, e como no saberiam que grupo deveria ser reprimido primeialta de consenso paralisaria os militares. Como o Congresso no mostrou resoluo em enfrentar a ameaa, o artia intimidao deu resultado. Pela primeira vez desde a instalao da Constituinte, todos os congressistas estiveresentes na votao, que resultou em 343 votos a 213 em favor do presidencialismo.(75)

    27) Durante a segunda semana de maio de 1988, centsimo aniversrio da abolio da escravatura, membroomunidade negra organizaram uma passeata comemorativa. Os manifestantes tambm pretendiam protestar contapel do Duque de Caxias, patrono do Exrcito, associado aos donos de escravos. Planejava-se uma demonstrunto ao seu monumento, no centro do Rio de Janeiro. Quando o Comando Militar do Leste recebeu essa informa

    mandou um grupo de soldados ao local para suspender a passeata. (76) Novamente uma demonstrao polticamilitarizada. Tratava-se, na verdade, de uma manifestao pequena, que poderia facilmente ser controlada pelas fo

    oliciais sem que fosse necessrio convocar soldados do exrcito para fechar as ruas e censurar cartazes.28) Em julho de 1988 o ministro do EstadoMaior das Foras Armadas, brigadeiro Paulo Roberto Camari

    ez uma srie de declaraes contra a nova poltica econmica de Sarney. O presidente o demitiu e teve o apoipula militar. Seus colegas militares receavam que o ministro do EMFA estivesse procurando holofotes para uossvel carreira poltica.(77)Trocando em midos, Sarney atendeu a uma demanda militar, mormente a oriundeu ministro do Exrcito, que tinha ambies polticas prprias.

    29) Ao final de julho, Sarney tentou dar um golpe de mo contra a Constituinte. Seu projeto era acabar comebates constitucionais e em seguida reinici-los a partir do zero. Num domingo, em vez de convocar uma reunio eus parceiros polticos no Congresso, ele preferiu ouvir primeiro a opinio dos ministros militares. No dia seguompareceu a uma cerimnia militar e se deixou fotografar entre seus ministros militares. Na tera-feira,

    rograma televisivo, criticou asperamente a Constituinte. Na quarta-feira, contudo, os parlamentares impuseraarney uma derrota acachapante: 403 votos contra 13.

    30) Em setembro de 1988, em visita ao Chile do general-presidente Augusto Pinochet, o chefe do Estado-Mas Foras Armadas, general Waldir Eduardo Martins, deu uma entrevista ao jornal El Mercurio no qual brinhilenos e brasileiros com esta declarao: "O exrcito chileno constitui um exemplo para a Amrica Latina." (78etornar ao Brasil, nem o Executivo nem o Legislativo exigiram explicaes do general Waldir Eduardo Mar

    ministro do governo Sarney.

    31) A determinao de Sarney, de agradar os militares (79)e minar o controle constitucional sobre as FoArmadas, ficou evidente na sagaz manobra realizada em 30 de setembro de 1988. A Assemblia Constituinte esrestes a votar a clusula sobre o habeas data, que permitiria a qualquer cidado o acesso aos arquivos do tilizados pelos governos militares para controlar as pessoas consideradas no confiveis. ODirio Oficial de 3etembro de 1988, no entanto, publicou o decreto n. 96.876/88, artigo 4, pargrafo nico, que provava o quaarney era contrrio ao esprito do habeas data. Odecreto presidencial regulava as atividades do SNI s vsperaotao final da Constituio, determinando que uma das prerrogativas do ministro-chefe do SNI era decidir quannformao deveria ser liberada dos arquivos do SNI e se os pedidos de retificao seriam aceitos. No ltimo instarney procurou torpedear uma clusula constitucional que favoreceria o controle dos civis sobre os militares. esgosto do presidente, a Assemblia Constituinte terminou por aprov-la.

    32) Em 5 de outubro de 1988, depois de muitas disputas entre o Executivo e o Legislativo, foi promulgada ova Constituio. A Carta descentralizou o poder e representou a conquista de benefcios sociais semelhantes aos

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    ases mais desenvolvidos. Uma parte da Constituio, no entanto, permaneceu praticamente inalterada: os captelacionados s Foras Armadas e segurana pblica.

    O trabalho de redao da Constituio foi dividido em oito grandes comisses e vrias subcomisseubcomisso da Defesa do Estado, da Sociedade e de sua Segurana, organizou oito sesses pblicas, com genda desequilibrada de convidados. Fizeram-se presentes: cinco professores da Escola Superior de Guerra; c

    membros da Polcia Militar e um do Corpo de Bombeiros; quatro representantes do Conselho de Segurana Nacioois generais da reserva; cinco representantes do Estado-Maior do Exrcito; trs representantes da Polcia Federaresidente da Associao Nacional dos Comissrios da Polcia Civil; o presidente da Ordem dos Advogados do Br

    um representante do Ncleo de Estudos Estratgicos da Universidade de Campinas. Portanto, dos 28 convidaomente os ltimos trs apresentaram sugestes contrrias ao status quo, acerca das relaes entre civis e militares

    Entre as sugestes vetadas pela subcomisso estava a extino do SNI, da Diviso de Segurana Interna (Da Assessoria de Segurana Interna (ASI) e da criao do ministrio da Defesa.(80)O Congresso Constituinte, porez, aprovou: (1) o artigo 142, que mantinha o direito das Foras Armadas serem guardis de conceitos vagos comei e a ordem, conforme o estabelecido pela Constituio autoritria de 1967; (81) (2) pela primeira vez na hisrasileira a concesso de status de servidor militar aos membros do Corpo de Bombeiros e das Polcias Militaresue por sinal tm seu armamento, educao e treinamento sob controle do ministro do Exrcito embora os salejam pagos pelos governadores de estado;(83) (3) a manuteno do Cdigo Penal Militar (CPM), criado em 1urante o auge da represso poltica.(84)

