jacques lacan. 1997. seminario 25

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  • 8/12/2019 Jacques Lacan. 1997. Seminario 25

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    Jairo Gerbase

    [email protected]

    18/02/08

    Jacques LacanSeminrio 25 - O momento de concluir1 - aula de 15/11/77 - a tagareliceTexto estabelecido e traduzido por Jairo Gerbase em 29/02/00

    O que tenho a dizer que a psicanlise deve ser levada a srio embora no seja uma cincia. Oproblema, como Karl Popper mostrou com insistncia, que ela no absolutamente uma cinciaporque irrefutvel. uma prtica, uma prtica que durar o que durar. uma prtica de tagarelice.

    Nenhuma tagarelice sem risco. Desde logo, a palavra tagareliceimplica alguma coisa, o que querdizer que no h mais que frases, ou seja, proposies, que tm conseqncias, como as palavras.Tagarelicecoloca a fala na srie de babar ou de praguejar, a reduz a uma espcie de enlameadura.

    Isto no impede que a anlise tenha conseqncias. Ela diz algo. O que quer dizer, dizer? Dizertem a ver com o tempo. A ausncia de tempo uma coisa com a qual se sonha, o que se chama deeternidade, e este sonho consiste em imaginar que despertamos. Passamos o tempo a sonhar, nosonhamos apenas quando dormimos. O inconsciente exatamente a hiptese de que no sonhamos

    apenas quando dormimos.Gostaria de observar que o que se chama de racionalidade uma fantasia. Isto totalmenteobservvel no comeo da cincia. A geometria euclidiana tem todos os caracteres da fantasia. Umafantasia no um sonho, uma aspirao. A idia da linha reta, por exemplo, claramente umafantasia. Felizmente samos disso, isto , a topologia restituiu o que devemos chamar de trana. A idiade proximidade simplesmente a idia de consistncia, na medida em que nos permitimos dar corpo palavra idia. Isso no fcil. H mesmo filsofos gregos que tentaram dar corpo idia. Uma idiatem corpo, a palavra que a representa, e a palavra tem uma propriedade muito curiosa, que ela faz acoisa [fait la chose]. Gostaria de equivocar e escrever assim: fende a coisa [fle achose], o que no um maumodo de equivocar. Fazer uso da escrita para equivocar pode ser til, porque temos necessidade doequvoco, na anlise. Ter necessidade do equvoco a definio da anlise, porque, como a palavra

    indica, o equvoco aponta imediatamente para o sexo.O sexo um dizer. Isso vale quanto pesa. O sexo no define uma relao. Foi o que enuncieicom a frmula: no h relao sexual. Isto apenas quer dizer que no homem e, sem dvida, por causada existncia do significante, o conjunto do que poderia ser a relao sexual, um conjunto vazio [].[Chegou-se a cogitar isso, alis no se sabe muito bem como isso se produziu]. A noo de conjunto

    vazio a que convm relao sexual.O psicanalista um retrico. Para continuar a equivocar, diria que ele retorica [rhtifie] o que

    implica que ele retifica [rectifie]. Rectus, a palavra latina, equivoca com a retoricao [rhtification].Tentamos dizer a verdade, mas no fcil, porque h grandes obstculos a que se diga, salvo quandonos enganamos na escolha das palavras. A verdade tem a ver com o real, e o real duplicado, se assimpodemos dizer, pelo simblico.

    Receb de Michel Coonaert algo que se chama Knots and links. O que isso quer dizer? No simples. preciso metalinguar, isto , traduzir. Jamais se fala de uma lngua a no ser em uma outralngua. Se disse que no h metalinguagem, foi para dizer que a linguagem no existe. No h senosuportes mltiplos da linguagem, que se chama de a lngua, e o que se espera que a anlise, por umasuposio, chegue a desfazer pela fala o que foi feito pela fala.

    Na ordem do sonho, que se d o direito de fazer uso da linguagem, h uma rebarba, que o queFreud chama de Wunsch. uma palavra alem que no se sabe se um querer nem a quem se dirige.Desde que se queira dizer, se est obrigado a supor que h um interlocutor, e a partir desse momento,estamos na magia. Estamos obrigados a saber o que se demanda, mas justamente, o que define ademanda que no se demanda jamais seno porque se deseja, isto , passando pelo que se deseja, e oque se deseja no se sabe.

    Foi exatamente por isso que coloquei em evidncia o desejo do analista. O sujeito supostosaber, com o qual defini a transferncia suposto saber o que? Como operar? Seria demasiadoexcessivo dizer que o analista sabe como operar. O que se esperaria que ele saiba operar

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    convenientemente, isto , que se d conta do alcance das palavras para seu analisante, o queincontestavelmente ele ignora. De tal maneira que preciso que eu trace [figura 1.a] o que introduzi soba forma do n borromeano.

    figura 1.a decomposio esquemtica de Pierre Soury

    figura 1.b decomposio esquemtica de Pierre Soury

    Algum, que no outro seno, preciso que o nomeie, J.B., Jean-Baptiste Lefvre-Pontalis,concedeu uma entrevista ao Monde. Teria sido melhor que se abstivesse, pois o que ele disse no valenada, dado que disse que meu n borromeano seria um modo de estrangular o mundo, de sufoc-lo.

    Assim se desenha o n, isto , aqui se interrompe a corda, porque se projetam as coisas e issofaz um n. Lembro que uma vez Soury criticou algum por ter feito este n de modo atravessado. Nosei mais como ele o fez efetivamente, mas digamos que temos aqui o direito [figura 1.a], pois o nborromeano tem por propriedade no nomear cada um dos crculos de um modo unvoco. No nborromeano [figura 2], pode-se designar cada um dos crculos pelo termo que se quer; indiferente queeste seja chamado I, R ou S, na condio de no se abusar, isto , de colocar todas as trs letras; assimteremos sempre o n borromeano.

    figura 2 decomposio esquemtica de Pierre Soury

    Suponhamos que aqui se designa distintamente o R e o S, ou seja, o Real e o Simblico, ficarestando o terceiro que o Imaginrio. Se atssemos, tal como aqui est representado, o simblico como real, seria o ideal, porque as palavras fazem acoisa [l'achose] acoisa freudiana, a escarcoisa

    [crachose]freudiana, quer dizer, que justamente com a inadequao das palavras s coisas que temos aver, e o que chamei de acoisa freudiana era que as palavras se moldam s coisas, embora seja um fatoque isso no evidente, que no h nem escarro [crachin], nem escarcoisa, e que a adequao do

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