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IX ENCONTRO DA ABCP Área Temática: Comunicação política e opinião pública “Não me representam”: as lideranças políticas e as Jornadas de Junho Rosemary Segurado, professora do Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências Sociais da PUC/SP e da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Pesquisadora do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da PUC/SP (NEAMP) Natasha Bachini, mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), professora do Centro Universitário Faculdades Metropolitanas Unidas e pesquisadora do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da PUC/SP (NEAMP) Pedro Malina, mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), professor do Centro Universitário Faculdades Metropolitanas Unidas e pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da PUC/SP (NEAMP) Trabalho vinculado ao Projeto Temático Fapesp: 12/50987-3 – Lideranças Políticas no Brasil: características e questões institucionais Brasília, DF 04 a 07 de agosto de 2014

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Page 1: IX ENCONTRO DA ABCP “Não me representam”: as ... · população para os seus atos contra o aumento da tarifa do transporte público e para os atos de outros movimentos com os

IX ENCONTRO DA ABCP

Área Temática: Comunicação política e opinião pública

“Não me representam”: as lideranças políticas e as Jornadas de Junho

Rosemary Segurado, professora do Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências

Sociais da PUC/SP e da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Pesquisadora do

Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da PUC/SP (NEAMP)

Natasha Bachini, mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo (PUC-SP), professora do Centro Universitário Faculdades Metropolitanas Unidas e

pesquisadora do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da PUC/SP (NEAMP)

Pedro Malina, mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo (PUC-SP), professor do Centro Universitário Faculdades Metropolitanas Unidas e

pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da PUC/SP (NEAMP)

Trabalho vinculado ao Projeto Temático Fapesp: 12/50987-3 – Lideranças Políticas no

Brasil: características e questões institucionais

Brasília, DF

04 a 07 de agosto de 2014

Page 2: IX ENCONTRO DA ABCP “Não me representam”: as ... · população para os seus atos contra o aumento da tarifa do transporte público e para os atos de outros movimentos com os

“Não me representam”: as lideranças políticas e as Jornadas de Junho

Rosemary Segurado, professora do Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências

Sociais da PUC/SP e da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Pesquisadora do

Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da PUC/SP (NEAMP)

Natasha Bachini, mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo (PUC-SP), professora do Centro Universitário Faculdades Metropolitanas Unidas e

pesquisadora do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da PUC/SP (NEAMP)

Pedro Malina, mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo (PUC-SP), professor do Centro Universitário Faculdades Metropolitanas Unidas e

pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da PUC/SP (NEAMP)

Trabalho vinculado ao Projeto Temático Fapesp – Lideranças Políticas no Brasil:

características e questões institucionais

Resumo do trabalho:

A proposta de comunicação apresentará os resultados parciais da pesquisa desenvolvida

junto ao Projeto Temático: Lideranças Políticas no Brasil: características e questões

institucionais, realizada pelo NEAMP (Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política do

Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo – Brasil). O objetivo é apresentar os resultados do estudo sobre o

debate a respeito do papel das lideranças políticas realizado nas páginas do Facebook

Passe Livre São Paulo, Ocuppy Brasil, Anonymous Brasil, Partido Pirata Brasil, durante as

Jornadas de Junho, ocorridas no Brasil em 2013. Para tanto analisaremos as postagens

veiculadas nas páginas supracitadas ao longo desse mês a partir dos seguintes temas que

emergiram nesse debate tendo em vista compreender os tipos de discurso presentes neste

heterogêneo movimento: i) partidos políticos; ii) liderança (des)centralizada; iii)

representação; iv) uso da violência; v) produção de informação e vi) livre circulação na

cidade.

Palavras-chave: liderança política, internet e política, ciberpolítica e ciberativismo

Page 3: IX ENCONTRO DA ABCP “Não me representam”: as ... · população para os seus atos contra o aumento da tarifa do transporte público e para os atos de outros movimentos com os

A proposta de comunicação apresentará os resultados parciais da pesquisa

desenvolvida junto ao Projeto Temático: Lideranças Políticas no Brasil: características e

questões institucionais, realizada pelo NEAMP (Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política

do Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo – Brasil).

