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IX ENCONTRO DA ABCP AT: Instituições Políticas O ESTUDO DE INSTITUIÇÕES POLÍTICAS NA CIÊNCIA POLÍTICA BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DA PRODUÇÃO ACADÊMICA (1966-2013) Lilian Oliveira – IESP/UERJ Brasília, DF 04 a 07 de agosto de 2014

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IX ENCONTRO DA ABCP

AT: Instituições Políticas

O ESTUDO DE INSTITUIÇÕES POLÍTICAS NA CIÊNCIA POLÍTICA

BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DA PRODUÇÃO ACADÊMICA (1966-2013)

Lilian Oliveira – IESP/UERJ

Brasília, DF 04 a 07 de agosto de 2014

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O ESTUDO DE INSTITUIÇÕES POLÍTICAS NA CIÊNCIA POLÍTICA BRASILEIRA:

UMA ANÁLISE DA PRODUÇÃO ACADÊMICA (1966-2013)

Lilian Oliveira – IESP/UERJ Resumo:No Brasil, os estudos sobre as instituições políticas passaram a constituir umaárea temática da ciência política na década de 1990. Com a retomada do regime democrático e o novo desenho institucional implantado, os cientistas políticos brasileiros voltaram a atenção para o estudo desse desenho e para os seus impactos nos resultados políticos. A despeito desta importância, não existem muitos trabalhos que analisam o estudo das instituições na ciência política brasileira. A intenção deste trabalho é dimensionar a presença desses estudos na produção acadêmica da disciplina. O artigo será guiado por uma série de questões: Qual a proporção dos trabalhos sobre instituições políticas na produção acadêmica da disciplina? Como estes trabalhos distribuem-se no tempo? Quais instituições políticas predominam nos estudos? Quais tipos de pesquisa guiam esses trabalhos equais métodos de coleta e análise de dados são empregados? Qual é o escopo da análise das pesquisas? Para responder estas questões, serão analisados os artigos publicados pelos cientistas políticos brasileiros em cinco dos principais periódicos acadêmicos do país – BPSR, Dados, Novos Estudos, Opinião Pública e RBCS– entre os anos de 1966 e 2013. Palavras-chave:Ciência Política Brasileira, Produção Acadêmica, Instituições Políticas

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Introdução

A década de 1980 marca o período no qual os estudos sobre as instituições políticas

voltaram à cena nas pesquisas em ciência política, sobretudo nos Estados Unidos.

Como reação aomovimento behavioralista que predominou na disciplina nos anos

1960 e 1970, os institucionalistas se empenharam em trazer para o centro da análise

política a importância das instituições, argumentando que a organização política não

resulta apenas do comportamento dos indivíduos, mas também de seu arranjo

institucional.

No Brasil, embora já fossem estudadas anteriormente, as instituições políticas

passaram a constituir umaárea de estudos da ciência política em meados da década

de 1990. Estimulados pela retomada democrática no final dos anos 1980 e pelas

novas configurações institucionais surgidas a partir daí, um expressivo número de

cientistas políticos voltou-se para o estudo do desenho institucional adotado e para os

seus impactos nos resultados políticos. Além disso, há que ressaltar outro elemento

impulsionador dessa onda de estudos: a necessidade de responder às análises

pessimistas sobre o cenário político do país feitas por estudiosos brasileiros e

estrangeiros, que apontavam para a falência da engenharia institucional aqui adotada.

O objetivo deste artigo é apresentar os resultados de uma análise exploratória dos

estudos sobre instituições políticas na ciência política brasileira.1 Para tanto, foram

analisados os trabalhos sobre a área temática publicados em cinco das mais

importantes revistas de ciências sociais do Brasil: BrazilianPolitical Science Review

(BPSR), Dados, Novos Estudos, Opinião Pública eRevista Brasileira de Ciências

Sociais (RBCS), entre os anos de 1966 e 2013. Qual a proporção da área de

instituições políticas sobre o total da produção da disciplina, como esses estudos

distribuem-se no tempo,quais instituições são privilegiadas nos estudos, quais

métodos de coleta e análise de dados são utilizados, qual o escopo analisado e quais

regiões do mundo são estudadas nas abordagens comparadas são algumas das

questões que este trabalho busca responder.

O artigo está organizado em três seções. A primeira faz uma breve apresentação dos

estudos sobre instituições políticas na ciência política.A segunda seção apresenta e

discute os resultados encontrados.Por fim, a terceira seção enumera as conclusões do

trabalho e aponta perspectivas para futuras pesquisas.

1Este artigo foi produzido no âmbito da pesquisa “A Produção e o Ensino da Ciência Política no Brasil: Uma Análise dos Artigos Publicados nas Revistas Acadêmicas e dos Currículos dos Programas de Pós-Graduação (1966-2013)”, financiada com recursos do CNPq.

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1. A ciência política e o estudo das instituições políticas

O estudo das instituições políticas acompanha a trajetória da ciência política. Nos

Estados Unidos, país onde nasceu como disciplina acadêmica institucionalizadaentre

o final do século XIX e o início do século XX, bem como em quase todos os países nos

quais se desenvolveu, a sua autonomização se deu pelo seu descolamento das

disciplinas do campo jurídico. Essatradição legal de estudos acreditava serem as

regras formais o motor dos fenômenos políticos, o que influenciou fortemente o

trabalho das primeiras gerações de cientistas políticos. A atenção voltava-se para o

estudo do modo como as normas constitucionais regulavam a organização da vida

política, sobretudo no que diz respeito à distribuição de poder entre os ocupantes dos

cargos públicos. Essa fase inicial foi marcadapor um vasto número de estudos sobre

as instituições políticas americanas, que ficaram conhecidos sob o rótulo de

institucionalismo(ou “velho institucionalismo”, como foi posteriormente denominado)

(Easton, 1985).

