introdução ao turismo trabalho

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Análise Comparativa de dois textos de Carminda Cavaco e de Krzystof Przeclawski ESHTE, Dezembro 2008

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Análise Comparativa de dois textos de

Carminda Cavaco e de Krzystof

Przeclawski

ESHTE, Dezembro 2008

Introdução

Carminda Cavaco

Esta autora, defende que o turismo é, acima de tudo, uma forma de ocupação dos

tempos livres. O turismo conta com uma história de quase três séculos sendo

referenciado como um fenómeno recente, tendo as suas raízes no Grand Tour. Dá-nos

uma definição de turista, em que o sujeito “turista” é qualquer pessoa que se desloca da

sua área de residência por um período superior a 24 horas. Defende que a procura de

turismo vem de uma necessidade de repouso, de fugir á rotina diária, conseguindo assim

relações culturais e interpessoais que de outra maneira lhes era impossível, excluindo o

turismo de negócios que ela rejeita por pensar que é um tipo de turismo, em que a

procura se impõe á oferta, na medida em que é o turista que decide todas as variáveis da

viagem.

Krzystof Przeclawski

Por oposição, não deixa de ser significativo que, da opinião sobre os respectivos

textos e seus conteúdos que se possa que o autor diga mais em 10 paginas que

Carminda Carvalho em 40. O autor polaco, defende uma abordagem e metodologia

para a compreensão dos fenómenos turísticos, como uma manifestação humana

dinâmica. O texto dá-nos definições variadas de turismo, e, salvo algumas diferenças

chegou-se a um consenso: o turismo envolve viajar, uma visita temporária a um local

longe de casa, esta troca de local terá de ser voluntaria.

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Análise do texto da Carminda Cavaco

Se por um lado, temos a autora a defender que o turismo é uma actividade

maioritariamente humana, uma procura pelo repouso, pela diversão e pelo

conhecimento, o autor tem opinião contrária em que diz que o turismo é principalmente

materialista.

Carminda Cavaco baseia-se quase exclusivamente nas tipologias de turismo. A autora

começa a sua opinião sobre a evolução do turismo, desde as suas bases, o Grand Tour,

até á criação de OMT chegando por fim aquilo que o turismo é hoje em dia. A autora

identifica vários factores impulsionadores da procura turística e das suas motivações.

A renovação ideológica e cultural, progressos científicos com uma especial influência

para o paradigma higiene versus banhos termais. Um dos factores mais significantes

para mudança da procura turística foi a revolução industrial, existem claramente dois

aspectos, um de ordem económica e outro social. Além destes factores, existiram

mudanças a nível do turismo na vida das pessoas, o que contribuiu para esse facto foi

principalmente a revolução industrial, em que tiveram inicio as férias pagas, a

organização das férias através de agências especializadas, uma maior importância dado

pelas organizações governamentais ao factor “turismo”. Resumindo, ao longo dos

tempos o turismo foi-se diversificando e alargando, até chegar ao nível onde se

encontra, aquele que hoje observamos. A autora afirma que actualmente existem vários

tipos de turismo, entre estes, o turismo termal, o turismo balnear e turismo de natureza.

A autora faz também menção a temática do climatismo como uma terapia ou

abordagem em locais onde o clima seja diferente da zona de residência. Nos finais do

séc. XVII deu-se uma crescente sensibilidade ao tempo e aos seus efeitos e benefícios

do estado físico espiritual, humor e moral do homem. Revolucionando os locais de

estadia relativamente ao clima adjacente às estações do ano. A mudança da forma de

pensar, como o racionalismo e o positivismo, os progressos da ciência, o

desenvolvimento do conhecimento geográfico, reconhecimento dos efeitos terapêuticos,

renovação do desejo romântico de natureza e paisagem, a preocupação com a higiene e

a relação entre a água e o banho, foram os factores contribuintes para uma migração

sazonal. Anteriormente os fluxos eram de raiz urbana, os destinos eram seleccionados

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consoante a temperatura, tendo como exemplo as pessoas que deixavam as cidades pelo

campo, envolvendo em primeiro lugar, as elites imperiais, a realeza e as altas figuras da

igreja.

A autora refere no texto os principais objectivos das viagens que a partir do séc. XIV

marcaram um grande passo no turismo mundial. Estas surgiram através de uma procura

por parte daqueles que possuíam meios económicos para tal, de enriquecerem

culturalmente e melhorarem os seus conhecimentos académicos. Trata-se de um

primeiro conceito de turismo a que se deu o nome de Grand Tour.