O objetivo é apresentar os resultados do estudo, em fase de desenvolvimento, a

respeito do papel das lideranças políticas realizado nas páginas do Facebook Passe Livre

São Paulo, Anonymous Brasil, Partido Pirata Brasil, Ocuppy Brasil durante as Jornadas de

Junho, ocorridas no Brasil em 2013.

Para tanto analisaremos as postagens veiculadas nas páginas supracitadas ao longo

desse mês a partir dos seguintes temas que emergiram nesse debate tendo em vista

compreender os tipos de discurso presentes neste heterogêneo movimento: i) partidos

políticos; ii) liderança (des)centralizada; iii) representação; iv) uso da violência; v) produção

de informação e vi) livre circulação na cidade.

Tendo em vista os objetivos do trabalho expostos acima, optamos pelo uso de

instrumentos metodológicos qualitativos e da estatística descritiva. Dessa forma,

observamos as publicações realizadas durante o mês de junho de 2013 pelos movimentos

Passe Livre, Anonymous Brasil, Partido Pirata e Occupy Brazil em suas respectivas páginas

do Facebook e, em seguida, quantificamos e geramos indicadores e cruzamentos a respeito

dos temas das postagens, dos recursos utilizados e da interatividade.

Os critérios metodológicos utilizados na seleção dessas páginas foram: i) a

quantidade de perfis que curtem a página; ii) a interatividade gerada a partir das publicações

nas páginas durante o período analisado (número de curtidas, comentários e

compartilhamentos); iii) a discussão sobre os temas supracitados e iv) a relevância das

publicações dessas páginas na organização das manifestações no espaço público.

A partir da observação das referidas páginas foram criadas dezesseis categorias

temáticas para tipificar o conteúdo veiculado pelo movimento no site e no Facebook, assim

como sete categorias indicativas dos recursos empregados nos posts, conforme podemos

verificar nas tabelas abaixo:

Tabela A

Categorias temáticas

T1 - Mobilização para os atos e atividades convocados pelo

movimento

T2 – Crítica aos políticos

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T3 – Críticas às instituições democráticas

T4 – Crítica aos partidos políticos

T5 – Crítica ao capitalismo

T6- Crítica aos meios de comunicação tradicionais

T7 – Crítica a polícia

T8 – Veiculação de informação alternativa

T9 – Infiltrados no movimento

T10 – Apoio ao movimento em outras cidades

T11 – Propostas

T12 – Divulgação de ações

T13- Crítica aos grandes eventos

T14- Autopromoção da página e do movimento

T15- Veiculação de informação dos meios tradicionais

T16- Outros1

Fonte: Autores, 2014.

Tabela B:

Categorias indicativas dos recursos

R1- Fotos

R2- Gráficos

R3- Charges

R4- Vídeos

R5- Áudios

R6- Ilustrações/ Imagens

R7- Links

R8 – Hashtags

R9 – Pesquisa

R10- Outros /textos

Fonte: Autores, 2014.

Movimento Passe Livre (MPL)

1 A categoria temática ‘Outros’ abarca os seguintes temas gerados nas postagens: chamadas para

atos de outros movimentos; pedido de contribuição para a fiança de manifestantes detidos; informações sobre a situação dos detidos; informações sobre a vitória do movimento; repúdio à hostilização dos partidos de esquerda em manifestações.

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A página do Movimento Passe Livre (MPL) foi criada em 05 de junho de 2011. Este

movimento social, que se autodenomina como “horizontal, autônomo, independente e

apartidário, mas não “antipartidário”, engaja-se na mobilização pela gratuidade e qualidade

no transporte público urbano, enfatizando a defesa da Tarifa Zero, desde 2005. As ações do

MPL se baseiam nos princípios da autonomia, horizontalidade, independência,

apartidarismo e federalismo. Além disso, o MPL utiliza-se do método do consenso nos seus

processos decisórios internos, adotando a forma deliberativa apenas como último recurso,

quando se verifica o esgotamento das formas de argumentação capazes de atingir o

consenso para a elaboração das estratégias de ação.

As postagens realizadas na página do MPL no Facebook revelam que vários dos

princípios acima mencionados foram exercidos e discutidos na rede social. Precursor das

Jornadas de Junho, o Movimento Passe Livre São Paulo conta até o momento com 302 mil

curtidas.

