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O problema da JOÃO MAURÍCIO ADEODATO COLEÇÃO DIREITO E JUSTIÇA LEGITIMIDADE: LEGITIMIDADE no rastro do pensamento de Hannah Arendt

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Page 1: JOÃO MAURÍCIO ADEODATO P O problema da LEGITIMIDADE · (Tercio Sampaio Ferraz Junior) 25 INTRODUÇÃO Temática, problemática, marco teórico e resumo de conteúdo 33 1. Justificação

O problema daJOÃO MAURÍCIO ADEODATO

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DIREITO E JUSTIÇA

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: no rastro do pensam

ento de Hannah Arendt

Problematizar a legitimidade significa, em certa medida, examinar as bases sobre

as quais se assentam o direito e a política, enfrentando questões que, se devidamente ampliadas, coincidem com a própria história da civilização ocidental: em que sentido se pode falar – ou não – na expressão gover-no ilegítimo? Como é possível que tantos se sujeitem às diretrizes de tão poucos, ou seja, como se explica a assim chamada obediência civil? Qual a diferença entre a ordem emitida por um juiz ou policial e aquela de um assal-tante ou inimigo em guerra? Qual o papel do ordenamento jurídico nessas considerações?

“João Maurício Adeodato apre-sentou essa pesquisa à Universida-de de São Paulo, há exatos trinta anos, no ano de 1986. Adeodato, aborda a questão da legitimidade tendo como referencial teórico o pensamento arendtiano, a partir da bipartição das esferas pública e privada das atividades humanas. Nesse espeque, a dicotomia gera-da entre as referidas esferas públi-ca e privada é traduzida em um marco civilizatório do agir humano e, em última análise, da condição humana, o que tem reflexos dire-tos na legitimidade do Direito.”

Cláudio Brandão

ISBN 978-85-8425-387-6

no rastro do pensamento de Hannah Arendt

JOÃO MAURÍCIO ADEODATOGraduado pela Faculdade de Direito do Recife (1977), mestrado (1980), doutorado (1986) e livre docente (2011) pela Facul-dade de Direito da USP e pós-doutorado na Universidade de Mainz pela Fundação Alexander von Humboldt (1988-1989). Fez outros pós-doutorados de curta du-ração (três a quatro meses) como pro-fessor convidado nas Universidades de Mainz (1991), Freiburg (1995), Heidelberg (2000, 2003, 2006, 2009 e 2011) e Hagen (2014). Doutor Honoris Causa pelas Facul-dades Metropolitanas Unidas de São Paulo (2009). Professor assistente (1983) e titular (1990) por concursos públicos da Faculda-de de Direito do Recife. Aposentado em 2016, orientador de mais de uma centena de teses de doutorado e dissertações de mestrado. Orientador de dezenas de traba-lhos de conclusão de curso de graduação, tendo sido criador do programa de inicia-ção científica da Faculdade de Direito do Recife (1986). Pesquisador do CNPq desde 1984. Pesquisador I desde 1990 e Pesqui-sador I-A desde 1997. Criador e líder de grupo de pesquisa sobre retórica jurídica. Professor da Faculdade de Direito de Vitó-ria. Professor da Faculdade Damas de Ins-trução Cristã. Coordenador dos Cursos de Direito do Grupo Ser Educacional.

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2a edição revista e ampliada

O PROBLEMA DA LEGITIMIDADE:

no rastro do pensamento de Hannah Arendt

JOÃO MAURÍCIO ADEODATO

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Copyright © 2016, D’ Plácido Editora.Copyright © 2016, João Maurício Adeodato.

Editor ChefePlácido Arraes

Produtor EditorialTales Leon de Marco

Capa Tales Leon de Marco(sobre desenho de Ricardo Lins)

DiagramaçãoChristiane Morais de Oliveira

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, por quaisquer meios, sem a autorização prévia da D`Plácido Editora.

Catalogação na Publicação (CIP)Ficha catalográfica

ADEODATO, João MaurícioO problema da legitimidade: no rastro do pensamento de Hannah Arendt

-- Coleção Direito e Justiça -- 2. ed. , rev. ampl. -- Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2016.

BibliografiaISBN:978-85-8425-387-6

1. Direito 2. Filosofia do Direito 3. Legitimidade do Direito 4. Hanna Arendt I. Título II. Direito

CDU340 CDD 341

Editora D’PlácidoAv. Brasil, 1843 , SavassiBelo Horizonte - MGTel.: 3261 2801CEP 30140-007

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Para Iara, Marina, Cristina e Lígia, mulheres firmes como Hannah Arendt.

