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Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul 1 Investigando Processos Interdisciplinares no Ensino das Artes: um estudo multicasos em escolas públicas de Montenegro, RS Lucas Pacheco Brum (PIBID/CAPES/UERGS) Cristina Rolim Wolffenbüttel (PIBID/CAPES/UERGS) Eixo temático: Conhecimento Interdisciplinar Resumo: Este trabalho apresenta a pesquisa sobre a interdisciplinaridade nas artes, focando as Artes Visuais e a Dança, resultante das inserções em escolas, incluídas em atividades do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência. Partiu dos seguintes questionamentos: O que é interdisciplinaridade na educação? Quais teóricos têm tratado deste tema? O que é interdisciplinaridade em artes? Quais as possíveis contribuições da interdisciplinaridade para os processos pedagógicos em artes? Como planejar e desenvolver atividades interdisciplinares em artes? Neste sentido, esta investigação objetivou investigar, a partir do cotidiano de escolas de Ensino Fundamental da cidade de Montenegro, RS, práticas e concepções pedagógicas que envolvam atividades interdisciplinares em Artes Visuais e Dança. Para sua realização utilizou a abordagem qualitativa (LÜDKE, ANDRÉ, 1986), sendo o método o estudo multicasos (STAKE, 1994). Para a coleta dos dados foram utilizadas entrevistas semiestruturadas (COHEN, MANION, 1994), bem como observações e coleta de documentos, notadamente do projeto político pedagógico. Todos estes procedimentos auxiliaram na análise dos processos interdisciplinares existentes no cotidiano escolar. Dentre alguns dos resultados pode ser destacado o fato de as escolas tentarem desenvolver projetos de cunho interdisciplinar, todavia, tendo em vista os problemas existentes no cotidiano escolar, ainda são incipientes os resultados oriundos desta prática. Entende-se que esta investigação possa contribuir com os estudos sobre a interdisciplinaridade nas escolas, apontando perspectivas para um avanço na educação. Palavras-Chave: Interdisciplinaridade, Educação, Artes Visuais, Dança. Introdução Este trabalho apresenta a pesquisa sobre a interdisciplinaridade nas artes, focando as Artes Visuais e a Dança. Encontra-se inserida nas atividades do Grupo de Pesquisa “Arte: criação, interdisciplinaridade e educação”, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (CNPq/UERGS) , na Unidade de Montenegro. Partiu de um diálogo entre estas subáreas, o que tem sido possível graças à existência do subprojeto “Artista e Arteiro”, inserido no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID/CAPES/UERGS). No PIBID/CAPES/UERGS, estudantes dos cursos de Graduação: Licenciatura em Artes Visuais, Dança, Música e Teatro, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), Unidade de

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Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul

1

Investigando Processos Interdisciplinares no Ensino das Artes: um estudo multicasos

em escolas públicas de Montenegro, RS

Lucas Pacheco Brum (PIBID/CAPES/UERGS)

Cristina Rolim Wolffenbüttel (PIBID/CAPES/UERGS)

Eixo temático: Conhecimento Interdisciplinar

Resumo: Este trabalho apresenta a pesquisa sobre a interdisciplinaridade nas artes, focando as Artes Visuais e a

Dança, resultante das inserções em escolas, incluídas em atividades do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência. Partiu dos seguintes questionamentos: O que é interdisciplinaridade na educação? Quais teóricos têm

tratado deste tema? O que é interdisciplinaridade em artes? Quais as possíveis contribuições da interdisciplinaridade

para os processos pedagógicos em artes? Como planejar e desenvolver atividades interdisciplinares em artes? Neste

sentido, esta investigação objetivou investigar, a partir do cotidiano de escolas de Ensino Fundamental da cidade de Montenegro, RS, práticas e concepções pedagógicas que envolvam atividades interdisciplinares em Artes Visuais e

Dança. Para sua realização utilizou a abordagem qualitativa (LÜDKE, ANDRÉ, 1986), sendo o método o estudo

multicasos (STAKE, 1994). Para a coleta dos dados foram utilizadas entrevistas semiestruturadas (COHEN, MANION, 1994), bem como observações e coleta de documentos, notadamente do projeto político pedagógico. Todos

estes procedimentos auxiliaram na análise dos processos interdisciplinares existentes no cotidiano escolar. Dentre

alguns dos resultados pode ser destacado o fato de as escolas tentarem desenvolver projetos de cunho interdisciplinar, todavia, tendo em vista os problemas existentes no cotidiano escolar, ainda são incipientes os resultados oriundos

desta prática. Entende-se que esta investigação possa contribuir com os estudos sobre a interdisciplinaridade nas

escolas, apontando perspectivas para um avanço na educação.

Palavras-Chave: Interdisciplinaridade, Educação, Artes Visuais, Dança.

Introdução

Este trabalho apresenta a pesquisa sobre a interdisciplinaridade nas artes, focando as Artes Visuais e

a Dança. Encontra-se inserida nas atividades do Grupo de Pesquisa “Arte: criação, interdisciplinaridade e

educação”, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (CNPq/UERGS), na Unidade de Montenegro.

Partiu de um diálogo entre estas subáreas, o que tem sido possível graças à existência do subprojeto “Artista

e Arteiro”, inserido no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID/CAPES/UERGS).

No PIBID/CAPES/UERGS, estudantes dos cursos de Graduação: Licenciatura em Artes Visuais,

Dança, Música e Teatro, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), Unidade de

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Montenegro, buscam aprofundar teorias e metodologias relacionadas às epistemologias de áreas específicas,

bem como conhecer e construir metodologias apropriadas ao fazer artístico em sala de aula, sempre

buscando um trabalho interdisciplinar.

