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JANEIRO 2017 O AGENTE DUPLO QUE SOBREVIVEU À AL-QAEDA PÁGINA 54 O QUE IMIGRANTES FAZEM PARA SE SENTIR EM CASA PÁGINA 62 REPORTAGEM ESPECIAL 11 DIAS FERIDO DEBAIXO DA TERRA PÁGINA 110 10 Boas Notícias de Saúde para Janeiro 2017 • R$ 12,90 selecoes.com.br 771516 703006 9 01701 > ISSN 1516-7038 2017 PÁGINA 38 COMO TRANSFORMAR O ESTRESSE EM VANTAGEM PÁGINA 92

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    O AGENTE DUPLO QUE SOBREVIVEU À AL-QAEDAPÁGINA 54

    O QUE IMIGRANTES FAZEM PARA SE SENTIR EM CASAPÁGINA 62

    REPORTAGEM ESPECIAL11 DIAS FERIDO DEBAIXO DA TERRAPÁGINA 110

    10 Boas Notícias de Saúde para

    Janeiro 2017 • R$ 12,90selecoes.com.br

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    COMO TRANSFORMAR O ESTRESSE EM

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  • SumárioJANEIRO 2017

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    ARTIGOS 80 O REI DO VINIL Ele transformou o que era obsoleto em objeto de desejo.

    86 O QUE ACONTECERÁ COM O FILHO DE PATTY? Ela estava em estado terminal e precisava encontrar uma nova família para o filho.

    92 ABRACE SUAS PREOCUPAÇÕESNovos estudos revelam que períodos curtos de estresse podem ser benéficos.

    38 BOA NOTÍCIA PARA A SAÚDEA ciência anuncia novidades promissoras em vários campos da medicina para um futuro bem próximo.

    46 ATACADA POR UMA COBRAO encontro entre a menina e a cobra traiçoeira trouxe consequências nefastas.

    54 AGENTE DUPLOInfiltrar-se na Al-Qaeda seria uma atitude de coragem ou loucura? Morten Storm conta como saiu de lá vivo.

    62 EM CASA NO EXTERIORQuando se muda para outro país, a única certeza que se tem é a das dificuldades que estarão à espera no novo lar.

    70 TOQUE DE MÃEA santidade de Madre Teresa era patente, como se vê no relato de um breve encontro com ela.

    74 VAMOS DANÇAR?Venha para a pista conosco! P. | 74

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  • TODOS OS MESES

    6 Frente e verso 10 Interaja 24 Entre aspas 25 Papo de livro 27 Minha vida 28 Boas-novas 30 Essas crianças... 32 Complete a frase 36 Flagrantes da vida real 52 Ossos do ofício 122 Piadas de caserna 123 Enriqueça seu vocabulário 125 Desafio Seleções 126 Rir é o melhor remédio 128 Sorriso final

    98 A VOLTA PARA CASANa minha infância na aldeia distante, o McDonald’s simbolizava uma vida perfeita. Mas a felicidade estava era no meu quintal.

    102 A OUTRA HONOLULUHá muito mais em Honolulu do que a praia paradisíaca.

    110 MISSÃO IMPOSSÍVELA quase 1.000 metros de profundidade, um homem se fere gravemente. Entre as várias equipes de resgate, poucos acreditam em um desfecho feliz.

    Aprovado pelos leitores em pesquisa prévia à publicação.

    DEPARTAMENTOS

    Saúde 12 Eca! Limpe a tela do

    celular

    14 Relato de caso

    16 Pistas nos dedos

    17 Notícias do mundo da medicina

    Família 22 O relatório matinal

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  • Editora-executiva Raquel Zampil

    Jornalista Responsável Raphani Margiotta

    Editora de Arte Tanara Vieira

    Estagiários Thayssa Martins e William Bastos

    Gerente de Publicidade André Frascá

    Gerente de Assinaturas Nicole Ingouville

    Gerente de Negócios e Circulação Avulsa Rodrigo Alvim

    Gerente de Serviço ao Cliente Claudia Bastos

    Diretor-executivo Luis Henrique Fichman

    Diretor Financeiro e Administrativo Ricardo Buchbinder

    ENTRE EM CONTATO CONOSCO

    Cartas para o editorSite selecoes.com.brE-mail [email protected] Caixa Postal 13.525 CEP 20210-972 – Rio de Janeiro – RJInclua nome completo, endereço, CPF e telefone. As cartas e os e-mails podem ser editados por motivo de concisão e usados em mídia impressa e eletrônica. Assinaturas/Atendimento ao clienteInternet Mudança de endereço, assinatu-ras, outras compras, cobranças, paga-mentos ou qualquer assunto referente à sua compra ou a promoções recebidas.

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    Trusted Media Brands, Inc. (EUA)

    Presidente e CEO Bonnie Kintzer

    Vice-presidente e Diretor de Operações Internacionais Brian Kennedy

    Editor-chefe, Edições Internacionais Raimo Moysa

    Copyright © 2016 Radha Brasil Edições e Serviços Ltda. – Publicação autorizada por

    Trusted Media Brands, Inc. – Proibida a reprodução, total ou parcial, de fotografias e texto em português ou outras línguas. Direitos reservados em todo o mundo. Efetuadas as formalidades necessárias, inclusive depósito quando requerido. Proteção garantida pelas Convenções Internacionais (de Berna) e Pan-Americana de Direitos Autorais. Seleções e Reader’s Digest são marcas registradas de Trusted Media Brands, Inc. TOMO CXL, Nº 900. Impresso no Brasil por Plural Indústria Gráfica Ltda.

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    Reader’s Digest é publicada em 17 idiomas ao redor do mundo

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  • ACRESCENTEI MAIS UM item à minha lista de resoluções de ano-novo. Não se trata de uma deci porque implica em uma mudança de atitude, mais precisamente do modo de olhar o mundo. Mas as coisas mais di-

    fíceis são as melhores – é o que dizem. Além disso, ninguém nunca me disse que viver era fácil.

    Nós adultos a essa altura já aprendemos que, felizmente, quase nada na vida é cem por cento ruim. (É, você pensou certo: o inverso também se aplica.) O que parece (e às vezes é) muito ruim pode ter algo de bom para nos oferecer. Não, não andei relendo Pollyanna, a personagem da literatura infantojuvenil que enxerga o mundo através de lentes cor-de-rosa. Nada disso.

    Tomemos o estresse como exemplo. Alguém aí acha que ficar estressado é uma coisa boa, que tem algo de positivo? Não?

    Pois alguns cientistas acham que sim!! E provam. Dê só uma olhada na página 92.

    Voltando à minha nova resolução, estou determina-da a procurar um aspecto positivo em cada obstáculo e pedra no caminho. Mas, por favor, não me deixem sozinha nessa, hein!

    E para dar uma renovada na fé na engenho- sidade do homem, não deixe de ler aquela que já virou tradição aqui todo começo de ano: os diagnósticos e tratamentos que são promessas para um futuro muito próximo. Veja quais são essas boas notícias na página 38.

    E, para todos nós, um 2017 com muita esperança e disposição para mudar o mundo!!

    Da editoraEste ano eu vou mudar

    Raquel ZampilEditora-executiva

    [email protected]: @revistaselecoes

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  • É seguro dizer que a tempestade de inverno Jonas será lembrada pelos nova-iorquinos (e por muitos outros) por bastante tempo. Em janeiro de 2016, a nevasca paralisou grandes faixas do lado leste dos Estados Unidos. No Central Park, a neve chegou a quase 70 cm e superou todos os registros até então. Mesmo na movimentada Times Square (foto), o tráfego ficou completamente parado por um dia inteiro. Os nova-iorquinos, no entanto, viram o lado bom e transformaram o famoso cruza-mento num parque de diversões.

    …E VERSO

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  • InterajaCARTAS DOS LEITORES

    Esta edição de janeiro de Seleções é dedicada aos leitores Lucia Souza, Rio de Janeiro (RJ), Eliana Botelho, Nova Friburgo (RJ), e Roseneide Fernandes, Natal (RN).

    Entre em contato conosco por e-mail: [email protected]; por carta: Revista Seleções – Caixa Postal 13.525 – CEP 20217-970 – Rio de Janeiro, RJ

    Inclua nome completo, endereço, CPF e telefone. Cartas e e-mails podem ser editados por motivo de concisão e usados em mídia impressa e eletrônica.

    NÓS QUEREMOS OUVIR VOCÊ

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    A TRADIÇÃO DOS MILAGRESAprecio os textos de inspiração que a revista publica todos os meses, mas os “milagres” das edições de dezembro, que já viraram tradição, são realmente especiais. São histórias que enternecem e mostram que, apesar do que os noticiários parecem querer nos provar, o ser humano tem em sua essência a generosidade.

    Aguardarei ansiosa as histórias do próximo Natal! JOANA MENDES, Rio de Jan eiro (R J )

    RISADAS ESPERADASTenho 15 anos e, quando a re-vista chega aqui em casa, corro para ler todas as seções de pia-das e histórias reais engraçadas.

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    DEZEMBRO 2016

    VOCÊ CORRE RISCO DE SE TORNAR DIABÉTICO? PÁGINA 66

    O QUE UM VIDEO GAME ME ENSINOU SOBRE MEU FILHO PÁGINA 84 AS 3 MAIORES VERDADES DA VIDAPÁGINA 98

    CONHEÇA UM REINO DE ELFOSPÁGINA 102

    Histórias emocionantes de amor, perdas e reencontros

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    Milagresda vida real

    Acho o máximo que as pessoas consigam rir (e ainda ganhar dinheiro!) com os próprios erros ou os que acontecem ao seu redor. CLARA MONTEIRO, p or e-mail

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  • InformePublicitário

    Use seu leitor de QR Code para baixar o aplicativo do Guia Médico Mobile da Unimed.

    App Store Google Play CUIDAR DE VOCÊ. ESSE É O PLANO.

    Um novo relatório do Programa Conjun-to das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids), revela que o número de infecta-dos pelo vírus da Aids voltou a subir no País, o que atrasa a expectativa da Orga-nização das Nações Unidas (ONU) de aca-bar com a doença até 2030.

    Hoje, há 36,7 milhões de pessoas viven-do com a doença no mundo e o alerta da instituição é global. “Estamos soando o alarme em todo o mundo. O progres-so parou”, enfatiza o diretor executivo do Unaids, Michel Sidibé. Segundo ele, caso haja um aumento de novos casos de infecção, a epidemia será impossível de ser controlada.

