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1 INTRODUÇÃO Este trabalho de conclusão de curso permitiu um razoável aprofundamento sobre o tema Resíduo Hospitalar, mostrando a necessidade da elaboração e implantação de Plano de Gerenciamento de Resíduo de Serviços de Saúde (PGRSS). No seu decorrer, apresentamos uma breve visão da história dos hospitais, das contribuições dada pelo cristianismo, budismo e militares. Depois, logicamente, abordamos os pontos centrais da nossa linha de raciocínio – resíduo hospitalar e seu gerenciamento. Desde as antigas civilizações os homens se preocupavam em afastar das proximidades de suas habitações tudo o que sobrava de suas atividades diárias, não se importando com a maneira que esse lixo era destinado. Nessa época a prática do descarte dos resíduos sólidos ao ar livre ou em cursos de água já existia. Hábitos que permanecem até hoje em muitos paises, principalmente os subdesenvolvidos (Confortin, 2001). Com o crescimento populacional, os avanços científicos, tecnológicos e desenvolvimento industrial, o descarte de resíduos tornou-se um problema ainda maior. Os riscos ambientais, causados por um manejo inadequado dos resíduos, podem ir muito além dos limites os estabelecimentos de saúde, podendo gerar doenças e afetar a qualidade de vida da população que, direta ou indiretamente, pode entrar em contado com o material descartado (Almeida, 2003).

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INTRODUÇÃO

Este trabalho de conclusão de curso permitiu um razoável aprofundamento sobre o

tema Resíduo Hospitalar, mostrando a necessidade da elaboração e implantação de

Plano de Gerenciamento de Resíduo de Serviços de Saúde (PGRSS).

No seu decorrer, apresentamos uma breve visão da história dos hospitais, das

contribuições dada pelo cristianismo, budismo e militares. Depois, logicamente,

abordamos os pontos centrais da nossa linha de raciocínio – resíduo hospitalar e

seu gerenciamento.

Desde as antigas civilizações os homens se preocupavam em afastar das

proximidades de suas habitações tudo o que sobrava de suas atividades diárias, não

se importando com a maneira que esse lixo era destinado. Nessa época a prática do

descarte dos resíduos sólidos ao ar livre ou em cursos de água já existia. Hábitos

que permanecem até hoje em muitos paises, principalmente os subdesenvolvidos

(Confortin, 2001).

Com o crescimento populacional, os avanços científicos, tecnológicos e

desenvolvimento industrial, o descarte de resíduos tornou-se um problema ainda

maior.

Os riscos ambientais, causados por um manejo inadequado dos resíduos, podem ir

muito além dos limites os estabelecimentos de saúde, podendo gerar doenças e

afetar a qualidade de vida da população que, direta ou indiretamente, pode entrar

em contado com o material descartado (Almeida, 2003).

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Temos como exemplo o caso da catadora de lixo que encontrou um pedaço de

carne no lixão e comeu junto com seu filho. Esse pedaço de carne tratava-se de

uma mama amputada, e foi descartado como lixo comum. Esse caso aconteceu em

Olinda (PE), no ano de 1994.

A destinação inadequada de resíduos de serviços de saúde tem causado problemas

ambientais, sociais e sanitários. Somente um adequado gerenciamento dos resíduos

de serviços de saúde poderá minimizar os impactos negativos.

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Capítulo 1. A HISTÓRIA DOS HOSPITAIS

Ao longo da história o homem vem buscando soluções para a melhoria de sua

qualidade de vida. Essa busca levou a construção de hospitais, ao surgimento de

aspectos sanitários e ao aparecimento de práticas exercidas por profissionais da

área da saúde. Mesmo com o avanço científico e tecnológico, o processo de

mudança sempre estará frente a novos desafios.

A palavra hospital origina-se do latim hospitalis, significa “ser hospitaleiro”

acolhedor, caridoso, adjetivo derivado de hospes, que se refere a hóspede, que se

aloja temporariamente em casa alheia, que hospeda (dicionário).

Da palavra “hospitium”, derivou hospício, que indicava os locais onde eram

recebidos os enfermos pobres, incuráveis ou loucos (Lisboa).

Deve-se ao budismo a difusão das instituições hospitalares. Segundo Mac Eacherm

(apud Campos, 1944:13), Sidartha Gautama, o iluminado (Buda), construiu vários

hospitais e nomeou, para cada dez cidades, um médico já formado, prática

continuada pelo seu filho Upatise (Lisboa).

Lisboa aponta que “em ordem cronológica, vários autores indicam a existência de

hospitais: anexos aos mosteiros budistas, em 543 a.C.; existentes no Ceilão, entre

os anos 437 e 137 a.C.; vários hospitais mantidos em diferentes lugares, providos de

dieta conveniente e de medicamentos para os enfermos, preparados por médicos,

em 161 a.C.; 18 hospitais, providos pelo rei Gamari, no Ceilão, em 61 a.C. Da

mesma forma, aparecem as primeiras referências a enfermeiros (geralmente

estudantes de medicina): eles deveriam ter "asseio, habilidade, inteligência,

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conhecimento da arte culinária e de preparo de medicamentos. Moralmente

deveriam ser puros, dedicados, cooperadores. (apud Paixão, 1960:13)”.

Recebemos também a contribuição dos hospitais militares que eram os maiores em

estrutura arquitetônica, complexidade e em seu corpo médico. Eles tratavam de

soldados feridos e doentes. Os casos leves eram cuidados a céu aberto, os mais

graves encaminhados para os hospitais cada vez mais complexos. O exército se

tornou mais técnico e com isso o custo para a formação de um soldado aumentou.

Ele deixou de ser um trabalhador manual quando passou a usar armas, e

consequentemente sua vida passou a ser mais valorizada.

Até o século XVIII, o hospital era uma instituição com acentuado viés de exclusão,

uma vez que se voltava às classes inferiores incapazes de financiar assistência

medica particular. A internação de um paciente indicava um estado terminal, fosse

pela ignorância acentuada no setor da saúde, com baixíssimos cuidados com

higiene, fosse pela simples incapacidade e desconhecimento faziam de doenças e

curas comuns em nossa época. As crenças religiosas somadas ao desconhecimento

faziam dos hospitais apenas “casas de passagem”, onde padres e freiras se

travestiam de enfermeiros para, na verdade, auxiliar os internos no processo de

morte.

Conforme Michel Foucault, “a medicina dos séculos XVII e XVIII era profundamente

individualista. Individualista da parte do médico, qualificado como tal ao termino de

uma iniciação assegurada pela própria corporação dos médicos que compreendia

conhecimentos de textos e transmissão de receitas mais ou menos secretas. A

experiência hospitalar estava excluída da formação ritual do médico. O que

qualificava era a transmissão de receitas e não o campo de experiência que ele teria

atravessado, assimilado e integrado”. (1989:59)

Os médicos não tinham prática hospitalar e os doentes dos hospitais eram

acompanhados por pessoas que queriam a salvação e não tinham conhecimento

específico.