Ao longo das inserções na escola, bem como das observações e discussões sobre o ensino de arte,

foram identificados alguns conceitos, conteúdos e metodologias que permeiam o ensino de Dança e Artes

Visuais. Dentre estes conceitos destacaram-se: tridimensionalidade, bidimensionalidade, geometria,

organização espacial, performance, o corpo, o corpo como instrumento, o corpo na historia da arte, o corpo

como arte, leitura de imagem, a história da arte (vanguardas), planos, níveis (alto, médio, baixo,

profundidade). Todos esses conteúdos são desenvolvidos e fazem parte do currículo e do ensino de arte.

Nessa perspectiva, inicialmente surgiram alguns questionamentos que corroboraram a elaboração

dessa pesquisa, quais sejam: O que é interdisciplinaridade na educação? Quais pesquisadores têm tratado

deste tema? Como se constitui a interdisciplinaridade nas artes, considerando-se as Artes Visuais e a Dança?

Quais as possíveis contribuições da interdisciplinaridade para os processos pedagógicos em artes-Artes

Visuais e a Dança? Como planejar e desenvolver atividades interdisciplinares em artes-Artes Visuais e a

Dança?

Partindo destas questões, a presente investigação objetivou investigar, a partir do cotidiano de

escolas de Ensino Fundamental da cidade de Montenegro, RS, práticas e concepções pedagógicas que

envolvam atividades interdisciplinares em Artes Visuais e Dança. Como objetivos específicos pretendeu-se

pesquisar sobre a interdisciplinaridade na educação; conhecer o trabalho dos pesquisadores que têm tratado

deste tema; entender como se constitui a interdisciplinaridade nas artes, considerando-se as Artes Visuais e a

Dança; especular sobre as possíveis contribuições da interdisciplinaridade para os processos pedagógicos em

Artes Visuais e a Dança; e propor planejamentos interdisciplinares em Artes Visuais e Dança.

Pressupostos Metodológicos

Para a realização desta pesquisa optou-se pela abordagem qualitativa e pelo método estudo

multicasos.

A pesquisa qualitativa tem como antecedentes históricos as ciências naturais e a filosofia. No campo

das ciências sociais o termo pesquisa qualitativa assumiu diferentes significados ao longo dos anos, como o

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de compreender um conjunto de diversas técnicas interpretativas que objetiva descrever e decodificar os

componentes de um sistema complexo de significados (MAANEN, 1979, p.520).

O principal fundamento da pesquisa qualitativa é a imersão do pesquisador no contexto e a

perspectiva interpretativa de condução da pesquisa (KAPLAN, DUCHON, 1988, p. 580).

A pesquisa qualitativa não apresenta uma preocupação com a representatividade numérica, mas com

um aprofundamento da compreensão de um grupo social, ou de uma organização. Os pesquisadores que

adotam a abordagem qualitativa procuram não fazer julgamentos, do mesmo modo, não permitem que

conceitos anteriores e crenças influenciem a pesquisa (GOLDENBERG, 1999). Os métodos qualitativos

buscam, desse modo, explicar as razões dos fenômenos sem, contudo, qualificar os valores e as trocas

simbólicas, tampouco se submetendo à prova de fatos, pois os dados analisados não são numéricos e se

utilizam de diferentes abordagens.

O método utilizado, como dito, foi o estudo multicasos, visto serem duas escolas focadas na

investigação. Desse modo, dois estudos de caso, ou estudo multicasos. A razão para a escolha desse método

está relacionada aos objetivos aos qual esta pesquisa se propõe, na medida em que pretendia investigar,

aprofundar, identificar e diagnosticar a partir do cotidiano de escolas de Ensino Fundamental da cidade de

Montenegro, práticas e concepções pedagógicas que envolvam atividades interdisciplinares em Artes

Visuais e Dança.

O estudo de caso, segundo Stake (1994) não se constitui uma escolha metodológica, mas a escolha de

um objeto a ser estudado (STAKE, 1994, p.236). De acordo do o autor, a complexidade do caso pode variar

do simples ao complexo, concentrar-se em um grupo de pessoas ou mesmo em apenas um indivíduo, uma

organização, comunidade, enfim, não se limitando a uma unidade de estudo. É importante levar em

consideração que o estudo de caso tem um componente limitador quanto ao tempo e ao espaço, podendo

restringir-se a um episódio, evento, ou mesmo um dia, para citar algumas das possibilidades. O objetivo de

um estudo multicasos é a compreensão de suas especificidades e semelhanças, com vistas a uma melhor

aferição sobre os resultados (STAKE, 1994; YIN, 2005).

Para a realização da coleta dos dados optou-se pelas entrevistas, observações e coletas de

documentos. A entrevista se caracteriza por ser um questionamento imediato, face a face, com o objetivo de

captar as “múltiplas realidades ou percepções” de uma determinada situação a partir do discurso dos atores

sociais (LÜDKE, ANDRÉ, 1986; YIN, 2005).

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Na vida cotidiana, as entrevistas têm diversas características e usos, sendo que na pesquisa

qualitativa seu emprego envolve: interação amigável entre entrevistador e entrevistado; captação imediata

das informações desejadas; aprofundamento de questões levantadas por outros procedimentos de pesquisa;

contato com participantes que não podem ser assistidos por outros meios de investigação e facilidade de

realizar correções, esclarecimentos e modificações na busca pelas informações desejadas (LÜDKE,

ANDRÉ, 1986).

Para esta pesquisa foram realizadas entrevistas semiestruturadas com professores e coordenadores

envolvidos com contexto escolar. A entrevista semiestruturada foi realizada com base em um roteiro prévio,

básico e flexível, sendo adaptado de acordo com o desenvolvimento dos questionamentos (BOGDAN,

BIKLEN, 1994).

