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25 ANOS

1988─201

S 13

2

Membros Honorários Yvette Centeno (1.ª Presidente), Fernanda Portela (2.ª Presidente),

Francisco José Magalhães (3.º Presidente)

Corpos Gerentes Biénio 2013-2014

Direcção Presidente Francisco José Magalhães ─ tradutor independente Vice-Presidentes Odette Jacqueline Collas ─ tradutora independente Ana Cristina Alves ─ tradutora independente Secretário ————— Tesoureiro Brigitte Laporte Saramago ─ tradutora independente Assessora da Direcção Elizabeth Barreiros ─ tradutora independente

Tradução Ajuramentada — Eva Bacelar (Coordenadora), Brigitte Saramago, Luís Sabino. Prémios de Tradução ― Teresa Seruya Prémio de Tradução Literária APT/SPA Prémio de Trad. Casa da América Latina Relações Institucionais (Francófonas) ─ Brigitte L. Saramago Formação — Francisco José Magalhães Delegações Bogotá ― Martha Esperanza de Echandía Braga ─ Ana Maria Pimentel Macau ─ Ana Cristina Alves Paris ─ Carminda Gomes

*

Jornal da APT - Ficha Técnica Director: Direcção da APT Editor: Direcção Coordenador: Francisco José Magalhães Revisão: Ana Cristina Alves, Brigitte Saramago, Elizabeth Barreiros, Hannelore Correia e Odette Collas Morada da APT Rua de Ceuta, 4/B─A/5 2795-056 Linda-a-Velha - Portugal Tel.: + 351. 93 887 13 91 Internet: http://www.apt.pt E-mail: [email protected] — ou — [email protected]

Conselho Fiscal

Presidente Hannelore Correia ─ tradutora independente Vogais Filipa Sacoto ─ tradutora independente Artur Luiz Ferreira Alves Pinto ─ tradutor independente

Mesa da Assembleia Geral Presidente Maria Santa Montez ─ tradutora independente Vice-Presidente Dorothea Schurig ─ tradutora independente Secretário Carlota M. P. Rodrigues ─ tradutora independente Suplentes Maria Margarida Pereira-Müller ─ tradutora independente Ana Sofia Saldanha ─ tradutora independente Carminda Gomes ─ tradutora independente

Comissões Especializadas Webmaster (Gestora do Site) Elizabeth Barreiros Apoio à Direcção (Informações) António Moreira

Os textos digitalizados em OCR podem conter erros, pelo que pedimos desculpa aos autores.

Os textos identificados enviados à Direcção são da responsabilidade dos autores no que se refere a qualquer implicação de natureza jurídica e de direitos autorais.

QUOTA - 2013

Portugal: 40,00 €

Estrangeiro: 50,00 €

QUOTA – 2014

Residentes em Portugal: 40,00 Residentes no Estrangeiro: 50,00

Pagamentos por transferência bancária

(p. f. não se esqueça de nos enviar o comprovativo)

Montepio Geral NIB: 0036 0199 99100033216 22

IBAN: PT50 0036 0199 9910 0033 2162 2 BIC/SWIFT: MPIOPTPL

A Direcção da APT optou pela liberdade de critérios quanto ao Acordo Ortográfico, nos textos publicados no Jornal da APT

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*

Editorial Entre as principais actividades da Direcção em 2013, referimos: — A inauguração do novo website; — A celebração dos 25 Anos da APT; — O regresso da APT ao CNT e a indigitação de cargos; — A criação da Comissão Especializada para a Tradução Ajuramentada — CETA.

Alguns dos projectos iniciados em 2013 serão concretizados posteriormente. Entre outros, referimos as reuniões da CETA com a Direcção-Geral da Administração da Justiça e com a APIC, que decorreram em Fevereiro deste ano. Embora calendarizado para 2013, a entrega do Grande Prémio de Tradução Literária APT/SPA decorreu já em 2014.

Uma das primeiras decisões da Direcção foi a renovação do website da APT. A tarefa foi confiada à colega Elizabeth Barreiros, a

webmaster dos sítios electrónicos anteriores. Durante meses de trocas de sugestões e de contra sugestões entre a APT e a empresa CodeMind, chegou-se à actual versão. É inegável que introduzimos melhorias funcionais. Recordamos que a anterior base de dados electrónica da APT foi das primeiras do mundo entre as associações de tradutores. Entre outras vantagens, muitos dos nossos sócios recebem ofertas de trabalho de clientes espalhados pelos cinco continentes. Alguns vivem exclusivamente das ofertas de emprego via electrónica.

A nossa delegada em Macau, Ana Cristina Alves, tradutora e professora na Universidade daquele território, iniciou contactos com o

Instituto Camões para promover a APT em Macau e no resto da Ásia onde se ensina português. O Instituto Camões, responsável pelos leitorados de português no estrangeiro, está em Beijing, Shanghai, Goa, Díli e Bangkok. A ideia é estabelecer um protocolo com os professores que utilizam a tradução pedagógica para ensinar a língua portuguesa.

Deve-se à actual Presidente do Instituto Camões, Doutora Ana Paula Laborinho, a criação, em 1999, do Prémio de Tradução Literária na Ásia, subsidiado pelo Instituto Português do Oriente, Macau, e a promoção da tradução de autores portugueses para chinês.

Caso as autoridades portuguesas responsáveis pela divulgação da nossa língua no estrangeiro aprovem o projecto, a APT poderá colaborar com a sua experiência profissional.

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Calendário de Actividades — 2014

• 4 de Abril — Conferência da APET onde a APT esteve presente no painel do CNT — Lisboa • 17 de Maio de 2014 — Conferência do CNT na Faculdade de Letras de Coimbra, onde a APT participará.

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Grande Prémio de Tradução Literária Sociedade Portuguesa de Autores — Associação Portuguesa de Tradutores

A cerimónia de entrega do GPTL APT-SPA decorreu no Museu Nacional de Soares dos Reis, Palácio dos Carrancas,

Porto, a 24 de Fevereiro, às 18h00. PROGAMA, por ordem das intervenções

– Representante do Museu Nacional Soares dos Reis, Directora, Dr.ª Maria João Vasconcelos – Representante da Sociedade Portuguesa de Autores

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Dr. Mário Cláudio – Presidente da Associação Portuguesa de Tradutores, Professor Doutor Francisco José Magalhães – Representante do Júri, Professora Doutora Isabel Ponce de Leão – LAUREADO, Doutor Albano Martins – ENTREGA DO PRÉMIO

Resumo das intervenções A Directora do Museu Soares dos Reis desejou as boas-vindas aos presentes e informou que as instalações estão disponíveis para

todas as áreas culturais, nomeadamente a Literatura. De seguida Mário Cláudio teceu considerações à obra do Laureado. Em nome da APT, Francisco José Magalhães evocou a história do GPTL. Isabel Ponce de Leão, um dos membros do júri, fez uma breve apresentação da obra poética de Albano Martins. Por fim, o Laureado usou da palavra para agradecer à SPA, à APT e ao júri a atribuição do GPTL APT-SPA. Por fim procedeu-se à entrega do diploma.

Da esquerda para a direita: Isabel Ponce de Leão, Albano Martins, Maria João Vasconcelos, Mário Cláudio, Francisco José Magalhães

Fotos:JCN

A mão do poeta Albano Martins

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Seguro de Grupo de Responsabilidade Civil

Findo o prazo de resposta e até ao fecho deste nº do Jornal da APT, a Direcção recebeu uma dúzia de respostas ao inquérito acima referido e apenas três se mostraram interessadas neste tipo de apólice.

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Comunicações

25º Aniversário da APT Dia de São Jerónimo — 30 de Setembro 2013 — SPA, Lisboa

Palavras do Presidente da APT

Exma. Senhora Dr.ª Maria Carlos Loureiro, representante da Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas, Exmo. Senhor Dr. José Jorge Letria, Presidente da Sociedade Portuguesa de Autores, Exma. Senhora Professora Doutora Teresa Seruya, Representante da APT nos Prémios de Tradução, Exma. Senhora Dr.ª Fátima Castanheira, em representação do Conselho Nacional de Tradução. Para terminar esta festa de família dos 25 ANOS da Associação Portuguesa de Tradutores, queremos agradecer aos convidados a

sua disponibilidade para participar neste momento da vida da APT. Queremos agradecer também a todos aqueles que se

prontificaram a participar no evento, mas que por razões alheias à sua vontade não podem estar presente.

Queremos agradecer aos sócios e a todos os amigos da APT presentes na sala mais esta prova pública de apoio e solidariedade.

Não vamos aqui historiar o percurso da APT nestes últimos 25

anos, cujo resumo podem ler na nossa página web. Aí não figuram certamente todas as nossas actividades, mas apenas aquelas de que existem registo.

Neste momento não é possível esquecer os sócios fundadores da APT que nos deixaram e cuja ausência empobrece a tradução em Portugal e o espírito de solidariedade entre a classe, de si pouco associativa.

Quanto aos sócios fundadores da APT que se encontram entre nós e que não puderam estar presente, cumprimentamos todos na pessoa da Prof.º Yvette Centeno, a quem agradecemos a sua disponibilidade para “amadrinhar” esta modesta celebração de uma associação de que foi a 1ª Presidente.

Fazemos questão de lembrar ainda as personalidades nacionais e internacionais que ao longo deste quarto de século partilharam connosco a sua experiência, o seu saber, o seu exemplo de rectidão intelectual e a sua generosidade desinteressada.

A nível nacional recordamos com imensa saudade o Prof. Fernando Sylvan — Presidente da Sociedade da Língua Portuguesa — com quem organizámos vários congressos nacionais e internacionais e com quem nutrimos sinceros laços de amizade.

Recordamos as óptimas relações institucionais na atribuição do Grande Prémio de Tradução Literária com a Profª Ana Hatherly, enquanto Presidente do Pen Clube Português.

Agradecemos ao Dr. Renato Borges de Sousa, presidente da EXPOLÍNGUA/PORTUGAL, as condições especiais que nos permitiram ao longo de uma década organizar mesas-redondas no âmbito daquele importante certame.

Daqui enviamos um abraço de conforto aos nossos amigos da empresa de tradução PHILOS, Margarida Fonseca e Silva e Sílvio Oliveira, que nos deram o seu apoio nas batalhas jurídicas que envolveram a APT.

Recordamos com saudade Jeffrey Kingskott, conhecido como “o senhor tradução”, uma das mais reputadas personalidades

mundiais da nossa área de interesse. Apesar dos seus compromissos internacionais aceitou sempre com grande simplicidade participar nas nossas mesas-redondas organizadas no âmbito da EXPOLINGUA/PORTUGAL.

Queremos agradecer ao nosso amigo Jacques Pelage, reputado jurista, professor de tradução jurídica na ESIT e especialista do direito luso-francês, a sua disponibilidade para colaborar durante anos no Jornal da APT e participar em seminários e cursos de tradução jurídica por nós organizados.

Agradecemos a todas as universidades públicas e privadas e institutos politécnicos nacionais que formam tradutores terem dado a oportunidade à APT de falar com os futuros profissionais e de abordar com eles a humildade do nosso trabalho e a integridade intelectual que nos é exigida.

Na impossibilidade de convidar todas as universidades e institutos politécnicos internacionais, desde a Europa à Ásia, passando pela América Latina, que convidaram a APT para falar da sua experiência associativa e exigências do nosso trabalho, agradecemos na pessoa dos nossos amigos da Universidade de Granada, aqui presentes: os Professores María Manuela Fernández Sánchez e José Antonio Sabio Pinilla, ambos reputados académicos e especialistas da História da Tradução em Portugal.

Para fechar o círculo, agradecemos uma vez mais a

disponibilidade da Drª Maria Carlos Loureiro. Quando a APT foi fundada, a Direcção-Geral do Livro d das

Bibliotecas chamava-se, se a memória não nos atraiçoa, Instituto Português do Livro (IPL), apenas 8 anos mais velho do que a APT. Era então tutelado, segundo o humor dos ventos, pela Secretaria de Estado da Cultura ou pelo Ministério da Cultura. Quer o Instituto do Livro, quer o Instituto Português do Livro e da Leitura que lhe seguiu em 1992 apoiaram a APT desde a sua fundação em 1988, subsidiando, por um lado, o Grande Prémio de Tradução Literária, atribuído conjuntamente pela APT e pelo Pen Clube Português, e, por outro, apoiando a edição do Anuário dos Tradutores, conforme a directiva da UNESCO, conhecida por «Recomendação para a Protecção Legal dos Tradutores e da Tradução e dos Meios Práticos para Melhorar o Estatuto dos Tradutores», assinada em Nairóbi no dia 22 de Novembro de 1976. Julgamos saber que os nossos colegas quenianos continuam a ser apoiados pelo Estado. Relativamente a este

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delicado assunto, dir-se-ia que os tradutores portugueses são apátridas.

