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Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
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Investigando Processos Interdisciplinares no Ensino das Artes: um estudo multicasos
em escolas públicas de Montenegro, RS
Lucas Pacheco Brum (PIBID/CAPES/UERGS)
Cristina Rolim Wolffenbüttel (PIBID/CAPES/UERGS)
Eixo temático: Conhecimento Interdisciplinar
Resumo: Este trabalho apresenta a pesquisa sobre a interdisciplinaridade nas artes, focando as Artes Visuais e a
Dança, resultante das inserções em escolas, incluídas em atividades do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência. Partiu dos seguintes questionamentos: O que é interdisciplinaridade na educação? Quais teóricos têm
tratado deste tema? O que é interdisciplinaridade em artes? Quais as possíveis contribuições da interdisciplinaridade
para os processos pedagógicos em artes? Como planejar e desenvolver atividades interdisciplinares em artes? Neste
sentido, esta investigação objetivou investigar, a partir do cotidiano de escolas de Ensino Fundamental da cidade de Montenegro, RS, práticas e concepções pedagógicas que envolvam atividades interdisciplinares em Artes Visuais e
Dança. Para sua realização utilizou a abordagem qualitativa (LÜDKE, ANDRÉ, 1986), sendo o método o estudo
multicasos (STAKE, 1994). Para a coleta dos dados foram utilizadas entrevistas semiestruturadas (COHEN, MANION, 1994), bem como observações e coleta de documentos, notadamente do projeto político pedagógico. Todos
estes procedimentos auxiliaram na análise dos processos interdisciplinares existentes no cotidiano escolar. Dentre
alguns dos resultados pode ser destacado o fato de as escolas tentarem desenvolver projetos de cunho interdisciplinar, todavia, tendo em vista os problemas existentes no cotidiano escolar, ainda são incipientes os resultados oriundos
desta prática. Entende-se que esta investigação possa contribuir com os estudos sobre a interdisciplinaridade nas
escolas, apontando perspectivas para um avanço na educação.
Palavras-Chave: Interdisciplinaridade, Educação, Artes Visuais, Dança.
Introdução
Este trabalho apresenta a pesquisa sobre a interdisciplinaridade nas artes, focando as Artes Visuais e
a Dança. Encontra-se inserida nas atividades do Grupo de Pesquisa “Arte: criação, interdisciplinaridade e
educação”, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (CNPq/UERGS), na Unidade de Montenegro.
Partiu de um diálogo entre estas subáreas, o que tem sido possível graças à existência do subprojeto “Artista
e Arteiro”, inserido no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID/CAPES/UERGS).
No PIBID/CAPES/UERGS, estudantes dos cursos de Graduação: Licenciatura em Artes Visuais,
Dança, Música e Teatro, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), Unidade de
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Montenegro, buscam aprofundar teorias e metodologias relacionadas às epistemologias de áreas específicas,
bem como conhecer e construir metodologias apropriadas ao fazer artístico em sala de aula, sempre
buscando um trabalho interdisciplinar.
Ao longo das inserções na escola, bem como das observações e discussões sobre o ensino de arte,
foram identificados alguns conceitos, conteúdos e metodologias que permeiam o ensino de Dança e Artes
Visuais. Dentre estes conceitos destacaram-se: tridimensionalidade, bidimensionalidade, geometria,
organização espacial, performance, o corpo, o corpo como instrumento, o corpo na historia da arte, o corpo
como arte, leitura de imagem, a história da arte (vanguardas), planos, níveis (alto, médio, baixo,
profundidade). Todos esses conteúdos são desenvolvidos e fazem parte do currículo e do ensino de arte.
Nessa perspectiva, inicialmente surgiram alguns questionamentos que corroboraram a elaboração
dessa pesquisa, quais sejam: O que é interdisciplinaridade na educação? Quais pesquisadores têm tratado
deste tema? Como se constitui a interdisciplinaridade nas artes, considerando-se as Artes Visuais e a Dança?
Quais as possíveis contribuições da interdisciplinaridade para os processos pedagógicos em artes-Artes
Visuais e a Dança? Como planejar e desenvolver atividades interdisciplinares em artes-Artes Visuais e a
Dança?
Partindo destas questões, a presente investigação objetivou investigar, a partir do cotidiano de
escolas de Ensino Fundamental da cidade de Montenegro, RS, práticas e concepções pedagógicas que
envolvam atividades interdisciplinares em Artes Visuais e Dança. Como objetivos específicos pretendeu-se
pesquisar sobre a interdisciplinaridade na educação; conhecer o trabalho dos pesquisadores que têm tratado
deste tema; entender como se constitui a interdisciplinaridade nas artes, considerando-se as Artes Visuais e a
Dança; especular sobre as possíveis contribuições da interdisciplinaridade para os processos pedagógicos em
Artes Visuais e a Dança; e propor planejamentos interdisciplinares em Artes Visuais e Dança.
Pressupostos Metodológicos
Para a realização desta pesquisa optou-se pela abordagem qualitativa e pelo método estudo
multicasos.
A pesquisa qualitativa tem como antecedentes históricos as ciências naturais e a filosofia. No campo
das ciências sociais o termo pesquisa qualitativa assumiu diferentes significados ao longo dos anos, como o
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de compreender um conjunto de diversas técnicas interpretativas que objetiva descrever e decodificar os
componentes de um sistema complexo de significados (MAANEN, 1979, p.520).
