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IX ENCONTRO DA ABCP
GT - Ensino e pesquisa em Ciência Política e Relações Internacionais
Os Exames Nacionais de Desempenho do Estudante de 2009 e 2012 para
Relações Internacionais: as limitações de uma análise a partir dos Padrões de
Qualidade para cursos de RI e do Perfil do Egresso
Cláudia Alvarenga Marconi
David Almstadter Mattar de Magalhães
Marilia Carolina B. de Souza
Brasília, DF
04 a 07 de agosto de 2014
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Os Exames Nacionais de Desempenho do Estudante de 2009 e 2012 para
Relações Internacionais: as limitações de uma análise a partir dos Padrões de
Qualidade para cursos de RI e do Perfil do Egresso
Cláudia Alvarenga Marconi – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
David Almstadter Mattar de Magalhães – Universidade Anhembi Morumbi
Marilia Carolina B. de Souza – IEEI-UNESP e Universidade Anhembi Morumbi
Resumo do trabalho: Em 2009 e 2012 realizaram-se as duas e únicas avaliações no
âmbito do Ensino Superior no Brasil envolvendo os Cursos de Graduação em
Relações Internacionais (RI). Trata-se do Exame Nacional de Desempenho de
Estudante (ENADE), que integra o Sistema Nacional de Avaliação do Ensino
Superior (SINAES). Uma análise comparada de ambas as provas, seja em termos de
conteúdos formais exigidos, seja em termos do formato das questões e, por
conseguinte, o tipo de conhecimento que é demandado do estudante, permite-nos
identificar diferenças significativas entre elas e que serão objeto da presente
investigação. Em outras palavras, o presente artigo sustenta que muito embora os
Padrões de Qualidade do Ministério da Educação (MEC) para os Curso de Graduação
em RI, denominados Padreli, mas também o perfil desejado do egresso de RI, também
esmiuçado pelo MEC, mantenham-se os mesmos e sejam os dois grandes
instrumentos de referência para o funcionamento adequado dos cursos de bacharelado
em RI no Brasil, cada uma das duas provas aplicadas pode acabar por indicar para
uma narrativa distinta da área de RI, impactando, diretamente, no processo de ensino-
aprendizagem dos estudantes brasileiros e na gestão cotidiana e estratégica de tais
cursos.
Palavras-chave: ENADE; Avaliação; Relações Internacionais; Perfil do Egresso;
Padrões de Qualidade
1. Introdução
Em 2009 e 2012 realizaram-se as duas e únicas avaliações no âmbito do
Ensino Superior no Brasil envolvendo os Cursos de Graduação em Relações
Internacionais (RI). Trata-se do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes
(ENADE), que integra o Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior
(SINAES). Uma análise comparada de ambas as provas, seja em termos de conteúdos
formais exigidos, seja em termos do formato das questões e, por conseguinte, o tipo
3
de conhecimento que é demandado do estudante, permite-nos identificar diferenças
significativas entre elas.
No entanto, não apenas os Padrões de Qualidade do Ministério da Educação
(MEC) para os Curso de Graduação em RI1, denominados Padreli, mas também o
perfil desejado do egresso de RI, também definido pelo MEC2, mantêm-se os
mesmos. Ambos constituem-se, vale dizer, os dois grandes instrumentos de referência
para o funcionamento adequado dos cursos de bacharelado em RI no Brasil e, nesse
sentido, de consulta daqueles que fazem a gestão cotidiana e estratégica de tais cursos.
As diferenças em termos de conteúdos exigidos e de formato das questões
envolvidas em ambos os ENADEs, e que são percebidas ao compararmos ambos os
exames, propósito primeiro do presente paper, podem, de acordo com o nosso
argumento, conferir certa impermanência no ensino de certos conteúdos não só para
os 4430 concluintes de 20123, por exemplo, como para aqueles que estão em outros
semestres do curso que não apenas os dois últimos, nos noventa e nove4 cursos de RI
do país, bem como impedir o avanço ou continuidade de certas práticas pedagógicas
nas distintas IES.
Este consiste no segundo objetivo, portanto, do presente artigo. Em outras
palavras, sugerir que cada uma das duas provas aplicadas pode acabar por indicar para
uma narrativa distinta da área de RI, impactando, diretamente, no processo de ensino-
aprendizagem dos estudantes brasileiros.
Faz-se importante, nesse ínterim, destacar para os percentuais de questões
objetivas da prova de 2009 em comparação com a de 20125 em termos das principais
linhas de conteúdo em RI: Análise de Política Externa (APE); Teoria de Relações
1 Cf. documento no link: http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/padreli.pdf.
2 Tratam-se, mais especificamente, dos §§ 2º e 3º do Art. 3º e dos Arts. 4º ao 7º da Portaria Inep
(Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) nº133 de 24 de junho de
2009, referente aos conteúdos da ENADE 2009, disponível em
http://download.inep.gov.br/download/enade/2009/Portaria_Diretrizes_2009_Relacoes_Internacionais.
pdf. 3 A partir do ENADE 2012, passou-se a considerar como aluno concluinte aquele com expectativa de
colar grau até o final do primeiro semestre de 2013, isto é, passou-se a considerar alunos de sétimo e
oitavo semestres para os cursos que praticam a semestralidade como concluintes a serem inscritos na
prova. 4 Noventa e nove cursos de RI é a informação que pode ser extraída da tabela da qual constam os
Conceitos Preliminares de Cursos (CPCs) dos cursos de graduação brasileiros envolvidos no ENADE
2012. 5 Da prova, constavam 27 questões objetivas relativas aos Conhecimentos Específicos das RI. Estas
questões objetivas ou testes é que foram analisadas e categorizadas por conteúdos core nela
envolvidos. Vale enfatizar que em algumas questões, há mais de um tipo de conteúdo exigido.