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Medicina e hospital ficaram separados até meados do século XVIII, quando passou-

se a identificar os hospitais como potente fator de geração e transmissão de

doenças.

No final do século XVIII reformula-se o conceito de hospital que passa a ser

instrumento terapêutico. Define-se, então, um programa de reforma e construção de

hospitais. O hospital passa a atuar como instituição sanitária, com seus próprios

caracteres estruturais.

No século XIX, três descobertas importantes contribuíram para o desenvolvimento

da medicina: a teoria bacteriológica; o uso de métodos assépticos e anti-sépticos

que diminuíram drasticamente o número de mortes por infecção; a introdução da

anestesia, permitindo a realização de cirurgias sem dor e com mais possibilidade de

êxito, contribuíram muito para alterar a imagem do hospital que deixou de ser um

lugar aonde os pobres iam para morrer, transformando-se em local onde os

enfermos podiam se curar.

No século XX, a medicina se converte em prática eminentemente hospitalar. Com o

avanço do conhecimento estabelece-se um rígido controle sobre tudo que

envolvesse o doente: a qualidade do ar, da água em que eram banhados, a

temperatura do ambiente, o regime alimentar etc.

Segundo Michel Foucault, dois passos são responsáveis pela transformação dos

hospitais contemporâneos: a imposição de mecanismos disciplinares para reger as

atividades dos hospitais e a conversão da disciplina resultante em disciplina medica.

Hoje, os estabelecimentos de saúde mantêm a mesma forma arquitetônica que

caracterizava as unidades hospitalares contemporâneas, com a valorização do

espaço urbano e, graças aos avanços da medicina, mantêm métodos rigorosos e

eficazes para manutenção da assepsia hospitalar.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define hospital como parte integrante de

um sistema coordenado de saúde, cuja função é dispensar à comunidade completa

assistência à saúde, tanto curativa quanto preventiva, incluindo serviços extensivos

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à família, em seu domicílio e ainda um centro de formação para os que trabalham no

campo da saúde e para as pesquisas biossociais".

Nery cita que “ alguém no século XX, definiu a casa como sendo a máquina de

morar. Pode-se analogicamente, definir hospital, no mundo tecnológico de hoje,

como uma máquina de promover, proteger e recuperar a saúde. Mais do que uma

simples máquina: uma linha de montagem. Uma empresa. Portanto, considerando-

se o hospital como uma empresa, tanto seus problemas devem ser analisados,

como a solução para os mesmos devem ser formulados à luz dos critérios de

rendimentos e de custos, que são critérios tipicamente econômicos, de onde se

concluem que a procura por melhores rendimentos deve fazer-se paralelamente à

busca de custos mais baixos”(1970:15).

De acordo com a Resolução Conama nº. 358, e obrigação de todos os geradores de

RSS a elaboração e a execução de um plano de gerenciamento de resíduos de

serviço de saúde. Muitos administradores hospitalares ainda enxergam esse plano

somente como um aumento de custos e desperdício de tempo. Não levam em conta

que o descarte inadequado de RSS pode causar danos ambientais capazes de

comprometer os recursos naturais e a qualidade de vida da geração atual e futura.

O avanço tecnológico das últimas décadas, se, por um lado, possibilitou conquistas

surpreendentes no campo das ciências, por outro, contribuiu para o aumento da

diversidade de produtos com componentes e materiais de difícil degradação e maior

toxicidade. É o paradoxo do desenvolvimento cientifico e tecnológico gerando

conflitos com os quais se depara o homem pós-moderno diante dos graves

problemas sanitários e ambientais advindos de sua própria criatividade. Entre esses,

situam-se aqueles criados pelo descarte inadequado de resíduos que criaram, e

ainda criam, enormes passivos ambientais, colocando em riscos recursos naturais e

a qualidade de vida das presentes e futuras gerações. A disposição inadequada

desses resíduos decorrentes da ação de agentes físicos, químicos ou biológicos,

cria condições ambientais potencialmente perigosas que modificam esses agentes e

propiciam sua disseminação no ambiente, o que afeta, conseqüentemente, a saúde

humana. São as “iatrogenias” do progresso humano (ANVISA).

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Esse capítulo tem como objetivo apresentar o surgimento dos hospitais, sua

evolução e seus avanços científicos e tecnológicos.

Sabemos que quanto maior o consumo, maior e a geração de ”lixo”, temos como

grande exemplo de país consumidor os Estados Unidos. Podemos aplicar a mesma

regra para os resíduos hospitalares, quanto mais pessoas tiverem acesso a todo

esse avanço, maior a geração de resíduos.

Há décadas atrás não se tinha a consciência que temos hoje. Como, por exemplo,

nos relatou Foucault que no século XVIII, em Paris, os cadáveres de pessoas

pobres eram amontoados no interior dos cemitérios. O número de cadáveres

empilhados era tão grande que os muros já não suportavam e se desmoronavam

espalhando esqueletos nas casas vizinhas. (1989:48)

Absurdos como esse já não acontece nos dias de hoje. Conforme adquirimos

conhecimento e consciência, evoluímos, e caminhamos em busca de uma melhor

qualidade de vida.

Terminaremos esse capítulo com uma frase da Coordenadora do Meio Ambiente do

Hospital Alvorada Moema, de São Paulo, Sueli Sanches “entendo que a arte ‘do

cuidar’ não se restringe somente aos pacientes, mas a aprender a preservar a

natureza”.

1. 2. Resíduos

Este capítulo tem como objetivo apresentar as definições de resíduo, assim como

suas classificações e origens. Estas definições contribuíram bastante para se

compreender a necessidade de um gerenciamento dos resíduos de saúde.

Resíduo pode ser considerado qualquer material que sobra após uma ação ou

processo produtivo. A concentração demográfica nas grandes cidades e o grande

aumento do consumo de bens gera uma enorme quantidade de resíduos de todo

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tipo, procedentes tanto das residências como das atividades públicas e dos

processos industriais.

Nos últimos 10 anos, a população brasileira cresceu 16,8%, enquanto que a geração

de resíduos cresceu 48% (Fonte: IBGE, 1989/2000). Grande parte desses rejeitos

ainda são descartados e acumulados no meio ambiente, causando graves

problemas de poluição e contaminação.

1.2.1. Formas de Classificação dos Resíduos

O resíduo pode ser classificado por sua natureza física como seco ou úmido.

