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JOÃO PAULO MEDEIROS DE ARAÚJO DIRETRIZES PARA UM PLANO DE RECUPERAÇÃO DA BARRAGEM PASSAGEM DAS TRAÍRAS EM SÃO JOSÉ DO SERIDÓ - RN NATAL-RN 2018 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

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JOÃO PAULO MEDEIROS DE ARAÚJO

DIRETRIZES PARA UM PLANO DE RECUPERAÇÃO DA

BARRAGEM PASSAGEM DAS TRAÍRAS EM SÃO JOSÉ DO

SERIDÓ - RN

NATAL-RN

2018

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

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João Paulo Medeiros de Araújo

Diretrizes para um plano de recuperação da barragem passagem das traíras em São José do

Seridó – RN.

Trabalho de conclusão de curso na modalidade

Monografia, submetido ao Departamento de

Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte como parte dos requisitos

necessários para obtenção do título de Bacharel em

Engenharia Civil.

Orientador: Prof. Dr. Olavo Francisco dos

Santos Júnior

Natal-RN

2018

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede

Araújo, João Paulo Medeiros de.

Diretrizes para um plano de recuperação da barragem Passagem

das Traíras em São José do Seridó - RN / João Paulo Medeiros de

Araújo. - 2018. 74 f.: il.

Monografia (graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Tecnologia, Curso de Engenharia Civil. Natal,

RN, 2018.

Orientador: Prof. Dr. Olavo Francisco dos Santos Junior.

1. Concreto compactado com rolo (CCR) - Monografia. 2.

Barragem Passagem das Traíras - Monografia. 3. Patologias -

Monografia. I. Santos Junior, Olavo Francisco dos. II. Título.

RN/UF/BCZM CDU 627.81

Elaborado por Ana Cristina Cavalcanti Tinôco - CRB-15/262

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João Paulo Medeiros de Araújo

Diretrizes para um plano de recuperação da barragem passagem das traíras em São José do

Seridó – RN.

Trabalho de conclusão de curso na modalidade

Monografia, submetido ao Departamento de

Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte como parte dos requisitos

necessários para obtenção do título de Bacharel em

Engenharia Civil.

Aprovado em: 30/11/2018

___________________________________________________

Prof. Dr. Olavo Francisco dos Santos Júnior – Orientador

___________________________________________________

Eng. Ray de Araújo Sousa – Examinador interno

___________________________________________________

Eng. Alexandre de Souza Júnior – Examinador externo

Natal-RN

2018

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, em especial à minha

mãe (in memoriam), por todos os

ensinamentos e por ser inspiração para

os desafios da vida.

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AGRADECIMENTOS

À Deus pelo dom da vida e por conduzir e abençoar os meus passos.

Ao meu pai, Joaci, e à minha irmã, Nathália, por todo amor, cuidado e conforto,

principalmente nos momentos mais difíceis. Sou e serei eternamente grato por tudo.

À minha namorada, Richienne, pelo carinho, paciência, e pelo apoio durante esse

período, que também tem contribuído para o meu crescimento.

Ao engenheiro e amigo Alexandre de Souza Júnior, pelo apoio, transmitindo

conhecimentos essenciais para a minha formação profissional e pessoal.

Aos amigos e demais familiares por estarem sempre disponíveis nos momentos de

união e descontrações necessários para fortificar o ser.

Ao meu orientador, o professor Olavo Francisco dos S. Júnior, pela paciência, pelo

apoio e pelo conhecimento transmitido. Por ser exemplo de humildade e dedicação ao exercer,

com empenho e seriedade, sua vocação.

À todos os meus professores, que foram fonte de conhecimento, deixando cada um a

sua contribuição para eu chegar até aqui.

À Universidade Federal do Rio Grande do Norte, produtora de conhecimento e

formadora de cidadãos.

Por fim, deixo meu mais especial agradecimento à minha eterna rainha, que me deixou

como legado o estudo e a vontade de vencer na vida. À minha mãe, Maria das Graças de

Medeiros, meu anjo protetor, todos os agradecimentos. Seus ensinamentos estarão sempre

vivos em mim.

Muito obrigado!

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João Paulo Medeiros de Araújo

RESUMO

Diretrizes para um plano de recuperação da barragem Passagem das Traíras em São

José do Seridó – RN.

Considerada como uma alternativa viável de convivência com os longos períodos de estiagem

das regiões semi-áridas, as barragens são estruturas destinadas a acumulação de águas para

diversas finalidades: abastecimento, irrigação, produção de energia, regularização de vazões.

Entretanto, as barragens apresentam considerável potencial de risco em virtude dos danos

socioeconômicos ou catastróficos que podem ser ocasionados por problemas estruturais e

técnicos assim, o monitoramento, as verificações de segurança e manutenções periódicas são

as condições de garantia da integridade e operação. O estudo destaca as anomalias

identificadas e suas possíveis consequências à segurança estrutural e operacional, analisando

o grau potencial de risco e propondo ações de recuperação na estrutura da barragem Passagem

das Traíras, localizada na cidade de São José do Seridó, região do Seridó Oriental do Rio

Grande do Norte. Levando em consideração os danos potenciais envolvidos no risco de

colapso de uma barragem, buscou-se detectar e observar, baseado em visitas a campo e

relatórios técnicos, às necessidades de manutenção em elementos estruturais seguindo as

recomendações do Manual de Segurança e Inspeção de Barragens da Agência Nacional de

Águas (ANA). Dessa forma, destaca-se a necessidade da elaboração e execução de um projeto

de recuperação da barragem passagem das traíras, a fim de restabelecer a integridade dos

elementos estruturais, evitando riscos de colapso e consequências graves, sobretudo, à

população que se localiza à jusante da barragem.

Palavras-chave: Concreto Compactado com Rolo (CCR), Barragem Passagem das Traíras,

Patologias, Recuperação, Segurança de barragens, Avaliação potencial do risco.

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João Paulo Medeiros de Araújo

ABSTRACT

Guidelines for the passage of the Traíras dam recovery plan in São José do Seridó – RN.

Considered as a viable alternative for living with the long periods of drought in the semi-arid

regions, dams are structures for the accumulation of water for various purposes: water supply,

irrigation, energy production, flow regulation. However, dams present considerable risk

potential due to socioeconomic or catastrophic damage that can be caused by structural and

technical problems. Thus, the monitoring, safety checks and periodic maintenance are the

conditions for guaranteeing the integrity and operation of the dam. The study highlights the

identified anomalies and their possible consequences for structural and operational safety,

analyzing the potential degree of risk and proposing recovery actions in the structure of the

passage of the Traíras dam, located in the city of São José do Serido, region of the Eastern

Seridó of Rio Grande do Norte. Considering the potential damages involved in the risk of a

dam collapse, it was sought to detect and observe, based on field visits and technical reports,

the maintenance needs on structural elements following the recommendations of the Safety

and Inspection Manual of Dams of the National Water Agency (NWA). Therefore, it is

necessary to design and implement a project to recover the passage of the traíras dam, in order

to restore the integrity of the structural elements, avoiding risks of collapse and serious

consequences, above all, to the population that is located downstream of the dam.

Keywords: Roller-compacted Concrete (RCC), Passage of the traíras dam, Pathologies,

Recovery, Safety of dams, Potential risk assessment.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Características técnicas (CT). ................................................................................. 46

Quadro 2 - Estado de conservação (EC). .................................................................................. 47

Quadro 3 - Plano de Segurança da Barragem (PS). .................................................................. 47

Quadro 4 - Dano Potencial Associado (DPA). ......................................................................... 48

Quadro 5 - Classificação das barragens para acumulação de água. ......................................... 48

Quadro 6 - Dados de controle do CCR da barragem Passagem das Traíras. ........................... 51

Quadro 7 - Controle do CCR de algumas barragens construídas na época da barragem. ........ 58

Quadro 8 - Níveis de perigo global de barragens. .................................................................... 59

Quadro 9 - Características técnicas (CT) da barragem Passagem das Traíras. ........................ 70

Quadro 10 - Estado de conservação (EC). ................................................................................ 71

Quadro 11 - Plano de Segurança da Barragem (PS). ................................................................ 72

Quadro 12 - Dano Potencial Associado (DPA). ....................................................................... 73

Quadro 13 - Classificação das barragens para acumulação de água. ....................................... 74

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Vista à jusante do barramento. ................................................................................. 15

Figura 2 - Fissuras no paramento de montante. ........................................................................ 16

Figura 3 - Elementos componentes de uma barragem de gravidade de concreto (parte 1). ..... 20

Figura 4 - Elementos componentes de uma barragem de gravidade de concreto (parte 2). ..... 20

Figura 5- Rompimento das barragens em Mariana-MG. .......................................................... 24

Figura 6 - Fenômeno de fissuras e trincas. ............................................................................... 27

Figura 7 - Fissuras aleatórias (tipo "pele de crocodilo"). ......................................................... 28

Figura 8 - Lixiviação do concreto em barragem....................................................................... 29

Figura 9 - Carbonatação do concreto no teto da galeria de drenagem. .................................... 30

Figura 10 - Elevação do piso. ................................................................................................... 31

Figura 11 - Surgência de água em barragem de concreto......................................................... 31

Figura 12 - Buraco formado devido à erosão por cavitação. .................................................... 32

Figura 13 - Castanhão visto de cima. ....................................................................................... 37

Figura 14 - Trinca localizada no trecho do muro de abraço do bloco 13. ................................ 38

Figura 15 - Abertura da trinca de ± 1 cm localizada no trecho do muro de abraço do bloco 13

.................................................................................................................................................. 38

Figura 16 - Deslocamento da trinca ± 5 mm para montante localizada no trecho do muro de

abraço do bloco 13. ................................................................................................................... 39

Figura 17 - Reparo da trinca. .................................................................................................... 40

Figura 18 - Barragem de Jucazinho em período de estiagem. .................................................. 41

Figura 19 - Infiltrações a jusante da barragem ......................................................................... 41

Figura 20 - Patologias na galeria de inspeção da barragem ..................................................... 42

Figura 21 - Projeção de argamassa polimérica. ........................................................................ 42

Figura 22 - Obras da barragem Nova Camará .......................................................................... 43

Figura 23 - Ruptura envolvendo a entrada da galeria de drenagem. ........................................ 43

Figura 24 - Imperfeições no concreto favorecendo a percolação. ............................................ 44

Figura 25 - Vista da entrada da galeria ..................................................................................... 52

Figura 26 - Infiltrações nas paredes da galeria ......................................................................... 53

Figura 27 - Alteração da rocha na ombreira direita à montante ............................................... 53

Figura 28 - Aspecto da estrutura à jusante da ombreira direita. ............................................... 54

Figura 29 - Brechas deterioradas das juntas de dilatação. ........................................................ 54

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Figura 30 – Deterioração das juntas de dilatação. .................................................................... 55

Figura 31 - Evidências de execução inadequada quanto ao uso de formas e no adensamento do

concreto. ................................................................................................................................... 55

Figura 32 - Aberturas e desalinhamentos das juntas de dilatação. ........................................... 56

Figura 33 - Deterioração de estrutura no encontro do vertedouro com paramento de montante.