No entanto, a despeito do grande volume deestudos realizados, a ciência política

ainda carecia de uma sistematização teórica e metodológica do conhecimento

produzido. Isso porque nas primeiras décadas de existência a disciplina ainda estava

sob a influência da tradição de análise jurídica e histórica. Foi com a ascensão do

behavioralismo, em meados do século XX, que a disciplina experimentou a construção

de um arcabouço teórico-metodológico.Fortemente influenciada pelos pressupostos

ontológicos e epistemológicos das ciências naturais, essa vertente teórica buscou

elevar a ciência política ao status de disciplina científica, com a adoção de métodos de

coleta e análise de dados que permitissem aos seus praticantes fornecer explicações

para os fenômenos políticos.A passagem para a segunda metade do século XX e os

eventos que se seguiram (o fim da II Grande Guerra e seus desdobramentos, como a

Guerra Fria e a Guerra do Vietnã; o florescimento dos movimentos sociais de massa,

como o de mulheres, negros e estudantes; a ruptura democrática e a ascensão de

governos ditatoriais em diversas regiões do mundo, para citar alguns) contribuíram

para o surgimento desse movimento teórico que buscava dar conta de explicar esses

fenômenos por intermédio da análise do comportamento político dos indivíduos, e não

sob as lentesdas regras formais (Berndtson, 1975; Berndtson, 1997; Easton, 1985).

Também em outros países a disciplina passava por mudanças. A influência exercida

pelo estrutural-funcionalismo, mais especificamente pelo marxismo, sobretudo na

Europae na América Latina, fez com que a reação da ciência política aos eventos do

pós-Guerra também fosse voltar o olhar para os indivíduos e a sociedade. As

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instituições políticas eram vistas com desconfiança, já que representavam os

“instrumentos de dominação da classe dominante”(Berndtson, 2012; Del Monte, 2009).

As instituições políticas voltariam ao centro do debate no mainstream da ciência

política em meados dos anos 1980.Essa retomada pode ser atribuída ao esforço de

alguns cientistas políticosem recuperar sua importância analítica e empírica. Tanto

porque uma nova onda de democratização se iniciava em várias partes do mundo,

quanto porqueprocessos de reestruturação dos Estados estavam ocorrendo nas

democracias consolidadas, era premente entender se o desenho institucional adotado

poderia afetar os resultados políticos e em caso positivo, de que maneira (Hall &

Taylor, 1996; March& Olsen, 2006). Só que agora os praticantes do novo

institucionalismo contavam com o espólio deixado pelo movimento behavioralista,

sobretudo no que diz respeito à sistematização metodológica, o que tornava mais

robustos os estudos institucionais, ao contrário do que ocorria no velho

institucionalismo.

Desde então, a centralidade das instituições para os resultados políticos ganhou força

na ciência política, sobretudo nos Estados Unidos.Ao analisar a produção da ciência

política norte-americana, Pierson (2007) chama atenção para o fato de que os

pesquisadores da área de política americana estão fortemente concentrados nos

estudos das instituições políticas, principalmenteo Congresso e a Presidência. Para a

política comparada, Munck e Snyder (2007) analisaram os principais periódicos da

área e verificaram que ali também as instituições democráticas são temas

privilegiados, predominando em metade dos artigos.

O desenvolvimento dessa área de estudos trouxe importantes contribuições para o

entendimento do funcionamento e dos efeitos das instituições políticas. Uma

expressiva parte da literatura voltou o foco de análise para os efeitos que as

instituições políticas (sistema de governo, sistema eleitoral, sistema de organização do

Estado, sistema partidário, entre outras) exercem sobre o desenvolvimento econômico

e, mais ainda, sobre a manutenção ou a ruptura da democracia. De um modo geral, o

que se busca é atribuir efeitos causais às instituições. No entanto, existe um fator

limitador: instituições políticas são endógenas. Isso significa dizer que suas

características e seu funcionamento estão assentados sobre as condições nas quais

elas surgem, o que impossibilita identificar se os efeitos devem-se às instituições ou à

conjuntura na qual se originaram.Em face desse caráter endógeno, alguns estudiosos

desviaram a atenção dos efeitos das instituições para se debruçar sobre outras

questões, como as relações existentes entre as instituições, quais instituições de fato

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importam, e, sobretudo, por que certas instituições existem em determinados

contextos e não em outros. Essa última questão envolve os estudos sobre as escolhas

institucionais, ou ainda, sobre a origem ou a mudança institucional, que visa criar

novas possibilidades para a teoria institucional (Przeworski, 2004).

E quanto à ciência política brasileira, o que pode ser dito sobre o estudo das

instituições políticas? Embora estivesse presente, desde as décadas iniciais, na

produção da disciplina, foi a partir de meados da década de 1990 que se tornou uma

área consolidada. Estimulados pela retomada democrática e pelo desenho institucional

aqui adotado, um expressivo contingente de cientistas políticos voltou-se para o

estudo das instituições políticas. Atualmenteé a área temática com maior participação

nas pesquisas da disciplina. Os principais atributos dessa produção serão expostos na

próxima seção.

2. Resultados e discussão

Nos 45 anos cobertos pela pesquisa2, os trabalhos publicados nas cinco revistas e que

se enquadram nos critérios de seleção correspondem ao total de 858 artigos3.O

Gráfico 1 apresenta como esses artigos estão distribuídos entre as grandes áreas

temáticas. Considerando o total da produção no período analisado, pode-se dizer que

a ciência política brasileira dedicou-se basicamente ao estudo de seis grandes áreas:

instituições políticas, teoria e história do pensamento político, atores políticos,

comportamento político, políticas públicas e eleições. As demais áreas são residuais,

aparecendo em menos de 5% dos trabalhos: relações internacionais, estrutura social e

outros4. Note-se que o estudo das instituições políticas predomina na produção da

ciência política brasileira, ocupando cerca de 1/4 dos trabalhos.

2Os anos de 1974 e 1975 não estão na análise porque não foram publicados números da revista Dados nesse intervalo. 3Os critérios de seleção dos artigos e de organização do banco de dados, bem como a lista de variáveis, estão descritos no Anexo 1. 4As relações internacionais têm pouca participação nas revistas analisadas. Isso pode ser explicado pelo fato de os pesquisadores da área buscarem periódicos especializados em RI para a publicação dos seus trabalhos. Quanto aos estudos sobre estrutura social, mesmo não sendo uma área canônica na disciplina, eles aparecem com alguma frequência, sobretudo nos trabalhos cujos autores são ligados ao CEM/CEBRAP. No que diz respeito à categoria “outros”, aqui estão reunidos os trabalhos cujos temas não se enquadravam nas áreas temáticas já estabelecidas, tampouco apareciam em quantidade suficiente para justificar a inclusão de uma nova classificação.