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Agradecimentos a Cláudio Brandão.E à Fundação Coordenadoria de Apoio ao

Pessoal de Nível Superior (CAPES), à Faculdade de Direito de Direito da Universidade de São Paulo e à Faculdade Damas da Instrução Cristã por terem

auxiliado no desenvolvimento desta pesquisa.

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“The common dilemma – either the law is absolutely valid and therefore needs for its

legitimacy an immortal, divine legislator, or the law is simply a command with nothing behind it but the state’s monopoly of violence – is a delusion.”

“O frequente dilema – ou a lei é absolutamente válida e daí necessita, para sua legitimidade, de um legislador imortal, divino, ou a lei é simplesmente

um comando com nada por trás de si senão o monopólio estatal da violência – é uma ilusão.”

Hannah Arendt: On Violence, em Crises of the Republic. New York-London: Harvest-HBJ, 1972, p. 193.

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Sumário

APRESENTAÇÃO À SEGUNDA EDIÇÃO 17

PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO (Cláudio Brandão) 21

PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO (Tercio Sampaio Ferraz Junior) 25

INTRODUÇÃO Temática, problemática, marco teórico e

resumo de conteúdo 33

1. Justificação e poder 332. Poder e crise 373. Por que no rastro de Hannah Arendt 404. Do que trata este livro 44

PRIMEIRA PARTE

CAPÍTULO 1 Apresentação do problema 51

1.1. Uma noção inicial de legitimidade 511.2. Critérios legitimadores e sua recusa 52

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1.3. Corolários da noção de legitimidade 551.4. Legitimidade e jusnaturalismo 58

CAPÍTULO 2 O progressivo esvaziamento de conteúdo 63

2.1. A polis grega 632.2. Da auctoritas em Roma ao cristianismo 712.3. O jusnaturalismo teológico católico 762.4. O jusnaturalismo antropológico das

reformas 812.5. As doutrinas da soberania 832.6. As doutrinas liberais 88

CAPÍTULO 3 Legitimidade e legitimação 95

3.1. O monopólio da origem das normas jurídicas e o fenômeno da dogmatização do direito 95

3.2. Max Weber e a colocação do problema em termos modernos 98

3.3. O legalismo 1023.4. O normativismo 105

CAPÍTULO 4 Realismo jurídico e descrença no conteúdo da

legitimidade 109

4.1. Legitimidade e efetividade 1094.2. Os precursores: Maquiavel e Hobbes 1114.3. Karl Deutsch e quem vigia os vigias 1164.4. Niklas Luhmann e a função da

legitimidade 1194.5. O pensamento de Hannah Arendt no

ambiente do realismo jurídico 121

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SEGUNDA PARTE

CAPÍTULO 5 Uma introdução a Hannah Arendt 127

5.1. O engajamento entre pensamento e realidade política 127

5.2. Dados biográficos e influências de Hannah Arendt 132

5.3. Inadequação da tradição teórica à realidade contemporânea 139

CAPÍTULO 6 Metodologia de Hannah Arendt 143

6.1. Pré-compreensão, pensamento e conhecimento 143

6.2. Métodos: pensamento tópico e importância das distinções, fenomenologia conceitual e crítica dos exemplos históricos 151

6.3. Exemplos de aplicação dessa metodologia 159

CAPÍTULO 7 A ação e a vita activa 167

7.1. Atividades e condições da existência humana 1677.2. Trabalho e vida, produção de objetos e

mundo circundante 1717.3. Ação e pluralidade 1777.4. Os espaços da atividade humana: privado,

público e social 1827.5. Interpenetração das atividades e decadência

da ação política 190

CAPÍTULO 8 A faculdade de julgar e a vita contemplativa 195

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8.1. Faculdades contemplativas e sua direção temporal 195

8.2. Pensar e presente 2038.3. Querer e futuro 2078.4. Julgar e passado 2108.5. A banalidade do mal como incapacidade

de pensar 2168.6. Como julgar o particular sem norma geral:

Imaginação, mentalidade alargada e critério exemplar 221

TERCEIRA PARTE

CAPÍTULO 9 Soluções tentadas por Hannah Arendt 233

9.1. A preeminência ontológica do mundo das aparências 233

9.2. Liberdade política: o universo da legitimidade 238

9.3. Inadequação do critério da verdade 2439.4. Poder, autoridade, força e violência:

distinções necessárias 2489.5. O conceito de revolução e o sistema de

conselhos: soluções modernas 254

CAPÍTULO 10 O direito positivo na antinomia conteúdo ético

superior de legitimidade versus niilismo 261

10.1. Direito e lei como publicização da capacidade de prometer 261

10.2. Pensamento normativo e pensamento descritivo: construindo um debate entre Arendt e o positivismo 267

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10.3. Direito e violência 27210.4. Conclusão: Poder e obtenção de

obediência 280

Referências 289

I – Obras de Hannah Arendt 2891 – Livros 2892 – Artigos 290

II – Obras sobre Hannah Arendt 2911 – Livros 2912 – Artigos 291

II – Bibliografia geral 2931 – Livros 2932 – Artigos 300

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Apresentação à segunda edição

