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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL CURSO DE ESTUDOS DE MÍDIA ISABELLA LUPATINI LAURO BLACKOUT DAY Um Estudo sobre Novas Formas de Engajamento Online Niterói 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL

CURSO DE ESTUDOS DE MÍDIA

ISABELLA LUPATINI LAURO

BLACKOUT DAY

Um Estudo sobre Novas Formas de Engajamento Online

Niterói 2016

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ISABELLA LUPATINI LAURO

BLACKOUT DAY

Um Estudo sobre Novas Formas de Engajamento Online

Trabalho de conclusão de curso apresentado em 04 de agosto de 2016, como requisito parcial para a obtenção de grau de bacharel em Estudos de Mídia pela Universidade Federal Fluminense.

Orientador Acadêmico Prof. Dr. Viktor Chagas

Niterói 2016/1

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ISABELLA LUPATINI LAURO

BLACKOUT DAY

Um Estudo sobre Novas Formas de Engajamento Online

Trabalho de conclusão de curso apresentado em 04 de agosto de 2016, como requisito parcial para a obtenção de grau de bacharel em Estudos de Mídia pela Universidade Federal Fluminense.

Trabalho aprovado em 04 de agosto de 2016.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Viktor Chagas (Orientador Acadêmico) Universidade Federal Fluminense

Prof. Dr. Ariane Holzbach (Avaliador) Universidade Federal Fluminense

Prof. Dr. Thaiane Oliveira (Avaliador) Universidade Federal Fluminense

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Dedico este trabalho aos meus pais, Maria Zaneti e Adriano. Este

trabalho não existiria sem eles ao meu lado.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Maria Zaneti e Adriano e meu irmão Adriano Jr. pelo apoio e amor incondicional que me fez levantar todos os dias. Ao meu orientador, Viktor Chagas, pela persistência, dedicação, profissionalismo, orientação e as tentativas incansáveis de me fazer refletir que seria capaz e não deixar de acreditar em mim. À minha vó Dôla, que alegrou minhas tardes com suas visitas engraçadas durante o processo árduo e muitas vezes solitário da escrita. À minha amiga Vivian Duque, minha maior motivadora e quase uma tutora nesse processo. Ao Luis Felipe Maciel, por ter me convencido a não deixar para depois o que se pode fazer agora. Aos meus amigos Malu Zamprogno, Breno Bertoco, Giovanna Cavalcanti e Morgana Gomes por aturarem todas minhas lamentações, entenderem minha ausência e me animarem quando estive pra baixo. Ao P³ a parte mais divertida e de extrema importância para minha formação. À Alessandra Lopes, minha psicóloga, pela ajuda fundamental com a organização e desmitificação do processo de se fazer uma monografia.

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“More so, race matter within the space of internet, because race matters in the material world”.

(Lisa Nakamura)

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RESUMO

LAURO, Isabella. Blackout Day: Um Estudo sobre Novas Formas de Engajamento Online. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2016. (Monografia de Graduação.)

O Blackout Day é um movimento que surgiu através de uma hashtag e conseguiu juntar muitas pessoas sem uma organização formal para lutarem por um objetivo de reivindicar um espaço na mídia para suprir a falta de representação dos negros. Essas pessoas são movidas a partir de histórias pessoais e interesses próprios. O objetivo do trabalho é estudar este movimento por meio da análise de enquadramento proposta por Goffman, separando e classificando as fotos postadas durante o movimento, bem como realizar uma análise de redes sociais. Essas análises são precedidas por uma discussão sobre raça na mídia, ciberespaço e novos modelos de engajamento, visando obter-se uma melhor compreensão do objeto estudado. Desta forma, pretende-se entender os padrões utilizados nas novas formas de engajamento nas mídias sociais, especificamente, no caso deste trabalho, no Tumblr. Ao final do trabalho, consegue-se identificar padrões fotográficos e os principais hubs de usuário. Palavras-chaves: Blackout Day. Tumblr. Ação conectiva. Análise de Enquadramento. Análise de rede social.

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ABSTRACT

LAURO, Isabella. Blackout Day: Um Estudo sobre Novas Formas de Engajamento Online. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2016. (Monografia de Graduação.)

The Blackout Day is a movement that arose through a hashtag and managed to gather many people together without a formal organization to claim a space in the media, which lacks representation of black people. These people are motivated to participate with their personal stories and interests. The objective is to study this movement through frame analysis proposed by Goffman, separating and sorting the pictures posted during the movement, as well as perform an social networks analysis. These analyzes are preceded by a discussion of race in the media, cyberspace and new models of engagement, aiming to obtain a better understanding of the object studied. In this way, we intend to understand the patterns in the new forms of engagement in social media, specifically, in the case of this work, on Tumblr. At the end of the work, it is possible to identify photographic standards and key user hubs. Keywords: Blackout Day Tumblr. Connective Action. Frame Analysis. Social Network Analysis

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1- Mulher de lingerie .......................................................................................... 41

Figura 2- Maquiagem, cabelo e acessórios ................................................................... 41

Figura 3 – Penteado Afro Puff ....................................................................................... 41

Figura 4 – “i’m so hot it’s ridiculous” .............................................................................. 42

Figura 5 – “i look [hot] as fuck today!!” .......................................................................... 42

Figura 6 – “I feel pretty” ................................................................................................. 42

Figura 7 – “curly fro realness” ....................................................................................... 43

Figura 8 – “#AuNaturale” ............................................................................................... 43

Figura 9 – Homem posando de cueca .......................................................................... 44

Figura 10 – Homem mostrando músculos ..................................................................... 44

Figura 11- Homem fumando ........................................................................................ 45

Figura 12 – Homem posando em frente a parede grafitada .......................................... 45

Figura 13 - Estilo ........................................................................................................... 45

Figura 14 -– “Dressing like a nigga is cool” ................................................................... 45

Figura 15 – Formatura 1 ............................................................................................... 47

Figura 16 – Formatura 2 ............................................................................................... 47

Figura 17 – Álbum de formatura .................................................................................... 47

Figura 18 – Grupo de formandos .................................................................................. 47

Figura 19 – Pai e filho ................................................................................................... 49

Figura 20 – Família reunida .......................................................................................... 49

Figura 21 – Senhora e bebê .......................................................................................... 49

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 11

1 RAÇA ..................................................................................................................... 16

1.1 Mídia e raça ..................................................................................................... 16

1.2 Raça e cibercultura .......................................................................................... 19

2 NOVAS FORMAS DE ENGAJAMENTO ................................................................. 23

2.1 Movimentos sociais e ação coletiva ................................................................. 23

2.2 Ação conectiva ................................................................................................. 24

3 BLACKOUT DAY .................................................................................................... 27

3.1 Regras de participação e atuação .................................................................... 28

3.2 Temas tratados e desdobramentos .................................................................. 30

4 METODOLOGIA ..................................................................................................... 33

4.1 Análise de enquadramento no caso blackout day ............................................ 35

4.2 Análise de rede social ...................................................................................... 36

5 ANÁLISE ................................................................................................................ 38

5.1 Análise de imagens .......................................................................................... 39

5.1.1 Afirmação da cultura negra a partir da atitude política ................................... 40

5.1.2 A crítica à meritocracia através da conquista e da excelência ....................... 46

5.1.3. O orgulho negro e a exaltação da família, das origens e das tradições ........ 48

5.1.4 Discussão ...................................................................................................... 50

5.2 Análise de Rede Social .................................................................................... 51

6 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 53

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 55

APÊNDICE A – GRAFO I ............................................................................................. 57

APÊNDICE B – GRAFO II ............................................................................................ 58

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INTRODUÇÃO

A internet permite o encontro de pessoas e que elas compartilhem conteúdo,

imagens e informação sobre assuntos de seu interesse. O Blackout Day é um movimento

que surgiu através de uma hashtag e conseguiu juntar muitas pessoas sem uma

organização formal para lutarem por um objetivo comum, são movidas a partir de histórias

pessoais e interesses próprios. Nesse trabalho busca-se entender como esse movimento

funciona sem organizações formais e quais seus objetivos como um movimento que

opera totalmente online, prioritariamente no Tumblr.

O objetivo do trabalho é estudar o movimento Blackout Day por meio da análise

de enquadramento proposta por Goffman, separando e classificando as fotos postadas

durante o movimento, bem como uma análise de redes sociais.

O Tumblr começou a ter uma maior circulação de postagens com notícias e fotos

de protestos negros após a morte dos jovens Michael Brown em 9 de agosto de 2014, na

cidade de Ferguson, periferia de St Louis em Missouri, nos Estados Unidos, e Eric Garner

no dia 17 de julho de 2014, em Staten Island, Nova Iorque. Michael Brown foi baleado

por um policial e não estava portando armas ou tinha algum antecedente criminal e Eric

Garner foi sufocado até a morte por um policial que o acusava de vender cigarros

unitários de pacotes sem selos fiscais. Depois da morte desses jovens o movimento Black

Lives Matter1 ganhou mais força, especialmente no Tumblr. Black Lives Matter é um

1 O movimento “Black Lives Matter” surgiu com a hashtag que foi usada primeiramente por Alicia Garza em julho de 2013 após do julgamento de George Zimmerman, um vigilante de bairro, declarado não culpado após atirar em Travyon Martin, um jovem negro de 17 anos que estava desarmado e saindo de uma loja de conveniência com um iced tea e um pacote de balas. Alicia descontente com a resolução do caso fez uma postagem em sua conta pessoal do facebook em que dizia "Pessoas negras. Eu os amo. Eu nos amo. Nossas vidas importam” (“Black people. I love you. I love us. Our lives matter.”). A postagem foi compartilhada com a hashtag BlackLivesMatter e junto com mais duas ativistas criaram um Tumblr e um Twitter em que estimulavam as pessoas a compartilharem suas histórias usando a hashtag. O movimento ganhou forças no meio online e também em protestos físicos.

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movimento com o foco ao combate a violência policial contra negros e surgiu com uma

hashtag.

