ivani reinaldi - funart

29
  112 A R T E & E N S A I O S - N. 2 0 - J U L H O D E 2 0 1 0

Upload: ana-avelar

Post on 03-Nov-2015

7 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

volta à pintura.

TRANSCRIPT

  • 112 A R T E & E N S A I O S - N. 2 0 - J U L H O D E 2 0 1 0

  • 113

    Espao Arte Brasileira Contempornea ABC / Funarte

    D O S S I E S P A O A B C / F U N A R T E

    Antonio Manuel

    Frutos do Espao, 1980

    Foto: Sebastio Barbosa

    Organizao Ivair Reinaldim

    Este dossi apresenta um recorte consubstancial das aes e questes referentes ao

    Espao ABC Funarte (1980-1984), atravs de uma cronologia de atividades, trechos

    de textos institucionais, reportagens de poca e, por fim, uma entrevista realizada

    com seu idealizador, o crtico Paulo Sergio Duarte. Como adendo, na seo Reedio,

    inclumos a transcrio da palestra do filsofo Jos Arthur Giannotti, ocorrida no

    Espao ABC, seguida de debate, objetivando explicitar, atravs de um caso particular,

    a dimenso crtica que perpassava o programa como um todo. Nesse processo foi

    importante a consulta de documentao junto ao Cedoc da Funarte e, principalmen-

    te, do arquivo pessoal de Glria Ferreira, que fez parte do projeto. o momento

    tambm para agradecer a contribuio de Paulo Sergio Duarte, bem como o profcuo

    dilogo com Ins de Arajo e Glria Ferreira, esta ltima, presente durante todo o

    planejamento, elaborao e finalizao deste trabalho.

    Espao ABC Funarte, arte e instituio, arte contempornea brasileira, Paulo Sergio Duarte.

    Em 13 de maio de 1980 tinham incio as ati-

    vidades do programa Espao ABC, Arte Bra-

    sileira Contempornea, da Funarte, no Par-

    que de Esculturas da Catacumba, Lagoa, Rio

    de Janeiro, onde outrora existira a favela de

    mesmo nome, cuja populao foi removida

    para Vila Kennedy, Cidade de Deus e

    Guapor-Quitongo. Com a palestra do ar-

    quiteto e urbanista Carlos Nelson dos San-

    tos, tanto a memria daquele local quanto o

    projeto ABC ganhavam dimenso ampliada

    atravs do debate. Entre as exposies ocor-

    ridas no local, Antonio Manuel proporia seus

    Frutos do Espao, nove esculturas de lingote

    de ferro, pintadas de vermelho, amarelo e

    preto, estruturas-interstcios fincadas direta-

    mente na terra, nos jardins da Catacumba,

    dilogo potico entre escultura e paisagem,

    presente e passado, espao e tempo.

    Antigamente o espao da Catacumba

    era, com a favela, cheio, com

    criatividade, pessoas, vida. S admiti tra-

    balhar nesse espao, levando em conta

    o que acontecera (...) Eu quando vou

    l ainda vejo a favela. Quando criei esse

    trabalho, pensei nos vazios, para que as

    pessoas vissem o que restou ali: ape-

    nas os fragmentos da favela. So frag-

    mentos imaginrios, verdade, mas no

    podemos recalcar a carga humana que

    existia anteriormente ali. (Antonio Ma-

    nuel apud Wilson Coutinho, No espa-

    o ABC, os frutos de Antonio Manuel,

    Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 22.10.80)

    Este era o tom do Espao ABC. Enfrentar o

    problema, fosse ele social, artstico ou filo-

    sfico, analis-lo, debat-lo, desmitific-lo,

    sobretudo quando os trabalhos propostos

    no se restringiam mais s questes formais.

    Tomada de posio poltica em pleno pro-

    cesso de abertura, o projeto propunha uma

    reflexo sobre as transformaes operadas

    nas linguagens, reconhecendo a importncia

    do experimentalismo nesse processo, ao

    mesmo tempo em que se destacava enquan-

    to atuao diferenciada da instituio pbli-

  • 114 A R T E & E N S A I O S - N. 2 0 - J U L H O D E 2 0 1 0

    ca federal, que ento passava a posicionar-

    se em relao arte contempornea brasi-

    leira. O ABC poderia, portanto, ser com-

    preendido como caso exemplar de poltica

    das artes, como j havia sido explicitado,

    em 1975, no editorial do primeiro nmero

    da revista Malasartes e, particularmente, no

    importante ensaio assinado pelo crtico

    Ronaldo Brito Anlise do circuito.

    Contudo, havia diferenas. Em meados dos

    anos 70, a atuao conjunta de crticos e

    artistas em Malasartes reconhecia que a ques-

    to da transformao das linguagens no

    poderia estar desvinculada da questo social

    da arte e que era preciso estabelecer um

    vnculo mais forte entre arte entenda-

    se aqui arte contempornea e ambien-

    te cultural, sobretudo, atravs da presen-

    a, visibilidade e nfase de discursos para-

    lelos ao do mercado. Data desse momen-

    to, no Rio de Janeiro, o projeto da rea

    Experimental do Museu de Arte Moder-

    na, no s abertura institucional arte

    contempornea, mas tambm espao de

    reflexo e posicionamento poltico, atra-

    vs do jogo de relaes entre artistas, cr-

    ticos, instituio e mercado de arte, uma

    vez que o que ficou evidente que mais

    do que disponibilizar uma rea para in-

    vestigaes artsticas experimentais den-

    tro do museu, preciso que o estatuto

    desse espao ultrapasse a esfera da pre-

    cariedade e do descaso administrativo. O

    programa Espao ABC, por outro lado, era

    fruto de outro momento poltico, com-

    preendendo uma nova atitude frente

    arte contempornea e uma postura

    institucional mais consistente.

    Outra diferena que se o Espao ABC se

    encontrava no mbito mais amplo da cultu-

    ra, sob manuteno da Fundao Nacional

    de Arte Funarte em parceria com a Fun-

    dao RioArte, da Prefeitura Municipal do

    Rio de Janeiro, na poca sob direo de

    Rubem Fonseca, e apoio do Ministrio da

    Educao e Cultura, como projeto federal

    para a arte contempornea, algumas aes

    anteriores, no contexto repressivo dos anos

    70, ocorreram em circuitos mais restritos,

    como o campo da universidade pblica. Em

    So Paulo, por exemplo, destacava-se a atua-

    o de Walter Zanini no Museu de Arte

    Contempornea da Universidade de So

    Paulo no s se mostrando acessvel

    experimentaco e jovem produo, mas

    tambm potencializando o contato entre

    artistas brasileiros e internacionais (vide a

    experincia de Paulo Bruscky com a arte-

    correio e sua relao com os artistas do

    Fluxus), e em Joo Pessoa, o Ncleo de Arte

    Contempornea NAC da Universidade

    Federal da Paraba, projeto conjunto do cr-

    tico Paulo Sergio Duarte, do artista Antonio

    Dias e de vrios agentes locais, como Raul

    Crdula. Tanto em um caso quanto em ou-

    tro, o ncleo universitrio constituia-se no

    s como a possibilidade de apoio a propos-

    tas pouco condicionadas ao mercado de arte,

    mas tambm como estmulo reflexo e ao

    debate em circuitos mais especficos, haja

    vista a impossibilidade de manifestao de

    opinio pblica na dcada de 1970, por mais

    que esses projetos, sobretudo o NAC, mui-

    tas vezes enfrentassem fortes reaes den-

    tro da prpria universidade.

    Por outro lado, segundo Paulo Sergio Duarte,

    a Funarte era uma estratgia do Governo

    Registro da abertura da

    exposio Quasares, de

    Carmela Gross, Espao

    ABC MAM-RJ

    1983

  • 115D O S S I E S P A O A B C / F U N A R T E

    Geisel para reestabelecer um dilogo mais

    prximo com a sociedade civil, uma vez que

    a cultura campo profcuo para

    reestabelecer esses laos rompidos duran-

    te a ditadura. Nesse contexto o projeto do

    Espao ABC era gestado e encontrava

    interlocutores para ser viabilizado. O Estado

    brasileiro, assim, sem assumir uma atitude

    paternalista em relao s artes, responsabi-

    lizava-se pela manuteno e garantia da co-

    existncia dessas propostas artsticas e de

    discursos crticos que no encontravam es-

    pao no circuito de arte. Certamente, a situ-

    ao poltica transitria daquele momento

    foi favorvel a esse posicionamento, mas tam-

    bm o foi ao tornar explcitas as limitaes

    desse apoio, comprometendo a manuten-

    o e existncia do prprio programa. Aps

    transferir suas atividades do Parque da

    Catacumba para a Galeria Srgio Milliet e

    depois para o Museu de Arte Moderna do

    Rio de Janeiro, as aes do Espao ABC fo-

    ram-se diluindo em meio diluio da pr-

    pria Funarte.

    importante ainda destacar que a Funarte,

    naquele momento, voltava-se cada vez mais

    para um processo de estmulo integrao

    entre as regies brasileiras, e o Espao ABC

    era concebido como projeto passvel de ser

    adaptado e implementado em outros esta-

    dos. A reformulao do Salo Nacional de

    Artes Plsticas, a partir de 1978, e as adap-

    taes ocorridas nas edies seguintes, por

    exemplo, contriburam para que o Salo de

    fato ganhasse dimenso nacional, fosse atra-

    vs da criao de comits regionais, das via-

    gens da comisso julgadora por todo o pas

    ou da organizao das salas especiais, abran-

    gendo a pluralidade de enfoques da produ-

    o imagtica brasileira. Essa poltica assumi-

    da vinha ao encontro da crescente impor-

    tncia de ncleos culturais, como Porto Ale-

    gre, Curitiba, Cuiab, Joo Pessoa, Recife,

    Belm, entre outros. Alm de promover a

    circulao de exposies, a Funarte desen-

    volvia outros projetos que abrangiam a rea-

    lizao de palestras, cursos e workshops em

    diferentes regies do pas.

    A instituio investiu tambm no desenvol-

    vimento e publicao de pesquisas que

    abrangessem vrios aspectos da produo

    cultural brasileira: artes, artesanato, msica,

    teatro, folclore, etc. Destaca-se a coleo

    Arte Brasileira Contempornea, com os pri-

    meiros livros publicados antes da criao do

    Espao ABC, um programa no possuindo

    ligao direta com o outro, mas ambos apre-

    sentando evidentes paralelos conceituais.1

    Esse posicionamento editorial mais amplo da

    Funarte reverberou no Espao ABC atravs

    da nfase dada interdisciplinaridade, no

    confronto das artes visuais com outros cam-

    pos de produo cultural, principalmente nos

    shows de msica instrumental ao ar livre, no

    Parque da Catacumba, nas conferncias nas

    reas da filosofia, do teatro, da arquitetura,

    da literatura, etc., na publicao de pesqui-

    sas ou debates gerados no mbito do pro-

    grama. Mais do que gestar discusso restrita

    s especificidades das artes, o Espao ABC

    procurava acentuar a aproximao entre

    reas de conhecimento e linguagens. Tam-

    bm procurava contribuir com a produo

    de teoria sobre a arte brasileira recente,

    Capa do catlogo da

    exposio Desvio para o

    vermelho, de Cildo

    Meireles, Espao ABC

    MAM-RJ e MAC-USP

    1984

  • 116 A R T E & E N S A I O S - N. 2 0 - J U L H O D E 2 0 1 0

    posicionando-se criticamente em relao ao

    modo como uma teorizao da arte brasi-

    leira poderia, e deveria, ser realizada e pen-

    sada. Era interesse da Funarte e do Espao

    ABC assegurar a construo de um espao

    mais reflexivo para a arte contempornea

    na histria da arte, menos comprometido

    com valores e leituras tradicionais, ou seja,

    com tentativas de domesticao de certos

    trabalhos e discursos mais radicais, adequan-

    do-os a modelos tericos at certo ponto

    convencionais. A edio desses textos tam-

    bm cumpria importante papel em relao

    produo, ao estmulo, ao acesso e cir-

    culao de ideias e de trabalhos, num mo-

    mento em que o pas apresentava mercado

    editorial pouco voltado para as questes da

    arte contempornea.

