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Caderno de Geografia ISSN: 0103-8427 [email protected] Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Brasil Silva Guimarães, Felipe; Taitson Bueno, Guilherme As campinas e campinaranas amazônicas Caderno de Geografia, vol. 26, núm. 45, 2016, pp. 113-133 Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Belo Horizonte, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=333243260007 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Caderno de Geografia

ISSN: 0103-8427

[email protected]

Pontifícia Universidade Católica de Minas

Gerais

Brasil

Silva Guimarães, Felipe; Taitson Bueno, Guilherme

As campinas e campinaranas amazônicas

Caderno de Geografia, vol. 26, núm. 45, 2016, pp. 113-133

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Belo Horizonte, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=333243260007

Como citar este artigo

Número completo

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Sistema de Informação Científica

Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal

Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

ISSN 2318-2962 Caderno de Geografia, v.26, n.45, 2016

DOI 10.5752/p.2318-2962.2016v26n.45p.113 113

As campinas e campinaranas amazônicas

The amazonian campinas and campinaranas

Felipe Silva Guimarães

Ecólogo pelo UNI-BH, mestre em Geografia (PUC-MG)

Doutorando em geografia (PUC-MG)

[email protected]

Guilherme Taitson Bueno

Geógrafo pela UFMG, Doutor em Geografia pela Unesp-Rio Claro

Professor da UFG

[email protected]

Artigo recebido para revisão em 12/08/2015 e aceito para publicação em 20/10/2015

Resumo

As campinas e campinaranas são ecossistemas amazônicos, associados a solos pobres e arenosos

frequentemente sujeitos ao alagamento periódico consequente da flutuação do lençol freático. Apesar

de estes ecossistemas ocuparem aproximadamente 7% da Amazônia legal, há poucos estudos sobre

eles. Este estudo é uma revisão da literatura sobre campinas e campinaranas cujo objetivo é reunir o

conhecimento sobre referido assunto e relacionar este conhecimento a estudos geológicos,

morfogenéticos e pedogenéticos. Os principais assuntos abordados por esse estudo são: espécies

típicas e indicadoras dessas fitofisionomias; adaptações e estratégias destas espécies; efeito das

variações edáficas nas fitofisionomias quanto a estrutura e em termos de composição; origem da flora

das campinas e campinaranas; fatores que explicam a baixa diversidade nestes ecossistemas;

hipóteses que explicam a origem das campinas e campinaranas; como a dinâmica destes ecossistemas

é afetada pelos processos pedológicos e morfogenéticos? Almeja-se que este estudo possa ser

utilizado como ponto de partida principalmente para pesquisadores que estão iniciando suas pesquisas

sobre campinas e campinaranas.

Palavras–chave: Amazônia; Campina; Campinarana; Relação vegetação-ambiente físico; Origem e

dinâmica das campinas e campinaranas.

Abstract

The campinas and campinaranas are amazonian ecosystems associated to poor and sandy soils often

subjected to periodic flooding resulting from the water table level variation. Despite these ecosystems

occupy about 7% of the Amazon region, there are few studies about them. This study is a literature

review about campinas and campinaranas which the goal is to gather knowledge about that subject

and relate this knowledge to geological, pedogenetic and morphogenetic studies. The main issues

addressed in this study are: typical species which are indicators of these vegetation types; adaptations

and strategies of these species; effect of edaphic variations on the phytophysiognomies aspects as the

structure and species composition; origin of the campinas and campinaranas flora; factors that explain

the low diversity in these ecosystems; hypotheses that explain the origin of campinas and

campinaranas; how the dynamics of these ecosystems is affected by the pedological and

morphogenetic processes? We aim that this study can be used as a starting point for researchers who

are beginning their research on meadows and campinaranas.

Keywords: Amazon; Campina; campinarana; Relation physical environment-vegetation; Origin and

dynamics of campinas and campinaranas.

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1. INTRODUÇÃO

As campinas e campinaranas são ecossistemas amazônicos, frequentemente sujeitos ao

alagamento periódico consequente da flutuação do lençol freático, cuja as espécies apresenta elevada

esclerofilia (SILVEIRA, 2003). Estes ecossistemas são caracterizados por apresentarem baixa

produtividade, baixa diversidade e solo com elevado oligotrofismo e acidez, quando comparados às

florestas de terra firme (ANDERSON, 1981; SILVEIRA, 2003; VICENTINI, 2004), que são

dominantes na Amazônia. As campinas são fitofisionomias abertas, normalmente com uma matriz

herbácea onde salientam arbustos isolados variando entre 1 a 5 metros de altura, com alguns

indivíduos atingindo nove metros (FERREIRA, 2009). Já as campinaranas são fisionomias florestais

caracterizadas por apresentar sub-bosque relativamente aberto e escassez de cipós e lianas, com

indivíduos arbóreos podendo atingir 30 metros (ANDERSON, 1981).

Segundo Daly e Prance (1989), esses ecossistemas representam uma área corresponde a,

aproximadamente, 7% da Amazônia Legal Brasileira. No, entanto, apesar de ocupar grande área,

estudos sobre estes ecossistemas são escassos e são concentrados próximos às maiores cidades da

bacia do Rio Negro, como São Gabriel da Cachoeira e, sobretudo, Manaus. Além disso, são poucos

os estudos que se preocupam a relacionar as variações, em termos de estrutura e composição

florísticas de dessas fitofisionomias, as características ambientais. Pouco se sabe também sobre a

origem, evolução e dinâmica dessas fitofisionomias e como estas questões se relacionam com os

processos geológicos, pedogenéticos e morfogenéticos. Assim, a fragmentação do conhecimento e

escassez de trabalhos interdisciplinares que buscam elucidar estas relações são fatores limitante paras

a melhor compreensão desses ecossistemas. Nesse contexto, este estudo tem como objetivo realizar

uma revisão da literatura sobre campinas e campinaranas a fim sistematizar o conhecimento sobre

referido assunto e relacionar este conhecimento a estudos geológicos, morfogenéticos e

pedogenéticos.

