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IX EPCT – Encontro de Produção Científica e Tecnológica Campo Mourão, 27 a 31 de Outubro de 2014 ISSN 1981-6480 LINHAS DE CRÉDITO PARA AGRICULTORES FAMILIARES: IMPACTOS NA PERMANÊNCIA NO CAMPO E NA MELHORIA DAS CONDIÇÕES DE VIDA DE PRODUTORES DE QUINTA DO SOL - PR Eliane Marques Sturion, (IC, Fundação Araucária), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected] Cláudia Chies, (OR), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected] RESUMO: Diante da realidade que se apresenta para os agricultores familiares frente ao avanço cada vez mais acentuado do capitalismo no campo, se fazem necessárias pesquisas sobre políticas públicas voltadas a tal setor. Neste sentido, este artigo tem como objetivo analisar as linhas de crédito oferecidas aos agricultores familiares em Quinta do Sol – PR, avaliando se beneficiam na permanência dos mesmos no campo, e se propiciam melhoria nas condições de vida no meio rural. As metodologias utilizadas para a realização da pesquisa foram: levantamento teórico e de dados secundários e/ou estatísticos, realização de entrevistas com representantes dos bancos Sicredi e Banco do Brasil, que gerenciam a oferta local das linhas de crédito voltadas aos pequenos produtores, e representante do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural – Emater do município. Também aplicação de questionários com agricultores. O levantamento realizado permitiu compreender que no município de Quinta do Sol, essas políticas têm contribuído para a permanência do produtor no campo, e para a melhoria das condições de vida no meio rural, embora o número de produtores que se beneficiam dessas políticas seja limitado. Palavras-chave: Políticas públicas. Pronaf. Geração de renda. INTRODUÇÃO Diante do avanço desenfreado do capitalismo no campo e das dificuldades de permanência dos pequenos produtores no meio rural, se fazem necessários estudos sobre políticas públicas voltadas aos agricultores familiares, já que as políticas públicas para o campo brasileiro caminham em descompasso com as reais necessidades dos produtores agrícolas, pois tendem a beneficiar os latifundiários e a monocultura voltada à exportação, ignorando que o campo brasileiro é composto, sobretudo, pela produção familiar. Entendemos que é importante o estudo de políticas públicas para o campo brasileiro, especialmente políticas voltadas à produção familiar, já que as unidades produtivas familiares atendem a interesses sociais, como a produção de alimentos, e desenvolvem práticas de cultivo menos nocivas ao meio ambiente. Além disso, tem um papel muito importante como geradora de emprego e renda no campo. Neste sentido, temos como objetivo apontar as linhas de crédito oferecidas aos agricultores familiares no município de Quinta do Sol – PR, investigando se tais políticas públicas estão gerando melhorias nas condições de vida, e influenciando na permanência dos pequenos produtores no campo. Para a realização da pesquisa utilizamos os seguintes procedimentos metodológicos: levantamento teórico/bibliográfico sobre a temática abordada, para a contextualização de discussões e

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IX EPCT – Encontro de Produção Científica e Tecnológica Campo Mourão, 27 a 31 de Outubro de 2014

ISSN 1981-6480

LINHAS DE CRÉDITO PARA AGRICULTORES FAMILIARES: IMPACTOS NA PERMANÊNCIA NO CAMPO E NA MELHORIA DAS CONDIÇÕES DE VIDA DE

PRODUTORES DE QUINTA DO SOL - PR

Eliane Marques Sturion, (IC, Fundação Araucária), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected]

Cláudia Chies, (OR), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected]

RESUMO: Diante da realidade que se apresenta para os agricultores familiares frente ao avanço cada vez mais acentuado do capitalismo no campo, se fazem necessárias pesquisas sobre políticas públicas voltadas a tal setor. Neste sentido, este artigo tem como objetivo analisar as linhas de crédito oferecidas aos agricultores familiares em Quinta do Sol – PR, avaliando se beneficiam na permanência dos mesmos no campo, e se propiciam melhoria nas condições de vida no meio rural. As metodologias utilizadas para a realização da pesquisa foram: levantamento teórico e de dados secundários e/ou estatísticos, realização de entrevistas com representantes dos bancos Sicredi e Banco do Brasil, que gerenciam a oferta local das linhas de crédito voltadas aos pequenos produtores, e representante do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural – Emater do município. Também aplicação de questionários com agricultores. O levantamento realizado permitiu compreender que no município de Quinta do Sol, essas políticas têm contribuído para a permanência do produtor no campo, e para a melhoria das condições de vida no meio rural, embora o número de produtores que se beneficiam dessas políticas seja limitado. Palavras-chave: Políticas públicas. Pronaf. Geração de renda. INTRODUÇÃO