O resíduo seco é composto por materiais potencialmente recicláveis. Ex.: papéis,

plásticos, metais, couros tratados, tecidos, vidros, madeiras, guardanapos e tolhas

de papel, pontas de cigarro, isopor, lâmpadas, parafina, cerâmicas, porcelana,

espumas, cortiças.

O resíduo úmido corresponde à parte orgânica dos resíduos. Ex.: restos de comida,

cascas e bagaços de frutas e verduras, ovos, legumes, alimentos estragados, etc.

Por composição química como matéria orgânica (hidrocarbonetos). Ex.: pó de café e

chá, cabelos, restos de alimentos, cascas e bagaços de frutas e verduras, ovos,

legumes, alimentos estragados, ossos, aparas e podas de jardim.

Por sua composição química como matéria inorgânica (sais). Ex.: composto por

produtos manufaturados como plásticos, vidros, borrachas, tecidos, metais

(alumínio, ferro, etc.), tecidos, isopor, lâmpadas, velas, parafina, cerâmicas,

porcelana, espumas, cortiças, etc.

O resíduo também pode ser classificado de acordo com seus riscos potenciais.

Segundo a NBR/ABNT 10.004, os resíduos dividem-se em:

Classe I - Resíduos Perigosos: são aqueles que apresentam riscos à saúde pública

e ao meio ambiente, exigindo tratamento e disposição especiais em função de suas

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características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e

patogenicidade, que são os perigosos.

Classe II - Resíduos Não-inertes: são os resíduos que não apresentam

periculosidade, porém não são inertes; podem ter propriedades tais como:

combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade em água. São basicamente os

resíduos com as características do lixo doméstico que são os não perigosos. Estes

ainda são divididos em resíduos Classe IIA, os não inertes (que apresentam

características como biodegradabilidade, solubilidade ou combustibilidade, como os

restos de ali-mentos e o papel) e Classe IIB, os inertes (que não são decompostos

facilmente, como plásticos e borrachas). Quaisquer materiais resultantes de

atividades que contenham radionuclídeos e para os quais a reutilização é imprópria

são considerados rejeitos radioativos e devem obedecer às exigências definidas

pela Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN.

Classe III - Resíduos Inertes: são aqueles que, ao serem submetidos aos testes de

solubilização (NBR-10.007 da ABNT), não têm nenhum de seus constituintes

solubilizados em concentrações superiores aos padrões de potabilidade da água.

Isto significa que a água permanecerá potável quando em contato com o resíduo.

Muitos destes resíduos são recicláveis. Estes resíduos não se degradam ou não se

decompõem quando dispostos no solo (se degradam muito lentamente). Estão nesta

classificação, por exemplo, os entulhos de demolição, pedras e areias retirados de

escavações.

1.2.2. Quanto sua origem

Domiciliar: originado da vida diária das residências, constituído por restos de

alimentos, produtos deteriorados, jornais, revistas, garrafas, embalagens em geral,

papel higiênico, fraldas descartáveis e etc. Pode, ainda, conter alguns resíduos

tóxicos.

Comercial: originado dos diversos estabelecimentos comerciais e de serviços, tais

como supermercados, estabelecimentos bancários, lojas, bares, restaurantes, etc.

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Serviços Públicos: originados dos serviços de limpeza urbana, incluindo todos os

resíduos de varrição das vias públicas, limpeza de praias, galerias, córregos, restos

de podas de plantas, corpos de animais, limpeza de feiras livres, constituído por

restos de vegetais diversos, embalagens, etc.

Portos, Aeroportos, Terminais Rodoviários e Ferroviários: resíduos sépticos, ou

seja, que contém ou potencialmente podem conter germes patogênicos.

Basicamente originam-se de material de higiene pessoal e restos de alimentos, que

podem hospedar doenças provenientes de outras cidades, estados e países.

Industrial: originado nas atividades dos diversos ramos da indústria, tais como: o

metalúrgico, o químico, o petroquímico, o de papelaria, da indústria alimentícia, etc.

O lixo industrial varia de acordo com o ramo de atividade, podendo ser representado

por cinzas, lodos, óleos, resíduos alcalinos ou ácidos, plásticos, papel, madeira,

fibras, borracha, metal, escórias, vidros, cerâmicas. Nesta categoria está a maior

parte dos resíduos considerados perigosos ou tóxicos. Esse tipo de lixo necessita de

tratamento especial pelo seu potencial de contaminação.

Radioativo: resíduos provenientes da atividade nuclear (resíduos de atividades com

urânio, césio, tório, radônio, cobalto), que devem ser manuseados apenas com

equipamentos e técnicos adequados.

Agrícola: resíduos sólidos resultantes das atividades agrícola e pecuária, como

embalagens de adubos, agrotóxicos, ração, restos de colheita, dejetos de animais,

etc. O lixo proveniente de pesticidas é considerado tóxico e necessita de tratamento

especial.

Entulho: resíduos da construção civil: demolições e restos de obras, solos de

escavações. O entulho é geralmente um material inerte, passível de

reaproveitamento.

Hospitalar: descartados por hospitais, farmácias, clínica médica, odontológica,

clínicas veterinárias. É potencialmente perigoso, pois pode conter materiais

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contaminados com agentes biológicos ou perigosos, produtos químicos e

quimioterápicos (algodão, seringas, agulhas, restos de remédios, luvas, curativos,

sangue coagulado, órgãos e tecidos removidos, meios de cultura e animais

utilizados em testes, resina sintética, filmes fotográficos de raios X, brocas, etc). Em

função de suas características, merece um cuidado especial em seu

acondicionamento, manipulação e disposição final.

2.2. Resíduos de Serviços de Saúde

Dados do IBGE de 2003 apontam que, no Brasil, são produzidas aproximadamente

2,3 mil toneladas por dia de RSS e os organismos presentes não são tratados,

sendo fontes potentes de contaminação.

A OPAS (1997) ressalta que a geração de resíduos sólidos de um estabelecimento

de saúde é determinada pela complexidade e pela freqüência dos serviços que

proporciona e para eficiência que alcançam os responsáveis pelos serviços no

desenvolvimento de suas tarefas, assim pela tecnologia utilizada.

De acordo com a RDC ANVISA no 306/04 e a Resolução CONAMA no 358/2005,

são definidos como geradores de RSS todos os serviços relacionados com o

atendimento à saúde humana ou animal, inclusive os serviços de assistência

domiciliar e de trabalhos de campo; laboratórios analíticos de produtos para a saúde;

necrotérios, funerárias e serviços onde se realizem atividades de embalsamamento,

serviços de medicina legal, drogarias e farmácias inclusive as de manipulação;

estabelecimentos de ensino e pesquisa na área da saúde, centro de controle de

zoonoses; distribuidores de produtos farmacêuticos, importadores, distribuidores

produtores de materiais e controles para diagnóstico in vitro, unidades móveis de

atendimento à saúde; serviços de acupuntura, serviços de tatuagem, dentre outros

similares.