Quanto às actividades da APT subsidiadas, estas visavam promover a literatura portuguesa junto das associações congéneres estrangeiras, nomeadamente junto do Conselho Europeu das Associações d Tradutores Literários, o Ceatl, e participar em conferências internacionais. Estas actividades deixaram de ser apoiadas pelo Estado português em 2002, mais ano menos ano, depois que a Dr.ª Teresa Gil, com quem tivemos uma excelente relação institucional, deixou o instituto.

Quanto ao Grande Prémio de Tradução Literária, nunca fomos informados da sua extinção, se é que foi extinto.

Não se trata de uma crítica, seja a quem for. O nosso propósito é de lembrar quem de direito que Portugal é o único país membro da União Europeia que não tem um Prémio Nacional de Tradução Literária. Aproveitamos a presença da Dr.ª Maria Carlos Loureiro para pedir que transmita a nossa surpresa ao Dr. José Manuel Cortês, Director-Geral do Livro e das Bibliotecas,

com quem também sempre tivemos uma boa relação institucional. Talvez um dia se possa repor o prémio nacional de tradução e apoiar parcialmente o anuário dos tradutores da APT. É uma ferramenta cara que nos deixa sem recursos para participarmos na assembleia-geral do Conselho Europeu das Associações de Tradutores Literários e da Associação Ibérica de Estudos de Tradução e Interpretação, de que somos um dos membros fundadores.

Por fim, em nome da Direcção e dos Corpos Gerentes da APT queremos expressar o nosso reconhecimento ao Sr. António Moreira que há vinte anos nos acompanha nesta aventura, dando sempre provas de rectidão de carácter, de competência profissional, de dedicação e, acima de tudo, de lealdade e amizade. Muitas das nossas actividades recaem sobre os seus ombros. Daqui lhe enviamos um abraço de reconhecimento público.

Francisco José Magalhães Presidente Da Direcção

*

O Acordo Ortográfico Lauro Portugal

Cumprimento os ilustres membros da mesa e a digna Assembleia Digo da minha satisfação em participar neste evento

comemorativo do quarto de século da Associação Portuguesa de Tradutores, sob a égide de São Jerónimo, seu merecido patrono, merecido e bem escolhido, já que, para além de escritor, filósofo, teólogo, gramático, historiador, dominou o latim, o grego e outras línguas, aprofundando os estudos do hebraico, para bem interpretar – e fê-lo como ninguém – as Sagradas Escrituras. Sendo poliglota, foi tradutor, pois à compreensão e fala de língua estrangeira é inerente o acto de traduzir.

Os tradutores pertencem a uma classe de altas competências técnicas, são agentes multifuncionais no processo informativo, exercendo a actividade em importantes campos – literatura, imprensa, publicidade, cinema, televisão e outros. Logo, a linguagem, a sua ferramenta de trabalho, deve ser o mais escorreita possível.

E aqui – na linguagem – está a porta por onde eu entro para tecer algumas considerações sobre o Acordo Ortográfico.

Este local – a Sociedade Portuguesa de Autores, que é, digo-o sem rebuços, a instituição que mais valoriza e prestigia a língua e a cultura portuguesas – é o bem apropriado para um debate de ideias deste jaez, já que José Jorge Letria, presidente da Direcção e da Administração, não é apenas mestre de currículo académico. A sua mestria concretizou algo digno de registo: a não adesão da

SPA às normas do Acordo Ortográfico, sobre o qual fui convidado – convite que me apraz ter aceitado – pelo presidente da Associação Portuguesa de Tradutores, Dr. Francisco Magalhães, a quem desejo rápidas melhoras, para sucintamente apresentar o meu juízo.

Basicamente direi que discordo plenamente deste Acordo, que

considero um monumental disparate, uma legislação abstrusa, causadora de inconvenientes sociais e pedagógicos, temporal, material, enérgica e psicologicamente desgastante e culturalmente amputadora.

Este nem sequer é um acordo de cavalheiros. Um acordo de cavalheiros acautela os interesses de todas as partes. E bem sabemos que Portugal foi quem mais prejudicado saiu de todo este imbróglio. Com as modificações previstas no novo Acordo, calcula-se que 0,45% do vocabulário do Brasil sofra alterações, enquanto no léxico de Portugal a percentagem elevar-se-á a 1,6% – só “só” quase 4 vezes mais!

Dos inúmeros aspectos negativos de que o Acordo Ortográfico enferma, respigo três, que mais o tempo não deixa, bastantes, no entanto, para nos fazer levar as mãos à cabeça, de tão absurdos:

Ablação gráfica de consoantes mudas ou inarticuladas Unificação da ortografia (Pretensa Unificação)

Hifenização

Ablação de consoantes - Diz-me onde é a receção? - Receção?! Ah! Recèção! - Para mim é receção, Porque com a abolição Do tão necessário “p”, É “receção” que se lê… Foi-me dada explicação Por pessoa que sabia: - O termo com vogal muda

Lembra-nos a economia. Recessão! Deus nos acuda! É “recèção”! “Recèção”! É essa a pronúncia certa! Mas eu pergunto: Porquê? Se lhe amputaram o “p”, Porquê a vogal aberta?! Este Acordo, à revelia

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Das simples leis da razão, Quer matar a ortografia. E matando a ortografia, mata a língua portuguesa, que necessita

dos sinais da proveniência, da raiz, da matriz – da mãe. É um idioma latino, e castrar-lhe fonemas identificativos é crime de lesa-identidade.

Este Novo Acordo suprime as consoantes mudas em algumas palavras – nos digramas cc, cç, ct, pc, pç, pt –, que a etimologia justifica e lhes abrem as vogais. Suprime essas consoantes, mas pretende manter as vogais abertas, o que é um autêntico paradoxo.

Com tais supressões, no digrama cc inspeccionar, direccionar – passarão a ler-se inspecionar,

direcionar (e mudo). Não há qualquer acento, qualquer sinal de abertura da vogal.

no digrama cç colecção resulta em coleção (e mudo). Este Acordo é uma

completa incorreção (e mudo)! no digrama ct Sem o c, arquitecta lê-se arquitêta, como Henriqueta ou teta (e

fechado – não há sinal para abertura do e), e lê-se o cómico espetador, em vez do anterior espectador.

no digrama pc retirando o p a excepcional, pronuncia-se excecional (e mudo).

É dececionante (e mudo)! no digrama pç recepção fica, sem o p, com a pronúncia natural receção (e

mudo).. e nas palavras com o conjunto pt, anulando-se-lhes o p, teremos adotar, otimista (o mudo).

Com a supressão destes fonemas, não resta, como disse,

qualquer sinal para a abertura das vogais. Criou-se, sim, uma convenção: “estas palavras ficam sem consoante, mas mantêm as vogais abertas”. A gente, hoje, sabe que palavras são. Mas no futuro, quando as pessoas não souberem que tais palavras já tiveram uma consoante responsável pela vogal aberta, vão ler, puramente, a vogal muda! É fantástico!

Unificação da ortografia Para unificar a ortografia, despenderam-se, durante 16 anos,

energias, tempo e dinheiro. Em vão. Porque não houve unificação. Nalguns casos houve, até, desunificação. Um deles: o termo concepção continuará, no Brasil, a escrever-se com p, enquanto em Portugal se lho retirou o p. Unificou-se? Desunificou-se, isso sim!

Nem pode unificação. E porquê? Porque as diferenças entre o português de Portugal e o do resto dos países de língua oficial portuguesa, com destaque para o Brasil, têm muito de cariz fonético. E se há diferenças de cariz fonético, e se o objectivo é “escrever conforme se pronuncia”, é impossível a unificação da escrita, porque não há força de lei capaz de alterar a pronúncia de gerações. E se é impossível a unificação, é impossível um acordo de unificação.

Se a pretensão é igualar a escrita à pronúncia, por que é que os nossos irmãos além-atlântico pronunciam Brasiu, cidádji, rapais, mais (adversativa) e escrevem Brasil, cidade, rapaz, mas? Que lógica em dizer sigunda-feira, escrevendo segunda-feira? Igualar a escrita à pronúncia? Missão impossível.

Unifica, porventura, o Novo Acordo, quando aceita duplas grafias? Na linguagem luso-africana Característica — caraterística dactilografia — datilografia Na linguagem portuguesa Português de Portugal — Português do Brasil ceptro — cetro corrupção — corrução amigdalite — amidalite Ainda sob o tema da unificação, não sei que fobias dos acentos

gráficos moveram Malaca Casteleiro e seus acólitos a cortarem rente os acentos nas formas da terceira pessoa do plural do pretérito perfeito dos verbos terminados em -ar e na terceira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo parar. Estudámos fica sem acento e pára sem acento fica. Rápida vem a explicação: o contexto clarifica a ideia! Clarifica? Então vejamos: “Queridos pais, andámos a divertir-nos.” Sem acento, paira a dúvida: “andámos a divertir-nos”, ou “andamos a divertir-nos”? Que contexto?

Que contexto em “Falta de meios para transplantes de rins? Há falta de meios para transplantes, ou a falta de meios pára transplantes?

Hifenização Com o Novo Acordo, toca de cortar hífenes a torto e a direito,

hífenes que servem exactamente para dar às expressões sentido diferente do dos seus termos. Por exemplo:

antes do Acordo: cão-de-guarda (com hífenes): será um cão cuja função é guardar; depois do Acordo: cão de guarda (sem

hífenes): aqui depara-se-nos um caso possessivo: um cão que pertence a um guarda;

E dou um exemplo estrambólico, para o que peço desculpa, sobretudo às senhoras (os cavalheiros, enfim, não são tão delicados):

o desgraçado mora no cu-de-judas (com hífenes, antes do Acordo): mora num lugar distante de tudo; o desgraçado mora no cu de judas (sem hífenes, depois do Acordo): mora mesmo num sítio muito mau e malcheiroso!

Vejam lá se este Acordo não origina autênticas blasfémias escritas!

Os países francófonos ou anglófonos não criaram qualquer acordo ortográfico. São povos mais inteligentes do que nós? Não sei, mas são, seguramente, mais práticos. E o sentido prático já revele inteligência…

Mas, atenção! O Acordo Ortográfico, pese embora tudo aquilo que acabo de dizer, tem um lado bom, tenho de confessá-lo, que traz um benefício para todos os portugueses: esse lado bom, esse benefício é O DIREITO DE DESOBEDECER ÀS SUAS NORMAS, para o que apela IVO MIGUEL BARROSO,

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Assistente da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, no trabalho Inconstitucionalidade e demérito do Acordo Ortográfico. Porque todos os Portugueses têm o direito e o dever de desobedecer às normas constantes do Acordo Ortográfico, in Revista da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, 2011.

Algumas importantes observações do professor: O AO oblitera as raízes greco-latinas da língua portuguesa. O AO é puramente político, não sendo baseado na ciência

linguística nem em pareceres técnicos. O AO viola o princípio da identidade nacional. Desobedecem às normas do Acordo Ortográfico milhões de

portugueses, entre os quais Vasco Graça Moura, que o proibiu no CCB, Eduardo Lourenço, António Lobo Antunes, José Gil, Pacheco Pereira, Miguel Esteves Cardoso, Pedro Mexia; a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa pô-lo de lado; a Associação Portuguesa de Linguística criticou-o; o PEN Clube recusou-o; a Associação Portuguesa da Editores nega-o; a exemplo da Sociedade Portuguesa de Autores, a Associação Portuguesa de Escritores segue a antiga ortografia, tal como segue a antiga ortografia a Associação Portuguesa de Tradutores. São meros exemplos. Só posso dar-lhes os parabéns.

Vou terminar com a menção a Angola e Moçambique. Não ratificaram o Acordo. Deram a Portugal uma lição de Português. Em 8 de Fev. de 2012, o Jornal de Angola escrevia:

Para o Jornal de Angola, o português neste país tem uma

beleza única e uma riqueza inestimável, que devem ser mantidas. (Aceitar o Acordo Ortográfico) é destruir essa preciosidade que herdámos inteira e sem mácula.

Que ninguém ouse impor regras só porque o difícil comércio das palavras assim o exige.

Em futebol Portugal Pode vencer Angola. Mas em Língua

Portuguesa, pelos vistos, Angola triunfa sobre Portugal. Esse mesmo Portugal que António Barreto prevê não existir como país, lá para 2030, se não forem tomadas providências. Aponta as causas sociais e económicas. Mas penso que para o desabamento contarão também, em grande parte, o desleixo, os maus-tratos, o desamor pela língua portuguesa, com agressões vindas quer do exterior – outras linguagens, outras fonéticas – quer do interior – dislates gramaticais, estrangeirismos desnecessários e – este é o ponto que interessa focar no tema presente – abertura de vogais mudas provocada pelo trapalhão Novo Acordo Ortográfico, quando viola a etimologia dos vocábulos, extirpando-lhes as consoantes originais. Descaracterizando-se o idioma, perde-se a identidade.

