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IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5 1355 REPENSANDO A FORMAÇÃO DO PEDAGOGO: A EXPERIÊNCIA DO CURRÍCULO DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA NO PRODOCÊNCIA Maria Clarisse Vieira [email protected] Maria Emília Gonzaga de Souza [email protected] Denise Mota Pereira da Silva [email protected] (UNB) Resumo O presente trabalho busca realizar uma reflexão acerca da formação do pedagogo, com base na experiência do currículo da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (FE/UnB). Utilizouse como metodologia a pesquisa histórica e a análise documental, por meio do levantamento de dados sobre o curso de Pedagogia da FE e análise dos currículos anteriores e atual. Para isso, além do estudo de documentos normativos como as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia (Resolução CNE/CP n° 1/2006) e do Projeto Acadêmico do curso de Pedagogia de 2003, a pesquisa levanta registros relativos à história da Faculdade de educação da UnB que retratam as diferentes concepções de currículo e de formação de professores ao longo de sua trajetória. O artigo está organizado da seguinte forma: inicialmente fazse uma apresentação do programa Prodocência no contexto de formação de professores desenvolvida pelas licenciaturas da UnB. Em seguida, à luz das transformações pelas quais passou o curso de Pedagogia no Brasil, discutese a trajetória da Faculdade de Educação da UnB, no bojo do surgimento da Universidade de Brasília. Nesse processo, são analisadas as diferentes propostas curriculares que vigoraram na FE. Com base nos documentos normativos como LDB/1996 e as DCNs do curso de Pedagogia, realizase uma análise do atual Projeto Acadêmico da UnB, perquirindo em que medida tal proposta curricular contribui para formação de um profissional que atenda aos desafios e expectativas da sociedade brasileira. Finalmente, o artigo apresenta uma síntese das discussões ocorridas no 1º Encontro da Comunidade da Faculdade de Educação da UnB cujo tema foi “Ressignificando o Projeto Acadêmico do curso de Pedagogia, ocorrido em maio de 2011.”. Palavras chave: Formação do pedagogo. Currículo. Legislação educacional. O presente trabalho busca realizar uma reflexão acerca da formação do pedagogo, com base na experiência do currículo da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (FE/UnB). A pesquisa se insere em trabalho mais amplo desenvolvido pela UnB que se vincula ao Programa Prodocência/Capes cujo objetivo geral é compreender e qualificar a profissão docente por meio de um processo colaborativo, tendo a prática docente como eixo norteador no diagnóstico e enfrentamento das fragilidades e potencialidades dos cursos de formação de professores da Universidade de Brasília. Considerando esse objetivo geral, o Prodocência FE/UnB vem realizando uma reflexão acerca do papel da Licenciatura em Pedagogia que inclui o estudo da concepção de prática

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 IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL”

Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5

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REPENSANDO A FORMAÇÃO DO PEDAGOGO: A EXPERIÊNCIA DO CURRÍCULO DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA NO PRODOCÊNCIA 

 Maria Clarisse Vieira  

[email protected] Maria Emília Gonzaga de Souza 

[email protected] Denise Mota Pereira da Silva 

[email protected] (UNB) 

Resumo  O  presente  trabalho  busca  realizar  uma  reflexão  acerca  da  formação  do  pedagogo,  com  base  na  experiência  do currículo da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília  (FE/UnB). Utilizou‐se como metodologia a pesquisa histórica e a análise documental, por meio do levantamento de dados sobre o curso de Pedagogia da FE e análise dos currículos anteriores e atual. Para  isso, além do estudo de documentos normativos como as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia (Resolução CNE/CP n° 1/2006) e do Projeto Acadêmico do curso de Pedagogia de 2003, a pesquisa  levanta registros relativos à história da Faculdade de educação da UnB que retratam as diferentes concepções de currículo e de formação de professores ao longo de sua trajetória. O artigo está organizado da seguinte forma:  inicialmente  faz‐se uma  apresentação  do  programa  Prodocência  no  contexto  de  formação  de professores desenvolvida  pelas  licenciaturas  da  UnB.  Em  seguida,  à  luz  das  transformações  pelas  quais  passou  o  curso  de Pedagogia no Brasil, discute‐se a trajetória da Faculdade de Educação da UnB, no bojo do surgimento da Universidade de Brasília. Nesse processo, são analisadas as diferentes propostas curriculares que vigoraram na FE. Com base nos documentos normativos como LDB/1996 e as DCNs do curso de Pedagogia,  realiza‐se uma análise do atual Projeto Acadêmico da UnB, perquirindo em que medida  tal proposta curricular contribui para  formação de um profissional que  atenda  aos  desafios  e  expectativas  da  sociedade  brasileira.  Finalmente,  o  artigo  apresenta  uma  síntese  das discussões ocorridas no 1º Encontro da Comunidade da Faculdade de Educação da UnB cujo tema foi “Ressignificando o Projeto Acadêmico do curso de Pedagogia, ocorrido em maio de 2011.”.  Palavras chave: Formação do pedagogo. Currículo. Legislação educacional. 

 

O presente  trabalho busca  realizar uma  reflexão  acerca da  formação do pedagogo,  com 

base na experiência do currículo da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (FE/UnB). 

A pesquisa se insere em trabalho mais amplo desenvolvido pela UnB que se vincula ao Programa 

Prodocência/Capes cujo objetivo geral é compreender e qualificar a profissão docente por meio de 

um  processo  colaborativo,  tendo  a  prática  docente  como  eixo  norteador  no  diagnóstico  e 

enfrentamento  das  fragilidades  e  potencialidades  dos  cursos  de  formação  de  professores  da 

Universidade de Brasília. 

   Considerando  esse  objetivo  geral,  o  Prodocência  FE/UnB  vem  realizando  uma  reflexão 

acerca  do  papel  da  Licenciatura  em  Pedagogia  que  inclui  o  estudo  da  concepção  de  prática 

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docente  nos  currículos  anteriores  e  atuais,  considerando  as  possibilidades  de  reformulação 

curricular como decorrência de suas  atividades. 

Ancorado  na  proposta  geral do  PRODOCÊNCIA/Capes/UnB  o  estudo  desenvolvido  inclui 

questões  como: que  saberes ou  repertório de  conhecimentos  são  considerados necessários  ao 

professor da educação básica, de acordo  com os diversos  atores envolvidos? Até que ponto e 

como  esses  saberes  estão  contemplados  nas  propostas  curriculares  vigentes  nos  cursos  de 

Licenciatura da UnB? Que estratégias podem ser desenvolvidas para complementar, substituir ou 

instruir aquelas já vigentes?  

O texto ora apresentado busca trazer ao leitor os resultados da primeira etapa da pesquisa. 

Nessa etapa utilizou‐se como metodologia a pesquisa histórica e a análise documental, por meio 

do levantamento de dados sobre o curso de Pedagogia da FE, a análise dos currículos anteriores e 

atual.  Para  isso,  além  do  estudo  de  documentos  normativos  como  as  Diretrizes  Curriculares 

Nacionais para o Curso de Pedagogia  (Resolução CNE/CP n° 1/2006) e do Projeto Acadêmico do 

curso  de  Pedagogia  de  2003,  a  pesquisa  levanta  registros  relativos  à  história  da  Faculdade  de 

educação  da  UnB  que  retratam  as  diferentes  concepções  de  currículo  e  de    formação  de 

professores ao longo de sua trajetória.  

Para  fins  de  exposição  didática  optou‐se  por  organizar  o  artigo  da  seguinte  forma: 

inicialmente  faz‐se  uma  apresentação  do  programa  Prodocência  no  contexto  de  formação  de 

professores desenvolvida pelas licenciaturas da UnB. Em seguida, à luz das transformações pelas 

quais passou o curso de Pedagogia no Brasil. discute‐se a trajetória da Faculdade de Educação da 

UnB,  no  bojo  do  surgimento  da  Universidade  de  Brasília.  Nesse  processo,  são  analisadas  as 

diferentes  propostas  curriculares  que  vigoraram na  FE.  Com  base  nos documentos  normativos 

como  LDB/1996  e  as  DCNs  do  curso  de  Pedagogia,  realiza‐se  uma  análise  do  atual  Projeto 

Acadêmico da UnB, perquirindo em que medida tal proposta curricular contribui para formação de 

um  profissional que  atenda  aos  desafios  e  expectativas  da  sociedade  brasileira.  Finalmente,  o 

artigo  apresenta  uma  síntese  das  discussões  ocorridas  no  1º  Encontro  da  Comunidade  da 

Faculdade de Educação da UnB cujo tema foi “Ressignificando o Projeto Acadêmico  do curso de 

Pedagogia, ocorrido em maio de 2011.”. 