No entanto, mesmo que a circulação de notícias sobre negros e violência policial

contra negros estivesse em alta por bastante tempo e sendo muito discutido, as imagens

relacionadas a moda, viagem, estética e pessoas em geral continuaram sendo

predominada por corpos brancos. A comunidade negra no Tumblr continuava com a

necessidade de maior representação até mesmo nas mídias sociais, pois as matérias

que circulavam eram praticamente voltadas a violência e acontecimentos e não

necessariamente criavam um espaço de representação. Ao se deparar com essa

realidade, T’von, um jovem do estado de Georgia nos Estados Unidos e administrador do

blog expect-the-greatest - um tumblr famoso na comunidade negra do Tumblr - teve a

ideia de criar um dia para celebrar a beleza negra, uma vez que seu blog já continha

muito a respeito da cultura afro-americana e, consequentemente, muitos seguidores que

se identificavam com o tema. Depois de um tempo sendo constantemente rodeados pela

ideia de rostos e corpos brancos como o padrão de beleza, T’von sugeriu em que

houvesse um dia no Tumblr em que os usuários negros iriam curtir e reblogar as selfies

de cada um criando uma rede de suporte e encorajamento entre eles. Marissa Rei, dona

do blog blkoutqueen, oficializou esses dias como um movimento chamado “Blackout Day”

e assim ele surgiu oficialmente2.

Um movimento social tradicional são ações coletivas de um grupo organizado que

nascem de uma necessidade, de uma carência não atendida, seja ela de ordem política,

econômica, social ou cultural (GOHN, 1997). O movimento em questão, no entanto,

apesar de ter nascido de uma carência da representação na mídia, não nasceu de um

grupo organizado. Nasceu de forma espontânea por pessoas que estavam pensando na

representação de sua própria identidade, o que pode ser considerado uma ação

conectiva. Essa forma de ciberativismo diz muito sobre a realidade atual e é interessante

para entender sobre o futuro dos movimentos sociais a partir do avanço da tecnologia,

em especial a internet e mídias sociais

2 Disponível em <http://theblackout.org>. Acesso em: 03 jun. 2016

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O objetivo desses dias especiais é que sejam celebradas as diferentes

manifestações e tipos de negritude3 através de temas mensais, diálogos abertos e,

principalmente, selfies, fazendo com que os participantes mostrem a si mesmos e seus

talentos. Para participar do movimento os usuários devem postar seu conteúdo marcados

pelas hashtags “theblackout”, “Blackoutday” ou “Blackout”. Esse movimento é um

exemplo ideal das novas formas de engajamento por ter sido um movimento que nasceu

espontaneamente, sem impulso de uma organização formal e acontece essencialmente

no meio online.

O Tumblr é a plataforma onde o movimento nasceu e onde tem mais seguidores e

impacto, por isso a plataforma é ideal para uma melhor visão de sua estrutura e

organização.

A rede social Tumblr, foco da pesquisa, é uma plataforma de blog4 que pode

estimular o nascimento desses tipos de ativismo, oferecendo, além dos recursos de

publicação de imagens e textos, outras maneiras dos usuários se conectarem

conseguindo agregar um variado público de usuários. É permitido postagem e

compartilhamento de fotos, textos, citações, links, chats e vídeos.

No Tumblr, os usuários gostam (“like”), compartilham (“reblogs”) e fazem

marcações (“hashtags”). O reblog ocorre quando o usuário compartilha o conteúdo na

sua própria página e não necessariamente aquele que compartilha tem uma relação

direta com o criador do conteúdo. A soma dos likes e reblogs é mostrada como notas

junto ao post, já as hashtags são marcações que além de classificar o conteúdo do

próprio blog, possibilitam a busca por postagens de assuntos específicos sem que

necessariamente o conteúdo tenha sido publicado por usuários além daqueles seguidos

(SILVA, 2013).

Os usuários se apropriaram das ferramentas proporcionadas pelo site e criaram

um universo que pode ser complicado de entender por alguém não incluído nele. As

conexões são feitas com base nos interesses em comum (ibid.) e, as preferências,

através do conteúdo que compartilham e curtem. Muitas vezes, os usuários direcionam

3 “blacknees” (tradução minha) 4 Me refiro como blogs, as páginas pessoais dentro do Tumblr, ou tumblr, em minísculo para também me referir a blogs.

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o seu blog para um estilo definido: existem blogs de moda, de humor, de design e também

aqueles que misturam todos os elementos, sem se preocupar em manter um estilo

especifico de postagens e reblogs. Diante de todas essas possibilidades, pessoas que

se identificam como pertencentes a certos grupos raciais encontraram na plataforma um

lugar seguro para se expressar e difundir opiniões e ideias sobre suas similaridades.

A hashtag “theblackout” foi a escolhida para ser analisada, tendo em vista que é

uma das marcações oficiais do evento e a quantidade de conteúdo colhido só por ela foi

suficiente para possibilitar uma análise satisfatória do movimento. Para o estudo da

hashtag e sua ligação com outras hashtags foi gerado um grafo em que é possível

observar quais outras marcações são usadas durante o evento. A análise do conteúdo

foi realizada por meio de um software que coletou todo o conteúdo postado com a

marcação “theblackout” desde o primeiro dia do movimento, 6 de março de 2015. As

imagens coletadas são majoritariamente selfies, fotos de familiares, fotos de festas e

cerimônias de formatura. Todas essas imagens foram separadas em categorias para

melhor entendimento do uso da hashtag e de que forma as pessoas participam do

Blackout Day.

A análise da hashtag busca entender a propagação de um movimento social no

meio online, no caso o Tumblr. É importante para a compreensão da maneira com que a

informação circula na plataforma, compreender como as fotos individuais e

aparentemente egoístas conseguem criar um engajamento público e impacto na mídia.

Assim, espera-se entender como essas novas configurações de movimentos funcionam

dentro das redes sociais.

Primeiramente será abordada a relação entre mídia e raça com conceitos da

cultura da mídia propostos por Kellner, de formação de identidade abordada por Stuart

Hall, e a questão de imagens e ideais levantada por Daniel Boorstin. No subcapítulo

conseguinte a raça será tratada no ambiente da cibercultura, com base no conceito

proposto por Rheingold, bem como a raça é vista neste ambiente pelos olhares de

Burkhalter e Kolko et al.

No segundo capítulo serão apresentados modelos tradicionais de movimentos

sociais e ação coletiva sugeridos por Gohn, e logo depois os modelos de ação conectiva

estudados por Segerberg e Bennet, para que assim seja possível posicionar o movimento

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Blackout e entender suas configurações e modelo de protesto. No terceiro capítulo o

estudo do movimento será aprofundado com o relato de sua história, identificação de

seus idealizadores e explicação de como é o seu funcionamento propriamente dito – suas

regras de participação, periodicidade, temas abordados e outros desdobramentos.

Após a contextualização do Blackout Day, o capítulo seguinte é dedicado estudo

da metodologia aplicada no trabalho, análise de enquadramento proposta por Goffman,

e análise de redes sociais. Por último, a análise através da demarcação de

enquadramentos para as imagens colhidas e o estudo do grafo que relaciona a hashtag

“theblackout” com outras marcações. Para assim, concluirmos o trabalho com os

resultados finais.

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1 RAÇA

Nesse primeiro capítulo será tratada a questão da raça na mídia, sua forma e

deficiência de representação. Abordaremos como as imagens da mídia interferem nas

decisões pessoais dos espectadores e como essas imagens tomaram o lugar do ideal na

consciência dos indivíduos. Assim, a pouca representação do negro nas imagens

midiáticas pode interferir na formação de sua identidade. Em seguida será discutido a

questão da raça no ambiente do ciberespaço e como esta é tratada e identificada no

mundo online.

1.1 Mídia e raça

As imagens que aparecem na mídia podem influenciar no que os consumidores

vão desejar comprar, ou então imitar. Como, por exemplo, quando Marilyn Monroe foi

fotografada usando um chapéu para uma revista norte-americana, a venda de chapéus

aumentou (BOORSTIN, 2012:191). Em situações como esta, a persuasão opera

indiretamente e de forma mais sutil do que na retórica publicitária tradicional. Não foi

perguntado se as pessoas queriam comprar chapéus, mas foi implicitamente dada a

sugestão. Estas imagens são criadas com um propósito e para dar uma certa impressão.

A relação do receptor com essas imagens são passíveis e não há a possibilidade de

modificação ou inteiração (BOORSTIN, 2012), ou a pessoa se encaixa ou não. O autor

argumenta que a prevalência de imagens torna possível a prevalência da conformidade.

As pessoas se conformam em se encaixar nas imagens apresentadas a elas. No nosso

mundo as imagens sintetizadas tomam o lugar dos padrões externos.

A imagem, para o autor, é uma imitação artificial ou representação da forma

externa de qualquer objeto ou pessoa, já o ideal é a concepção de algo em sua forma

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perfeita, algo que só existe na nossa mente. O ideal é algo que já está no nosso

subconsciente, foi criado por tradição ou história, sendo algo que procuramos alcançar

para nos tornamos melhores, já a imagem é feita sob encomenda, sob medida para nós

e pronta para ser consumida de forma passiva. Como consumidores de imagens

queremos imitá-las e comprar os produtos que nela estão expostos. O sujeito pós-

moderno não tem uma identidade fixa, essencial ou permanente, ela é “formada e

transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou

interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam” (HALL, 2006: 13).

O avanço da publicidade, aumento da circulação de jornais e revistas estimulou a

produção de imagens que ficassem retidas na memória, que chamassem atenção. “No

lugar de pensar que uma imagem é somente a representação de um ideal, nós passamos

a ver o ideal como uma projeção ou generalização de uma imagem5” (BOORSTIN, 2012:

201).

De acordo com Kellner (2001) existe uma cultura que é veiculada pela mídia, essas

imagens ajudam a construir a vida cotidiana, modelam opiniões políticas e

comportamentos sociais e assim fornecem material para que indivíduos formem sua

identidade. Essa cultura constrói senso de etnia, classe, nacionalidade, sexualidade e

raça que formam novos tipos de sociedade em que mídia e tecnologia se tornam os

principais organizadores, tornando assim, esse ambiente muito mais propenso para

mudanças também na maneira que as pessoas se organizam, para conversar, aprender,

trocar ideias, emitir opiniões políticas e também em seus momentos de lazer. Os

indivíduos passam a ser muito influenciados por aquilo que é veiculado, sendo essas

imagens o seu modelo a seguir.