A partir da observação do gráfico 1 podemos perceber que três temas se

sobressaíram nas postagens realizadas na página do MPL, caracterizando assim o uso do

Facebook pelo movimento: “veiculação de informação alternativa” (18,31%)”, “mobilização

para o ato” (15,49%), e “propostas” (15,49%).

Gráfico 1

Fonte: Autores, 2014.

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Ao cruzarmos essas informações com os dados do gráfico 2, notamos que estes

convergem pois esses são os temas que também geraram os maiores índices de

interatividade na página do movimento.

Isso se deve ao fato de que estes temas estavam sempre inter-relacionados nas

postagens, em especial nas notas oficiais geradas pelo site do movimento e reproduzidas

em sua página no Facebook. O MPL utilizou sua página na rede social fundamentalmente

para divulgar suas propostas e convocar a população para os seus atos, utilizando portanto

a rede social para desfrutar da visibilidade, do espaço e da voz que lhe são negados pelos

meios de comunicação tradicionais (BACHINI, 2013).

Gráfico 2

Fonte: Autores, 2014.

Nesse sentido, o MPL usou o Facebook para divulgar fotos e vídeos dos atos que

não circularam nos veículos de comunicação tradicionais, especialmente aquelas que

denunciavam a reação truculenta da polícia ao movimento (tema presente em 10,56% dos

posts). O MPL aproveitou o espaço também para se defender das acusações da grande

imprensa, que comumente criminalizava o movimento, para divulgar informações a respeito

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dos militantes presos e para angariar doações para as fianças desses militantes. Além

disso, foi denunciada na página do MPL a renovação dos contratos da prefeitura com a

empresa de transporte responsável por diversas ilegalidades.

Além disso, também com a utilização desses recursos, o movimento convocou a

população para os seus atos contra o aumento da tarifa do transporte público e para os atos

de outros movimentos com os quais desenvolve uma interlocução, tais como o movimento

“Contra a Copa do Mundo”. Dentre as postagens relacionadas ao tema, destacaram-se o

número de confirmações para o 5º ato, aproximadamente 300 mil pessoas. Verifica-se

também que post convocando para o 6º ato gerou 9.083 compartilhamentos, sendo esse o

maior índice registrado por esse recurso de interatividade.

Chamou a atenção também o uso da página pelo movimento para a realização de

“crítica aos políticos” envolvidos no caso do aumento da tarifa e nas ações da polícia contra

o movimento. Este tema respondeu por 9,15% das postagens e foi responsável pelo terceiro

maior índice de interatividade gerado. Foram foco das críticas do movimento especialmente

o prefeito Fernando Haddad, prefeito do Município de São Paulo e, Geraldo Alckmin,

governador do Estado de São Paulo.

Tendo em vista os objetivos principais dessa pesquisa, outra constatação importante

é que em nenhuma das postagens há algum integrante do movimento que se destaca com

relação aos demais. Todas as postagens analisadas foram produzidas única e

exclusivamente em nome do MPL. Este fato corrobora com a tese da liderança

descentralizada ou compartilhada exercida nesses novos movimentos sociais que se

organizam em rede (HARDT e NEGRI, 2001; CASTELLS, 2013).

Com relação as postagens relacionadas à categoria “propostas”, que respondeu por

15,49% do total da interatividade gerada pela página, estas se referem basicamente à luta

pela revogação do aumento da passagem e à proposição de um espaço de negociação

onde pudesse ser discutida a pauta única do movimento. No dia 20.06.2013 dia 20/06 a

prefeitura e o governo do Estado cancelaram o aumento da tarifa do transporte público,

configurando uma vitória do movimento. Apesar da vitória o MPL continuou utilizando a

página do Facebook para defender a sua principal bandeira: a Tarifa Zero.

A postagem que gerou o maior número de curtidas (14 478) foi a reprodução da nota

nº10, na qual o MPL falava a respeito da vitória do movimento e da importância da

continuidade da luta e da participação popular nessa tarefa. Nesse sentido, o MPL em

mesma postagem tece uma crítica ao sistema capitalista, apontado como o principal

responsável pelo impedimento da garantia do direito à cidade, considerando que o

transporte público representa alto custo para a maioria da população. Criticam também a

representação, defendo a necessidade de maior participação dos cidadãos nas decisões

relacionadas ao transporte público.