.................................................................................................................................................. 56

Figura 34 - Fissura nos degraus à jusante do vertedouro. ........................................................ 57

Figura 35 - Prolongamento do afastamento das juntas de dilatação no vertedouro. ................ 57

Figura 36 - Desagregação do concreto ..................................................................................... 58

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LISTA DE SIMBOLOS

SÍMBOLO SIGNIFICADO

fck

ANA

ABNT

DNIT

DNOCS

Resistência Característica do Concreto à Compressão

Agência Nacional de Águas

Associação Brasileira de Normas Técnicas

Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes

Departamento Nacional de Obras Contra as Secas

CCR Concreto Compactado a Rolo

ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis

DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral

PNSB Pesquisa Nacional de Segurança de Barragens

CREA Conselho Regional de Engenharia e Agronomia

CT Características técnicas

EC Estado de conservação

PS Plano de segurança de barragens

DPA Dano Potencial Associado

CRI Categoria de risco

DER-RN Departamento Estadual de Estradas e Rodagens do Rio Grande do

Norte

COTEC Consultoria Técnica Ltda

COMPESA Companhia Pernambucana de Saneamento

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 15

1.1. JUSTIFICATIVA .............................................................................................................. 15

1.2. OBJETIVOS (GERAL E ESPECÍFICOS) ........................................................................ 17

1.3. ESTRUTURA DO TRABALHO ...................................................................................... 17

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................... 19

2.1. BARRAGEM .................................................................................................................... 19

2.2. ELEMENTOS BÁSICOS DE UMA BARRAGEM DE CONCRETO DE GRAVIDADE19

2.3. BARRAGEM DE CCR ..................................................................................................... 21

2.4. CARACTERÍSTICAS DO CONCRETO COMPACTADO COM ROLOERROR! BOOKMARK NOT DEFINED.

2.5. HISTÓRICO ...................................................................................................................... 22

2.6. MANUTENÇÃO DE BARRAGENS ............................................................................... 24

2.7. ANOMALIAS EM BARRAGEM DE CONCRETO ........................................................ 25

2.7.1. FISSURAS OU TRINCAS ................................................................................. 26

2.7.2. DETERIORAÇÃO QUÍMICA .......................................................................... 28

2.7.3. LIXIVIAÇÃO OU DISSOLUÇÃO ................................................................... 28

2.7.4. CORROSÃO DA ARMADURA ....................................................................... 29

2.7.5. DESALINHAMENTOS E DESLOCAMENTOS DIFERENCIAIS ................. 30

2.7.6. INFILTRAÇÃO ................................................................................................. 31

2.7.7. ABRASÃO E CAVITAÇÃO ............................................................................. 31

2.8. TÉCNICAS USUAIS EM SERVIÇOS DE RECUPERAÇÃO DE ESTRUTURAS DE

CONCRETO ............................................................................................................................. 32

2.8.1. PROJEÇÃO DE ARGAMASSAS POLIMÉRICAS .......................................... 32

2.8.2. IMPERMEABILIZAÇÃO ................................................................................. 33

2.8.3. INJEÇÕES DE RESINAS QUÍMICAS ............................................................. 34

2.8.4. TIPOS DE SISTEMAS ...................................................................................... 35

2.9. RECUPERAÇÃO DE BARRAGENS NO BRASIL ......................................................... 37

2.9.1. BARRAGEM CASTANHÃO ............................................................................ 37

2.9.2. BARRAGEM DE JUCAZINHO ........................................................................ 40

2.9.3. BARRAGEM DE CAMARÁ ............................................................................. 43

2.10. POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA DE BARRAGENS ................................ 45

3. METODOLOGIA .............................................................................................................. 49

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3.1. PROCEDIMENTO EM CAMPO ...................................................................................... 49

4. ESTUDO DE CASO .......................................................................................................... 50

4.1. BREVE RELATO ............................................................................................................. 50

4.1.1. DADOS GERAIS ............................................................................................... 50

4.1.2. ESPECIFICAÇÕES TÉCNICO CONSTRUTIVAS .......................................... 51

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................................... 52

5.1. PATOLOGIAS IDENTIFICADAS ................................................................................... 52

5.2. ANÁLISE COMPARATIVA ............................................................................................ 58

5.3. AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE SEGURANÇA ................................................... 58

5.4. PLANO DE RECUPERAÇÃO DA BARRAGEM ........................................................... 59

5.4.1. PROPOSTA DE RECUPERAÇÃO ................................................................... 60

5.4.2. PARAMENTO DE MONTANTE ..................................................................... 61

5.4.3. PARAMENTO DE JUSANTE ........................................................................... 62

5.4.4. OMBREIRA DIREITA ...................................................................................... 62

5.4.5. GALERIA ........................................................................................................... 63

5.5. CLASSIFICAÇÃO DE BARRAGEM QUANTO À CATEGORIA DE RISCO E AO

DANO POTENCIAL ASSOCIADO ........................................................................................ 63

6. CONCLUSÕES .................................................................................................................. 65

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 66

ANEXOS..................................................................................................................................70

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1. INTRODUÇÃO

A barragem Passagem das Traíras, localizada no município de São José do Seridó –

RN, caracteriza-se como sendo uma barragem de gravidade de concreto compactado a rolo

(CCR). Sua estrutura apresenta algumas anomalias aparentes que merecem atenção pois

podem gerar instabilidade e, ao atingir sua lâmina máxima, oferecer risco de rompimento

colocando em risco à vida das pessoas que se localizam à jusante da barragem.

Figura 1 - Vista à jusante do barramento.

Fonte: Autor.

Dessa forma, é necessário um trabalho de avaliação, a fim de determinar as suas

patologias para que se possa ter conhecimento acerca das condições que ela se encontra, assim

como ser elaborado um plano de recuperação.

Para atender essas circunstâncias foi elaborado em setembro de 2010 a Lei 12.334, que

estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens. Essa lei determina a realização de

inspeções periódicas das barragens localizadas em todo o território nacional.

1.1. Justificativa

A estrutura da barragem aparenta ter um concreto de baixa qualidade. A massa de

concreto se desagrega em alguns pontos, levando a um prognóstico de durabilidade duvidosa

desse material. Além do mais, ela apresenta diversas fissuras, constatadas através de visita ao

local, e requerem estudos avaliativos sobre essas patologias. Em inspeções já realizadas por

alguns órgãos competentes, foi detectada também a presença de pontos de carbonatação no

interior da galeria, indicando que houve infiltração nos períodos que a barragem estava cheia.

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Logo, quando a barragem encher, existe risco de infiltração através da laje vertical de

montante, devido às péssimas condições estruturais do CCR, podendo comprometer a

segurança da barragem.

Figura 2 - Fissuras no paramento de montante.

Fonte: Autor.

Uma notícia divulgada no site da Agência Nacional das Águas (ANA), na data de

20/04/2018, relata que, desde dezembro de 2016, esta tem solicitado providências à Secretaria

de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do RN visando elaborar estudos sobre a estabilidade e

integridade da barragem, medidas corretivas e definição do nível d’água de segurança, além

do plano de segurança, plano de ação de emergência e um plano de contingência para o caso

de rompimento. A ANA afirma que nenhum desses estudos foi realizado.

Devido às chuvas ocorridas no início de 2018, a barragem que até o momento se

encontrava praticamente seca, passou a receber um volume considerável de água, fazendo

com que seu nível aumentasse. Em virtude do crescimento do nível d’água no período de

chuvas, aliado com a falta de conhecimento acerca das condições de segurança que ela se

encontra, foi necessário restringir o enchimento através da determinação de abertura das

válvulas caso o nível ultrapassasse à cota de 185 m, correspondente a 6% de sua capacidade, a

fim de reduzir a carga hidráulica e assim estabelecer um nível máximo de segurança.

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17

É válido destacar que a barragem já alcançou sua capacidade máxima várias vezes,

geralmente com grandes volumes d’água passando pelo vertedouro, provenientes do Rio

Seridó que nela deságua. Logo, se nenhuma providência for tomada, em um futuro período de

chuvas intensas que acabe ocasionando o escoamento de grande volume de água no Rio

Seridó, será inútil querer limitar o nível d’água na barragem apenas com a abertura das

válvulas, colocando em risco a vida das pessoas que moram a jusante da barragem, além de

prejuízos materiais e hídrico.

Dessa forma, justifica-se a emergencial necessidade de realização de estudos

avaliativos, assim como a implantação de ações de recuperação dessa barragem com o

propósito de evitar riscos de colapso. Além disso, numa região que sofre longos períodos de

estiagem, é inadmissível limitar o seu volume a 6% da capacidade por falta de ações de

recuperação da mesma. É preciso colocar a barragem nas suas condições seguras de

estabilidade, com o propósito de garantir o acúmulo de água para o abastecimento da

população que dela utiliza para o consumo, além de evitar que um colapso venha ocorrer.

1.2. Objetivos (geral e específicos)

O objetivo geral do trabalho é analisar as condições de segurança para verificação da

estabilidade global da barragem Passagem das Traíras e elaborar um plano de propostas para

um futuro projeto de recuperação.

Os objetivos específicos do trabalho são:

• Identificar as anomalias e suas possíveis consequências à segurança estrutural

e operacional da barragem;

• Classificar a barragem quanto à categoria de risco (CRI) e quanto ao dano

potencial associado (DPA) que ela oferece;

• Propor ações de controle para garantir um estado aceitável de segurança.

1.3. Estrutura do trabalho

O trabalho está dividido em seis capítulos, sendo este o primeiro, que aborda as

considerações iniciais, os objetivos e as justificativas do trabalho.

O capítulo 2 abrange a revisão bibliográfica sobre o tema em questão. Aborda sobre

as barragens de CCR, descrevendo seus principais elementos e características do material

utilizado. Além disso, traz uma abordagem de outras barragens de CCR brasileiras,

descrevendo alguns sistemas de recuperação já executados em suas estruturas, assim como a

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descrição de vários produtos disponíveis no Brasil que podem ser utilizados para corrigir

falhas estruturais em barragens. Além do mais, são abordadas algumas considerações sobre a

Lei 12.334/2010 e a criação da Política Nacional de Segurança de Barragens.

O capítulo 3 trata dos procedimentos utilizados em campo para a inspeção da

barragem, e consequentemente para a observação das anomalias em sua estrutura.

O capítulo 4 traz algumas informações da barragem em estudo, descrevendo suas

características, dados geográficos e técnicos construtivos.

O capítulo 5 compreende, inicialmente, a descrição das patologias presentes na

barragem. Após isso, descreve algumas medidas que devem ser adotadas para uma análise

precisa da estrutura, bem como a descrição de propostas de recuperação que,

preliminarmente, podem ser consideradas como medidas de correção das falhas a princípio

já verificadas na estrutura da barragem em estudo.

O capítulo 6 compreende as principais conclusões deste estudo, assim como algumas

recomendações para pesquisas posteriores.

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19

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Barragem

Conforme dispõe a lei nº 12.334, DE 20 de Setembro de 2010, em seu artigo 2º,

incisos:

I. Barragem: qualquer estrutura em um curso permanente ou temporário de água para

fins de contenção ou acumulação de substâncias líquidas ou de misturas de líquidos e

sólidos, compreendendo o barramento e as estruturas associadas;

II. Segurança de barragem: condição que vise a manter a sua integridade estrutural,

operacional e a preservação da vida, da saúde, da propriedade e do meio ambiente.

A barragem passagem das traíras caracteriza-se como sendo uma barragem de

gravidade de concreto compactado a rolo.

Barragens em concreto compactado com rolo (CCR) são construídas com concretos

com baixo teor de cimento e baixa resistência a tração. Este material é transportado,

depositado e compactado utilizando-se equipamentos usuais de pavimentação e construção,

mas com a mesma filosofia de projeto das barragens convencionais de gravidade. Enquanto

em barragens convencionais de concreto utilizam-se camadas de 2,5 m de altura de concreto

num intervalo que varia de 7 a 15 dias e compactadas por vibradores de imersão, na do CCR,

as camadas são depositadas com alturas de 30 a 60 cm, longas e contínuas, e consolidadas por

rolos vibradores.

2.2. Elementos básicos de uma barragem de concreto de gravidade

Os principais elementos – e que são relevantes para este trabalho – que compõem uma

barragem de concreto de gravidade serão apresentados nas Figuras 3 e 4 e descritos a seguir.

A introdução destes conceitos iniciais tem por objetivo uma melhor compreensão deste

trabalho por parte do leitor (TADS, [197?]; CARVALHO, 2011 apud MOURA, 2016).

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20

Figura 3 - Elementos componentes de uma barragem de gravidade de concreto (parte 1).

Fonte: MOURA (2016).

Figura 4 - Elementos componentes de uma barragem de gravidade de concreto (parte 2).

Fonte: MOURA (2016) – Adaptada pelo Autor.

I. Bacia de dissipação: estrutura de funcionamento predominantemente hidráulico, que

tem por função dissipar a energia cinética em excesso proveniente do escoamento da

água, de modo que tal energia não provoque danos em obras anexas ou erosões

inaceitáveis nos leitos a jusante do maciço da barragem.

II. Crista da barragem: corresponde à superfície superior da barragem. Sua largura deve

ser determinada de acordo com as necessidades de tráfego sobre ela. Deve possuir

uma largura mínima que garanta condições de acesso para serviços de manutenção.

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III. Extravasor/ Vertedouro: também é uma obra predominantemente hidráulica, que tem

por objetivo funcionar como um dispositivo de segurança, conduzindo a água de

forma segura, através de uma barreira, atuando como um sistema de escape,

impedindo, assim, a passagem da água por sobre a barragem quando ocorrerem chuvas

ou aumento de vazão. Pode servir ainda, como um sistema de medição de vazão.

IV. Galeria de drenagem: consiste em uma passagem no interior da barragem, utilizada

para realizar inspeções, operações, reparos de fundação e drenagem. As galerias

podem ser longitudinais ou transversais, a nível ou inclinadas.

V. Maciço da barragem (barragem): é a própria estrutura da barragem. Construído

transversalmente ao curso d’água, é a parte responsável por reter a água no

reservatório.

