introdução à sociolingüística
TRANSCRIPT
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 1/61
I
Maria Cecilia Mollica
Maria Luiza raga orgs.)
Introdução Sociolingüística
O Tratamento
d
Variação
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 2/61
Copyrig ht <U 2004 dos autorr '
Ut.Tistlu: Dil'gn Rodcguero
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2004
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Sumário
Apresentação ........................................ ................ ... ...... ................... 7
1. Fundamentação teórica: conceituação e de li mitação ........ .................... .9
Maria Cecilia Mollica
2. Modelos quantitativos e tratamento estatíst ico ................................
15
Anthony Julius Naro
3. Relevância das variáveis não lingüísticas ............................ ... ......... 27
Maria Cecilia Mollica
4. A variá
vel gênero/sexo ............ .........
..
.... ....................................... 33
Maria
da Conceiçâo de
Paiva
5. O
dinamismo das línguas
Anthony Julius Naro
43
6. Relevftncia da vmiável escolaridade ................................. .............. ...51
Sebasticio
.Iosué Vou
·e
7. Linguagem
c
contexto ....... .. .......... ........ ........................................... .59
Alzira
Vertlll'in Tln
•ares de Macedo
g, Relevilncia tias variáveis lingüísticas .. ......... .... ........ .......... .... ..........67
Vera Lúnu
l 'arcdl's da Silva
9.
Vari
áVl'
IS
l tuml
6g icas
..............................
.......... . ........ ........... ... .... .....
73
Christino ,\ /lrc·/1 Unmes
Cláudia
Nll'tlt
Noncomti de Souz.a
IO. Varim 1 1., IIHlll i>ssllltatkas .................................. .............................. 81
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,
Iiii H • Iii< < K I .güístlco
11. I\ intc 1
' ' '
1, das variáveis semânticas ..................... ...................... 89
f / f ' e /1(/ ( I l lo I
Nt' i -:: e
Pi . ,,,
'mena
12.
Variá\ 1
.. '
' ·
11rsivus
sob
a
perspectiva daTeoria da Variação .... .......
1O1
Mario Ll ,,
l:t.r:a
13. Colet ,1
·
d ~ t l v s .............................................................................. 117
( iise/le N '' ltllltt de Oliveira e Sill'a
14. Trans• llt,ao
1h
dados lingUísticos .................................................... 135
Maria
di (
·
,,,1
nçüo
de Pail'a
15. A n á l i ~ ·qu:ulltlativae tópicos de intcrpn.:taçüo
do
~ u · b r u l ................ 147
Maria M trio l r·reira Scherre
,\11tlwny lulius Naro
16.
Muda
~ ~ a I
ng.iiística: observaçües
no
tempo real ............ .............
.. ..
.
179
iV aria
d1
Conceição
de
Paiva
Maria
E1 ~ ê n i Larnog ia
Duarte
Bibliogn. fia .............. ...................................................................... l9 l
presentação
Maria Cecilia Mollica Maria
Lui ::.o
Nrrt::rr
Os capítulos que integram este livro estão distribuídos de forma a condutir
11a1uralmente
o leitor no processo de apropriação
do
saber em Sociolingüíslica
V < ~ r i a c i o n i s t a . Inicialmente, conceitua-se e delineia-se a Ctrea e apresenta-se u
111odelo
quantitativo que a sustenta. Centra-se nos pressupostos conceituais
lunuamentais. oferecendo sumariamente o arcabouço teórico-metodológjco da
'
1\.-oria
da Variação, sem o qual não
é
possível ao leitor
ou
a um pesquisador
tii L'rcssado na linha de investigação aqui adotada compreender e manusear com
de.,
reza os instrumentos de análise.
O
primeiro capítulo situa a Sociolingüística
e
a Teoria
da
Variação.
larniliarizando o leitor com os conceitos e termos técnicos, suas definições, e as
d 1 ~ t i n ç õ e s
e classificaçües necessárias e indispensáveis. O segundo capítulo busca
: llll'scntar a dimensão quantitativada Sociol ingüística.
exp1
i
c
ando aspectosrelativos
.1
lnramenta estatística de análise. Os principais modelos matemáticos utilizados
lll.,lmicamcnte são descritos e discutidos do ponto de vista técnico.
da
mesma
lnnna em que se discutem sua utilização e seu alcance numa análise lingüística.
Oc; capítulos seguintes
têm
como
objetivo
apresentar as
diferentes
lllllliv;tçõesda variação lingUística. Eles são agmpados em duas partes:
as
variáveis
<'\ lernas ao sistema, de 3 a 7, e as vmiáveis intemas, de 8 a 12. Cada capítulo
' upa se especificamente em mostrar a relevância da correlação
de
um tipo de
'.1
11avd
c evidenciar. através de resultados de estudos sobre o português e outras
lllll'llm;. a importância de pesquisas realizadas sobre os empregos lingüísticos
'.
u1:1111Cs. Na medida do possível. reflete oportunamente sobre os pontos teóricos
l11111l:um:ntais.
Dada
a complexidade de cada um dos aspectos abordados, muitas
'I"'
são mantidas em aberto, o que mostra a potencialidade em cada um dos
l'· ' ndros que contextualizam os fenômenos lingüísticos sujeitos
à
variação.
lllll i:tllllcnte, então,consideram-se algumas variáveis não
I
ngüísticas (sexo/gênero,
11l:11
h·. l·scol
a.ridade,
contexto) e, posteriormente, detenninaclas variáveis lingüísticas
ti1
11WI1
co fonológicas, morfossintáticas, semânticas, discursivas).
< > ~ c a p í t u l o s
13 ,14
e 15 têm caráter eminentemente prático. Ao preocupar
'>
1
111 L"';por os passos a serem seguidos numa análise varLacionista, tecem-se
' r 1 1 1 : . 1 d n ; H ; i c ~
tc6rico-metodológicas sobre a abordagem de pesquisa
de
campo.
'>.
1n
'
c a p i l voltados para
os
aspectos metodológicos (colcta de dados ,
11
.
111'•<
t
~ , _ · . 1 l .
··ndi
qua111
i
i :açiln
dados
c
interpretação de resultados). A
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111 1' 111
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··11.11
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l"oJTida-;
of'en.·cc ao leitor
um
guia
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1\1 1 p:11.1 IJ l l ' ' l l l i
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B
Ir
1roduçaa à Soclolingüística
Jl.t tk se alertar, entretanto.
que
qualquer orientação dos caminhos a trilhar deve
: c
dt11
no processo
de
feitura da pesquisa.
Finalmente, o último capítulo enfoca as relações entre variação e mudança,
pruhlcmatizando as principais questões envolvidas.
Os
pontos teóricos importantes
us procedimento > norma lmen te adotados
para
a análise da mudança lingüística
sao levantados,
embora
nem se
mpre
de forma conclusiva.
A bibliografia geral deste livro inclui obras publicadas
nos
últimos
ano
s.
I
rata-
se
de
literatura clássica
bá
s ica
acr
es
cida
de
um leque
de
estudos específicos
st
1hr
e fenômenos variáveis
dif
erentes.
Em muitos cap(tulos, são oferecidas sugestões didáticasde modo a demonstrax
c<lii\Oexercitar e solidific<u- os conhecimentos
do
aprendi? no que tange a conceitos e
a procedimentos
de pe
squisa. O reinvestimento na proposta pedagógica
do
livro
se
p1 s
tilka
, dada a crescente demanda
de
profissionais
qua
lificados no
campo
da
St l<:tolingüística. A conseqüentenecessidade
de
divulgação ampl ae continuada coloca
Sl' como exigência natural
ela
formação
de
pessoal no Brasil, a ftm
de se
atender a
11111a
agenda que
ndu
só ida base lingüística e prosseguimento regular
de
investigações
que comprovem hipóteses e respondam a perguntas científicas nucleares.
l
Fundamentação teórica:
co
nceituação e deli t ção
r
ia Cecilia Moi/i, ·,,
Lingüí
stica e Soc iolingü tica
A Socioling ística é uma das subáreas da Lingüística c estuda a língua
cm
uso
no
seio das
com
unidades de
rala,
volLando a ntcnção para um tipo
de
investigação
qu
e
c ~ r e l c i o n
aspectos
li
ngüí
st
icos e sociais. Esta
ci
ência se faz presente num
~ s p ç o interdisciplinar. na fronteira entre língua e sociedade localizando precipuamente
os empregos
li
ngüísticos
co
ncretos,
em
especial os de caráter heterogêneo.
-
-
A heterogenei
dade como
foco
Todas as línguas apresentam um chnamismo inerente, o que s ignifica cli7er
que el
as são heterogêneas.Enconrram-se
assim
formas distintas gue,
em
princípio.
se eq
ui
valem semanti
camen
te no nível
do
vocabulálio.
da
sintaxe c rnorfossintaxc.
do
su b
sistemu
fonét i
co-fonológico
c
no domínio pragmático-discursivo.
O
português falado no Brasil está repleto
de
exemplos.
No
sul
elo
país, o pronome "tu" é o tratamento p
re
fe
rido
quando o falante
i n l \ . : ~ a g e com
o
ouvin
te, en
co
ntrando-
se
cm
m
enor
escala
cm
outras regiões c
evidenciando uma diferenciação geográfica.
em
que
os
pronomes
de
tratamento
distribuem-se em sistemas
variacionais d il'ercmes. A
prese
n
ça de
maxcas de
t'<IIH.:
ordânc ia nominal e verbal
como em
os
estudos sociolingüísticos' ' e "eles
estudam
Soc
iolingüística' ' em geral alterna-se
com
a possibilidade
de
ocorrência
de
l I
IUnciados em que tais marcas
es
tão ausentes: ·'os
estudo0
soc i
olingüístico0 ,
l'll"'- cs lll
cl
a Sociolingü ística". A realização de
f
ramcngo'', ''andano", 0tá'',
lalaO
' , '"paia . é encontrada no português
do
Brasil coexistindo com " flamengo'',
·.lltdando . "está' '.
f
alar
, p
al
ha
' .
Co
nstruções sintáticas corno eu vi ele ontem",
11os i'ontos
no
Maracanã'',
·'é
o ti
po
ele
ma
t
éria que
eu não
gosto dela , a
I t ~ l l l ' a , ·la
é
111u
ito d
if
ícil . estão present
es
no
po
rtuguês
do
Brasil (PB),alternando
1tt lll ns vq
11i
va lentcs semântico-; ''eu
o
vi ontem", ··nós fomos
ao
Maracanã"' ,
' é
o
''I '
dt· lll:th'IÍa dl qtll'l"llllau gosto'' "n I ingiiística
l;
lllllito difícil''.
l·s.,·s
\ t o ;JI)'llll'- ' ~ ' 1 1 1 p l o • ljllt' tl11'11.1111 1 :niahilidadc lingiiíslil·a. pt\'\l"lllt '
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tl
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jll
1
1iodução à
Sociolingüístico
1'11
1111 nhjcto de estudo exatamente a vatiação, entendendo-a como um princípio
"'·ral
un
iversal,
p a s s í v ~
le ser descrita e analisada c ientificamente. Ela parte
du p 1 ~ s : - . p o s t o
de que alternâncias de uso são influenciadas por fatores
,·strutura is c sociais.
Ta
is fatores são também referidos como variáveis indepen
'klllcs. no sentido que os usos de estruturas lingüísticas são motivados e as
.illl'rni'inc
ias
configuram-<;e por
is
so sistemáticas c estatisticamente previsíveis.
/\reas de interesse da Sociolingüística
São muitas as áreas
de
intcresse daSociolin oüística: conta o entre as lín•ruas
l ; b . '
lJIIL'stões
relativas
ao
surgimento e extinção Iingüística,
m u T t i l i n g ü i s r n ~ ) ,
vadação
v
mudança constituem temas de investigação na área.
O
fenômeno
da
diversidade lingi.iística em cada sistema é diferente do que
• IIIL'ndemos por multilingüismo. Um país pode convivercom mais de uma língua,
11111lo
é o caso do Brasil: somos plurilingües, pois, além do p01tuguês,
há
em
' ' ~
territ6rio cerca de
180
I nguas indígenas. de comunidades étnico-
1 1
1111
ralmcntcdifcrenciadas, afora as populações bilíngües que dominam igualmente
''
fl'' rluguês e
í n g u a uo
grupo românico, anglo-germânico e eslavo-miental.
wmo
•'111wmunidades multiling
i.i
es português/italiano . português/espanhol, português/
.
tlt
·lnão. português/japonês. A lingUística
vo
lta-se para todas
a<;
comunidades com
• 1 1 c ~ interesse científ'ico c a Sociolingüística considera a importância social
d:1
u a g e m
dos peq ueno > grupos sócio-culturais a comunidades maiores. Se
•
111
1
J. rupo
apresentasse comportamento lingi.iístico idêntico, não haveria razão
1;11 ;I Sl' ler um olhar sociolingüístico da sociedade.
O papel da mudançalingüística 6 fundamental para os estudos sociolingüís-
1".
,.
-.. Cs problemas teóricos envolvidos referem-se aos processos de encaixamento.
·
.tlia,·iin c implementação. Antes de tudo, o lingüista deve compreender como
'
t';tracteriza uma determinada variação de acordo com as propriedades da
J..'IIa. verificar seu status social positivo ou negativo, entender o grau de
1 u11tpnll11t:timenlo
do fenômeno variáv
el
no sistema e determinar se as variantes
1
' t:un1pL·tiçüo acham-se em processo de mudança, seja no sentido de avanço,
'
1
·'
1111
de recuo da inovação.
Em
última análise. deve definir se o caso é de
\ .llloil,
.ln
t'stável
nu
de mudança em progresso, conceitos explicitados e ilustrados
''
'
·"
'1
111s capítulos deste livro.
V<
Hinnlcs o variáveis
1\
\
iaç:tll
I
1
1
s
I
1':t
t'llllsl
i
I
1
i
kllillliL'IIO
llll
l'J'o.;al
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:
x
f
l l l
i
1
"l ' llltll t.l.
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II\:1\
"1'1111111111;111:1 ..
\:lli:tllll
''
l •lflt lld llltl'
I
ltl
tlll
I"''
Fundamentação teórica: conceltuac;ao • • • ·III
•• .
, •
li
variantes as diversas formas alternativas que configuram um fcnômt'llo \
·'
''
·
'\,
I
tecnicamente chamado de vmiável dependente. A concordância entn · u \ ,·d" 1 .
o sujeito, por exemplo, é uma variável
li
ngüística (ou
um
fenômeno van;h
LI
I.
(11'' '·
se realiza através
<.le
duas variantes. duas alternativas possíveis e semant i
calll\'1111
'
eq
ui
valentes: a marca de concordância
no
verbo ou a ausência da marta
d1·
concordância.
Uma variável é concebida como dependente no sentido que o emprego das
variantes não é aleatório, mas influenciado por grupos de fatores (ou variáveis
independentes) de nahlreza social ou escrutural. ~ s i m as variáveis independentes
ou grupos de fatores podem ser de natureza interna ou externa
à
língua c podem
exercer pressão sobre os usos, aumentando ou diminuindo sua frcqüência
tk
ocorrência.
Va
le frisar 4ue o termo "variável" pode significar fenômeno cm variacão e
grupo de fa tores. Estes consistem nos parâmetros reguladores <.los fenôrr;enos
vruiáveis, condicionando positiva
ou
negativamente o emprego de
rormas
varümtes.
As variantes podem permanecer estáveis nos sistemas (as mesmas formas
continuam se alternando) durante um período curto de tempo ou até por séculos.
ou podem sofrer mudança. quando uma das formas desaparece. Neste caso.
as
formas substituem outras que deixam de ser usadas, momento em que se configura
um fenômeno de mudança em progresso.
Cabe
à
Sociolingüíslica investigar o grau de estabilidadeou de mutabi
li
dade
da va riação, dia&rnosticru· as variáveis que tâm efeito pos
iti
vo ou negativo sobre a
l' mcrgência dos usos lingi.iísticos alternativos c prever
seu
comportamento regular
l sistemático. Assim, compreende-se que a variação c a mudança são contex
tualizadas, (;Onstittúndo o wnjunlo de parâmetros
um
complexo es truturado de
migcns e níveis diversos.
Vale
dizer. os condicionamentos que concorrem para o
t·mprego de formas varümtcs são em grande número, agem simultaneamente e
t' ll1c'rgem
de dentro ou de fora dos sistemas lingüísticos.
A partir de um esquema geral. uma dassi ficação da natlll'eza dos fatores
l 1 1 a n l
na variação configura-se como se segue.No conjunto de variáveis
interna >.
1
lll'O
ntram-sc os fatores de natureza fono-mo1fo-sintáticos, os semânticos. os
discuro.;ivos
e os lexicais. Eles dizem respeito a características
da líng-ua
em v{trias
diillt'llo.,ões.
levando-se em conta o nível do sign ificante e do sig;ificado, bem
tl llllll ns diversos subsistemas de uma língua.
No
conjunto de variáveis externas
·'
ltngua, reúnem-se os fatores inerentes
ao
indivíduo (como ctnia e sexo). os
I
1pna1
ncntc sociais (como
s c o l a r i z a ~ ã o ,
nível de renda, profissão c classe social)
1
tls ,·nl
11l'xtuais (como grau de formalidade e tensão discursiva). Os do primeiro
I
I
1t, ll-l't·n·m-
sc
a traços próprios aos
f'ahmtcs,
enquanto os demais a caractcrístkas
' '
11'\l:llll'iais
\fiiL
or:
1L
Ilvnl\'t'll1 o
l';daniL' or:1
o
l'Vl'lllo de ':da.
Nt···l'' llwn :tpmlllltd:llll
s1· :1s
l ' ~ . l o l
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1/
Introdução à Soc lolingüísti
ca
(l
as
vmiáveis ind
epe
ndentes possíveis que contextuai izam
os
fenômenos variáveis.
Nu entanto, a complexidade dos condicionamentos
da
variação não
permite
a
previsão
de
todos os tipos de agentes correlacionados às variantes lingilísLicas. A
n plicação didática
do
efei to das var iáveis independentes
(ou
g
rup
o
de
fatores) é
um artifício aqui utilizado
que
não reflete evidentemente a atuação simul
tânea
da
rede
de fator
es que interage na variação lingüística.
A contraparte fixa
da lín
gua, heterogenei
dade
e
unidade
~ s t e m a J i n g ü í s t i c ~ n c o n t r a - s c p e r m n e n t ~ n c l } e
sujeito
à
pressão
•k duas forças
que
atuarn no sentido da variedade e
da
unidade. Esse princípil)
c IK'ra por
meio
da intcração c
da
t
ensão de
impulsos
contduios, de
ta l modo que
;1s línguas_ xibem inovações mantendo-se, contud
o,
coesao;:
de
um
lado, o impulso
;1
ariação
e possivelmente à mudança;
de
outro, o impulso à convergência, base
p:t
ra a noção de
comunidade
lingüística. caracterizada
por padrões
estruturais e
L'o.,tilísticos.
Assim
,
as
línguas apresentam as contrapartes fixa e heterogênea de
Iclima a exibir unidade em meio
à c r o g c n c d ~ .
Note-se que is
so
só
é
possível
IH
1
1quc
a
dinamicidade
[i
ngüístÍI.:a é
inerente
e
motivada
.
Prova-se
coml> é
··quivocado o conceito estruturalista
de
variantes livres.
ao ser
demonstrado
qne
:1
;t
riação
é estmturada de
acordo
com as
propriedades sistémicas
das
línguas e
'•l 11 nplcmenta porque é contextualizada com regularidade.
Por isso, a va
da
ção lingüística pode
ocor
rer
nos
eixos diatópico e diastrático.
N,,
primeiro.
as
alternâncias
se expressam
regionalmente, considerando-se
os
l111 i1cs l'ísico-geográfkos: no segundo. elas se- manisfestam
ue acordo
com
os
dJktentcs
estratos soc
iais, levando-:-.e
cm coma fronteira
: .
soc
i
ais /:'Ass
i
m,
11.u lil'innalmente, concehe-se urna ecologia lingüística do ponto de vista horiLOntal,
• 1111 1
;1 constituição de comunidades geográf
icas
com base em marcadores
"TIIlttais; c
do
ponto
de
vista vertical,
com
a geração
de padrões
por
meio Je
lltdlt adml's
soc
iais.
A
recorrência
da atuação de
parâmetros
condicionadores
,ttll;t
a sislcmaticidadc da
variação
de
tal modo
que se
originam
padrõe
s
l'l''c lit ivos tnl'nsurüveis probabil isticamente.
t
11 a d i ~
dialctológica discrelizou considerave
l
mente os
padrões
'·
l' llllllt)'tilo.,lims, dis ting uindo de
forma
rígida variedades
como
"
padrão
culto .
p.11h :11' pujHdnr"
e " "alar regional ''. Note-se que. além
de
traços descontínuos.
1111
111tl1,
·
,uloo.,
nus pcílos rural c
urbano. devem ~ c r
levados em conta recursos
1 llll ll ttWall\'os l>wprios dl' discursos monitorados e não monitorados. O grau de
• , d.tlltt ttl" "V"I'I":tlin> 1 :.ocialnllll'OITC parn a
gama
de
trac,:os
lJUL· tkritl<'
ttl unw
l' , ll
:lltlll
Ol\ III di'';L'II IIIIIIII:I ~ h \ Í I I l l 'OII\Il
:tS
r d a c ; C > ~ · s
soviais as r:t
1:11
il'll
'•l
l
l'ao.,
dtl
I '11\-
'olll
I
11
I
11 )
1.111
tlt·
11'11\;11•
tht
l.d,111f1 ; t i l llil ' Í\1 '\;111 I III \
1d11 Lllll
'
Fundament
ação
teórico: conccll
ll<l<
,. 11 '" ,1
1 1
também
os
estilos formaís e infonna is na rala e na escrita em conh 1111 lll 1.t.
"III
o con tro
le
e o monitoramento
da
produção lingUística. além do pla no tl;ll tlllth
t
.1• '
c de
cons
iderar-
se
o grau di
fe
renciado
de
envolvimento dos falantes
tiU', dt\
11
1 1 ,
gêneros
discursivo-textuais. Desse modo. incorporam-se questões COIIH, ; , , ".1 IIli.)
do
estilo
que se impõe ao
fa lante p
ar
a acomo
da
r-se
ao
seu interlocutor. o
l'' 'll'
contextuai na produção dos enunciados, o grau
de
complexidade o g n i t i v a ~ : t)'ld.l
no
tema
c a familiaridade
do
falante
com
a tarefa comunicativa realizada.
Qua
lqu
er que
~ c j a
o eixo, diatópico/geográfico, diastrático/social. uu
d1
·
outra ordem, a v ~ i a ç ã o é contínua
e,
em nenhuma hipótese, é possível demarcan•ttt
se
nitidamente as fronteiras
cm
que
ela
ocorre.
É
preferível falar
em
tendência
-.
a empregos
de
formas alternantes motivadas si mult<mc<m1cnte por condicionamentos
diversos .
Sstematic idade, legitimi
dade
e esti
gmat
ização
Num
a perspectiva c ientílica, cabe assinalar que todas as manifestações
lingüísticas são legítimas e previsíveis, a
in
da que exista flutuação
estatística.
E
mbora
os
julgamentos de
valor não se
ap
liquem.
os
padrões lingüísti
cos
estão
sujeitos
à
aval iação social
pos
itiva c
negat
i
va e,
nessa medida,
po
dem determinar
o tipo de inserção
do
falante na
escala
socitü.
Estigmati zação lingüística e mobilidade social
co
nstituem temas de interesse
aos sociolingüistas. Em princípio, estruturas de maiorvalor de
me
rcado que recebem
aval
iação positiva
pa
ramet
ri
zam-se com
grau alto
de mo n
il
oramcnto
e
de
ll'tra
men
to. Maior sensibilidade, percepção e planejamcnto Jingüí;;tico são, via
de
r · ~ ~ r a .
pré-condição à produção das formas
de
prestígio e disposição adequada
para
.e
liminarem-se estigmas sociolingüísticos
na
fala ou na escrita.
Os sociolingüistas têm-se voltado para
a análi
se dessas relações
, e o
l
ll
t
"co
nccito lingüístico
tem
si
do
um
ponto
muito debatido
na
área.
pois
ainda
p11·d1
1111inam
as
p r á t i c a ~
pedagógicas assentadas
cm
diretriLes maniqueísta:,
Jo
ltpo certo/errado, tomando-se
como
referência o
padrão
culto.
As
línguas.
em
n:d. ;qxcscnta.rn
uma
diversidade que se distribui
cm
conti ww n,
da
qual o
1.11.111k adq ui
re
prime
iro as
variantes informais
e. num
proeesso sistemático e
I'·"d.tltno. pode vir a apropriar-se de estilos e gêneros
mais
formais. aproximaudo
'•1
d.ts variedades cultas c
da
tradição literária.
'l'mla
llngua
portamo apresenta variantes mais prestigiadas
do que
outras.
h
",itldns soc iolingiiísticos oferecem v a l i o ~ a
co
ntribuição no se
ntido de
destruir
ptn1111
n· i1n
s
l i n ~ i i í s t i c o s
l'
ck·
rclaliv t
za
r a noção de
eJTo,
ao
buscar descrever
o
t' · '' · '
lt
·.
d qltl' a l'\\'Lll:i.
j111lT\l'IIIJllll
.
pnwttra
dl·sqlt:tl i ic;uT haui1
como
ex prcss:iu
IIII •111 \ 111 :1 11.11111
l i ' II 'P IIIIII
I
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 7/61
I 1 Ir oi•
"
h
•
o
11
o
io
)
lo )lillL)UI
Sfit..U
Adotando uma metodologia
Como toda área de conhecimento, a Socio lingüíst i
ca
ófcrecc di ferentes
modelos
teó rico-metodológicos
para
a anúlise da variação e da
mudança. Este
livro apresenta a maneira < :o mo a abordagem d Teoriad Variação instrumentaliza
a análise sociol ingüística, cujo precursor é o lingüista William Labov. Esta
é
a
linha adotada cm função de ser
cons
ide
ra
da teoricamente coerente e
metodologi-
camente eficaz para a descrição
da
língua em uso
numa
perspectiva soc iolin-
güística. Não se exclui.
porém
a
relevância
c a
contrib
u
ição
importante de outros
diferenciais de análise.
Portanto. todos os capítulos que compõem a presente publit:ação orientam
paulatina c gradualmente o le
itor
no treinamento
em
direção
ü
prática da análise
correlacionai de base quantitativa.
tipicamente
labovia.na. Aqui estão expostos os
postulados
conceituais necessários. tabelas. gráficos
e
figuras
que são
im
po
rtantes
para
orientar o trabalho no âmbito teórico-metodológico adotado.
além
de diretrizes
para a adequada interpretação
de
re)>ultados.
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 8/61
3 elevânci das variáveis não lingüísticas
Maria eci lia A/nl/t
Efe
ito
de
agentes externos
Como já sabemos. a variação lingüística é uma das característicm; un ivc 1
das línguas naturais que convive com forças de estabilidade. Aparentemen te caol 1 .1
e aleatória, a face hcterogênea imanente da línguaé regul
ar,
sistemática epre\ is I\ l I
porque os usos são controlados por variáveis estruturais e sociais. Eles pode1rr Sl l
agentes intemos e externos ao sistema lingüíslico.
Das variª-.veis ou ~ a s registram-se qs man.:
adu11
..,
regionais predominantes em comunidades facilmente identific
adas
geogra1kallll 111 1
simultaneidade a indicadores de
t r a t i
e s t i T í s t l . c o ~ o c i a l ,
de ron wrqr11
a variação projeta-se num contínuo em que se podem descrev
er
tendências dl· 1
lingüísüco de comunidades de fala caracterizadas dil'erentemente quanto ao
jll
'llll
sociolingUístico. As variáveis, tanto lingüísticas quanto não-lingüística . nãu
" 'i'll
1
isoladamente,
ma
s operam num
conjw1
to complexo de correlações que inihl lllllll
favorecem o emprego de formas variaptes semanticamente equivalentes P111
exemplo, agentes como escolarização alta, contato com a escrita, com
os lltl ' lu
. .
de comunicação ele massa, nível socioeconômico alto e origem social a
lt
a <.:onco1
rem para o aumento na fala e na escrita das variedades prestigiadas, ad mil
i11
dP
se que existam pelo menos o padrão popular c o culto.
Questões e debates
São
bastante avançados os estudos que correlacionam as variáveis
v o
1
gênero, idade, escolaridade e classe social, dentre outras, a fenômenos tk uso
11 .1
l ala e na escrita. Mesmo assim, não nos pare
ce
ainda po ssível dar como cc•nclu
11la
11
discussão acerca de um efeito padronizado dessas variáveis sociais conl vr
s1:
1
.
a responder a algumas questões, a saberl.:l) o grau alto de escolarização l <lll l ' l l
l
t
para um comportamento lingüístico ajustado ao padrão cu lto? h) o gênero ll.·111inillo
t'
111ais conservador do ponto de vista da norma? c) há uma relaçüo entre l'SI
Í)'rtlot
11 /:t\ i ío sociolingi.iística. status e mobilidade social?
d)
qual
o
impa<.:Lo
da
11rrtlra
.
obre:\ Var iação s t i c a ' ? ; f ' ~ S S t . S
l
llti (J'(lS rontOS SÜO prohknlaiÍ/illlus
qll:tlldo
l'tHidaeiunal llOS vari<Íveis u;ín 1111)'111 .lll
:1 -. :t
i' l 'IHllllLnos lk v a r i : t ~ , ; n o
Nl''ok
11\ '
.tjll II:IS :tlgll llS S:l(l I'
Ol i t i i i :Hhl
\
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 9/61
:•i
li•li
" '
hll
1111
I
:
u ht lli'llW.II•"
. . . . c 1970 Labov (1972) investigou o el'eito
.la
nus
tdos dos .mos
I
e b' do inu\ês padrão e não padrao,
. , . . dessa natureza so re traços
o
d
v ~ r - . o s
Iatorcs soctms . . trar ue o B\ack English vemacular, varleda e
t k d ~ ~ : a n d o - s e s o b r e m a n e t r a a d e m o n q .t '
tn
razão de pressões étnicas,
t
. att'zada sofre preconcet o
e ' .
ntn:mamente
es tgm . ' . Cederoren ( 1978) demonstraram
. -
1
sse soc
1
al Sankoff, Kemp & o . . al
,·-.n)lanzaçao e c a .
d
d
1 .
as discursivas e status proftssJon
1 • - alo
r
de merca o
c
01 m · · · _
lJIIt.: ~ . ; s c o l a n z a ~ o v . . rau neoativo ou positivo de marcaçao
..,- - 1 .antes par'\ determmai o g
o '
d
dns talantes saore ev · ' .
f
1
1
.
cotn rna
10
r cotação
no
merca o
· f
" ' · t
S
'
'I
an
CS
-
,
0
cial das alternativas mgu:s Jca. · • . de maior prestígio. As contribuições
, . d .
lançar mao de estrutmas
979
tllgütsttc<:_:ten
em a . (
1979
) e os trabalhos de Kemp
(I
Laberge (1977), Clennont & Cede.rgtend·
t
·e de que empregos lingüístiws
l'
1981) consolidaram
r e s u l t a d ~ s
a favor '1. e d ~ v i ' d u o s con' prestíuio social alto.
f .
almente em m t • ' ·
o
prl sügiados acham-se pre e r ~ n c d . I· mente para ::;e verificar o seu grau
AA s ~ o l a r i z a ~
t e ~ 1
s t ~ o ~ : ~ o ~ : : ~ ; : i a ç ã o da norma de prestígio. Num
tk
influencta sobre os
fal<tnte
. q s·J . & S ·herre (1996), três tendências foram
painel bem amplo a p r e s e ~ t a d d o em . ; . v ~ . sobre as formas padrão, próprias a
observadas quanto ao efeJtO a esco anza ,
eslilos e gêneros mais rormais.
. l'ahntes
entram
na
escola
oscilamlo ent
re um
a) Podem ocorrer casos cm qu e ~ l s ' . .- . . . . la "poda" a criança qut: não
, .
da
v·lrtantc pad1ao, a
esco
.
grande c um peqw.:no u
so
. ' N
~ c s
c·tsos trata-se
de
variant
es
esltg:tna-
.
olda
ao s
istema
de cnsmo. ( ..) cs. . , . . . . .
~ ~ = : s
pela escola, que
chegam
a "er sistematicamente o r n g l d a ~ .
. . .. · 'o<
ralantc::.
entra na escola sem usar a variante
E
t
. . ~ o s t:lll que a m,uo11a u ' , .
1
b) mou 1os ·
1
:
.
-ao
sem que desapareça, porc:rn.,
, J · ·
0
.
1
durante s ua csco a11Zc1Ç · d
padrão, esta e a C(Uill ' · . . ·colarsó há n d i v í d u o ~ que tcn cm
- d -
Encluanto no pn metro ano
cs
, .
variante nau pa rao. . , . ·o ares
h·í
falantes
qu
e tendem a
. - ) ldr'ío nos últ1mos anos eS\: · '
a u ~ a r a v
an
ame nao-1 ' · · · .. .
1
'io-p·tdr'io não chegam
a
ser
usar ambas as v a r i a n t e ~ .
( .. )
Algumas
vall.m t S
n,
- ' ,
·
1
. . se
ndo objeto
de
corrcçao.
estigmatizadas
pda
esco a, n.to .
. . .d· d • ocorre uando falantes entram na escola
c)
finalm
ente,
um
a terceira
o d c ~ l
'
1
c_
1
.';
0
m a ~
p·tuhlinamcnte, substituem
apenas com a variante que c o n ~ t d c ~ · a nao pac ' a • . . ' ,
essa
variante pclu
co
nsiderada padrao. •
E
19
ll6
346 i48-349)
(S
ILV
A
&
SCllERR
·.
7 •
P· •-
. , . d . a ·ão decisiva que ati v dades de letramento
Bortont tambcmtem observa
o :
rticas de base inteiramente intuitiva
podem ter sobre os alunos, mesmo que < ~ m pra ,
por parte dos professores.
.- . .
..
de cótl.ioo e de intcnrcnções d o ~ professores
es
l
fto
(
..
)
s
p a d r o c ~
~ l ú ? · i l l ~ ~ . te
~ t c s
dt:sctwolvcram
com
basecm
seu
Sis
tema
.
associados acslratcgtas ln tuJllvasql d l e s t i " t L c ~ g intuitiv<ls usadas plll
1 t
Entcn c
mos que < · • ·
de crenças sob
r
e<> m e n
o.
_o.
de tllll'l pedaoo iaculluralmcnte sensível
t :b
'rpanaimplementaça '
e l e ~
podem
con l i UI ' • ' . , • • • d· s
que
,e lhes proporcione
c c s ~ o
e para que isso se to rne_mats e ~ ~ ~ ~ amo
a
infonnaçõc
s sistemáticasde Socwhnotnsllca. (BORTONI,
1994.
p.
92)
h
1
t •lt V• IIII 1t 1 1l1 l o \/I III< VI I h I I I
III
<
lll
',hl I I / J
Sobre u ponuguês brasileiro, os n:sultudos até cnlilo obscrvadus I'"'·'\ • rl11
"'
se a pertinência da relação entre estigmatização lingüística prcsltgro S
Dl
'lal .rpnnt.llll ,
de maneira diferenciada, a importância da cotação de mercado da
form
a l l l t l ' l l l r
De acordo com Bourdieu (1977),
as
manifestações lingüísticas recebcntlllll 'aln1
dn
que ele denom inou "mercado lingü(stico". aliado a renda. sexo, faixa
L'lúria
1· 11
escolar do falante. O efeito da
mídi
a sobre as variantes de prestígio
tem dL'SI'l
't
.11
J •
interesse e tem sido objeto de estudo para verificar-se até que ponto há
n f i U L t l l l < ~
1
h
·
meios de comunicação nos comportamentos lingUísticos (cf. Nm·o & Schenr.
III
1
As evidências estatísticas
na
referida coletânca sugerem que
rc11da
,
' ·" ' ' '
de mercado, midia e sensibilidade lingüística, conjuntamente com outro-. p ;11 , 1
metros, podem ser bons indicadores sociais. Alguns resultados servem
de
l'OIIlJll n
vação
de
que a variável mercado se mostra relevante, pois demonstram qw
quanto maior a cotação na escala do mercado ocupacional, maior a
cha11n
d,·
haver ajuste
à
norma padrão com relação
à
concordância nominaL por C\l'llt[ll••
fenômeno inegavelmente marcado socialmente.
A questão, em princípio, goderia ser simples se todas as
e v i d L I I l t . l ~
revelassem uma correlação constante e regular entre estruturas linglíi, lh
.1
standard prestigiadas,
<..le
alto valor no mercado lingüístico, diretamente prop< 1n
·iout.ll
a
grau alto de consciência lingüística,
em
indivíduos mais velhos e cscolarí;a dt 1
de classe sócio-econômico-cultural alta. Isso posto como verdade absoluta.
L'"lwt.ll
se-
ia
o emprego de estrutura<> padrão dos grupos mais escolarizados e ma1s s ~ I I S I \ 1 1
ü
diversidade lingüísti
ca
em relação à necessidade de adequação
"" ""
alternativos em estilos e gêneros de grau diferenciado de f'orma lidacle lanlo n:t l.il .t
quanto na escrita.
A
realidade é, contudo.muilo.mais complexa.
O u::;o da forma seu alternando-se com a fonna dele para indicar o possuidor na
tcn.:dra pessoa, acha-se em extinção
na
fala do PB, no entanto
é
standard,
de
l r a d r
;111
li
tcrúriaealtamente presti6riado, como bem demonstrou Silva (1982), num trabalho
'I''
'
l'\amina as atitudes lingüísticas em diversas classes socioculturais. Em rclaçüo
.10
" ' · ' '
1 ~ : .
1
t1antcs
classificados como mais conscientes e de renda mais alta aprescnt<llll
111;1111
1
tuítncro de empregos
da
fonna prestigiada. Contraditoriamente. a<; variávei-. tlluiJ;I ,.
llll'n:ado ocupacional não exercem inllnência sobre o
uso
da forma seu.
Por razões funcionais, a forma dele (desambiguadora) vem se sohtt•pnthl"
.unplamcnte à orma s u entre os falan tes de maior nível social e cultural c s l o ~
-.1
11d1 •
tudusive veic
ul
ada
na
rrúdia, ainda que contrarie os ditames do padrão cullll. l.u
.1
p.utL'
do imaginário dos falantes como a forma recomendada e seja lrahalltada 11.1
t".rolu. Esse exemplo
é
extremamenteútil para anossa reflexão.fomeccndo dL'tlll 'lilt ''
1
1fliTl'
lOI\ para a constatação ainda mais contundente da complexidade do cktlu olo
lltdil·adorcs sociais sobre o perfil sociolingüístico dos falantes.
Numa sociedade tão complexa como a constituída pelos ralantes
d( 1
PB. plldctlt•
t·
I" 11
-.:u
l'lll inúm eros ind icadores sociais.sl'ja de exclusão c indusüo. sl· ja<k u l l d o ~ d .
• lltohllrdadc o;uciaL
Ori
ge m "'" wl wtula.
íllTSso
a IK·ns lllall'llaís
L'
L'llhiii.Jt•,
,,
1
11
ll l
•lill
"1kk-.. a-.o.;Íill
l'\llllOI
lj>O I J- III ll(l;tl .111 'l oltl
III
SI' JI
,': U
\ III ll
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"i Sill I:W, 1
Jllllt l i
'
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 10/61
,li I 11 ' " •<
III•
'I• •• I
•I 1\ •IIII Jl
•
:.111
' I
t
l 1 a t n h ~ : r s
(I
1
)l)5)
julga que c l s ~ e socia
l
é
o
aspecto mais marcado
IIII '"'"''L.IIIlentc na s nações intensamente industrializadas e a estratif1cação social
ptldt· sl. l ohservaJa com base em indicadores ocupacionais, educacionais
e
tTI
111o11licos. Para o autor, nos círculos sociais mais fechados e localizados. temos
a o.
l l ' lb
sociais da família,
da
vizinhança, do clube e de outros locais de identidade.
Il t r11di
ccs mais
ob
jetivos de classe social. outr
os de
carát
er
bem subjetivo.
Em
Sl '
IIS estudos, T_ :uqgill (I 974) oferec e índices detalhados para demarcar classe
snt"ial, tal como localidade, tipo de casa etc. Note-se ainda que mobilidade social
pode licar ao sabor
da
avaliação das pessoas e s
ubm
eter-se
ü
cons
tituição
de
~ · . t e r c ó t o s , como a categoria de nouveau riche
Nem
sempre variedades
de
prestígio,
com
alta cotação de mercado. são
m·c.:cssariamente assimiladas pelos falantes. Há casos que, por raLões outras.
nlllstituem mudança
em
curso e,
por
isso. os padrões lingUísticos devem
ser
compreendidos também pela sua natureza ilinâmica. Esse é um dos motivos pelos
quais não necessariamente os movimentos dos indivíduos na dircção de ascenção
soda) redundam na apropriação
de
recursos lingüístico-discursivos monitorados.
Estudos pioneiros no Brasil no âmbito do
PEUL
(Programa de Estudos
sobre
os Usos
da
Língua), citados e sucintamente mencionados em Paiva &
Scherre (1999), procuraram correlacionar a utilização de construções prestigiadas
e
Hão
prestigiadas com variáveis como bens materiais, bens culturais, origem
social. Os resultados não foram tão surpreendentes quanto
se
esperava, o que
pode significar que essas categorias não são mensuráveis por critérios lingüísticos
ou são subcategorias que representam pré-condições a uma trajetória mais custosa
e/l)u mais longa que o indivíduot
em
que pen.:orrer no eixo vert ical da estratificação
social, durante a qual a língua é uma das propriedades no conjunto de propriedades
que compõe
finalmente o patrimônio social
de uma
pessoa.
A husca de vtu·iávei.s sociais não convencionais
p a r r ~
o e
nt
endimento da vmiação
lingliística numa o c i c d a d c tão complexa como a brasileira. cm que a categorização
por clas'\e sot.:ial segundo parâmt.:tros como renda, locaJ de moradia, escolarização
c profissão não é claramente delimitada. tem motivado o contro le de a s p e c t o ~
mais su tis da ambientação material c cultural dos indivíduos e do seu grau de
intt:gração aos valores
veiculados pelos
meios de comun icação de massa.
Concebidas na forma
de
escalas que cont rolam a relaçã o quantitativa e qualitativa
dos
f a l a n t e ~
com os produtos culturais (como mídia televisiva c escrita, cinema,
teatro e outros) sua posse Je bens materiais disponíveis no mundo moderno
a p a r t a m e n t o ~ .
carros,
t e l e f o n e ~ .
viagens etc.) c suas expectativas em relação ao
fu turo, variáveis corno bens materiai
s,
bens culturais e motivação vêm insinuando
uma outra forma de exame de variw,:ão ~ o c i o l i n g ü f s t . : a ( ..)Conjugadas com as
variáveis mais convencionais, como idade. sexo e escolarização. essas vm·iúveis
mais refinadas permitem detectar lcndênc
ia
s divergentes no interior da mesma
comunidade de fala.(
.
. Revela-se, portanto. estreita correlação entre a complexidade
~ o c i a l
e os processos
de
variação.
(PAIVA SCliERRE, 1999, p. 220-21)
1\• h )\>1
11
I• h I •I· '• ln I II
11/IIJ
• J
1
I•
I
liii•J•
11 11• I
li
Algumas considerações
. Como podemos vincular as questões r , . . .
t l o r c e barreirasde exclusa-o e bili'd d.
l s t t c a s
suctnt
amenk
cxpost.J.,'
lll
tt
. . mo a e social? A
·.
.:- . .
eaulllizaçãoadequadade
.
1
.
..
.
a p r o p n a ç . t o d
< ~ u l l l u
; t l l I J . t d , t
recmsos mouísDcos são sufi . . .
que os indivíduos OCLtp"'·n na , al
.::o •
1 c ICtentes para I
ll
dJc;lltll'.'l'·'\'
c <u
esc a
s o c ~
e/ou
dete.
. .
t .,.
Se
há dú ·d· In:unar mO)I tdaJc
'"l'I:Jf''
. . . VI as quanto a alguns dos indicador . · .·
IdentifiCadores e deternu· d d . es
<Lq UJ
men c.:Jonatlns l'""" 1
na
ores e
status
soe
a
l
h
.
consenso absoluto e
queJ
·á sa-o d . , a outros sohrc os (jllõll'-
11.,
· e senso comum A fome ,
d'
-
no que se refere à habitaça:-o s· 'd d - . - , con Içoes suhlllltall.,.,
· · au e. c ucaçao sao
bru
· ·
co
nstituem impedimentos aos
l·nd·
'd ,
'd
. Tetras mtran
..
pnlll\ l' t•. '.
. · lVI
uos a c1 adanm plena
s
b .
convtve com esses agentes e
d' l
' . a emos lfliL'nlii:J·.II
· · ·m 1 erentes graus d d . .
nosso território. · a cpen
er
da local hei,· ,.,,,
Segundo o último Censo os indic·tdores . .
positivos. No entanto a c o n c e n t r ~ ão ' . soc tals apresentam .. l "'·"
tem concorrido
pru·a
g'ue un1 gr· dç . ~ o p u l a c w n a l nos grandes centros li I halllt
,m
e universo
de
pessoa . . t h .
miséria, embora os índices apontem melho. ·, . . s en a-se 1
:1
flnltii d.t
tativa de vida renda sau'de e es ··d d
rela
para os brastlerros quanlo a
l \ j l l
' ' · co
an
a e ontudo ·s · - · .
par·a
promoverdistribui·Ç,-lO · , · d . . ' I.