O principal fundamento da pesquisa qualitativa é a imersão do pesquisador no contexto e a
perspectiva interpretativa de condução da pesquisa (KAPLAN, DUCHON, 1988, p. 580).
A pesquisa qualitativa não apresenta uma preocupação com a representatividade numérica, mas com
um aprofundamento da compreensão de um grupo social, ou de uma organização. Os pesquisadores que
adotam a abordagem qualitativa procuram não fazer julgamentos, do mesmo modo, não permitem que
conceitos anteriores e crenças influenciem a pesquisa (GOLDENBERG, 1999). Os métodos qualitativos
buscam, desse modo, explicar as razões dos fenômenos sem, contudo, qualificar os valores e as trocas
simbólicas, tampouco se submetendo à prova de fatos, pois os dados analisados não são numéricos e se
utilizam de diferentes abordagens.
O método utilizado, como dito, foi o estudo multicasos, visto serem duas escolas focadas na
investigação. Desse modo, dois estudos de caso, ou estudo multicasos. A razão para a escolha desse método
está relacionada aos objetivos aos qual esta pesquisa se propõe, na medida em que pretendia investigar,
aprofundar, identificar e diagnosticar a partir do cotidiano de escolas de Ensino Fundamental da cidade de
Montenegro, práticas e concepções pedagógicas que envolvam atividades interdisciplinares em Artes
Visuais e Dança.
O estudo de caso, segundo Stake (1994) não se constitui uma escolha metodológica, mas a escolha de
um objeto a ser estudado (STAKE, 1994, p.236). De acordo do o autor, a complexidade do caso pode variar
do simples ao complexo, concentrar-se em um grupo de pessoas ou mesmo em apenas um indivíduo, uma
organização, comunidade, enfim, não se limitando a uma unidade de estudo. É importante levar em
consideração que o estudo de caso tem um componente limitador quanto ao tempo e ao espaço, podendo
restringir-se a um episódio, evento, ou mesmo um dia, para citar algumas das possibilidades. O objetivo de
um estudo multicasos é a compreensão de suas especificidades e semelhanças, com vistas a uma melhor
aferição sobre os resultados (STAKE, 1994; YIN, 2005).
Para a realização da coleta dos dados optou-se pelas entrevistas, observações e coletas de
documentos. A entrevista se caracteriza por ser um questionamento imediato, face a face, com o objetivo de
captar as “múltiplas realidades ou percepções” de uma determinada situação a partir do discurso dos atores
sociais (LÜDKE, ANDRÉ, 1986; YIN, 2005).
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Na vida cotidiana, as entrevistas têm diversas características e usos, sendo que na pesquisa
qualitativa seu emprego envolve: interação amigável entre entrevistador e entrevistado; captação imediata
das informações desejadas; aprofundamento de questões levantadas por outros procedimentos de pesquisa;
contato com participantes que não podem ser assistidos por outros meios de investigação e facilidade de
realizar correções, esclarecimentos e modificações na busca pelas informações desejadas (LÜDKE,
ANDRÉ, 1986).
Para esta pesquisa foram realizadas entrevistas semiestruturadas com professores e coordenadores
envolvidos com contexto escolar. A entrevista semiestruturada foi realizada com base em um roteiro prévio,
básico e flexível, sendo adaptado de acordo com o desenvolvimento dos questionamentos (BOGDAN,
BIKLEN, 1994).
As observações, outro tipo de técnica utilizada para a coleta dos dados, foram realizadas em todo
contexto escolar, procurando analisar as práticas existentes no cotidiano escolar, bem como identificar
possíveis práticas interdisciplinares.
Por fim, foi utilizada a coleta de documentos, sendo que foram buscados materiais como o projeto
político pedagógico das escolas e demais documentos oficiais com vistas a identificar os modos e os locais
que as práticas interdisciplinares se apresentam nos planejamentos escolares, caso as mesmas estejam
previstas.
Partindo do levantamento dos dados empíricos da pesquisa foi analisada a interdisciplinaridade no
campo da educação e práticas interdisciplinares entre Artes Visuais e Dança. O lócus dessa investigação
foram duas escolas públicas estaduais da cidade de Montenegro/RS, nas quais são desenvolvidas as
atividades do PIBID/CAPES/UERGS. Para fins éticos serão utilizadas identificações alternativas para as
escolas, ou seja, mencionar-se-ão nos resultados e análise dos dados as denominações Escola A e Escola B.
Resultados da Pesquisa e Análise dos Dados
Após realizar a coleta dos dados nas duas escolas participantes do PIBID/CAPES/UERGS, o que
ocorreu através de entrevistas, observações e coletas de documentos, procedeu-se à análise dos dados. Esta
análise teve por base o referencial teórico escolhido para este trabalho. Todo este procedimento é justificado
para alcançar o objetivo desta pesquisa, qual seja, investigar, a partir do cotidiano de escolas de Ensino
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Fundamental da cidade de Montenegro, RS, práticas e concepções pedagógicas que envolvam atividades
interdisciplinares em Artes Visuais e Dança.
As Observações
As observações realizadas nas escolas A e B foram muito importantes para constituir o todo da
pesquisa, bem como corroboraram a análise e síntese dos dados.
Alguns autores que trabalham na perspectiva interdisciplinar, como Fazenda (2003 e 2008), Lück
(2010) e Japiassu (1976), salientam a importância da troca, da interrelação entre os especialistas. Sendo
assim, nas escolas investigadas são realizadas algumas ações interdisciplinares com as diferentes disciplinas
do currículo.
