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Introdução a Álgebra Linear: com álgebra e geometria André Caldas de Souza 28 de fevereiro de 2018 i

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Introdução a Álgebra Linear: com álgebra egeometria

André Caldas de Souza

28 de fevereiro de 2018

i

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Sumário

Sumário ii

Este Livro é Livre iv

I Introdução à Álgebra Linear 1

0 Requisitos Básicos 20.1 Notação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20.2 Conjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20.3 Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80.4 Arranjos e Permutações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

1 Espaço Vetorial Rn 371.1 Operações Básicas em Rn . . . . . . . . . . . . . . . . . . 391.2 Sistemas de Coordenadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 411.3 Geometria sem Coordenadas . . . . . . . . . . . . . . . . . 481.4 Bases . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 601.5 Distribuição em n Estados . . . . . . . . . . . . . . . . . . 621.6 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

2 Matrizes 642.1 Notação e Definição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 652.2 Operações com Matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 672.3 Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 762.4 Matrizes como Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

ii

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Sumário iii

2.5 Funções Representadas por Matrizes . . . . . . . . . . . . 83

3 Transformações Lineares em R2 893.1 Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 893.2 Casa Inclinada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 923.3 Rotação de 90° . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 933.4 Rotação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 953.5 Reflexão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 973.6 Composição de Transformações Lineares . . . . . . . . . . 993.7 Números Complexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1023.8 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102

4 Vetores em Rn 1054.1 Operações com Vetores em Rn . . . . . . . . . . . . . . . . 1054.2 Subespaços . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1074.3 Transformações Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1114.4 Bases e Independência Linear . . . . . . . . . . . . . . . . 1154.5 A Inversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129

5 Produto Interno e Determinante 1325.1 Projeção Ortogonal e o Produto Interno . . . . . . . . . . 1325.2 Determinante 2× 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1415.3 Determinante n× n . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1505.4 Produto Vetorial em R3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1595.5 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162

Dicas e Respostas dos Exercícios 163Dicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163

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Este Livro é Livre

Este livro pode ser copiado à vontade. Se você recebeu em formato digital,fique à vontade para copiá-lo e compartilhá-lo quantas vezes quiser. Vocêpode também imprimí-lo e fotocopiá-lo o tanto que quiser. Claro que ésempre importante pensar na natureza e no impacto ambiental. Procurenão desperdiçar recursos. ;-)

Quer imprimir e vender este livro para os seus colegas? Fique à von-tade, também! Você é dono de uma editora e quer imprimir sua própriaversão, vender e ficar rico com esse livro sem precisar pagar nenhum tostãoem direitos autorais? Pois na minha opinião, se você o fizer estará con-tribuindo para um mundo melhor. Uma das poucas restrições é que vocênão tire dos outros essa liberdade que lhe foi concedida. Se você passaresse livro pra frente, não poderá proibir aquele que o recebeu de usufruirdessas mesmas liberdades. Ao repassar esse livro, é preciso deixar claroque quem recebeu pode copiá-lo e compartilhá-lo à vontade.

Este livro está licenciado sob os termos da licença “Creative CommonsAttribution Share Alike 3.0”. Os termos estão disponíveis na internetatravés do endereçohttp://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/.

A versão mais atual deste livro pode ser encontrada na internet noendereçohttp://andrec.mat.unb.br/ensino/.

iv

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Este Livro é Livre v

Neste endereço também podem ser encontrados os arquivos XƎLATEX, quevocê pode alterar e usar para criar sua própria versão deste livro.

Por Quê?Eu (André Caldas) NÃO acredito que “coletar taxas” seja a melhor ma-neira de se sobreviver da produção cultural. Na minha opinião, as pessoasdevem receber para produzir; e não produzir na esperança de “coletartaxas” para o resto da vida.

Não vejo sentido em um professor de uma universidade pública, quejá recebe um salário do governo para que produza conhecimento, ter mo-nopólios sobre o fruto do seu trabalho. Vejo menos sentido ainda quandoesse professor vende tal monopólio para ser explorado por alguma empresaprivada. Perceba que isso não é uma crítica ao lucro ou à exploração daprodução científica. É uma crítica ao monopólio sobre os direitos de usodaquilo que foi produzido com dinheiro público. Não faz sentido que asociedade faça esse tipo de investimento e depois não possa ter acesso aoque foi produzido. Livros é o menor dos problemas. Vemos que pesquisaspara o desenvolvimento de medicamentos ou de tecnologia são feitas comdinheiro público em “parceria” com instituições privadas de modo que asociedade acaba sendo privada de seus frutos. Não acredito que seja er-rado fazer parceria com instituições privadas. O que não se pode é privara sociedade dos frutos do trabalho no qual investiu. Vemos instituiçõesde pesquisa se valerem de recursos públicos durante as pesquisas e depoiscorrerem atrás de registros de patentes e coisas do tipo que servem ape-nas ao propósito de privar a sociedade dos frutos dessa mesma pesquisa.O monopólio não é necessário. Todos os que prestam algum serviço nacadeia, desde que haja demanda, serão beneficiados.