    De acordo com o infectologista, Dr. Luiz Gustavo Escada, médico cooperado da Unimed Grande Florianópolis, o quadro atual se dá pela baixa taxa no uso de pre-servativos. “Após mais de três décadas, obtivemos muito êxito no tratamento do HIV/AIDS, que se tornou uma condição crônica de saúde, com redução da ele-vada mortalidade inicial, havendo uma perspectiva de cura em futuro próximo,

    População infectada passou de 700 mil, em 2010, para 830 mil em 2015, com 15 mil mortes por ano

    Número de pessoas com Aids aumenta no Brasil

    mas ainda observamos uma baixa taxa no uso de preservativos e o alarmante au-mento do número de casos de AIDS e ou-tras doenças sexualmente transmissíveis no mundo”, explica.

    Na avaliação do Unaids, governos preci-sam focar esforços em populações mais vulneráveis, além de reforçar a prevenção e dar mais opções aos jovens. Apesar dos avanços, só 57% dos infectados sabem ter o HIV e apenas 46% dos doentes (17 mi-lhões) têm acesso a tratamentos.

    Atualmente, ainda há mais casos da doença entre os homens do que entre as mulheres, o que reforça a importância com o cuidado da saúde do homem, no Brasil e no mundo.

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    SAÚDE

    FOTOGRAFADO POR CLAIRE BENOIST

    Eca! Limpe a tela do celular!

    DÊ UMA OLHADA em seu tablet ou celular. Está vendo fiapos e impressões digitais gordurentas? Poeira e migalhas?

    Levamos nossos aparelhinhos a banheiros públicos, empresta-mos a crianças de nariz escorrendo, passamos a outroas pessoas para mostrar fotos e os pressionamos con-tra a pele suada na academia. Vários estudos mostram que o que se acu-mula é uma sujeira com mais micró-bios do que a sola do sapato. Como a escova de dentes, “seu aparelho por-tátil deveria ser limpo regularmente”, diz o Dr. Dubert Guerrero, especia-lista em doenças infecciosas da San-ford Health, em Fargo, Dakota do Norte. E provavelmente não deveria ser passado de mão em mão.

    Para a higiene básicaLimpar o aparelho pode ser compli-cado, porque ninguém quer danificá-

    -lo e os fabricantes não dão muita orientação. Mas isso pode ser feito com segurança. Os especialistas em saúde aconselham a limpar o apare-lho pelo menos uma vez por dia com um pano de microfibra umedecido, o que basta para eliminar poeira e im-pressões digitais. Mas bactérias como a Clostridium difficile (que pode provocar diarreia e inflamação do cólon) e o vírus da gripe talvez exijam um agente esterilizador como água sanitária ou álcool. Isso é um problema – a Apple avisa oficial-mente para não usar “limpadores de vidros, produtos de limpeza domés-

    POR KATE MURPHY DO NEW YORK TIMES

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    ticos, aerossóis, solventes, álcool, amônia e abrasivos” na limpeza de seus aparelhos.

    Ainda assim, os produtos desinfe-tantes feitos para eletrônicos são óti-mos para eliminar a sujeira. Mas sai mais barato fazer sua própria solução. Para limpar seu celular, Derek Meister, técnico do serviço de consertos e suporte on--line da loja Best Buy, usa uma solução de ál-cool isopropílico 70% e água destilada em par-tes iguais, componentes que, no total, custam menos de dez reais.

    Encha um borrifador com o álcool diluído e umedeça de leve um pano sem fiapos, de preferência de microfi-bra (toalhas de papel, não) e limpe suavemente a tela e o estojo. Nunca borrife diretamente o aparelho. Para limpar os cantinhos em torno dos co-

    nectores, use cotonetes de espuma em vez de cotonetes de algodão.

    Para ficar novo em folhaUse uma lata de ar comprimido para

    soprar os conectores e botões e preservar a aparência, o desempe-nho e o valor de re-venda quando chegar a hora de trocar. Assim você se livra da poeira e das partículas que po-dem danificar as partes internas. Outra opção é comprar um compres-

    sor de ar especializado, com vários acessórios para limpar os cantinhos e emendas do aparelho. “O compressor de ar limpa de verdade”, diz Miroslav Djuric, ex-gerente de arquitetura de informação da ifixit.com, uma comu-nidade na internet para quem gosta de construir e consertar com as próprias mãos.

    Seu celular acumula mais micróbios do que a sola do

    seu sapato.

    NEW YORK TIMES (2 DE JANEIRO DE 2015), © 2015 THE NEW YORK TIMES CO., NYTIMES.COM.

    MÚSICA PARA MEU DESPREZO

    Pergunte ao médico se seu coração tem saúde suficiente para a música de Adele. @GOLDENGATEBLOND (SHAUNA)

    “Hotel California” é uma crítica negativa feita por um site de avaliação com dois minutos de solo de guitarra. @ROBFEE

    Por sorte, quando foi chutado de sua gravadora Cat Stevens caiu de pé. @MOOSEALLAIN @

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    PACIENTE: Marvin, engenheiro químico de 55 anos.

    SINTOMAS: Dor de cabeça intensa e ulceração na nádega.

    MÉDICO: Dr. Brian Goldman, médico de emergência em Toronto, apresentador

    de TV e autor.

    NUMA TARDE RECENTE de in-verno, um homem de meia-idade en-trou no pronto-socorro de um hospital no centro de Toronto, segu-rando a cabeça. Marvin já tivera dores de cabeça, mas nenhuma como aquela. A dor veio aos poucos e foi fi-cando mais intensa até a testa latejar. Ele também se sentia meio gripado e com coceira na nádega esquerda.

    Marvin não tinha febre e ninguém de suas relações estava doente.

    “Sou médico da Emergência e sem-pre penso no pior”, diz Goldman. “Ele não era dado a dores de cabeça, e esse fator tornava seu caso incomum.”

    Em razão da intensidade e da na-tureza atípica da dor desse paciente, o médico pensou em tumor ou he-morragia causada por aneurisma. A outra possibilidade era meningite.

    Goldman começou o exame físico. O ritmo cardíaco de Marvin estava um pouco elevado. Os ouvidos, o na-riz e a garganta não mostravam si-nais de gripe nem de infecção viral.

    “Verifiquei se havia rigidez do pes-coço, um dos sintomas de meningite, mas estava tudo normal”, diz Goldman.

    O único exame definitivo da me-ningite é a punção lombar para pro-curar leucócitos no fluido da medula.

    Relato de casoPOR SYDNEY LONEY

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    Mas num paciente com pressão intra-craniana decorrente de um sangra-mento ou tumor, o procedimento faria a pressão descer, pressionando o cérebro contra a base do crânio. “Ele perderia a consciência, entraria em coma e acabaria parando de respirar”, explica Goldman.

    O médico pediu uma tomografia ur-gente, que mostrou que o cérebro de Marvin es-tava bem e permitiu a punção lombar.

    Com cuidado, Gold-man inseriu uma agu-lha comprida entre a quarta e a quinta vérte-bras de Marvin. O fluido foi para o labora-tório, que confirmou a ausência de glóbulos vermelhos e ajudou o médico a elimi-nar a hipótese de hemorragia. No en-tanto, havia leucócitos, um sinal claro de infecção. O exame encontrou 95 leucócitos por milímetro cúbico; não muito, mas suficiente para revelar que Marvin estava mesmo com meningite.

    A doença, uma inflamação da membrana que envolve o cérebro e a medula, pode ser bacteriana ou viral. “A meningite bacteriana progride rapi-damente e costuma matar adultos jo-vens”, diz Goldman. A forma viral tem sintomas mais sutis e menos probabi-lidade de ser fatal, mas é mais comum em crianças de até 5 anos. “Eu não sa-

    bia por que ele estava com meningite viral”, diz Goldman. “Então me lembrei das nádegas.”

    O médico quis dar uma olhada. Ali, na nádega esquerda de Marvin, havia uma erupção vermelha com peque-nas bolhas agrupadas. “A mente mé-dica busca ligações”, diz Goldman. “Ela não assume que sejam duas

    doenças diferentes.”De repente, a menin-

    gite viral fez sentido. Além da dor forte, Mar-vin tinha herpes.

    Essa doença é cau-sada pelo vírus varicela zóster, que pertence a um grupo de enteroví-rus que costuma circu-lar no verão e no início do outono. Outros vírus

    do mesmo grupo são o da caxumba e o do oeste do Nilo, e todos podem provocar meningite. Goldman diz que não é raro o varicela zóster pro-vocar herpes, mas ele nunca vira her-pes e meningite viral ocorrerem ao mesmo tempo.

    Marvin foi internado e medicado com aciclovir, o único medicamento antiviral intravenoso para tratar me-ningite. Dois dias depois, a dor de ca-beça sumiu e ele se recuperou inteiramente. A moral da história, conclui Goldman, é sempre procurar as ligações. “A gente nunca sabe o que vai encontrar.”

    “A mente médica busca ligações”, diz Goldman.

    “Ela não assume que sejam duas

    doenças diferentes.”

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    O que as unhas dizem sobre sua saúde

    Pistas nos dedos POR SAMANTHA RIDEOUT

    não causam muita preocupação, pois quando se tornam visíveis o problema que as provocou já se resolveu. No entanto, se houver

    recorrência dessas linhas, é bom consultar um médico.

    Se suas unhas se cur-vam para baixo numa

    forma côncava, como se tivessem sido amassadas (fe-

    nômeno conhe-cido como “unhas

    de colher”), você pode estar com defi-

    ciência de ferro.Também vale a pena

    observar qualquer mudança da cor normal

    das unhas. As micoses são muito

    comuns nas unhas do pé e podem ser as culpadas caso as unhas fiquem ama-reladas ou esverdeadas e comecem a esfarelar.

    AS UNHAS DOS PÉS E DAS MÃOS são uma relíquia evolutiva, mais úteis a nossos distantes ances-trais, que as usavam para se agarrar nos galhos, do que para seres huma-nos modernos. No entanto, elas ainda dão pistas sobre nossa saúde. Por exemplo, quando há desgaste excessivo dos recursos do corpo, o crescimento das unhas pode se interrom-per tem-poraria-mente, deixando sulcos horizontais. Cha-madas de “linhas de Beau”, essas marcas podem ter vários motivos, como traumas locais da unha, infecções e nível elevado de estresse físico.