 

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O Programa Prodocência/Capes no contexto das políticas de formação de professores no Brasil 

 

   A formação de professores para a educação básica tem sido uma tônica forte nas políticas 

públicas  de  educação  desenvolvidas  nos  últimos  anos  pelo  governo  brasileiro.  Ancorados  no 

princípio  da  valorização  e  na  compreensão  de  que  a  educação  é  condição  essencial  para  o 

desenvolvimento do país, o Ministério da Educação (MEC) tem empreendido diversas ações com  

o  intuito  de      promover  a  articulação  entre  a  educação    básica  e  a  educação  superior, 

especificamente no que tange à formação de professores nos cursos de licenciatura 

Dentre as ações desenvolvidas destaca‐se a criação da Diretoria de Educação Básica (DEB) 

no  interior  da  Coordenação  de  Aperfeiçoamento de  Pessoal  de Nível  Superior  (CAPES). Nesse 

contexto, o Programa de Consolidação das Licenciaturas – Prodocência –  foi criado com vistas a 

contribuir  na  elevação  da    qualidade dos  cursos  de  licenciatura,  na  perspectiva  de  valorizar  a 

formação e a  relevância social dos professores da educação básica. O Programa  também visa a 

fomentar projetos pedagógicos que contemplem a renovação da estrutura acadêmica e curricular 

dos cursos de licenciatura, bem como desenvolver experiências metodológicas e práticas docentes 

de caráter inovador nos processos de ensino e aprendizagem dos futuros docentes. 

Desde 2008, a Universidade de Brasília vem participando do Prodocência e os  resultados 

começam a ser percebidos no interior das licenciaturas1.  O projeto que está em desenvolvimento 

desde 2010  intitula‐se “Reflexão‐ação‐inovação. Em seus objetivos gerais propõe o fortalecimento 

das   Licenciaturas  nos  diversos  cursos  da  universidade.  Entre  as  ações  previstas  está  o 

estabelecimento de parceria entre as escolas e a universidade, visando a melhoria da  formação 

inicial e continuada dos professores. Para esse fim, este projeto desenvolveu ações a partir de seis 

Unidades Acadêmicas: Artes Plásticas, Música, Ciências Naturais, Pedagogia,  Letras e  Sociologia 

com perspectiva de atuação em escolas de educação básica da rede pública.  

 

                                                           1 Os resultados do primeiro edital foram publicados no  livro “Trajetórias das Licenciaturas da UnB: a experiência do Prodocência em foco”, organizado por Maria Lídia B. Fernandes e publicado em 2011 pela Editora da UnB. 

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Histórico do curso de Pedagogia no Brasil 

 

Em sua obra “Pedagogia no Brasil” Saviani (2008) defende que a problemática pedagógica no 

Brasil se deu com a vinda dos  jesuítas, embora nesse momento o  termo “pedagogia” ainda não 

tivesse sido utilizado. Após a independência, o termo manifesta‐se em projetos apresentados no 

Parlamento e a questão da formação de professores passa a ocupar espaço por meio da criação de 

instituições voltadas a formação docente, como as escolas normais. 

Com o Ato Adicional de 1834, que  colocou a  instrução primária  sob  a  responsabilidade das 

províncias, a província do Rio de Janeiro instituiu, em 1835, a primeira Escola Normal do país, em 

Niterói. Ainda no século XIX, outras províncias seguiram a iniciativa do Rio de janeiro, como foi o 

caso da Bahia, em 1836; do Mato Grosso, em 1842; de  São Paulo, em 1846; dentre outras. De 

acordo  com  Saviani  (2008,  p.17):  “[...]  o  padrão  de  organização  e  funcionamento  das  Escolas 

Normais foi fixado com a reforma da instrução pública do estado de São Paulo levada a efeito em 

1890”.  Tal  reforma  estava  direcionada  para  dois  aspectos:  enriquecimento  dos  conteúdos 

curriculares  anteriores e ênfase nos exercícios práticos de ensino,  com  a  criação  inovadora da 

Escola‐Modelo, anexa à Escola Normal.  

Ao  ter  como  foco  o  preparo  dos  novos  professores  com  base  em    exercícios  práticos,  os 

reformadores  “[...]  estavam  assumindo  o  entendimento  de  que  sem  assegurar,  de  forma 

deliberada e sistemática por meio da organização curricular a preparação pedagógico  ‐ didática 

não se estaria, em sentido próprio, formando professores”. (idem, p.18 ) Esse modelo de formação 

docente centrado nos exercícios práticos, acabou por expandir‐se por todo o país. 

Em  1931,  com  o  Decreto  de  Francisco  Campos  relativo  ao  Estatuto  das  Universidades 

Brasileiras, considerou‐se a necessidade de um curso de Educação, Ciências e Letras na construção 

de  uma  universidade  e,  pela  primeira  vez,  a  formação  docente  foi  pensada  como  parte  da 

estrutura do ensino superior.  

Com a criação da USP em 1934, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, na concepção de 

seus  fundadores  “[...]  assumia  o  caráter  de alma  mater da  universidade  enquanto  instituição 

integradora de  todos os conhecimentos humanos.”  (SAVIANI, 2008, p. 25). Segundo esse autor, 

todos os estudantes deveriam passar por essa faculdade com vistas a adquirir conhecimentos  que 

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lhes  permitissem  ingressar  na  alta  cultura.  Voltava‐se,  portanto,  ao  cultivo  de  saber 

desinteressado, sem uma preocupação de cunho didático‐pedagógico. O espaço reservado para se 

pensar as questões pedagógicas encontrava‐se no Instituto de Educação, incorporado pela Escola 

de Professores do antigo Instituto Caetano de Campos. 

A Universidade do Brasil ‐ criada em 1939, como resultado da reorganização da Universidade 

do  Distrito  Federal  extinta  pelo  decreto  n.  1.063/1939  ‐  determinou  a  organização  do  ensino 

superior em  todo país. O Decreto n. 1.190/39 estruturou  a  Faculdade Nacional de  Filosofia em 

quatro  seções:  Filosofia,  Ciências,  Letras,  Pedagogia  e  Didática,  esta  última  chamada  “seção 

especial”. A seção de Pedagogia era “constituída de apenas um curso cujo nome era idêntico ao da 

seção. Está aí a origem do curso de pedagogia”(SAVIANI, 2008, p. 38‐39). O curso de Pedagogia foi, 

então, configurado como um curso de bacharelado. O  diploma de licenciado seria obtido com o 

acréscimo do curso de didática, com a duração de um ano, esquema conhecido como “3 + 1”.  

As mudanças ensejadas com a  lei 4024/61  trouxeram a necessidade do Conselho Federal 

de  Educação  baixar  "currículos  mínimos"  para  vários  cursos,  levando  à  revisão  do  curso  de 

Pedagogia, por meio do Parecer 251/62, de autoria de Valnir Chagas. De um modo geral, o Parecer 

levanta  considerações  sobre  a  indefinição  do  curso;  referindo‐se  à  controvérsia  relativa  à  sua 

manutenção ou extinção.  

O Documento  também esboça o horizonte de que a  formação dos professores primários 

dar‐se‐ia  em  nível  superior  e  a  formação  dos  especialistas  em  educação  em  nível  de  pós‐

graduação, o que poderia acarretar à extinção do curso de Pedagogia. (Saviani, 2008) 

O  relator  do  Parecer  apresenta  como  contra‐argumentos  o  fato  do  curso  de  Pedagogia  ser 

estruturado  com  base  nas  Escolas Normais  e  afirma  que  a  formação  de  professores  em  nível 

secundário  é  uma  solução  avançada  para  o  País,  considerando  que  a  realidade  brasileira  é 

constituída por docentes com formação primária. 