Entretanto, avaliamos aqueles predominantes para fazer a referida categorização.
4
Internacionais (TRI); História das Relações Internacionais; Regimes e Organizações
Internacionais; Política Externa Brasileira (PEB); Integração Regional; Economia
Política Internacional; Segurança Internacional.
Comparando-se as provas de 2009 e 2012, nota-se que o percentual de
questões de APE quase dobrou, compondo 7% das questões da última prova. No que
tange às questões de TRI, estas corresponderam a 22% da prova de 2012,
apresentando ligeira diminuição em relação à participação percentual das questões de
TRI na prova anterior: 4%. As questões relativas aos conteúdos de História das RI
corresponderam a 11% da prova total de 2012, apresentando uma diminuição em
termos percentuais em relação às questões da mesma área em 2009: 11%. Integração
Regional apresentou também uma queda em termos percentuais: 11%.
A diminuição em 4% das questões também acometeu as questões de
Instituições Internacionais, que correspondeu a 11% da prova de 2012. As questões
envolvendo Economia Política Internacional cresceram 4%, representando,
aproximadamente, 15% da prova total de 2012. Finalmente, as questões que
mobilizaram conteúdos de Segurança Internacional cresceram 11%, representando
11% do último ENADE.
Em termos de forma, a distinção entre ambas as provas é também marcante.
Enquanto a prova de 2009 praticamente não ofereceu ao estudante questões
contextualizadas, tal preocupação pareceu clara na prova de 2012, sensivelmente mais
extensa que a primeira. Se as informações e instruções fornecidas de forma mais
acentuada no último ENADE, todavia, eram claras e suficientes para o aluno refletir
acerca da resposta é objeto que ainda merece a devida reflexão. O fato de sete das
vinte e sete questões objetivas terem sido anuladas merece aqui menção, posto que
representam mais de um quarto da prova.
Sabe-se que as instituições não são estáticas e, nessa direção, a presente
investigação supõe que o MEC deva ter refletido sobre as suas práticas avaliativas.
Assim, não se pretende aqui afirmar a priori que as alterações de conteúdo e forma
notadas entre os ENADEs de RI de 2009 e 2012 sejam únicas e particulares à área,
mas sinalizar sim para a insuficiência do Padreli e do perfil do egresso como
instrumentos nos quais se possa buscar referência para uma avaliação formal como o
ENADE e para a gestão mais ampla dos cursos de Graduação no Brasil.
5
2. Sobre o ENADE e o seu papel de articulação dos processos de avaliação dos
cursos e das Instituições de Ensino Superior (IES)
A Lei 10.861, de 14 de abril de 2004, é aquela que institui o denominado
SINAES (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior), supervisionado pelo
CONAES (Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior). Logo no § 11 do
Artigo 5 da referida lei, verifica-se a obrigatoriedade de avaliação trienal dos
discentes dos distintos cursos de graduação como um dos componentes a ser
regulamentado pelo SINAES por meio do ENADE: “A introdução do ENADE, como
um dos procedimentos de avaliação do SINAES, será efetuada gradativamente,
cabendo ao Ministro de Estado da Educação determinar anualmente os cursos de
graduação a cujos estudantes será aplicado” (LEI N. 10.861, online)6.
A Portaria 2.051, datada de 09 de julho do mesmo ano de 2004, e cujo escopo
é regulamentar os procedimentos de avaliação contidos no SINAES, dimensiona as
três principais responsabilidades avaliativas que cabem ao INEP (Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) - avaliar as instituições, avaliar
os cursos e avaliar o desempenho dos estudantes - como atividades intimamente
relacionadas e, desse modo, interdependentes. De acordo com Dantas e Verhine
(2005, pp.13-14), e como aponta a figura abaixo, “[…] a Portaria 2.051 restabeleceu
essa relação, determinando que os resultados do ENADE fizessem parte de um
conjunto de dimensões de avaliação do curso e do processo de auto-avaliação da
instituição”.
Representação Sistemática do SINAES*:
6 A lei manifesta também preocupação em levantar o perfil dos estudantes e utilizar estas informações
na compreensão dos resultados dos alunos na prova. Ver Art. 5 § 4, LEI 10.861, online.
6
*Representação do SINAES, tendo a avaliação institucional como base e o ENADE
como uma das fontes para a avaliação de curso7.
Como indicado na figura acima, todo o processo envolvendo o ENADE, e, de
forma direta, a avaliação de cursos, subsidiará os processos de auto-avaliação da
instituição e de avaliação externa in loco dos cursos de graduação, culminando, assim,
na avaliação mais abrangente das IES.
Vale indicar, nesse sentido, que o ENADE não consiste apenas de uma
avaliação aplicada a um grupo circunscrito de alunos do último ano de sua graduação.
Envolve sim três instrumentos a partir dos quais se pode extrair dados importantes
para a avaliação dos cursos. O primeiro deles é a prova em si, composta de quarenta
questões totais, sendo dez delas de Formação Geral (FG) e trinta envolvendo o
denominado Componente Específico (CE). Das dez de FG, oito são questões objetivas
e duas discursivas. Das trinta correspondentes ao CE, usualmente vinte e sete são
questões objetivas, enquanto três têm o caráter de questão aberta.
Além da prova, tem-se um questionário de percepção da mesma, envolvendo o
grau de dificuldade da prova tanto no componente de FG quanto no que tange ao CE,
a adequação do tempo de prova, a clareza quanto aos enunciados das questões, o quão
suficientes foram as instruções dadas para a resolução das questões, que tipo de
dificuldade o aluno se deparou ao fazer a prova, se o aluno estudou ou não a maior
parte dos conteúdos exigidos nas questões objetivas, e, por fim, quanto tempo o aluno
gastou para fazer a prova.