    Alm do apoio produo experimental, os

    idealizadores e colaboradores do Espao

    ABC tambm objetivavam torn-lo um local

    de reflexo e de formao, mediante rela-

    o institucional mais forte com os artistas.

    Entre algumas aes nesse sentido, impor-

    tante ressaltar o pagamento de pr-labore

    aos que expunham no ABC, apoio funda-

    mental no processo de produo dos traba-

    lhos, e tambm a publicao de catlogos,

    meio de documentao da obra e estmulo

    para circulao de discursos crticos no atre-

    lados aos cadernos culturais dos jornais. A

    presena de Paulo Sergio Duarte na direo

    do Instituto Nacional de Artes Plsticas Inap

    (1981-1983) colaborava para o processo de

    insero, aceitao e organicidade da arte

    contempornea dentro da prpria Funarte,

    ao mesmo tempo que contribua para inser-

    o mais efetiva desses trabalhos no circuito.

    Sintomtico o encerramento das ativida-

    des do Espao ABC em 1984, o mesmo da

    exposio Como vai voc, Gerao 80?, reali-

    zada na Escola de Artes Visuais do Parque

    Lage, Rio de Janeiro. Esse evento marca a

    visibilidade cada vez maior de uma nova ge-

    rao de artistas e crticos no cenrio da arte

    brasileira, paralelamente a transformaes

    profundas, no campo da poltica, da cultura,

    do circuito e da crtica, que ocorreriam na

    continuidade da dcada de 1980. nesse

    campo que as aes do Espao ABC ora se

    diluem, ora se evidenciam, ora se mesclam a

    outras questes. Quais teriam sido as con-

    tribuies posteriores do Espao ABC? Co-

    nhecer o programa e os limites de sua

    abrangncia condio necessria para me-

    lhor compreenso da histria recente da arte

    brasileira e de seu circuito, contextualizando-

    o num dado momento, mas, ao mesmo tem-

    po, inserindo-o num recorte mais amplo.

    Neste momento, procuraremos focar na his-

    tria de suas atividades.

    Nota

    1 Os diversos movimentos de vanguarda ocorridos a partir

    da Exposio Neoconcreta no Rio de Janeiro em 1959

    participam de uma preocupao comum acionar de

    maneira permanente os mecanismos da experimenta-

    o. A produo nascida da utilizao das vrias lingua-

    gens experimentais correntes, rotuladas como nova fi-

    gurao, happening, arte pop, arte cintica, arte

    conceitual, body art, video art, etc., veio se agrupando,

    de 1959 at hoje, em vrios momentos vanguardistas,

    alguns j bem definidos historicamente, como por exem-

    plo a Nova Objetividade ou o Tropicalismo.

    propsito desta Coleo documentar a obra de alguns dos

    artistas que participaram ativamente desse perodo, sem

    se preocupar com a anlise exaustiva dos movimentos

    mais representativos nem com a dissecao de cada uma

    das linguagens experimentais mencionadas, no se esque-

    cendo de que existem proposies que escapam de uma

    tica estritamente visual. E como tambm existem traba-

    lhos que, por sua natureza, tendem ao desaparecimento

    completo, essencial ressaltar a importncia da do-

    cumentao em livro desta produo especfica.

    Por ltimo, a Funarte espera, atravs da Coleo, abrir a um

    pblico maior a possibilidade de tomar contato com a

    reflexo e com o debate sobre as tendncias atuais e

    futuras das artes visuais brasileiras.

    A coleo Arte Contempornea Brasileira abrangeu 10 volu-

    mes, a saber: Barrio (1978), Carlos Vergara (1978), Anna

    Bella Geiger (1979), Antonio Dias (1979), Wesley Duke

    Lee (1980), Lygia Clark (1980), Cildo Meireles (1981),

    Waltercio Caldas (1982), Lygia Pape (1983) e Antonio

    Manuel (1984).

  • 117D O S S I E S P A O A B C / F U N A R T E

    Cronologia ABC Funarte

    1980

    Exposies (Pavilho Brecheret Parque da

    Catacumba)

    - Snia Andrade: Situaes negativas (20.5-

    1.6.80)

    - Essila Paraso: A histria da arte (13-

    29.6.80)

    - Paulo Herkenhoff: Geometria anrquica,

    a m vontade construtiva e mais nada (10-

    27.7.80)

    - Srgio Camargo: O mtodo de Srgio

    Camargo (29.8-21.9.80)

    - Waltercio Caldas: 0 um

    - Antonio Manuel: Frutos do espao

    - Tunga: Esculturas e desenhos (7-23.11. 80)

    - Jos Resende: Esculturas (16.12.80-

    31.1.81)

    - Lygia Clark: Pinturas, relevos e esculturas

    (Espao Alternativo, Funarte, 15.12.80-

    16.1.81)

    Pesquisas

    - Subsdios Histria da Arte Contempor-

    nea: Informalismo e Abstracionismo Geo-

    mtrico: duas vertentes da arte brasileira

    nos anos 50 (entrevistas e texto de Anna

    Bella Geiger, Fernando Barata e Fernando

    Cocchiarale, publicada na coleo Temas e

    Debates da Funarte)

    - Subsdios Histria da Arte Contempor-

    nea: O Moderno e o Contemporneo (tex-

    tos de Ronaldo Brito e Paulo Venancio Fi-

    lho, concluda e editada no Caderno de

    Textos n. 1)

    Publicaes

    - Caderno de Textos n. 1: O Moderno e o

    Contemporneo (textos de Ronaldo Brito e

    Paulo Venancio Filho; Edies Funarte: 3000

    exemplares)

    - Snia Andrade: Situaes negativas (ca-

    tlogo com texto de Andras Hauser: Situa-

    Logomarca do Espao

    ABC. Criao: Noni

    Geiger

    Capa do Caderno de

    Textos 1 O

    moderno e o

    contemporneo, 1980

    Convite de abertura

    do Espao ABC, 1980

    Fonte: Cedoc-Funarte

    Trabalhar um limite. Uma fronteira invisvel

    a ser delineada. Os territrios pouco ntidos

    que separam na arte dois momentos: o

    moderno, estvel, marca de uma poca, de

    um sculo, este sculo, e aquele que busca,

    procura um outro espao. Linguagens em

    luta na produo de seu prprio terreno, o

    trabalho contemporneo, no consagrado,

    no conhecido, ainda no identificado.

    neste limite, nesta regio, que o programa

    ABC Arte Brasileira Contempornea tra-

    balha. ali, onde as artes j no so to pls-

    ticas, que est o debate. Um programa de

    trabalho que , ele mesmo, uma discusso.

    Texto da contracapa dos catlogos produzidos pelo Es-

    pao ABC Funarte

    O que o Espao ABC?

    No Brasil, a sigla ABC imediatamente as-

    sociada s iniciais dos municpios industriais

    da regio metropolitana de So Paulo. No

    meio de arte, porm, essa sigla comea a se

    firmar com outra conotao: Espao Arte

    Brasileira Contempornea, o ABC do Rio de

    Janeiro, um dos projetos do Instituto Nacio-

    nal de Artes Plsticas da Funarte.

    Com o objetivo de suscitar a reflexo e o

    debate sobre a transformao das linguagens

    na arte e, simultaneamente, contribuir para

    a mostra e circulao do trabalho de arte

    contempornea, foi criado, em 1980, pelo

    Inap/Funarte, o programa Espao Arte Bra-

  • 118 A R T E & E N S A I O S - N. 2 0 - J U L H O D E 2 0 1 0

    es negativas Ensaio; fotos: Snia

    Andrade; Edies Funarte: 800 exemplares)

    - Essila Paraso: A histria da arte (catlo-

    go com texto de Fernando Cocchiarale: Em

    arte nada se cria, nada se perde, tudo se

    transforma; fotos: sem crdito; Edies

    Funarte: 800 exemplares)

    - Paulo Herkenhoff: Geometria anrquica,

    a m vontade construtiva e mais nada (ca-

    tlogo concebido pelo artista em torno do

    projeto da exposio; fotos: Ana Vitria

    Mussi; Edies Funarte: 800 exemplares)

    - Srgio Camargo: O mtodo de Srgio

    Camargo (catlogo com texto de Ronaldo

    Brito: Uma lgica ao acaso; fotos: Jlio S. B.

    Alcntara, S. Angelotti e Michel Desjardins;

    Edies Funarte: 800 exemplares)

    - Waltercio Caldas: 0 um (catlogo com

    texto de Rodrigo Naves, sem ttulo; fotos:

    Srgio Arajo; Edies Funarte: 800 exem-

    plares)

    - Antonio Manuel: Frutos do espao (cat-

    logo com textos de Silviano Santiago e An-

    tonio Manuel, sem ttulo; fotos: Sebastio

    Barbosa; Edies Funarte: 800 exemplares)

    - Tunga: Esculturas e desenhos (catlogo

    com texto de Ronaldo Brito: Experincia

    flutuante; fotos: Pedro Oswaldo Cruz; Edi-

    es Funarte: 800 exemplares)

    - Jos Resende: Esculturas (catlogo com

    texto de Ronaldo Brito: Certeza estranha;

    fotos: Miguel Rio Branco; Edies Funarte:

    800 exemplares)

    Conferncias e debates

    Conferncia de abertura: Razes das trans-

    formaes do espao urbano, urbanista

    Carlos Nelson dos Santos (13.5.80)

    Conferncias arte e filosofia: A nova teo-

    ria da representao, prof. Jos Arthur

    Giannotti (6.6.80); A mutao da obra de

    arte atravs dos meios de comunicao de

    massa, prof. Grard Lebrun (8.6.80); O pa-

    pel da obra na criao artstica, prof.

    Emmanuel Carneiro Leo (10.6.80); O pro-

    sileira Contempornea Espao ABC em

    convnio com a Fundao Rio da Prefeitura

    Municipal do Rio de Janeiro.

    Este programa se caracterizou, desde seu

    incio, pelos seguintes pontos:

    1 - Alm de exposies significativas de artis-

    tas contemporneos, apresentou um progra-

    ma integrado a outras reas da cultura, atra-

    vs de espetculos (msica instrumental e

    msica experimental), conferncias e debate

    sobre arte e filosofia, arquitetura, msica, lite-

    ratura, teatro e cinema, sempre voltados para

    a questo da linguagem contempornea.

    2 - Paralelamente aos eventos, o Espao ABC

    promoveu a edio dos Cadernos de Tex-

    tos, dos catlogos das exposies, e tam-

    bm pesquisas sobre a histria recente da

    arte brasileira, como sobre Informalismo e

    Abstracionismo Geomtrico e sobre Arte e

    Instituio, complementando o projeto edi-

    torial j existente no Inap.

    3 - O Espao ABC se diferencia pela coe-

    rncia e articulao de seu projeto ao susci-

    tar o debate da arte contempornea e tam-

    bm por seu relacionamento claro e profis-

    sional entre a instituio e o artista.

    Com o fim do convnio com a Fundao

    Rio, o Espao ABC deslocou-se do Parque

    da Catacumba na Lagoa Rodrigo de Freitas

    para a Funarte, no incio de 1981. A progra-

    mao nesse ano foi menos intensa que em

    1980. Em 1982 o ABC teve lugar no Museu

    de Arte Moderna do Rio de Janeiro

    com uma srie de exposies que ti-

    veram como objetivo os diversos as-

    pectos da pintura atual.