A Escola A desenvolve um projeto interdisciplinar nas Áreas do Conhecimento, utilizando as
disciplinas de Biologia, Matemática, História e Artes Visuais. Esse projeto acontece no contraturno, somente
com o Ensino Médio, pois faz parte do Ensino Politécnico. O projeto consiste em desenvolver
interdisciplinarmente a temática sobre a “Cidade de Montenegro”, sendo que cada disciplina tem sua
participação no projeto, trabalhado e elaborando a proposta na sua área de conhecimento. No caso da
disciplina das Artes Visuais estuda-se a reciclagem, os artistas e as obras que trabalham com o tema e que
tem uma produção poética. A Dança na Escola A não se apresenta no currículo.
Analisando a proposta da Escola A em relação à perspectiva interdisciplinar não se pode dizer que a
mesma ocorra. Mas, o que é realizado pode ser denominado de integração das disciplinas tendo em vista o
projeto. A este respeito, Fazenda (1993) explica que a interdisciplinaridade se caracteriza
pela intensidade das trocas entre os especialistas e pela integração das disciplinas num
mesmo projeto de pesquisa (...) Em termos de interdisciplinaridade ter-se-ia uma relação de reciprocidade, de mutualidade, ou, melhor dizendo, um regime de co-propriedade, de
interação, que irá possibilitar o diálogo entre os interessados. A interdisciplinaridade
depende, então, basicamente, de uma mudança de atitude perante o problema do conhecimento, da substituição de uma concepção fragmentária pela unitária do ser humano.
(FAZENDA, 1993, p.31).
A partir de Fazenda (1993) entende-se que o projeto “Cidade de Montenegro”, desenvolvido pela
Escola A e as aulas de artes não sejam realizados na perspectiva interdisciplinar, mas de forma
transdisciplinar que se dá no processo cognitivo do aluno. Para Japiassu (1976), a transdisciplinaridade “não
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se restringe a interações ou reciprocidade das disciplinas, mas que vai além e derruba as fronteiras das
disciplinas e interdisciplinares, formatando um sistema de múltiplos níveis” (p. 74). A partir do autor
(JAPIASSU, 1976) apresenta-se o relato de uma observação realizada na Escola A:
Quando é proposto um trabalho para os alunos, alguns conseguem fazer relações com outras áreas do conhecimento. Mas, essas relações não parecem ser potencializadas adequadamente
para que ocorram essas relações. Nesse dia, na aula de Artes Visuais, o professor explicava
sobre a vanguarda Expressionista. Em determinado momento um aluno perguntou por que a obra “O Grito”, do artista Munch, estava assustado, parecendo estar com frio, parecia até
uma cena de teatro. Outro aluno acrescentou que o personagem na obra estava com fome.
(CADERNO DE OBSERVAÇÕES, 2012).
Como descrito acima pode-se identificar um processo de transdisciplinaridade, que ultrapassa
fronteiras estabelecidas, que situa em um sistema de relações, ligações com diferentes conhecimentos ou
áreas do conhecimento. Para Japiassu (1976) “a etapa das relações interdisciplinares, podemos esperar que
se suceda uma etapa superior, que não se contentaria em atingir interações ou reciprocidade entre pesquisas
especializadas, que se situaria essas ligações no interior de um sistema total, sem fronteiras estabelecidas
entre as disciplinas” (p. 75).
Sendo assim, acredita-se que o interesse dos alunos em ampliar seus conhecimentos se faz presente
na sua aprendizagem. Os alunos têm interesse em novas relações e investigações do conhecimento. Pensa-se
o que falta, na maioria das vezes, é uma iniciativa, por parte dos professores, de incentivar, estimular e
proporcionar os alunos novas leituras de mundo com diferentes conhecimentos, não sendo apenas de suas
especificidades ou de ciências afins.
Essas necessidades de estabelecer relações com o que está sendo proposto com outros conhecimentos
partem da curiosidade e da investigação dos alunos em querer buscar a totalidade de conhecimento, em uma
perspectiva interdisciplinar, como é proposto por alguns teóricos.
No decorrer das observações também foi possível identificar dificuldades por parte dos alunos com
relação à aprendizagem. Essas dificuldades se dão pelo curto tempo de duração das aulas e pela falta de
reflexão sobre o que está sendo estudando. Assim, em alguns casos, estes não conseguiam estabelecer
relações com as diferentes áreas do conhecimento ou com as diferentes possibilidades de relações entre
cultura, sociedade, ambiente e com o conhecimento de mundo.
Portanto, pode-se dizer que nas aulas de Artes Visuais, em ambas escolas (A e B), são realizadas
algumas ações interdisciplinares que partem de uma perspectiva multidisciplinar. Segundo Japiassu (1976) é
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um “estudo de um objeto sob diversos ângulos, mas sem pressupor um acordo ou um rompimento de
fronteiras entre as disciplinas” (p. 73). Essas ações são desenvolvidas quando é proposto um tema e cada
disciplina trabalhando na sua especificidade dentro do mesmo objeto, não havendo um engajamento, um
compromisso com a disciplina justaposta.
Além das aulas de Artes Visuais também foram observadas aulas de Português, Física e Geografia,
mas mantendo sempre o foco nas disciplinas de Artes Visuais e Dança. Como não há Dança no currículo,
conforme já esclarecido, esta disciplina na foi observada. Todavia, foram obsevadas manifestações de dança,
desenvolvidas pelos alunos, de forma espontânea, nos corredores e nos intervalos da escola. Verificou-se
grande interesse dos alunos quanto à dança, sendo fortemente vivenciadas em ambas as escolas (Escola A e
Escola B).