    33) Em 9 de outubro de 1988 cerca de 1.300 soldados do Exrcito e da Polcia Militar invadiram a Compaiderrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda, para encerrar uma greve. O sindicato local e a direo da empaviam feito um acordo. Em caso de greve, alguns operrios manteriam os altos-fornos funcionando, para evitralisao da usina. De fato, um dos trs trabalhadores mortos durante a invaso militar estava cumprindo o aco

    mas o general Jos Ary Lacombe, falando em nome do ministro do Exrcito, general Lenidas Pires Gonaescreveu a invaso do Exrcito como uma "operao de guerrilha urbana". (85) Embora a Constituio de 1vesse acabado de reconhecer o direito greve dos trabalhadores, o presidente Sarney julgou que o objetivo revistas era mudar pela fora as instituies democrticas.(86)

    As relaes civil-militares aprovadas pela Constituio de 1988 no passaram pelo primeiro grande temocrtico. De acordo com o artigo 142, o Judicirio tem o direito de pedir a interveno militar quando julgar q

    ei e ordem esto sendo violadas. De fato, um juiz da terceira jurisdio de Volta Redonda pediu a intervenxrcito. Como o referido artigo no definiu o que vem a ser Judicirio, desde ento qualquer juiz, independenteme sua hierarquia, pode invocar o direito de chamar as Foras Armadas quando julgar que o direito propriedaduerelante est ameaado. Conseqentemente, o artigo 142, em vez de restringir a interveno das Foras Armabriu novas brechas que facilitam a presena militar em assuntos polticos internos.(87)

    Se a invaso no foi suficiente para mostrar como a Constituio tratou as relaes entre civis e militares, oe seguiu no deixou dvidas. Trs trabalhadores desarmados foram mortos pelos militares enquanto exerciamireito constitucional de greve. Em qualquer regime democrtico, os criminosos sero julgados por um tribunal c

    No entanto, o general Lenidas anunciou que seus homens no seriam indiciados pela justia civil nem pela mimbora o ministro da Justia, Oscar Dias Correa, desejasse interpelar judicialmente os responsveis pelas mortes

    mais, o general Lenidas, a muito custo, concordou com no condecorar os militares do Exrcito que participaa invaso, mas fez questo de que quatro policiais militares fossem condecorados com a Medalha do Pacificador, as maiores distines do Exrcito brasileiro.(89)

    34) No incio de novembro de 1988 o sargento Benjamim Soares revelou um documento do Exrcito ausou estranheza: descobriu-se que os servios de inteligncia do Comando Militar do Planalto haviam decididoulho daquele ano, comprar quarenta pares de algemas e 39 alicates, alm.de sessenta metros de tecido, que sersados na fabricao de capuzes. O ministro do Exrcito, em comunicado oficial, explicou que os capuzes sesados durante os exerccios militares,(90) o que parecia pouco convencional para um Exrcito que se democrtico. O sargento Soares, que divulgou o documento, foi expulso do Exrcito. Sarney, em vez de defendtitude de. Soares, guardou silncio.

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    35) Na mesma poca, o Supremo Tribunal Militar (SMT) rejeitou uma deciso do tribunal militarondenava o capito Walter de Almeida a trs anos de priso e expulso do Exrcito. O capito foi acusado deomado a prefeitura de Apucarana em protesto contra os baixos salrios militares e por ter violado os artigos 169 eo Cdigo Penal Militar. O artigo 169 considera crime a movimentao irregular de tropas, e o artigo 166 condenrticas dirigidas ao governo sem a autorizao do superior, sujeitando o militar a penas que variam de dois mesm ano de cadeia. Para o SMT, o capito havia apenas criticado o governo, e no movido tropas. (91) Com

    manobra sutil do Tribunal, o capito recebeu uma punio leve e, ao contrrio do sargento Soares, permaneceuleiras do exrcito. Sarney, em vez de criticar a deciso do SMT, mais uma vez guardou silncio.

    36) medida que a popularidade de Sarney decrescia e o nmero de greves aumentava, estendia-se o podeministro-chefe do SNI, general Ivan de Souza Mendes. Foi ele quem decidiu, juntamente com os ministros da Faze

    Planejamento, as bases materiais que o governo poderia oferecer aos funcionrios pblicos. Durante a greveetroleiros, o general Ivan de Souza Mendes chegou a passar por cima da autoridade do ministro das Minas e Ene

    Aureliano Chaves. Aureliano queria oferecer um aumento salarial de 20%, muito prximo aos 27% reivindicados previstas. O general, contudo, decidiu que o governo s poderia oferecer 15%. Conseguiu encerrar a grev

    Aureliano pediu demisso. Durante a greve dos porturios, aconteceu algo parecido. A diferena foi que o ministroransportes, Jos Reinaldo Tavares, concordou que o ministrochefe do SNI estipulasse o percentual de aumento aferecido aos grevistas.(92)

    37) Em 31 de dezembro de 1988 a autonomia dos militares emergiu em sua plenitude. Naquele dia um barc

    omeBateau Mouche afundou nas guas da baa da Guanabara, no Rio de Janeiro. O barco, alm de estar superloe passageiros que comemoravam a passagem do ano, no oferecia condies bsicas de segurana no mar. Enquo rio Amazonas ocorrem com freqncia casos similares, sem qualquer repercusso, no Rio de Janeiro o bavegava com pessoas conhecidas da sociedade carioca. Por isso as presses para que se encontrassem os responsela tragdia foram grandes. Foi a que o imbrglio comeou.