Vivemos em uma sociedade ditada pela cultura da mídia em que o conteúdo que

é veiculado nos meios de comunicação tem um papel importante na maneira em que

vemos o mundo, portanto, a necessidade por um espaço de representação é significante.

No entanto, não existem muitos espaços em que as minorias se sintam representadas.

Sendo minoria “todo grupo social cujas perspectivas e vozes são marginalizadas pelas

estruturas de poder e pelos sistemas de significação dominantes numa sociedade ou

5 “Instead of thinking that an image was a representation of an ideal, we came to see the ideal as a projection or generalization of an image” (tradução minha)

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cultura” (FREIRE FILHO, 2005: 19). A falta de representação, de um discurso que “fale

por” ou “fale sobre” categorias desses grupos sociais na mídia faz com que não existam

lugares para que o indivíduo se posicione (FREIRE FILHO,2005).

De acordo com Stuart Hall (2006), o sujeito pós moderno não possui uma

identidade fixa ou permanente, ele pode assumir diferentes identidades em diferente

momentos. A pouca representatividade do negro na mídia atrapalha na construção do

seu “eu”, se considerarmos que é necessário contato com o exterior para a formação

deste e a preocupação com a forma que somos vistos pelos outros (HALL, 2006: 39).

Kellner (2001) argumenta que a cultura da mídia é responsável pela reprodução

de lutas e discursos sociais e ao mesmo tempo fornece material para a formulação de

identidades e dando sentido ao mundo. Os movimentos nas redes sociais buscam formar

um espaço em que as minorias sejam notadas e possam transmitir os seus valores.

Quando ganham força nas mídias sociais chamam a atenção da mídia tradicional

conquistando espaço em matérias de jornais ou espaço nos blogs e sites de canais de

televisão ou revistas.

Nos Estados Unidos nos anos 60 surgiu o pensamento em que muitos brancos

acreditavam que depois da legislação colocada em prática pelo movimento dos direitos

civis, o único modo de erradicar o racismo seria adotar uma política de racismo daltônico6

(BROWN et al,2003 apud DICKERSON, 2015), ou seja, no contexto pós movimento de

direitos civis, o modo de acabar com o racismo seria não reconhecendo raça. Esse

racismo daltônico pode ser percebido em espaços online em que a discussão de

questões raciais não são bem vistas por serem causadoras de desavenças. Esse racismo

se baseia na crença de que raça não molda uma experiência ou oportunidade na vida de

um indivíduo (DICKERSON, 2015). No entanto, Negritude é a história de experiências

cíclicas de sentimentos profundos, experiências relembradas através do corpo. Esses

sentimentos que são memórias do tempo em que o negro era escravo e reduzido a

condição de um objeto, um bem comercial (POWELL, 2016). Esse sentimento é

marginalizado e pouco discutido pelos brancos quando esses negam as questões de

raça. O repúdio do racismo não somente funciona como uma maneira de esconder a

6 “color-blind racismo” (tradução minha)

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desigualdade sistemática de um racismo como essa ideologia também ajuda a manter o

poder da maioria branca (DICKERSON, 2015).

Essas práticas de racismo daltônico podem ser percebidas na mídia quando atores

negros não são escalados para papeis principais em filmes ou da existência de poucos

jornalistas negros que apareçam na televisão. Essa pouca aparição do negro na mídia é

tratado como algo normal e cotidiano e, quando estes são vistos em destaque, são

considerados um fator diferente e incomum.

1.2 Raça e cibercultura

Ciberespaço é o nome usado para definir o espaço conceitual onde palavras,

relações humanas, dados, riqueza e poder são manifestados por pessoas usando a

tecnologia de comunicação mediada por computador (RHEINGOLD,1993: 5)

Ciberespaço pode ser visto como um quadro branco em que usuários são

responsáveis por como ele será preenchido; a partir do que eles escrevem nesse quadro

é como será construído o ciberespaço. A identidade virtual dos usuários se dá do

momento em que o indivíduo começa a construir o sua própria identidade, criando um

perfil, uma página ou mesmo um apelido em uma sala de bate-papo. E assim, por ser um

espaço em que escolhas podem ser feitas deliberadamente é possível que o indivíduo se

represente da maneira que deseja, escolhendo o que ele deseja mostrar ou ser (KOLKO

et al, 2013: 5-6). No entanto, como o ciberespaço é ligado a linguagem e outros

elementos da sua identidade são adicionados, mesmo com a invisibilidade do corpo

certas marcações são praticamente inevitáveis, o usuário traz para o mundo virtual seus

conhecimentos e valores do “mundo real” (GONZÁLES apud KOLKO et al, 2013). Mesmo

sem as características físicas no meio online, a identificação racial também está

relacionada às perspectivas sobre questões raciais nas mensagens divulgadas

(BURKHALTER, 1999).

A internet foi comercializada como um lugar sem influência do mundo exterior,

onde você seria livre para ser quem você quisesse (DICKERSON, 2015), assim o

ciberespaço foi construído como algo em oposição ao mundo real. Porém, quando o

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assunto é poder, política e relações estruturais se parece muito com o mundo real

(KOLKO et al, 2013).

Um dos desafios de examinar assuntos de identidade racial no ciberespaço é o

modo que a mídia participativa como blogs, fóruns de discussão e mídias sociais

trabalham para embaralhar os “protocolos racionalizados que circunscrevem nossas

interações online7” (SHARMA, 2013: 47 apud DICKERSON, 2015: 5). Raça importa

online assim como ela importa off-line; quando estamos online é inevitável não trazer

conhecimentos, experiências e valores que já estão na nossa formação para o

ciberespaço conosco (KOLKO et al, 2013). Sendo assim, identidade racial é uma

característica de muitas interações online, sendo um propulsor para a criação de grupos

de discussão dedicados especialmente para assuntos raciais e culturais (BURKHALTER,

1999). Ciberespaço é também um lugar onde identidades étnicas e raciais são

examinadas, trabalhadas e reforçadas formando uma aliança entre minorias. Esses

grupos são como ilhas em uma mar que a maioria são brancos, homens e classe média

(KOLKO et al, 2013).

Esses grupos são identificados pelo próprio usuário que faz questão de se

identificar, para assim ter o aval e respeito para falar das questões referentes ao seu

grupo racial (BURKHALTER, 1999). O uso de redes sociais tem facilitado a formação de

grupos que se organizam para discutir, e até reivindicar algumas questões do mundo

offline dentro do mundo online.

Papacharissi (2009) explica que a internet sozinha não tem o poder de fazer

mudanças sociais, mas sim os indivíduos, são eles que podem usar a internet para

diversos fins, efeitos e gratificações. Sendo assim, a mídia online também reproduz

classe, gênero e desigualdades raciais da esfera pública, pessoas trazem seus valores e

também preconceitos para o ambiente virtual. Uma das características da internet é a

valorização de si mesmo e a preocupação com suas questões próprias como o alvo

central. Essa cultura, motivada por um narcisismo, é frequentemente propulsora de

movimentos subversivos ou de ações coletivas.

7 “the racialized protocols that circumscribe our online interactions” (tradução minha)

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Os blogs e mídias sociais muitas vezes são experimentados a partir de uma

perspectiva subjetiva e transmitem opiniões e desejos pessoais (PAPACHARISSI, 2009).

Evidentemente, existem os blogs e canais em mídias sociais veiculados pelos próprios

meios tradicionais de comunicação (por exemplo, canais de televisão, jornais com portais

online de notícias) como uma forma de diversificar seu conteúdo. Eles funcionam como

uma porta de entrada para a cobertura de uma mídia mainstream no meio online, mas,

aqui, ao nos referirmos a blogs e mídias sociais utilizados por pessoas ordinárias que

experimentam a internet de uma forma centrada nas suas próprias convicções, a

informação, os pensamentos políticos expressados nesses blogs são categorizados por

Papacharissi (2009) como narcísicos e não altruístas, o conteúdo é pessoal e usa suas

experiências pessoais como referência. A autora explica que o narcisismo, nesse caso,

não é usado com um sentido pejorativo, ele é definido com uma preocupação pessoal

que é centrada no eu, mas não necessariamente é egoísta (PAPACHARISSI, 2009) e

esses blogs podem causar impacto na opinião pública ou nas mídias mainstream de uma

maneira considerável.

Existem três aspectos que estão relacionados ao uso de redes sociais com um

comportamento de protesto e engajamento políticos. Esses aspectos são a possibilidade

de usar redes sociais como uma fonte de notícias, como um espaço livre para expressar

opiniões e o ativismo propriamente dito, a rede social como uma ferramenta para aderir

causas e achar informações para mobilizações (VALENZUELA, 2014). Os tumblrs

relacionados à comunidade negra no Tumblr são blogs que podem servir como uma

plataforma de protesto, uma maneira mobilizar pessoas com interesses num mesmo

assunto. As experiências pessoais relatadas por cada pessoa em suas páginas pessoais

podem ser vistas por outras e estas identificarem situações parecidas em suas próprias

vidas, incentivando-as a relatarem a suas próprias experiências também. Muitos dos

blogs também veiculam notícias relativas a comunidade negra offline, como foi visto

quando em 9 de Agosto de 2014, Michael Brown, desarmado, foi morto a tiros por um

policial branco na cidade de Ferguson em Missouri nos Estados Unidos e muitos blogs e

não só os de pessoas negras começaram a circular a notícia, suas opiniões sobre o

acontecimento e comentar como a mídia tradicional estava tratando o assunto.

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No próximo capítulo será apresentado o modelo de ação coletiva e movimentos

sociais tradicionais e logo depois estudado como as redes sociais podem além de

informar e juntar pessoas também ser palco de um ativismo. As comunidades online

podem também promover manifestações com ou sem organizadores formais a partir de

novas formas de engajamento.

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2 NOVAS FORMAS DE ENGAJAMENTO

Nesse capítulo será discutida a ação coletiva e formas tradicionais de movimentos

sociais de acordo com Gohn. Serão vistas as novas formas de engajamento propostas

por Bennett e Segerberg, por meio de sua a ação conectiva e implicações em novos

modelos de se fazer protestos e reivindicar mudanças.

