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06 nov 2006 N” 18 CrØdito habitacional acelera o investimento residencial no país A construção residencial é um setor de elevada impor- tância para o desenvolvimento econômico do Bra- sil. A atividade é grande geradora de emprego, contratando mão-de- obra dos mais diversos níveis de ins- trução e qualificação. Mas o seu im- pacto social vai além do emprego. A construção residencial produz o bem tangível privado mais importante para uma família, o que traz consi- go benefício não só para o indivíduo mas também para a sociedade. Um aspecto pouco citado é a grande relevância do setor para o nível de investimento da econo- mia e, conseqüentemente, para a determinação do nível de renda. Em 2005, a construção residencial Por Leandro de M. Coutinho e Marcelo M. Nascimento Advogado da SAE e economista do BNDES foi responsável por 22% da Forma- ção Bruta de Capital Fixo (4,3% do PIB brasileiro). Em que pese esses percentuais, a atual taxa de investimento em cons- trução residencial está ainda aquém das necessidades brasileiras, além de ser também baixa quando considera- da internacionalmente. Tal situação está fortemente relacionada ao his- tórico de reduzido volume de crédito ao setor. Em julho de 2006, o saldo dos financiamentos para residênci- as representava apenas 1,6% do PIB. Os objetivos deste informe são: apresentar a dimensão do déficit habitacional no Brasil; mostrar a re- lação desse déficit com o volume de investimentos e com o crédito no se- Visão do Desenvolvimento é uma publica- ção da Secretaria de Assuntos Econômicos (SAE), da Presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. As opi- niões deste informe são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente o pensamento da administração do BNDES. Setor tem grande relevância para o nível de investimento da economia

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06 nov 2006

Nº 18

Crédito habitacional acelera oinvestimento residencial no país

A construçãoresidencial éum setor deelevada impor-tância para o

desenvolvimento econômico do Bra-sil. A atividade é grande geradorade emprego, contratando mão-de-obra dos mais diversos níveis de ins-trução e qualificação. Mas o seu im-pacto social vai além do emprego. Aconstrução residencial produz o bemtangível privado mais importantepara uma família, o que traz consi-go benefício não só para o indivíduomas também para a sociedade.

Um aspecto pouco citado é agrande relevância do setor para onível de investimento da econo-mia e, conseqüentemente, para adeterminação do nível de renda.Em 2005, a construção residencial

Se você quer receber os próximos números destapublicação envie e-mail para

[email protected].

Por Leandro de M. Coutinho eMarcelo M. NascimentoAdvogado da SAE e economista do BNDES

foi responsável por 22% da Forma-ção Bruta de Capital Fixo (4,3% doPIB brasileiro).

Em que pese esses percentuais, aatual taxa de investimento em cons-trução residencial está ainda aquémdas necessidades brasileiras, além deser também baixa quando considera-da internacionalmente. Tal situaçãoestá fortemente relacionada ao his-tórico de reduzido volume de créditoao setor. Em julho de 2006, o saldodos financiamentos para residênci-as representava apenas 1,6% do PIB.

Os objetivos deste informe são:apresentar a dimensão do déficithabitacional no Brasil; mostrar a re-lação desse déficit com o volume deinvestimentos e com o crédito no se-

Visão do Desenvolvimento é uma publica-ção da Secretaria de Assuntos Econômicos(SAE), da Presidência do Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico e Social. As opi-niões deste informe são de responsabilidadedos autores e não refletem necessariamente opensamento da administração do BNDES.

Setor tem granderelevância parao nível deinvestimentoda economia

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tor, além de analisar o comporta-mento do crédito habitacional no País.

O déficit habitacional eos investimentos no setorOs números do déficit habitacional

mostram que o desempenho do se-tor de construção residencial temsido ainda insufici-ente para dar contadas necessidadesbrasileiras. A Funda-ção Getúlio Vargas1

quantificou este dé-ficit em cerca de 8 milhões de resi-dências, 84% referente a famíliascom rendimentos inferiores a 3 Sa-lários Mínimos.

Este déficit configura uma deman-

da potencial por novas habitações oupor melhorias nas habitações exis-tentes que, a cada ano, se soma auma demanda adicional superior a150 mil novas famílias desatendidas.O resultado está expresso no cresci-mento das favelas e na multiplica-ção tanto das habitações impróprias

quanto no númerode unidades habita-das por mais deuma família.