    O governador do Rio de Janeiro, Moreira Franco, ordenou que a Polcia Civil abrisse inqurito. O ministroMarinha, Henrique Sabia, declarou que esse inqurito no teria valor legal, pois apenas o Tribunal Martimo podulgar casos referentes a embarcaes militares ou civis.(93) Esse Tribunal, todavia, tinha um alcance somdministrativo, ou seja, poderia punir o dono do barco ou os responsveis pela festa de rveillon, mas no preos.(94)Havia fortes suspeitas de que o barco havia afundado por negligncia na segurana e corrupo: o barco evistado por membros da Capitania dos Portos antes da partida e, apesar da superlotao, o passeio fora autoriz

    Mesmo assim, o ministro da Marinha tentou monopolizar as investigaes.

    Como a nova Constituio no tratou da jurisdio nica que, caso aprovada, permitiria a aplicaourisido militar somente para crimes estritamente militares, criou-se um conflito de competncia. Um barco fundou e morreram civis. Naturalmente, o governador do Rio de Janeiro ordenou que a Polcia Civil abrissenqurito para investigar o crime e punir os responsveis. A medida no contemplou os marinheiros, pois o ministr

    Marinha levou a resoluo do caso para a jurisdio militar.

    38) Em 15 de fevereiro de 1989 Sarney lanou um novo plano econmico, o Plano Vero, que se propuntre outros objetivos, demitir 90 mil funcionrios pblicos. No final, somente dezesseis foram demitidos, sendoeles o diretor do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), Marco Antonio Raupp. Ele havia criticado a interfer

    militar na rea da pesquisa espacial e exigira uma clara separao entre os propsitos espaciais civis e militaresRaupp s soube da demisso pelo Dirio Oficial.

    39) O jornal Folha de S. Paulo, em sua edio de 24 de setembro de 1989, revelou que Sarney havia assinois decretos, no perodo de um ano, transformando o Exrcito no maior dono de terras do pas. O governo doou

    militares, sem consultar o Congresso, cerca de 6,2 milhes de hectares de terras na regio amaznica, o equivalenuas Blgicas.

    Concluso

    A obteno de uma accountability democrtica por parte dos militares tem se constitudo perene probl

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    oltico. Nas transies de regime autoritrio rumo democracia, a problemtica tambm se faz presente e paornar-se saliente se o regime no hegemnico.(96)O que impressiona no caso brasileiro :

    (1) que os lderes civis adiaram propositadamente a eleio presidencial (97) e o Congresso concedeumandato de cinco anos (98)para o presidente Jos Sarney - o mais longo governo interino da histria das transieutoritarismo para a democracia; e

    (2) que o legado das relaes civil-militares deixado pelo regime militar foi mantido praticamente intato Constituio de 1988.

    Seguindo a cronologia acima mencionada, encontrei a existncia de jogos estratgicos especficos entre civmilitares.(99)Em outras palavras, a estratgia de Sarney no foi a de impor o controle civil sobre os militares. Diisso, os militares aproveitaram a submisso presidencial para fortelecer a autonomia do comportamento polastrense.(100)De fato, da amostra de 39 jogos, apenas no jogo n. 28 que Sarney se disps a confrontar uma utoridade militar, embora para isso tivesse antes consultado a opinio de seus ministros militares. O resultadonlise dos dados mostra claramente que o percentual das atitudes no-democrticas do presidente Sarney vis--v

    militares foi de 38/39 = 97,4%. O comportamento de Samey trata-se de uma constante e no de uma varivel.

    Portanto, no se constitui surpresa o fato do ex-presidente ter evitado a criao de novas instituies (101)udessem vir a facilitar o controle civil sobre os militares. (102)Sarney, por exemplo, no criou o ministrio da De

    mas manteve a mesma configurao do gabinete ministerial de seu predecessor, o general Figueiredo, ou sejresena de seis oficiais da ativa. (103) Tal atitude bem reflete a determinao de Sarney em no promovupremacia poltica civil sobre os militares. Na maior parte do tempo, Sarney no quis correr riscos, e se acomodouesejos militares ou usou o poder dos mesmos contra rivais civis.(104)

    Politicamente, significa dizer que Sarney, com substanciosa ajuda de outros lderes civis, em lugaronfrontar o poder autnomo dos militares permitiu que os mesmos mantivessem enclaves autoritrios, dentroparelho de Estado, imunes ao controle das instituies democrticas. Por exemplo, no h um rgido contarlamentar sobre as atividades de inteligncia (principalmente as militares) e defesa nacional; o Legislativonterfere na promoo de militares, sendo atribuio exclusiva do Executivo; ainda existem estados onde o comandolcia Militar pertence a um oficial da ativa do Exrcito; as linhas de jurisdio entre as instituies civis e miliermanecem nebulosas; e persistem reas da atividade ecnomica civil sob a liderana militar, como a ind

    eronutica, navegao e aviao.

    A participao militar nessas atividades, inexistente em democracias consolidadas, foi amigavelmente acelas autoridades civis. (105) Ou seja, o comportamento autnomo dos militares passou a ser aceito como nquestionvel. Em resposta s altas prerrogativas usufrudas, os militares no tentaram dar um golpe de Estado. Aendo, as relaes civil-militares atingiram uma situao estvel: nem os civis nem os militares querem abandontual situao por se tratar de um ponto de equilbrio poltico. Tal estabilidade, todavia, resulta do fato de que a tuno a democracia, que foi consolidada. Esse pacto de dominao tem suas conseqncias: possvel mant

    urante vrios governosemocrticos. Contudo, enquantos os referidos enclaves autoritrios persistirem, absolutamente impossvel criaegime democrtico consolidado.