Um terceiro e último instrumento envolvendo o ENADE é o questionário
socioeconômico, cujo objetivo é traçar um perfil dos alunos concluintes, assim como
reunir a opinião dos estudantes sobre o ambiente acadêmico e o impacto da qualidade
deste mesmo ambiente em sua formação. No último ENADE, datado de 2013, duas
das questões respondidas neste questionário produziam a nota do curso nos
componentes Infraestrutura e Organização Didático-Pedagógica. Sobre o primeiro
componente, tratava-se de uma questão sobre equipamentos e materiais para a
realização de aulas práticas8, enquanto que o segundo componente envolvia uma
questão sobre a disponibilização dos planos de ensino com todos os seus aspectos aos
alunos.
7Figura extraída de DANTAS; VERHINE, 2005, p.14.
8 Para cursos da área de Humanidades, tal pergunta pode, sobretudo pela natureza mais teórica dos
cursos envolvidos nessa grande área, gerar certa confusão para o aluno respondente.
7
Percebe-se, assim, que não só o ENADE se constitui em um processo em
função dos amplos insumos que produz para a avaliação dos cursos de graduação, e
IES, mas também porque compreender a sua composição é um desafio que se
evidencia quando se elencam todas as variáveis necessárias para que, por meio do
ENADE, extraia-se a nota mais importante advinda dele e que reflete, ao menos por
princípio, a qualidade dos cursos de graduação sempre numa escala de 0,0 a 5,0: o
Conceito Preliminar de Curso (CPC).
Tais variáveis são as seguintes:
nota de professores em função da titulação de doutor (Dout);
nota de professores com regime de dedicação integral ou parcial
(Integ_parc);
nota da infraestrutura (Infra);
nota da organização didático-pedagógica (Pedag);
nota dos concluintes na prova ENADE;
indicador de diferença de desempenho (IDD).
Na tabela abaixo, extraída da Nota Técnica do INEP/MEC, fica claro como se
dá tecnicamente o cálculo do supracitado IDD, que é função das características de
infraestrutura e instalações físicas do curso, dos recursos didático-pedagógicos
disponibilizados pelo curso e das características do corpo docente, seja em termos de
titulação quanto de dedicação ao curso, todos denominados insumos.
Conceitualmente, o IDD se define como
[...] uma estimativa de “valor adicionado”, ou seja, de quanto o
curso contribuiu para o desenvolvimento das habilidades
acadêmicas, das competências profissionais e do conhecimento
específico do aluno, levando-se em consideração o perfil do
estudante que ingressa no curso (INEP/MEC – NOTA TÉCNICA
DO CÁLCULO DO CPC DE CURSOS DE GRADUAÇÃO,
online, p.1).
O modelo e peso de cada insumo no cálculo do IDD pode ser sintetizado tal
como demonstrado na tabela abaixo (INEP/MEC – NOTA TÉCNICA DO
CÁLCULO DO CPC DE CURSOS DE GRADUAÇÃO, online, p.4):
8
O CPC é, por seu turno, e de forma simplificada, “[…] um indicador sintético
que pondera os resultados do Enade, IDD e insumos” (INEP/MEC – NOTA
TÉCNICA DO CÁLCULO DO CPC DE CURSOS DE GRADUAÇÃO, online, p.5) e
no qual o IDD e os insumos têm peso 0,30, somando 0,60, e a nota dos concluintes na
prova ENADE tem peso 0,40, totalizando 1,00.
A tabela abaixo expõe os pesos, respectivamente, da nota do IDD (NIDD), da
nota dos concluintes (NC), da nota dos professores mestres (NPM), da nota dos
professores doutores (NPD), da nota de regime de regime de dedicação integral ou
parcial (NPR), da nota referente à infraestrutura (NF) e da nota referente à
organização didático-pedagógica (NO) na composição do CPC de 2011 em diante
(INEP/ MEC – NOTA TÉCNICA N. 029, 2012, online).
É necessário frisar que o objetivo de nossa reflexão no presente paper acerca do
papel do ENADE no que diz respeito à área de RI se limitará à NC nas provas
ENADE de 2009 e 20129, não se atendo, portanto, aos outros componentes aqui
descritos. Uma análise, todavia, completa do papel avaliativo do ENADE enquanto
9 De 2011 em diante, o cálculo tanto do IDD quanto do CPC passou a fazer uso do resultado do
desempenho dos ingressantes a partir do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), estando tais
alunos dispensados de realizarem o ENADE. Desse modo, em 2009, os ingressantes dos cursos de RI
daquele ano foram inscritos e realizaram a prova, enquanto na prova de 2012, os ingressantes
obtiveram dispensa de participar do exame.
9
processo para a área de RI, exigiria dos autores um esforço na direção de
compreender os resultados em termos de CPC das distintas IES que ofertam o curso,
tal como se expôs acima, e não apenas da variável “nota dos concluintes na prova
ENADE”.
3. Sobre a prova ENADE e a área de RI: a expectativa de alinhamento com o
Padreli e o perfil desejado do egresso de RI
Os denominados “Padrões de Qualidade para o curso de Relações
Internacionais” (PADRELI)10
, desenvolvidos a partir do MEC, cumprem papel
fundamental de indicar para os requisitos fundamentais para o funcionamento da
graduação em RI na ausência de Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para a
área. Estruturado em três eixos, o documento propõe-se a sistematizar os quatro
requisitos obrigatórios para o pleno funcionamento de cursos de RI no Brasil.