Diante do avanço desenfreado do capitalismo no campo e das dificuldades de permanência dos

pequenos produtores no meio rural, se fazem necessários estudos sobre políticas públicas voltadas aos

agricultores familiares, já que as políticas públicas para o campo brasileiro caminham em

descompasso com as reais necessidades dos produtores agrícolas, pois tendem a beneficiar os

latifundiários e a monocultura voltada à exportação, ignorando que o campo brasileiro é composto,

sobretudo, pela produção familiar.

Entendemos que é importante o estudo de políticas públicas para o campo brasileiro,

especialmente políticas voltadas à produção familiar, já que as unidades produtivas familiares atendem

a interesses sociais, como a produção de alimentos, e desenvolvem práticas de cultivo menos nocivas

ao meio ambiente. Além disso, tem um papel muito importante como geradora de emprego e renda no

campo.

Neste sentido, temos como objetivo apontar as linhas de crédito oferecidas aos agricultores

familiares no município de Quinta do Sol – PR, investigando se tais políticas públicas estão gerando

melhorias nas condições de vida, e influenciando na permanência dos pequenos produtores no campo.

Para a realização da pesquisa utilizamos os seguintes procedimentos metodológicos:

levantamento teórico/bibliográfico sobre a temática abordada, para a contextualização de discussões e

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reflexões sobre a agricultura familiar, principalmente em relação às políticas públicas voltadas a essa

categoria agrícola; levantamento de dados secundários e estatísticos; elaboração e aplicação de

questionários aos produtores familiares, abrangendo um total de 24 produtores, 10% do total de

agricultores familiares no município. Além disso, foram realizadas entrevistas com representantes dos

bancos: Sicredi e Banco do Brasil, que gerenciam a oferta e disponibilização das linhas de crédito

voltadas aos pequenos produtores no município. Também entrevista com representante do Instituto

Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural – Emater, do município.

AGRICULTURA FAMILIAR: POLITÍCAS PÚBLICAS E LINHAS DE CRÉDITO AO

PEQUENO PRODUTOR

Para iniciarmos as discussões sobre a temática proposta, entendemos a necessidade de

estabelecer uma definição acerca do termo agricultura familiar, que de acordo com Denardi (2001)

possui “duas características principais: eles são administrados pela própria família; e neles a família

trabalha diretamente, com ou sem auxílio de terceiros.”. (DENARDI, 2001, p. 56-57). Ou seja, a

agricultura familiar é uma atividade agropecuária onde a maior parte do trabalho realizado na

propriedade é desenvolvida pelos membros da família.

Na definição da FAO (1994), a agricultura familiar é explicada por três características

centrais: a) gestão da unidade por pessoas que mantêm laços de parentesco e casamento; b) maior

parte do trabalho realizada por membros da família; c) os meios de produção pertencentes à família

(embora nem sempre a terra).

Lamarche (1993, p.15) também define a exploração familiar enfocando a interdependência

entre os fatores propriedade, trabalho e família. “A exploração familiar, tal como a concebemos,

corresponde a uma unidade de produção agrícola onde propriedade e trabalho estão intimamente

ligados à família.”.

A produção familiar está muito presente no campo brasileiro e exerce um papel fundamental

como geradora de emprego e renda, já que é a forma de produção que mais emprega mão de obra no

campo. De acordo com o Censo Agropecuário (2006), das pessoas ocupadas no campo, tem-se um

total de 74,4% na agricultura familiar e 25,6% na agricultura não familiar. Quanto ao pessoal ocupado

em milhões de pessoas, são 12,3 para a agricultura familiar e 4,2 para a agricultura não familiar.

Outro ponto importante que vale ser ressaltado em relação à agricultura familiar, é que esta

representa 84,36% dos estabelecimentos brasileiros, e ocupam uma área de 80,10 milhões de hectares,

compreendendo 24% da área ocupada pelos estabelecimentos agropecuários brasileiros. (CENSO

AGROPECUÁRIO, 2006).