E aí chegados, nem São Jerónimo nos pode valer.

Lauro Portugal

*

História da Tradução em Portugal. Alguns desafios de futuro

José Antonio Sabio Pinilla Universidade de Granada

(Espanha) Boa tarde. É com muito prazer que estou aqui a participar nesta mesa redonda por motivo do 25º aniversário da Associação

Portuguesa de Tradutores. Comemorar os 25 anos da APT, que foi fundada por um grupo de prestigiados tradutores e que engloba tradutores de perfil muito variado, é uma oportunidade para encontrar colegas e trocar impressões tendo como ponto de referência a tradução.

Em 1983, Maria Alzira Seixo denunciava a situação

profissional dos tradutores portugueses da seguinte maneira: A “profissão” de tradutor não é reconhecida oficialmente e não

há organizações que se proponham a dupla tarefa de fornecer uma formação adequada e ao mesmo tempo de defender os direitos de reconhecimento social (e eventualmente artístico) e de justa remuneração a que o tradutor competente tem direito; e trata-se, justamente, de uma dupla tarefa na medida em que não estará certo assegurar a defesa profissional do tradutor sem ter criado simultaneamente (ou mesmo antes) as condições dessa sua profissionalização (Seixo, 1983: 6).

A criação em 1990 da APT veio mudar esta situação, nomeadamente a partir do seu terceiro Presidente, Francisco José Magalhães (1992-2008), a quem queria agradecer muito sentidamente o convite que me dirigiu para participar nesta mesa redonda (desta vez na qualidade de sexto Presidente da APT). Foi ele que começou a defender, num sentido lato, os interesses dos tradutores portugueses desenvolvendo algumas questões como a

formação, as saídas profissionais ou as remunerações, ainda vigentes até aos nossos dias.

Antes de comentar brevemente alguns desafios no estudo da História da Tradução em Portugal quero saudar também aos outros membros desta mesa.

Breve história Um 30 de Setembro, mas de 1997, há portanto dezasseis anos,

apresentei nesta Sociedade Portuguesa de Escritores o projecto de antologia de textos teóricos sobre a tradução em Portugal, obra que seria publicada em 1998 pelas edições Colibri com o apoio do Instituto Português do Livro e das Bibliotecas (sendo, naquela altura, Directora do IPLB a doutora Maria Teresa Gil). A obra intitula-se O discurso sobre a tradução em Portugal. O proveito, o ensino e a crítica. Antologia (c. 1429-1818) e foi elaborada em colaboração com a minha colega María Manuela Fernández Sánchez, que está hoje connosco na sala.

Nesse dia do nosso patrono São Jerónimo (autor da Carta a Pamáquio que é considerada na tradição ocidental como uma

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espécie de carta magna do tradutor e que foi traduzida em 1995 por Aires A. Nascimento), conheci o doutor Carlos Castilho Pais que vinha de publicar nos prelos da Universidade Aberta a antologia de textos teóricos de tradução, Teoria diacrónica da tradução portuguesa. Antologia (Séc. XV-XX). Estas duas antologias constituem um primeiro esboço da história da tradução em Portugal do ponto de vista dos textos teóricos, isto é, da reflexão que os tradutores portugueses fizeram acerca do seu trabalho na esteira de São Jerónimo. Pode dizer-se que, em certa maneira, o estudo da História da Tradução em Portugal se iniciou nos anos noventa do século vinte com estas antologias. Note-se que quando falo em História da Tradução, estou a referir-me a uma disciplina dos Estudos de Tradução que tem por objectivo o conhecimento do passado tradutório, neste caso numa área cultural dada.

No tocante à história da tradução portuguesa ainda não há uma obra de conjunto; temos alguns contributos para certas épocas como, por exemplo, os trabalhos de Castilho Pais em relação à tradução oral no século XVI (2003) e a outros aspectos gerais (2005), e panorâmicas acerca da Corte de Avis (Fernández Sánchez & Sabio Pinilla, 1999), dos séculos XVI e XVII (Fernández Sánchez & Sabio Pinilla, 2003) e do século XVIII (Sabio Pinilla, 2009). Porém, fica muito por fazer no âmbito da História da Tradução em Portugal: “Lo cual no es ni mucho menos extraño, dado que ni siquiera en Portugal se ha historiado, en parte o en todo, una actividad traductora que ha venido desarrollándose sin interrupción a lo largo de los últimos ocho siglos” (Santoyo, 2005: 14).

Foi a obra monumental de António Augusto Gonçalves Rodrigues, A Tradução em Portugal, publicada em cinco volumes entre 1992 e 1999, que abriu o caminho do estudo histórico da recepção de literatura traduzida. Trata-se de uma recolha bibliográfica de traduções desde 1495 até 1930 enquadrada na investigação da história externa da tradução. O autor oferece um inventário muito amplo das traduções aparecidas em Portugal constituindo um ponto de partida para futuros estudos tradutológicos. Nesse sentido, é preciso destacarmos o nome de Teresa Seruya. Responsável pela colecção “Estudos de Tradução em Portugal”, onde tem publicado os contributos de seis colóquios que visam aprofundar a relação entre a história literária e as traduções, esta autora tem vindo a continuar a obra de Gonçalves Rodrigues. O seu projecto “Literatura Intercultural em Portugal: Bibliografia Crítica (1930-2000)” responde ao objectivo geral de elaborar uma base de dados bibliográficos sobre a tradução da literatura publicada em Portugal de 1930 a 2000.

A maioria dos projectos de investigação em andamento em Portugal têm a ver com a recepção de traduções literárias mantendo uma estreita relação com a história literária, os estudos filológicos e a literatura comparada, mas é preciso ainda alargar o âmbito da pesquisa à História da Tradução.

Desafios de futuro O trabalho histórico é principalmente um trabalho de fontes.

Por um lado, este trabalho envolve grandes dificuldades, dada a dispersão e a variedade de documentos; por outro lado, essas fontes e documentos precisam de ser reconstruídos e interpretados pelo historiador. Um dos objectivos do historiador é tirar do anonimato os tradutores e mediadores, autênticos sujeitos históricos, pondo em evidência as suas principais funções na história da tradução, mas também é importante resgatar do esquecimento traduções e elaborar estudos de recepção. Passo a apresentar alguns projectos que, na minha opinião, urge desenvolver:

• Esboçar uma História breve da Tradução em Portugal que insira os tradutores na história social e cultural assim como a influência que as traduções exerceram na configuração do sistema

literário português. É preciso elaborar uma história paralela à História da Literatura Portuguesa, de onde a tradução normalmente esteve ausente. Uma excepção é a entrada Traduções do Dicionário de Literatura dirigido por Jacinto do Prado Coelho.

• Elaborar um Dicionário de Tradutores, na linha do Diccionario histórico de la traducción en España, editado por Francisco Lafarga e Luis Pegenaute (2009), que poderia dar lugar a outros desenvolvimentos mais amplos como biografias ou mesmo uma Enciclopédia da Tradução Portuguesa.

• Editar traduções consideradas representativas e canónicas com estudo e aparelho crítico.

• Dar continuidade ao projecto dirigido pela Professora Teresa Seruya e estudar a recepção das traduções no Estado Novo e noutros períodos.

• Alargar essa pesquisa aos intérpretes de Salazar. • Organizar novas antologias e readers. • Historiar outros espaços como África, Brasil ou Ásia. Um

primeiro esboço já foi feito por Maria Manuela Gomes Paiva, Traduzir em Macau. Ler o outro – para uma história da mediação linguística e cultural. Dissertação de Doutoramento em Estudos Portugueses (Especialidade de Estudos de Tradução). Universidade Aberta, 2008.

Os desafios são imensos, mas aliciantes, precisam de equipas bem coordenadas e de apoios institucionais.

Muito obrigado pela vossa atenção. Referências Coelho, Jacinto do Prado (dir.) (1997-2003). Traduções (pp.

1095-1108). In: Dicionário de Literatura: Literatura Portuguesa, Literatura Brasileira, Literatura Galega, Estilística Literária. Porto: Mário Figueirinhas Editor.

Fernández Sánchez, Mª Manuela & Sabio Pinilla, José A. (1999). “Traducción clásica y reflexiones sobre la traducción en la Corte de Aviz”, TRANS: Revista de Traductología, 3, 23-36.

Fernández Sánchez, Mª Manuela & Sabio Pinilla, José A. (2003). “La traducción en Portugal durante los siglos XVI y XVII” (pp. 205-242). In: J. A. Sabio Pinilla y Mª D. Valencia (eds.), Seis estudios sobre la traducción en los siglos XVI y XVII. Granada: Comares.

Lafarga, Francisco & Pegenaute, Luis (eds.) (2009). Diccionario histórico de la traducción en España. Madrid: Gredos.

Nascimento, Aires A. (1995). Carta a Pamáquio sobre os problemas da tradução, Ep. 27 de São Jerónimo. Introdução, revisão de edição, tradução e notas de... Lisboa: Edições Cosmos.

Pais, Carlos Castilho (2003). “Aspectos de la traducción oral en Portugal en el siglo XVI” (pp. 169-204). In: J. A. Sabio Pinilla y Mª D. Valencia (eds.), Seis estudios sobre la traducción en los siglos XVI y XVII. Granada: Comares.

Pais, Carlos Castilho (2005). Apuntes de Historia de la Traducción Portuguesa. Vertere, Monográficos de la revista Hermēneus, 7.

Rodrigues, António A. Gonçalves (1992). A Tradução em Portugal. Tentativa de resenha cronológica das traduções impressas em língua portuguesa excluindo o Brasil, de 1495 a 1950. Vol. I. 1495-1834. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

— (1992). Vol. II. 1835-1850. Lisboa: Instituto de Língua e Cultura Portuguesa..

— (1993) Vol. III. 1851-1870. Lisboa: ISLA. — (1994) Vol. IV. 1871-1900. Lisboa: ISLA. — (1999) Vol. V. 1901-1930. Lisboa: ISLA. Sabio Pinilla, José A. (2009). “La traducción en Portugal

durante el siglo XVIII” (pp. 207-249). In: J. A. Sabio Pinilla

10

(ed.), La traducción en la época ilustrada (Panorámicas de la traducción en el siglo XVIII). Granada: Comares.

Santoyo, Julio César (2005).”Prólogo” (pp. 13-15). In: Carlos Castilho Pais, Apuntes de Historia de la Traducción Portuguesa. Vertere, Monográficos de la revista Hermēneus, 7.

Seixo, Maria Alzira (1983). “O problema da tradução literária em Portugal” (pp. 5-8). In: AA. VV., Problemas de tradução: escrever, traduzindo. Lisboa: GUELF (Grupo Universitário de Estudos de Literatura Francesa).

José Antonio Sabio Pinilla

* Acordo Ortográfico — A Saga Continua

A Direcção da APT agradece ao autor a autorização para divulgar no Jornal da APT o texto que segue. O Prof. Doutor Manuel

Alte da Veiga, jubilado da Universidade de Aveiro, estudou longos anos na Bélgica e Inglaterra e tem várias obras e artigos publicados de carácter científico e literário. É citado diversas vezes no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea (2001).

O Estranho Acordo Ortográfico Manuel Alte da Veiga

A Língua Portuguesa à Venda?

O acordo vingou quando se encontrava em plena vigência um programa muito apregoado de contenção de despesas e de defesa da poupança familiar, para o que se promoveu a utilização plurianual dos mesmos livros escolares e de bem rodados dicionários da Língua Portuguesa.

Já depois do impasse da reunião sobre um acordo ortográfico em 1986, com representantes de toda a lusofonia, e mantendo-se

embora a «ameaça» de uma significativa reestruturação da grafia, lança-se a edição de dois dos mais conceituados dicionários (Academia das Letras em 2001 e Houaiss em 2002), sendo este último, reconhecidamente, um grande marco de estudo e referência da língua portuguesa como ainda não tinha existido.

Pergunta-se: A quem deu proveito a obrigatoriedade de novas reedições de dicionários e de outro material didáctico, do gasto com novos impressos, de novos cartazes de todo o tipo e com o próprio sistema automático de correcção?

A quem deu jeito tirar importância (reduzindo-os a «caducos») a excelentes dicionários recentes e a milhões de obras literárias? Não foi de certeza à comunidade dos que utilizam a língua portuguesa como comunicação e arte.