Page 8: IX ENCONTRO DA ABCP “Não me representam”: as ... · população para os seus atos contra o aumento da tarifa do transporte público e para os atos de outros movimentos com os

Já a postagem que gerou o maior número de comentários (4.554) foi a reprodução

da nota nº 11 do movimento a respeito do ato de comemoração da vitória pela revogação da

passagem onde houve a hostilização dos partidos de esquerda por parte de alguns

manifestantes. Nesta, o MPL deixou claro que repudiava esse tipo de comportamento e

argumento que embora seja um movimento apartidário não era contra os partidos políticos,

sugerindo assim que tal atitude foi obra de infiltrados no movimento.

Gráfico 3

Fonte: Autores, 2014

Com relação aos recursos empregados nas postagens e a consequente

interatividade gerada por estes, conforme podemos observar no gráfico 3, nota-se o

predomínio do uso de fotos, links e textos nestas. A maioria das postagens apresentava

alguma mensagem acompanhada das fotos dos atos tiradas por participantes do

movimento. Além disso, muitas das postagens possuíam links redirecionando para a página

dos eventos organizados pelo movimento ou para os textos das notas oficiais publicadas no

site do MPL, que comumente foram reproduzidos na íntegra nas postagens.

ANONYMOUS

Trataremos agora da página do Facebook Anonymous Brasil. A página começou em

22 de Julho de 2012 e até o dia 15 de junho de 2013 aproximadamente 400 mil pessoas

haviam curtido a página. É importante ressaltar que alcançaram mais de um milhão de

curtidas no final de Junho de 2013, de acordo com a informações divulgadas pela própria

página e esse crescimento acompanhou o aumento no número de postagens durante esse

Page 9: IX ENCONTRO DA ABCP “Não me representam”: as ... · população para os seus atos contra o aumento da tarifa do transporte público e para os atos de outros movimentos com os

mês. A última postagem anterior ao dia 10 de Junho é de 26 de Março e a primeira posterior

ao mês de Junho é de 28 de Agosto, enquanto entre os dias 10 e 27 de Junho houve 35

postagens.

O aumento de curtidas vem acompanhado de um grande número de postagens

divulgando a própria página, 29,55% do total, postagens essas que também muitas vezes

divulgavam o número de curtidas já recebidas. Podemos perceber aqui o uso intenso do

Facebook para divulgação da própria página, fazendo uso do momento de ebulição dos

protestos para publicizar a página e não para convocar ou organizar os protestos

programados. Trata-se de uma estratégia de autopromoção da página que, ao que tudo

indica, obteve êxito, tendo em vista algumas análises que indicam o Anonymos como o

coletivo mais atuante durante as jornadas de junho, mesmo que essa atuação tenha sido

apenas para divulgar os protestos realizados.

Essa informação corrobora com a ideia de uma falta de centralidade na liderança das

Jornadas de Junho, já que o Anonymous Brasil foi uma das páginas de maior interatividade

(gráfico 4) durante as Jornadas, mesmo sem participar ativamente da organização e

divulgação dos protestos, mas da disseminação de informações sobre as manifestações

realizadas.

Nesse sentido, verificar-se que um tema que foi bastante curtido e compartilhado foi

o da veiculação de informações dos meios tradicionais. Podemos encontrar aqui um

indicativo do uso das redes sociais pelas páginas durante as Jornadas de Junho, o de

circular a informação. Fazer com que informações do que já ocorridos fossem de

conhecimento de todos. Lembrando que a abertura de dados, especialmente os de caráter

público, é uma das bandeiras do Anonymous enquanto grupo mundial. Aqui podemos

considerar que a página funciona como um filtro de notícias, selecionados e indicando as

informações consideradas relevantes.

Dois recursos tiveram mais interatividade na Anonymous Brasil: hashtags e fotos. A

primeira traz uma marca, um registro sobre o que se esta falando, enquanto a segunda

divulga informações, fortalecendo a ideia do uso das redes sociais para divulgação de

informações pela página.

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Gráfico 4

Fonte: Autores, 2014

Outra categoria de assuntos que se destaca com 12,82% das postagens é a de

crítica aos políticos. Essas críticas foram um dos temas recorrentes durante as Jornadas de

Junho que ficaram marcadas pela forte descrença na classe política e nas instituições

políticas.