Com base nesse raciocínio, a autor apresenta a seguinte conclusão:  

Não há dúvida, assim, de que o sistema ora em vigor representa o máximo a que nos  é  lícito  aspirar nas  atuais  circunstâncias:  formação  do mestre  primário  em cursos de grau médio e conseqüente  formação superior, ao nível de graduação, dos  professores  desses  cursos  e  dos  profissionais  destinados  às  funções  não‐docentes do  setor educacional. Na porção maior do  território brasileiro,  sem a ocorrência de fatores que no momento estão fora de equação, vários lucros serão 

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ainda  necessários  para  a  plena  implantação  deste  sistema.  Nas  regiões  mais desenvolvidas,  entretanto,  é  de  supor  que  ela  seja  atingida  ‐  e  comece  a  ser ultrapassada  ‐  talvez ante de 1970. À medida que  tal ocorrer, a preparação do mestre‐escola  alcançará  níveis  post‐secundários,  desaparecendo progressivamente os cursos normais e, com eles, a figura do respectivo professor. Ao  mesmo  tempo,  deslocar‐se‐á  para  a  pós‐graduação  a  formação  do pedagogista,  num  esquema  aberto  aos  bacharéis  e  licenciados  de  quaisquer procedências que  se  voltem para o  campo de Educação. O  curso de Pedagogia terá então de ser redefinido; e outra leva a crer que nele se apoiarão os primeiros ensaios de formação superior do professor primário (Brasil, 1962, p. 28).  

Além  dessas  reflexões,  o  documento  fixa  o  currículo  mínimo  do  curso  de  Pedagogia, 

extinguindo  o  velho  esquema  3+1,  ao  permitir  que  o  estudante  cursasse  as  disciplinas  do 

bacharelado concomitante às disciplinas de  licenciatura. A duração prevista para o curso era de 

quatro anos (para o Bacharelado e a Licenciatura). 

A  reforma  universitária  (5540/68),  trouxe  alterações  ao  curso  de  Pedagogia  ao  definir  os 

especialistas que atuariam nos sistemas de ensino nas  funções de Administração, Planejamento, 

Inspeção,  Supervisão  e  orientação,  levando  a  elaboração do  Parecer  nº  252/69,  de  autoria  de 

Valnir Chagas. De um modo  geral, esse parecer  trouxe  como principais alterações a  fixação de 

conteúdos mínimos e a duração do curso de Pedagogia, constituído a partir de uma base comum e 

outra  diversificada    formada  pelas  habilitações  supracitadas,  que  instituíram  a  figura  do 

especialista  em  educação,    com  exceção  do  Planejamento  Educacional,  que  teria  habilitação 

correspondente em nível de mestrado. 

A  Lei nº 5.540/68 e o Decreto  Lei nº 464/69 eliminaram o  regime  seriado e  introduziram  a 

matrícula por disciplina e o regime de créditos, implementando o sistema semestral de disciplinas, 

distinguindo os cursos de curta e longa duração, respectivamente de 1100  e 2.200 horas.  

Embora houvesse a possibilidade de serem criadas outras habilitações, seja por  iniciativa do 

próprio  Conselho,  seja  por  iniciativa  das  Instituições  de  Ensino  Superior,  o  Parecer  252/69 

regulamentou  as  seguintes  habilitações  para  o  Curso  de  Pedagogia:  Ensino  das  disciplinas  e 

atividades práticas dos cursos normais; Orientação Educacional; Administração Escolar; Supervisão 

Escolar e inspeção Escolar.  

Destas  cinco,  as  três  últimas  habilitações podiam  ser  ofertadas  também na modalidade  de 

curta duração, o que restringia a atuação profissional do Pedagogo às escola de primeiro grau. De 

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forma diversa, as habilitações com duração plena, permitiam ao profissional atuar em escolas de 

primeiro  e  segundo  graus.  A  habilitação  em  Orientação  Educacional,  ofertada  apenas  na 

modalidade plena permitia ao profissional que atuasse  tanto em escolas de primeiro, quanto de 

segundo graus. 

De acordo com Saviani  (2008), apesar das    tentativas de mudança, seja por parte do próprio 

CFE ou do movimento organizado dos educadores, essa  regulamentação permaneceu em  vigor 

após  a  aprovação  da  nova  LDB,  só  sendo  formalmente  alterada  com  as  novas  diretrizes 

curriculares nacionais a em 10 de abril de 2006. 

Com essas reformas, o curso de pedagogia vem atravessando uma profunda crise,  dentre elas 

a própria  indefinição do espaço de atuação e de  formação desse profissional. Vejamos em que 

medida  essas  transformações  no  contexto  histórico,  social  e  legal  influenciaram  a  experiência 

vivida  pela  Faculdade  de  Educação  da  Universidade  de  Brasília  no  que  tange  à  formação  do 

pedagogo. 

 

Trajetória da Faculdade de Educação no contexto da criação da Universidade de Brasília 

 

No  livro  “UnB:  Invenção  e  descaminhos”  Darcy  Ribeiro  resgata  a  concepção  original  da 

Universidade de Brasília, rememorando momentos que marcaram sua criação, face às mudanças 

sofridas após o golpe de 1964. 

No  prefácio  dessa  mesma  obra  Pompeu  de  Souza  (1978,  p.  10)  afirma  que  além  do 

compromisso com o futuro, a criação da universidade vinculava‐se a dois princípios fundamentais: 

“lealdade aos padrões internacionais do saber e à busca de solução dos problemas nacionais. ” 

Essa mesma percepção é comungada por Darcy Ribeiro ao afirmar  

[...]  a  UnB  é,  sobretudo,  o  compromisso  de  esforçar‐se  permanentemente, incansavelmente,  para  ser  a  Universidade  necessária.  Aquela  que,  ademais  de construir‐se a si mesma como deve ser, a casa da cultura brasileira, se faça capaz de  ajudar  o  Brasil  a  formular  o  projeto  de  si  próprio:  a  nação  de  seu  povo, ordenada e regida por sua vontade soberana, como o quadro dentro do qual ele há de conviver e trabalhar para si próprio. Não pode ser outra a tarefa de uma nação dependente no plano externo e oprimida internamente. Uma nação cativa de  elites  infecundas  que,  não  lhe  permitindo  nunca  organizar‐se  para  o  seu próprio povo, se viu retardada na sua evolução histórica. Esta nação frustrada é 

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que requer da sua Universidade as armas intelectuais de que necessita vitalmente para o salto revolucionário, que  lhe permitirá realizar suas potencialidades a fim de  integrar‐se, um dia, autonomamente, na civilização do seu tempo como uma sociedade avançada, próspera e solidária. (RIBEIRO,1978, p. 43‐44).  

Embora  a  maior  parte  dos  estudos  atrele  o  nome  de  Darcy  Ribeiro  à  criação  da 

universidade de Brasília,  não há como minimizar a presença de Anísio Teixeira, visto pelo próprio 

Darcy como um de seus pais‐criadores  (RIBEIRO, 1995). De acordo com Rocha  (2002) em 1963, 

quando Darcy Ribeiro deixou a reitoria para ocupar o Ministério da  Educação e Cultura, Anísio foi 

investido na função de reitor, durante um curto período de nove meses, quando em1964, o golpe 

militar o afastou de suas funções. 

A motivação que  levou   Anísio Teixeira a pensar na  criação da Universidade de Brasília, 

segundo  Rocha  (2002)  era  a  industrialização  nacional  que  nos  anos  1960  promoveu  grandes 

modificações  na  organização  da  sociedade.  Para  ele  o progresso  advinha  do  desenvolvimento 

científico,  da  expansão  da  ciência  e  da  tecnologia.  A  idéia  de  indústria,  para  Anísio,  é  uma 

categoria  “doutrinária”  e  não  econômica    e  isso  lhe  permitiu  considerar  a  indústria  como 

“resultante da evolução intelectual da humanidade, [...]” 

Essa autora também afirma que a Universidade de Brasília,  (2002, p.4) 

[...]  foi planejada  com base numa proposta para modernizar o ensino  superior, direcionada  para  atender  às  exigências  do  desenvolvimento  do  país,  ou  seja, produzir conhecimentos científicos e tecnológicos indispensáveis à independência do Brasil no campo cultural e científico.  

Durante os primeiros anos de existência da UnB, ocorre o Golpe Militar vetando parte dos 

projetos  originalmente  pensados  para  essa  universidade.  De  acordo  com  Darcy  Ribeiro  (1978, 

p.83) essa “universidade nascida do otimismo de JK, do reformismo de Jango e do utopismo dos 

melhores  cientistas brasileiros, não era  compatível  com nenhuma ordem ditatorial de objetivos 

antinacionais e antipopulares”.  