2.1 Movimentos sociais e ação coletiva

Movimentos sociais crescem em defesa de uma identidade coletiva, ela permeia

as ações de um grupo. A ação coletiva não é um processo linear mas de interação

negociação e de oposições de diferentes orientações. Em movimentos sociais

tradicionais há uma identidade coletiva que vai permear suas ações. Essas serão guiadas

por uma identidade coletiva que abrange um grupo específico. A identidade é parte

constitutiva da formação dos movimentos, eles crescem em defesa dessa identidade. De

acordo com a Escola de Chicago, a mudança social acontecia pelo interesse particular

pelos temas de desenvolvimento de comunidade, processo de educação “para o povo”

(GOHN, 1997).

Gohn (1997) explica que na abordagem americana tradicional de movimentos

sociais, os comportamentos coletivos eram resultados de tensões sociais. A mudança

social passava pela perspectiva da reforma social, os agentes básicos neste processo de

mudança eram as lideranças – era necessário líderes bem formados, que estimulassem

a mudança por meio de seus próprios exemplos e das relações que estabeleciam com

os outros. As lideranças teriam de desempenhar um papel de reformadores sociais até

que não fossem mais necessárias, em sua trajetória de participação deveriam criar novas

instituições.

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Essa conjuntura esteve muito viva e presente nas concepções sobre mudança

social preconizadas pelos movimentos sociais populares dos anos 70 e parte dos 80. O

conflito era considerado natural e inevitável, ele nascia do encontro entre culturas e

realidades e estes deveriam ser trabalhados pelos líderes – e assim surgiam movimentos

sociais. O líder era um instrumento essencial na organização dos movimentos

(GOHN,1997). Na aplicação da teoria de Parson, de acordo com Gohn (1997) se deu

uma abordagem funcionalista aos movimentos sociais, sendo estes vistos como

“comportamentos coletivos originados em períodos de inquietação social, de incerteza,

de impulsos reprimidas, de ações frustradas, de mal-estar, de desconforto” (p.40).

Gohn (1997) explica que para Herbele a ação de um grupo para se caracterizar

como movimento social deveria estabelecer alguns critérios como: consciência grupal,

sentimento de pertencimento ao grupo e identidade. Os movimentos estariam sempre

ligados a compromissos coletivos, ideias constitutivas ou ideologias. Ou seja, as ações

coletivas ocorriam quando um grupo se identificava com uma causa em comum e tinham

as mesmas vivências e visões sobre uma determinada situação social, política ou

econômica.

2.2 Ação conectiva

Bennett e Segerberg (2012) identificam as ações conectivas como um novo

modelo de ação coletiva, organizado através da comunicação por mídias digitais. A ação

conectiva tem como características o desejo de ser inclusiva, a crença na individualidade

dos participantes, pessoas contribuindo para movimentos através de sua própria

experiência no lugar de se encaixarem nas identidades coletivas, as estruturas

hierárquicas e organizações formais não estão presentes na forma pura da ação

conectiva. Essa lógica reconhece a mídia digital como agente organizador de

movimentos, contribuir por um bem comum se torna um ato de expressão pessoal e

reconhecimento alcançados através de ideias compartilhadas. Não há necessidade de

um espaço físico para que pessoas se agrupem e discutam sobre algum assunto, eles

podem simplesmente se conectar online e dar suas opiniões diretamente sem se

preocupar com barreiras geográficas (PAPACHARISSI, 2009).

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A internet, sozinha, não é um agente para mudanças sociais. Indivíduos, sim,

possuem habilidade de usar a internet com diferentes finalidades, efeitos e gratificações

(PAPACHARISSI, 2009). No entanto, segundo a autora, pessoas se sentem mais à

vontade a se expressar na internet onde há uma infraestrutura que permitem discursos

sem regulação, ilimitados e sem barreiras geográficas. Se os discursos online são

infinitos, e não há ou há pouca recriminação do conteúdo publicado, as pessoas se

sentem com a liberdade de mostrarem seus preconceitos. A habilidade de usuários

criarem seu próprio conteúdo e identidade ajuda a confundir os modos que a identidade

racial importa no ciberespaço. (DICKERSON, 2015).

A internet se popularizou como um lugar sem influência do mundo exterior, onde

se é livre para ser quem se quiser. No entanto, Kranzberg (1985 apud PAPACHARISSI,

2009) explica que a tecnologia não é neutra, é realizada pelos contextos históricos

recebidos. Assim, os indivíduos são propensos a responder às tecnologias e ainda mais

aos discursos que os rodeiam (PAPACHARISSI,2009).

Com a possibilidade de se conectar sem sair de casa as pessoas passam a

também reivindicar seus direitos online, seja através de fóruns, blogs ou mídias sociais,

criando, assim, novas configurações nos movimentos sociais contrastando com

movimentos tradicionais, ligados a uma ação coletiva e articulados por grandes

organizações formais, como por exemplo, partidos políticos. Essas novas configurações

são descritas por Bennett e Segerberg (2012) como ações conectivas, que podem ser

divididas em dois tipos: organizadas por associações formais ou redes auto-organizadas.

O que as diferenciam, principalmente, é que a primeira ainda possui uma organização

formal por trás de suas ações, de forma sutil. Já na segunda, a coordenação

organizacional está pouco ou nada presente, sua comunicação é centrada em conteúdos

emergentes de ações personalizadas e expressões pessoais compartilhadas nas redes

sociais.

As hashtags utilizadas nesse evento são complexas e podem representar ideais,

indivíduos e comunidades em torno do assunto discutido. Esses indivíduos com os

mesmos ideais podem se encontrar sem sair de casa, através da internet e suas

comunidades virtuais. A possibilidade de propagação de informação combinado com uma

comunidade negra já existente na plataforma de blog, formada por blogs em que

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conteúdo é voltado quase que ou exclusivamente para assuntos relacionados a

comunidade negra, foi o propulsor para a possibilidade da criação de um movimento para

exaltar a beleza e cultura negra.

Os participantes de uma comunidade virtual não necessariamente possuem

tarefas bem definidas. Eles podem acabar se revezando nos “papeis” a desempenhar.

Todos são audiência, performers e escritores, é uma continua improvisação

(RHEINGOLD,1993). Essa constante troca de funções faz com que o participante sinta-

se cada vez mais envolvido com a comunidade que assim também cresce.

Conforme a comunidade cresce, suas necessidades e estrutura também mudam,

seus “contratos sociais”, ou seja, seu conjunto de regras de convívio e funcionamento,

precisam se adaptar a novas realidades (RHEINGOLD,1993). Devido ao grande fluxo de

informação na rede, essas mudanças são extremamente rápidas. Dentro do período de

apenas um ano de existência, a comunidade negra participante do movimento Blackout

Day já fez significativas críticas e interferem ativamente nas e mudanças como a

mudança de periodicidade do evento e a delimitação de hashtags usadas.

Por parte dos idealizadores do Blackout Day, há uma preocupação com

informações diferentes e divergentes das que foram estabelecidas pelo movimento que

podem levar as pessoas a confundirem o que é oficial e o que não é. No entanto, não

deixam de encorajar as pessoas a continuarem produzindo conteúdo mesmo que este

não seja publicado nas datas marcadas para os eventos do movimento.

O próximo capítulo abordará a origem do movimento Blackout Day, e o

contextualizará. Serão discriminados seus objetivos, funcionamento, organização,

periodicidade, regras de participação e atuação, temáticas abordadas e também seus

desdobramentos e desejos além de um movimento movidos por selfies.

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3 BLACKOUT DAY

Em julho de 2014 o movimento Black Lives Matter começou a gerar muito impacto

na plataforma Tumblr após a morte de Michael Brown e Eric Garner, cidadãos americanos

que foram brutalmente assassinados pela polícia. Tal acontecimento fez circular muito

conteúdo sobre violência policial contra negros nos Estados Unidos, dando maior

visibilidade ao debate do racismo nos Estados Unidos e também aos blogs administrados

por negros, em que o foco principal é a questão racial. No entanto, mesmo com a grande

quantidade de notícias veiculadas na plataforma, esta continuou exibindo

predominantemente imagens de pessoas brancas, assim como as mídias tradicionais.

No final de fevereiro de 2015, usuários de uma comunidade negra já formada e

ativa na plataforma começaram a pensar em um movimento dentro das mídias sociais

para que sua imagem, de pessoas negras, começassem a ter maior circulação na

plataforma.

Blackout Day é um movimento originalmente pensado por T’von, dono do blog

expect-the-greatest no Tumblr ao perceber e se incomodar com a “falta de representação

e celebração de pessoas negras em mídias mainstream como filmes e televisão” de

acordo com o site do movimento8. Ele postou a ideia para a comunidade do Tumblr de

se ter um dia em que todos os negros postassem selfies para celebrar sua negritude e

fizessem com que elas circulassem no Tumblr através de likes e reblogs.

O usuário nikurk gostou da ideia e fez, primeiramente, uma pequena contribuição

com a criação de um logo para o movimento, que acabou levando-o a decidir criar logos

para várias outras plataformas de mídias sociais (Tumblr, Twitter, Facebook, Vine,

8 Disponível em <http://www.theblackout.org>. Acesso em: 14 jul. 2016

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Instagram, Youtube, Google+ e Pinterest), expandindo o movimento. Com isso, o usuário

nikurk foi nomeado o co-criador do movimento pelo usuário expect-the-greatest.

O movimento ganhou forma e força nas redes através da hashtag #TheBlackout,

sugerida pela usuária Marissa Rei (então assinando como blkoutqueen). Atualmente as

hashtags: “theblackout”, “BlackoutDay” e “Blackout” são reconhecidas como as oficiais e

Marissa Rei passou a ser a responsável pela liderança do movimento.

3.1 Regras de participação e atuação

Algumas regras foram estabelecidas para a participação no evento. É requisitada,

para fazer parte do evento, a marcação de uma selfie e a identificação pessoal do

candidato como negro, sendo ele nascido na África ou descendente da Diáspora Africana

ou mestiço. Cumpridos os requisitos, é possível postar fotos para outros admirarem ou

reblogarem. As fotos precisam estar com as hashtags oficiais do evento para que sejam

validadas.

Também é importante que todos os participantes sigam as hashtags oficiais,

rebloguem e curtam os posts marcados por eles para mostrarem suporte ao movimento

e às pessoas participantes. Para uma pessoa que não é negra é aconselhável que

somente reblog as fotos com as marcações para mostrar suporte ao movimento. No

entanto, não significa que pessoas não negras não devam postar suas selfies, o único

pedido é que não as marquem com as hashtags oficiais do evento. É desejável que todos

rebloguem ou curtam pessoas com poucas notes, para que todos possam ser

reconhecidos igualmente.