A OPAS afirma que na América Latina, a média de geração de resíduos varia entre

1,0 a 4,5 kg/leito/dia. Desses resíduos 10 a 40% são considerados perigosos.

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O Resíduo Hospitalar, sempre representou um problema para os Administradores

Hospitalares devido, principalmente, a pouca informação e orientação dada a

funcionários, pacientes, familiares e principalmente a comunidade vizinha.

1.2.3. Classificação

Os resíduos de serviços de saúde são classificados em função de suas

características e riscos. De acordo com a ANVISA, essa classificação vem sofrendo

um processo de evolução contínuo, na medida em que são introduzidos novos tipos

de resíduos nas unidades de saúde e como resultado do conhecimento do

comportamento destes perante o meio ambiente e a saúde, como forma de

estabelecer uma gestão segura com base nos princípios da avaliação e

gerenciamento dos riscos envolvidos na sua manipulação.

De acordo com a Resolução CONAMA nº. 358/05 e a RDC ANVISA nº. 306/04, os

RSS são classificados em cinco grupos: A, B, C, D e E.

Grupo A - engloba os componentes com possível presença de agentes biológicos

que, por suas características de maior virulência ou concentração, podem

0apresentar um grande risco de infecção, além de poluir o meio ambiente.

Exemplos: placas e lâminas de laboratório, carcaças, peças anatômicas (membros),

tecidos, bolsas transfusionais contendo sangue, entre outras. A maior parte dos

estabelecimentos não faz a separação deste material, que acaba indo para os

aterros junto com o lixo normal ou para a fossa.

Grupo B - contém substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública

ou ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade,

corrosividade, reatividade e toxicidade. Ex: medicamentos apreendidos, reagentes

de laboratório, resíduos contendo metais pesados, dentre outros.

A destinação final fica sob responsabilidade dos hospitais. O material recolhido nos

hospitais, acondicionado segundo normas que variam em função do grau de

periculosidade dos produtos, geralmente é levado a um aterro próprio.

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Grupo C - quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que contenham

radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de eliminação especificados

nas normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN, como, por exemplo,

serviços de medicina nuclear e radioterapia etc.

Grupo D - não apresentam risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao

meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliares. Ex: sobras de

alimentos e do preparo de alimentos, resíduos das áreas administrativas etc. Fica

sujeito ao mesmo sistema de recolhimento do restante da cidade.

Grupo E - materiais perfuro-cortantes ou escarificantes, tais como lâminas de

barbear, agulhas, ampolas de vidro, pontas diamantadas, lâminas de bisturi,

lancetas, espátulas e outros similares.

"O lixo de serviços de saúde é um reservatório de microorganismos potencialmente

perigosos. Pode disseminar microorganismos resistentes no ambiente; causar

ferimentos, por meio dos materiais radioativos e dos perfurocortantes (agulhas,

lâminas, bisturis etc.); e provocar envenenamento e poluição, seja pelo

derramamento de produtos como antibióticos e drogas tóxicas ou por elementos

como mercúrio e dioxinas (ambos cancerígenos)", alerta a OMS (Organização

Mundial da Saúde).

Geralmente, os resíduos de serviço de saúde não são destinados conforme

deveriam. Na maioria dos casos são descartados juntamente com os resíduos

urbanos, ou seja, jogados em lixões a céu aberto, onde circulam animais e

catadores de lixo.

O governo, através da força da lei, vem pressionando os geradores de RSS a

tomarem as medidas cabíveis para evitar danos maiores à população e ao meio

ambiente.

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Capítulo 2. LEGISLAÇÕES APLICÁVEIS AOS RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE

SAÚDE

A destinação inadequada de resíduos de serviços de saúde tem gerado passivos

ambientais capazes de por em risco o meio ambiente e a nossa qualidade de vida.

Tais problemas têm gerado políticas públicas e legislações mais exigentes, que

visam a sustentabilidade do meio ambiente e a preservação da saúde.

Nossa Constituição Federal de 1988, no Art. 225 diz “Todos tem direito ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à

sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público é a coletividade o dever de

defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

A primeira lei brasileira a tratar de resíduos sólidos, publicada em 1954, foi a Lei

Federal de nº. 2.312, em seu Art. 12 “a coleta, o transporte, e o destino final do lixo,

deverão processar-se em condições que não tragam inconvenientes à saúde e ao

bem estar públicos”. (BRASIL: 1954)

Garcia cita que vários estados e municípios possuem legislações próprias

específicas sobre gerenciamento de resíduos de serviços de saúde, estabelecendo

normas para classificação, segregação, armazenamento, coleta, transporte e

disposição final desses resíduos. Contudo, as legislações em vigor não são claras e

muitas vezes são conflitantes, o que provoca dúvidas e muitas vezes impossibilita a

adoção de normas práticas eficazes para o gerenciamento dos resíduos de serviços

de saúde em todo o país.

Neste capítulo iremos citar legislações no âmbito Federal que tratam diretamente de resíduos dos serviços de saúde.

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Segundo a Anvisa, os resíduos dos serviços de saúde ganharam destaque legal no

início da década de 90, quando foi aprovada a Resolução CONAMA nº. 006 de

19/09/1991 que desobrigou a incineração ou qualquer outro tratamento de queima

dos resíduos sólidos provenientes dos estabelecimentos de saúde e de terminais de

transporte e deu competência aos órgãos estaduais de meio ambiente para

estabelecerem normas e procedimentos ao licenciamento ambiental do sistema de

coleta, transporte, acondicionamento e disposição final dos resíduos, nos estados e

municípios que optaram pela não incineração. Posteriormente, a Resolução

CONAMA nº. 005 de 05/08/1993, fundamentada nas diretrizes da resolução citada

anteriormente, estipula que os estabelecimentos prestadores de serviço de saúde e

terminais de transporte devem elaborar o gerenciamento de seus resíduos,

contemplando os aspectos referentes à geração, segregação, acondicionamento,

coleta, armazenamento, transporte, tratamento e disposição final dos resíduos.

A Resolução CONAMA nº. 283, publicada em 12 de julho de 2001, que atualiza e

complementa a Resolução nº. 5, dispõe sobre o tratamento e destinação final dos

resíduos de serviços de saúde. Determina que caberá ao responsável legal pelo

estabelecimento gerador a responsabilidade pelo gerenciamento de seus resíduos

desde a geração até a disposição final. E que o gerador deverá elaborar o PGRSS

de acordo com os critérios estabelecidos pelos órgãos de vigilância sanitária e meio

ambiente federais, estaduais e municipais. Define os procedimentos gerais para

manejo dos resíduos, e que os resíduos serão acondicionados, atendendo às

exigências da legislação de meio ambiente e saúde e às normas aplicáveis da

Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, e, na sua ausência, sejam

adotados os padrões internacionalmente aceitos.