    Em 1983, apesar

    das limitaes or-

    amentrias dita-

    das pela conjuntu-

    ra que atravessa-

    Envelope-dossi com

    material grfico das

    exposies realizadas pelo

    Projeto Espao ABC, no

    MAM-RJ, em 1982

  • 119D O S S I E S P A O A B C / F U N A R T E

    blema do teatro contemporneo, prof. Gerd

    Bornheim (7.7.80)

    Debates Arquitetura: um Problema: 1a

    mesa: Histria social da arquitetura, Edgar

    Graef; Formas arquitetnicas, Glauco

    Campello; Apropriao do espao pela co-

    munidade, Orlando Mollica; Arquitetura e

    comunicao, Paulo Mendes da Rocha

    (1.7.80); 2a

    mesa: Evoluo da arquitetura

    rural e urbana, Alfredo Brito; Relaes da

    tecnologia e atividade artstica, Jlio

    Katinsky; Planejamento participativo, Joo

    Batista Serran (2.7.80)

    Debate sobre msica popular: Msica como

    espao, Jorge Mautner; Tropicalismo e ar-

    tes plsticas, Celso Favaretto; Mercado e

    tradio na msica, Antonio Carlos de Brito

    [Cacaso]; O discurso mgico da msica po-

    pular, Matina Suzuki Jr. (29.7.80)

    Debate sobre msica erudita: Conscincia

    da historicidade da msica, nio Squeff;

    Porque todos pecaram e destitudos esto

    da glria de Deus, Miguel Wisnik e Willy

    Corra (30.7.80)

    Debate sobre literatura: Duas constantes

    da linguagem nos anos 70: desbunde e

    parajornalismo, Silviano Santiago; A exce-

    o e a regra, Geraldo Carneiro; O proble-

    ma da fico, Lus Costa Lima (21.8.80)

    Cinema

    - O Outro Cinema (mostra e debates de fil-

    mes brasileiros de nenhuma ou precria

    circulao comercial): Palestra: Discusso

    de linguagem o cinema ausente, Jean

    Claude Bernadert; filmes: Matou a famlia

    e foi ao cinema, longa-metragem de Jlio

    Bressane; Serafim Ponte Grande, Tesouro

    da juventude, O ano de 1978, Vocs, Congo,

    curtas-metragens de Arthur Omar; O ban-

    dido da luz vermelha, longa-metragem de

    Rogrio Sganzerlla; Nostalgia do branco,

    Fragmento de um discurso amoroso, curta

    e longa-metragem de Ricardo Miranda; Bl-

    bl-bl, Bang-bang, curta e longa-

    metragem de Andrea Tonacci

    mos, o Espao ABC vai procurar executar

    parte de seu programa editorial, retomar os

    trabalhos de conferncias e debates atravs

    dos ciclos sobre Arte e Arquitetura e Arte

    Contempornea e mostrar a produo de

    arte das diversas regies do pas sintoniza-

    das com o esprito do projeto, a saber, as

    linguagens da arte contempornea.

    Documento Dossi, datilografado, sobre as atividades do

    Espao ABC Funarte organizado pelo prprio programa

    Com a exposio de escultoras e relevos

    de Fernando Estarque Cass, ser inaugura-

    do o Pavilho Victor Brecheret, no Parque

    da Catacumba, na Lagoa. O projeto do pa-

    vilho, de autoria de Carlos Porto, foi pre-

    miado em 1979 pelo Instituto de Arquite-

    tos do Brasil, seo carioca. No pavilho fun-

    cionam uma dependncia de rgo ligado

    conservao do meio ambiente e a galeria

    de arte. Sua programao, afeta inicialmente

    Diretoria de Parques e Jardins, pretendia

    ser bastante aberta, mediante inscrio dos

    interessados e seleo por uma comisso de

    especialistas. Cada expositor aprovado teria

    direito a catlogo e doaria uma de suas peas

    para o acervo do pavilho. A nfase seria dada

    escultura. Posteriormente, um convnio

    entre a Fundao Rio e Funarte modificou

    esta orientao: a linha de exposio ser fran-

    camente experimental e os artistas convida-

    dos, alm de catlogos, tero uma ajuda de

    custo para financiar a exposio.

    Frederico Morais, No Parque da Catacumba, nova galeria

    de arte, O Globo, Artes Plsticas, Rio de Janeiro, 16.3.80

    O raciocnio bsico que levou a imaginar e

    a implementar a ideia do Espao Arte Brasi-

    leira Contempornea (que tem em Paulo

    Sergio Duarte seu coordenador) est nas

    seguintes palavras do texto que agora o di-

    vulga: Arte trabalho, evoluo. Antes de

    tudo, impulso, impulso transformador, pon-

    ta de lana para o futuro. No obstante, hoje

    Cartaz do seminrio

    Sobre Literatura

    Debates

  • 120 A R T E & E N S A I O S - N. 2 0 - J U L H O D E 2 0 1 0

    Teatro (curso e leitura de pea)

    Contato com o Teatro do Oprimido mto-

    do de Augusto Boal, introduo prtica com

    Maria Esmeralda e Beth Pacheco (3-5.7.80);

    Plano de converso de todo e qualquer es-

    pectador em ator; leitura da pea Escorre-

    ga no sabo mbar uma histria de amor

    como outra qualquer, de Aline Molinari,

    direo de Maria Lcia de Mendona Lima

    (7 e 8.8.80)

    Shows de msica ao ar livre

    Arte dos sons imagem: princpio do tm-

    pano profano, Alusio Arcela Jr. e Rodolfo

    Caesar (25.5.80); Grupo Um, Lelo Nazrio,

    Zeca Assumpo, Carlinhos Gonalves, Z

    Eduardo Nazrio e Mauro Senise (22.6.80);

    K-Ximbinho e quarteto de clarinetas, Jos

    Botelho, Netinho, Celso e Paulo Moura

    (6.7.80); Filho predileto de Xang, Jorge

    Mautner e sua banda: Robertinho do Reci-

    fe, Nelson Jacobina, Ronald Pinheiro e

    Waldecir (27.7.80); Prlogo msica e dan-

    a, Virgnia Monteiro, Paulo Russo e Paulo

    Lajo (24.8.80); Hermeto Pascoal (6.9.80);

    Hlio Delmiro e Paulo Russo (9.11.80); P

    ante p, Caito Marcondes, Tavinho Fialho,

    Beto Caldas, Jarbas, Teco, Man, Xico

    Guedes e Homero (23.11.80); Mistrios da

    Amaznia, Carioca e o Grupo Devas:

    Ronaldo Leite de Freitas, Paulo Rodrigues,

    Jos Eduardo Nazrio e Francisco Guedes

    (7.12.80); Lanamento do disco Frevo de

    ndio, de Celso Mendes, Celso Mendes, To-

    ms Improta, Mini Paulo, Celso Guima,

    Mrcio Batista e Z Lus (21.12.80)

    1981

    Exposies (Galeria Srgio Milliet

    Funarte)

    - Marcelo Nitsche: Fragiles

    - Paulo Roberto Leal: A casa

    - Milton Machado: Conspirao arquitetura

    - Arthur Barrio: Registros de trabalho (6-7.81)

    - Quase Cinema: apresentao de trabalhos

    dos artistas Antonio Dias (Bistoria), Iole de

    Freitas (Cacos de vida/Fatias de vidro),

    existe uma sensvel dificuldade para a dis-

    cusso dos fenmenos culturais ligados ao

    universo da arte contempornea no Brasil,

    pois todo o trabalho de arte contempor-

    nea encontra-se camuflado pelas operaes

    do mercado de arte, senhor hegemnico do

    espao nos circuitos, debates e discusses.

    um monoplio. Consequncia imediata

    dessa dificuldade de discusso a estagna-

    o nas linguagens conhecidas, conduzindo

    formao de arqutipos sempre voltados

    para as tendncias desse mercado. Isto ,

    novo o estabelecido, o consolidado vis-

    vel. Assim, as transformaes no se operam,

    ou seja, so adiadas o mais possvel, visando a

    estabilidade nos processos comerciais.

    Roberto Pontual, O parque da arte, Jornal do Brasil,

    Artes Plsticas, Rio de Janeiro, 12.5.80

    Os responsveis pela formulao terica e

    execuo do projeto, Paulo Sergio Duarte e

    Ana Maria Miranda, garantem que toda pro-

    gramao tem a preocupao de mostrar e

    debater aquela arte que no best-seller, que

    no pode emergir em razo de interesses de

    mercado e que o Projeto Espao ABC est

    direcionado no sentido de abrir a discusso

    que permanece encerrada nos gabinetes de

    trabalho dos pensadores, crticos e criadores,

    trazendo-a para junto do pblico universit-

    rio. Tudo bem, afora alguns clichs (a conde-

    nao ao mercado de arte: nem tudo que

    exposto nas galerias do circuito comercial

    ruim, nem tudo que est fora bom) e um

    mito (o pblico universitrio), o projeto s

    merece aplausos desta coluna. Trata-se de

    mais um espao alternativo na cidade, de um

    esforo para compensar a lacuna da rea ex-

    perimental do Museu de Arte Moderna do

    Rio. Resta, porm, aguardar os resultados pr-

    ticos e torcer para que no haja

    defasagem muito grande entre teo-

    ria e prtica.

    Frederico Morais, Na Catacumba, o ABC

    da arte brasileira, O Globo, Artes Plsticas,

    Rio de Janeiro, 14.5.80

    Capa do catlogo da

    exposio Pinturas, de

    Carlos Zilio, Espao

    ABC MAM-RJ, 1982

  • 121D O S S I E S P A O A B C / F U N A R T E

    Arthur Omar (Tristo e Isolda) e Miguel Rio

    Branco (Sem ttulo)

    - Theresa Simes: Cargas e Luzes

    - Everardo Miranda: Esculturas (12.81-1.82)

    Pesquisas

    - Subsdios histria da arte contempor-

    nea: Quase Cinema - Cinema de Artistas no

    Brasil, 1970/80 (Coordenao e texto de

    Ligia Canongia, filmografia e depoimentos

    dos artistas, concluda e editada no Cader-

    no de Textos n. 2)

    Publicaes

    - Caderno de Textos n. 2: Quase Cinema

    Cinema de Artistas no Brasil, 1970/80 (Co-

    ordenao e texto: Ligia Canongia; Edies

    Funarte: 3.000 exemplares)

    - Marcelo Nitsche: Fragiles (Cartaz e convi-

    te concebidos pelo artista, usando a mes-

    ma linguagem e material da exposio)

    - Paulo Roberto Leal: A casa (flder com

    texto de Frederico Morais; catlogo, con-

    vite e cartaz com iconografia referente

    mostra, planta da pea apresentada; c-

    pias heliogrficas)

    - Milton Machado: Conspirao arquitetura

    (cartaz/catlogo concebido pelo artista;

    fotos: Z Roberto Lobato; Edies Funarte:

    800 exemplares)

    - Arthur Barrio: Registros de trabalho (ca-

    tlogo com texto do artista; fotos: Barrio,

    J. C. Marquete e Dominique; Edies

    Funarte: 800 exemplares)

    - Quase Cinema (lanamento do Caderno

    de Textos n. 2 Quase Cinema; pesquisa:

    Ligia Canongia; Edies Funarte: 3.000

    exemplares; cartaz da mostra; Edies

    Funarte: 800 exemplares)

    - Theresa Simes: Cargas e luzes (flder

    com texto da artista; Edies Funarte:

    1.000 exemplares)

    - Everardo Miranda: Esculturas (catlogo,

    cartaz e convite concebidos pelo artista em

    torno do projeto da mostra, com texto de

    Um convnio entre a Funarte e a Fundao

    Rio possibilitou o lanamento de um proje-

    to cultural Espao Arte Brasileira Contem-

    pornea visando desenvolver um traba-

    lho de reflexo sobre as transformaes e

    diferenas de linguagem de arte em nossa

    poca. O projeto incluir mostras de arte,

    de carter experimental, intercaladas com

    palestras e debates sobre a questo da lin-

    guagem. O movimento torna-se oportuno,

    na medida em que estimula as pesquisas fora

    do mercado, criando espaos para propos-

    tas que no se vinculam diretamente a pro-

    dutos acabados, mas que refletem com-

    portamentos reflexivos sobre a permanen-

    te atualidade da criao. Sobretudo, como

    bem diz o material de divulgao recebi-

    do, pretende mostrar e debater aquela

    arte que no bestseller.