O atual elevado dé-ficit residencial de-ve-se, sobretudo, à

trajetória de forte contração dos in-vestimentos no setor, desde o iníciodos anos oitenta até os primeiros anosda década atual, como mostra o Grá-fico 1. Entre 1973 e 1982, os investi-mentos anuais do setor foram sem-pre superiores a 6,5% do PIB. Desdeentão, os investimentos mantiveram-

do 1982-2003.Para 2006 nossas projeções indi-

cam que o volume de crédito à habi-tação deve ultrapassar os R$ 19 bi-lhões. Isto representaria um aumen-to de mais de 90% em relação aosdesembolsos de 2005. De fato, no acu-mulado em 12 meses até agosto de2006 o aumento dos desembolsos jásupera estes 90%.

ConclusãoPor trás da recente expansão do cré-

dito habitacionalpercebem-se doisgrandes flancos demelhorias da eco-nomia brasileira.Um se refere àmelhoria institucional, que permi-tiu a redução de riscos específicosdo crédito habitacional ao tornarmais efetivas as garantias envolvi-das nas operações do setor. O outrodiz respeito ao ambiente macroeco-nômico que, graças às evoluções deum conjunto de variáveis que abran-gem desde o ajuste no balanço de pa-gamentos até a queda nas expecta-tivas de inflação, tornou possível aampliação dos financiamentos deprazo mais longo. Em especial, as ex-pectativas de queda na taxa de ju-ros, reflexo da redução da volatilidadeda inflação, têm tornado o produto“crédito habitacional” mais atraen-te para os bancos e mais acessívelpara os tomadores.

Por força da expansão do crédito,ocorre a recuperação do investimen-to residencial que, como vimos an-teriormente, influenciado pelo colap-so no financiamento à habitação nadécada de 80, havia se contraído deforma intensa nos anos 80 e 90.

Com a continuidade do avanço emcurso do crédito habitacional, seuvalor em pontos percentuais do PIBdeverá se elevar nos próximos 4anos dos atuais 1,7 para mais de4%. Influenciado, sobretudo, por

esta expansão docrédito, o investi-mento habita-cional deverá seelevar até 2010 damédia atual de

4,3% para um valor superior à 5,5%do PIB, contribuindo desta formapara um aumento da FormaçãoBruta de Capital Fixo de mais de 1,2ponto percentual.

A ampliação do investimento re-sidencial, por sua vez, colaborarápara dar robustez à demanda e, aomesmo tempo, aliviará um dosmais graves problemas do país –nosso imenso déficit habitacional.Ademais, esta retomada do inves-timento residencial, pouco desta-cada no debate econômico, deveráter participação importante na ele-vação da taxa de investimento parapatamares substancialmente supe-riores aos atuais.

7

Para 2006 o volume decrédito à habitação devecrescer 90% frente a 2005

Taxa de investimento emconstrução residencialainda está aquém dasnecessidades brasileiras

1 F. García, A. M. Castelo, M. A. Lins & F. Brollo (2005) ��Por dentro do déficit habitacional brasileiro�, disponívelem: http://www.sindusconsp.com.br/downloads/deficit_habitacional_brasil.pdf. (acessado em 01/08/2006).

Gráfico 1: Investimento residencial (% do PIB)

se sistematicamente abaixo dessepatamar. Entre 1983 e 2003, a des-peito de alguns períodos de expan-são, predominou uma trajetória deforte contração nos investimentos,que chegaram a um mínimo de 4%em 2003.

O papel do crédito imobiliárioO agravamento da questão

habitacional em nosso país estádiretamente relacionado com a in-capacidade de se conseguir efeti-var essa demanda potencial pornovas residências. Isto decorre dedois fatores. O primeiro é a limi-tação da renda disponível. No Bra-sil, como em quase todo o mundo,as famílias mais pobres não têmcondições de arcar com os custos

de aquisição de uma habitação con-dizente. Para resolver essa dificul-dade, normalmente os governos lan-çam mão de programas de subsídioao crédito habitacional.

O segundo fator são as restrições decrédito imobiliário. Uma forma de sesuperar as limitações da renda fami-liar corrente é recorrer ao crédito.Este mecanismo permite a efetivaçãode uma demanda por um bem de ele-vado valor em troca de um compro-metimento de parte da renda futurado devedor por um longo período.