    Em geral, as linhas de Beau

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    Sejam quais forem as mudanças observadas, não se esqueça de que há centenas de razões possíveis para

    anormalidades nas unhas, mas nem todas necessaria-mente graves. Por exemplo: a longo prazo, o uso de esmalte pode tornar as unhas quebradiças, e o envelhecimento pode começar a deixá-las mais espes-sas. Portanto, não suponha o pior; em vez disso, consulte

    um médico, que será capaz de utili-zar as mudanças das unhas para montar um quebra-cabeça maior.

    Unhas amarelas também podem indicar psoríase.

    Se a unha escurecer, a razão pode ser uma verruga ou um hematoma de-baixo dela, mas é bom verificar se a causa não é um melanoma (câncer de pele). Es-pecificamente, “o sur-gimento de uma faixa vertical marrom ou preta na unha de um adulto deve sempre suscitar uma consulta ao dermatologista”, diz Bianca Maria Pirac-cini, professora de Dermatologia da Universidade de Bolonha, na Itália.

    Excesso de gordura ligado a mais cânceresDepois de avaliar mais de mil estudos, a Agência Internacional de Pesquisa do Câncer concluiu recentemente que o peso saudável reduz o risco de cân-cer em 13 órgãos, como fígado, vesí-cula e pâncreas. Antes, a entidade ligava o excesso de peso e a obesidade

    ao câncer de apenas cinco órgãos, como o colorretal e o de esôfago.

    Declínio da memória resulta da mudança de focoNuma experiência publicada na re-vista NeuroImage, os pesquisadores usaram ressonância magnética fun-cional para acompanhar a atividade

    Notícias do mundo da medicina

    As micoses causam cerca de

    50%dos problemas nas unhas

    dos pés. Mantenha as unhas curtas, troque de meia com frequência e não ande des-calço em locais públicos.

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  • S E L E Ç Õ E S

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    cerebral de pessoas de 19 a 76 anos que faziam um teste de memória visual. A partir da meia-idade, os participantes tiveram resultado pior do que os mais jovens. No entanto, isso não significava perda de memó-ria, mas a diferença do que o cérebro mais velho considera importante. Os participantes mais velhos tinham muita atividade no córtex pré-frontal medial, que comanda a introspecção e as informações sobre a própria vida. Os mais velhos podem melho-rar a memória de detalhes caso trei-nem o cérebro para prestar atenção às informações externas.

    Ler ficção aumenta a empatiaUma revisão recente realizada por um psicólogo da Universidade de Toronto indica que romances e contos estimulam a empatia. Num dos estudos, os participantes que leram ficção literária apresentaram pontuação melhor do que os contro-les (que leram não ficção) ao adivi-nhar o que as pessoas sentiam com base em fotos dos olhos.

    Consumo de proteínas reduz o risco de debilidadePesquisadores de Bordéus, na França, examinaram 1.345 idosos para ver quantos seriam considerados “debili-tados”, ou seja, com três ou mais dos seguintes sintomas: emagrecimento

    significativo e não intencional, fadiga, fraqueza muscular, passos lentos ou menos de uma hora de atividade física por semana. Eles constataram que os participantes que comiam pelo menos 1 g de proteína animal ou vegetal por dia a cada quilo de peso tinham probabilidade quase 60% menor de se debilitarem.

    TESTE SEU QI MÉDICO

    Pico de massa óssea é...

    A. a melhor pontuação possível num exame de densidade mineral óssea.

    B. a maior quantidade de tecido ósseo que o indivíduo acumula durante a vida.

    C. a categoria esqueletal mais alta em medições do índice de massa corporal.

    D. a força que o osso consegue suportar antes de sofrer fratura.

    Resposta: B. O pico de massa óssea é o máximo de força e ta-manho dos ossos durante a vida do indivíduo. Costuma ocorrer antes dos 30 anos, e quanto mais alto, menor o risco de futura osteoporose. Acredita-se que a ingestão adequada de cálcio e exercícios regulares de levanta-mento de peso retardem a perda óssea em qualquer idade.

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  • Você em Seleções

    CONTE UMA HISTÓRIA ENGRAÇADA E GANHE ATÉ R$ 400*

    Sua história real pode ser publicada em Flagrantes da vida real (experiências do dia a dia que revelem a na-tureza humana), Ossos do ofício (humor no trabalho), Piadas de caserna (humor na carreira militar) e Essas crianças... (o mundo do ponto de vista delas). Piadas podem ser publicadas em Rir é o melhor remédio.

    AS REGRASPor favor, inclua nome, endereço e telefone em suas contribuições. Todo material previamente publicado deve conter nome da fonte, data de publicação, nú-mero da página, endereço na Internet ou outra forma de identificação. Se não houver identificação de fonte, consideraremos o item como original, e atribuiremos a garantia e responsabilidade de autor a quem o enviou. Itens originais, se forem escolhidos e pagos, passam a ter todos os direitos de uso revertidos para Seleções. As contribuições poderão ser editadas, e não haverá notificação do seu recebimento ou devo-lução. Podemos publicar sua contribuição em qual-quer departamento da revista ou em qualquer outro produto do Reader’s Digest. Se recebermos mais de uma cópia da mesma contribuição ou contribuições semelhantes, pagaremos apenas para a que for esco-lhida. O pagamento será feito após a publicação.

    Desculpa estapafúrdia ou

    criativa? Você pode imaginar quantas vezes alguém que trabalhe com leis vive essa dúvida?

    As justicativas mais loucas que ouve?

    Ou quem sabe a realidade às vezes é mesmo nonsense...

    A leitora Livia Morita, quando era

    estagiária de Direito, presenciou a defesa inusitada de um réu em uma audiência.

    Confira na seção Flagrantes da vida real, na página 36.

    Como enviar sua contribuiçãon E-MAIL [email protected] – SITE selecoes.com.br – TWITTER @revistaselecoes n CORREIO Revista Seleções – Caixa Postal 13.525 – CEP 20210-972 – Rio de Janeiro – RJ

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  • Chegar na frente é o nosso diferencial.Transfolha, pioneira na distribuição de produtos para operações de B2C, B2B, jornais, periódicos e livros.

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  • 22 | 01•2017

    FAMÍLIA

    O relatório matinal

    QUANDO MINHA mãe faleceu alguns anos atrás, meu pai octogená-rio ficou sozinho na grande casa onde moraram durante cinquenta anos. Sem ela para cuidar dele, meu pai se preocupou: quem o encontraria para ajudar caso “algo acontecesse”?

    Eu e minha irmã moramos em outros estados, e tivemos a ideia de pedir a papai que nos mandasse um e-mail toda manhã quando acordasse. Assim nasceu o Relatório Matinal.

    Em geral, ele se levanta ao raiar do dia, e a meia dúzia de frases me

    aguarda na caixa de entrada quando acordo, apesar da diferença de duas horas no fuso horário. Se não houver e-mail, telefono, ou minha irmã liga, para saber se está tudo bem. (Às vezes ele tem problemas no computador ou decidiu dormir até mais tarde.) Mas os relatórios se tornaram mais do que uma verificação cotidiana: eles são como um diário, uma ferramenta de planejamento, um catalisador de con-versas mais demoradas e uma fonte de compreensão da vida dele.

    Por meio dos relatórios, papai nos

    POR DONALD E. HUNTON DO THE BOSTON GLOBE

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    conta sua rotina diária. Ele pode ir ao supermercado comprar banana, à aula de exercícios de reabilitação cardíaca, a um almoço com amigos. Acho tranquilizador o ciclo repetitivo de suas atividades: o grupo de discus-são de atualidades nas noites de ter-ça-feira, o Rotary Club nas tardes de quarta-feira, café com os amigos de-pois da igreja na manhã de domingo.

    Às vezes, ele nos manda provoca-ções codificadas. Por exemplo, re-centemente ele nos contou: “Escalei metade do Monte Washington!” Com sua idade e a distância de New Hampshire, essa escalada seria improvável.

    Fiquei perplexo por um dia ou dois até que ele me lembrou que estava

    tecendo um tapete com uma vista da montanha.

    Os e-mails terminam com “Todo o meu amor, papai”. Quando minha mãe estava viva, esse sentimento fi-cava normalmente reservado para ela. Agora que ela se foi, ele divide seus sentimentos e experiências co-nosco. Para mim, o que começou como simples medida de segurança gerou uma intimidade mais profunda.

    Fico grato porque meu pai ainda consegue lidar com o computador. Sei que chegará o dia em que ele não conseguirá mais escrever os relatórios e teremos de encontrar outra maneira de ficar de olho uns nos outros. Mas até lá eles são nosso modo de saber que mais um dia normal começou.

    CORTESIA DO AUTOR, DE THE BOSTON GLOBE (24 DE MAIO DE 2015), COPYRIGHT © 2015 DE DONALD E. HUNTON.

    PONTOS A PONDERAR

    Você tem que fazer o que quer ver no mundo. Basicamente, essa é a sua obrigação, se for um artista. Pensando melhor, mesmo que

    seja um bombeiro hidráulico.

    CARRIE MAE WEEMS, fotógrafa, na revista Lenny

    Uma vez alguém me disse que o segredo do sucesso é ser a pes-soa que as outras pessoas querem ver ser bem-sucedida. Isso é

    mais importante que ter talento, cérebro ou sorte. DICK PARSONS, ex-CEO da Time Warner, na Vanity

    [O spam] pode se modificar, mas não vai desaparecer. O spam é onde o mal encontra a publicidade, e ninguém nunca conseguiu se livrar de nenhum dos dois. ELIZABETH ZWICKY, arquiteta anti-spam

    do Yahoo, no New York Times

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  • Entre aspas

    SER ENGRAÇADO É ESTAR CONSCIENTE DO ABSURDO DA NORMALIDADE.BOB MANKOFF, e d i t o r d e c a r t u n s

    Eu cometi alguns erros. E garanto que

    cometerei mais.BARACK OBAMA, e x - p r e s i d e n t e d o s E s t a d o s U n i d o s

    O OTIMISTA FICA ACORDADO ATÉ MEIA-NOITE PARA VER O NOVO ANO CHEGAR. O PESSIMISTA, PARA SE CERTIFICAR DE QUE O ANO VELHO FOI MESMO EMBORA.