Para melhor compreender como as pessoas que curtiram a página interagem com os

temas propostos podemos observar no gráfico 5. Novamente, chama a atenção, o grande

número de curtidas (62.447) e compartilhamentos (44.776) das postagens de divulgação do

movimento e da página, mostrando que as pessoas que curtiram a página tinham o

interesse de divulgar o crescimento da página do Anonymous Brasil durante o mês de Junho

de 2013. Porém, o número de comentários (2288) não é tão expressivo.

Gráfico 5

Fonte: Autores, 2014

Page 11: IX ENCONTRO DA ABCP “Não me representam”: as ... · população para os seus atos contra o aumento da tarifa do transporte público e para os atos de outros movimentos com os

Gráfico

6

Fonte: Autores, 2014

As postagens com críticas aos políticos foram as que apresentaram o maior número

de comentários (23.429), mostrando que as pessoas que curtiram a página tinham o

interesse em expressar suas opiniões e foram estimuladas pela própria página a fazê-la. A

página do Anonymous Brasil apresentava postagens com perguntas sobre os políticos ou

sobre os próprios protestos, chegando a propor uma pesquisa, como veremos mais à frente.

Estas postagens também tiveram um número expressivo de curtidas e compartilhamentos.

Esse tipo de postagem teve o caráter consultivo, portanto não apresentava

postagens propositivas, ao mesmo tempo que reforçaram a multiplicidade de pautas e o

processo de um movimento, ainda em fase de construção. Nesse sentido, é importante que

as análises estejam em consonância com a característica mais marcante das Jornadas de

Junho que expressou o anseio de não se buscar a uniformidade do movimento, mas garantir

a pluralidade.

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Outro fato que chama a atenção é que o maior número de comentários foi observado

em postagens sem o uso de recursos, ou seja, como foi dito anteriormente, publicações que

tinham como objetivo entender a opinião das pessoas que curtiram a página.

Diante destes dados é possível afirmar que algumas postagens na página

Anonymous Brasil tinham como objetivo divulgar informações ou entender a opinião das

pessoas que curtiram a página. Isso aparece tanto na relação entre temas e interatividade

quanto de ferramentas e interatividade.

Podemos observar também que o maior número de compartilhamento e curtidas são

em postagens que tenham fotos ou hashtags e um número expressivo que somente

divulgava algum tipo de informações. Já nas postagens que se dedicaram a algum tipo de

análise das opiniões manifestadas, verificamos o uso de algum tipo de recurso e, no geral,

os temas eram crítica aos políticos, aos grandes eventos (Copa do Mundo, Olimpíada, etc.)

etc. Porém, o que mais se verificou foi a divulgação da própria página e é importante

verificarmos que a página não foi utilizada para marcar atos, mobilizar pessoas ou mesmo

organizar o movimento de qualquer forma, conforme mencionamos anteriormente.

PARTIDO PIRATA

O Partido Pirata, ainda em fase de organização no Brasil, surgiu em 2007 e integra a rede

internacional de partidos piratas cujo eixo central da atuação se baseia na defesa do acesso

à informação, o compartilhamento do conhecimento, a transparência na gestão pública e a

privacidade. Apesar de ainda não estar oficializado o partido teve participação ativa no

processo de elaboração e de discussão do Marco Civil da Internet.

Entre os princípios definidos para a atuação no país, destaca-se a forma colaborativa em

todo processo de discussão e o questionamento às formas partidárias tradicionais que

consideram burocráticas, hierárquicas e verticalizadas. Embora sejam um partido político, o

Partido Pirata crítica as estruturas partidárias tradicionais e, em seu discurso, a principal

crítica é a atuação dos partidos existentes, independente do caráter ideológico.

No período da análise, o partido estava envolvido com o processo de convenções regionais

para sua legalização e esse era um dos debates principais, observados nos posts da

página. Contudo, nota-se o envolvimento do partido no processo de mobilização das

Jornadas de Junho, tendo utilizado a página do facebook para convocação das

manifestações no município de São Paulo, para apoiar os protestos em outras cidades e

para criticar a organização dos grandes eventos, como por exemplo, a Copa do Mundo,

conforme podemos observar no gráfico abaixo os temas com maior frequência.