VI. Ombreiras: são as laterais do vale sobre as quais a barragem se apoia.

VII. Paramento de jusante: corresponde à superfície inclinada da barragem, voltada para o

lado oposto ao reservatório. O talude de jusante não vai estar diretamente em contato

com a água do reservatório, razão pela qual é conhecido como o talude “seco”.

VIII. Paramento de montante: corresponde à superfície vertical ou quase-vertical da

barragem que fica em contato com o reservatório. O talude de montante é a parte do

maciço que vai ficar diretamente em contato com a água do reservatório, de modo que

exige cuidados especiais para sua manutenção durante a fase de operação do

reservatório. Assim como para o paramento de jusante, a sua inclinação deve ser

definida através de cálculos de estabilidade.

IX. Reservatório: é o corpo d’água represado pela barragem.

2.3. Barragem de CCR

Existem vários tipos de barragem de concreto. Elas se diferenciam quanto o formato,

processo construtivo, características do concreto utilizado, além das estruturas funcionais

imprescindíveis à estabilidade da estrutura. A escolha desse método executivo leva em

consideração a rapidez na execução e a economia.

Concreto compactado com rolo (CCR) é definido como sendo um concreto de

consistência seca – ‘no slump’, aspecto arenoso com propriedades próprias, que é

transportado, espalhado e compactado de forma contínua, através de maquinários usualmente

aplicados em obras de terra e enrocamento (OLIVEIRA, 1995 apud MILANI FILHO, 2003).

De acordo com MILANI FILHO (2003) apud MOURA (2016), a utilização do CCR

na construção de barragens resultou em:

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• Diminuição dos custos pela utilização de equipamentos de terraplenagem;

• Diminuição do uso de formas e redução do prazo de execução;

• Baixo consumo de cimento – normalmente variando entre 80 a 120 kg/m³ de concreto

– utilizado na mistura do CCR faz com que as tensões térmicas que surgem no interior

da massa de concreto – associada à elevação de temperatura devido à hidratação do

cimento – se comparado com a gerada no concreto convencional, seja muito menor, o

que reduz o aparecimento de fissuras por retração e temperatura.

Numa barragem de CCR são empregados diversos tipos de concreto. Na parte em

contato direto com a água tem-se o chamado concreto convencional de face de montante

(CCV de face montante). Este deve ser um concreto de baixa permeabilidade que tem a

função de reduzir ao máximo a percolação de água através do maciço. (BARBOSA et al.,

2004).

A resistência característica à compressão do CCR deverá atingir um valor mínimo,

previamente estabelecido. Normalmente, os valores de compressão situam-se em torno de 8,0

MPa (fck), porém este valor é muito característico para cada projeto envolvendo o CCR

(MILANI FILHO, 2002).

Segundo ANDRIOLLO (2008), a resistência mínima requerida (fck) se situa na faixa

de 6 MPa a 10 Mpa, à idade de 90 dias a 1 ano.

2.4. Histórico

A primeira barragem no Brasil a empregar o método do CCR foi a Itaipu Binacional,

em 1978, porém, na ocasião, só foi utilizada essa tecnologia para execução das rampas de

acesso às fundações da estrutura de desvio. Nos anos seguintes até 1986 essa técnica

continuaria sendo empregada em algumas estruturas auxiliares de outras barragens brasileiras,

como foi o caso do preenchimento das galerias de desvio na barragem de São Simão em 1978

e na execução do muro direito da eclusa de navegação de Tucuruí em 1982 (MILANI FILHO,

2003 apud MOURA, 2016).

Porém, a primeira barragem executada em sua totalidade utilizando essa técnica foi a

barragem de Saco de Nova Olinda, na Paraíba, iniciada em julho de 1986 e concluída em

outubro desse mesmo ano. O volume total de CCR utilizado foi de 138000 m³, alcançando

picos de concretagem de 2500 m³/dia (MILANI FILHO, 2003 apud MOURA, 2016).

Sabendo que a barragem passagem das traíras foi construída em 1992, fica evidente o

curto período de experiência que se tinha acerca do uso dessa técnica no Brasil.

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O histórico legal sobre Segurança de Barragens no mundo remonta a décadas

passadas. Entretanto, nas últimas décadas houve uma crescente preocupação a respeito do

assunto e com a necessidade de uma maior participação do Estado brasileiro.

É fato que as barragens são de grande importância para o desenvolvimento de

qualquer sociedade (armazenamento de água para os diversos usos, regularização de vazão,

geração de energia, retenção de resíduos minerais e/ou industriais). Contudo, essas estruturas

podem aumentar a exposição da sociedade, das infraestruturas e dos locais existentes à jusante

daquelas, a níveis de riscos considerados relevantes (NEVES, 2016).

A inserção legal do Brasil na temática de Segurança de Barragens se deu com a

promulgação da Lei n.º 12.334, de 20 de setembro de 2010, quando os diversos órgãos

fiscalizadores foram inseridos no assunto como:

• Agência Nacional de Águas (ANA);

• Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL);

• Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)

e seus órgãos descentralizados;

• Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).

As instituições de inspeção tiveram que, de acordo com obrigações advindas da Lei

12.334/2010, criar Resoluções e Portarias com o fim de regulamentar alguns artigos da citada

legislação federal (NEVES, 2016).

As barragens são estruturas que, em caso de acidente, podem afetar vidas humanas,

bens materiais e ambientais. Por este motivo, entre outras medidas de controle de segurança,

as barragens estão sujeitas a um cuidadoso plano de observação, cuja complexidade depende

das características da estrutura em análise (BRETAS et al., 2014).

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Figura 5- Rompimento das barragens em Mariana-MG.

Fonte: GOVERNO FEDERAL. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/editoria/seguranca-e-

justica/2015/11/conheca-12-acoes-do-governo-para-enfrentar-os-impactos-da-tragedia-de-mg-e-es

Procedimentos para avaliar a segurança das barragens brasileiras são previstos na

forma de lei e de manuais. Esses artigos usualmente abrangem apenas estruturas de grande

porte. Cita-se como exemplo o Projeto de Lei n. 12.334/2010, que estabelece a Política

Nacional de Segurança de Barragens, o qual se restringe a barragens com altura igual ou

superior a 15 metros, do ponto mais baixo da fundação à crista, ou reservatórios com

capacidade de acumulação igual ou superior a três milhões de metros cúbicos.

2.5. Manutenção de barragens

Entende-se por manutenção o conjunto de ações e procedimentos necessários a

determinado bem material de forma a assegurar que ele continue atendendo as

funcionalidades ao qual foi projetado. De acordo com a ABNT NBR 5462/94, que trata sobre

define os termos relacionados com a confiabilidade e a mantenabilidade, manutenção pode ser

definida como a combinação de ações técnicas, administrativas e supervisionais destinadas a

um item de modo a mantê-lo ou recolocá-lo em condições de executar as funcionalidades

requeridas.

Com relação às barragens, a manutenção configura como aspecto relevantes para a

segurança das estruturas, visto que o surgimento de anomalias pode ocasionar falhas e

acidentes graves, envolvendo perdas materiais e humanas. Segundo ICOLD (2005), a

segurança delas tem sido controlada por abordagens convencionais embasadas em normas e

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constituem um meio efetivo de gestão de risco validado pelo histórico de projetos com

desempenho.

No intuito de reduzir custos de reparos e recuperações, as manutenções podem ser

classificadas em preditiva, preventiva e corretiva, de acordo com a gravidade do problema.

• Manutenção preditiva

Constitui um tipo manutenção que tem por finalidade localizar a ocorrência de falhas

em equipamentos e estruturas, indicando condições reais de funcionamento a partir de

instrumentação, monitoramento de dados e inspeções de campo.

A manutenção preditiva em barragens é realizada a partir de instrumentação e

inspeções de campo para monitoramento de dados, aferindo sobre os processos de desgaste,

degradação e vida útil da estrutura para posterior direcionamento e implementação de um

plano de recuperação dos danos. Isso contribui sobretudo para a segurança e redução de

custos.

• Manutenção preventiva

A manutenção preventiva consiste em procedimentos técnicos que se destina a evitar

problemas que possam afetar o funcionamento de equipamentos e estruturas, a partir de

intervenções programadas. Em referência às barragens, baseia-se em informações da

manutenção preditiva, ou seja, refere-se ao plano de ações realizadas periodicamente para

garantir a estabilidade da estrutura.

• Manutenção corretiva

A NBR 5462/2010 define manutenção corretiva àquela efetuada após a ocorrência de

uma pane destinada a recolocar um item em condições de executar uma função requerida.

Refere-se à correção de falhas em equipamentos e estruturas de modo a exercer com plena

capacidade a função ao qual foi designada. Configura como a mais grave forma de

manutenção, pois os prejuízos ocasionados para a sua execução refletem em ações

emergenciais ou programadas que demandam custo, tempo e investimento elevados. Em

barragens, uma vez detectada problemas ou má funcionamento dos equipamentos e estruturas,

em decorrência de deterioração e anomalias, será realizado um estudo técnico determinando

uma adequada solução para intervenção, considerando o potencial risco à segurança da

estrutura.

2.7. Anomalias em barragem de concreto

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As comumente chamadas deteriorações e atualmente denominadas - com o advento da

PNSB - anomalias de barragem são quaisquer manifestações, visual ou não, de alteração

negativa do comportamento da estrutura. De acordo com a Resolução ANA 742/2011,

anomalia é “qualquer deficiência, irregularidade, anormalidade ou deformação que possa vir a

afetar a segurança da barragem, tanto a curto como em longo prazo”. A anomalia é, portanto,

a constatação do comportamento anormal da estrutura. É a constatação que determina a

tomada de ação para a recolocação da estrutura em estado normal de operação e o grau de

intensidade da intervenção necessária. As barragens têm que ser estruturas estáveis e

estanques, ou pelo menos permeáveis até o possível. As principais deteriorações estão ligadas

a esses dois aspectos, de maneira geral. Algumas anomalias podem acometer, também, o

funcionamento de determinadas estruturas adjacentes, como vertedouros e condutos.

2.7.1. Fissuras ou trincas

A trinca é uma fratura linear no concreto. Podem se desenvolver parcial ou

completamente ao longo de um elemento estrutural, não havendo uma separação nítida e

indiscutível entre trincas e fissuras, tendo essas últimas aberturas menores (LAPA, 2008).

Ainda segundo LAPA (2008), as trincas e fissuras podem surgir na fase plástica em

virtude da retração e assentamento plástico, na fase de endurecimento relacionadas à

movimentação térmica, retração precoce e assentamento diferencial dos pisos e na fase de

concreto endurecido são causadas por subdimensionamento, detalhamento inadequado,

ausência de cuidados indispensáveis na construção, cargas excessivas, ataques de sulfatos ao

concreto e a corrosão de armaduras.

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Figura 6 - Fenômeno de fissuras e trincas.

Fonte: ANA (2013).

A deterioração por fissuras evidencia-se com a fratura do concreto, dividindo a peça

estrutural, internamento ou externamente, em duas ou mais partes. Ressalta-se que a abertura

de fissuras facilita a ação de agentes patológicos.

As barragens de concreto devem resistir às pressões hidrostáticas provenientes do

reservatório, sendo que a água, em determinados casos, pode adentrar na fissura ou junta de

construção, provocando deslizamento ou tombamento de elementos da barragem.

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Existem diversos mecanismos geradores de tensões a saber: movimentos internos do

concreto (retração por secagem, expansão ou contração térmica e reações químicas) e

condições externas (carregamentos ou deformações). De maneira geral, a fissuração origina-

se de causas variadas que atuam sozinhas ou conjuntas.

2.7.2. Deterioração química

As reações químicas que provocam a degradação do concreto podem ser resultantes de

interações químicas entre agentes agressivos presentes no meio ambiente externo e os

constituintes da pasta de cimento ou podem resultar de reações internas, tipo reação álcali

agregado, ou da reação da hidratação retardada CaO e MgO cristalinos, se presentes em

quantidades excessivas no cimento Portland, ou ainda, da corrosão eletroquímica da armadura

do concreto. Convém ressaltar que as reações químicas se manifestam através de deficiências

físicas do concreto, tais como aumento da porosidade e da permeabilidade, diminuição da

resistência, fissuração e lascamento (DNIT 090/2006).

Figura 7 - Fissuras aleatórias (tipo "pele de crocodilo").

Fonte: ANA (2013).

Em barragens, a ocorrência desse efeito está relacionada aos deslocamentos

diferenciais, fechamento de juntas na crista, além de emperramento ou deslocamento de

elementos mecânicos (comportas, grades, etc). Apesar da deterioração por sulfatos não ser

comum em barragens, é uma das principais causas dessa patologia no concreto, levando a

formação de um produto altamente expansivo, tornando-o friável, de baixa resistência e

susceptível a agentes patológicos.