As observações, outro tipo de técnica utilizada para a coleta dos dados, foram realizadas em todo

contexto escolar, procurando analisar as práticas existentes no cotidiano escolar, bem como identificar

possíveis práticas interdisciplinares.

Por fim, foi utilizada a coleta de documentos, sendo que foram buscados materiais como o projeto

político pedagógico das escolas e demais documentos oficiais com vistas a identificar os modos e os locais

que as práticas interdisciplinares se apresentam nos planejamentos escolares, caso as mesmas estejam

previstas.

Partindo do levantamento dos dados empíricos da pesquisa foi analisada a interdisciplinaridade no

campo da educação e práticas interdisciplinares entre Artes Visuais e Dança. O lócus dessa investigação

foram duas escolas públicas estaduais da cidade de Montenegro/RS, nas quais são desenvolvidas as

atividades do PIBID/CAPES/UERGS. Para fins éticos serão utilizadas identificações alternativas para as

escolas, ou seja, mencionar-se-ão nos resultados e análise dos dados as denominações Escola A e Escola B.

Resultados da Pesquisa e Análise dos Dados

Após realizar a coleta dos dados nas duas escolas participantes do PIBID/CAPES/UERGS, o que

ocorreu através de entrevistas, observações e coletas de documentos, procedeu-se à análise dos dados. Esta

análise teve por base o referencial teórico escolhido para este trabalho. Todo este procedimento é justificado

para alcançar o objetivo desta pesquisa, qual seja, investigar, a partir do cotidiano de escolas de Ensino

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Fundamental da cidade de Montenegro, RS, práticas e concepções pedagógicas que envolvam atividades

interdisciplinares em Artes Visuais e Dança.

As Observações

As observações realizadas nas escolas A e B foram muito importantes para constituir o todo da

pesquisa, bem como corroboraram a análise e síntese dos dados.

Alguns autores que trabalham na perspectiva interdisciplinar, como Fazenda (2003 e 2008), Lück

(2010) e Japiassu (1976), salientam a importância da troca, da interrelação entre os especialistas. Sendo

assim, nas escolas investigadas são realizadas algumas ações interdisciplinares com as diferentes disciplinas

do currículo.

A Escola A desenvolve um projeto interdisciplinar nas Áreas do Conhecimento, utilizando as

disciplinas de Biologia, Matemática, História e Artes Visuais. Esse projeto acontece no contraturno, somente

com o Ensino Médio, pois faz parte do Ensino Politécnico. O projeto consiste em desenvolver

interdisciplinarmente a temática sobre a “Cidade de Montenegro”, sendo que cada disciplina tem sua

participação no projeto, trabalhado e elaborando a proposta na sua área de conhecimento. No caso da

disciplina das Artes Visuais estuda-se a reciclagem, os artistas e as obras que trabalham com o tema e que

tem uma produção poética. A Dança na Escola A não se apresenta no currículo.

Analisando a proposta da Escola A em relação à perspectiva interdisciplinar não se pode dizer que a

mesma ocorra. Mas, o que é realizado pode ser denominado de integração das disciplinas tendo em vista o

projeto. A este respeito, Fazenda (1993) explica que a interdisciplinaridade se caracteriza

pela intensidade das trocas entre os especialistas e pela integração das disciplinas num

mesmo projeto de pesquisa (...) Em termos de interdisciplinaridade ter-se-ia uma relação de reciprocidade, de mutualidade, ou, melhor dizendo, um regime de co-propriedade, de

interação, que irá possibilitar o diálogo entre os interessados. A interdisciplinaridade

depende, então, basicamente, de uma mudança de atitude perante o problema do conhecimento, da substituição de uma concepção fragmentária pela unitária do ser humano.

(FAZENDA, 1993, p.31).

A partir de Fazenda (1993) entende-se que o projeto “Cidade de Montenegro”, desenvolvido pela

Escola A e as aulas de artes não sejam realizados na perspectiva interdisciplinar, mas de forma

transdisciplinar que se dá no processo cognitivo do aluno. Para Japiassu (1976), a transdisciplinaridade “não

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se restringe a interações ou reciprocidade das disciplinas, mas que vai além e derruba as fronteiras das

disciplinas e interdisciplinares, formatando um sistema de múltiplos níveis” (p. 74). A partir do autor

(JAPIASSU, 1976) apresenta-se o relato de uma observação realizada na Escola A:

Quando é proposto um trabalho para os alunos, alguns conseguem fazer relações com outras áreas do conhecimento. Mas, essas relações não parecem ser potencializadas adequadamente

para que ocorram essas relações. Nesse dia, na aula de Artes Visuais, o professor explicava

sobre a vanguarda Expressionista. Em determinado momento um aluno perguntou por que a obra “O Grito”, do artista Munch, estava assustado, parecendo estar com frio, parecia até

uma cena de teatro. Outro aluno acrescentou que o personagem na obra estava com fome.

(CADERNO DE OBSERVAÇÕES, 2012).

Como descrito acima pode-se identificar um processo de transdisciplinaridade, que ultrapassa

fronteiras estabelecidas, que situa em um sistema de relações, ligações com diferentes conhecimentos ou

áreas do conhecimento. Para Japiassu (1976) “a etapa das relações interdisciplinares, podemos esperar que

se suceda uma etapa superior, que não se contentaria em atingir interações ou reciprocidade entre pesquisas

especializadas, que se situaria essas ligações no interior de um sistema total, sem fronteiras estabelecidas

entre as disciplinas” (p. 75).

Sendo assim, acredita-se que o interesse dos alunos em ampliar seus conhecimentos se faz presente

na sua aprendizagem. Os alunos têm interesse em novas relações e investigações do conhecimento. Pensa-se

o que falta, na maioria das vezes, é uma iniciativa, por parte dos professores, de incentivar, estimular e

proporcionar os alunos novas leituras de mundo com diferentes conhecimentos, não sendo apenas de suas

especificidades ou de ciências afins.