    Walmir Ayala, Espao ABC e a arte experimental, O Dia,

    Rio de Janeiro, 25.5.80

    Situado no Parque da Catacumba, na La-

    goa Rodrigo de Freitas, o Espao de Arte

    Brasileira Contempornea (ABC) criado

    recentemente est se firmando como uma

    alternativa para o pblico interessado em

    artes na Zona Sul. No se trata porm de

    uma galeria e de um palco convencional.

    Trata-se, como diz o nome, de um espao

    que, segundo seu coordenador, Paulo Ser-

    gio Duarte, pretende veicular a produo das

    artes plsticas que no absorvida pelo

    mercado e discutir os problemas da arte e

    cultura contemporneas, sobretudo as trans-

    formaes da linguagem nas diversas reas.

    Elias Fajardo Fonseca, Espao ABC As artes florescem

    margem da Lagoa. E do mercado, O Globo, Rio de

    Janeiro, 12.7.80

    Ainda restam lembranas dos 12 mil

    favelados que viviam no morro da

    Catacumba hoje um parque com o mes-

    Cartaz da exposio

    de Lygia Clark e

    lanamento dos livros

    Lygia Clark, da

    coleo Arte Brasileira

    Contempornea, e

    Caderno de Textos 1,

    do Espao ABC, 1980

  • 122 A R T E & E N S A I O S - N. 2 0 - J U L H O D E 2 0 1 0

    Ronaldo Brito: Situao de arte; fotos: Marko

    F4; Edies Funarte: 800 exemplares)

    1982

    Exposies (MAM-RJ)

    - Adriano de Aquino: Pinturas (3-22.8.82)

    - Angel Miguez: Esculturas (3-22.8.82)

    - Jorge Guinle: Pinturas (26.8-12.9.82)

    - Carlos Zilio: Pinturas (26.8-12.9.82)

    - Manfredo de Souzaneto: Pinturas/

    Forquilhas (16.9-3.10.82)

    - Otvio Roth: Criando papis o processo

    artesanal como linguagem (MASP: 28.7-

    8.8.82; MAM-RJ: 16.9-3.10.82)

    - Eduardo Sued: Pinturas (7-24.10.82)

    - Evany Fanzeres: Pinturas (19.10-7.11.82)

    - Vauluizo Bezerra: Pinturas (19.10-7.11.82)

    - Maria Carmen Perlingeiro: Bicho de sete

    cabeas (26.10-14.11.82)

    - Katie Van Scherpenberg: Pinturas (26.10-

    14.11.82)

    Pesquisas

    - Subsdios histria da arte contempor-

    nea: Levantamento da produo de arte

    contempornea no Norte (coordenao de

    Osmar Pinheiros)

    - Arte e instituio: Dossi MAM (levanta-

    mento da relao entre arte e instituio

    no caso particular do Museu de Arte Mo-

    derna do Rio de Janeiro; pesquisadores:

    Geraldo Carneiro, Deborah Danowski,

    Alfredo Herkenhoff e Elisa Byington)

    Publicaes

    - Envelope com material das exposies do

    Espao ABC em 82:

    - Adriano de Aquino: Pinturas (cartaz con-

    cebido pelo artista em torno do projeto da

    exposio)

    - Angel Miguez: Esculturas (cartaz e encarte

    com texto do autor)

    Capa do Caderno de

    Textos 2 Quase Cinema

    1981

    mo nome no valorizadssimo terreno da

    Avenida Epitcio Pessoa. Escadas, restos de

    concreto, frondosas mangueiras, jaqueiras e

    goiabeiras que formavam o pomar coletivo

    podem ser admirados entre as esculturas do

    museu ao ar livre. Logo na subida do morro

    ngreme, encontra-se o Pavilho Victor

    Brecheret onde acontecem semanalmente

    intensas e variadas atividades artsticas orga-

    nizadas pelo Espao ABC Arte Brasileira

    Contempornea.

    Rose Esquenazi, Na Catacumba, espao livre aberto s

    artes: espetculos, exposies e debates transformaram

    a rea da antiga favela em centro de difuso cultural,

    Revista Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 28.9.80

    O mercado de arte se restringe a dois tipos

    de valores explica Paulo Sergio. O institu-

    do, com artistas j canonizados pelo siste-

    ma e o outro, com caractersticas decorati-

    vas. Ou seja, existe um mercado mas este

    s se interessa por um tipo de produo.

    Nosso interesse fazer um trabalho

    interdisciplinar de discusso da linguagem das

    artes em geral. Visamos produes que, por

    sua prpria conceituao, no se insiram no

    mercado. Carecemos de reflexo terica.

    Existe uma inchao de produo e uma

    anemia de reflexo. Aqui no Brasil no exis-

    te ainda uma poltica cultural que d apoio

    s artes ou que d organicidade a elas.

    Pau lo Serg io Duar te apud Rose Esquenaz i , Na

    Catacumba, espao livre aberto s artes: espetculos,

    exposies e debates transformaram a rea da antiga

    favela em centro de difuso cultural, Revista Jornal do

    Brasil, Rio de Janeiro, 28.9.80

    Artista imprevisvel, Antonio Manuel sem-

    pre surpreende com suas novas proposies.

    Mas se externamente, de um ponto de vista

    puramente visual, no se pode falar de um

    estilo na obra de Antonio Manuel, a evolu-

    o de seu trabalho tem se pautado por uma

    grande coerncia interna. Dos flans s arma-

    Cartaz do show

    Mistrios da

    Amaznia

  • 123

    - Jorge Guinle: Pinturas (cartaz com texto

    A pintura contra a parede, resultado de

    entrevista-debate com a participao de

    Ronaldo Brito, Tunga, Carlos Vergara e Jor-

    ge Guinle)

    - Carlos Zilio: Pinturas (catlogo com tex-

    to de Jos Antnio B. F. Dias e Laymert

    Garcia dos Santos)

    - Manfredo de Souzaneto: Pinturas/

    Forquilhas (catlogo com texto do artista)

    - Otvio Roth: Criando papis o processo

    artesanal como linguagem (cartaz conce-

    bido pelo artista)

    - Eduardo Sued: Pinturas (catlogo com

    texto de Ronaldo Brito: O nada pleno)

    - Evany Fanzeres: Pinturas (catlogo com

    dilogo entre o crtico Frederico Morais e a

    artista, Rio de Janeiro, setembro de 1982)

    - Vauluizo Bezerra: Pinturas (catlogo com

    texto de A.L.M. Andrade)

    - Maria Carmen Perlingeiro: Bicho de sete

    cabeas (catlogo com desenhos da artis-

    ta)

    - Katie Van Scherpenberg: Pinturas (cat-

    logo com textos de Paulo Herkenhoff: A

    queda de caro e O enredamento

    pseudomstico da matria na procisso de

    Corpus Christi)

    Cursos

    O processo de fabricao artesanal de pa-

    pel, ministrado pelo artista Otvio Roth e

    pela pesquisadora Lilian Bell, MAM-RJ (14

    e 15.8.82) e, somente pelo artista, Arma-

    o oficinas de Arte (11 e 12.12.82); Pin-

    tura: instrumentos e materiais fabrica-

    o, ministrado pelo artista Manfredo de

    Souzaneto (20.9-1.10.82)

    1983

    Exposies

    - Carmela Gross: Quasares (MAM-RJ: 18.8-

    7.9.83; CCSP: 13.9-12.10.83)

    - Carlos Pasquetti: Desenhos (MAM-RJ: 1-

    25.9.83; CCSP: 18.10-18.11.83; Margs: 7-

    21.12.83)

    es, por exemplo, o caminho bastante

    lgico. Contudo, poder-se-ia dizer que este

    trabalho recente de Antonio Manuel, deno-

    minado Frutos do espao mais aberto e

    generoso que os anteriores, pois no o

    artista, digamos assim, que se expressa, mas

    o espectador. Com suas armaes, ele tra-

    balha a virtualidade da imagem, continuamen-

    te renovvel, sempre que houver um espec-

    tador disposto a participar do jogo imagina-

    tivo por ele proposto. A arte se insere, na

    paisagem, como uma frgil membrana, de

    maneira to orgnica e sutil como uma leve

    brisa ou aragem. Por pouco, nem percebe-

    mos sua existncia.

    Frederico Morais, Frutos do espao: a virtualidade da

    imagem, O Globo, Rio de Janeiro, 7.11.80

    Agora, no Espao ABC, Tunga atravs do

    feltro e da borracha, pregando nas escultu-

    ras negras e brancas, luzes e um exaustor,

    recria um ambiente que mais uma vez no

    uma representao de imagem do desejo,

    mas uma formalizao plstica, desprovida

    de uma significao imediata, que poderia

    iludir o espectador. Como diz, no catlogo

    Ronaldo Brito, a questo no decifr-la e

    sim experiment-la. Ou seja, compreender

    na objetividade fsica de obra, a experincia

    visvel das manifestaes inconscientes como

    se o trabalho fosse uma plstica do desejo e

    no a descoberta de sua ntima significao.

    Wilson Coutinho, Potica do desejo, Jornal do Brasil,

    Rio de Janeiro, 22.11.80

    Ou seja, o espectador comum dirige-se ao

    Pavilho Victor Brecheret, na Lagoa, buscan-

    do o fetiche da arte, a aura do artista, o

    didatismo do crtico. Mas o Espao ABC no

    se prope a nada disso, no se prope a

    expor mais a arte moderna (velha j de um

    sculo), nem mesmo as formas j cataloga-

    das de arte ps-moderna, de antiarte j devi-

    D O S S I E S P A O A B C / F U N A R T E

  • 124 A R T E & E N S A I O S - N. 2 0 - J U L H O D E 2 0 1 0

    - Luciano Pinheiro: Arqueologia do futuro

    (MAM-RJ: 1.9.83; MAC-USP)

    Publicaes

    - Caderno de Textos n. 3: Semana de Arte

    Moderna: 60 anos Ensaios sobre o Moder-

    nismo (textos de Srgio Tolipan, Ronaldo

    Brito, Sophia S. Telles, Silviano Santiago,

    Jos Miguel Wisnik e Paulo Herkenhoff;

    parte das comemoraes dos 60 anos da

    Semana de Arte Moderna, realizada pelo

    Inap/Funarte)

    - Caderno de Textos n. 4: Arte e filosofia

    (documentao das palestras dos filsofos

    Emmanuel Carneiro Leo, Gerd Bornheim,

    Grard Lbrun e Jos Arthur Giannotti,

    realizadas em junho/julho de 1980, no Es-

    pao ABC)

    - Carmela Gross: Quasares (flder com ima-

    gens de trabalhos)

    - Espao NO: documentao das atividades

    desenvolvidas no Rio Grande do Sul. Lan-

    amento seguido de performances de Ro-

    grio Nazari e de Carlos Wladimirsky, e

    palestra de Vera Chaves Barcellos

    Mostra de Filmes/Debate

    - Quasi Cinema / Hlio Oiticica filmes de,

    com e sobre: fotografias da exposio de

    Hlio Oiticica na Galeria White Chapel, em

    Londres, e exibio de seus filmes, na

    Cinemateca do MAM-RJ: Agripina Roma

    Manhattan (Nova York, 1972), Tmbulos,

    Orculo e Helena Inventa ngela Maria

    (Nova York, 1975); Super Hlio na Ponta de

    Pepa, de Maurcio Cirne; Kleemania, de

    Snia Miranda (corredor da Cinemateca, 28-

    31.10.83). Mostra de filmes: Arte Hoje, de

    Antonio Manuel, e Estrangulador da loucu-

    ra, de Jlio Bressane (28.10.83); HO, de

    Ivan Cardoso, e Gigante da Amrica, de

    Jlio Bressane (29.10.83); Arte pblica, de

    Sirito, Apocalipoptese, de Raimundo Ama-

    do, Loucura e cultura, de Antonio Manuel,

    e Dr. Dionsio, de Ivan Cardoso (30.10.83).