2.7.3. Lixiviação ou dissolução

Consiste na dissolução progressiva de compostos facilmente solúveis da pasta de

cimento endurecido que podem ser lavados pela passagem contínua da água, verificando-se

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perda de material. Manifestações visíveis dessas patologias são as eflorescências (manchas

brancas pontuais ou lineares), ocasionadas pela lixiviação do hidróxido de cálcio do cimento

que, em contato com o gás carbônico do ar, carbonata pela percolação de água através dos

poros, fissuras ou juntas do concreto. Ressalta-se ainda que a coloração das eflorescências

pode ser proveniente da corrosão do aço da armadura ou de carreamento de matéria orgânica

ou argila.

Figura 8 - Lixiviação do concreto em barragem.

Fonte: ANA (2013).

2.7.4. Corrosão da armadura

Processo resultante da interação de um material com o meio ambiente, acarretando

reações de natureza química ou eletroquímica, associadas ou não a ações físicas ou

mecânicas, levando a destruição do material em questão. Nas armaduras em concreto, este

problema se manifesta em manchas superficiais, fissuras, destacamento do cobrimento de

concreto da ferragem e perda de massa das armaduras, resultando em redução na secção de

seus componentes. A corrosão ocorre quando o concreto é permeável o suficiente para permi-

tir que íons penetrem até a armadura, estes íons, juntamente com água e oxigênio, dão início

ao processo de corrosão (SOARES; VASCONCELOS; NASCIMENTO, 2015).

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Figura 9 - Carbonatação do concreto no teto da galeria de drenagem.

Fonte: ANA (2013).

Normalmente facilitada por falhas construtivas de barragens de concreto, a corrosão da

armadura são defeitos que, a priori, não apresentam risco para a estrutura, mas a longo prazo,

caso não aja reparos, pode facilitar a ação de agentes agressivos.

2.7.5. Desalinhamentos e deslocamentos diferenciais

Segundo ANA (2013), trata-se de movimentações relativas da estrutura em relação a

posição original. Os deslocamentos de uma barragem de concreto podem ser do tipo

desalinhamento, que consiste na variação em relação à configuração estrutural original, e

deslocamento diferencial relacionado a movimentações em relações às partes adjacentes. A

ocorrência desses fenômenos está relacionada com recalques de fundações, subpressões,

reações químicas, solicitações excepcionais e efeitos térmicos. As principais consequências

são desalinhamento ou quebra de equipamentos e estruturas, além de fissuras estruturais.

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Figura 10 - Elevação do piso.

Fonte: ANA (2013).

2.7.6. Infiltração

Trata-se de fluxo de água existente na estrutura que se dá através de juntas, fissuras ou

aberturas. As principais causas dessas ocorrências são fissuração, juntas e tubulações

ineficientes e mal vedadas, além de concreto deteriorado. Essa patologia está correlacionada

com o nível de água do reservatório e com a temperatura do meio.

Figura 11 - Surgência de água em barragem de concreto.

Fonte: ANA (2013).

2.7.7. Abrasão e cavitação

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A abrasão é o processo que causa desgaste superficial no concreto por esfregamento,

enrolamento, escorregamento ou fricção constante, sendo particularmente importante no

estudo do comportamento de pisos industriais, pavimentos rodoviários e de pontes (BAUER,

2002 apud LAPA, 2008).

A resistência superficial e a dureza do concreto influenciam o desgaste por abrasão. A

utilização de agregados graúdos mais resistentes e o aumento da resistência à compressão,

elevam a sua resistência à abrasão (ALMEIDA, 2000 apud LAPA, 2008).

A erosão é importante para as estruturas sujeitas ao desgaste pelo escoamento das

águas, sendo necessário separar o desgaste provocado pelo carreamento de partículas finas

pela água dos estragos causados pela cavitação. Enquanto a erosão é o desgaste causado pela

passagem abrasiva dos fluidos contendo partículas finas suspensas, a cavitação é a degradação

da superfície do concreto causada pela implosão de bolhas de vapor de água quando a

velocidade ou direção do escoamento sofre uma mudança brusca (ANDRADE, 1992 apud

LAPA, 2008).

Figura 12 - Buraco formado devido à erosão por cavitação.

Fonte: ANA (2013)

2.8. Técnicas usuais em serviços de recuperação de estruturas de concreto

A recuperação consiste em intervenções na estrutura que tem o objetivo de restaurar o

desempenho original que foi perdido devido à deterioração. A escolha da técnica de

recuperação mais adequada deve ser realizada após uma avaliação criteriosa, analisando os

problemas patológicos apresentados pela estrutura, além de fatores como disponibilidade

tecnológica e relação custo/ benefício (SANTOS, 2017).

2.8.1. Projeção de argamassas poliméricas

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A técnica consiste na projeção de argamassas poliméricas com a finalidade de revestir

e proteger a estrutura, além de acabamento estético. Apresenta como características

principais: proteção do substrato, impermeabilização e recuperação estrutural.

O reparo com argamassa é indicado para pequenas profundidades (até 5,0 cm), para

áreas de superfícies tanto grandes quanto pequenas, e deve ser empregada em casos onde

apenas a camada de concreto de cobrimento das armaduras apresenta deterioração (SOUZA;

RIPPER, 1998 apud SANTOS, 2017).

A adição de polímeros à argamassa confere ao material uma menor permeabilidade e

maior capacidade de aderência ao concreto endurecido. Atualmente, as argamassas

poliméricas mais conhecidas são as industrializadas, adicionadas de adesivo acrílico ou

polímeros PVA. No entanto, como a argamassa com PVA apresenta restrições e não pode ser

aplicada em ambientes externos e sem contato com água, a argamassa com adesivo acrílico é

o mais utilizado. O uso da argamassa convencional com adição de polímeros é indicado para

reparos superficiais em grandes áreas e reparos semiprofundos, e para recobrir as armaduras

que já foram recuperadas, enquanto a argamassa seca polimérica é utilizada para reparos

profundos (SANTOS, 2017).

A argamassa epoxídica é aquela que tem a resina epoxídica como aglomerante. Como

este material possui alta resistência mecânica, ele é recomendado para recuperar elementos

estruturais que sofrem exposição a agentes agressivos e reparos onde é necessário liberar a

estrutura poucas horas após o serviço (SOUZA; RIPPER, 1998 apud SANTOS, 2017).

Existem muitas vantagens das quais concretos e argamassas poliméricas podem

oferecer para a qualidade final dos produtos, dentre elas destacam-se: grande estabilidade

dimensional, cura rápida, alta resistência estática e dinâmica, baixo coeficiente de expansão,

boas propriedades mecânicas, excelente durabilidade e resistência à corrosão (MOTTA,

2014).

2.8.2. Impermeabilização

Conjunto de operações e técnicas construtivas (serviços), composto por urna ou mais

camadas, que tem por finalidade proteger as construções contratação deletéria de fluidos, de

vapores e da umidade (ABNT NBR 9575/2010).

a. Manta de PVC: As membranas flexíveis de PVC são fabricadas a partir de um

composto virgem de PVC, aditivos especiais, plastificantes, estabilizadores, etc., que

conferem à resina básica algumas propriedades particulares de flexibilidade,

resistência aos raios ultravioleta (as membranas resistentes aos raios ultravioleta

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passam por um tratamento específico em sua fabricação para atenderem a essa

finalidade) e ainda resistência química, podendo-se obter materiais especiais para

diferentes aplicações de impermeabilização. São geralmente fornecidas em rolos, que

são facilmente instalados nas estruturas, considerando a soldagem térmica eficaz e

controlada (mediante a utilização de equipamentos especiais de ar quente) entre as

faixas de membranas sobrepostas. A longevidade do sistema é uma importante

diferença em relação aos sistemas tradicionais de impermeabilização onde a vida útil,

em média, não atinge sequer a metade da dos sistemas de mantas flexíveis de PVC de

alto desempenho e as manutenções periódicas são bem mais frequentes para que esses

sistemas continuem mantendo sua funcionalidade (OLIVEIRA, 2006).

b. Geomembrana de PVC: é um sistema que apresenta desempenho eficiente como

vedajunta externo em juntas de contração de barragens de CCR novas e no reparo de

juntas deficientes e/ou fissuras em barragens de CCR e em barragens de gravidade

(SCUERO et al., 2003).

c. Sistemas cristalizantes: Consiste em um sistema cuja finalidade é impermeabilização,

cristalizando poros e capilares do concreto, conduzindo a um selamento permanente e

protegido de intempéries. São características desse tipo de impermeabilização:

• Aplica-se a estruturas de concreto, conferindo impermeabilidade através de

uma estrutura cristalina que incorporado ao material, torna-se componente da

estrutura;

• Ausência de deterioração, pois não é possível danificá-lo (rasgo, furo, etc);

• Vida útil prolongada e semelhante a vida útil do concreto;

• Reação na presença de água, promovendo proteção alcalina da estrutura e

armadura;

• Resistência a variação de pressão (positiva e negativa), além de não ser tóxico.

2.8.3. Injeções de resinas químicas

Os sistemas de injeção consistem da aplicação de procedimentos para tratamento de

defeitos e falhas nas estruturas de concreto, através da escolha criteriosa dos produtos a serem

utilizados, o que requer um preciso conhecimento da causa do problema e das condições e

características especificas de cada peça estrutural (ALMEIDA JUNIOR, 2003).

Destinadas principalmente ao selamento flexível de fissuras; recomposição da

monoliticidade das estruturas; estancamento de infiltrações em fissuras, juntas de

concretagem e juntas de dilatação; tratamento de defeitos no concreto e pontos de segregação,

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os sistemas de injeção com materiais de alta qualidade, desempenho e durabilidade

representam a melhor solução para a recuperação e proteção de estruturas (ALMEIDA

JUNIOR, 2003).

As injeções sempre são aconselhadas tecnicamente quando encontramos no concreto

fissuras das mais diversas origens e juntas (dilatação ou concretagem), principalmente, que

apresentam falhas de funcionamento e permeabilidade à água ou a presença de outros

elementos contaminantes à estrutura. A resina por possuir viscosidade mais baixa permite à

penetração na estrutura, dessa forma selando a mesma e não permitindo a entrada de

elementos contaminantes (DE PAULA et al., 2015).

Esses sistemas são considerados atualmente como as melhores soluções para

recomposição da estanqueidade e reconstituição da monoliticidade e capacidade resistente das

estruturas de concreto, inclusive para o estancamento de água com elevadas pressões e

vazões, problemas que ocorrem com bastante frequência em estruturas de concreto de

barragens e usinas hidrelétricas (DE PAULA et al., 2015).

2.8.4. Tipos de sistemas

Os sistemas de injeções dividem-se em rígidos e flexíveis, apresentando características

distintas de acordo com a patologia apresentada.

A opção de utilização de sistemas rígidos deverá ser feita quando a origem da fissura

for estrutural, nesse caso optamos por materiais que depois de endurecido possam transferir os

esforços solicitantes da estrutura, sejam de cisalhamento, torção ou compressão visando

manter a estabilidade da peça estrutural restaurando a sua capacidade inicial. Os sistemas

flexíveis são utilizados quando necessitamos de selamento das fissuras e juntas (dilatação ou

concretagem) e impermeabilização das estruturas (DE PAULA et al., 2015).

2.8.4.1. Impermeabilização e selamento de fissuras

A impermeabilização visa tornar estanques as estruturas com vazamentos ou

infiltrações por fissuras e juntas de movimentação. Os sistemas mais usados são à base de

poliuretano hidroativado e gel de poliuretano. Um avanço mais recente são as injeções à base

de gel acrílico, também conhecida como hidroestruturados, que forma uma membrana

flexível, em pouco tempo devido ao rápido tempo de reação, impermeabilizando estruturas

abaixo do lençol freático. Em casos de grandes vazões e elevadas pressões através de orifícios

maiores os poliuretanos rígidos têm apresentado sucesso no estancamento das infiltrações (DE

PAULA et al., 2015).

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2.8.4.2. Recomposição estrutural

O tratamento estrutural visa recompor as condições iniciais de suporte da estrutura e

dos esforços resistentes do concreto estrutural. Para que a estrutura volte a ser monolítica, é

necessária a injeção de materiais de altas resistências mecânicas nas fissuras das peças. Esses

materiais são rígidos e, portanto, não podem ser aplicados em fissuras ativas. Resinas à base

de epóxi, poliuretano rígido e microcimento são os materiais disponíveis atualmente para essa

finalidade (DE PAULA et al., 2015).