    NOTAS

    Agradeo os comentrios de Lawrence S. Graham, Jos Carlos Wanderly e Jos Edmilson Mazza.

    Na noite anterior da assuno presidencial, Tancredo foi hospitalizado. Tancredo era do PMDB, que, juntamente com o PFL, formava a coantitulada Aliana Democrtica, a grande responsvel pela sua vitria no Colgio Eleitoral, embora essa instituio tivesse sido criada pelo reutoritrio para controlar resultados eleitorais.

    Como Tancredo no havia formalmente assumido a presidncia, seguiu-se uma discusso legal sobre quem deveria ser emposssado: o residente ou o presidente da Cmara de Deputados, Ulysses Guimares. Venceu o argumento de que Sarney no era o vice-presidenancredo Neves, mas da Repblica, razo pela qual deveria ser empossado.

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    Nova Repblica foi uma expresso criada por Tancredo Neves para designar uma nova era de democracia a ser inaugurada por sua presidn

    Tanto a Marinha quanto a Aeronutica tiveram participao secundria durante o regime militar (1964-84).

    O PDS era o brao poltico dos militares no Congresso, de 1979 a junho de 1984. Sarney deixou o PDS para logo em seguida tornar-seresidente de Tancredo. Isso tanto enfureceu o general Joo Figueiredo que ele se negou a passar a faixa presidencial para Sarney.

    Enquanto no Brasil Sarney amistosamente aceitava a interveno das Foras Armadas em assuntos internos, no Chile, o presidente Ayusou abolir algumas das leis de Pinochet. Ele tentou, passo a passo, cortar a autonomia poltica dos militares, mesmo que os "ns" institucio

    eixados pelos militares chilenos fossem muito mais difceis de serem desatados que os "ns" militares brasileiros. Brian Loveman, "Mumplida? Civil-military relations and the Chilean political transition",Journal of Interamerican Studies and World Affairs, 33 (1991); Rabkin, "The Aylwin government and `tutelary' democracy: a concept in search of a case?",Journal of Interamerican Studies and World Af4 (1992-93).

    Desconheo a existncia de qualquer pas que tenha conseguido estabelecer um regime democrtico sem previamente institucionalizar laes civil-militares. O processo de estabelecimento de um controle civil democrtico sobre os militares bastante difcil. De fato, a m

    os pases que iniciam um processo de transio do autoritarismo para a democracia retrocede para uma situao autoritria ou estabelecememocracia tutelada, i.e., um governo democrtico com enclaves militares, no sentido de que os militares continuam a deter a capacidaderrubar as instituies polticas. Vide o seminal artigo de Adam Przeworski, "Democracy as a contigent outcome of conflict," in J. Elster alagstad (org.) Constitutionalism and democracy (Cambridge: Cambridge University Press, 1988), p. 61.

    Para uma anlise comparativa que mostra como as prerrogativas militares no Brasil so bem maiores do que na Espanha e Argentina, vide J

    averucha, "Degree of military political autonomy during the Spanish, Argentine and Brazilian transition", Journal of Latin American Studi993).

    Samuel Finer, The man on horseback.- the role of the military in politics (Londres: Pall Mall Press, 1962).

    0. Jos Nun, "The middle-class military coup revisited," in Claudio Veliz (org.), The politics of conformity in Latin America (Oxford: Oniversity Press, 1967).

    1. Samuel Huntington, Political order in changing societies (New Haven: Yale University Press, 1968).

    2. Samuel Huntington, The soldier and the State (Nova York: Vintage Books, 1957).

    3. Morris Janowitz,Military institutions and coercion in the developing nations (Chicago: The University of Chicago Press, 1964); Alfred Sthe military in politics: changing patterns in Brazil (Princeton: Princeton University Press, 1971).

    4. Guillermo O'Donnell, "Modernization and military coups: theory, comparison, and the Argentine case," in A. Lowenthal (org.)Armieolitics in Latin America (Nova York: Holmes & Meyer Publishers, 1976); Claude Welch, Civilian control over the military (Nova York: niversity of New York Press, 1976); A. R. Luckman, "A comparative typology of civilmilitary relations,"Government and opposition 6 (1-35.

    5. Claude Welch, Nofarewell to arms? Military disengagement from politics in Africa and Latin America; Samuel Finer, "The retreat tarracks: notes on the practice and theory of military withdrawal from the seats of power," Third World Quaterly 7 (1983); Ulf SundhauMilitary withdrawal from government responsibility,"Armed Forces & Society 10 (1984):543-562.

    6.Alain Rouqui, "Demilitarization and the institutions of military dominated polities in Latin America," in G. O'Donnell, P. Schmitter, anWhitehead (org.), Transitions from authoritarian rule (Baltimore: The John Hopkins University, 1986).

    7. Entenda-se por instituio um grupo de regras que estruturam interaes entre os atores polticos no sentido de que estes atores tornaomprometidos com as estruturas porque tais regras afetam seus interesses. Instituies restringem o comportamento dos atores polticos, por

    mudanas institucionais podem levar os atores a modificar a escolha de suas estratgias.

    8.Se isto fosse verdade, as relaes civil-militares se constituiriam num jogo de soma-zero: o que os militares ganham os civis perdem, eersa. O que prevaleceria seria msculo, em vez de cooperao.

    9.Adam Przeworski, "How do transitions to democracy get stuck and where?" manuscrito, University of Chicago, 1987; Herv Moulin, Gheory for the social sciences (Nova York: New York University Press, 1986).

