inveja e contágio mimético em muito barulho

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GIRARD, René. “Amor de outiva”. In:______. Shakespeare: Teatro da Inveja. São Paulo: É Realizações, 2010. p. 175-193. Inveja e contágio mimético em Muito Barulho Por Nada

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Inveja e contgio mimtico em Muito Barulho Por Nada

GIRARD, Ren. Amor de outiva. In:______. Shakespeare: Teatro da Inveja. So Paulo: Realizaes, 2010. p. 175-193.

Inveja e contgio mimtico em Muito Barulho Por Nadaquando tentamos definir o que impede Beatriz e Benedito de dizer eu te amo, nossas respostas so vagas e insatisfatrias. (GIRARD, 2010, p. 173); impossvel que duas pessoas declarem seu amor uma para a outra simultaneamente, e quem falar primeiro pode modificar o relacionamento de maneira prejudicial aos seus interesses. (GIRARD, 2010, p. 174);O desejo que fala primeiro se mostra primeiro e, como resultado, pode se tornar um modelo mimtico para o desejo que ainda no falou. [...] A reciprocidade positiva exige uma fora interior que o desejo mimtico no possui. Para amar verdadeiramente, no se pode capitalizar egoisticamente o amor do outro. (GIRARD, 2010, p. 174).Amor e dependncia do olhar do outro: Benedito e BeatrizBeatriz e Benedito lembram aquele tipo de corrida de bicicleta em que vantajoso no assumir a liderana; aquele que consegue ficar pra trs no comeo provavelmente terminar primeiro porque tem algum para seguir, um modelo visvel que gerar nele, no momento crucial, uma exploso de energia competitiva que faltar ao lder. (GIRARD, 2010, p. 177)Amor de outiva significa amor escolhido pela voz alheia. (GIRARD, 2010, p. 178)Dom Pedro, o Mediador universal: Ele faz que Benedito escute uma conversa em que se diz que Beatriz j confessou o seu amor por Benedito diante de muitas testemunhas. O prncipe faz que Beatriz tambm escute a mesma notcia falsa a respeito de Benedito. Em ambos os casos, as muitas testemunhas so essenciais; elas transformam o desejo de um apaixonado pelo outro em um fato pblico e notrio, um fato social que no pode ser desmentido por nenhum indivduo particular, nem mesmo o indivduo cujo desejo est em jogo. (GIRARD, 2010, p. 177-178)A corrida de bicicleta, o amor de outiva e o Mediador universalCludio est genuinamente atrado por Hero. Mas ele quer ter certeza que o interesse que h muito sente por ela ter a aprovao daqueles a cuja opinio ele d valor. Ele quer que lhe digam se est fazendo a escolha certa. Ele gostaria que Benedito achasse Hero to bonita quanto ele mesmo acha, mas Benedito prefere Beatriz. Depois desse desapontamento, ele procura o homem em que mais confia e que mais admira, seu chefe militar, o prncipe Dom Pedro, que confirma que Hero, a nica herdeira de Leonato, seria um bom par para ele. (GIRARD, 2010, p. 180)O desejo de Cludio por Hero: a fora motriz do desejo mimticoCludio na verdade no precisava de seu intermedirio. Ele procurou o prncipe porque queria receber sua noiva das mos de seu mediador. Ele necessita que Dom Pedro confira validade sua escolha e teme que o sucesso tenha excedido as expectativas. Ele acha que as coisas foram to longe que agora Dom Pedro deseja Hero para si e no para Cludio.(GIRARD, 2010, p. 182);Cludio no se sentiu no direito, e nem capacitado a desejar Hero at que o prncipe sancionasse a sua escolha. (GIRARD, 2010, p. 183)A validao da relao amorosa pelo Mediador universalComo todas as pessoas hipermimticas, quando Cludio hesita entre diversas interpretaes possveis para um evento, no fim ele acaba escolhendo aquela que tem as piores implicaes pessoais para si prprio. (GIRARD, 2010, p. 184)Ele invalida Hero quando enquanto esta no aceita pelos outros e o primeiro a atac-la quando surgem os boatos sobre a falta de pureza da moa.Cludio sabota a si mesmoA lei segundo a qual nenhum objeto desejado resiste ao rompimento do elo com o objeto desse desejo universal em Shakespeare; ela certamente se aplica a Cludio, mas com uma diferena.(GIRARD, 2010, p. 186)Cludio nunca possuiu Hero fisicamente e isso importante, sobretudo no contexto de sua suposta promiscuidade. Ele cr que Hero cedeu a uma vasta quantidade de desejos annimos. Ele agora est muito obcecado com imagens erticas que so na verdade modelos mimticos que tomam o lugar do prncipe.(GIRARD, 2010, p. 186)A transio de Hero de inalcanvel para Cludio, por ser o objeto de desejo do prncipe, para inalcanvel para Cludio, por ser uma mulher sem valoresLembremo-nos do bode expiatrio: figura religiosa de um bode sacrificial que era isolado e morto por uma comunidade para que esta tivesse todos os seus pecados expiados. (Cf. Hebreus 9: 22,23).O verdadeiro tema dessa comdia so as mudanas no humor coletivo, e no a cruel vilania de Dom Joo [...]. Shakespeare permite que elas projetem num bode expiatrio a violncia que, na verdade, est igualmente distribuda por todos os personagens. (GIRARD, 2010, p. 188)

Dom Joo: um vilo para preencher o espaoO prncipe nos lembra aqueles deuses gregos, como o Zeus no mito de Anfitrio, que, para ter acesso a uma mulher que desejam, assumem as caractersticas do marido ou amante cuja felicidade invejam.(GIRARD, 2010, p. 190)A submisso mimtica de Dom Pedro s vezes difcil de acreditar por causa do seu papel de lder, mas ela fica mais clara na segunda metade da pea, quando Hero e caluniada por Dom Joo. Assim que Cludio se volta contra Her, o prncipe faz o mesmo, de modo to violento quanto seu tenente, a quem obviamente imita, sem perceber, ao que parece, que ele mesmo parcialmente responsvel pela sbita desonra de Hero aos olhos de Cludio.(GIRARD, 2010, p. 190-191)O casamento de Cludio e Hero significa o fim da amizade mimtica entre eles, e o prncipe se sente s e abandonado. (GIRARD, 2010, p. 191)

A instabilidade de Dom Pedro ou o toque supremamente shakespeareano (GIRARD, 2010, p. 189)