Segundo ALMEIDA JUNIOR (2003), os produtos indicados dependem das condições

estruturais:

• Fissuras Secas (até 6% de umidade): recomenda-se o microcimento (cimento aditivado

ultra-fino) e a resina epóxica;

• Fissuras Úmidas: recomenda-se apenas injeção de microcimento. O desempenho de

resinas epóxicas, neste caso, sofrem dano ao seu desempenho devido a umidade.

2.8.4.3. Principais produtos de injeção

2.8.4.3.1. Resinas de epóxi

As resinas de epóxi injetadas em fissuras apresentam baixa viscosidade, além de serem

eximidas de solvente.

Apresentam propriedades mecânicas superiores a qualquer resina, resistência à

compressão de 80 a 100 MPa e resistências à tração entre 40 à 60 MPa. Permite o

preenchimento de fissuras a partir de 0,1 mm devido à baixa viscosidade. Em fissuras mais

largas, esta propriedade garante o completo preenchimento da fissura sem deixar qualquer

vazio. É executada utilizando-se as mesmas bombas de injeção de alta pressão e através de

injetores metálicos de perfuração ou adesão utilizados para injeção de poliuretano (TAKAGI;

ALMEIDA JUNIOR, 2002 apud MOURÃO, 2010).

2.8.4.3.2. Microcimento

As principais vantagens destes produtos são a insensibilidade ao nível de umidade

existente na estrutura do concreto. A pasta de microcimento é composta por cimentos

especiais para injeção e enrijecimento de peças estruturais de concreto ou alvenaria, e pode

ser injetado em fissuras com uma abertura acima de 0,6 mm. As injeções de micro cimento

são executadas por bombas de duplodiafragma de baixa pressão, através de injetores plásticos

(TAKAGI; ALMEIDA JUNIOR, 2002 apud MOURÃO, 2010).

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2.8.4.3.3. Gel acrílico

O gel acrílico deve apresentar baixa viscosidade para a boa injetabilidade, controle de

reação para se espalhar por detrás da estrutura e percolar na interface rocha/concreto e

solo/concreto. As principais características são: flexibilidade, baixa viscosidade,

hidroestruturada, excelente aderência ao substrato de concreto, mesmo com fluxo d’água e

grande durabilidade (DE PAULA et al., 2015).

2.9. Recuperação de barragens no brasil

2.9.1. Barragem Castanhão

A barragem Castanhão é o maior reservatório para múltiplos usos (abastecimento

humano, agricultura, pesca, piscicultura e lazer, exceto hidrelétrica) da América Latina.

Localizada no Estado do Ceará, o reservatório que barra o rio Jaguaribe tem capacidade

máxima de 6,7 bilhões m³, sendo 4,2 bilhões de m³ seu volume útil. Trata-se de uma

barragem de terra-concreto em operação desde 2003 de propriedade do Departamento

Nacional de Obras contra as Secas (DNOCS).

Figura 13 - Castanhão visto de cima.

Fonte: O POVO. Disponível em: < https://www.opovo.com.br/jornal/cotidiano/2018/01/espelho-d-agua-baixa-

em-media-4-centimetros-a-cada-dia.html>.

Em virtude do período de estiagem e, consequente, rebaixamento do reservatório

(cota 91,6 m ou 33%), o corpo técnico do DNOCS identificou visualmente uma trinca

vertical à montante do muro de abraço do vertedouro. O fato veio à tona no ano de 2016

através da imprensa e o problema gerou preocupação da população e das autoridades.

A trinca apresenta, em uma grande extensão, uma abertura bastante elevada e o

deslocamento de um de seus bordos no sentido de montante. A mesma, está localizada no

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trecho do muro de abraço do bloco 13 e próximo da junção desse muro com o vertedouro,

tendo o sentido subvertical, que se admite tenha tido o seu início junto à rocha da fundação,

prosseguindo até o NA máximo que foi atingido pelas águas desse reservatório (BAIMA,

2017).

Figura 14 - Trinca localizada no trecho do muro de abraço do bloco 13.

Fonte: DNOCS (2015).

A fissura, no trecho imediatamente acima do terreno, e até aproximadamente 10 m

acima dele, apresenta uma grande abertura (± 1 cm) e com um dos bordos projetado para

montante (da ordem de 0,5 cm), como pode ser observado nas Figuras 14 e 15 (BAIMA,

2017).

Figura 15 - Abertura da trinca de ± 1 cm localizada no trecho do muro de abraço do bloco 13.

Fonte: DNOCS (2015).

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Figura 16 - Deslocamento da trinca ± 5 mm para montante localizada no trecho do muro de

abraço do bloco 13.

Fonte: DNOCS (2015).

Segundo DNOCS (2015), o surgimento da trinca pode ter iniciado durante a

construção do muro de abraço, sendo o desnível da fundação a principal causa do seu

surgimento e como soluções o uso de junta de contração transversal ou chavetas nas

juntas. Ainda afirma que outros fatores favoreceram a evolução das trincas e

deslocamento dos bordos.

DNOCS (2015) relata que a propagação da fissura em direção à fundação e crista

do muro deve-se ao:

• Acréscimo do peso do muro, em virtude do prosseguimento da concretagem, e das

tensões de tração no entorno da fissura, ocasionando aumento da fissura;

• Avanço da retração do concreto ao longo do tempo em decorrência da hidratação

do cimento e redução de água do concreto;

• Em razão da submersão do talude de montante, em períodos de cheias, ocorreu

expansão do concreto, enquanto que o talude de jusante, manteve-se estável. Em

consequência disso, houve deformação e empenamento do vertedouro de

montante. O reflexo desse fenômeno pode ser observado na fissura/trinca,

provocando deslocamento diferencial entre os bordos.

CREA (2016) discorre sobre a presença de tipos distintos de concreto (diferentes

resistências e presença ou ausência de armadura) na região fissurada, favorecendo o

trabalho individual no que se refere a deformações, dilatações térmicas e higroscópicas,

reações de subpressão e empuxo.

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No trecho da fissura sob o terreno, foi feita uma escavação, verificando-se que a

mesma prosseguia no trecho enterrado do bloco, sendo do tipo esparsa, de pequena

abertura e sem sentido definido, mas que não chegava a atingir o nível da rocha de

fundação. Como a fissura se encontrava em uma superfície do concreto que ficará

futuramente coberta por aterro e, portanto, sem apresentar variações volumétricas, o

tratamento consistiu apenas na sua vedação, utilizando para tanto um produto

cristalizante. No trecho da fissura acima do nível do terreno, a vedação foi realizada

através da aplicação de gel de poliuretano (BAIMA, 2017).

Figura 17 - Reparo da trinca.

Fonte: BAIMA (2017).

2.9.2. Barragem de Jucazinho

A barragem de Jucazinho, construída em 1998, é o maior reservatório para usos

múltiplos do estado de Pernambuco. A estrutura feita em CCR, com 70 m de altura e 430 de

largura, acumula as águas do rio Capibaribe, tem capacidade para 327 milhões de m³ e atende,

em média, 800 mil pessoas em 15 municípios.

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Figura 18 - Barragem de Jucazinho em período de estiagem.

Foto: Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa). Disponível em:

<https://servicos.compesa.com.br/barragem-de-jucazinho-continua-sem-acumular-agua/>.

As principais patologias localizadas foram fissuras leves em todo barramento de

montante, fissuras estruturais nas ombreiras e juntas estruturais ineficientes. Esses problemas,

aliados aos longos períodos de estiagem do clima semiárido, provocaram infiltrações, além de

deterioração e descamação do concreto.

Figura 19 - Infiltrações a jusante da barragem

Foto: Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU). Disponível em:

<https://auditoria.cgu.gov.br/download/10211.pdf>

Observou-se também acentuado processo de lixiviação e carbonatação, além do CCR

presente no núcleo da barragem apresentar-se altamente poroso e permeável, contribuindo

para agravamento de patologias. Problemas de concentração de umidade, paredes de concreto

danificadas e desabamento do teto devido a corrosão e ausência de armaduras poderiam ser

vistos na galeria de inspeção.

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Figura 20 - Patologias na galeria de inspeção da barragem

Fonte: Infraestrutura Urbana. Disponível em: < http://infraestruturaurbana17.pini.com.br/>

Com relação à recuperação, o projeto abrangeu a estrutura de paramento vertical e da

base da barragem a partir do uso de estacas injetadas. Para tratamento das fissuras e redução

da permeabilidade da superfície de concreto, fez uso de resina de poliuretano flexível, selante

aplicado por pulverização, e argamassa cimentícia modificada por polímero. Na galeria de

inspeção, utilizou-se concreto projetado com aditivos cristalizantes que, incorporado ao

concreto, impermeabiliza e protege a estrutura contra ação de agentes patológicos. Por fim,

deu-se a substituição de juntas longitudinais, pontos de concentração de tensão, de modo a

suportar a pressão hidrostática.

Figura 21 - Projeção de argamassa polimérica.

Fonte: Penetron Brasil LTDA. Disponível em: < http://penetron.com.br/barragem-do-jucazinho-

surubim-pe/>

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2.9.3. Barragem de Camará

A barragem de Camará, localizada entre os municípios de Alagoa Nova e Areia na

Paraíba, é um reservatório do tipo gravidade em CCR, no leito do rio Riachão, com

capacidade de armazenamento de 26,5 milhões de m³.

Figura 22 - Obras da barragem Nova Camará

Fonte: PB Hoje. Disponível em: < http://www.pbhoje.com.br/noticias/19315/governo-ricardo-coutinho-entrega-

obras-de-reconstrucao-da-barragem-nova-camara.html>

O comportamento atípico das chuvas a partir de janeiro de 2004 em todo o nordeste

brasileiro fez com que o nível de armazenamento da barragem se elevasse mês a mês,

chegando a alcançar um volume de aproximadamente 67% do volume máximo acumulável na

data da ruptura do conjunto estrutural rochoso formador da ombreira esquerda, na noite de 17

de junho de 2004, liberando grande parte dos cerca de 18,5 milhões de m3 armazenados,

fazendo 6 vítimas fatais e provocando imensos prejuízos nas zonas rural e urbana dos

municípios de Alagoa Grande (PB) e Mulungú (PB), com sedes municipais localizadas na

margem do rio Riachão afluente do rio Mamanguape, na região do brejo paraibano

(SARMENT; MOLINAS, 2004).

Figura 23 - Ruptura envolvendo a entrada da galeria de drenagem.

Fonte: Ministério Público da Paraíba. Disponível

em:<http://www.prpb.mpf.mp.br/news/1docs/Camara/r1_PARECER_TECNICO_M_KANJI_min_pub_PB.pdf>

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O acidente ocorreu por conta de uma má interpretação de um problema geológico que

se tentou sem sucesso corrigir; que a barragem foi construída por firmas consorciadas que,

pela legislação não poderiam fazê-lo; que houve indefinição de responsabilidades com o

proprietário omitindo-se completamente da fiscalização; que mais de 8 mil metros cúbicos de

concretos lançados foram dosados com pá carregadeira; que ao final da construção não se

tinha ensaios suficientes para uma análise estatística consistente das resistências dos

concretos; que o paramento de montante apresentou-se muito permeável; que a barragem

antes mesmo de ser entregue já apresentou defeitos; que com a subida da água no lago

evidenciou-se o mal funcionamento da barragem; que o Proprietário não se mobilizou para

acompanhar o primeiro enchimento e foi muito lento em tomar as providências para correção

das patologias; que se a tubulação de 800 mm tivesse sido aberta a tempo a água poderia não

ter atingido o nível que provocou a ruptura (BARBOSA et al., 2004).

Figura 24 - Imperfeições no concreto favorecendo a percolação.

Fonte: Ministério Público da Paraíba. Disponível em:

<http://www.prpb.mpf.mp.br/news/1docs/Camara/r1_PARECER_TECNICO_M_KANJI_min_pub_PB.pdf>

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Sobre a reconstrução de Camará o Governo do Estado da Paraíba e o Governo Federal,

através no Ministério da Integração Nacional, assinaram um convênio no dia 26 de setembro

de 2011 para garantir os recursos para as obras de reconstrução da barragem Camará e dos

demais sistemas de distribuição de água ligados ao empreendimento. Atualmente, estão sendo

finalizados os serviços de montagem dos equipamentos das tomadas d’água e os serviços de

injeção de cimento, faltando apenas executar a montagem de instrumentação de

monitoramento da barragem (MARIANO NETO et al., 2017).