Almeja-se que este estudo possa servir de ponto de partida para estudantes e pesquisadores

que pretendam iniciar estudos acerca desses ecossistemas. São abordadas as seguintes questões: qual

é o contexto geológico, pedológico e climatológico das campinas e campinaranas? Quais as espécies

típicas e indicadoras dessas fitofisionomias? Quais são as adaptações e estratégias destas espécies

apresentam para se desenvolverem em ambientes de elevada pobreza e stress hídrico? Como ocorrem

as mudanças fisionômicas, estruturais e em termos de composição ao longo de gradientes edáficos?

Qual a origem da flora das campinas e campinaranas? Quais são os fatores que explicam a baixa

diversidade nestes ecossistemas? Quais as hipóteses que explicam a origem deles? Como a dinâmica

destes ecossistemas é afetada por processos pedológicos e morfogenéticos? As respostas para esta

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última questão não é algo trivial e é de interesse mesmo a pesquisadores mais familiarizados com o

tema.

2. DIFERENÇAS ENTRE DEFINIÇÕES E TERMOS UTILIZADOS POR DIVERSOS

AUTORES

As formações esclerófilas que se desenvolvem sobre solos arenosos na Amazônia têm sido

denominadas de diversas maneiras nos outros paises onde estas são encontradas, a saber: muri bush

na Guiana (RICHARDS, 1952), bana na Venezuela (HERRERA et al., 1978), varillal bajo no Peru

(RUOKOLAINEN et al., 2002). No Brasil, estas formações também receberam diversas

denominações, sendo chamadas inicialmente de caatinga gapó por Spruce (1908), caatinga

amazônica por Pires e Rodrigues (1964), pseudocaatinga (AUBRÉVILLE, 1961) e caatinga do Rio

Negro (RIZZINI, 1979) devido à semelhança fisionômica desta vegetação com as Caatingas do

nordeste brasileiro. Posteriormente estes nomes foram considerados inapropriados, pois geravam

confusão com as verdadeiras caatigas brasileiras, uma vez que há pouca relação em termos de

composição e evolução entre estes dois ecossistemas. Então Anderson (1978) propôs uma

classificação para este tipo de vegetação, dividindo-a em campina sombreada, campina aberta e

campina alta.

A classificação da vegetação brasileira proposta por Velozo et al. (1991) subdivide as

formações sobre areia branca da Amazônia em três subgrupos: campinarana florestada,

campinarana arborizada e campinarana lenhosa, sendo que a primeira apresenta a vegetação de

maior porte e com maior cobertura do dossel. A última é caracterizada por apresentar arvores ou

arbustos esparsos em meio a uma matriz herbácea dominada pela família Xyridaceae. Esta

classisficação coloca as campinaranas como sinônimos de campinas. No entanto, Ferreira (2009)

utiliza o termo campina para designar as formações abertas (não florestais) da Amazônia, associadas

a Podzóis hidromórficos, com ilhas de arbusto que variam entre um e cinco metros de altura, podendo

ocorrer alguns indivíduos isolados de maior porte, chegando estes a atingir nove metros e sub-bosque

composto por ervas das famílias Eriocaulaceae, Xyridaceae, Schizaeaceae, Poaceae e Cyperaceae.

Portanto, esta definição de campina se essemelha à definição de campinarana lenhosa de Veloso et

al. (1991). Ab’Sáber (1996) utiliza os termos campina e campinaranas, referindo-se de forma genérica

a ambas fisionomias como psamobiomas.

Neste trabalho optou-se por utilizar o conceito de campina apresentado por Ferreira (2009)

para designar formações abertas que se enquadram nesta definição. Para as formações de porte

florestal foram utilizados os conceitos de campinarana florestada e campinarana arborizada,

apresentados por Veloso et al. (1991). Ao longo deste estudo estas foram, genericamente, chamadas

de campinaranas.

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3. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA, CONTEXTO GEOLÓGICO E RELAÇÃO

COM O CLIMA

A vegetação de campinas e campinaranas ocorre de forma fragmentada na Amazônia. Na

região do alto Rio Negro e centro-sul de Roraima são observadas em formas mais contínuas.

Entretanto, na Amazônia central, ocorrem em padrão insular cercadas por uma matriz de Floresta de

Terra Firme totalizando uma área de 480.000 km2 (ANDERSON, 1978; WHITMORE; PRACE,

1987; JUNK et al., 2011). Silveira (2003), também reporta ocorrência desta vegetação, em forma

descontínua, no Acre (fronteira com Amazonas), Ferreira (2009) relata esta ocorrência, seguindo o

mesmo padrão, no Pará. Os solos arenosos os quais este tipo de vegetação se relaciona também

ocorrem seguindo padrão insular, especialmente na Amazônia central, os quais são circundados por

solos argilosos (BRASIL, 1975; OLIVEIRA et al., 2001; VICENTINI, 2004), normalmente

Latossolos. Fora do Brasil a ocorrência desta vegetação é documentada na Colômbia, nas regiões de

Vaupés e Caquetá, e ao sul da Venezuela (IBGE, 1992).

Em relação ao contexto geológico, a maior parte das campinas e campinaranas da Amazônia

ocidental (63,7%) se encontram sobre a formação Içá, também ocorrendo, em menores proporções,

em aluviões Olocênicos (10%), em coberturas detrito-lateríticas Pleistocênicas (7%), entre outras

unidades geológicas (14,4%) (MENDONÇA, 2011). Segundo este autor, as campinaranas sobre as

coberturas detrito-lateríticas Pleistocênicas parecem se relacionar com áreas ecotonais de Floresta de

Terra Firme, podendo estas áreas estarem ligadas ao processo de transformação dos solos lateríticos

em Espodossolos (NASCIMENTO et al., 2004; BUENO, 2009).

