jefferson lofre - autobiografia

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Page 1: JEFFERSON LOFRE - AUTOBIOGRAFIA

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AUTOBIOGRAFIA DE JEFFERSON LOFRE

Em outubro de 1974, na cidade de Guarulhos, eu nasci com uma deformação resultante de um medicamento chamado talidomida. Além da deficiência adquirida pelo medicamento, usado pela minha mãe durante a gestação, fui vítima de um parto mal sucedido do qual resultou um ferimento na cabeça e uma luxação no quadril. A parte do corpo mais afetada pela talidomida foi a perna direita que além de mais curta teve outros problemas. Foram realizadas mais de vinte cirurgias, sendo que dezenove delas foram feitas até os onze anos de idade e as outras já na fase adulta. Mesmo diante de todos esses acontecimentos me sinto privilegiado por receber de Deus o fôlego da vida.

Durante a minha fase de crescimento, a diferença de tamanho entre as pernas se modificava, aos 22 anos de idade essa diferença estava por volta de vinte centímetros. Foi nessa época que iniciei um tratamento para alongar a perna direita e que durou por volta de dois anos. Essa diferença diminuiu para quinze centímetros e por orientação médica foi feita uma pausa no tratamento. Por motivos pessoais a retomada dos procedimentos demorou um pouco mais que o previsto e no final do ano de 2010 reiniciei e dessa vez durou um pouco mais, uns três anos. Hoje a perna direita é apenas dois centímetros mais curta.

Apesar dos olhos das pessoas se dirigirem a mim com um sentimento de piedade, nunca aceitei ser tratado como uma pessoa inferior. Durante a minha infância fui tratado pelo meu pai com cuidados exagerados e isso me incomodava muito, tanto que não me deixei ser influenciado, caso contrário, hoje seria um adulto totalmente excluído da sociedade. A partir da pré-adolescência comecei a sentir o desejo de me aproximar mais do sexo oposto, o que é natural. Na escola tinham brincadeiras através das quais existia uma proximidade maior entre os sexos opostos e quando eu tentava participar me sentia humilhado pois havia muito preconceito por parte das garotas.

Durante a fase da adolescência meus amigos e colegas da escola tinham suas “namoradinhas”, mas eu não, porque as meninas, principalmente nessa fase da vida, devido aos padrões impostos pela sociedade, avaliam uma pessoa com critérios incorretos. Além disso, a partir dos quatorze anos de idade já iniciei a procura pelo meu primeiro emprego. Em todas as empresas nas quais buscava vagas era barrado por falta de experiência ou por ser deficiente físico, dentre outros motivos.

Você pode perguntar: como pode ter certeza de que alguns lugares não o aceitaram pela deficiência? Eu digo que a recepção, o modo de olhar, enfim, a abordagem evidenciava a discriminação. Inclusive teve um caso incontestável. Em 1995 iniciei o curso superior de Ciência da Computação após algum tempo foi anunciado, em um domingo, no classificado de um jornal de Mogi das Cruzes, uma vaga para instrutor de informática num desses “cursinhos”. Na segunda-feira cheguei à porta dessa escola antes mesmo do horário da abertura, fui o primeiro a chegar. Após ser recepcionado e dizer que estava me candidatando à vaga anunciada, a funcionária pegou meu currículo, me “mediu” do fio do cabelo até a sola do pé, olhou fixamente para a minha perna que tem deformidade e pediu para que eu aguardasse. Depois de alguns minutos ela voltou e disse que a vaga já estava preenchida. Ou seja, como uma vaga é anunciada no domingo e no dia seguinte é preenchida antes mesmo da empresa abrir suas portas? É ou não uma evidente discriminação?

Passei por muitas dificuldades em busca de emprego. O único que obtive com registro em carteira, antes da atual empresa, foi numa metalúrgica na região do Alto

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Tietê. Fiquei na empresa apenas durante o período de experiência porque a função que exercia era ligada ao manuseio de peças muito pequenas e era preciso muita habilidade manual. Na época eu estava com uma inflamação nos tendões das mãos que não foi adquirida na empresa, tentei uma transferência para outro departamento ou função, mas foi em vão e como não suportava mais as dores, pedi a rescisão do contrato e fui trabalhar em outra empresa, mas sem registro.

Após alguns meses me casei e adquiri dívidas referentes a essa união. Passado um período muito curto o meu patrão disse que não tinha condições financeiras para continuar comigo. Meu nome foi para o SPC, SERASA, enfim, estava novamente desempregado, carteira de trabalho com apenas três meses de registro e “nome sujo”. Iniciei todo o processo de procura de emprego e foi tudo mais difícil devido à restrição ao meu nome. Então coloquei a situação nas mãos de Deus e Ele colocou uma porta aberta diante de mim, tive apenas que acreditar e dar os passos suficientes para entrar por ela. Foi assim que conquistei o meu atual emprego. A contratação através da cota para portadores de deficientes, exigida por lei, aconteceu comigo somente na metalúrgica citada anteriormente.

A minha última contratação não foi feita visando atingir a cota para deficientes, apesar de a empresa cumprir com a legislação, inclusive a sua infraestrutura atende às necessidades dos portadores de deficiência física. Mesmo existindo uma lei que ampara a categoria, continua havendo o preconceito profissional ao deficiente. No entanto, algumas empresas estão contratando mais deficientes, não somente por respeito à legislação, mas porque estão adquirindo a consciência de que esse grupo de pessoas, na maioria dos casos, tem um melhor desempenho em suas funções.

Todas as fases da minha vida foram muito difíceis, mas que graças à ajuda de Deus superei, tanto que hoje tenho uma grande esposa, um bom emprego e, também, dois lindos filhos. Além disso, as pessoas de minha convivência me tratam da mesma forma que tratam qualquer outra pessoa, ou seja, não me veem como um deficiente.

Mesmo existindo uma constante tentativa de conscientização contra o preconceito aos portadores de deficiência, ele ainda está presente e não somente no mercado de trabalho ou nas relações amorosas, mas também no ambiente familiar e nos círculos de amizades, ou seja, em quase toda sociedade.

Infelizmente, uma grande parcela da culpa de continuar existindo a discriminação, é dos próprios deficientes, não generalizando, mas alguns se tornam vítimas de suas limitações, não se incluem como parte da sociedade e ainda fazem com que as pessoas generalizem a categoria como “coitadinhos” e incapazes.

Apesar das minhas limitações, durante toda minha vida tive a preocupação de passar para todos que a deficiência não produz limitações para mim. É claro que nem todos os portadores de deficiência têm essa possibilidade devido ao grau de deformidade. Mas acredito que muitas de nossas limitações estão em nossas próprias “cabeças”.

Falta na sociedade brasileira a consciência de que o deficiente é capaz, tem sentimentos, pode proporcionar felicidade a outras pessoas.

Enfim, apenas temos uma parte do corpo diferente. É difícil reconhecer que outras pessoas sofreram e sofrem situações parecidas

com as que eu passei sem ter forças para enfrentá-las. Por isso decidi usar minha experiência em enfrentar adversidades, unida a estudos, para transformar a vida de outras pessoas e, mostrar a elas que a capacidade de ser feliz e ter sucesso brota dentro de cada um de nós.