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Gráfico 1: Artigos por Área Temática (%)

N = 858

Em relação aos veículos de divulgação dos artigos sobre instituições políticas,

considerando-se o total de 212 trabalhos sobre essa área temática, 70% deles foram

publicados nas revistas Dados e RBCS. Essas são as revistas mais antigas e, de uma

maneira geral, publicaram um maior número de artigos em quase todas as áreas

temáticas. No entanto, quando se analisa a produção de cada periódico, tem-se um

padrão diferente. O Gráfico 2 apresenta como os trabalhos sobre instituições estão

distribuídos na produção de cada uma das cinco publicações analisadas5. Se levada

em consideração a produção de cada periódico, o protagonismo fica entre as revistas

Dados e BPSR, seguidas de perto pela Novos Estudos. Quanto à RBCS, mesmo

publicando um expressivo número de artigos, as instituições políticas equivalem a

menos de 1/4 do total de sua produção. Por fim, a revista Opinião Pública, mesmo

sendo uma publicação voltada quase exclusivamente para a disciplina, é a que possui

o menor percentual de artigos dessa área temática. Talvez isso possa ser explicado

pelo fato de que o periódico é vinculado a um centro de pesquisa sobre opinião

pública, eleições e comportamento político, privilegiando outras áreas da ciência

política que não a de instituições.

5Aqui o total de 100% refere-se ao número de artigos publicados em cada revista.

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Gráfico 2: Instituições Políticas por Revista

N = Dados:360; BPSR: 57; Novos Estudos

Antes de apresentar os resultados para a parte substantiva da produção,

algumas características dos autores d

autores são, em sua ma

brasileiros que trabalham no país (90%).

autores dos trabalhos:USP

possuem os mais antigos

pode explicar a sua predominância

produção da disciplina. Além da concentração entre os

também uma concentraçãogeográfica

outras regiões, cerca de 80% dos autores dos trabalhos da área pertencem a

departamentos localizados em estados da

6Aqui foram agrupados os autores que pertenciam ao antigo IUPERJ e os que pertencem ao atual IESP.

Gráfico 2: Instituições Políticas por Revista (%)

57; Novos Estudos: 103; RBCS: 189; Opinião Pública:

Antes de apresentar os resultados para a parte substantiva da produção,

dos autores dos artigos sobre instituições políticas

, em sua maioria, do sexo masculino (70%), professores (75%)

brasileiros que trabalham no país (90%).Quatro departamentos concentram

USP, IUPERJ/IESP, UFMG e UNB.6Esses departamentos

possuem os mais antigos programas de pós-graduação em ciência política, o que

sua predominância não apenas nessa área temática, mas no total da

Além da concentração entre os departamentos,

çãogeográfica. Adespeito da expansão da ciência política em

cerca de 80% dos autores dos trabalhos da área pertencem a

departamentos localizados em estados da Região Sudeste do país.

Aqui foram agrupados os autores que pertenciam ao antigo IUPERJ e os que pertencem ao

8

: 149

Antes de apresentar os resultados para a parte substantiva da produção, vale observar

instituições políticas. Esses

do sexo masculino (70%), professores (75%) e

concentram 50% dos

sses departamentos

graduação em ciência política, o que

não apenas nessa área temática, mas no total da

departamentos, nota-se

to da expansão da ciência política em

cerca de 80% dos autores dos trabalhos da área pertencem a

Aqui foram agrupados os autores que pertenciam ao antigo IUPERJ e os que pertencem ao

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***

Passando agora para as características da produção, em primeiro lugar cabe mostrar

como os estudos sobre as instituições políticas distribuíram-se ao longo do tempo. O

Gráfico 3 apresenta como os artigos estão distribuídos entre as seis principais áreas

temáticas no período analisado7. Note-se que, embora tenha sido uma área de

estudos importante para a disciplina desde meados da década de 1970, a

predominância da área de instituições entre os principais temas estudados pelos

cientistas políticos inicia-se a partir da segunda metade da década de 1990.

Gráfico 3: Artigos por Área Temática e por Período (%)

N = 740

É possível constatar uma inversão de protagonismo entre as duas áreas temáticas que

predominaram na trajetória da disciplina, quais sejam, os atores e as instituições

políticas. Nas décadas de 1970 e 1980, eram os sindicatos, os movimentos sociais, os

empresários, as elites e os militares que estavam no radar de interesse dos cientistas

políticos. A partir da década de 1990, com a retomada do regime democrático, é o

desenho institucional adotado no país que se torna o temamais recorrente nas

pesquisas.

Cabe agora verificar quais instituições importam para a ciência política brasileira. O

Gráfico4apresenta a distribuição dos artigos pelo tipo de instituição estudada.No geral,

existe uma forte concentração em duas subáreas:os estudos sobre o legislativo – bem

7Os artigos estãoagregados em períodos de cinco anos, com exceção dos três primeiros segmentos e do último, que agregam quatro anos. Os Gráficos 5, 6, 7 e 8 estão agregados da mesma maneira.

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como sua relação com o executivo – e os estudos sobre os partidos políticos e os

sistemas partidários correspondema quase 50% do total de artigos sobre instituições

políticas. O restante da produção está distribuído entre as demais subáreas:

federalismo, judiciário, democracia, executivo, presidencialismo, sistema eleitoral,

ruptura e transição de regime e constituição.

Gráfico 4: Tipos de Instituições Políticas (%)

N = 212

Uma análise mais detida do modo como cada tipo de instituição se distribui no tempo

mostra que esse quadro geral mudou bastante no período analisado. O Gráfico 5

apresenta como se dá essa distribuição. Pode-se perceber que a recorrência de

algumas instituições políticas nos estudos muda consideravelmente no decorrer do

período. Nas décadas iniciais, havia uma menor variabilidade nos tipos de instituições

presentes nos artigos. Nessa fase, concomitante ao período de maior recrudescimento

do Regime Militar, são os estudos sobre ruptura e transição de regime político que

apresentam maior participação.Mas também se pode perceber, em menor medida, a

presença de outras subáreas, como os partidos políticos, o executivo, o legislativo, e o

federalismo.

