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Oximoros

Oximoro é uma figura de linguagem que harmoniza dois conceitos opostos formando um

terceiro conceito. James Kudo é um criador de oximoros: nas suas colagens, pintadas à mão,

as cores são estridentemente silenciosas e nas paisagens, docemente venenosas, tudo

parece fixo - na eternidade do instante.

Seu trabalho se constrói em relatos, em que a ficção e a não ficção estão continuamente

mescladas. São memórias imaginadas borrando a linha entre o real e o irreal. Ele relembra e

revitaliza narrativas, transitando entre questões estéticas e ambientais. Viu a cidade-sonho

de seus avós submergir nas águas, deixando um rastro de destruição e perdas. E viu surgir

uma nova realidade, menos romântica - porém vibrante. As águas jorrando em cascatas,

faiscando energia. Acumulou imagens fugazes e povoou-se de lembranças desconexas.

Na reconstrução desse painel de memórias, Kudo cola os fragmentos, opondo referências.

Pinta superfícies de madeira imitando o revestimento que a imita; criando um duplo

simulacro. Árvores e folhagens, sutilmente desenhadas, sobrepõem-se a explosões de cores

cítricas, industriais, que permanecem em suspensão - no momento antes do grito. Na floresta

cuidadosamente recortada, colada sobre planos vigorosos e luminosos, mimetizam-se

armas. Comportas e águas enfileiram-se hieráticas - em escalas de cor.

Kudo cria, também, pequenas pinturas, como escudos de armas, nas quais estabelece um

equilíbrio flutuante dos elementos que aludem às suas vivências: a opressiva presença das

comportas, a força cristalina da água e a memória afetiva dos piqueniques no rio. E eles

afloram representados por signos criados pelo artista para encarná-los: os sólidos de falsa

madeira, o degradé de azuis, os retalhos de xadrez...

Na atual exposição, que abre a temporada de individuais da Zipper Galeria, Kudo apresenta

também dois site specific, nos quais faz jorrar no espaço as águas aprisionadas em suas telas.

Realizada com qualidade técnica impecável, sua estética vibrante e contemporânea remete

ao futuro. Não por acaso, o artista foi incluído no livro 100 painters of tomorrow, de Kurt

Beers, e sua participação na ART15 - London foi aprovada, com entusiasmo, pelo curador

Jonathan Watkins.

Construído sobre memórias, o trabalho oximoro de James Kudo nada tem de nostálgico, mas

cria situações insólitas - que convidam ao encantamento e à reflexão.

Denise Mattar - Janeiro 2015

Oxymorons

Oxymoron is a figure of speech which harmonizes two opposing concepts while forming a

third concept. James Kudo is a creator of oxymorons: in his hand-painted collages the colors

are stridently silent, and in the landscapes, sweetly poisonous, everything seems fixed - in the

eternity of the moment.

His work is built on recountals, in which fiction and non-fiction are continually merged. They

are imagined memories blurring the line between real and unreal. He recalls and revitalizes

narratives, traversing between aesthetic and environmental issues. He saw the dream city of

his grandparents submerge in water, leaving a trail of destruction and loss. And there he saw

the rise of a new reality, less romantic - yet vibrant. The waters gushing in waterfalls, with

sparkling energy. He accumulated fleeting images and collected disconnected memories.

In the reconstruction of this panel of memories, Kudo pastes together fragments of opposing

references. He paints wooden surfaces imitating the coating that mimics the surface itself,

creating a double simulacrum. Trees and foliage, subtly drawn, overlap the explosions of

citrus, industrial colors, which remain in suspension - in the moment just before the scream.

The forest, carefully cut out and pasted onto vigorous bright planes, mimics weapons. Waters

and water barrier gates are aligned in hieratic rows of color shades.

Kudo also creates small paintings, such as coats of arms, in which he establishes a floating

balance of the elements which allude to his life experiences: the oppressive presence of the

water barrier gates, the crystalline power of water and the affective memory of picnics by the

river. And they emerge represented by symbols created by the artist to embody them: solids

imitating wood, the gradation of blues, stitched checkered fabrics...

In the current exhibition, which opens the individual exhibit season of Zipper Gallery, Kudo also

features two site-specific pieces, in which the waters trapped in his frames spill out into space.

Performed with impeccable technical quality, his vibrant and contemporary aesthetics point

to the future. Not by chance, the artist was included in the book 100 painters of tomorrow, by

Kurt Beers, and Kudo’s participation in ART15 - London was enthusiastically approved by

curator Jonathan Watkins.

Built upon memories, the work Oxymoron by James Kudo is all but nostalgic, but creates

unique situations - which invite enchantment and reflection.

Denise Mattar - January 2015