2.10. Política nacional de segurança de barragens

O risco de falha de barragens é um dos pesos inevitáveis que a humanidade deve

carregar. Os programas de segurança de barragens são de vital importância para toda a

sociedade e clama por talentos multidisciplinares, ou seja, engenheiros têm que trabalhar em

conjunto, como por exemplo, com geólogos e especialistas em sismos. Ações coordenadas

podem ajudar a redução de incertezas, mas devido à dificuldade de se aliar visões distintas,

nem toda falha de barragem pode ser evitada (JANSEN, 1983 apud ZUFFO, 2003).

Dentre as várias normas pertinentes ao tema, destaca-se a Lei federal nº 12.334/10,

que trata especificamente da Política Nacional de Segurança de Barragens e conceitua

“segurança de barragem” como sendo a “condição que vise manter a sua integridade estrutural

e operacional e a preservação da vida, da saúde, da propriedade e do meio ambiente” (art. 2º,

inciso III) (LAMEGO; DEZOLT, 2016).

Essa lei aplica-se a barragens que atendem aos seguintes critérios técnicos:

I. Altura do maciço, contada do ponto mais baixo da fundação à crista, maior ou igual a

15m (quinze metros);

II. Capacidade total do reservatório maior ou igual a 3.000.000m³ (três milhões de metros

cúbicos);

III. Reservatório que contenha resíduos perigosos conforme normas técnicas aplicáveis;

IV. Categoria de dano potencial associado, médio ou alto, em termos econômicos, sociais,

ambientais ou de perda de vidas humanas, conforme definido no art. 6º.

São objetivos da lei 12.334/10 sobre Política Nacional de Segurança de Barragens:

I. Garantir a observância de padrões de segurança de barragens de maneira a reduzir a

possibilidade de acidente e suas consequências;

II. Regulamentar as ações de segurança a serem adotadas nas fases de planejamento,

projeto, construção, primeiro enchimento e primeiro vertimento, operação, desativação

e de usos futuros de barragens em todo o território nacional;

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III. Promover o monitoramento e o acompanhamento das ações de segurança empregadas

pelos responsáveis por barragens;

IV. Criar condições para que se amplie o universo de controle de barragens pelo poder

público, com base na fiscalização, orientação e correção das ações de segurança;

V. Coligir informações que subsidiem o gerenciamento da segurança de barragens pelos

governos;

VI. Estabelecer conformidades de natureza técnica que permitam a avaliação da

adequação aos parâmetros estabelecidos pelo poder público;

VII. Fomentar a cultura de segurança de barragens e gestão de riscos.

Para Categoria de Risco têm-se os critérios (ANDERÁOS; ARAÚJO; NUNES, 2013):

1. Características técnicas (CT), Quadro 1;

2. Estado de conservação (EC), Quadro 2;

3. Plano de Segurança da Barragem (PS), Quadro 3.

4. Para Dano Potencial Associado (DPA), que teve incorporado o volume do reservatório

como um de seus parâmetros, tem-se a Quadro 4.

Em cada uma dessas quatro tabelas há descrição dos parâmetros e suas condições com

as respectivas pontuações a atribuir no julgamento de cada barragem. As pontuações obtidas

são somadas por critério, com o objetivo de classificar a barragem quanto a categorias de

risco e dano potencial associado, em alto, médio ou baixo. Essas faixas de classificação estão

estabelecidas no Quadro 5 (ANDERÁOS; ARAÚJO; NUNES, 2013).

Quadro 1 - Características técnicas (CT).

Fonte: ANDERÁOS; ARAÚJO; NUNES (2013).

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Quadro 2 - Estado de conservação (EC).

Fonte: ANDERÁOS; ARAÚJO; NUNES (2013).

Quadro 3 - Plano de Segurança da Barragem (PS).

Fonte: ANDERÁOS; ARAÚJO; NUNES (2013).

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Quadro 4 - Dano Potencial Associado (DPA).

Fonte: ANDERÁOS; ARAÚJO; NUNES (2013).

Quadro 5 - Classificação das barragens para acumulação de água.

Fonte: ANDERÁOS; ARAÚJO; NUNES (2013).

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3. METODOLOGIA

Quanto a metodologia utilizada, foi iniciada com a caracterização da área de estudo,

através de dados geográficos e dados técnicos construtivos, a fim de se obter as principais

características da barragem. Em seguida, na revisão, foi elaborado um estudo das normas

técnicas, manuais e legislação vigente a fim de se determinar quais os critérios que se

enquadram para uma avaliação em uma barragem desse tipo.

Posteriormente, em visitas a campo, e com o emprego de registros fotográficos, que

fez parte do acervo técnico do trabalho, foram identificadas as anomalias que visivelmente

puderam ser detectadas.

Após esses estudos, foram feitas as análises de relatórios técnicos de inspeção já

elaborados comparando com as patologias observadas e incorporando no trabalho as não

identificadas. Com isso, obteve uma explanação geral das várias patologias existentes. Em

seguida foram estudadas e sugeridas medidas que podem ser estabelecidas a fim de recuperar

a integridade dos elementos estruturais da barragem.

3.1. Procedimento em campo

Foram realizadas visitas com o objetivo de inspecionar e assim identificar anomalias e

o aspecto do barramento. As inspeções foram realizadas levando em consideração as

recomendações do Manual de Segurança e Inspeções de Barragens.

Seguindo os procedimentos do Manual de Segurança e Inspeção de barragens, o

procedimento de inspeção consistiu basicamente em caminhar sobre o coroamento, sobre o

vertedouro, na extensão do pé do paramento de montante, no pé do paramento de jusante, a

fim de observar detalhadamente a superfície da estrutura. Foi feita a observação da superfície

a partir de diferentes perspectivas a fim de revelar o maior número de patologias possíveis.

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4. ESTUDO DE CASO

4.1. Breve relato

A barragem de concreto, inicialmente, foi projetada para ser de terra homogênea, com

um custo estimado de US$ 7.000.000,00. Solicitada pelo DER-RN, a COTEC elaborou um

novo projeto para uma barragem em concreto compactado a rolo, mantendo a mesma

capacidade de acumulação, gerando uma estimativa de redução de metade dos custos iniciais.

4.1.1. Dados gerais

Nome da Barragem Passagem das Traíras

Localização Município de São José do Seridó, a 22.0 Km da cidade de Caicó

Proprietário Governo do Estado do Rio Grande do Norte – Secretaria de

Recursos Hídricos – SEMARH/RN

Endereço Rua Dona Maria Câmara, 1984, Bairro Capim Macio; Natal-RN –

CEP 58082-430; Tel.: 084-3232 2411

CNPJ: 010.668.96/0001-74

Código ANA 43

Outorga Res. nº 309/ANA de 16/07/2012, publicado no DOU, seção 1 de

27/07/2012.

Início da construção 1994

Término da construção 1995

Entidade Responsável pela Construção

DER-RN

Empresa contratada para a construção

EIT

Bacia Rio Piranhas-Açu

Curso d'água barrado Rio Seridó

Finalidade Abastecimento/Irrigação/Perenização de rio

Capacidade do reservatório 49,70 hm³

Área da bacia hidráulica 1.000,42 Km²

Área inundada 1.042,90 há

Cota da crista 201,32 m

Coordenadas 06º31’05” S e 36º56’51” W

Tipo de barragem Gravidade em Concreto Compactado com Rolo (CCR)

Altura da barragem 25,50 m

Extensão do coroamento 429,74 m

Largura do coroamento 4,68 m

Tipo do vertedouro Crista em soleira livre, escoamento sobre degraus e bacia de

dissipação com ressalto

Tipo do vertedouro Extensão do vertedouro

Crista em soleira livre, escoamento sobre degraus e bacia de dissipação com ressalto

130,14 m

Cota da soleira vertente 193,32 m

Cota da bacia de dissipação 178,70 m

Quadro 6 - Dados gerais da barragem.

Fonte: ANA (2015).

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4.1.2. Especificações técnico construtivas

No relatório de inspeção elaborado em 2015, é apresentado os dados de controle

obtidos nos resultados dos ensaios de controle do CCR aplicado na execução da obra.

Quadro 6 - Dados de controle do CCR da barragem Passagem das Traíras.

Fonte: ANA (2015).

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5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1. Patologias identificadas

Através da análise de relatórios de inspeção técnica da barragem e das observações

realizadas em visitas ao local, pode-se mencionar uma série de problemas e patologias que

podem comprometer a segurança da barragem:

Galeria - Os relatórios apontam a ocorrência de infiltrações que percola, em algumas

localizações pontuais, toda a zona da galeria chegando, inclusive, ao paramento de jusante

através da conexão de drenos. Constatou-se também que houve uma tentativa mal sucedida de

reparar as paredes internas da galeria, que apresentam infiltrações generalizadas, através da

execução de uma alvenaria de vedação. Segundo o relatório de inspeção técnica elaborado

pela ANA em 2015, outro relatório elaborado em 2005 refere-se à execução dessa alvenaria

como uma evidência de tentativa de “maquiar” o problema. No entanto, em virtude de

infiltrações constituírem um tipo de patologia aparente e de fácil diagnóstico de ocorrência, o

problema foi notório.

A galeria apresenta aspectos de abandono evidenciado pelo acesso precário, presença

de animais peçonhentos, excesso de vegetação nas suas imediações, além da ausência de

manutenção e iluminação.

Figura 25 - Vista da entrada da galeria

Fonte: Autor

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53

Figura 26 - Infiltrações nas paredes da galeria

Fonte: ANA (2015).

Ombreira direita - Assente sobre rocha, apresenta alteração nas imediações da região

de montante do barramento, mas também falhas estruturais, próximo a região de jusante,

preenchidas com material fino, induzindo uma condição preocupante para estabilidade e

segurança. Além disso, a estrutura do paramento no apoio à jusante da ombreira, apresenta

desagregação do concreto e, consequentemente, diversas bicheiras, ocasionando um aspecto

duvidoso em relação à qualidade do concreto.

Figura 27 - Alteração da rocha na ombreira direita à montante

Fonte: Autor

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54

Figura 28 - Aspecto da estrutura à jusante da ombreira direita.

Fonte: Autor

Face de Montante – Visualmente, identifica-se o comprometimento das veda-juntas,

constatando-se aberturas de até 4 cm de largura, desalinhamentos evidentes e um acabamento

precário. Os desalinhamentos e desvios horizontais, na face de montante, indica o mau uso de

formas e moldes na execução das camadas de concreto, configurando-se aspecto instável do

barramento. Essas imperfeições resultam em locais potenciais de percolação e vazamentos

contribuindo, por exemplo, para processos de lixiviação e erosão.

Figura 29 - Brechas deterioradas das juntas de dilatação.

Fonte: Autor.

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Figura 30 – Deterioração das juntas de dilatação.

Fonte: Autor.

Figura 31 - Evidências de execução inadequada quanto ao uso de formas e no adensamento do

concreto.

Fonte: Autor.

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Figura 32 - Aberturas e desalinhamentos das juntas de dilatação.

Fonte: Autor.

Figura 33 - Deterioração de estrutura no encontro do vertedouro com paramento de montante.

Fonte: Autor.

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Face de Jusante e vertedouro – O barramento apresenta um aspecto precário, pois

constata-se a desagregação da massa de concreto, além do aparecimento de fissuras

contornando a soleira e seguindo pelo paramento de montante.

Figura 34 - Fissura nos degraus à jusante do vertedouro.

Fonte: Autor.

Figura 35 - Prolongamento do afastamento das juntas de dilatação no vertedouro.

Fonte: Autor.

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Figura 36 - Desagregação do concreto

Fonte: Autor

5.2. Análise comparativa

Segundo dados obtidos do relatório de inspeção, os valores dos ensaios de controle da

barragem Passagem das Traíras apontaram um valor inconsistente de resistência média do

concreto (fck) de 1,85 MPa em 90 dias. Esse resultado diverge do valor médio especificado

para o fck do CCR em barragens de gravidade que, segundo MILANI FILHO (2003), é da

ordem de 8,0 MPa. Comparando os resultados do relatório de inspeção com os resultados

encontrados em obras de barragens de CCR executadas no mesmo período de tempo, observa-

se uma discrepante diferença, caracterizando a falta de controle de qualidade e cumprimento

das especificações necessárias para a execução da estrutura.

Quadro 7 - Controle do CCR de algumas barragens construídas na época da barragem.

Fonte: ANA (2015).

5.3. Avaliação das condições de segurança

De acordo com a Resolução ANA 236/2017, a avaliação de perigo global de uma

barragem é regulamentada nos seguintes níveis:

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Quadro 8 - Níveis de perigo global de barragens.

Fonte: ANA (2017).