Na década de 1980, marcada pelo período de abertura do Regime Militar, os estudos

sobre as instituições tornam-se mais presentes. Mas aqui, são os partidos e a

transição de regime político os privilegiados. Isso porque, com o avanço do processo

de abertura, novas agremiações partidárias surgem. Além disso, com as novas

perspectivas democráticas que se avizinhavam, era premente analisar o modelo de

democracia a ser adotado.O processo de redemocratização possibilita uma abertura

do leque temático da disciplina e a partir da década de 1990 novas instituições entram

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no radar de interesse dos cientistas políticos. Nos primeiros anos desse período, eram

os estudos sobre transição de regime e democracia que predominavam na produção

da área. No entanto, nas décadas seguintes,observa-se um forte declínio no número

desses trabalhos.Com a estabilidade democrática, o desenho institucional adotado e o

livre funcionamento das instituiçõescolaboram para a incorporação de novas subáreas

nas análises.

Gráfico 5: Tipos de Instituições Políticas por Período (%)

N = 212

Como ilustrado pelo Gráfico 5, em menor medida aparecem os artigos sobre a

constituição, o judiciário, o federalismo e o sistema eleitoral. Segue uma breve

descrição de alguns temas recorrentes na produção de cada subárea. Os estudos

constitucionais voltam-se, entre outras coisas, para a análise da elaboração, do

conteúdo e das consequências da Carta de 1988, bem como para as posteriores

propostas de reforma do texto constitucional. Próximos a essa subárea estão os

estudos sobre o judiciário, que se dedicaram, entre outros aspectos,para a análise

tanto daexpressiva participação de juristas no processo de elaboração da Carta

Magna, quanto do papel proativo que alguns de seus membros, principalmente

representantes do STF e do Ministério Público, passaram a ter na política brasileira a

partir de meados da década de 2000. Tal relevância pode ser percebida pelo aumento

do número de artigos dessa subárea nos últimos anos.

Quanto aos trabalhos sobre o federalismo, subárea que também mantém proximidade

com os estudos sobre a constituição, destacam-se as análises sobre as relações entre

o governo central e as subunidades da federação, onde se destaca um duplo

movimento de centralização e descentralização, e a distribuição de recursos entre os

entes federados, para citar alguns. Os estudos sobre o sistema eleitoral, voltam-se,

entre outros temas, para as características do conjunto de regras adotado para a

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regulação do processo eleitoral e as inúmeras possibilidades de reformá-lo, bem como

para os impactos que essas regras têm sobre a representação política e o

funcionamento de outras instituições, como o legislativo e os partidos políticos.

Os estudos sobre o executivo e a presidêncianão apresentaramuma participação

expressiva na produção recente da área.Esses estudos voltaram-se, em grande parte,

paratemas como as características do presidencialismo brasileiro, a formação de

gabinetes e coalizões de governo, os poderesconstitucionais do presidente, para citar

alguns. Por outro lado, são minoritários os trabalhos sobre o executivoe seu

funcionamento, bem como as análises sobre a burocracia.

Os partidos políticos talvez constituam a mais antiga subárea entre as pesquisas sobre

instituições políticas. Recorrente desde as décadas iniciais da disciplina, experimentou

o seu auge na segunda metade da década de 1980, quando chegou a ocupar cerca de

60% dos temas presentes na produção. O processo de abertura democrática e o

surgimento de novas agremiações partidárias podem ter contribuído para essa

proeminência. No entanto, a partir dos anos 1990, passou a ocupar uma posição

minoritária, que se estendeu até o final da década seguinte. Os estudos da subárea

voltaram-se,em grande medida, para a análise das características do sistema

multipartidário brasileiro.

Talvez essa posição minoritária dos trabalhos sobre os partidos políticos possa estar

relacionada com a estratégia de classificação adotada neste artigo. Os trabalhos sobre

o tema foram assim classificados quando o tema principal tratava exclusivamente dos

partidos políticos: trajetória, organização, desempenho eleitoral, entre outros. Os

trabalhos que tratavam do comportamento dos partidos na arena parlamentar foram

classificados no âmbito dos estudos legislativos. Essa subárea experimentou um

expressivo aumento a partir de meados da década de 1990, pois, além das regras que

regulam o funcionamento das casas parlamentares, o comportamento dos deputados

e senadores ganhou reconhecida importância nas análises, levando-se em conta,

sobretudo, a disciplina e a coesão partidária. Assim, o foco de estudos voltou para a

atuação dos partidos na arena parlamentar, muito mais que na arena eleitoral ou

organizacional. Sendo assim, os trabalhos sobre os partidos políticos podem estar

subdimensionados. Para uma próxima etapa da pesquisa, vale apurar os critérios de

classificação desses trabalhos, incluindo na subárea de partidos políticos a atuação

partidária na arena parlamentar.

Por fim, vale mencionar outra característica importante dos estudos legislativos,

quesão as análises sobre a suarelação com o poder executivo. Destacam-se,

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sobretudo, três vertentes de análises: a existência de uma relação conflituosa,onde o

presidente impõe sua agenda política a um Legislativo inativo e desorganizado; a

existência de uma paralisia decisória, uma vez que o Executivo não consegue

cumprirsua agenda, dada a impossibilidade de negociar com um Legislativo composto

por partidosfragilizados e indisciplinados; e, por último, a existência de

umpresidencialismo de coalizão, no qual o Executivo constrói uma coalizão com os

partidos da base ebusca aprovar sua agenda no Legislativo.

***

Resta agora apresentar os instrumentos de análise utilizados nos estudos sobre

instituições políticas. Quanto às orientações das pesquisas, elas foram classificadas

em duas categorias: empíricas e histórico-descritivas. As pesquisas empíricas

caracterizam-se por utilizar explicitamente métodos de coleta e análise de dados,

sejam eles qualitativos ou quantitativos. Já as histórico-descritivas agrupam os artigos

cujo objetivo é descrever eventos e organizações, mas que não utilizam métodos de

coleta e análise de dados.Entre os artigos que analisam as instituições, 79% possuem

orientação empírica de pesquisa.O Gráfico 6 apresenta como os artigos distribuíram-

se segundo o tipo de pesquisa ao longo do período.