Estaremos perante mais um exemplo, por parte de quem tem muito ou algum poder, de a todo o custo «pôr a assinatura», «impor» e deixar marca, sem necessária consideração dos prós e contras? Não terá sido mais um abuso da submissão e conformismo do povo português?

Terá o Parlamento aplicado a competência necessária para avaliar a fundamentabilidade de uma proposta deste tipo e a gravidade de efeitos secundários (sobre os quais já muito se escreveu)? Como se pode falar de «consenso» com tanto desacordo da parte de organismos representativos da cultura portuguesa? E qual a validade do levantamento da pronúncia de cada palavra?...

Também não deixou de ser estranha a voracidade com que vários meios de comunicação, escritórios, serviços administrativos, etc., quiseram mostrar que se «modernizavam», apesar dos custos financeiros – e vários anos antes da data estabelecida pela própria disposição legal para a entrada em vigor! (Mesmo com esse prazo em mente, os anos que faltam deveriam ser aproveitados para ensaiar os prós e contras da proposta, procurando participação significativa da sociedade). Motivados pela dependência de subsídios e favores do Estado? Para agradar a certas correntes? Nem a Igreja Católica portuguesa aproveitou o momento, através da Universidade Católica, para uma reflexão esclarecedora e enriquecedora sobre as causas e consequências do «acordo», ela que se diz sensível aos valores culturais.

«A guerra dos mundos» linguísticos Pese o muitíssimo que nos une, Portugal e os demais países lusófonos estão situados em contextos político-geográficos muito

diversos. Como a linguagem depende muito destes contextos, é natural alguma diferenciação linguística, sobretudo na pronúncia e na admissão de novos sentidos ou mesmo de vocábulos novos que traduzam a riqueza de novas experiências.

A geopolítica do Brasil favoreceu uma simplificação gráfica e evolução semântica muito própria, dando origem a uma «norma brasileira» a par da «norma portuguesa».

Não seria, pois, mais sensato e correcto, linguística e politicamente, que os grandes dicionários do mundo lusófono referissem as variantes de todos os países que o integram? Não seria mais enriquecedor e também mais prático? Cabe aos grandes dicionários revelar a riqueza cultural por detrás das palavras, utilizando a história da formação (inclui a etimologia) destas últimas.

Uma língua viva é uma língua que não rejeita as diferenças, mas não deixa de ser um sistema tremendamente delicado e facilmente maltratado. «Brincar com ela» (como na criação artística) exige o domínio da sólida estrutura básica. «Brincar» por interesses económicos e políticos tem consequências nefastas.

Por isso é que a universalidade de uma língua exige a defesa da ortografia de base, que não só promove a união como impede uma caótica diferenciação fonética, além de facilitar a sua aprendizagem e utilização nas relações internacionais. É ela que sustenta as diferentes dicções.

É normal que a dicção das palavras mais correntes suavize sons duros (pt, ct,etc.), embora os pronuncie nas formas derivadas (em princípio menos usuais). Mas pôr a escrita a acompanhar simplesmente a pronúncia favorece progressiva infantilização da linguagem

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e rápida destruição da identidade da Língua; põe em causa (com exígua razoabilidade) um sistema já interiorizado e manifesto na riquíssima produção literária dos últimos decénios; e arruína um sistema com muito grande coerência interna e revelador das linhas de força que presidem à formação comum das principais Línguas e portanto à estruturação do pensamento e da visão do universo.

Esta «ortografia de base» (que o «acordo» ataca) é seguida em Portugal e em vários países lusófonos. Reflecte valores comuns e milenares influências culturais comuns. Felizmente, já estamos muito longe da iliteracia e débil afirmação da Língua dos anos 40 (a última grande «reforma»). Não se pode pensar que os portugueses sejam incapazes de ligar a dicção com a grafia e de entender a importância histórica e prática do actual «capital literário».

Manuel Alte da Veiga

04-05/02/2014

*

P.E.N. Clube Internacional Lemos na Internet a “Resolução do Comité de Tradução e Direitos Linguísticos do P.E.N. Clube sobre a Língua Portuguesa”. Foi

aprovada por unanimidade na Assembleia de Delegados do PEN Internacional, reunida no seu 79º Congresso Mundial em Reiquejavique, Islândia, entre 9 e 12 de Setembro de 2013

[…] A Resolução sublinhava o perigo inerente a regras artificiais

concebidas para minar a força de todas as línguas. A estandardização é uma violação, não apenas dos princípios do Manifesto de Girona, mas também do Artigo 78º.2 c) da Constituição da República Portuguesa, segundo a qual o Estado é responsável por “promover a salvaguarda e a valorização do património cultural, tornando-o elemento vivificador da identidade cultural comum”. A Constituição da República Portuguesa afirma igualmente no Artigo 43º.2: “O Estado não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer directrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas”.

O PEN Clube Português expressa a sua preocupação com a

destruição e fragmentação da língua portuguesa, na sua variante europeia, ao longo de todo o ano transacto. Tiveram lugar as seguintes ocorrências:

— O texto do “Acordo Ortográfico de 1990” é em si problemático, uma vez que a nova ortografia proposta retira palavras do seu contexto etimológico e cultural, rompendo ligações com as raízes gregas e latinas da língua.

— A aproximação por equivalência à ortografia brasileira foi negada com o adiamento do Acordo pelo Brasil até ao início de 2016.

— Muitos escritores e tradutores portugueses têm vindo a ser forçados pelos editores no sentido de deixarem que os seus textos sejam convertidos para uma língua escrita estandardizada. Só escritores de renome têm poder para dizerem não a tais condições e para conservar as suas opções de escrita.

— Depois de quase 2 anos de implementação caótica e arbitrária, em Maio de 2013, opositores ao Acordo apresentaram ao Parlamento português uma petição com mais de 4000 assinaturas, solicitando uma “revogação imediata ou, no mínimo, uma suspensão” do Segundo Protocolo Modificativo. Segundo este Protocolo, a ratificação de apenas três dos oito países lusófonos seria suficiente para que o Acordo entre em vigor.

— O PEN Clube Português, juntando-se a numerosas organizações da sociedade civil, expressou a sua posição desde o início de 2012, altura em que organizou uma discussão pública acerca dos problemas causados por um Acordo desta natureza. Tal facto foi sublinhado nas reuniões do Comité de Tradução e Direitos Linguísticos do PEN Internacional em Barcelona (Junho de 2012) e na Coreia (Setembro de 2012).

— Em Março de 2013, o PEN Clube Português aprovou, na sua Assembleia Geral, uma resolução sublinhando que as opiniões dos autores deveriam ser tomadas em conta na discussão do processo.

— Em Abril de 2013, o PEN Clube Português foi ouvido pela 8ª Comissão Parlamentar, de Educação, Ciência e Cultura, tendo reiterado as principais preocupações dos escritores portugueses acerca do futuro da língua portuguesa, em Portugal e no estrangeiro. Em particular, o PEN Clube Português manifestou a sua preocupação pelo facto de os pareceres de reconhecidos especialistas terem sido simplesmente ignorados. O PEN Clube Português exortou, nessa ocasião, os políticos portugueses com poder de decisão na matéria a terem a coragem de agir em conformidade com a gravidade desta importante questão.

O PEN Internacional apela assim às autoridades portuguesas no

sentido de: — Tomarem medidas imediatas para permitir a reposição do

Português Europeu nos documentos e trâmites oficiais e nas escolas. Esta herança cultural comum deveria ser respeitada de acordo com a Constituição Portuguesa, com inteira liberdade face a qualquer interferência política;

— Terem em conta, ao longo deste processo, as opiniões de especialistas da língua, bem como as opções de escrita de escritores e tradutores portugueses, e garantirem que os editores renunciam a impor condições que são abusivas e restritivas face à criação literária.

Contacto: P.E.N. Clube Português www.penclubeportugues.org e-mail: [email protected]

*

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O Acordo da Discórdia

Francisco José Magalhães

Por razões profissionais acompanhámos a génese do Acordo Ortográfico (AO) e falámos muitas horas com os seus “padrinhos” e ouvimos a lista de benefícios culturais, económicos e políticos para Portugal. Passados anos, e milhões de euros mais tarde, os políticos do governo de José Sócrates disseram-nos: — “Aceitem o nosso acordo e depois discordem”. Enfim, o habitual cheque em branco confiado aos políticos. — Como prova de espírito antidemocrático, não se pode esperar mais. Mas onde há “padrinhos”, há, forçosamente, “afilhados”, que não são, de certeza, os tradutores.

A génese do AO está directamente ligada à luta de poder entre dois galos. Na verdade, um galo e uma galinha. Ambos queriam o poleiro nacional do prestígio linguístico. Um dos protagonistas custou ao erário nacional centenas de milhares de euros em viagens pelo mundo lusófono, com direito a alojamento, despesas de representação e outras mordomias dos “peritos estatais”. O outro protagonista recebeu muitas centenas de milhares de fundos comunitários, nem sempre aplicados na “investigação”. Tudo em nome de um ideal: a “língua portuguesa”, quer seja sob a forma de AO ou de TELEBS.

Aquando da XIV Semana Sociológica organizada pela

Universidade Lusófona do Porto, em Abril 2008, dedicada ao tema do “Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa”, dissemos a quem quis ouvir:

“A tradução que podemos fazer de todos os debates que tem

havido, em Portugal, a propósito do anunciado Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, é que se trata de um problema mais político do que científico.”

E acrescentamos: “Na área do Direito: a terminologia jurídica não é universal na

Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) pelo

simples facto de a jurisprudência não ser a mesma em cada um dos países. Por exemplo, as expressões latinas consagradas nos vários regimes jurídicos não são forçosamente as mesmas: na endotradução podem desaparecer ou serem utilizadas em contextos diferentes. Mais uma vez, o problema, não está na ortografia, mas na semântica, na linguagem jurídica, técnica e científica. E foi precisamente o que os autores do AO ignoraram.”

E acrescentámos mais adiante: “Como se sabe, existe uma qualidade humana nos decisores

portugueses que os tornou famosos no mundo: a consensualidade com o seu próprio umbigo. O resto é paisagem de umbigos. Na área da tradução, o AO criou um mercado de trabalho idêntico à luta entre Golias (o Brasil) e David (Portugal).”

E para terminar com referências: “Como vimos acima, a realidade social e as regras do mercado

não se regem por lunaticidades intelectuais. Deixemos os académicos lutarem no tabuleiro do xadrez pelos louros dos seus orgulhos pessoais, quer seja derrotando a TELEBS ou aprovando o AO. Mas recusemos frontalmente colaborar com medidas políticas que afectam a cultura portuguesa e a qualidade da Tradução. Acima de tudo, o Acordo é um “xeque-mate” aos tradutores portugueses.

No debate público que se seguiu, respondemos a alguém, que

concordava com o nosso ponto de vista: “em Portugal, depois de discussões intermináveis e de lutas fratricidas, os guerreiros esquecem o pomo da discórdia, arrumam no armário as espadas da contenda e não falam mais disso. O pior, é que as discussões, as lutas e os guerreiros ficam caros ao erário público.”

Se não tivéssemos a noção do ridículo, diríamos que se tratava

de uma “profecia”. Francisco José Magalhães

*

Em Portugal, não é de agora, nem de ontem: um belo dia os “eu-quero” acordam com uma obsessão em mente e logo decidem iluminar o resto do País. O País não concorda? Não tem importância, decida-se à força. A decisão foi tomada em cima dos joelhos? Não tem importância, a resolução será decidida em cima dos joelhos. Constata-se que a ideia fixa perturba a paz social e a economia nacional? Não tem importância, revogue-se a resolução em cima dos joelhos. O que se espera dos políticos, é que a sua incoerência seja coerente do princípio ao fim, isto é: em cima dos joelhos. A resolução do Conselho de Ministro de Janeiro de 2011 impôs o “acordo da discórdia” em cima dos joelhos. Este voltou à Assembleia da República, desta vez como “desacordo ao acordo”. Segundo a comunicação social, o assunto continua a ser tratado em cima dos joelhos.

O jornal Público de 28.2.2014 publicou, nas pp. 4 e 5, dois artigos sobre o Acordo Ortográfico assinados, respectivamente, por

Maria Lopes e Luís Miguel Queirós. Transcrevemos aqui algumas passagens essenciais dos referidos textos.

Deputados querem passar ao Governo ónus da análise do AO Maria Lopes

“Ameaça de voto contra da bancada "laranja" a resolução do

PSD e do CDS-PP obrigou deputados a retirar cenário de revogação ou suspensão do acordo”.

O que é que os deputados deveriam debater nesse dia? A autora

esclarece-nos: “Discutir a aplicação, sim; atitudes radicais de suspender

o acordo ortográfico, não. Esta é a posição da maioria

parlamentar acerca do actual acordo ortográfico, tema que hoje volta à Assembleia da República (AR), onde deverá ser aprovada uma resolução que recomenda ao Governo que constitua um grupo de trabalho, no âmbito da Presidência do Conselho de Ministros, para analisar a aplicação da actual versão do acordo ortográfico nos vários países que o subscreveram.”