    BILL VAUGHN, m a e s t r o a m e r i c a n o

    O objetivo fundamental dos sonhos não é o sucesso, mas nos livrar do fantasma do conformismo.

    AUGUSTO CURY, e s c r i t o r b r a s i l e i r o , e m O v e n d e d o r d e s o n h o s

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    Às vezes não conseguimos nos ver com clareza, até nos vermos através dos olhos dos outros.

    ELLEN DEGENERES, a p r e s e n t a d o r a

    GOSTARIA DE SER LEMBRADA COMO ALGUÉM QUE FEZ O MELHOR QUE PÔDE COM O TALENTO QUE TINHA.

    J. K . ROWLING, e s c r i t o r a i n g l e s a

    Um homem é um sucesso se pula da cama de manhã e vai dormir à noite, e, nesse meio-tempo, faz o que gosta. BOB DYLAN,

    m ú s i c o , v e n c e d o r d o

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  • PAPO DE LIVRO

    Ratatouille literárioPOR CLAUDIA NINA

    ALBERT CAMUS ESCREVEU QUE AS CIDADES que mais o ensinaram foram justamente aquelas que mais o entedia-ram – porque existem os lugares de turismo e os de aprendi-zado. Nem sempre, diria quase nunca, as duas coisas coincidem. Experimentar o improvável pode ser uma boa até para crianças. Trocar a Disney por uma cidadezinha cravada no interior de Wisconsin, por exemplo? Parece loucura quando se tem filhos ávidos por roteiros óbvios. Experimen-tar uma rota de fuga e descobrir que tudo, mas tudo mesmo, pode acontecer, inclusive o surpreendentemente bom.

    Como vender esta ideia em casa?O pensamento cintilou quando deparei com um livro cha-

    mado Paris-Brest, em que o autor Alexandre Staut trocou o ro-teiro previsível da cidade-luz, de onde partiu, por uma cidade no meio do nada em uma França incerta e enigmática. O re-sultado foi, não só anos de muito aprendizado, como um livro belíssimo que ganhou cabeceira na minha cozinha – sim, é

    também um livro de receitas, mas não só aquelas que viram comida de fato, mas so-bretudo receitas de vida, sobrevivência e descoberta. Como ser feliz quando todas as referências às quais estamos familiariza-dos somem do mapa? Quando não há se-quer uma sala de cinema onde se esconder nos dias intermináveis de inverno? Como disfarçar a melancolia e até a humilhação diante do imponderável?

    Staut, que além de escritor é chef, foi tra-balhar em cozinhas e conhecer a alma da

    CLAUDIA NINA

    é jornalista e escritora, autora, entre outros, de Paisagem de porcelana (Rocco).

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  • S E L E Ç Õ E S

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    culinária francesa em sua raiz. Debu-lhou muito alho, abriu vieiras de montão, passou madrugadas entre fa-rinhas, fogões e pias imundas. Co-nheceu salinas no Sul da Bretanha, o segredo das boas manteigas e dos ca-ramelos, mergulhou no espírito dos mercados de rua e o si-lêncio dos portos... Tudo isso surge em texto entremeado por receitas simples e suculentas, aliadas a referências cinemato-gráficas, históricas, geográficas e literárias. Um verdadeiro rata-touille (aquele enso-pado que ficou famoso pelo desenho do ratinho) cultural. Staut comparti-lha as surpresas e as dificuldades vá-rias, que foram desde a tristeza de não ver o sol raiar em dias cinzentos até a sensação de abandono, como quando foi relegado às sobremesas, geralmente preparadas por quem fica até mais tarde na cozinha. Em vez de se sentir diminuído, Staut aprende: “O lado bom é que tudo em mim cheirava a açúcar, amêndoa moída, chocolate derretido, gema de ovo, fava de baunilha e essência de pista-che.” Dá vontade de testar todas as receitas, começando com o doce que dá título ao livro, o Paris-Brest, com massa de profiteroles...

    Quis passar imediatamente o livro

    para as mãos da minha filha adoles-cente e instaurar em casa a necessi-dade do estranhamento geográfico. Penso agora de repente em uma cida-dezinha no interior de Minas para que minha turma conheça receitas à base do ora-pro-nóbis e as histórias

    por trás destas receitas, por exemplo. Apenas uma ideia, claro, para simbolizar a fuga da mesmice, ainda que isto gere um descon-forto inicial por criar a ansiedade diante do que nunca foi testado... Uma leitura puxa a ou-tra, um roteiro puxa o

    outro, de Brest para Minas, comecei a imaginar outros roteiros intelectuais, literários, gastronômicos e acadêmi-cos com o pretexto de testar a capaci-dade de sobrevivência em lugares além dos mesmos cenários aos quais nos apegamos tanto.

    Estou aqui, à beira de 2017, cheia de ideias, projetos, rumos e receitas para inaugurar um ano diferente. Testar o paladar para descobertas, que tal?

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    Paris-Brest: memórias de viagem e receitas deliciosas de um brasileiro pelas cozinhas da FrançaAlexandre Staut(Companhia Editora Nacional)

    Comecei a imaginar outros

    roteiros intelectuais,

    literários, gastronômicos...

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  • MINHA VIDA

    Correndo atrásPOR ANNE ROUMANOFF

    ANNE

    ROUMANOFF

    é uma conhecida humorista francesa, e mora em Paris.

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    EU COSTUMAVA OLHAR com desdém quando passava uma brigada de corredores suados. Estariam correndo atrás de quê?!... Quando via uma moça de roupa verde fluorescente com as gordurinhas balançando no ritmo dos passos, eu ria:

    “Nossa, totalmente sem noção!” Mas chegou o dia em que minhas coxas e barriga começaram a parecer gelatina.

    Meu médico perguntou pela enésima vez se eu praticava “atividade física regular”.

    – Não exatamente regular – murmurei.Ele ergueu a sobrancelha:

    – Bem, é agora ou nunca.Confesso que pensei: Nunca. Mas aí pedi conselhos a uma

    amiga que corre maratonas e a resposta foi: “Comece com-prando tênis de corrida”, disse ela.

    Entrei numa loja e comprei o kit completo: tênis roxo fluo-rescente, calças de lycra rosa-choque, meias alaranjadas.

    Certo dia, já cheia da implicância da família – “Nossa, mãe, você é tão preguiçosa...” –, vesti o traje, que me

    deixou parecida com uma arara superalimen-tada, e corri... 30 segundos.

    Com a persistência, consegui melhorar meu pobre desempenho, mas ainda estou esperando a tão falada endorfina, que, pelo que dizem, dá barato.

    Termino as sessões de corrida grudenta de suor, exausta e sem fôlego. Quando se trata de atividade física regular, meu pro-blema é com a parte “regular”, mas pelo menos parei de dizer: “Esporte? Ah, acre-dito mas não pratico.”

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  • HISTÓRIAS POSITIVAS QUE CHEGAM ATÉ NÓS

    Boas-novasPOR TIM HULSE

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    Memória de voltaSAÚDE “Ah! O cheirinho dos velhos tempos!”, exclama uma senhora idosa ao sentir o aroma do substituto de café que era usado em sua infância. Sua compa-nheira aponta uma panela grande sobre o aquecedor. É utilizada para ferver fraldas, ex-plica ela à anfitriã, que lhes mostra sua casa. Mas essa casa não é comum, nem esses visitantes.

    A “Casa das Lembranças” é a ré-plica de um apartamento da década de 1950 no museu de Den Gamle By, em Aarhus, na Dinamarca. Ela foi pensada para pessoas com Alzhei-mer e outros tipos de demência.

    A ideia é provocar lembranças; as mais antigas tendem a estar mais bem preservadas e ser mais fáceis de

    recordar por associação. Assim, cabe aos sons e imagens provocar recor-dações. Os visitantes saem clara-mente aliviados, e Henning Lindberg, funcionário do museu, diz ter visto pessoas falarem pela primeira vez em anos e recordar histórias que os filhos não conheciam.

    Como todas as instituições, a casa tem de acompanhar os tempos. Há um plano de atualizá-la para a dé-cada de 1960.

    “Há algo no gamão que traz pessoas diferentes para cá.”

    Zaki Jamal , um do s org aniz a dore s em Jer us além de um torn eio de g amã o em qu e ju de us e p ale stin o s c omp e tem junto s c om ale g r i a

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  • 01•2017 | 29

    Fontes: Saúde: NPR, 13/9/2016. Meio ambiente: Washington Post, 19/9/2016. Ecologia: Universidade de Copenhague, 19/9/2016. Heróis: Washington Post, 9/9/2016

    A poluição ácida se reduzECOLOGIA Pesquisadores dinamar-queses descobriram que a poluição ácida causada pelo homem na at-mosfera está quase de volta ao nível pré-industrial.

    Pela primeira vez, eles consegui-ram distinguir os ácidos produzidos pelo homem, provocados principal-mente pelo consumo de combustí-veis fósseis, dos decorrentes de erupções vulcânicas ou incêndios. A produção daqueles chegou ao ponto máximo na década de 1970, mas depois das leis antipoluição da Europa e dos EUA e de métodos eficazes de filtragem industrial, a poluição ácida gerada pelo homem caiu para o nível da década de 1930.

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    A França contra o plásticoMEIO AMBIENTE Os franceses adoram piqueniques e um copo de vinho. Mas esses prazeres cobram seu preço do meio ambiente. Todo ano, o país joga fora bilhões de copos e outros utensílios de plástico não biodegradável. Além dos piqueni-ques, outros culpados são as máqui-nas de venda automática e as lan-chonetes de fast-food.

    Agora o governo francês anunciou a proibição da venda de pratos, ta-lheres, copos e taças descartáveis a partir de 2020, a menos que sejam feitos de matéria vegetal que vá para composteiras domésticas.

    HERÓIS: UMA REUNIÃO EMOCIONADA

    GORDON DRAPER ESTAVA arrumando os livros de seu sebo no nordeste da Inglaterra e um envelope caiu. Dentro havia uma carta e a fotografia de uma mulher com uma menina. Estava ende-reçada a “Bethany” e assinada “Mamãe”. Draper percebeu que era a última carta de uma mãe moribunda à filha.

    E ele decidiu que encontraria Bethany. Foi assim que Bethany Gash, hoje com 21 anos e também mãe, se reuniu à carta que perdera aos 9, cinco anos depois da morte da mãe.