“Se vocês verem alguém com menos de 20 notas, por favor me marquem na

publicação para que eu possa reblogar/curtir/etc.

Todos merecem receber amor hoje!

(Cochilei e jantei – Estou de volta *Voz do James Brown* Feliz Blackout!)”9

(Post do usuário “saintchristopherprotectus” no dia 21 de setembro de 2015)

9 “if there’s anyone you see with fewer than 20 notes, please tag me in them so that I can reblog/like/etc/ Everybody should be getting love today!/ (had a nap and dinner - I’m BACK *James Brown voice*)/ Happy Blackout!” (tradução minha)

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“Blackout Day está finalmente de volta! E não devo ignorar nenhuma beleza

marrom que parecer em minha dash!”10

(Post do usuário “deadbeat-angels” no dia 21 de setembro de 2015)

Quanto as fotos de celebridade é preferível que não sejam postadas com a

hashtag, a não ser que seja a própria celebridade postando e fazendo o uso da marcação.

O movimento é focado em pessoas comuns com a proposta de que elas tenham a chance

de serem notadas. São também bem-vindos quaisquer tipos de mídia (como gifs e

vídeos) e não somente fotos. Fotos de amigos e familiares considerados importantes

também são permitidas, contanto que seja dada permissão das próprias para isso.

Ao promover um dia para que pudessem publicar suas selfies e debater sobre

temas ligados à história da cultura negra é criada uma rede de discursos e sistemas de

representação para quais os indivíduos possam se posicionar e falar (FREIRE FILHO,

2005), um espaço para que seus valores sejam notados e transmitidos.

Os dias do evento foram pensados com a preocupação de que fossem fáceis para

os usuários não esquecerem dos dias certos para postarem suas selfies com as hashtags

oficiais do evento e ter, assim, maior adesão ao movimento. Primeiramente, a celebração

ocorria em toda primeira sexta-feira do mês, mas após escutarem opiniões de diversos

participantes, foi decidido que o evento ocorreria a cada três meses, de acordo com as

estações do ano. A mudança foi feita após muitos participantes alegarem que um

Blackout Day por mês poderia prejudicar o caráter especial do evento, que poderia cair

na rotina e ser esquecido facilmente. Além, também, da reclamação de alguns usuários

a partir da criação de uma postagem11 que foi curtida e reblogada vinte e cinco vezes em

que argumentava o quanto a hashtag estava sendo usada de maneira inadequada, como

apenas um concurso de notoriedade para ganhar seguidores, esquecendo o principal

objetivo do movimento. Os próprios moderadores recebiam muitas mensagens com

conteúdo errôneos mandadas, principalmente, para as contas pessoais dos

10 Blackout Day is finally back!/ And I shall not ignore a single brown beauty that comes along my dash” (tradução minha) 11 Disponível em < http://grizzlyblack301.tumblr.com/post/122211199405/the-state-of-blackout>. Acesso em 04 de agos. 2015

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organizadores, o que acabou sendo exaustivo. Foi acordado então que quatro vezes ao

ano seriam suficientes para manter a energia do movimento circulando, sem saturar o

movimento. O período de intervalo seria o bastante também para a preparação do evento,

organização de temas e divulgação eficiente12, já que o evento depende, principalmente,

de propaganda boca a boca para causar um impacto significativo nas mídias sociais,

necessitando de um árduo trabalho com divulgação.

3.2 Temas tratados e desdobramentos

A cada três meses também é escolhido um tema para celebração no dia em que

todos estiverem postando suas fotos, tema este comumente ligado à história negra.

Como o movimento foi idealizado e é gerido por um coletivo de pessoas com visões e

cultura focadas nos Estados Unidos, houve preocupação em não tornar esse evento

restrito à comunidade afro-americana, mas sim acessível a todos os negros em diversas

regiões do mundo, sendo a escolha dos diversos temas um meio de tornar o evento mais

acessível.

A cada evento é escolhido um país com significativa população negra e o objetivo

é mostrar um pouco da história negra do país em questão. Já foram abordados diferentes

temas de países com tradições bem diferentes, o primeiro Blackout Day temático

(21/06/2015) teve como foco o Brasil13 e a capoeira, uma mistura de arte marcial e dança,

desenvolvida por brasileiros afrodescendentes. No dia 21 de setembro de 2015, o tema

foi “Uprising!”, inspirada na Revolução Haitiana14, a única revolução de escravos

completamente bem sucedida da história, revolução essa que extinguiu a escravidão no

país e o levou à independência. Já no dia 21 de dezembro de 2015 o tema foi “Education,

not compromisse!”, inspirado nos protestos estudantis na África do Sul15. A África do Sul

tem um longo histórico de protestos estudantis desde a época das marchas Anti-

12 Disponível em <http://www.theblackout.org/#!tumblr-feed/cr3g/post/189/130503914021>. Acesso em: 04 jun. 2016 13 Disponível em <http://tumblr.theblackout.org/post/121268147556/theme-selection-process-june-21st-theme-move>. Acesso em 04 jun. 2016 14 Disponível em < http://tumblr.theblackout.org/post/129564507616/theblackoutofficialas-the-next-blackoutday-draws>. Acesso em 03 jun. 2016 15 Disponível em <http://tumblr.theblackout.org/post/133937745931/no-matter-where-you-are-on-earth-everyone-has-a>. Acesso em 03 jun. 2016

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Apartheid. Em 23 de outubro de 2015, depois de muitos protestos em que se reivindicava

o fim do aumento do preço das faculdades e se defendia o direito de taxas de

mensalidade mais baixas para tornar a educação acessível a todos, os líderes estudantis

conseguiram pôr fim ao aumento do preço das universidades.

No entanto, durante o evento, não foram vistos muitas postagens comentando os

temas propostos, uma vez que essas se concentraram muito nas próprias selfies.

Além de se reafirmarem como comunidade, o movimento Blackout Day também

deu aos usuários a oportunidade de reafirmarem suas próprias identidades, saber como

o mesmos se vêem dentro da comunidade negra e como as pessoas fora desse ambiente

os enxergam. Analisando os posts de usuários com a hashtag Blackout Day é possível

reparar alguns se identificando com a cultura africana apesar de terem nascido e sido

criados em países de maioria branca, como a criadora do blog blackout-edd16, a qual diz

em um post ter nascido e ter sido criada em Londres, mas que considera sua origem

como de Uganda. Ou seja, ela assume a identidade daquele país, renegando a identidade

de “londrina”. Pessoas encontram na internet e através dessa hashtag uma maneira de

“reafirmarem” sua identidade. As selfies publicadas são uma maneira de se

“posicionarem” no mundo. A pouca representatividade do negro na mídia atrapalha na

construção do seu “eu”, se considerarmos que é necessário contato com o exterior para

a formação deste (HALL, 2006).

O preconceito e a falta de representação contribuem para um problema na

formação da identidade individual, uma vez que essa é formada por meio de processos

inconscientes da mente, por movimentos e pensamentos únicos que formam o eu ao

longo da vida. A “falta de inteireza” é preenchida a partir do exterior e pela forma que se

imagina ser visto pelos outros. É a formação do eu pelo “olhar” do Outro, o momento da

sua entrada nos vários sistemas de representação simbólica – incluindo língua, cultura e

diferença social (HALL,2006).

O movimento não procura colocar a cultura negra como a cultura dominante, mas

sim criar um espaço para que ela conviva mutuamente com outras culturas, com igual

importância. Como Stuart Hall (2003) explica, a hegemonia cultural não é uma questão

16 Blog não está mais disponível. Informação coletada pela ferramenta online, Storify, em: 05 jul 2015

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de vitória de uma cultura sobre a outra ou dominação, é a mudança no equilíbrio de poder,

mudar as disposições de poder cultural e não se retirar. No dia de aniversário de um ano

do movimento Blackout Day, Marissa Rei publicou que gostaria de levar o movimento

para um patamar além das selfies postadas no Tumblr e lançou uma campanha de

Crowdfunding – um financiamento coletivo – intitulado “#BlackoutDay, Beyond the

Selfies: Self-love and community building for black folks all over the world” (Blackout Day,

Além das Selfies: Amor-próprio e construção de comunidade para negros pelo mundo).

Eles buscam financiamento para que possam passar a ser uma organização sem-lucros

que trabalhe como uma network para negros artistas ou arte negra, onde possam divulgar

seus trabalhos e fazer parcerias com outras organizações. Pretendem mostrar mais do

que apenas a beleza física dos negros, usar a visibilidade do movimento para algo mais

impactante do que somente as fotos. Com parcerias com outras organizações o

movimento almeja criar mudanças em comunidades negras.

O capítulo adiante fará a explicação do conceito da análise de enquadramento de

Goffman e como ela será utilizada no trabalho para enquadrar as imagens e assim poder

ser feito a categorização e análises das imagens. Será abordada também a análise de

redes sociais.

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4 METODOLOGIA

Com base na metodologia proposta por Goffman em “Frame Analysis: an essay

on the organization of experience” foi possível realizar a análise do movimento Blackout

Day. Para Goffman (1974) cada indivíduo enquadra a realidade que o circunda a partir

de suas experiências e interações cotidianas, ou seja, a noção do que é real é subjetiva

e baseia-se na percepção e interpretação pessoal. Goffman tem seu foco em pequenas

interações cotidianas que organizam a experiência dos sujeitos no mundo, as quais se

deparam em toda situação no questionamento “O que está acontecendo aqui?” e na

subjetividade (MENDONÇA; SIMÕES, 2012). Ao analisar uma situação é necessário que

se analise seu plano de fundo, o contexto envolvido no acontecimento não é isento da

carga e das experiências que o cercam. Partindo da premissa que as situações são

enquadradas em perspectivas individuais, elas são absorvidas e integram-se a

consciência do sujeito (HANGAI, 2012), formando assim uma estrutura cognitiva,

conceito direcionado por Goffman como quadro. Por meio dessa estrutura subjetiva é

possível traduzir acontecimentos físicos e abstratos e conferir significado a situações.