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    0.Oprocesso de transio consta de duas etapas. A primeira ocorre quando um governo democraticamente eleito e abre o caminho para o a segunda etapa: de um governo democraticamente eleito para um regime democrtico, ou seja, para uma democracia institucionalmonsolidada. Guillermo O'Donnell, "Democracia delegativa?"Novos Estudos CEBRAP 31, (1991):26. Portanto, uma democracia tutelada po

    manter por um longo tempo, desde que um retrocesso autoritrio no ocorra ou um regime democrtico no seja instalado.

    1. Por exemplo: (a) na Coria do Sul, a transio de outubro de 1979 foi abortada em maio de 1980, quando o general Chun deu um golpstado. Hyug Baeg Im; "Politics of transition: democratic transition from authoritarian rule in South Korea" (Ph.D. diss., University of Chi985), p. 170; (b) no Peru, Alberto Fujimori em abril de 1992 deu um auto-golpe, terminando doze anos de poltica democrtica. Eduardo Feosta, "Peru's presidential coup",Journal of Democracy 4, (1993):29.

    2. Alfonsn iniciou seu governo levando, pela primeira vez na histria do Cone Sul, uma junta militar s barras da justia comum. Conrminou sendo humilhado pelo comportamento dos caras-pintadas. No Chile, a despeito de alguns suc~9=sos de Aylwin em domar os militnto ele como o novo presidente chileno continuam constitucionalmente inabilitados a remover ou nomear o comandante-em-chefe das Frmadas e mandar para a reserva oficiais militares. J o Congresso aceita senadores "binicos" escolhidos pelas Foras Armadas entre os ofia reserva. Para diferenciar o comportamento de Sarney, coadjuvado por seus aliados civis, dos de Alfonsn e Aylwin, defino a situao brasomo sendo de tutela amistosa, no sentido de que Sarney curvou-se amistosamente aos interesses militares permitindo a continuidade dos encutoritrios dentro do aparelho de Estado. Por conseguinte, possvel se definirem graus de tutela e esses graus variam com a expansorerrogativas institucionais dos militares.

    3. Para uma discusso sobre a distino entre "tipo" e "caso", vide R. Boyd, "Materialism without reductionism" inN. Block (org.) Readinhilosophy of psychology (Cambridge: Cam bridge University Press, 1984) e E. Wright, A. Levine & E. Sober,Reconstruindo o marx

    Petrpolis: Vozes, 1993).

    4. O comportamento de um tomador de deciso individual ser racional "if he chooses among different goals according to a consistent scareferences, that is, according to the relative importance or utility he assigns to each particular goal". John C. Harsany, "Rational-choice modolitical behavior vs. functionalist and conformist theories," World Politics 21, (1969):515. Por "inteligente" entenda-se que cada indivomprende a estrutura da situao, incluindo o fato de que todos os outros indivduos so inteligentes e tomadores de deciso racionais.

    5. Estou definindo essas trinta e noves situaes histricas como jogos porque os militares e civis so conscientes de que suas aes, em cadaas referidas situaes, afetam-nos uns aos outros. Conseqentemente, o resultado de cada jogo pode influenciar o comportamento dos dois am jogos subseqentes. Por exemplo, se os militares desobedecem repetida mente as autoridades constitucionais sem serem punidos, isso fortcrena militar de que os civis esto dispostos a aceitar o comportamento autnomo castrense danificando- as perspectivas de consolid

    emocrtica.

    6. Embora executivo, legislativo, judicirio, governo, tomadores de deciso etc., possam ser considerados como civis, por motivmplicidade assumirei os civis como sendo um ator unitrio. O mesmo critrio ser aplicado aos militares, que tambm na vida real nonstituem em atores unitrios, pois grupos rivais lutam por melhores posies dentro da instituio. Estou menos preocupado acerazoabilidade de possuir dois atores unitrios tomadores de deciso e mais preocupado em saber se essas pressuposies podem nos ajudar antender os trinta e nove jogos subseqentes como a deduzir implicaes sobre os mesmos.

    7. As Foras Armadas so autnomas quando formulam seus prprios objetivos e os cumprem revelia do governo ou da oposio polticagnifica dizer que as Foras Armadas tm a capacidade institucional de tomar decises e executa-las independentemente da existncia de emocrticos.

    8. Ustra tambm lembrado como o emissrio enviado pelo ministro do Exrcito, general Sylvio Frota, ao aeroporto de Braslia para convenonvencer o comandante do lI Exrcito, general Dilermando Gomes Monteiro, a apoiar o plano frotista de derrubar o general Ernesto Geisel2 de outubro de 1977, Geisel demitiu Frota. Geisel tambm desmantelou uma rede de radicais que insistia em torturar e matar pessoas dentrnstalaes militares, na tentativa de impedir a abertura poltica do regime. Ustra, naquela poca, pertencia ao CIE; aquela organizanformao adquiriu tanto poder que chegou a criar ramificaes em vrios estados, e seus membros passaram a no dar satisfao nem mara os mais altos comandantes militares em suas reas. Veja, 30 de outubro de 1985.

    9. Bete Mendes, aps ter sido torturada, terminou sendo inocentada pela justia militar.

    0. A deciso de remover Ustra fora tomada em julho, portanto antes do caso Bete Mendes. Contudo, Ustra ficou na qualidade de adido militamais seis meses.

    1. Folha de S. Paulo, 25 de agosto de 1986.

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    2. Sarney preservou a configurao militar do gabinete governamental deixada pelo general-presidente Figueiredo. A saber: ministroxrcito, da Marinha, da Aeronutica, da Casa Militar; do Estado-Maior das Foras Armadas e do Servio Nacional de Informaes. O SNI, cm 13 de junho de 1964, deveria ser uma agncia de informao civil. No entanto, a direo e outros postos-chave da organizao foram ocupor militares. Os civis trabalhavam em posies secundrias. Sarney manteve inalterada essa situao.