O primeiro deles diz respeito à formação do corpo docente e do coordenador
devem, necessariamente, conectar-se às RI11
. O segundo diz respeito à qualificação
docente, considerando a titulação formal e as atividades acadêmicas empreendidas
pelos docentes. O quarto requisito envolve as questões de instalações e infraestrutura
em geral. O terceiro requisito do PADRELI e que interessa especialmente ao presente
artigo intitula-se “O projeto acadêmico-pedagógico”. Neste, prevê-se um conjunto de
disciplinas para cada item abaixo, perfazendo determinada quantidade de horas.
Sendo assim, têm-se:
Disciplinas específicas da área de RI: formam o corpo central do curso e cobre as
principais matrizes teóricas que caracterizam a área específica das Relações
Internacionais, estabelecendo que “[...] os conceitos e as categorias empregadas
nesse campo de estudo são ministradas, devem perfazer um mínimo de 480
horas/aula” (PADRELI, online). Disciplina introdutória ao estudo das RI,
disciplinas cujo cerne sejam as questões teóricas de RI, disciplina de História e
Análise da PEB, disciplina de História de RI e disciplinas de análise de
instituições internacionais são nesse item elencadas.
10
Cf. documento no link: http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/padreli.pdf. 11
Tal preocupação fica claramente expressa em MIYAMOTO, 2003, online, quando levanta a seguinte
questão: “[…] seria possível imaginar um curso de Economia cujo corpo docente contasse apenas ou
majoritariamente com advogados, sociólogos e historiadores? Critérios semelhantes devem, portanto,
ser utilizados para as RI”.
10
Disciplinas de suporte e diretamente correlatas de caráter obrigatório para a área
de Relações Internacionais: são as disciplinas de suporte e de formação básica,
envolvendo disciplinas das áreas de Humanas, Ciências Sociais e Exatas, já que
“Devem tratar das áreas no âmbito das quais os fenômenos internacionais se
manifestam e perfazer cerca de 1.200 horas-aula” (PADRELI, online). Disciplinas
introdutórias à Ciência Política, à Sociologia, à História, ao Direito, disciplinas de
Economia Brasileira, disciplina envolvendo as relações econômicas
internacionais, disciplina de Direito Internacional, disciplina envolvendo a prática
de idiomas, disciplina de metodologia qualitativa e de também quantitativa estão
elencadas no rol de disciplinas ditas de suporte.
Disciplinas voltadas para a orientação profissional do curso de Relações
Internacionais: são as disciplinas de suporte e complementares à formação no
campo das Relações Internacionais. Tais disciplinas refletem o perfil vocacional
particular de cada IES e podem, portanto, variar de curso a curso.
Tendo isso sido exposto, as questões específicas de RI selecionadas para
compor o ENADE deveriam perfazer tanto os conteúdos envolvidos nas disciplinas
específicas da área de RI quanto os conteúdos mobilizados nas disciplinas de suporte
e diretamente correlatas, uma vez que as disciplinas voltadas para a orientação
profissional podem oscilar em função das especificidades dos cursos de RI. Vale
ainda dizer que ainda que se aponte para certas disciplinas, o PADRELI não
especifica os seus conteúdos, muito menos as metodologias de ensino envolvidas na
construção desses conteúdos.
Para além do PADRELI, os denominados gestores de curso, ou seja, os
coordenadores de graduação, também contam como referência legal para pensarem os
seus Projetos Pedagógicos de Curso (PPCs), o perfil desejado do egresso de RI
traçado pelo INEP. O art. 7 da Portaria Inep Nº133, de 24 de junho de 2009, elenca os
seguintes conteúdos como aqueles que perfarão o primeiro ENADE da área de RI12
:
A prova do Enade 2009, no componente específico da área de
Relações Internacionais, tomará como referencial os seguintes
conteúdos:
a) Formação Teórica: teorias clássicas e contemporâneas das
Relações Internacionais; Economia Política Internacional.
12
2009 foi, na realidade, o ano em que a área de RI foi pela primeira vez avaliada por uma prova do
MEC, já que enquanto vigorou o denominado “Provão”, os cursos de RI não foram nele envolvidos.
11
b) Formação Geral: Regimes Internacionais; Organizações
Internacionais; Análise de Política Externa; Política Externa
Brasileira; Integração Regional; Segurança Internacional; Comércio
e Finanças Internacionais; Cooperação Internacional; Direitos
Humanos; Meio Ambiente.
c) Formação Histórica: História das Relações Internacionais;
História das Relações Internacionais do Brasil.
Percebe-se uma ligeira diferença entre os conteúdos disciplinares envolvidos
no PADRELI e os conteúdos tomados como referenciais para a prova de 2009. Tal
distinção diz respeito a uma maior especificação deste último instrumento em relação
ao primeiro, bem como a itenização de conteúdos específicos que não constavam, ao
menos não de forma explícita, no PADRELI.
3.1. A dimensão dos conteúdos relativos ao Conhecimento Específico (CE)
dos ENADES de RI de 2009 e 2012
Tal como explicitado na introdução do presente artigo, crê-se importante
destacar os percentuais de questões do CE da prova de 2009 em comparação com a de
201213
em termos das principais linhas de conteúdo em RI: Análise de Política
Externa (APE); Teoria de Relações Internacionais (TRI); História das Relações
Internacionais; Regimes e Organizações Internacionais; Política Externa Brasileira
(PEB); Integração Regional; Economia Política Internacional; Segurança
Internacional.
Comparando-se as provas de 2009 e 2012, nota-se que o percentual de
questões de APE quase dobrou, compondo 7% das questões da última prova. No que
tange às questões de TRI, estas corresponderam a 22% da prova de 2012,
apresentando ligeira diminuição em relação à participação percentual das questões de
TRI na prova anterior: 4%. As questões relativas aos conteúdos de História das RI
corresponderam a 11% da prova total de 2012, apresentando uma diminuição em
termos percentuais em relação às questões da mesma área em 2009: 11%. Integração
Regional apresentou também uma queda em termos percentuais: 11%.