Ao ato de conferir significado a uma situação ou a algo que anteriormente não o

possuía, Goffman definiu como esquema primário. É o enquadramento primário que não

exige outro anterior para fazer sentido. Este é dividido em duas classes: a natural e a

social. Dentro da classe natural os enquadramentos são ocorrências vistas como não

direcionadas, desorientadas ou inanimadas, puramente físicas. Esses eventos são

totalmente devidos a determinantes naturais, do início ao fim (GOFFMAN, 1974: 22). A

esses eventos não é possível atribuir valor de sucesso ou falha, prevalecendo o

determinismo.

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O enquadramento social, entretanto, fornece um entendimento do plano de fundo

para eventos que incorporam ambição, objetivo, o esforço controlado de uma inteligência,

um agente vivo, o carro chefe na vida do ser humano. Tal ação é tudo menos implacável,

pode ser persuadida (coaxed), lisonjeada (flattered), afrontada (afronted) e ameaçada

(threatened), o que faz pode ser descrito como “ações guiadas”. Essas ações sujeitam

seu ator à aprovação social de sua ação baseado em sua honestidade, eficiência,

economia, segurança, elegância, sutilidade assim em diante (GOFFMAN, 1974: 22).

Ainda segundo Goffman, os esquemas primários podem sofrer duas

transformações lógicas, as quais chamou de laminações. São elas a tonalização –

adiciona nova camada de significado sobre um esquema primário ou conceito

anteriormente absorvido, criando diferente perspectiva em dado acontecimento,

adicionando uma nova rede de significados – e a maquinação, que tem como propósito

induzir uma convicção falsa, diferente do que realmente acontece. Os indivíduos que

empregam a maquinação têm por objetivo manipular o enquadramento alheio, de modo

que o outro não consiga perceber a realidade. Caso ocorra a descoberta da manipulação,

a informação sofre reenquadramento e o que foi absorvido como esquema primário passa

a ser percebido como efeito de maquinação. É necessário perceber que existem outras

realidades fora de uma determinada percepção de enquadramento, portanto, o indivíduo

que entende algo como real deve lembrar que a realidade existe além do quadro,

determinada por diversos eventos paralelos ao que foi enquadrado individualmente

(HANGAI, 2012).

A partir do quadro definido por cada indivíduo, é exercido um papel, ou seja,

aqueles que participam dos quadros exercem papéis que podem ser resumidos pela

característica específica individual desempenhada na intenção de corresponder ao que

foi enquadrado. Além de definir tal fórmula como pessoal-papel, Goffman afirma que os

indivíduos possuem um senso de identidade e personalidade, essencial e anterior a

qualquer papel que o mesmo possa vir a desempenhar. Essa identidade é resultado da

vivência e história de vida e não se dissocia do ser individual quando algum papel é

desempenhado, o que torna possível a multiplicidade de papéis desempenhados por um

único agente.

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É possível ainda inserir os estudos de Goffman em uma das possibilidades de

operacionalização das formas de enquadramento, o enquadramento interativo, ou

cognitivo, vertente que analisa a comunicação e as interações sociais, investigando como

as diferentes interações constroem e modificam relacionamentos pré-estabelecidos,

alterando os quadros primários para real entendimento da situação presente. Para o

entendimento do que de fato está acontecendo, faz-se necessária a existência de um

quadro compartilhado para compreensão das mensagens e organização da situação, ou

seja, a microanálise de interações permite o entendimento da ação conectiva, objetivo da

análise em questão a respeito do movimento Blackout Day, utilizando a análise de

enquadramento como substrato para uma análise da rede social em questão. Outra

vertente de operação de enquadramento é a análise de conteúdo, o enquadramento

discursivo, o qual analisa as molduras de sentido criadas a partir de perspectivas

específicas por diferentes discursos. Nesse enquadramento, predominante no jornalismo

e outras mídias, são selecionadas percepções de situações reais, as quais, ressaltadas

em texto, definem uma problemática, além de sua causa e resolução (MENDONÇA E

SiMÕES, 2012).

4.1 Análise de enquadramento no caso blackout day

Utilizando os conceitos da metodologia de enquadramento, é possível analisar o

movimento Blackout Day, facilitando o seu entendimento e sua categorização. A análise

da hashtag busca entender a propagação de um movimento social no meio online, no

caso o Tumblr. A análise é essencial para a compreensão do modo com que a informação

circula na plataforma. É importante saber se o gerenciamento de uma ideia criada com

um certo propósito pode ser mantido em uma rede que não parece ter “controladores”.

O movimento Blackout Day, portanto, encontrou um espaço de enunciação no

Tumblr, espaço em que é possível perceber o enquadramento no campo da mídia A

intersecção entre a análise de enquadramento e estudos de comunicação teve início na

década de 80, com trabalhos principalmente de Robert Entman (1989) e Gaye Tuchman

(1993). A partir daí, os quadros apresentados pelos meios de comunicação exigiram

novos métodos e técnicas para captação da essência das informações veiculadas,

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principalmente em relação ao jornalismo (HANGAI, 2012). Seguindo esse método de

enquadramento, as postagens dos usuários do Tumblr configuram-se como recortes da

realidade, subjetivos e operados individualmente.

É importante ressaltar, tanto em relação ao jornalismo quanto às postagens do

Tumblr, que cada notícia e postagem, segundo a metodologia de Goffman, não pode

mais ser vista como algo real, mas como um símbolo da realidade construído e promovido

pelos jornalistas – que enquadram profissionalmente a realidade – e pelos usuários do

Tumblr que, em suas postagens, enquadram sua própria realidade. O movimento

Blackout Day é, portanto, uma construção simbólica da realidade, construída pela

população negra em sua tentativa de enquadrar a realidade. A análise de enquadramento

que incorporou-se ao jornalismo foi dada o nome de framing. No jornalismo, além da

análise e identificação dos elementos compositores do conteúdo veiculado, existe a

percepção de qual conteúdo, ou enquadramento da realidade, se faz mais presente nos

noticiários. Por consequência, os quadros de maior representatividade são visíveis ao

público, o que oferece mais destaque a certos aspectos do cotidiano e da sociedade, não

só na área do jornalismo, mas em diversos veículos de comunicação (HANGAI, 2012).

4.2 Análise de rede social

O trabalho será focado no Tumblr por ter sido a plataforma em que a hashtag e o

movimento foram originalmente pensados e criados. Foram coletadas imagens postadas

em um certo período de tempo e montado um grafo com as hashtags usadas junto com

a #theblackout nas postagens feitas no aniversário de um ano do movimento analisado.

O grafo foi feito pelo software Gephi a partir da extração das hashtags realizada

por uma ferramenta online17 que permite a coleta dos posts e de todas marcações usadas

em cada postagem. Para a formatação do grafo foram usados os recursos de grau para

identificar os nós com maior número de conexões e a função modularidade, a qual

permite o agrupamento e visualizações dos nós em comunidades/cluster, permitindo

assim uma análise estrutural das hashtags.

17 Disponível em <http://tools.digitalmethods.net>. Acesso em: 03 de abril de 2016

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Foi utilizada a ferramenta, TumbleOne, com a qual foi possível coletar todas as

postagens marcadas com a hashtag “theblackout”, uma marcação oficial do evento desde

o primeiro dia oficial. O conteúdo coletado é formado por imagens – fotos (selfies) e

algumas postagens em texto. Essa extração resultou em 31.726 imagens as quais foram

categorizadas e analisadas por categoria. Pela grande quantidade de imagens ficou difícil

fazer uma análise de cunho quantitativo, a opção foi analisá-las qualitativamente. Após

olhar todas as imagens foi possível perceber que certos tipos de imagens se repetiam

podendo ser divididas em grupos, ou categorias. Foram colocadas em um mesmo grupo,

enquadramento, imagens que possuíam conteúdo semelhante e ou passassem o mesmo

tipo de mensagem. Foram divididos em três grupos principais: atitude, excelência e

orgulho. Ao analisar as fotos postadas nos dias do Blackout Day é preciso compreender

o contexto histórico trazido por essas imagens e o que significam para quem publica e

quem a recebe, além da história que a mesma conta.

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5 ANÁLISE

Com o objetivo de realizar uma análise qualitativa, foi realizada uma coleta de

imagens e textos publicados desde o primeiro dia do movimento oficial #Blackout Day

que resultou em 31.726 imagens e 39.369 posts. Foi possível observar que a maioria das

postagens era composta por imagens e uma minoria por textos. Para colher as imagens

pela hashtag “theblackout” foi utilizado o software TumbleOne, que possibilita o download

de todas as postagens a partir de um mecanismo de rastreamento por hashtag.

Para a análise de redes sociais e confecção do grafo que se segue, foi utilizada a

ferramenta disponibilizada pelo site Digital Methods Initiative18, que possibilita o download

de postagens a partir de determinada hashtag. As postagens são discriminadas pelo

programa, com link para o post, número de notas e outras hashtags que foram utilizadas

na postagem além da rastreada inicialmente.

Com a análise das imagens e textos é notável o crescimento progressivo de novos

lugares de enunciação, como o meio midiático, onde a população negra, sub-

representada na sociedade, circula discursos que desconstroem e evidencia sua

identidade, seus interesses e suas necessidades. A representação midiática das

minorias, portanto, não é mais restrita a uma exposição de representações de

estereótipos que não considera dados históricos e teóricos, mas sim interroga a origem

desses estereótipos e imagens sociais retrógradas, questionando sua produção e as

rejeitando (FREIRE FILHO, 2005).

A população negra não está entre os tópicos com maior representatividade e não

obtém destaque na mídia senão pelas notícias de episódios de violência contra os negros

e manifestações racistas, o que compele essa população à política de identidade,

18 Disponível em <http://tools.digitalmethods.net/>. Acesso em 02 jun 2016

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caracterizada por afirmar e defender a cultura singular de grupos oprimidos e

marginalizados pela sociedade. Como a cultura da mídia tem visivelmente

desempenhado um grande papel na formação, aceitação, no reconhecimento e

legitimação de modelos e padrões, os ativistas negros expandiram o sentido da

politização anteriormente conhecido, provando que existe estratégia em buscar

representação e visibilidade por variados meios de comunicação (FREIRE FILHO,2005),

uma vez que o aumento da visibilidade pode afetar o modo como a população negra é

vista e tratada.