SO
nao tem
SidO
su l 1 11 III o•
· '
ma1s
JUSta
e
nqueza
no p· ,
d'
. . .
eamortal
idadeinfantil • lh . ars,para
Imtmllra,
.
url' ' ' '
, para
me
orar a qualtdade de nosso ensino.
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 11/61
4
variável
gênero/sexo
Maria da o n c e i ~ · i i o
r
• /'1111'•1
O interesse d variável sexo
Homens e mu
lh
eres falam
dif
erentemente?
A
pergunta
pmk
pa11 '1
11
t ó r i c a
se considerarmos que qualqu
er
observação s
uperf
icial nos
Jll
' llllll•·
constatar que diferenças de timbre e al tura determ.inam especificiliadl's d:1 ' '
l'
c
min in
a e da voz masculina. Homens possuem voz mais grave e mais
h.tl
\. 1
lllu
lhcres possuem voz mai s ag uda e uma oitava mais
a1ta
que a
vo:r nwsc
11l111.1
I
mbora essas diferenças possam ser interessantes
do
ponto de vista fisi,,Jn:• 11 ·
nao constituem o centro de interesse da Sociolingüíslica. Para essa
discipl111o1
. ,,
~ . : s t ã o a ser respondida é: em que limite c de que fom1a
fe
nômenos 1 1 1 .. .
variáveis estão con elacionados
ao
genêro/sexo do falante?
A 1
diferenças
mai
s evidentes entre a fala de homens e
mu lh
eres
st·
s
lll
l.tlll
nu plano lexica
l.
Parece natu
ra
l admitir que determinadas palavras se
si
tu:tlllll
ll
'
lll••
l
11:1
boca de um homem do que na boca de uma mulher. Nas sociedadl. s ocíd1'111 11
.
n
ex
istência de
um
vocabulário
fem
inino e
de um
vocabulário
ma
sculin(l
~ ~ •
nt l.
nos
acentuada e
te
nde, prog ressivamentc,
ao
desaparecimento. O que
nau
i
11pt·
tf, ·
l' lll
rctanto. que ainda possamos ouvi r e utilizar expressões como nao
lw:
1
H"I
II
para uma garota falar d
essa
forma .
A análise da dimensão social da variação e da mudança linglll \
ll
•
1 11. 111
pudl.
ig
no
rar, no entant
o.
que a maior ou menor ocorrência de ce11t
-.
' .,, . llll•
pr
in
cipalmente daquelas que envolvem o binómio forma padrão/fonna
n:H'
I•:uli
111
l ·
ll
processo de implementação de mudanças estejam associados ao
).'1'11•
l••"·
•
·w
do 'alante e à forma de construção social dos papéis feminino e masnil 11n
Alguns estudos
\
p
ri
meira referência
à
co
rr
elação entre variação ling
Uí
stica c o l':t1o1
·
ro
•
' 1'\0 se l. ncontra em Fischer ( J
958)
em um estudo intitulado
ll lu uc as
1111
' '
1111 .ICO Iw de t•ariantes lingüísricas. Analisando a
va
riação na pro11 11
1h
1.1
-.
111 i
xo
inglês
-
in
g.
fonnador de gerúndio (
1ra/k
in
g, Io /kin g).
n
a111nr
\
'l'
l Iw.1 q1
11
pro
i
HÍn
c
ia
ve
lar e
ra
mais frcqi.icntc cnlrc mulhc
rc'>
.
No
ll'
s
qul'
t'\:o..t pH'lt
'
ll
11
1
1.1
nan,· 1'stlltado
de
uma escol
ha
akat
t'
ul .lt'
lll
n·dll:l' . pronuncia
i. l:
tlll ll'
lll
l' 1,,..,, 11 11.
du
O IIfl
\o
.
f\ dil'\- rL'Il\';1 l' llll l'
:1 (11•
•1111111
l;t
\1 '
1.11 III I
tklll;tJ dn
o llli
\lltll
fl
•
S(' lldt•
.1
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 12/61
,
1
dill'IL'Ilça de valorização social: forma prestigiada versus forma não pn.::-.
ti,.iada. rc:-.pectivamcntc. O que Fischer constata,
~ a n t o , é
que a forma
pn•:-.t íg >
1
ende a predominar na fala feminina. Podemos t ~ r p r ~ : a r . esS< c o r r e a _ ç ~ o
\ co
1110
utn indicador
de
que as mulheres
~ r e f e r e
as formas
hn
g
Ui
stlcas de prest1gto
jt
' -.ao mais sensíveis a uma nom1a de lrnguagem?
Diversos outros estudQ,s de orientação sócio-variacionista puderam corroborar
a t:onstatação
d ~ r
gênero/sexo pode ser um grupo fatores
i t i c i v o
para processos variáveis de diferentes níveis (fonológtco, morfossmtáttco,
sL'mfi
ntico) e apresenta um padrão bastante regular em que as mu lheres demons
tram maior preterêneia pelas variantes lingüísticas mais prestigiadas soctalmente.
Mantendo-
nos
no nível fonológico, observemos os resultados encontrados para a
:-.upressão variável da vibrante nos grupos consonantais
] J r o ~ l ~ m a o b r ~ m a
1
m>prietário/propietârio) na variedade carioca, que,
d ~ ,
c o n ~ t v e m
u
111
a variante fottemente estigmatizada c uma vanante padrao (Molhca,
Pat.va
Pinto, 1989). Os resultados da tabela 1 mostram nitidamente que as mulheres
11
ti
li
1.am
ma
is a forma padrão (sem a supressão da vibrante) do que os homens.
Tabela 1 Influência da variável sexo sobre a supressão da vibrante nos
grupos consonantais
Gênero/sexo
Frcqüência
PR
Feminino
280/1137 =25%
.45
MascuUno
468
/1
411
=
33%
.57
Um exemplo ilustrativo da correlação entre gênero/sexo c urna variável
morfossintática é o da concordância entre os elementos do sintagma nominal. Na
aná lise real izada por Scherre
( 1996,
p. 254) foram encontrados para gênero/
sexo, segundo grupo de fatores selccionado pela análise estatística, os índices
111ostrados na tabela 2, adaptada da autora.
Tabela
2- Atuação de gênero/sexo na concordância nominal
Gênero/sexo
Freqiiência
PR
Masculino
1763/3953 = 45%
.42
Feminino
2556/4080 = 63%
.58
A variante mais prestigiada, presença de marca de p lu ral em todos os
l' k
111
cn os do SN, é mais recorrente entre falantes do sexo feminino e dim
in
ui
Sl' tlsivclmente entre falantes do sexo masculino.
, , Também no nível discursivo podem ser depreendidas correlações signi
t'i-
l'
:tll
vas entre variação lingüísticae gênero/sexo como, por exemplo, na alternância
\'lltn· as rormas de tratamento
tu
e
você.
A análise de Paredes e Silva (
1996),
\ V• IIIIIV< •I ' 11111• •/•,,
,\
1
L'Ottt lw;c 1 1 1 dados de inleração face a face entre fa lantes cariucas. nH> stt :l qt
11
a ocorrência do pronome de segunda pessoa tu sem concordância l:OIIl 11 \
1'1
1it lfl er iiiW cerve a? é mais freqüentc na fala de homens (peso rela ivo
dv
.'' 11
do que na fala de m ulheres (peso r
el
ativo de .43).
Diversos outros estudos sobre processos variáveis do português <tponf<tlll
i
Xu-<t o que poderíamos denominar uma maior consciência feminina do staftt.\ :-.lttt;
tl
c.Jas
formas lingUsticas. Mas essa tendência pode ser constatada . igualnK'liiL. l ,,,
outras línguas, como na queda variável das uclusivas ltl e [d l cm"'nnal dL stl:th.t
(walkedlwalke ,
no inglês fa lado em Detroit (Wolfran,
1969)
ou na van :H
tt,
entre os pronomes 011 (equivalente a
a gente
e
nous
(nós) que estú na l l l t
de alternâncias como Nous al/ons
u
cinema/On va
u
cinema, no l r:IIH I
fa
lado
em
Montreal, Canadá (Laberge. 1977). No primeiro caso. a qul'd.t d.t
consoante final é mais recorrente entre falantes do sexo masculino. No CXl' lllplo
da variação entre 11 c 1zous a segunda forma, considerada padrão. L 1: 11
freqUente entre as mulheres do que entre os homens.
A análise da correlação entre gênero/sexo e a variação lingi.iística tL tll dt
·,
nccessa_:.
iamente, fazer referência não só ao prestígio atribuído pela conHitlld.tdl·
.1s
variantes lingüísticas ~ o também à forma de organização social lk llt1t.t
dada comunidade de fala. A consistênciado padrão que aponta o conscrv:tdm ts' ' '
lingliístico das mulheres emerge da análise de vadações cm comunidades d
1·
l.
tl
.t
ncic.Jcntais,
que partilham diversos aspectos da organização sociocullural. ,...,.,,
pad
r
ão
pode ser rcvcttido, no entanto, quando se consideram dados de con 1111 idw j, ,
dL fa]a caracterizadas por outros valores culturais c outra forma de organi1; , tP
\ocial. Um exemplo ilustrativo é o da variação entre oclusiva uvular. ,,
glotal eoclusi va velar em árabe. O estudo realizado por Haeri (1987) em dilt'll' lllt'',
l·umun idades muçulmanas mostra um outro padrão de distribuição das a n ; t t t
1 111 relação a gênero/sexo: a variante uvular,
fom1a
de prestígio baseada
no .lt .tlll
ltlcr{u·io. predomina entre os homens; as mulheres , por sua vez. estão a:-.sm
iitd.J
.to maior uso das formas não prestigiadas. Como discutiremos mais à
frcnl
l' .tllhl .t
que os padrões de correlação possam diferir, eles refletem mais do que di I'L·
n
11
\ .t ,
ltit
>kig
icas, diferenças no proces so
de
socialização e nos papéis que cada l'll t
111
ntdadc atribui a homens e mulheres.
Essas diferenças de socialização podem se refletir até mesmo cnt
l'S
itl,
,•,
II
IIL'racionais distintos. A am'íl ise de conversações espontâneas tem PL'IIIItltdu
tt
u1strar diferenças significativas na forma como homens e mulheres condll l l'llt "
tttll'ra<_:ão verbal. Enquanto os homens tendem a manifestar um cs lilu
11td1·pcndcnte c uma postura gue garanta seu prestígio, as mulheres
orknt :
1111 • ''
"
'
1
''
ns ação de uma forma mais solidária.que busca o envolvimento do
tnt
t·tlnl tth u
( l':tllllL
Il
, I
Y90: Coulthard. 199 l
).
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 13/61
lfo hor<olh lc ti <I
:,.,,
ICJ lll ltjlll
:i
ll 11
Gênero/se
xo
e
mudança
lingüística
Uma
outra questão relevante para o sociolingüista
se
refere ao papel da
v:1riável gênero/sexo na mudança lingüística. Essa variável pode atuar como um
vch 1' ue propulsão ou retenção de processos que implementam uma nova variante
no
sistema? Quanto a esse aspecto, resultados obtidos a partir do
t u d o
de uma
vasta
gama
de fenômenos ainda não podem ser tomados como conclusivos, pois
111dicam
direções contraditórias. Não raro, as mulheres tendem a liderar processos
de
m u d ~ n ç a
1ingüfstica, estando. muitas vezes, uma geração
à
fren
te
dos homens.
Tal tendência delineia-se, por exemplo. no estudo de Labov ( l
966).
sobre o inglês
de Nova
York. O
autor constata que a pronúncia retroflexa do [r] pós-vocálico
(L'IIl
card,
por exemplo), fonna inovadora, tende a ocorrer mais freqüentemente
na fala das mulheres do que na fala dos homens.
No estudo da cotTelação entre gênero/sexo
e
mudança lingüística, w11 as_Qecto
a
considerar
é
o valor social da variante inovadora.
Um
processo de mudança pode
sera instalação de uma forma prestigiada
soc
ialmente ou de umaforma estigmatizada,
que infringe padrões lingüísticos vigentes. A distinção entre esses dois tipos de
mudança pennite definir com maior clareza o papel da variável gênero/sexo nos
processos de mudança. Quando se trata
de
implementar
na
língua uma forma
socialmenteprestigiada, como nocaso da pronúnciaret.roflexa em Nova
York
citado
acima.
as
mulheres tendem a assumir a liderançada mudança. Ao contrário,quando
se trata de implementar umafonna socialmentedesprestigiada, as mulheresassumem
uma
atitude conservadora e
os
homens tomam a liderança do processo.
É preciso notar, no entanto, que nem sempre essa equação se aplica de form a
inequívoca, visto que. em muitos processos de mudança, não está envolvida uma
polarização evidente entre uma variante de prestígio e uma variante
não
prestigiada.
É o que ocorre, por exemplo,
no
caso da alternância entre as formas
nós
e
a gente
para a expressão da primeira pessoa do pluraL Como mostra a tabela
3,
reproduzida
de Omena (
1996, p.
l
4 ,
o uso
do
pronome nós, variante mais conservadora, é mais
freqüente entre os homens. indicillldo que a implementação da variante inovadora
a
gente
está sendo liderada pelas mulheres.
É
difícil.
no
entanto, afirmar que
se
trata
de
um
processo
em
direção a uma forma padrão ou
não
padrão, dado que as duas
vmiantes não
se su
jeitam a uma avaliação social explícitaou à exclusão normativa.
abela
3-
Atuação da idade e sexo sobre o uso da f01ma
nós
Sexo
Masculino
Feminino
7 a 14 anos 22/288
=8%
.23 30/285 =
11
.30
15 a 25 anos
31/359
=9%
.24 70/392 = 16% 40
26
a 49 anos
85/385
=
23%
.53 158/359
=45%
.74
10
a 71 anos
175/320 =55%
.81 100/248 =
41%
.74
A
•
I I I }\ ·I
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''
II I
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;\ s J l u a ~ , ; · : J o contraria.
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os llonlens litk'r;uldn o jlHWl''-' " <h·
11111
I
l.llnlwm
pod:
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em:ontraua. É ocaso,
por exemrlo. da
suprL·ssao
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VJhJ ~ / , ~ , ~ ~ :I
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I • I· . . .
1
,
A
1
. . · t c t r g ~ L'\lc' JJ \ ,Jil ''
jll.l l l ~ l l c s )l'{tsdeJro. De acordo com o est
ud
o de or ,· ' l f t i U )
. . . . . · . _V<.:Ircl L .J \
1111dlll1•
•,
1 : ' ~ ~ t : J v a ~ n
o
segme
nto
Vlbnmte_signiticat:ivamentc mais
do que os hollll.'ll\. k\
i II lc•
.I
t < : I.
P< H1<t
nto,
que
o processo esta sendo impulsionado pelos flli'"ltes d<) , . .
I
o '
d '
UI
• St:\() lll.l \1 1 III• •
'. ., . e
e n ~ r a l _ ? a r , p c l o
momento,
é
a maior sensibilidad
l'
lc' JIIIJII IJI
0
P
1
c.sllgJo soctal atnbu1do pela comunidade
às
variantes 1in .. t' ·
.
l·onsidcrar n
l . . .
guts
lt:d'o
. ,
fll
l'
<
'
, ' o en anto, que o efetto da variável gênero/sexo isoladamcniL' < lllllil
l i
~ ~ ~ ~ ~ J ' ~ ) ~ : - a s p e d c t o s e complexas interações que deve ser examinadas JJO t'
l;Hh
> i:,
'.J II .tç,lo e a mudança.
Gênero/sexo e outras variáveis
O padrão de comportamento da variável gênero/sexo d ·t· .. l .
..
·11 1 • •• • d d es at:,llll 11.1 ..,, ,, 1 ,
; . ~ c II.Ot p r o ~ ~ c 'e uma generalização que não corresponde inteira
llh
' JII ;. ·'
.tl
ld<Kle. pois esta baseado
em
análises dessa variável isohdan1ent , I>
lllt'JHoetr
· í
1
A '
c. ll l i
ii
.J
I· . , .
0
.
e < ~
vam
ve
gencro/sexo com outras variáveis independcnt''" ' '
' '
'
' .J:o-sL: soctal, Idade, ou
wm
a vanável esti
lo
d f:tl· d .
. · I _ .. . ·
e<
ci,po emcmcrgJrp;Him ,•. dl
UliiC açao dllerencwdos que apomam a rclativid·,de das .
I·
.-
I· . . .
l
, . ' · corre açoL
:-.
L llln·
1
.,.,
' t
v.utantes
ngUJs tt
cas c o gênero/sexo
do
falante.
I\ r intera?ão . n t r e gênero/sexo e'classe social faz sobressair() l: llt> " ' ' l jl
l l '
• <
I ctenças ltngUISlJcas entre homens c mulheres podem , . . .
i
ll'l'll
iUad· . [ : ,
SC
l' llldl\ Oll IIII
I I I I
. as em unç.to da classe socJaJ a (.llle eles pertencem. De l'onii 'J " I
· c n ç t ~
e.ntre
a
rata
de homens e mulheres são mais sa
li
entes nos gnq;,
1
••
.:
I : I I C I ' I l l ~ ~ t . a ~ · I O S r (norilJalmente classe média) do que nos grupos ex lll'
llllt
, (I r.
I'
,
I
1 c .d."ssc alta). E o que .se pode ver
ifi
car
na
figura abaixo. rcl
l.·
l\' ll t.' ;, ,
11
·'
IJit
,tliV.t l . e · d e ~ t a l ~ n o mglês
de
Detroit. que pode ser ou elidid:Jt'
J•
'
· ' '·
" '
1
lllllO uma fncai1Va labw-dental (Wol/'ram. 196
9
:
92
).
NO
I
I
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III
· ~ I i i
I
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I'
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8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 14/61
•
Ir
i
h , ,
• I•
•
1
• •
•• h •
ti
li• 1
<)
111
iiiH: iro a s p ~ c saliente na figura I é
a
consistência dos r c s u l ~ i l h ~
p;ua liulncn:-. c mulhcrc;:; nos quatro grupos sociais considerados' o ~ n a
t e n d : n c ~ a
111
ais geral
já
ressaltada: em todos eles, os homens apresentam mmor ocorrencm
das variantes não padrão (elisão ou fricativa t ~ l _ . n q t ~ a n t o as mulheres
: presentam índices mais altos da variante padrão (a l n c ~ t t t v a t c ~ d ~
sc. porém, que a diferença entre ralantes do s ~ x o . mas:ulmo e
t c n ~ n m o .
v ~ ~ a em
ruw.;ão da classe social considerada: elas são stgnifi.callvamente mawre:s na
l ~ s ~ c
trabalhadora alta e
tcnc..lem
a se reduzir nas duas classes extremas.(classc
mec..I
Ja
alta e classe trabalhadora baixa). Essa cstratiflcação difcrenctada pode
s _ ~ r
indicativa de que. mesmo no interior de uma mesma
o m u n i d a ~ ~
de fala. os papets
llasculino e feminino podem se organizar de forma distinta em diferentes u b ~ r r u p o s
das comunidades de fala. . _
Para ilustrar a relatividade do efeito da variável gênero/sexo em ~ n ç : o do
·-;tilo de fala retomemos
0
já
mencionado estudo Je Labov sobre a vanaçao de
~ r o n ú n c i a
d ;
r pós-vocálico em Nova
York
(Labov, 1972).
As
diferenç:s cntt
:e
homens e mulheres
110
uso da variante padrão, a pronúncia retroncxa, sao mms
acentuadas cm estilos de
rala
mais cuidados, ou seja, naquelas
s i t u a ~ õ e s em
que
o
falante dispensa mtúor atenção à sua própria
fala..
e são menos expresstvas.ou
e n d e t ~ l
]
. · ·u· lc)'. de fal·t
111.1I·s
t·n'ormais em que emerge de
1omm
mms
a se neutra tzal
em
es
.,
, ' .
l' · , . _ .
evidente a variante vemacular. O aumento do índice da van.ante padrao fala
feminina é proporcional ao aumento do n(vel de formalidade do i s c ~ r s o . Essa o r m a
de interação parece indicar que a sensibilidade e t ~ 1 i n i n a v ~ l o r soc.ta l d:1.s vanantcs
lingüísticas é. de certa forma. controlada pela propna sttuaçao de dtscw so.
o
efeito da variável gênero/sexo em função da idade do falante ~ o d e ser
demonstrado pelo processo variável de concordância entre os elementos do
~ n t a g m a
nominal. Como
já
mostramos na tabela 1, essa i ~ ç ã o é sensível à ~ t d l l e r ~ 1 ç a s
de aênero/sexo. Os resultados da tabela 4, reproduzida de Scherre ( l9Hí,
p.
- 51),
ap;ntam, no entanto, que
0
efeito dessa variável não é sistemático cm todas as
faixas etárias.
abela 4- J\tuação Ja idade e sexo no uso da concordância nominal
FAIXA
ETÁR IP
7-J.t
anos
15-
25 anos
26-49
n o ~
50+ anos ..
240/642 - 377
.+RJ/894
54'ii
5.f:l/ll.f8
47 'k
49711
?69
39 '7c
Homens
.39
.50
.4
1
.39
333/647 - 51 ll
561/1004
5ó7r
91
2/1220
75 '7c
750/1"09
62o/r
Mulheres
.52
.50
.70
.59
1
Nu
u r a
1
,
UM
eqlLivak: à
l a s ~ c média alta. LM
ú
cla,<c
média ba
i
x.a. 11W à
clas,e
traha
l
h;tLiom
alta e I.
W 11
.- "'". ltahalhadn
ra h
;t
ixa.
Na sl'gunda lai xa
ct
úria (
15 a
5 anos), os
JK'sos
rc l; l
tl
vn
..
p;ua lu•lllt"ll.,
illulhe
rcs
são idênticos, indicando uma neutralização Ul d i.. ilo da : 1 \ < ' 1 lh
·
,
gtupl> de l ~ t h . m l c s . Ao conlráJ.io, nas faixas etárias mais a . ~ ( >(1 a .JIJ a11• .. 1
a
t:i
ma de 50 anos), constata-se significativa diferença dos v
al
ores
~ · : - . t , I I J s l f •
associados a homens e mulheres, comas últimas apresentando uma tcndt'llll.ll\11111•.
maior de utili1.ação de todas as marcas de plural. A forteinteração cnlrL as 111.r\1 1
gênero/sexo e idade é ressaltada igualmente por Kemp (1979). a p<uiir da lt'all :il l 1
de diversos processos de variação no francês de Montreal. Ho mens
L lt
rlllh, '' .
111ais
jovens apresentam grande semelhança de comportamento
li
ngü(stico.l'llt 1
'·1111•'
homens e mulheres mais velhos tendem a apresentar diferenças mais
n o t a w 1 ~ .
Além das interaçõesjá ressaltadas,outros indícios de diferenças cntrl' ll1>111<
11
t' mulheres podem ser depreendidos através
do
controle
de
outra
;
vari
aw
:-. 1 IIII•.
111ercado ocupacional. influência da mídia ou grau de escolarização, como nH•sf 1.1111
0 1veira e Silva Paiva (
J
996). A variável mercado ocupacional e a ua de
1111
1"
nw
is
relevante entre os homens do que entre as mulheres. Já na faixa d ::í ria lh· I •
a 25 anos, pode-se verificar que os homens apresentam um processo dl :1(11
\11
slício-dialetal mais evidente, com aumento significativo de variantes con:-.idl'l ,111.1 .
padrão. Uma diferença que pode ser devida, pelo menos em parte, an I r lP '
qu
e, em nossa sociedade, os homens são. desde cedo, educados para nhtl'r stwc ... 1
profissional e assumir o sustento familiar.
De
forma diferente, constata-se que a variável
mí
dia (cm
p:111W11 I.u .1
tl·kvisão) possui efeito mais notável enLre
os fa
lantes de sexo k11111111111
principalmente na quarta faixa etária (acima de 50 <U1os). Quanto ma ior ll h ll ' l l
dl' exposição
à
linguagem ve iculada pela mídia, maior a ocorrência de v:uldi llt ·•.
1ncstigiadasna linguagem elas mulheres. Uma interpretação possível d v . , ~ : l
11.1111
l·1daridade
é
a diferença, não apenas quantitativa (mulheres
passa111
tn:w 11'1111 •
il1ante
da
televisão) como também de atitude de homens e mulliL'll"
1111 • lll ,,
r v r ~ r c a esse meio de comunicação. Os homens tendem a man 1
1,·s1.11
, , , , ~ , . , ,
11·'-t:
t
Va
com relação à mídia televisiva do que as mulhere
s.
Há
indicações ainda de que o processo de escolarização atuatk
I•
11111 .1
1ida sobre
as
mulheres do que sobre os homens (cf
.
Oliveira
c Si
h
aS
I' 11\.1
1
1
>
1
>6 .
A mulher
se
revela mais receptiva à atuação normativa
tl:
1l'-;'"1.' 111
11'·
pil'disposta à incorporação de modelos lingüísticos.
n e r o atitude, sensibilidade
i que se coloca
pru·a
o socioling
üi
sta é
a
de L'xplie:u os
l'ad1"1
11
·J•1d:rrcs depreendidos em diferentes pesquisas c a naturc;.a das po-.sl\l'l" dikl<'l" .1
lill"lil s
ll
l'
:t
s c
ntrL
' homens
L
mulht·n·s. IHTL'Ss::írio t·
uid
ado p:1
a :tn 111 111 .11
1
n11111
l.
il
ilS llldi l·;\l._'llL'S lj lll '
SO
Jllldl l
ll
So'l lllh l('il'i,II
I;I
S 110 pl:illll '-.11\lhll(llll () 1.1111 d1• ol
I III illiii JI
IIII,< I•
I I
•
. LI•
IIII
I fll\,111
( I
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 15/61
11111llll'lcs se revelarem lingi.iisticamente mais conservadoras
ou
mais oricntauw;
rara variantes de prestígio em algumas comunidades de fala pode ser, em grande
parte, resultado de um processo diferenciado de socialização de homens e mulheres
c Ja dinâmica de mobilidade social que caracteriza cada comunidade de fala. Tanto
a
preferência feminina pelas formas lingUísticas socialmente prestigjadas, tendência
mais regular em comunidades
de
fala ocidentais, como a p redominância
de
variantes
socialmente estigmatizadas na fala feminina, como no
já
citado exemplo do árabe,
refletem a rigidez da separação entre os papéis sociais atribuídos a homens e
mulheres, a maior
ou
menor amplitude das redes sociais
de
que
eles participa m e as
restrições de mobilidade social impostas à mulher.
Para
explicar a regularidade da corr
ela
ção entre processos variáveis e a
variável gênero/sexo, Trudgill ( 1974) avança a hipótese de que os homens,
diferentemente das mulheres, atribuem um prestígio encoberto coverl prestige,
Labov, 1972) às formas lingUísticas. As variantes lingüísticas estigmatizadas
pela comunidade de fala possuem,
muitas
vezes, uma função de garantir a
identidade do indivíduo
com um
determinado grupo social ,
um sistema de
valor
es
definido. Isso é, são formas partilhadas no interior de um grupo e assinaladoras
de sua individualidade com re
lação
a
outros
grupos sociais. Se um indivíduo
deseja integrar o grupo, deve partilhar, além das suas atitudes e valores, a
linguagem característica desse grupo. Nesse caso, determinadas formas de
linguagem se investem de
um
status particular,
embora
sejan1
de
spro
vida
s
de
prestígio na comunidade lingüíslica em geral.
De
certa
forma,
pod
e-se dizer
que
os homens
es
tão
mai
s sujeitos à inlluência
do prestigio encoberto das fom1as lingüísticas do que
as
mulheres, dado que el
es
possuem mais mobilidade social e mai
or
oportunidade de participação em
grupo
s
sociais fechados. Diferentemente. as mulheres, cm muit
os
casos mais concentradas
em ati v idades domésticas, possuem menos oportunidades de experiências coletivas
que
exijam a coe
sã
o do gmpo.
A maior consciência feminina ao status social das formas lingUísticas pode
ser atribuída também ao maior formalismo associado aos papéis femininos e ao
fato
de
a posição da mulher
na
sociedade estar
meno
s assegurada do que a do
homem. Tal formalismo, transferido
para
as situações in tcracionais vivenciadas
pela
mulhe
r,
se traduz
na necessidade de resguardar a face e
de
manirestar um
comportamento que garanta sua aceitação social.
Muitos dos papéis tradicionalme
nt
e atribuídos à mulher lhe exigem uma
conduta irrepreensível.
Um
exemplo emblemático é a sua responsabilidade
na
educação dos filho s. Tomando
para
si a carga de transmissão de normas
de
comportamento. dentre eles o lingU íst ico, a mulher
se vê na
contingência de apre
sentar-se como modelo. Labov ( 1972, p. 30 ) sugere,por exemplo, que "a inf1uênda
crucial da
mulher
nos primeiros estágios de
a q u i s i ~ ã o
da linguagem as equipa
com
uma
sensibilidade especial . O próprio autor assinala. no entanto, o fato de
A
V<
Jii 'lv••l •I• 11• I• , , • I III
q11e. no
c . . : ~ á g
atual das pesquisas, a maioria de
n o s s < ~ : - .
c..:xplk \'Cll'S
1
·
1
p,
11
,
1
c s p c ~ u c r a o porque os padrões de correlação não são ri
xo:-.
c
l l l l l
ll ;
1111
,
111
, .
L ou ststentes.
l q u . e ~
explicação das diferenças lingüísticas entre homens
e
11111
11
11 1
,
deve ser relatlvtzada em função
do grupo
social considerado A . . .
1
. ..
1
.
i
. • . l:O
<l l i . \
O
t .1 ,
~ a n a v e r s - ~ e ? e r o / s e ~ o _e classe soc1al é uma indicação possível de qu e, 11as , 1.1 ,,
..,
t ~ t e ~ m e d J ~ t a s a dtvtsão de
pap_éis
pode ser mais rígida
do
que ll<ts
1
1,,.,..,,
lr<tb,tlhadoras.
A
depender da soctedade considerada
e'
f'
··
. . , requente,
por
e\ l ' l l tp l "
que as mulheres, mutto mats do que os homens assumam a d' -
r·
1
. · . , . trcçao :til
'"'
,
~ ~ n p h e n : sua ~ e d e de contatos sociais2. De forrna semelhante, a co-atu:t<\illl ' ' I
gcnero/sexoe rdade pode ser tomada como um indicadorda d'l · .;-
1
, • ,. • • 1
c
as lllll lt 11 ,.,
mttdas entr: papers femmmos c papéis masculinos nas faixas etárias mil is
1
,,
,
1
1.
da populaçao.
.
..
,
~ l é m
d i s ~ o a possibilidade de reversão da tendência feminina as
f
1
.,
11
,.,
.,
lmglllstrcas presttgradas,
por
exemplo nos estudos sob1·e
0
árabe f·--,ad
1
. • · · . ru o ent a 11111 1·
~ ~ d a ~ e s ~ mostra ~ u e
em s o c ~ e d a d e s
onde a
mulher
tem m
enor
part
11
;,,.,\
1
:
11
'
1
v ~ d . a
p u b h c ~
a vartedade mrus prestigiada, no caso o árabe litcrall<l, ,. ""
dorm
mo
masculmo
3
•
Considerações finais
Evidentemente, qualquer explicação acerca do efie
1
to da ·-
1
anavc ' l ' l ln , 1
~ ~ x o req uer .uma c ~ ~ . ~ a . u t e l a vistas as peculiaridades na organização s
1
tlt
c.lda comumdade, t n g ~ I ~ l l : a e as transformações sofridas por diversas sol'ictl.tdl .
no que_se refereAa deftruçao dos papéis feminino e masculino. A esse
rc..:sp
t·ll•• ,,
ç a ~
entre genero/sexo e a variável idade fornece alguns elementos de rd
1
,
· n _ o ~ Situamos contexto cultural das sociedades ocidentais, a predon1iu;ut1
1.r
de
~ a r : ~ t e s
padrao entre mulheres mais velhas reflete uma forma de . , , ••
111
mrus ngrda em que ao homem cabe desempenhar seu papel de homem ·1
nt
11ll11 ·
1seu papel
de
mulh er Dentr e as boas · •;tud '
us
. . · . · au . es que se espera de uma mulhl'l
vst;
1
1
·
0
de uma m g u a g e ~ 1 mars
cone
ta, cond1zente com a sua condição fcmi
11111
,
1
r a ~ s f o r m a ~ o e s na
organização so c
ial
podem
e
star
subjat:l'll lt , .
1
c u l r a l i ~ a ç a o do
efetto da variável gênero/sexo nas faixas mais jovens da poptll·t\ 1
\ aproxtmação
do
comportam t
r·
' · d ' '
. en o mgws uco e falantes mais jovens pode
sc
1 ""
rei J e x ~ de que, nessa faixa etária, reconfigura-se a atuação do homem c da 111111111 '
na soctcdade. com diluição das fronteiras enu·e papéis femininos c nt;tst
"' '
'
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 16/61
'Jr.thalhu. : r ; ~ · r . ati v dades <.loml stieas são compartilhados de uma forma que Je:,la/
os cstcrcotipos inerentes aos papéis masculino e feminino
na
sociedade. Essas
r11odificações, assim como se manifestam em outras práticas sociais, podem se
refletir no uso lingüístico, seja alterando os padrões de correlação estatística, seja
anulando o efeito da
va
riável.
Exercícios
l-No estudo de algumas variações fonológicas, as diferenças cons
tatadas na lingua
gem
de homens e mulheres foram muitas vezes
atribuídas a diferenças no aparelho vocal. Você concorda que d
if
e
renças lingüísticas entre os sexos possam ser devidas às diferenças
biológicas?
2-A maior sensibi
li
dade remjnina
ao
prestígio das formas lingUísticas
pode ser verificada através de testes
de
percepção e avaliação de
variantes lingüísticas. Seria in teressante tentar comprová-to através
de uma pequena pesquisa. Tome uma variável lingüística cujas va
riantes
se
distingam quanto
ao
valor soc i
al
(variante estigmatizada e
variante não esti
gma
ti zada). Submeta-as a falan tes do
sexo
ma
s
cu
li
no e
do sexo
femi nino. sol icitando- lhes sua avaliação. Você p
ode
fonnu lar questões como :
- há diferenças entre as duas (ou mais) formas de fa lar?
-você
acha que
uma
delas
é
me
lhor do qu
e
o
outra?
3-
So licite a um grupo
de
fa lantes de ambos os sexos
a
narração de
uma experiência de risco de vida. Compare as narrativas, observando
as diferenças entre homens e mulheres
na
est ruturação do texto.
5. O din mismo
d s
língu s
Amlumy .luliu \·1111
Introdução
Todos sabemos que as línguas
mud<un com
o tempo. Basta
comp:rr ,
•
o p o r t u
g u ê ~
o latim, ou até com o próprio português da época medieval p.rr
notarmos drfere
nça
s
em
todos os níveis, desde a semântica até a sintaxe. p;r
s-..
.1
..
pela fonologia, pelo léxico, pela morfologia, etc.
. Es.ta
m u ~ a n ç a
a longo prazo, at ravés dos séculos, não se proL'l ' >\.r dt
~ n a ~ e
mstantane
_a
ou abrupta,
como
se numa determinada manhã a P D I H r l , ..
rn terra acordasse falando de maneira diferente da do dia anterior. Dt• 1
1
11, ,
1
d a n ç a s lingüísticas normalmente se processam
de
maneira gradual t'
lll
,
:111
1
tlunensões. Nos eixos sociais, por exemplo, os falantes mais velho' ~ · D s l l
e ~ e r v a r
~ i s
as
formas antigas. o q ue pode acontecer também
com;
lll'
-
l•
.r
s
1m11.
s cscolar·Izadas, ou das camadas da pop ulação que gozam de maior
fll'l':, tr
:· ,
'>Octa
l, ou amda de grupos sociais que sofrem pressão social nonna luador.
1
.1
l : e ~ n p l o do ~ e x o feminino de maneira geral , ou das pessoas que
L \ t
1111
:rt
rv1dades socweconômicas que exigem
uma
boa apresentação para
0
piíhla
11
J·
esmo uma (mica pessoa pode escolher uma forma mais c o n s e r v a d o r
1111rn
.1
-.ituação formal, preferindo outra forma mais atual em conversa inl'onnal.
Os eixos
da
própria estrutura lingüística não são diferentes : nulll d:rd..
lllomento do processo de mudança, certos itens lexicais ou determinadas estnll1
11
'
podem
ser
mai s propensos
a mudar
, a exem
plo
da espinmtização
c.Ja:
s ihil:rrrt
1
no Rio de
Ja
neiro, pratica mente limitada aos itens mesmo [mchm"] c gentl ~ · n l 1
o
m
ome
nto atual.
Concluímos, então, que
a
mudança lingüística não
é
absolutamente rllL
'l .
lll
1
(' reg
ul
ar a curto prazo. Em qualquer estado real da língua, costumam l'Ol'\1 >1
l
ur
mas J e diversos estágios de evo
lu
ção, apesar do fato de que a longo l
ll
:ll
ll<
.ll'l nulmente no espaço de vá ri as gerações - a mudança quase sem pn· :ll'.rh.r
ak tando todos os itens lexicais e todas m; estruturas de um dctcrmin:rdP 1
1
,
l lma mudança pode ser limitada por
um
determinado contexto estnllural 1 '"'
(' \l'nrplo. as urdas se tornam sonoras entre vogais), mas neste co
tc\ to \'la,
.ul111it
cm cxccções. Isto
é,
a famosa h ipótese dos ncogram;ÍI iro, .. li.-
·,
pnrtanln. um conflito apm'tntc o nrrtu c
o
lonp.o p r a ~ o
lidlt
"
ii i
1
Ir 1
1
I
:,,
11 l
11lll lf
llll
:olll
I I
' I ' IIII•
111
li' I I " ' ' " I
III
jl ll I
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 17/61
Idade e
mudança
lingüística
Nesta unidade, vamos exanúnar mais detalhadamente a questão da relação
da
mudança lingüística com a idade do falante. No português atual do Rio de
.Janeiro, podemos apontar vários fenômenos em que a idade atua fortemente:
- seu/del
e
Para
se
referir
ao possessivo
da terceira
pessoa
(exemplo:
o livro dele/o seu livro),
os jovens de 25 anos ou menos
estão usando pouquíssimo a forma seu para a terceira pessoa,
preferindo reservá-la
pa
ra a segunda pessoa;
- nós/a gente: Os jovens estão evitando a forma nós e usando mais
a
gente; . .
ir:
Os jovens estão evitando
as regência<; ira
e
ir para,
prefenndo
r e m .
No caso dos fenômenos listados, e muitos outros, os falantes adultos tendem
a preferir as fonnas antigas, criando uma situação estranha, pelo menos à P.rimeir.a
vista: existem pessoas que, apesar de estarem em interação constante (do llpo pai/
filho), costumamfalar de maneiradistinta. Entretanto, isso não chega a comprometer
a comunicação, já que ambos os lados são capazes de utilizar e n t ~ n d e r todas as
formas . Trata-se apenas de uma tendência
em
direção a outra forma. Com o
correr do tempo, é provável que a forma nova seja adotada por todos.
Até aqui consideramos a mudança lingüística - seja a curto ou a longo
r ~ o
_ em função
da
comunidade ou grupos componentes
da c o m u m ~ a d e .
Mas e o
indivíduo quem hüa - e quem muda ou deixa de mudar sua mane1ra de falar. No
estágio atual da ciência da linguagem, não sabemos ao cetto até que o n ~ o a lingua
falada pelo indivíduo pode realmente mudar no d e c ~ r r e r dos a n o ~ . ~ X l s t e r ~ ~ u m ;
posições teóricas, ambas sem evidência empírica convmcente. A. p11111e1ra pos1çao -
que podemos rotular
de
clássica ,
já
que é nom1almente aceita por uma grande
maioria de lingüistas, desde os geratívistas até os sociolingüistas - postula que o
processo
de
aquisição da linguagem se
enceiTa
maisoumenos nocomeço da puberdade
e que a partirdeste momento a língua do indivíduo fica s s e n c i a l m e ~ t e
~ s t á v ~ l .
Segundo
estaposição, a
h1fa1Ilática
do indivíduo não podesofrer mudanças
~ g n i f i _ : a t i v a s
porque
0
acesso
aos
dispositivos cognitivos que possibilitam a sua marupulaçao (a chamada
faculdade da
IinO'uagem)
l'ica bloqueado, uma hipótese que se apóia na psicologia
d e s e n v o v i l n n t i ~ t
Quaisquer eventuais mudança<5 seriam apenas esporádicas: troca
de uma palavra por outra, troca de pronúncia de uma palavra, etc.
Mudança em t ~ m p o aparente
Sob a hipótese clássica, o estado atual
da
língua
de um
falante adulto
e ~ e t e
o
cstado da I ngua atlqu i ida quando o falante tinha aproximadamente 15 anos de1dade.
As:..
i
11
sendo, a
1 l a
de uma pessoa corn 60 anos
hojl
n :prl St:llla a rng
11a
d,· CJ :I
'"'
1
l
cinco ;.mos atrás, enquanto outra pessoa com 40 anos hoje nos revela a ltll).
ll:t
d1·
lr
.t
<rpenas vinte e cinco anos. A escala em tempo aparente, obtida através do l S
llldP
d 1
l'alantes
úe idades
i f e r e n t e ~ a m a d a gradaÇão
etária . Ela
corres[)OIItk
.
\ l ll lprc
s' >b a hipótese clássica, a uma escala de mudança em tempo real
Podemos esquematizar essas escalas como se segue:
Idade atual
Estadoda língua
(em anos)
(anos atrás)
70
55
60
45
50
35
40
25
30
15
20
5
Por exemplo, em uma gravação feita em 1990, a fala de uma pcsso:1
111.111
com 70 anos de idade representaria o estado da língua adquirida em I
1
J3: 1.
Um estudo muito detalhado
us<mdo
o conceito de tempo aparente
rui
l
t·va
dn
a cabo em Mwtha's Vincyard, uma ilha relativamente isolada situada
J
K'
rh l
d,,
\:Osta do estado de Massachusetts, nos Estados Unidos
(L.Jl.bOv,
1972). O
kn
o
nll'r h,
l l l l
foco era a centralização do núcleo do ditongo /aw/ (como nas
paJa
vr
us
''
li
agora ; out, fora ; ruund, redondo''), que estava se deslocando
da
posi
\·:11
1 l.t 1
(o primeiro
a
em
casa),
padrão na Nova lngl
ateiTa,
para a posição do
I i ..
(mais próximo do segundo
a
de
casa ,
passando pelo
[A]
(do inglês
lml ,
1
1:
1s l
Classificando os sons impressionisticamente, sem a ajuda de qttalq tll'r
aparelho eletrônico, Labov conseguiu distinguir quatro graus de centra
li
t:H;
:III
,
. denotados
aw -0
(a posição mais baixa, correspondendo a
[a]
até
(l 111
)
:
1.1
posição mais alta. correspondendo a shwa''). Na Figura I ,quatro páginas
ad
i.
111ll
'
estão representadas as três posições centrais clássicas do
ai
fabeto fo
twl
u ·
eurrespondentes à escala de quatro posições utilizada por Labov. A p:ul
ir
.1
11
.
dados classificados de acordo com o esquema de Labov, podemos construi I 11111
111dice de centralização para qualquer falante ou grupo de falantes: prect
s<
llll
apenas calcular a média dos graus atribuídos às vogais produzidas e nHtlliplh .11
n resultado por cem. Assim, um índice perto de zero significa que o falanl('
t
1
grupo) quase não centraliza, e um índice perto de 300 representaria uma pr
odu\. 111
q11asc sempre centralizada no grau mais alto.
A pesquisa em
Martba's Vineyard revelou que os velhos c:-tavant
flll' ' '
y;u rJo mais a forma original não-centralizada e os mais jovens estava111
ui i
taltd•
ve1. mais centralização, como se mostra na Tabela l:
li
til<
H i Ji, I H I I H r IIi i( Jfi ,(
.
1
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 18/61
H1hclu
1- Mudança de (aw) em tempo aparente através de duas gera
çOL::-.
1'111 Mar
tha
's Vineyard (LABOV, 1972,
p.
22)
Geração
Idade
Índice de (
aw)
I (pais)
75+
22
61
-75
37
I I (filhos)
46-60
44
31-45 88
A
tabela mostra uma tendência clara em termos de comunidade. A centra
lilação está se espalhando com força e rapidez. No espaço de
um
a única geração,
o grau médio de centralização já quadruplicou, passando de 22 a 88. A represen
tação gráfica dos dados da Tabela
l
na Figura
2,
três páginas adiante, mostra um
padrão quase
lin
ear
de
diminuição
de
centralização com a
id
ade.
O estudo dos indivíduos revela uma situação um pouco mais complexa
já
que
~ L \
médias da Tabela nivelam certas diferenças signifkativas. Os falantes mais
ve lhos (de 80 anos de idade ou mais na época da pesquisa) praticamente usavam
apenas o grau zero,o mais
abe1to
da escala, com uma ou outra ocorrência esporádica
Jo grau
um.