    3. O capito pertencia ao DOI-Codi do I Exrcito. O sargento era um especialista em explosivos, tendo freqentado um curso na Alemanham dos torturadores do professor Manoel Messias da Silva. Veja, 20 de novembro de 1984, e Veja, 4 de agosto de 1985.

    4. O coronel Job Lorena substituiu o coronel Luis Antonio Prado Ribeiro, que havia iniciado as investigaes. Prado recusou-se a fabrierso de que esquerdistas eram responsveis pelo incidente. Sob permanente presso, incluindo ameaas de vida, o coronel teve uma crise nerpediu para abandonar as investigaes alegando motivos de sade. O coronel Job Lorena terminou chegando ao generalato.

    5. O ministro do Exrcito tratou publicamente de minar qualquer tentativa de abertura de novas investigaes. Hermano Alves, "A quMilitar,"Afinal, 1. de setembro de 1985.

    6. Veja, 2 de outubro de 1985.

    7. Alexander von Baumgarten foi um ex-colaborador do SNI. Aps ter entrado em litgio com o SNI, escreveu em seu dirio temer por suaaumgarten tinha apenas dvida sobre quem mandaria mat-lo: o ento chefe do SNI ou o ento chefe da Agncia Central do SNI em Brasli

    ato, Baumgarten saiu para pescar de barco e foi misteriosamente assassinado.

    8. O coronel da reserva Leo Frederico Cinelli, ex-chefe da II Seo do I Exrcito, confirmou que o episdio Riocentro tinha sido ob

    militares. A II Seo era responsvel pela coleta de informaes. Eliane Castanhede, "Coronel afirma que Riocentro foi obra de militares,"Jo Brasil, 29 de setembro de 1987.

    9. O caso Riocentro ocorreu em 1981, conseqentemente, a Lei de Anistia de 1979 no contemplaria os responsveis pelo ocorrido.

    0. O general Lenidas afirmou para o deputado Pimenta da Veiga, lder do PMDB na Cmara de Deputados: "voc pode fazer o que quisembm vou fazer o que desejar, mas o assunto inegocivel." Veja, 30 de outubro de 1985.

    1. Dado o pfio comportamento de Ulysses Guimares, o deputado Paulo Maluf aproveitou para alfinet-lo com ironia: " verdade que o geenidas o chamou para dar instrues?" Veja, 30 de outubro de 1985.

    2. Folha de S. Paulo, 17 de janeiro de 1986.

    3. Veja, 25 de dezembro de 1985.

    4. Veja, 25 de dezembro de 1985.

    5. O plano de reorganizao militar estava dividido em trs estgios - FT (fora terrestre)-90, FT-00 e FF-15 - , com previso de trmino n015. Como assinala Jos Murilo de Carvalho, essa reforma tem um sabor poltico, porque no se limita a defender o pas de ameaas ext

    mais eficientemente. Contempla tambm o papel interno dos militares, com a criao, por exemplo, de uma fora area do Exrcito. Asxrcito se torna independente da Aeronutica no uso de avies em caso de conflito interno. Como desde o sculo XIX o Brasil no travauerra externa, no h razes de segurana para justificar tamanho investimento, que, por sinal, no chegou a ser discutido pelo Congresso.

    Murilo de Carvalho, "Militares e civis: um debate alm da constituinte," Cadernos de ConJuntura do IUPERJ, n. 10, 1987.

    6. Em fevereiro, o governador Hlio Garcia (PMDB-MG) no conseguiu nomear David Elking para a presidncia do BNDES devido ao veNI. Veja, 19 de fevereiro de 1986. O prprio Sarney desistiu de nomear Antonio Angarrita como secretrio da Receita Federal. De acordo cNI, Angarrita, exmembro do Partido Socialista Brasileiro (PSB), tinha ligaes com a ala esquerda do PMDB. Folha de S. Paulo, 27 de feve 1980.

    7. Em 30 de maro de 1983, logo aps o anncio de um decreto presidencial limitando aumentos salariais, Vicentinho afirmou que Figuestava roubando a classe trabalhadora.

    8. Veja, 12 de maro de 1990.

    9. Alfred Stepan,Rethinking military politics: Brazil and the Southern cone (Princeton: Princeton University, 1987), p. 108.

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    0. Josias de Morais, "Dossi do SNI Aponta `Infiltrao esquerdista' no INCRA," Folha de S. Paulo, 17 de julho de 1986.

    1. Thomas Skidmore, The politics qf military rule in Brazil, 1964-85 (Oxford: Oxford University Press, 1988), p. 217.

    2. Folha de S. Paulo, 10 de agosto de 1986; Veja, 20 de agosto de 1986.

    3. Veja, 12 de novembro de 1986.

    4. O plano, entre outras coisas, congelou os preos e salrios, levando a um momentneo decrscimo da inflao.

    5. Veja, 3 de dezembro de 1986.

    6. Em 1985 o partido de Sarney (PMDB) foi responsvel por 24,4% dos discursos proferidos contra o presidente na Cmara de Deputados9,6% no Senado. Folha de S. Paulo, 14 de janeiro de 1986.

    7. Veja, 17 de dezembro de 1986.

    8. Tancredo Neves havia decidido que tal programa ficaria subordinado ao ministrio da Cincia e Tecnologia. Veja, 9 de setembro de 1987.

    9. A legislao corrente estabeleceu um mandato presidencial de seis anos. Tancredo Neves havia prometido ficar no poder -por quatro anue, per se, j seria o mais longo governo interino da histria das transies.

    0. Danilo Groff, Maurcio Pencack e Cludio Filipeto foram aprisionados. Em agosto de 1987, Sarney, por falta de provas, os liberou.