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Nessa altura seria ainda discutida “uma petição pela desvinculação de Portugal do acordo, assim como propostas de resolução do PCP e Bloco que vão no sentido da renegociação dos termos do acordo e da revisão.”

No entanto, à última hora, os deputados centristas José Ribeiro

e Castro e Michael Seufert e o social-democrata João Mota Amaral, suavizaram a proposta da sua autoria, constituir um grupo de trabalho, “deixando cair dois pontos sobre as consequências das conclusões para poder contar com o voto favorável do PSD”, escreve Maria Lopes. Para José Ribeiro e Castro o importante é que se "constitua de facto esse grupo de trabalho ao nível do Governo e que haja um acompanhamento mais estreito da execução do acordo em todos os países, assegu-rando que Portugal não fica isolado". De acordo com a jornalista, o grupo de trabalho propõe que se inclua “representantes das áreas dos Negócios Estrangeiros, da Educação, da Cultura, da Economia e da Ciência.”

Por outras palavras, dizemos nós, procura-se que haja mais vozes do que nozes. À boa maneira portuguesa, enquanto se vozeia não se partem nozes.

Neste artigo, Maria Lopes recorda que, entre Janeiro e Julho de

2013, “o Parlamento teve um grupo de trabalho para acompanhamento da aplicação do acordo ortográfico no âmbito da Comissão de Educação, Ciência e Cultura, constituído por pro-posta do PCP, em que foram ouvidas dezenas de pessoas e entidades e recolheu muita informação, O trabalho não teve aplicação prática. Ribeiro e Castro diz que todo esse acervo pode e deve ser usado pelo grupo que for constituído pelo Governo.”

Ainda segundo a jornalista, “O grupo de trabalho proposto

deve, no prazo de quatro meses, apresentar um «relatório objectivo e factual com o ponto de situação da aplicação do acordo» nos diferentes Estados quem o subscreveram e sobre a «perspectiva da sua efectiva aplicabilidade obrigatória até ao final de 2015 em todo o espaço de referência». […] Ribeiro e Castro salienta a necessidade de o vocabulário nacional «poder ser me-

lhorado» e, do ponto de vista político, «é importante não comprometer a gestão comum da língua». «Sei que há muita gente contra o acordo. Esse não é o meu ponto de vista», adverte Ribeiro e Castro, que defende que é preciso «melhorar a aplicação. É importante não ficarmos sozinhos numa terra de ninguém e com uma língua que não é exactamente a nossa, em que não nos reconhecemos, e que é um desvio acentuado da ma-triz europeia da nossa língua.»

Como era de prever, acrescentamos nós, os partidos políticos

representados na Assembleia da República não podem dar sinais do que os Ingleses chamam: senso comum. A imagem política dos nossos “eu-quero” é o desacordo entre os partidos. À imagem do que acontece com o resto da população, um acordo é sinal de humilhação. Dir-se-ia que lhes caía os parentes à lama se estivessem de acordo com os “adversários”. Basta observar a posição de qualquer partido parlamentar.

Segundo Maria Lopes:

“No caso do PCP, o partido quer que o Parlamento recomende ao Governo que crie um Instituto para a Língua Portuguesa, que seja uma verdadeira Autoridade da Língua; que alargue o prazo de transição, com aceitação de dupla grafia, até 31 de Dezembro de 2016. E que, se até essa altura não existir um «acordo comummente aceite e uma proposta de vocabulário ortográfico comum», então que Portugal se desvincule do acordo.”

E Maria Lopes termina referindo que o Parlamento agendou

discutir a petição pública, assinada por 18 mil pessoas, que pede a Desvinculação de Portugal ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990:

“Ivo Barroso, um dos primeiros subscritores, disse ao PÚBLICO que não tenciona estar presente por se sentir «desiludido» por os partidos não terem acolhido o assunto e continuarem a permitir o «caos ortográfico» que se instalou na língua portuguesa.”

Para terminar, transcrevemos o texto em caixa:

“O Parlamento já teve um grupo para acompanhar a aplicação do AO, mas o seu trabalho não teve aplicação prática”.

*

Aplicação de novas regras ortográficas não abriu o mercado brasileiro ao livro português

Luís Miguel Queirós

“Ao estabelecer uma ortografia unificada, o acordo ortográfico (AO) iria facilitar a circulação do livro [português no Brasil]. Este foi, entre outros, um dos argumentos brandidos em favor da sua aplicação. Agora que, tanto em Portugal como no Brasil, boa parte das editoras adoptaram o acordo, essa promessa começa já a concretizar-se? A resposta parece ser negativa.”

E mais adiante, Luís Miguel Queirós acrescenta:

“A LeYa é hoje o único dos três principais grupos editoriais portugueses [os outros são a Porto Editora e a Babel] com um ramo brasileiro. A LeYa-Brasil publica edições generalistas, mas está também presente no livro escolar, através da chancela Alumnus. Tendo adoptado o novo AO já em Abril de 2011, a editora usa a norma europeia nas edições portuguesas e a norma brasileira nos livros destinados ao mercado brasileiro. O director de comunicação

do grupo, José Menezes, diz que o AO "não foi relevante" para os projectos da Leya no Brasil e adianta que "dificilmente um livro publicado em Portugal pela LeYa sai no Brasil exactamente igual ao que saiu cá, e vice-versa".

Mais adiante, o autor do artigo cita Manuel Valente, um dos

responsáveis editoriais da Porto Editora:

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"o acordo ortográfico não altera nada em relação aos problemas de incomunicabilidade", porque eles estão noutro lado e não no facto de escrevermos 'acto' ou 'ato'".

A terminar, o autor do artigo refere Pedro Bénard da Costa, que

trabalha em legendagem para a Cinemateca: “Se «não faz sentido» usar em Portugal legendas em português

do Brasil, observa, o inverso «seria muito pior, seria o caos». Parecendo-lhe «evidente» que o AO não evita que se continue a

fazer legendas diferentes para os mercados português e brasileiro, Pedro Bénard da Costa argumenta: «A construção gramatical é completamente diferente, e há imensas palavras que não têm o mesmo sentido cá e lá.»

Acrescentamos nós: foi precisamente o que dissemos ao

progenitor do AO ainda no período de gestação, em relação aos termos de direito. Sabendo que na tradução não literária, praticamente todos os textos têm uma dimensão jurídica.

*

Cartas à Direcção

Agradecemos à nossa colega a autorização para divulgar no Jornal da APT a carta enviada à Direcção. Serve de ponto de partida para tecer algumas considerações sobre o assunto.

Caros Colegas, Venho informá-los que não estarei presente na Assembleia-Geral de Fevereiro. Na verdade não tenho paciência para assistir a discussões cujo propósito é criticar os Corpos Gerentes, em termos que roçam o

insulto gratuito. Uma coisa é a troca de opiniões construtivas e outra a atitude negativa de certos sócios. Lamento que haja quem confunda o propósito de uma assembleia de âmbito cultural com uma reunião de condóminos.

Cumprimentos, Carlota Rodrigues Vogal da MAG

*

Comunicações

Assembleias Gerais Revisitadas Francisco José Magalhães

Por diversas vezes abordamos o assunto no Jornal da APT. Desta vez o texto está escrito na primeira pessoa e exprime um ponto de

vista pessoal. Julgamos saber que alguns colegas dos Corpos Gerentes o subscreveriam. Há vinte e cinco anos que assisto às Assembleias Gerais (AG)

da APT. Esta experiência permite-me dizer que vi de tudo, de todas as cores, feitios e tamanhos. Sobretudo, ouvi de tudo e em todos os registos de voz, quer fosse de aprovação, quer fosse de reprovação. Assisti a AG com quatro sócios e outras com dezenas. Apesar desta experiência, apenas posso testemunhar que a média de sócios presentes nas AG situa-se entre uma e duas dezenas. O que, em si, não permite extrapolar o motivo de ausência dos sócios. Esta ausência tem múltiplas razões. Seria abusivo da minha parte falar em nome de todos os sócios ausentes. Aparentemente não é o caso de colegas que — não é de hoje — aparecem esporadicamente nas AG e se permitem falar em nome de todos os sócios ausentes (e presentes). São casos isolados, mas notados por aparecerem nas AG munidos de verdades absolutas. Como absolutistas, querem que todos pensem como eles. Nesta veia, responsabilizam a Direcção por não ir buscar os sócios a casa e arrastá-los até à AG. Embora poucos, não se inibem de vuvuzelar "eu-quero", como se a Associação fosse uma quinta particular que deveria reflectir a sua visão do mundo.

A explicação da ausência de sócios nas AG é uma das certezas absolutas que emerge de tempos-a-tempos. Existe uma explicação plausível para a ausência de sócios nas AG? Não. Existem várias explicações possíveis? Talvez. Mas todas elas parcelares e nenhuma absoluta. A razão pessoal de pertencer a uma associação, como a um sindicato, é complexa e ultrapassa a simples razão de pertença a um grupo profissional. Como explicar que nenhum dos membros fundadores da APT tivesse aparecido na homenagem que lhes prestámos aquando da celebração dos 25 Anos da APT, no Dia de São Jerónimo? Mesmo os que confirmaram a sua presença?

Manda o bom senso desconfiar dos absolutistas que detêm a

verdade. No passado, apareceram nas AG alguns "eu-quero" que se comportavam como talibãs no meio de pacíficos cristãos. Suspeitemos dos lobos que vestem a pele de cordeiro com o intuito de assaltar o galinheiro. De boas intenções está o inferno cheio. Diz-se.

A expressão popular “a árvore esconde a floresta” está associada ao seu oposto: “a floresta esconde a árvore”. O que, por sua vez, permite associá-las a uma nova perspectiva: “deitados na relva, não vemos se é a árvore que esconde a floresta ou se é a

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floresta que esconde a árvore”. A esta última premissa podemos introduzir uma quinta variante: a vista aérea. Nesse caso, teríamos uma ideia da superfície da floresta, mas não da altura da copa das árvores. A ideia do conjunto é tanto mais completa, quanto mais variantes factuais tiverem. Por outras palavras, a imagem do objecto é mais completa. Ora o oposto à ideia de conjunto, é o “sentimento impressionista”.

Em termos democráticos, as declarações impressionistas seriam tão válidas quanto as outras, se acompanhadas de alguma retenção, se fossem um salutar contributo associativo. O que se verifica, é que quanto mais impressionistas são as declarações, mais a voz se eleva e tenta impor-se de forma antidemocrática. Se estes casos são raros nas AG, são os que causam mais ruídos parasitas: autoelegem-se papas absolutos do conclave de sócios em particular e de tradutores em geral. Confundindo os meios com os fins, estão convencidos que são “mestres” na condução do seu rebanho. Esquecem-se que os sócios não são carneiros.

Os “eu-quero”, como detentores de certezas absolutas, podem ter razão ao nível da erva, ou mesmo da árvore, quanto a deficiências da Direcção. Podem até ser bem-intencionados. Perdem no entanto a razão quando confundem a árvore com a floresta e ignoram que a Direcção também tem boas-intenções quanto à sua autonomia decisória. As decisões da Direcção levam em conta todos os elementos conhecidos que possam interessar e beneficiar os sócios. Ninguém conhece melhor os sócios do que a Direcção. Não é a erva que impede a árvore, e ainda menos a floresta, de defender os interesses dos sócios. Os detentores de certezas absolutas esquecem-se de que a ideia que a Direcção tem dos sócios vem das conversas pessoais e das sugestões feitas por telefone, por e-mail e por carta.

Quer se queira quer não, a opinião das muitas centenas de

sócios que interroguei pessoalmente dá-me uma radiografia mais aproximada da realidade do que qualquer “sentimento impressionista” desgarrado. A minha radiografia da APT é forçosamente diferente de quem apanhou o comboio em andamento, aparece numa ou noutra AG, conhece um ou outro sócio e olha para o umbigo como se fosse o espelho do mundo. Tenho razões de sobra para resfriar qualquer “certeza absoluta” sobre o assunto. As certezas absolutas raramente têm fundamento, não passam de (legítimas) declarações impressionistas e de compensações psicológicas alheias às AG e à APT. Relativizando o que é fortuito, o "fundamentalismo" é a arma de quem não tem argumentos nem ideias realistas sobre as coisas. Os fundamentalistas são, por definição, contraditórios: em nome da conciliação recorrem à violência verbal, em nome de todos os sócios impõem a certeza absoluta dos próprios "eu-quero" e, por fim, ignoram a opinião do consenso democrático. Os "eu-quero” constituem uma espécie de Cavalos de Troia armados de certezas absolutas. São a expressão máxima do ideal antidemocrático.