Gráfico 6: Instituições Políticas por Tipos de Pesquisa (%)

N = 212

Pode-se perceber que houve uma sensível mudança no tipo de pesquisa realizada na

área de instituições políticas. Nas décadas iniciais, as pesquisas histórico-descritivas

orientavamem grande medida os trabalhos, ao passo que a partir da década de 1990

são as pesquisas empíricas que passam a prevalecer. Essa mudança nas orientações

metodológicas dos trabalhos acompanha um processo mais amplo ocorrido na ciência

política brasileira, o que pode estarrelacionadoao processo mesmo de

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amadurecimento da disciplina

disciplina consolidada se define também pela escolha dos métodos de coleta e de

análise de dados com os quais esses temas serão estudados.

também outro fator importante para essa mudança n

a abertura democrática, tornam

inacessíveis.

Os métodos de coleta de dados utilizados no

estão representados no Gráfico 7.

coleta de dados os documentos e os dados oficiais.

lei, portarias, normas regimentais, relatórios de votações nominais, dados biográficos

sobre congressistas, boletins e circulares internos,

disponibilizados pelo TSE e pelos TRE’s

por excelência dos pesquisadores da área. Em menor medida, aparecem

secundárias (dados analisados por terceiros)

documentos não oficiais

técnicas de survey, cuja recorrência é maior nos estudos sobre os partidos políticos.

Gráfico 7: Instituições Políticas por Métodos de Coleta de Dados (%)

N = 167

Os instrumentos utilizados

As ferramentas de análise mais recorrentes nas pesquisas empíricas são os métodos

estatísticos. Em menor escala aparecem as tipologias, as análises de conteúdo e os

modelos formais. As estatísticas descritivas simples, como o cálculo de frequências e

8O período 70-73 não está incluído no gráfico porque não foram publicados artigos com orientação empírica nesse intervalo de anos.apresentados os métodos de análise dos dados.

amadurecimento da disciplina.Além da escolha dos seus objetos de estudo, uma

disciplina consolidada se define também pela escolha dos métodos de coleta e de

análise de dados com os quais esses temas serão estudados. Há que se considerar

outro fator importante para essa mudança no tipo de trabalho realizado: com

a abertura democrática, tornam-se disponíveis documentos e dados antes

Os métodos de coleta de dados utilizados nos estudos sobre as instituições políticas

estão representados no Gráfico 7.8 Esses trabalhos têm como principais métodos de

coleta de dados os documentos e os dados oficiais. Texto da constituição, projetos de

lei, portarias, normas regimentais, relatórios de votações nominais, dados biográficos

sobre congressistas, boletins e circulares internos, resultados eleitorais

disponibilizados pelo TSE e pelos TRE’s, entre outros, tornaram-se as fontes de dados

ncia dos pesquisadores da área. Em menor medida, aparecem

secundárias (dados analisados por terceiros), os meios de comunica

e as entrevistas. Vale menção ao aumento do uso das

técnicas de survey, cuja recorrência é maior nos estudos sobre os partidos políticos.

Gráfico 7: Instituições Políticas por Métodos de Coleta de Dados (%)

Os instrumentos utilizados para a análise dos dados estão representados no Gráfico 8.

As ferramentas de análise mais recorrentes nas pesquisas empíricas são os métodos

estatísticos. Em menor escala aparecem as tipologias, as análises de conteúdo e os

os formais. As estatísticas descritivas simples, como o cálculo de frequências e

73 não está incluído no gráfico porque não foram publicados artigos com írica nesse intervalo de anos. O mesmo acontece no Gráfico 8, onde estão

apresentados os métodos de análise dos dados.

14

lém da escolha dos seus objetos de estudo, uma

disciplina consolidada se define também pela escolha dos métodos de coleta e de

á que se considerar

o tipo de trabalho realizado: com

se disponíveis documentos e dados antes

s estudos sobre as instituições políticas

êm como principais métodos de

Texto da constituição, projetos de

lei, portarias, normas regimentais, relatórios de votações nominais, dados biográficos

resultados eleitorais

se as fontes de dados

ncia dos pesquisadores da área. Em menor medida, aparecem as fontes

os meios de comunicação, os

o aumento do uso das

técnicas de survey, cuja recorrência é maior nos estudos sobre os partidos políticos.

Gráfico 7: Instituições Políticas por Métodos de Coleta de Dados (%)

para a análise dos dados estão representados no Gráfico 8.

As ferramentas de análise mais recorrentes nas pesquisas empíricas são os métodos

estatísticos. Em menor escala aparecem as tipologias, as análises de conteúdo e os

os formais. As estatísticas descritivas simples, como o cálculo de frequências e

73 não está incluído no gráfico porque não foram publicados artigos com tece no Gráfico 8, onde estão

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porcentagens, são as mais recorrentes em todo o período analisado.

se o crescimento do uso de outros métodos estatísticos, sobretudo a partir dos anos

2000. As estatísticas descritivas mais avançadas (cálculo de índices,

média e coeficiente de correlação

pelastécnicas de regressão. Vale

disciplina, a área de instituições políticaspossui o maior

de regressão.

Gráfico 8: Instituições Políticas

N = 167

Esses resultados acompanham as características gerais da produção da ciência

política brasileira, que se mostra, hoje, fortemente concentrada nos métodos

quantitativos, sendo quase inexpressiva a utilização dos métodos qualitativos. Esse

panorama também seaproxima

estrangeiros. O aumento e a quase exclusividade do uso de métodos quantitativos na

ciência política também foi identificado em outros países, sobretudo nos Estados

Unidos (Barth et al, 2003; Brady

Por fim, cabe apresentar o escopo presente nas análises e as unidades estudadas. A

produção da área de instituições políticas está fortemente concentrada no escopo

doméstico: 82% das pesquisas empíricas estudam, exclusivamente,

brasileira. Esses estudos domésticos privilegiam, em 72% dos

das instituições em âmbito nacional, ao passo que

grupos e as organizações aparecem em menor proporção

porcentagens, são as mais recorrentes em todo o período analisado. No entanto, nota