Ao analisar essa “Utopia Vetada”, Ribeiro destaca que a tarefa inicial dos planejadores da 

UnB era proceder  a um diagnóstico objetivo, por meio da  crítica que  já existia da universidade 

brasileira. Além de ter o desafio de fazer da UnB uma universidade que nunca ninguém havia visto, 

mas  que  todos  já  pensaram,  buscava‐se  fazer  dela  lugar  de  autêntico  florescimento  cultural  e 

artístico  

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O que nos propúnhamos era, por conseguinte,  fazer da Universidade de Brasília aquele centro de pesquisas completo, por cobrir todas as áreas, e organicamente integrado numa estrutura unificada, que  lhes permitisse operar num alto nível, tanto para o cultivo e o ensino da ciência, como para o estudo crítico dos temas socialmente  relevantes,  e  ainda  para  a  realização  das  pesquisas  de  maior importância  estratégica para o desenvolvimento autônomo do  Brasil.  (RIBEIRO, 1978, p. 93)  

Havia muitas ambições, a primeira delas era o desafio de conseguir que a UnB  fosse capaz 

de “reproduzir‐se a si mesma como criação autêntica, para gerar, nutrir e suster projetos de igual 

grandeza”.    (p.77). A segunda ambição seria a de proporcionar aos órgãos públicos  toda a vasta 

assessoria. A terceira de tornar‐se “um núcleo de amadurecimento da consciência critica nacional, 

através de uma  atenção privilegiada  aos programas de estudos mais  capazes de  instrumentá‐la 

cientificamente e de sustentá‐la ideologicamente.” (RIBEIRO, 1978, p.80)  

Passados 50 anos, observa‐se que parte desse projeto ambicioso e virtuoso acabou ficando 

só  no papel. Não obstante, muito  desses  sonhos  permanecem  nesta  universidade,  que  buscar 

manter ativa, como no seu projeto original, o gosto pela democracia e pelo pluralismo de idéias; o 

espaço  de pesquisa  e  produção  do  conhecimento  com  função  social  orientada  à  conexão  dos 

saberes científicos, populares e tradicionais, com vistas a reafirmar o pensamento brasileiro e sua 

contribuição ao desenvolvimento do país. 

  É  nesse  contexto,  que  a  Faculdade  de  Educação  emerge  como  espaço  para  pensar  a 

formação do professor.  

Alguns estudos sobre a história da Faculdade de Educação mostram que a proposta original 

da Faculdade de Educação guardava o modelo da Universidade  do Distrito Federal, proposta por 

Anísio nos anos 1930(ROCHA, 2002). Essa  autora relata que em outubro de 1961, a SBPC realizou 

um simpósio, na sede do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, com vistas a debater o plano 

de estruturação da UnB. Nessa ocasião Anísio discorreu  sobre  sua  concepção da  Faculdade de 

Educação para a formação de professores.  

Segundo ela, Anísio defendia quatro funções para a universidade  

[...] a  preparação de profissionais para as carreiras de base intelectual, científica e técnica.  Esta  função,  bastante  tradicional marcou  a  historia  das  universidades brasileiras  caracterizadas  como  confederação  de  escolas  profissionais  e menos como verdadeiras  instituições com espírito universitário. A segunda  função  foi a de proporcionar ao aluno o  contato  com o  saber e a  sua busca.  [...] a  terceira 

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função  acentuada  versou  sobre  o  desenvolvimento  do  saber  e  a  universidade como “ locus” de sua elaboração, de “busca desinteressada do conhecimento, de ciência  e  saber  fundamental  básico”.  Por  último  Anísio  frisou  a  função  da universidade como transmissora de uma cultura comum. (ROCHA, 2002, p. 5)  

Para atender tais funções Anísio Teixeira afirmou a importância da formação do magistério, 

não  apenas  dos  docentes  que  integravam  o  quadro  da  universidade,  mas  dos  professores 

primários e das escolas secundárias. 

Nessa  perspectiva,  compreendeu  a  necessidade  de  existir  dentro  da  UnB  um  espaço  

destinado a formação do magistério: a faculdade de educação. 

Para esse pensador: 

[...] dentro dessa universidade é que vai se criar pela primeira vez, entre nós uma Faculdade  de  Educação.  Não  existe  Faculdade  de  Educação  no  Brasil.  Temos apenas departamentos de educação nas  faculdades de  filosofia. E,  fora disto um conjunto  de  escolas  normais  destinadas  a  preparar  professores  primários ((TEIXEIRA, apud ROCHA, 2002, p.6 )  

 

Esse autor também a afirmava ser insuficiente a formação em nível médio,  pois para ser 

professor era mister possuir uma formação superior: 

O professor  incumbido de  transmitir uma  cultura  complexa,  “de base nacional, científica  e  tecnológica”  na  ótica  de  Anísio  ,  não  podia  ser  um  homem  que dominasse apenas o conhecimento teórico, mas um homem de saber aplicado ou tecnológico  do  tipo  do  engenheiro  ou  do  médico.  As  atividades  humanas passaram a exigir  conhecimento  teórico‐práticos e, por  conseqüência a arte de ensinar e o aparelhamento escolar tonaram‐se mais especializados. Para atender a essas exigências, o professor teria de se familiarizar com os métodos e conquista da ciência e desde a escola primária  iniciar a criança e o adolescente na difícil e complexa  arte  de  pensar  de  modo  objetivo  e  científico  e  criar  habilidades necessárias  para utilizar  os  conhecimentos  que  a  pesquisa  exige. O mestre do futuro  deveria  estar  profundamente  integrado  na  cultura  científica.  (ROCHA, 2002, p. 6)  

Na concepção de Anísio, a Faculdade de Educação deveria englobar  três eixos principais: o 

ensino,  o  aluno  e  a  escola.  Preocupava‐se,  portanto,  com  o  currículo  e  programa  a  ser 

desenvolvido.  Buscava,  por  meio  da  psicologia,  saber  quem  era  seu  aluno  e  suas  fases  de 

crescimento e aprendizagem e , “[...]por fim, definir os objetivos da educação, estabelecendo uma 

distinção entre educação para o fazer e educação para compreender e saber os múltiplos aspectos 

que o conhecimento é ensinado.(ROCHA, 2002,p. 8)  

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Anísio    também  salientou  a  necessidade de  escolas  anexas  de experimentação para  se 

praticar a experimentação pedagógica. Segundo ele, “[...] assim como só se prepara o médico pela 

prática para  tratar  o  doente, não  se  pode  preparar  o  professor  sem  tirocínio,  sem  prática  de 

ensinar, sem conhecimento individual do aluno”.(TEIXEIRA,apud ROCHA, 2002, p. 8)  

   Segundo ele, a Faculdade de  educação “deveria ter os mesmos padrões de uma escola de 

medicina porque esta trata cada doente como um “caso”, e o mesmo deve acontecer na educação 

com adoção de métodos individualizados com os que são utilizados pela medicina”(ROCHA, 2002, 

p.9 ).  

 A concepção original da Faculdade de Educação, esboçada por Anísio, foi aceita por Darcy 

Ribeiro, que durante o Seminário da SBPC, em 1961, afirmou que  tal   instituição compreenderia 

um conjunto de “órgãos para  tratar a complexidade do preparo profissional dos novos mestres, 

contribuir para o  aperfeiçoamento do magistério e proporcionar  formação de especialistas em 

administração, orientação, supervisão e planejamento educacional.” (ROCHA, 2002, p.9)  

O modelo concebido por Anísio Teixeira e apoiado por Darcy Ribeiro em 1961, a Faculdade 

de Educação prepararia o licenciando para ensinar. Enquanto, que os demais cursos  e institutos  

especializados seriam responsáveis por oferecer formação  cultural básica e especial, conforme o 

campo de seus estudos.  

A  Faculdade  de  Educação  seria  integrada  por  um  Departamento  de  Currículos  e 

Programas, organizado em dois setores: um setor voltado para o ensino elementar que contaria 

com núcleos de estudo  sobre ensino da  linguagem, da  aritmética, das  ciências, bem  como dos 

estudos sociais, do desenho e da arte, além de um setor encarregado da produção de material 

didático  e  audiovisual.  E  outro  voltado  para  o  nível médio,  que  teria  núcleos  de  estudo,  de 

planejamento  e  controle  com  objetivo  de  orientar  o  ensino  de matemática,  ciências  naturais, 

ciências sociais, língua e literatura.  