A diminuição em 4% das questões também acometeu as questões de
Instituições Internacionais, que correspondeu a 11% da prova de 2012. As questões
envolvendo Economia Política Internacional cresceram 4%, representando,
13
Da prova, constavam 27 questões objetivas relativas aos Conhecimentos Específicos das RI. Estas
questões objetivas ou testes é que foram analisadas e categorizadas por conteúdos core nela
envolvidos. Vale enfatizar que em algumas questões, há mais de um tipo de conteúdo exigido.
Entretanto, avaliamos aqueles predominantes para fazer a referida categorização.
12
aproximadamente, 15% da prova total de 2012. Finalmente, as questões que
mobilizaram conteúdos de Segurança Internacional cresceram 11%, representando
11% do último ENADE.
Em linhas gerais, a pioneira avaliação ENADE de 2009, sob a perspectiva da
distribuição de seus conteúdos, mostrou os desafios que espelham a própria área: uma
abrangência ímpar de conteúdos exigidos por parte dos estudantes. Os resultados
desta prova não foram satisfatórios quando se observam as estatísticas nacionais.
Entretanto, não se pode concluir que tais resultados revelavam de forma geral uma má
qualidade dos cursos de graduação, mas sim que o que se era esperado dos estudantes,
não estava sendo praticado por ao menos 47,1% das instituições avaliadas, que
obtiveram conceitos 2 e 1 no ENADE (CESA, 2012).
Ao se analisar o Gráfico (I) abaixo, elaborado a partir da análise das 27
questões objetivas de CE, percebe-se, entre outros aspectos que (a) as subáreas de
Teoria das Relações Internacionais e História das Relações Internacionais
preponderaram sobre as demais, totalizando cerca de 41% do total; (b) prevaleceram
os conteúdos tradicionais e clássicos das relações internacionais; e, por fim, (c)
estiveram quase ausentes questões que envolvessem a pluralidade dos atores
internacionais, seja na participação quanto à formulação de política externa, seja nas
questões de segurança internacional, entre outros.
(I) ENADE 2009: Distribuição de Conteúdos*
*Gráfico elaborado pelos autores a partir da análise da prova ENADE 2009.
4%
26%
11%
15%
15%
22%
7%
Análise de PolíticaExterna
Teoria das RIs
Economia PolíticaInternacional
Regimes e Ois
Integração Regional
História das RIs
Política Externa Brasileira
13
Os conteúdos abordados na avaliação de 2009, ao priorizarem temas relativos
à Teoria e História de Relações Internacionais revelaram um destaque aos temas
originários da área, e, na sequência, priorizaram os temas que envolvem PEB e
Regimes e Organizações Internacionais.
Observa-se que os conteúdos não foram distribuídos de forma equilibrada
entre as áreas e que, ao priorizar os temas tradicionais das RI, acabaram por excluir
temas que envolvessem, por exemplo, os ditos novos atores na condução dos
processos de negociações internacionais, de formulação de política externa, ou até
mesmo na definição de novas ameaças em segurança internacional.
Os cursos, distribuídos entre as diferentes regiões do país tiveram dificuldades
ao se depararem com uma prova que priorizou alguns conteúdos e excluiu outros.
Ademais, temas que envolvem economia, políticas comerciais, teoria e ciência
política foram igualmente excluídos.
A avaliação ENADE de 2012 quanto à distribuição de conteúdos, apresentou
41% do total distribuído entre Teoria das RIs, História das RIs e Política Externa
Brasileira, representando os conteúdos mais tradicionais e clássicos da área. A
novidade desta avaliação foi que Economia Política Internacional e Regimes e
Organizações Internacionais concentraram 26% do total da prova, e a inovação foi a
ênfase em conteúdos de Análise de Política Externa e Segurança Internacional,
perfazendo 18% do total da prova.
É possível inferir, a partir da análise dos dados, que a avaliação contou com
uma distribuição mais equilibrada e plural dos conteúdos, sobretudo por abarcar
questões que envolviam os novos atores, ou atores privados, no que concerne ao
processo de análise da política externa e às discussões sobre a agenda de segurança
internacional. O gráfico abaixo demonstra a distribuição desses conteúdos, ainda que
não revele as nuances quanto ao modo como esses conteúdos foram exigidos.
14
(II) ENADE 2012: Distribuição de Conteúdos*
*Gráfico elaborado pelos autores a partir da análise da prova ENADE 2012.
Dessa forma, ao se tornar mais abrangente, possibilitou um melhor
desempenho aos diversos currículos existentes no país, mesmo diante da ausência da
Diretriz Curricular Nacional.
3.2. A dimensão da forma com que o Conhecimento Específico (CE) foi
exigido nos ENADES de RI de 2009 e 2012
Distintamente do PADRELI, instrumento legal que sequer menciona as
metodologias de ensino envolvidas na construção dos conteúdos elencados como
fundamentais para um aluno de RI, a Portaria Inep Nº133 ao estabelecer as seguintes
competências e habilidades como aquelas que se espera do egresso da graduação em
RI, pode ser entendida como um instrumento legal que avança nessa direção:
a) Dominar a norma culta da língua portuguesa nas modalidades oral e escrita;
b) Conhecer e dominar as principais ferramentas teóricas e técnicas da área de
relações internacionais que possibilite o profissional planejar ações, analisar
cenários e os seus impactos, bem como angariar subsídios para uma tomada de
decisão em matérias internacionais acertada;
c) Dominar as distintas abordagens e perspectivas teóricas das RI;
11%
7%
15%
19% 4%
22%
11%
11%
Regimes e OIs
Análise de Política Externa
Economia PoliticaInternacionalPolitica Externa Brasileira
Integração Regional
Teoria das RIs
Historia das Ris
Segurança Internacional
15
d) Desenvolver, prospectar cenários e avaliar impactos de transformações da
conjuntura internacional em cenários estratégicos de curto, médio e longo
prazos a partir dos conhecimentos específicos da área de RI;
e) Gerir processos na área internacional de forma ética.