O fundamentalismo vem sempre associado a um grau de puritanismo. Ora ninguém tem mais telhados de vidro do que os puritanos. Quem tem de tomar decisões sabe que as opções não são sempre canónicas. Os puritanos agarram-se aos preceitos quando não têm de tomar decisões. Seguidores intransigentes das “leis”, os puritanos não distinguem o que é feito em benefício da instituição e o que é feito em benefício pessoal. O seu objectivo é pôr areia na engrenagem para que esta deixe de funcionar. Depois basta-lhes recorrer ao megafone: “estão a ver, a máquina parou e a Direcção não faz nada”… Eu faria mais e melhor!”.

Qual das radiografias é mais completa: a do “sentimento

impressionista” ou a baseada nas informações dos sócios? Como disse acima, assisti praticamente a todas as AG nos últimos 25 anos, e fiz inquéritos formais e informais aos sócios, quer como

membro da Direcção, quer como investigador. Na minha ideia de conjunto não esqueço ainda os inquéritos aos tradutores portugueses efectuados pelos nossos colegas europeus.

No âmbito da formação permanente, conheci em Portugal mais de meio-milhar de tradutores institucionais, professores de tradução, empresários de tradução e tradutores independentes. Além destes, formei centenas de estudantes na Europa, na América do Sul e na Ásia. Apesar dos 50 anos de prática profissional e de décadas de formador, não tenho a veleidade de saber o que é a Tradução, o trabalho de tradutor e as aspirações dos meus colegas. Como formador, aprendi muito com os formandos e ouvi-os atentamente. Com eles aprendi a relativizar a certeza absoluta dos “eu-quero”. Ao fim de meio século, constato, sem falsa modéstia, que pouco sei da matéria.

O pouco que sei, é que a participação dos “eu-quero” nas AG é,

frequentemente, demagógica. A demagogia dos “eu-quero” consiste em estabelecer dois critérios: um para si, outro para a Direcção. Para começar, são perdulários em matéria de sugestões, muitas delas irrealistas. No entanto, quando a Direcção os convida a concretizar as suas propostas, desculpam-se com as razões profissionais e com o argumento que não têm de colaborar com a Direcção. No entanto, os membros da Direcção não podem evocar razões profissionais: se aceitam cargos directivos têm de abdicar da vida privada e profissional, têm de dedicar todo o seu tempo à Associação, têm de estar disponíveis 24 horas por dia. Os "eu-quero" alegam que o facto de se tratar de trabalho voluntário, não é uma desculpa. Eles, na qualidade de sócios, têm o direito de exigir dedicação absoluta aos membros da Direcção. É fácil acusar a Direcção de não satisfazer todas as exigências dos “eu-quero”. Estes não admitem que a Direcção tenha uma ideia precisa das suas orientações. Uma delas é não pactuar com tudo e com todos. Quem não estiver de acordo com a Direcção, que apresente uma lista nas eleições.

Como é sabido os membros da Direcção não comem, não têm despesas, não têm família e não pagam renda de casa. Na nossa opinião, as “promessas” demagógicas devem ser reservadas para o mundo da política e não para as associações culturais sem fim-lucrativo que vivem da “mão-de-obra” voluntária. Os “eu-quero” ignoram que quem tem de tomar decisões é obrigado a gerir as boas intenções e o domínio do possível. Sempre que os Shylocks deste mundo reclamam a sua “libra de carne”, acabam traídos pelo desejo de vingança. O problema é conseguir tirar a libra de carne sem derramar “uma gota de sangue”. Segundo Shakespeare, a lei de Veneza permitia tirar a libra de carne, mas proibia o derrame de sangue. Apesar da lição da História, os Shylocks que aparecem nas nossas AG exigem à Direcção a sua libra de carne, mesmo derramando sangue.

Curiosamente, a razão da ausência de sócios nas AG mais

evocada nos inquéritos é, precisamente, o mau ambiente criado pela intolerância dos “eu-quero” e as suas “certezas absolutas”. Leia-se a carta enviada à Direcção e publicada acima. A generalidade dos sócios recusa assistir a assembleias que reproduzam as reuniões de condóminos da Picheleira. Um dos sócios referiu-se ao ambiente de certas AG como “provocações pré-hooligans”.

Os sócios não querem assistir a reuniões onde os “eu quero” insistem em criar um ambiente de conflito. Dizem que ir às AG é chover no molhado e ouvir o que já foi dito vezes sem conta. O facto de não aparecerem nas AG não significa desinteresse pelos assuntos associativos. E acrescentam “quem cala consente”, ou seja: delegam na Direcção, partindo do princípio que esta se empenha na defesa dos interesses colectivos e não na dos interesses pessoais. Para esses sócios, a ausência nas AG é um

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voto de confiança na Direcção. Sabem que esta está aberta a sugestões, que as aceitam e incluem nas suas linhas directivas. Sabem que a Direcção não é uma banda de uma pessoa só. É um colégio no qual todos participam e decidem de forma democrática e consensual.

Outra razão que afasta os sócios das AG, é o facto de não trabalharem das “9 às 5”. A maioria dos sócios trabalha por conta própria, tem prazos a cumprir e não raramente trabalha de dia e de noite. Mesmo os tradutores institucionais trabalham frequentemente para lá do horário oficial e levam traduções para casa. Convenhamos que é uma ocupação que não deixa espaço para o convívio associativo.

Seria interessante conhecer o perfil dos detentores de “certezas

absolutas”. Num registo rabelaisiano, Céline e Boris Vian definem os "eu-quero" como "les enculeurs de mouches". Os puristas traduziriam por “os sodomistas de moscas”, ou seja: os que cortam um cabelo em quatro para nada.

É curioso observar que toda a gente tem “certezas absolutas” sobre a tradução, quer sejam tradutores, quer sejam membros do público em geral. Isto é compreensível numa disciplina que dentro das “ciências humanas” nada tem de científica.

Vejamos alguns casos concretos Há tradutores que nunca se inscreveram na APT e que declaram

publicamente que são sócios; Há tradutores que enviam a ficha de inscrição parcialmente

preenchida e se consideram sócios, sabendo que a sua candidatura têm de ser confirmada pela Direcção;

Há tradutores que nunca enviaram a ficha de inscrição e afirmam nas redes sociais que são sócios;

Há um tradutor que concorreu a um prémio de tradução técnica e declarou no CV que era sócio da APT. Contactado pela Direcção, a afirmou que tinha a intenção de se inscrever na APT e era de boa-fé que se considerava nosso sócio. Escusado será dizer que foi eliminado do concurso;

Há tradutores que declaram exercer funções nos Corpos Gerentes sem nunca terem sido sócios;

Há um sem número de tradutores que nas redes sociais se mostram “preocupados” com a APT, sem serem sócios.

Houve um membro da Direcção que dizia publicamente que “em Portugal não existe uma associação de tradutores”;

Há, por fim, uma panóplia de sócios em pensamento, todos abrigados sob o guarda-sol dos sócios virtuais. O que não significa virtuosos.

Recordemos apenas um episódio caricato. Em 2013, duas

tradutoras comentavam nas redes sociais os aspectos negativos das eleições para corpos gerentes da APT. Estavam preocupadas com o futuro da Associação. Uma interrogava-se se deveria votar. Outra afirmava que não iria votar porque não se revia na Associação. Consultando a base de dados da APT, verifiquei que nenhuma delas era sócia e que, por conseguinte, não poderia votar. A preocupação do “bota-abaixo” não teme o ridículo.

Não temendo o ridículo, a astúcia nacional, o chico-espertismo,

consiste em tentar viver à borla. Quando os transportes públicos andavam de portas abertas, muitos passageiros viajam pendurados nos estribos para não pagar bilhete. Já antes da fundação do reino, os nossos avós eram conhecidos como um povo individualista. No séc. III o imperador romano Galba (3 a.C.—69 d.C) comentava: "Há na parte mais ocidental da Ibéria, um povo muito estranho: não se governa, nem se deixa governar!"

Será só na APT que os sócios não aparecem nas AG? Conheço uma associação sem fins lucrativos, na área da saúde, que tem 2000 sócios. Nas AG aparece uma dúzia de membros da direcção e dois ou três sócios. Em Santarém existe uma associação privada, também na área da saúde, com 200 sócios. Nas AG nunca aparece mais de meia-dúzia de sócios, incluindo os corpos gerentes. Se não chover.

Conheço um número representativo de associações de tradutores na Europa. Todas elas afirmam que são poucos os sócios que aparecem nas AG. As nossas congéneres europeias filiadas no CEATL dizem o mesmo: a percentagem de sócios que aparecem nas AG é residual. A diferença, é a solidariedade activa dos nossos colegas europeus com as decisões da direcção. Mesmo que lhes custe dinheiro. Por exemplo, os tradutores literários noruegueses fizeram uma greve nacional às traduções editoriais. Rapidamente os editores deixaram de ter textos estrangeiros para publicar. Ao fim de seis meses de greve geral, os editores cederem às exigências dos tradutores literários. Ao longo desses meses, o diálogo entre tradutores e editores foi assegurado pelo Ministério da Cultura.

A ausência de sócios nas AG é comparável às eleições

nacionais. Por uma razão ou outra, uma boa parte do eleitorado não vota. Uma das razões é pensar que não precisa de votar porque o partido da sua preferência vai ganhar as eleições. No país real, o resultado dos “eu-quero” não é brilhante, independentemente da cor partidária, do número de governantes e da duração dos governos.

Cometemos erros, sem dúvida. Uns por excesso, outros por

defeito. Quanto a estes últimos, nem todos podem ser imputados à Direcção. Por exemplo, somos acusados de nada fazer pela tradução ajuramentada e pela ordem dos tradutores. Há quem viva obcecado por termos cão e por não termos, aliando à detracção sistemática a ignorância dos factos. Basta ler as redes sociais, tais como os blogs e o Facebook. Esquecem-se que o Estado português é sinónimo de inimigo público. Há dezoito anos que iniciámos o processo da certificação das traduções e há mais de 10 que aguardámos o “sim ou sopas” do Ministério da Justiça sobre o diploma da Regulamentação dos Tradutores Ajuramentados. Uma das cláusulas previstas, é que os representantes dos tradutores e dos intérpretes poderão negociar as remunerações pagas pelos tribunais. É precisamente o que os governos não querem.

Os demagogos de serviço também nos culpam de não termos uma Ordem dos Tradutores. Segundo eles, é tão simples como comprar um pastel de nata ao balcão do café. A irracionalidade chegou ao ponto de nos culparem pelo facto de os deputados se oporem à proliferação de associações públicas. Uma das razões evocadas pelos parlamentares, é o número reduzido de tradutores que exercem a profissão. Nenhum grupo parlamentar perde tempo a defender os interesses de, com o devido respeito, acrescentam, “meia-dúzia de gatos-pingados”. Os deputados contactados pela Direcção dizem-nos que os Professores não conseguem ter uma ordem, apesar de constituírem um “exército” de profissionais-eleitores. Qualquer governo teme enfrentar uma classe unida sabendo à partida que sairá derrotado. Foi sempre o que aconteceu com os governos que decidiram enfrentar a Ordem dos Médicos.

Não deixamos de sorrir quando ouvimos os mercenários da demagogia garantir que, ao contrário da APT, introduzirão a tradução ajuramentada e a ordem dos tradutores como quem compra o jornal no quiosque da esquina. Gostaríamos de saber onde escondem a vara mágica. Esperemos que a façam sair do

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armário uma lista de Corpos Gerentes para as próximas eleições, em Dezembro de 2014.

Falar de valores democráticos aos detractores da APT é um

trabalho inglório que nos ultrapassa. Não admira que eles cheguem e partam para contentamento dos sócios que ficam. Pode ser que as AG sejam mais frequentadas. Esses “eu-quero” caracterizam-se por ter um ego maior do que o seu inconsciente e por apresentar nas redes sociais um CV, digamos, imaginativo. Claro, os seus clientes são empresas de prestígio e a lista de trabalho efectuado chega à lua. Quando se tratava de deliberar sobre qualquer assunto, o senhor não contribuía com sugestões democráticas: impunha à força as suas ideias. Ficou conhecido como o maior demagogo "eu-quero" que passou pela APT.

Demitiu-se de sócio porque era sistemática e democraticamente derrotado nos votos. Foi graças ao mau ambiente que ele criou, que muitos sócios deixaram de aparecer nas AG. O mesmo acontece nas outras associações por onde passa. Por vingança, rodeou-se de pessoas tão credíveis como ele e participou activamente na criação de uma “associação de traduções” (sic). Um pouco mais de imaginação e as traduções passariam a ter sindicato!