4. O CONTEXTO PEDOLÓGICO DAS CAMPINAS E CAMPINARANAS.

As campinaranas ocorrem associadas a solos arenosos e pobres, normalmente Espodossolos

(KUBITZKI, 1990; NASCIMENTO; 2004; BUENO, 2009; FERREIRA, 2009; MENDONÇA, 2011)

e, em alguns casos, sobre Neossolos Quartzarênicos sendo estes mais comuns próximos aos sopés

serranos do Complexo Guianense (VALE, 2011; MENDONÇA, 2011). A gênese do primeiro na

Amazônia é controversa e tem sido explicada por diferentes processos que já foram discutidos em

detalhe no capítulo 2 desta dissertação, a saber: 1) através do empobrecimento de solos lateríticos,

com perda da fração argila por lixiviação e lessivagem, restando, primordialmente, a fração areia que

confere ao solo maior porosidade e favorece a migração da matéria orgânica e a formação dos

horizontes B e E dos Espodossolos (LUCAS et al., 1988; MAFRA, 2002; NASCIMENTO, 2004;

BUENO, 2009); 2) a partir da migração da matéria orgânica ao longo de um perfil formado a partir

do intemperismo de rochas arenosas, a exemplo de arenitos; 3) a partir de material retrabalhado

originado de sedimentos fluviais ou fluvio-lacustres de idade Plio-Pleistoscênica (KLINGE, 1965;

CPRM, 2000; IBGE, 2000) ou ainda originados de sedimentos arenosos de paleocanais de drenagem

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(ROSSETTI, 2012). É possível que ocorram todas estas vias de formação na Bacia Amazônica, no

entanto a predominância de uma em relação a outra variaria de acordo com a região. Ressalta-se ainda

que o processo de formação e evolução destes solos interfere na sucessão e dinâmica da vegetação

(CORDEIRO et al., 2013).

5. ESPÉCIES CARACTERÍSTICAS DAS CAMPINAS E CAMPINARANAS E

ESTRUTURA DESTAS FITOFISIONOMIAS

Segundo Vicentini (2004), pouco se conhece sobre a composição florística da maioria das

campinas e campinaranas. Entretanto sabe-se que há uma grande heterogeneidade estrutural e

florística quando se comparam estes ecossistemas situados em diferentes regiões.

Segundo Ferreira (2009), as famílias com maior dominância relativa nas campinas são

Humiriaceae, Rubiaceae, Myrtaceae, Malpighiaceae e Clusiaceae, nesta ordem. Este mesmo autor

destaca como gêneros de maior dominância nestes ecossistemas, em ordem decrescente, Humira,

Pagameae, Myrcia, Byrsonimia, eugênia, Cybianthus, Clusia, Blepharandra, Pachira e Tapirira.

Algumas espécies são comuns na maioria das campinas pouco dependendo de sua localização,

portanto podem ser utilizadas como indicadoras destes ecossistemas. Os líquens do gênero Parmelia

sp. que ocorrem sobre fanerógamos em decomposição, e do gênero Cladonia sp, são exemplos destas

espécies (VELOSO et al., 1991; BARBOSA e FERREIRA, 2004; FERREIRA, 2009), assim como

Humiria balsamifera (Humiriaceae), Pagamea guianensis (Rubiaceae), Protium heptaphyllum subsp

ulei (Burseraceae), Clusia nemorosa (Clusiaceae) e Ouratea spruceane (Ochnaceae) (FERREIRA,

2009).

Assim como as campinas, as campinaranas apresentam espécies de ampla distribuição que

ocorrem na maioria destes ecossistemas. Vários estudos têm demonstrado que algumas destas

espécies podem se tornar dominantes, como é o caso de Aldina heteropyilla, (OLIVEIRA et al.,

2001; VICENTINI, 2004; TARGHETTA, 2012). Oliveira et al. (2001) também citam Hevea

rigidifolia, Lissocarpa benthamii e Micrandra spruceana como espécies que frequentemente apresentam

dominância nas campinaranas, esta última comum no alto rio Rio Negro. Segundo estes autores, o estrato

herbáceo é composto por samambaias, aráceas, a exemplo de Anthurium preussii, e às vezes algumas

bromeliáceas e orquidáceas.

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6. ADAPTAÇÕES MORFOLÓGICAS, FISIOLÓGICAS E EVOLUTIVAS DAS ESPÉCIES

DE CAMPINAS E CAMPINARANAS E SUAS IMPLICAÇÕES.

Os ambientes onde se desenvolvem as campinas e campinaranas são caracterizados por

apresentarem condições de estresse hídrico e nutricional. Deste modo, as espécies que são aptas a

colonizar estes ambientes possuem adaptações morfológicas e fisiológicas que as permitem se

desenvolver nestes locais.

O afloramento do lençol freático ou a aproximação deste da superfície do solo é comum nestes

ecossistemas durante o período chuvoso (VICENTINI, 2004), resultando na falta de oxigênio durante

esta estação (JACKSON; COLMER, 2005). Já no período mais seco do ano é comum ocorrer déficit

hídrico, pois a textura arenoso dos solos das campinas e campinaranas confere a estes ambientes baixa

capacidade de campo; o lençol se torna muito profundo e a alta porosidade do solo inibe o fluxo

ascendente da água (SILVEIRA, 2003; PAROLIN et al., 2010). Assim, as taxas metabólicas, bem

como a capacidade das espécies de sobreviver a estas condições, dependem de adaptações tanto para

condições de saturação quanto de escassez hídrica (PAROLIN et al., 2010).

O elevado número de indivíduos ramificados de algumas espécies pode ser uma resposta às

condições de saturação hídrica, pois estas ramificações aumentam a superfície de troncos e raízes,

facilitando a obtenção de oxigênio durante o período de alagamento (WITTMANN et al., 2008).