No Brasil, no entanto, a participa-ção do crédito habitacional como fon-te de recursos para a construçãohabitacional é, ainda, exígua – me-nos de 2% do PIB. Em países desen-volvidos, o crédito habitacional che-

36

cula os imóveis do patrimônio daconstrutora, reduzindo o riscopara financiadores e compradores; eii) mudanças nas regras para a pou-pança, que estimularam o setor ban-cário a aumentar o direcionamentodos recursos para o financiamentohabitacional3.

Dentre as alterações macroeco-nômicas, a queda na taxa de jurostem tornado o financiamento imobi-liário um produto mais atraentepara os bancos ao reduzir o retornode outras aplicações concorrentes.Ao mesmo tempo, a redução da in-flação e uma menor volatilidade nasexpectativas a respeito do comporta-

mento futuro desta variável tornamfactível o financiamento a prazosmais longos, reduzindo o comprome-timento de renda dos tomadores,com um provável forte impacto so-bre a demanda nos próximos anos.

Por último, temos a ampliação novolume dos subsídios ao financiamen-to de habitações populares. Estes sub-sídios tiveram um papel fundamen-tal em tornar acessível às famílias debaixa renda habitações adequadas.

Os resultados da expansão do cré-dito habitacional já começam a apa-recer sobre o investimento residen-cial. Em 2005, o total desembolsadopara financiamento à aquisição deimóveis novos ou à construção de no-vas habitações foi estimado em cer-ca de R$ 7,2 bilhões, ou 8,6% do totaldo investimento residencial do país.Um valor ainda baixo comparado aoápice de 1980, quando o crédito res-pondia por mais de 20% dos recur-sos investidos, porém bastante su-perior à média de 4,7% para o perío-

Impacto de mudanças nos termos de troca e nas remessasde lucro de multinacionais: média 2003 - 2005 (% do PIB)

2 Na hipoteca a propriedade do bem dado em garantiaé do mutuário. De forma diferente, na alienação fiduciáriao devedor passa a propriedade do bem para o credor.Como resultado, nesta segunda modalidade, em caso deinadimplemento do devedor, torna-se mais célere o pro-cesso de recuperação do valor emprestado.

3 Um exemplo foi a Resolução 3.177 do Conselho Mone-tário Nacional (CMN) reduziu a remuneração dos recur-sos de caderneta de poupança não aplicados no financia-mento de imóveis a apenas 80% da remuneração básicados recursos de poupança.

Gráfico 2: Crédito total e habitacional no mundo

Tabela 1: Desembolsos acumulado em 12 meses (em R$ milhões)

4

ga a superar 100% do PIB, como é ocaso da Holanda, representando 65%do PIB nos Estados Unidos. Esta re-lação no Brasil é também muito bai-xa quando comparada a outras eco-nomias emergentes. No Chile atin-ge 13% do PIB, no México, 9% e naÁfrica do Sul, 24,8% (ver Gráfico 2).

O crédito habitacional brasileiro éreduzido mesmoquando compara-do ao baixo volu-me de crédito totalda economia aosetor privado (32% do PIB). Sua par-ticipação no crédito privado é de ape-nas 5% no Brasil, contra 53% no Mé-xico, 26% nos Estados Unidos e 21%no Chile.

Além de ser reduzido em compara-ções internacionais, o crédito ha-bitacional também tem sido poucorelevante para o investimentoresidencial no Brasil – menos de10%, em 2005. O número de resi-dências financiadas representa ape-nas 4,7% do total de domicílios fixos.

A evolução do créditohabitacional no BrasilO crédito habitacional teve seu

auge no final dos anos 70 e nos pri-meiros anos da década de 80. Em1980, chegaram a ser financiadasa aquisição ou a construção de 627mil unidades, a maioria referentea imóveis novos. Como mostra o Grá-

fico 3, os re-cursos desti-nados ao finan-ciamento des-tas novas uni-

dades responderam por mais de 20%de todo o investimento residencial.