    Debate sobre Hlio Oiticica, no auditrio

    da Cinemateca do MAM, com Lygia Pape,

    Luciano Figueiredo, Carlos Zilio, Neville

    damente assimilada pelo sistema. O que pro-

    pe trabalhar o limite entre o que arte e

    o que no , ou seja, trabalhar uma situao

    de fronteira, onde qualquer deslocamento

    arriscado, qualquer definio temerria.

    Frederico Morais, Tunga no Espao ABC, O Globo, Ar-

    tes Plsticas, Rio de Janeiro, 24.11.80

    Uma exposio de Lygia Clark, com lana-

    mento de um livro sobre a obra da artista

    plstica e do primeiro volume dos Cader-

    nos do Espao ABC, dia 15 de dezembro, s

    18h30m, marcar a transferncia do Espao

    Arte Brasileira Contempornea, do Parque

    da Catacumba (av. Epitcio Pessoa, 3000,

    Lagoa) para a sede da Funarte, na rua Ara-

    jo Porto Alegre, 80, Centro. O antigo espa-

    o, entretanto, ainda receber uma ltima

    exposio antes de ser desativado: a do es-

    cultor Jos Resende, que ser inaugurada no

    dia 16 e permanecer at 31 de janeiro (...)

    Press-release, disponvel na pasta do Projeto ABC, no

    Cedoc da Funarte

    A institucionalizao da arte experimental,

    atravs da criao do Espao ABC, pode ser

    considerada um ponto a favor para a atual

    administrao da Funarte. Nascida nos anos

    60, como um mdulo experimental som-

    bra do MAM, com a participap de

    Frederico Morais, Cildo Meireles, Luiz

    Alphonsus e Guilherme Vaz, conseguiu, du-

    rante a dcada de 70, ocupar o MAM e, ago-

    ra, se integra, talvez definitivamente, aos bra-

    os mais ricos do Estado. Mas, foi a criao

    do Espao, que permitiu, num ano, a mostra

    de trabalhos de artistas como Paulo

    Herkenhoff, Tunga, Jos Resende, Antonio

    Manuel, alm de abrigar as es-

    culturas de Srgio Camargo.

    O problema do espao ABC

    era o local e o Pavilho

    Cartaz do show de Sivuca,

    Programa RioArte

    Instrumental Parque

    Carlos Lacerda/

    Catacumba, a partir de

    trabalho de Ins de

    Arajo

  • 125

    dAlmeida, Jlio Bressane, Ivan Cardoso e

    Wally Salomo (31.10.83)

    Conferncias e debates

    Arte e arquitetura: em parceria com a re-

    vista Mdulo, realizado no Centro Cultural

    Cndido Mendes, com os temas Perspecti-

    va Histrica da Arte e da Arquitetura

    (20.5.83); Insero Social do Artista e do

    Arquiteto em seus Produtos (23.5.83); Lin-

    guagem da Arte e da Arquitetura e seu Con-

    vvio (24.5.83); Formao do Artista e do

    Arquiteto (26.5.83); Arte Contempornea

    e Arquitetura Contempornea (27.5.83).

    Entre os debatedores estavam Ronaldo

    Brito, Ferreira Gullar, Lina Bo Bardi, Jorge

    Czajkowski, Jos Resende, Ermbia

    Maricato, Cildo Meireles, Carlos Nelson dos

    Santos, Carlos Vergara, Sophia Teles, Joa-

    quim Guedes, Edgar Graef, Srgio Camargo,

    Fernando Burmeister, Joo Filgueiras Lima,

    Paulo Sergio Duarte, Fbio Penteado, Italo

    Campofiorito, Tunga, Jorge Glusberg e

    Gofredo lomni.

    1984

    Exposies

    - Nelson Augusto: (MAM-RJ: 14.6-5.7.84;

    MAC-USP: 5.11-8.12.84)

    - Joo Gril: (MAM-RJ: 14.6-15.7.84; MAC-

    USP: 5.11-8.12.84)

    - Vera Chaves Barcellos: (MAM-RJ: 19.7-

    19.8.84; MAC-USP: 5.11-8.12.84)

    - Mrio Cravo Neto: (MAM-RJ: 19.7-19.8.84;

    MAC-USP: 5.11-8.12.84)

    - Cildo Meireles: Desvio para o vermelho

    (MAM-RJ: 27.9-28.10.84; MAC-USP: 5.11-

    8.12.84)

    - Emil Forman: Retrospectiva (MAM-RJ:

    27.9-28.10.84; MAC-USP: 5.11-8.12.84)

    - Nelson Leirner: O grande desfile (MAM-

    RJ: 25.10-25.11.84; MAC-USP: 5.11-8.12.84)

    - Carlos Fajardo: (MAM-RJ: 5.11-8.12. 84;

    MAC-USP: 27.9-28.10.84)

    Capa do Caderno de

    Textos 3 Sete ensaios

    sobre o Modernismo,

    1983

    Capa do Caderno de

    Textos 4 Arte e

    filosofia, 1983

    Brecheret que abrigava as obras expostas.

    Um espao improvisado e um local de difcil

    acesso. Bem que sua administrao procu-

    rou movimentar o local, carregando para l

    shows de msica ou conferncias. Critica-

    se, com razo, a falta de didatismo como as

    obras eram servidas para o minguado e po-

    bre espectador, que por l viesse bater s

    suas portas. Com um pouco de engenho,

    isto poder ser sanado para o prximo ano,

    quando o Espao ABC sofrer um desloca-

    mento espacial, indo habitar a sede da

    Funarte, na antiga galeria Jurandir Noronha.

    Como no se deve considerar como uma

    grande vantagem o fato de as artes plsticas

    no serem vistas, o novo local poder pro-

    piciar, alm dos embates de linguagem, a

    possibilidade de existncia dos olhares do

    pblico.

    Wilson Coutinho, Um ano sem grandes mostras salvo

    por pequenas exposies, Jornal do Brasil, Caderno B,

    Rio de Janeiro, 3.1.81

    Outro trabalho de Jos Resende um agre-

    gado de pedras amarradas por cordo de

    couro que lembra um divertido comentrio

    em relao escultura monumental ou, em

    outro trabalho, um tubo de borracha envol-

    vido num plstico de vinil pregado na pare-

    de, uma sugesto sexualidade. Mas sero

    esses trabalhos esculturas realmente? Elas,

    como muitos trabalhos da vanguarda atual,

    funcionam como meticulosas comdias da

    arte. Esses trabalhos exibem, sobre o enre-

    do bem construdo e j bem conhecido da

    histria da arte moderna, pequenas impro-

    visaes, que alteram o sentido do passado,

    o tornam presente e so as obras de hoje,

    mantidas pelo olhar irnico que j percebeu

    que essa histria a de uma constante re-

    cuperao institucional.

    Wilson Coutinho, Jos Resende e as esculturas irnicas,

    Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 5.2.81

    D O S S I E S P A O A B C / F U N A R T E

  • 126 A R T E & E N S A I O S - N. 2 0 - J U L H O D E 2 0 1 0

    Publicaes

    - Nelson Augusto: (flder com citaes de

    frases de vrios artistas)

    - Joo Gril: (flder com imagens de tra-

    balhos)

    - Vera Chaves Barcellos: (flder com texto

    de Ana Hause Brody: Arte como experin-

    cia interdisciplinar)

    - Mrio Cravo Neto: (flder com textos de

    Attilio Colombo e Walter Zanini)

    - Cildo Meireles: Desvio para o vermelho

    (flder com texto de Ronaldo Brito: Desvio

    para o vermelho)

    - Emil Forman: Retrospectiva (catlogo com

    depoimentos de Antonio Manuel, Luiz

    Ferreira, Paulo Garcez, Tunga, Paulo

    Herkenhoff, Ronaldo Brito, Waltercio Cal-

    das, Frederico Morais e Cildo Meireles;

    curadoria de Antonio Manuel, Luiz Ferreira

    e Dora Forman Vilaa)

    - Nelson Leirner: O grande desfile (flder)

    - Carlos Fajardo: (flder com imagens de

    trabalhos)

    - Ciclo Nacional de Performances: (envelo-

    pe com pranchas sobre cada participante)

    Eventos

    - Ciclo Nacional de Performances: Espao

    Funarte So Paulo (3-5.8.84), com Artur

    Matuck, Carlos Wladimirsky, Edgar Ribei-

    ro, Eduardo Barreto, Guto Lacaz, Ivald

    Granato, Jos Eduardo Garcia de Moraes,

    Os Corsini, Paulo Bruscky, Paulo Yutaka,

    Rogrio Nazari e Tomoshigue Kusuno

    - Quasi Cinema / Hlio Oiticica: CCSP Arte

    Hoje, de Antonio Manuel, e Estrangulador

    da loucura, de Jlio Bressane (2.1.84); HO,

    de Ivan Cardoso, e Gigante da Amrica, de

    Jlio Bressane (3.1.84); Apocalipoptese,

    de Raimundo Amado, e Loucura e cultura,

    de Antonio Manuel (4.1.84); Arte pblica,

    de Sirito, e Dr. Dionsio, de Ivan Cardoso

    (5.1.84)

    Na atual exposio vemos, numa foto,

    Barrio demonstrar que atirou de um lugar

    um dardo sobre o mapa. Ou mostra uma

    ao realizada, em 1974, que o deslizar de

    um corte de tesoura numa tela. Em outro

    trabalho amarra numa rvore em qualquer

    lugar de Portugal um rabo de bacalhau. Fin-

    ca num bloco de gordura uma faca. Em ou-

    tro trabalho percorre quatro tonis em cin-

    co segundos. Armando essas situaes, Barrio

    procura dissolues de comportamentos

    estticos e mesmo do indivduo. Nesse senti-

    do, o seu trabalho convidativo para avaliar o

    prprio comportamento da arte e principal-

    mente o do seu segmento experimental. E

    tambm promover uma reflexo sobre esse

    tipo de manifestao, que podendo estar em

    todos os lugares um s necessariamente a

    abriga: as galerias ou museus. Ns vemos os

    seus registros. Isto , ns no vemos, de fato,

    toda a ecloso da obra. Essa situao para-

    doxal e cmica de ver o que no podemos

    ver totalmente, esse visvel e invisvel, apare-

    cido sobre a forma do documento e pela

    austera memria da obra, acaba no sendo

    uma dissoluo esttica. Talvez, ao contr-

    rio, seja a afirmao de sua mais antiga

    impregnncia mtica, quando ela era um ri-

    tual sagrado numa caverna escura. eviden-

    te que o artista no dana para capturar

    bisontes, mas o mundo industrial oferece ou-

    tras caas, uma psicologia dissolvida nas mas-

    sas (Barrio jogou trouxas sangrentas nas ci-

    dades), esses objetos da indstria ou elemen-

    tos da natureza captveis na sua energia. In-

    visveis, os trabalhos so documentos de uma

    situao sem memria. Contemporanea-

    mente, tais obras mostram como o artista

    convidado, sem desejar, a utilizar-se

    miticamente do poderio da arte, para

    desfaz-la. em cima desse mecanis-

    mo que a obra de arte experimen-

    tal procura o seu equilbrio. Ten-

    so [de] que o trabalho de Barrio

    necessariamente participa.

    Ciclo Nacional de

    Performances

    Espao Funarte So

    Paulo, 1984

  • 127

    Wilson Coutinho, Os registros de Barrio, Jornal do Bra-

    sil, Rio de Janeiro, 18.781

    O Espao ABC foi criado em 1980 pela

    Funarte e dispe de um projeto de exposi-

    es, debates e pesquisas sobre as transfor-

    maes da linguagem na arte e na cultura,

    Atualmente, ele um projeto comum de

    trabalho, na rea de exposies e confern-

    cias, do Instituto Nacional de Artes Plsticas

    daquele rgo e do qual participa tambm

    o MAM.

    Carlos Zilio e Jorge Guinle Filho, no MAM, ltima Hora,

    Artes Plsticas, Rio de Janeiro, 25.8.82

    Discusso do problema tambm a suges-

    to do artista plstico Jos Resende, escul-

    tor de vanguarda, que de qualquer forma

    acha correta a atuao da Funarte no setor.