Em 2015, a ANA apresentou um relatório classificando a barragem Passagem das

Traíras em relação nível de perigo em “atenção”, pois embora existissem anomalias, estas não

comprometiam de imediato a segurança desde que controladas, monitoradas ou reparadas.

Entre os anos de 2016 e 2018, os relatórios indicam que a barragem apresenta um

agravamento das manifestações patológicas sem nenhuma intervenção, corroborando para o

comprometimento estrutural da barragem, além de elevá-la a um nível caracterizado como

alerta, onde providencias imediatas devem ser tomadas para garantia da segurança global.

Dessa forma, confirma-se que a omissão do poder público na realização de

manutenções preditiva, preventiva e corretiva ocasionaram problemas substanciais,

colaborando para instabilidade das condições de segurança da barragem e, consequente,

aumento do grau potencial de risco do nível 2 para o nível 3.

5.4. Plano de recuperação da barragem

Para um futuro projeto de recuperação, o primeiro passo será elaborar um mapeamento

integralizado e detalhado das patologias existentes, com a realização de ensaios geológico-

geotécnicos e de caracterização do concreto, para concepção de um relatório técnico com

abordagem das causas, intensidade, riscos e soluções dos problemas.

Posteriormente, deverá ser produzido um plano de recuperação, com ações e soluções

técnicas embasadas no fator custo-benefício, viabilidade, inclusive levando em consideração

métodos de recuperação empregados em outras barragens brasileiras com problemas

semelhantes.

O presente trabalho, além da identificação dos problemas presentes na barragem, tem

o objetivo de elaborar um plano de recuperação inicial, relacionando os produtos atualmente

utilizados na recuperação de estruturas de concreto com as patologias observadas, utilizando

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as informações disponíveis dos problemas constatados em relatórios técnicos da ANA e dos

conhecimentos acerca de outras barragens já recuperadas no Brasil.

Diante do que visivelmente pode ser diagnosticado na estrutura e levando em

consideração processos de recuperação de algumas barragens de concreto no Brasil, algumas

ações podem ser inicialmente propostas, podendo ser utilizado como conhecimento prévio

para um projeto mais complexo de recuperação da barragem.

5.4.1. Proposta de recuperação

Inicialmente, deverá ser realizada uma inspeção detalhada, junto ao paramento de

montante, paramento de jusante, na galeria e na ombreira para identificar a localização dos

problemas e sua magnitude. Com essas informações, fazer o mapeamento e o devido

levantamento das patologias. Além disso, será preciso fazer ensaios que identifique o fck

do concreto e testes de penetração de água, que visem apresentar dados sobre a resistência,

porosidade e consequentemente poder estabelecer uma avaliação da qualidade e

durabilidade do concreto. Com esses dados, será possível construir um parecer técnico que

viabilize um diagnóstico completo das condições reais em que se encontra a estrutura, de

maneira a permitir um adequado projeto de recuperação.

Vários ensaios podem ser utilizados a fim de mapear detalhadamente os problemas

presentes na estrutura da barragem:

• Esclerômetro: Aparelho utilizado para determinar, de forma não destrutiva, o valor

aproximado de resistência à compressão superficial do concreto. Em virtude da grande

dimensão da barragem, é preciso que aja um método que ofereça resultados rápidos e

eficientes a fim de mapear o fck presente em vários pontos. Sendo, portanto, esse

instrumento, uma excelente opção para essa verificação.

• Extrator de testemunhos: Equipamento utilizado na extração de testemunhos

cilíndricos para que, posteriormente, passe por um ensaio de compressão em prensa

hidráulica. A extração de corpos de prova é importante em locais específicos que

exijam uma maior necessidade de investigação. Dessa forma, pode ser empregado

como meio de se obter informações mais fidedignas de alguns pontos da estrutura da

barragem.

• Medidor de Umidade: Instrumento capaz de determinar a umidade superficial de

vários materiais, inclusive o concreto. Essa ferramenta pode ser empregada a fim de

analisar as paredes internas da galeria, assim como, em alguns locais do paramento de

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jusante e do vertedouro, com o objetivo de determinar possíveis infiltrações que

estejam ocorrendo.

Diante dos problemas mencionados no relatório de Inspeção Técnica da Barragem

de Passagem das Traíras, elaborado pela ANA em 2015, e em visitas realizadas ao local,

verifica-se a necessidade de estudos focados em cada um dos tipos patológicos para

elaboração de um futuro projeto de recuperação da barragem.

5.4.2. Paramento de montante

Para o tratamento do paramento de montante, é preciso levar em consideração as

características relacionadas a qualidade do concreto. Em planos de recuperação de outras

barragens de concreto, observou-se a necessidade de impermeabilização total do

paramento de montante, em virtude do concreto poroso permitir a infiltração de água de

forma generalizada, prejudicando a vida útil da estrutura. No entanto, no caso da barragem

Passagem das Traíras, não há fundamentação técnica suficiente para a execução desse

serviço pois, através de diagnóstico visual, não é possível determinar se o material

apresenta porosidade elevada. É preciso destacar o fato da barragem possuir um concreto

de fck muito abaixo das recomendações técnicas para o CCR, constatada pelo fato da

barragem ter sido mal executada e mal-acabada. Caso essa situação seja confirmada

através de ensaios, é necessário um procedimento similar ao ocorrido na barragem de

Jucazinho (PE), onde houve um processo de impermeabilização total da laje vertical de

montante.

Logo, deve ser realizado ensaios de resistência à compressão, a fim de obter o fck

do concreto, bem como estudos acerca de sua porosidade, a fim de comprovar os poucos

dados existentes sobre a barragem. A partir desses dados, será possível analisar e

determinar a exigência ou não da impermeabilização total da face de montante ou ainda se

será necessário apenas a recuperação de locais pontuais. É preciso verificar a profundidade

das fissuras e aberturas existentes nos locais das juntas de dilatação, que se encontram

deterioradas, identificando os pontos vulneráveis à penetração da água. A partir das

dimensões dessas fissuras e aberturas, poderá estabelecer o melhor plano de recuperação

relacionando custo-benefício que a estrutura necessita.

As juntas de dilatação têm a função de absorver variações volumétricas que ocorrem

na estrutura de concreto devido às variações térmicas, logo são regiões constituídas de

materiais flexíveis. Assim, na recuperação desses elementos deteriorados, que consistem em

pontos potenciais de infiltração, torna-se necessário a aplicação de um material flexível para

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recompor os espaços e fortalecer a estanqueidade da estrutura. Na bibliografia estudada,

alguns métodos podem ser levados em consideração como propostas iniciais para a

recuperação desses elementos. Assim como ocorreu na manutenção da barragem de Jucazinho

e Castanhão, as juntas de dilatação da barragem Passagem das Traíras podem ser

reconstituídas, mais internamente, através da aplicação de poliuretano flexível, de modo a

oferecer a selagem flexível e a impermeabilidade suficiente para isolar as interfaces dos

blocos nos locais das juntas do contato com a água, diminuindo, consequentemente, a

potencial possibilidade de infiltração que esses locais propiciam.

5.4.3. Paramento de jusante

À jusante, observam-se vários pontos de desagregação do concreto, caracterizando

um concreto de baixa qualidade. É preciso realizar ensaios de caracterização do concreto e,

assim, obter a situação real do barramento, para assim, estabelecer a solução de

recuperação mais viável em relação ao custo benefício. Em virtude da dimensão estrutural

presente na barragem, é importante que aja um mapeamento da qualidade do concreto na

maior quantidade de pontos possíveis.

Além disso, é precisar destacar a necessidade do estudo de algumas fissuras

contínuas, de menor intensidade, que se estendem pela extensão da seção do vertedouro,

iniciando à montante e se prolongando até os degraus à jusante. Com essas análises

técnicas, poderá confirmar que o problema observado se refere a um início de deterioração

da continuidade das juntas de dilatação ou problemas de fissuração do concreto. Caso seja

constatado que o problema seja por início de deslocamento das juntas nesses locais, poderá

ser aplicado o poliuretano flexível em toda a seção fissurada. Já se confirmado que o

problema seja estrutural, em relação ao fissuramento passivo do concreto, deve-se haver

injeção de um produto que vise recuperar a sua integridade, restaurando a sua capacidade

inicial. Para isso, alguns produtos de sistemas rígidos de injeção podem ser propostos

como meios de recuperar esse tipo de fissuramento, como o microcimento e resinas de

poliuretano rígido ou epóxi.

5.4.4. Ombreira direita

Com relação a esse elemento, deve-se realizar um programa de sondagens a fim de

investigar as condições do subsolo e a ocorrência de possíveis falhas geológicas que

possam provocar deslocamentos e instabilidade na fundação. Diante de detecção de falhas

geológicas, pode-se propor alguns métodos de recuperação e assim evitar que um colapso

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estrutural em virtude dessa patologia venha a ocorrer, assim como aconteceu na barragem

de Camará.

Considerando que as ombreiras são locais de características rígidas, é necessário a

aplicação de um material com características semelhantes para a recuperação das falhas. Um

dos métodos que pode ser empregado é o de injeção de poliuretano estrutural, cuja função é

reconstituir as falhas, de maneira que ofereça rigidez e impermeabilidade a estrutura e assim,

recompor as características físicas de resistência da rocha onde a ombreira está firmada.

5.4.5. Galeria

Inicialmente, deve-se fazer a limpeza das imediações da galeria, a fim de facilitar o

acesso, que se encontra precário pelo excesso de vegetação.

O relatório menciona a falta de iluminação do local, que dificulta a adequada

visualização do interior da galeria para inspeções periódicas havendo, portanto, a

necessidade de sua instalação. Além disso, o relatório menciona a presença de

carbonatação, recentes e antigas, nas suas paredes, indicando infiltrações. Esses pontos

devem ser detalhadamente mapeados, observando se apresentam relação com as posições

das juntas de dilatação e assim, obter um diagnóstico acerca da surgência de água e se

estas ocorrem através das juntas de dilatação que se encontram visualmente inexistentes no

seu paramento.

Quanto às infiltrações do local, será necessário estudar as causas responsáveis pela

infiltração a fim de providenciar a melhor solução no interior da galeria quanto no

paramento de montante. Diante do que se constata no interior da galeria, é preciso que

exista um serviço de inspeção de suas paredes, sendo necessário remover a alvenaria que,

segundo relatos de especialistas em inspeção, foi executada com o propósito de encobrir

patologias que se encontram em seu interior.

Além do mais, é importante a instalação de um portão de acesso, com o propósito

de garantir a segurança do interior da barragem e restringir o acesso apenas aos

responsáveis técnicos ou pessoas autorizadas.

5.5. Classificação de barragem quanto à categoria de risco e ao dano potencial

associado

Quanto a Categoria de Risco, Quadros 9 a 13 em anexo, a barragem apresenta uma

pontuação total igual a 56, o que a classificaria como categoria de risco médio. No entanto,

as barragens que apresentam no seu estado de conservação qualquer estrutura

comprometida com problemas identificados e sem medidas corretivas, implica em uma

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categoria de risco ALTA, caracterizando, portanto, a barragem Passagem das traíras nesse

nível de classificação.

Em virtude da existência à jusante do barramento de habitações, comércio,

infraestrutura e serviços, especificamente nas imediações do rio Seridó na cidade de Caicó,

a barragem apresenta um risco alto quanto ao dano potencial associado que ela oferece em

caso de rompimento.

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6. CONCLUSÕES

O presente trabalho foi elaborado através de inspeções realizadas na barragem

passagem das traíras e de relatórios técnicos já produzidos por engenheiros especialistas.

Foram identificadas uma série de patologias que podem comprometer a estrutura da barragem

e consequentemente oferecer risco de ruptura, caso ela venha a atingir níveis d’água elevados.

Foram observados vários tipos de problemas nos diversos elementos que constituem a

barragem, como fissuras, desagregação e deterioração da massa de concreto,

comprometimento e desalinhamentos das veda-juntas, entre outros pontos que merecem

cuidados. Utilizando-se de uma extensa fundamentação teórica embasada em métodos de

recuperação de estruturas de concreto, além do estudo do plano de recuperação de outras

barragens de CCR Brasileiras, pode-se identificar uma série de métodos que podem ser

considerados como propostas iniciais de recuperação.

Para um futuro projeto de recuperação, observa-se uma gama de produtos que podem

ser empregados na manutenção de estruturas de concreto, sendo alguns, especialmente

destinados e usualmente utilizados em estruturas de concreto de barragens, que é o caso das

injeções químicas.

Utilizando-se das planilhas estabelecidas pelas resoluções de segurança de barragens,

verificou-se que a barragem se encontra no estado de categoria risco alto, bem como dano

potencial associado alto.