    1. Veja, 8 de julho de 1987.

    2. Gilberto Dimenstein, "Governo usa recursos do FND no projeto do caa AMX," Folha de S. Paulo, 5 de agosto de 1987. O governo deevolver o dinheiro arrecadado, mas at o presente momento nehuma sria tentativa de devoluo foi implementada.

    3. Em 1961, as Foras Armadas apoiaram o parlamentarismo como artifcio para controlar o presidente Joo Goulart, que era visto comomeaa ao comportamento autnomo dos militares. Agora, como Sarney era considerado amigo, os militares pressionaram pelo presidencialortanto, arranjos institucionais afetam o clculo usado pelos militares para decidirem pela estratgia que maximize seus interesses.

    4. Latia. American Weekly Report, 10 de setembro de 1987. Tudo indica que o discurso do ministro do Exrcito detonou uma organiz

    onservadora dentro do Congresso. O resultado foi o surgimento do "Centro", uma coalizo com mais de trezentos membros, i.e., a maioronstituinte.

    5. Senador Fernando Henrique Cardoso, entrevista com o autor, 7 de agosto de 1989, So Paulo, entrevista gravada.

    6. Veja, 2 de setembro de 1987.

    7. Veja, 9 de setembro de 1987.

    8. Veja, 28 de outubro de 1987.

    9. Ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser Pereira, entrevista com o autor, 23 de agosto de 1989, So Paulo, entrevista gravada.

    0. Veja, 23 de maro de 1988.

    1. Veja, 30 de maro de 1988.

    2. A diferena de comportamento entre Jos Sarney e Adolfo Surez gritante. Enquanto Sarney ameaou usar tanques para defendemandato presidencial, Surez convocou eleies gerais e o novo Congresso espanhol decidiu a extenso de seu mandato sem qualquer tiphantagem.

    3. Ricardo Noblat, "A histria do golpe que no houve (I),"Jornal do Brasil, 24 de maro de 1988.

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    4. OJornal do Brasil, em seu editorial de 25 de maro de 1988, afirmou que tal ameaa era um blefe espalhado pelos polticos para servir anteresses.

    5. Momentos antes da votao, o Chefe do Estado-Maior das Foras Armadas e os trs ministros militares fizeram declaraes pblicas alercerca da possibilidade de caos. Suas declaraes podem ser encontrada em Veja, 30 de maro de 1988.

    6. Veja, 18 de maio de 1988.

    7. O critrio usado pela CUT para julgar as declaraes polticas dos militares contraditrio. Por exemplo, a CUT criticou o general Leor ter feito declaraes favorveis aos cinco anos de mandato para Sarney. Contudo, apoiou as declaraes do brigadeiro Camarinha con

    ersistentes aumentos de preos, como se isso fosse funo de chefe do EMFA.

    8. Veja, 25 de setembro de 1988.

    9. No incio de outubro ele concedeu aos militares um aumento salarial (de at 100%) para contrabalanar uma futura deciso constitucionaxigiria dos militares o pagamento de mais impostos. Veja, 12 de outubro de 1988, e Veja, 26 de outubro de 1988.

    0. O relator da subcomisso, deputado Ricardo Fiza, se ops a tal idia nos seguintes termos: (1) um eventual ministro da Defesa se tornaruper-ministro; (2) "a questo bsica no o poder civil nas mos dos militares, e sim o poder militar em qualquer mo". Congresso Brasiomisso de Organizao Eleitoral Partidria e Garantia das Instituies, Subcomisso de defesa do Estado, da Sociedade e de sua Segurelatrio, 11 de maio de 1987:29.

    1. A diferena que a partir de 1988 no somente o Executivo mas tambm o Legislativo e o Judicirio poderiam pedir a interveno militssuntos internos para garantir a lei e a ordem.

    2. Enquanto a Constituio espanhola de 1978 separou as foras policiais do Exrcito, no Brasil o oposto foi realizado: as ligaes institucintre as Polcias Militares e o Exrcito foram fortalecidas.

    3. Os policiais militares tm dois patres: a Unio, que controla boa parte de suas atividades, e os governadores de estado, que pagamalrios. Alm disso, em cada estado a Polcia Militar est ligada a uma unidade do Exrcito que passar a comand-la, independentemenontade do governador, em caso, por exemplo, de uma convulso social.

    4. A questo no abolir a jurisdio militar, mas a de mant-la atuando sobre assuntos estritamente militares. Contudo, a abrangncia do Co ampla que termina por proteger o militar de certos crimes que em qualquer democracia seriam julgados pela jurisdio ordinria. Por exem

    e um policial civil e outro militar estupram uma adolescente usando revlver militar, ambos sero julgados por jurisdies distintas e recebenalidades distintas. Ou seja, um crime e duas penas! Tal situao juridicamente inaceitvel em qualquer democracia consolidada.

    5. O general Lacombe tambm acusou os grevistas de terem usado armas de fogo, mas no conseguiu mostrar qualquer armamento captuurante a invaso. Veja, 16 de novembro de 1988.

    6. Veja, 16 de novembro de 1988. Saliento que em 11 de junho de 1990 os trabalhadores de Volta Redonda fizeram uma greve de dois mesemelhores salrios durante a gesto Collor. Ao contrrio do ocorrido durante o governo Sarney, a greve terminou atravs de intermediao judic

    7. Em vez da polcia ter sido primeiramente acionada, optou-se por tanques e armas de assalto com munio viva para acabar com uma grev

    8. Sarney apoiou a posio do general Lenidas, humilhando seu ministro da Justia, cuja funo exatamente fazer com que a lei seja respei

    9. Jornal da Tarde, 21 de fevereiro de 1989. A ironia da atitude de Lenidas que ele almejava condecorar membros do exrcito,.maressionado por membros do alto comando a no proceder dessa maneira. Foi a que decidiu condecorar quatro policiais militares.