    “Tive vontade de chorar”, disse ela. “O esforço que ele fez para me encontrar foi demais.”

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  • 30 | 01•2017

    Essas crianças...

    MINHA FILHA ESTAVA deitada na cama com Luka, meu neto de 3 anos. Para puxar conversa, ela perguntou:

    – O que deixa você feliz?Ele respondeu, animado:– Leite com chocolate.– E o que deixa você triste? – conti-

    nuou minha filha.Luka respondeu, em voz baixa e

    em tom sério:– O outro tipo. ROGER KOWALCHUK

    MISTÉRIOS CORRIQUEIROSPor que brincar de faxina é tão diver-tido, mas catar os brinquedos é tão complicado? @YENNIWHITE

    ALGUNS ANOS ATRÁS, levei meus filhos a Cuba para fugir do inverno gelado de Quebec. Pegamos o avião às três da madrugada. Na mesma hora, as duas crianças adormeceram a bordo e fizeram a viagem toda dor-

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    “Esse monstro que assustou você é muito parecido com o daquele filme que eu disse que você não podia assistir.”

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    Sua história pode valer até R$ 400. Visite o site selecoes.com.br ou veja os detalhes na página 19.

    sobrinho apontou para um deles e perguntou:

    – Tio, aquela ali é mulher, né?– Não dizemos que o cachorro é

    mulher, dizemos que é fêmea.Para demonstrar que havia enten-

    dido, ele logo apontou para o macho e falou:

    – Ah, então aquele ali é fêmeo!SILOÉ MARTINS, B e l é m ( PA )

    FAÇA AS CONTASCriação dos filhos: 50%, arranjar coi-sas legais para os filhos; 50%, amea-çar tirá-las. @FLUFFYSUSE

    Criação de filhos: 20%, passar tempo com os filhos, oferecendo amor e con-selhos; os outros 80% são para procu-rar seus sapatos. @CHEESEBOY22

    Criação de filhos: 90%, responder per-guntas; 20%, rezar para o filho não perguntar nada sobre matemática.

    @ELISHADACEY

    ESPAÇO PARA UMFILHO DE 4 ANOS: Podemos ter um gatinho?EU: Sou alérgica. Não podemos ficar na mesma casa.FILHO DE 4 ANOS: Ah, mas você pode dormir lá fora! @XPLODINGUNICORN

    mindo. Quando pousamos, acordei os dois e avisei que tínhamos che-gado. Meu filho de 3 anos olhou pela janela e exclamou:

    – Uau! A neve derreteu depressa! ANNIE MARCOUX

    MINIAJUDANTESApesar das melhores intenções das crianças, suas tentativas de ajudar nem sempre dão certo.

    Meu filho de 3 anos insistiu em me ajudar a arrumar a roupa lavada. Acabamos levando 6 horas e 10 mi-nutos, e parece que agora as calças devem ser guardadas dentro da gela-deira. @OUTSMARTEDMOMMY

    Obrigada, criança, por me “ajudar com o jantar” cumprindo a impor-tantíssima tarefa de desenrolar todo o rolo de papel-alumínio.

    @MAMABIRDDIARIES

    Acabei de descobrir por que os pratos ultimamente não estavam saindo muito limpos da lava-louças: peguei meu filho pequeno aper-tando várias vezes a tecla de cance-lar no meio da lavagem. @JENNIFERBORGET

    TROUXE MEU SOBRINHO de 5 anos em casa para conhecer meus cachor-ros. Logo na entrada estavam dois deles, um macho e uma fêmea. Meu

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  • 32 | 01•2017

    COMPLETE A SENTENÇA

    Este ano eu decididamente...

    …me tornarei

    uma versão melhor

    de mim mesma.LISBETH OTTA,

    No r u e g a

    …não terei boas

    intenções. (Elas não vão funcionar

    de qualquer jeito.)HELMA VAN VUGT

    Pa í s e s B a i x o s

    …visitareiminha cidade

    natal, Moçambique.MARCELINO ALVES

    Por tug al

    …farei da culinária, hoje meu hobby,

    a minha profissão.LAURA VIEIRA

    B ra s i l

    …vou tentar

    me livrar do estresse. JEAN PHILIPS ZELE, B é l g i c a

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  • 01•2017 | 33

    …deixarei de ser escravo

    das minhas metas.PILAR GARCÍA

    E s p a n h a

    …vou envelhecer,

    com mais dignidade.LYDIA KOK C i n g a p u ra

    …exercer meu dever

    como cidadão e votar a favor de e não contra alguma coisa.

    JEAN-PIERRE DAUNIS TOURNON, Fra n c e

    …vou fazer uma limpa na casa, na cabeça

    e na vida.DONALD WARD

    Au s t rá l i a

    …começar a correr

    e persistir pelo tempo necessário para começar

    a gostar disso. ALIA LJUBLJANA,

    E s l o v ê n i a

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  • SAÚDE DA MENTEE DO CORAÇÃO.

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    FlagrantesDA VIDA REAL

    DO BARULHOUm colega de trabalho fez aniversário de 50 anos no fim de semana e eu sa-bia que ele não estava muito contente de ter completado “meio século”.

    Na manhã de segunda ele chegou ao escritório meio para baixo. Per-guntei o motivo da tristeza e ele me deu a seguinte resposta:

    – Bem, tudo que sei é que dei uma festa no domingo para muitos convi-dados, e meus vizinhos nem sequer perceberam. MAXINE COOPER

    VIDA LONGAMinha querida filha Sophie tem 34 anos e meu neto, Tim, 7. Recente-mente ele ficou muito chateado por-que seu peixinho, Pinkie, morreu.

    – Da próxima vez compre outro peixinho e diga que Pinkie simples-mente acordou de um cochilo demo-rado – eu disse a Sophie depois de ouvir o relato dela.

    Imediatamente a expressão em seu rosto mudou e ela me disse, em choque:

    ILUSTRADO POR CONAN D E VRIES

    “Por que você é sempre tão negativo?”

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    – Mãe, como você foi capaz?! Foi por isso que Goldie só morreu com 15 anos? OLGA ARNOLD

    JUSTIÇA SEJA FEITANa época em que fui estagiária de Direito, certa vez assisti a uma audiência em que o sujeito estava sendo acusado de roubar um taxista na frente de várias testemunhas.

    Qual não foi a surpresa de todos presentes quando a defesa dele foi declarar:

    – Não! O que aconteceu foi que eu disse “Isto é um assalto!” quando ouvi o valor da corrida. LIVIA MORITA, S ã o Pau l o ( S P )

    PEGUEI VOCÊ!O apresentador Jimmy Fallon pediu que seus telespectadores contassem no Twitter os momentos mais embaraçosos em que foram pegos no flagra.■■ Eu estava usando o Facebook no

    trabalho e meu chefe apareceu atrás de mim de repente. Bati com força o que pensei ser a tela do notebook, mas, na verdade, era o monitor do meu computador.■■ Menti para o meu pai dizendo que

    a aula daquele dia tinha sido cance-lada. Ele disse: “Que ótimo, vamos ao cinema então!” Entramos no carro e ele me deixou na porta da escola.■■ Eu estava na igreja, mandando

    uma mensagem de texto. O reve-rendo passou ao meu lado e disse baixinho: “Espero que essa mensa-gem seja para Jesus.”

    Fonte: The Tonight Show com Jimmy Fallon

    EU E MINHA namorada estamos sempre rindo do fato de sermos muito competitivos.

    Mas eu sempre rio mais.Fonte: Reddit.com

    MEIO PROBLEMAFrequento uma lanchonete onde a comida é muito boa, mas o pessoal que trabalha lá costuma se irritar com qualquer mudança no pedido. Uma vez disse ao atendente que iria querer apenas meio sanduíche e ele, surpreso, me disse: “Mas o que eu vou fazer com a outra metade?”.

    Na semana seguinte, ao fazer o mesmo pedido para outro atendente, a resposta foi: “Você vai querer a me-tade de cima ou a de baixo?”

    CAROLE HOLDER

    ALGUMAS PERGUNTAS DE SEGURANÇA

    NIILÍSTICAS PARA PROTEGER SEU E-MAIL

    n■Que idade você tinha quando seu cachorrinho amado fugiu para sempre?

    n■Qual o nome da empresa do seu primeiro estágio não remu-nerado de 12 horas?

    n■Em que cidade você morava quando sentiu pela primeira vez um tédio profundo pela vida?

    n■Qual o nome da rua em que você perdeu a capacidade de se maravilhar?

    n■Em qual ano você simples-mente parou de tentar?

    Fonte: mcsweeneys.net

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    Do câncer à enxaqueca e à artrite, alguns avanços animadores no diagnóstico e nos tratamentos

    BOA NOTÍCIA!PARA ASAUDE

    POR MARY S. AIKINS

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    NOVOS EXAMES REVELAM MAIS CEDO O CÂNCER

    DE PULMÃO

    O DIAGNÓSTICO PRECOCE é uma das melhores maneiras de vencer o câncer, e há boas notícias nessa li-nha. Dois novos exames identificam a doença no pulmão a tempo de aumen-tar a eficácia do tratamento e dão aos pacientes mais possibilidade de cura.

    No primeiro deles, desenvolvido por Vadim Backman, professor de En-genharia Biomédica da Northwestern University, no estado americano de Illinois, amostras celulares tiradas do interior da bochecha são examinadas num microscópio especializado. Esse microscópio percebe mudanças celu-lares específicas e indica se há um cân-cer de pulmão em desenvolvimento.

    O segundo é um simples exame de hálito! O ar expirado contém mi-lhares de compostos orgânicos volá-teis (COVs) que variam em padrão e composição. Descobriu-se um sub-conjunto de quatro COVs no hálito de pacientes com câncer de pulmão.

    A empresa Owlstone Medical, de Cambridge, na Inglaterra, desenvol-veu um sensor de microchip capaz de medir os COVs do hálito. Essa tecnologia já existe. Billy Boyle, pre-sidente e um dos fundadores da Owl- stone Medical, afirma que seu apare-lho é menor e mais barato.

    “Esperamos que a análise do hálito nos permita diagnosticar os pacientes com câncer de pulmão primário ou recorrente muito antes de surgirem os sintomas, quando temos mais opções de tratamento e mais probabilidade de cura”, diz a Dra. Erin M. Schumer, ci-rurgiã cardiotorácica cuja pesquisa sobre essa técnica foi publicada no início de 2016.