Exatamente trinta anos depois, é publicada agora uma nova edição, revisada, da minha tese de doutorado na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, originalmente publicada no Rio de Janeiro pela Forense--Universitária, a qual publicava obras de Hannah Arendt nos anos 1980. A tiragem foi excessiva para os padrões, três mil exemplares, mas, surpreendentemente, esgotou-se ao longo dos anos. Apesar de ser uma grande editora, chegar a ela foi fácil e não houve qualquer recomendação de ninguém; simplesmente entreguei os originais da própria tese, tal como depositada e defendida na USP, na sucursal de São Paulo, e o livro foi aceito. Mérito do editor da Fo-rense-Universitária na época, Luiz Otávio Barreto Leite, em acolher o trabalho de um jovem professor em meio a tantos doutorandos, só pelo seu conteúdo, tendo ele mesmo escrito os textos da “orelha” e da contracapa.

Na defesa de tese fui arguido por Aloysio Ferraz Pe-reira, Dalmo de Abreu Dallari, Guido Fernandes Soares, José Cretella Junior e Tercio Sampaio Ferraz Junior, meu orientador, alguns já falecidos, aos quais hoje reitero meus agradecimentos, inclusive por algumas arguições não muito gentis, como era de praxe na Faculdade.

A tese foi escrita entre meus 24 e 29 anos. Tinha completado trinta anos quando a defendi. Hoje, acabo de completar sessenta. Apesar de ter recebido diversas propostas

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ao longo do tempo, somente agora publico a nova edição, pois meu interesse pela retórica jurídica afastou-me das ontologias, incluindo a de Hannah Arendt.

E a publicação agora se deveu às exortações de meu ex-aluno, amigo e colega Cláudio Brandão, professor titular da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, da Faculdade Damas da Instrução Cristã e da Faculdade de Direito do Recife, incansável incentivador e interlocutor.

Depois de Hannah Arendt – Pensamento, persuasão e poder, de Celso Lafer, publicado pela Editora Paz e Terra em 1979, este livro, publicado impresso em 1989, mas defendi-do em 1986, é o segundo em língua portuguesa sobre essa grande pensadora contemporânea. Hoje a obra de Hannah Arendt já foi objeto de muitos estudos e discussões, que em muito enriqueceram as diversas versões que seu caráter polêmico suscita, mas era então desconhecida no Brasil.

Este livro deve ser lido como uma tese de doutorado e não como um trabalho meu atual, da maturidade. Trinta anos mudam bastante o pensamento de um filósofo. Por isso achei que não havia sentido em reescrevê-lo e mantive a abordagem original, que hoje até me parece um pouco ingênua. A linguagem foi modificada apenas para se tornar menos hermética, pois alguns períodos na primeira edição não expressavam claramente o pensamento original, fruto da inexperiência no trato da discurso filosófico.

Mantive também a lista de referências inicial, deixando de lado as centenas ou milhares de trabalhos sobre Hannah Arendt que vieram depois, cuja leitura certamente ensejaria um novo livro. A bibliografia é também interessante por mostrar uma parte do que se lia no começo dos anos oitenta no Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Universidade de São Paulo, sob a batuta de mestres como Miguel Reale e Goffredo Telles Junior.

O relato da escolha de Hannah Arendt como tema de tese é curioso.

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Em 1980 eu estava interessado no problema da le-gitimidade do direito e do uso da força, como estou até hoje. O livro de Umberto Eco Como se faz uma tese, que em sua primeira edição portuguesa, a que me caiu às mãos, tinha como subtítulo em ciências humanas, foi o primeiro livro de metodologia técnica que chegou até mim e que achei aplicável ao direito. A partir de sua leitura, concluí que legitimidade era um tema extenso demais, mas que associá-lo a um autor o reduziria a uma amplitude viável.

Antes de terminar o mestrado já tinha decidido ten-tar continuar meus estudos no Largo de São Francisco, prestando concurso para o doutorado. Uma das principais razões para isso era o jovem professor Tercio Ferraz Jr., recém-chegado da Alemanha e encarregado da disciplina Sociologia do Direito, na qual me matriculei. Encontrei afinidade imediata com o pensamento de Tercio, fui apro-vado na seleção no mesmo ano de 1980 e de seu aluno tornei-me orientando de doutorado. Lembro-me de uma conversa sobre qual seria o marco teórico de minha tese, quando lhe perguntei, depois de muita leitura de Weber, Kelsen, Ross, Luhmann, Deutsch, Warat e tantos outros céticos: “professor, não existe um autor contemporâneo que acredite na legitimidade do direito”? Ele sorriu e disse sem titubear: “Hannah Arendt”. O mais difícil foi importar seus livros dos Estados Unidos, para o que me valeram boas amizades.