    0. Veja, 9 de novembro de 1988.

    1. Veja, 14 de dezembro de 1988.

    2. Cleber Praxede, "Um general Para os impasses: O Chefe do SNI D as Cartas nas greves dos Setores essenciais,"Jornal do Brasil, 2ezembro de 1988.

    3. O licenciamento de embarcaes civis, incluindo barcos a lazer e jet-ski, feito pela Marinha.

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    4. De fato, em maro de 1989 o ministro Sabia apresentou o resultado do inqurito martimo: os donos do barco seriam procesdministrativamente, enquanto os dez marujos seriam denunciados perante Tribunal Militar. O ministro, todavia, manteve em sigilo os nomeferidos marujos.

    5. Veja, 8 de fevereiro de 1969. A Constituio de 1988 negligenciou o assunto. O Congresso no controla as atividades espaciais e a Comrasileira de Atividades Espaciais (Cobae) continua a ser dirigida pelo chefe do Estado-Maior das Foras Armadas. Do mesmo moepartamento de Aviao Civil (DAC) controlado pelo ministro da Aeronutica, em vez de s- lo pelo ministro dos Transportes. O Congmbm no fiscaliza a indstria de armamentos. Decises sobre o alocamento de recurso e de venda de armamentos so tomadas sem autoriz

    ongressual.

    6. Um regime hegemnico governa com o consentimento e a participao de grupos subordinados ordem existente. Quando falonsentimento e a participao, o regime fatalmente ser protegido pelo exrcito da coero. A falta de hegemonia est estritamente ligesigualdade econmica. Vejamos o quadro econmico brasileiro neste final de sculo. O Brasil tem o dcimo PIB do mundo e, trabalhanom o PIB Per capita, chegamos ao 52. lugar, abaixo de pases como Madagascar, Gana, Indonsia, Zimbbue, Tunsia, Maurcio, Malsia, Egito. O Brasil tem uma das piores distribuies de renda do mundo, ficando abaixo de Honduras, ndia e Mxico. Uma parcela de 1% d

    3% da renda, que so equivalentes dos 50% mais pobres. Os 10% mais ricos recebem 50,6% da renda, enquanto os 20% mais pobres ficampenas 2%. Mais de 27% das crianas brasileiras esto em estado de misria, e 53,1 % em estado de pobreza. O PIB per capita do Brasil S$ 1810 em 1986. Os pobres tm um PIB per capita de US$ 440, semelhante ao da Mauritnia, Senegal ou Libria. J os ricos detm um PI

    apita de US$ 3.700, similar ao dos pases do sul da Europa. Hlio Jaguaribe, alternativa Para o Brasil (Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1980; 26.

    7. Decises sobre acelerar ou desacelerar o ritmo do processo de transio devem ser avaliadas no modo como os atores jogam com o

    mpo. Se as recompensas so mais valorizadas quando obtidas nas primeiras rodadas em vez de nas ltimas, ento os atores polticos devemmais rpido possvel. Se, todavia, as recompensas so menos valorizadas quando conseguidas nas rodadas iniciais, ento os atores devem j

    om o tempo lentamente. Caso os atores sejam indiferentes entre ser recompensados hoje ou amanh, ento eles no precisam dar ateno aompo. Ao contrrio do caso brasileiro, na Espanha e Grcia os lderes civis da transio procuraram tanto realizar eleies diretas como escrovas constituies o mais rpido possvel.

    8. Tancredo Neves prometeu um mandato de quatro anos. Sarney conseguiu estender em mais um ano o j longo mandato presidencial.

    9. Jogos Estratgicos so jogados atravs de uma seqncia de movimentos de tal sorte que os movimentos individuais contribuem palizao de um plano geral - a estratgia. James W. Friedman, Game theory with applications to economics (Nova York: Oxford Univress, 1986).

    00. A aliana de Sarney com os militares garantiu sua sobrevivncia poltica, bem como um longo mandato presidencial. Os militares, poez, garantiram a continuao de enclaves autoritrios dentro do aparelho de Estado.

    01. Instituies so artifcios sociais que entre outras coisas podem ser usadas para mediar conflitos. Atravs de instituies, interesses imedo atenuados em favor de decises a serem implementadas no futuro. Conseqentemente, instituies podem nos proteger das conseqestrutivas do interesse prprio.

    02. Novas instituies ajudaram a mudar o padro das relaes civil-militares na Espanha e Grcia. Contudo, no Brasil, o quadro institucmanescente deveria supostamente proteger tanto os interesses dos novos quanto dos velhos atores. Conseqentemenxe, tais instituie

    ervem para maiores transformaes democrticas.

    03. A Constituio da Guatemala estabelece que um oficial da ativa deve ser o ministro da Defesa. Conseqentemente, ele tem assenabinete governamental. Porm, seis oficiais da ativa com assento ministerial - eis uma novidade brasileira.

    04. Mainwaring, ao comentar a relao entre Sarney e os militares, escreveu: "whenever his programs were threatened by congressesistance, Sarney turned to the military. Similarly, when he disagreed with congressional actions, Sarney often used the threat of mi

    iscontent to try to impose his own viewpoint. " Scott Mainwaring, "Dilemmas of multiparty presidential democracy: the case of Brazil", Knstitute Working Paper 74:38.

    05. O Latin American Weekly Report, em sua edio de 15 setembro de 1988, muito bem capturou o esprito da transio brasileira ceguinte manchete: "Os militares brasileiros ganham silenciosamente o que Pinochet exige em voz alta".