    As exposies feitas no Rio pelo Projeto

    ABC, na sua opinio, permitem uma com-

    preenso mais acertada, mais precisa do que

    se produz contemporaneamente em arte no

    Pas. Lamenta que esta seja uma iniciativa

    isolada e parte dela ao colocar suas pro-

    postas em relao s atividades da Funarte:

    preciso criar condies para que projetos

    como este saiam da esfera restrita do Rio

    de Janeiro.

    Cida Taiar, Mudana total, pedem os artistas, Folha de

    S. Paulo, So Paulo, 25.11.82

    Desde que foi criado, o projeto de Msica

    Instrumental (apresentado todos os domin-

    gos no Parque Carlos Lacerda) teve vrios

    perodos. Em 1980, quando comeou, como

    parte do projeto ABC (Arte Brasileira Con-

    tempornea), de Paulo Sergio Duarte, a ideia

    era levar ao pblico as produes musicais

    com uma esttica contempornea, que no

    tinham lugar para se apresentar. Estilos mu-

    sicais de vanguarda, como a msica

    eletroacstica, poderiam ser mostrados ao

    pblico. O ano de 80 foi bastante irregular,

    segundo a diretora do projeto, Lilian

    Zaremba, pois faltava dinheiro para realizar

    os shows, com tudo a que os msicos tm

    direito: palco, instrumentos e iluminao

    adequados. Em 81, o Msica Instrumental se

    desvinculou do ABC, passando a ter verba e

    estatuto prprios.

    Catarina Figueiredo, Projeto Msica Instrumental: des-

    conhecidos ou famosos, todos tm vez no Parque Carlos

    Lacerda, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 22.12.82

    Carmela Gross, com a mostra Quasares,

    a artista convidada para inaugurar (...) no

    Centro Cultural So Paulo, as atividades do

    Espao Arte Brasileira Contempornea, um

    projeto de exposies, debates e pesquisas

    sobre as transformaes de linguagem na

    arte e na cultura. O Espao tambm preten-

    de incentivar a exibio da arte contempo-

    rnea. Inaugurado em 1980 na Funarte do

    Rio, ele amplia agora seu raio de atuao

    para outros estados.

    Tcnicas variadas nas mostras, Folha de S. Paulo, So

    Paulo, 13.9.83

    Carlos Pasquetti expe (...) no Museu de

    Arte do Rio Grande do Sul, sua produo

    mais recente em desenhos a pastel. A mos-

    tra, que j esteve este ano no Museu de Arte

    Moderna do Rio de Janeiro e no Centro

    Cultural So Paulo, inaugura no Margs o Es-

    pao Arte Brasileira Contempornea (Espa-

    o ABC), um convnio com o Instituto Na-

    cional de Artes Plsticas (Inap) da Funarte.

    O objetivo do novo espao divulgar as

    atuais pesquisas de linguagem visual, promo-

    vendo o debate e a reflexo sobre os novos

    rumos da arte.

    Anglica de Moraes, Pasquetti inaugura espao de arte

    contempornea no Margs, Zero Hora, 2o

    Caderno, Por-

    to Alegre, 5.12.83

    D O S S I E S P A O A B C / F U N A R T E

  • 128 A R T E & E N S A I O S - N. 2 0 - J U L H O D E 2 0 1 0

    No esquecer que em 1980

    ningum poderia imaginar que existiria

    no Brasil um lugar como Inhotim

    Entrevista de Paulo Sergio Duarte a Ivair Reinaldim, no Rio de Janeiro, em 7 de maio

    de 2010.

    Ivair Reinaldim Em 1980, numa entrevista, voc afirmava que Aqui no Brasil no existe

    ainda uma poltica cultural que d apoio s artes ou que d organicidade a elas. Em sua

    opinio, o que mudou de l para c?

    Paulo Sergio Duarte De 1980 para c o mundo mudou muito. O mundo estava se prepa-

    rando para uma transformao muito profunda: os hippies em grande declnio e os yuppies

    em plena ascendncia. Logo depois vm Margaret Thatcher e Ronald Reagan na direo de

    uma nova poltica internacional, sobretudo com transformaes importantes do ponto de

    vista do thatcherismo, de ruptura muito radical com as conquistas do trabalhismo na Gr-

    Bretanha do segundo ps-guerra. Mais tarde, em 1989, houve a queda do muro de Berlim,

    logo depois o fim da Unio Sovitica. Nesse perodo de 30 anos, realmente houve grandes

    mudanas no mundo. E o Brasil no podia ficar fora disso. O Brasil tambm mudou muito.

    Em 1980 vivamos a poltica de abertura do regime militar, e, do ponto de vista da poltica

    das artes, acredito que a maior mudana no Brasil ocorreu a partir do incio dos anos 90,

    com a promulgao da lei de incentivo cultura, conhecida como Lei Rouanet, uma vez

    que, em termos prticos, a Lei Sarney no tinha sido viabilizada. Com a Lei Rouanet, depar-

    tamentos de marketing das grandes corporaes, pblicas ou privadas, passam a ocupar um

    lugar preponderante na aprovao ou no de projetos de renncia fiscal, formulando gran-

    de parte da poltica cultural do pas em termos de programaes de eventos, sempre den-

    tro de suas prioridades.

    Houve, ento, uma retrao da presena do Estado na formulao de polticas pblicas, em

    decorrncia do volume de recursos aportados pela lei de incentivo cultura, atravs da

    renncia fiscal, sobretudo no perodo de oito anos do Governo Fernando Henrique Cardo-

    so. A partir de 2003, com a mudana de governo do PSDB para o PT, assistimos a uma volta

    da presena do Estado, mas fazendo o elogio da disperso. Acredito que isso se justificava

    no incio, para que essas pessoas que estavam pela primeira vez ocupando cargos federais

    tomassem conhecimento no s de um territrio desconhecido, em termos de aes go-

    vernamentais, como tambm de certas presenas de comunidades mais frgeis, que no

    teriam possibilidade de acesso a organismos do governo, muito menos a departamentos de

    marketing. Essa ao teve certa pertinncia no incio do governo. Pena que ela se manteve

    ao longo dos oito anos e no se aproveitou o levantamento feito no incio para criar focos

    precisos, para dar organicidade a uma poltica cultural para as mais diversas reas.

    Contudo, houve um avano importante, a meu ver, na rea de preservao de patrimnio

    cultural, particularmente por causa do decreto de agosto de 2000, de Fernando Henrique

  • 129

    Cardoso, assinado pelo ministro Francisco Weffort. Surpreendentemente, o Governo

    Fernando Henrique em nenhum momento at o final de seu mandato se utilizou desse

    decreto, s usado no governo seguinte. A legislao do patrimnio imaterial do governo do

    PSDB foi bem operacionalizada por esse novo governo. No posso falar da rea de dana,

    teatro, msica, porque no as acompanhei de perto. Acompanhei mais essa do patrimnio

    cultural, tanto material quanto imaterial, e a poltica de artes visuais. J esta ltima pratica-

    mente no existe. Est em constante discusso com cmaras setoriais, assembleias, grupos

    de discusso, conselhos e comisses. Mas chegou-se ao final do governo sem que se tivesse

    formulado uma poltica especfica para as artes visuais.

    O caso das artes visuais merece ateno particular, porque temos no Brasil uma formao do

    olhar contemporneo muito forte e ditada pela indstria cultural, pelos grandes meios de

    comunicao de massa. Temos uma excelente televiso, particularmente a Rede Globo. Em

    termos de veculo de televiso aberta, temos elevada qualidade no s de forma, mas tambm

    de contedo. Sei que no feita para ns, acadmicos, para ns, universitrios, mas, se pensar-

    mos no conjunto da populao brasileira, a Rede Globo um veculo de comunicao aberta

    de altssima qualidade. Com esses padres estabelecidos ficou muito mais difcil tirar mais-valia

    do olho do pobre do que com os padres estabelecidos por outros canais mais populistas,

    que apelam mais. Em compensao, o que se tem que isso estabelece um padro esttico

    de norte a sul do pas, que respeita as diferenas, no apenas tnicas ou culturais, mas sobre-

    tudo diferenas da inteligncia do olhar no mundo contemporneo.

    Por sua vez, as artes visuais seriam um campo em que certo grau de experimentao, de

    experimentalidade, ainda sobrevive, o que contribui para uma formao mais completa do

    cidado. Da a importncia de uma poltica nacional de museus, de bolsas de arte para

    artistas e pesquisadores no campo das artes visuais, da alocao de fundos para a aquisio

    de obras de arte e criao de acervos regionais e nacionais. Esse conjunto de medidas no

    foi tomado ao longo desses anos. Os dois ou trs primeiros anos de um governo que durou

    oito eram suficientes o bastante para esse diagnstico, para detectar e criar certas priorida-

    des, no caso exclusivo das artes visuais.

    Evidentemente, existem certas distores nas diversas leis de incentivo cultura. Se um

    grupo resolve construir um museu, ele tem direito a 75% de renncia fiscal, e 25% tem que

    ser aporte do grupo. Quem faz um filme tem direito a 125% de renncia fiscal; ou seja, pela

    lei do audiovisual, o que se aplica no filme d direito a recuperar aquilo e mais 25% em

    iseno de impostos para o governo federal. Isso j uma diferena. Se o sujeito vai cons-

    truir um museu de arte, est com 50% de desestmulo em relao a quem vai financiar um

    filme, porque a perda real dele da ordem de 50% do capital aportado, por conta dessa

    diferena entre as leis de incentivo cultura e do audiovisual. Essas distores poderiam ser

    corrigidas. Houve tempo suficiente para isso. No precisamos de uma ditadura de 16, 24

    anos para resolver certos problemas que podem ser diagnosticados em dois ou trs anos e

    ser resolvidos, sobretudo, quando h possibilidade de reeleio.

    Por fim, nessa poca, h 30 anos, falava-se em organicidade da poltica das artes no Brasil em

    termos sonhadores e mais ou menos utpicos. Hoje bastaria ter o mnimo de organicidade

    e j estaria satisfeito. Mesmo assim, volto a insistir: as artes visuais tm que ser objeto de

    D O S S I E S P A O A B C / F U N A R T E

  • 130 A R T E & E N S A I O S - N. 2 0 - J U L H O D E 2 0 1 0

    uma ateno especfica para essa questo de um olhar constitudo por um padro esttico

    hegemnico, que reconheo de alta qualidade, mas que no corresponde importncia das

    enormes diferenas com que a inteligncia do olhar precisa estar sendo alimentada no

    cotidiano de uma sociedade contempornea.

    Vejo tambm que h uma desateno muito bvia. Tenho insistido no caso paradigmtico

    do Museu de Arte de Braslia, que se encontra fechado, sem poder receber visitantes, num

    prdio que est interditado. Esse prdio, que fica na margem do Lago Norte, era o antigo

    Clube das Foras Armadas, depois transformado em Casaro do Samba e finalmente, em

    1985, em museu de arte. Se o estatuto da arte na capital do pas esse, no podemos

    esperar muito. No culpa desse governo. Lembro que passaram 13 presidentes da Rep-

    blica por Braslia, desde Juscelino Kubitschek at hoje, sem contar Ranieri Mazzilli, logo de-

    pois do golpe militar, e a troica dos ministros militares, no intervalo entre a doena de Costa

    e Silva e a posse de Garrastazu Mdici. Tirando esses dois governos provisrios, foram 13

    presidentes, e ningum deu ateno a isso. Quer dizer, h um problema que realmente

    merece a ateno dos artistas, dos historiadores da arte, dos crticos, dos colecionadores,

    do pblico que se interessa por arte. Para examinar apenas esse caso, que se reproduz com

    ligeiras diferenas e salvo honrosas excees mais ou menos pelo Brasil inteiro. Chamo a

    ateno para ele apenas pelo fato de estar na capital.