Foi então que se deram os primeiros passos no turismo, sendo inicialmente um turismo

cultural. Os objectivos do Grand Tour eram desta forma o aperfeiçoamento da educação

dos jovens bem como a aprendizagem de línguas e culturas europeias, as visitas de

cortes e contactos diplomáticos (até dois anos) que se baseavam em estadias nas

principais cidades, na passagem por outras e por centros termais, acompanhados por

elites abastadas e ociosas como os tutores ou os serviçais. A autora referiu também o

facto de este ser um turismo itinerante, uma vez que a viagem era bastante longa e lenta,

sedentário pelas largas paragens que eram feitas nos destinos de eleição devido à

necessidade de descanso. O turismo de elites abastadas e ociosas suscitou um processo

de difusão descendente da aristocracia à alta burguesia. Este tipo de turismo que era

seguido por escritores e pintores deu origem a lugares turísticos de renome que

passaram a ser primeiramente locais de visita e estada obrigatórias passando mesmo a

lugares de turismo de massa, como é o exemplo do famoso português Fernando Pessoa

que frequentava bastante um café muito conhecido hoje em dia chamado 'A Brasileira',

local onde ate escrevia algumas das suas obras e, como tal, se tornou mais tarde num

lugar turístico de renome e de turismo em massa.

Nos finais do séc. XVIII estavam em voga os relatos de viagens segundo roteiros,

revistas ilustradas e pinturas de paisagens, desenvolvendo bastante esta actividade. Um

destino bastante atractivo na altura era a Suíça (Zona dos Alpes).

Carminda Cavaco faz também uma referência a um outro tipo de turismo bastante

importante para o avanço desta actividade que é o turismo religioso uma vez que os

lugares religiosos ou de culto atraem um grande número de crentes sendo estes fluxos

volumosos e muito regulares.

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Este tipo de turismo levou também à criação de aglomerados importantes como o

santuário de Fátima, o Vaticano, S. Compostela, Meca, Jerusalém etc.

No séc. XIX as cidades continuam a ser privilegiadas pelo turismo, nomeadamente as

patrimoniais, o património associado a grandes civilizações mediterrâneas e do Próximo

Oriente, o património dos Maias, Aztecas e Incas, patrimónios coloniais (Brasil),

patrimónios modernos de Brasília, patrimónios imateriais (Auschwitz, Normandia,

Titanic) e arquitectura de vanguarda (Ásia Oriental e de Sudeste).

Os fluxos com destinos urbanos acompanharam a democratização do turismo apesar de

algumas práticas se terem alterado, uma vez que se passaram a realizar visitas curtas, de

itinerário, citybreaks, ao longo do ano mas com máximos nos Verão e passaram a

existir outras motivações para além do lazer. Por exemplo as cidades de Bruges e

Veneza polarizam massas turísticas na ordem dos 3 a 10 milhões de visitantes por

serem lugares cobertos de história com patrimónios bem conservados ou recuperados e

reconhecidos pela UNESCO, sendo assim valorizados como espaços do passado,

culturais e como espaços turísticos.

Ao longo do séc. XIX o turismo recuperou os centros históricos, expulsou quase

totalmente os autóctones e acelerou o seu despovoamento até aos dias de hoje.

No decorrer do séc. XIX da Europa, sofreu se uma intensificação das migrações

sazonais, indo para norte no verão e para sul no inverno. Certas pessoas como

industriais e banqueiros foram os pioneiros deste tipo de migração sazonal para se

afirmarem socialmente, no entanto, intelectuais e pintores também aderiram a este tipo

de deslocações para fins de inspiração. Ao fim de algum tempo, uma numerosa classe

média alta também aderiu á viagem para tentarem uma aproximação social, com o

desejo de acompanhar as elites. No entanto, no final de tudo, a autora defende que o

turismo é uma actividade que possibilita o contacto entre pessoas e culturas e meios

ambientes.

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Análise do texto do Krzystof Przeclawski

Apesar de todos os estudos feitos sobre o assunto “turismo” nunca se conseguiu

chegar a uma conclusão definitiva. É um fenómeno complexo, ao qual podem ser dadas

várias e diferentes interpretações. No entanto, segundo o autor, há pontos base que estão

obrigatoriamente presentes numa definição de turismo. Passando a citar o autor: “O

turismo envolve viajar e uma visita temporária a um local longe de casa e que esta troca

de local seja voluntária.”

O turismo tem vários atributos, economicamente o turismo desenvolve-se dependendo

das forças económicas e na oferta e procura. É também um fenómeno psicológico dado

que uma viagem deriva de uma necessidade. Em termos sociais o turista assume um

papel social durante a viagem como por exemplo a interacção com os guias, população

local ou companheiros de viagem. Neste ponto, entramos nas componentes primárias,

ou seja, o motivo pelo qual as pessoas são turistas. A motivação de viagem e a escolha

de destino podem variar consoante as imagens sociais e outros estereótipos atribuídos.

Como fenómeno cultural o turismo é uma forma de manifestação ou choque de culturas,

sendo que o turismo pode ser factor importante na mudança cultural. Por outro lado,

Przeclawski é muito mais ambicioso. Ele pretende compreender a natureza do fenómeno

turístico enquanto manifestação da natureza humana. O facto é de primordial

importância é a da metodologia. É justamente por estar ciente de que o turismo é um

fenómeno humano que Przeclawski passa a defender a única metodologia que lhe

parece adequada à compreensão dos fenómenos humanos complexos: a

interdisciplinaridade. A precisão que faz da diferença entre interdisciplinaridade e

multidisciplinaridade é importante. Przeclawski, que também põe como hipótese a

necessidade da multidisciplinaridade no estudo do turismo, propondo que o estudo do

turismo seja realizado para além de uma perspectiva multidisciplinar. A sua proposta é,

evidentemente, a da interdisciplinaridade, a da integração em vez da análise, a da

síntese. Ainda sobre o tema da interdisciplinaridade, é interessante a sua proposta para

uma linguagem específica, simbólica que pudesse ser partilhada pelos especialistas das

diversas áreas.