Já na faixa dos 60 anos de idade, os falant
es es
tavam concentrados
maciçamente no grau dois antes de consoante surda (ex. :
o
u/
,
"fora") e no grau
i .ero
ou
um
em outros contextos (ex
.: round,
"redondo":
JWW
"agora"). Na faixa
Je 30 anos de idade, o condicionamento
já
se tomava quase categórico: grau dois
ou
três antes de consoante surda: grau zero ou
um
nos demais contextos. Estes
dados em tempo aparente retratam com
im
pressionante detalhe o processo de
mudança lingüística em progresso, desde
o
começo (ocorrência esporádica de
variantes mais altas) até a instauração do condicionamento categórico tão enfatizado
pelos neogramáticos (variantes mais altas antes de consoante surda, variantes mais
haixas
nos
outros contextos)'.
O
que permite esta visão simultân
ea
elas
di
versas
etapas
do
processo dinâmico de mudança
é
o congelamento do sistema lingüístico
tln fa lante na época da puberdade. e é justamente este o postulado rundamental que
s
ubj
az
à
hipótese clássica
do
relacioname
nt
o entre mudança
li
ngüística c idade: o
processo da mudança se espelha na fala das sucessivas faixas etárias.
O primeiro estudo aproveitando
a
técnica de tempo aparente foi feito no
início do século passado por um jovem pesquisador (Gauchat, 1905) que visitou
uma a ldei a na Suíça e notou que nas palavras em que as pessoas mais velhas
1
(b
"n.:ugranuíli..:os··. ou ·'gramáticos jovens". constituíram um movimento na Alemanha ao
fi nal
do
"'<'tiln IIJ, a legando que a mudança foné tica é um processo absolutamente regular que não admite
IH'Illt11111:1 cxccçfio (u não ser as cxccçõcs o t i v d ~ por analogia). A vi,ão oposta, hoje conhecida como
'\ lil usüo lex i .:u l". alcgu que cada palavra tem sua própria hi stória c qu e é pcrl'citumentc possível que
d< ' ll'llninadt• \ iHll. em determin ado contexto. mude de maneira diferente, e>u
até
que deixe de mudar, cm
, ,
11
1
1
palaH:t l' lll
qut.•
llCOITt: E,
lc de
bate
continua atualmente. Na g
mnd
e maioria
do>
casos, a poo;ição
tl1s
ll•'"l' lan
1
a
ll<·uo,
p:t t<'<'<'
l' llltl 'l<t
para n
I<HlJ O p razo.
c
nquanLO
a difusão l
c\
ical
'c
verifica no o.:u
r1
n
p ra7.o .
f I I
IIi ti lli
l(',fl
t<
I I• 1
, lt
l tl (li• I
I/
us
avam a lateral palatal
[ÀI
(escrito /h em português). os mais jovl'us pH lt 'II.Jitl
lyl. enquanto os de meia-idade usavam ambos os son
s.
De maneira svrnl'llt;111ll',
onde os falantes
de
mais idade pronunciavam o som
[8]
(como
na
palavra
i11
gl.· ..1
think),
os mais novos usavam [hl, e os de meia-idade oscilavam entrc lllll.J, ' '
ante e outra. Estas escalas em tempo aparente levaram o pesquisador
a
p
oo,
lul.u
que os sons [ÀJ e [8] estavam em processo de extinção no diaJeto c quc 111111 1
mente seus substitutos seriam
[y]
e [hl. Vinte e cinco anos mais tarde esta p11, 1
são
foi
confim1ada, embora apenas parcialmente, por outro
pe
sq
ui
sador (
1
kiiii.JIIII
1929) que visitou a mesma aldeia. Hcrmann notou que
[À]
já
havia pratit
·:
u11
1
111
t
desaparecido da fala local
c <.:oncluiu que
o processo de mudança pr
e
v1s1o
po1
Gauchat
já
estava concluído: todos os fa lantes, independentemente da ul.ult·
usavam apenas l
y].
A variação entre
[yl
e ['h
],
entretanto, ainda
pos:-.tlla
plt'IJ II
vigor, indicando que a previsão inicial de mudança neste caso não
era co111 1.
1
Os falantes que eram jovens em 1905
e
preferiam [h . em 1929 estavam ,
.111.
1
do entre ly] e
[hJ.
Em outras palavras, a interpretação correta do stal
1
ts do
'"III
ly] era que se tratava de uma característica da fala de pessoas de fai\:1 l'LIII.I
superior. Aparentemente, na med
id
a em que os falantes iam chegandu
:1
1
.1.1
fase da vida, iam adotando a variante apropriada
à
sua idade,
contra11:uul
"
.1
hipótese clássica de estabilidade lingüística a partir da fase de puberd:uk
Embora sem dúvida muito interessante, a hipótese clássica esconde
: d
PIIIII:I .
dificuldades. Em primeiro lugar, como acabamos de
ver,
nem toda varia<;;lou:r l.d.t
representa mudança lingüística em progresso. Existem muitos outros
~ : a s o lt,.,ll
conhecidos de variação estável, como a'prO .lÚncia do morfema -ing em inph's 1,
IFalking,
a
ndando"), que pode ser realizada como velar
[ J
] ou den ta l 1111 1111d .
l'
onema
th,
que pode aparecer como contínua 18, Õj
.o
u oclusiva
[di
(l'\
111111/.
"pensar"; this, ''este"). Estas variações
já
estão atestadas há vários sl'n I
m
11.1
gramáticas da língua inglesa e continuam existindo hoje em
clia
cm p1n111.111H 11•
rodos os dialetos do inglês falados no mundo inteiro, sej a na velha lnrlalt 11
,
.,
•
1
1
·nos países de colonização inglesa desde a América até a Austrália.
N : ~ o
""'lloilll
qual
qu
er ev
id
ência
de
perda de v
it
alidad
e,
apesar
do
passar dos
séndo'
A
média do grau de realização de uma variação estável,
taJ
como"
11111d.nt\•1
cm progress
o,
pode depend
er
da faixa etária do falante. Entretanto, n ~ : l l ' l.t"" 11.11•
cos tuma a p a r e c e ~ : o padrão quase linear da Figura
2
mas wn padrão cmvdiut·.t, , 111
que os grupos extremos -
os
jovens
c
os
velhos-
apresentam o
mes111o co111pu1
r:unento, contrastando com a população de meia-idade. Por exemplo. un1 ...
rudP d.1
va
riá
vel ng) através do tempo aparenteem Norwicb,na Inglaterra, revelou
c<
'll.11 11l )I ,
&
Trudgill, 1980) o padrão da Figura 3,
três
pág
inas
adiante. Neste gr;llico. a , '" '
I
lingi.ifs
Li
ca ng) é representada através de uma média de :,TIIU de dcntalii'<l\';ro tllld t " '
IIIÍme
ro
s mais altos significam uma produção mais concentrada cm rL
:tl
i.r;u
1
ot ·o.,
d1'
is. i'ts
cust
as da ve
lar
da lín
r
ua vtr111drml.
Os
dados
nos < ~ m 1
111
a
ultll'llh
l
dn11 ...
da vl'lar
\ lol/don
n o
mollu
'nln d11 11llo
d : ~
d : ~ L'111 que d i111 iiiiK'III pn·o,sm·.., \ l i 1.11• d11
t ll 1
1d
o ill ll'dialu <1-
.11111/'hlt
d t l .
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' ' 't'lllt' l'
:1
111111 11 11111 os
L O
IIIaln
\
1ht td11·,
p
111
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 19/61
lll'n'ssidad<:s profissionais ao entrar efetivamenle
no
mercado
de
trabalho. Nc.;sla
11ova dapa
da vida, os valores da sociedade começam a se impor e o círculo social se
.r
lmga com os novos contatos. Finalmente, ao se retirar do mercado de trabalho quan
do da aposentadoria, as pressões da sociedade e do mercado deixam de agir.
As conclusões a
que
chegamos através da análise da Figura 3, b
em
como
da variação entre [y] e [h) na Suíça, contradizem frontalmente a hipótese clássica:
acabamos de concluir que o falante muda a sua Língua no decorrer dos anos enquanto
" hipótese clássica pretende a estabilidade da língua depois
da
puberdade.
Tempo aparente versus tempo real
A questão que se
coloca naturalmente
é: qual é a posição
certa?
lllfclizmente, o problema é até mais complexo
do que
parece à primeira vista,
porque temos que levarem conta não apenas o indivíduo, mas também a comunidade
em
que se inser
e.
Em
relação ao sistema lingüístico, a visão clássica prevê a
<:slabil idade
do
falante (após a puberdade), mas a instabilidade da comunidade
com o correr do tempo.
Na
medida em
que
o falante vai mudando de faixa e
tár
ia,
muda a distribuição das variantes na comunidade. De acordo
com
esta visão de
~ o · s t a b i d d e
ao nível do indivíduo, daqui a vinte anos,
por
exemplo, os falantes de
70 anos de idade então estarão falando como os de
50
anos hoje, e não como os de
70 anos hoje.
A
outra possibílidade que estamos considerando admite que o sistema
liugüístico do indivíduo muda. mas não o
da
comunidade.
Em
nosso exemplo,
daqui a vinte anos. os falantes de 70 anos
de
idade terão o mesmo sistema que os
de 70 anos hoje, apesar de terem que mudar os seus padrões lingüísticos durante
o in tervalo de vinte anos entre os 50 e os 70 anos de idade.
Para estabelecer os fatos, seriam necessárias extensas pesquisas empíricas
-;
nhre o comportamento tanto
do
indivíduo como da comunidade durante várias
r a ç õ e s
De
fato, vários grupos de pesquisadores ao redor
do
mundo, inclusive
o\ grupos PEUL,
NURC
e outros
no
Brasil estão empenhados
em
obter dados
u b r c
a situação
de
diversas línguas neste momento. Ainda não temos muitas
respos tas; entretanto, os resultados obtidos até o momento apontam para uma
lcrceira possibilidade: o indivíduo muda com o correr do tempo, mas não atinge
pn·cisamente a mesma posição
em
que estão os falantes mais velhos hoje. Pelo
contrário, a tendência é exceder esta marca, indo na direção da deriva e assim
unplcmcntando a mudança lingüística.
I I dl l ,, tio I IIII
1\1
, .,
Iy
. ~ ~
1
u
o
a
i ~ u r ~
1- O lrapczóidé das vogais: a llccha indica a direção de mnvi
111
entu do
pnmc1ro elemento de
aw).
o
I<
e
u-
<
t:::
'
...l
C
00
I
f-
z
UJ
'
J
'
(;r\\")
'
r
' •
:
F i ~ u r a
'
IDADE
Índice de centralização por nível de idade
Geração
Idade
(aw)
la
+de 75
22
Ih
(l/ 7 5
- 1 _ __
lia
J , ( ()
-
-
III
11
-
XX
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 20/61
{I
111111
11 li 11 1
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ll{lll'olh
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1110
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60
40
20
o
I
0-J ) 20-29 30-19
10-19
50-59 60-69
Jda1k
Figura 3- (
ng.)
cm Norwio.:h por idado.: c
CS cslilo a o u a l
FS
estilo formal
711
6 elevância d variável escolaridade
Sebasticio
.IO.\
ttt \ ofl
,.
In trodução
A
observação do dia-a-dia confirma que a escola gera mudanças
na Ltla
,.
na escrita das pessoas que as freqüentam e das comunidades discmsi'
a·.
Constata-se,
por
outro lado.
que
ela atua como preservadora de
f'orm.1
s
d,·
prestígio, face a tendências
de
mudança
em
cu
rs
o nessas comunidades. Yl'll'lil"
de fami
li
arização com a literatura nacional, a escola incute gostos. normas. ; l l i l • ~ <
estéticos e morais em face da conform
id
ade de dizer e
de
escrever. Compn···,,d,
se, nesse contexto,
a
influência da variável nível deescolarização, ou
escol;uul.11
h
como correlata aos mecanismos
de
promoção ou resistência
à muda1H;a.
Algumas distinções operaciona
is
Para uma análise criteriosa dos efeitos, ou das correlações eslnht
••
1d.1
··
entre
va
riação, continuidade c mudança lingüística, de um
lado. L
a '
111 .1\ ··I
escolaridade, de outro, faz-se mister estabelecer algumas distinçües 110 il
llt
'l lllt
. · ·
categorias presentes na dinfunica social em que interage a escola.
1\
(lllllh'll.l ,.
entre forma de prestígio social c forma relativamente neutra.
A ~ c g u r H l : t
i l l •
·" •
é
entre fenômeno socialmente estigmatizado e fe nômeno imune
ü
est
1 111:1
111·''·
111
A
terceira versa sobre os fenômenos que são objeto de ensino
escol.11 I
.upwl·
·'
que escapam
à
atenção normativa da escola. Cabe também
disLifl - llll
,.,,11, "
fenômenos si tuados no nível do discurso e os que se inserem
no
illillltll
olt
gramática. Na categoria tipos de ensino cabe identificar três
s u h c l < ~ s s t
t'll
.11111
produtivo, descritivo e prescritivo.
Por
fim, o ato comunicativo se
di
vitk l'lll ' '"
grandes modalidades: a fala e a escrita.
A primeira distinção focaliza o
status
econômico c o prestígio
sonll ti••
su
úrios das formas da língua. As formas de expressão socialmente presii)'J.
ui.J
•
das pessoas consideradas superiores na escala sociocconômica opm'lll
'I
• •
l:d
ai
éS dw;
pessoas que não desfmtam de prestígio social c económico; tH
.:
nllt'llt
l'lll
l'Onlcxtos mais formais, mas clitizatlos, entre interloclllorcs que
Sl' t '"'"ln1111
:
un
l'II I
IIIOdl.'
los e pontos de referênc
ia
Jo hcm
l'a
l
<u·
e escrever. As l'ornr:l\ s
111 1:tlnu
1111
pn·,Li);' iild<1s
sao seme
nt
e
l l'rul11 d;r l11
1
I 11 III :
I nlicial. q
UL
as
lmll
slntlll
.l
l'lll
1111
1
''
p.11lr
ao
F . l l
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r m l l i H o ~ d a tl
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l'ltlqlh
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111
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f,
I '"
II
• IV
f
11 ,,
•
• • III• I•o >
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 21/61
11
L'Statulo Lk formas coJTetas, a serem ensinadas, aprendidas e internaliz.:.u.las
através tle longo processo escolar. Há consenso em que o professor de língua
materna é
0
profissional da linguagem encarregado de prescrever
e_
o n ~ r o o
domínio da nonna, nas ati v dades de produção de texto e r e ~ e x t u a l l z a ç a ? .. Ja a
definição do papel dos professores das demais disciplinas em lace do dommto da
forma prestigiada está longe de consen
so.
. _
A
segund a distinção elege estigma social. O modo
de
co
mu
mc_açao das
pessoas desprovidas de prestígio
e c o n ô ~ c o e_
s o c i a ~ _ende a ser
c o l c t r ~ a m e ~
avaliado como estigmatizado.
A
forma es
tt
gmauzada e mterpretada com?
mfer_10r,
em termos estéticos c informativos,
peJos
membros da comunidade dtscurstva.
Assim, criam-se consensos quanto ao carátcr estigmatizado dos u s ~ á r o s de
.f ramengo, pobrema
e
homi.
A forma
s t i g m ~ t i z a d , a
é ~ j e t o de c o m e n ~ á ~ · 1 o JOCOSO
ou
rejeição explícita
na
comunidade discurstva. E registrada como_ VlClO e1ro
nas gramáticas escolares e nos manuais de descrição. estudo e enstoo da hngua.
sobretudo nos níveis fundamental c médio.
A
escola move campanhas em
~ r o l
da
purezado idioma, na variante padrão, e atua constante na luta contra barbansmos,
so/ecismos
c estrangeirümos.
Quanto a esse último item, é
c?mum_
ver-se alwdo
0
político e o profissional da linguagem, num esforço em 1mpedtr que f ~ n n a s
es
trangeiras acabem instalando-se no âmago da gramática.
u p o s t ~ e n t c .
vernacu
Os usuários
c.las
formas sem prcstfgio, c sobretudo das formas estigmatizadas. sao
rotulados de descuidados e ignorantes das belezas da língua padrão. Os erros são
concebidos como males que devem ser extirpados da comunidade discursiva.
Quanto à listagem escolar dos barbarismos
a
serem evitados incluem-s_e .de
base fonética
(truxe
por trouxe, nósfltmo por
nós fomos),
os de base morfologtca
(o
cal por a cal, a
sabonete
por o sabonete), ou os f r a s e o . l ó g i ~ o s _ c:stou ao
par,
por estou a
par).
Sob
0
rótulo
solecismos
incluem-se os víctos c o s contra as
1101111
as de colocação (como a ênclise,
emfarei-te um grande .favor). c ? ~ t r a
as
regras de concordância (sumiu todos os meus discos) e contra os pnnctplos da
regência (gosto de
ir
na feira).
.
Parte apreciável do esforço dos organizadores de manua1s do bom portugues
consiste em codificar e exemplificar esses víclos de linguagem. Pugnam
professores de português para que os mesmos sejam evitados a qualquer custo, Ja
que são matéria corrente
nos
concursos vestibulares. A e:cola consome _rarcel_a
substancial de seu tempo justiJicando o esforço da comumdadc culta cm tmpcdir
a corrosão da língua.
Cabe nesse contexto, uma
rc
tlcxão sobre a relação entre freqüência de uso
,
. . - .
-
e sentimento de regularidade desse mesmo uso .O uso cnstaltZa, fixa, por
e p e t J ç a o .
as expressões preferidas pelos membros da c o m u ~ i d ~ d e . Os mecaAmsmos de
regularização criam novas associações na concordancta, novos p a r r u : n e t r ~ s na
regência e novos agrupamentos na ordenação vocabular. A regulanzaçao na
concorck'lncia
se manifesta em expressões como nove (horas) e pouca, em
vez
de
1101
.,.
horm ,. po
co
(tempo); meio-dia e meio,
em
vez de meio-dia e meia
(l1ora ): 1 /(( est
1111 Ío
cansada, em ve7 de
ela
estú 111cio <WI,·ot o : , ·uf• ' , , ,
1111 1/0.\
química,
em vez de
café com menos química.
A rcgul<U'Í/.;u,:ao na
ll
'l'l '
tll
,,,
se
maniü sta em expressões como entregar em domicílio, por en/regor dunu •
. ,,, •
assistir o jogo,
por
assistir ao jogo.
Há também as varian1es por rcgulan t;l
>
resultantes de reanálise das conjugações verbais, como em este_je calmo, L
llt 'I'"' ,
1
rarâmetro subentendido seria
um
verbo hipotético, este_jar, da primeira I H I I ' I l
c não
os diferentes radicais do verbo estar (est-, este}-, estiv-). É
tamhcn1
11 , " ' 11
de sejeforte, em
qu
e novamente um radicalhipotético, sejar, da primeira COlllliJ'.tl..,,, 1
atuari a, em
vez do verbo
ser,
com seus radicais
(se-,
so-,
e-,
fu,
sej
-
).
A terceira distinção tem como foco os fenômenos controlados pela
L'St
'IILI
contra aqueles que não são objeto da atenção disciplinadom e gramaticizadn•"
d.t
mesma. Por um lado,
a
escolacontrola, evitae pune, com veemência,
o
uso de I,
uct1
.t ..
com supressão e/ou troca de líquidas, como framengo c pobrema, e os fCllillll\ III I',
-;intáticos com resquícios dos casos latinos nos pronomes, corno dâ
para
i \ t/11
Por outro lado,
é
conivente com formas redundantes,
do
tipo há anos atms
A quarta distinção opõe fenômenos controlados por fatores granwtit ' .
incluídos no nível da oração e do período, contra fenômenos associadns
.1
lótlot•
discursivos. A gramática do sintagma e da oração tem sido beneficiada
co111
a
l l t t ~ 11,
quase exclusiva dos pesquisadores e dos profissionais do ensino da língua.
L
IIII ' t.llll• 1
o
1úvel
transfrásico,
do
texto. ainda engatinha
em
termos de atenção
que
dc
"l''
tl
.t
I por que a maioria dos fenômenos estudados apresenta alta coucl'nlr:t t. '
d·
·
l'atores
estruturais e poucos acolhem varáveis discursivas
ou
funcionai s.
A gramática tende a ser denominada prcscritiva/normativa. ou v l l t ,c
L nquanto o seu ensino pode caracterit.ar-se por ser predominantemcnll'
I
1
11
11 ,,
d
l.'scritivo
ou produtivo. O
cnsi
no prescritivoestá di
vi
elido entre as tardas
dv . I' u • ' '
.11 .
da-; formas de prestígio e as tarefas de eJTadicação das fonnas
sem
pn·s tll''" , '
l'
IIÍ'asc
para as estigmatizadas. Contribui para o domínio da língua padc.111
111
,,,,
•k estratégias de familiarização com os novos comportamentos. vi:1 n·l"' l ·'"
.t ,
l1wmulas propostas. O ensino descritivo naturaliza como boas as forma s
,[,
I ''
.II
I'' ',
,.
as
descreve com detalhe e circunstância, deixando no limbo as c tt ;ll
1<
m i "
,·,trulurais das fonnas a serem evitadas. As regras de concordância non11nalt ', li•.d
1 os estudos de regência verbal ilustram bem a
ênfa<;e
que se dá ao padra111
11lt 1\11
Jllst
ific<.Lr e implantar na literatura e no uso das pessoas cultas as formas lm
.dt
/,h
.1
..
cle llsino contribui para provocar adesão dos alunos a essas formas, cm
no
tn;u ,
I ' , I
(lll'slígio social. O ensino produtivosupõea aquisição de novos hábitos li
tl(
1
1t ,
lll11
'
.1 i 1rorporação de novos modos de dizer e escrever, sempre com ê n f ~ I S l . no :-.
',
,
l''''sligwdosde comunicação.
Em
vista dos modelos queescolhe l , l l l l i l o ~ • ,
11
1
1lo aluno com o nível culto. este
tip
o de ensino contribui pma que os a
o
pn ''• 11.111
.llu•Hiados
pela
discirlina g.ramatiL·al SL'jllm
também
incorporados.
Por rim. distinguclll
'-
l a .
lltlld,duladL·s
ralada e csnita. Os
L'SIIIdll
.\ '' 11 .1 1
l l l l l l l l (
l';(lll
Sl'
llOS
il'llllllll I I I I'• d,t l.d.t < llqlt,ll llll
;(
L'\l'Ola
p11Vdl')',l;l
11
l 111.11 d.l
I . ,
111.1
A I I I : I I I I I Ía
do
s
,. . 11111111 '
1111
\
I
'•
•'
11
',1 ol .t .ttllhn .. l
'•
I olloll \ 111.1 11.1111• ........
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IIII III 'I• Vt ''
IV•
· ' •' '
J
III•
I· I· h'
I I
L O O
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 22/61
··spl·L·Ilil·as
t.la
escrita, a
exemplo
das construções com verbo haver
impes
soal,
nllt
lo em ltouveram pessoas que reclamaram da comida. Por outro lado, a fala
nm lém co
nstruções com deslocamento para
a
esquerda, do tipo: O Brizola, ele
é
l'f'f'lllisto
mesmo.
Este item sequer
é
abordado nas aulas de português, dado que
a freqUência de seu aparecimento na escrita dos alunos é baixa.
As distinções acima se justificam, na medida em que o ens ino prescritivo e
tkscritivo inteiierem no dom(nio das formas
de
prestígio c no abandono parcial
uu
total das formas estigmatizadas. O ensino produtivo cumpre sua missão quando
11
aluno busca identificar-se com grupos detentores de formas de prestígio,
procurando apropriar-se dessas formas,
como
capital s
im
bólico. Esse processo
de apropriação
é
desencadeado pelo aluno. qnc o agiliza independentemente do
nível
de
pressão
da
escola. A homogeneização do comportamento social ocorre no
convívio com
membros
da comunic.lade discursiva. A consciência do valor do
cap
ital simbólico
se
desenvolve
na
interação com os pares.
Distr
ibuição dos fenômenos
Os
fenômenos estudados
cm que
se
avalia
o
efeito
do
fator escolaridade
cobrem diferentes segmentos da organização gramatical da língua, cm diferentes
túveis de codiftcação.
Entre
outros itens, recebem atenção a concordância nominal, a
regência do verbo
ir
de movimento, a supressão da semivogal em fom1as do tipo
J e i x e ~ f e x e ,
o uso de nós e de a gente, o uso de seu versus dele, defa, deles, delas,
bctn
comoo uso do artigo dcfi nido <mte.'; de pronomes possessivosc de nomes próprios.
O fenômeno
da
concordância nominal
é
tratado
pe
l
os
diferentes tipos
de
ensino.
Os
exercicios
de
concordância
se
verificam
em
todos
os
níveis
de
ensino,
com graus crescentes de exigência. à medida que os a.lunos avançam no processo de
escolarização. É natural , portanto,
que
o efeito do grau
de
escolarização se revele
pronunciado, regular e
constante. como
o
demonstram os informantes da amostra
da pesquisa aqui analisada. A aplicação
da
regra de conco rdância
é
parcialmente
controla da pe1o discurso
c está
sujeita a
dif
erentes graus
de
estigmmização.
O fenômeno da regência verbal, ilustrado aqui pelo estudo do verbo ir de
movimento, é
mais
tópico e mais limitado.
como um
problema típico de domínio
das regras de regência. É ensinado na escola de rorma assistemática. mas constante,
com lembretes do tipo: vou ao dentista, e não: vou no dentista; vou ao médico. e
não: zo médico. O
estudo
ilu
stra
o efeito
de
fatores
de
natu
reza
semântica,
no
sentido de que
há
tendência a usar ir em quando o alvo é local abet1o, do tipo: .fui
na praia. vou no shopping, mas fui ao médico.
A abordagem das condições de
uso
de a Rente em oposição a nós , e dele.
dela , deles. delas, cm oposição a seu, sua, seus, suas não
recebe
tratamento
s i . . na
escola.
em
nen
hum
nível
de
ensino.
Ao menos, é
o
que se
d
ed
u;
dll
exa me
dos manuais
de
ensino
da lín . . .
desc rição nem exe , . c1 f' gua, em que mextstcm scçocs di·
:lllil
lt•.,·
, rctcws e txaçao das forma<; supo ·t .
respectivamente n ó ~ e . s arnentc mats p n : s t l ~ t . l d . l
· ·' u sua, seus, suas.
Tende a
haver
reação mais decidida de re'ei
em que por
extensão
sem
t' , . , . çao contra
a gente.
tut-.. l
d'.l•·
·
, an tca
c
pt
agmauca
a form ,
T d
primeira pessoa do plunl co n . ' a e utJ tza a com ll 'l 't hl) tt.l
· ' •
1 o
em
a
gente
vamo
1
J·ogar
o
gente
vamos é mero . . d . : · que
se
passa l't 1111
processo e cxtensao dos clettos dare 1 . -
que
a gente
é
reanalisado
co
. . 1 .
gu anzaçao
. llllld
I
se cm e t ~ r m i n · t d o c.ontexto,:do e 1 ~ 1
L i u v a
ente a
nós.
O uso
de nós
tende a lllõlllh'
' · ,, e a a
apesar
da
• · .-
na função de SUJ.eito em c l _ '
'compehçao
dcagente, sohn·JIId''
. . . ons ruçoe :>
no
passado As inve
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, - . I
l'letto nos dados do projeto
PEUL
a
ontam
, : . ,- . .
tga
yoes cv:ld.ls .I
uão estreita'; nem e s t á ~ c i s ent re
'lpt
' d para conclaçoes mtcressantcs. ClltiHit.l
, · • ' axa o
uso
de
nós· n·1 JOst
-
d · ·
11tvel
de
es
colaridade do u
.
á .
d
1
, · ' çao
c
Sllll'llu ,,
· '
su
no a
mgua.
·
O papel nonnatizador aparece nos textos 1 . .
normalmente produzid . . . para cttura e m terpret:tt,
'I
os
por
escntores
de renome 1 · . . .
interpretaçãoéque par·tcsse•· pod
i'
A . ' ocats ou nactomus. Nns· . l
• ' · · u c enomeno
em
que - h- .
na
esco
la outras agênc'tas s .· . . . · .
nao
atratamento sJstctJI.Illl'••
' • < OClatS, COmO
a
JOTeJl
O
c1
b 'd
l'spaços sociais de interação exercem papel h ~ m ~ d e , o parti o c dl'lll.ll •
Q
d
oenetza ornada despre
11
wl
uanto
a
ele, dela, deles dehH em
0
·
.-
· ·
nao haveria proprtamente ' . .
postçao
a seu, sua,
St Us. ' ' ' '
' o
que presc
rev
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-
h
t i c r m a t i z a d a
nosentt'do ·t ·r
. .
' po r nao avcr
uma
lotllt.l
o ' . es n o c Sill1 um prestí io ma· . d
Ik'xõcs
Oc o
rre m , o lor assocra o a -"''"
v
""" .
~ · a s o
que
o s o e ~ m o
qLf
e o u
so de
dele e suas flcx
ões
seja prefcnvcl 11"
.
· · c seu avoreça a ambigüidade
como
1
dust
radoemtrocadilh
. d . • em excmp os dn l'l '
os e ane otas de cunho lmgüístico:
Fulano foi
passea
r com sua mulher
ou
o médico cuida
/J(,J/1
I
O .\
\1 III t
\
O uso de artigo de finido antes de nome
6 . , .
lll
tllparti
lhamento as.
. d . .
pr pno
e senstvel
,III 'I III
'
socta
o
ao nome
própno
Pcrso
. I
ll'l'tHlhecidos soc i
alme t t,
d . . - . . nagens cutt
111
' '•
n e en em a ser 1denttl tcados ·pel· , .
.1 l'xcmplo de
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h J l l l
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 23/61
011lros fator s
interferem, como a presença de uma pessoa culta a entrevistar,
a
~ c . . · n ç a
tlo
gravador e o próprio tópico de conversa. O nível de escolaridade,
l'lllrctanto, continua a desempenhar um papel crítico na configuração geral do
domínio da língua padrão pelos infomumtes.
O domínio maior ou menor do registro culto da língua depende de muitas
variáveis. Entre essas destacam-se aqui o compartilhamento das experiências, a
consciênc
ia
do grau de prestígio atribuído a cada participante do processo interativo
c o esforço de cada interlocutor
em
dar conta das tarefas comunicativas de modo
a garantir êxito nos contextos em que quer figur
ar.
Cabe destacar e atribuir à escola um mérito nada desprezível: o de ser
responsável por uma parcela relevante da tarefa socializadora que o
uso
de uma
língua nacional, de prestígio, requer. A escola, sozinha, não faz a mudança, mas
mudança alguma se faz sem o concurso
da
escola. Se tal truísmo
se
aplica aos
processos revolucionários cm geral, aplica-se também nas situação de ensino e
aprendizagem da língua materna, no nível padrão.
Exercícios
a
Faça uma descrição sobre o tipo de efeito que a escola exerceu e
exerce em seu modo de falar e de escrever e sobre o estágio atual de
seu domínio da norma culta escrita.
b) Diga em que aspectos da estrutura da língua culta você tem mais
dificuldade em se expressar conetamente.
c) Apresente a relação que você vê entre tais aspectos e a pressão da
escola.
d) Destaque os aspectos que você domina mais completamente, numa
pequena redação
de
auto-avaliação.
e) Observe os contextos comunicativos, os interlocutores, o tópico
de conversa, e sobretudo o grau de formalismo da conversa, em que
aparecem expressões do tipo abaixo:
- Não seje bobo.
- Espero que amanhã você
esteje
lá.
f
Proponha uma interpretação para esse tipo de uso.
g) Proponha uma estratégia para a escola trabalhar a substituição
dessa variante.
h) Proponha uma explicação
para
o
uso
de
c o n c o r t l f t m i ; ~
exemplos abaixo:
- Hoje, estou
meia
boba.
No
verão, a gente usa menas roupa.
- Pretiro café
com
menas química.
i
Qual a interpretação que você oferece para
0
uso de:
- Saí de casa, hoje, às nove e pouca.
- Cheguei meio-dia e
meio.
j) Como se pode
ju
stificar a ausênciade concordância em
o n s t r u ç õ ~ : s
como:
- Sumiu todos os meus discos.
Houveram muitos casos de dengue.
k)
Corn.o
a escolapode. trabalhar, de modo eficiente, contra as pressões
r e g u l ~ z d o r s que aJudam os exemplos acima a se fixarem como
normats na fala de uma comunidade?
l).A escola não ~ n s i n a os usos
de
artigo antes de nome próprio e
tlt:
pronome possessivo. Qual o mecanismo de aprendizagem us(
1
s'
m) Explicite. os processos de regularização contextuais no dmnínio
das alternativas de uso de:
-
nós
vs a gente;
- seu sua.
s us
suas v dele dela deles delas;
- artigo antes de pronome possessivo;
- artigo antes de nome próprio.
~ o s ~ c ~ o n e a s ~ o l a e comente seu papel no conjunto das pri ll t l
p;w.
mstttlllçoes soctms que contribuem
pru·a
o domínio das regras
h;1s il
da fa la culta.
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 24/61
7
Linguag
m
e contexto
Alzira Verthein Tal'arcs de
lltll t' ''
Intr
odução
De que fom1as o tipo de contexto pode influenciar o modo como a lllt l'""
gcm
é
usada?
Inúmeros aspectos, tanto internos ao discurso, como relativos " t l t t : to
- -
ocial em que este se realiza, podem ser rotulados como contexto. Enkndt •,1 •I
si uação social a
fo
rma como du
as ou
mais pessoas relacionadas entre
si tlc 111 .1111
'' ,
panicular se comunicam sobre um determinado assunto, em um Jugar (kll'llllllt .tll••
Ne
sta unidade, referimo-nos ao lugar (mais ou menos formal),
à
intt•ra
,an 11]111 111
laia com quem) e ao assunto tratado no discurso.
O estudo
elo
uso da linguagem em relação aos contextos sociai:--; ll-nt••'lllll
n l ~ t
descobrir quais são as normas lingüísticas de uma comunidade. re\l'l,ul.t·
pelas variações estilísticas que forem observadas desde o ambiente mais lllhllltt.d
.th:
l) mais formal. Tudo indica que os falantes possuem
um
repcrtóri tl
lin
1.'111slr1"
que pode variar dependendo de onde se encontram e com quem fala. altthlt'lllt .
tttais descontraídos, entre pessoas com quem se tem maior intimidade 1111 qu.rr11J.•
n:1o
-informais. Esses mesmos falantes, em ambientes de maior
fonnaltd;11
k 1
rrl r1
pvs:--;oas que não conhecem, entre pessoas de posição hierárquica tlill·n·nl• ·, 111 1 11
·
'tuações em que est
ão
autoconscientes quanto à I
n
guagem. são cap:ttl''> 1 1 . 11 I.'I ·
ol
l;t
maneira de falar e usar com maior freqüência as variantes de Íll . :'lllldll
·' '• normas.
C
raus
de
formalidade
do
contexto
O Primeiro trabalho a comparar a fala dos indivíduos em
contexto..,
dr
I• r• III•
l
c11 a pcsquisa
de
Labov, realizada em 1966, sobre a presença
ou
ausênl'ia
dor l111
.tl
dt stliiha no ing lês de Nova York. As lojas podem ser consideradas r e p n : s ~ : r l l : t r t l t · s '
.
1111:u,:
o
c:-.
sociais distintas: a Sacks Fifth Aven ue seria a de nfvel mais alto,
lo
t.tlll.tol.t
1
11 q11:11 tt Ír:lo
chique,pr
óxi ma
a outros estabelecimentos de prestígio.
com
tnl'fl
.u h 1 1.1·
do Jlf l lls rnai : alto
s. \
Mac:y s. por s
ua vez.
pode ser con siderada l tHIHI dv
III\•
I
1111d11
1.
s
tl
u
:td:t na
s
pro
\Í
tlr tt l: td.·
s
],,
d
io.,IJÍ
io dl' l o l1
kl ÇCK·s
e dl'
lojao.,
di' 1'11'\11' 1
I'''
·.lt
) t llltt•dio ... \ S ( ] ·nt lrn.dllti 'IIIL >l ll:ra dL IIll llm 111\ l 'l, Jllt
l\1111.1
.tos l l t l f lu \
III. i
•,
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t·
I
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IIII l l l l l l • (II I t,
ll o p\ 10 li]li
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jlll \ :dl II
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,1111111.1
l1cft11<
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-C lll c
I
Cll l u l i l l ~ l ) l i h U
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 25/61
\
variamc de prestígio em inglês é a pronúncia
do
r retroflexo,
como cw;
jimrth. oujloor sendo
a pronúncia
zero a
variante desprestigiada.
Os dados foram
obtidos perguntando-se aos empregados da loja:
"4ue andar
é este?",
ou
ainda
·'
onde
fica a seção
X? , sempre procurando-se obter
a
resposta fourth .floor
("qumto
andar ),
cm
estilos casual e enfático.
Os empregados das três lojas
podem
ser considerados
como
pertencentes
à
mesma classe social,
já que
o nível
c
a
remuneração dos
empregados
deste
tipo
de
magazine é pressupostamente equivalente, segundo o catálogo de ocupações
em
Nova
York. No
entanto, eles usam
a
pronúncia de maior prestígio, com
a
preservação
do
r retroflexo nas lojas de nível mais alto, ou seja, nos contextos de
maior prestígio:
Pronúncia do r
retroflexo-
diferenças
entre
as
lojas:
Sacks: 62%
Macy's:
51%
S. Klein:
20%
Numa
mesma loja
,
como
a
Sacks, por sua
vez,
foram observadas as
pronúncias do
r
nos andares superiores, mais formais, espaçosos,
onde se
exibe a
moda
de
alta
costura, e
no
andm
térreo,
onde
as vendedoras
se
inclinm11
sobre os
balcões em
espaços
apertados.
com grande número
de mercadorias expostas,
obteve-se
o seguinte quadro:
presença
do r
todos
os
r
alguns
r
nenhum r
térreo
23%
23%
54%
andares altos
34%
40%
26%
Estes
resultados confirmam. pois, a int
erp
retação de
que
diferenças de
contextos formal e informal levariam
os
falantes a e
mpr
egar. respectivamente.
estilos também formais ou informais.
Nesse
mesmo
trabalho, Labov apresenta com maior detalhe como os graus
de
formalidade
afetam
a
variação fonológica
de
uma sé
rie de
pronúncias no
inglês.
Ciuco
lÍj>OS de contextos foram examinados: a entrevista com o
infonnan
te,
a leitura
de
texto, a leitura ele palavras, a leitura
de pares mínimos
e os trechos
de
conversa
informal fora da
entrevista.
Quanto
mais
casua
l
o
contexto.
mais
a
pronúncia se afastava
das
variantes de prestigio. Em situações de formalidade ,
como em
leitura
de palavras de
textos,
foram
usadas
as
variantes
mais
cuidadas,
de maior
prestígio.
Obter dados da
linguagem
do
dia-a-dia através
de
entrevistas n
ão é
tarefa
fácil
devido ao
chamado
"paradoxo
do
observador : o lingüista precisa
descrever
a linguugcm
cm
seu contexto natural de uso e depara-se cnm a
contmdi<,
·ãn
d<: tJIIC
ao f;v ê-
lo,
cria uma situação
cm
que os
falantes
s ~ : senk111 oh
sl't\':ldcl' 111 •1
: H ; i i ~ . : s em
entrevistas, em gravações, videoteipes e outros l l H ~ I o s dc ' l\. lllcl.,
d ~ : apresentar um comportamento totalmente natural.
Labov
sugere
lJIIl se·
lc
,
,,
ralanlc a
disconer sobre
s itu
ações de
perigo
que
vivenciou, pois L
qu.tlltill ..•
oh lém um estilo menos policiado ou autoconsciente,
já
que a
sua
atcn\<111 1 ,1.11.1
vnltada mais
para
o assunto palpitante
do que para
a própria linguagem.
Em português, o primeiro estudo da influência
do grau
de formalid.ul1· cl.,
cllntexto no uso da língua foi o trabalho
sobre
a
varia
ção
na
concordfLnL·ia v1·1 h d
(Naro
&
Lemle,
1977). (ex.:
eles bebem
x
ele bebe .
As amostras
u1il11
1d.1
•
l <lrUln entrevistas com alunos
de
cursos de alh1betizaçãoMobral no Rio de
l
<tlll 11c•
re
alizadas na casa do informante
,
em seu
l
ocal de trabalho
c na
c;p.,,l dcc
cntrevistados. Esses ambientes foram classificados quanto ao discurso. qtl.llll
ao contexto e quanto
à
situação, tendo-se obtido diferenças
que
mo str;1111 q11•
quando
em
locais
mais
descontraídos, os mobralenses
empregam
mesmo
a
111;11,
,
de terceira pessoa
do
plural
nos
verbos.
Presença da marca de concordância verbal de plural:
disc
u
rso formal
54/ 117
=
46%
.56
discurso informal
14/43
=
32,6% .45
discurso
não
-familiar
18/92
= 19
,6% .66
contexto familiar
12/76
=
15,8% .46
contexto
muito formal
5172/
=
6,9% .70
situação
meno
s formal
14/103
=
13,2%
.59
gravação secreta
l/36
=
2,8% .16
Sobre a
mesma amostra
Mobral, Scherre (1978) estudou a n•rH •••cl.111• 1,
ltclminal , tendo comparado as entrevistas
em que
os falantes tinharllt'llll l
n·, 11111 11
l•
·"" gravação (situação tensa)
com
aquelas
quando não
sabiam
que
L ..,l a\.1111 • 11
1,
Pra\
adas (situação distensa):
a)
aqueles lençóis
x
aqueles lençol
b)
os caminhões
passam x os caminhão
passa
A presença da
marca
de
plural
em sintagmas
nominais
como
cm
1a 1
111
d 1
1111 111a is rrcqüente em situação tensa do
que
em situação distensa.
Os ti:H
ln lc11 .11n
n
1np
:1rados
com uma subamostra
de falantes
de
classe méd ia no Rio
de
11111
ucc
< la st• llll'dia
(
l:1..,..,,. hal\.t
lJso da
ma r
ca
de
plural
S1
11:
11
,:ao lvu..,a
Situac.,·ão dist
cns.1
X'lXI•'• II I . ~ " i .\X
1/ ; ,.
" " IX 1
1
'; .·l i
l111i
n d11 C, <IO
ti
10 lh I I I S I
1
•
11l
,,
I '111 I ' I l
•
" I•
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 26/61
( >utras construções afetadas pelo contexto formal e pela alta c o n s c i ê n c ~ a
sobre a própria linguagem são o queísmo, como no
ex:m
plo
(d)
em comparaçao
;
1
c)
c
0
dequeísmo, como em (e), estudados por Mollica (1 989):
c) eu estou com a impressão
de
qu o senhor é candidato . . (nor
ma
)
d) tenho ce
1
teza
que
entre m1m e o povo há mu ita coisa em comwn
(queísm
o)
e) eu poderia provar de que houve fraude nas e leições passadas
(dequeísmo, proscrito)
o uso do queísmo fo i comparado nas entrevistas da amostra Censo e da
amostra NURC (em diálogos em elocuções formais), mostrando-se que e_sta
constmcão é mais freqUente nos contextos mais info
rm
ais. reduzindo-se na
me
dida
em que,aumenta
0
grau de formalidade. No caso, a amostra
~ e n s o
seria a menos
formal
em
comparação à amostra DID do projeto NURC (diálogos). por sua vez
menos,fom1al do que as chamadas Elocuções Formais":
Censo
2 l8/27l 80%
NURC/DID
67/ 109 61%
NURC/EF
53/102
52%
Quanto
ao
uso de dequeísmo, corno cm
(c),
amostras
q ~ e
apresentaram
dequeísmo correspondem todas el
as
a situação de tensão e t d a d e , q u a n ~ ?
se
presta ainda mais atenção à própria maneira de falar, como em discursos_ pohhcos
e enu·evistas na televisão. Foi feita uma classificação do grau de formal tdade dos
itens lexicais usados em queísmo e em dequeísmo, com o seguinte resultado:
Itens fonnais cm qucísmo
+ formal 6/
18
33%
Itens formais em dequeísmo
+ rormal 23/ 188 12%
-formal
I05/15 ( 69%
- formal 14111
IO l%
Há indício de que o dequeísmo seja um fenômeno de hipercorreção: o_corre
quando se presta extrema atenção
à
própria fala,
com
a preocupação de se aJustar
ao padrão, e quando existe insegurança lingüística.
Contexto enquanto interação
Outro aspectoda situaçãosocialé aprópria
intcração
entre
falante
e nte_rlocutores.
0 f ~ t l a n t e também pode alterar o seu
es
tilo dependendo de com quem ele ala.
Trabalhos pioneiros sobre o emprego de
tu
e vous nas línguas européias
(rrancês, italiano e alemão) mostraram a importância de não apenas descrever
Sl :1 lin
guagL'Ill
usada pdn falante, mas também a
ne
cessidade de
se
ohservar a
d1dL , 11o é, a in tcração falante f ) - interloc
ut
or {J). Nestas IÍII ll:ts nll'.u dt·
'
l
l o l ls tlepende da relação de poder (por exemplo, diferença de id<ldt•
uu
1k 111 ' 1
I
hierárquico), ou de solidariedade entre os falantes (por exemplo,
o
J'l.lll d
t•
in timidade). Segundo os autores, o parâmetro poder dominava o uso 1k rv lllil ',
L's lá sofrendo mudança, com a prevalência do parâmetro solidaricJade.