    EXAME DO CHEIRO PARA CÂNCER DE PRÓSTATA

    UM EXAME OLFATIVO promete ser uma ferramenta imediata para o diag-nóstico preciso do câncer de próstata. TO

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    Com ele se salvariam milhares de vi-das, e milhares de homens não teriam de sofrer investigações invasivas. O exame está na fase avançada de es-tudos clínicos e espera-se que esteja disponível no fim de 2017.

    “Se passar pelos estudos clínicos, esse exame vai revolucionar o diag-nóstico”, diz o Dr. Raj Persad, urolo-gista especializado do Southmead Hospital, na Inglaterra. “Mesmo com biópsias detalhadas, em alguns casos corremos o risco de não perceber o câncer de próstata.”

    Em 2012, mais de 1,1 milhão de casos de câncer de próstata foram re-gistrados no mundo inteiro, de acordo com o Fundo Internacional de Pes-quisa Mundial do Câncer.

    QUAL O RISCO DE ENFARTE?

    IMAGINE O DIA em que um exame de sangue possa prever se há probabili-dade de enfarte nos cinco anos seguin-tes, permitindo medidas para evitá-lo?

    Pois outro exame de sangue simples, desenvolvido por pesquisadores do

    Instituto Nacional de Coração e Pul-mão do Imperial College, em Londres, promete fazer exatamente isso.

    Se os estudos clínicos forem bem--sucedidos, em vez de usar idade, sexo, nível de colesterol, pressão arterial e histórico clínico para avaliar o risco de problemas cardíacos, o novo exame vai procurar anticorpos protetores que já existem no organismo. Esses anticor-pos produzidos pelo sistema imuno-lógico, chamados imunoglobulina G ou IgG, protegem o corpo de enfartes mesmo quando o colesterol e a pressão são elevados.

    No estudo, os participantes com va-lor mais alto de IgG tiveram risco 58% menor de desenvolver doença cardio-coronariana ou sofrer um enfarte.

    INOVAÇÃO NO TRATAMENTO DO CÂNCER DE MAMA

    “ESPANTOSO!”, “inovador”, “com po-tencial de virar o jogo”: eis como os especialistas em câncer de mama es-tão descrevendo o resultado de um estudo recente.

    Imagine um exame de sangue que preveja se você poderá ter um

    enfarte nos próxi-mos cinco anos.

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    Pesquisadores da entidade Can-cer Research UK deram a mulheres com câncer de mama agressivo uma combinação de dois medicamentos: Herceptin (trastuzumabe) e Tyverb (lapatinibe). Depois de 11 dias de tratamento com a mistura, o tumor diminuiu drasticamente em 17% das mulheres. Ainda mais impressionante foi o sumiço total dos tumores de ou-tros 11% das mulheres que receberam as duas substâncias.

    No estudo, os pesquisadores que-riam verificar como o tratamento combinado afetaria os tumores entre o diagnóstico e a cirurgia; o resultado foi “fantástico”. Os dois medicamentos são comuns no tratamento do câncer de mama, e a terapia combinada pode ser receitada em breve.

    AJUDA NÃO INVASIVA PARA OS PARCIALMENTE CEGOS

    ATÉ HOJE, a perda de visão decorrente de glaucoma ou de lesões do nervo óp-tico era considerada irreversível. Mas o

    resultado de um estudo clínico alemão, publicado em junho de 2016, demons-trou melhora significativa da visão em pacientes parcialmente cegos depois de dez dias de estimulação transorbital não invasiva com corrente alternada. Nesse procedimento, aplica-se uma corrente elétrica alternada à área do cérebro que processa a visão.

    “O tratamento com corrente alter-nada é um meio seguro e eficaz de restaurar parcialmente a visão depois de lesões do nervo óptico”, comentou Bernhard A. Sabel, Ph.D. e principal pesquisador da Universidade Otto von Guericke, de Magdeburg, na Alemanha.

    Outra boa notícia para quem não enxerga bem: uma câmera miniatu-rizada especial, montada nos óculos, melhora muito a capacidade de ler.

    De acordo com pesquisadores do UC Davis Health System, da Califór-nia, o aparelho reconhece os textos e os lê para o usuário por meio de um fone. Também é possível programá--lo para reconhecer rostos, dinheiro e mantimentos.

    EXAMES DE SANGUE DIAGNOSTICAM ALZHEIMER

    COMO NO CÂNCER, o diagnóstico precoce da doença de Alzheimer pode ser tremendamente benéfico para o paciente. Dois exames de sangue, desenvolvidos separadamente a um

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    oceano de distância, podem perce-ber com grau altíssimo de exatidão se uma pessoa com perda cognitiva leve está nos primeiros estágios da doença ou de outro tipo de demência.

    Pesquisadores da Universidade Rowan de New Jersey, nos EUA, e das universidades de Ruhr Bochum e Got-tingen, na Alemanha, desenvolveram os exames. No mundo inteiro, mais de 47 milhões de pessoas sofrem de demência e, para a maioria delas, a causa é a doença de Alzheimer.

    Esse é um grande avanço, com mui-tos possíveis benefícios para quem tem Alzheimer. O exame permitiria aos especialistas retardar o avanço da doença com ajustes no estilo de vida, nos medicamentos e no tratamento médico. O exame alemão já passou pelo estudo clínico.

    RECUPERAÇÃO ESPANTOSA MUITO DEPOIS DO AVC

    UMA VÍTIMA de acidente vascular ce-rebral (AVC) de 71 anos, presa a uma cadeira de rodas, voltou a andar.

    Um grupo de cientistas da Escola de Medicina da Universidade de Stanford, na Califórnia, relatou que 7 de 18 pacientes vítimas de AVC que concordaram em passar por uma te-rapia experimental com injeções de células-tronco na parte lesionada do cérebro obtiveram resultados verda-deiramente “espantosos”.

    Gary Steinberg, principal autor do estudo e diretor de neurocirurgia de Stanford, disse que, embora sejam cautelosos para não “vender exage-radamente” o resultado de um es-tudo tão pequeno, sua equipe ficou “espantada” ao ver que a capacidade física de 7 dos 18 pacientes melhorou bastante depois do tratamento.

    “A recuperação não foi apenas mí-nima, como quem tivesse o polegar paralisado e conseguisse movê-lo. Foi muito mais do que isso”, afirmou ele, que realizou pessoalmente a maior parte das cirurgias.

    O mais incrível é que a terapia fun-cionou em pacientes cujos AVCs ti-

    A melhora dos pacientes comprova o que se considerava impossível: o cérebro pode se reconstruir.

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    nham acontecido entre seis meses e três anos antes. Em essência, a nova terapia transforma o cérebro adulto em cérebro de bebê, para que possa se reconstruir – coisa que até então ninguém considerava possível.

    Os cientistas acreditam que a tera-pia também possa funcionar em le-sões cerebrais traumáticas e doenças

    neurodegenerativas como a de Alzhei-mer, a de Parkinson e a de Lou Gehrig.

    Nicholas Boulis, neurocirurgião e pesquisador da Emory University, no estado americano da Geórgia, disse: “Há razões para entusiasmo com base na magnitude da reação dos pacientes.”

    VACINA PARA COMBATER BACTÉRIAS HOSPITALARES

    HOJE TEMOS MAIS MEDO de adoecer quando estamos no hospital do que antes de sermos internados – e não é piada. Os germes continuam a pros-perar nos hospitais, e a Clostridium

    difficile é uma das mais comuns e pe-rigosas, principalmente para idosos. Mas em breve poderemos nos imuni-zar com uma vacina.

    Os cientistas do Instituto Max Planck, de Potsdam, e da Universi-dade Livre de Berlim desenvolveram uma substância que provoca uma rea-ção imunológica contra a C. difficile intestinal. Essa possível vacina prepara o sistema imunológico para reconhecer o patógeno e produzir anticorpos para destruí-lo. A descoberta pode abrir ca-minho para o desenvolvimento de vaci-nas e medicamentos baratos e eficazes contra essa bactéria. Outras empresas, como a Pfizer e a Sanofi Pasteur, tam-bém estão pesquisando vacinas.

    A LUZ PODE REDUZIR A DOR DA ENXAQUECA

    LUZ VERDE para quem sofre de en-xaqueca: um estudo da Universidade Harvard descobriu que luz verde de baixa intensidade pode ajudar a re-duzir a dor.

    Sabe-se há algum tempo que a luz pode provocar ou intensificar a dor da enxaqueca; luz branca, azul, ver-melha e âmbar aumentam a dor. Mas, com a descoberta de que a luz verde a reduz, a equipe espera que óculos escuros especialmente desenvolvidos para filtrar todos os comprimentos de onda menos o verde ajudem quem tem o problema.

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    “Ficamos surpresos ao ver que a luz azul não era mais dolorosa do que a branca, a âmbar e a vermelha”, diz Rami Burstein, Ph.D. e professor de Anestesia em Harvard. Mais surpreen-dente ainda foi a constatação de que luz verde de baixa intensidade dimi-nuiu o sofrimento dos voluntários.

    ESTÍMULOS ELÉTRICOS REDUZEM A DOR DA ARTRITE

    ESTUDOS CLÍNICOS que aplicaram corrente elétrica ao nervo vago, que vai do tronco cerebral ao abdome, de-monstraram que estimular esse nervo

    diminuiu de forma significativa a dor e o inchaço de pacientes com artrite reumatoide.

    Essa doença inflamatória afeta cerca de 3 milhões de pessoas na Europa continental. O achado foi anunciado em julho de 2016 por pes-quisadores holandeses e americanos.

    “O resultado embasa a continua-ção do desenvolvimento da medicina bioeletrônica, que visa sobretudo melhorar a vida de quem sofre de doenças inflamatórias crônicas e dá aos profissionais de saúde novas alternativas de tratamento poten-cialmente mais seguras a um custo total muito mais baixo”, diz Anthony Arnold, diretor executivo da empresa SetPoint Medical.

    Embora concentrado na artrite reu-matoide, o resultado do estudo pode ter consequências para pacientes com outras doenças inflamatórias, como as de Crohn, Parkinson e Alzheimer.