Em 1983, no entanto, o número deunidades financiadas caiu drastica-mente para menos de 100 mil. Esteresultado originou-se das políticas deajuste à crise da dívida da décadade 80 e da elevação da inflação quea sucedeu. Uma tênue recuperaçãose iniciou na segunda metade dosanos 80 e sustentou até 1991, quan-do ocorreu um novo colapso do finan-ciamento imobiliário. O comporta-

mento, ora expansivo, oracontracionista do crédito teve for-te impacto sobre a queda do inves-timento residencial.

Desde 1997, o crédito habi-tacional apresenta uma recupe-ração mais consis-tente, sem contra-ções abruptas nosvolumes e númerosde unidades financi-adas. Naquele ano,foi criado o Sistema FinanceiroImobiliário (ver Quadro 1), bemcomo instituída a alienação fi-duciária de bens imóveis, que tor-nou o processo de execução de ga-rantias mais ágil e seguro para ocredor em relação à usual hipote-ca2 . Ainda assim, somente nosanos de 2004 e 2005 é que se ob-servou uma expansão continua-da nos volumes e números de uni-dades financiadas.

Os dados de crescimento dos va-lores desembolsados confirmam amelhoria no crédito habitacional

nos dois últimos anos. Conforme aTabela 1, os desembolsos acumula-dos em 12 meses tiveram expansãode 14%, entre Dez./03 e Dez./04.Este avanço aumentou para 57% em2005 e até Ago./06 alcançavam cres-

cimento demais de 90%em relação aomesmo períododo ano anterior.

Por trás da ex-pansão recente do financiamentoresidencial está um conjunto de fa-tores que envolvem: um cenáriomacroeconômico mais favorável,uma atuação mais intensa dos ban-cos públicos especializados na ope-ração do crédito habitacional, a ex-tensão dos subsídios ao financia-mento de imóveis para famílias debaixa renda e melhores condiçõesinstitucionais para a oferta de cré-dito.

No campo da melhoria institu-cional, destacam-se: i) instituição dopatrimônio de afetação, que desvin-

5

Crédito habitacional no Brasilé um dos menores entreos países emergentes

Cenário macroeconômicodo país fortaleceu aexpansão do crédito

Gráfico 3: Investimento residencial financiado

O modelo brasileiro de financiamento imobiliário é subdividido em dois sistemas complementares: Sistema Financeiro de Habitação � SFH: Os recursos aplicados no SFH são primordialmente destinados ao financiamento de imóveis habitacionais e se originam dos depósitos da caderneta de poupança e do FGTS. A rigor os recursos do FGTS são direcionados, em maior parte, ao financiamento de imóveis para famílias de renda mensal mais baixa, cabendo à caderneta de poupança o atendimento à classe média. Sistema Financeiro Imobiliário � SFI: Os financiamentos pelo SFI abrangem tanto imóveis residenciais quanto comerciais, seus recursos baseiam-se na emissão de recebíveis imobiliários frutos da securitização de créditos mantidos por construtores e incorporadores contra os seus clientes. No entanto, esse sistema responde por menos de 10% do volume total de crédito habitacional.

Quadro 1: Modelo brasileiro de financiamento imobiliário

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ga a superar 100% do PIB, como é ocaso da Holanda, representando 65%do PIB nos Estados Unidos. Esta re-lação no Brasil é também muito bai-xa quando comparada a outras eco-nomias emergentes. No Chile atin-ge 13% do PIB, no México, 9% e naÁfrica do Sul, 24,8% (ver Gráfico 2).

O crédito habitacional brasileiro éreduzido mesmoquando compara-do ao baixo volu-me de crédito totalda economia aosetor privado (32% do PIB). Sua par-ticipação no crédito privado é de ape-nas 5% no Brasil, contra 53% no Mé-xico, 26% nos Estados Unidos e 21%no Chile.

Além de ser reduzido em compara-ções internacionais, o crédito ha-bitacional também tem sido poucorelevante para o investimentoresidencial no Brasil – menos de10%, em 2005. O número de resi-dências financiadas representa ape-nas 4,7% do total de domicílios fixos.

A evolução do créditohabitacional no BrasilO crédito habitacional teve seu

auge no final dos anos 70 e nos pri-meiros anos da década de 80. Em1980, chegaram a ser financiadasa aquisição ou a construção de 627mil unidades, a maioria referentea imóveis novos. Como mostra o Grá-

fico 3, os re-cursos desti-nados ao finan-ciamento des-tas novas uni-

dades responderam por mais de 20%de todo o investimento residencial.