Em Português, verificou-se
qu
e o sistema de uso
dos
pronomes de
tral.llllt
'nln
I Océ
c
o senhoria senhora
é regido, por um lado, pela diferença de idade l'llllt 11
fal
ante
e o ouvinte, ede ou
tro,
pelo
gra
ude freq üênciada interação
(grau
de
int
i 1 udad• 1
Quan
to à
idade,
um fa
lante dirigindo-se a um interlocutor mais velho l
l'llllt
1.1
a
us<u·
me
nos você e mais o senhor Dirigindo-se a alguém mais jovem,
Clllll'l
:llll•'
usará mais
você
Probab ilidade de uso de você de F para I
I mais de 20 anos
I entre I0-20 anos a mais
I de mesma ida
de (
+ ou - IOanos)
I
de menos
IO
ou
20
anos
I menos 20
ou
+
.O
.16
.41
.64
.81
Quanto ao gr
au
de
freqUê
ncia na interação, em relação àposição 11il'r:
ll
q11
i1
"
dos interlocutores, as possibilidades são as seguintes. com o respecti vo
l'
IIIJH •
da
for
ma de tratamento encontrado no trabalho de O
li
veira e Silva:
superior
igual
inferior
-frcq
üente
inferior: insegurança
igual: você
superior: o senhor
+
freqüentc
você
você
você ou o senhor/a '>l'
lllu11.1
O trabalho sobre tu/vous inspirou uma série de estudos sobn: as lo1111.1\ '
pulidcz nas diversas
lín
guas. A polidezé vista como estratégia para mantc1 al1a1nh1
11
,,
11:1 -; in tcrações (Brown
&
Levinson, l978) c segue princípios que visa111 UJllt '' ' 1 '
.1
1n
agem "positiva" ou
a
imagem "negativa" dos interlocutores, isto
é. 11
d,
s1 I
d1
• tola um ser ao mesmo tempo apreciado e de manter a "liberdade úc mm iulvllln·.
Ta is princípios se a
tu
alizam com marcas que muitas vezes sã11 ah'" ' '
''
•
pi'
a
própria gramática das línguas. comopartículas. tempos verbais
ou n p ,, .,.,
1,, ·
', . ,
hat
s tlc indiretividade, podendo ser observadas facilme
nte
nos atos dv la l.1 \ n11111
J'nlido
s,
oferecimentos, cumprimentos. etc. Dependendo
de
fatores co
nu1n
''t •
1"
dn JllllJ)I io alo. da r e l a ~ · ã o k podL·r L'nln: os interlocutores c uind<1
du
r l ' l a d1·
11111111idadl' L tllrc o:-. llll'S IIU > st'l.llllllili ad :is for111:1
s
de pnlide/.
Mat 'L'dtH' Bril11( 1
1
lX"'J
11111
' '' ·" ·""1 11111111:11
111odl'lo
lunnonapat.l.ili
dlit
lt
'•,IJ.il
l)'IOIS
dc s pcdtdno.,' 111 I'"IIIIJ III
t.,
l·111 11
C . ~ ~
d,· ' 'llalcladc d, p11dt 'l <HI 111 11
II I H I II I•
Jl
'I II • <OIII •Ioo
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 27/61
ralantcs de poder superior para
pode
r inferior,
com
pedidos
de menor s f o r ~ o ,
ou
ainda em interações
co
m pessoas
de
muita intimidade, tem-se a preferência
por
formas mais diretas de pedir, como (f). Por outro lado, pedidos embaraçosos, ou de
alto custo, entre pessoas
de
posições hierárquicas diferentes, com menor grau de
intimidade, induz
em
o emprego
de
estratégias
mai
s indiretas,
co
mo
em (g) e (h).
f) Bota baunilha aqui p ra mim? (mulher para
amiga na
co zinha)
g) Você
pode
passar
meu
lápis,
por
favor?
(aluno para pessoa
desco-
nhecida
na
biblioteca)
h)
Professor,
naque
le dia
da
pro
va estava
cheio
de
problemas.
Eu
me
dei mal.
Será que daria para
o s
enhor me
dar um
trab
al
ho?
(aluno
para profess
or)
0
mesmo
modelo se
aplica às perguntas
e respostas,
como
se
pode
ver
nos
resultados de Pe re ira ( 1990),
qu
e
contou
as marcas
de
polidez nas perguntas da
amostra Censo. Neste
caso. mantêm-se constantes
os interlocutores
e o
qu
e
varia é
0
con
tex to discursivo. Mas entrevistas , mudança repentina de assunto.
insistência
em
abordar um
mesmo
assunto, ou ainda assuntos mais complexos
(como i)
ou
embar
a
çosos podem ser
considerados
como
situa
ções m e ç ~ o r a s
da
fa
ce" .
Têm-se, t ~ L o pergu
ntas mais elaboradas, com
uso de parttcula
s
atenuadoras, u
so de
vocativos.
emprego de tempos
verbais no
passado ou
no
condicional. Em perguntas pouco
comple
xas,
que
continuam o assunto
do
discurso
imediat
ame
nte precedente.
como m.
há menos
for
mas
de
polidez:
i) quer dizer
que
se
o
senhor
tivesse
de
dar
assim,
vamos dizer ~ ~ a
rece
ita para como
exercer
um
a lid
era
nça( . .
que que
o senhor dma
assim - Como se
faz
para
a
gente exercer uma
lid
erança
?
j)
E
já tem
muito
tempo,
Carlos?
A
variação no
emprego
dos marcadores discursivas
em
exemplos
com
o
(k), (I)
c
(m
) pode
se
r vista
como
exercendo, entre outras coisas, a função de
manter
a
harmonia na
interação:
k)
quando
a gen
te
diz para
toda
vida ,
né?
porque
muda
muito. tudo
muda
tanto
..
I) E- Esse prato é da
B
ahia
m
esmo?
F- Bom a
Bahianão conhece
angu
à
baiana. A Bahia não conhece ..
m) Ele não tem
assim
um
sotaque
,
não
tem
voz
carregada.
Part í
c
ula
s
como né' , bom, e assim
são mais freqüentes no discurso e m
tre
chos que abordam
assuntos subjctivos
bom, né, assim). a i ~
.com
ple
xos,
.o
u
ainda
quando
o locutor ou o interlocutor apresentam postura
cntlca
ou ncgatt va
L
lll
relação
ao
s assuntos tratados (hom, olha):
Subjctivo
Objetivo
Subjetivo
Objetivo
com
assim
31/80=39%
56/90=62%
Bom
22/33
63,67%
11 /33 33,33%
s
em
assim
49/8
0=6
1%
34/90=38%
po
stura crítica
postura positiva
enumeração
outros
l l l '
3()
9/556 '\),(1
1
;
24
7/55
6
I
I,X :
bom
16/28= 57 , 11 ·•
2/28= 7, 1
l'i•
6/
28= 2
1, ~ ~ ; ,
4/28 = l4J{I)f
A maior freqüência de
mar
cas atenuadoras n
es
tas s ituações, q
ue po
tlctll ..,.,
cnnsideradas também
como
ameaçadora
da
i
magem
dos interlocutorl'..,,
n lt u \·
'
o que
foi dito
acima
para
um
mode
lo explicativo
para
a
polidez na u l l n ~ , - . 1 d o ~
harmonia interacional.
Contexto semântico-pragmático
Um outro aspecto
do contexto
, que
poderíamos
ro tular de SL III : I I I Ih
pragmático, pois
depende de
conh ecimento
do
mundo ou
de mac
roestnltut.l
o
d .
tliscurso,
pode
ser
vis
to
na
variação entre indicativo e subjunti
vo
n
as
consttlh.
111
n
mdicionais em portugu
ês
, conforme
Gryner
(1990). O indicati
vo
é 111
a1s
w .1d11
t'
l l l
contexto
experienciado ,
ou seja
.
quando
a
condicion
al
eslahl'lt'll 11111,
pcneralização de
um
fato conhecido, como em (n) e (o), ao pas so
que
o sllhptllll\
,. preferi
do
em
co
ntexto não-cxperienciado'',
como
em (p):
n)
Se
no
caso de
homem aceita a mulher
co
mo
ela é, v
irgem 1111 tJ
,u.
eu acho
que
o problema é dos dois . (experienciado)
o)
E u
ac
ho
que
se (=
se
mpre que)
a pessoa tem uma
v
ida saudan I,
tem uma
vida
eq uilibrada, então eu acho que ela não vai ficar dt h nh ·
(experienciado)
p ) Se (= por
acaso)
algum dia
eu
gostar
de
um
cara,
achar qUL' 1 11
não devo casar e nem ele .., cu prefiro juntar, sinceramente . (nau
cxperienciado)
O
uso de modo nas condicionais
se
presta para ilustrar ainda nutrn tip"
d·
tt tnk
xlo pragmático-discursivo.
As
condicionais ocorrem sempre
cm dtst.
lll ;
o o.
.11
ltlt'ttlalivos
tk
dois tipos:
il
ustra
ti
vo
(ex
.: q) ou não-i lnstrat ivo
(ex.:
J').
Na
.ll)'llttlt'll
l,ll,i l
ll JIIl'
c
iJalllillllO
S dt• ilttsl r;
l1Í V;
I.
11
ralantc
d;J
CXCIIIpJos l'
OI1CrCIOS
\'.
lll'SSt '\ 1 . l ' . tt ' . ,
(ll t i t Jt • ti l ld it·a( Í
\
0 \ 111 1 1 1 . 1 ~ · 1 1 1 (11•,( IJlli\ I:IS, CI HIICI
t'lll (q).
1\ t J ~ I I l l l nlllll t t l t i i .JI
III
,o.,t·•.t :lsoo.,
t• pt vn ·dul. l .i.J •'\fll• . ·"'1'''1 . .
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fl /1 /11 \ .\l l/'111" t
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11
1111
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Lt 11 11 l l o t td t t ' ll h f
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.
l
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 28/61
q)
No
meu caso, vamos supor que, tipo plano: tiro o mestrado, nao
consigo emprego, vem a calhar filho .. então, não
dá
pra responder,
Maria,
sei l
á.
(il ustrativo)
r) ...
entre eu e ele mais tarde.
se
a gente se casar,
vai
haver união,
entendeu?
..
e
eu
gosto dele paca. (não-ilustrativo)
Outros tipos
de
contextos
Deli Hymes (1962) criou o tenno "etnografia da fala'' para mostrar que o
estudioso da linguagem
na
sociedade precisa descrever todos os c ~ tos de fa la''
reconhecidos em uma comunidade de fala. Ora, o conceito de eventos de fala é,
em última análise, precursor dos estudos sociolingüísticos de linguagem e contexto
na linha
la
boviana. Hy mes propõe sete parâmetros para adescrição desses eventos:
I
emissor. receptor, tópico, canal, código, forma da mensagem, registro e propósito.
Exemplos de eventos de fala seriam uma missa,
um
discurso polít
ico.
uma aula,
uma conversa de bar.
Os exemplos vistos até aqui ilustram renômenos variáveis da linguagem
que se alteram em contextos situacionais, interacionais e discursivas.
Um
tratamento
completo da questão do contexto, contudo, levaria a esferas mais amplas
do
que
as tradicionalmente tratadas
na
Sociolingüística (ver, por exemplo, Levinson, 1983).
Como se sabe, o estudo desta dependência
do
contexto para a interpretação
semântica dos enunciados const
it
ui a área de interesse da pragmática (ex.: os
dêiticos e os atos de fala).
Em
vista do exposto, pode-se concluir que a
Sociolingüística, por tratar igualmente da problemática do contexto, não deveria
ser desvinculada da pragmática.
Exercícios
I Procure gravar um professor em sala de
au1a
e, depois, em
conversa informal no baJ ou lanchonete de sua escola, junto a outros
alunos . Verifique
se
houve alterações de
sua
pronúncia em cada
situação. Observe, por exemplo. a pronúncia dos ditongos. dos
r
e
dos s finais.
2)
Observe a fala de locutores de noticiário na televisão ou rádio.
Compare com a fala de locutores de programas de música parajovens
em rádios em freqüência modulada.
Veja
, por exemplo, o grau de
formalidade dos itens lexicais, o uso de gírias, a pronúncia dos di
ton
gos c o alongamento das vogais tônicas.
8
Relevância das variáveis
lingüísticas
Vera Lúcia Paredc 1 d .\'tf1 ,,
Introdução
.
Ao
estudar a língua em uso
nu
ma comunidade, defrontamo-no:- t'nlll
.1
d a d e da variação. Os membros da comunidade são falantes homens c
1111
111w
11
..
llc tdades diferentes. pertencentes a estratos socioeconômicos d1si i
11
"
d e s e v o l ~ e ~ d o atividades variadas. e é natural que essas diferenças. idcntiltl.Hiol
como socHus ou externas. atuem na forma de cada
um
expressar-se.
. .. _c?letando seus dados em situações reais de comunicação, a Teoriada V:u11\ ,
11
1
~ g l l l s t t c a capta ~ x e m p a r ~ s da
.líng
ua em uso num contexto social c podL di
1
'
11
~ s t m •. foco de 1 1 t ~ r e s s e tmcdmto para esses condicionamentos externtls
1:
ele IIII
o.;c v e ~ c a nos pnmerros trabalhos de Labov sobre a centralização de
dit<>IH'I'
" 1
111
Mattha,s Vrneyard e sobre a pronúncia do /r/ em Nova York (Labov. Jl)71.)
. . E certo que, de início, os fenômenos escolhidos para
<málise
pelo
..
\ ·
'
I O ~ l s t a s , e n v ~
v e n d o
principalmente diferençac:; de pronúncia, eram hclllnl.tn ,
11
1.
1
•
o ~ I a l n : e n ~ e
E
certo. n ~ a que, ao lado dos aspectos sociais, sempre sl'
III
V'.., ll .l 'lllt
". m f l _ u ~ n c t a .de vanave1s (ou grupos de fatores) internos, isto é. dl·
11
.ttlll1 ,
1
~ g U I S ~ (f?nológicos, morfofonológicos, sintáticos, semânticos, t'il
l
l\l.1 • .
1
~ ~ ~ ~ ~ t a
dos t ~ t ~ r e s
s . o c i a ~ s
tinha justificativa adicional:
assinal;
1
va
1 1 1 1 1
I'" .
1
1
1
,
1
l t.: H oposta a 1deahzaçao gerat1
v1s
ta e mostrava o comportamento dl'
11111
l.
tl.lltl t 1
I V t n t ~ r e a l , numa comunidade lingüística longe de
e r h o m o g ê m ~ a
k
-.t'
11 \
1
,1
1,
...
c,
a s s ~ m
uma
S o c i o i n g ü i s t i ~ a
p.recisa,
rigorosa: em s í n t e s e ~ cic
ntli
lt
':
1 .q iP tdc l t
nos
metodos de anáüse quantitativa introduzidos por Labov
c19(
1
t)
1
l' lt' t
111
1
cJ,
pur Cedergren e Sankoff
(1974).
. Os primeiros trabalhos varia.cionistas tratavam de fenômenos lllllllllitlllll
~ ~ ~ ~ c o s .
nos quais
a
premissa básica da variação - que as duas
ou
1
n.t
lo.;
1
1111111
.,
. t l k t e s ocorram no mesmo contexto. com o mesmo significado
I" ,d
11
>l t
llla
n
t•da
com certa confiabt'licl··d Alé d' " · A •
A • <L
e.
m tsso,aex tgenctadcum grandt·n
llllll
' lll
•k t>t.:lli
Tencms
para a aná
li
se era facilmente cumprida. Afinal, numa :11111 , -.tt.1 d1
l.d:t
encontram-se mais sons/fonemas do que qualquer outra entidade
llli
i'ÍII'.Iu 1
Natt.
lraJ
t < ~ m . b é m
nesse tipo de estudo, que entre os fatores
inll'lltO
< . .h
lt.illlrl'la Innologtca prc\ alecessem N·t vcr·
1
·1de algt1n · ·
1
1
· . ' u, . s
ue
es nao lt .111.1111
Jlmpnnmen
lc
novidade. Ynil'il';lr a inl'ltl0ncia do segmento f(
) nil o
111
'l'lTd .111
11
I l I 11
'
11
l J I I l ' , l l l l () papl'l tl<i -.
tlah
:t illllll :1 na flllllta\
·;10 dl'
j)I'OillÍill'l:t cll•tllltfPilt lllt
1•
1
l ta 111\l'-;il l'<ll <ll k\.ub " 1 .ilut
11
.1 ... tll:ll1S's t'"ln1tura ll \
l:1
s ( hlilo
>
tllllllllo ,
l < ~ t , l l l l l l l l l l l d i i l t d l l l l l ' I 0
\ , 1 1 1 1 •
l l l l l
' o l . l ~
llllllltlld
t• \ l l l l . t l /c l t l /111 / ·
Jll 1
r
I I , I I -.1
I I I I
I
IIII
Ó/3 I i ro< h
<.,11
< U JoC illh
1gUI
Sik
u
/ P V < I I l < /ri dei V < I I I I I V < /iii•llil'.ll q • f
1
1
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 29/61
produtivo em muitos trabalhos. A maior novidade, porém, consistia em quant 111l·ar
essas noções, aferindo com precisão o peso de cada tipo de condicionamento, uma
vez codificada<; todas as ocorrências e aplicado o modelo de cálculo es tatístico.
Segundo S iva-Corvalán (1986). o sucesso dos estudos de variação
fonológica de orientação laboviana motivou os sociolingüistas a aplicar os mesmos
métodos e técnicas à análise de casos de variação na sintaxe. Parecia, à primeira
vista, uma evolução natural na aplicação do modelo.
Se
se encontra variação
sistemática e quantificável no campo da fono logia, por que não estender sua
procura à sintaxe,
à
semântica e
até
ao discurso?
Logo a questão se revelou bem mais complexa, a começar pela dificuldade
na obtenção de
um
número significativo de dados para a análise: é consenso que há
menos variação
na sintaxe do que na fonologia,
no
sentido não só ~ n o s ocorrências
de
um
mesmo fenômeno, mas também de menor variedade de fenômenos. Além
disso, nes te campo, a questão das diferenças de estilo setoma mais
di ffcil
de controlar.
A questão
do
sign ificado
Um ponto demonstrou ser o mais polêmico na abordagem da variação em
fe
nô
menos não fonológicos: a manutenção do significado nas fonna s alternantes.
Será possível cumprir essa exigência quando o que está em jogo são consttu ções
sintáticas, por exemplo?
Es ta discussão foi enriquecida pela troca de artigos entre Labov e sua ex
discípula BeatrizLavandera..Esta assume u
ma
atitude crítica quanto à possibilidade
de
variaçãofora do nível fonológico (Lavandcra.
1984).
Éque, saindo deste plano das
unidades mínimas não-significativas. vamos encontrar necessarian1ente
um
significado
a;;sociado
a
cada fonna. Segundo Lavandera, isso representaria
um
obstáculo
ao
cumprimento da exigência de forma') alternantes
de
dizer a mesma coisa.
Como ilustração, tomemos
um
par de construções tradicionalmente
relacionado nas gramáticas- a ativa e a passiva correspondente. Wciner e Labov
( 1983) declaram estar convencidos
de
que optar por uma ou outra é uma escolha
sintática. Admitem haver diferença de
f
oco ou ênfase"'. mas, em última instância.
j ulgan1 que ambas acabam por se referir a um mesmo estado de coisas. Embora
reconhecendo haver contextos em que as interpretações ; e m â n t c a s de ativa epassiva
se afastem, segundo os autores tais contextosdeverão representar apenas uma parcela
do total de usos, não invalidando a procura de restrições gerais para a escolha entre
as duas, isto
é,
de grupos de fatores capazes de influenciar essa escolha.
Ainda em tomo da questão. consideremos a ordem depalavras, em frases como:
1- O
trem chegou.
2- Chegou o trem.
J
.
~ L ~ ~ ~ ~ l l ' pon
to
se pode dit.er que a mudança na coloca\·ao
do
\ lljciln
11
1
,
a cta o slgl1lllcaúo das frases? Nova
t · · ·
. 1.
.
1
. ·
mene,senosrestnngu·mosaovalorll :lt•ll·ll,.l,d
u<Ls ( uas p roposiçoes (aqu· d · 1·
. . • 1 escontextua 1zadas), poderemos l'll t"lliiiJ
11
élJU tvalcncia: trata-se de um p (
h , ) · • ·
. ) M . . recesso c egar relaciOnado a me sma l'lllidad,· '
IICill · as que dizer da dt ferença de foco de inforn
1
ação?
Para Labov e Weiner na pass1"va ( i
l , · . · e em outros enomenos como :t
01
dnn
r o: p l o ), o que esta em JOgo é a manutenção do valor de verdade d<> . 1 ·1 1
rele ·e
al
d d h
S l l
lll
' "
r nCI' 'po en
°
aver, portanto,
um
tratamento variacionista dos féi; ÍlltH"
Itil
·
. n q u a n t ~
s u ~ o r e s
operam com uma noção de significado mais estt·ita, I av;llld, ' ·'·
•
10
r ~ o
Vai propor o enfraquecimento da condição de equivalênciaSl'lllall lll ·
1
s u b s t i t m n d ~ - a
pelo que chama
de
"comparabilidade funcional". Esta dikn.
11
, .
,1
.
~ ~ ~ n t o ~ de vtsta tem conseqüências na definição daquilo que se toma
como : ' ',
.,
t cpen ente a ser estud ada Na perspectiva de Lavandera. frases como:
3- Está frio aqui.
4- Como você consegue ficar sem casaco?
5- Por favor, feche a janela.
~ . p o d e m tt·aduzir a m e s m ~ intenção comunicativa, admitem ser tra1:111.1
..
, ..
'
v.:n,mtes
u ~ a . m e s m a
v a n á v ~ l .
Não na perspectiva deLabov,já
;,,., ll''"' '"
de mesmo S1gmf1cado referenc1al não estaria sendo cumprida.
. Por sua v ~ z , a análise v a r i a c i o n i ~ t a tem como lidar com essas dllnn
1 1
•
1 - . ~ o c m d a < ;
a
ti . . A • • ' •
r
. . ma zes semanttcos ou
a
propnedades discursivo-pragmátkas ' '1,,
r
I l l t
•a-; que parecem ocorrer na passiva ou em alguns casos de ordenação de ék'lll<'
lll
o·
liHno.os e x e m p l i f i c a d o ~ . Elas sempre podem ser controladas através < l u ~ L111111
1
1
< -.tulados como con-elaciOnadosao fenômeno. Assun, por e·vemplo pod 'n . . 1
1 ·- -
""
•
t:
lOSJliOl"l"l
"
" uma
c
a s s 1 h ~ a ç a o dos referentes como veiculadores de informação nova
011
w lll
1
, .
h·-.rar seus efeitos na mudança de ordem buscando a e x r · s t e · d
1
•
1 , ·, . . . • cm
a corre a\
ao
t
J
1
"Jitlu o 2, V a n a v e 1 ~ discursivas sob a perspectiva da Teoria da Varia ·ão·
1
Neste caso o
1m
rt t ' d" · · ·
. . . · , _ po an e e Istmgwr se, de lato, o traço scmüniKo 1111
:
l ~ ~ ~
~ 1 ~ ~
em questao se apresenta como uma das variáveis associadas
;,
van:u,
''
11
' l:.tusa ou nem chega a haver propriamente alte · .
. 1
. . , ·'. . . . rnancra. atu.tnuo .tq111 l.1
' •
11
> ~ c t c r s t t c a no ~ e n t l d o
de detemlinar uma escolha No últi . . .
.. l
.
J
•I
111
·
11
1
. . _ ·
mo
c,\so •K.tl,,
P'll
<
1
' Ull<lltstnbUtçao complement·
u·
-
aren easconstJuçoessupostamcntcalit'lllalllt
..
I
I Jllt'
nao se encontram em variação num mesmo contexto. Essa é, or
'xnn
)h
1
1
I '''· lllra a(lotaúa o ~ · Nm·o c Vott·e 1986) para a ordem Sujeito-Verb,)Vcrho s
1
t"ll•,
I
<
1
Jllll"dadc
s rdactonadas à distribuição do fluxo d·l
m·
1"<>nn·• , - . .
1
r . ,
<
.çao .to c:uall"l n·111t.d
"
11
rw
11
l'nco t ~ é
um
rei crente para a naJTativa. determinam a C'ico h,
1
dc
11111 1
111111
"
111
dCI11l' 1111pedcm n tratamento variacionista c
lüs
sico. segundo os ...
/l l
li11i1 11 lll< I
h
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I
'
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H
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ii
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li1 • 1 11
·11•,
11
/ I
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 30/61
A questão do contexto
As
co
locações acima tocam em outra questão
de
interesse
para a ~ e o r i a ,
tkt:mrcnteem
parte
da
ampliação
do
objeto
de
estudo
par
a além_ fo_nologta,
em
parte dos avanços da ciênda lingüística. Trata-se, agora, _da
e x 1 g ~ n c 1 a que
tt
1
rmas variantes ocorram num
mesmo
contexto.
No que dtzrcspctto
a fenomenos
sintáticos, autores de tendências
distintas (Bentivoglio,
1987;
K.lein-Anclreu ,
1983;
Kroch,
1983)
têm
assinalado
a
necessidade de estudá-los em
s e ~ ~ o n ~ e x t o
discursivo, c
não
apenas em
sentenças
isoladas.
No caso
dos
v a r t a c J ~ n ~ s t a ~ ,
entretanto,
não
se trata
de
uma simpl
es
recomendação, mas de uma_
x ~ ~ e n c 1 a
teórica.
Lembremos
de nosso postulado inicial: além da manutenção do
stgmf
tcado.
é
necessária a identidade
de
contextos para que duas ou mais variantes possam
se
r
atribuídas à mesma variável.
A
propósito, Bentivoglio
( 1987,
p. 14)
pergunta até
que
p o n ~ o se pode
permitir
que os
contextos difiram. Levaremos em
con
ta
p ~ ~ s
as. r ç o e ~ cm que
ocorre
0
fenômeno? Ou
também
as
precedentes
c
s
ub
seq u
entes?
E o
g e ~ e r o
de
discurso não importará?
Desse modo
, reconhece que, sintaxe_,
se
qutserm_os
encontrar contextos iguais tal
como
fazemos em fonologta,
devenamos
renunctar
antes
ele
começar . . , . .
Outro
ânoulo
da
questão, quando se trabalha
com uma vanavel
dtscurs1va.
e .
é estabelecer
0
conjunto
das
formas
variantes, isto
é, caractcnzar
o
que
se
convencionou
chamar
de
envelope
da
variação". Consideremos,
por x e m ~ l o ,
o
deslocamento
de um
SN para o início
da
frase. A que
vamos
contrapô-l
o?
A
sua
permanência
na or
d
em
não-marcada.
Mas
apenas
quando
explícito?
Ou
quando
ausente
também?
Vejamos ai
nda
os c
hamado
s marcadores discursivas
(do
tipo af assim
. b I etc). Uma vez identificados os contextos cm que cada
um
deles costuma
sa e.
d"f
aparecer será lícito
co
mputar as ausências?
Caberá
buscarmos
que 1
crenças
es
truturals
envolvem
essas
diferenças de intenções
com
unicativas'?
Essas questões
podem
tornar difícil a própria decisão do que tomar
como
a
variável dependente, isto
é,
o
conjunto
das variantes sob
aná
lise.
h •
Por
esse motivo, tem surgido entre
os
pesquisadores uma
nova
e n d ~ n ~ m : em
vez de tomar por base para a análise
um
fenômeno de contornos
g r ~ a t l c a t _ s b e ~
definidos (o p lural
no
verbo, por exemplo), tem-se
m p l i ~ o
o
~ m p o
de mvesugaçao
para domínios mais abrangentes.
Por
exemplo, procura-se
v ~ s t t g r
como mesmo
processo
se
manifesta através
_de
expressões d i s t i n t ~ s ,
m U J t a ~ ve:cs p e r t . m ~ ~ t e s
a
diferentes níveis lingüísticos. E o caso
do
estudo
da
mdctenmnaçao, processo
qu
e
faz uso de diversos mecanismos lingüisticos
para
1mmifestar-se. perpassando
por
diferentes níveis lingUísticos - a t1exão
do
verbo, o uso
do
pronome \ · e co_mo
indctemrinador,
0
recurso às formas
você
ou
a gente
e mesmo a
e x p r e s s a ~
leXIcal
com itens
comoas pessoas, o suJeito ocara.
Desse modo, é como se estabeleccssemos
nao
p c t ~ s
uma escolha entre duas
al
t
cmati
vas, mas urna escala tk
p u . . , ~ l l u i H I . i t h
para aqUiloque poderíamos
chamar
de um domínio fundonal. c aí cstuda
1
a, ,
1
,
caso, o ~ i g n i f i c a d o
re
ferencial seria preservado, mas
a
questüo do
l IIII. t,
t:x 1gma um cmdado especial, ao levar
em
conta a situação discursiva.
Considerações finais
Como se
vê, a questão
do
signifi
cado
e a questão
do
contex
to
e:-t
ao itllllll
cadas. Por sua vez, as análises variacionistas aplica
da
s a fenômenos sinlnlll 'tl ',
ou I s c ~ n · s i v o s
têm
imp
ulsionado
a
busca de so1 ções para
os
problemas
ap< H
li ;u t
)·,
~ ~ e ~ d ~ s s o
o
c ~ e s c e n t e
avanço
de
abordagens c
omo
as
da
linguística tcxt
.JI 1 11.1
Imglllstlca
funcwnal
tem pernútido refinar as va
ri
áveis
de
natureza d isn
,
1
1\
lgumas delas
status
informacional, contraste,
cone
xão discursiva
ctr J
1
di lo,
aplicadas
com
sucesso ao
est
udo de vários fenômenos (cf. capítulo t::?. ''V;tiLI\,
'
discursivas sob a perspectiva
da
Teor
ia da
Variação").
.
As q u e s t õ e ~
lingüísticas anteriormente apresentadas.
na
mcdtd:1 ,
111 '1"1
dcs_afiam
os
pesqUisadores a encontrar novas soluções,
acabam
por
atr;111
111
1
11•.,
lllats a atenção
dos
variacionistas para os fatores internos, ultrapassando o"'"
1
.,.,
1
•
pelos fatores sociais convencionais,
já
estabelecidos
e/ou
mais testado
...
Psi a
,.
aliás, uma critica feita
por
alguns autores aLabov, que,
em
benefício
dt,..,
" '
'
1
,
11ll
crnos, teria
havido
o sacrifício
do
COIJ ponente sociaL
Nossa
ótica, no
L'ttl;
111
tn
("outra: não
há perda do
social ,
há
ganho
com
fatores internos
mais
elahm:ulu
•,
.
Essa ~ ~ n ç de
perspectiva
se deveu também
à
cons
t
atação
, vai
a d o ~
1
tol
1111á tses
e m p ~ n c s
de
diferentes fenô
m
enos não fonológico
s, de que Jlt·., ..,, .,
knomenos
nao
se
encontram
co
m
a mesma
fac ilid
ade
as correlações l'ntn· "'·
l;ttor·es
soc
ia
is
e
as
va
riáveis investigadas.
Em
outras
pa
lavras, os
l'cn
o
llt
<'th•··
".no fonológicos têm-se mostrado menos sujeitos à influência
do
s fator
es cxtn
Isso não deve sugerir, enu·etanto, que abandonemos
a priori as
considl'la\
11
•••
1
k-
cu
nho soc1al. Elas devem continuar
sendo
investigadas em nossas analtsL' \ di'
knômenos não
fonológicos. Talvez nosso
maior cuidado deva ser
o de di
..
r
w
para um fenômeno
não
fonológico, o peso das influências provenientes
do
.. 11;
,
1,
>ll
llático. semântico e discursivo-pragmático, antes de atribuí-las a possl\
1
•
1
d1lcrenças socia is.
Finalmente, é preciso ressaltar
que
as dificuldades apontadas ao lonJ.',tlth".l•
1 npítulo não
impediram os
avanços
da
Teoria Variacionista.
Ao c . : o n t r ~
.111
1
nlocar no centro
do debate os
f
atores
internos, l
evaram
a um apro ru nd:tlltl' ll lu do ·
ljll i"Siocs
de
natu reza teórica, assim
enriquecidas
através
da
s di:-cuss"
1
·..,
dw
ll.thalhos e
mr
ír
icos. fsto
tem permit
ido
estende
r a
precisão
da llll' ltldlll"''';'
v
o
1 :1eion i
sta
a áreas
elo
conhecimento lingUísticos
inic.:ia
hncn tl' ll
<lo
itllot)'lltad.t ,
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 31/61
Introdução
9 Variáveis fonológicas
Christina 1\hrcu (
l l l t t 1
Cláudia Nívia
Roncamti
dl Sou
''
A
identif
icação de fenômenos van aveis pressupõe que, para unta
úctenninada categoria lingüística, existam pelo menos duas possibilidades
<
l· n
III<
scntação superfici
al
disponíveis para os membros de uma mesma comunid;ttl,•
d,
fala, ou seja, aq ueles que compat1ilham as mesmas normas de avalia<,:ao l ·'
necessariamente de realização das fo rmas lingüísticas. lmplica ainda tlitl't
'I'" '
escolha entre as formas não se dá aleatória ou livremente, mas rclat'tPII.ult ·'
variáveis lingüísticas e extra-lingüísticas.
O
objetivo deste capítulo é apresentar dois aspectos importantes
do ' '" · '"
temas fonológicos das línguas naturais a partir da ótica variacionista.
Pri
tlll' ll
.tnu
1111
pretendemos sal ientar que os fonemas podem ter diferentes
realizaçciL·s
lo
•
t< 1
q
ue
sea:rfemamno mesmo contexto lingüístico. Como partimos
doprinc.:lpil
lth
<
l'"
a escolha entre as formas que se alternam en tre si, as variantes, se dá a
pa1111 '
in
flu
ências internas e externas, num segundo momento pretendemos disc.:utu
(l
1
JH 1
de
i n f l u ~ i a
que um contexto fonétiço-fonológico pode ter em variáveis qul' ,1·
situam
tat1to
no nível fonológico como também em outros níveis do
siste111a.
A variação no espaço fônico
Conf01111e
já
foi mencionado neste livro, a visão de língua como
um
si,ll'lll
1
que possui uma heterogeneidade sistemática prioriza uma at1álise
g ü í s t i c : < ~
vollad.t
para explicar modos semat1ticamente equivalentes de se dizer a mesma roi' c
t c n d i m e n t o
dessa possibilidade, que parece ser parte da natureza
ua
lingwt)'l'lll
hu 1
mma,
definida em We inreich, Labov e Herzog (1968) e incorporada cm td lnnt .
d
L·
estudiosos de outras correntes teóricas' , data dos teóricos estruturalis
ta
s
<JIIl
' " '
I 1 s k ~ n s . R v. Hout e W. Leo Wctzels. PortO Alegre: Let ras tle I lnje, 21l(lll.
v.
I i. u" I p I
til' til
todos l i n g ü í orientados mai s teorica mente parecem estar c i l n ~ de qu e a v;u1u;.111 luw111 11o '
I 11111:1
..-:
lr:K'Icrí,tk: l essencial da língua, tanto quanto um pré-requisito par:< a cvnllu;ao lu iJ U\111 ,,
.
1I' ·"
'
~ · ' oi< Mat i'a Porto dco Amara( dn texto original publicado cm Hin,
k.:m
• F. \<11\ IIPul, F .n11l \\ , ·1
o•l
, \\
rnl , )
vanalio
n. dwngc ;md
phonological thcory. i\mst
cn
lam/Philadt·lphia:
Jo l111
lk1q
.l lll
lll\ ,
I 'I 'JI
W Wll
' "l l
1\ Iknr
y ( IJ' X
: 15): No a
vi
,a<•
de diak•to M
t'
ll',
fllll I 'XI III(llo.
qll<' .1 .ll'nltl
.nlt· tl
.t
""r"
·'l" 111
I 11
ttU\il) ' ll
l,ldol p .u .t
. l u
OllltMI;u a IJ;IIIlô lll
;I ~ ~ ~ llllllll
ll lllado: ' " "
lllli
lol dlll'l lflll' ,, I.
o ttltl.ulo ol.l 1111
1 11
.11 III ti
111 ll tlro< luçuu
à
Sodolfnguistica
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 32/61
n h ~ : c c r a m a'i
diversas realizações fonéticas de um fonema num mesmo contL:xlo
1 ngiiíst ic.;o, os alofones em variação
2
, como parte integrante da organização do subsis
lcma fonológi
co.
Dessa fomm,
é
de se esperar que existam diferen
tes
realizações
( m ~ t i c a s para uma mesma unidade fonológica num mesmo contexto dentro de uma
111csma
co munidade. Essa alternância pode ser observada nos exemplos a seguir, que
podem ocorrer, por exemplo,
no
dialeto cari
oca:
garag[eif-
garag/i] , p[ f
lástico
p/ rfástico, p[ l]xe - p[ jxe; fa la[L] - fa/a0; cantan[djo - cantan0o.
Estabelecer a variação como parte integrante do sistema, juntamente com
estruturas invariantes, e não como uma mera manifestação do uso lingüístico.
constitui também uma forma de melhor capturar a organização do sistema
lingüístico intemali:wdo pelos ralantes.
Po
r exemplo,observemos os a d o s ~ seguir
3
do Kuikuru, língua indígena da Família Karib, localizada no Parque Nacronal do
Xingu, Mato Grosso, Brasil:
(1)
[i lumpe]- [i lumbe]
[ ante]-
[ ande}
{ aflke/,....,
/ afjge]
f ui naTlfsu] - fui nafjdzu
I
(cinzas)
(aqui/hoje)
(maraca)
(minha irmã)
Os dados ilustram um caso de alofones em variação. Os falantes do Kuikuru
vão identificar, a partir da exposição a dados desse tipo, que
a
distinção de
sonoridade das consoantes oclusivas e da consoante africada não é distintiva, mas
se conftgura como variação quando ;mtecedida de consoante nasal c não háfronteira
de mmfema (cf. Franchetto, B. et al ii, 1993. p.79). Do mesmo modo,
de
alguns dialetos do português brasileiro também deverão identificar os contextos
em que a distinção de modo entre a<; consoantes [bJ e lv], traduzida no traço
[contínuo . é distintiva, como em [bfalal[v]ala
e
os contextos
cm
que é uma
opção variável, como
em
[bjassoura fv)assoura; asso[bjio asso[v]io.
podo:ria ter evoluído como cvt1luiu. como um
r c q u i ~ i t o
para o sistema paramétrico.
n ~ c c s s d ~ d c
de
acomodar a variw,:ão cm:ontrada na produção
da'
língua> naturnis.
( .. .
O que parece haver nao e
urna
" r n p l e ~
escolha cnu-e a gmm(ltica Jo indivíduo e a gr.mtática
da
comunidade: mais preci>amcnte, o que há é uma rclaç:1o
de interdependência enU'C a gramática intcma e a gramatica da c o u 1 u n d a d ~ . ( .. ), p<trâm-:lros existem >Omenlt
porque a v a r i a ~ i i o é nonna nas línguas m d u ~ · ã o
n o s ~ a ' .
("Ou r vicw of
i a l ~ t ~
s u g g e . \ 1 ~ . for cxample.
that thc lauguagc faculty is d e ~ i g n e d to accommodate a commumty r a n u m ~ lly thts
we
mean that l<ulguag:c
faculty could only havc cvolved ru: it
has.
wi th a t'Cqwremcnt for
a
parametnc
e m ,
bccausc nl the nced to
acconunodute language variation found within natural language productiun. (. . What we ~ c e m .'o have
JS 1101
simply a choicc betwecn an individual
gra
nunar
or
a connnunity grummar: ralhcr. wc ~ a v e
an. m l ~ r d ~ p c n d e n t
r e l a l . i o n ~ h i p bctwccn intcmal gmmmar and
lhe
communily grammar. ( ..
ln thc
case oi core
h n g w s ~ ~ c s , ~ 1 e r e
is
a
necd w recognizc thar paramdcr' cxist only becausc
Y<u-iatiun
is
a nonn
within human languages . Wtlson
W & Henry. A. (1998) Pm<llnCter Sctting within a socia ly r t a l i ~ t lingubtic. Language in Society '27. 1-'21
2. A
variação
para os
l r u t u r a l i ~ t J ~ era ''livre . Um outro tipo do: o ~ o r r ê n c i a
de
a o ; ~ n c t l c t e ~ t a J n
pe
los
estrutur
alistas são
os
alofones
em
distrib uição complcmenwr, isto. e. formao;
. r o n
c a ~ a'soct:\da'
a
um
mesmo roncma possuem co ntexto, foné lico-fo
nológtcos exclustvos
de ocorrcncta. É o ca'o
do\
llln<:>
[t'<l
c ltl no português carioca d i s t r i b u í d o ~ cm
função da
vogal
que
os
segue
na
sílaba: 11'1
'o m
:
dianll' dL· i '
lt
diante
da'
outras vogais.
1
I
l,ldll"'"i<'lildo"
t'
ll1 f't:uwhello cl
:
di
i
tI
991);
l'onética
.
Ponol11giu: Panon1111:1
rotH>Iógic
"
dt
· alguttw'
IIII
)' I: "
ti,
• lllllloho
I t< ttlol;ulo
d
t·
I 1 1<·•
·./t
l i ){I
Un1 ou tro aspecto importante na identil'icação de uma variavclllll). lll:-.llt ,,, .
que
esta deve estar circunscrita a uma mesma comunidade de () J.
1
n
do
·
podermos identificar pronúncias diferentes de uma mesma palavra
l ' lll
d1w1
'>.1'.
regiões do Brasil não
é
evidência de que temos uma variável Jingiiíslil'a hto 1
identificar a pronúncia [tia
1
m São Paulo e [tsia]
no
Rio de Janeiro
é
sulil'lt'l t
ft
para tratarmos essas manifestações como uma variável lingüística. A 111ult ' dt
exempl ificação, consideremos a realização do
r
pós-vocálico em diverso'> dia
h
tt ,.,
do português do BrasiL Por exemplo, a vibrante na posição de travamento sil:il111 1,
como em carta,
parte, verde
pode ter uma articulação predominantemcn
tL' l
11ll1"
l'ricativa velar no dialeto carioca, como vibrante alveolar simples na c1dadt· ti•
São Paulo e a o n ú n ~ retronexa no dialcto rural de algumas regiões
do
inl1
' ' '
de Minas Gerais. E importante ressaltar que essas diferentes pron111h '·' '
<.:orrespondem a diferenças dialetais, recebendo o rótulo
de
variação. 111a\ 11.111
podem ser interpretadas como uma variável lingüística. Podemos dizer
qt1•·
. .,.,,.
caso constitui uma variável lingüística no dialeto carioca porque é
po
• •
1
,,
1
identificar outras possibilidades fonéticas além da {iicativa velar na mesma P• I '
1
. ,,, ,
rara os falantes desse dialeto. Já um dialeto que tenha somente a ptnlllllt• 1,
retroflexa não tem variação. Por outro lado, podemos ter variáveis ' l ' l l '" 11 w.
dentro de uma mesma comunidade de fala.
A atuação das variáveis fonológicas
A ocorrência das variantes de uma variável fonológica pode estarco1n la
L ionada a pressões ou efeitos da mesma natureza. Para entendermos como d.t ,
deito das variáveis independentes fonológicas e fonéticas, tomemos como x ~ l l 1 p l 1 ,
do
is processos que afetam as líquidas
/li c /r/
em grupo consonantaL
no
diall'll,
t·arioca: a) variação na realização
da
líquida no grupo C/11
;
b) supressão t1.
1
, ,
hrante na realização do grupo
C/r/,
confonne os exemplos a seguir:
(2)
a)
[ /]-{r},
como em
bicic[l]eta-
bicic[r]eta
b)
I ]' ' 0,
corno em prôp[r]io
pr6p0io
A lateral e a vibrante compartilham uma série de propriedades l'olll'lila
A l ~ m dis so, ambas as consoantes constituem uma
clas
se natural (• J
I
:1(kl.oged, l996, p.l82) (evidentemente a classe engloba as outras : 1 ~ l ptw.
.tprl'sent<.un comportamento semelhantes em diversas línguas.
No p o 1 1 1 1 ~ t t l ' s
"a"
.1-. unicas consoantes possíveis na segunda posição de um grupo consotwn;:tl
l'
..
l.11
1
•ulllllCiidas conjuntamente a dili'rl'lllrs processos fonolôgi cos
(cflfom -
1 /' ''
tr/ 1 /t•
hm
- ('(' I /ehm.
111
I
llllf
I''' r ulo).