No ano de 2000 a ANVISA iniciou um grande debate público com o objetivo de

discutir o regulamento técnico sobre diretrizes de procedimentos de manejo de

resíduos de serviços de saúde. Este debate resultou na Resolução RDC 33,

publicada em 25 de fevereiro de 2003.

A resolução considerou “os princípios da biossegurança de empregar medidas

técnicas, administrativas e normativas para prevenir acidentes ao ser humano e ao

meio ambiente”.

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De acordo com a ANVISA, a adoção desta metodologia de análise de risco da

manipulação dos resíduos gerou divergência com as orientações estabelecidas pela

Resolução CONAMA nº. 283/01. O que levou os dois órgãos a buscarem a

harmonização das regulamentações. Decidiram dessa forma revogar a RDC nº. 33 e

publicar a RDC ANVISA nº. 306, em dezembro de 2004, e a Resolução CONAMA

nº. 358 , em maio de 2005.

A RDC nº. 306, publicada em 07 de dezembro de 2004, dispõe sobre o Regulamento

Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Considera que a

segregação dos RSS, no local de sua geração, reduz o volume de resíduos e

previne incidentes ocupacionais. Considera a necessidade de disponibilizar

informações técnicas aos geradores e aos órgãos fiscalizadores. Define que

compete à Vigilância Sanitária dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal,

com o apoio dos Órgãos de Meio Ambiente, de Limpeza Urbana, e da Comissão

Nacional de Energia Nuclear - CNEN, divulgar, orientar e fiscalizar o cumprimento

desta Resolução.

A resolução 358, foi publicada em 29 de abril de 2005, dispõe sobre o tratamento e a

disposição final de resíduos de serviços de saúde. Considera os princípios da

prevenção, da precaução, do poluidor pagador, da correção na fonte, com vistas a

preservar a saúde pública e a qualidade do meio ambiente. Considera a

necessidade da minimização da geração de resíduos através da melhoria do

processo, redução e reciclagem. Os veículos utilizados para a coleta e transporte

externo dos resíduos de serviços de saúde devem atender as exigências legais e as

normas da ABNT. Os sistemas de tratamento e disposição final de resíduos de

serviços de saúde devem estar licenciados e monitorados pelo órgão ambiental

competente.

A união de esforços entre a ANVISA e o CONAMA resultou num grande progresso.

Essas resoluções trouxeram definições de procedimentos seguros, considerando as

realidades e peculiaridades regionais, classificação e procedimentos de segregação

e manejo dos RSS.

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2.1. Normas Técnicas

Norma é um documento estabelecido por consenso e aprovado por um organismo

reconhecido que fornece, para uso comum e repetitivo, regras, diretrizes ou

características para atividades ou seus resultados, visando à obtenção de um grau

ótimo de ordenação em um dado contexto. (Embrapa/Sistema de Produção)

As normas servem como parâmetros, como guia de planejamento para ações

preventivas e de fiscalização. A aplicação de normas é de fundamental importância,

pois garante uma boa qualidade dos serviços executados e também afere o

desempenho das organizações no que tange aos aspectos ambientais produzidos.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) elaborou as seguintes normas

para auxiliar na Gestão dos Resíduos de Serviços de Saúde:

Quadro 1: Normas da ABNT - Manuseio dos RSS

FINALIDADE NORMA Terminologia NBR 12,807 – Resíduos de Serviços de

Saúde Classificação NBR 10.004 – Resíduos Sólidos –

Classificação Simbologia NBR 7.500 – Símbolos de risco e

manuseio para transporte e armazenamento do material

Acondicionamento NBR 9.190 – Sacos plásticos para acondicionamento de lixo – Classificação NBR 9.191 – Sacos plásticos para acondicionamento – especificação NBR 9.195 – Sacos plásticos para acondicionamento – métodos de ensaio NBR 9.196 – Determinação de resistência a pressão do ar NBR 9.197 – Sacos plásticos para acondicionamento de lixo – determinação de resistência ao impacto de esfera NBR 13.055 – Saco plástico para acondicionamento – determinação de capacidade volumétrica NBR 13.056 – filmes plásticos para sacos para acondicionamento –

18

verificação de transparência NBR 13.853 – Coletores para resíduos de serviços de saúde, perfurantes e cortantes – requisitos e métodos de ensaio NEA 55/IPT – Recipiente rígido para resíduos perfurantes e cortantes de serviços de saúde

Manuseio intra-estabelecimento NBR 12.809 – Resíduos de serviços de saúde – manuseio

Rejeitos radioativos CNEN-NE 6.05 – Gerencia de rejeitos radioativos em instalações radioativas

Coleta e transporte

NBR 12.810 – Resíduos de serviços de saúde – procedimentos na coleta NBR 7.501 – Transporte de produtos perigosos – terminologia NBR 7.503 – Ficha de emergência para transporte de produtos perigosos – características e dimensões NBR 7.504 – Envelope para transporte de produtos perigosos – características e dimensões NBR 8.285 – Preenchimento da ficha de emergência para o transporte de produtos perigosos NBR 8.286 – Emprego de sinalização nas unidades de transporte e de rótulos nas embalagens de produtos perigosos NBR 9.734 – Conjunto de equipamento de proteção individual para avaliação de emergência e fuga no transporte rodoviário de produtos perigosos NBR 9.735 – Conjunto de equipamentos para emergência no transporte rodoviário de produtos perigosos NBR 12.710 – Proteção contra incêndio por extintores no transporte rodoviário de produtos perigosos NBR 13.095 – Instalação e fixação de extintores de incêndio para carga no transporte de produtos perigosos E15.011 – Sistema para incineração de Resíduos de Serviços de Saúde, Portos e Aeroportos

Projetos Instrução Técnica CETESB – Apresentação do projeto de incinerador de resíduos hospitalares NBR 8.418 – Apresentação de projetos de aterros industriais NBR 8.419 – Apresentação de projetos

19

de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos

Tratamento

E15.011 – Sistema para incineração de Resíduos de Serviços de Saúde, Portos e Aeroportos

Métodos de análises NBR 10.005 – Lixiviação de resíduos NBR 10.006 – Solubilização de resíduos NBR 10.007 – Amostragem de resíduos

Não basta apenas a elaboração de leis e normas para garantir a preservação do

meio ambiente e a qualidade de vida. É muito importante a conscientização dos

responsáveis pela geração dos resíduos, dos funcionários que manipulam, da

população e dos órgãos fiscalizadores.