se o crescimento do uso de outros métodos estatísticos, sobretudo a partir dos anos

s estatísticas descritivas mais avançadas (cálculo de índices, escalas

coeficiente de correlação) aparecem na segunda posiç

técnicas de regressão. Vale mencionar que, de todas as áreas temáticas da

nstituições políticaspossui o maior percentual do uso das análises

Gráfico 8: Instituições Políticas por Métodos de Análise de Dados (%)

acompanham as características gerais da produção da ciência

, que se mostra, hoje, fortemente concentrada nos métodos

quantitativos, sendo quase inexpressiva a utilização dos métodos qualitativos. Esse

panorama também seaproxima da avaliação sobre a disciplina feita por estudiosos

estrangeiros. O aumento e a quase exclusividade do uso de métodos quantitativos na

ciência política também foi identificado em outros países, sobretudo nos Estados

, 2003; Bradyet al, 2006; Pierson, 2007; Riba, 1996).

Por fim, cabe apresentar o escopo presente nas análises e as unidades estudadas. A

produção da área de instituições políticas está fortemente concentrada no escopo

doméstico: 82% das pesquisas empíricas estudam, exclusivamente,

brasileira. Esses estudos domésticos privilegiam, em 72% dos casos

das instituições em âmbito nacional, ao passo que as subunidades da federação, os

organizações aparecem em menor proporção.

15

No entanto, nota-

se o crescimento do uso de outros métodos estatísticos, sobretudo a partir dos anos

escalas, teste de

aparecem na segunda posição, seguidas

, de todas as áreas temáticas da

percentual do uso das análises

Métodos de Análise de Dados (%)

acompanham as características gerais da produção da ciência

, que se mostra, hoje, fortemente concentrada nos métodos

quantitativos, sendo quase inexpressiva a utilização dos métodos qualitativos. Esse

iação sobre a disciplina feita por estudiosos

estrangeiros. O aumento e a quase exclusividade do uso de métodos quantitativos na

ciência política também foi identificado em outros países, sobretudo nos Estados

).

Por fim, cabe apresentar o escopo presente nas análises e as unidades estudadas. A

produção da área de instituições políticas está fortemente concentrada no escopo

doméstico: 82% das pesquisas empíricas estudam, exclusivamente, a política

casos, a abordagem

as subunidades da federação, os

Page 16: IX ENCONTRO DA ABCP AT: Instituições Políticas · Resumo:No Brasil, os estudos sobre as instituições políticas passaram a constituir umaárea temática da ciência política

Quanto à abordagem comparada,

as instituições políticas.9 A

regime democrático e os sistemas eleitorais. As regiões analisadas nesses estudos

estão representadas no Gráfico 9

seguida pela Europa e a América do Norte

e Oceania.

Gráfico 9: Instituições Políticas

N = 30

4. Conclusão

O objetivo deste artigo foi

política brasileira, por intermédio da sua produção acadêmica. Para tanto, as unidades

de análise foram os artigospublicados pelos cientistas políticos brasileiros em cinco

das principais revistas de ciências sociais do país: BPSR, Dados, Novos Estudos,

Opinião Pública e RBCS. A pesquisa cobriu o período de 1966 a 2013, sendo

classificados 212 artigoscujo tema principal eram as instituições políticas. Qual a

proporção da área de instituições políti

como esses estudos distribuem

estudos, quais métodos de coleta

analisado e quais regiões do mundo são estudad

foram algumas das questões que este trabalho busc

9No entanto, os estudos sobre as instituições políticas correspondem a 43% do total de artigos comparados na produção da ciência política brasileira. 10O total é superior a 100% po11Esses resultados aproximamcomparada na ciência política. Para Brasil, ver Amorim Neto (2010)

Quanto à abordagem comparada,sua presença ainda éminoritárianos estudos sobre

As subáreas privilegiadas nos estudos são o legislativo, o

regime democrático e os sistemas eleitorais. As regiões analisadas nesses estudos

estão representadas no Gráfico 910.A América Latina é a região mais analisada,

e a América do Norte11. Em menor escala, aparecem Ásia, África

: Instituições Políticas por Escopo Comparado e Regiõe

O objetivo deste artigo foi analisar os estudos sobre instituições políticas na ciência

política brasileira, por intermédio da sua produção acadêmica. Para tanto, as unidades

de análise foram os artigospublicados pelos cientistas políticos brasileiros em cinco

de ciências sociais do país: BPSR, Dados, Novos Estudos,

Opinião Pública e RBCS. A pesquisa cobriu o período de 1966 a 2013, sendo

classificados 212 artigoscujo tema principal eram as instituições políticas. Qual a

proporção da área de instituições políticas sobre o total da produção da disciplina,

como esses estudos distribuem-se no tempo,quais instituições são privilegiadas nos

métodos de coleta e análise de dados são utilizados, qual o escopo

quais regiões do mundo são estudadas nas abordagens comparad

algumas das questões que este trabalho buscou responder.

No entanto, os estudos sobre as instituições políticas correspondem a 43% do total de artigos comparados na produção da ciência política brasileira.

O total é superior a 100% porque um artigo pode analisar mais de uma região.Esses resultados aproximam-se das características mais gerais da área de política

comparada na ciência política. Para os Estados Unidos, verMunck&Snyder (2007)Brasil, ver Amorim Neto (2010).