110
processo de aq tu sir_·;u• s.111 ,, •
1tii111111S llli1L Ill
:Js
a 'o1'n·111 .llltJ IIIl uln•.pt l.t-. ni: lllt,'ólS (d
.
l .:unp tt'dtl , ll)'ll, I'
I I J
Vt tfi< Vt • :, h lfhllt•lll til
l
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 33/61
1
.i
ainda ev idências históricas
de
que os processos
em
questão alltataut
l l l l outro momento, tendo como resultado da mudança lingüistica a substituição
de fi} por
fr/
como
em
igreja (ecclesia) e brando (blandus), e o apagamento
Jc [r/ como em rosto (rostru). A alternância [ l f r}, ou rotacis
mo
, é bastante
antiga, atestada no Appendix Probi (jlagellum
nonfrag
ellum), e,
em
determinado
momento, deixou
de
ser um processo
de
mudança e passou à condição
de
variação
estável, conforme registrado em textos do português arcaico e em gramáticos
como Fernão
de
Oliveira (197
5,
p.59-60 Ll536l) e Duarte Nunes de
Leão
(1983,
p.64 1
J
576]). Sincronicamente, pode-se afirmar
que
a variação
~ o r · _ r e em u a l q u e ~
dlaleto urbano
do
português brasiJelro (cf. Gomes 11986], Oh
ve
tra
ll98
3 1 e e
fortemente estigmatizada. Já o apagamento
de Ir/
parece não ser
tã
o estigmatizado
quanto o rotacismo. Histor icamente, a substituição da lateral e o a ~ a g a m e ~ l t o da
vibrante situam-se
numa
matriz
de
mudanças dos sons consonantats
que
tmbarn
como resultado um som mais fraco ou o seu cancelamento (sonorização
de
consoantes surdas, redução
de
consoantes longas, oclusivas passando a fricativas,
queda de /d/ ,
/g/
c/// intervocálicos). O enfraquecimento consonantal, ou lenição.
ocorre quando
uma co
nsoante
é
produz ida
com
um grau relativamente mais
frac_o
de
esforço muscular c força respiratóri a (cf. Crystal 1988, p.
15
7). Alguns
grama
ticas também atribuem o apagamento da vibrante a um processo de dissimilação,
devido
à pr
esença
de
outra líquida
na
sílaba.
A análise dos dados de variação
do
dialeto carioca (Mollica c Paiva, 1991)
procurou investigar tanto a hipótese de dissimilação quanto a de e n f r a q u , e c i ~ 1 e n t o
através
do
estabelecimento dos grupos
de
fatores presença
de
outra llqmda
na
palavra e consoante do grupo em função da escala de força. A pesquisa foi reali
zada em um momento, anos 80, em que havia ainda f01te inf'luência
da
Fonologia
Gerativae da Fonologia Gerativa Natural·', portanto, a escala de força baseia-se na
proposta de Hooper (1976). Hooper (l976, p.206) propõe uma c l a s
i ~ i c
ç ã o
fonem
as
que se baseia num continuum de força. estabelecen
do
o segumte gradi
ente, do mais fraco para o mais forte:
(3)
glides
l
líqu idas
2
nasais
c o n t í n u a ~ r a ~
4
ob
struintcs sonoras
continuas
l L ~
obstruintes surdas
5
6
Segundo as autoras (cf. p.
185).
há evidências em diversas línguas que indican1
que a líquida lateral
é
mais forte que a líquida não-lateral (ou
vi
brante). A hipótese
levantada em 1-Jooper preconiza que há
um
plincípio da organização das sílabas
4 . A t
eor
ia fonológica gerativa inic ia-se com a
pr
oposta
de
Chomsky e Ha
ll
e
ap
r
cscnt:ua
cm
.19óR com
a publicaç5o t.le Tlte Suund Pattems
of
..nglish. N c s ~ c
modelo.
os
segmcm
os so
noros sao detlm.dos
c . ~ m o
um conjunto
de propriedades
fonét
i
cas
ou
tra{ O:i
distintivos,
como .
p
or
exe
mp lo,
a
s o n o n d a ~
· O
nível l'onolóoico
é
o nível
t.la
rep
rese
ntação abstraia
t.los
i
te
ns lex i
ca
is,
que
estabelece u
mformat,:an
nao
fl l <V isívd db tinti v
a.
O output deste componen te é a representação fonét ica
da
cadeia ahsln.lla. t(IH'
11
ulit:a L·omo a
pa
lavra
é
reH lizada.
Os
dois níveis estàll
o n a d o ~ a t r a
v ~ s de r.:gr · Ver 11Jal '
'u ltH
·
l t t l l l . l
lllllt>lúj k:J Cra ltva e nwt.lt.:lo< cm B i ~ o l .
L
( 199(\).
seg undo o qual
se
uma palavra ou s ílaba começa
co
m urna consoanh.:
ltlor
11·1 ,,
s1.·g
uida na sílaba
ou na
palavra
po
r
uma co
ns
oant
e que ocu
pe
posiçao
l lk IHI\
ftll
1t·
na escala
de
força.
As tabelas a seguir apresentam os resultados encontrados:
Tabela 1- Influência da presença de outra liquida
[li
-7
[r1
[r] -7
0
APL/TOT
Peso
APLITOT
Relativo
Presença de
113/444
25,45
.54
50/306
16,34
outra liquida
Ausência de
635/2014
31,53
.45
82/747
10.98
outra líquida
1
Jll'Sll
~ d a l h o
.(11
I
~ l )
Os resultados de peso relativo indicam que a presença de outra lítprid. r
palavra tende a favorecer a o c o r r ê e i a
de [r]
em
lugar de
[/] no grupo ( ///
,.
,
1
cancelamento
de [r]
no grupo C/r/
E importante entender
que
o efeilo dos lalnt ,
,
do grupo é expressoem termos de tendência, isto é. maior chance de ocorTl'lll ia
,,,.
u
ma das
variantes num determinado contexto.
Em
outras palavras, embora
11
11
.,
registro de ocorrências como brusa e .fi o(r) e prop0ietário e out0o. lt.t\•'t "
uma tendência
maior à
ocorrência
de
[r] e
0
respectivamente naqueh. s
ti l ' '
t
•t
11
que houver uma outra líquida na palavra.
Tabela
2- Cmzamento
do
modo de ruticulação e grau
de
sonorid: tdt·
fl] -7 lr]
APL/TOT
%
Peso
Relativo
Oclus.
7
06
/2330
31
.
79
Surda
Oclus.
39 /207
19
.58
Sonora
Fricat.
1174
1
.50
Surda
Fricat.
2/42
4
.14
Sonora
APLITOT
84/637
27/256
2 1/160
-
rrl
-7
c
l r
u
lO
ló
-
,.,
..,,
f{t
' l.ill\
l
. '
'
.·
1"
Os resu ltados da tahl'la
1
Jl'Vl' l:tnt o efe ito mais nítido da cscal:1 tf,· ' ' ' ' '
1
1
.tr:t a variw;ão
111 -111
. '' ruu;tlt•tll·lt'
lld
l'llcia de r
l': tli
zação d ;r vihrallfl' q l l t l l d ~ t
1
ro
nsnanll• do l'lltpn t llt1.t ltlll '·tl.t llfl · l• ltlfll ll lt;r 11111 desfavnn·,llttl'fllu d.
1
/11
III I • Kh <,1 lu t I "
lt
•llllt Jll
hfh
• I
a l a ~ a o brante quando a consoante ocu uma p o s i ~ ã mais ua
Vt lll•
t · l ~
lt •
l l•
,,, " '
'I '
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 34/61
ua vi pa ltaca
esca la
< l
c força. Os resultados para a alternância
[r] --0
mostram o favore
cimento do cancelame
nt
o da vibrante quando a consoante do grupo é surda, o
que
ainda constitui evidência
do
efeito da escala de força,
uma vez que seg
mentos
surdos são mais for tes do que segmentos sonoros.
O fato de observarmos
que
muitos dos falant
es
do dial eto carioca usam
categoricamente a lateral no grupo consonantal poderia ser uma evidência contrária
à postulação de uma "gramática" da comunidade de fala. No entanto, podemos
levantar como hipótese
qu
e o alto grau
de
estigma associado à variante
lr]
funcione
como
uma espécie
de
bl
oq
ueio
no
uso dessa variante.
É
fato que pode haver valores
sociais atribuídos a determinadas variantes.
se
j
am
ou não elas variáveis depen
dentes fonológicas.
Contexto fonológico e t m lexical
Um
questão importante relacionada às mudanças que afctam as unidad
es
sonoras das línguas diz respeito
à
unidade
da
mudança: o som ou o item lexical.
Essa questão rotulada de controvérsia ncogramútica data
do
final do século XIX.
Os
neogramálicos defen
dia
m
que
as mudanças
so
noras ocorrem
de aco
rdo
com
regras (o termo empregado na época era " lei' ') que não
ad
mitem exceção, são
condicionadas foneticamente e
não po
r fatores sintáticos ou semânticos.
Poss
iveis
exceções, na verdade, eram consideradas aparentes. pois podiam ser expl icadas
via empréstimo lingüístico ou analogia. Em outras palavras. a visão neogramática
estaheleceu
que
a mudança sonora é foneticamente gradual, afetando todas as
unidades sonoras, e, portanto, lexicalmente abrupta.
Para os
oponentes dos neogramáticos, os dialctologistas,
cada palavra
t
em
sua própria história. Os dialetologistas observaram que nem sempre a mudança
lingUística atingia toda a
comunidade
dentro de uma mesma área lingUística.
Pas-
saram tamb
ém
a adotar a explicação
de
efeitos extrallngüíslicos,
como
aspectos
culturais. fronteiras naturais e arti ficiais como possíveis interferências na propa
gação de
um
a mudança. Além
disso
,
do
ponto de vista lingUístico, estabeleceram
que a freqüência de uso de uma palavra poderia atuar no processo de mudan
ça
sonora.
Segundo
Schuchadt, a mudança sonora afeta primeiro as palavras mais
freqüentes.
No final
elos
anos 60, essa questão adquiriu novamente relevância nos estudos
envol
ve
n
do
a
mudan
ça
so
nora e a posição dos dialetologistas ficou conhecida
como difusão lexical. O modelo difusionista propõe que as mudanças sonoras
sejam vistas como sendo lexicalmente graduais c foneticamente abruptas. Não é
nosso objetivo discutir
com
profundidade a oposição entre
os
dois
modelo
s. mas
observar que a questão é considerada central nos estudos sociolingüísticos.
Dt:ssu fom1a. tem sido
dada
importância ao papel
do
léx icu 1111s ptttl 1 .•.11,
lo11o lóg icos ao lado dos fatores estritamente estruturais. Obscrvt:tlltls os d.uh .t
seguir relativos ao alçamento da vogal média pretônica lo/ em portug.u0s dD l''-'' 1, 1
de Viegas ( 1987) sobre o dialeto urbano
de
Belo Horizon te:
(4)
a) cju]brir
b)
cfo]lina
ffu gueira
rfo tina
c[u]mida
cjo mício
b[ujnito
a')
mfo)delo
b ') m[uj eque
l[o]ção
pfu}mada
l[ o /teria
c[u]meço
Os
dadps e m a) e a') represe n
tam aqueles casos
que
se
l'II
Ctl\:1111
1111
wndicionamento da regra formulada por Viegas: presença de vogal alta
11:1
.
t1
.11t
•
seguinte favorece a realização de
lu' ,
enquanto a presença de vog;d nwdt 1 , ,
princípio
, bloqueia o
alçamento.
Os
dados
em
b)
e
b') contradt
,
'
..
condicionamento fonético de duas maneiras: há casos em que não há ~ · : 111 11
embora
haja vogal alta
na
sílaba tônica, e,
por
outro lado, pod e haver
alc
;:rtll•
11111
mesmo na ausênciade [i) na sílaba tônica. Portanto. a variação sincrônica
tkklt.ul.t
no dialeto
min
eiro de
Belo
Horizonte não pode
ser
explicada somente ~ l l t 111111,':" 1
de condic ionamento fonético. Há, ao lado deste, propagação do prorl'sso .t
determinados itens lexicais, independentemente elo condicionamento. Para Vil' '.t ,
(2001,
p.
41),
o alçamento
da
vogal
médiapretônicano
português
do
Brasiljllltl,·tt.t
ser considerado um processo de harmonização vocálica que sofre restriçõ
t.:s
k·,
,
, ,
(alguns it
ens
não alçam, mesmo apresentandoambi
ente
fonético para o ~ · a t l l t 1111,
flltrção - porção, ''quantidade" e porção, prato
de
cardápio
de
restaur:
1nl
t· l
Considerações finais
Vimos nesse
cap
ítulo que unidades abstratas, os fonemas, podem ll' r 11t:1-,
dl' uma rea lização fonética possível em
um mesmo
ambie
nt
e lingi.iís tko.
o li'
l'quivale a dizerque constituem uma variávellingüíslica. A realização da:-. va tlillllt'
d t : uma variável fonológica
está
correlacionadaà influência
do
umhic ntl' li Hl\'11\
11
No entanto , pode haver também a infl uência de condicionamentos dl' oul11h ttpu
UllliO características cspceí licas dos itens lexicais e ta mbém de condtciotl<lll ll III•
nao lingiiístico
s.
como podl' s,., vi ll> nos capítulos que Iralam das vari :tH ' ts l.tl\.1
l'f,tri.r . sexo e L'Sl'lll:uul:11k
1\() h1ll< lt h
<
,
I
h
I
ti
: o\ I ll•lli iUIII:,)I \.( I
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 35/61
Sugestões de leitura
lá
diversos estudos sobre variávei_s fonológicas do p o r t u ~ ~ o ; ; ~ l
i z a d o s nos diferentes núc leos de pesqmsa (VARSUL, NURC, . b d d :
UFBA entre outros). Sugerimos, então, alguns trabalhos sobre ~ p l c o s a or os
n ~ s t c c ~ p f t u Algumas colctâneas sobre a variação no portugues
traz:m a r ~ ~ o s
• •. J
lóoicos diversos comotambém enfocam questoes teoncas
que analisam processos tono
o · · . _
d
. . . ti o de estudo· BISOL Lcda (org). A vanaçao no portugues o
pcr
tm
entes a esse P · '
18
199
1.
HORA
D
Da
Brasil. Organon, Instituto de Leu-asl_tJFR_?S. v.
n.
,. , , •a do
) D
. d de lingüístic-lno Brasil Joao Pessoa, deta, 1997. Sobre o p p
org. . 1versi a · ' . ' IRA E J Difusão Lexical e
~ x i c o e a controvérsia neogramátlca: MADURE . ve yne. . .
varia ·ão fonológica: o ratar semftntico. Revista de E s t u d o : ~ · da Lmguagem,_ Be:o
. ç
5 l 5 22 1997. OUVEIRA. Marco Antomo. AspectosdaDlfusao
llonzonte, n. , v. 'P· - ' · . 5 1 9-29 1992
Lexical. Revista de Estudos da Linguagem, Belo Honzonte, n. , v. , p. , .
O
ariáveis
morfossintáticas
Introdu
ção
Nelize Pires dl'
Oll l t '
l l t l
Maria Eugénia amogliu
>11111
Este capítulo enfoca fatores in ternos ou variáveis independentes de natu1o.1
morfossint.ática
que podem
influenciar o uso das formas lingüísticas
qu
.. .
~ : n c o r a m em variação. É difícil atribuir, de maneira precisa, um d e t e r m i n ~ d
fenômeno
i n g ü í s ~ i c o
a
um
dos níveis
da
gramática, dada a interrelação que clr•
111antêm entre si. Fatores simplesme
nt
e afetos à área da morfologia
aparcn
·tt,
influenciando o surgimento de uma ou outra manifestação da variável, assim co
1111•
acontece com os fatores
re
lacionados à sintaxe.
Mas é comum e n c o n t r
a r n ~
l cnômenos m01fológicos e sintáticos intimamente ligados.
Inicialmente, daremos
exe
mplos
da
atuação de fatores morfológicos sohn·
o uso de diferentes variáveis lingüísticas.
Em
seguida, enfocaremos a ação do ..
latores sintáticos. Os fenômenos comentados originam-se de diferentes trabalhos
1calizados
por
pesquisadores
da
área
da
Teoria
da
Variação. Todos os exemplo...
til' fala aqui apresentados foram extraídos dos textos citados.
Grupos de fatores morfológicos
Como exemplos da atuação de
l atores
morfológicos na realização de uma
.
1ri;ível, podemos citar inicialmente a análise de Scherrc (1988) sobre os grupus
k fa
Lores Iingüísticos atuantes na concordância
de
número entre
os
elementos
do
>
f
ltagma nominal.
A
autora observou que o grau do substantivo que conslitu
o
11l lco do SN e o tipo de p lu ralidade desse núcleo são relevantes para a ao
d.1 variáve
l.
No que diz respeito ao grau, a análise considerou de um lado os
1111-. tanLivos aumentativos e diminutivos e de outro aqueles no grau normal:
(I) .......
umas garotinha lá ....
.......meus amigão .....
.......uns quatrocentos bolinhos
de
...
.......dois
cmalos
l11ll lo
ll lht •l ll l i , l
H IW I
It t i
< s resultados mostraram que os diminutivos e aumentativos desfavoll'l t:llll
Y
UIIUV<
l i H
r r rhrfro ,
J•,
11 .1
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 36/61
o uso da
marca de plural,
opo
ndo-se n
es
se particu
lar
aos s
ub
stantivos de grau
11orm al .
que o favoreciam.
Num
total de 7.0
53
dados, cons iderando
separad
am
en
te
os dados de adultos e crianças, os diminu tivos
/aum
entativos
com marcas
de plural
ocorreram 40% das vezes na fala de adultos,
apr
esentando
um
peso r elativo de
.40
(5.9 10 dados), e 15% na faladas crianças.
co
m peso relativo de .37 (1.143 dados).
Jü com
os substantivos de grau normal, os resultados para as marcas
de
plural
rnram, r
es
pectivame
nt
e, 56% e
.60
para adultos e 4
3%
e .63, para crianças.
Se
gundo
a autora,
esse
s r esultados ret1etem a influência da maior/menor fo rmalidade dos
itens lexicais, com os mais formais favorecendo as marcas de concordância.
Um outro f
at
or
mo
rfol
óg
i
co
qu
e,
seg
und
o a aná
li
se de Scherre (op. c it.),
alua
sobre
todo o
SN, le
vando (ou não) todos os it
ens
do sint
ag
ma a
rece
ber a
marca de
núm
ero foi o t i
po
de
pluralida
de
do nú
cleo
do
SN
. O grupo de fatores
que foi estabeleci
do co
mo mostra, a
seg
ui
r,
(2)
SNs
que
tend
em
a aparecer predominantemente
no
plu
ral - ......n
ossa
s
raízes ..
SNs que fazem referência a pares de órgãos do corpo-
..
.
os
seus olhos ..
SNs que não
se
referem necessariamente a mais ele uma un id
ade
..
.aqu elas loj inhas bem b
ara
tinh
as
..
apresentou, respectivame
nt
e, os seguintes resultados: 75%, 2 1% e 49%. As porcen
tagens d emonstram que a
co
ncordância se f
az
com
ma
is freqUência
qu
ando o
SN
aparece predominantemente no p
lLU'
al, diminuindo na referênc
ia
a partes
do
corpo que
se
apresentam aos pares, cuja
pl
uralidade tende a ser meu-cada apenas nos determinantes.
Ainda
no ca
m
po
mor
fo
lóg ico,
podemos citar a
forma ver
ba
l entre fatores
capazes de in
rt
uenciar a realização de
uma
variável. O trabalho de Duarte ( 1
989)
>
obre
as
rea
liz
a
ções
do objeto direto anafórico mo stra
qu
e uma das variantes, o
uso do ciíti
co
acusativo,
de
oco
rr
ência
mu
ito pouco expressiva na fala (4,
9%
),
;ri
nela r
esis
te
com
as
formas
verbais no infin itivo e nos te
mpos
s i
mple
s (pres
ent
e e
pretérito pert'eit
o) do
indicativo, corno ilustram os
exe
mplos abaixo:
(3) Eu comecei a
namorá /o
n um carnaval,
cm
março.
Em
ju
lho
, ele
falou que
ia casar co
migo.
(4)
Eu
co
nh
ec
i meu marido .. b
em,
eu
Q I'
pe la primeira v
ez
num
a q u e l e
passeios que havia no Rio.
..
De falo, das 97 ocorrênc ias de clítico na
amo
stra analisada,
55
(56,7%)
se
1'ncnn rav
am
seguindo um infinitivo e
41 (4
2
.3%
) precediam
um
tem
po
simpl
es do
Indicativo: apenas uma
ocorr
ência
1 )
aparec
ia com
o gerúndio. C
om as
dcmai
llll'lllas verbais, particularmente o imperativo. f
orma
s do subjuntivo e todos os tc ltlpos
nl mpo
shls,
apar
ecem outras form
as
variantes, c
omo
a anáfora zero (ou
~ j c t nu h,J
L 11 pw
n
om
e pess
oa
l
do
caso reto:
(5) Ela toi duas vezes lá
pm
explicar, e pra
empre
g d ficor
colllll cmdo
(6) Ma<;
pode acontecer também
da
senhora precisar de um dinheirinhn
1
""
A
senhora tem esses quadros,
ve
nde
0
7) A ~ e g a d < ~ só
abriu a po
rt
a pra ela porque
ela
j á
tinh l Ísln t l ,
Ela
Ja
tinha vmdo
co
nversar
com a
Tm1ã M.
L.
.É ~ s s í v e l
que fatores relativos ao processamento do
cl.í
ti
co com
essas
ronua ..
vcrbms
se
j am os responsáveis por sua exclusão em tais
cont
extos Ticst. .
1
- fi · . . t 1
~ c r c
e l t o ~
com
os falantec;
revelam qu
e um clítico
em
ta
io;
estrutura
..
,
LonsJderado mUito pedante c formal.
Grupos
de
fatores sintáticos
.
..
·•
~ ~ t r e
os
g r u p o
de
fator
es de natureza sintática que
pode
m influenciar ;
1
~ t l t z a ç a ~
de uma ~ l ,
~ o d e m o
citar a f unção
do
s termos na oração. Tarallo
(.
I s
} st
udo
u a
? c o r r ~
de um
pro
n
ome-cópia em estr
utu ras r
elativa
...
ll lcalna ndo
as
segumtes unções desempen
hada
s pe lo
pronome
relativo:
(8)
(9)
(lO)
(11 )
(12)
Sujeito
Vo
cê
d i t a
q
ue
um dia l
eve uma
mul
her que
ela quer
ia que
a gente
entrevi
st
asse ela pelo inted'one?
Objeto direto
s s ~ r a ~ a
aí
qu
e eu conheci ele, ele est
ava
Já na festa
também
.
Objeto mdrreto
ela tinha um primeiro
a d o ~
ela
go
stava dele pra
car
amba
Oblíquo
lembra, com aquela saco rúm ia na faculda
de
com ela.
Gemttvo
Tem uns
lá
que eu
não
saio da
ca
sa deles.
. . Os
resu ltad
os
a que o
au
tor
ch e
ga mostram que a cópia é favo
re
cida no
1
'
1
'
1
1
11
1t
vo na função de
.?
bje to indir
eto
(.65).
Seguem
-se as funções de oblíquo
1
.U.J.
SUJeito.
(_.37) ,
e,
fma
l
mentc
,
de
obj
eto diret
o
(.18),
as
d uas
ultim
as
' i . ~ vorccendo mtrdmnente a
ó p ~ a
Posteriormente,Mo Uca (
no
prelo), retornando
'
1 11
d.c 1977
s o b r ~
a
cópm
nas relati
va
s. testou igualmen te o
efe
ito da
p10nome
r e l a t ~
na cópia.
Seus
resultados confirmam
a
hierarquia
'1
11
1
11t
.rd ,r
Ta
rallo : gen1 trvo: .97,
ob
j
eto
indircto : .80, oblíquo: .64, sujeito:
.5
1
ll
h jl ' to
d rrcto: .24:
Nota S
l
<s
fu
n
ções
mais e ncai
xa
das, que c
11
;o lvcm
0
ll
lfl
\ lll tl ll lo de Ul l l stn lapnt.t Jll l'Jioswinn:rdo. s;
ío as
yuc favor
ece
m a t·opia.
., 1\
rnda l' llt rl'la
t,
·ao
:1 r 1 n ~
\
lll
l.t1r1·a .
:
1
prop
1
a r
111 11
;ao ljlll'
as \ananlt · ..
.lo
•I lllj
H
tl
lJ.t lll
11
;1 lll,lt,. l l fl
111
h lltll llo h 1.11 1 11 '
II
I/ I< 1 1
I · • 1 \
• • • , • I
I ll llld
\ .111.1\( ' \:0.
1111
11'
1
hlil<t• I II
IIII 1 1
t•
•<
ll•iJIIIJLihJii
11
III> tt
sn dt:
os
ou
a gente
para referência
à
primeira pessoa
do
plural. Omt'
ll :l
Y
III• IV• ·I , lll••ll•t.'.lillull
11'•
1/ ). 1 do dítico acusativ · ·
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 37/61
t I
9X(>.
19
96),
com
base
num c 1
pus
de
3.299 dados, mostra que a ocorrência da
forma a gente, que vem desalojando a forma nós , é sensível à função sintática
que ocupa na oração, ocorrendo
de
forma decrescente
em
termos percentuais
c
om
as seguintes funções sintáticas:
Tabela 1 Uso de a gente vs nós, segundo a função sintática (cf. Omena 1996)
Função Api/T
%
Ad
junto Adverbial 57/68 84%
Sujeito 1979/2701
73
%
Complemento
199/277
72%
Adjunto Adnominal 35/253 14%
Total 2270/3299
69%
Da mesma
fom1a, a função simática do antecedente de um objeto direto
atua no uso
de
uma de suas formas vari antes de representação - o pronome
pessoal ou a an
áf
ora zero (objcto
nulo)-,
como mostram os resultados da análise
de Omena (1978), que não atestam o clítico acusativo
como
uma das
var
iantes.
Na amostra analisada, constituída de 1.375 dados da fala de adultos em fase de
alfabetização, o
an
tecedente
com
função
de
objeto (ou seja,
mesma
função
que
a
forma em análise). como mostra o exemplo (1 3), favorece a anáfora zero (86,5%
de ocorrências. com peso relativo de .65). Por outro lado, o antecedente com
função
de
sujeito,
como se vê no
exemplo ( 14), favor
ece
o uso do
pronome
pe
sso
al
(52% de ocorrência
e peso relativo
de
.39
para anáfora
zero). O
antecedente que exer
ce
outras funções na oração,
como no
exemplo (15), atua
de forma intermediária, f
av
orecendo li
ge
iramente o objeto nulo:
(J
3)
Es
creveram uma carta pra mim , que era pra
mim espera0
ela na Rodo
viária. Aí botei 0
na
casa
de uns
conhecido meu.
(14) O su jeito levantava, nós jogava ele pra cima.
(1
5)
Ele é u
ma
boa pessoa e dentro
da
matéria dele
eu
acho ele muito bom.
No cas o de (1 5) temos, no uso do pronome pessoal, a atuação mais forte de
um outro fator de nature
za
sintática:
a
transitividade do
ve
rbo "
achar ,
que se
constrói
com
um predicativo
do objeto'.
De fato, a tr·ansitividade verbal tem
se
mostrado um fator bastante significativo no estudo de inúmeras variávei s. Ainda
a respeito
da
rea lização do objeto
dir
cto anafórico, Duarte (1989) mostra
que
o
L
Interagindo com a
Lra
nsilividade
ve
rbal temos o traço
m â n t i o
+animadoI do Com o
lrJÇO
l-an
im
adoI
teríamos, na mesma estrutura. o uso preferenc
ial
do objeto nulo ou anáfora zero. Isso mostra que a t o r e ~ ~ i n l : . ; o
c \Cillfinlicns l'rcqUcntcmcnteinteragem.
. I · . . . ' . . o, que, como VImos acu
na,
está rcslrilo a fo
1111
a). \l'lh,
-.
I ~ J J
~ > u alo Jn1
uuttvo, está concentrado em estruturas com verb
os lraJi
s
JI
I' .. -.
--
l s s
1mp
es,
como
se
vê em
(16):
( 16) Ele veio
do
Rio só
pra me
ver. Então
eu
fui
ao ae
roporto
lm.\ m
'' '
·
Das 97 ocorrências já mencionadas 82 (84 sm
, , 7o
se encontram
com n·
1h
ll
~ p ~ = ~ ~ ~ t a ~ e ~ ~ s
um
objeto dircro.
Se
o verbo apresentar, além do nh
1
(
11
' d' .
0
m
_tre
to
, como em (17), um oblíquo oracional, como c 111 ( 1x
um
pr
e 1
ca
trvo do objeto
como
em (J 9) · d
L'
de
erce - ' '
ou
am a
se
se tratar
de
verbos causal I',,.
. . . . pçao
~ 0 - 2 1 ) ,
em qu
e o elemento que a norma representa
por
um L'lllll• '
; ~ u s ~ t J V ~ é o SUJeitO da_oração
in
lin.itiva, teremos índices insignificantes dl d í ;,
,,.,
.m _ugar
aparecerao
uma
anáfora zero (objeto nulo) ou um pronome
PL's
"
''
I
n t m u n a t r ~ o dependendo
do
traço semântico (+ou - animado)
do
anteced . I .
lalor que
ln t
erage
com
a transitividade do verbo: en L I IIII
( L7) Conta essa hist6r;a do seu avô
de
novo VioceA Ja' co t 0 1
18
. n ou P' a ,. ,. '
C ) E U m ~ parou ~ d e trabalhar) porque o marido dela está bem
dcn1a
1
ntao o m
ar
tdo proibiu ela de trabalhar.
19) Eu não tenho nada pra reclamar
dela
não Eu ch
1 I
(20) Ontem
ele
foi ao cardiologista sozinho
E.u
J'
a'
d
. _
ai
s:nsal'lllll:l
1 · • ·
e1 x e1
e e
1r
ao,
.utf
111
og
tsta sozmho
há
muito tempo. -
(2 1) Quando nós estávamos assim saindo da loja nós
vimos ele
.
parando o carro. ' · · - ·
ll
11
•
1
'
1
'
11
•
_C
om ;Ase_vê nos exemplos (20) e (21), com os verbos causativos e pL.:Il'l'l'
vos, a
ten encta ao uso do pronome pessoal nominativo é muito forte
" >IIII>
11
lllW>Irara
o trab·lli d 0 (
' '
·
..
· . . .
a_
0
e ~ e n a
197 8
).
De modo
geral, o
peso da
transiti vid;
11
h·
\ l
' h
ai na
reahza
çao do Objeto drrcro anafórico tem sido confirmadoen
d ,. . .
I .
11
ahalhos realiz d , b . . 1 1 Cll ,
III
·.;'] .
d d' os com ~ s e em
corpora
representativos da fa la e da l . ~ l l l l . r
" I eJra e tierentes reg:wes (cf. entre outros Malvar 1992· Pará I9D7· I
I'IIJ7eAverbug 1998 2000)
N-
· ·
7
• •
1111
'
' . ao se pode detxar de concluir que a com
kxHhd
d.,
l'slrutura s intática determinada pelo
pr
edicador verbal , ·
p ' . '
111'\SC
processo
de
mudança.
e
um 1mportamc 1111
Outro fator de nature
za
sintática que se mostra extre
''l' l'
'
lll•
'n t·
tç-ao de fi
. mamente
atuantt·
ll.:t
'
"'
• • uma
orma vanante
é
0
t' d . -
0
>
\'1 ( 19HR
1
)
D tpo e
OJ
açao. s estutlos
de Pan·dt "
1
• • denopreo e
uarte(l993
,
1995enoprelo),entre o
utros
most1
·
11
1
' ' ··v;ulcla c ~ s e fator na representação do sujeito pronominal por u;n >l .oJ;nJII:.
plr
·Ju>
L nr
dctnmento
de um
sujeito nulo/oculto. Vejam-se
os
rcs uhatlos l l ~ l · i ( J \
.
llllllll'lra pt:ssoa na tabela adaptada de Paredes Silva (no pre lo) . .' . , · .
lo
'
'
'
t . •
1 ·u
.
que
.111.1
1
l l .h
' '" I
I
s
(a
comunr ade dl' lida l ;uiol'a, gravadas cm dois m m n e n t o ~ dJ slnllo
1/11
' o
/Jili
S X()
l' l' /11 2()
(}(): '
lf 1lr1 1< lt
I
<,
< O
1
I
..1 lt
h liii<JlWiflt
.(
I
abela
2-
Influência
do
tipo
de
oração
na
presença
de
pronoml'
lk pll l t l
' 11
a
Vt
III
< V< > • I
111
H •
1 1
1/11 , 1,
l i
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 38/61
pessoa
2
(cf. Paredes Silva,
no
prelo)
Amostra
Anos
80 Amostra
2000
Tipo
de
Oração Apl
t r PR Aplff
PR
Adietiva
155/164 95 .87 131/133 98 .96
Principal posposta
138/1 57
88
.80 93/107 87 .71
S
ub
ordinada
247/284 87
.74
237/269 88 .74
Pr
incipal inicial
196/246
80
.61 254/317 80 .55
Independ
ente
786/1
163
68
.43 748/1044
72
.45
Coorde
nada
583/1161
50
.37 774/1 356 57 .38
Total
2
10
5/3175
66
2237/3226
69
Como mos
tra a tabela, a
realização fonética
do s
ujeito pronominal
é
fort
emente
favoreci
da
numa oração
su
bordinada
ac
Uetiva. A m
udança em
dir
eção
aos sujeitos
pree
nchidos parece ter
se iniciado
nas adjetivas,
seguindo-se as
principais
pospostas
,
as demais
s
ub
ordinadas e
as orações
principais iniciais.
Resistem mais
bravamente
à
implementação
da
mudança as
independentes e
coo
rdenadas.
que
apresentam os pesos relativos mais baixos
para
o preenchimento.
Ma
is
um
a
vez
, estrutura<>
ma
is encai
xadas
se m
os tra
m favorecedoras
à
variante
inovadora. O sujeito nulo, variante conservadora, é
mais
freqüente nos
contextos
cm que
não há elementos à
esq
u
erda do
sujeito
que po
ssam impedir o acesso ao
seu antecedente no discurso.
Como
dissemos no início deste
capít
ulo.
os
diferent
es
gru
po
s
de
fatores
lingüísticos
não
atuam isoladamente;
daí
a necessidade
de
u
ma
análise c
ui
dadosa
que
leve
em
cont
a a influência
de
cond
icionamentos
do
s diversos níveis so
br
e a
real ização da
var
i
ável em
estudo. Ao focalizar um fenômeno variável,
cabe ao
pesquisador descobrir os diferentes
fa t
ores
correlacionados ao
seu
uso.
As
ca
tegorias morfossintáticas constituem um vasto
ca
m
po
de invcstigação disponível
à
sua
intuição e observação.
Exercícios
I ) Apresentamos abai
xo
a tran
sc
rição
de
dois trechos de entrevistas
com
falantes
de
diferentes faixas etárias e níveis
de
escolaridade.
Leia-os com atenção e observe:
2. Na tabela, a autora
ar
ribui o rótulo de "coordenadas'' às cs
uut
uras coordenada' nã11 11lieiai'.
S11h 1> 11 1111 1< •
c o n t r a m '''orações
absolu
ta'
c as coordenada> in
ki a
i
s.
(a) c o n ~ o
se
apresenta a referência
ü
pri
me
i
ra
pessoa
do
plma
1
(b) qua1s os
pronomes
pessoais do caso obliquo
que ambos
utili;a
111
:
(c)
como
se realiza a concordância nominal·
(d)
como se
realiza o sujeito pronominal ( e ~ p r e s s o ou oculto).
P r o c relacio
na
r
os
resul tad os de s
ua
observação
ao
nível de
escolandade
e à faixa etária dos falantes. A
que
conclusões é possíwl
chegar?
TEXTO 1
Amos
tr
a CENSO (Entrev ista 25
(Idade: 30 anos;
Sexo:
masc.;
s
colaridade: 8°
sé
r
e
D ~ U ~ N T D O R
E as esposas,
ir
mãs, primas, sei lá
IVâol
ass1st1r o JOgo?
L O ~ U T O R -
[Hum J não, agora que e la
não
vai mais não, mas
antt·:-.
ela
~ a .
Aonde a gente ia ( .. ) estava todo m undo atrás Tinha u
111
:
1
boa
no
sso t
im
e,
(' '
rapaz") agora não.
Agora
está todo
mundu
casado
Mas
tinha
uma
torcida boa, rapa
z
Onde
0
("butina")
ia
JOgar, todo u n d o
ia
a
tr
ás, rapaz Torcida boa mesmo
É uma
pelada
b?a.
meta
nove, a
gente
ficamos um ano e meio s
em perder
para
nmguem. Sem perder
para
n
ing
uém
Qu a
lqu
er
time que vinha, a "Cil
l'
papava.
Aí o
tio
da 1
o tio da minha
esposa
, aspira, ele
j o g a ~
no
Bangu.
Bangu,
não . E le
jogava
no
Campo
Grande. ("Às vezes") do
Camp o Grande. E tinha intimi
dade com
esse pessoal aí,
no
Madureira,
aí
ele levou o veterano do Madureira
para
jogar
com
a gente.
Po
r
todo ~ u n d o tarimbado,
os
vetenmo do
Madure
ira, não é? Não,
ma
s
~ ~ o a ~ a ~ t ? u
ass}m A gente fomos a um a zero a geme.
Não
teve ) Jeito. Aí eles pedmun
para ge
nte jogar de novo: "não, voc
ês
J.()ga
no
nosso
campo
agora-
jogar de novo
,
que
a gente-·· vamos
l
:_zer
tum
aj
-
n ~ a com
idinha para
gente
lá. ''Tudo
bem
, legal " Mas
deu op?rturud
ade da
gente
ir lá jogar com
ele. Aí tamhéll ,
<
llo
da
m1nha esposa saiu, - ele é
detetive. - Aí
ele
c o t m
a
faze:
um
montão
de
curso,
aí. E le
agora
é motorista.
Quando
0
p r c s 1 d ~ n t c
vem aqui, ele
é
segurança
do
presidente. Aí
não
deu para
/ l' ll fc Jogar
de novo Mas é se
mpre
bom A
gente (''não
jo
ga")
< ~ p o s t a d o ( Nego ) f"il'vou"'J
muito dinheiro na nossas
co:-.ta
.
IIII IIth t<lllu 111 n Soe l o i i i i \ J U I ~ ; I I < li
T XTO 2
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 39/61
Amostra
NURC-RJ
(Recontato do Inquérito 233
(
Id
ade: 59 anos; Sexo:
ma
sc.;
Escolari
dade: curso universitário
LOCUTOR - Atravessado na rua. Um gol de um lado da rua e o outro
do outro lado da rua. E a garotada j ogava bola ali. Qmmdo passava um
cano quando passava um carro alguém gritava: Pára a bola Aí, parava
se a bola,
0
carro passava e o futebol depois começava novamente.
DOCUMENTADOR- Hoje
é
difícil não passar
um carro
ali ...
LOC _Hoje não dá nem
pra
atravessar, não é? E
nt
ão, eu. morava ali
na
pra .. ali
na
rua Visconde Silva
mesmo.
Botafogo. E aquele
negócio de antigamente, tinha turminha de rua. ( .. ) Fm la que
conheci
minha
mulher, e ela morava n
essa casa
que eu m
oro ate
hoje. E depois nos casamos, passamos uns :empos cleste.rra.dos,
ex ilados num apartamento em
Copaca
bana c afmal volta
mos.pta lá
.
E estamos lá esse tempo enorme, a nossa vida mudou mUlto. Eu
...quando eu casei, e u era muito p o b r ~ . Hoje cu t . ~ . n h o u
ma
.certa
foloa financeira, mas
por opção
conscie
nt
e, tranquila, emoc10nal.
afcdva e tudo. nós continuamos naquela vila. A casa foi toda refor
mada mas continuamos ali e somos fiéis ali,
não
pensamos
em
mudar.
Eu tenho impressão de
qua
ndo e u sair
da
li , vou
da r
: vão .dar alguns
passos pra mim e me enterram
no
cem it
ér
io que é ali perunho, é que
é
bem pertinho, é
bem pert
inho ..
DOC - ...é pertinho mesmo...
LOC _E é urna
casa mu
ito gostosa porque
é
ali em Botafogo, e entre
outras coisas tem um abacateiro que todo ano nos fomec.e .dezenas
de abacates. Nós dividimos com os vizinhos
porque
tem ~ z ~ h a n ç a
coisa
que não existe
ma
is no Rio de
J a n e ~ o
né. T e ~ vt.zmhança.
mas vizinhanças antigas. Todas as pessoas ali moram ha mm o tempo,
se
eu .. Provave
lmente
a
maimia mora há
mais tempo
do
que
e ~ .
Então são essas pessoas que que, eh, interessante, o filho, era pequem
ninho quando nós chegan1os.
Hoje
o filho
do
dono da
a ~ a
que alguns
já moneram
e tal, mas o filho
já
tem,
já
tem seus filhos,
,é o ~ t r a
geração. que brincam
com
os meus netos, entendeu? Então: e a s s ~
é uma , uma vila, hoje infelizmente tem
uma
grade porque hoJe prectsa
ter grade, né,
pro
portão. pra não entr.
ar s s a . l t a n t ~
etc. Mas te m:se
all uma tranqüilidade, mna vida assrm mutto. ~ t f e r e n ~ e : Tambem
naqueles dias onde.
ih ,
tá faltando ovo, vai pro vlZlnho, dtz1a:
Fu
lana,
quer me emprestar um ovo?
Introdução
11 A interferência das
variáveis
semânticas
elena Gn
•
1r
'
Nelize Pires de
Omr l l r l
Quando a Teoria da Variação se propôs a considerar as variantes rnorl'oss iu
í t i c a s pragmáticas e discw-sivas, além das tradicionais variantes fonéticas l'
fllll•
1
lógicas, introduziu-seautomaticamentewnanovadimensão na análise: asigni fiL
;''.
1,
Estando no fulcro da própria Teoria da Variação, é natural rnh ·
1111•
1
sobre a admissão de variantes significativas não tenha sido pacífica. 1\s
poste,
n,.,
de Labov e Lavandera, mencionadas anteriormente neste volume (Parl'dl -. l.ith"
1·ap. 8),
sin teti
zam
bem a situação. No entanto, tanto Lavandera, para tflll'ttt ,,.,
diferenças de significado contrariam os pressupostos básicos do rnotlelu,
tf' ' '''
l.:tbov, para
quem
o fato de existirem estas diferenças não interfere
IIL tll
eh ,
.
•nfcrferir
na
análise, convergem num aspecto central: para ambos a teoria ,
;111.1
1 1nnista não se detém nas questões semânticas .
No
enta
nto,
os est
udo s
das
var
iantes
ponadoras
de sign
ificado
l
d.t .
variáveis a elas coJTelacionadas atestam inequivocamente o oposto. Sabe-sL· qLu
t>
signifi
cado
lingüístico não
se
esgota no conteúdo lexical,
mas
deriva em g
r:uuh
·
parte dos contextos lingüísticos ou sltuacionais em que a forma ocorre. /\ssi1u , "
•nn fim1ação estatíst ica da relevância de grupos de fatores semânticos (c
pr ap111.t
1
u
o-discursivas) fornec e pistas confiáveis, ou mesmocruciais,para a identifi
ca,
,,,
•h, significado das variantes. Nos trabalhos relacionados a seguir. pode-se conslal.ll
,, regul aridade e consistência das relações
entre
variáveis (grupos de l aton·q
1
•l'lltânticas e formas
va
riant
es que
envolvem
qu
estões
de
significado.
No que se segue, trataremos de algumas variáveis semânticas. N:to uu .
dL•fl:rcmos em noções cujos conteúdos são codificados formalmente por c
atego1
t r:t llwticais (por exemplo , número, pessoa, tempo . modo, aspecto, mdt ·Jn ,
111oda li
<.lade
ou voz) por ultrapassarem os limites deste capítulo. Nosso 11.
1pil
o
Sl
..
, ingc a conteúdos que dependem do conhecimento de mundo e/o u
de 1
t l l
lt
' ' ' ' paru sua interpretação: animacidade, indetermina
ção
e grau de
11 mportante ressai ~ 1 r qu < · o cmni
nho
que leva àdcfin ição desll's
pa ri'
l l l l
l l l lt
11.111 L i l;í li vre de obst:k1tlos /\,, L onlrano. os limites entre as c tll'
Jlon:t..,
111 111
l t l lp l l \ ; l l l llllidns; l l lU
Í I ; ts \L/e'·
d1 11111\llt''
·
f'l'l <JlÍL'Illl III
L llll ;l l l lh l
' l l ; l \ , I
L II I
dt•
clotl
LI II ILI
de
d i k l l
' ll l. ·' s1111 • ,. , • .,, ""L'flldi.t s ( )u l ro t 'tlltiJlftc;uhtl l' u latu tiL · tl ln .t
I}()
u
:
snw categoria semântica poder ser expressa em níveis distintos. /\sslltl, P
\
IIII•
• i• 'lt III I• I
' I• I
,, III• IV• l
o
., ,
IIII
I
1.
V I
5- /\ variação entre presença (5a) ou ausência (5b)
tk
pmrH lllll'
cu
p
1
• •
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 40/61
traço +indeterminado], por exemplo, pode ser codificado
por um
morfema,
uma
est rutura sintálica ou
um
item lexical. Em suma, tanto a postulação das variáveis
semânti cas quanto a s
ua
identificação constituem uma tarefa complexa.
Conseqüentemente, deve-se estar atento
às
freqüentes divergências de rótulos e
definição de termos entre os autores.