20

Capítulo 3. GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE

Segundo a ANVISA Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde “constitui-se

em um conjunto de procedimentos de gestão, planejados e implementados a partir

de bases científicas e técnicas, normativas e legais, com o objetivo de minimizar a

produção de resíduos e proporcionar aos resíduos gerados, um encaminhamento

seguro, de forma eficiente, visando à proteção dos trabalhadores, a preservação da

saúde pública, dos recursos naturais e do meio ambiente”.

Um eficaz Gerenciamento de RSS além de minimizar a geração de resíduos,

também pode reduzir os custos com a disposição final. Caberá ao responsável legal

do estabelecimento a responsabilidade pelo gerenciamento de seus resíduos desde

a geração até a disposição final, de forma a atender aos requisitos ambientais e de

saúde pública, sem prejuízo da responsabilidade civil solidária, penal e

administrativa de outros sujeitos envolvidos, em especial os transportadores e

depositários finais, como prevêem a Lei nº. 6.938, de 31 de agosto de 1981 e a

Resolução nº. 358 (CONAMA) de 29 de abril de 2005.

Para gerenciar os Resíduos de Serviços da Saúde é necessário conhecer as

atividades realizadas no local, identificar a classificação dos resíduos, as legislações

aplicáveis, procedimentos adequados para o manejo e a tecnologia mais apropriada

para destinação final.

3.1. Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços da Saúde A Resolução 358, define “Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de

Saúde-PGRSS: documento integrante do processo de licenciamento ambiental,

baseado nos princípios da não geração de resíduos e na minimização da geração de

21

resíduos, que aponta e escreve as ações relativas ao seu manejo, no âmbito dos

serviços mencionados no art. 1 desta Resolução, contemplando os aspectos

referentes à geração, segregação, acondicionamento, coleta, armazenamento,

transporte, reciclagem, tratamento e disposição final, bem como a proteção à saúde

pública e ao meio ambiente”(CONAMA).

De acordo com Salomão a adoção de um efetivo plano de gerenciamento dos

resíduos de serviços de saúde, deve-se contemplar um estudo de caracterização

dos resíduos, tanto quantitativo como qualitativo, pois isso permitirá otimização do

sistema de manejo dos RSS por meio da segregação dos diferentes grupos de

resíduos, impedindo que os resíduos biológicos, geralmente frações pequenas,

contaminem a totalidade (Salomão, 2004).

O CONAMA 306/04, em harmonia com a RDC ANVISA nº. 358/05, estabeleceram e

definiram a classificação, as competências e responsabilidades, as regras e

procedimentos para o gerenciamento dos RSS, desde a geração até a disposição

final. Reconhecendo a responsabilidade dos estabelecimentos de serviços de saúde,

no gerenciamento adequado dos RSS, a RDC ANVISA nº. 306/04, no seu capítulo

IV, define que é da competência dos serviços geradores de RSS:

Item 2: 2.1. A elaboração do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de

Saúde - PGRSS, obedecendo a critérios técnicos, legislação ambiental, normas de

coleta e transporte dos serviços locais de limpeza urbana e outras orientações

contidas neste Regulamento.

2.2. A designação de profissional, com registro ativo junto ao seu Conselho de

Classe, com apresentação de Anotação de Responsabilidade Técnica - ART, ou

Certificado de Responsabilidade Técnica ou documento similar, quando couber, para

exercer a função de Responsável pela elaboração e implantação do PGRSS.

2.3. A designação de responsável pela coordenação da execução do PGRSS.

2.4. Prover a capacitação e o treinamento inicial e de forma continuada para o

pessoal envolvido no gerenciamento de resíduos, objeto deste Regulamento.

2.5. Fazer constar nos termos de licitação e de contratação sobre os serviços

referentes ao tema desta Resolução e seu Regulamento Técnico, as exigências de

comprovação de capacitação e treinamento dos funcionários das firmas prestadoras

22

de serviço de limpeza e conservação que pretendam atuar nos estabelecimentos de

saúde, bem como no transporte, tratamento e disposição final destes resíduos.

2.6. Requerer às empresas prestadoras de serviços terceirizadas a apresentação de

licença ambiental para o tratamento ou disposição final dos resíduos de serviços de

saúde, e documento de cadastro emitido pelo órgão responsável de limpeza urbana

para a coleta e o transporte dos resíduos.

2.7. Requerer aos órgãos públicos responsáveis pela execução da coleta,

transporte, tratamento ou disposição final dos resíduos de serviços de saúde,

documentação que identifique a conformidade com as orientações dos órgãos de

meio ambiente.

2.8. Manter registro de operação de venda ou de doação dos resíduos destinados à

reciclagem ou compostagem, obedecidos os itens 13.3.2 e 13.3.3 deste

Regulamento. Os registros devem ser mantidos até a inspeção subseqüente.

Item 3. A responsabilidade por parte dos detentores de registro de produto que gere

resíduo classificado no grupo B, de fornecer informações documentadas referentes

ao risco inerente do manejo e disposição final do produto ou do resíduo. Estas

informações devem acompanhar o produto até o gerador do resíduo.

A Lei da Política do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), no seu artigo 3º, e a Lei dos

Crimes Ambientais (Lei 9.605/98), artigos 54 e 56, responsabilizam administrativa,

civil e penalmente as pessoas físicas e jurídicas, autoras e co-autoras de condutas

ou atividades lesivas ao meio ambiente. Determina o art. 14, parágrafo 1ºda Lei da

Política Nacional do Meio Ambiente, que o poluidor é obrigado a indenizar ou reparar

os danos causados ao meio ambiente e a terceiros afetados por sua atividade,

independentemente da existência de culpa. Na responsabilidade administrativa o

gerador poderá vir a ser o único ator a reparar o dano, independente da ação de

outros atores na conduta que gerou o dano. Isto induz o gestor a cercar-se de

garantias para prováveis arregimentações dos demais atores na cadeia de

responsabilidades. Deve o gerador precaver-se para, em caso de danos, fazer valer

a responsabilidade compartilhada com os demais atores, sejam eles empresas ou

órgãos públicos responsáveis pela coleta, tratamento ou disposição final desses

resíduos (ANVISA).

23

O PGRSS deve ser elaborado de acordo com as características de cada

estabelecimento e com as normas e regulamentações pertinentes, indicando as

alternativas, recursos, pessoais necessários e o responsável pela sua

implementação.

Zeltzer ressalta a necessidade do detalhamento dos procedimentos descritos, e

sugere um modelo para a elaboração do PGRSS, que iremos apresentar abaixo.