Desse modo, o presente artigo entende que uma prova como a do ENADE a
fim de pretender avaliar competências e habilidades dos egressos de RI, deve,
minimamente, ter as suas questões concebidas e estruturadas justamente no sentido de
verificá-las. Analisando as distintas provas ENADE, inclusive de outras áreas, é
possível extrair tipologias ou categorias específicas a partir do que cada questão exige
do aluno em termos de habilidades e competências ao se depararem com a questão,
quais sejam:14
(I) Questões Interpretativas COM Conhecimento prévio; (II) Questões
Interpretativas SEM Conhecimento prévio; (III) Teóricas; e, por fim, (IV) Lógicas
(MALLET; SANTOS, 2011, online).
Observando, assim, a prova de 2009, encontra-se a seguinte distribuição das
questões em termos das tipologias supracitadas, permitindo-nos analisar a
acessibilidade dos estudantes quanto à compreensão das questões e possibilidades de
acerto:
(III) ENADE 2009: Tipologia das Questões *
14
Os autores deste artigo tiveram contato com tais tipologias quando estiveram a frente do Curso de
Relações Internacionais da Universidade Anhembi Morumbi quando do ENADE 2012. Uma das
autoras, Cláudia A. Marconi participou, ao lado das profas. Ms. Luciana Santos e Dra, Débora Mallet
da Comissão Permanente para o ENADE da referida IES, oportunidade em que tais questões foram
discutidas e tipologias esclarecidas por MALLET; SANTOS.
37%
4%
48%
11% Interp. COMConhecimento Prévio
Interp. SEMConhecimento Prévio
Teóricas
Interp.COMConhecimentoPrévio+Teóricas
16
*Gráfico elaborado pelos autores a partir da análise da prova ENADE 2009.
Foram analisados os 27 testes de CE que compuseram a prova. Compreendem-
se pelas questões teóricas, que corresponderam a 48%, questões sem textos-base ou
contextualização, ou seja, são questões exigem que o aluno identifique o conceito-
chave e eleja a alternativa correta, a partir de conhecimento prévio.
Em seguida, a prova apresentou 37% de questões Interpretativas com
Conhecimento Prévio, ou seja, questões com textos-base e contextualização, que
exigem interpretação dos textos e sua relação com o enunciado, para então, eleger a
alternativa correta.
Por fim, as questões Interpretativas sem Conhecimento Prévio e questões
“mistas” Interpretativas com conhecimento prévio e Teóricas corresponderam a 15%
do total.
Observa-se, portanto, que a maioria das questões foram baseadas na
habilidade do estudante de decorar os conteúdos para poderem resolver o item, pois
não foram fornecidos textos-base com contextualização. Tal fato dificultou o bom
desempenho dos estudantes na prova, sobretudo pela abrangência e amplitude de
conteúdos.
Com o objetivo de comparar as duas avaliações, se faz necessário analisar a
avaliação ENADE de 2012, em sua distribuição questões em função das tipologias
(gráfico IV), novamente analisando-se as vinte e sete questões objetivas de CE:
(IV) ENADE 2012: Tipologia das Questões
85%
15%
Interp. COMConhecimento Prévio
Lógica
17
É interessante observar a partir dos dados analisados que a grande maioria das
questões ENADE 2012 foram, segundo a metodologia proposta por Mallet e Santos
(online), “Interpretativas COM Conhecimento Prévio”, ou seja, foram questões que
contavam com textos-base e contextualização, para então, o aluno mobilizar seu
conhecimento prévio e eleger a alternativa correta.
Tal fato evidencia que houve mais subsídios na prova para que o estudante
pudesse classificar a subárea, mobilizar o aprendizado obtido através de estudos
convencionais, mas também em debates em sala de aula e atividades extraclasse, o
que propiciou um melhor desempenho nas questões objetivas.
Houve também 15% de questões “Lógicas”, aquelas em que o estudante
precisa reconhecer relações de causa e consequência entre sentenças, o que faz com
que ele reflita não apenas sobre a veracidade das mesmas, mas também sobre suas
relações causais e/ou implicações sobre o meio em que está inserida.
De toda forma, vale destacar que, em comparação com a avaliação de 2009,
houve uma diminuição drástica nas questões puramente “Teóricas”, pois mesmo nas
questões que exigiam conteúdos que envolvessem conhecimento teórico, havia textos-
base, de forma contextualizada, que permitiu ao estudante estabelecer conexões e, por
este motivo, aumentavam as suas chances de eleger a alternativa correta.
Finalmente, a avaliação de 2012 mostrou-se mais ampla e mais consonante
com as diversas frentes que a área de relações internacionais pode explorar, muito
embora tenha refletido algumas dificuldades inerentes à ausência DCNs, pois muitos
cursos prepararam seus estudantes a partir da avaliação de 2009 e a avaliação de 2012
mostrou-se muito distinta, tanto em sua distribuição de conteúdo, quanto no formato
de suas questões, o que impossibilita extrair um mínimo denominador comum entre
ambas avaliações.