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Compreende-se então que essa forma de produção destaca-se no cenário nacional em relação à

produção e geração de renda, por isso as políticas públicas para o campo brasileiro devem primar pela

produção agrícola em regime familiar, o que não acontece, pois, contraditoriamente, investe-se

principalmente no desenvolvimento do agronegócio. Em geral, de acordo com Denardi (2001, p.57),

isso acontece porque os “agricultores familiares nunca tiveram organização e força a ponto de

influenciar as instituições governamentais que tomam as principais decisões de política agrícola.”.

Dentre as políticas públicas para o campo brasileiro, que são destinadas à agricultura familiar,

destacamos o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar –Pronaf, que é a primeira

política pública voltada aos agricultores familiares. De acordo com o Presidente da Fetaep, Ademir

Mueller:

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) é uma importante ferramenta de apoio ao desenvolvimento rural sustentável à família do campo. Graças a ele a agricultura familiar tem à sua disposição recursos para investir na propriedade, agregar tecnologia, melhorar a renda e planejar suas ações para a construção de um projeto de vida sustentável no meio rural. (FETAEP, 2013, p. 03).

O Pronaf foi instituído, no governo de Fernando Henrique Cardoso, a partir do decreto nº

1946/96, de 28 de junho de 1996, e tem como objetivo “promover o desenvolvimento sustentável do

segmento rural constituído pelos agricultores familiares, de modo a propiciar-lhes o aumento da

capacidade produtiva, a geração de empregos e a melhoria de renda.”. (PRONAF, 1996, p. 01 apud

TOLENTINO, 2012, p.1).

O Pronaf hoje se constitui em um programa de extrema relevância para os produtores

familiares, pois tem sido uma das políticas públicas de mais alcance para este público. Para Saron e

Hespanhol (2012):

A obtenção deste status se deve a paulatina e expressiva ampliação dos recursos destinados ao programa, principalmente a partir do início (e no decorrer) do Governo de Luís Inácio Lula da Silva (2003-2006 e 2007-2010), tendência que persiste no Governo de Dilma Rousseaff (2011-2014). (SARON e HESPANHOL, 2012, p.657).

Sendo assim o Pronaf é uma das políticas públicas que contribuem para a reprodução da

agricultura familiar, proporcionando o aumento da produção, financiando diversas atividades agrícolas

que beneficiam cada categoria de agricultor familiar, e dessa forma constatamos que desde a sua

instituição, o Pronaf tem aumentado a produção e a produtividade, melhorando a qualidade de vida do

produtor no campo e reduzindo o êxodo rural.

QUINTA DO SOL: BREVE CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICO-GEOGRÁFICA E

CARACTERÍSTICAS AGROPECUÁRIAS

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Por volta de 1949, chegaram à região de Quinta do Sol como pioneiros, Pedro Miguel e Pedro

dos Santos com as respectivas famílias, dedicando-se à cultura das terras férteis situados no vale do

Ivaí, onde seria construída a Vila de Quinta do Sol. Com a notícia da fertilidade das terras, a

abundância de madeira de lei e o início da colonização, foram atraídas ao local novas famílias vindas

de diversas regiões do país, em sua maioria portuguesas. Em pouco tempo a região tornou-se famosa

por sua excelente produção de hortelã e rami. (IBGE, 2013).

Com relação ao topônimo supõe-se ter originado como homenagem dos fundadores, ao

povoado de Quinta do Sol, existente em Portugal. Entretanto segundo a tradição popular conta-se que

houve um longo período de sol, o qual apareceu somente numa quinta-feira, dando assim origem ao

nome da Vila em formação. (IBGE, 2013).

Desmembrado do município de Fênix, o município de Quinta do Sol tem sua data de

instalação em 14 de dezembro de 1964. (IPARDES, 2013). O município está situado na Região Centro

Ocidental Paranaense (Mapa 01) e segundo dados do IBGE, localiza-se na latitude 13 º 51 ' 08 '' S e

longitude 52 º 07 ' 47 '' W, tendo área territorial de 326,085 km². (IBGE, 2010 apud IPARDES, 2012).

Mapa 01 – Localização do município de Quinta do Sol.

Fonte: Ipardes, 2008. Org. por: STURION, Eliane Marques

A Figura 01 representa uma imagem do município de Quinta do Sol – PR.