A  preparação  de  especialistas  em  educação  ficaria  a  cargo  dos  departamentos  de 

administração escolar e de orientação educacional. O primeiro seria  responsável pela  realização 

de estudos sobre problemas de superintendência das  redes de ensino e da direção das escolas, 

sobre a legislação escolar e o financiamento da educação, bem como o planejamento de prédios e 

equipamentos escolares. O segundo estudaria o  rendimento escolar, por meio da elaboração de 

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testes e medidas para sua aferição, também pesquisaria a respeito dos problemas de orientação e 

aconselhamento dos alunos e ainda ofereceria assistência aos excepcionais. 

A Faculdade de Educação contaria com os seguintes órgãos: 

• Escola  Normal  Superior:  inicialmente  denominada  de  Escola  de  Professores,  teria  a 

finalidade  de  ministrar  cursos  de  formação  para  o  magistério  primário  em  nível 

universitário. Seria composta por alunos originários do curso médio completo que durante 

um  período  de  três  anos  receberiam  formação  para  serem  professores  primários 

especializados  ou  administradores  escolares.  Para  desenvolvimento  de  suas  atividades, 

disporia de um conjunto de centros experimentais e escolas de demonstração de nível pré‐ 

primário  e  complementar  para  que  o  aluno  tivesse  oportunidade  de  praticar,  como 

interno, a arte de ensinar e estudasse os aspectos teóricos, técnicos e de conteúdos.  

 

• Escola  de  Educação:  inicialmente  denominada  Escola  de  Licenciados,  destinava‐se  a 

preparar professores para o ensino médio, cursos ginasiais e colegiais secundário, técnico e 

normal,  substituindo, nesta  função as  Faculdades de  Filosofia. Para desenvolvimento de 

suas  atividades  contaria  com  núcleos  de  demonstração  e  experimentação.  Ex:  Centro 

Integrado de Ensino Médio (CIEM), criado em 1963 e desativado em 1972. 

Em abril de 1964 o golpe militar afastou Anísio Teixeira da Universidade de Brasília sem 

implementar a sua utopia‐ a  Faculdade de Educação nos moldes de sua concepção original. 

Ao analisar esse momento  Brzenziski (1993, p. 44) afirma 

[...] a UnB  foi militarmente ocupada, o  campus  foi  cercado por uma  verdadeira operação bélica,  sofrendo um  violento ataque  com o objetivo de banir a massa crítica que já fazia parte da Universidade[...] o reitor – interventor da UnB Laerte Ramos de Carvalho, professor da USP, demitiu quinze professores. Em um gesto de solidariedade duzentos e dez professores da UnB pediram demissão coletiva. A documentação  de  todos  os  demitidos  foi  totalmente  destruída.  Permaneceram nos  quadros  da  UnB,  22  professores.  Nada  restou  do  projeto  utópico  da Faculdade  de  Educação  da  UnB  que,  em  síntese  atribuía  a  essa  as  seguintes finalidades: ‐  formar  professores  para  a  escola  normal  e  fundamental  em  3  anos  após  os cursos introdutórios; ‐formar  especialistas  em  administração,  currículos  e  programas,  estatística educacional e em testes e medidas educacionais; 

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‐oferecer  disciplinas  pedagógicas  aos  bacharéis  que  desejassem  cursar  a licenciatura para atuar no ensino médio; ‐oferecer a pós‐graduação em educação.  

A  Faculdade de  educação UnB  começou  a  ser  efetivamente  implantada  em  1966, nos  três 

primeiros  prédios  construídos  no  campus  (FE‐1,  FE‐3  e  FE‐5),  onde  funcionaram  os  primeiros 

cursos, bem como o auditório destinado às solenidades acadêmicas, e a própria Reitoria. Quatro 

anos  depois  estava  em  pleno  funcionamento,  tendo  definidos  seu  estatuto  e  regimento,  e 

oferecendo curso de graduação em Pedagogia, que  foi  reconhecido em dezembro de 1972. Em 

consonância  com  a  Lei  de  Diretrizes  e  Bases  em  vigor,  o  curso  oferecia  várias  habilitações: 

Magistério  do  2º.  Grau,  Supervisão  Escolar,  Orientação  Educacional,  Administração  Escolar, 

Inspeção  Escolar,  e  a  partir  de  1975,  Tecnologia  Educacional.  A  reforma  universitária de  1968 

possibilitou a coexistência de licenciaturas curtas ao lado das licenciaturas plenas, cuja marca foi o 

processo aligeirado de formação docente. 

A partir do final dos anos 1970, a crítica a essa situação ensejou muitas debates e discussões 

em  nível  nacional,  tornando  veemente  o  desejo  de mudança.  Ao  analisar  esse  cenário  Cury 

pondera que a crítica voltava‐se  

[...] tanto para o dualismo existente entre o docente e o especialista quanto para o papel atribuído a este último como figura de controle tecnicista e de concepção distante da execução.  [...] A crítica não se descuidou das chamadas  licenciaturas curtas  cujo  objetivo  de  passagem  e  transitoriedade  se  firmou  em  um  status definitivo (CURY, 2012, p. 12)  

Libâneo e Pimenta  (1999) concordam que críticas ao Parecer 252/1969 e à  indicações de 

Valnir Chagas  são  coerentes  já que  “consolidava‐se,  assim,  a  ideia da  formação específica de 

técnicos  em  educação  definindo  o  exercício  profissional  do  pedagogo  não  docente”.  Nesse 

sentido, os autores destacam aspectos problemáticos do curso, a saber: o caráter “tecnicista” 

que levou a um esvaziamento teórico da formação, o agigantamento da estrutura curricular (na 

verdade,  o  curso  não  dava  conta  de  formar  efetivamente  o  especialista),  a  fragmentação 

excessiva  das  atividades  nas  escolas,  a  separação  entre  formação pedagógica  e  a habilitação 

específica. 

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 IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL”

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Em decorrência destas críticas, em 1988, a Faculdade de Educação da UnB promoveu uma 

reforma  curricular,  fruto  de  demorada discussão.  Em  1994  a  Faculdade de  Educação  iniciou  a 

oferta do primeiro curso noturno de graduação na UnB.  

Em 1997, uma comissão de avaliação externa, destacou vários pontos críticos do currículo, 

levando ao repensar da formação dispensada no Curso de Pedagogia da Faculdade de Educação. Em 

síntese, foram identificados como problemas:  

 [...] propostas centrada na concepção de  formação geral e disciplinar, no  início, seguida da oferta de conteúdos específicos conforme a habilitação escolhida, sem articular apropriadamente prática e teoria; ‐ Dicotomia entre a base comum e a parte diversificada, implicando numa relação também  dicotômica  da  teoria  com  a  prática,  esta  vista  como  um  espaço  de aplicabilidade da teoria; ‐ o  corte epistemológico na  formação geral baseava‐se nas  ciências humanas e sociais  aplicadas  à  educação  e  na  formação  específica,  justificando‐se  assim  a existência de habilitações; ‐  a  formação  de  especialistas  acontecia  divorciada  da  formação  docente contribuindo para a  insuficiente  formação dos especialistas, uma vez desprovida da  fundamental base docente, além de contribuir para a manutenção da divisão social do trabalho na prática docente e na vida escolar. ‐  o  conceito  de  formação  não  levava  em  consideração  a  complexidade  e multidimensionalidade dessa  formação,  com  suas exigências multidisciplinares e multirreferencidas, deixando na sombra dimensões inelimináveis; ‐ os estágios  supervisionados  realizados apenas no  final do Curso, antes davam cumprimento a exigências formais e legais mais do que propiciavam um autêntico conhecimento  e  vivência  da  realidade  do  mundo  do  trabalho  educativo  e pedagógico; ‐  as  habilitações  restringiam  o  campo  de  atuação  profissional  às  instituições escolares, exatamente numa época em que a sociedade do conhecimento põe a “educabilidade”  e  a  educação  permanente  como  uma  exigência  para  toda  e qualquer organização. (UNB,  FE, 2003) 

 Nova  reformulação  curricular  foi  realizada e está em  vigor desde 2003. O  atual Projeto 

Acadêmico também resultou de vários anos de discussão pela comunidade acadêmica da FE. Em 

razão desse processo, que se desenvolveu ao mesmo tempo em que se discutiam nacionalmente 

as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Pedagogia, o novo currículo já reflete, em grande 

parte, as diretrizes que vigoram desde abril de 2006. 