    PRESO INSOLENTE

    Christian Willoughby passou a noite numa cela por um crime menor e decidiu publicar uma crítica:

    “Atribuo ao lugar quatro estrelas. Na verdade, é o café da manhã que deixa a desejar. Fora isso, o pessoal é bastante agradável. Tive minha suíte

    exclusiva e um mordomo que me trazia chá e jornais. O quarto era bom. A decoração minimalista deu um toque interessante. Era bem seguro:

    vidros quádruplos e porta de segurança. Um lugar ideal para relaxar depois de um dia difícil. Com certeza voltarei.”

    Fonte: huffingtonpost.com

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    DRAMA DA VIDA REAL

    POR GLYNIS HORNING

    Picada duas vezes por uma cobra-cuspideira-moçambicana, a menina

    poderia perder o braço... ou a vida

    ATACADACOBRA!

    POR UMA

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  • O veneno da cobra-cuspideira

    pode cegar as vítimas

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    Bertus a pegou no colo e Charmaine foi com eles até o quarto. Ela levantou o edredom, na rotina rural de ver se não havia algum inseto ou animal, e depois Bertus deitou a menina. O ca-sal sorriu e saiu na ponta dos pés.

    TOQUE DE DESPERTAREram 11 e meia da noite quando o silêncio da savana foi rompido pelos gritos penetrantes de Mikayla. “Co-bra! Kayla foi picada por uma cobra!”, exclamou Lampie, surpreso ao desco-brir furos no dedo médio e no coto-velo da filha.

    Bertus deixou o filho em casa para encontrar e identificar a cobra e levou Mikayla rapidamente para a cabine de sua van Nissan. Charmaine ficou com a menina no colo enquanto Bertus ia o mais depressa possível pela estrada

    C HARMAINE ROBBERTSE estava cansada, mas contente. Faltava uma semana para o Natal, e a ex-corretora de segu-ros de 46 anos finalmente instalara sua grande família na casa de seus sonhos, numa fazenda de 60 hectares de savana rústica perto de Lephalale, ao norte de Pretória, na África do Sul.

    Charmaine e o marido, Bertus, su-pervisor de uma indústria química próxima, tinham sete filhos de casa-mentos anteriores, três netos e uma variedade circulante de crianças ado-tadas que o casal tentava recuperar com amor e paciência.

    Mas uma dessas crianças era muito especial. Mikayla, uma menina brin-calhona de 5 anos, com vivos olhos castanhos, era filha de Lampie, o filho de 25 anos de Bertus. A mãe da me-nina tinha se separado de Lampie an-tes de dar à luz, mas, quando Mikayla nasceu com síndrome alcoólica fetal, a jovem mãe achou difícil aguentar. Como Lampie costumava viajar a tra-balho, Charmaine e Bertus acabaram se tornando cuidadores em tempo integral de Mikayla e a adotaram for-malmente pouco depois.

    Às nove da noite daquela segunda--feira de 2011, Mikayla parou de falar com empolgação sobre a nova casa “com animais selvagens” e, contente, cochilou no sofá junto de Lampie e Jimmy, seu pequinês de estimação.

    A mão esquerda inchada de Mikayla, onde a peçonha da cobra lesionou o tecido; a mão ficou temporariamente presa à virilha para promover o fluxo sanguíneo e a regeneração dos tecidos.

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    de terra até o Hospital Ellisras, a uns 40 minutos dali.

    Enquanto estacionavam, eles re-ceberam o telefonema de Lampie contando que encontrara uma co-bra-cuspideira-moçambicana de um metro atrás do armário do quarto. A cobra, uma das mais perigosas da África, é capaz de cuspir veneno e cegar as vítimas com pontaria fatal. Lampie a matou ferozmente com uma pá, pensando na filha.

    No Ellisras, os médicos puseram uma máscara no rosto pálido de Mikayla e lhe deram oxigênio antes de injetar dois frascos de antídoto po-livalente no braço fino. “Isso basta?”, perguntou Charmaine, ansiosa. Dis-seram-lhe que sim, para uma criança tão pequena, e que Mikayla estaria bem pela manhã.

    Mas, ao amanhecer, Mikayla respi-rava com dificuldade. Charmaine foi informada de que a criança teria de ser transferida para o vizinho Hospital de Marapong. Lá, depois de examinada, os médicos acharam que Mikayla pre-cisaria de tratamento especializado no Hospital Acadêmico Steve Biko, em Pretória – que ficava a 300 quilômetros, sem ambulância disponível.

    VIAGEM DE PESADELOComo Bertus já fora trabalhar, Lam-pie conseguiu que um amigo levasse a madrasta e a filha até lá. Na prepa-ração para a viagem, os médicos de

    Marapong ensinaram Charmaine a fazer a reanimação cardiorrespiratória e lhe disseram: “Fique calma; a vida da menina depende disso.” Este se tor-nou seu mantra enquanto ela ninava Mikayla no banco de trás do carro do amigo de Lampie.

    Três vezes a menina parou de respi-rar; três vezes Charmaine, apavorada,

    conseguiu reanimá-la. Mas, quando chegaram à cidade de Warmbaths, Mikayla estava inconsciente, e ainda faltavam cem quilômetros até Pretória.

    Um veículo de atendimento foi avisado e foi ao encontro do carro. Quando suas luzes vermelhas piscan-tes foram avistadas, Charmaine sentiu um alívio indizível. Os paramédicos conseguiram estabilizar Mikayla, mas ela estava tão fraca que não foi levada para o Hospital Acadêmico Steve Biko, e sim para o Hospital Netcare Mon-tana, particular e muito mais perto.

    Embora os Robbertses não tives-sem condições de pagar o hospital,

    “FIQUE CALMA. A VIDA DA MENINA DEPENDE DISSO”, DISSE O MÉDICO A CHARMAINE. ESTE SE TORNOU SEU MANTRA ENQUANTO ELA NINA-VA MIKAYLA NO CARRO.

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    Mikayla ficou três dias na UTI. Estava com insuficiência renal e pulmonar, informaram os médicos, preocupa-dos. O veneno da cobra-cuspideira--moçambicana é citotóxico e contém enzimas digestivas que decompõem a carne ao se espalhar; tinha chegado ao fígado, que também fora afetado.

    Ao mesmo tempo, a mãozinha de Mikayla inchara muito e estava ene-grecendo. Os médicos ficaram preo-cupadíssimos, principalmente porque ela era canhota, mas o dedo e, prova-velmente, o braço teriam de ser am-putados para salvar sua vida.

    O HOMEM DAS COBRASComo a despesa hospitalar crescia, decidiu-se transferir Mikayla para o Hospital Acadêmico Steve Biko, que pertencia ao governo, para a cirurgia. A caminho, Charmaine, desesperada, ligou para um número de celular que um paramédico enfiara em sua mão no Montana. Era o número de Arno Naudé, especialista em identificação de cobras e tratamento de picadas que dá aulas a alunos de Medicina da Uni-versidade de Pretória.

    Quando ela disse que talvez Mikayla tivesse de amputar o braço, Arno res-pondeu com uma interjeição: “Epa!” Os médicos são muito apressados para amputar, disse ele, e aconselhou que esperassem o veneno seguir seu curso.

    No fim das contas, a decisão foi to-mada por eles: o fígado de Mikayla,

    afetado pela síndrome alcoólica fetal, não suportaria a cirurgia.

    Dois dias antes do Natal, o rostinho e o corpo de Mikayla estavam disten-didos, a pele amarelada. Os médicos disseram a Charmaine e Bertus que era improvável que a menina sobre-vivesse àquela noite e aconselharam que chamassem o restante da família.

    Arno se uniu a eles durante a vigí-lia lacrimosa junto ao leito. Ele disse a Charmaine que Mikayla deveria ter recebido pelo menos oito frascos de antídoto, o quádruplo da dose que lhe fora administrada. E explicou que os pacientes menores precisam da mesma quantidade de antídoto que os adultos. Agora, não havia nada a fazer senão esperar e rezar.

    PRESENTE DE NATALFoi o que Charmaine e Bertus fizeram com fervor, e pela manhã o estado de Mikayla se estabilizara. No dia de Na-tal, ela estava consciente; apesar da náusea, a menina sorriu e pediu notí-cias de Jimmy, seu cãozinho pequinês.

    Mikayla continuou a melhorar e, em 28 de dezembro, foi levada à sala de cirurgia – não para a amputação, mas para que os médicos abrissem a bolha imensa que cobria sua mão. A lesão era maior do que se pensava; o veneno se infiltrara sob a pele e corroera os teci-dos até a metade do antebraço.

    O Dr. Anton Brewis, cirurgião plás-tico, avaliou a situação. Ele explicou que

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    bém transferiu tendões do antebraço esquerdo para a mão, a fim de melho-rar a extensão dos dedos.

    O foco passou a ser ensinar Mikayla, canhota, a usar a mão direita para es-crever e desenhar. A menina foi trans-ferida para uma escola especial, onde fez progressos; no ano passado, ela foi a primeira da turma.

    Mikayla, hoje com 10 anos, mostra com orgulho sua “mão engraçada” nas palestras educativas sobre cobras que um tratador local faz nas escolas.

    Na verdade, Jimmy tem um rival no afeto de Mikayla: Fudge, uma píton--real, presente do tratador de serpen-tes e que mora na casa dele.

    – Não ficamos à vontade com co-bras dentro de casa – diz Charmaine.

    – Mas Fudge é boazinha, ela não pica – acrescenta Mikayla alegremente. – Só é preciso saber quais são as cobras que picam. E tomar cuidado!

    a ferida teria de ser limpa, com a retirada do tecido infectado. Depois disso, ele achava que conseguiria salvar o braço de Mikayla com um procedimento cirúrgico que prende-ria temporariamente sua mão a uma aba de pele da virilha.

    Em 13 de janeiro, o ferimento foi limpo uma última vez e exposto até o osso. A mão de Mikayla foi costu-rada e ficou duas semanas presa à coxa para a carne se recompor, re-construindo lentamente a mão.

    Por incrível que pareça, havia pouca dor no ferimento, mas a limpeza era muito sofrida, e o fígado de Mikayla se ressentia dos fortes remédios que ela tomava. No entanto, valente, a menina não se queixava. Em 27 de janeiro, a mão de Mikayla foi separada da virilha, e as feridas que restavam no antebraço receberam enxertos de pele da coxa.

    Em 31 de janeiro, Mikayla voltou a Lephalale. Os moradores se reuniram para lhe dar boas-vindas com faixas e bolas de encher, mas Mikayla só que-ria se divertir com Jimmy e seus brin-quedos, entre eles uma grande cobra de tricô com listras coloridas.