3.3 Da Percepção dos futuros egressos em relação às provas ENADE de 2009
e 2012
Tal como indicado no item dois do presente artigo, foi solicitado aos
estudantes, ao final da prova, que respondessem a um questionário intitulado
“Percepção da prova”. Nele os alunos registram suas opiniões a respeito do exame a
partir de um questionário composto por nove perguntas, abarcando tanto os
componentes gerais quanto os específicos da prova.
18
Muito embora estejamos lidando com dois grupos diferentes de estudantes
que realizaram a prova – um em 2009 e outro em 2012 -, o registro de percepção
discente pode sinalizar para uma menor ou maior aderência dos distintos PPCs de
cursos em atividade no Brasil em relação ao exame.
Das nove perguntas do questionário, sete diziam respeito direta ou
indiretamente ao CE da prova. As questões versaram principalmente sobre tópicos
como a dificuldade, extensão e clareza da prova. Vale destacar que o ENADE 2009
traz o registro da percepção tanto dos ingressantes quanto dos concluintes. Já o
questionário do ENADE 2012 registra apenas as percepções dos alunos concluintes,
uma vez que os ingressantes foram dispensados.
Por razões metodológicas, portanto, os dados e gráficos que seguem dizem
respeito somente à percepção dos alunos concluintes registradas a partir das respostas
às sete questões sobre o conteúdo específico do exame.
Para melhor entendimento da percepção discente nesses dois exames, foram
escolhidos os dados totais do Brasil, Sudeste e de cinco cursos de referência na
consolidação da área de RI no Brasil: UnB, PUC-RJ, PUC-SP, PUC-MG e UFRGS.
Além disso, tais instituições também apresentaram elevado CPC em ambos os
ENADEs.
Quando perguntados sobre o nível de dificuldade das questões específicas,
tanto em âmbito nacional quanto regional, não houve maiores alterações entre os dois
exames. Em 2009, em todo o Brasil, 57,6% dos estudantes declararam que a prova
tinha um nível médio de dificuldade contra 59,3% registrados em 2012.
Uma oscilação semelhante pode ser observada nos alunos que consideraram a
prova difícil: 27,1% em 2009 versus 24,9% em 2012. Os dados referentes à região
Sudeste seguem, portanto, os mesmos padrões nacionais.15
15
Faz-se válido destacar que o presente trabalho não reúne subsídios suficientes para adentrar as
realidades institucionais das IES apresentadas, oferecendo interpretações para eventuais diferenças de
percepção entre 2009 e 2012. Os dados nos auxiliam, entretanto, a pensar em que medida os cursos de
Relações Internacionais das IES envolvidas no ENADE acompanham as tendências observadas
regional e nacionalmente.
19
Fonte: INEP
Em relação à duração da prova, o ENADE 2012 foi considerado pelos
concluintes ligeiramente mais longo e trabalhoso que o de 2009. Os alunos que
declararam ser a prova "muito longa" correspondem a 7,8% em 2009 e 15,8% em
2012. Em 2009, 13,4% dos alunos consideraram a prova "longa"; em 2012 o número
saltou para 23,8%. A mesma tendência pode ser observada regionalmente.
Nota-se, também, alterações muito pequenas, em níveis nacionais, na
percepção dos alunos quanto à suficiência das informações para a resolução das
questões. Essa alteração é um pouco maior na região: o estudantes no Sudeste
consideraram as questões da prova de 2012 com mais informações/instruções do que
a de 2009: respectivamente 35,3% e 40,1%.
Quando perguntados sobre as dificuldades enfrentadas na prova, há uma
sensível alteração na percepção em nível nacional. 17,2% dos alunos declararam
desconhecer mais o conteúdo da prova de 2009. Em 2012 esse número cai para
12,8%. Tal distinção pode ser reflexo, de um lado, da maior distribuição de conteúdos
da prova de 2012, e, de outro lado, do fato de prova de 2012 privilegiar questões
contextualizadas.
A mesma alteração se observa na região Sudeste - 17,6% para 11,8% -,
região, vale dizer, com alta concentração de IES privadas e que, muitas vezes, acabam
privilegiando em sua grade curricular disciplinas que conferem certa especificidade à
formação do egresso e atendem a certas demandas de mercado, impactando, por
exemplo, na carga horária de disciplinas dedicadas a conteúdos mais tradicionais de
RI. Dessa forma, o menor desconhecimento dos conteúdos por parte dos futuros
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
2009 2012 2009 2012 2009 2012 2009 2012 2009 2012 2009 2012 2009 2012
BRASIL REGIÃO UNB PUC-MG PUC-SP PUC-RJ UFRGS
Qual é o grau de dificuldade desta prova na parte de Componente Específico?
Muito fácil Fácil Médio Difícil Muito difícil
20
egressos da região Sudeste em 2012 é um bom indicativo de que a prova se tornou
mais sensível à realidade educacional da maior parte dos estudantes brasileiros de RI.
Em termos numéricos, a região Sudeste compreende cinquenta e três IES,
sendo oito de caráter público contra quarenta e cinco instituições privadas. Enquanto
as oito publicas correspondem a 286 alunos concluintes participantes da prova, as
outras quarenta e cinco perfazem 2037 estudantes concluintes, o que representa quase
88% dos estudantes da região16
.
Em relação à clareza e objetividade das perguntas, em nível nacional e
regional, observa-se uma grande correspondência entre as provas de 2009 e 2012:
Fonte: INEP
Também observa-se alterações muitos sensíveis, em níveis nacionais, na
percepção dos acadêmicos no que concerne à suficiência das informações para a
resolução das questões. Essa alteração é um pouco maior na região Sudeste: mais
alunos consideraram as questões da prova de 2012 com maior grau de detalhamento
de informações que a prova aplicada em 2009 (35,3% e 40,4%, respectivamente),
ainda que justamente por problemas de clareza a última prova tenha tido sete das
vinte e sete questões teste de CE anuladas.