Silveira (2003) destaca a presença de raízes pneumatóforas como adaptação a esta condição. Durante

a estação seca, quando a água está pouco disponível, as plantas reduzem drasticamente suas taxas

metabólicas e, como consequência, a incorporação de biomassa neste período é mínima. Os anéis de

crescimento bem definidos, comuns nestas plantas, são evidências disto (SHONGART, 2002).

Devido à grande pobreza dos solos e à alta precipitação, que contribui para a lixiviação, as

espécies adaptadas a estes ambientes apresentam uma eficiente ciclagem de nutrientes. Segundo

Luizão et al. (2007), para otimizar a absorção de nutrientes as plantas podem investir em maior

crescimento de raízes finas de modo a aumentar a superfície de contato com o solo. Estas estruturas

são projetadas próximo à superfície do solo; segundo Rizzini (1979) a maior parte delas se limitam a

profundidades inferiores a 40cm, onde há maior concentração de nutrientes, também otimizando a

absorção. Oliveira et al. (2001) ressaltam que o investimento em raízes é tão grande nestes ambientes

que estas podem conter até 60% da biomassa da planta.

Martins e Matthes (1978) em estudo sobre respiração edáfica encontraram valores mais altos

para as campinaranas se comparados com os valores obtidos para campina, indicando que a

decomposição e, por consequência a ciclagem de nutrientes, é mais rápida nas primeiras. Os dados

obtidos por Mendonça (2011) também sugerem que esta ciclagem é mais eficiente nas campinaranas

do que nas campinas, pois o horizonte Bh do solo destas últimas apresenta soma de bases muito maior

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em relação ao mesmo horizonte dos solos sob campinarana. Isto sugere que há maior lixiviação de

nutrientes, no caso das campinas, para horizontes pouco acessíveis às raízes, indicando que estas

raízes absorvem menos nutrientes permitindo que parte deles seja transportada em solução para este

horizonte. Mardegan (2007), no entanto, concluiu, através de isótopos de nitrogênio, que a ciclagem

deste elemento nas campinas é mais eficiente do que nas campinaranas e estas últimas mais eficientes

na ciclagem de tal elemento se comparadas às florestas de terra firme.

Também é comum a associação de espécies de campinas e campinaranas a fungos

micorrízicos, que auxiliam na absorção de nutrientes, em especial do N e P. No entanto, estes fungos

inibem a ocorrência de organismos decompositores, como fungos saprófitos, por competirem pelo

amônio disponível e liberarem exudados ricos em antibióticos. Deste modo, este é um dos fatores que

inibe a decomposição de matéria orgânica nestes ambientes, favorecendo sua acumulação

(KUBITZIKI, 1990; MARDEGAN, 2007), e possível migração para horizontes mais profundos e

água dos rios.

A escassez de nutrientes dos solos nos quais as campinaranas se desenvolvem faz com que

haja maior investimento em folhas em comparação ao caule, resultando em indivíduos de baixa

estatura (COOMES; GRUBB, 1996). Isto se deve, em grande parte, ao fato de espécies que habitam

solos oligotróficos alocarem grande parte de seus recursos na defesa contra herbivoria, em detrimento

de seu crescimento (FINE et al., 2004; FINE et al., 2006). Segundo Janzen (1974) grandes

concentrações de taninos entre outros compostos pouco palatáveis são encontrados nas folhas de

várias espécies de campinaranas. Tal investimento em defesa contra herbivoria pode ser justificado

devido ao fato de que, em um ambiente tão pobre, substituir folhas que foram perdidas é muito mais

dispendioso do que evitar a perda delas. Além disso, Stropp (2011a) sugere que a escassez de nutriente

no solo é um dos fatores que provocam tal deslocamento de recursos. Neste estudo, a autora plantou

espécies típicas de campinaranas em solos mais férteis de floresta e percebeu que neste caso as plantas

investiam menos em defesa e mais em crescimento.

A elevada densidade da madeira é outra característica das espécies das campinas e

campinaranas que as difere das espécies de Floresta de Terra Firme, cuja densidade é mais baixa. O

investimento em madeira de maior densidade ajuda a prevenir danos no caule e galhos, o que consiste

em uma importante adaptação a ambientes com tal pobreza nutricional, onde há pouca energia

disponível para eventual rebrota ou substituição de tecido danificado. O investimento em densidade

da madeira, assim como as baixas taxas fotossitéticas nos máximos dos períodos de seca e

alagamento, como já citado anteriormente, implicam em baixas taxas de crescimento (WORBES et

al., 1992).

Outra característica que é comum, especialmente em espécies de campinas, é a produção de

compostos alelopáticos, que por meio das chuvas são dispersos no solo. Estes compostos inibem o

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desenvolvimento de outras espécies, diminuindo o efeito da competição, o que é extremamente

conveniente em um ambiente com tal escassez nutricional, além de exercerem influência no

desenvolvimento da vegetação de modo que a espécie que elabora as substâncias alelopáticas tende

a se tornar dominante (MULLER, 1970; TINNIN; MULLER, 1972). Pradosia schomburgkiana, que

ocorre em campinas da Amazônia central, é citada por Lisboa (1976) como exemplo de espécie

alelopática.

Uma importante adaptação aos solos escassos em nutrientes, frequente principalmente nas

espécies típicas de campinarana, é a produção de poucas sementes, mas com maior investimento

energético em cada uma. Esta adaptação aumenta a chance de sobrevivência das plântulas em

ambientes tão oligotróficos, embora implique em um baixo recrutamento. O baixo recrutamento,

somado ao crescimento lento das espécies de campinas e campinaranas, fazem com que o tempo entre

gerações destas espécies seja maior, resultando, possivelmente, em taxas de evolução mais lentas do

que as das espécies de floresta de terra firme (VERDU, 2002), consequentemente levando à menor

diversificação (ALLEN; GILLOOLY, 2006).