A – Identificação do Estabelecimento

• Razão Social

• Nome fantasia

• Endereço

• Telefone

• Horário de funcionamento

B – Informações Gerais

• Número de leitos (para hospitais) e de funcionários

• Responsável técnico pelo estabelecimento

• Responsável Técnico pelo PGRSS

• Equipes de trabalho e equipes envolvidas no processo:

- Comissão de Controle e Infecção Hospitalar

- Serviço de Segurança e Medicina de Trabalho, e outros...

• Área construída e área livre do terreno

• Quantidade de prédio/pavimentos

C – Objetivo

• Informação dos procedimentos de gerenciamento e as implicações de

preservação ambiental

• Racionalização do consumo de material

• Minimização da quantidade de resíduo gerado

24

• Conscientização dos colaboradores e adesão ao programa de gerenciamento

dos RSS

D – Informações Técnicas

D1 – Classificação dos resíduos

A correta classificação é o ponto de partida para o êxito do manejo dos resíduos.

Esta nos permite tomar decisões quanto aos resíduos que deverão ser recuperados

(reciclados) e quais os que poderão seguir seu fluxo para o tratamento e/ou

disposição final.

Cada estabelecimento deve procurar na legislação vigente e nos conhecimentos já

desenvolvidos subsídios para a definição de critérios para a sua classificação.

O quadro abaixo relaciona os serviços oferecidos em um estabelecimento hospitalar

e o tipo de resíduo gerado.

Quadro 2

SERVIÇOS TIPO DE RESÍDUO Serviços de um hospital

1. Sala de internação

2. Sala de cirurgia

3. Sala de parto

4. Central de equipamentos

5. Admissão

6. Serviços de emergência

7. Outros

Resíduos infecciosos

Serviços auxiliares de diagnósticos e tratamentos

8. Anatomia patológica

9. Laboratório

10. Radiodiagnostico

11. Gabinetes

12. Audiometrias

13. Isótopos radioativos

14. Endoscopia

15. Citoscopia

Resíduos infecciosos especiais

25

16. Radioterapia

17. Banco de sangue

18. Medicina física

19. Outros

Serviços de consulta externa

20. Consulta externa

21. Outros

Resíduos comuns

Serviços diretos complementares

22. Enfermaria

23. Relações e serviço social

24. Arquivo clínico

25. Nutrição

26. Farmácia

27. Outros

Resíduos especiais e comuns

Serviços gerais

28. Serviços indiretos

29. Cozinha

30. Lavanderia

31. Almoxarifado

32. Engenharia e manutenção

33. Programa docente

34. Programa de pesquisa

35. Outros

Resíduos especiais e comuns

Fonte: OPAS, 1997.

D2 – Segregação dos resíduos

A segregação como definição segundo a NBR 12807/93 é a “operação de

separação de resíduos no momento da geração, em função de uma classificação

previamente adotada para esses resíduos”. Essa ferramenta bem utilizada evita a

mistura e o desnecessário aumento de volume dos resíduos, que geram um maior

potencial de risco.

Quando não é assegurada, os resíduos comuns que poderiam ser tratados como

resíduos domiciliares, serão considerados resíduos infectantes, merecendo os

mesmos gerenciamentos aplicados a estes. Tratando-se de um caminho inverso,

implicaria na possibilidade de grandes problemas.

26

Sendo assim, a efetiva segregação e a conseqüente minimização dos resíduos são

fatores de segurança para quem manipula tanto dentro como fora do

estabelecimento de saúde.

D3 – Acondicionamento dos resíduos

O acondicionamento deve ser executado no momento da geração, em recipientes

adequados a seu tipo, quantidade e característica.

A forma de acondicionamento dos RSS está diretamente ligada a classificação.

Grande parte dos problemas relacionados com o gerenciamento de RSS refere-se

ao mau acondicionamento dos resíduos, devido a problemas de rompimento dos

sacos e/ou seu fechamento inadequado, portanto, estes devem ser submetidos a

inspeções de forma rigorosa.

D4 – Transporte dos resíduos

Os transportes internos dos RSS devem ser executados em rotas especificas e

planejadas, utilizando o itinerário de menor percurso entre as fontes geradoras, bem

como evitar horários e locais de grande fluxo de pessoas.

Os resíduos devem ser transportados devidamente acondicionados em seus

recipientes, em carrinho de coleta exclusiva para este fim.

D5 – Armazenamento temporário dos resíduos

Seu objetivo é manter os resíduos em condições seguras até o momento adequado

para a coleta externa.

A higienização adequada dos abrigos é muito importante para evitar maus odores e

vetores indesejáveis (insetos, ratos e outros).

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D6 – Tratamento Disposição final dos resíduos

O objetivo de tratar resíduos infecciosos é reduzir os riscos associados com a

presença de agentes infecciosos, mudando suas características biológicas tanto

quanto reduzindo ou eliminando seu potencial de causar doenças.

A escolha de tratamento deve ser o resultado da combinação entre o impacto

ambiental, disponibilidade de recursos, fatores de segurança, bem como ao

licenciamento pelo órgão ambiental e sanitário competente.

A disposição final é a última técnica do sistema de gerenciamento dos RSS. As

técnicas mais usadas são os aterros sanitários/controlados e as valas sépticas.

Estes deverão estar assegurados às condições de proteção ao meio ambiente e à

saúde publica prevista na legislação.

De acordo com o site a um artigo no www.incineração.online.pt existem outras

técnicas que poderão tornar os resíduos inofensivos, podendo então seguir o

mesmo percurso que os resíduos comuns. Nestes processos incluem-se a

autoclavagem, o tratamento por microondas, incineração.e a desinfecção química.

A autoclavagem consiste no processo de submeter os resíduos a uma temperatura

bastante elevada, juntamente com vapor de água até que sejam destruídos os

microorganismos patogênicos. Tem como desvantagem não diminuir a perigosidade

de resíduos não-orgânicos, sendo, no entanto, menos dispendioso que a

incineração.

O tratamento por microondas surgiu mais recentemente e também é um processo

em que são utilizadas temperaturas elevadas para destruir os microorganismos

patogênicos.

A incineração é um processo de destruição de resíduos. De uma forma simples é um

processo de destruição térmica, através da combustão. Permite a redução do

volume e peso dos resíduos e a destruição de microorganismos patogênicos que

poderiam ser prejudiciais à saúde.

28

Por ultimo temos a desinfecção química em que são utilizados produtos químicos

para destruir os microorganismos.

E – Plano de Ação

Mapear os processos através de procedimentos descritos, fluxogramas, quadros

ilustrativos, desenhos e outros, proporcionando o detalhamento das atividades a

serem executadas no PGRSS.