Por fim, destaca-se a necessidade urgente da elaboração e execução de um projeto de

recuperação da barragem passagem das traíras, a fim de restabelecer a integridade dos

elementos estruturais e assim evitar que ela ofereça riscos de colapso e consequentemente

risco à vida de pessoas que se localizam à jusante da barragem, especialmente as que moram

em Caicó nas imediações do rio Seridó.

Através desse trabalho, vê-se a necessidade de realização de alguns estudos

posteriores, em especial, a elaboração de um projeto executivo de recuperação da barragem

Passagem das Traíras. É importante, também, um estudo sobre as documentações de

supervisão da barragem e verificar os motivos que vieram ocasionar em um concreto da

qualidade analisada, assim como, obter conhecimento sobre o porquê desses dados de

controle terem sido aprovados pelos órgãos supervisores da obra, autorizando a sua

continuidade.

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66

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ANEXOS

Aspecto Descrição da característica técnica Barragem Passagem das Traíras

Altura (a)

Altura ≤ 15m (0)

15m < Altura <

30m (1)

30m ≤ Altura

60m (2)

Altura > 60m

(3)

25,5 m a = 1

Comprimento

(b)

comprimento ≤ 200m

(2)

Comprimento >

200m (3)

429 m b = 3

Tipo de

Barragem

quanto ao

material de

construção

(c)

Concreto

Convenciona

l (1)

Alvenaria de

Pedra / Concreto

Ciclópico /

Concreto Rolado

- CCR (2)

Terra

Homogenea

/Enrocamento

/ Terra

Enrocamento

(3)

CCR c = 2

Tipo de

fundação (d)

Rocha sã (1)

Rocha alterada

dura com

tratamento

(2)

Rocha alterada

sem tratamento

/ Rocha

alterada

fraturada com

tratamento (3)

Rocha

alterada mole

/ Saprolito /

Solo

compacto (4)

Solo residual /

aluvião (5)

Rocha tratada com injeção de calda de

cimento

d = 2

Idade da

Barragem (e)

entre 30 e 50 anos (1)

entre 10 e 30

anos (2)

entre 5 e 10

anos

(3)

< 5 anos ou >

50 anos

ou sem

informação (4)

23 anos e = 2

Vazão de

Projeto (f)

Decamilenar ou

CMP (Cheia Máxima

Provável)

- TR = 10.000 anos

(3)

Milenar - TR =

1.000

anos (5)

TR = 500 anos

(8)

TR < 500

anos ou

Desconhecida

/ Estudo

não confiavel

(10)

Desconhecida f = 10

Quadro 9 - Características técnicas (CT) da barragem Passagem das Traíras.

Fonte: ANDERÁOS; ARAÚJO; NUNES (2013) - Adaptado.

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Aspecto

Descrição do estado de conservação Barragem

Passagem das

Traíras

Confiabilidad

e das

Estruturas

Extravasoras

(g)

Estruturas civis e

eletromecânicas em pleno

funcionamento/ canais de

aproximação ou de

restituição ou vertedouro

(tipo soleira livre)

desobstruídos (0)

Estruturas civis e eletromecânicas

preparadas para a operação, mas sem

fontes de suprimento de energia de

emergência /canais ou vertedouro (tipo

soleira livre) com erosões ou

obstruções, porém sem riscos a

estrutura vertente. (4)

Estruturas civis comprometidas ou

dispositivos hidroeletromecanicos

com problemas identificados, com

reducao de capacidade de aducao e

com medidas corretivas em

implantação/canais ou vertedouro

(tipo soleira livre) com erosões e/ou

parcialmente obstruídos, com risco de

comprometimento da estrutura

vertente. (7)

Estruturas civis comprometidas ou

dispositivos hidroeletromecanicos

com problemas identificados, com

reducao de capacidade de aducao e

sem medidas corretivas/ canais ou

vertedouro (tipo soleira livre)

obstruídos ou com estruturas

danificadas (10)

g = 10

Confiabilidad

e das

Estruturas de

Adução (h)

Estruturas civis e

disposiivos

hidroeletromecanicos em

condicoes adequadas de

manutencao e

funcionamento (0)

Estruturas civis comprometidas ou

Dispositivos hidroeletromecanicos

com problemas identificados, com

reducao de capacidade de aducao e

com medidas

corretivas em implantação (4)

Estruturas civis comprometidas ou

Dispositivos hidroeletromecanicos

com problemas identificados, com

reducao de capacidade de aducao e

sem medidas corretivas (6)

-

h = 0

Percolação (i) Percolação totalmente

controlada pelo sistema de

drenagem (0)

Umidade ou surgência nas áreas de

jusante, paramentos, taludes ou

ombreiras estabilizada e/ou

monitorada. (3)

Umidade ou surgência nas áreas de

jusante, paramentos, taludes ou

ombreiras sem tratamento ou em fase

de diagnóstico (5)

Surgência nas áreas de jusante,

taludes ou ombreiras com

carreamento de material ou com

vazão crescente. (8)

Umidade no

paramento de

jusante

diagnosticado

i = 5

Deformações

e Recalques

(j)

Inexistente (0) Existência de trincas e abatimentos de

pequena extensão e impacto nulo (1)

Trincas e abatimentos de impacto

considerável gerando necessidade de

estudos adicionais ou

monitoramento. (5)

Trincas, abatimentos ou

escorregamentos expressivos, com

potencial de comprometimento à

segurança (8)

fissura na crista

da barragem j = 5

Deterioração

dos Taludes /

Paramentos

(l)

Inexistente (0) Falhas na proteção dos taludes e

paramentos, presença de arbustos de

pequena extensão e impacto nulo. (1)

Erosões superficiais, ferragem

exposta, crescimento de vegetação

generalizada, gerando necessidade de

monitoramento ou atuação corretiva.

(5)

Depressões acentuadas nos

taludes, escorregamentos, sulcos

profundos de erosão, com

potencial de comprometimento a

segurança. (7)

Rachadura no

paramento de

montante l = 5

Eclusa (*)

(m)

Não possui eclusa (0) Estruturas civis e eletromecânicas bem

mantidas e funcionando (1)

Estruturas civis comprometidas ou

Dispositivos hidroeletromecanicos

com problemas identificados e com

medidas corretivas em implantação

(2)

Estruturas civis comprometidas ou

Dispositivos hidroeletromecanicos

com problemas identificados e sem

medidas corretivas (4)

Não possui eclusa

m = 0

Quadro 10 - Estado de conservação (EC).

Fonte: ANDERÁOS; ARAÚJO; NUNES (2013) - Adaptado.

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72

Aspecto Descrição da condição Barragem Passagem das Traíras

Existência de

documentação de

projeto (n)

Projeto executivo

e "como

construído"

(0)

Projeto

executivo ou

"como

construído" (2)

Projeto básico

(4)

Anteprojeto ou

Projeto

conceitual

(6)

inexiste

documentação

de projeto (8)

n=0

Estrutura

organizacional e

qualificação

técnica dos

profissionais da

equipe de

Segurança da

Barragem (o)

Possui estrutura

organizacional

com técnico

responsável pela

segurança da

barragem (0)

Possui técnico

responsável pela

segurança da

barragem (4)

Não possui

estrutura

organizacional e

responsável

técnico pela

segurança da

barragem (8)

-

-

Não possui estrutura

organizacional

o = 8

Procedimentos

de roteiros de

inspeções de

segurança e de

monitoramento

(p)

Possui e aplica

procedimentos de

inspeção e

monitoramento (0)

Possui e aplica

apenas

procedimentos

de inspeção (3)

Possui e não

aplica

procedimentos

de inspeção e

monitoramento

(5)

Não possui e não

aplica

procedimentos

para

monitoramento e

inspeções (6)

-

Realiza inspeções regulares

p = 3

Regra

operacional dos

dispositivos de

descarga da

barragem (q)

Sim ou

Vertedouro

tipo soleira

livre (0)

Não (6)

-

-

-

Vertedouro tipo soleira livre

q = 0

Relatórios de

inspeção de

seguranca com

analise e

interpretacao (r)

Emite

regularment

e os

relatórios

(0)

Emite os

relatórios sem

periodicidade

(3)

Não emite

os

relatórios

(5)

-

-

Emite a cada inspeção

r = 0

Quadro 11 - Plano de Segurança da Barragem (PS).

Fonte: ANDERÁOS; ARAÚJO; NUNES (2013) - Adaptado.

Page 73: JOÃO PAULO MEDEIROS DE ARAÚJO DIRETRIZES PARA UM …...João Paulo Medeiros de Araújo RESUMO Diretrizes para um plano de recuperação da barragem Passagem das Traíras em São

73

Aspecto

Volume Total do

Reservatório para

barragens de uso

múltiplo ou

aproveitamento

energético

(s)

Potencial de perdas de vidas

humanas (t)

Impacto ambiental (u)

Impacto sócioeconômico (v)

Des

criç

ão

da

co

nd

içã

o

Pequeno < = 5hm³

(1)

INEXISTENTE (Não existem pessoas

permanentes/residentes ou

temporárias/transitando na área a jusante

da barragem) (0)

SIGNIFICATIVO (quando a área afetada da

barragem não representa área de interesse

ambiental, áreas protegidas em legislação

específica ou encontra-se totalmente

descaracterizada de suas condições naturais)

(3)

INEXISTENTE (Quando não existem

quaisquer instalações e servicos de

navegacao na área afetada por

acidente da barragem) (0)

Médio 5 a 75hm³(2)

POUCO FREQUENTE (Não existem

pessoas ocupando permanentemente a área

a jusante da barragem, mas existe estrada

vicinal de uso local. (4)

MUITO SIGNIFICATIVO (quando

a área afetada da barragem apresenta

interesse ambiental relevante ou protegida

em legislação específica) (5)

BAIXO (quando existe pequena

concentração de instalações

residenciais e comerciais, agrícolas,

industriais ou de infraestrutura na

área afetada da barragem) (4)

Grande 75 a 200hm³

(3)

FREQUENTE (Não existem pessoas

ocupando permanentemente a área a

jusante da barragem, mas existe rodovia

municipal ou estadual ou federal ou outro

local e/ou empreendimento de

permanência eventual de pessoas que

poderão ser atingidas. (8)

-

ALTO (quando existe grande

concentração de instalações

residenciais e comerciais, agrícolas,

industriais, de infraestrutura e

servicos de lazer e turismo na área

afetada da barragem ou instalações

portuárias ou

servios de navegacao) (8)

Muito Grande >

200hm³ (5)

EXISTENTE (Existem pessoas ocupando

permanentemente a área a jusante da

barragem, portanto, vidas humanas

poderão ser atingidas. (12)

-

-

Barragem

Passagem

das Traíras

V - 49,7 hm³

s = 2

Existente t=12 u = 3 Habitações, comércio e

infraestrutura e serviços de lazer e

turismo v = 8

Quadro 12 - Dano Potencial Associado (DPA).

Fonte: ANDERÁOS; ARAÚJO; NUNES (2013) - Adaptado.

Page 74: JOÃO PAULO MEDEIROS DE ARAÚJO DIRETRIZES PARA UM …...João Paulo Medeiros de Araújo RESUMO Diretrizes para um plano de recuperação da barragem Passagem das Traíras em São

74

II.1 - CATEGORIA DE RISCO Pontos

1 Características Técnicas (CT) 20

2 Estado de Conservação (EC) com g = 10* 25

3 Plano de Segurança de Barragens (PS) 11

PONTUAÇÃO TOTAL (CRI) = CT + EC + PS 56

F

AIX

AS

DE

CL

AS

SIF

ICA

ÇÃ

O

CATEGORIA DE RISCO

CRI

ALTO > = 60 ou EC = 8 (*)

MÉDIO 35 a 60

BAIXO < = 35

(*)Pontuação (8) em qualquer coluna de Estado de Conservação (EC) implica

automaticamente CATEGORIA DE RISCO ALTA e necessidade de providencias

imediatas pelo responsável da barragem.

II.2 - DANO POTENCIAL ASSOCIADO Pontos

DANO POTENCIAL ASSOCIADO (DPA) 25

F

AIX

AS

DE

CL

AS

SIF

ICA

ÇÃ

O

DANO POTENCIAL ASSOCIADO

DPA

ALTO > = 16

MÉDIO 10 < DP < 16

BAIXO < = 10

RESULTADO FINAL DA AVALIAÇÃO:

CATEGORIA DE RISCO ALTO

DANO POTENCIAL ASSOCIADO ALTO

Quadro 13 - Classificação das barragens para acumulação de água.

Fonte: ANDERÁOS; ARAÚJO; NUNES (2013) - Adaptado.