    IR Como sua experincia junto ao planejamento e implementao do Ncleo de Arte

    Contempornea (NAC) da Paraba foi importante para a elaborao do Espao ABC aqui

    no Rio de Janeiro mais tarde?

    PSD Num primeiro momento, em ambos os trabalhos, tive a parceria e o incentivo muito

    forte de um grande amigo, o artista plstico Antonio Dias. Ele foi meu parceiro no projeto

    do NAC e me incentivou muito a apresentar o ABC para o ento ministro da Educao e

    Cultura, Eduardo Portella, e ao diretor executivo da Funarte, Roberto Parreira.

    O NAC foi muito importante pelos erros que cometi. Era uma conjuntura pessoal particular-

    mente difcil para mim porque tinha passado quase nove anos oito anos e 11 meses fora

    do Brasil e acelerei minha volta porque meus pais estavam muito doentes. Eles moravam no

    Rio de Janeiro e quando cheguei, fui conhecer o estado em que havia nascido. Havia sado

    com dois meses de idade de Joo Pessoa, na Paraba, e retornado duas vezes em perodo de

    frias, uma com 12 e outra com 16 anos. Ento, esse perodo do NAC, que vai de 78 at 79,

    me ensinou muito, como deveria fazer certas coisas e como no deveria fazer outras. No do

    ponto de vista da programao do NAC, que teve uma razovel qualidade. Acho s que

    poderia ter sido mais balanceada com artistas locais.

    Uma coisa que guardo na memria foi no ter podido dar

    ateno a uma exposio do Cildo Meireles no NAC.

    Confiei a produo inteiramente pequena estrutura que

    tnhamos l, e a coisa no vingou. Estava muito preocupa-

    do com um problema pessoal e acabei no dando a aten-

    o merecida. Mas houve erros e acertos. O NAC foi im-

    portante como marco do que depois viria ocorrer 10, 15

    anos mais tarde, com mais fora em Recife do que at

    Registro do show de

    Hermeto Paschoal

    Espao ABC Parque da

    Catacumba, 6.9.1980

  • 131

    mesmo em Joo Pessoa, que era uma abertura inevitvel para novas linguagens na arte

    contempornea. Na poca havia uma resistncia muito forte a essas novas linguagens, devi-

    do ao forte apego a questes tradicionais de medium a pintura, a gravura, etc. O NAC

    cumpriu um papel importante como ncleo pioneiro nesse debate.

    Em termos pessoais, o NAC foi muito importante tambm para a formulao do ABC. Neste

    ltimo, contava com uma conjuntura particularmente favorvel. Roberto Parreira, diretor exe-

    cutivo da Funarte, era um autntico liberal. No esses liberais na economia que quando vo

    para a poltica so uns autoritrios. Ele foi muito receptivo ao trabalho, e, quando vi a situao

    toda da Funarte no antigo prdio, achei que o programa no deveria comear l dentro

    porque iria gerar muita resistncia. Sugeri que fosse feito fora, em parceria com a Prefeitura do

    Rio de Janeiro, e Roberto aceitou. A contei com outra ajuda importante. Quem me apoiou

    muito nessa poca de minha chegada na Funarte foi a escritora Ana Maria Miranda, que dirigia

    a Diviso de Multimeios, mais tarde Departamento de Editorao da Funarte. Ela me deu

    apoio integral para conhecer a instituio e seus mecanismos de funcionamento.

    Ns tnhamos uma chance de atuao nica. Tambm havia a sorte e as coincidncias. Na

    Prefeitura estava Israel Klabin e na presidncia da ento Fundao Rio, que mais tarde veio

    a se chamar Instituto Municipal de Cultura RioArte, o escritor Rubem Fonseca, que foi

    muito receptivo proposta do ABC. A receptividade foi to grande, que ele me ofereceu

    dois lugares. Voc escolhe: o prefeito aceita que voc faa no Palcio da Cidade, ali na Rua

    So Clemente, ou no Parque da Catacumba. O que voc prefere? Respondi no Parque da

    Catacumba, devido ao tipo de pessoa que iria frequentar o ambiente.

    E depois tinha a possibilidade da msica instrumental, graas presena de Lilian Zaremba

    na Fundao Rio, algum que poderia formular uma programao musical de elevada quali-

    dade. Esse aprendizado foi importante para mim: conjugar um programa que no fosse s

    de exposies de arte, mas fazer o pblico da msica visitar uma exposio. Uma quantida-

    de elevada daquelas pessoas que iam nos finais de semana, depois da praia, assistir aos

    concertos de msica instrumental, popular e erudita, produziria essa interao.

    E havia tambm as sries de palestras, de conferncias com temas especficos, com conferen-

    cistas da mais elevada estatura, para os mais diversos temas. Em 1980 tudo ocorreu no Parque

    da Catacumba. S em 1981 que colocamos o programa dentro do MAM-RJ e, em 1982, na

    Funarte (mais tarde o ABC voltaria ao MAM) e assim mesmo ainda havia reaes. Era uma

    estratgia de chegada fsica dentro da instituio com suas consequncias simblicas.

    IR Para voc, quais as diferenas existentes em relao s

    propostas da rea Experimental do MAM-RJ e do Espao

    ABC da Funarte?

    PSD Em 1977, havia passado rapidamente pelo Rio e vi uma

    exposio importantssima sobre o construtivismo brasileiro

    no MAM, feita por Aracy Amaral. Mas logo voltei para Paris.

    Estava preparando minha volta definitiva quando recebi a

    notcia do incndio do MAM. Assim, no cheguei a conhe-

    cer a experincia da Sala Experimental. Quem cobriu o v-

    D O S S I E S P A O A B C / F U N A R T E

    Cartaz do seminrio

    Sobre Msica

    Debates

  • 132 A R T E & E N S A I O S - N. 2 0 - J U L H O D E 2 0 1 0

    cuo criado pelo incndio, no perodo pelo menos de 1978 at 1980, foi o Centro Cultural

    Cndido Mendes, com curadoria de Maria de Lourdes Coimbra Mendes de Almeida. O

    Centro Cultural e os andares alugados pela universidade funcionavam no prdio do cinema

    Pax, que no existe mais, onde hoje o Frum de Ipanema, um shopping com salas de

    escritrio em cima. Ali foram realizadas exposies importantes, como O Sermo da Mon-

    tanha Fiat Lux, de Cildo Meireles, Plpebras, de Tunga, O po nosso de cada dia, de Anna

    Bella Geiger. Quando formulei o ABC no era tanto para preencher a lacuna da Sala Expe-

    rimental do MAM. Era mais a formulao de uma poltica de arte contempornea para uma

    instituio de mbito nacional, que era a Funarte; embora isso comeasse muito timidamen-

    te, em termos de Rio de Janeiro. Mas era a possibilidade de levar essa discusso para o

    mbito de uma instituio do alcance e do peso que a Funarte tinha na poca, que muito

    diferente da situao de hoje.

    IR Poderamos pensar o Espao ABC como um estratgia que daria incio a um proces-

    so de tomada de posio da instituio pblica, em nvel nacional, frente arte contem-

    pornea brasileira?

    PSD Das questes que at hoje so debatidas sobre a diferena entre o moderno e o

    contemporneo, de como tratar essa coisa chamada ps-moderno ou contemporneo ou

    o nome que quiserem dar, e que no pode mais se colocar [no mundo] como um Picasso,

    um Braque ou um Mondrian. Sem dvida, ele o incio de uma estratgia de discusso de

    alargamento, de amplificao dessa discusso, numa instituio federal de mbito nacional.

    IR Em sua opinio, at que ponto o contexto poltico transitrio (ditadura, anistia, abertura)

    foi importante nesse processo?

    PSD Mais do que para o ABC, foi importante para a Funarte. Sem dvida alguma isso j

    consenso , ela uma estratgia do Governo Geisel para reestabelecer um dilogo mais

    prximo com a sociedade civil. Se h uma fissura muito forte entre Estado e sociedade, a

    cultura campo profcuo para reestabelecer esses laos. A Funarte criada claramente com

    essa funo.

    E haja vista que no houve impedimento maior para que pessoas que tinham ficha poltica

    no DSI, Departamento de Segurana Interna, trabalhassem l dentro. No podiam ocupar

    certos cargos, evidentemente, porque o ministro no podia nomear pessoas que tivessem

    seu nome negado pelo DSI. E isso at o final do governo. Ento, meu nome no podia ser

    levado para o ministro da Educao, general Rubem Ludwig, para ele me nomear para o

    Instituto Nacional de Artes Plsticas, Inap. Mas eu podia ser nomeado diretor substituto

    embora no tivesse nenhum diretor efetivo , porque no era um ato do ministro. E o

    ministro acordando com tudo. Como isso era um ato do Aloisio Magalhes, presidente da

    Funarte, acumulando essa funo na situao de secretrio de Cultura do Ministrio da

    Educao e Cultura, e de Mario Brockman Machado, como diretor executivo, esses atos

    no passavam pelo DSI. E eu podia ser nomeado presidente da Comisso Nacional de

    Artes Plsticas, porque era um ato de secretrio, e no de ministro.

    Havia, evidentemente, uma poltica de abertura, mais para a Funarte do que para o ABC.

    Isso dentro de algumas ingenuidades de uma pessoa com a minha origem, com a informa-

  • 133

    o poltica que tive e tenho. Quando voc v todos os catlogos do ABC, a ficha tcnica

    dos membros da equipe dada por ordem alfabtica. No existem funes ali dentro.

    Foram-me concedidas duas ou trs vagas para que pudesse trazer pessoas de fora da Funarte

    para trabalhar no projeto. A primeira pessoa que trouxe para trabalhar comigo foi Glria

    Ferreira, porque a conhecia, sabia quem era, era minha amiga. Conhecia o trabalho dela, e,

    embora nos anos 70 estivesse muito voltada para a fotografia, ela se apaixonou rapidamen-

    te pelo campo das artes visuais. E voc olha l a equipe e no tem isso de Paulo Sergio

    Duarte, o curador, o coordenador. Voc olha os catlogos, e est em ordem alfabtica. Essa

    forma de organizar era para dar prioridade questo da estratgia poltica. Outra coisa era

    no dar margem a supor, de maneira nenhuma, que estivesse usando aquilo como ponte

    para meu prprio trabalho. Nunca precisei dessas coisas. Tanto que no h texto meu em

    nenhum catlogo, embora tivesse texto sobre aqueles artistas em catlogos de exposio

    em outros locais. Por exemplo, na exposio do Tunga na Cndido Mendes, o texto meu,

    mas na exposio dele no ABC o texto do Ronaldo Brito. Hoje diferente, mas naquela

    poca levava isso muito em considerao.

    IR Durante a dcada de 1970 ocorre um forte debate em relao ao campo da arte con-

    tempornea e o circuito de arte no Brasil, em relao ao qual podemos citar Malasartes

    como uma das estratgias mais importantes do perodo, atuao conjunta entre crticos e

    artistas. Que mudanas ocorrem nesse quadro, a partir do incio dos anos 80, pensando-se

    as experincias do jornal A Parte do Fogo e do prprio Espao ABC?

    PSD Malasartes durou trs nmeros; A Parte do Fogo s um. Era um jornal manifesto e

    acabou. Teve vida curta, uma chama rpida. Logo depois vimos que no podamos nos

    manter unidos. As aes j estavam se passando numa situao diferente. Mas at hoje

    fazem referncia a ele. O editorial feito a vrias mos tem uma marca muito forte de

    oposio e insatisfao com relao ao modo como as coisas andavam no meio de arte

    brasileiro. Tem uma posio muito marcada em relao a isso e tem tambm nas pginas

    aquela interao forte entre artista e crtico. A Parte do Fogo e o Espao ABC eram coisas

    paralelas, que estavam sendo pensadas juntas. Entrei na Funarte para formular o ABC em

    agosto de 1979, e A Parte do Fogo estava sendo planejado, sendo lanados praticamente

    ao mesmo tempo.