Durante o período seco, quando as campinas estão sujeitas à escassez hídrica, a presença de

biomassa seca e de herbáceas altamente inflamáveis torna esses ecossistemas fortemente suscetíveis

a incêndios (PRANCE; SHUBART, 1978). Assim, muitas espécies que constituem esta comunidade

apresentam adaptações ao fogo, como folhas coriáceas, cutículas espessas, tricomas bem

desenvolvidos, estômatos crípticos, lenho muito duro (MENDONÇA, 2011) e colmo coberto por

folhas velhas que protegem os meristemas (VICENTINI, 2004).

7. DISTRIBUIÇÃO DAS ESPÉCIES AO LONGO DO GRADIENTE EDÁFICO CAMPINA,

CAMPINARANA E FLORESTA DE TERRA FIRME.

Existem poucos estudos sobre a distribuição das espécies de campina e campinarana ao longo

de gradientes edáficos, portanto pouco se sabe sobre como estas espécies estão distribuídas ao longo

destes gradientes ou sobre as preferências ecológicas delas. Entender como estas espécies, ou grupos

de espécies, estão distribuídos pode ajudar a diagnosticar e compreender melhor as variações

ambientais (TUOMISTO et al., 1995, 2002).

É comum ocorrer uma transição gradativa, ou às vezes abrupta, entre as fisionomias de

campina e campinarana (SILVEIRA, 2003). Estas transições são caracterizadas pela mudança na

composição e estrutura da vegetação e comumente são determinadas por variações edáficas, como

alterações de textura e fertilidade no solo (WORBES 1997; SILVEIRA, 2003; VALE, 2011;

MENDONÇA, 2011; MENDOÇA et al., 2014), do nível do lençol freático e tempo de alagamento

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ocasionado pela elevação deste (COOMES 1997; DALY; MITCHELL 2000; SILVEIRA 2003;

VICENTINI, 2004; JUNK et al., 2011).

Como mencionado anteriormente, as campinas e campinaranas ocorrem, muitas vezes, em

forma de ilhas em meio a uma matriz de floresta de terra firme (PRANCE, 1996; FERREIRA, 2009)

e a parte central destas ilhas, onde a vegetação é mais aberta, frequentemente coincide com o fundo

de suaves depressões, como verificado por Bueno (2009). Do fundo para as bordas destas depressões

ocorrem variações nas características fisico-químicas do solo (NASCIMENTO et al., 2004; BUENO,

2009), assim como mudanças no tempo em que a vegetação fica sujeita ao alagamento, sendo que as

partes mais baixas ficam mais meses por ano alagadas e este tempo diminui em direção às partes mais

altas (FERREIRA, 1997).

Estudos têm demonstrado que estes gradientes edáficos determinam a composição das

espécies e a estrutura da vegetação, de modo que campinas normalmente ocupam a porção central e

mais baixa das depressões, sendo substituídas pelas campinaranas que ocupam cotas de média

elevação. Na parte mais elevada, onde há normalmente Latossolos, ocorrem frequentemente florestas

de terra firme (ANDERSON; 1978; DALY; MITCHELL, 2000; SILVEIRA, 2003;

NASCIMENTO, 2004; VICENTINI, 2004; BUENO, 2009; SCHAEFER et al., 2009; JUNK et al.,

2011). A diversidade tende a ser maior nas florestas de ferra firme diminuindo, ao longo deste

gradiente, em direção às campinas (VICENTINI, 2004), acompanhando também o decréscimo da

fertilidade do solo. Martins e Matthes (1978) e Vale (2011) verificaram que as campinaranas estão

relacionadas a solos mais férteis do que as campinas. Esta diferença se deve, principalmente, aos

teores de P e K. A variação das espécies ao longo deste gradiente é selecionada de acordo com as

adaptações morfológicas e fisiológicas de cada espécie, que as permitem se desenvolver e obter

alguma vantagem competitiva sob determinados fatores ambientais que variam ao longo do gradiente

edáfico (KUBITZKI, 1987; DALY; MITCHELL, 2000; SILVEIRA, 2003).

De acordo com Targhetta (2012), as áreas que estão sujeitas a maior período de alagamento

apresentam menor riqueza de espécies, e as poucas espécies que são tolerantes aos longos períodos

de alagamento se tornam dominantes, pois possuem maior capacidade competitiva, obtendo maior

sucesso na colonização dessas áreas. Com a diminuição do tempo de alagamento a riqueza aumenta,

assim como o número de espécies raras, diminuindo a dominância. A maior diversidade ao longo do

gradiente é encontrada, em muitos casos, nas regiões que apresentam condições edáficas

intermediárias, permitindo a ocorrência de espécies dos dois ambientes, configurando um ecótono

entre eles, o que pode ser explicado pela teoria do distúrbio intermediário (CONNELL, 1978;

HUSTON, 1979, HUSTON, 1994).

É comum a ocorrência de poucas espécies em cada região do gradiente e que haja a

substituição delas por outros grupos de espécies ao longo do gradiente quando as condições edáficas

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se diferenciam o suficiente para proporcionar esta substituição. Assim, a diversidade beta (entre

habitats) é elevada quando comparada com a diversidade-alfa (aquela que leva em consideração

apenas as espécies em um ambiente), pois a sobreposição entre as espécies que habitam os extremos

do gradiente é pequena devido as adaptações necessárias para o desenvolvimento em cada um deles

(FINE et al., 2004; VICENTINI, 2004).

8. FATORES QUE EXPLICAM A DIVERSIDADE DAS CAMPINAS E CAMPINARANAS

A diversidade das campinas e campinaranas é baixa se comparada à da floresta de terra firme.

Stropp (2011b), ao amostrar 4 hectares em campinaranas e a mesma área em florestas de terra firme

encontrou, respectivamente, 290 e 417 espécies para estes tipos. Alguns fatores podem explicar esta

observação:

1. As campinas e campinaranas ocorrem em ambientes com baixa disponibilidade de recursos,

enquanto as florestas de terra firme estão associadas a substratos mais férteis. Uma maior

diversidade e quantidade de recursos permitem a co-existência de mais espécies. Além disso, as

condições de pobreza química dos solos e grandes oscilações do nível freático parecem selecionar

as espécies mais adaptadas a estas características, favorecendo a dominância de uma ou poucas

espécies (RICHARDS, 1952).