 

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Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN): reflexões sobre  a atual legislação do curso de Pedagogia  

 

As  Diretrizes  Curriculares  Nacionais  para  o  curso  de  Pedagogia,  aprovadas  em  13  de 

dezembro de 2005, é resultado da legislação em vigor (LDB 9394/1996) assim como  

[...]  de  um  longo  processo  de  consultas  e  discussões,  em  que  experiências  e propostas inovadoras foram tencionadas, avaliações institucionais e de resultados acadêmicos da formação  inicial e continuada de professores foram confrontados com  práticas  docentes,  possibilidades  e  carências  verificadas  nas  instituições escolares. (BRASIL, CNE, 2005, p. 2]  

Embora as diretrizes sejam fruto de profundas discussões, resultado de 25 anos de muita 

discussão no âmbito da Educação Infantil  e anos iniciais do Ensino Fundamental, as mesmas são 

alvo  de  muitas  críticas  por  parte  das  instituições  acadêmicas  assim  como  de  organizações 

sindicais. 

No final dos anos 70 e início dos anos 80, aconteceu uma campanha pela transformação do 

curso  de  Pedagogia  num  curso  de  formação de  professores, movida  a  partir  das  críticas  ao 

Parecer 252/1969 e à  indicações de Valnir Chagas,   tidas como  tecnicistas. Em 1980 é criado o 

Comitê Pró‐Formação do Educador, originado da I CBE ‐ Conferência Brasileira de Educação que 

mais tarde viria a se chamar ANFOPE. Segundo a definição disposta no artigo 3º do Estatuto da 

ANFOPE, esta “é uma entidade científica, civil, sem fins lucrativos, sem caráter religioso e político 

partidário” 

Por  considerar  a ANFOPE disseminadora de abordagens  socialogizantes que, em  alguma 

medida, contribuíram para a formulação da atual legislação, Libâneo afirma que 

[...] houve uma junção de interesses entre os militantes e adeptos da ANFOPE e as Secretarias  Estaduais  e  Municipais  de  Educação  em  torno  da  supressão  das habilitações  uma  vez  que,  não  sendo  mais  formados  nas  faculdades coordenadores  pedagógicos,  não  haveria  necessidade  de  contratá‐los  com salários  diferenciados,  o  que  representava  expressiva  redução  de  gastos. (LIBÂNEO, 2006, p. 226‐227)  

Para  o  autor,  a  ANFOPE  lutava  pela  redução  do  curso  de  Pedagogia  à  um  curso  de  

formação restrita de professores com o argumento de que, para acabar com a desigualdade na 

divisão de tarefas dentro das escolas, bastava estabelecer a docência como base da formação do 

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pedagogo, o que,  considera  Libâneo,   não  significaria uma mudança pedagógica mas político‐

ideológica (LIBÂNEO, 2006). 

Libâneo e Pimenta (1999) discordam que apenas a base de um curso de pedagogia seja a 

docência, já que argumentam a respeito da importância da atuação do pedagogo em contextos 

não escolares. Alguns estudiosos, no entanto, contra‐argumentam que a “base” não é o “todo” e 

que o pedagogo   formado para ser o professor da educação infantil e dos anos  iniciais poderá 

dar continuidade aos estudos e,  na pós‐graduação, especializar‐se de fato.  

O  artigo  5º  das  Diretrizes  Curriculares Nacionais  (DCN)  para o  Curso de  Graduação  em 

Pedagogia trata das atuações do egresso do curso de Pedagogia e prevê uma lista de dezesseis 

diferentes competências para as quais o pedagogo deverá estar  preparado para exercê‐las. O 

inciso I estabelece que o egresso deverá estar apto a “atuar com ética e compromisso com vistas 

`a construção de uma sociedade justa, equânime, igualitária” (BRASIL,CNE, 2006).  

O  inciso  II estabelece que o pedagogo deverá “compreender, cuidar e educar crianças de 

zero  a  cinco  anos,  de  forma  a  contribuir,  para  o  seu  desenvolvimento  nas  dimensões,  entre 

outras,  física, psicológica, intelectual, social”   e assim como os demais  incisos deste artigo são 

alvo  de  críticas  por  Libâneo  (2006)que  alega  que  o  texto  induz  ao  entendimento  de  que 

quaisquer atividades profissionais  ligadas à educação são consideradas atividades docentes. O 

que fica explícito nessa legislação é que  várias atividades realizadas por pedagogos em espaços 

escolares  e  não‐  escolares  poderiam  ser  desempenhadas  por  outros  profissionais  que não  o 

pedagogo. 

Pode‐se observar que apenas duas atividades, as dispostas nos incisos  XII e XIII podem ser 

consideradas de incumbência exclusiva do pedagogo. O inciso   XII   estabelece que o pedagogo 

deve    “participar  da  gestão  das  instituições  contribuindo  para  elaboração,implementação, 

coordenação, acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico”(BRASIL, 2006) e o inciso  XIII  

determina que o pedagogo deve “participar da gestão das instituições planejando, executando, 

acompanhando e avaliando projetos e programas educacionais, em ambientes escolares e não‐

escolares”. 

Kuenzer  e  Rodrigues  (2006)  ao  discutirem  a  relação    teoria    e  prática, destacam  que  é 

importante “caracterizar” a prática, ou seja esclarecer sobre qual prática estamos nos referindo. 

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É interessante observar quando as autores afirmam que um professor que reflete sobre a prática 

a partir da própria prática, está mais preocupado com a obtenção de resultados do que com os 

princípios e processos que norteiam o processo educativo. Embora a  inteligência prática  seja 

criativa,  ela  não  permite  a  sistematização  do  conhecimento  e  consequentemente,  a  sua 

explicação. Ou seja, a prática por si não ensina, já que ao observar outro professor lecionar não 

assegura  o  conhecimento  da  complexidade  do  processo,  pois,  depende  de  apropriação  de 

“categorias  teórico‐metodológicas  que   lhe  permitam  analisá‐la  e  compreendê‐la  para  poder 

intervir com competência” (KUENZER; RODRIGUES, 2006, p.187).  

É preciso atentar‐se para a afirmação das autoras quando dizem que o curso de pedagogia 

não deve se pautar na docência como pré‐requisito para a formação do pedagogo. Garantir ao 

pedagogo a ação docente  lhe permite, inclusive, atuar com propriedade em outros espaços da 

educação que não a sala de aula. 

Libâneo (2006)  diz que, no Brasil, as tentativas de se resolver os problemas da educação 

acontecem  de  fora  para  dentro:  por  leis,  reformas  ou  fortalecendo  as  demandas  dos 

movimentos  sociais, dos  sindicatos em  torno da  formação de uma  consciência política, o que 

acarreta um descaso com a educação enquanto processo de promoção do educando.  

Há discordância por alguns estudiosos da afirmação do autor quando ele ressalta  que “não 

tem sustentação  teórica afirmar que a base da  formação do pedagogo é a docência.”  (LIBÂNEO, 

2006, p.220) Já que para alguns, para se formar professores para a educação básica é fundamental 

que o professor tenha lecionado e vivenciado a experiência da educação básica, assim também o 

orientador educacional ou o coordenador pedagógico ou o gestor, devem, obrigatoriamente  ter 

vivenciado  a  experiência  da  docência  na   educação  infantil  ou  nos  anos  iniciais  do  Ensino 

Fundamental. 

 

O Projeto acadêmico da FE‐UnB: algumas reflexões 

 

O processo de  reformulação do Projeto Acadêmico do  curso de Pedagogia da UnB  teve 

início em abril de 1997, concomitante às discussões sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais. O 

referencial  teórico‐metodológico  do  Projeto  sustenta‐se  na  teoria  da  complexidade  de  Edgar 

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Morin, que tem como pressuposto “vislumbrar novos rumos para a [...] ação formadora e detectar 

os caminhos  que se apresentam para a compreensão do mundo onde ela se inscreve. ”( UNB,FE, 

2002, p.9).  

Entendendo  o  fenômeno  humano  nas  suas  diferentes  dimensões  –  antropológica, 

sociológica, psicológica, ética dentre outras, a teoria da complexidade de Morin parte do princípio 

que o ser humano só pode ser compreendido na sua totalidade. 