E1 – Mapeamento dos Riscos Associados ao RSS

Avaliar os prováveis riscos físicos, biológicos, químicos, mecânicos e ergonômicos

que os setores do estabelecimento geradores de resíduos possam provocar e adotar

medidas preventivas e, quando necessárias, ações corretivas.

F – Plano de Contingência

Destina-se a fazer em face de qualquer anormalidade que coloque em risco os

processos pré-estabelecidos do PGRSS. De forma geral, descreve as medidas para

assegurar a continuidade dos processos essenciais. Deve ser testado antes da

ocorrência da eventualidade para o qual foi descrito.

G – Plano de Treinamento

É de extrema importância promover um plano de treinamento continuado, programas

de sensibilização, informação e conscientização em todos os níveis hierárquicos.

A capacitação reduz os acidentes de trabalho, diminui os custos operacionais e

aumenta a eficiência do trabalho.

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H – Controle, Avaliação e Revisão do PGRSS (Plano de Gerenciamento de

Resíduos de Serviços de Saúde)

A fim de garantir que os resultados pré-determinados sejam alcançados, deve-se

monitorar e corrigir as ações implementadas, mediante a avaliação e o controle

sistemático dos fatores críticos que incidem no processo.

A identificação dos problemas no manuseio dos RSS deve ter suas causas

identificadas, às soluções deverão ser propostas e implementadas.

Para permitir a comparação da situação antes e após as intervenções, devem ser

selecionados indicadores de avaliação que permitam o monitoramento e

acompanhamento das ações.

Os indicadores são instrumentos estatísticos que servem para avaliar e controlar os

resultados alcançados para as tomadas de decisões.

I – Orçamento Anual

Implica em uma projeção orçamentária, a fim de prover recursos (equipamentos,

insumos, pessoal, obras, capacitação e outros) para o efetivo gerenciamento dos

resíduos.

30

Capítulo 4. OS RISCOS RESULTANTES DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS DE

SERVIÇO DE SAÚDE

Segundo dicionário o termo risco é utilizado em administração, atuária, economia,

direito e outras ciências, para designar o resultado objetivo da combinação entre a

probabilidade de ocorrência de um determinado evento, aleatório, futuro e que

independa da vontade humana e o impacto resultante caso ele ocorra (Wikipédia ).

Risco à saúde é a probabilidade da ocorrência de efeitos adversos à saúde

relacionados com a exposição humana a agentes físicos, químicos ou biológicos, em

que um indivíduo exposto a um determinado agente apresente doença, agravo ou

até mesmo morte, dentro de um período determinado de tempo ou idade (ANVISA).

Risco para o meio ambiente é a probabilidade da ocorrência de efeitos adversos ao

meio ambiente, decorrentes da ação de agentes físicos, químicos ou biológicos,

causadores de condições ambientais potencialmente perigosas que favoreçam a

persistência, disseminação e modificação desses agentes no ambiente (ANVISA).

A avaliação do risco ambiental é uma ferramenta metodológica essencial para a

execução de uma política de “saúde ambiental”, sendo apropriada para auxiliar a

gestão do risco e subsidiar os órgãos reguladores na tomada de decisões

(Schneider, 2004:28).

4.1. Riscos Potenciais Segundo Anvisa, na avaliação dos riscos potenciais dos resíduos de serviços de

saúde deve-se considerar que os estabelecimentos de saúde vêm sofrendo uma

enorme evolução no que diz respeito ao desenvolvimento da ciência médica, com o

31

incremento de novas tecnologias incorporadas aos métodos de diagnósticos e

tratamento. Resultado deste processo é a geração de novos materiais, substâncias

e equipamentos, com presença de componentes mais complexos e muitas vezes

mais perigosos para o homem que os manuseia, e ao meio ambiente que os recebe.

Os resíduos do serviço de saúde ocupam um lugar de destaque, pois merecem

atenção especial em todas as suas fases de manejo (segregação, condicionamento,

armazenamento, coleta, transporte, tratamento e disposição final) em decorrência

dos imediatos e graves riscos que podem oferecer, por apresentarem componentes

químicos, biológicos e radioativos.

Para a comunidade científica e entre os órgãos federais responsáveis pela definição

das políticas públicas pelos resíduos de serviços saúde (ANVISA e CONAMA) esses

resíduos representam um potencial de risco em duas situações:

a) para a saúde ocupacional de quem manipula esse tipo de resíduo, seja o pessoal

ligado à assistência médica ou médico-veterinária, seja o pessoal ligado ao setor de

limpeza e manutenção;

b) para o meio ambiente, como decorrência da destinação inadequada de qualquer

tipo de resíduo, alterando as características do meio.

Tome nota:

O risco no manejo dos RSS está principalmente vinculado aos acidentes que

ocorrem devido às falhas no acondicionamento e segregação dos materiais perfuro-

cortantes sem utilização de proteção mecânica. Quanto aos riscos ao meio ambiente

destaca-se o potencial de contaminação do solo, das águas superficiais e

subterrâneas pelo lançamento de RSS em lixões ou aterros controlados que também

proporciona riscos aos catadores, principalmente por meio de lesões provocadas por

materiais cortantes e/ou perfurantes, e por ingestão de alimentos contaminados, ou

aspiração de material particulado contaminado em suspensão. E, finalmente, há o

risco de contaminação do ar, dada quando os RSS são tratados pelo processo de

incineração descontrolado que emite poluentes para a atmosfera contendo, por

exemplo, dioxinas e furanos (ANVISA).

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CONCLUSÃO

A realização dessa monografia foi prazerosa, embora tenha custado muito esforço,

muita leitura e certa dose de estresse. Mas, ao terminá-la, fica a sensação

gratificante de tarefa cumprida e do objetivo atingido.

Assim, observamos que os órgãos de controle ambiental criaram normas e

resoluções exigindo um controle diferenciado para os resíduos de serviços de saúde

e que mudanças vêm acontecendo no tratamento desses resíduos, mas muitos

administradores desconhecem ou ignoram o assunto, o que só vem aumentar a

problemática dos passivos ambientais. Esse tema ainda é pouco explorado,

podemos perceber até através da dificuldade em encontrar bibliografias para

trabalharmos.

Sugerimos o Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde como

ferramenta para implementar o correto gerenciamento de resíduos de serviços de

saúde.

O Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde não é só um registro

de intenções, vai além, pois aborda as condições de implementação e

acompanhamento. Ele facilita a tomada de decisões e a consulta de todos os

interessados. O plano deve ser ajustado continuamente de acordo com os contextos

sempre mutáveis (ANVISA).

Entretanto, é fundamental o apoio e o envolvimento da alta administração nesse

processo, dando mais legitimidade e aumentando a participação.