Os alunos, na sua maioria, possuem telefones celulares, ipods, e fones de ouvidos, nos quais todos
escutam músicas. Inclusive, nas próprias as aulas de Artes Visuais presenciou-se que os alunos podem
escutar música quando estão fazendo a parte prática das atividades. Identificamos as possibilidades e
oportunidades para que a interdisciplinaridade aconteça entre as áreas de Dança e Artes Visuais quando
estão fazendo a prática. Esta possibilidade poderia ocorrer em relação ao conhecimento de um movimento
de dança de rua, explorando imagens e cenas urbanas e demais possibilidades de interlocuções.
Na Escola B observou-se que as preferências dos estudantes em relação aos estilos de dança incluem
hip-hop, funk, street e danças veiculadas através da mídia. Foi possível verificar estas preferências durante
um evento que a escola realiza, denominado de “Show de Talentos”, que objetiva estimular os alunos a
criarem apresentações artísticas através de diferentes linguagens, como dança, teatro, música, poesia e artes
visuais. Estas apresentações oportunizam a apreciação artística para alunos, pais, professores e comunidade
em geral.
Além de os alunos apresentarem um grande interesse pela dança, observou-se, também, um interesse
pelas mídias e pelas novas tecnologias que fazem parte do seu contexto e que estão diretamente ligadas às
salas de aulas. Sendo assim, pensa-se que a informática, as mídias e as tecnologias poderiam ser
instrumentos para desenvolver a interdisciplinaridade, partindo dos interesses dos alunos. A este respeito,
Mucsacchio (2012) aponta:
Os alunos da atualidade são naturalmente polivalentes, ao mesmo assumem várias tarefas ao
mesmo tempo, são dialéticos naturais, espontâneos, ao mesmo tempo que lêem um livro, ouvem música, falam no celular, conversam nas comunidades virtuais, fazem pesquisa pra
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escola, a TV ligada, isso dá a eles a eles a sensação de que estão sozinhos. “Deve ser por isso que os alunos acham a escola um lugar chato porque as tarefas são realizadas uma de
cada vez e, assim ficam contando os segundos para terminar o tempo da aula”.
(MUCSACCHIO, 2012, p.33).
Partindo da perspectiva de Musacchio (2012), conclui-se que os alunos das escolas A e B apresentam
o gosto pelas mídias e tecnologias, o que pode ser um instrumento indispensável para a construção do
conhecimento, promovendo a interdisciplinaridade.
Interdisciplinaridade na Educação
Existem diversos estudos sobre interdisciplinaridade. Houve um crescimento nas pesquisas e na
produção textual neste assunto, principalmente a partir de meados do século XX, notadamente nas ciências
humanas e educação.
As pesquisas têm revelado relevantes resultados para pensar em fundamentos epistemológicos sobre
a terminologia do próprio termo; muitos autores apontam que falta um amadurecimento epistemológico
sobre a questão, bem como construir uma metodologia interdisciplinar, pensando-se nas possibilidades e nos
desafios que se apresentam aos educadores que pretendem trabalhar de forma interdisciplinar.
Há um aumento progressivo em simpósios, congressos, encontros e salões de pesquisas de iniciação
cientifica abordando a interdisciplinaridade. Alguns pesquisadores avessos à interdisciplinaridade
argumentam que esses eventos em que são divulgadas pesquisas, trabalhos e discussões sobre o tema
apresentam-se, de certo modo, como um modismo. Escutam-se, constantemente, discussões acerca da
terminologia interdisciplinar como um modismo. Porém, de acordo com Lück (2010), “a moda ocorre
quando uma concepção pedagógica é verbalmente redigida, sem que, no entanto, impregne a ação das
pessoas; fica no plano do discurso e, por isso, não é utilizado para transformar a realidade” (p. 23-24).
Do ponto de vista da autora (LÜCK, 2010) a interdisciplinaridade não é um modismo, pois
corresponde a uma necessidade que o homem e a sociedade têm de suprir, comparar, integrar seus
conhecimentos. No campo da educação vale compreender que a interdisciplinaridade corresponde a uma
necessidade de superar uma visão fragmentada da produção do conhecimento.
A humanidade não constrói conhecimentos separadamente, mas sim de diversas maneiras e
diferentes pontos de vistas. Dessa forma pensa-se que na educação existam barreiras epistemológicas que
dificultam a associação de duas ou mais disciplinas, discutindo e construindo conhecimentos em prol de um
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mesmo objeto. Conforme Lück (2010), a “interdisciplinaridade representa a possibilidade de promover a
superação das dissociações das experiências escolares entre si, também delas com a realidade social” (p.43-
44).
Conforme explica Japiassu (1976), a interdisciplinaridade exige uma reflexão profunda e inovadora
sobre o conhecimento que demonstra a insatisfação com o saber fragmentado. Neste sentido, a
interdisciplinaridade propõe um avanço em relação ao ensino tradicional, com base na reflexão crítica sobre
a própria estrutura do conhecimento, na intenção de superar o isolamento entre as disciplinas.