Se o governo, por exemplo, a uns 10 anos atrás tivesse começado afinanciar a produção de livros e exigisse que o fruto desse trabalho fosseverdadeiramente livre (como é este livro), hoje não faríamos licitações paraa “compra” de livros; faríamos licitações para a impressão e a distribuiçãodesses livros. Falta visão de longo prazo. Deveríamos investir na produção

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Este Livro é Livre vi

de livros livres. O autor deve sim receber por seu trabalho. Só que devereceber enquanto faz o trabalho, e não depois através do recolhimento detaxas e de mecanismos de opressão. O leitor não é um ladrão ou criminoso.Gostaria de sugerir a leitura de “o direito de ler”:https://www.gnu.org/philosophy/right-to-read.html

Tenho vários amigos que fazem cópias de livros. Sempre lembro aeles que quando virarem autores, não devem “virar a casaca” e começar aperseguir os que fazem cópias. Gostaria de fazer o mesmo pedido ao leitor!:-)

Brasília, 29 de fevereiro de 2016,André Caldas

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Parte I

Introdução à Álgebra Linear

1

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Capítulo 0

Requisitos Básicos

Este capítulo serve para fixar a notação e esclarecer ou relembrar o leitorde conceitos básicos que serão necessários à leitura do restante do material.

0.1 NotaçãoÉ comum falarmos de pares de números. Ou ternas, ou de modo mais geral,n-uplas. Se a e b são números, vamos denotar por (a, b) o par formado pora e b.

Se, por exemplo, a = 1, 7 e b = 2, ficaria confuso escrever (1, 7, 2). Porisso, no lugar de 1, 7, vamos escrever 1.7: (1.7, 2).

0.2 ConjuntosUm conjunto A é um objeto matemático a respeito do qual estamos in-teressados em estabelecer se determinado elemento pertence ou não a A.Escrevemos

a ∈ A

para dizer que a pertence a A. E para dizer que não pertence, escrevemos

a ∈ A.

2

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 3

Uma forma expressar um conjunto A é listando todos os seus elementos.Por exemplo, escrevendo

A = {5, 9, 13, 52}

para dizer que a ∈ A se, e somente se, a = 5, ou a = 9, ou a = 13,ou a = 52. Às vezes, assumimos que determinado “padrão” é suficiente-mente evidente para, com alguns exemplos, deixarmos claro quais são oselementos de A. Por exemplo,

A = {1, 2, 3, 4, . . .}A = {2, 4, 6, 8, . . .}A = {1, 2, . . . , 10}A = {10, 20, 30, 40, . . .}.

Dizemos que dois conjuntos A e B são iguais e escrevemos A = B,quando

x ∈ A ⇔ x ∈ B.

Ou seja, A e B são formados pelos mesmos elementos.É importante notar que não estamos interessados na “quantidade de

cópias” de a que estão em A. Queremos saber apenas se a ∈ A ou a ∈A. Dessa forma, o conjunto {1, 2, 3} é igual ao conjunto {1, 1, 1, 2, 3}.Também não estamos interessados na ordem. De modo que

{5, 7, 15} = {5, 15, 7}.

Quando o conjunto tem finitos elementos, dizemos que é finito. Nemtodos os conjuntos são finitos. E nem todos podem ser escritos com umaregra simples. Um exemplo é o conjunto R, dos números reais. Ah… e jáque estamos falando dos reais… tem também os naturais: N. Nesse livro,0 ∈ N:

N = {0, 1, 2, . . .}.Existe também o conjunto ∅, que é tal que, qualquer que seja a,

a ∈ ∅.

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 4

Chamamos ∅ de conjunto vazio.Usamos a expressão cardinalidade de A, e escrevemos #A, para nos

referirmos à quantidade de elementos em A. Se o conjunto A é infinto,escrevemos #A = ∞. Se, por exemplo, A = {1, 5, 12}, então

#A = 3.

SubconjuntosSe A e B são conjuntos, dizemos que A é é um subconjunto de B, eescrevemos A ⊂ B, quando

x ∈ A ⇒ x ∈ B.

Ou seja, todo elemento de A é também um elemento de B. Note que,qualquer que seja o conjunto A, A ⊂ A. E de fato, dois conjuntos A e Bsão iguais se, e somente se,

A ⊂ B e B ⊂ A.