Muito embora, pelos motivos expostos acima, esta seja ainda hoje uma
área pouco explorada nos estudos da variação, os primeiros estudos s o b r ~ o
português falado realizados pela equipe do PEUL
já
incorporavam categ
on
as
semâ
nticas, apresentando resultados consistentes.
Na seção seguinte, arrolamos algumas dessas pesquisas, especificando as
variantes
cujo uso
se associa aos três campos semânticos mencionados.
Variáveis dependentes
I
as variantes
1- A
variação entre presença (la) e ausência (I b) de pronome cópia em
orações relativas (Mollica, 1977 e Tarallo, 1983):
(la) Tinha ttt rapaz que ele
ia
tocar.
I b)
O
livro
que eu comprei 0 é bom.
2- A variação entre anáfora pronominal (2a) e anáforazero 2b) na expressão
rormal do objeto djreto (Omena, 1978):
(2a) ... aí você sabe do macete, o negócio é imprens
ar
ele, e le morria
de medo da gente.
(2b) A gente tinha que provocar uma tensüo no público e a gente
tinha que sentir0 , porque .. pra gente conseguir ogara agressividade.
3-
A
variação entre nós (3a) e a gente (3b) na expressão de primeira pes
-;oa
plural (Omena, 1986):
(3a)
"Nós
estamos preso num hotel. Voc ê pode nos .. nos ajudar?
''
3b)
A gente
encosta ela nas pedras,
joga
o equipamento
de
mergulho
tudo, sem equipe.
4- A
vtu·iação entJe sujeito preenchido (4a) e anáfora zero (4b)
na
repr
e
sentação do sujeito pronominal (Paredes Silva, 1988 e 2002; Duarte.
19
95
e2002):
(4a) Ela ganha bem, mas cu acho que ela devia ganhar mais porqul
ela merece .
(4b) Aí ele foi na França. 0 Botou o bicho pra voar. 0 Fez lá o baliio
1
1
co
nstruções de tópico na função ele sujeito (Braga, 1986):
(5a) A D Ângela, de matemática, ela é muito ruim.
(5b) A primeira página 0 é um primor
de
singeleza.
6- A variação entre os possessivos seu (6a) e dele (6b) (O li
veiral'
S
1
h.
1
1986, 1991):
(6a) A televisão enguiçou e suas válvulas quebraram.
(6b)
O mecânico
trouxe as válvulas dele.
7- A variação entre presença (7a) e ausência (7b) da marca de plur;d t11
concordância em sintagmas nominais (Schcrre, 1988):
(7a) ...os meus três irmãos ..
(7b) ... essas carne 0 congelada0 .
8- A variação entre as
pr
eposições a (8a), para (8b) , em (8c) r e g i d < ~ : •
(,
verbo ir, de movimento (Mollica, 1986):
(8a) Eu tenho o maior desejo de ir
u
Bahia.
(8b) Eu ia aqui pro sítio do meu tio.
(8c) Meu pai que
ia
no açougue.
9-
A
variação entre futuro do subjuntivo (9a), presente do indil'<tll\o ,.
orações condicionais conectivas (9b) c em justapostas (9c) e gcrundi11 1 ld,
(Gryner, 1990. 1998):
(9a) ...
se
(conectjvo) a gen te não passar (fut subj) de
ano
;1
vamo apanhá ...
(9b)
Se (conectivo) vocêJá a (pres. ind.) 1que ganhou na loteria 1. lll' 'll
vai te assaltar, vai seqüestrar sua filha, vai- , tá entendendo' .
(9c) (Just) Você mora (pres. ind) cm apartamento. você não faz am11:1dl
(9d) Bom, a bebida não
faz
mal sabendo (ger.J beher. m:t : . 11.11
1
sabendo (ger.) beber,
fa
z mal.
Va áveis independentes
Os traços semânticos mais freqüentcmente e s t u d d o ~ loran1
Hl rllp:tdu
,
• ' 1rês
blocos: ·
I anirnacidade:
[±human
o] [± animado[
7
inuclcrminação: I± genérico[ I [±específicoI
I[ ±
detennin:allll 1l 1 dt·ll
nidll l I
I±
rcl'cn.'nll'[ I I'
JliÍilll
'
ro de
i t c ~ r r n t e
I <I Í IIIdl.' l 'pi, l (• l ltll .1
1111
' 'I .I II de
1
\Tll 'la :
I
prm ;1\'l'llpos\1\l'll
Nas scçôcs
que
seguem. examinamos o papel desses
traço:-.
eonH1
' upm
( lla) Mas, como eu conheço meu chefe, c principalme
nt
e
rtl rrt
h,
1
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
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de ratores nos estudos mencionados, definimos e exemplificamos
os ratorc -.
envolvidos e apresentamos os índices estatísticos que comprovama sua relevância
para o uso das variantes em cada caso.
Animacidade
3.1. \.
[± h
umano]
O primeiro estudo sobre a variação nas orações relativas do português
carioca,
realindo por
Mo i ica ( 1977). revelou que o uso
do
pronome cópia na
relativa conelaciona -se positivamente à presença de um antecedente [+humano]
(peso relativo .68).
Na
presença de antecedente [-humano
.
ao contrário, o pronome
cópia tende a não ocorrer (peso relativo .32), o
que
indica uma associação entre
este fator e a presen
ça
de orações não-copiadoras:
I Oa) Tinha um rapaz que ele ia tocar
(lüb)
Tinha uma
c s
do outro lado, né?,
que 0
vende toalha.
Os resultados
do
trabalho de Tarailo ( 1983), onde se anaJ isa a mesma variá
vel
em
um
cO ] Us
distinto, coincidem coro os de Mol
li
ca: [+humano (.66) vs
l-humano (.34).
A análise da variação na concordância nominaL rea1 izada por Scherre
(1988), também teve essa variável selecionada, embora
com
taxas pouco pola
rizadas.
Na
amostra dos adu ltos, os índices estatísticos são: .55 para [+humanoJ
e .45 para [-humano ; na amostra das crianças, registram-se pesos relativos
semelhantes: .54 para +humano] e .46 para [-humano j.
3.1.2 [±animado
I
O traço
[±
animado é
um
dos mais
dif
undidos nos estudos de variáveis
portadoras de significado. Omena ( 1978) analisou a variação entre anáfora
pronominal -
ele a s -
c anáfora zero, isto
é,
entre as formas de expressar a
terceira pessoa, na funçãode objetodireto. Os resultados obtidos são bem marcados:
os sujeitos animados tendem a ser referidos pela anáfora pronominal. com peso
relativo .83,
em
oposição aos não-animados, com .17. (cf. exemplos
2a
e 2b).
análise da variação entre construções topicalizadas e não-topicalizadas
realizada
por
Braga ( 1986) tambémaponta a relevância desse contexto (c exemplos
'ia e 5b). Nas const
ruções
topicalizadas, novamente a variante copiadora é
fa
vorecida por SNs [+animados
J
(.65) e desfavorecida pelos SNs [-animados] (.34
).
Paredes Silva (1988), ao estudar a alternância entre
SN
pleno, pronome l
an:ífora e r o
cm
sujeitos de terceira pessoa na escrita informal, também constatou
a forte corre
la
ção entre o traço animado e a escolha da forma pronominal.
<h
n
·
fcrentes animados
(11
a) apresentaram peso relativo de .75 para uso do prono11w
op
ondo-se aos inanimados
(11
b).
com
peso de .25:
mãezinha, sei que
eles
iam me fuzilar pelo telefone
(
ll b
) Ia me esquecendo, a B. e a
A. já
revelaram
al
gumas folns t
Ficaram legais.
Essa correlação foi confirmada na análise de dados de fala que
co
111
p.
•
1
amostras de duas épocas (Paredes Silva, 2002, no prelo)
. , Dua1te no prelo) analisou também as mudanças
na
r
epr
csl'
nt a,·.
,
va
na v
el
do SUJerto,
compara
nd
o amostras de 1980 e 2000. Os resultados indil.ttt t
q u e ~
.embora os
~ n d i c ~ s
atuais tendam a aproximar-se, mantém-se a corrcla,·an
pos1hva entre arumac1dadc e preenchimento do sujeito. (Cf.
l2a
e b):
(12a)
till1a
bateu com o Fial.
0
Desmanchou ali na Oswaldo
(
1111
.
(12b)
Aí
ele foi na França.
0
Botou o bicho pra voar.
0
Fe
z
Já
o
haJ;
11
1
Os resultados pode m ser vistos na tabela 1, abaixo.
. .
Tabe a
~ - C o r r e l a ç ã o
entre animacidade
do
referente e preenchimen
to clm
s
u.JeJto
s em dors momentos
Amostra 80
Amostra 2000
Trªço
do referente
[+animadol
.
52
.57
[-animado]
.31
.48
Oliveira e Silva ( 1986), estudando a variação dos possessivos
(seuldl ll
l.
ronstatou que o traço [+humanoj fomentava o uso da forma seu. Posteriormenll'
a
p c s q , u i s ~ Um caso de definitude
(1991) discriminou quatro categorias relacin.
ll
<das a aruroactdade: animal ( 13a), humano (13b , conjunto
in
animado de human
1
I
k
e inanimados
(J
3d). Os resultados estatísticos constam da tabela 2:
(13a) A cadela cuidava de seus filhos.
( 13b) Roberto Carlos .. no seu tempo de tenor
.
.
(13c)
A nossa família sempre
se caracterizou pe lo espírito d
1
•
cooperação de todos os seus membros.
I
3d) Aluguei
um apartam
em
o
lá ..
Eu
acho que o maior dcfi.·ttn
dele é ter um papel de parede velhíssimo.
Tabela 2- Correlação entre animacidade e uso do possessivo seu
Po
ssuidor
Animal
.24
lluntano
.34
Conjunto inanimado dl t kn wulos humanos
.60
lt .t lll
l
ll
.tl lt)
o
'id
li
,.
,,
I•
I
I
I :o Jl ,,
II
,,
li
u:.ll<
'I
Observa-se yue o
que
mais favorece a forma
se
(.g())
é o
poss
r11dut
sl' r
i11a11imado. Na direção oposta, o que menos favorece o uso desta forma
é
precisa
A IIII• •i
lo i
'III .o I
1 •
1
Vo III
• IV• 1 ·, '•'
''' '' Hii•
o''
Os
rcsullados da
tabela 3
indicam
que
antecedentes esrl'ctl1co.,
l' 11.t11
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 42/61
mente o traço [+animado), partilhado pelos dois fatores
de
índices mais baixos:
animal
( .24)
e humano
(.34).
Em síntese: os resultados da análise dos vários fenômenos que envolvem
variação entre a presença de pronome pessoal, por um lado, e, por outro, a sua
ausência
ou
a presençade uma forma alternativa, permitem concluir: referentes
animados ou, mais especificamente, humanos co-ocorrem preferentemente com a
variante pronome pessoal. Inversamente, referentes não animados c não
humano
s
tendem a co-ocorrer
com
a variante alternativa.
Indeterminação
Vários rótulos estão associados
à
noção de
indetermi11açào do
SN. embora
nem sempre os autores os iclentit1quem explicitamente com essa categoria e m â r ~ t i c ~
Além ele
l±indeterminado]. são usados os traços l±genéricol.l±plurall. [±colel.lvo].
l±indefm.ido], [±abstratol. l±rererêncial'. entre outros.
3.2.1 {±espec fiw/ [±coletivoj
Mollica ( 1977) identificou dois contextos que interferem marcadamente no
uso do pronome cópia, ambos relacionados à referencial idadedo SN antecedente:
i- l±específicol
O antecedente (+específico I caracteriza-se pela detetminação: presença de
artigo definido, demonstrativo e posscssi vo; e o [-espec ífico 1. pela indetenninação:
presença
de
artigo indefinido,
pronome
indefinido. quantitativos c item lexical
indefinido (como: a J?ellfe a pessoa, c
oiw
. etc);
ii - [±colctivo I
O antecedente [+co letivo l abrange os SNs no singular que se referem a
conjuntos de elementos (nomes classificad
os
tradicionalmente como coletivos)
c
os SNs plurais.
O
[-coletivol diz respeito aos
SNs
no singul
ar que se
referem
a
indivíduos
(no
mes no singular classificados
como
não-coletivos).
Tabela
3-
Referência [±específica
c l
±coletiva
I
do
SN c
o uso do pronome cópia
Referência
Pronome
cóp
ia Referência Pronome cópia
[+específico
.65
[+
coletivo]
.35
r específicoJ
.35 [-coletivoj
.65
1. Adot
oU-\C
aqui u noção l ü s s i c < ~ de referência. A
r c ~ p
de uma vosão m<us reccmc n:fcr
cuuapo "' '
11111
processo.
c o n s u LKO
CH.
J.V.
&
1\1ARCCSC l1 L A.
Pnxeo;so'
de
referenctaçao
na
p
rod
u,·ao
di\O:III'"·'
) E.LT.I\ . u"
Especial.
199X
, p.l67- l lJOI.
voldivos favorecem mais o uso do pronome cópia.
3.2.2 /±determinadoj e [±definido]
No trabalho sobre as preposições regidas por ir Mollica
(J
986) c o r n · ~ ~ •11 1
as
variantes a, para e em a
do
is grupos
de
fatores [±dcterminadoj c l±del'inid"i
a) [+determinado] é marcado pela presença de determinante
c
1-dl'IL'
' ' '
1ado]. pela sua ausência;
b)
+definido] é identificado pela presença
de
artigo definido, possL'ssi\Cil
demonstrativo e [-definido] pela presença de artigo ou pronome n d e f i n i d o fli'LI
ausência de qualquer determinante.
A
tabela
4
combina os fatores descritos em um único grupo. Os lll
t h
o·,
desc revem os usos das formas padrão:
abela 4 CorTelação entre r±cteterminado] e [±definido] c prCSl'lll,:
l
preposição a/para
+
determinado
+definido
.3]
+ determinado
-definido
.43
- determinado
+definido
.50
- detenninado
-defin
ido
.73
A
escala resu ltante revela que
as
variantes padrão (ir a/para) são
llt:th
l.t\orecidas
(.73)
pelo fator que enfeixa
os
dois traços
de
maior impn:ci >.;tc l
(j1ndeterminadoj findefinido1), e menos favorecidas pelo fator constituído pl'lo•
lt
.t,·us ( determinado]
[d
efinidoI), os mais precisos.
O
inverso ocorre com
a
vari:t
lllc
·
11
.1o-padrão (ir em).
3.2.3
[±determinado
e
/grupo ±J?rande]
Proposta semelhante é encontrada no estudo de Omena ( 1986), sohn· .t
• .utaçflo do pronome de prime ira pessoa plural. Para testar a permanênciadiacnlntl
:t
l ~ < t t : O
l+indeterminaçãoj na variante
a
gente.
já
que a le
xia
original
gcnle IL
111
"
ln
ente colctivo e indeterminado, a autora propôs dois grupos de falores:
a) a dimensão do
gmpo
referido, definida pelo número de inclivíduus:
h)
a
indeterminação
do
referente, definida pelo grau de imprecisao da
" 'ktc·nc
ia
às entidades do mundo extralingüístico. Exemplos:
( l4a) Nós falamos gíria, coisa que não tem nada a vt r com aqt11ln
que se há .
n
é?
(nós =
os
jovens, grupo grande.)
( 14
h Não
L porqttL
o anivers<írio dele é dia vinte
e
Ullt
t f l l l
n l l lfo
nao
vai f':ttl'l
11<111 I l ; ~ t no
outro
s<Í
hatlo.
(a , l'tll
l'
a
ltllllt:t
di'IL gtllpc 1 lllil' lllh'dc ,u 1 > )
J11J1t
1
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1 1
I
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II
I\ J l l l I
I
(14c) Se briga, a gente sai no tapa. (a gente= ele e o innau. l l l f l
pequeno [até 4 elementos])
1\
Ir
Ih.,,, .,, '111
11
I I I : Vt II I< lVI '1 .
r.
• t I lt
11
d
·
I I '
' i
iii
- possuidor [+específico (l7a) vs L espcdflcoj (17b):
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 43/61
Estas categorias também foram combinadas em
um
único grupo de fatores
(cf. tabela 5):
Tabela 5- Con·elação entre determinação/dimensão do grupo e uso
de a gente
Indeterminado _& 'ande .72
Indeterminado pequeno/intermediário .55
Determinado grande
.50
Determinado pequeno/intermediário .26
Observa-se que o fator que combina os traços [indeterminado] e [grande] ,
os
mais imprecisos,
fa
vor
ece
mais o uso
de a gente, em
detrimento de
nós. Ao
contrário, o
fator que combina
os traços Ldeterminado] e [grupo
pequeno/
intermediário], os mais precisos, tende a desfavorecer o u
so
de
a
gente
em favor
do prono
me nós.
3.2.4
f±d
e.f
inid
o]
[±concreto] [±espec(fico] [±referencial
Em 1986, Ol iveira c Silva atesta pela primeira vez a corre lação entre o uso
do possessivo
seu vs dele
e a referência [± específicaj e l±definidal
do
SN
possuidor.
Em
est
udo
posterior
(1991 ), a
autora
aprofunda a
análise
d a
(in)determinaçclo, su b-categorizando-a em : especificidade
1
,
conrretude
,
referencia/idade
3
e dejlnitude•:
i-
po
ssuidor formalmente definido (15a) vs. formalmente indefinido (15b):
(l5a)
Tinha uma casa e a
ge
nte de
pinaça jogava pedra
e quebrava
o telhado dela.
(15b) O indivíduo vai procurar uma terapia, o super-ego dele está
levando o corpo dele para a terapia.
ii- possuidor concreto (I 6a)
v
abstrato( I6b
:
( I
6a) ...
asso
a
carne
já
com
aquele calorzinho dela.
(I 6b) Essa democracia .. ela tem mostrado seus efeitos positivos.
2. A autora. baseada .:m Dubois (
1980).
dislingue entre referente
l
+específico], cm que
"o
falante tem um objctn
espccílico em mente. mesmo que o ouvinte não seja c ~ p a z de identifica-lo"; c referente [-espec íftcnl
onde "é o conj un to que está na mente
do
falante".
3. De acordo com a conceimação c .: reiePúncia formulada por Searle ( 1969), Oliveira c Silv a ( 1991) distmguL '
ca>os cm que o '·o falante pode. se lhe for pedido, fomcccr uma descrição idcmiticaclora do objeto''. dos caso" 111
que, ao contrário, "o referente não é identificável".
4. A aut ora classifica como SN formalmente definido o nome precedido artigo dcfinit.lt> .
nullll't.d
pos sessivo c dl:moustrativo. o nome próprio e o pronome pessoal: e co
mo
SN
fomwlmclltt· lllllt /lutd"
" nome precedido
de
artigo
ou
pronome indefini
do
c n nome contável c pluml
11
ão prctT Iulo p11t illl tr "
(17a) ... omeu pai, homem de trabalho, lutador para educ<u·o
: .
SL
tl
s III lo• .
(17b) A mulher foi feita pra casar, pra ter seus filho ..
iv-possuidor
com referência
(l8a) vs
sem referência (18b):
(1 8a) Roberto Carlos .. no seu tempo de tenor ..
(18b) E havia mesmo o período de que o indivíduo limitava a :-.
11
:1
alimentação, né?
Os resultados estatísticos (cf. tabela 6) apontam a relevância de ca
d.1
11111a
Jas
quatro categorias:
Tabela
6-
Correlação entre (in)determinaçclo e uso do possessivo .\
t
/1
T determinacão
Peso relativo
r
Fommlmentedefmido
.17
Formalmente indefinido
.83
I I
Concreto
.17
Abstrato
.83
JU
[+específico
.38
l-específico
.62
IV
com
referência .
28
sem referência
.72
Observa-se que,
em
todos os grupos de fatores, a variante s
eu
nHltt
'' "
'
1
,
elerentementecom o fator
indeterminado
( .e. : indefinido, abstrato,
1
es
pcn iH ,1
,. sem referência). J:nversamentc, a variante dele tende a ocorrer
co
111
, ,
l.
iftll
,f,·t<'nninado (i.e.: definido, concreto, +específico] e com referênl'
ia
)
h l
l t a d o
confirmam inequivocamente os resultados obtido
s
0111
:
11
1
,
, .
11
tt·ncionadas anteriormente.
.1.2.5 /±referencial e [±genérico]
O estudo
de
Gryner (1990) sobre a variação entre subjuntivo c
JJ
HIH .t l
l\ct
' 111
orações condicionais
5
também considerou a variável referência do
, \
p.111ir da combinação dos traços [±referencial] e l±genérico], propol'
Sl'
11111 .1
1
,,
ala do
que
poderíamos denominar
extensão do referente do SI4eito
(r
d n i IH i,l
t ''
'· .., referência
particular>
referência zero :
I ) l f l t n I
I
Idt•
tlhll.
:
\'
i l l l .h II I I J d u k
lllflitf
d ,. de.· t ' l l l ' :IHHih IU II;t l \ jltlh lh
1
111
, d • ':1
p h lh I Jt)i iO) .lltl :
Ht
.tl .• d .t· ' l ll.t l ltt \
ll
l lllt. 1 0 ' . llhJI
I
II
I I \ U
· 1 \ t l l l l l l l li \· I' I
IIII
I
lu lthlh .
til\
o
1 1
1
t•
IH III\
.1
Jlll . t lll
t d 11
ti
d11 ( 1 pi 1 1
I i '
1
1
,
1
l l l l l t l tu
i-
+referencia l] +genérico}
1\ 111 f• II
I
lo
'
III
I•
I<
1•1
1
Vo ll l•
I
I
I
l o ,o
l
llolloh• 1 1·,
Vale ressaltar que, embora as
r i ~ õ e s
COITcnlc:-: nao
co
n
-..uk l
llll . 1
oposiçao entre pronomes indefinidos genéricos e indefinidos nao n:
kl t
'
IH
"I
.II'
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 44/61
o
sujeito da oração condjcional tem referente genérico,
no
sentiJo
de
abran-
~ · c r wdo
ou
qualquer
indivíduo de um conjunto (cf. 19a)
6
: •
1:'
(l9a) Se você
fala (i
nd) [que ganhou na loteria]
...
nego vat
te
assaltm·,
vai seqüestrar sua filha, vai- . tá entendendo'?
ii-
[+referencial) l-genérico .
o
sujeito da condicional tem como referente um ou mms
i n d i v í d u ~ s
particulares. Incluem-se todos os referentes que não arrolados na categona
precedente
(cf.
19b?: . _
(
19b)
eles 1
ala
-] ele
rala
se a gente
L=
os
do1s 1tlhos] passar (fut. _sub;)
de ano
eles não
dão
(pres. ind.) um vidcogame pra gente, outra cmsa e
c
se a gente
não passar (lüt.
subj.)
de
ano a gente vmno
apanhá.
iii- (-referencial] . _ .
o
sujeito da conJiciona1 não tem referência, no sentldo de que nao se refere
a qualquer entidade identiricável (cf.
1 9 c )
(
19c)
Não quer [=querem] (in
d)
dar aumento, aí o pessoal faz greve.
Tabela
7-
Correlação entre referência do
su
jeito e uso do subjuntivo e do
indicativoem condicionais
Referência do sujeito
Futuro subjuntivo
Presente indicativo
l+rcferenciall +genérico
.39
.65
1
+referencial] [-genérico
1
.49
.50
[-refercnciall
.62
.36
A escala proposta mostrou-se relevan
te
para o subjuntivo e o i n ~ c a t i v o
Condicionais
com
sujeito genérico, cuja referência se estende ao conJunto de
indivíduos tendem a ~ o n · e r com a vatiantc que veicula conteúdo
real-
o indicativo.
C o n d i c i o n ~ i s
sem s
uj
eito referencial , que não se referem a nenhum indivíduo
identificável. coocon:em preferentemente com a variante que veicula t e ú d
não real _
0
subjuntivo. Condicionais com sujeito não genérico, que aplicam a
indivíduos particulares, ocorrem indiferentemente com ambas
as
vanantes.
6. É c a m c l ~ r i ? . a d o pelo us0 genér
i
co
de
a) pronomes pcsso;us (ditos
'
·indctinidos''):
a
genre. \'Od,
,'"_e e
u: c ti<
b)
S
\'s indefinidos:
11111
cara,
0
wjc itu, nego,
n
eg
uin/
1
,
1111111
pex.wa , 11
pe
sma (paratraseavcJS por
11111
indiwcliw qualquer) c peo uso ti
.:
colctivos:
0
pm·o, a wrma,
o
fJess: al r a f r a . ~ á v c l pm·.w _Jos M ~ ~ ~ ~ ~ I
7.
Ou
seja
.
SNs com referen
tes nflo
gené
ricos
(não co
le 1vos c
nao
e n n m , ~ d o s
pt1r
arllgos tndc 111idl"i
nomes.
pronom
es
p..:s
s<>
ais c
pronomes
adjclivos
nflt•
indefinido'
( p o s s e
c n b l r a l l , ) .
l. 0
sujeito pode ser:
a)
um
SN (não-genérico ) ind efin
ido
<lU b)
indete
rmJ
nado
:
u m : ~
nraçan:
ti l
1111
1
C
lnlc
xlo
i s c u r ~ i v o / u a c i o
e
c) zero (i.e.
a tmoção
co ndi
c
ion
al
não
ap r
cscn
w
l l o
l
onna
l
lJ Os
resultados para refcdnl'iado sujeito diz.:
m
espeito
às
variantes
mais
polantadas: ,uhp11111V I
''111
roll<','lll I
1• mdkat ,
o cm ju-tapo,t:". ana
lisadas
,cparadmnenk
(indeterminados) ,
a
escala proposta
não
constitui um constructo
ad
ho
c,
po o lul.ldt1
para esta análise. Correlações semelhantes
"oram
atestadas por Mollica (
1 J
11
l
1
Lavandera (1984).
No
primeiro estudo, mencionado acima. a \ ar1a11l< '
determinada é bloqueada
na
presença de subjuntivo; no segundo. pronollh
pessoais genéricos associam-se preferentemente ao indicativo.
Atitude epistêmica (grau
de
certeza)
As variáveis descritas acima se relacionam
à
referência do SN. Tratarcrnm.
por último, de um outro tipo de variável semântit:a, relacionado ao conteúdo
d.1
mação. Citaremos apenas um caso, o das orações condicionais.
A tradição gramatical distingue três tipos de condicional
10
: real. poten
n.d,
1rrcal
11
• No estudo das condicionais potenciais. acima mencionado. (Grynt:r. 1<)<Jil
\' 1998), o uso das variantes subjuntivo e indicativo
foi
correlacionado à atltllll,·
cpistêmica
ou
grau de certeza. A condicional potencial pode apresentar dois 'I 111
·
dl' certeza, de acordo com a maior ou menor probabilidade que o falante
atnl1111
.1
tl'<ilização do fato enunciado: i-
provável] - a
condicional
é
uma
e n e r a l i ; ; ~ t , : l t l
,. a oração é pm·afraseável por sempre
que
(20a); ou [possí1 •en - a cnnd ilt
on;d
l' uma eventualidade e a oração
é p a s s í v ~ l
de ocorrer com
por acaso (20hJ
(20a) ... se l= sempre que] tem (pres. lncl.) uma pessoa
ÚOl'
llll <li
vou lá, ministro o jurei ..
(20b)
se
ltJOr acaso] a
gente
passar
(subj.)
Je
ano
ek..,
dn11
(
1
H ·
ind.)
um
videogame pra gente, ... se [por acoso j a gente 11.11 f ll ,,u
(subj.) de ano a gente vamo apanhá ..
Os resultados estatísticos obtidos confirmam a correlação entn·
l o/
•,,f•t J
deu/e
l S
possibilidade
e a escolha do modo verbal. As condicionais
IJJ 111•'" 1
I
II "'' LIIH.lo u pcn•pectiva.
n
mesmo fenômeno tem
s
ido
de
scrito com
ba
se a) no
, a
o1
d1
· ~ o l . o o l · ,1,
1
0 , : ~ h)
nas
"at
itudes
cpistémicas"
OL1 "graus de ce
rte1u
·· do falam
c
em ~ · a o ,
""'' """
'l''"l''"dnnal) d1 oração
(cert
o,
poslii el
c
impnssf1
·
1' ) :c)
na
p r c s s u p o ~ i ç i l o (j(uua/. nt7ofam
1
i/
1
n•nlto/ollll,,
,
11" l'lllllll'Íauo
ou
anda d) no grau
de are.Hibilidade do
conteúdo
oracional
anna7ena
tlll
ua u
11
•
11
1
11
,
1
li
\ n ·a/ .<«J pr
essu
põe a afirmação
do
conteúdo
proposicional veiculado.
i.c.
afirma a
n·al11.,, .., "" 1 "
""'' luln F
panúnt..:
ávcl
por
jcí que: lern o
\eriJo
invariavelmen te no indicatho:
a irrm/
tbl p11-.'111'-' " "' ''·''· '"
1
l.
ohl
I
IHIIICadn. nega ;,ua rea
li/ao;iin:
tem o
verbo
invariavelmente no imperlcitn
du
,UhJIIIII
I\o:
, .
1
,,,,
11
,
1
J/
f·
•
ILI
11
llll
ll
fl x;
a
alin11ação
ncnt :1
~ ' : t \ '
dn
fato
enunciado, i.e
. não
alinna a U: I
tcal
u ot
·;u•
tlt
tl l
.1 '
·
11.1o
IIi
1o l
l apl\'"•111:1 0 VJ:rho lJIII
'I
IIII 111 < 1 111 1• (IIII
i
1é11
Clo)
Jo i n d i ~ ; I I Í lJLI
C no
JÜ IUIO elo ' ii
lo
plliii\U
l
oi
l
I 111:01
0. <
11
:il b
l l J I I kl O "'1'11
1111
1
11
1
l
llll
'
lo·o,·( I' cilld. ) 11111 SC
I 1111111:
1111
1
Clll<uo
\ 11
'1•
h
ll
l olllo l
oo olo
l.
d;U
tl l j l l l \
llt
l- tJUI\1 1,
.t
.'
tloJ 'llcl'
lllo\
1/ll'lt/
h•q
/o>ll
('i
ll •tfi·I•Li ol
olllooool
•ololl'lllo'lflllllhll
hl
flllll)qll '
1
1111 11 ;h
.tl
loo o·Jo1ooii .IOII
• •
11l1
lt H
1
11
IIU
lt f i iU \
1 0{/11\\t
, {1,/t/ J
IIII
I I I I t I I h t
IJt lll
llit) )I iiir •r h < • III <I ollt ln lli i<llll'o h t I
I
. 1 ottanto de realização mais freoüente' , tendem a ocuiiL I l '
PII
'
g
L II
tra tl.l.tl as c, p , - · ·• . . . . . . . . .
· 1
..
uvo (
65 para
indicativo
em cone
c
tiva
s e .58
para
md1cat1vo
em J
u
stL
tpost.ts
l 2
Variáveis
discursivas sob a perspectivo
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 45/61
O 111( ICd · · -
aJ
d
vs .35 para subjuntivo). As condicionais [possíveis ~ r e a l i z a ç a o eve.ntu
.•
em
a correlacionar-se com
0
subjuntivo (.68
para
s
ubJUntiVO
~ s . 3 5 paramd:c attvo
conectivas e .42 para indicativo em justapostas)
13
, a partir da conelaçao
entre
os
fat
ores provável e possível e as nuances de significado e p e ~ d e n t e s contexto.
d
e interpre tam lincrüi
st
icarnente
os
resultados
es
tattsttcos obttdos.
A
quan
o s o . . . - .
an-
Como variáveis ting
üí
sticas internas a tnflUJr na v
an a
çao, os
tra
ços
sem,
ticos constituem um
campo
aberto
à
investigação. Po de-
se pensar
e ~ 1
~ o n t ~ x t o s
que
indicam
ambiente
aberto c
fechado; re:ercnte
c o ,
dupl
o,
1 ~ f ~
rência d i eta ou indireta; avaliação pejorattva, afet1va ou neutra.
Sao perspect
i
vas
várias a desafiar o pesquisador.
Exercícios
1) Selecionardois pe riódicos dirigidos a públicos socialmente distintos.
Escolher um dos exemplos de variação
me
ncionado no texto. Testar o
efeito de alguns dos gmpos de fatores semânticos p r e s e n t a d ~ s pelos
autores para confirmar ou não
a sua
relevância no uso das vanantes.
2 Observe
0
desempenho de falantes
o - e s c o
a r i z a ~ o s do portugu
ês
carioca. Na rala deles, algumas das variantes menciOnadas
no
texto
podem ser encontradas em contextos [+animado \ .
a)
Procure em
alg um corpus
de
falantes escol
ar
1zados
exemp
los
dessas
mesmas
variantes. . .
b) Até que ponto elas
ocorrem
no mesmo contexto? Procure mdtcar
outros contextos de oconência.
12 .Tanto em condicionais
c o n ~ . : c t
quan to
r n _ i ~ t a p o s t a s .
. _ . . .
9
l )·
13.
o
que nos perm itiria
p o ~ t u l u r
uma
~ c a l a ep1stêmtca
de
cmco
< ~ U s (d
. Gtyner.
I 9 ·
CONTEÚDO
EXEMPLOS
IN DI
CA
TIVO
SUBJU
NT
I
VO
REAL
Corre
I
o
PROVÁVEL
COII'
C>COl
TCf
.65
.35
POSSÍVEL
correr>corre
.35
.65
IMPROVÁVEL
corresse
o
1
ll\-1POSSfYEL
c o n c s
t
iv
esse corrido
o
da Teoria da ariação
Introdu
ção
A imp011ância teóric a e metodológi ca dos estudos sobre a língua cm u-.c' ,.
inegável.
Exposto
à
conve
rsação, o
hom em
ad
quir
e a
lin
guagem art i
cu
lada ,.,
r.;imu ltaneamente, as
formas
básicas de socialização.Por outro lado, é um tnus111n
lem brar que o sign ificado de enunc iados e de itens
lexicais
de verá k\<11' 1 lll
consi
deração
o contexto lingüíslico e situacional
em que são em
pregados.
Em face dessas considerações, poderia parecer surpreendente qth ~ ~ ~
recentemente os estudiosos da linguagem
art
icu l
ada
tenham e
sc
olhitl(l co t iH
material de investigação
fenôme
nos
de âmbito
e estrutura superiores d 1
sentenças,
que
só
recentemente
tenham lncorporado às suas anál i
ses
o p;qwl
desempenhado
pelo
contexto. Talvez não pudesse
ter
s i
do
diferente. Talv
e:1
t
i\( .,,,
.
o
ido necessário à ci ência lingUística construir gradual e lentamente o seu ohjt'fl t1
metodologia de pesquisa.
Ta
mbém não
d
eve
mos subestimar as dificuldades iner entes a tal abo
rd
<t l'
tll
Se
é
inegável que o discurso possui uma estrutura, marcas e carac
ter
ísticas qut·
autorizam a
identif
i
cação de
produções di
sc
unüvas concretas,
perceptí
veis pelu
...entido, é igualmente verdade que a liberdade, a flexibilidade, a negociação tk
l''>qucmas e estruturas no nível discursivo
são mais
amplas.
Cons
egüenlemCIIIl'.
111aiorcs
as
dificuldades a serem enfrentadas pelos estudiosos q ue se avcntura111
pt:las vias do discurso.
Neste capítulo ,
co
nsideramos
como
certos aspectos di s
cur
siva s podem Sl 'l
:d1ordados e investigados sob a perspectiva da metodologia da Teoria la Va ri:u;:11 '·
Vale
l
emb
rar,
como
ressaltado previamente,
que
a inclusão dos aspectos discursivo
-.
.
l'llquanto variáveis in
depe
ndentes,
susc
ita
problemas
cruciais a esta metodo log ia
> 1 abalhos a
que
nos referimos a seguir
devem
pois ser
enc
arados
como
pas-.c...
p11 liminares
à procura de wn cam
in
ho ainda
n
ão
explorado.
Desafi
ad
os
pv lo
lt
111cionamcnto discursivo. seus autores se questionan1 sobre os limites d < ~ 11 11 .1
' :11
i í
vcl c correlações discursivas. Poderão os aspectos discursivos ser 1
aclm
1H 1 mna metodologia que pressupõe uma anál isc quantitati va s : t .,
An1cs
de
pas
sarm
os i1 L onsidc ra<.:iio do s trabalhos pL I 1 im· n1
l's
, d1 1
1
s
h
l
'l f
azem se
llL
TI'ss.l ll.t s
Jl l
'
lll
ll'tra rclm:i
1H1
a o c a
. . : e p ; : ~ o
til' d h l I I I SII
1 o1
sl'l'liiHia di
t rcspl' i
n ao
..,
"
IIIJ11' ' l . t l
d l•
t.:a
ral l'l'
di >
\ 111
"' \ 1
Sl
' ll 111
kllcl11
•.
h
1111 11
h
h
,t I\
I I
I
:i<
11
h1
1111 )IIJ:.
I
< I I
l' a própria estrut ura do
aJt
igo. Discurso
é
usado aqui
in
tercambtavcl
lll
l:llll'
LOIII
texto'. referindo-se os dois termos ao produto de um ato comunicativo.
Vt iii I
V t% •ll:il
l i i : . I V C J ~
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Jll % ) 11 '1 hV
CI ' I l•·C•IItl <h
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V< ll
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I II
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1
>.E: C a r ~ qu
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operação
E
nen
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ela...,
você
k w
l'OIIIplll.u
·
" '
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 46/61
Quanto
às
variáveis independentes de caráter textual, serão reportadas
aq
uelas
que fo ram mais sistematicamente examinadas: o stat s informacional de itens lexicais
(Braga, 1984; Berlinck. 1989) e de o
ra
ções (Paiva, 1991), a ser desenvolvido na
primeira parte deste artigo;
as
pectos da coesão textual (Omena, 1978; Paredes da
Silva. 1988), relacionados a fenômenos de nível moli'ossintático c oracional.
a
serem
abordados na segund a parte; e, por fim. relação semântica de contraste, em sua
aplicação
a
fenômenos da esfera morfossintática (Moll ica, 1984: Paredes da Silva.
1988): oracional (Oliveira c Braga, 1997) e discursiva (Gryner, 1990),
a
serem
considerados na terceira patte.
A
conclusão
é
apresentada na quarta parte.
Status
informacional
Nos últimos anos, autores diversos
têm
salientado como
a
aplicação de
certas regras lingUsticas depende do
status
informacio nal dos itens lexicais nelas
envolvidos.A título de exemplo, podemos citar o emprego dos artigos e a atribuição
de
acento primário a constituintes da oração. Usualment
e,
os fatores da variâvel
status informacional remelem às categmias de Prince ( 1981) - 110\ o, evocado
e i l(
(eríve
-
e
de Chafc
(I
987) -
dado, 1101 0
e
acessíl'ef
- ,
em
versões
adaptadas às preocupações teóricas e
às
necessidades do pesquisador. Embora
possa haver uma aparente superposição entre os conceitos propostos por Prince
e Chafe. vale lembrar que os mesmos partem de primitivos diferentes: a primeira
aliccn;a sua tipologia no texto, isto é, a identificação do status informacional dos
referentes leva em cons
id
eração sua menção
ou
não-menção na seqüência textual
an
te
ri
or ou sua presença
no
contexto situacion
al
2
;
o segundo adota uma ótica
cognitivista e considera a presença do referente no foco de consciência dos
interlocutores.
No Bras
il
, essa variável
tem
sido empregada, principa
lm
ente, nas análises
que buscam uma explicação para a ordem dos constituintes não oracionais (Braga,
1984 , 1988; Berlinck, 1989) e da ordem
elas
orações que constituem um
n ~ m c i a d o
complexo (Paiva,
J
99 1 . A seguir. nos referimos a alguns desses trabalhos.
Ao
estudar as construções de tópico, Braga (
1984, 1988)
mostra que
a: .
correlações entre posição mais à esquerdade um constituinte e status infonnaeional
de seu referente são importantes. Sob o rótulo de construções de tópico sãn
incluída-;, entre outras, aquelas semelhantes a ( I), a seguir:
I. O
me"1
10
va
le para
us
adjetivos: discursivo
c
textual.
: ./\
idcnlifiração do; chamado' ·
no
vos disponfveis'' e "inferfveis",
o r é m t r a n ~ ~ ~ m k
os
l1111
i t
c\ lnlnai, . l lur.r
an:
í
l i .: desta li]K>Iogia
é
aprc,cnlaoa
c111
Braga & Oliveira c S
ilvil
(199-0.
ass
1m
? Nao?
f :
N
ão
,
,'Taças
a Deus. Não. Tive não. Não tive não
E: t e ~ lemhmnça desagradável nenhuma em reiação a elas?
F: Nao: nao,
correu tudo bem.
né? Pós-opera tório, todo
1111111
tf
0
(Na36)"
/t II
I
,
o r a
d ~ t r i b u i u os SNs que ocorreram
na
posição mais à C :>qucn1;
1
1
c
1
.,
~ > p ~
em
tres subgrupos, consoante
o
referente dos mesmos fosse
c·
1
11111
,f,,
11
fenve1
ou
1101 0,
categorias que remetem àquelas propostas por
p
.· J>
. _ • ·
lllll:C
.
l l , \ ,1
l l t t : a p o e
co
ns
truções com objeto dire
lo na
posil(ão mais à
e s q u ~ : r d a
õitpwl
·,,
n<L
ordem nao marcada. com ohjcto dircto exj)rcsso po
1
t
11
n SN c · '
1
suh t t' ·
LIJO
nuc L o
t '
1111r
, .s.an
Ivo.
Ela mostra que a maioria dos SNs que ocorrem em conslru\Ot '" d,·
ll>plco
.semelhantes a
( I )
envolvem referentes
inferít·ei.
1
ou
evocados. A OCO iil'll•
1 1
de entidades novas nesta posição mais à q u e r d ·
c'
redu ·d·
, · f . '
L I a, como mn : .11.1 "
::\
1
a
1co
a
segUJr. no
qual
o:,
números
re
presentam percentagen
s:
·ll)
JS
Novo
li
Infer ível
Evocado
Gráfico
1-
Statu. infonnacional do referente do SN topit:alizndo.
1 1 1
v i s t ~ s
a explicar essa distribuição, a autora recorre a dois colhi
i
IIII \
I I ~ J o n n a c r o n a l _
do c r c n t e do
c o n ~ t i l u i n
à esquerda e ordcrn lll
til LI
d
11
.,
1
11
11'-l ltu
mtes na oraçao. salientan do a conoruência parcial entre " lcs 1)
1 1
_ o . .
l l'IH l' Jih
"r lldl' rn nao
marcada, no porturruês do Brasil tende
a
ser SVO 1
. , . . e- · ' • , ClJUl'ôlll\ l l l l l l , l l .\11
1111
'
. t l
1
oduZJda.
usualmente. pelo objeto direto. Ora. uma conslnu,:u
1 dl te 1Jll• , 1
c':'"
oh.
fcln
dl
rc
t
o_t
ransmitindo informação nova
L'Onstituiri;t
lllll
d l l p l t ~ d, .
,
, '' '
"' ., ,ln cl:1 tll'tk-111
nao
r n a r c : h l : ~
d,
.,,
io da
tcndC·ncia tk i n l ú r r n a ~ · : u 1
vL·
Ih.r
P" '' ,.
,fc,
a inlonnação nova. Daí a elevada ocoJTência de entidades i n f c r ~ v e i s c v m : a ~ b ~
L a
conseqüente rejeição de referentes novos
na
posição
de
objeto d1reto
ma1s a
tfll<
(clivadas propriamente ditas) ou após o verbo ser ( 'oco sl'r).
/\s
pnllllll.t'.
tt· ndcm a ser selecíonadas quando o falante deseja ressa ltm· um rclcn.:nll' L Vol .ult 1
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 47/61
t.:squcrda, rejeição já assinalada por Pontes (1980). . .
Berlinck (1989) também atesta
a
relevância
da
variável
status
mformac10nal
an
investigar um outro fenômeno relacionado à ordem das palavras: o ~ d ~ n ~ ç ã o
entre os constituintes verbo e sujeito. Ela utiliza quatro fatores- novo, mfenvel
dado em
sentença imediatamente anterior
e dado em
sentença não m e d i a t a m ~ n t e
anterior-e três corpora, correspondentes aos séculos XYlii, XlX e XX. B e r ~ c k
mostra que a ordem Verbo-Sujeito, bastante freqüente no século
XYlll,
se
tornando, gradativamentc, menosfreqüente c que a hierarquia dos grupos de tato.res
que se correlacionavam com tal ordenação altera-se ao longo dos anos. A s s n ~
no século XVIII, a variável
status
informacional constituía a correlação maJs
poderosa
da
ordenação SV: quanto maior a "novidade" do referente do SN, tanto
maiores
eram
as chances
de
e
le
aparecer posposto
ao
verbo.
No
decorrer
dos
anos
esta
variável
perde
primaz
ia
e a ordem
VS passa
a
se correlacionar
prioritariamente com a transitividade do verbo-predicador: v _ e ~ b o i n t r ~ n s i l i v o não
existencial, verbo
de
ligação, expressão rixa, verbo transitiVO md1reto, verbo
transitivo direto e verbo bitransitivo.