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Figura 01 – Fotografia do município de Quinta do Sol – PR.

Foto: STURION, Eliane Marques, setembro de 2013.

De acordo com o Censo Demográfico a base da economia local está pautada na produção

agropecuária. (IBGE, 2010 apud IPARDES, 2012).

Tendo como base os dados estatísticos do IBGE, referentes ao Censo Agropecuário de 2006,

foi possível organizar algumas tabelas para melhor compreender como está organizada a agricultura

no município.

A tabela 01 apresenta a condição legal do produtor rural, representando o número de

estabelecimentos e o tamanho da área desses estabelecimentos. Por meio destes dados foi possível

analisar que no município de Quinta do Sol, o proprietário individual é maioria, com 330

estabelecimentos, seguidos por 54 estabelecimentos ocupados por condomínio, consórcio ou sociedade

de pessoas.

A tabela 02 apresenta a classificação das atividades agropecuárias desenvolvidas no

município.

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Tabela 01 – Condição legal do produtor rural no município de Quinta do Sol.

Condição legal do produtorNúmero de

estabelecimentos (unidades)

Área dos estabelecimentos

(hectares)

Proprietário individual 330 22.647

Condomínio, consórcio ou sociedade de pessoas

54 7.275

Cooperativa 5 58

Sociedade anônima ou por cotas de responsabilidade limitada

13 3.855

Instituição de utilidade pública - -

Governo (federal, estadual ou municipal)

- -

Outra condição - -

Fonte: IBGE - Censo Agropecuário, 2006 Org.: STURION, Eliane Marques.

Tabela 02 – Atividades agropecuárias desenvolvidas no município de Quinta do Sol.

Atividades EconômicasNúmero de

estabelecimentos (unidades)

Área dos estabelecimentos

(hectares)Lavoura tempóraria 308 25.422Horticultura e floricultura 8 54Lavoura permanente 16 2.881Pecuária e criação de outros animais

68 5.454

Produção florestal de florestas plantadas

1 X

Produção florestal de florestas nativas

1 X

Fonte: IBGE – Censo Agropecuário, 2006 apud Ipardes, 2013 Org.: STURION, Eliane Marques.

Como fica evidenciado na tabela 02, a lavoura temporária com 308 estabelecimentos é

predominante na produção agrícola municipal, sendo que as principais culturas são a soja, o milho, o

feijão e a mandioca. Na sequência destaca-se com 68 estabelecimentos a pecuária e a criação de outros

animais. Já como terceira opção na produção agropecuária municipal, com 16 estabelecimentos,

aparece a lavoura permanente destacando-se a cana-de-açúcar, o café e o eucalipto.

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O PRONAF COMO PRINCIPAL LINHA DE CRÉDITO DISPONÍVEL AOS

AGRICULTORES FAMILIARES NO MUNICÍPIO DE QUINTA DO SOL – PR

Em relação ao município de Quinta do Sol – PR, o Pronaf é a principal linha de crédito na

qual os agricultores familiares têm tido acesso. Vale salientar que o Pronaf possui várias categorias, e

dentre essas categorias, segundo o representante do Banco Sicredi1, as principais linhas de crédito são:

Custeio e Investimento. No Pronaf Custeio, o crédito concedido será para financiar os insumos

necessários para conduzir as atividades agropecuárias (soja, milho, trigo, bovinos e etc.), e os prazos

para o pagamento podem chegar até 2 anos, com taxas de juros que variam de 1,5% a 3,5% ao ano.

Já no Pronaf Investimento o crédito concedido será para financiar máquinas, equipamentos,

infraestrutura, ou todo e qualquer melhoria que venha agregar renda ao produtor. Nesta linha de

crédito o agricultor tem até 10 anos para pagar, sendo que ele pode ter até 3 anos de carência, com

taxas de juros que variam de 1 a 2% ao ano.

Em relação aos benefícios gerados aos agricultores familiares que tem acesso ao crédito, o

mesmo representante do Banco Sicredi, diz que através das linhas de investimento, o produtor pode

colocar em prática um projeto que estava somente no papel, seja através de uma benfeitoria em sua

propriedade, ou ao adquirir um maquinário que irá agregar mais renda em sua atividade; e através das

linhas de custeio, ele pode financiar a compra de insumos para o plantio de sua lavoura, e ainda ter

acesso ao Programa de Garantia da Atividade Agropecuária - Proagro.