Essas necessidades de estabelecer relações com o que está sendo proposto com outros conhecimentos

partem da curiosidade e da investigação dos alunos em querer buscar a totalidade de conhecimento, em uma

perspectiva interdisciplinar, como é proposto por alguns teóricos.

No decorrer das observações também foi possível identificar dificuldades por parte dos alunos com

relação à aprendizagem. Essas dificuldades se dão pelo curto tempo de duração das aulas e pela falta de

reflexão sobre o que está sendo estudando. Assim, em alguns casos, estes não conseguiam estabelecer

relações com as diferentes áreas do conhecimento ou com as diferentes possibilidades de relações entre

cultura, sociedade, ambiente e com o conhecimento de mundo.

Portanto, pode-se dizer que nas aulas de Artes Visuais, em ambas escolas (A e B), são realizadas

algumas ações interdisciplinares que partem de uma perspectiva multidisciplinar. Segundo Japiassu (1976) é

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um “estudo de um objeto sob diversos ângulos, mas sem pressupor um acordo ou um rompimento de

fronteiras entre as disciplinas” (p. 73). Essas ações são desenvolvidas quando é proposto um tema e cada

disciplina trabalhando na sua especificidade dentro do mesmo objeto, não havendo um engajamento, um

compromisso com a disciplina justaposta.

Além das aulas de Artes Visuais também foram observadas aulas de Português, Física e Geografia,

mas mantendo sempre o foco nas disciplinas de Artes Visuais e Dança. Como não há Dança no currículo,

conforme já esclarecido, esta disciplina na foi observada. Todavia, foram obsevadas manifestações de dança,

desenvolvidas pelos alunos, de forma espontânea, nos corredores e nos intervalos da escola. Verificou-se

grande interesse dos alunos quanto à dança, sendo fortemente vivenciadas em ambas as escolas (Escola A e

Escola B).

Os alunos, na sua maioria, possuem telefones celulares, ipods, e fones de ouvidos, nos quais todos

escutam músicas. Inclusive, nas próprias as aulas de Artes Visuais presenciou-se que os alunos podem

escutar música quando estão fazendo a parte prática das atividades. Identificamos as possibilidades e

oportunidades para que a interdisciplinaridade aconteça entre as áreas de Dança e Artes Visuais quando

estão fazendo a prática. Esta possibilidade poderia ocorrer em relação ao conhecimento de um movimento

de dança de rua, explorando imagens e cenas urbanas e demais possibilidades de interlocuções.

Na Escola B observou-se que as preferências dos estudantes em relação aos estilos de dança incluem

hip-hop, funk, street e danças veiculadas através da mídia. Foi possível verificar estas preferências durante

um evento que a escola realiza, denominado de “Show de Talentos”, que objetiva estimular os alunos a

criarem apresentações artísticas através de diferentes linguagens, como dança, teatro, música, poesia e artes

visuais. Estas apresentações oportunizam a apreciação artística para alunos, pais, professores e comunidade

em geral.

Além de os alunos apresentarem um grande interesse pela dança, observou-se, também, um interesse

pelas mídias e pelas novas tecnologias que fazem parte do seu contexto e que estão diretamente ligadas às

salas de aulas. Sendo assim, pensa-se que a informática, as mídias e as tecnologias poderiam ser

instrumentos para desenvolver a interdisciplinaridade, partindo dos interesses dos alunos. A este respeito,

Mucsacchio (2012) aponta:

Os alunos da atualidade são naturalmente polivalentes, ao mesmo assumem várias tarefas ao

mesmo tempo, são dialéticos naturais, espontâneos, ao mesmo tempo que lêem um livro, ouvem música, falam no celular, conversam nas comunidades virtuais, fazem pesquisa pra

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escola, a TV ligada, isso dá a eles a eles a sensação de que estão sozinhos. “Deve ser por isso que os alunos acham a escola um lugar chato porque as tarefas são realizadas uma de

cada vez e, assim ficam contando os segundos para terminar o tempo da aula”.

(MUCSACCHIO, 2012, p.33).

Partindo da perspectiva de Musacchio (2012), conclui-se que os alunos das escolas A e B apresentam

o gosto pelas mídias e tecnologias, o que pode ser um instrumento indispensável para a construção do

conhecimento, promovendo a interdisciplinaridade.

Interdisciplinaridade na Educação

Existem diversos estudos sobre interdisciplinaridade. Houve um crescimento nas pesquisas e na

produção textual neste assunto, principalmente a partir de meados do século XX, notadamente nas ciências

humanas e educação.

As pesquisas têm revelado relevantes resultados para pensar em fundamentos epistemológicos sobre

a terminologia do próprio termo; muitos autores apontam que falta um amadurecimento epistemológico

sobre a questão, bem como construir uma metodologia interdisciplinar, pensando-se nas possibilidades e nos

desafios que se apresentam aos educadores que pretendem trabalhar de forma interdisciplinar.

Há um aumento progressivo em simpósios, congressos, encontros e salões de pesquisas de iniciação

cientifica abordando a interdisciplinaridade. Alguns pesquisadores avessos à interdisciplinaridade

argumentam que esses eventos em que são divulgadas pesquisas, trabalhos e discussões sobre o tema

apresentam-se, de certo modo, como um modismo. Escutam-se, constantemente, discussões acerca da

terminologia interdisciplinar como um modismo. Porém, de acordo com Lück (2010), “a moda ocorre

quando uma concepção pedagógica é verbalmente redigida, sem que, no entanto, impregne a ação das

pessoas; fica no plano do discurso e, por isso, não é utilizado para transformar a realidade” (p. 23-24).