Em 1983, no entanto, o número deunidades financiadas caiu drastica-mente para menos de 100 mil. Esteresultado originou-se das políticas deajuste à crise da dívida da décadade 80 e da elevação da inflação quea sucedeu. Uma tênue recuperaçãose iniciou na segunda metade dosanos 80 e sustentou até 1991, quan-do ocorreu um novo colapso do finan-ciamento imobiliário. O comporta-

mento, ora expansivo, oracontracionista do crédito teve for-te impacto sobre a queda do inves-timento residencial.

Desde 1997, o crédito habi-tacional apresenta uma recupe-ração mais consis-tente, sem contra-ções abruptas nosvolumes e númerosde unidades financi-adas. Naquele ano,foi criado o Sistema FinanceiroImobiliário (ver Quadro 1), bemcomo instituída a alienação fi-duciária de bens imóveis, que tor-nou o processo de execução de ga-rantias mais ágil e seguro para ocredor em relação à usual hipote-ca2 . Ainda assim, somente nosanos de 2004 e 2005 é que se ob-servou uma expansão continua-da nos volumes e números de uni-dades financiadas.

Os dados de crescimento dos va-lores desembolsados confirmam amelhoria no crédito habitacional

nos dois últimos anos. Conforme aTabela 1, os desembolsos acumula-dos em 12 meses tiveram expansãode 14%, entre Dez./03 e Dez./04.Este avanço aumentou para 57% em2005 e até Ago./06 alcançavam cres-

cimento demais de 90%em relação aomesmo períododo ano anterior.

Por trás da ex-pansão recente do financiamentoresidencial está um conjunto de fa-tores que envolvem: um cenáriomacroeconômico mais favorável,uma atuação mais intensa dos ban-cos públicos especializados na ope-ração do crédito habitacional, a ex-tensão dos subsídios ao financia-mento de imóveis para famílias debaixa renda e melhores condiçõesinstitucionais para a oferta de cré-dito.

No campo da melhoria institu-cional, destacam-se: i) instituição dopatrimônio de afetação, que desvin-

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Crédito habitacional no Brasilé um dos menores entreos países emergentes

Cenário macroeconômicodo país fortaleceu aexpansão do crédito

Gráfico 3: Investimento residencial financiado

O modelo brasileiro de financiamento imobiliário é subdividido em dois sistemas complementares: Sistema Financeiro de Habitação � SFH: Os recursos aplicados no SFH são primordialmente destinados ao financiamento de imóveis habitacionais e se originam dos depósitos da caderneta de poupança e do FGTS. A rigor os recursos do FGTS são direcionados, em maior parte, ao financiamento de imóveis para famílias de renda mensal mais baixa, cabendo à caderneta de poupança o atendimento à classe média. Sistema Financeiro Imobiliário � SFI: Os financiamentos pelo SFI abrangem tanto imóveis residenciais quanto comerciais, seus recursos baseiam-se na emissão de recebíveis imobiliários frutos da securitização de créditos mantidos por construtores e incorporadores contra os seus clientes. No entanto, esse sistema responde por menos de 10% do volume total de crédito habitacional.

Quadro 1: Modelo brasileiro de financiamento imobiliário

se sistematicamente abaixo dessepatamar. Entre 1983 e 2003, a des-peito de alguns períodos de expan-são, predominou uma trajetória deforte contração nos investimentos,que chegaram a um mínimo de 4%em 2003.

O papel do crédito imobiliárioO agravamento da questão

habitacional em nosso país estádiretamente relacionado com a in-capacidade de se conseguir efeti-var essa demanda potencial pornovas residências. Isto decorre dedois fatores. O primeiro é a limi-tação da renda disponível. No Bra-sil, como em quase todo o mundo,as famílias mais pobres não têmcondições de arcar com os custos

de aquisição de uma habitação con-dizente. Para resolver essa dificul-dade, normalmente os governos lan-çam mão de programas de subsídioao crédito habitacional.

O segundo fator são as restrições decrédito imobiliário. Uma forma de sesuperar as limitações da renda fami-liar corrente é recorrer ao crédito.Este mecanismo permite a efetivaçãode uma demanda por um bem de ele-vado valor em troca de um compro-metimento de parte da renda futurado devedor por um longo período.