16

os estudos sobre

s nos estudos são o legislativo, o

regime democrático e os sistemas eleitorais. As regiões analisadas nesses estudos

é a região mais analisada,

. Em menor escala, aparecem Ásia, África

por Escopo Comparado e Regiões (%)

analisar os estudos sobre instituições políticas na ciência

política brasileira, por intermédio da sua produção acadêmica. Para tanto, as unidades

de análise foram os artigospublicados pelos cientistas políticos brasileiros em cinco

de ciências sociais do país: BPSR, Dados, Novos Estudos,

Opinião Pública e RBCS. A pesquisa cobriu o período de 1966 a 2013, sendo

classificados 212 artigoscujo tema principal eram as instituições políticas. Qual a

cas sobre o total da produção da disciplina,

privilegiadas nos

são utilizados, qual o escopo

as nas abordagens comparadas

No entanto, os estudos sobre as instituições políticas correspondem a 43% do total de artigos

rque um artigo pode analisar mais de uma região. características mais gerais da área de política

Munck&Snyder (2007);para o

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17

Os achados deste artigo podemser sumarizados da seguinte maneira: as instituições

políticas predominam entre as áreas temáticas da ciência política brasileira,

correspondendo a cerca de 1/4 do total da produção. Mas esse protagonismo teve

início a partir da década de 1990, período que coincide com a redemocratização do

país ea volta do livre funcionamento das instituições. Os estudos sobre o legislativo

têm participação majoritária, e esse predomínio ocorreu a partir de meados dos anos

1990. Os estudos sobre os partidos políticos aparecem na segunda posição, mesmo

experimentando um declínio da sua participação nas últimas décadas. No que diz

respeito ao modo como esses temas foram estudados, houve uma clara mudança na

orientação dos trabalhos: de um estilo de análise histórico-descritiva migrou-se para

uma orientação empírica de pesquisa. O uso de métodos de coleta e análise de dados

aumentou nas duas últimas décadas, embora ainda esteja fortemente concentrado em

alguns deles, como os documentos e os dados oficiais e os métodos estatísticos.

Quanto ao escopo das pesquisas, a análise exclusiva da política brasileira predomina

em quase 3/4 dos casos, sendo que desses são as unidades nacionais as

privilegiadas. Em relação às pesquisas comparadas, elas voltam-se para os estudos

sobre o legislativo, os regimes democráticos e os sistemas eleitorais, prevalecendo

como regiões de análise a América Latina e a Europa.

Sendo assim, com a normalidade democrática no país, as instituições políticas

ganharam posição privilegiada na ciência política, sobretudo as que dizem respeito ao

resguardo da democracia, como o legislativo e os partidos políticos. Essa

proeminência vai ao encontro do processo de democratização que avançou nas

décadas de 1980 e 1990 em outros países, que trouxe uma importante mudança no

foco da análise em ciência política. O panorama teórico até então centrado nos atores

políticos evoluiu para um programa centrado nas instituições políticas.Pode-se dizer

que, hoje, a ciência política brasileira se dedica, em grande medida, a entender como

funciona a democracia brasileira e suas instituições.

No que diz respeito a futuras perspectivas de estudo, o enfoque a ser dado nas

próximas etapas da pesquisa diz respeito a três questões: Quais orientações teóricas

guiam os trabalhos sobre instituições políticas? A ênfase recai sobre as origens ou

sobre os efeitos das instituições? Como a causalidade e o problema da

endogeneidade das instituições são tratados nas pesquisas sobre o tema?

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Referências

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Paulo: ANPOCS.

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BERNDTSON, E. (1975). “Political Science in the Era of Post-Behavioralism. The Need

for Self-Reflection”. In: ScandinavianPoliticalStudies, vol. 10.

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CiênciaPolitica,17 a 21 de agosto, Seoul, Korea.

BERNDTSON, E. (2012). “EuropeanStudyofPolitics: Political Science,

PoliticalSciencesorPoliticalStudies – Do NationalTraditions Still Matter?”. Preparado

para apresentação no XXII Congresso Mundial da Associação Internacional de

CiênciaPolitica, 8 a 12 de julho, Madri, Espanha.

BRADY, H. E., COLLIER, D. & SEAWRIGHT, J. (2006), “Toward a Pluralistic

VisionofMethodology”. In:PoliticalAnalysis, vol. 14, nº 3, pp. 353-368.

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In:InternationalPolitical Science Review, vol. 6, n. 1, pp. 133-152.

HALL, P. A. & TAYLOR, R. C. R. (1996), “Political Science andtheThree New

Institutionalisms”. In:PoliticalStudies, vol. 44, pp. 936-957.

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Rhodes, R. A. W., Binder, S. A. &Rockman, B. A. (Ed.), The Oxford

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AnAnalysisofLeadingJournals”. In:ComparativePoliticalStudies, vol. 40, nº 1, pp. 5-31.

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19

PIERSON, P. (2007), “The CostsofMarginalization: QualitativesMethods in theStudyof

American Politics”. In:ComparativePoliticalStudies, vol. 40, nº2, pp. 145-169.

RIBA, C. (1996), “The Use ofMathematics in Political Science: A Survey

ofEuropeanand American Journals”. In:EuropeanJournalofPoliticalResearch, 29, pp.

477-508.

Anexo 1: Seleção dos artigos e lista de variáveis

1. Critérios de seleção dos artigos e organização do banco de dados

Os dados aqui apresentados fazem parte de uma pesquisa mais ampla sobre a

produção acadêmica da ciência política brasileira. Entre os trabalhos classificados,

foram selecionados para os fins deste artigo os estudos que tinham como tema

principal as instituições políticas.

Em primeiro lugar, foram selecionadas cinco das mais importantes revistas de ciências

sociais do país:BPSR, Dados, Novos Estudos,Opinião Pública e RBCS12. Mesmo em

face da não exclusividade das revistas como meios de divulgação do trabalho

acadêmico, a escolha por esse tipo de publicação deve-se a alguns fatores, tais como:

o seu caráter científico (os artigos publicados são submetidos a uma avaliação de

pares); a sua periodicidade mais dinâmica – principalmente se comparada aos livros e

aos anais de congressos – permite um melhor acompanhamento da produção

acadêmica; e, por fim, a sua trajetória acompanha a história do desenvolvimento da

ciência política no Brasil. Além disso, mesmo se reconhecendo que os pesquisadores

da disciplina também publicam os resultados de suas pesquisas em periódicos

estrangeiros, foram analisadas apenas revistas nacionais, pois dois motivos: a ênfase

na disciplina brasileira e a facilidade no acesso aos artigos.