Page 13: IX ENCONTRO DA ABCP “Não me representam”: as ... · população para os seus atos contra o aumento da tarifa do transporte público e para os atos de outros movimentos com os

A crítica à repressão policial nos protestos também teve destaque, tanto nos posts quanto

nos comentários e nas fotos mostrando a atuação violenta com que as policias militares,

principalmente em São Paulo, utilizaram para conter os protestos.

Gráfico 7

Fonte: Autores, 2014

Entre os recursos utilizados na interatividade, destacam-se as curtidas e o compartilhamento

de fotos dos protestos. Nota-se que o uso das imagens foi a estratégia mais adotada,

principalmente para criticar a violência policial. Essas imagens, no geral, sempre eram

seguidas de comentários com críticas à militarização da polícia e apontava seu despreparo

para atuar em manifestações características de uma sociedade democrática.

Gráfico 8

Page 14: IX ENCONTRO DA ABCP “Não me representam”: as ... · população para os seus atos contra o aumento da tarifa do transporte público e para os atos de outros movimentos com os

Fonte: Autores, 2014

Ao analisarmos o uso dos recursos para a interatividade articulados aos temas verificamos

que o compartilhamento de apoio às manifestações cidades fora de São Paulo ocupou o

centro das atividades do partido. Havia uma preocupação em dar visibilidade às

manifestações realizadas em outros estados, demostrando que o movimento iniciado em

São Paulo se expandido pelo país.

Nota-se também o interesse em divulgar as manifestações, embora não se possa afirmar

que o partido tenha participado ativamente do processo de organização dos protestos,

conforme se observa em alguns posts de ativistas ligados ao partido que reivindicavam uma

atuação mais efetiva do partido nas articulações das manifestações.

A crítica à atuação policial aparece, conforme abordado anteriormente, entre os principais

temas e está articulada com a disseminação de imagens da repressão policial em várias

manifestações do país.

Gráfico 9

Fonte: Autores, 2014

Observamos que a intensa participação no processo de discussão do Marco Civil da Internet

não foi verificada na Jornada de Junho, embora o partido tenha se posicionado e defendido

as manifestações, nota-se que o envolvimento no processo de discussão do movimento não

demonstrou a mesma intensidade.

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OCCUPY BRASIL

A página do Occupy Brazil foi criada em 17 de setembro de 2011 com o objetivo de divulgar

as informações referentes aos ocupantes de Wall Street e aos protestos contra a corrupção

no Brasil. Segundo sua auto-descrição, a página não representa nenhuma bandeira ou

organização. Contudo essa informação se contradiz com outra da página onde o movimento

se apresenta como engajado na luta contra a corrupção em todo o mundo e entende esse

problema como fruto do “falho sistema capitalista”. Atualmente a página conta com 47 mil

curtidas.

Reforçando a tese da conexão entre os movimentos sociais na sociedade em rede

(CASTELLS, 2013), o Occupy Brazil afirma estar conectado com outros movimentos como o

Occupy Together, o Global Revolution e o Acampadas Brasil e por isso todas as

informações referentes a identificação da página vêm sempre escritas em português e

inglês. Esta conexão com outros movimentos se torna evidente quando observamos o

gráfico 4, no qual o tema “apoio ao movimento em outras cidades” é registrado em 7,02%

das postagens.

Contudo é o estímulo praticado pelo movimento aos seus seguidores que reflete os

temas que mais se destacam no gráfico 4, “divulgação de ações”, que responde por 21,05%

das inserções na página durante o período analisado, seguido pelos temas “veiculação de

informação alternativa”, registrado em 19,30% dos posts, “mobilização para o ato” e

“propostas”, estes últimos presentes em 10,53% das postagens.

A página do Occupy Brazil convoca seus seguidores a participarem da gestão

daquele espaço e a contribuírem de outras formas para a causa do combate à corrupção,

como a produzindo de reportagens a respeito deste fenômeno. Nesse sentido, destaca-se

também a reprodução de informações das mídias tradicionais sobre o assunto, tema que

responde por 5,26% dos posts.

Page 16: IX ENCONTRO DA ABCP “Não me representam”: as ... · população para os seus atos contra o aumento da tarifa do transporte público e para os atos de outros movimentos com os

Gráfico

10

Fonte: Autores, 2014.

Conforme podemos observar no gráfico 11, novamente as variáveis “temas” e

“interatividade” se apresentam como diretamente proporcionais na página do Occupy Brazil,

pois os temas mais referenciados nas postagens são aqueles que geraram maior

interatividade entre os seguidores da página.