Para terminar, recordamos que alterar o registo de "eu-quero"

para "sou de opinião", faria toda a diferença democrática. Já que acima falámos do bardo de Stratford-upon-Avon, é caso para dizer: “eu-quero” ou “nós-gostaríamos”, eis a questão.

* Delegação da APT na América Latina

Bogotá

Da capital da Colômbia chegam boas notícias. A delegada da APT em Bogotá, Martha Esperanza, recebeu em 2014 duas das mais

prestigiadas condecorações do seu país. No dia 21 de Fevereiro foi-lhe atribuída a Grão Cruz de Mérito da Comunicação Ibero-americana Antonio Nariño, e a 7 de Março, Dia Internacional da Mulher, recebeu no Capitólio de Bogotá a Ordem de Mérito Social Colombiano Antonia Santos, por se destacar como advogada e tradutora. Esta nossa colega reside uma parte do ano em Portugal, tendo obtido a nacionalidade portuguesa. Costuma dizer com satisfação que tem duas pátrias: a colombiana e a portuguesa.

Da esquerda para a direita: Presidente da Sociedade Colombiana de Imprensa e Comunicação Social, Dr. Alfonso Lopez Caballero, Ministro de Justiça, Dr. Alfonso Gomez Mendez, a homenageada, Dr.ª Martha Esperanza Ramos de Echandía, e Primeira-dama da Colômbia, Dona Martha Blanco de Lemos.

A homenageada Ver mais informações: http://youtu.be/MHvD0PvGSAo

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* O Jornal da APT anuncia em primeira mão a última tradução da nossa delegada em Bogotá, em fase de revisão.

Maqueta da capa

Índice Presentación, I Prefacio, 7

I La importancia de la política, 17 II Republicano y antifascista, 27

III Militante comunista, 47 IV La travesía del desierto, 63 V Neutralista, europeísta y anticolonialista, 81

VI La política como pasión y destino, 105 VII Del "Marcelismo" al exilio. La fundación del PS, 141

VIII Al fin, la Libertad!, 179 IX Secretario General del PS y Ministro de los Negocios Extranjeros, 207 X La gran confrontación en tiempo del PREC, 253

XI La normalización democrática, 303 XII Presidente, 369

XIII Diputado europeo y otras obligaciones, 453 XIV Candidato derrotado y ciudadano atento, 491 XV Y ahora?, 517

XVI Agradecimientos, 545 XVII Bibliografía del autor, 547 XVIII Siglas, 553 

Presentación La circunstancia de vivir en Portugal, conocer su lengua,

estudiar sus leyes e integrarme a su cultura me ha hecho sentir la urgente necesidad, de saber más de la historia de Portugal y sobre todo de la contemporánea.

En el desarrollo de la actividad para conocer y emprender más

y mejor al Portugal de hoy, el encuentro con la presencia de Mario Soares es una constante, por ser él, La personificación de la resistencia a la dictadura, que durante cerca de 48 años padeció la nación, por encamar el espíritu libertador que conquistó la libertad y consiguió implantar la democracia y normalizarla, por empeñarse en que las antiguas colonias fueran independientes y hermanas de Portugal, como hoy lo sienten y lo son, en la gran comunidad lusófona y por ser un veterano que no obstante haber ejercido con responsabilidad los más altos cargos que ofrece la vida en democracia no cesa de pensar y luchar por la construcción de una sociedad europea, igualitaria, solidaria y avanzada.

Su itinerario político e ideológico sujeto a las circunstancias del lugar y del tiempo está atado a Portugal, la tierra que ama apasionadamente.

Antiguo luchador europeo, siempre ha tenido el gusto por

escribir y en éste libro titulado en portugués "Mario Soares um político assume-se", nos ofrece una reflexión sobre su recorrido político e ideológico, luchando largos años por un país que era inmóvil e impenetrable, estaba bloqueado y después de la revolución de los claveles conoció enormes transformaciones estructurales.

El doctor Mario Soares me hizo el honor de ofrecerme un ejemplar autografiado de su libro y desde ése día comencé a leerlo con gran interés y profunda curiosidad, pues quería conocer de labios del protagonista como fueron esos capítulos de la

historia de Portugal que él con prosa que agarra, nos hace vivir con emoción.

Cuando acabé de leer el libro quedé íntimamente convencida de la necesidad de darlo a conocer al gran público iberoamericano, desde Madrid hasta Santiago, atravesando el Atlántico, porque Mario Soares es un ser humano admirable, ejemplar y las nuevas generaciones de iberoamericanos necesitan conocerlo para que con su ejemplo fortalezcan su espíritu, hagan tesonera su voluntad y constaten que vale la pena luchar para vivir la plenitud de la democracia política y económica.

Así que empecé, a traducirlo al español y le comuniqué mi propósito al doctor Carlos Barroso quién acogió mi idea con entusiasmo y se dispuso a trabajar para materializarla.

Ahora, acabo de traducir y el libro está listo para que ustedes lo disfruten. He realizado esta actividad con cariño e ilusión.

Como bien lo merece, Mario Soares, ha recibido innumerables homenajes. La traducción de éste libro al español, es solo un respetuoso presente portador de la inmensa gratitud y la gran admiración que por él siento en razón a lo que es y ha hecho por Portugal, el país que me ha concedido el honor de otorgarme la nacionalidad y al que quiero como a mi segunda patria.

Tengo la certeza absoluta que leer el libro, en la lengua de Cervantes es tan ameno como hacerlo en la de C amó es y que la lectura de estas letras portuguesas en español, servirá para fortalecer los lazos de fraternidad entre los iberoamericanos, para quienes Mario Soares es un ejemplo a seguir por su dinámico actuar y su pensamiento siempre joven, siempre vigente.

Agradezco a los doctores Francisco José Magalhães y Rafael

Hernán Vanegas Ramos, el tiempo que dedicaron a compartir conmigo las impresiones y emociones que me predujo esta actividad.

Mención especial merece mi hermano Fredy Alberto Ramos Rodríguez, (q.e.p.d.) por la manera entusiasta y afectuosa como

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apoyó este proyecto desde el comienzo. A mi hermana Elvia Piedad, mi gratitud por sus valiosos comentarios.

A ustedes, queridos lectores mil gracias por valorar el libro y compartirlo con sus amigos.

Hasta pronto, Martha Esperanza Ramos de Echandía

Bogotá, Noviembre 20 del 2013

A tradutora

Com o autor na Fundação Mário Soares

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Publicações

LAZARITO J'arrivai donc, du haut de mes neuf ans, dans cette ville dont

j'ai, moi aussi, oublié le nom. Sans savoir comment, je me mis à arpenter la rue des Lacs des Racayes, guettant la moindre pièce. Dans cette quête, je croisais toujours les mêmes, déambulant avec ou sans l'appareil approprié, qui avec une jambe de bois, qui sans, les uns avec deux cannes anglaises, d'autres avec une seule canne anglaise, quelques uns bras-dessus-bras dessous, tous renfrognés, qu’ils soient obèses ou décharnés. Face à un tel spectacle sans cesse répété, je vieillis de dix ans en quelques jours.

(...) C'est alors que la porte de la salle s'ouvrit brusquement, et que

nous vîmes surgir un camarade du Centre d'apprentissage, Deus ex machina, nous cria, l'air triomphant : « Dédé est papa ».

ISBN : 2-9516815-5-0 EAN : 9782951681552 Prix public : 12 Euros

Commande : JACQUES PELAGE 87, rue Dalayrac 94120 Fontenay-sous-Bois France

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Colección: TRADUCCIÓN EN EL ATRIO — 24 © Los Autores Editorial Atrio. S.L. C./ Dr. Martín Lagos. 2 - 1.º C - 18005 Granada Tlf./Fax; 958 264 254 ISBN: 978-84-15275-10-7 Depósito Legal; Gr.-862/20l2

Oscar Diaz Fouces (editor)

Olhares & Miradas Reflexiones sobre la Traducción

Portugués-Español y su Didáctica

Granada, 2012 Sumario Olhares & Mmiradas que se Complementan, 9 Disciplinas de tradução portugués-espanhol num Bacharelado em Letras.

Uma proposta para a Universidade de São Paulo Heloísa Pezza Cintrão, 11

Didáctica de la interpretación Portugués-Español XoánMontero Domínguez, 53 Didáctica da Tradução Audiovisual. Recepção do cinema espanhol em

Portugal: uma experiência partilhada Maria Dolores Lerma Sanchís, 67

Hacia una (po)éíica de traducción literaria: el escritor-traductor en las literaturas postcoloniales de lengua portuguesa como modelo para la praxis traductológica Rebeca Hernández, 81

Lenguas próximas y traducción: contraste y concienciación María Carolina Calvo Capilla, 101 Algumas considerações sobre a combinação linguística Português-

Espanhol Oscar Diaz Fouces, 119

O dicionário de tradução: um repositório de amostras de significados Alvaro Iriarte Sanromán, 137 Tradumática de portugués: competencias y acciones formativas cuando hombres y máquinas traducen juntos Ana Belén García Benito, 153

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José Antonio Sabio Pinilla

& Pilar Ordóñez López

Las antologías sobre la traducción en

el ámbito peninsular Análisis y estudio

Edición publicada gracias a la ayuda del Grupo de Investigación HUM-354

Lenguas y Culturas (LyC) de la Junta de Andalucía. ISSN 1664-1922

ISBN 978-3-0343-0606-5 © Peter Lang SA, Editorial científica internacional, Bern 2012

Hochfeldstrasse 32, CH-3012 Bern info @peterjang.com, www.peterlang.com, www.peterlang.net

Contenido Préface, 9 Introducción, 13 Capítulo 1 Estudios de Traducción e Historia de la Traducción, 19 Capítulo 2 La historia de la traducción en España y Portugal: docencia e investigación, 57 Capítulo 3 La antología sobre la traducción como obra histórica , 91 Capítulo 4 Análisis y estudio de las antologías sobre la traducción en el ámbito Peninsular, 119 Capítulo 5 ¿Por dónde continuar? Perspectivas de futuro de las antologías, 201

*

between collaborative haiku and picture postcards

created by students and teachers at the University of Macau

and Lingnan University

project co-ordinared and edited bv Carol Archer and Kit Kelen

* Translators

The original text in this volume is the English Indonesian translation by Chrysogonous Siddha Malilang Portuguese translation by Gustavo Infante, Ana Cristina Ferreira de Almeida Rodrigues Alves and Maria de Almeida Alves French translation by Béatrice Machet Japanese translation by Hiroko Izumi and Miho Ando (assisted by Connie Chan) Chinese translation by the authors

between Copyright © November 2013 ASM and the editors, artists, authors and translators listed Editors: Carol Archer and Kit Kelcn Cover & Page design by Nicholafei Chen Cover Image by Chan Ka Ying (Stelia) and Lwo Yuen Yu (Clara) Pearl jubilee College Design & Publishing Group: Nicholafei Chen, Benjamin Choi, Ghrysogonus Sieldha Malilang, Natalie Siu-Lam Wong Special thanks go to Connie Chan of Centre for Japanese Studies, George Watt and Cioretti Chan of Pearl Jubilee College of University of Macau for their assistance and support of this project.

This publication is a joint project between staff and students of Lingnan University Department of VisuaJ Studies, University of Macau Department of English Creative Writing Program and Pearl Jubilee College. Published by ASM General Post Office, PO Box 1507, Macao S.A.R. macau [email protected] The artists, authors, and translators of these works assert their moral right. ISBN 978-99965-42-60-2

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Agradecemos ao autor e à responsável pelas publicações da Universidade de Liège a autorização para publicar no Jornal de APT o artigo de Michel Paquot. Eis o texto da autorização:

« Michel Paquot et moi vous donnons notre accord pour la publication de cet article dans votre revue. Nous demandons simplement que soient clairement mentionnées la source : http://culture.ulg.ac.be/traduction2010 et la signature de

l’auteur. » Claudine Purnelle-Simart Rédacteur en chef Université de Liège Rectorat - Relations extérieures et Communication - Culture

place de la République française 41 - B-4000 Liège Tél. +32 4 366 5312 http://culture.ulg.ac.be

 

La traduction de livres en français: comment travaillent les éditeurs Michel Paquot

Chaque année, paraissent en France plusieurs centaines de livres traduits de quasiment toutes les langues du monde. Comment

s'opèrent les choix ? Pour tenter de le comprendre, nous avons interrogé trois éditeurs : un gros, Gallimard, qui possède une collection réservée aux livres étrangers, « Du monde entier », un moyen, Métailié, et un plus petit, Zulma, dont les catalogues s'ancrent principalement en-dehors des frontières de la francophonie.