No Brasil, no entanto, a participa-ção do crédito habitacional como fon-te de recursos para a construçãohabitacional é, ainda, exígua – me-nos de 2% do PIB. Em países desen-volvidos, o crédito habitacional che-

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cula os imóveis do patrimônio daconstrutora, reduzindo o riscopara financiadores e compradores; eii) mudanças nas regras para a pou-pança, que estimularam o setor ban-cário a aumentar o direcionamentodos recursos para o financiamentohabitacional3.

Dentre as alterações macroeco-nômicas, a queda na taxa de jurostem tornado o financiamento imobi-liário um produto mais atraentepara os bancos ao reduzir o retornode outras aplicações concorrentes.Ao mesmo tempo, a redução da in-flação e uma menor volatilidade nasexpectativas a respeito do comporta-

mento futuro desta variável tornamfactível o financiamento a prazosmais longos, reduzindo o comprome-timento de renda dos tomadores,com um provável forte impacto so-bre a demanda nos próximos anos.

Por último, temos a ampliação novolume dos subsídios ao financiamen-to de habitações populares. Estes sub-sídios tiveram um papel fundamen-tal em tornar acessível às famílias debaixa renda habitações adequadas.

Os resultados da expansão do cré-dito habitacional já começam a apa-recer sobre o investimento residen-cial. Em 2005, o total desembolsadopara financiamento à aquisição deimóveis novos ou à construção de no-vas habitações foi estimado em cer-ca de R$ 7,2 bilhões, ou 8,6% do totaldo investimento residencial do país.Um valor ainda baixo comparado aoápice de 1980, quando o crédito res-pondia por mais de 20% dos recur-sos investidos, porém bastante su-perior à média de 4,7% para o perío-

Impacto de mudanças nos termos de troca e nas remessasde lucro de multinacionais: média 2003 - 2005 (% do PIB)

2 Na hipoteca a propriedade do bem dado em garantiaé do mutuário. De forma diferente, na alienação fiduciáriao devedor passa a propriedade do bem para o credor.Como resultado, nesta segunda modalidade, em caso deinadimplemento do devedor, torna-se mais célere o pro-cesso de recuperação do valor emprestado.

3 Um exemplo foi a Resolução 3.177 do Conselho Mone-tário Nacional (CMN) reduziu a remuneração dos recur-sos de caderneta de poupança não aplicados no financia-mento de imóveis a apenas 80% da remuneração básicados recursos de poupança.

Gráfico 2: Crédito total e habitacional no mundo

Tabela 1: Desembolsos acumulado em 12 meses (em R$ milhões)

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tor, além de analisar o comporta-mento do crédito habitacional no País.

O déficit habitacional eos investimentos no setorOs números do déficit habitacional

mostram que o desempenho do se-tor de construção residencial temsido ainda insufici-ente para dar contadas necessidadesbrasileiras. A Funda-ção Getúlio Vargas1

quantificou este dé-ficit em cerca de 8 milhões de resi-dências, 84% referente a famíliascom rendimentos inferiores a 3 Sa-lários Mínimos.

Este déficit configura uma deman-

da potencial por novas habitações oupor melhorias nas habitações exis-tentes que, a cada ano, se soma auma demanda adicional superior a150 mil novas famílias desatendidas.O resultado está expresso no cresci-mento das favelas e na multiplica-ção tanto das habitações impróprias

quanto no númerode unidades habita-das por mais deuma família.

O atual elevado dé-ficit residencial de-ve-se, sobretudo, à

trajetória de forte contração dos in-vestimentos no setor, desde o iníciodos anos oitenta até os primeiros anosda década atual, como mostra o Grá-fico 1. Entre 1973 e 1982, os investi-mentos anuais do setor foram sem-pre superiores a 6,5% do PIB. Desdeentão, os investimentos mantiveram-

do 1982-2003.Para 2006 nossas projeções indi-

cam que o volume de crédito à habi-tação deve ultrapassar os R$ 19 bi-lhões. Isto representaria um aumen-to de mais de 90% em relação aosdesembolsos de 2005. De fato, no acu-mulado em 12 meses até agosto de2006 o aumento dos desembolsos jásupera estes 90%.