2. Como mencionado anteriormente, as baixas taxas de recrutamento e crescimento implicam em

menor velocidade do processo evolutivo, tendo em vista que o tempo de geração é maior

(STROPP, 2011a). Além disto, este fator se relaciona com o anterior, uma vez que as menores

taxas de recrutamento e crescimento também estão ligadas à pobreza de nutrientes do ambiente.

3. A Bacia do Rio Negro, onde se encontram a maior parte das campinas e campinaranas, passou

por um processo de sedimentação recente em grande escala que deu origem a Formação Içá. De

acordo com Campbell et al. (2006) a referida formação foi depositada no período de 9,5 a 2 Ma,

em resposta ao evento orgenético andino Quechua II. A deposição desta Formação possivelmente

representou uma condição de distúrbio significativa que, aliada a outros fatores aqui apresentados,

pode ter contribuído para a baixa diversidade das campinas e campinaranas nesta região.

4. O padrão de distribuição em ilhas que gera habitats de tamanho reduzido se comparados à massa

relativamente continua e de grande tamanho das Florestas de Terra Firme. Segundo Rosenzweig

(1995), habitats de tamanho reduzido suportam menos espécies do que habitats de grandes

extensões.

Cabe ressaltar que, apesar de o padrão de distribuição insular além de implicar em habitats

reduzidos, também provoca o efeito de vicariância, favorecendo a especiação e aumentando a

probabilidade de ocorrerem endemismos, portanto é esperado que muitas novas espécies sejam

encontradas nestes ecossistemas (VICENTINI, 2004).

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9. HIPÓTESES QUE EXPLICAM A ORIGEM E A DINÂMICA DAS CAMPINAS E

CAMPINARANAS.

Existem estudos sobre a origem, dinâmica e evolução das campinas e campinaranas em várias

regiões da Amazônia. Algumas hipóteses foram levantadas a respeito deste problema. As principais

são apresentadas, sinteticamente, a seguir.

1. Prance e Schubart (1978), em estudo de uma campina próxima a Manaus, baseando-se na

presença de cerâmica e carvão em campinas, postularam que a área estudada estaria em estágio

inicial de sucessão devido a queimadas realizadas por antigas populações indígenas, há

aproximadamente 1200 anos. As condições de elevada pobreza e estresse hídrico destes ambientes

fariam com que a sucessão ecológica ocorresse de forma extremamente lenta. Este trabalho

postula que tais campinas seriam substituídas, gradativamente, pelas campinaranas que as

circundam, em processo de sucessão ecológica. Assim, a dinâmica de contração e expansão das

campinas e campinaranas estaria relacionada, principalmente, à frequência de queimadas. Outros

estudos (OLIVEIRA et al., 2001; BARBOSA; FERREIRA, 2004) também mostram que as

campinas são alvos de frequentes queimadas, causadas naturalmente durante o período de

estiagem, ou mesmo de origem antrópica, impedindo que as espécies arbóreas típicas das

campinaranas adjacentes, menos adaptadas ao fogo, colonizem as campinas (VICENTINI, 2004).

2. Estas formações estariam relacionadas a paleocanais de rios de águas pretas. A existência destes

paleocanais associados a rios de águas pretas tem sido reportada por vários estudos, bem como a

ocorrência de vegetação escleromórfica e psamófila associada a eles (ROSSETTI et al., 2012).

De acordo com Ferreira (2009), o ressecamento de corpos hídricos durante os períodos glaciais,

devido ao clima mais seco e ao rebaixamento dos níveis de base destes períodos, teve como

consequência a formação de substratos arenosos nas áreas que antigamente eram ocupadas por

estes corpos hídricos. Para Rossetti et al. (2012), muitos solos arenosos na Amazônia se

desenvolveram a partir de depósitos em leitos de paleo-canais que foram formados devido a

atividades tectônicas recentes. Estes locais com substrato arenoso foram propícios para a

colonização de algumas espécies que constituem as campinas. De acordo com Rossetti et al.

(2012), as vegetações mais abertas (de campina) estariam relacionadas a áreas de sedimentação

mais recentes, principalmente paleocanais, e que se ternaram recentemente inativos. Neste

contexto, a vegetação de porte florestal (campinaranas) tenderia a colonizar gradativamente as

áreas de vegetação aberta.

A figura 3.1 (Rossetti et al., 2012) propõe um modelo de evolução da paisagem para a região

do médio Rio Demini. Segundo estes autores, inicialmente (figura 1A) as campinaranas dominavam

a região. Após uma subsidência de bloco ocasionada por neotectonismo, teria se estabelecido um

sistema de acumulação em megaleque na área mais deprimida formando um lago raso dominado pelas

campinas (figura 1B). À medida que a área mais deprimida foi sendo preenchida por sedimentos,

este lago se tornaria cada vêz mais raso e a área alagada teria diminuido, possibilitando a

recolonização da vegetação das campinaranas (figura 1C e D).

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Figura 1 - proposta de evolução da paisagem para a região da bacia do médio Rio Demini.

Fonte: Rossetti (2012).

3. Alguns estudos sugerem que a evolução do ambiente físico é um importante fator para a

distribuição da vegetação de campinas e campinaranas (CORDEIRO et al., 2013). Boulet et al.,

(1984), Bueno (2009) e Bueno et al. (2011) apresentaram modelos de empobrecimento de solos

lateríticos com posterior transformação destes em Espodossolos. Isto ocorre em suaves depressões

em meio a platôs, que normalmente se desenvolvem em interflúvios, onde água e matéria orgânica

se acumulam, favorecendo o intemperismo dos minerais de argila e o esgotamento da fração argila

do solo, bem como o empobrecimento deste por lixiviação e lessivagem. Este processo avança do

centro para as bordas das depressões de modo que onde o solo já foi empobrecido ocorrem as

campinas ou campinaranas e nas bordas dos platôs, onde ainda existem Latossolos, ocorrem as

florestas de terra firme. À medida que a frente de empobrecimento avança, transformando os solos

relativamente argilosos em arenosos, a vegetação psamófila avança concomitantemente em

direção às florestas de terra firme.