Como o objetivo é analisar, exclusivamente, a produção de cientistas políticos

brasileiros, em segundo lugar foram estabelecidos os critérios para a seleção dos

artigos. O primeiro critério inclui os artigos escritos por autores que se identificam

como cientistas políticos. No entanto, essas revistas também publicam trabalhos

escritos por autores estrangeiros. Por isso, o segundo critério de inclusão diz respeito

à filiação do autor, ou seja, ele deve pertencer a uma dessas três categorias: brasileiro

em instituição brasileira, brasileiro em instituição estrangeira ou estrangeiro em

instituição brasileira. Por fim, mesmo atendendo a esses dois critérios, alguns

12Foram utilizados os conceitos da avaliação do sistema Qualis da CAPES para a escolha das revistas: conceitos A1, A2, B1 e B2. Os artigos publicados nas revistas Lua Nova e Revista de Sociologia Política ainda não foram incluídos na análise, o que será feito na próxima etapa da pesquisa.

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trabalhos foram excluídos da análise por não atender ao perfil de artigo que se

pretende analisar. Sendo assim, não foram incluídos obituários, resenhas, transcrição

de conferências e textos de opinião ou análises de conjuntura.

O acesso aos artigos deu-se por duas maneiras: em páginas na internet, tanto das

próprias revistas quanto da plataforma Scielo, ou em edições digitalizadas disponíveis

em CD-Rom. As informações sobre os autores, quando não constavam nas revistas,

foram retiradas dos currículos dos pesquisadores disponíveis na plataforma Lattes. Os

artigos que se enquadravam nos critérios de inclusão foram classificados de acordo

com variáveis que dizem respeito aos autores e ao conteúdo do trabalho.

Por fim, após a classificação dos artigos, foram selecionados para análise os trabalhos

que possuem como tema principal o estudo de alguma instituição política: federalismo,

partidos políticos, sistema partidário, sistema eleitoral, regime político (ditadura,

democracia, transição), forma de Estado, sistema de governo (presidencialismo,

parlamentarismo), executivo, legislativo (bem como sua relação com o executivo),

judiciário e constituição.

2. Lista de Variáveis

1. Ano(ano da publicação)

2. Revista

2.1)Brazilian Political Science Review (BPSR)

2.2) Dados

2.3) Novos Estudos

2.4) Opinião Pública (OP)

2.5)Revista Brasileira de Ciências Sociais (RBCS)

3. Gênero 3.1) Feminino

3.2) Masculino

4. Filiação

4.1) Brasileiro em Instituição Brasileira

4.2) Brasileiro em Instituição Estrangeira

4.3) Estrangeiro em Instituição Brasileira

4.4) Estrangeiro em Instituição Estrangeira (só para co-autores)

4.5) Sem informação na publicação

5. Status (ocupação do autor na instituição)

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5.1) Professor

5.2) Aluno

5.3) Pesquisador

5.4) Gestor/Técnico

5.5) Sem informação na publicação

6. Instituição(instituição à qual o autor está vinculado no momento da publicação do artigo)

7. Estado ou país (em caso de instituição estrangeira) da instituição do autor

8. Áreas temáticas:

8.1) Atores Políticos: sindicatos; movimentos sociais; sociedade civil; empresários;

militares; mídia; elites;

8.2) Comportamento Político: ideologia; cultura política; confiança nas instituições;

participação política; clientelismo; corrupção;

8.3) Eleições: campanhas eleitorais; resultados de eleições; comportamento eleitoral;

HPGE; financiamento de campanha; coligações;

8.4) Estrutura Social: estrutura de classes; desigualdade; cidadania;

8.5) Instituições Políticas: federalismo; partidos políticos; sistema partidário; sistema

eleitoral; regime político (ditadura; democracia; ruptura); forma de Estado; sistema de

governo (presidencialismo, parlamentarismo); executivo; legislativo; relação executivo

e legislativo; judiciário; constituição;

8.6) Políticas Públicas: política social; política administrativa; política econômica;

política de segurança e de inteligência; política de infraestrutura; política científica e

tecnológica;

8.7) Relações Internacionais: política externa; relações internacionais; organizações

internacionais;

8.8) Teoria e História do Pensamento Político: conceitos e correntes teóricas; ensaio

sobre autor estrangeiro; pensamento político-social brasileiro;

8.9) Outros: aqui estão reunidos os trabalhos cujos temas não se enquadravam nas

áreas temáticas já estabelecidas, tampouco apareciam em quantidade suficiente para

justificar a inclusão de uma nova classificação.

9. Tipo de Pesquisa

9.1) Não Empírica: preocupa-se exclusivamente com questões conceituais, teóricas ou

de história do pensamento.

9.2) Empírica: caracteriza-se por utilizar explicitamente métodos de coleta e análise de

dados, sejam eles qualitativos ou quantitativos.

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9.3) Análise Histórico-Descritiva: pesquisa cujo objetivo é descrever eventos e

organizações, mas que não utiliza métodos de coleta e análise de dados.

10. Método de Coleta de Dados

10.1) Secundária: dados analisados por terceiros.

10.2) Meios de Comunicação: jornais; revistas (semanais e mensais); telejornais.

10.3) Documentos Oficiais: texto constitucional, projetos de lei; medidas provisórias;

decretos de lei; relatórios; ofícios; regulamentos; programas de governo; diários

oficiais.

10.4) Documentos Não Oficiais: atas de reuniões; minutas; relatórios de assembleias;

programas partidários; comunicações; boletins.

10.5) Dados Oficiais: dados brutos oriundos de órgãos públicos, como IBGE, TSE,

TRE’s, Congresso; assembleias estaduais; câmaras municipais; prefeituras; governos

estadual e federal; judiciário;

10.6) Survey: para grupo específico ou de massa

10.7) Entrevista

10.8) Grupo Focal

10.9) Experimento

11. Método de Análise de Dados

11.1) Estatística Descritiva:porcentagem; frequência; índices; escalas;teste de média;

coeficiente de correlação;

11.2) Estatística Multivariada:análise fatorial; análise de cluster; escala

multidimensional; análise discriminante; análise de correspondência; análise de redes;

11.3) Técnicas de Regressão (linear – simples ou múltipla; não-linear – log-linear, logit

e probit; séries temporais)

11.4) Modelos Formais

11.5) Tipologia

11.6) Análise de Conteúdo

11.7) História Oral

12. Escopo

12.1)Doméstico(apenas a política brasileira é analisada)

12.2)Comparado: (a política de outro país é analisada);

13. Unidade

13.1)Nacional

13.2) Subnacional

13.3)Grupo ou organização

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