Por
meio
de
tabelas nas quais
são
cruzadas as percentagens
das
duas
variáveis - status informacional
do
referente
c
o tipo de verbo predicador -
Berlinck
evidencia que estas duas variáveis
já
atuavam conjuntamente no século
XVill na detemunação de
uma ou
outra ordem (SV
ou
VS). O que se altera
é o
peso relativo
de
cada uma. . . .
Outro fenômeno estudado so
b a perspect1va
mformacwna
l
foram as
sentenças c
1
v adas. Braga mostrague cinco tipos o r m a l m e ~ t e disti n
LOs
preli m nar
mente rotulados de sentenças clivadas. construções foco ser. construçoes e
que,
construções
que,
c
sentenças pseudo-clivadas,
são
de
us.o ~ r e q ü e n t e
na
variedade falada
do
R io de Janeiro. A seguir, ilustrare
mo
s os dms tipos que nos
interessam mais imediatamente:
Clivada propriamente dita
(2)
F: Estava cheio
de
polícia lá. Veio
um
médico .. Daí, acho que mandaram
dar injeção na moça pra moça morrer. Daí a
moç Daí
enterraram a
moça de novo. Foi isso que aconteceu. (Ro52)
Construções foco ser _
(3)
F: Eu acho que (o nordestino) tem mais é que usar branco, usar algodao,
né?
Usm-
coisas assim bem do lugar mesmo, usar aquela renda toda ..
Eu
acho que fica
bonito.
(He44)
As
sentenças clivadas propriamente
ditas
e
as
construçl5es
f o ~ · o
:''t•r
divergem, entre outros aspectos, quanto ao stattts infom1acional do consutuuHl'
fm:alií'ado. isto é. Jaquclc constituinte que ocorre entre o vcrho
ser
c ~ ~ p:dav1.1
tendem
a
ser evitadas quando o referente focalizado expressa
i n f o r m a ~ · a
lllt\,1
As seg undas, ao contrário, apresentam uma distribuição inversa àquela
dl IL l
t.ula
pm-a
as clivadas propriamenteditas: as construções foco ser são empregadas q
u:
111dc1
o falantequer salientar uma peça de informação nova e evitadas enquanto cstrall·;·•;,
de focalização de informação velha.
Para a autora, esses resultados podem ser explicados pela macrof'un,.ln
Jiscursiva das construções: as sentenças clivadas atuam
pr
eferencialmcnll' 1111
pl
ano da
estruturação
do
tópico/subtópi
co
discursivo, funcionando
como
coda
1111
enunciado avaliativo que retoma
a
informação previamente negociada
pl l<
,
.,
falantes; as construções ser atuam no plano das relações proposi<.:inn.t•s
focalizando,
contrastando constituintes pós-verbais,
local privilegiad11 d01
informação nova.
Por
fim, um outro fenômeno examinado sob a 6tica
em
pauta
foi
o
d.1
ordenação das orações que constituem os enunciados de causa, cxanlinadm. p•u
Paiva (1991). Estes
são
constituídos
pela
vinculação de
oração de ca11so
(aq111
incluídas as causas propriamente ditas, as razões, justificativas e explicac;ol''-
l ,
oraçiío efeito/conseqüência. As orações constitutivas do enunciado de causa p1 1d1
I I I
estar vinculadas entre
si por
meio
de
um conector (vinculação
por
cnnexaol ''
por melo
de
um
ze
ro (justaposição),
como
exemplificam
os
trechos seguinll's·
(4) F: Olha, eu conheci
uma
gente do Maranhão e do
Pará
que falava
11111
português perfeito.( .. ) era um grupo de pessoas e
que
falavam muil•t lu•11•
Eu
sou
meio suspeita pra falar porque
tudo
que 'em do Nordt \lt , , ,
adoro.
(He44)
(5) F:
Eu vi num filme, né? Quer
dizer.
Foi assim, né?
1itta11Átltllt•ll ,r J •
dele morreu.
né?
Então ele ficou sendo o rei.
(Gu 62)
A autora
le
vanta a hipótese de que a posição das orações de ,
111
1 ,,
rorrclaciona ao
tipo de informaçüo
que elas codifi
cam
e,
em
certa lllnlul.1 •'"
mntlo de articulação
(por conector vs
por
ju
staposição).
Para
testar
~ 1 . 1
lupul< .•'.
"" orações que integram o enunciado de causa, oração de causa e o r a ~ · : 1 o l l l l l ~ • ·
qul'·ncia/efeito foram codificadas seg undo a menção
ou
não menção no
di-.l 111
,, ,
precedente e segundo o modo como se articulavam entre si. Paiva l l w ~ · o l l ,,
qtwtro distribuições possíveis, que são apresentadas a seguir sob a l'lllnt.l
eh
11111 rnífico de banas.
lllf
1 h h1
o(
(11o ,1
11 I I : ; I I I •IIIIIJLU:ohl I I
V< uh
VI
'1:. 111:;,
ll
l:ólvn:;
:;o
t
> u Jl 151 Jl.ltVll li
<
lo
• " ' 1
1t
1 ..;, II I• I • I
•'
l l l
I
Alguns fenômenos relacionados à coesão textual
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 48/61
0.7
IJ,h
0,5
ll,.l
0.\
u.:
11.1
11
.
a u ~ : : t n i t ~
cncncitliKtd.L
Ll
ciw
1 1 l \ . 1 l ~ Í t . l l l ; \ d l l
( : l \ l ~ a
c\
h.:m.:i ll l
: u la
I ~ · i t o
n ~ o
1 1 1 C r . ~ Í t l 1 : 1 1 l l . _ ,
c ~ u a
I H,.'Ilt:ÍOIJalkl
I ito
111
C11d 11;Jlhl
C a t J : . - i . l l l ~ O
1 n ~ . . : i u n a J a
I
ldtn
ni\o
c n ~ n c i n
a d n
Grállco 2-
P o ~ i ç ã o
d:•s r a ~ , : õ c ~ de causa se
gundo"'
i i í v c i ~ 1 1 1 1 1 1 1 ~ inl'onnaóonal
c
modo de
conc.xf10.
Em se
tratando
de orações arlietcladas por l/leio de co11ectores o_ ~ a r
tilhamcnto do mes mo t
11
. · infonnacional pela oração de caus.a c oraçao
..
·
·
11
po
1
·t·tnte
QL
tcr as llu·1s
J Ú
ten ham
sido
mencwnadas.
qu
er na u
consequencm e
u . . . . _ . .
.
- .. ..
tenham sido mencionadas.
o
peso re lallv o
de
pospostçao d<t o t ~ ~ < t O . caus.r
·
de
5 Se
po
1
c'm
o
~ t a t u v
i
nforma
c ional das
orações
tor
diferente. a
ap
rox1ma-sc . . . , · · .
ctúusula
qu
e codifica in
formação
mencionada tende
a
preceder aquelaque a n s m l l
inl'ormaçfto não men
cionada
. , . . .
A ar ti
culação que
procede
por
jusroposiçiio apresenta 1 dtccs m ~ I ~ ?a txn'
de
posposição para a
oração de causa
em qualqu
er ~ a ~ ~ u a t r o
p o ~ . s t b J ~ t d a d
combinató rias. O bserve-se. porém,
que
a curva dJstnbucwnal pat os p e s ( ~
r
elativos
e
percen
tagens
é
seme
lhante;
também.
que
os
ralant
es
t
ende
1
1
a
segu11
0
con
tr a
to
velho-
novo: aqui também a oração de causa, quando n:
enc
tonada no
co-texto anterior. tende a se an tepor à oração de efe ito não c n c w n ~ c l
As
pesquisas
rela tadas mostra.m q u ~
a
c o ~ 1 p r . e c n ~ ã o
dos
~ e n < ~ : n e l ~ l l ~
lim üí
st
icos.
seja
no nível intra-scnt
cnc
tal. seJa no nrvelmtet-scntenctal. tt;quct .1
do
o - t ~ x t o
maior
em
que oconem e
do papel
por
es
te d e s c m p e n h < ~ d ~
A-.
pesquisas tam bém reve lam a possibilidade de
co
nferir tratamento estallsllco ;1
certos condicionamentos
discu
rsivas.
Um outro aspecto
do
funcionamento textual investigado
por
sociulin '.iri,t.r·.
c..Jc orientação variacionista relaciona-se a certos
mecanismos de
coesão. c o r H ' t · r
que foi proposto e caracterizado inicialmente por Halliday e Hasan ( I ) / ( ) ll1
aco
rdo com eles, pode-se
falar
cm
coesão quando
a
interpretação ele
algunr l'lt
mento
no
discurso é dependente da de outro;
um
pressupõe o outro, no '\l't1t idtl 1l1
que o
item em
questão não pode
ser
cfetivamcnte decodificado
a não
st·r 11 '
recurso ao outro. T r
ata-se
, po i
s, de
um conceito semântico que se reali1.1 por
in
strumen
tos lexicais e gramaticais.
Um
dos mecanismos
de
coesão é a rei
teração, vale dizer,
a rctollt: td.l
literal
ou
parafrástica, de nomes, verbos. adjetivos , advérbios, pal avras futKiott;ll'·
orações, períodos. Com respeito
a este
processo, vale
lemb
nu· que
a forma
rqwtrd.t
..:stará sendo usada em um con t
exto diverso do
da sua primeira mcnçãtl o qr11·
implicará uma alteração semântica. No nível
que
nos interessa. incxistcm alh:rtl;tt1h".
ltltalmcn
te equivalentes, daí as repetições
constituírem
um
desafio
pat
.t '
social ingiiistas variacionistas. As reiterações foram investigadas a partir tk pc '"' ' ''•
de vista
diferenciados
e aqui vão ser
considerados os
trabalhos de Ome na ( I
)
I K 1
" r
espeito
da
alternância
entre as
formas nós
I a gente c o
de Paredes t.la
Sr
h
1 ,
( ll)88), sobre a
expressão
var iáve l do sujeito.
Omena
(1978)
es tuda
as
ocorrências
de
nós
I
a gente
quant.lo
r ~ 1 l l l ' h
111
.1
r l 'crentes com traços
I
+primei r a pessoa gramatical , [+ 1 uralidade
1
l'lllllll
111o
stram
os
exempl
os
seguintes:
(6) F: Porque a ún ica coisa que não vai
bem
é o seguinte: que 1111.1 ll'IIH> i :111111
uma dificuldade muito grande de colocar a documentação do
h:u
t'lll d1.1
Então a gente tem condição
ele fazer
uma
documenta
ção cnla p•ll·l q t11
eles
não
tenham direito de interferir no nosso movimento. entL'tldt·tJ 1
\1
lt 11
Na
scqüência acima, a falante alterna entre o
uso
de
nós I a gmtl , IIII,,,,
1t IIIJJao.; remetendoao conjunto constituído pore la e pelomarido. Todavi
:t
lll'llt ,, r I 1
1, dua s formas compartilham todos os traços semânticos. A
variru1lt.: o
p,< llf• • l'"d··
til \
lu
ir uma indetern1inação que. usualmente, falta a nós A escolha tk
lllll:t t'111
1l1
lrtmcntn de outra pode estar,
en
tão, cotrelacionada a valores distintos. 1\ctl'\n 111t
,,.
u
1
:1o c..Jc as al
ud
idas formas poderem alternar
com
o sujeito 0 (1.ero
1.
,
..,tu
1
' 1oo.: dt: sujei to omitido com o verbo na terceira pessoa do singular ou na 111 ill
lt
11.1
d11 phmtl.
Interessa a Omena
compreender os
mecanismos que
levam
;, l'st·nlha tlt·
tlttt.t d o ~ s
lú
nn
as cm d etrimento de outra passível de ocorrer no rncsmo ro11lntn
A aulura mo stnt lJUL\ c m se tratando da primeira nK·nçao
110
lnlt•
"
• 1t ~ , , u > dt• lllll<l \:lri:u
tl
co.;
1111.1 ou
11
gente
i n d ~ p c n d l .
da
illll lll'llt
ia
t1.1
i ( lh IH •
•
1 dt ..
\'11
1 ..
1\
" allll'l Hi n (11 .11 l l ' i : l l i VU rica l' lll tottHl dl' l. Nn l'lll.lllltt,
l l t l l l l \I / ij1ll'
1 111:1
d,t '\ .tl l
t'
Jil ,IJ II• ltll
.1
l1 • l t l i i ,JII:t
I ' ~ I ; J l ' S i i i J . 1 . 1 1 i t o l i : J
•.uht, 1111'.11
da
-; l'on
nas suhscqi.icntcs. Os resultados cstatístit:os indit:am
q u ~ , ;
"" d l : I I IL'l ' tlt
Sl' usar
o gente
são maiores quando o antecedente forma l for
a gente
a
v.
li h IVt ' 1
.
(
"'·
• 111 1 \1< 1, .,,
•I• .
I ' •151ll
,, I
V< I '
I• I•
lllll
I I• I • III< ''
· •
J
II I
/
Grau 2
,
~ o r r e ~ p o n d ~
a um certo enfraquecimento da escala de concxao;
o
SIIJI 11
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 49/61
rde rência ror igual à anterior. As chances diminuem quando o falante muda a
rererência.
Ta
l princípio atua também sobre a scleção de
nós:
uma vez escolhida,
esta forma será preservada até que a referência seja alterada. O gráfico abaixo
apresenta os resultados para
ad
ultos e crianças:
t. '
(l,g
0.7
0.6
5
I
.J
fl.t.
o.
I
(I
l .ote
kt.. t
K I l
\ ; , ; . n l . . - ~ ' 1
•
•
u h n ~
I
cf ip1ul
Grálico 3- U
;o
de 111ÍI c a geme
O <rráfico acima mostra corno mecanismos estruturais c semânticos se
o
inter-relacionam, afetando a opção por
um
a ou outra alternante.
Paredes da Silva (1988), por seu turno. ao investigar a expressão variável do
sujeito, isto é. a expressão deste constituinte por via de
um SN ,
anáfora pronominal
e anáfora zero, na escrita·' informal, postul
ou
um grupo de fatores denominado
conexão discursiva. Trata-se de uma variável escalar que visa a aferir, em uma
seqüência textu
al
, como a expressão do sujeito se relaciona à menção prévia daquele
mesmo referente, tendoem conta o tipo de ma terial interferente entre as duas menções.
A
variável em pauta engloba seis graus que são especificados a segui
r:
rau}
Om-esponc.le
ao grau ótimo da escal
a. Apl
ica-se às
scq
üências
cu
j
as omçib
mantêm tanto o mesmo referente como sujeito quanto o tempo, aspecto e modo
verbai
s
(7) Bom. eu estudei alemão e 0 comecei a copiar o nosso trabalho. (ll1ll.
ham)
0
Telefonei procê,
0
continuei a copiar o nosso trabalho. 1
Fiquei de saco cheio.
0
parei de copiar c
0
fui juntar-me aos l l l t ' l l
familiares na praia, onde 0 fiquei até duas horas
5
.
Parcd.:s da Silva (no prelo)
mt:>mn
fenômeno na fala.
()
d;tull que i f i ~ : a 11 grau de .:onexã<l em t:onsidemção p r c c ~
c
ncgrilo
c o
top1co
discursivo são preservados, mas pode haver mudança nas c
4
tL·go
1
:1
..,
a t s
tempo, aspecto e/ou modo do verbo, refletindo uma mudança de
planc1,1,,
dtscurso (figura fundo, real hipotético).
(8)
Sabe,
A,
ul timamente eu não tenho tido muitas novidades
p<mt
te w111 :11
porque
eu
estava vivendo em completa alienação, casa-faculdade, fan
1
dade-censo.
Grau 3
Corresponde a outro tipo de enfraquecimento da escala de conexão. Entrv 11
s
uj
eito em questão e sua menção prévia, ocorrem orações de curta x t e n s ~ l o e dl·
sujeito impessoal:
(9)
Hoje vou dormir cedo, pois
0 fiquei estudando
ontem até
3h.
Aind.1
são h. 0 Vou ficando por aqui com o meu coração cheio de amor plé.ttôn i('t1
Grau
~ b a os dados cm o referente do SN na posição de sujeito fora pr n, :t
mente menciOnado em outra função sintática:
(10) Desculpe-me pela reclamação infundada. Eu estava brincando.
GrauS
. Aqui c?nexão é mais afetada visto que entre o sujeito em queslao t •;
11a
ltuna mençao mtetfere um ou outro participante concorrente à função tk .,
1111
111 1
(11)
Embora nem sempre consiga, sempre
0
tento alegrar c s s n : t
,
111
,1 ' . t .
minhas e principalmente urna amiga tão especial.
Em
dezembm,
;
1111 11111
da Embratel (que sai de ferias agora) voltará a seu cargo e então'
1
h·ufarl'i
fazer novas chamadas para você.
Grau 6
~ o r r e ~ p o n d e à
conexão mais fraca, em decorrênc ia da mudança tk lopwt 1
d1<:urstvo, amda que se possa ter o mesmo referente como sujeito:
12)
0
Preciso além de ler, lavar, passar, cozinhar .. eta vidinha de dona
dt
·
~ a s a . Campinas me ensinou a cozinhar, coisas que nunca
0
pensei lJIIL' 111 .1
J a z e ~
antes, às vezes
0 preciso
fazer
..
Talvez eu monte uma rcpuhliL"a
11
1,
f11 ÓX II1lo semeslre, o aluguel aqui está cruíssimo. o condomínio 11L Ill ..,1 · l.d.t
I I l llllrudtll 1 10 1 •;ot tuliii\JUI:.Itc .u
Paredes S
il
va mostra que a escala em questão constitui uma variawl
rd
l'\'
auiL
em sua análise de sujeitos de primeira, segunda e terceira e, usualmente,
é
a primeira
li
I
; J t " l l l
r g ~ n c i a
depausas
en tre
o sujeito e predicado
é
favorecidase o
pritlll
'
llll
( Jc
11
11 11111
l " l l l ~ t t l t l l r
um foco
de contraste, comprovada pel
os
pesos relativos L'
I I I . J
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 50/61
a ser selecionada pelo programa Varbrul. Os resultados estatísticos demonstram que,
quanto mais fraca a conexão, maiores são as chances ele explicitação do sujeito. A
autora defende também que uma variável que analise mais minuciosamente o
comportamento da seqüência de sujeitos(m<mutenção ou alteração do plano discursivo,
manutencão do mesmo referente na mesma função sintática, manutenção do mesmo
tópico
d i ~ c u r s i v o
manutenção
do
mesmo tempo, aspecto e modo verbais) apreende
diferenças
mai
s sutis. revelando melhor
os
aspectos do uso de pronomes.
Tendo exmninado alguns fenômenos relacionados
à
coesão, passemos
à
consideração de ruticulação de orações sob um enCoque variacionista.
Articulação
e
seqüências discursivas: contraste
Uma outra face da coesão, que também tem sido investigada sob a ética
variacionista, refere-se às relações semânticas que podem ser inferidas quando
duas (ou mais) orações/seqüências textuais estão conlfguas, inferência que inde
pende da presença do conector, como
foi
demonstrado a propósito da análise dos
en
unciados causais.
Uma das relações semânticas que pode emergir na presença de orações
contíguas (ou de porções discursivas com dimensão s u p e r i o r ~ ~ da oração) é o
contraste. Esta relação tem si
do
muito investigada e
é
fácil compreender as razões
que levam a essa preferência.
Por tun lado, ressalte-se que a leitura contrastiva
pode ser inferida
de
um amplo leque
de
opções (recursos fonológicos, lexicais,
morfossintáticos, slntáticos, textuais, contextuais); por outro lado, saliente-se que
os fenômenos lingUísticos explicados a partir da noção de contraste também são
numerosos (atribuição de acento, uso de pronomes, ordem de palavras, uso de
artigos, a título de exemplo). Aqui serão comentados os trabalhos de Mollica
( 1984) sobre a presença de pausas entre o sujeito e o predicado, o de Paredes da
Silva (
198 :{)
sobre a expressão variável do sujeito, o de O
i
veira e Braga ( 1997)
sobre as construções c
li
vadas e o de Gryner (1990) sobre as orações condicionais.
Segundo Mollica (1984), a ocorrência
var
iável de pausa entre sujeito c
predicado. ilustrada no trecho seguinte, pode ser explicada, entre outras, por uma
variável que leve em consideração a
no
ção de contraste:
(
13)
E:
Mas você não acha que lutar traz
as
suas
F: Não, eu não acho não. Pra mim eu não posso falar pelas outras
pessoas. (Eve43)
O
contl aste é
identificado, independentemente, por marcas cntonacionais
acento de
i n t e n i d d e
consoante Cunha {1972) c
Be
chara (
196K)
.
i hip
ólcsc de
t[ll l'
c:-.tunadas pelo
programa Varbru l. Mo11ica defende entãoque.
ao
funciOJWI
l
lllllll
11111
corrdato do i f i c < ~ d o contras ti vo, a presença da pausa acaba por rcl(
1
n,·a
lo
.
Paredes ela Stlva (1988), ao investigar a realização variável du
..,
11111
1
t a m b ~ ~ 1
recorre ao parâmetro
contraste
que, em conjunto com
H: o
rro
.
11111
.,,
1
a vanavel denom1nada
êllfase.
As seqüências discursivas foram
. . - r i l uJ
1
,
como l+enfáticasJ quando apresentavam certas
ma
rc
as
formais exphl ll:t
:-..·
1
11
_tratando de
contraste
a lítulo de exemplo, citem-se as seguintl:s: s
1
q
1
•
1
(l
diferentes para
um
mesmo
item
verbaL verbos de sentido oposto.
opo..,i
ça
11
1111
~ s p ç o
Oll no tempo, etc. Já marcas s
ina11Ladoras
de reforço correspolltli.llll
as palavras
ou
expressões que.
tle
algum modo, valorizam o papel do sujl'iln. 1
111
exemplo de contaste
é
oferecido em (14). a seguir: ·
(
14)
Ou vamos os do is, ou cu não vou. (RE3)
O
gráfico abai
xo
apresenta os resultados para esta variável:
27
Gráfico
4- Prcsenlfa tia ên
fa
se e realização de
pr
im eira e ~ s u a
. r c s u l t ~ t ~ o s es tatísticos oferecidos por Paredes
da
Silva d e m o n
1 1 1 1
qw
1
te
nl11a
çao :ujet
to
correlaciona-se intimamente ao traço ênfase:
um '>li.Íl'JIII
, ,
l1 ;u,·o I+cn1attcoI apenas ocasionalmente será realizado por uma aliai' ,,,
1 1
11,
( l l l i p o r t a ~ e ~ l t o
oposto àquele apresentado pelos s
ujeito
s com o traço
IL'Ill
<
lh
'nl
()JJvctra e ~ r a g a . ~ l 9 9 7 ) mostram que as construções clivada:-. pud111J ,, 1
III\ ~ I J ) a d a s a partrr
de
diferentes pontos de vtsta: da organ
it.
ação
da c:-.lntiUJ
.1 IIIJII•
d1
L'IIIa de t r o ~ a
de turno
s. da <Jrl
iculação
de
oração. ele .
Su:1
an;
íli'>l'
41
p;
11
1
d
11
I
diiiiiO
ponto de
v1sta
rcwln
lJIW n.., n H l s ( r w
cliva
da
s prestam
l n ·
p u
1
11
,dn
111
,
'
111 :t l ' \ j l l " L ' \ ~ < J ( l
d
l' l Uitli.J
\
(l
llllhtlld
1
\
(õl 11010
S
:Í
il a
lÍlll l :
l
r l ' f a
1 1 1
l
iii;JJl(ll I
IJII
Jl
lldl' \1'1
lttll'Jid.J llCl'- VI>Jih
1
1
>
IIII' lji iJI , ,1 \ llh '
lli
\J il;td;i\ l'
llll
\
llll l,'
lll
\
•
.
11
11.,1\(1
\
P;u·tindo de uma concepção pragmático-contextmtl de contraste. que
11.
' 1111 mla
a ' fhgl icht ( 1984), os au
to
res distin
gue
m os
contrastes explícitos
dos
imJ Iícito
1·
Aqueles englobam as ocorrências em que
ambos
os membros do par
de
opostos
Vr
JIIII
Vt l:, r l
.r
V l : ,
l
[J ú r
H
I
• IIV
I
I I I
I
tf t
flf l
( IJ
V lllt
j t l , 1 '
( orroboração
( 14) [ganhar a
Copa] é
só
0
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 51/61
que
co
nsti tuem a
re
lação contrastiva encontram-se no texto.
Já
os ú l t i m o ~
apresentam
um
único me
mb
ro
do
supos lo par
de
opostos e sua
ident
ificação é
111ais de licada.
A
seguir é apresentado um exemplo para cada tipo de contraste.
Contraste explícito
(17) F:
Ah, eu não cozinJ1o não.
A
minha ti a é que cozinJ1a. (JolO)
Contraste implícito
(18) F: A gente fala quem tá bonita, pega batom, fica se passando,
quando
chega
na sala, Dona Manoclina dá um fora na gente e só quem
leva
a
culpa sou eu. (Ro52).
Os autores mostram que os contrastes implícitos tendem a predominar.
Mostram gualmente que, quanto à expressão
de
contraste, as diferentes construções
de foco dispõem-seem um continuamcom
as
extremidades ocupadas respectivamen l'
por
sentenças clivadas propriamente ditas
e
por construções
que/é
que .
As
primeiras atuam freqüentemente no plano da esti·uLuração tópica, mais raramentl'
funcionando como estratégia contrastiva: as últimas tendem a invertertal tendência
e parecem constituir
os
mecani
smos
privilegiados para a sinalização
de
contrasll'
Os autores defendem que o padrão acentual típico das construções clivadas
c ••
presença
do
verbo
ser
e/ou pronome relativo
que/quem
servem para res
sa
ltai.
focalizar um
cons
tituinte, daí advindo a interpretação contrastiva.
Gryner (1990) recorre à noção de conti·aste ao investigar o comportamentoti''"
períodos hipotéticos em português. Estes podem serealizaratravés de variantes
dislittl<l
'••
que são categ01izadas segundo o modo de conexão entre prótase e apódose o r a ~ •
adverbial e oração p1incipal, respectivamente, das abordagens gramaticais
tradici<lll
<tlsl
e segundo o tempo
e
modo verbais da prótase: futuro do subjuntivo, prescnt l' ,1,.
indicativo ou gerúndio. A autora sustenta que os períodos hipotéticos aparecem ( I I I
trechos do discurso nos quais se apresenta alguma questão polêmica que
i . J 1 1 p ú ~ . . ·
a••
locutor a escolha e, conseqüentemente, a sustentação de uma posição ou ponto til· \ 1 11
em princípio discutíve
l.
O enunciado hipotético pode corroborar, contraclizerou ser
ltl'lll
l••
em
face do
enunciado
que expressa o ponto de vista (posição) do locu tn1 \
corroboração da posição sustentada pelo locutor, através
do
período hipot l'th •
caracteriza-se pela reiteração, particularização ou generalização
de
aspcctll\ r '
constituem a posição. Já a contestução
à
posição
do
locutor é marcada pela pn
",(
,·'
de elementos como
mas,
agora,
ou
de outras expressões c o n t r a s t ~ m t c s , e/ou opo',l\•'''
lexical
a
algum elemento do enunciado que veicula a posição do locutor.
Po1
luu
•
neutralidade em relação à posição do locutor é explicitada pela
-;
cxpressôcs
rf, .,,,
,
,r/,
não sei,
m ~ f o r m e
não
imp011a. O enunciado hipotético neutro nao l l l l l no "'
contesta qualquer posição.
A
seguir, oferecemos exemplos destas trê.\ Jl>\sihtlu l.ld,•o,
ofendidos ele -
1,
. pessoal qu
erer ( .. )
Entâu,
.\ (
C'/c
·.
l filo
, s vao a, Joga e ganha.
(HG)
Conte
st
ação
(15)
F:
Eu procurei d
ar
a educação
me
lhor . I
errar, eu ficaria tranqüilo t
b ,
p cl e es [mas]
se
mais
larrl
l r•/u
nessa d ~ .
. am em. arq
ue
eu sei que não entreguei l l . i
Neutralidade
( 16)
Eu
não
sou contra a virgindade
E h
tudo bem, casa. e
não
fior t
d b. u_
ac
o
que se a pessoa
for
l ' i J ; ~ '
11
0
em.
0
rapaz gostou, casa.
A
autora mostra que a variante
com futur
d
.
b .
.
scmpre
encabeçada
por
um cone
f . . o o
su
I)Untrvo
na prótase, quas '
linha de
anmmentação
· tend c IVo, a p r e s ~ n t ~ c?rrelações mais nítidas co
nl
it
o ·
e a ocorrer
pnontana t .
contestam a
poslcão do
locut ' men e,
em
enunciados qtlt
•
or e, raramente em enun .· d -
ponto de vista· a varJant , cta os que confirmam seu
' e
com presente do ' r
. '
ruslaposta à
apódose aprescnt
d' 'b ~ z c . tcattvo na protase, usualmcnll'
• a uma Isln u
1
çã
·
à
va
riantes com futuro do sub ' r· , o mversa
observada
para
a
.\
1
vo
na prótase· pa .. d .
la ores mostrou-se irreJeva
t ,
I a as emals, este
grupo
tk·
n c.
Relações proposicionais
outras_
t - .
''lt'. - também começam a ser v e ~ t ' ~ ~ 1 p o , concessao, reJte:ação, seqüência.
Va
le
l
embrar
que no nível de co b' . ~ a d a s
sob
~ m a perspectiva variacionista.
' • . m maçao e oracoes
r b .
d '
u pesqutsador: ou ele/·t pn·v,·l .
1 - •
a le-se urna . upla VIa para
' eg1a
uma re
·
1
çao
{ ·
,I' IIS. COntextos de OCOrrêncJa e • , . ~ e m a n t J C a e
pl'OC
l l ra identifica r
'
a ~ ;
marcas ormrus atr , .
d .
111anllestar
ou ele/a privilegl·a li · av
cs
as qua1s ela pode
se
' uma marca ormal e ·d . .
" ' ocorrência e as relaço-es p . . . procura
I
entificar seus contextos
· roposJcwn<Hs
suscet'
· d
\ t''\colha de
uma
ou outra v· d d JVels e serem expressas por ela.
. Ia e estu o depende e .d .
' '' uller
csse
do/a estudios /· A b· . v enternente da onentação c
0
a. 111 as atestam porém ·b·l·d
•
l.
tlístico de certas correlaç- . d ' . , , a possJ ' I
ade
de tratamento
' oes ISC
UrSJVaS.
I
C
nC
I
USÕQ
Neste capítulo, consideramos algumas d - . .
l'"dt·H, ...erestudadassoba . . as correlaçoes discursiva•·; que
. perspecti va varmcJOrusta· I fl .
fi .
. I
H
tonados
a
coesão textual ' t .'
. '.
s a ts
m
ormacwnal, aspectos
. e con raste. Imc
1
alme
t
ti
.
l ' " ' ' " ' ~ tonal de referentes
de
c ·t'tu• . . n e
re
enmo-nos a stal/1.\
, ons
I
rntes nommms d . - . .
l
,d •.t
llu•-;deBraga(l98
4
1988
)
B .
1
.
k(
·. e
e o r a ç o e s , a
p a r t u d n ~
' · eJ me 1989)ePmva(1991) A., · .
I. lltll•'> l'lllllll certos asr)cct<)S l
l•
l·t .
I , .
scg tll r,
· · · •nmw< os a cocsã
> t •
1
1 .
li ' " ':dendtl nus do -. t·stud 1 I O . < ex ua podc m ser 111\t s
. . s <I' lllt'lla ( 1(>7X)
l Parcdl's
d:t Silva ( I'IXXJ
I I II
li
III•
i l •
I
III
I
I
:••
I(
I
tlil ll
llll',
ill • I
l'1 I 111
,
nos detivemos naquelas análises que utili.tam a noçüo de
<.:oui
a ~ L c
l : \ l l l to
llllla
variável independente capaz de explicar, em parte, as opções de uma variank
l'lll detrimento de outras, utilizando
os
estudos de Mollica (1984), Paredes
da
I:. De
repenL
1 ·
. e e c se toma
mau
e quer conquistar o 1 iV ' rso, qtt
l'
l'
o
que ele estava conseguindo
E
.
. . e estava consegullldo
cotH.I
U
.,t
·u
o
.
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 52/61
Silva ( 1988), Oliveira e Braga ( 1997) e Gryner (1990).
O conjunto de trabalhos referidos nessa seção mostra como os
n c í p i
da metodologia da Teoria da Variação, inicialmente propostos para o exame de
l'cn<:lmenos
do nível fonético-fonológico, também podem ser empregados no trata
mento de variáveis discursivas.
Sugestões de leitura
Ola leitor/a poderá encontrar maiores infonnações sobre os tópicos exami
nados neste capítulo nos seguintes Livros:
CHAFE, Wallace. Discourse, consciou:mess,
and
time. Chicago & London,
The University of Chicago Press, 1994. Abordagem mais detalhada dos
construtos que ele vem
posn1
lando e estudando. ao longo dos anos.
HALLIDAY, Michael Alexandcr.
Cohesion hz Eng/ish.
London, Longman.
1976. Análise seminal dos fenômenos
re
lacionados
à
coesão.
KOCH, Ingedore Villaça Koc
h.
A
coesão
textual. São Paulo, Editora
Contexto, 1989.
KOCH, lngcdore ViJiaça e TRAVAGLIA. Luiz Carlos. Texto e coerência.
São Paulo, Cortez Editora. 1989. Análise dos conceitos de coesão e
coerência e dos mecanismos que instauram a coesão e coerência textuais.
PRINCE, E.
F Towru·d
a taxonomy
of
given-new information. ln: COLE, P.
(ed.).
Radical pragmatics.
Ncw
York,
Academic Press.
J
981.
Exercícios
I)
Observe
as
sentenças sublinhadas dos trechos seguintes, produzidos
por
cr
ianças cariocas da mes ma faixa etária:
F: ... assim, começaram a bater nela, né? Aí aquele barulho assim,
assim começaram a dar banda nela, ela fez assim
(falante
mostra
o modo)
aí
depois a gente tava o
lhand
o, né?
Af
eles subiram
no
corro e VUM subiram lá para uma ruo.
E: Sei. E
ninguém
ajudou a
mulher
ã o ~
F: Não. Só estava um homem lá. O cara. lá, ele
é
polícia, sabe?, mas
ele estava lá, ele
es
tava sem o revólver. (Vi60)
uruverso. Tanto que ele fez todo "computalizado"
um
mundo '
globo tenesLre computa
li
zado. ,
E: Nossa
... ~ r a o império dele. Af o filho dele mais uns amigos dele.
.lo ele:\
alt, eles c ~ n s e g u e m .formar lllll império desgraçado contm
o Datt. O Dar e o
nome
do cara do mal. (Gu62)
Em ambos os trechos,
há
uma construção de tópico em que um SN
l
retomado sob a forma pronominal (ele eles)
Algu . d . . _
lh
. . " • · ·
ma estas construço
cs
e
pruec.e mrus
natural ?Você poderia propor algum grupo de
fat
.
que explicasse
a
ocorrência
do
pronome pessoal reta? ores
2) Leia os trechos seguintes, também
prcxluzidos
por falantes c . ..
prcstandoat - · A •
anoc.:as,
. . . . ~ ~ ç o
as
c o ~ n c i s dea{e ent{/o.Como você as classificaria'
Na sua
~ ~ r u ~ ~
elas podenam
;ser. estudada'> a t r a v é ~
dos mesmos grup
os
de fatores. Prua cstudm ocorrcncms semelhan
tes
àqueles , . ,
na lrechos prod 'd . .D . · · que aprueccm
. UZI os pol
a v cEn, que grupos de
fatort s você
proporia'
~
~ l ~
tenho a
n í t i ~ a i m ~ r e s s ã o
que
J e ~
(os paulistas) pensam fque
]
..
que eu sat
do
tJaba]
..
que eu
vun
c.la
praia
fui
trabalh,
eu
vô pará d tr b lh , d , ' a. q
ue
, c a a
a,
to e bermuda e
vô
voltá pra praia
qum
J
d< '·
entendeu?
[eles}
... eu acho que eles têm essa noção que eles Sclll prl'
pergm:tam ta sol, < uma co ..> eles têm muita curiosidade ;,:-;o
como e que ta o tempo aqui: ''Como
é
que
tá
o tempo
aí?"
(Adr<l l
.
E: Você vai operá
0
quê?
F: Eu vou
operá
o nariz, tenhocome no nariz,
na fctce ma
s
()
I}( r I .
boba ma v · fi · 1
J
' '
r
<
1
'_ . eu
JG
11 cuas l'eze.\· e nclo consegui operá por
C(
/liso t rt
p r e ~ s a o _ q u e sobe,:nedo, essas horas eu tenho medo, aí eu h c ~ o lo
a f'tessao sobe,
ac
manda pra casa, aí
w:ti
outro dia. (Dm ·) .
E: Mas você
acha que
o homem
tá
acompanhando essa
mu d
anr·o
mulher? ' '
F·N-
·
Q
. ao nu.uto . . ue et: ouço l'ârias reclamações. Nüo muito . No
hora do
dmhemnho e muito bom, na
hora do
pagamento. Ma.,
quando lu chega em casa e vê tua casa suja,
TU/o
sei o que ( nil l l) ai
mmeça,
sabe? aí
v
ocê
tem
que
fica lembrando. "AI
, .
( I
. . . .
7. f/1 (/. \,
fi
O l /1
ra Ja lei o d(({ inteiro. rou cansada . (Ed)
Ji: passando, assim,
um sermão
(riso)
aí
lá pelas t a n t u : ~ do
· ·
la e ela quietinha me ouvmdo
sermão,
eu
parez, o
1e1
para e
... ,
A Nique, ela, sabe? um .. uma coisa assim, que ela so escuta .
13 oleta
e
dados
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 53/61
E Hum
·
F: Ela só .fica assim: "Ó. mãe, não, tanto a s s i ~ 1
_mãe.
aezm a,
-
.. M a ~
1
s O
máximo que ela dtz. Alia pelas tantas,
eu
nao. assun. ., . ,
parei, olhei para acarinha dela (Eve)
Giselle Machline de 0/ iwim c• Si l·u'
Experimentação ou observação
A linguagem é um objeto
de
estudo ingrato: pouco se presta
à
np•·••
mentação, já que só se manifesta
na
espécie humana, que é dificilmente manipuI; ., I
para fins de pesquisa. Assim, o lingüista que quiser estudar afasia não pcuh
1.1
provocá-la, terá que esperar
que
surj
am
sujeitos afásicos. Dificilmente
pod1
1.1
separar gêmeos para ver até que ponto essa separação causaria diferenças t' ll
lll '
suas linguagens. Estudiosos
de
outras áreas, mesmo
de
ciências humana:- s.t n
mais privilegiados: um psicólogo pode fazer experimentos sobre certos
l:Oill Hi
t
tamentos
em
animais de laboratório possuindo comportamentos parecidos . 1\ l.t
nós, lingUistas, lemos sempre
que
nos contentar apenas com a observação.
Observar, entretanto, não significa apenas uma ação passiva, um •v;u
ocasional. Há regras
que
conduzem e induzem a
uma boa
observação. Sao : - . ~ o ~ · .
regras que discutiremos aqui, primeiro teoricamente e, em seguida, m a i ~ pralll :t
mente, por meio de uma pesquisa
já
realizada.
Conselhos prévios
Ao se tirar urna fotografia, pode-se escolher uma perspectiva mais longínqn.t
ou um
close.
Ao se estudar um ser vivo, pode-se tornar necessário obscrvm 11
organismo corno um todo, um órgão em especial, um tecido ou ainda uma c ~ l n l t
Não se pode considerar um método melhor do que o outro e a deci são dcpcnd,·•"
da necessidade. Assim também, ao escolher seu objeto de
ob
servação, o ~ u l Í 1 1
lingüista poderá deter-se
em
algumas famílias, ou
em
um
grupo de indivíd
uo:-.
1
111
relação mais ou menos estreita ou ainda em uma comunidade maior. Não se p11d1
dizer que uma dessas abordagens seja melhor
ou
pior do que as outras. O ídl':tl
ser iam estudos complementares, um extensivo e outro(s) intensivo(s).
Qualquer que seja a decisão tomada,
é
necessário penetrar-se na cnn1u nu lad,
para ohservarcorno esta usa a língua. Essa penetração é sempre uma arbitrari
,·•l:uh
I ()m·to itJ IItth.:c..:t 11 P k 'il 1\ loitt.t
M.11
l
:t i'
l' ll' ll:t Sdt<'rt(· pl'la lci 1111:1 uh ·ula Ch 1'1111 '
11'
1"11•111111
lll"llll:llll'l"l'fl" lll
'· '
" '' llll llh.tl
' \•
111 .1\ .11 J'll
ll
. tl•tli.l.llll
I
lll
li' '
h
•
• "
<
t
:, <
ruh11<
1 1 1 1 ~ l r u
1
tllll
<tio Je
violência, que
tem
regras
dip
lomáticas
que
não pudem
-.;cr
inlrin idns
sob
pena
de
mudar-se
a
qualidade
e/ou
a quantidade da fala
ob l
ida.
Ao
longo dos
est
udos soc iol ingüísticos. os pesquisadores jun taram um
bom
' '•I I
I
t
i•
t
hl
·
I
·,,
li y
Amostra
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 54/61
número
de
conselhos
a
respeito de
como
agir J'r
ente
à
com
unidade.
L
abov
(1972)
recome
nda que o investigador
se
apresente
de mod
o simples
c pe
ça
ajuda
do
tipo "sou daqui m
esmo
ou
so
u de fo ra'" e
me
u trabalho consiste
em
encontrar as diferentes maneiras c
omo
as pessoas vivem
nos
diversos bairros··
(ou tribos, ou fam ílias. etc.). Ou a
inda so
u pai de adolescentes e gostaria de
sa
ber
como
vivem
os
j
ove
ns daqui".
Labov ainda recomenda que o investigador não
se
apresente
como
fazendo
parte
de uma
universidade, pois.
embora a
menção
de
univers idade faça-lhe abrir
mais as parlas de certas
co
mtmidad
es
onde ela forprestigiada, fará
com
que também
os
falantes
dêem demasiada
alen
ção
à própria fala. o que.
como ve
remos,
é
a
pior
praga do
sociolingüista.
Tampouco é recomendável
que
o investigador
dê
ex
pli
cações em demasia,
como, por exemplo: '"sou lingU ista e est
udo
a queda
do
- r no infinitivo''. O
li
ngüista
que ca
lamiLO
samcntc assjm procedesse poderia
ter
cerleza
de
que todos
os
-r
estariam no seu devido lu
gar
. tornando então a pesqujs a desnecessária.
Na
maioria das vezes, não há necessidade de se esconder
o
gravador.
Os
socíolingüistas observam
uma
norma que diz respeito à é tica perante o entrevistador
c
que im p
ede que se
esconda o fato
de
que
o
entrevista
dor será
gravado.
Po
d
emos
apresemar simplesmente a aparelhagem como necessária para todos os
de
talhes
da
conversa (isto rerorçará a importância
qu
e o pesquisador
dá
a essa
co
nversa). O
fato
de
mostrar o gravador não signi1ica gue ele deva ser posto debai
xo
do
nariz
do
falante. nem o rnicrofone dentro
de
sua boca. Ambos podem ser postos discretamente
fora do alcance
do
seu olhar
para
que ele fale e, tanto quanto possíveL
se
esqueça
desses objetos. Nesse sentido, recomenda-se o uso de microfone
de
lapela, ou de
pescoço, que fica longe dos olhos
ma
s sulicientemente p
e11o
da boca (este tipo
tem
a vantagem suplement
<U
de vibr
ar
menos
do
que
se es
tivesse nu
ma
mesa).
2
Para crianças, ou indivíduos
menos
acostumados
a
gravadores, o fato de
prometer que, após
a
conversa, poderiam ouvir
a
si mesmos costu
mava
surtir
bom
e leito. AtuaJmente, no entanto, qualquer criança, e até mesmopovoações longínquas,
es
t
ão
muito familiarizadas com os gravadores. Como.
en t
retanto, alguns lingUistas
já
estão usando
ví
deos
em
suas pesquisas, este conselho pode lhes ser
útil.
Uma vez entrando
na com
unidade, o pesquisador
deverá
decidir quantos
indivíduos
dessa comunidade
dev
erão
ou poderão ser
con
tactados. Esse probl
ema
diz respeito à amostragem e será abordado a
seg
uir.
2. Algu mas raras
vezes
esconde-se o
gravaúor.rnas.
c ~ s c caso. no im.
f
a7
-sc
o falante ouvir g r a v ~ Ç Ü < l pe
t
.
'c
li
cença a ele para us<i-Ja posteriormen te. Ou ainda poderá ser gravada sem c o n ~ e n t i m c n l o <:m coulát·IK I•I
h l i \ í d o ~ . t..:lcvisão. etc .
Uma vez
esco
lhida
a comun
i
dade em u •
tlepara-se
com
o
fat
d . q e se desenvolvera a Pl'Stf lrr \ .1
0
e
que
sua população
é
t l d ·
para
ser
est
udada po.
· t · R
.'
vez,
e m a s ~ a c l a r n e n t L ·
J'l.llld,
I Jn eJro. ara é a comunJdad V
possível contactar todos os
s .
d ' 'd e
ao
pequena
a
ponto dv
.,, I
· eus m
IVJ
uos
como
·
f . .
se
lecionados alo-u
ns
falant
es
que . . - m armant
es
. Devem. pois ,, I
o constJtulfao
a
amostra O 1 d
reali
za
das serão enta-o relat· . . . s resu ta os
de wwlt \1 •
I vos a essa amostra.