Segundo Woodward (2000, apud FREIRE FILHO, 2005), representações

produzem significados que trazem sentido à experiência. Ou seja, o aumento da

representatividade, no caso, pelo espaço do Tumblr, constrói um lugar em que é permitido

aos indivíduos se posicionar, o que forma, segundo Mendonça e Simões (2012), frames

de identidade, caracterizados por “sucessivas tentativas de definir um nós”, frame que,

uma vez composto, pode levar aos frames de agência, caracterizados pela ideia da

possibilidade de provocar mudanças pela ação coletiva promovendo reinvindicações

públicas. Pelas postagens do Tumblr, unidas pela hashtag “theblackout”, há uma

aproximação de enquadramentos, diagnosticando um problema comum no coletivo em

questão, o que pode levar ao desenvolvimento de uma identidade política.

Nas páginas a seguir, apresentamos nossa discussão sobre os enquadramentos

percebidos na análise das imagens, serão apresentados exemplos para ilustrar e melhor

entendimento do que é pretendido em cada enquadramento. Em seguida os resultados

da análise de redes sociais empreendidas serão mostrados e discutidos.

5.1 Análise de imagens

As imagens foram colhidas através da hashtag “theblackout”, uma das marcações

oficiais do movimento. Dessas fotos prevalecem as selfies, muitas em frente ao espelho.

Os ambientes em sua maioria são dentro de casa, de preferência no quarto. Quando não

em casa, a maioria é na rua ou em academias.

Foram separadas em categorias para um melhor entendimento do que essas

imagens significam no ambiente em que se encontram. Ao analisá-las sem levar em

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consideração o contexto que foram postadas, imagina-se que sejam apenas fotos de puro

exibicionismo e vaidade e considerá-las dessa forma é não prestar atenção no que elas

representam para o universo do Tumblr - uma rede social em que há grande quantidade

de fotos relacionadas a moda, aparência e maquiagem, mas com predominância de

pessoas brancas, “avaliar uma imagem isolada de seu contexto, sem atentar para o

conjunto que forma com as demais, é descaracterizar o acervo em si mesmo.” (CHAGAS;

SANTOS, 2015: 12).

Essas imagens de aparente puro exibicionismo obedecem às regras do

movimento, em que se pedia para que fossem publicadas selfies e, assim, colocasse em

voga os negros, não os já famosos que estavam já na mídia, mas sim dar espaço aqueles

que passam despercebidos todos os dias. Para que assim, esses pudessem ser ouvidos

e vistos. Sendo assim, a maioria das fotos colocam em destaque suas características

estéticas, e através delas conseguem transmitir o seu discurso.

No entanto, elas não são as únicas, há também outros tipos de fotos. Para um

melhor entendimento as imagens foram separadas em três enquadramentos com

evidente interpretação política: (a) atitude: imagens relacionadas à aparência, estilo,

atitude, (b) excelência: imagens em que trazem uma percepção de ascensão social e

acadêmica e (c) orgulho: às tradições e identidade coletiva.

5.1.1 Afirmação da cultura negra a partir da atitude política

O enquadramento “atitude” apresenta fotos nas quais cabelos, maquiagem, o

próprio corpo e uma atitude são o foco principal. Imagens como mulheres em frente ao

espelho em poses sensuais, muitas vezes trajando apenas lingerie, outras usando

maquiagens em cores fortes, seus cabelos naturais ou em penteados afros, como

ilustradas pelas figuras 1, 2 e 3, são muito frequentes.

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Figura 1- Mulher de lingerie

Figura 2- Maquiagem, cabelo e

acessórios

Figura 3 – Penteado Afro Puff

“i’m so hot it ridiculous”19, “i look hot as fuck today!”20, “i feel pretty”21, legendas

das fotos mostradas nas figuras 4, 5 e 6 respectivamente, são frases podem ser

interpretadas como uma forma de empoderamento das mulheres negras. Elas não

precisam que alguém, ou a mídia digam o quanto elas são bonitas e estão mostrando

19 Eu sou tão gostosa que é ridículo (tradução minha) 20 Eu estou gostosa pra porra hoje (tradução minha) 21 Me sinto bonita (tradução minha)

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para a comunidade do Tumblr que elas também merecem espaço no meio de tantas fotos

e imagens de brancos.

Figura 4 – “i’m so hot

it’s ridiculous”

Figura 5 – “i look [hot]

as fuck today!!”

Figura 6 – “I feel pretty”

As fotos nas figuras 7 e 8 com legendas como “curly fro realness”22, “au naturele”

23, respectivamente, são referentes aos seus cabelos naturais. A maioria das mulheres

negras representadas em filmes hollywoodianos têm os seus cabelos alisados, o que

ajuda a difundir a imagem de que cabelo crespo é sinônimo de cabelo ruim. Usar seus

cabelos naturais é uma forma de libertação dos padrões de beleza impostos pela mídia

tradicional.

22 Algo como: realidade dos cachos afro (tradução minha) 23 Ao natural (tradução minha)

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Figura 7 – “curly fro realness”

Figura 8 – “#AuNaturale”

Essas mulheres estão passando uma autoridade sobre o próprio corpo,

demonstram autoconfiança, e como se sentem à vontade de usá-lo como uma forma de

protesto. O corpo negro e sua de negritude, de acordo com Powell (2016), é marcado por

violência que passa para uma memória corporal, resultando na incapacidade de

verbalizar e/ ou entrar em luto pela violência sofrida.

Powell (2016) explica que nos protestos contra a morte de Brown e Garner, os

corpos dos protestantes significam uma tentativa de preencher a ausência dos homens

mortos. “Seus corpos se tornam a superfície sobre a qual vida negra é feita para ter

importância”24 (POWELL, 2016: 3). Assim como os protestos de Black Lives Matter, na

ação do movimento Blackout Day o corpo negro é o ator principal. Os seus corpos narram

uma experiência pessoal: a de serem pouco valorizadas na mídia tradicional e através

da mídia alternativa encontram um espaço para serem representadas. O corpo funciona

como marca dos valores sociais e nele a sociedade fixa seus sentidos e valores.

Socialmente o corpo é um signo, e como dito por Rodrigues (1983 apud NOGUEIRA,

24 “Their bodies become the surface upon which black life is made to matter” (traduação minha)

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1999) “A utilidade do corpo como sistema de expressão não tem limites”. (NOGUEIRA,

1999: 41).

Os homens também aparecem em muitas fotos mostrando seus músculos, só de

cueca, como na figura 9 e 10, e algumas vezes com legendas em que se referem a sua

masculinidade. Outras imagens que se destacam também são homens fumando, na

frente de paredes grafitadas e também fotos que suas roupas ganham o destaque

principal – figuras 11, 12, 13 e 14. As roupas usadas nas fotos são muitas vezes vistas

como “nigga’s clothes”25, “nigga” é um termo pejorativo muito relacionado a negros que

moram em guetos e são vistos como ladrões, pessoas que não valorizam estudos e

vagabundos, “nigga’s clothes” então seria a forma que esses negros se vestem,

caracterizada por blusas e moletons largas com capuzes e calças caindo.

Figura 9 – Homem posando de

cueca

Figura 10 – Homem mostrando músculos

25 Roupas de negro (tradução minha)

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Figura 11- Homem fumando

Figura 12 – Homem posando em frente

a parede grafitada

Figura 13 - Estilo

Figura 14 -– “Dressing like a nigga is

cool”

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“Dressing like a nigga is cool26” é a legenda de uma foto em que o homem está

todo encapuzado, assim, fazendo uma afirmação de que se vestir “como um negro”

também é bom. Bey (2016) explica que o corpo não é apenas matéria, ele nunca está

distante das percepções e interpretações, como essas que marcam um negro usando um

capuz como uma ameaça ou o julgamento precipitado de que uma arma de brinquedo na

mão de um negro é uma arma de verdade. O negro vive diariamente a experiência de

que sua aparência põe em risco sua imagem de integridade (NOGUEIRA, 1999). Essas

fotos demonstram uma atitude, uma forma de se fazer presente e afirmar que não é o

seu modo de vestir e nem um capuz que dita seu caráter.

5.1.2 A crítica à meritocracia através da conquista e da excelência

O enquadramento “excelência” é constituído basicamente por fotos de pessoas

em formaturas e graduações (representadas pelas figuras 15, 16, 17 e 18), seja no ensino

médio ou universidade. Essas fotos enaltecem as conquistas, também no campo

acadêmico, contrapondo-se assim a crença que jovens negros não se interessam por

estudos. Muitas postagens além de serem marcadas com a hashtag “theblackout”

também acompanhavam a hashtag “blackexcellence”, uma marcação que se tornou viral

com um vídeo27 de três estudantes negros cantando um rap sobre ingressarem na

universidade.

Aird et al (2016) explica que para escravizar negros era necessário os diminuir a

objeto, bens de consumo, ou seja, desumanizar o negro. Uma dessas mentiras era

classificar o negro como uma espécie primitiva, sem Deus, não civilizada, infantil e

preguiçoso. Mesmo quando a escravidão foi abolida, não foi feito um processo de quebra

e desconstrução dessas mentiras sobre o corpo negro.

O corpo pode ser interpretado como um texto em que sentido é inscrito nele.

Quando um corpo negro é lido por um olhar branco a interpretação é de crime e

hostilidade. O corpo negro é interpretado como o habitat natural do homem mau, do

bandido (BEY, 2016). As fotos de graduação mostram que o corpo negro consegue ser

26 Vestir-se como um negro é legal (tradução minha) 27 Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=fJGifLjjsaY>. Acesso em: 10 jun. 2016

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além disso, ele não precisa estar atrelado ao papel de vilão. As fotos de negros

alcançando a formatura, seja no ensino médio ou na faculdade é a afirmação de que os

negros conseguem mérito acadêmico, mesmo que este não tenha as mesmas

oportunidades e enfrente fortes preconceitos ao longo de sua vida.

Figura 15 – Formatura 1

Figura 16 – Formatura 2

Figura 17 – Álbum de formatura

Figura 18 – Grupo de formandos

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5.1.3. O orgulho negro e a exaltação da família, das origens e das tradições

Por último, o enquadramento “orgulho” contém as fotos que foram postadas como

homenagem aos pais, avós ou crianças, sejam elas filhos ou irmãos. Essas fotos

demonstram orgulho e desejo de preservar gerações passadas e futuras. A figura 17

mostra uma foto de um pai e um filho em um gesto de companheirismo e amizade. A

foto da figura 18 mostra uma família reunida e a da figura 19 uma foto com uma senhora

segurando um bebê, esta última representa a geração mais velha e a mais nova geração

em uma mesma imagem. Gerações essas que carregam o negro não apenas como uma

cor de pele, mas também como cultura e tradições.