Pode até parecer estranho, mas para mostrar que A = B, é muito comumfazer uma demonstração em duas etapas. Primeiro, mostra-se que A ⊂ B.Depois, mostra-se que B ⊂ A. Ou seja, primeiro mostra-se que se a ∈ Aentão deve ser verdade que a ∈ B. Depois mostra-se o contrário… que sea for um elemento de B, então necessáriamente será um elemento de A.

Exemplo 0.2.1 (Múltiplos de 6). Seja A o conjunto dos números naturaisque são múltiplos de 6. E seja B o conjunto dos números naturais que sãomúltiplos de 2 e de 3. Então, A = B.

De fato, todos os múltiplos de 6 são múltiplos de 2 e de 3. Portanto,

A ⊂ B.

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 5

Agora é fácil! É só mostrar que B ⊂ A… ooops! Na verdade, essa segundaparte não é tão fácil! :-P

Um exemplo simples, mas também muito estranho, é o conjunto vazio.

Exemplo 0.2.2. Se A é um conjunto, então

∅ ⊂ A.

Dado um conjunto A, uma maneira muito usual de se construir umsubconjunto B, é especificando uma propriedade que os elementos de Bdevem satisfazer. Os elementos de A que satisfazem essa propredade per-tencem a B, e os que não satisfazem, não pertencem a B. Por exemplo,{

x ∈ N∣∣∣∣ x

2∈ N

}é o conjunto dos números naturais pares, que são os números que se divi-didos por 2 continuam sendo naturais.

União e InterseçãoSe A e B são dois conjuntos, escrevemos

A ∪B

para representar o conjunto tal que

x ∈ A ∪B ⇔ x ∈ A ou x ∈ B.

Chamamos A ∪B de união dos conjuntos A e B.

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 6

Exemplo 0.2.3. Se

A = {1, 3, 5} e B = {2, 3, 15},

entãoA ∪B = {1, 2, 3, 5, 15}.

Note que #A = 3 e #B = 3, mas que no entanto, a cardinalidade de A∪Bnão é 6, mas sim, 5.

A interseção, denotada por A ∩B é o conjunto tal que

x ∈ A ∩B ⇔ x ∈ A e x ∈ B.

A interseção pode ser expressa por

A ∩B ={x ∈ A

∣∣ x ∈ B}.

Ou seja, são os elementos de A que também estão em B. Ou então,

A ∩B ={x ∈ A ∪B

∣∣ x ∈ A e x ∈ B}.

Onde x ∈ A, x ∈ B siginfica x ∈ A e x ∈ B.Podemos falar da união ou interseção de 3 ou mais conjuntos da mesma

maneira. Se A1, . . . , An são conjuntos, escrevemos

A1 ∪ · · · ∪ An

para a união, eA1 ∩ · · · ∩ An

para a interseção. Também escrevemosn∪

j=1

Aj en∩

j=1

Aj.

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 7

Diferença de ConjuntosSe A e B são dois conjuntos, a diferença A \B é o conjunto dos elementosde A que não estão em B. Ou seja,

A \B ={a ∈ A

∣∣ a ∈ B}.

Note que#(A \B) = #A− #A ∩B.

Exemplo 0.2.4. Se A = {1, 2, 3, 4} e B = {2, 4, 6, 8}, então

A \B = {1, 3}.

Produto CartesianoSe A e B são conjuntos, o produto cartesiano de A e B é o conjuntoformado pelos pares (a, b), onde a ∈ A e b ∈ B.

Da mesma forma, podemos definir A1×· · ·×An como sendo o conjuntodas n-uplas ordenadas (a1, . . . , an), onde a1 ∈ A1, . . . , an ∈ An. Se todosos Aj são iguais a um mesmo A, então, ao invés de escrevermos A×· · ·×Ae dizermos que são n cópias de A, escrevemos An.

Exemplo 0.2.5. O conjunto R3 é formado pelas ternas ordenadas de nú-meros reais. Por exemplo, alguns elementos de R3 são: (5, 4, 2), (π, e, 7.5)e (5000, πe,

√2).

Se dissermos que a ∈ An, vamos usar o símbolo aj como referência aoj-ésimo termo de a. Ou seja, neste livro, vamos escrever apenas a ∈ An, e

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 8

estará implícito que a = (a1, . . . , an). No caso de Rn, será comum usarmoscolocarmos uma setinha em cima, pra lembrar que estamos falando de umelemento de Rn. Nesse caso, também estará implícito que a = (a1, . . . , an).

Exemplo 0.2.6 (Muito importante!!! Aprenda bem este exemplo!!!). Sa-bemos que

(x+ y)3 = xxx+ xxy + xyx+ yxx+ xyy + yxy + yyx+ yyy.

Na escolha acima, aparecem todas as combinações possíveis de umasequência de três elementos de {x, y}. Ou seja, aparecem todos os ele-mentos de {x, y}3. Assim, podemos escrever

(x+ y)3 =∑

a∈{x,y}3a1a2a3.