Entretanto, não
se pode
p
er
d
er
de vista
c
u ,
sobre a
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e -
c se
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uma
Pl''IJ
' '
'
nao
apenas sobre a an t r E
tomaráasmedidasnec
essá
ria
s arat . ,
lo
s a.
s e r ~
o
pe
sq uisad<
l qrr<
·
obtidos através dessa amostr· ~ ornar a
ge
neralização
do
s n
:o; ul
t
'
" '
p .
a.
o
qu
e a
estatJSllca chama
de inferênch
ara
esses
re
sultados serem bastante re , . . , • .
aplicados
a
toda
a
população (que
é .
'd· presentativos, d fim
de podci"L'III
><
1
. constll:t.lJ
a
porta das as
pe
ssoas d· .
a amo stra supõe certos requis itos E ,
..
. · · a comun1d.11h 1
. varws perguntas devem então
ser
respotltltd.t •
Quantos fal
an
t
es
deverá ter a amostra?
Pe
la lei
do
s grandes números, sab
e-se
que até c .
de
que
os
resultados
se
i·m
1
rct di
. , . ' erto
pont
o, a prohahllul.ul•
•
J L e gnos e dJretamente propo ·c· al
amo
stra. Isso
porque
o
po
sst'v
1 "' .
d .
r
ton ao tam;udu'
d.t
e eJ.ctto
o
uma v
anáv
el
num
· d '
'd
-
ao
de
outros individuos c
d· · .
m
J
Vt uo
sera so11
1rcl"
. • a a um
com
seu efeJto c·lsual d
I
comp
l
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telivre .Essese
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,,
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oqua
nunca-;L
't:s t.u .l
1
os
en
em
a
se
anular mutua t ·-
casuais, agirão alguns numa
d'
.
7
al ·
men
e, Ja qul'. Sl
lldc,
, .
HeÇdo
e
guns
em
outra.
O
numero de
mdivíduos
da
amostra vai depender:
a) da homogeneidade da populaçüo. Fe]jzmente a líncr - . . .· ,
humana
relativamenteho
A
t:
ua
c uma
p1 op1
IL ;ul<
. - mogenea, entre outros motivos .
.. I . .
o m u m a ç a o , é imprescindível que todos tenham
a c e s ~ ~ r q u r
p.u.' l l.t\ l
amago
da
lín llla de sua
.d
· ·
pc
o
m.:
no
.\ ''
. - o_ . .
comum
ad
e.
Se
alg
um
excêntrico
e s o l v c s ~ c
l'l l'
ll
propna
s, seria dificilmente compreendido e .
..
. . . . .
s
enam
e intinada')
por se
le ã . . , . ' )(''
por
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• su
Cientemente heterogê
ne
.
estudem diferen . a para t
ornar
dcs ej:ívd IJlll <; t
ças
entre sexos
classes soc
1
a· · , ·
qu
.'nto
se
E .. . . .
IS, J.aJXas
etanas
c
lanlas
Ol
lll
I'
" possam ssas
var
' · .- '
.
Ja
vers
sao as
c
ham
adas variáveis
soL·i:l
i
>
b)
do
número de variál eis
pe ·.
d
sqwsa as (veremos poste
ri
ormcniL' o porqlw l ,
c) do i llihncno. ( >utm
lacvta
da
homo(lcneidad J·
I '
homog0nea Jlill': l .tl ]' ll ll \ r. . . I o e (<I lll
gua
L' LJIW l'lil
l'
l llnll Ju l os <o qul
' para
outro ... \
reallla<,.tn
t
I
li
til•
n
:;,
x
l
ll
liltCJt
u.lll
11
ror exemplo, não precisaria
de
amostra tão grande quanto o l u d o da.
realização do s , bem mais variável;
s \
jam d t ~ p ~ i m á r i o : essa realidade reflete o fato de que, na
poJHlla• ·au. s:
111
111
,
11
.,
raros os rndi
d 2° · · '
· •
Vl
uos com grau ou, mrus amda, com curso superior. l'ara iwl11
11
se
n e ~ s a
a m ~ s ~ a
assim selecionada, um número de falantes
do 2" ur: u •
.
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 55/61
d)
o
método. Conforme a precisão da técnica estatística usada, pode-se
diminuir até certo ponto
a
amostra
se
forem usados métodos estatisticos
mais sofisticados;
e)
do orçamento e outras condiçlJes materiais.
Por fim, deve-se
levar em
conta que é necessário ser realista. E ntrevistas são bastante onerosas não
apenas pelas fitas gravadas, gravadores e transporte, mas principalmente
pelo número
de
horas gastas para
ir
ao
local e, mais ainda, para transcrição,
o que torna mais imp01tante a redução da amostra. Como há um limite,
abaixo
do
qual não há estatísti
ca
possível, talvez seja necessário reduzir o
número
de
variáveis que o pesquisador ambiciosamente planejou no inicio.
Veremos adiante o
cá
lculo final de quantos falantes são necessários.
Como se lec ionar os falant
es?
O princípio mais rudimentar para permitir a inferência uos resultados
da
amostra
péua
a
população é
o
de que a seleção dos falantes seja aleatória. Levando
se em conta esse princípio. há vários modos de proceder:
1 - Método aleatório simples. Esse método cons istiria
cm co
locar num
recipiente uma identificação de cada indivíduo da
popula
ção e retirar cada
identificação uma a
uma
até completar o número desejado.
Isso
implica que
todos os indivíduos têm exatamente igual probabilidade
de
escolha. É o caso do
dado não viciado, cujas faces têm a mesma oportunidade de serem sorteadas.
Pode-se usar este método quando a amostra é muito grande e a população
é
muito homogênea.
Assim, se for estudada a diferença
de
comportamento lingüístico entre
homens e mulheres, será
bem
possível usar esse método
de
seleção
já
que:
a) o número de homens e
de
mulheres é aproximadamente o mesmo
numa
comunidade;
b) a diferença lingüística entre ambos não é supostamente muito grande.
Se
sortearmos, inteiramente
ao
acaso, 50 membros dessa comunidade,
teremos provável e aproximadamente25 mulheres e 25 homens. Entretanto, se for
desejável pesquisar a diferença de comportamento lingüístieo não mais pe lo sexo,
mas pelo grau de instrução, no Ri o,por exemplo, é recomendável a seleção de 50
indivíduos por este método totalmente aleatório e é bem provável que lodos d t·s
1
1 1 111
11
supeno
r suficiente
para
u ál · f'd
ct· ·
ma
an 1se 1 e tgna,
sena
necessário .. .
n o r n ~ ~ ~ ~ e n t e a amostra. Vê-se que esse método é vantajoso por incluir na aJtl l.. 11 .1 ,
s ~ f J c i e n t e ~ e n t e grand
e, um perfil paralelo à realidade; mus sw
1
d ~ s v _ a n t a g e m e q_ue, quand_o
_a
amosti:a não pode ser muito grande, é prov:íw l q
1
u
nao mclua um numero suficrente de Indivíduos
de
cada tipo.
, . P ~ a ~ r ~ c e d e ~ a um sorteio dos elementos da amostra, deve-se não
o
s e n ~
pnnc
tpro
da
1gualdade
de
chance
de
cada indivíduo da população pod
1
•
1
" '" '
escolhtdo.
..
a famosa pesquisa realizada em Montreal , no Canadá,
po n
x
1
·tnplt '•
p e ~ a r a m
0
cat,Uogo
de
telefone e sortearam os falantes necessários c n11 c
assmantes. O
que
lá deu certo não daria
no
Rio: ficaria imediatamente corl:
ub d. t
amostra uma grande quantidade da população. Esse fato não seria tão d
es
:
1-.
Jtm11
se a falta de t e ~ e - f ~ n e
no_
Rio fosse apenas por contingência da comp:u
1
11 j,
1
d
1
telefone, nos
~ d 1 f t c 1 0 s
mms novos, por exemplo.
Não
é o caso.
Há
uma
cnrn l:1
1
,
b a ~ l a n l e e s t r e l t ~ entre falta de telefone e classe sociaP. Os morador
e-;
da 1.1\ I r
senam
a u t ~ m a u c a m e n t c conados da amostra (chama-se esse gênero ue
a
11111
11
,
1
com esse ttpo de correlação de
enviesado).
2 -
e a t ó r i a
estrat ficada.
Pelas razões acima expostas (de a amos
tra
1
.,
d,
·
ser d e ~ a ~ w d a m ~ ~ t e grande a fim de englobar todos os estratos da popula, ·' '
costuma-se estratJ.ftcar a an1ostra. Paraprocedera esse método
i
·d _ I·
' I
1
. . ,
VI e se a popu ,11 ,1 ,
em ce ( c a s ~ s .'• 'estratos") compostas, cada uma,de indivíduos com as 11lL sr
11
,.
caractenshcas
SOCiaiS
, procedendo-se posteriormente,
pm·a
preench
er
cada ,
.
,
1 - al ' .
\
I
u m ~ -
se
ç a ~ _ ~ a t o n a .
Assim, se for escolhida como objeto
ele
pesquisa apc
11
a,
1
vanavel socwl sexo, pode-se ter, numa casa, 5 homens e, na outra, 5 mulheres ,. "
~ o s t r a ~ o d e r á
ser teoricamente de 10 indivíduos.
Se
acrescentarmos a v
ar
i:i'
1
r
s s _ e
s o ~ t a l ,
. p ~ r exempl?; d i v i d ~ r m o ~ _ c s s a variável em três fatores correspond
L
tlt '''
as classes alta, mtennecl1ana e batxa, Ja teremos de ter as seguintes casas:
5
homens
de
cla
sse
alta
5 muLheres de classe alta
5 homens de classe intermediária
5 mulheres de classe intermediária
5 homens
de
classe baixa
5 mulheres
de
classe baixa
:
" ':IIIÍ
ta du ll
'
, .
·'
'' ' ' ' · '" ' '
11
1
"" "
laml n l't \111 a ('\f'il tl" '" " ·'
it'k
lntu .o '" ' llo '
ti
" ' " I' ll l
j a
l l l ,
tl l
ll l o ' 111
11.
1
•' l11l.1 of ,• ut
d
t\ f
d
1111
·
1
l l l l l l l lli II
I
U III
1
1
1
1 .
llu
1\
t·.d
I l l l l l t·
d•
l f l t l lf tfll
' t
\ ~ 1
, o 1111
1
t III I I ll lf.l
•l llt • ll
I
i
L h11t<><ill< 'H >
'1
:,
ud u
hl< l l l ~ l l t ll
SG
ainda quisermos estudar
a
influência das zonas urbana
é
rmaL
P'
c
mplo, teremos
as
seguintes casas:
I
I
Se quisermos saber então o tamanho desejável para u amostra, l'S\t'
t t l l l lh ' l
será
mu
ltiplicado pelo n
úm
ero apropriado de falantes cm caua célula;
110 LI ' •
dn
numero ideal
5 (cf.
Labov,
1981). Leríamos
então
60.
Nota-se que
a consl'qll''' '·'
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 56/61
5 homens de classe alta de zona rural
5
homens de classe alta de zo na urbana
5
mu lheres de c
la
sse alta de zona
rural
5 mul
heres de classe a
lt
a de zona urba
na
5
homens de classe intermediária de zona rural
5 homens de c
la
sse i
nt
er
medi{u
·ia de zo
na
urbana
5 mulheres da classe intermediária de zona rural
5 mulheres de
<.:lasse in
termediária de zona urbana
5
homens de classe baixa de
LO
na rural
5 homens de classe baixa de
:t.ona
urbana
5 mu lheres de classe baixa de zo na rural
5
mulheres de classe baixa de zona urbana
Há
um
sistema s
im
ples
para
construir essas casas : codiricam-se
os_ fa
Lares
(atribuindo uma let
ra
para cada fator) e
faL-se
uma análise
c o m b m a ~ ó n a .
Para
sab
er
de antemão quantas casas teremos ao
fi
nal. multiplicam-se
os
fatores. No
. 1 . . A 1 B) x 2
zonas
(U
R) =
P
caso, te
mo
s 2
sex.os
HM) x
.1
c asses s
oc1aJS
. . . · . .
casas. A construção dessas casas pode ser melhor v1suahzada no esqu ema ab,uxo.
----
U-HAU
I
A ~
R-HAR
..-----
u
1ll
u
H
\
R-HIR
~ U H B U
B
----
R-HBR
M U
1\
R-M/\R
~ U M I U
M
\
R-MIR
M H U
13
R-MHR
úc
incluir mais uma variável que tenha, por exemplo, dois fatores scra dupltt
.11
,,
amostra; três fatores, triplicar a amostra e assim consecutivamentc.
O stu
'
lingU
ista não pode então se deixar levar pelo entusiasmo natural de pcsqu t
s:u
'·
míni mos deta
lh
es.
Imaginemos que queiramos, por ex.emplo, fazer
um
estudo numa P''lli'L' ·'',
n
ão
homogêneasobre
a
atitude dos índios do AltoXingu perante a sua ai
ahl
l
l/ 11
,,,,
em português ao invés da alfabetização em sua própria língua. Digamos qttt'
1t
,
I
O tribos, cada uma com a população variável.
O
número de falantes csrollud
em cada tribo será proporcional ao número total
de
indivíduos daquela tnlt
Como a amostra
é
heterogênea,
é
desejável que não seja m
ui
to pl'll ' ·'
digamos que se comporá
de 6
indivíduos que se distribuir
ão
na mesma
i''''JHII• ,, ,
como se segue:
Tribo
N. de índios
Amostra
a
500
lO
b
200 4
c
300
6
d
150
3
c 250
5
f
50
1
o
o
30
h
soo
lO
500
1
J
480
lO
Total
2960 60
Se a população
fo
sse mais hornogênca, poderiam t
er
sido escolh
id
os aiK'II
30 indivíduos, subdividindo-se cada subconjunto em dois.
Há
naturalmente necessidade de yue não se enviese essa
:.1mosLra.
r<l/t tld11
com que todos os
1
O ndivíduos da tribo sejam. por exemplo, homens vdfto.,
N,,,,
se saberia nesse caso se determinado resultado encontrado entre os
llo llt
l'll
''
deveria ao fato de serem velhos ou da tribo
A.
' I t 11WIII q11r
IIIHI · J u h k n d ~ ,
1 ·11111
11111 l .1Lu11• · • •
1\ttiiH IIt
1111111
1110 11 I , • l tlllltl h l
11
,, ,.,
1111
lll•'thllhl.ultt -
I
.?t
l
ll tlltll h
ll \
I 11 '• ' lr
t
ii i IIJI:, I
t rl
nde selecionar os indivíduos que comporão a
amostra?
. Como, cada vez mais,
se nota
a importância do estudo d:t conVl l:-.:u, .1n I
prec1so encarar a necessidade de registrar tais interações. Aconselhamo:-.
11
~ · l IIm
menores registrados em vídeos, já
que
os gestos, mímicas e exprcssóes talllhl' llt
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 57/61
Uma vez que sabemos quantos e quais indivíduos comporão
cada cé
l
ula
por exemplo, homem, adolesce
nt
e, com primário), serão procurados os indivíduos
pela área detemúnada (Rio de Janeiro, por
exemp
lo). Mas a área determinada pode
não
se
r totalmente homogênea, de acordo
com sua
extensão e outros fatores como
tipo de bairro, com maior ou menor condensação de determinada classe social,
presença de inúgrantes etc. A amostra deverá levar esses fatos em consideração.
É
desejável entrar em contato com a prefeitura e/ou com o
IBGE
para
obter um perfil social recente da
com
unidade, estrutura de seus bairros, enfim,
um conhecimento sistemático
da
comunidade.
Nessa
etapa,
é
aco nselhável que
se conte com o apoio de um sociólogo ou de um antropólogo que conheça bem a
comunidade para se encarregar dessa tarefa.
Coleta de dados
6
Uma vez que se sabe quantos. como e onde procurar os falantes , inicia-se a
pesquisa, gue precisa estar bem definida, bem planejada. Mesmo
que
o
se
ja. sempre
haverá imprevistos, aspectos insuspeitos que surgirão
no
decorrer do trabalho,
dificuldades de toda sorte. É necessário
ter
um arcabouço ftm1ementc delineado.
mas,
ao
mesmo tempo, amplo
''
jogo de cintura''. Serão, pois, previstos, nos mínimos
detalhes, todos os passos subseqüentcs pm·a evitar hesitações frente ao falante.
Que típo de contato e quantos serão preci
sos?
Basicamente existem três tipos de
co
ntato: interações livres, entrevistas e
lestes. A primeira consiste na gravação de dois ou mais interlocutores interagindo.
Serve principalmente
para
análise
da
conversação, estudos
de
turno
de
fala e
de
pronomes de tratamento. Tem a vantagem de ser bastante real e espontânea, de
ter perguntas e respostas. etc.
Sua
grande desvant
agem
é, entretanto. a dificuldade
cm gravá-la nitidamente e a quantidade de superposições de fala (duas pessoas
ralando ao
mesmo
tempo), o
que
é muito habitual de nossa c
ultma
e toma a
transcrição dificílima.
(,, ( l
qu.: cxpnm
o> aqui como seqUência
linear
é,
na
realidade.
muito
mais
integrado.
Ao ohlcr
a
utl1 <l>lra. I
<i<'\,. s
abe
r qu
l'
lip••
ck
p
c,
quisa
,erá
rcali7ada.
são importantes.
Para estudos morro-fonológicos e/ou sintáticos, são mais habituais n l r ~
~ , ,
do pesquisador com o falante. Suas vantagens e desvantagens são o l w i ; ~ n l l ' l l l i
opostas às das interações: facilidade de gravação e transcrição, mas úificuldad1
cm registrar
e r g u n t a ~
e impessoalidade nos turnos de fala e pronomesde t.rat<.uneuto
Há ainda os testes, geralmente complementares de outro tipo de conlalt,
que permitem a elicitação de dados desejados . Assim, por exemplo, se o estudo 1
sobre pronomes de tratamento, pode-se projetar um dispositivo para exemplo d1
um homem, velho, vestido de macacão e peclir ao falante que se dirija a essa ligw a
por exemplo, "pergunte a ele se
ele quer
pintar a sua casa" e gravar a pergunla
Existe um grande número
de
testes, mas o melhor é certamente aqul'l1·
que é criado
para
a pesquisa desejada. Basta um
pouco
de imaginação.
Da entrevista
fa
laremos mais detalhadamente,
por ser
o mais habitual
do ..
procedimentos sociolingüísticos: é o mai s vantajoso para a pesquisa da maior1.1
?os
fenômenos
lingUísticos. A
entrevista consiste
não na interação de dor·,
Informan tes entre si, mas na do pesquisador ou de seu ajudante (entrevi-.tadorl
com o in formante ou falante (entrevistado).
Essa
entrevista,
longe
de ser
qu
est
_ioná.rio;
d ~ v e s e constituir
de uma
conversa. a mais informal possível,
apl :-..tr
das C
ir
cunstancias adversas.
posto
que o que se
quer
é
a fala casual, habitual.
do
\
falantes. Col
oca-se
aqui o
fundamental
p r doxo do observ dor
de
Labm
(
1975), importante de ser mencionado, cem vezes se for preciso: "queremos ohsl'l
var a fala
do
fa lante quando ele não é observado". Isso significa:
I) que o fa lante deve falar;
2) que ele não eleve
se
sentir observado,
sob
pena de não falar naturalmenil'.
· Essas questões
de
registros do nível
da
fala empregada pelo informante s
at
1
extrema mente importantes. Édifícil imaginar o grau de sensibilidade
do
infom
J<rlrlt
·
~ u a ? t . o
a e ~ s e fator.
Ca
be citar um fato concreto para
exemp
lificar até que pon111
c bas1co nao se esquecer desse pormenor.
. . .
Em
L974
,
n d o Mar ia Marta Pereira Scherre (comunicação particul:u l
1111Clava
suas atlvtdad
es
de pesquisa
como
auxiliar dos professores Miriam l .t•rnll
e Anthony Julius Naro, realizando entrevistas preliminares para uma IK' ll '
encomendada
pe
lo Mobral, que resultou no
re
latório "Competências hasic:l'
. dn
português (Naro Le mle, 1977), ocorreu um fato não planejado. E
la t.:
ollvld .ll .r
11 informante-piloto semi-alfabetizado ~ r a ir à sua casa. Ant
es
ela
cs
tav:t :t\ '' I ,
a:-. entrevistas numa escola perto do morro Santa Marta. Após um t T r ~ o ll ii Jlll
dt.: nm vcr-;a cm
-;ua
ra-;a l' a avisou ao rapaz que a entrevista ll' llllllldl .r \
" l ' ~ l l i r . e l
e.., pas
sa
ra111
:1
d1
-., til l l l l l s prohle11tas dl'
mall llr:111
1a IJIIL n r:
q1.1
/
I
/(1
IIII
•
III•
I•
• • I :._ u I•
•III 11
11
,,
11
<I
lnara
para que Marta o ajudasse. Quando o rapaz foi embora.
Marta
petl'l'llL'll
qul
0
gravador fic
ara
ligado, sem, inclusive, o seu
conh
eci m
ento
.
Co
munico u
l iSI fato aos pesquisadores ori entadores qu e,
comparando
as duas partes da
'
.,
Logo tkpois do preenchimento
da ficha
social, pensa-se cnlao na l'll ill'\'l" l. l
quL' deve
se
r bem planejada. Há vários aspectos a serem considcrad
l>s.
É necessário ter ass untos suficientes para a conversa flu ir m elhor. Jk \
1'
'>l
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 58/61
gravação, puderam constatar que a incidência de
concordânciade
número
diminuía
quan
do
o entrevista
do
r supunha
que
não estava sendo gravado .
Chega-se aqui à questão
de
quantas entrevistas serão necessárias . A resposta
depende
do
fenôme
no
estudado. Um fenômeno que se
manifesta freqüentemente,
digamos, justamente o plural elo
SN,
não precisa de tantas horas de gravação se
compara
do
a
um
probl
em
a
ma
is raro, di gam
os
à regênc ia de de termin
ado ve
rbo.
Vemos que, n
ovamen
t
e, não
é
possível
fornecer número
adequado
de
horas_ a
serem gravad<Ls:
o
pesquisador
deve tomar essa d
ec
isão. Qualquer que ela
sep.
deverá, entretanto,
ser
a
mesma
para todos os falantes :
se para um
usa
rmo
s
uma
hora e para outro, quatro, o scgunuo falante, após maior número de horas de
convívio, terá maior chance
de
ter um menor grau
de
formalismo.
Qu a
lquer que seja o ti
po de
contato escolhido.
é
impr
es
cindível,
num estudo
sociolingüístico. conhecer o fa lante o melhor po ssíve l. Não se quer dizer com isso
que ele
deva
ser conhecido ou
amigo
do entrevistador:
se
um o rosse, _todos os
e n t r e v i s t d o ~
deveriam sê-lo, o que é impossível, no mesmo grau de
a1111za
de.
O entrevistado deve-se tomar conhecido do pesquisador no início
da
pesquisa.
o melhor
se r
ia ter
um
longo contato com ele, mas, na prática, toma-
se
difícil ter
esse
lo
ngo contato prévio e igual para tod
os
os falantes ua amostra. Constrói-se,
pois, um questionário soc ia l montado de acordo com a pesquisa c a ~ o m u n i d a d e
pre tendi da. Se a comunidade
é
bi lingüe, por exemp lo, ou se t e s em
proporção significativa, deverão ser previstas perguntas sob re a prune1ra lmgua do
falante, a de seus pais, se e le ainda fala essa língua, em que ocasiões, etc.
Sempre haverá perguntas precisas sobre a idade e a in
strução;
imagina-se
que n
ão
sejam
necessária
s pe r
guntas para sa
b
er
o sexo do
entrev
i
stado.
As
pergu ntas sobre a renda devem ser muito bem cercadas.
já
que não é co mum a
pessoa dizer espontaneamente a sua situação eeonômico-financeir? (coneta).
Assim também haverá dilicu ldade de
se
estabelecer a classe
socJU
l (lembramos
que é bom contar
com
a ajuda
de
um sociólogo).
Se
o estudo for reali zado numa
pequenacomunidade,
o
pesquisador pode ter
a
so1tc de contar
com um
censo recente
ou
um
es tudo
socio
l
ógico
a
respeito.
Já
numa grande com
unid
ade
,
digamos numa
cidade, embora tenha pro vavelmente
acesso
a resu ltados gerais do últ imo censo.
não
terá
as infom1ações desejadas sobre
cada
falante.
Vimos que o questionário t
em,
como principal objetivo, traçar o
perfil
social
do informante. Atribuímos outros
objctivos
a
essa
l'icha soc ia l:
ser
um pr imeiro
contato antes da ent rev ista propriamente dita é um papel relevante. Quebrará o
gelo do informante ,
familiarizando-o co
m o gravauor. Ou tra vantage
m,
aim h_t .
nesse co ntato prévio, nesse conhecimento do infom1ante, é
poder
e l h o ~ condu :nr
a n t r c v i ~ t propriamen te dita , já que se toma possível saher sobre seus
Jn
t
crcss
l'
p<tra IJtclhor dirigir a
conversa.
pois, prever um número muito maior de assuntos do que o
n e c e s s á r i o p1 11\lt'll.
l
vista. j á que muitos deles podem não provocar o efeito desejado e o falante Sl' il'll.l ll
Há
também
a
necessidade de
se
elicitar
forma
s não muito usuai
-. ll t v. , ·
gênero de discurso. Se não houver, por exemplo, elicitação de formas vt·1h t1
·,
diversas, é quase certo que praticamente
só
hav
erá
formas na primeira pessoa do
singular e no presente do ind icativo.
De
acordo com o i
nt
eresse da pesquisa. plt<t'l
.t•'
ser
elicitadas outras formas,
mas
t
ão suavement
e
que
essa
clicitação
n
ão
JL'\
L'
I
sentida
pe
lo informante .
Se
forem n e c c s ~ á r i a s é b
om
fazer- se um pl.tlln
estratégico
para cada
uma .
Além da provocação
de
ce1tas formas lingüísticas,
toma
-se cada vc; 111.11 .
necessário elicitar diferentes gê neros
do discu
r
so
. O
gê
nero m a i ~ fre
qi.i
cn
tL'IIH ''
d ic itado é a narrativa. Mas há o utros tipos que também podem ser provcw;1d"··
por exemp
lo, o argumentativo, através
de
perguntas adequadas à
épnl
.1 , "
comunidade; receitas ( como faz .. ); discurso indireto
( o
que você di
s:-.L
a
d1
'"
1.
discurso indireto h ipotético ( o que você faria se . .'·), etc. Todas essas clil'l l.t ' '
·,
devem
es tar
bem
clm·as, não
só no
planejamen
to da
entrevis ta, mas. o
t}
lll' l' III. i -.
difícil , no seu decorrer, pru·a que sutilmente sejam computadas as
o m 1 a
j<í uh111l.1 .
c seja
po
ss íve l obter as outras dese
ja d
as .
Não
se
p
ode
esquecer também de de ixar o falante falar. Ess a propusi•.:a"
parece óbv ia, mas freq Uentemente o en trev istador é tentado a meter-se na con
wt
s.1
ele próprio
ca
i na cilada
que
e le mesmo armou, de tornar natural
a
~ a .
I 1
·
a torna de fato tão natural. que se esquece
que
se tr ata de uma en trevista. Isto
l
l:l l l
quer dizer que
o entrevistador
deve
se abster
de
abrir a boca.
Es
sa postura
l ;u ,1
com que o informante parasse
ue
falar. Para o fluxo da conversa, gestos . olh;11,
...
c breves
hum-hum não diga?
ou é?, não interrompem propriamente. m
a-;
l i m u
e não dificultam a transcrição. Outro perigo de i
mpedir
o falan
lL ,h
'alar é o de fomlUlar perguntas de ta l fom1a que ele seja induzido a rcspon
ÔL
r
.
ou ll(tO, como, por exemplo,
perguntar
'
'você
vai
ao cinema
sábado no ill'''"
' l
l'or
icamcnte, nen h
um
a pergunta que possa
ser
respondida
simlnüo d
eve '''
kita:
é pe
rda
de
te
mp
o.
A vontade de utilizar be m o tempo da en trevista pode s
er parad
m.alml'trll"
causa
de
in terrupções . Há entrevistadores rápidos de pensamento que llt·;
11 11
lll'
f VO
sos com a le ntidão do falante
c acaba
m a f
rase por
e le logo
na
sua p
rit1 11 11 1
hesita<;ão. É preciso ter sensibilidade (que se adquire
com
prática) para 11o1a1 l '1
lulan tc hesita porque não gosta do assunto
(é
melhor mudar de assunto) '>l' c I''''
Sl
l hl 'S
i tantc
Ul' modo
gl'ral (l'
l l l dho r
mudar de
ra
lantc),
ou por SC I IIII
ll'lll;l
IH1 III
ll l :r .,
delicado
(tki \L'
11
h
l'\1
1;11 J.
Su proponha
outr
o te
ma
:tpo
-.
ve r
ljll l'
n·ai
i
iH IIi<
1
\l< 11
l
l'
l l
() <l
'\'>l1111ll.
Depois de tantos conselhos técnicos, será examinado rapidan1c11ll.: un1 ...:aso
pdtico de
uma
pesquisa realizada no Rio de Janeiro pelo PEUL, que procurou
seguir muitos
desses aspectos teóricos.
___..- primário
7-14
anos
.,....- ginás io
4
4
I
I
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 59/61
Esse grupo iniciou suas pesquisas
com
um projeto intitulado
"Censo da
vm-iação lingüística no Estado do
Rio de
Janeiro , o Projeto Cen:_o.
u ~ ~ o
esse
grupo falou em primeiro lugar a respeito do Projeto Censo, propos realiza-I? em
seis cidades (três do litoral, três do interior; três do norte e três do sul). Porem, o
pesquisador
propõe
e
os órgãos
financiadores dispõem.
P ~ r
falta de_ recursos,.
as
var iáveis geográficas foram eliminadas, restando apenas a c1dadedo Rio de Janerro,
c
assim
mesmo, somente
a
região urbana.
De
512
informantes
planejados
i ~ i c i a l m e n t e a amostra reduziu-se a 64 (512:2 climinando norte-sul, 256:2 eliminando
interior e litoral, e 128:2 cortando a metade dos falantes
de
cada célula).
Após muitas discussões a respeito das variáveis sociais a ser s c o l h i d ~ s na
estratificação da amostra, decidiu-se pelo sexo (dividido nos fatores masculmo e
feminino), pela
idade (dividida em
quatro faixas: 7 a
14
anos - infância;
15
a
25
anos- juventude procurando trabalho; 26 a 49 anos - força da idade em pleno
trabalho; mais de
50
ano s - idade madura, retirando-se do
trabalho)
e pelos anos
de escoladzação
(
1
a
4, 5
a
8 c 9
a
II
).
Observa-se que não
foram
escolhidas as
faixas de não-alfabetizados e de universitários
por
já existirem projetes parecidos
que
cobrian1 essas faixas. .
Observe-se também
que
houve modificações na obtenção da amostra, po1s
0
produto
de
2 sexos, 4 faixas etárias e 3 graus
de
instrução (24),
multiplicado
pelo
número
de falantes
permitidopor
nossas
o n c l i ç õ ~ s f i n ~ c . e i r a s
(3
por
célula),
dada 72, e não 64. Essas modificações devem-se a aJUStes te1tos (como
se
falou
anteri
01
mente, é
necessáJ.io ter ~ o g o
de
cintura ). O principal motivo foi células
vaúas: no nosso caso a célula composta
por
crianças de
7
a
14
anos (escolhidas
por nossa vontade
no
ensino público) no primeiro grau.Também houve modificação
quanto ao
número de
falantes
do
segundo
grau.
m e s ~ o
_ a d ~ l t o s :
c ~ m o
a
população de modo geral
tem
menos falantes dessacategona,dJmmu1u-se o n u ~ e r .
de
falru1tes de segundo
grau da
amostra.
Em
compensação, para melhor dis t
n
buição das crianças, para rins didáticos, aumentou-se a submostra de crianças
para doi s falantes de
cada sér
ie escolar (um menino e uma menina). perfazendo
se um
total de 16 criança
de 7
a
14
anos.
As células ficaram, pois, conforme a distribuição abaixo:
ITomcns
Total
U
~ : T T a u
primário
V
15-25 anos ginásio
.
2'
1
grau
/
primário
26-49
a no s inásio
..___
2n grau
primário
d 50
~
.
e anos gmas1o
~ 2° grau
O mesmo procedimento foi repetido para as mulheres.
3
3
2
..
-
3
2
3
3
2
Sendo
forçoso
procurar os falantes em
algum
ponto do
municíp io
e
n;Hl
querendo introduzir uma variável geográfica
na
est ratificação da amo stra, optou
por
uma
distribuição aleatória neste particular. Para tal, utiliza
mos
as
"Un
idatk·-.
Espaciais de Planeja mcnto". criadas pe lo município após
um
levantamento th
·
-.cntimento de
ba
irro e de padrões
de
redes
de com
unicação
c
transportes . A
cad.1
unidade foi
atribuído aleatoriamente um conjunto
de
característica
s sociai.,
d.1
L'stratiricação (por exemplo: instrução primária, idade de I5-25 anos . SL' \ I l
r ~ : m i n i n o .
ou
seja.
uma
casa. A
amostra
assim obtida
se concentra de
modo nalma l
nas áreas de maior densidade geográfica. já que seu s bairros tendem a ser mC
IH
ll'l'
>
l .
portanto. mais numero<>os.
Durante essa fase da pesqu
isa. e l
aborou-se
um
modelo
de
fi
ch
a
social"
,
11111 ''roteiro de en trevista (ver anexos I c 2) ao mesmo tempo em que trei núvanu 1
.
11111a
equipe,
não
só
pa ra capacitá-la a
faze
r
entrevistas.
para 111a
1
1n
11n
iformização, ev itando que houvesse discrepância em demasiado c11 trL ,, .,
\ a
rias entrevistas obtidas.
Alguns
pesquisadores preconizam que um só entre
v
istado
at11c
L'll l lt u l. 1., a -.
I'IIII LVistas que seriam transcritas por outras pessoas.
lá
certamente V
ii
l l l i i ) l ll s
i l l
>sL· procedimento: l l l l l : t l 'l':llldl'
homogeneidade, o
que
é
dcscj úVL I SL Ol l l
l
ll
\
i
t.11lnr ror nti1110. l ll(l t·t .l l l(l l tk o\ :t lll:t
gL
Il S. 0 l l l tn :v is tadnr
oL.
IHfO l ttl l l ll l ll
PII
u l h ~ . : r metade dos falantes será entrevistada
por
pessoas do mesmo s ~ . : x ~ > . 1.: a
outra,
por
pessoas de outro sexo, o
que também
poderia
u s ~ e t e r o g ~ n e t d a d e .
Embora
haja bons entrevistadores que
sejam ma
us
transcntores
e .v Ce-versa,
I
l l l l
h
I
r
I
,
,
.
1.1
Ficha social
Para
co
he
informações a respeito d
as
caracteristi
c
as soei
ai
s
do
i
n
on
a
t
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 60/61
achamos prefe
1
vel
que
o transcritor sej a a
mesma pessoa
que entrevtstou (e
que
faça tran
sc r
i
çã
o lo go
em
segu
ida):
ele
se
lembrará h o r das causas das
interrupções das mímicas, dos risos e dos próprios
en
unctados. .
Durante
0
treinamento, elaborou-se t
ambém
um
fl
uxograma
do
conJu
nto
de
operações que
cad
a entrevi
sta de
mandava, para tornar
-se nít
ido todo o sistema.
FL
UXOGR
AMA
DA COLE
TA
DE
DADOS
seleçtío
Por sotteio do endereço: vai-se ao endereço e constata-se o sexo,
et
c.
1 ndivídu
o:
2« seleçüo
Serve?
Pré-ficha
Serve?
não
sim
não
sim
Pergunta-se
se
ele tem vontade
de
responder
ao
questionário social.
não
tem
sim
Agora marca-se
dia
e hora.
Aplica-se o questionário social e marca-se hora_ r u ~ a . a enll:evista; mais ?u
menos
15
dias depois do levantamento
do
questtonarto soc1al por entrevlS-
tador + pesquisador.
1
indivíduo:
"costura" do roteiro
da
entrevista
por entrevistador+
p
es
qui s
ador
entrevis
ta
preenchimento
da
ficha
de
entrevista
marca-
se
outra tecni
cament
e
boa
?
sim
sociolingüisticamentc suííciente?
transcrição
controle
de
qualidade
digitação
Ainda nessa fase
de
treinamento, foi feito um pequeno projeto piloto par;t
praticar a aplicação
desse
fluxograma
,
da ficha
social e da
entrev
ista.
suas atitudes lingüísticas e seus interesses culturais,
como
já foi dito. orgatli/UJJ
se
a
"ficha
social".
Embo
ra
se
soubesse pr
evia
mente
a
faixa etária,
o
sexn
1· 11
grau
de
instrução
do
informante a ser contactado, havia interesse
em <.kt
al
ll
at ""
características
de
i
dade
e instrução.
O
modelo
da
ticha, apresentado
no
anexo
1,
foi
l n ~ j d o
para ser prccrtrln•l• •
pelo entrevistador. Simultaneamente. no entanto. gravou-se essa
entr
ev ista prn ·
não só para possibilitar
a
correção
de falhas
eventuais, como também p a 1 a
familiari
zar
o infom1ante
com a
situação
de
gravação.
Nessa
ficha, as primeiras perguntas (pré-ficha) servem para selecion
;11
11
informante adequado e foram planejadas para serem feitas
ao
informante, low
1 :111
se estabelecer o primeiro contato.
Nota-se, da ficha social, a
ênfa<;e
dada tanto ao local
onde
viveu o infnntl<lllh
durante o período de aquisição
da
lingua quanto à
sua
língua ma terna. Sdh 11l
u
sou 6 gravações porque essas não
se restringem apenas à
pesq
ui
sa
sohn·
.1
concordância
de
núme
ro
do
SN.
Decidiu
-se
conservar
apena
s os cariocas criados no
Rio que
não tiw
s\'111
se ausentado
por
mais de dois anos durante s
ua
infância e
cuja prim
eira
11) 11.1
fosse o
po
rtuguês.
O
número à
direita elas perguntas refere-se ao número
da
próxima p c r ~ l l
l l . l
a
ser feita
(0
ind i
ca
eliminação
do
info
r
mante
por
não
cmTes
pon der
ao ljlh
queríamos). Isso foi necessário, já que a pergunta seguinte
não deve se
r levada \'lll
co
nta
em
alguns casos
por
não
dar
sentido
em
v
ii
t ude
da
resp
os
ta anterior. Sl'
11
informante respondeu, por exemplo,
que n lo tem
religião, a
pe rgu
nta scguintv
não pode ser
"você vai
todo dia à missa?".
É
claro
que a
aplicação
<k..,s1'
questionário foi objeto de muito treino prévio.
Uma
vez sorteado aleatoriamente o bairro e o tipo do i
nfo
rmante (1;1i ' · '
dária,
sexo e instrução), o entrevistador procurava contactar pessoas em prl'd im
mais antigos,
dando
preferência a l
ugar
es mai s centrais. para diminu ir a prohal•1
idade
de
contactar informant
es
recém-estabelecidos
no bairr
o. ConformL' FI
lo1
di
Lo,
descartou
-se
a utilização de métodos
de
es
c
olha
tota
lmen
te a l
eatú
ri
us
p
não exi stir nenhuma
maneira de
listar todos os habitantes
do
bairro.
Entrevista
A e nt rev ista a sl' r tc:di;:ula co m o informante se k l' i
nnado en1
cita
:llgtllli-o
tltas
apos
o
p
H'l 'J t t ·l llll•
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1' .1
'l:tV
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1.1111l ll
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l l l : I I I
Í
/.
tdo
1:12
du
< oo
u Sociolingulsi
iCO
Esse roteiro visava a obter maior homogeneidade dos discursos obtidos, j<í
que as entrevistas eram feitas porentrevistadores diferentes. Além disso, as questões
propostas no roteiro previam a elicitação de formas l i n g ~ í s t i c a s variadas._ o
I ,,,· I I ( I•' li h I
de ligar o gravador, até a repetição qu ase literalda entrevista (aJiás muiLD h o < ~ Jdt 11111
lado e outro da fita: o entrevistador, muito rápido e vivo, acabou seus assu111u· 1 111
meia-hora e repetiu todos
os
assuntos
do
outro ado
da
fita.
8/10/2019 Introdução à Sociolingüística
http://slidepdf.com/reader/full/introducao-a-sociolingueistica 61/61
roteiro também consta
ram
assuntos que propiciassem nanat1vas e argumentaçoes,
assim
como
perguntas metalingüísticas
de
interesse
ge
ral
p a : ~
a
Soc
iolingü.ística.
Ao planejar a entrevista, portanto, o entrevistador, utth:-ando o r o t ~ ~ o e a
ficha social, preocupava-se em provocar o aparecimento de formas
hngmsheas
variadas,
em
elicit
ar
vários gêneros
de
discurso e em abordm· tópicos de interesse
do
falante, sondados previamente durante o preenchimento da ficha social.
Na
realização
da
entrevista, o entrevistador trabalhava assistido
por um
acomp<Lnhante que
podia
ser outro entrevistador, um pesquisador ou u m a _ p e s ~ o a
qualquer, mesmo estranha
à
pesquisa.
Ta
l decisão roi
tomada não
só
para
lactlJtar
0
acesso a certos lugares como também para encarregar o acompanhante de
observar as situações, gestos, intervenção de outras pessoas e de auxiliar a manejar
o equipamento. _
A organização
do
coi Us previa a gravação de 64 horas de fala. A duraçao
de
cada
entrevista foi, então, pl<Lnejada para
60
minutos. Na escolha entre fitas
de
60
1
ou 90', optou-se pela de
60'.
devido à sua melhor qualidade técnica.
0 entrevi<;tador foi orientado a conduzir a entrevista de maneira descontraída
e natural, usando estratégias que incentivassem a fala fluente, ainda que dirigida,
falando pouco e evitando interromper o falante. . .
As q uestões planejadas
com
o auxílio
do
roteiro da entrevista e v e n a ~
ser
colocadas oportunamente c da maneira mais natuml possível, com vocabulano e
sintaxe adequados a cada situação. As perguntas deveriam ser formuladas evitando
se
0
"gatilho '·, isto é, formas que se es tava querendo elicitar. Assim,
q u a n ~ o
se
queria provocar o aparecimento do pronome s impessoal,
P r
e x e n ~ p l o ?evlan:.
se evitar
perguntas do tipo como
s
faz
para
tirar
cartetra
de tdenttdade? .
Imaginava-se que essa formulação provocaria o aparecimento da forma, mesmo
se
ela não fosse usual nas emissões de
fa
la do entrevistado. Sugeria-se.
por
exemplo,
que a pergunta fosse formulada nos seguintes tem1os:
' 'cumé que
faz
para
tirar
carteira de identidade?".
Quanto às perguntas mctalingüíslicas, essas deveriam ser colocadas final
da
entrevista, evitando-se chamar a atenção do informante para a sua maneira de
falar. Abordavam-se também assuntos
que
poderiam emocionar o falante, a fim
de que sua fala se tornasse menos cuidada, como observa Labov (1975). .
Todas as entrevistas foram submetidas a dois rígidos control
es
de qualtdadc:
um técnico-acústico,
que
levava
em
conta a possibilidade da gravação ser bem
trm
1
scrita; outro sociolingüístico, que observava se o entrevistado tinha realmente
fa
lado
0
suficiente.
Embora
a eqtúpe fosse treinada e alertada para ev itar certos
erros, todos os
enos
previstos foram encontrados, na maioria devido à <mgús t
ia
dos
entrevistadores.Houve desde a fita totalmenteem branco, pelo simples csqucriml'lliP
Se a fita
não
pac;sasse no controle de qualidade, repetia-se novamcnll' h
o processo: não adianta ficar com
pena de
jogar fora
uma
entrevista c transt n
'1
,
uma fita com mediocres qualidades acústicas. O trabalho de regra\ ar '''' '
entrevista é menor do que o ele transcrever
uma
fita quase inaudfvel.
TallqHtll
t ' '
adi<LOta conservar alguns péssimos infom1antcs
que não falan1
nada. Pode
P'
,., ,
à primeira
vista
que
esta
eliminação contraria a equiprobabilidade da s l l t · ~ ..
Contrariaria
se
a pesquisa
f o s ~ c
a respeito
do
Jluxo
da
fala
por
minuto,
1111
. , , .
fosse uma pesqui sa psicolót,rica a respei to da timideL. O que não se pode ellllllll.ll
é um falante,
por
exemplo, que
não
pronuncie '·bem·· os /s/ finais. Mas
se
t'h 11.11,
pronunciou nenhum/':-./, nem alguns outros fonemas
por
não
ter
dentes ou
por 11·1
lábio leporino, deverá ser excluído: não estamos estucl<Lndo casos médicos.
O
que
prevalece
cm
todas as etapas
da
pesquisa é o
bom
senso.