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Posto isto, nota-se a ênfase que o autor dá ao turismo, como uma forma de mistura de

religiões, de culturas. Daí a linguagem simbólica. Mistura de culturas de modos de

vidas, de “religiões”, valores humanos que interceptam todos num ponto comum, e na

definição pura de turismo, que culmina no acto de as pessoas viajagem para fazerem

novas descobertas. Para concluir, o autor acredita que o mundo actual precisa de

diálogo, diálogo para se chegar a uma “linguagem universal”. Um tipo de turismo que

toda a gente perceba, seja qual for a nacionalidade, a cultura ou mesmo a profissão que

exerce. Uma linguagem universal, um ponto comum que seja claro tanto para um

médico como para um astrónomo, tanto para um indiano como para um chinês. O

turismo na sua forma mais pura e rudimentar, virado para o homem e para a sua

natureza. O turismo como uma necessidade humana. Porque segundo um autor, o turista

pode visitar igrejas, pode ver museus e palácios, pode ir para a praia ou ver quadros ou

pinturas rupestres em rochas pré-históricas, que no final, não interessa aquilo que viu,

interessa o conhecimento que adquiriu, as componentes humanas que esse novo

conhecimento despoletou em si. O turismo como uma forma de interligações humanas,

como forma de adquirir novos valores humanos.

O autor despreza o lado superficial e materialista do turismo, para se concentrar no seu

lado humano, pois acredita que foi devido a uma necessidade humana de novas

descobertas, que ele apareceu, e é com esse lado humano do turismo, que nós

concordamos e nos pretendemos identificar.

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Conclusão

Na opinião da autora o fenómeno do turismo baseia-se nas necessidades das

pessoas como o repouso, o lazer e o conhecimento, enquanto que o autor o descreve

como manifestação da natureza humana.

Para a definição de turista, a autora afirma que se designa por qualquer pessoa que se

desloque da sua área de residência por um período superior a 24 horas. Para o autor o

sujeito tem de viajar temporariamente para um local longe de casa, de forma voluntaria.

Carminda Cavaco fixa-se nas tipologias de turismo, tornando maioritariamente

materialista, enquanto que Przeclawski aborda o tema de uma perspectiva muito mais

humana, numa tentativa de conjugar o social com a componente de necessidade pelo

deslocamento voluntário. O autor defende como principal metodologia do turismo a

interdisciplinaridade, dando importância a integração ao invés da análise.

Para este, o turista retira da sua expedição o conhecimento que adquiriu, e o que este

despoleta em si fazendo as interligações humanas de que este necessita e os novos

valores humanos que o sujeito adquiriu. Para a autora, que observa esta temática de uma

perspectiva mais científica, entende o turismo como uma forma de ocupar os tempos

livres, considerando as relações interpessoais como um “anexo” ao turismo em si.

Carminda Cavaco, apesar da sua perspectiva materialista, compreende que o turismo

possibilita o contacto entre pessoas, culturas e meios ambientes, enquanto que

Przeclawski realça como base importante do turismo este dito contacto interpessoal, o

conhecimento de outras culturas e locais, religiões e tradições, e evidencia que é

necessária a criação de uma linguagem universal, um factor importante tanto a termos

culturais e pessoais de um individuo como de natureza laboral.

Os autores têm opiniões diferentes visto que cada autor tem uma abordagem empírica

diferente nas estruturas dos seus textos, uma vez que a abordagem do seu estudo é a

mesma.

Para Przeclawski, o materialismo humano é uma limitação pessoal.

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Apesar de tudo, o autor caiu em erro ao apresentar a teoria de que os valores são

imutáveis, ou seja, inalteráveis. Esse erro foi cometido ao esquecer-se que uma viagem,

implica obrigatoriamente uma mudança de rotina diária e uma alteração ao modo de

vida cultural e social habitual, alterando ou suprimindo obrigatoriamente os limites que

as suas condutas normalmente apresentam.

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Bibliografia

Este trabalho, baseou-se nas seguintes obras:

CAVACO, Carminda (2006), "Práticas e Lugares de Turismo" in Desenvolvimento e

Território: Espaços Rurais e Pós-Agrícolas e Novos Lugares de Lazer, CEG, Lisboa,

pp. 299-362.

PRZECLAWSKI, Krzysztof (1993), "Tourism as the Subject of Interdisciplinary

Research" in PEARCE and BUTTLER (eds.), Tourism Research – Critiques and

Challenges, Londres: Routledge, pp. 9-19

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