Do ponto de vista da autora (LÜCK, 2010) a interdisciplinaridade não é um modismo, pois

corresponde a uma necessidade que o homem e a sociedade têm de suprir, comparar, integrar seus

conhecimentos. No campo da educação vale compreender que a interdisciplinaridade corresponde a uma

necessidade de superar uma visão fragmentada da produção do conhecimento.

A humanidade não constrói conhecimentos separadamente, mas sim de diversas maneiras e

diferentes pontos de vistas. Dessa forma pensa-se que na educação existam barreiras epistemológicas que

dificultam a associação de duas ou mais disciplinas, discutindo e construindo conhecimentos em prol de um

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mesmo objeto. Conforme Lück (2010), a “interdisciplinaridade representa a possibilidade de promover a

superação das dissociações das experiências escolares entre si, também delas com a realidade social” (p.43-

44).

Conforme explica Japiassu (1976), a interdisciplinaridade exige uma reflexão profunda e inovadora

sobre o conhecimento que demonstra a insatisfação com o saber fragmentado. Neste sentido, a

interdisciplinaridade propõe um avanço em relação ao ensino tradicional, com base na reflexão crítica sobre

a própria estrutura do conhecimento, na intenção de superar o isolamento entre as disciplinas.

Para Fazenda (1993), a interdisciplinaridade é caracterizada,

pela intensidade das trocas entre os especialistas e pela integração das disciplinas num mesmo projeto de pesquisa (...) Em termos de interdisciplinaridade ter-se-ia uma relação de

reciprocidade, de mutualidade, ou, melhor dizendo, um regime de co-propriedade, de

interação, que irá possibilitar o diálogo entre os interessados. A interdisciplinaridade

depende então, basicamente, de uma mudança de atitude perante o problema do conhecimento, da substituição de uma concepção fragmentária pela unitária do ser humano.

(FAZENDA, 1993, p.31).

Entende-se, a partir de Fazenda (2008), que a interdisciplinaridade na educação precisa se alicerçar

no envolvimento, comprometimento e engajamento dos educadores. Parte do diálogo da reciprocidade,

compromisso com as demais disciplinas, tendo respeito e humildade para escutar, aprender e saber

contribuir com seus saberes. Parece que “hoje mais do que nunca reafirmamos a importância do diálogo,

única condição possível de eliminação das barreiras entre as disciplinas. Disciplinas dialogam quando as

pessoas se dispõem a isto” (FAZENDA, 2003, p. 50).

Assim, o processo educativo precisa se fundamentar no diálogo, tanto entre pessoas, quanto entre as

disciplinas possibilitando uma cooperação entre todos porque, entre os interdisciplinares todas são autores

entre docentes e discentes.

Todos aprendem juntos; a interdisciplinaridade quebra com o paradigma da disputa de saber. Todos

engajados em um projeto interdisciplinar ou em uma ação, todos estão no mesmo nível e um aprende com os

outro. Conforme explica Fazenda (2008) o desenvolvimento básico da interdisciplinaridade é a

comunicação, e a comunicação envolve sobre tudo participação. Fazenda (2008) aponta, também, que:

Além do desenvolvimento de novos saberes, a interdisciplinaridade na educação favorece

novas formas de aproximação da realidade da realidade social e novas leituras das dimensões sócio culturais das comunidades humanas. [...] O processo interdisciplinar

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desempenha papel decisivo para dar corpo ao sonho ao fundar uma obra de educação à luz as sabedoria, da coragem e da humanidade. [...] A lógica que a interdisciplinaridade imprime é

a da invenção, da descoberta, da pesquisa, da produção cientifica, porém gestada num ato de

vontade, num desejo planejado e construído em liberdade. (FAZENDA, 2008, p.166).

Um dos papeis fundamentais da interdisciplinaridade é despertar a curiosidade e a criatividade. Freire

(1999) explica que, para nós, discentes, a pesquisa tem o potencial de instigar nos integrantes a curiosidade e

a própria autonomia do seu próprio conhecimento. Corroborando, Musacchio (2012) amplia a compreensão

explicando que o sujeito “se percebe um mundo de possibilidades e alternativas, provocando uma revolução

na sala de aula, tornando o ensino e aprendizagem mais dinâmico, criativa, reflexiva, colaborativa e

interativa” (p. 195).

Tornar o ensino interdisciplinar não é tarefa fácil, requer grandes mudanças, como na metodologia

empregada do docente, no desenvolvimento das aulas, na apresentação dos trabalhos, no repensar dos

processos utilizados para as avaliações, além dos processos de ensino e aprendizagem.

Trabalhar de forma interdisciplinar é reconstruir todos os paradigmas existentes. É procurar diluir as

barreiras entre as disciplinas, é uma tentativa de romper com ensino através da transmissão de

conhecimentos. É, em síntese, deixar de lado o discurso baseado no ensino com vistas aos resultados

acadêmicos para assumir o discurso do ensino para o desenvolvimento humano (ARMSTRONG, 2008). Ou,

ainda, “promover a interdisciplinaridade é fazer a interdisciplinaridade e não discutir a interdisciplinaridade”

(MUSACCHIO, 2012, p.43).

Nesse contexto os docentes têm optado por uma metodologia interdisciplinar, pois acreditam no

potencial dos especialistas em trabalhar em conjunto em uma educação contemporânea no qual todos são

ativos. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394, de 20 de dezembro de 1996 e os

Parâmetros Curriculares Nacionais sinalizam para uma maior flexibilização dos conteúdos a serem

desenvolvidos possibilitando mudanças no currículo das escolas no sentido de reduzir a fragmentação

característica de um currículo totalmente disciplinar.

Os temas transversais propostos, como Meio Ambiente, Ética, Saúde e Orientação Sexual, por

exemplo, também podem facilitar esta articulação entre as disciplinas, sendo trabalhados de forma

interdisciplinar.