Para Fazenda (1993), a interdisciplinaridade é caracterizada,
pela intensidade das trocas entre os especialistas e pela integração das disciplinas num mesmo projeto de pesquisa (...) Em termos de interdisciplinaridade ter-se-ia uma relação de
reciprocidade, de mutualidade, ou, melhor dizendo, um regime de co-propriedade, de
interação, que irá possibilitar o diálogo entre os interessados. A interdisciplinaridade
depende então, basicamente, de uma mudança de atitude perante o problema do conhecimento, da substituição de uma concepção fragmentária pela unitária do ser humano.
(FAZENDA, 1993, p.31).
Entende-se, a partir de Fazenda (2008), que a interdisciplinaridade na educação precisa se alicerçar
no envolvimento, comprometimento e engajamento dos educadores. Parte do diálogo da reciprocidade,
compromisso com as demais disciplinas, tendo respeito e humildade para escutar, aprender e saber
contribuir com seus saberes. Parece que “hoje mais do que nunca reafirmamos a importância do diálogo,
única condição possível de eliminação das barreiras entre as disciplinas. Disciplinas dialogam quando as
pessoas se dispõem a isto” (FAZENDA, 2003, p. 50).
Assim, o processo educativo precisa se fundamentar no diálogo, tanto entre pessoas, quanto entre as
disciplinas possibilitando uma cooperação entre todos porque, entre os interdisciplinares todas são autores
entre docentes e discentes.
Todos aprendem juntos; a interdisciplinaridade quebra com o paradigma da disputa de saber. Todos
engajados em um projeto interdisciplinar ou em uma ação, todos estão no mesmo nível e um aprende com os
outro. Conforme explica Fazenda (2008) o desenvolvimento básico da interdisciplinaridade é a
comunicação, e a comunicação envolve sobre tudo participação. Fazenda (2008) aponta, também, que:
Além do desenvolvimento de novos saberes, a interdisciplinaridade na educação favorece
novas formas de aproximação da realidade da realidade social e novas leituras das dimensões sócio culturais das comunidades humanas. [...] O processo interdisciplinar
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desempenha papel decisivo para dar corpo ao sonho ao fundar uma obra de educação à luz as sabedoria, da coragem e da humanidade. [...] A lógica que a interdisciplinaridade imprime é
a da invenção, da descoberta, da pesquisa, da produção cientifica, porém gestada num ato de
vontade, num desejo planejado e construído em liberdade. (FAZENDA, 2008, p.166).
Um dos papeis fundamentais da interdisciplinaridade é despertar a curiosidade e a criatividade. Freire
(1999) explica que, para nós, discentes, a pesquisa tem o potencial de instigar nos integrantes a curiosidade e
a própria autonomia do seu próprio conhecimento. Corroborando, Musacchio (2012) amplia a compreensão
explicando que o sujeito “se percebe um mundo de possibilidades e alternativas, provocando uma revolução
na sala de aula, tornando o ensino e aprendizagem mais dinâmico, criativa, reflexiva, colaborativa e
interativa” (p. 195).
Tornar o ensino interdisciplinar não é tarefa fácil, requer grandes mudanças, como na metodologia
empregada do docente, no desenvolvimento das aulas, na apresentação dos trabalhos, no repensar dos
processos utilizados para as avaliações, além dos processos de ensino e aprendizagem.
Trabalhar de forma interdisciplinar é reconstruir todos os paradigmas existentes. É procurar diluir as
barreiras entre as disciplinas, é uma tentativa de romper com ensino através da transmissão de
conhecimentos. É, em síntese, deixar de lado o discurso baseado no ensino com vistas aos resultados
acadêmicos para assumir o discurso do ensino para o desenvolvimento humano (ARMSTRONG, 2008). Ou,
ainda, “promover a interdisciplinaridade é fazer a interdisciplinaridade e não discutir a interdisciplinaridade”
(MUSACCHIO, 2012, p.43).
Nesse contexto os docentes têm optado por uma metodologia interdisciplinar, pois acreditam no
potencial dos especialistas em trabalhar em conjunto em uma educação contemporânea no qual todos são
ativos. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394, de 20 de dezembro de 1996 e os
Parâmetros Curriculares Nacionais sinalizam para uma maior flexibilização dos conteúdos a serem
desenvolvidos possibilitando mudanças no currículo das escolas no sentido de reduzir a fragmentação
característica de um currículo totalmente disciplinar.
Os temas transversais propostos, como Meio Ambiente, Ética, Saúde e Orientação Sexual, por
exemplo, também podem facilitar esta articulação entre as disciplinas, sendo trabalhados de forma
interdisciplinar.
A utilização da interdisciplinaridade pode promover um trabalho de integração e interatividade com
as outras ciências, rompendo com perspectivas individualistas no trabalho pedagógico. Segundo Lück
(2010) a interdisciplinaridade no contexto da educação:
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é o processo que envolve a integração e o engajamento de educadores, num trabalho conjunto, de interação das disciplinas do currículo entre si e com a realidade, de modo a
superar a fragmentação de ensino, objetivando a formação integral dos alunos, a fim de que
possam exercer criticamente a cidadania, mediante uma visão global de mundo, e serem
capazes de enfrentar os problemas amplos e globais da realidade. (LÜCK, 2010.p.47).
Trabalhos dos Pesquisadores sobre Interdisciplinaridade
A partir de uma ampla revisão da literatura sobre interdisciplinaridade foi encontrada uma grande
quantidade de trabalhos sobre o assunto, incluindo teses, dissertações, monografias, trabalhos de conclusão
em geral, bem como artigos e ensaios, entre outros trabalhos.