Delineia‐se, no projeto, o contexto da globalização e das  rápidas mudanças  tecnológicas, 

justificando a necessidade de uma nova relação com o saber. Nessa nova concepção de formação, 

surge  o  aprendizado  personalizado  e  cooperativo  em  rede  no  qual  o  docente  passa  a  ser  o 

mobilizador  da  inteligência  coletiva.  Percebe‐se,  na  construção  do  Projeto  Acadêmico,  uma 

preocupação em formar um profissional autônomo, capaz de dar continuidade à sua formação e 

que esteja apto a atuar em ambientes escolares e não escolares. Segundo o Projeto, 

À medida que vai avançando e penetrando no mundo do trabalho educativo em toda a sua complexidade, o  futuro educador é  levado a  fazer opções quanto ao perfil  profissional  que  ele  pretende  ter  a  partir  de  experiências  e  reflexões, culminando na elaboração de um projeto profissional próprio. (UnB, 2002, p.13).   

O  curso de Pedagogia da  FE‐UnB organiza‐se em  fluxo  curricular em oposição ao  termo 

grade curricular. Para garantir a base docente durante o curso e uma autêntica formação prático‐

teórica, o currículo é permeado pelos projetos, ou seja “atividades orientadas, de observação, de 

regência, de  investigação, de extensão, de busca bibliográfica  [...]  tendo como  referencial a vida 

concreta das organizações onde os fatos e as situações educativas acontecem”(UnB, 2002, p.15). 

Na lógica dos projetos emerge a pesquisa, inserida na articulação prático‐teórica substituindo os 

estágios  de  final  de  curso  por  disciplinas  ao  longo  de  8  semestres  que  irão  culminar  com  o 

Trabalho de Conclusão de Curso. 

Considerando‐se  o  currículo  do  curso  de  Pedagogia  da  Faculdade  de  Educação  da 

Universidade de Brasília, é possível fazer alguns questionamentos quanto à sua estrutura “aberta” 

que,  a  priori,  permitiria  ao  próprio  aluno  ir  construindo  seu  perfil  profissional:    diante  de  tão 

variadas  possibilidades  (como  a  de  optar  por  disciplinas  relacionadas  à  questão  ambiental  ou  

ligadas às questões étnicas, por exemplo) , o aluno tem maturidade suficiente para fazer escolhas 

que  o  permitirão  trilhar  um  caminho  coerente  com  as  suas  perspectivas  profissionais?    A 

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orientação  acadêmica prevista para  acontecer durante o  curso, especialmente nos   primeiro e 

último semestres,  tem sido uma prática efetiva? Os alunos são efetivamente orientados a  fazer 

escolhas que os previnam de uma possível  formação  fragmentada? As disciplinas  consideradas 

fundamentais  para  um  currículo  que  se  autodenomina  de  base  docente,  embora  não  sejam 

obrigatórias, estão sendo cursadas? 

Apesar da concepção dos projetos estar embasada no conceito de práxis e na construção 

de  um  perfil  profissional  do pedagogo,  os  temas muito  variados  a partir  do  Projeto  3  podem 

possibilitar uma dispersão  frente à proposta essencial do curso que é a de  formar o pedagogo a 

partir  da  base  docente. Os  projetos podem,  assim,    levar  o  aluno  a  buscar  áreas  correlatas  à 

pedagogia  como a  sociologia e  a psicologia. O  curso deixaria,  assim, de produzir pesquisas que 

tenham como  foco a pedagogia, o  fenômeno educativo em si e se diluiria em diferentes objetos 

epistemológicos, que poderiam negar a essência da própria pedagogia. 

 

Repensando o currículo atual da FE: algumas considerações a partir do Encontro da Comunidade da Faculdade de Educação  

   As  constatações mencionadas  acima  foram  a motivação  inicial de uma  ampla discussão 

feita no Encontro da Comunidade de Educação da UnB, realizado em maio de 2011, com o intuito 

de se “construir referências e metas para a atualização da Proposta Pedagógica da Faculdade de 

Educação”.  Em  cada  grupo  de  trabalho  que  envolvia  docentes, discentes  e  técnicos 

administrativos  foram  levantadas  questões   que  se  tornariam  parâmetros  para  a  posterior 

discussão, construção e aprofundamento do Projeto acadêmico e do Projeto Político Pedagógico 

da Faculdade de Educação. 

Como  o  objetivo  era  que  todos  os  participantes  se  envolvessem  na  discussão  e 

levantassem  as  possibilidades  e  dificuldades  nas  várias  nuances  do  Projeto  Acadêmico/ 

Pedagógico,  todos os  sujeitos presentes  foram  integrados em Grupos de  Trabalho  (GTs) da  sua 

preferência e interesse. Cada grupo com um tema para levantamento das proposições:  

 1. GT Sujeitos da Educação (Diversidade e Inclusão) 2. GT Estágio Supervisionado e espaços complementares de formação 

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3. GT Relação da FE com Licenciaturas 4. GT Orientação Acadêmica e Coordenação do Curso de Pedagogia 5. GT Pesquisa e Formação Continuada na FE: conexão Graduação e Pós‐Graduação 6. GT Pedagogia à Distância: O olhar dos atores sobre o processo 7. GT Ética e relações sociais no espaço acadêmico da FE.  

 

O  grupo  de  trabalho  tinha  em  sua  composição  professores,  alunos  e  técnicos 

administrativos, para que a visão de todos fosse explicitada e ajudasse a construir o diagnóstico do 

programa  da  FE,  e  com  esse  retrato  pudesse  também  elaborar  proposições  para  o 

desenvolvimento da educação na faculdade. 

A (re) construção do Projeto Político Pedagógico  e do Projeto Acadêmico é um “espaço de 

participação, de descentralização do poder e, portanto, de exercício de  cidadania.”  (DOURADO, 

2003, p 34). É um momento histórico, uma conquista da democracia que percebermos implícita e 

ou explicitamente o direito de falar, julgar e elaborar nossas ações livremente com a consciência 

da nossa  responsabilidade. Este momento é significativo, é a saída da ditadura do silêncio e da 

acomodação, em que recebíamos de terceiros, fora do contexto educacional, o que tínhamos que 

pensar, falar e executar.  

Acima de tudo é um direito conquistado. Pois, 

[…]  o  trabalho pertence  a quem  concebe,  executa  e avalia. Não  se  aceita  que alguém  planeje  o  que  o  outro  irá  realizar,  pois  se  retira  do  executor  suas possibilidades  de  domínio  sobre o  processo de  trabalho, de  comprometimento com  o mesmo  e  de  senti‐lo  como  algo  prazeroso  e  gratificante.  (VILAS  BOAS, 1988, p. 180)   

O  encontro da  Faculdade de  Educação  foi  e  continua  sendo  um momento histórico de 

revisão do currículo de Pedagogia que vigora há mais de 15 anos, resultado de ações, reflexões do 

processo pelo qual a formação de professores vem passando, tanto em âmbito institucional como 

nacional. Esse currículo tem sido uma tentativa de se relacionar a teoria com a prática, da ação‐

reflexão‐ação, do aprofundamento da epistemologia da educação a partir da prática, uma inserção 

ampla e aprofundada no fazer docente.  

Atualmente o currículo da FE está configurado com ênfase em projetos, que norteiam boa 

parte da formação dos estudantes de Pedagogia. O objetivo de se trabalhar por meio de projetos é 

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a  inserção  gradativa na  vida universitária e na profissão docente, e  a possibilidade de  vivência 

prática do fazer pedagógico. É uma busca de integração entre teoria e prática ao longo de todo o 

curso. As configurações dos projetos estão assim estabelecidas:  

Projeto 1 ‐  “Iniciação à vida universitária, à vida na Faculdade de Educação, ao currículo de 

Pedagogia.” 

Projeto  2  –  Procura‐se  dar  significado  ao  ser  Pedagogo  e  a  Pedagogia,  estudando  e  se 

aprofundando  nos  estudos  de  grandes  autores.  A  proposta  é  de  investigação  e  de 

aprofundamento epistemológico da Educação e da Pedagogia. 

Projeto 3‐ “[...] vivência prática do fazer pedagógico em diferentes contextos institucionais, 

articulando, no processo formativo, as atividades de extensão, pesquisa e ensino.” 

Projeto  4‐ O  objetivo do  Projeto  é  a  “[...]  imersão do  aluno de  Pedagogia nas  práticas 

educativas que ocorrem no  contexto escolar  formal,  seja este  vinculado a  instituições públicas, 

particulares ou a organizações/movimentos sociais.” 