Page 17: IX ENCONTRO DA ABCP “Não me representam”: as ... · população para os seus atos contra o aumento da tarifa do transporte público e para os atos de outros movimentos com os

Gráfico 11

Fonte: Autores, 2014.

Do mesmo modo, os recursos utilizados na página que geraram maior interatividade

foram aqueles que estiveram presentes nas postagens com os temas mais frequentes.

Nesse sentido, sobressaíram-se a divulgação de fotos das manifestações em junho tiradas

pelos próprios manifestantes e o uso de hashtags como #OccupyBrazil, #ProtestosBR.

Page 18: IX ENCONTRO DA ABCP “Não me representam”: as ... · população para os seus atos contra o aumento da tarifa do transporte público e para os atos de outros movimentos com os

Gráfico 12

Fonte: Autores, 2014.

Considerações finais

Os coletivos que se organizaram utilizando os sites de redes sociais (social networking sites)

apresentaram questionamentos sobre as formas tradicionais de organização política, tais

como Partidos, Movimentos Sociais e Sindicatos. Entre os principais questionamentos, nota-

se a crítica à insuficiência da democracia representativa na condução dos processos

políticos contemporâneos.

Para Manin (1997), a chamada crise da representação política nos países ocidentais

decorre da metamorfose da democracia de partido para a democracia de audiência (ou

público), metamorfose essa cujo motor foi a introdução dos mass media na política. Para o

autor, o resultado desse processo é o declínio das relações de identificação entre

representantes e representados e da determinação das políticas públicas por parte do

eleitorado.

Outra característica desses movimentos é o uso das tecnologias de informação e de

comunicação para a ação política. Nesse caso específico, nota-se que não se trata apenas

do uso comunicacional, mas a própria arquitetura em rede (CASTELLS, 2009) dessas

mídias expressa uma modificação no processo político, considerando o caráter horizontal,

sem centralização, as formas interativas e, principalmente, o aspecto conectivo entre os

coletivos políticos.

Page 19: IX ENCONTRO DA ABCP “Não me representam”: as ... · população para os seus atos contra o aumento da tarifa do transporte público e para os atos de outros movimentos com os

A incorporação de ferramentas digitais nos processos políticos proporciona um conjunto de

mudanças nos espaços tradicionais de discussão, nas instâncias de formulação e de

deliberação possibilitando a inovação nas formas de participação dos atores (GOMES,

2011).

Verifica-se também a utilização de dispositivos digitais e virtuais na articulação de redes

sociais com o objetivo de dinamizar e descentralizar o debate político, de ampliar as

possibilidades de organização das ações coletivas e de processos de resistência,

incorporando os sujeitos aos debates sobre as questões sociais e políticas.

O uso das redes sociais para a ação política expressa modificação significativa no papel das

lideranças e na própria característica dos movimentos articulados em torno de

reivindicações sociais, econômicas, culturais e políticas. No geral, observa-se a

multiplicidade de demandas (HARDT & NEGRI,2005) e não possuem uma liderança com

projeção no cenário político nacional, mas ao utilizar as redes sociais lançando propostas

que encontram ressonância no campo social esses temas ganham visibilidade, inclusive são

repercutidos nas mídias tradicionais.

Observa-se que as redes sociais potencializam determinadas questões do campo social e

podem catalisar sentimento de protesto ou de indignação em algumas convocatórias,

demonstrando uma capacidade que há muito os partidos políticos e movimentos sociais

tradicionais vêm perdendo. Temas considerados periféricos da agenda de debates ou até

mesmo que envolvem questões relacionadas às políticas públicas ganham outro tratamento,

uma abordagem que se difere das formas utilizadas pelas lideranças tradicionais.

O funcionamento em rede sem um centro que concentre a capacidade de informar e de

convocar possibilita a descentralização da política e, consequentemente, produz impacto e

redimensionamento no papel das lideranças políticas. Evidentemente, as redes sociais não

acabam com o papel das lideranças políticas, mas redimensionam esse papel e impõem às

lideranças a necessidade de se pensar em novas práticas políticas para permanecerem em

evidência no cenário político e com a capacidade de continuarem influenciando nas

decisões e desdobramentos da política.

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