A disposição das espécies e das fisionomias de campina, campinarana e florestas de terra firme

ao longo do gradiente edáfico nas depressões corrobora a hipótese de que esta dinâmica deva ser

controlada pela evolução do solo, pois, durante este processo de empobrecimento, algumas

características edáficas são substituídas por outras e a vegetação provavelmente acompanha esta

substituição.

Ressalta-se que estas hipóteses não são mutuamente excludentes podendo coexistir em

contextos regionais distintos ou até mesmo na mesma região. No entanto, é possível que, no caso de

coexistência de processos, um seja mais importante do que o outro para dinâmica da vegetação.

10. HISTÓRIA ECOLÓGICA DA FLORA DAS CAMPINAS E CAMPINARANAS

A distribuição de espécies de cada lugar é resultado de um conjunto de fatores ambientais e

ecológicos distintos (DUIVENVOORDEN et al., 2002). Como exemplo destes fatores, têm grande

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peso o limite de dispersão das espécies (HUBBEL, 2001) e as características ambientais que

funcionam como filtros, restringindo o desenvolvimento de algumas espécies e favorecendo o

desenvolvimento de outras (STROPP, 2011a). Para Ab’Sáber (1996), a flora das campinas e

campinaranas “possui uma origem tríplice: relictual, endêmica e por filtragem de componentes da

biodiversidade regional, adaptáveis a conviver com o suporte geoecológico excessivamente arenoso.”

Estudos têm mostrado que a flora das campinas e campinaranas é formada principalmente por

espécies que migraram de outros ecossistemas ou regiões, como do escudo das Guianas (FERREIRA,

2009), dos igapós (ANDERSON, 1978; KUBTIZKI, 1987), das florestas de terra firme (STROPP,

2011b) e, em proporção bem menor, dos cerrados (FERREIRA, 2009). Segundo Stropp (2011a), as

condições de estresse, tanto hídrico quanto nutricional destes ambientes funcionam como filtro para

as espécies que tentam colonizar estes ambientes. Assim, somente as espécies que possuem

adaptações que permitem a sobrevivência nestas condições tiveram êxito na tentativa de colonização

destes ambientes.

Alguns estudos têm demonstrado que há uma alta similaridade entre a flora dos igapós e a

flora das campinaranas (ANDERSON, 1978; KUBTIZKI, 1987; WORBES, 1997; VALE, 2011),

portanto é possível que algumas espécies encontradas nas campinaranas tenham origem dos igapós

assim como o contrário também é plausível. No entanto, Targhetta (2012) não encontrou esta

similaridade em áreas relativamente próximas destes dois ecossistemas. A autora concluiu que

quando estes ecossistemas apresentam grande similaridade florística, tal fato se relaciona mais à

ocorrência de solos com características texturais e de fertilidade semelhantes do que ao fato de ambos

serem periodicamente alagados ou frequentemente ocuparem bacias de rios de água preta. Assim, é

possível que os igapós sobre solos arenosos constituam importantes fontes de espécies para as

campinas e campinaranas podendo também funcionar como corredores de dispersão para algumas

destas espécies.

Segundo Stropp (2011b), as espécies de ecossistemas arenosos da Amazônia se tornaram

altamente especializadas nestes ambientes, portanto apresentam desvantagens competitivas ao

tentarem colonizar outros ambientes. Da mesma forma, espécies de outros ambientes também obtêm

desvantagens competitivas ao tentarem colonizar os solos arenosos. No entanto este estudo também

demonstrou que alguns gêneros encontrados nas campinaranas, como Clathrotropis, Swartzia,

Eperua e Virola, podem ter origem das florestas de terra firme. Boubli (2002), Silveira (2003) e Banki

(2010), também mostram uma pequena similaridade entre a flora das campinaranas e das florestas de

terra firme. Ferreira (1997) acrescenta que as campinaranas têm mais afinidade com as florestas de

terra firme o que pode ser explicado pelo fato de as campinaranas frequentemente ocuparem áreas

ecotonais entre as florestas de terra firme a as campinas.

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As campinas também possuem algumas espécies em comum com as restingas, a exemplo de

Pagamea guianensis, Humiria balsamifera (FERREIRA, 2009; MEODONÇA, 2011), e

Tapirira guianensis (FERREIRA, 2009). No entanto, estas espécies parecem ter surgido nos Andes,

planaltos das Guianas ou Lhanos, onde sua frequência de ocorrência é consideravelmente maior, e

conseguiram chegar às restingas utilizando as campinas e outras regiões de solos arenosos, a exemplo

de cordilheiras onde predominam quartzitos, como trampolins ecológicos (FERREIRA, 2009). A

ocorrência de Tapirira guianensis, por exemplo, foi relatada em várias regiões da Serra do Espinhaço

- MG, onde o intemperismo dos quartzitos, principalmente, forma solos arenosos.