A utilização da interdisciplinaridade pode promover um trabalho de integração e interatividade com

as outras ciências, rompendo com perspectivas individualistas no trabalho pedagógico. Segundo Lück

(2010) a interdisciplinaridade no contexto da educação:

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é o processo que envolve a integração e o engajamento de educadores, num trabalho conjunto, de interação das disciplinas do currículo entre si e com a realidade, de modo a

superar a fragmentação de ensino, objetivando a formação integral dos alunos, a fim de que

possam exercer criticamente a cidadania, mediante uma visão global de mundo, e serem

capazes de enfrentar os problemas amplos e globais da realidade. (LÜCK, 2010.p.47).

Trabalhos dos Pesquisadores sobre Interdisciplinaridade

A partir de uma ampla revisão da literatura sobre interdisciplinaridade foi encontrada uma grande

quantidade de trabalhos sobre o assunto, incluindo teses, dissertações, monografias, trabalhos de conclusão

em geral, bem como artigos e ensaios, entre outros trabalhos.

Observou-se que a interdisciplinaridade ocorre várias áreas, desde as exatas até as humanas. O Grupo

de Estudos e Pesquisas em Interdisciplinaridade da PUC-SP (GEPEI), coordenado pela professora Dra. Ivani

Catarina Fazenda, realizou inúmeras pesquisas e reflexões sobre a temática. O GEPEI envolve pesquisas em

diferentes campos como: psicologia, sociologia, odontologia, medicina, educação, filosofia, etc.

Nesse contexto foram encontrados nomes de diversos pesquisadores que tratam desta temática. Além

de Fazenda, já referida, tem uma grande quantidade de materiais publicados tratando da educação e

propondo possibilidades para a construção de uma metodologia interdisciplinar. Hilton Japiassu (1976)

estuda a interdisciplinaridade em um campo mais histórico, antropológico, terminológico e epistemológico.

Também pode ser referenciada Heloísa Lück (2010) que propõe uma abordagem metodológica, fundamento

para se pensar uma metodologia interdisciplinar. Vale salientar, também, Claudio Musacchio (2012) que

trata da interdisciplinaridade, das mídias e das tecnologias na educação.

Além desses teóricos devem ser mencionados aqueles que tratam desse assunto de maneira mais

indireta, como Gaudêncio Frigotto (2008) e Edgar Morin (2005). Seguindo estas menções podemos citar

Jean Piaget que contribuiu através de seus estudos sobre trandisciplinaridade, originados de seus

experimentos sobre as fases do desenvolvimento cognitivo.

Com essa revisão de literatura foi possível perceber que cada teórico se refere, de algum modo, à

interdisciplinaridade. Entende-se, portanto, a amplitude de possibilidades de abordagem.

Interdisciplinaridade nas Artes

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Conforme explica Japiassu (1976), a interdisciplinaridade exige uma reflexão profunda e inovadora

sobre o conhecimento que demonstra a insatisfação com o saber fragmentado. Neste sentido, a

interdisciplinaridade propõe um avanço em relação ao ensino tradicional, com base na reflexão crítica sobre

a própria estrutura do conhecimento, na intenção de superar o isolamento entre as disciplinas. Na visão de

Musacchio (2012):

O que realmente faz diferença na educação contemporânea é a aplicação da interdisciplinaridade e da metodologia contemplam experimentos científicos na sala de aula.

A mera associação de duas ou mais disciplinas discutindo temas comuns já é um avanço

paradigmático substancial levando-se em considerações que até bem pouco isso seria impraticável. (MUSACCHIO, 2012, p.185).

Nessa perspectiva a interdisciplinaridade nas artes como na educação corresponde a dois

especialistas trabalhando junto num mesmo projeto de pesquisa. O que diferencia nas artes é a proximidades

das linguagens artísticas, que já tem por sua natureza conteúdos, e produções artísticas que se cruzam e se

aproximam no campo artístico.

Essas interrelações já existentes entre as artes como um objetivo de promover relações com outras

linguagens facilitam a desenvolver a interdisciplinaridade. Dentro desse contexto surgem novas associações

de novos especialistas podendo integrar no mesmo projeto.

O que se salienta aqui, através de estudos desenvolvidos sobre a esse respeito, que a

interdisciplinaridade nas artes não pode ser uma mera aglutinação de conteúdos ou de ideias afins em

trabalhar objetivando algum resultado quantitativo.

Promover a interdisciplinaridade nas artes é um desafio para todos os professores de arte, pois essa

prática pedagógica parte de todos em função de um mesmo objetivo ou numa produção artística. Por

exemplo: todos juntos reunidos estudando um determinado assunto. Caso fosse escolhido o estudo de uma

determinada civilização ou um determinado período histórico, por exemplo, todas as disciplinas voltar-se-

iam para este estudo. A dança, por exemplo, poderia estudar as manifestações de dança e rituais do

terminado período. O teatro, a literatura japonesa, suas representações, o figurino, as práticas cênicas, a

música, as composições, as melodias, as letras, as músicas dos rituais religiosos, as artes visuais, as

representações o alfabeto do período, os códigos e seus significados, suas pinturas e tantas outras formas de

manifestações da cultura.