Quando perguntados sobre as dificuldades enfrentadas na prova, há uma
sensível alteração na percepção em nível nacional. Os acadêmicos declaram
desconhecer um pouco mais o conteúdo do primeiro exame que o do segundo: 17,2%,
16
A região Sudeste compreende mais da metade dos cursos de RI participantes da prova de 2012: 53 de
100 cursos totais.
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
2009 2012 2009 2012 2009 2012 2009 2012 2009 2012 2009 2012 26,20% 25%
BRASIL REGIÃO UNB PUC-MG PUC-SP PUC-RJ UFRGS
Os enunciados da questões da Prova Específica estavam claros e objetivos?
Sim, a maioria Apenas cerca da metade Poucos Não, nenhum
21
em 2009, para 12,8% em 2012 . A mesma alteração se observa na região sudeste:
17,6% para 11,8%17
.
Fonte: INEP
No tópico referente ao conteúdo estudado, há também uma percepção
compartilhada por parte dos alunos nas duas provas. Os que declaram ter estudado
todos ou muito dos conteúdos chega a quase 75% das respostas (75,6% em 2009 e
74,6% em 2012), ainda que isso não se reflita em desempenho elevado na mesma
proporção dos estudantes na prova. Em âmbito regional, também observa-se que três
quartos dos alunos declararam ter estudado todos ou muitos dos conteúdos cobrados
na prova.
4. Considerações finais
A proposta do presente artigo se cumpre na medida em que foram mapeadas
as provas ENADE de 2009 e 2012 no CE em termos de conteúdo e de tipologia das
questões, tendo sido observado mudanças significativas em ambos os aspectos. Ainda
que a avaliação de 2012 tenha apresentada uma distribuição mais equilibrada dos
17
Como alternativas a esta pergunta, o aluno dispunha das seguintes: Desconhecimento do conteúdo;
Forma diferente de abordagem do conteúdo; Espaço insuficiente para responder às questões; Não tive
qualquer tipo de dificuldade para responder à prova; Falta de motivação para fazer a prova.
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
2009 2012 2009 2012 2009 2012 2009 2012 2009 2012 2009 2012 26,20% 25%
BRASIL REGIÃO UNB PUC-MG PUC-SP PUC-RJ UFRGS
Você se deparou com alguma dificuldade ao responder a prova. Qual?
Desconhecimento do conteúdo
Forma diferente de abordagem do conteúdo
Espaço insuficiente para responder às questões
Falta de motivação para fazer a prova
Não tive qualquer tipo de dificuldade para responder à prova
22
conteúdos específicos, a distinção mais notória pode ser percebida no desenho das
questões e do formato da prova como um todo.
Há, desse modo, um diagnóstico por parte do presente artigo de uma tendência
de mudança de um eixo quase que estritamente clássico das RI, observado com
clareza na prova de 2009, para um eixo um tanto mais plural e que compreenda a área
de RI como uma área em permanente construção.
Quanto à mudança de forma, evidenciada na distribuição dos ENADEs em
função das tipologias de questões, há um salto qualitativo importante, haja vista que o
perfil do egresso encontra nesse formato de prova maios aderência. Todavia, tanto
questões teste interpretativas quanto lógico-causais exigem amplo preparo por parte
do examinador. Em outras palavras, um treinamento adequado por parte dos
elaboradores do exame parece ser condição necessária para que a relação entre texto-
base, enunciado e alternativas se consume, dando reais subsídios e condições para que
o conhecimento prévio do aluno seja efetivamente mobilizado.
Por mais avanços, portanto, que o ENADE 2012 apresente nesse quesito com
relação ao de 2009, ainda há desafios a serem levados a cabo no sentido de tal
avaliação cumprir o seu papel de mensurar, com transparência e objetividade, a
qualidade dos cem cursos de Graduação em RI no Brasil envolvidos no último
ENADE.
Os dados quanto à percepção dos futuros egressos quanto às avaliações por
eles realizadas em 2009 e 2012 são, sem dúvida, instrumentos valiosos no
entendimento do papel cumprido pela IES, curso e seu próprio ao longo dos anos de
formação acadêmica, além de servir de insumo para que o INEP/MEC obtenha o
diagnóstico de uma área jovem, mas que cresceu expressivamente dos anos 2000 em
diante, e trace estratégias para o seu melhor desenvolvimento futuro.
Todavia, os mesmos dados apontam para certa linearidade na percepção do
estudante face a duas avalições bastante díspares entre si: a de 2009 e 2012. Nota-se
apenas ligeiras oscilações na percepção dos alunos das IES selecionadas no presente
paper, das IES da região Sudeste e, finalmente, do conjunto de alunos do Brasil ao
reagirem às perguntas envolvidas no questionário de percepção da prova. Tais
semelhanças podem evidenciar que a relevância e singularidade dos ENADEs servem
mais de subsídio para os gestores dos cursos de bacharelado na área do que para os
próprios concluintes envolvidos trienalmente na avaliação.
23
Uma avaliação que produza mais aproximações em termos de percepção, seja
de conteúdo, seja de forma, por parte dos corpos diretivo, docente e discente das IES
parece condição fundamental para o avanço da área, sobretudo diante da ausência de
parâmetros legais para a definição dos conteúdos e estratégias de ensino-
aprendizagem que trabalhem na direção do perfil do egresso.
O Padreli e as habilidades e competências exigidas dos egressos por parte do
MEC, mantendo-se inalterados, mostraram-se insuficientes para a interpretação
coerente das duas únicas avaliações externas produzidas e aplicadas a alunos
concluintes da área de RI no Brasil.
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