Diante da universalidade do tema, e apesar do contexto diverso e de tantos anos passados, parece-me que algumas das conclusões deste livro e do meu debate com a obra de Hannah Arendt podem ser aplicadas à realidade de hoje, incluindo o processo de impeachment de 2016, por exemplo:

A maioria sempre poderá ilegalizar as minorias e nenhuma ficção normativista de unidade im-pedirá que as facções em disputa se apoderem

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daquele fragmento do texto constitucional que lhes pareça apropriado a obter vantagens, tudo em nome da Constituição.1

Principalmente em relação à conclusão, último ca-pítulo, observe-se que este livro foi originalmente escrito durante as discussões sobre a Assembleia Nacional Cons-tituinte que resultaram na Constituição de 1988. Uma corrente propunha uma Reforma Constitucional, outra, uma Assembleia Constituinte exclusiva e a legitimidade do direito que daí emergiria era um assunto daquela hora. A tese vencedora, híbrida, foi além da mera Reforma e resultou na Constituinte de 1988, que não foi, porém, exclusiva como queríamos.

Acabei me tornando mais crítico do que discípulo de Hannah Arendt, mas reconheço até hoje sua grande influência sobre meu próprio pensamento e ninguém pode ser tolo a ponto de desconhecer sua importância na história das ideias ocidentais, filósofa de primeira monta, além de mulher extraordinária. A atualidade de seus tex-tos é mundialmente reconhecida e o caráter corajoso e desbravador de suas opiniões continua estimulando jovens estudiosos da mesma forma que inspirou a mim mesmo.

1 ADEODATO, João Maurício. O problema da legitimidade – No rastro do pensamento de Hannah Arendt. Rio de Janeiro: Forense-Uni-versitária, p. 204.

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Problematizar a legitimidade significa, em certa medida, examinar as bases sobre

as quais se assentam o direito e a política, enfrentando questões que, se devidamente ampliadas, coincidem com a própria história da civilização ocidental: em que sentido se pode falar – ou não – na expressão gover-no ilegítimo? Como é possível que tantos se sujeitem às diretrizes de tão poucos, ou seja, como se explica a assim chamada obediência civil? Qual a diferença entre a ordem emitida por um juiz ou policial e aquela de um assal-tante ou inimigo em guerra? Qual o papel do ordenamento jurídico nessas considerações?

“João Maurício Adeodato apre-sentou essa pesquisa à Universida-de de São Paulo, há exatos trinta anos, no ano de 1986. Adeodato, aborda a questão da legitimidade tendo como referencial teórico o pensamento arendtiano, a partir da bipartição das esferas pública e privada das atividades humanas. Nesse espeque, a dicotomia gera-da entre as referidas esferas públi-ca e privada é traduzida em um marco civilizatório do agir humano e, em última análise, da condição humana, o que tem reflexos dire-tos na legitimidade do Direito.”

Cláudio Brandão

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no rastro do pensamento de Hannah Arendt

JOÃO MAURÍCIO ADEODATOGraduado pela Faculdade de Direito do Recife (1977), mestrado (1980), doutorado (1986) e livre docente (2011) pela Facul-dade de Direito da USP e pós-doutorado na Universidade de Mainz pela Fundação Alexander von Humboldt (1988-1989). Fez outros pós-doutorados de curta du-ração (três a quatro meses) como pro-fessor convidado nas Universidades de Mainz (1991), Freiburg (1995), Heidelberg (2000, 2003, 2006, 2009 e 2011) e Hagen (2014). Doutor Honoris Causa pelas Facul-dades Metropolitanas Unidas de São Paulo (2009). Professor assistente (1983) e titular (1990) por concursos públicos da Faculda-de de Direito do Recife. Aposentado em 2016, orientador de mais de uma centena de teses de doutorado e dissertações de mestrado. Orientador de dezenas de traba-lhos de conclusão de curso de graduação, tendo sido criador do programa de inicia-ção científica da Faculdade de Direito do Recife (1986). Pesquisador do CNPq desde 1984. Pesquisador I desde 1990 e Pesqui-sador I-A desde 1997. Criador e líder de grupo de pesquisa sobre retórica jurídica. Professor da Faculdade de Direito de Vitó-ria. Professor da Faculdade Damas de Ins-trução Cristã. Coordenador dos Cursos de Direito do Grupo Ser Educacional.

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