Observou-se que a interdisciplinaridade ocorre várias áreas, desde as exatas até as humanas. O Grupo
de Estudos e Pesquisas em Interdisciplinaridade da PUC-SP (GEPEI), coordenado pela professora Dra. Ivani
Catarina Fazenda, realizou inúmeras pesquisas e reflexões sobre a temática. O GEPEI envolve pesquisas em
diferentes campos como: psicologia, sociologia, odontologia, medicina, educação, filosofia, etc.
Nesse contexto foram encontrados nomes de diversos pesquisadores que tratam desta temática. Além
de Fazenda, já referida, tem uma grande quantidade de materiais publicados tratando da educação e
propondo possibilidades para a construção de uma metodologia interdisciplinar. Hilton Japiassu (1976)
estuda a interdisciplinaridade em um campo mais histórico, antropológico, terminológico e epistemológico.
Também pode ser referenciada Heloísa Lück (2010) que propõe uma abordagem metodológica, fundamento
para se pensar uma metodologia interdisciplinar. Vale salientar, também, Claudio Musacchio (2012) que
trata da interdisciplinaridade, das mídias e das tecnologias na educação.
Além desses teóricos devem ser mencionados aqueles que tratam desse assunto de maneira mais
indireta, como Gaudêncio Frigotto (2008) e Edgar Morin (2005). Seguindo estas menções podemos citar
Jean Piaget que contribuiu através de seus estudos sobre trandisciplinaridade, originados de seus
experimentos sobre as fases do desenvolvimento cognitivo.
Com essa revisão de literatura foi possível perceber que cada teórico se refere, de algum modo, à
interdisciplinaridade. Entende-se, portanto, a amplitude de possibilidades de abordagem.
Interdisciplinaridade nas Artes
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Conforme explica Japiassu (1976), a interdisciplinaridade exige uma reflexão profunda e inovadora
sobre o conhecimento que demonstra a insatisfação com o saber fragmentado. Neste sentido, a
interdisciplinaridade propõe um avanço em relação ao ensino tradicional, com base na reflexão crítica sobre
a própria estrutura do conhecimento, na intenção de superar o isolamento entre as disciplinas. Na visão de
Musacchio (2012):
O que realmente faz diferença na educação contemporânea é a aplicação da interdisciplinaridade e da metodologia contemplam experimentos científicos na sala de aula.
A mera associação de duas ou mais disciplinas discutindo temas comuns já é um avanço
paradigmático substancial levando-se em considerações que até bem pouco isso seria impraticável. (MUSACCHIO, 2012, p.185).
Nessa perspectiva a interdisciplinaridade nas artes como na educação corresponde a dois
especialistas trabalhando junto num mesmo projeto de pesquisa. O que diferencia nas artes é a proximidades
das linguagens artísticas, que já tem por sua natureza conteúdos, e produções artísticas que se cruzam e se
aproximam no campo artístico.
Essas interrelações já existentes entre as artes como um objetivo de promover relações com outras
linguagens facilitam a desenvolver a interdisciplinaridade. Dentro desse contexto surgem novas associações
de novos especialistas podendo integrar no mesmo projeto.
O que se salienta aqui, através de estudos desenvolvidos sobre a esse respeito, que a
interdisciplinaridade nas artes não pode ser uma mera aglutinação de conteúdos ou de ideias afins em
trabalhar objetivando algum resultado quantitativo.
Promover a interdisciplinaridade nas artes é um desafio para todos os professores de arte, pois essa
prática pedagógica parte de todos em função de um mesmo objetivo ou numa produção artística. Por
exemplo: todos juntos reunidos estudando um determinado assunto. Caso fosse escolhido o estudo de uma
determinada civilização ou um determinado período histórico, por exemplo, todas as disciplinas voltar-se-
iam para este estudo. A dança, por exemplo, poderia estudar as manifestações de dança e rituais do
terminado período. O teatro, a literatura japonesa, suas representações, o figurino, as práticas cênicas, a
música, as composições, as melodias, as letras, as músicas dos rituais religiosos, as artes visuais, as
representações o alfabeto do período, os códigos e seus significados, suas pinturas e tantas outras formas de
manifestações da cultura.
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O universo artístico se torna na sala de aula, uma fonte indispensável para prática da
interdisciplinaridade, é importante que os professores de arte voltem-se à valorização das interconexões de
códigos culturais, as decodificações, arte urbana e popular e territórios artísticos que caracterizam a arte
contemporânea. A arte contemporânea tona-se uma possibilidade dentre as linguagens e entre as áreas das
artes para prática interdisciplinar. Um exemplo são as Bienais do Mercosul, que todos os anos apresentam
uma grande quantidade de obras de arte que permeiam entre as diferentes áreas da arte como: música, artes
visuais, teatro e dança. Além desses campos artísticos invade também o português, biologia, matemática,
geografia e as demais áreas do conhecimento. Segundo Barbosa (2008):
Agora a arte contemporânea trata de interdisciplinarizar, isto é, pessoas com suas competências específicas interagem com outras pessoas de diferentes competências e criam,
transcendendo cada uma seus próprios limites ou simplesmente estabelecendo diálogos. São
exemplos o happening, a performance a bodyart, arte ambiental, a vídeo art, a arte
computacional, as instalações, a arte na web, etc. (BARBOSA, 2008, p.24).