Projeto  5‐  É  trabalho  final  de  um  percurso  formativo,  “constitui  a  culminância  de  um 

itinerário acadêmico [...]”2 É o que chamamos de TCC. 

Os projetos  favorecem de  forma  correlacionada uma  vivência de duas modalidades das 

atividades  acadêmica:  “espaços  disciplinares  cuja  ênfase  é  posta  na  apropriação  de  teorias  e 

conceitos e, de outro lado, os espaços curriculares denominados projetos[...]”  

Um dos objetivos de se discutir o currículo por meio da reflexão conjunta sobre o Projeto 

acadêmico  da  Faculdade  é  repensar    quem  é  o  Pedagogo(a)  que  queremos  formar.  Quais  as 

necessidades/expectativas dos  sujeitos que procuram o  curso de Pedagogia? Qual a  imaginário 

envolvido na profissão pedagogo? Que ações são prioritárias para a renovação do currículo e que 

corresponda às novas exigências sociais, culturais e econômicas da profissão docente? 

Outro  objetivo  dessa  discussão  é  a  tentativa de  se  dar  uma  resposta  a  insatisfação de 

docentes e discentes em relação ao atual currículo. Pois, mesmo com esse currículo diversificado, 

os professores e alunos da FE, não se sentem satisfeitos com a atual configuração currículo e nem 

acreditam na sua proposição. Em uma pesquisa realizada por Ortiz (2011) na qual participaram 39 

                                                           2 Todas as citações nas definições dos Projetos foram retiradas das Diretrizes dos projetos da Faculdade de Educação (Resolução da Câmara de Ensino de Graduação da Faculdade de Educação, 2004) 

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docentes, que equivale a 33,6% do total de 112 professores sondados, 49% desses respondentes 

afirmaram que o  “atual  currículo não oferece  ao  aluno  condições para  atuar em nenhuma das 

áreas a que se propõe  formar.”(p.54) Todos os  respondentes disseram haver uma ou mais área 

que necessita de reformulação (Algumas áreas propostas pela pesquisadora: Avaliação, currículo , 

didática, fundamentos da educação e outras fundamentais para a formação docente). O grau de 

satisfação  em  relação  ao  curso  de  Pedagogia  também  foi  questionado,  somando‐se  os 

medianamente  insatisfeitos,  os  insatisfeitos  e  os  muito  insatisfeitos  o  total  foi  de  88% 

respondentes nessas  condições. Mas  a autora  afirma que existe uma  falta de articulação entre 

professores,  disciplinas  e  projetos,  que  deve  ser  para  alguns  o  ponto  central  do  atual  prática 

curricular. 

Esses aspectos merecem uma atenção especial nas discussões e no encaminhamento do 

Encontro da comunidade da Faculdade de Educação. Ainda não  temos um  resultado  final e nem 

uma proposta concreta para a reformulação da proposta curricular da Faculdade de Educação. As 

discussões continuam. E para a  realização dos  trabalhos dos grupos, cada GT  recebeu questões 

para serem discutidas e o resultado final foi colocado na plenária final que teve como resultado as 

proposições seguintes: 

1.Transformar  os  escritos  do  evento  em  publicação  com  autoria  coletiva  de  todos  que 

participaram, sob a responsabilidade da universidade. 

2. Transformar o evento em encontros freqüentes seja de forma semestral ou em forma de fórum 

permanente. 

3. Repensar os projetos 3, 4 e 5 em vários aspectos,  refletindo e  relacionando o motivo que os 

alunos desejam um Colégio de Aplicação com o projeto 4. 

4. A matrícula privilegiar os projetos e depois  as disciplinas. Repensar  a questão das disciplinas 

obrigatórias e optativas, enfim repensar o currículo. 

5. Institucionalizar a recepção dos calouros na FE 

6. Reforçar a participação dos alunos no PPP, PDI, Regimento e outros. O Centro Acadêmico – CA  

rever a participação (freqüência) dos alunos. 

7. Avaliação dos professores pelos alunos 

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8. Repensar a oferta do currículo do curso noturno e diurno de forma mais equitativa, se possível 

um currículo único. 

9. Repensar o currículo com a identidade do pedagogo como eixo dos projetos. 

10. Formar uma comissão para participação em fórum permanente. 

11. Avaliação externa do currículo 

12. Antes da  avaliação externa,  analisar os  sujeitos  internos da  FE para depois  fazer  avaliação 

externa 

13. Coordenação de estágio com proposta de profissionalidade 

14.  Fazer  uma  reflexão  dos  estágios  remunerados,  ressaltando  a  importância  do  estágio  para 

contribuir financeiramente para a manutenção do aluno na FE. 

15. Repensar os critérios da oferta (criação) dos projetos 

16. A UAB deve se comprometer com o município, que tem o pólo, levando não só o ensino, mas 

também a pesquisa e a extensão. 

17. Projetos mais equitativos 

18. Articulação da Faculdade de Educação com as escolas públicas 

19. A formação dos professores utilizando os projetos 1 e 2.    

 

          Com o objetivo de continuidade à discussão e reflexão, nos dias 09 e 24 de Abril de 2012, a 

comunidade  reuniu‐se  para  debater  e  deliberar  acerca  das  questões  presentes  no  Relatório 

Síntese  do  Encontro  de  Pedagogia  2011. Muitas  das  proposições  feitas  na  síntese  final  foram 

novamente  questionadas,  reformuladas  e modificadas  de  acordo  com  o  grupo  presente  neste 

outro momento histórico que também não se esgotou e outro momento foi agendado. 

 

Algumas possíveis considerações 

 

Este texto não tem a pretensão de esgotar a história da reformulação do atual currículo de 

formação de Pedagogos da Faculdade de Educação e nem mesmo dar conta de  toda a sua atual 

configuração,  pois  se  acredita  que  esse  é  um  processo  continuo  em  todas  as  instituições 

educacionais. Pretende,  somente,  suscitar uma discussão e um possível  resgate desse processo 

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histórico, que é  fator  fundamental para se entender o que está posto, suas  raízes e objetivos, e 

colaborar    para  que  esse  caminho  seja  realizado  pelos  alunos,  futuros  docentes,  de  forma 

consciente, transparente e fundamentada. 

As questões norteadoras deste estudo não são totalmente respondidas, primeiro por causa 

do  limite que um artigo impõe. Segundo por que um assunto  tão  relevante e denso    requer um 

tempo maior e pesquisas documentais e de materiais muitas vezes de difícil acesso. Por  isso, é 

propósito do grupo a continuidade, buscar contemplar esses aspectos em estudos posteriores e 

complementares.  

É  função  dos  sujeitos  envolvidos  na  prática  formativa  compreender  que  saberes  são 

necessários para  a  formação do docente da  Educação Básica e  como o  currículo ou a proposta 

curricular da instituição  formadora está contemplando essas expectativas e necessidades, isto é, 

como a está colocando em prática. 

É conhecida a insatisfação com a atual proposta, há uma necessidade de reformulação, e 

imprescindível a integração entre professores, direção, alunos e técnicos administrativos para que 

a  nova  proposta  seja  resultado  da  coletividade.  Que  não  satisfaça  somente  a  determinados 

segmentos em detrimento do objetivo primeiro e essencial que é a formação do docente para a 

educação na sua perspectiva emancipatória e sempre baseada no tripé fundante da universidade: 

ensino,  pesquisa  e  extensão,  objetivando  a  construção  teórico‐prática  dos  conhecimentos  no 

campo educativo. 

 

Referências 

BRASIL, Conselho Federal de Educação‐CFE. Parecer n. 251/62. Documento, n. 11, jan‐fev, 1962 

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______. Lei n° 5.692 de 11 de agosto de 1971:  fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2º graus, e dá outras providências.  Disponível  em:  <  http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5692.htm#art87>  Acesso  em  22  de outubro de 2011.  

_______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Superior. Grupo Tarefa: Subsídios para a Elaboração de Diretrizes Curriculares para os Cursos de Formação de Professores. Brasília: MEC/SESU, 1999.  

_________. Conselho Nacional de Educação. Parecer CEB N. 09/2001. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Brasília, 1998. 

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______. Lei nº 9.394 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 20 de dezembro de 1996: Sobre a Educação Infantil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L9394.htm>. Acesso em 17 de abril de 2012  

______. Resolução CNE/CP Nº 1, de 15 de maio de 2006.  Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação  em  Pedagogia,  licenciatura.  Disponível  em  <  http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf>. Acesso em 7 setembro 2011  

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