Hier : Kafka, Conrad, Hemingway, Dos Passos, Neruda,

Joyce, Kundera, Pasternak, Steinbeck, Bernhard, Nabokov. Aujourd'hui : Philip Roth, Amos Oz, Jonathan Coe, Carlos Fuentes, Antonio Tabucchi, Javier Marias, Mario Vargas Llosa, Orhan Pamuk, Juan Cortazar, Kenzaburo Oe. Le catalogue de la collection « Du monde entier », créée en 1931, rassemble le meilleur de la littérature mondiale du XXe siècle et du début du nôtre. Si chaque région linguistique y possède son propre éditeur, ou sa propre éditrice comme Christine Jordis pour le domaine anglophone, c'est Jean Mattern qui, en tant que responsable des acquisitions et du programme général, coordonne l'ensemble.

« Sur les deux à trois mille propositions que nous recevons

chaque année, nous en retenons entre trente et trente-cinq, confie-t-il. La fidélité voulue et affichée à nos auteurs est la tradition de la maison. C'est ainsi que nous suivons des écrivains parfois depuis presque cinquante ans, tels Philip Roth ou Carlos Fuentes. Et comme certains d'entre eux écrivent un livre tous les ans ou tous les dix-huit mois, il reste moins de place pour les nouveaux. »

Justement, comment sont sélectionnés ces auteurs jamais

traduits en français, telle Caterina Bonvicini dont a paru en janvier L'équilibre des requins ? Le maître mot est l'intuition. « Il y a, chez les responsables éditoriaux, une curiosité naturelle qui les poussent à aller vers des inconnus que des éditeurs ou des traducteurs leur proposent, poursuit Mattern. Cela se fait un peu naturellement, il n'y a ni quotas de langues, ni équilibres entre nouveaux venus et auteurs confirmés. Et le fait qu'un livre ait marché dans tel ou tel pays n'est qu'un faible indicateur, les marchés sont trop différents. »

Si Gallimard espère, bien entendu, que chaque livre

rencontre son public, sans nourrir la moindre certitude, trop d'inconnues entrant en jeu, il sait néanmoins qu'ils ne possèdent pas tous au départ un potentiel identique. C'est donc ici qu'interviennent le service commercial et les attachés de presse. « Un moment-clé dans la carrière d'un livre est celui où il est présenté en réunion de représentants, trois quatre mois avant sa sortie. Il nous faut choisir un angle de

présentation, donner des clés à la fois aux représentants et aux attachés de presse. Nous n'avons pas comme politique de pousser un livre plutôt qu'un autre. Nous croyons à tous ceux que nous publions. Quitte à s'apercevoir que la notoriété de certains écrivains ne correspond pas forcément à ses ventes, comme Javier Marias dont vient de paraître le dernier tome de la trilogie. »

« Depuis 15-20 ans, j'ai remarqué une plus grande curiosité

pour la littérature étrangère, se réjouit encore Jean Mattern. Si les lecteurs vont plus facilement vers certains domaines linguistiques, comme l'anglo-saxon, je sens néanmoins depuis quelques années une vraie ouverture aux bons livres quelle que soit leur origine. Mais cette soif de découvertes est davantage présente chez les lecteurs et les libraires que dans les médias où il est de plus en plus difficile de faire parler d'auteurs inconnus. »  

De Métailié... Depuis un peu plus d'un quart de siècle, les éditions Métailié

occupent un créneau essentiel sur le terrain de la traduction. Parmi les quelque trente-cinq livres publiés chaque année, une trentaine provient en effet d'horizons plus ou moins proches géographiquement ou culturellement : les pays anglo-saxons, hispaniques ou lusophones, l'Italie, l'Allemagne mais aussi la Turquie, la Mongolie, le Cambodge ou l'Islande. Ancienne ingénieure de recherche à la Maison de Sciences de l'Homme, Anne-Marie Métailié s'est aperçue que des livres importants dans les langues qu'elle pratiquait, le portugais, l'espagnol et l'italien, n'étaient pas disponibles en français ou seulement dans des traductions assez mauvaises. De ce constat est née, en 1979, la maison qui porte son nom. Et qui est riche, trois décennies plus tard, d'un catalogue dont 80% des auteurs étaient inconnus, souvent même dans leur pays, au moment de leur publication et sont aujourd'hui célèbres.

« Je lis beaucoup et je suis en rapport dans tous les pays avec des amis qui me disent ce qui les intéresse, explique-t-elle. Et depuis les années 90, j'entretiens des rapports amicaux et très suivis avec certains auteurs, tels Luis Sepulveda ou Paco Ignacio Talbo II, qui lisent les plus jeunes et m'en parlent. Ayant de très solides études de langue derrière moi, je

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pense avoir l'oreille pour la lecture, pouvoir saisir la voix d'un auteur. Ma responsabilité d'éditrice est ensuite de trouver le traducteur celui qui sera le plus fidèle à cette voix, à cette musique. La traduction a beaucoup évolué, il existe aujourd'hui davantage de bons traducteurs. Sauf exceptions, un traducteur ne peut pas traduire n'importe qui. Celui qui traduit toujours sur le même ton, c'est l'horreur totale. Vous ne lisez plus un tel ou un tel mais son œuvre à lui. »

...à Zulma Créées en 1991, les éditions Zulma ne dépassent pas quinze

livres par an. Dont, là aussi, une majorité de traductions. « Dès l'origine, se souvient son cofondateur, Serge Safran, nous avons eu envie de publier des auteurs que nous découvrions et encore non traduits. Et nous avons remarqué que, dès l'instant où vous commencez à traduire des écrivains d'une certaine langue, les propositions affluent. L'opération fonctionne dans les deux sens. Soit nous cherchons un traducteur, soit c'est un traducteur qui nous propose un texte dont il a déjà traduit une partie. C'est ainsi que nous sommes devenus « spécialistes » dans le domaine coréen [avec une dizaine de noms au catalogue] sans que ce soit une réelle volonté de départ. »

L'éditeur fonctionne par coups de cœur avec la volonté de ne pas sacrifier au domaine anglo-saxon qui domine largement aujourd'hui. La découverte des livres s'opère soit via leur traduction anglaise, même si tous les livres sont in fine traduits de la langue originelle, soit grâce aux traducteurs. Et s'il repère un auteur singulier et talentueux, il le suit. Comme c'est le cas pour l'Iranienne Zoyâ Pirzâd dont il a publié quatre

livres. Ou pour deux auteurs latino-américains, l'Argentin Ricardo Piglia et le Mexicain David Toscana découverts en 2009 et dont de nouveaux romans paraîtront en 2010.

« Nous cherchons des livres à portée universelle. Sans se baser sur leur succès chez eux en imaginant qu'ils pourraient en avoir en France, cela n'a rien à voir. Hwang Sok-yong, dont nous venons de publier le sixième roman, tire à deux millions d'exemplaires en Corée alors qu'en France il demeure encore peu connu. Et ce n'est qu'après avoir lu ses textes que l'on a appris que Zoyâ Pirzâd jouit d'une grande notoriété en Iran où elle atteint parfois de gros tirages. Et Il y a un an ou deux, nous avons lu en anglais un roman de Benny Barbash en se demandant pourquoi cet auteur israélien traduit en plusieurs langues européennes ne l'était pas en français. Nous l'avons alors traduit de l'hébreu. »

Pour les romans étrangers, l'éditeur accomplit le même travail de promotion que pour les rares français. « C'est notre rôle de les faire découvrir. Aujourd'hui, c'est un peu moins difficile car les gens se sont rendu compte au fil des années de l'intérêt de ce que nous leur proposons. Par exemple, Huit monologues de femmes, traduit du russe d'un auteur tadjik totalement inconnu, Barzou Abdourazzoqov, a été vendu à un peu plus de deux mille exemplaires. Et Le goût âpre des kakis de Zoyâ Pirzâd, qui a obtenu cet automne le Prix Courrier international du meilleur livre étranger, connaît un beau succès. Mais on peut aussi vivre des déceptions énormes, comme avec le premier volume de la Correspondance de Strindberg, sur lequel nous avons pourtant réalisé un travail

considérable. » Michel Paquot, journaliste indépendant

Janvier 2010

Nota: O Jornal da APT agradece os esforços da nossa colega Odette Collas para obter a autorização do artigo acima publicado. O factor linguístico pode ter facilitado a resposta positiva

.

* Os dois caracteres chineses da capa — Ju e Bian — significam «mudanças enormes»

ÍNDICE «Só na China!», 14 Um condomínio cm Pequim, 17 O «espaço mais livre da China», 21 A emergência da classe média, 26 O Ano do Dragão, 32 Ren tai duo!, 36 O «Partido Imperador», 39 O XVIII Congresso, 43

(Nota de Contracapa) O jornalista António Caeiro viveu na China entre 1991 e 2002,

quando o Ultimo grande país governado por um partido comunista começou a converter-se à «economia de mercado socialista». No Verão do 2008 voltou para Pequim, onde continua a viver e a tentar acompanhar um processo de transformação sem precedentes na História moderna. A «ascensão da China», está a mudar o mundo, mas os cidadãos

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A mudança, 50 «Um casal, um filho» e muitos problemas, 55 A difícil «harmonia étnica», 59 A «Revolução sexual» e a «Deusa da Virgindade», 64 O «belo país», 68 O «Reino das Bicicletas» começou a acelerar, 70 O império da poupança, 73 A «Utopia», 76 Pequim, Nova Iorque, 79 As novas aventuras de Confúcio, 83 O novo «number one», 88 Xangai, Wall Street, 91 Arranha-céus e jardins, 94 A «bofetada» da Comité Nobel norueguês, 97 Dominar o mundo?!, 103 O poeta milionário, 108 A tradição acabou mesmo?, 111 Obrigado, Bob Dylan, 114 Um casal, um cão, 117 «Pei Suo A», 120 A hora do português, 123 Macau — «um país, dois sistemas», 128 Os novos-ricos da Ásia, 132 África, a nova fronteira, 136 Os protestos populares, 140 Um egoísmo novo e Traumas antigos, 143 O «Príncipe Vermelho» e a «Jackie Kennedy» da China, 146 Um «doente» chamado futebol, 152 Alta velocidade, grande corrupção, 156 «Camponeses Da Vinci» e urbanização a todo o vapor, 160 35 de maio de 1989, 164 «Reeducação através do trabalho» nunca mais!, 169 O enigma chinês, 172 O Estádio dos Trabalhadores, 175 Poluição e democracia, 180 «Honrar a frugalidade, repudiar a extravagância», 183 Eleições no Grande Palácio do Povo, 186 Glossário, 191 Nota sobre os nomes chineses, 195 Notas, 197 Agradecimentos, 201 Índice Remissivo, 203

chineses estão a mudar muito mais. «Mudo, logo existo», proclamou um jovem artista de Pequim.

Verbo ou substantiva, a mudança é uma das «coisas» mais flagrantes da sociedade chinesa, como diria Frei Gaspar da Cruz, o autor do histórico Tratado das Coisas da China, publicado no século XVI.

Já não estamos nesse tempo: o aeroporto de Pequim é hoje o

segundo mais movimentada do planeta, à frente de Londres ou Nova-Iorque, e grande parte dos produtos que usamos diariamente — os originais, as cópias e as imitações — são Made in China. O mais surpreendente, no entanto, é o ritmo com que essas «coisas» aconteceram e estão a acontecer.

«A velocidade na China é cinco vezes mais rápida do que na Europa», diz uma arquiteta portuguesa que trabalha num atelier britânico estabelecido em Pequim. Título: Novas Coisas da China — «Mudo, logo existo» © 2013, António Caeiro e Publicações Dom Quixote Todos os direitos reservados. Capa: Joana Toldo Revisão; Rita Bento Depósito legal n.º 357 085/13 ISHN: 978-972-20-5231-3 Publicações Don Quixote Rua Cidade de Córdova, n.º 2 2610-038 Alfragide — Portugal www. dquixote.pt

* Para Rir

Perles de traductions à travers le monde Dans le lobby d’un hôtel à Bucarest: L’ascenseur sera en réparation le prochain jour. Pendant ce temps, nous regrettons que vous soyez insupportables. Dans un hôtel d’Athènes: On s’attend à ce que les visiteurs se plaignent au bureau entre 9h et 11h AM tous les jours Dans un aéroport de Copenhague: Nous prenons vos sacs et les envoyons dans toutes les directions Deux pancartes à l’entrée d’un magasin à Majorque:

1. Français bien parlant 2. Ici discourons Américain. Dans une buanderie de Rome: Mesdames, laissez vos vêtements ici et passez l’aprè-midi à avoir du bon temps. Dans un bar norvégien: On demande aux femmes de ne pas avoir d’enfants au bar. Dans un hôtel japonais: Vous êtes invités à profiter de la femme de chambre.

*