    Mais especificamente, entretanto, a questo do Espao ABC foi criar um territrio institucional

    para o debate da arte contempornea, sobretudo para minar a forte resistncia que as

    instituies pblicas e oficiais do Estado brasileiro nesse caso, quando estou falando em

    pblicas, estou falando no sentido de governamental , para que as instituies governa-

    mentais se tornassem mais receptivas a essas questes. Acredito que o ABC contribuiu para

    isso. Se bem que logo depois do ABC, ocupei durante um perodo a direo do Inap. Quem

    me sucedeu foi Paulo Herkenhoff, e ele j era uma pessoa inteiramente afinada com essas

    questes e com esses problemas, em perfeita sintonia com a ento diretora executiva da

    Funarte, Edmia Falco. Isso criou um clima muito favorvel da em diante para o ABC se

    disseminar como uma poltica pertinente para tratar das questes nas mais diversas regies

    do pas, no apenas no caso do Rio de Janeiro ou So Paulo.

    IR Como eram selecionados os artistas que iriam expor no Espao ABC?

    D O S S I E S P A O A B C / F U N A R T E

  • 134 A R T E & E N S A I O S - N. 2 0 - J U L H O D E 2 0 1 0

    PSD Eram selecionados por convite, porque a curadoria era assinada. O projeto era assina-

    do por minha equipe. Enquanto estive na direo do Inap, por pouco tempo, o Espao ABC

    era um projeto assinado pela Funarte e pelo Inap, em que ns convidvamos os artistas. Nas

    outras galerias a Rodrigo Mello Franco de Andrade, a Srgio Milliet e a Macunama foram

    constitudas comisses formadas por um membro da Associao Brasileira de Crticos de

    Arte (Abca), um membro da Associao Brasileira de Artistas Plsticos Profissionais (Abapp)

    e um membro da Funarte, e essa comisso fazia a programao a partir da seleo das

    propostas que recebamos. Essa seleo no era alterada. Durante o episdio do governo

    autoritrio, na poca da abertura, nunca tive uma experincia de imposio de alguma

    exposio feita por cima. Pelo contrrio; essas solicitaes eram examinadas e, quando era

    preciso, se dizia que no poderiam ser feitas porque no estavam altura da programao

    da Funarte, e no havia nenhum problema com a recusa. Quando o ABC veio para dentro

    da Funarte, em 1982, e ocupou a Srgio Milliet, apenas as outras duas galerias foram progra-

    madas dessa forma, atravs de inscries em mbito nacional, com artistas da Amaznia, do

    Nordeste, etc. Essa comisso selecionava as exposies e cada uma delas tinha uma

    documentao, um flder de tamanho razovel. Depois da minha gesto isso melhorou

    muito. Trabalhei na Funarte do segundo semestre de 1979 at maro ou abril de 1983. Fiz

    muita coisa nesse perodo muito curto.

    No final de 1981 entrei para a direo do Inap, como diretor substituto. Joo Vicente

    Salgueiro havia falecido, Ana Maria Miranda estava como diretora provisria, mas no estava

    querendo ficar naquilo, e ento fui convidado para ocupar a direo, ficando at maro de

    1983, quando fui trabalhar na RioArte. No perodo da direo do Inap continuei acompa-

    nhando o trabalho do Espao ABC. Mas ento a Glria Ferreira j estava coordenando. O

    Inap eram 12 pessoas, numa mesma sala, s separadas por divisrias. Tinha o Germano

    Blum, que coordenava o projeto Arco-ris, um projeto de mbito nacional que levava artis-

    tas e professores para fazer workshops em outras regies do pas; tinha o Salo Nacional,

    que ocupava muita gente, dava um trabalho danado; quem cuidava, na minha poca, era a

    Andra Paes, que est na coordenadoria de Artes Visuais da Funarte at hoje;

    a Glria no ABC. Consegui contratar a Iole de Freitas e a Carmem Zilio, e

    depois o Paulo Herkenhoff enriqueceu ainda mais esse corpo tcnico, pois

    chamou para trabalhar com ele o Fernando Cocchiarale e a Ligia Canongia. A

    comea-se a ter um ncleo tecnicamente mais forte.

    IR Como se dava essa relao entre experimentalismo e conceitualismo na-

    quele momento? Havia alguma diferena entre estas tendncias, a concepo

    artstica e a percepo crtica (terica)?

    PSD Havia essa percepo, sem dvida. Havia, sobretudo, uma pequena pe-

    netrao de obras de arte desse teor no mercado e nas instituies; havia

    pouca formulao de trabalho voltado para esse mbito nas instituies. Hou-

    ve a experincia anterior do Walter Zanini no MAC-USP, nos anos 70 em

    So Paulo, que foi importante, e tambm a da Sala Experimental no MAM-RJ.

    Digamos que havia a formulao de uma crtica de combate; no vamos cha-

    mar de vanguarda, mas mais combativa em relao ao estranhamento que

    esses trabalhos causavam no meio de arte ainda muito ranoso, para no falar

  • 135

    provinciano. O que existia, sobretudo, que esses trabalhos encontravam muito pouco espa-

    o no mercado. muito diferente a situao que se tem hoje da de 30 anos atrs, do ponto

    de vista do mercado de arte e da aceitao dos colecionadores por parte desses trabalhos.

    Claro que sempre havia alguma exceo de um colecionador ou outro que j desde aquela

    poca incorporava essas obras a suas colees. Mas era um nmero muito pequeno.

    Do ponto de vista crtico conceitual comeou a se formar uma crtica que deu continuidade

    base muito positiva deixada por Mrio Pedrosa nos anos 50, at ele ser obrigado a se

    exilar depois do golpe de 1964; depois do AI-5, sobretudo. Em 1967 ele ainda foi candidato

    a deputado estadual pelo Rio de Janeiro e no foi eleito. Ronaldo Brito desempenhou um

    papel muito importante em sua crtica no jornal Opinio. uma mudana de qualidade

    muito substantiva do discurso crtico. Nesses anos eu no estava aqui, 1973-1974 em dian-

    te. Em torno do Ronaldo se articula um novo pensamento sobre a arte. Esse trabalho

    constitudo hoje por um conjunto de crticos como Rodrigo Naves, Alberto Tassinari, Snia

    Salzstein, Glria Ferreira, Paulo Venancio Filho forma um corpus sobre o pensamento da

    arte no Brasil de uma estatura muito elevada. Acho que geraes anteriores no encontra-

    ram a quantidade simultnea de crticos numa mesma gerao, com essa qualidade e com

    esse patamar. Sempre havia vozes de boa qualidade, mas o que existia era a tradio brasi-

    leira do escritor escrevendo sobre o pintor amigo. Havia muito a tradio do escritor,

    romancista ou poeta, fazendo crtica de arte.

    A arte conceitual e o experimental andavam muito juntos. O que chamaria mais a ateno

    no caso brasileiro que, ao contrrio de um certo ascetismo, a arte brasileira no renunciou

    a uma contundncia plstica junto s exigncias reflexivas. O conceitualismo mais um

    trabalho para solicitar uma reflexo para o que voc est vendo do que um conceito que

    arma e fecha a obra inteira, como no caso de certa tradio anglo-saxnica, em que h a

    renncia presena plstica da obra, a favor da pura reflexo. Por exemplo, o movimento

    Art and Language, na Inglaterra, ou Joseph Kosuth e outros, nos Estados Unidos, onde h a

    renncia materializao do trabalho, a favor de um discurso crtico e reflexivo sobre as

    condies de existncia da obra de arte dadas pelos paradigmas da filosofia analtica, da

    filosofia do neopositivismo ou do positivismo lgico, como quiser chamar. Esses paradigmas

    eram muito fortes na tradio anglo-saxnica e foram muito bem formulados. Mas acredito

    que os artistas brasileiros souberam conceber uma obra de arte muito complexa, que alia a

    exigncia reflexiva com a materializao, com a presena plstica da obra.

    IR Em 1980, confrontar o mercado era uma

    atitude gasta e sem sentido, uma espcie

    de clich das vanguardas nas artes, ou uma

    necessidade real naquele momento?

    PSD O mercado era muito resistente. No

    s isso. Era muito mais precrio do que

    hoje, no mundo inteiro. Voc no pode ima-

    ginar o que era uma feira de arte em Paris

    nos anos 70. Isso ocorria no mundo inteiro,

    mas no Brasil a defasagem era ainda maior.

    Capa do catlogo da

    exposio Esculturas,

    de Jos Resende

    Espao ABC Parque

    da Catacumba, 1980

    Registro da abertura

    da exposio

    Esculturas, de Jos

    Resende. Da esquerda

    para a direita: Paulo

    Sergio Duarte, Simeo

    Leal e Jos Resende

    Espao ABC Parque

    da Catacumba, 1980

  • 136 A R T E & E N S A I O S - N. 2 0 - J U L H O D E 2 0 1 0

    Evidentemente no tnhamos Ileana Sonnabend ou Leo Castelli aqui. Havia o come-

    o de um trabalho em So Paulo, particularmente, com Luisa Strina e depois Raquel

    Arnaud. A Raquel Arnaud primeiro estava trabalhando na Galeria Arte Global, que

    era da Rede Globo. Depois ela tem uma sociedade com Monica Filgueiras, separa-

    se no incio dos anos 80 e cria o Gabinete de Arte Raquel Babenco na poca ela

    era casada com o diretor Hector Babenco. Ali comea a haver dois trabalhos, a

    apresentao de uma arte que vai formar uma nova viso de colecionadores, por

    causa da atitude dessas galerias.

    Mas o mercado era ainda muito resistente a esse tipo de arte, embora tivesse

    havido exemplos mais antigos de trabalhos audaciosos e episdicos. A Petite Galerie

    e a curta durao do Thomas Cohn, nos primeiros anos dele aqui no Rio de Janeiro.

    A Petite Galerie desde o final dos anos 60 e durante os anos 70 fez trabalhos

    importantes e continuou, enquanto a galeria esteve aberta. Franco Terranova mos-

    trava artistas interessantes, fazia exposies ousadas, mas no se pode chamar isso

    de mercado. O mercado vendia muita pintura em loja de mveis.

    IR Para os padres institucionais brasileiros, a impresso de catlogo/flder/cartaz, e

    de modo emblemtico, a poltica do pr-labore adotada pelo Espao ABC marca-

    ram uma postura mais profissional em relao ao trabalho do artista. Como isso foi

    visto naquele momento?

    PSD Como lhe disse, Roberto Parreira um liberal de verdade. No incio, em 1979,

    ele indagou: Mas, Paulo Sergio, artista plstico vende as obras, no precisa de cach.

    A eu disse: Mas essas obras que vou mostrar eu lhe garanto que no sero vendi-

    das, e eles no tero dinheiro para execut-las. Essas obras s podem ser executa-

    das se houver um pr-labore. A conversa foi simples assim. Meu dilogo era direto

    com Roberto, e ele entendeu isso imediatamente. Eu disse: Se o sujeito for pendu-

    rar quadro na parede, realmente vai vender as obras. Mas esses trabalhos que sero

    mostrados por esses artistas ainda no tm mercado. Claro que mais tarde passa-

    ram a valer, e valem muito hoje, mas naquela poca no existia a possibilidade de o

    artista executar o trabalho, e o pr-labore era uma forma no somente de ajud-lo

    na execuo, como remuner-lo pelo servio que estava prestando instituio.

    Acredito que at mesmo hoje, no caso de exposies de pinturas, esculturas, expo-

    sies mais convencionais, o artista plstico deve receber um pr-labore, porque a

    exposio ocupa muito espao de seu tempo, em que ele no se dedica a sua obra,

    mas a ajudar e apoiar o produtor. Ento, acho que toda produo de exposio

    deve ter alocado um pr-labore para o artista. Infelizmente no Brasil andamos mui-

    to para trs nessas questes, mas existem lugares onde isso vingou e permanece.

    Tambm introduzimos aquele catlogo, que comeou muito simples. A ltima ex-

    posio do Paulo Herkenhoff como artista talvez tenho sido no ABC. Ele trabalhava

    com jornal e a partir do trabalho dele concebemos todos os primeiros catlogos em