Parte, portanto, de possibilidades de serem integradas, as áreas das artes numa perspectiva de
originarem conhecimentos, significativos despertando nos discentes o interesse pela pesquisa e descobertas e
um mundo inundado de riquezas. É um universo imenso a ser explorado no quais professores e alunos
podem descobrir.
Assim, a interdisciplinaridade nas artes parte de alguns pressupostos, à semelhança da
interdisciplinaridade na educação. Posturas como compromisso, humildade, comprometimento, cooperação,
desapego, compreensão, respeito, diálogo e atitude são fundamentais para que a interdisciplinaridade ocorra
nas artes. Conforme propõe Musacchio (2012), que “a interatividade é o instrumento mais importante
utilizado para permitir a interdisciplinaridade” (p. 47).
Planejamento e Desenvolvimento de Atividades Interdisciplinares em Artes
A interdisciplinaridade parte de um projeto de pesquisa ou de ação em conjunto de todos os
especialistas. Caso origine-se de um projeto, automaticamente consiste de um planejamento coeso e
consistente para poder se fortalecer.
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Nesse sentido, Japiassu (1976) auxilia no entendimento de que a “interdisciplinaridade caracteriza-se
pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de interação real das disciplinas no interior de
um mesmo projeto de pesquisa” (p.74).
Partindo dessa perspectiva, o planejamento interdisciplinar em arte baseia-se em eleger uma
temática, na qual todos os professores trabalharão juntamente. O planejamento acontece quando cada um
contribui na sua área de conhecimento com saberes no quais todos aprenderão juntamente. Os professores
não somente contribuirão com sua área como fazer parte integralmente da outra área, tornando-se
participativo e imergente na relação entre ensinar e aprender.
As atividades em arte, portanto, podem ser planejadas através de um projeto. Dentro desse contexto
para se planejar atividades em arte, os professores de arte poderão partir das necessidades de conhecimentos
dos alunos, do contexto que os alunos estão inseridos, trazendo para a prática pedagógica assuntos que sejam
relevantes para a sua aprendizagem, ou temáticas que permeiam as artes. Os Parâmetros Curriculares
Nacionais também podem ser norteadores para elaboração de um projeto interdisciplinar.
Para exemplificar um planejamento interdisciplinar, no qual não contemple apenas as dança e artes
visuais, mas sim as quatro subáreas das artes (dança, artes visuais, música e teatro), foi desenvolvido uma
atividade interdisciplinar dentro do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência
(PIBID/CAPES/UERGS). A atividade é oriunda do projeto de extensão “A Arte de Ler”, aprovado no Edital
Interno de Financiamento de Projetos de Extensão 03/2012/Uergs.
A atividade partiu do conceito de cartografia, no qual foi trabalhada a elaboração de um mapa cujos
territórios seriam delimitados por trechos de textos de escritores brasileiros, títulos de livros ou nomes de
autores conhecidos pelos participantes. Em seguida, trabalhou-se a possibilidade da sonoridade (volume,
intensidade, agudos, graves, variações) e a movimentação corporal a partir dos picos e elevações resultantes
da escrita. Dando continuidade ao enfoque da palavra como constituinte, propôs-se a pesquisa das
possibilidades de cartografia corporal com vistas à criação de cenas, imagens e expressões corporais, a partir
da leitura e seleção de palavras de um poema.
Este engajamento de todos os envolvidos na atividade partiu de uma atitude, de um compromisso e
da cooperação resultando um trabalho interdisciplinar, baseado nas possibilidades de integração das áreas,
verificando respectivos pontos de convergência entre elas. Para tanto, foi imprescindível uma atitude
interdisciplinar. Lück (2010) aponta que:
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Emerge, nesse processo, o desenvolvimento de atitude e consciência de que trabalhando dentro de um sistema de interdisciplinaridade o professor produz conhecimento útil,
portanto, interligando teoria e prática, estabelecendo relações entre conhecimento de ensino
e a realidade social escolar. (LÜCK, 2010, p. 25).
Assim, o fazer interdisciplinar não resultou por acaso, mas da necessidade dos olhares dos
professores em conjunto que olham de diferentes ângulos um mesmo objeto ou assunto.
Percebe-se que a possibilidade de um planejamento integrado com as artes de forma coesa
desencadeia uma profusão de ideias, como nas distintas áreas do conhecimento ou disciplinas num processo
de aprendizagem cognitiva que se relaciona com diferentes saberes, promovendo uma espécie de uma teia.
Tecida com saberes significativos, numa rede de relações com saberes já existente e com novos saberes que
será desenvolvido.
Nesse sentindo, a arte tem um papel importante no planejamento e integração com as demais
disciplinas, como uma ferramenta a ser usada. De acordo com Parsons (p. 297) “disciplinas são
compreendidas como ferramentas, forma de organizar o conhecimento que podem ser usadas para pensar
problemas”. Pensar problemas pressupõe temáticas e abordagens pertinentes à realidade social e cultural dos
alunos, como por exemplo, problemas e assuntos da comunidade local, que podem ser explorado a partir de
várias disciplinas, tornando-se significativa a vida dos alunos/as. Nesse contexto, um trabalho de
planejamento e integração com outras disciplinas áreas do conhecimento.
Contribuições da Interdisciplinaridade para os Processos Pedagógicos em Artes
Conforme propõem os autores citados no decorrer do texto, a interdisciplinaridade propõe-se como
uma metodologia revolucionária em momentos tão mediáticos e transitórios que o contexto escolar tem
passado. A interdisciplinaridade apresenta contribuições com muita relevância proporcionando um ensino
mais globalizado promovendo um conhecimento totalitário.