O Proagro é um seguro para a lavoura do produtor caso ocorra algum sinistro por questões

climáticas. O representante do Banco do Brasil2 acrescenta que o prazo longo para o pagamento e as

taxas de juros baixas, são mais alguns dos benefícios que os agricultores têm na contratação do

crédito.

Assim como benefícios, compreendemos que os agricultores também se deparam com

problemas gerados a partir desses financiamentos, porém o representante do Banco do Brasil, diz não

haver problemas gerados aos agricultores, enquanto que o representante do Banco Sicredi, diz que o

único problema gerado, é quando “o crédito é aplicado de forma incorreta, desviando os recursos

para outras despesas.”. Sendo assim, “o produtor não terá recurso para saldar sua dívida, gerando

problemas de inadimplência”, mas se o crédito for utilizado de forma correta não irá gerar problemas

aos produtores, completa o representante do Banco Sicredi.

1 Entrevista realizada no dia 30/05/2014 na Agência do Banco Sicredi de Engenheiro Beltrão. As entrevistas foram realizadas nas agências dos bancos de Engenheiro Beltrão, pois são as que atendem aos produtores de Quinta do Sol.

2 Entrevista realizada no dia 29/05/2014 na Agência do Banco do Brasil de Engenheiro Beltrão.

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Em relação à permanência do agricultor no campo, o representante do Banco Sicredi diz que,

com as linhas de crédito, os produtores têm inúmeras possibilidades de gerar renda em sua

propriedade, podendo diversificar as atividades, o que influência na sua permanência no campo. Em

contrapartida, o representante do Banco do Brasil acrescenta que, os filhos dos produtores não estão

dando continuidade no cultivo da área, porém isso não se faz em função do acesso ao crédito, mas sim

em função da pequena propriedade não atender mais as necessidades da família.

Por se tratar de linhas de financiamento, o crédito rural, em partes, como ressalta o

representante do Banco do Brasil, causa dependência, pois se trata de linhas atrativas e com prazos

longos para pagamento. Ambos representantes dos bancos compartilham da ideia de que por se tratar

de pequenos produtores, o crédito rural causa dependência, pois tais agricultores passaram a precisar

mais do governo e das instituições financeiras para conduzirem suas atividades, já que ficaria inviável

e até impossível o produtor investir somente com recursos próprios.

Por meio dos questionários aplicados aos produtores familiares, constatamos que os três

principais cultivos desenvolvidos entre os produtores participantes da pesquisa são: a soja, o milho e a

mandioca (tabela 03). O método de produção agrícola mais utilizado é o plantio direto, embora alguns

produtores optem pelo método convencional (gráfico 01).

Tabela 03 – Cultivos desenvolvidos pelos produtores familiares de Quinta do Sol.

Cultivos:Quantidade de

Produtores% Cultivos:

Quantidade de Produtores

%

Soja 23 95,8 Mandioca 8 33,3

Milho 23 95,8 Café 3 12,5

Trigo 1 4,2 Hortifruti 3 12,5

Feijão 6 25 Gado 4 16,7 Fonte: Pesquisa de campo.

Gráfico 01 – Método de produção agrícola utilizado pelos agricultores familiares.

Fonte: Pesquisa de campo.

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Em relação aos financiamentos, o gráfico 02 mostra que, a maioria dos produtores familiares

participantes da pesquisa, possui financiamento da produção, e eles alegam que o financiamento

influencia na sua permanência no campo, pois gera melhoria em suas condições de vida, e também

consideram o prazo de pagamento prolongado, apesar de a maioria dos produtores dizer que tem

dificuldades na hora de pagar esses financiamentos.

Gráfico 02 – Porcentagem de produtores familiares que possuem financiamento da produção

Fonte: Pesquisa de campo.

Ao perguntar aos produtores se eles participam de algum outro programa ou de alguma outra

política do governo, a maioria diz que não, conforme mostra o gráfico 03. Porém, entre os produtores

que participam de outro programa ou política do governo, 2 produtores participam do Programa de

Aquisição de Alimentos – PAA (Compra Direta da Agricultura Familiar), e os outros 6 produtores

participam do Programa Nacional de Habitação Rural – PNHR, sendo que tal política beneficia um

número restrito de agricultores, e segundo o representante da Emater3 apenas 11 famílias foram

beneficiadas no município de um total de 250 famílias de agricultores familiares.