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O universo artístico se torna na sala de aula, uma fonte indispensável para prática da

interdisciplinaridade, é importante que os professores de arte voltem-se à valorização das interconexões de

códigos culturais, as decodificações, arte urbana e popular e territórios artísticos que caracterizam a arte

contemporânea. A arte contemporânea tona-se uma possibilidade dentre as linguagens e entre as áreas das

artes para prática interdisciplinar. Um exemplo são as Bienais do Mercosul, que todos os anos apresentam

uma grande quantidade de obras de arte que permeiam entre as diferentes áreas da arte como: música, artes

visuais, teatro e dança. Além desses campos artísticos invade também o português, biologia, matemática,

geografia e as demais áreas do conhecimento. Segundo Barbosa (2008):

Agora a arte contemporânea trata de interdisciplinarizar, isto é, pessoas com suas competências específicas interagem com outras pessoas de diferentes competências e criam,

transcendendo cada uma seus próprios limites ou simplesmente estabelecendo diálogos. São

exemplos o happening, a performance a bodyart, arte ambiental, a vídeo art, a arte

computacional, as instalações, a arte na web, etc. (BARBOSA, 2008, p.24).

Parte, portanto, de possibilidades de serem integradas, as áreas das artes numa perspectiva de

originarem conhecimentos, significativos despertando nos discentes o interesse pela pesquisa e descobertas e

um mundo inundado de riquezas. É um universo imenso a ser explorado no quais professores e alunos

podem descobrir.

Assim, a interdisciplinaridade nas artes parte de alguns pressupostos, à semelhança da

interdisciplinaridade na educação. Posturas como compromisso, humildade, comprometimento, cooperação,

desapego, compreensão, respeito, diálogo e atitude são fundamentais para que a interdisciplinaridade ocorra

nas artes. Conforme propõe Musacchio (2012), que “a interatividade é o instrumento mais importante

utilizado para permitir a interdisciplinaridade” (p. 47).

Planejamento e Desenvolvimento de Atividades Interdisciplinares em Artes

A interdisciplinaridade parte de um projeto de pesquisa ou de ação em conjunto de todos os

especialistas. Caso origine-se de um projeto, automaticamente consiste de um planejamento coeso e

consistente para poder se fortalecer.

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Nesse sentido, Japiassu (1976) auxilia no entendimento de que a “interdisciplinaridade caracteriza-se

pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de interação real das disciplinas no interior de

um mesmo projeto de pesquisa” (p.74).

Partindo dessa perspectiva, o planejamento interdisciplinar em arte baseia-se em eleger uma

temática, na qual todos os professores trabalharão juntamente. O planejamento acontece quando cada um

contribui na sua área de conhecimento com saberes no quais todos aprenderão juntamente. Os professores

não somente contribuirão com sua área como fazer parte integralmente da outra área, tornando-se

participativo e imergente na relação entre ensinar e aprender.

As atividades em arte, portanto, podem ser planejadas através de um projeto. Dentro desse contexto

para se planejar atividades em arte, os professores de arte poderão partir das necessidades de conhecimentos

dos alunos, do contexto que os alunos estão inseridos, trazendo para a prática pedagógica assuntos que sejam

relevantes para a sua aprendizagem, ou temáticas que permeiam as artes. Os Parâmetros Curriculares

Nacionais também podem ser norteadores para elaboração de um projeto interdisciplinar.

Para exemplificar um planejamento interdisciplinar, no qual não contemple apenas as dança e artes

visuais, mas sim as quatro subáreas das artes (dança, artes visuais, música e teatro), foi desenvolvido uma

atividade interdisciplinar dentro do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência

(PIBID/CAPES/UERGS). A atividade é oriunda do projeto de extensão “A Arte de Ler”, aprovado no Edital

Interno de Financiamento de Projetos de Extensão 03/2012/Uergs.

A atividade partiu do conceito de cartografia, no qual foi trabalhada a elaboração de um mapa cujos

territórios seriam delimitados por trechos de textos de escritores brasileiros, títulos de livros ou nomes de

autores conhecidos pelos participantes. Em seguida, trabalhou-se a possibilidade da sonoridade (volume,

intensidade, agudos, graves, variações) e a movimentação corporal a partir dos picos e elevações resultantes

da escrita. Dando continuidade ao enfoque da palavra como constituinte, propôs-se a pesquisa das

possibilidades de cartografia corporal com vistas à criação de cenas, imagens e expressões corporais, a partir

da leitura e seleção de palavras de um poema.

Este engajamento de todos os envolvidos na atividade partiu de uma atitude, de um compromisso e

da cooperação resultando um trabalho interdisciplinar, baseado nas possibilidades de integração das áreas,

verificando respectivos pontos de convergência entre elas. Para tanto, foi imprescindível uma atitude

interdisciplinar. Lück (2010) aponta que:

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Emerge, nesse processo, o desenvolvimento de atitude e consciência de que trabalhando dentro de um sistema de interdisciplinaridade o professor produz conhecimento útil,

portanto, interligando teoria e prática, estabelecendo relações entre conhecimento de ensino

e a realidade social escolar. (LÜCK, 2010, p. 25).

Assim, o fazer interdisciplinar não resultou por acaso, mas da necessidade dos olhares dos

professores em conjunto que olham de diferentes ângulos um mesmo objeto ou assunto.

Percebe-se que a possibilidade de um planejamento integrado com as artes de forma coesa

desencadeia uma profusão de ideias, como nas distintas áreas do conhecimento ou disciplinas num processo

de aprendizagem cognitiva que se relaciona com diferentes saberes, promovendo uma espécie de uma teia.

Tecida com saberes significativos, numa rede de relações com saberes já existente e com novos saberes que

será desenvolvido.

Nesse sentindo, a arte tem um papel importante no planejamento e integração com as demais

disciplinas, como uma ferramenta a ser usada. De acordo com Parsons (p. 297) “disciplinas são

compreendidas como ferramentas, forma de organizar o conhecimento que podem ser usadas para pensar

problemas”. Pensar problemas pressupõe temáticas e abordagens pertinentes à realidade social e cultural dos

alunos, como por exemplo, problemas e assuntos da comunidade local, que podem ser explorado a partir de

várias disciplinas, tornando-se significativa a vida dos alunos/as. Nesse contexto, um trabalho de

planejamento e integração com outras disciplinas áreas do conhecimento.