    “Algumas cobras são más”, observou Mikayla, “mas outras são boas.”

    TRABALHO EM ANDAMENTOEm novembro de 2012, o inchaço da mão de Mikayla foi reduzido com uma lipoaspiração para ajudar o dedo pi-cado a se endireitar. O cirurgião tam-

    No hospital, Mikayla voltou a ser a menina animada de sempre depois das cirurgias.

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    OssosDO OFÍCIO

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    A MULHER entra na loja e pergunta ao vendedor:

    – Posso provar aquele vestido na vitrine, por favor?

    – Infelizmente não, senhora. Nós temos provadores para isso.

    Fonte: short-funny.com

    SEGURANÇA É um aspecto muito valorizado na fábrica onde trabalho. Como gerente, estou constantemente falando aos funcionários sobre nos-sas diretrizes internas.

    Um dia perguntei a um grupo deles:– Alguém sabe qual é o limite de

    velocidade permitido no estaciona-mento da fábrica?

    Houve um longo silêncio, até que um deles disse:

    – Depende. Para quem está che-gando para trabalhar ou para quem encerrou o expediente? Fonte: gcfl.net

    TRABALHO EM uma clínica de ci-rurgia plástica. Certo dia, havia duas pacientes com o mesmo nome. Fiz confusão e acabei levando a paciente errada para a sala. O médico anali-sou a ficha de cirurgia, foi até a mulher e perguntou:

    “E onde você se imagina daqui a seis vidas?”

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    Sua história pode valer até R$ 400. Visite o site selecoes.com.br ou veja os detalhes na página 19.

    – Bom dia! Como está esse umbigo hoje?

    Ela sorriu e disse:– Meu umbigo está ótimo, mas

    confesso que os pontos na orelha estão incomodando um pouquinho…

    CLÁUDIA CRISTIANE DA SILVA PERES, L i m e i ra ( S P )

    SOU PROFESSOR em uma universi-dade. Durante a aplicação de uma prova, notei que uma das minhas alunas, que estava grávida, não pa-rava de passar a mão na lateral da barriga. Me aproximei dela e pergun-tei se estava se sentindo mal.

    – Ah, não. Estou bem. É que o bebê estava chutando perto das costelas e doeu um pouco.

    Fiquei aliviado ao ouvir a resposta, mas ela logo acrescentou:

    – O que é bastante estranho, por-que ele normalmente dorme durante a sua aula. Fonte: gcfl.net

    AUTOPROMOÇÃOENTREVISTADOR: Qual é a sua maior qualidade?

    *45 minutos depois*EU: Eu lido bem com períodos de

    silêncio. @ROLLININTHESEAT

    RECENTEMENTE UM casal de idosos veio até a loja de decoração em que trabalho. Queriam orçar a reforma de alguns móveis de casa. Como não tinham fotos dos objetos, pedi para

    providenciarem e trazer na visita seguinte. Quando me perguntaram sobre nosso horário de funciona-mento, mencionei que talvez fosse mais simples enviarem as fotos por e-mail. Os dois pareceram felizes com a ideia, mas o marido logo quis saber:

    – E qual é o horário de funciona-mento do e-mail de vocês?

    DEEPALI PARAKH

    EU ERA RECEPCIONISTA em um consultório médico até o ano pas-sado. Certa vez me dirigi a um pa-ciente e informei a ele que, por causa do exame que estávamos marcando, seria necessário fazer um jejum de 12 horas antes de realizá-lo.

    Assustado, ele perguntou:– Mas precisam ser as 12 horas de

    uma vez só? RUTH LEE

    REGRINHAS ÚTEIS

    Estabeleceram uma regra maravil-hosa no meu trabalho. Agora, todo mundo escreve o nome num pa-pelzinho e cola sobre a comida que deixar na geladeira. Neste exato momento estou tomando um deli-cioso iogurte chamado Júlia.

    @FUSSYSAFFA

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    Morten Storm

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  • Morten Storm tinha uma missão simples: encontrar o líder da

    Al-Qaeda e voltar vivo

    AGENTEDUPLO

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    POR MORTEN STORM COM PAUL CRUICKSHANK & TIM LISTER

    DO LIVRO AGENT STORM: MY LIFE INSIDE AL QAEDA AND THE CIA

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    Eu sabia que arriscava a vida ten-tando refazer o contato com Anwar al-Awlaki. Naquela terra, os seques-tros e as rivalidades tribais, a polícia rápida no gatilho e os combatentes jihadistas transformavam as viagens em aventuras imprevisíveis. E havia o risco de Awlaki não confiar mais em mim. Minha viagem acontecia a pe-dido dele. Num e-mail de uma conta anônima que tínhamos, ele me disse: “Venha ao Iêmen. Preciso vê-lo.”

    Fazia quase um ano que eu o vira pela última vez. Nesse período, ele fora de pregador radical simpático à Al-Qaeda a personagem influente da liderança da organização. Envolvido em planos para exportar o terrorismo para todo o Oriente Médio, a Europa e os Estados Unidos.

    Alguns minutos depois, ouvi o ros-nado de um motor distante. Em se-guida, vi os faróis. Uma caminhonete Toyota se aproximou, cheia de rapazes carrancudos que brandiam AK-47s. A escolta tinha chegado. Agarrei a mão

    MORTEN STORM, DE KORSØR, NA DINAMARCA, foi um rapaz rebelde que participava de uma gangue até encontrar consolo e sentido no islamismo. Ele estudou no Iêmen e se tornou simpatizante da jihad, mas dez anos depois passou a questionar as mortes aleatórias pregadas pelos imãs radicais. Em 2007, começou a trabalhar com órgãos de segurança do Ocidente para rastrear terroristas. Em setembro de 2009, foi convocado pelo clérigo Anwar

    al-Awlaki, que se tornara um dos líderes mais influentes da Al-Qaeda.

    EU ESTAVA em meu Hyundai, exausto e apreensivo, espiando a es-curidão. Meu dia começara antes de amanhecer em Sana’a, a maior cidade do Iêmen, a quase 500 quilômetros dali. Não fazia ideia de quem viria me encontrar ou de quando chegaria. Eles me receberiam como camarada ou me prenderiam como traidor?

    A noite no deserto era intensa. Não havia luz ao longo da estrada que ia do litoral às montanhas da província de Shabwa, uma região sem lei do Iê-men. Às vezes, mal havia estrada.

    Eu dificilmente seria confundido com os habitantes locais. Dinamar-quês robusto de cabelo louro e barba comprida, seria estrangeiro em qual-quer país de árabes de cabelo e pele escuros. Eu só conseguira chegar a essa terra de ninguém onde a presença da Al-Qaeda era forte e crescente por-que minha mulher iemenita estava a meu lado. Com o pretexto de visitar seu irmão, tínhamos passado pelas barreiras ao longo da rota perigosa. FO

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    de minha mulher. Se tudo fosse dar errado, saberíamos em instantes.

    O DIA TINHA COMEÇADO bem. Fomos parados na primeira barreira policial perto de Sana’a. Por que um dinamarquês sairia da relativa segu-rança da capital para ir às terras pe-rigosas do sul? Conversei em árabe, o que impressionou meus inquisidores, enquanto minha mulher, a cabeça co-berta pelo niqab preto, ficava sentada e muda no banco do passageiro. Disse

    a eles que íamos visitar o irmão dela e participar de uma festa de casamento no litoral.

    Os policiais do posto tiveram di-ficuldade para ler meu passaporte. Acharam que eu era turco, talvez por-que a simples ideia de um europeu viajando por ali fosse inconcebível. O fato de ser setembro, um mês escal-dante na Arábia, ajudou, assim como estarmos no Ramadã. Os guardas es-tavam cansados com o jejum.

    Depois que passamos por essa primeira barreira, o desafio foi per-manecer na estrada da montanha e impedir que outros nos tirassem dela. Finalmente as montanhas deram lugar à planície costeira. Ao longe ficava o porto de Aden, onde um movimento separatista ganhava força e aumen-tava o desafio dos combatentes da Al-Qaeda ao governo iemenita. Se-guíamos as instruções enviadas por Awlaki. Contornei Aden para chegar à estrada litorânea.

    Anwar al-Awlaki era de um clã po-deroso da província montanhosa de Shabwa. Seu pai tinha sido um acadê-mico respeitado que estudara nos Es-tados Unidos. O filho Awlaki também estudara lá, mas havia abandonado o país depois do 11 de Setembro.

    Em 2009, o Iêmen se tornara a base da Al-Qaeda na Península Arábica. Em 2006, Awlaki foi preso e passou um ano e meio na cadeia. Seu conhe-cimento das sociedades ocidentais, o ©

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    Anwar al-Awlaki estudou nos Estados

    Unidos, mas abandonou o país depois do Onze de

    Setembro. Seus sermões eram uma

    luz para os jihadistas.

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    inglês fluente e o domínio das mídias sociais eram uma ameaça nova e mais perigosa do que os antigos vídeos gra-nulados de Osama bin Laden. Seus sermões eram um guia para os candi-datos a jihadistas.

    E, assim, eu seguia para o leste de Aden. Chegamos a outra barreira: apenas algumas placas velhas de “Pare” nos dois lados de um barracão. Ali ficava a fronteira, o limite da auto-ridade do Estado. Além dela estavam as terras proibidas, dominadas por bandidos e combatentes da Al-Qaeda. Os guardas não davam a mínima im-portância ao que poderia acontecer a mim e à minha mulher.

    AGORA ESTÁVAMOS ALI e meu pulso disparava na estrada solitária do deserto enquanto meus olhos eram ofuscados pelos faróis de um veículo lotado de homens armados. Um bar-budo de 30 e poucos anos e olhos es-curos saiu da nuvem de pó que subia. O modo como o resto do grupo ficou atrás dele deixou claro que era o líder: o destemido militante Abdullah Meh-dar. Examinei seu rosto enquanto ele andava em nossa direção.

    “As salaam aleikum”, disse ele, cum-primentando-me em árabe e abrindo um sorriso. A tensão se esvaiu de meu corpo e, com alívio, abracei todos os companheiros de Mehdar. Ele era o emissário pessoal de Awlaki. Sabia que eu fora convidado e que era amigo do

    clérigo; mostrou-se profundamente cortês e respeitos