Em relação ao apoio recebido pelo governo, mais de 50% dos produtores que participaram da

pesquisa, dizem estar satisfeitos (gráfico 04), porém pedem melhoria no preço dos produtos e alegam a

necessidade de se estabelecer um preço mínimo para os produtos.

3 Entrevista realizada no dia 04/02/2014 na Emater de Quinta do Sol.

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Gráfico 03 – Porcentagem de produtores que participam de algum outro programa ou política

do governo Fonte: Pesquisa de campo.

Gráfico 04 – Nível de satisfação de produtores familiares com o apoio recebido pelo governo

Fonte: pesquisa de campo.

Por outro lado, se considerarmos o número de produtores que se dizem insatisfeitos ou pouco

satisfeitos, somam 45,8%, o que denota a necessidade de ações mais efetivas do poder público.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com os levantamentos realizados constatamos que há um número significativo de produtores

que tem se beneficiado com as linhas de crédito para o financiamento da produção familiar em Quinta

do Sol – PR, sendo o Pronaf o programa responsável por tais financiamentos, o que demonstra a

importância do programa no fortalecimento da agricultura familiar.

Verificamos que os produtores familiares que tem tido acesso a tais linhas de crédito, têm

alcançado melhores condições de vida no meio rural, como: aumento da produtividade, acesso à bens

de consumo, melhores condições de moradia, etc., embora vários produtores aleguem que têm

dificuldades para pagar os financiamentos.

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Constatamos também a presença de outras políticas públicas voltadas à produção familiar no

município, como o PAA e PNHR, porém evidenciamos o caráter restritivo desses programas, já que

atingem um número baixo de produtores familiares do município.

Evidenciamos, portanto, a necessidade de políticas públlicas mais efetivas para a produção

familiar, bem como salientamos a necessidades da promoção da participação mais democrática dos

agricultores familiares, no planejamento e gerenciamento das ações governamentais, bem como de um

trabalho mais próximo do poder público local com os agricultores familiares.

REFERÊNCIAS CENSO AGROPECUÁRIO. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2006.

DENARDI, Reni Antônio. Agricultura familiar e políticas públicas: alguns dilemas e desafios para o desenvolvimento rural sustentável, Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável. Porto Alegre, V.2, n.3, jul/set 2001. p. 56-62. Disponível em: <http://www.emater.tche.br/docs/agroeco/revista/ano2_n3/revista_agroecologia_ano2_num3_parte12_artigo.pdf>. Acesso em: Jul. 2010.

FAO/INCRA. Diretrizes de política agrária e desenvolvimento sustentável. Versão resumida do relatório final do projeto UTF/BRA/036. Brasília: FAO, 1994.

FETAEP. Cartilha de Orientação Pronaf: Uma Conquista dos Trabalhadores Rurais. 2013/2014.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Infográficos: histórico. 2013. Disponível em: <http://cod.ibge.gov.br/9CWN>. Acesso em: Jan. 2014.

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INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL – IPARDES. Caderno Estatístico Município de Quinta do Sol. Dezembro de 2012. Disponível em: < http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/cadernos_municipios/quintadosol2012.pdf>. Acesso em: Abr. 2013.

INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL – IPARDES. Regiões geográficas: Estado do Paraná. 2008. Disponível em:<http://www.ipardes.gov.br/pdf/mapas/base_fisica/regioes_geograficas_parana.pdf>. Acesso em: Set. 2013.

LAMARCHE, Hugles. A agricultura familiar. Campinas: UNICAMP, 1993.

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SARON, Flávio de Arruda. HESPANHOL, Antônio Nivaldo. O Pronaf e as políticas de desenvolvimento rural no Brasil: o desafio da (re) construção das políticas públicas de apoio à agricultura familiar. Geo UERJ - Ano 14, nº. 23,v. 2, 2º semestre de 2012 p. 656-683. ISSN: 1415-7543 E-ISSN: 1981-9021.

TOLENTINO, Michell. De qual rural fala o Pronaf? In: ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA, 21, 2012, Uberlândia-MG. Anais ... Uberlândia-MG: 2012. p.01-20. Disponível em: <http://www.lagea.ig.ufu.br/xx1enga/anais_enga_2012/eixos/1131_1.pdf>. Acesso em: Jan. 2014.