Contribuições da Interdisciplinaridade para os Processos Pedagógicos em Artes

Conforme propõem os autores citados no decorrer do texto, a interdisciplinaridade propõe-se como

uma metodologia revolucionária em momentos tão mediáticos e transitórios que o contexto escolar tem

passado. A interdisciplinaridade apresenta contribuições com muita relevância proporcionando um ensino

mais globalizado promovendo um conhecimento totalitário.

As respectivas contribuições da interdisciplinaridade são evidenciadas pelos professores nas suas

práticas em sala de aula. Nessa perspectiva ao entrevistar os professores das escolas A e B sobre o que estes

contemplam nas práticas interdisciplinares em seu trabalho pedagógico, quais são as práticas

interdisciplinares que realiza na sua aula, os professore apresentaram as seguintes respostas:

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Inglês - São apresentados textos e diálogos em inglês para os alunos que interagem com outras disciplinas, são passadas vídeos, clipes e em algumas ocasiões os alunos fazem

pesquisa nos laboratórios de informática.

Matemática – Quando abordo funções, trago problemas que estão relacionados com a Física. Com os problemas ou situações problemas, os alunos precisam interpretar para resolver,

logo precisam dos conhecimentos desenvolvidos nas aulas de Português. Ao trabalhar com

escalas, utilizo mapas e assim acabo falando sobre geografia. (CADERNO DE ENTREVISTAS, 2013).

Ao analisar as falas dos entrevistados, pensa-se que eles acreditam na importância da

interdisciplinaridade quando desenvolvem em suas práticas dentro de sala de aula, nesse sentido pensa-se

que eles também acreditam nas contribuições que a interdisciplinaridade pode-se trazer para o aluno e

professor. Percebe-se também que os professores tentam tornar o ensino mais flexível tentando promover

suas aulas mais abertas para outros conhecimentos. Fazendo-se uma analisei já é um avanço tornar o ensino

mais aberto e dialogal com outros saberes, mas ainda não é suficiente, tem-se muito a percorrer para tornar-

se uma educação que se espera em plena complexidade de informação que se vive hoje.

Dentro dessa pesquisa analisou-se como a interdisciplinaridade possibilita, nas artes, contribuições

importantes para os processos pedagógicos das escolas. Através das respostas obtidas pelos professores foi

possível perceber que a interdisciplinaridade contribui em artes um currículo integrado pressupõe uma

dissolução de fragmentos e quebraras de rupturas entre as disciplinas e o conhecimento, mas não dilui a

disciplina, requer a integração entre duas ou mais disciplinas. Havendo uma interlocução entre as

disciplinas em busca de um objetivo em comum, buscando uma aprendizagem no qual, muitas vezes as

disciplinas sozinhas não são capazes de construir saberes significativos na vida do aluno/a. Essa integração

possibilita as alunos/as a produzirem saberes que são muitas vezes menosprezados por disciplinas e que os

alunos/as têm uma grande necessidade de vivências. “O currículo integrado consiste essencialmente em

ensinar para obter significado e compreensão” (PARSONS, 2005, p. 296).

As artes integradas com as demais disciplinas escolares contribuem, também, com os processos

pedagógicos das escolas como, pois engloba atividades com alunos, mas também trabalho coletivo e

coletivo fora de classe; reorganiza o saber fragmentado para o saber holístico; desperta em entre docentes e

discentes um interesse pessoal pela sua própria disciplina e pela outra; integra ensino e realidade;

integra ciências diferentes num mesmo campo de estudo; promove a formação do aluno para enfrentar os

problemas globais; dilui com o conhecimento maçante e tradicional; renova o conhecimento dos

especialistas, através da pesquisa e se dá trocas entre as ciências envolvidas; promove um nível igualitário

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entre professor e aluno, no qual todos são autores; desperta nos discentes a curiosidade e o interesse pela

pesquisa; possibilita a superação do saber disciplinar.

São algumas contribuições listadas ao longo das observações nas escolas e leituras a esse respeito

que a interdisciplinaridade promove quando diferentes especialistas trabalham em conjunto. Nesse sentido

trabalhar interdisciplinarmente é difícil e complexo. “Entende-se, portanto, que o espírito da

interdisciplinaridade é mais importante que a letra que a representa. Seu caráter não é normativo e sim

explicativo e inspirador” (LÜCK, 2010, p. 24).

Considerações Finais

A partir dos dados coletados e analisados conclui-se que ambas escolas (Escola A e Escola B)

parecem não apresentar propostas interdisciplinares em seus tempos e espaços. Tampouco foi possível

observar esta indicação nos documentos oficiais da escola.

De acordo com Fazenda (2003, 2008), Lück (2010) e Japiassu (1976), é importante que nos

processos pedagógicos ocorra partilhas entre as áreas ou disciplinas. Muitas vezes o que ocorre são ações

interdisciplinares entre algumas disciplinas, mas não a interdisciplinaridade propriamente dita.

De acordo com os dados coletados, a Escola A desenvolve um projeto interdisciplinar envolvendo as

disciplinas de Biologia, Matemática, História e Artes Visuais. Esse projeto acontece no contraturno somente

com o Ensino Médio, pois eles fazem parte do Ensino Politécnico. O projeto consiste em desenvolver

interdisciplinarmente o tema “Cidade de Montenegro”. Este projeto ocorre com a participação de todas as

disciplinas, trabalhando e elaborando proposta na sua área de conhecimento. No caso da disciplina de Artes

Visuais é trabalhada a reciclagem, os artistas e obras referenciando o tema. Resulta, ao final, uma produção

artística. Não há menções quanto à dança nesta escola pelo fato de que esta subárea não é ofertada

(CADERNO DE OBSERVAÇÕES, 2013).

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