A maioria das espécies de campinas e campinaranas, principalmente as localizadas ao norte

do Rio Negro, parece ter origem do Planalto das Guianas, dos Lhanos venezuelano e colombianos,

como Clusia columnaris, Cyrilla racemiflora, Ilex divaricata, Ouratea spruceana, Pagamea

coriacea e Rhabdodendron amazonicum. Muitas outras espécies também ocorrem, além destas

regiões, em partes mais elevadas dos Andes, a exemplo de Clusia renggerioides, Matayba

arborescens, Eugenia biflora, Myrcia sylvatica e Cybianthus venezuelanus (OLIVEIRA et al., 2001;

FERREIRA, 2009;). De acordo com Kubitzki (1990), os arenitos do Planalto das Guianas

pertencentes à Formação Roraima cobriam uma área muito maior do que a atual. Estendiam-se mais

para o oeste até o sopé dos Andes. Embora estes arenitos não ocorram mais em tal extensão, uma

grande quantidade de sedimentos arenosos foi liberada a partir da erosão deles e depositada

principalmente na região norte da Bacia do Rio Negro o que contribuiu para o estabelecimento, nesta

região, de uma ampla cobertura sedimentar predominantemente arenosa pertencente à Formação Içá,

formando um substrato ideal para a colonização das espécies psamófilas. Assim, este ambiente

arenoso deve ter selecionado alguns elementos que mais tarde se irradiaram. Uma evidência desta

irradiação são as famílias Rapateaceae, Humiriaceae e Xiridaceae que possuem o centro de

distribuição na região das Guianas e ampla distribuição em toda a bacia do Rio Negro (KUBITZKI,

1990).

Algumas campinas situadas mais próximas à transição com os cerrados do Brasil Central

apresentam grande similaridade florística com este Bioma, a exemplo das situadas na Serra do

Cachimbo e Serra do Ererê - PA. Estas campinas são ilhas em meio à vegetação de cerrado, o que

favorece a troca de espécies entre estes ecossistemas (FERREIRA, 2009). Para este autor e Kubitzki

(1990), o grande número de espécies vicariantes nas campinas amazônicas sugere que a irradiação e

o isolamento destes ambientes são muito mais antigos do que a invasão das espécies de cerrado,

portanto não há notável relação quanto à origem destes ecossistemas. Mesmo as campinas situadas

em regiões ecotonais com o cerrado do Brasil Central se diferenciam deste último. Segundo Ferreira

(2009), a similaridade florística entre estes dois ecossistemas se deve, provavelmente, a algumas

espécies de cerrado que possuem faixas de tolerância mais largas (espécies generalistas) ou

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especializadas em solos arenosos que podem ter obtido êxito em colonizar algumas campinas. Este

processo de invasão das campinas por espécies do cerrado pode ter sido intensificada durante os

períodos glaciais, os quais, segundo Brown e Ab'Saber (1979), foram caracterizados por maiores

temperaturas e menor precipitação, favorecendo a expansão dos limites biogeográficos destas

espécies. Emmotum nitens, Alchornea discolor, Senna kuhlmannii e Byrsonima coccolobifolia são

exemplos de espécies que ocorrem tanto no Cerrado quanto nas campinas das regiões citadas neste

parágrafo (FERREIRA, 2009).

Apesar de os glaciais do Pleistoceno e períodos mais frios e secos do Mioceno e Plioceno

poderem ter facilitado a entrada de algumas espécies dos Cerrados na Amazônia (COLINVAUX et

al., 1996; 2000), trabalhos como o de Ferreira (2009) e Mendoça et al., (2014) apontam que a discussão

sobre origem de manchas de formações savânicas na Amazônia, que envolve teoria dos refúgios

(HAFFER, 1969; BROWN; AB'SABER, 1979), se diferencia profundamente da discussão a respeito

da gênese das vegetações psamófilas neste bioma pelos seguintes motivos: 1) O substrato em que as

campinas e campinaranas ocorrem se diferencia do substrato onde os cerrados ocorrem, sendo que

estes últimos muitas vezes ocupam solos mais argilosos e bem drenados, normalmente Latossolos

(exceto algumas exceções como campos rupestres e veredas), ao contrário das primeiras, que são

adaptadas a solos arenosos e com algum impedimento de drenagem; 2) Tanto as áreas de ocorrência

quanto as formas destes ecossistemas são bastante distintas. As campinas e campinaranas ocorrem

predominantemente no pediplano do Rio Negro e em forma de pequenas ilhas isoladas em regiões

interfluvias, enquanto as savanas amazônicas ocorrem em grandes áreas no NE do de Roraima, Amapá

e manchas no centro-leste da Amazônia; 3) As campinas e campinaranas são bastante distintas em

relação à composição florística, apresentando vegetação composta por espécies exclusivas de

determinada área, muitas provenientes do Planalto das Guianas, Lhanos e Andes, como dito

anteriormente. Já as savanas amazônicas são muito similares quanto à composição florística,

apresentando grande número de espécies de ampla distribuição nos cerrados.

Por fim, deve-se ressaltar a importância do padrão em forma insular das campinas e

campinaranas para a formação de espécies. É possível que alguns táxons tenham se especiado in situ

por efeito de vicariância, pois apresentam distribuição restrita a pequenas áreas ou algumas regiões

como é o caso das espécies típicas de campina Emmotum orbiculatum, Emmotum acuminatmu,

Pagamea macrophylla e Pagamea aracaensis (FERREIRA, 2009), e de campinarana, Aguiaria

excelsa e Barcella odora (OLIVEIRA et al., 2001).

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11. CONCLUSÃO

Há muitas áreas onde predominam campinas e campinaranas ainda não estudadas ou pouco

estudadas, sobretudo na bacia de Rio Negro. Pesquisas nessas áreas certamente possibilitarão a

descoberta de novas espécies e poderão revelar estratégias de adaptações, bem como relações entre a

vegetação e o meio físico ainda desconhecidos. Sugere-se que mais trabalhos sejam feitos nos campos

da Geologia, Sedimentologia, genética de populações, Biogeografia, Geomorfologia e Pedologia para

se produza uma bibliografia interdisciplinar sobre esses ecossistemas, assim contribuindo para que

interpretações mais precisas e detalhadas sejam feitas acerca de sua história geoecológica. Além

disso, é fundamental que estes estudos tenham caráter interdisciplinar para que os processos que

comandam a dinâmica entre campinas e campinaranas, bem como a relação destas fitofisionomias

com as demais variáveis ambientais sejam melhores compreendidas.

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