Por essas fotos percebemos um discurso em que a família negra também

transmite valores próprios que são seguidos de pai para filho e assim adiante, demonstra

a humanização do negro e também nega o corpo negro sensualizado, diminuído a objeto.

Grills et al (2016) argumenta que os negros são permeados por um trauma histórico

proveniente de seus ancestrais escravizados, um trauma cultural é um processo coletivo

que gera memórias coletivas. Ou seja, todos os negros são permeados por esse trauma

em comum, logo um círculo de confiança, muitas vezes criados por laços familiares, é

necessário para que possam combater e superar esse trauma. As imagens de família,

crianças, gerações mais antigas e gerações novas mostram um círculo de confiança entre

eles, uma fonte de apoio que podem compartilhar suas histórias, onde eles transmitem à

suas crianças e novas gerações uma nova, libertadora e empoderada história sobre

quem eles são como pessoas de ancestralidade Africana.

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Figura 19 – Pai e filho

Figura 20 – Família reunida

Figura 21 – Senhora e bebê

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5.1.4 Discussão

Todas essas fotos e categorias estão relacionadas a uma autoafirmação como

negro e aceitação de seu corpo, suas origens e logo sua história. As fotos publicadas

narram suas experiências pessoais, mas são essas histórias pessoais que dão força,

forma e vida ao movimento.

“A mentira da inferioridade negra, idealizada quatrocentos séculos atrás para

justificar a escravidão, colonização e subjugação do povo Africano, manteve-se

praticamente incontestado. Quatrocentos séculos de estereótipos negativos baseados

em conjunto de mentiras continua a formar percepções de pessoas negras. Essas

mentiras são a raiz do medo, desrespeito e discriminação direcionada a negros (GRILLS

et al, 2016).” O primeiro enquadramento busca negar esse discurso de inferioridade

priorizando suas diferenças e mostrando que, apesar de diferentes, elas podem ser tão

poderosas, tão bonitas e válidas como as características de uma pessoa branca.

O segundo enquadramento apresenta um discurso de apreciação ao seu mérito

intelectual, esse que muitas vezes é negado aos negros por não possuírem as mesmas

oportunidades que outras raças, enfrentando assim mais desafios. Essas duas categorias

envolvem sentimentos de individualismo, são expressões de suas identidades individuais

e subjetivas. Já na terceira categoria, o negro aparece de forma coletiva e prioriza seus

valores culturais passados entre gerações.

Essas três categorias foram as mais observadas e que sobressaíram entre todas

as imagens analisadas. O mais aparente, no entanto, foi o enquadramento “atitude” com

a maior prevalência de fotos individuais e ressaltando características físicas. E todas

categorias também deixam claro que o senso de valor próprio ainda é muito afetado pelas

mentiras da inferioridade negra, o sua necessidade de autoafirmação e afirmação de

seus valores familiares são muito frequentes.

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5.2 Análise de Rede Social

O grafo foi montado a partir da hashtag “theblackout” no dia 6 de março de 2016,

são apresentadas as hashtags marcadas por cada usuário em suas postagens,

resultando em grupos de usuários que usam as mesmas hashtags. Aparecem no grafo

os nós que representam hashtags e nós que representam usuários, as cores classificam

essas usuários por grupos que adotaram principalmente determinadas hashtags. É válido

frisar que essa é a data em que o movimento completa um ano de existência. A imagem

(cf. Apêndice A e B) mostra todas as outras hashtags usadas ao mesmo tempo, em um

mesmo post, com o objetivo analisar quais e como as hashtags se relacionam. Este

mapeamento só está mesurando as hashtags utilizadas e não quais posts ou quantas

vezes este mesmo foi reblogado.

O mapeamento, então, começa a partir do nó “theblackout”, por ser o nó com maior

número de conexões e é também o que tem o maior tamanho no grafo e assume a

posição central. É necessário saber que quanto maior o número de conexões, mais vezes

essa marcação foi utilizada, sendo essas os maiores hubs.

Cada grupamento de uma cor diferente indica comunidades (clusters) com base

na quantidade de interações, mostrando quais hashtags foram utilizadas mais vezes

juntas. O grafo mostra vinte clusters diferentes que estão divididos por temáticas

diferentes.

A maior comunidade é o grupo representado pela cor rosa claro. Nela está o nó

“theblackout”, o pelo qual começa todas as ligações, que tem conexões com todos os

outros clusters, e também estão os grandes nós “blackoutday” e “blackout” que são

igualmente marcações oficias do movimento. Usar todas as marcações oficiais do evento

em uma postagem mostra-se ser uma prática decorrente, provavelmente por ser a melhor

maneira de sua postagem ser visualizada – não importa por qual hashtag do movimento

for feita a busca a postagem irá aparecer. Os nós “me” e “selfie” são outros significativos,

prova de que o movimento procura ressaltar a beleza de cada usuário estes hubs são

esperados. Essas marcações são utilizadas ao postarem fotos de si mesmos ou até

mesmo textos, gifs ou vídeos que os usuários se identifiquem. Comprovando, assim, que

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este é um movimento centrado em motivações pessoais e centrado no eu de cada

usuário.

No mesmo grupo, ainda, temos a hashtag “black tumblr” que é comumente usada

para identificar a comunidade negra dentro do Tumblr, blogs que sua temática principal

é a cultura negra e debater assuntos relacionados a ela. O nó também faz conexão com

outras comunidades, como o grupo representado pela cor azul escuro que está bem

destacado dos demais.

O grupo azul escuro possui todos os seus nós relacionados a política ou violência

policial, são esses “racism”, “black lives matter”, “discrimination”, “injustice”, entre outros.

Esse é o cluster que mais se afasta dos demais, sendo um dos maiores nós o “black lives

matter” que se refere à um outro movimento cujo luta para combater a brutalidade policial

contra homens negros. O destaque dessa comunidade pode indicar um afastamento da

das postagens com temáticas políticas das demais, e maioria, postagens relacionadas

ao movimento. As postagens com hashtags relacionados ao “black lives matter” não

conversam com as restantes marcações.

O grupo verde fluorescente se destaca por ser representado por hashtags que se

referem a aparência, como “black is beautiful”, “beautiful black women” e “natural beauty”.

Seus nós principais são “curly hair” e “black women” com os maiores números de

conexões. Com essa comunidade percebemos a incidência de um grupo que busca, de

fato, a auto afirmação da beleza negra, em especial das mulheres. Já do outro lado do

grafo, representado pela cor verde água, vemos o grupo com os nós como “black guy” e

“black boy”, nota-se que há apesar de parte das marcações não diferenciar as postagens

por gênero, ainda existem aquelas que os separam, indicando que o gênero também é

um fator de diferenciação dos usuários no meio do movimento.

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6 CONCLUSÃO

Ao analisar o movimento Blackout Day, percebe-se a operação de movimentos

advindos de ações conectivas e de como as mesmas são um exemplo para novos

modelos de engajamento, sem que necessariamente existam redes formais para que

ocorra o posicionamento e reinvindicação de espaço de fala da população negra. Além

de evidenciar a ferramenta usada como palco do movimento e os recursos que essa

disponibiliza, é explicada a apropriação desses recursos para a criação de um movimento

direcionado para a população negra que agregou muitos usuários da rede, ganhando

destaque. Com a percepção de que a visibilidade da raça negra era voltada à violência

sofrida, a necessidade de obter maior representação se fez presente por meio do uso da

hashtag Blackout Day, evidenciando a beleza negra com a finalidade de impactar

mudanças nos padrões de beleza existentes.

Ao evidenciar a importância do que é veiculado pela mídia na formação de opiniões

políticas, vida cotidiana e construção de identidades, é perceptível que o aumento da

visibilidade para as minorias propiciaria mudanças na maneira de pensar, construindo a

noção de que a beleza negra também pode ocupar posição de destaque sem que essa

ocupação seja indiferente ou incomum.

Uma perspectiva desafiadora ao examinar questões raciais no ciberespaço é

equiparar a importância da questão racial tanto online quanto offline, já que a formação

do ciberespaço não pode ser separada de nossos conhecimentos, experiências e

valores. Portanto, a questão de identidade racial é resultado de espaços de discussão

voltados especialmente pra isso, o que gera um ambiente propício para manifestação e

aliança das minorias.

Continuando a abordar a questão racial no ciberespaço, a discussão tratou

também das novas formas de engajamento político, por meio das ações conectivas,

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sejam elas pautadas por pouca ou nenhuma organização formal, em contraste com ações

coletivas e movimentos sociais tradicionais. Portanto, a Internet por si só não é um agente

de mudanças sociais, mas por ser um ambiente com pouco controle e pouca exposição

dos usuários, propicia um ambiente para expressão e discussão aos usuários que é

ilimitado, com pouca ou nenhuma recriminação ao conteúdo apresentado, concedendo

liberdade de posicionamento.

As imagens postadas ao longo dos dias dos eventos foram observadas e pode-se

concluir que essas fotos e categorias estão relacionadas a autoafirmação como negro e

aceitação de seu corpo, suas origens e logo sua história. As fotos publicadas narram suas

experiências pessoais, mas são essas histórias pessoais que dão força, forma e vida ao

movimento. Pode-se, assim, realizar três enquadramentos: de atitude, de orgulho e de

excelência.

Na questão de análise de redes sociais, pode-se observar que os usuários

conseguem se agrupar de acordo com temas específicos, tais como beleza, e racismo,

englobando aí a violência policial. Constata-se que o movimento foi bem centrado no

usuário a partir da incidência da hashtags “selfie” e “me”.

Desta forma, pode-se constatar que as ferramentas utilizadas para estudar o

movimento Blackout Day foram eficazes e os principais objetivos deste trabalho foram

alcançados por meio de levantamento do desdobramento do movimento e pesquisa e

discussão teórica do tema.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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APÊNDICE A – GRAFO I

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APÊNDICE B – GRAFO II