ConclusãoPor trás da recente expansão do cré-

dito habitacionalpercebem-se doisgrandes flancos demelhorias da eco-nomia brasileira.Um se refere àmelhoria institucional, que permi-tiu a redução de riscos específicosdo crédito habitacional ao tornarmais efetivas as garantias envolvi-das nas operações do setor. O outrodiz respeito ao ambiente macroeco-nômico que, graças às evoluções deum conjunto de variáveis que abran-gem desde o ajuste no balanço de pa-gamentos até a queda nas expecta-tivas de inflação, tornou possível aampliação dos financiamentos deprazo mais longo. Em especial, as ex-pectativas de queda na taxa de ju-ros, reflexo da redução da volatilidadeda inflação, têm tornado o produto“crédito habitacional” mais atraen-te para os bancos e mais acessívelpara os tomadores.

Por força da expansão do crédito,ocorre a recuperação do investimen-to residencial que, como vimos an-teriormente, influenciado pelo colap-so no financiamento à habitação nadécada de 80, havia se contraído deforma intensa nos anos 80 e 90.

Com a continuidade do avanço emcurso do crédito habitacional, seuvalor em pontos percentuais do PIBdeverá se elevar nos próximos 4anos dos atuais 1,7 para mais de4%. Influenciado, sobretudo, por

esta expansão docrédito, o investi-mento habita-cional deverá seelevar até 2010 damédia atual de

4,3% para um valor superior à 5,5%do PIB, contribuindo desta formapara um aumento da FormaçãoBruta de Capital Fixo de mais de 1,2ponto percentual.

A ampliação do investimento re-sidencial, por sua vez, colaborarápara dar robustez à demanda e, aomesmo tempo, aliviará um dosmais graves problemas do país –nosso imenso déficit habitacional.Ademais, esta retomada do inves-timento residencial, pouco desta-cada no debate econômico, deveráter participação importante na ele-vação da taxa de investimento parapatamares substancialmente supe-riores aos atuais.

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Para 2006 o volume decrédito à habitação devecrescer 90% frente a 2005

Taxa de investimento emconstrução residencialainda está aquém dasnecessidades brasileiras

1 F. García, A. M. Castelo, M. A. Lins & F. Brollo (2005) ��Por dentro do déficit habitacional brasileiro�, disponívelem: http://www.sindusconsp.com.br/downloads/deficit_habitacional_brasil.pdf. (acessado em 01/08/2006).

Gráfico 1: Investimento residencial (% do PIB)

06 nov 2006

Nº 18

Crédito habitacional acelera oinvestimento residencial no país

A construçãoresidencial éum setor deelevada impor-tância para o

desenvolvimento econômico do Bra-sil. A atividade é grande geradorade emprego, contratando mão-de-obra dos mais diversos níveis de ins-trução e qualificação. Mas o seu im-pacto social vai além do emprego. Aconstrução residencial produz o bemtangível privado mais importantepara uma família, o que traz consi-go benefício não só para o indivíduomas também para a sociedade.

Um aspecto pouco citado é agrande relevância do setor para onível de investimento da econo-mia e, conseqüentemente, para adeterminação do nível de renda.Em 2005, a construção residencial

Se você quer receber os próximos números destapublicação envie e-mail para

[email protected].

Por Leandro de M. Coutinho eMarcelo M. NascimentoAdvogado da SAE e economista do BNDES

foi responsável por 22% da Forma-ção Bruta de Capital Fixo (4,3% doPIB brasileiro).

Em que pese esses percentuais, aatual taxa de investimento em cons-trução residencial está ainda aquémdas necessidades brasileiras, além deser também baixa quando considera-da internacionalmente. Tal situaçãoestá fortemente relacionada ao his-tórico de reduzido volume de créditoao setor. Em julho de 2006, o saldodos financiamentos para residênci-as representava apenas 1,6% do PIB.

Os objetivos deste informe são:apresentar a dimensão do déficithabitacional no Brasil; mostrar a re-lação desse déficit com o volume deinvestimentos e com o crédito no se-

Visão do Desenvolvimento é uma publica-ção da Secretaria de Assuntos Econômicos(SAE), da Presidência do Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico e Social. As opi-niões deste informe são de responsabilidadedos autores e não refletem necessariamente opensamento da administração do BNDES.

Setor tem granderelevância parao nível deinvestimentoda economia