As respectivas contribuições da interdisciplinaridade são evidenciadas pelos professores nas suas
práticas em sala de aula. Nessa perspectiva ao entrevistar os professores das escolas A e B sobre o que estes
contemplam nas práticas interdisciplinares em seu trabalho pedagógico, quais são as práticas
interdisciplinares que realiza na sua aula, os professore apresentaram as seguintes respostas:
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Inglês - São apresentados textos e diálogos em inglês para os alunos que interagem com outras disciplinas, são passadas vídeos, clipes e em algumas ocasiões os alunos fazem
pesquisa nos laboratórios de informática.
Matemática – Quando abordo funções, trago problemas que estão relacionados com a Física. Com os problemas ou situações problemas, os alunos precisam interpretar para resolver,
logo precisam dos conhecimentos desenvolvidos nas aulas de Português. Ao trabalhar com
escalas, utilizo mapas e assim acabo falando sobre geografia. (CADERNO DE ENTREVISTAS, 2013).
Ao analisar as falas dos entrevistados, pensa-se que eles acreditam na importância da
interdisciplinaridade quando desenvolvem em suas práticas dentro de sala de aula, nesse sentido pensa-se
que eles também acreditam nas contribuições que a interdisciplinaridade pode-se trazer para o aluno e
professor. Percebe-se também que os professores tentam tornar o ensino mais flexível tentando promover
suas aulas mais abertas para outros conhecimentos. Fazendo-se uma analisei já é um avanço tornar o ensino
mais aberto e dialogal com outros saberes, mas ainda não é suficiente, tem-se muito a percorrer para tornar-
se uma educação que se espera em plena complexidade de informação que se vive hoje.
Dentro dessa pesquisa analisou-se como a interdisciplinaridade possibilita, nas artes, contribuições
importantes para os processos pedagógicos das escolas. Através das respostas obtidas pelos professores foi
possível perceber que a interdisciplinaridade contribui em artes um currículo integrado pressupõe uma
dissolução de fragmentos e quebraras de rupturas entre as disciplinas e o conhecimento, mas não dilui a
disciplina, requer a integração entre duas ou mais disciplinas. Havendo uma interlocução entre as
disciplinas em busca de um objetivo em comum, buscando uma aprendizagem no qual, muitas vezes as
disciplinas sozinhas não são capazes de construir saberes significativos na vida do aluno/a. Essa integração
possibilita as alunos/as a produzirem saberes que são muitas vezes menosprezados por disciplinas e que os
alunos/as têm uma grande necessidade de vivências. “O currículo integrado consiste essencialmente em
ensinar para obter significado e compreensão” (PARSONS, 2005, p. 296).
As artes integradas com as demais disciplinas escolares contribuem, também, com os processos
pedagógicos das escolas como, pois engloba atividades com alunos, mas também trabalho coletivo e
coletivo fora de classe; reorganiza o saber fragmentado para o saber holístico; desperta em entre docentes e
discentes um interesse pessoal pela sua própria disciplina e pela outra; integra ensino e realidade;
integra ciências diferentes num mesmo campo de estudo; promove a formação do aluno para enfrentar os
problemas globais; dilui com o conhecimento maçante e tradicional; renova o conhecimento dos
especialistas, através da pesquisa e se dá trocas entre as ciências envolvidas; promove um nível igualitário
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entre professor e aluno, no qual todos são autores; desperta nos discentes a curiosidade e o interesse pela
pesquisa; possibilita a superação do saber disciplinar.
São algumas contribuições listadas ao longo das observações nas escolas e leituras a esse respeito
que a interdisciplinaridade promove quando diferentes especialistas trabalham em conjunto. Nesse sentido
trabalhar interdisciplinarmente é difícil e complexo. “Entende-se, portanto, que o espírito da
interdisciplinaridade é mais importante que a letra que a representa. Seu caráter não é normativo e sim
explicativo e inspirador” (LÜCK, 2010, p. 24).
Considerações Finais
A partir dos dados coletados e analisados conclui-se que ambas escolas (Escola A e Escola B)
parecem não apresentar propostas interdisciplinares em seus tempos e espaços. Tampouco foi possível
observar esta indicação nos documentos oficiais da escola.
De acordo com Fazenda (2003, 2008), Lück (2010) e Japiassu (1976), é importante que nos
processos pedagógicos ocorra partilhas entre as áreas ou disciplinas. Muitas vezes o que ocorre são ações
interdisciplinares entre algumas disciplinas, mas não a interdisciplinaridade propriamente dita.
De acordo com os dados coletados, a Escola A desenvolve um projeto interdisciplinar envolvendo as
disciplinas de Biologia, Matemática, História e Artes Visuais. Esse projeto acontece no contraturno somente
com o Ensino Médio, pois eles fazem parte do Ensino Politécnico. O projeto consiste em desenvolver
interdisciplinarmente o tema “Cidade de Montenegro”. Este projeto ocorre com a participação de todas as
disciplinas, trabalhando e elaborando proposta na sua área de conhecimento. No caso da disciplina de Artes
Visuais é trabalhada a reciclagem, os artistas e obras referenciando o tema. Resulta, ao final, uma produção
artística. Não há menções quanto à dança nesta escola pelo fato de que esta subárea não é ofertada
(CADERNO DE OBSERVAÇÕES, 2013).
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