Onde o símbolo∑

está indicando que devemos somar uma vez para cadaelemento a ∈ {x, y}3.

0.3 FunçõesDados dois conjuntos A e B, uma função f : A → B é um objeto mate-mático tal que para cada a ∈ A podemos perguntar:

Qual é o elemento de B que corresponde a a?

Em outras palavras, quem é f(a)? A resposta deve ser sempre a mesma!

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 9

Exemplo 0.3.1. Podemos definir uma função f : N → N que associa acada n ∈ N o triplo do seu valor. Escrevemos

f : N → Nx 7→ 3x

.

A função f responde à pergunta: — Qual é o triplo de a ∈ N?Da mesma maneira, poderíamos definir f : N → R, ou f : R → R. Mas

seria incorreto definirf : R → N

x 7→ 3x,

pois, por exemplo,3× 0.1 = 0.3 ∈ N.

Domínio, contradomínio e imagemSeja f : A → B uma função. O conjunto A é chamado de domínio de f , eB é o contradomínio. Se D ⊂ A, então escrevemos f(D) para representaro conjunto

f(D) ={f(a)

∣∣∣ a ∈ D}.

Nem sempre temos que f(A) = B. O conjunto f(A) é chamdo de imagemde f . E quando f(A) = B, dizemos que f é sobrejetiva.

Exemplo 0.3.2. Considere a função

f : N → Nx 7→ 2x

.

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 10

O domínio de f é N. O contradomínio também é N. Mas a imagem, f(N),é o conjunto dos naturais pares.

Composição de funçõesÉ importante que o leitor tenha em mente, que uma função não é umafórmula, mas uma correspondência. Por vezes, podemos expressar essacorrespondência usando uma fórmula. A rigor, não deveríamos dizer quef(x) é uma função. A função é f . Enquanto que f(x) é o valor que ftoma em x.

Podemos imaginar uma função f : A → B como uma máquina, umdispositivo… uma “caixinha”!

Figura 0.1: A função f pode ser vista como um dispositivo que tem uma en-trada (input) e uma saída correspondente (output).

Um dipositivo que sempre que recebe uma entrada (input) x, emiteuma resposta (output) f(x). Se é, por exemplo, uma máquina onde vocêcoloca uma fruta e sai suco dessa fruta, não podemos colocar uma bolade tênis! Os únicos inputs permitidos são as frutas. Ou seja, o domíniode f é o conjunto das frutas. É bom também deixarmos claro quem é ocontradomínio. Poderia ser o conjunto de todos os tipos de bebida, ou

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 11

o conjunto de todos os tipos de líquido, ou simplesmente, o conjunto detodos os tipos de suco de fruta.

Figura 0.2: Poderíamos decrever a função sudco de fruta por uma fórmula:

f : FRUTAS → SUCOSx 7→ suco de “x”

.

Imagine uma função

g : SUCOS → PICOLÉS.

Se ligássemos a saída de f com a entrada de g, teríamos uma máquina

g ◦ f : FRUTAS → PICOLÉS.

Figura 0.3: A “máquina” g ◦ f é a composição de g com f , e leva a fruta “x”em “picolé de x”.

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 12

Dadas duas funções f : A → B e g : B → C. Definimos a composiçãog ◦ f , como sendo a função de A em C que toma a ∈ A, determinao elemento de B correspondente, b = f(a), e a partir desse elemento,encontra seu correspondente em C através de g: g(f(a)) = g(b). De modomais rigoroso,

g ◦ f : A → Cx 7→ g(f(x))

.

Se f : A → B é uma bijeção, então f−1 : B → A é justamente a funçãoque satisfaz

f ◦ f−1 : B → Bx 7→ x

e f−1 ◦ f : A → Ax 7→ x

.

Para cada conjunto A, a função

id : A → Ax 7→ x

é chamada de função identidade. Usamos a mesma notação id para todasessas funções. Mas cada A corresponde a uma função id diferente.

A função “suco de fruta” é inversível? E a função “picolé”, que pegaum suco e leva num picolé? Bem… a função “picolé” parece ser inversível,já que basta derreter o picolé para ter o suco de volta.

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 13

Figura 0.4: A inversa de g é

g−1 : PICOLÉS → SUCOSpicolé de “x” 7→ suco de “x”

Fisicamente, parece ser impossível inverter a função “suco de fruta”.Mas os matemáticos não estão muito interessados em saber se é fisicamentepossível ou não. No nosso caso, inverter significa fazer a correspondênciainversa. No caso do suco, significa dizer de qual fruta veio o suco “x”.Ora… veio da fruta “x”!!!

Exemplo 0.3.3. A função

f : R → Rx 7→ |x|

não é inversível. Mas a função

g :{x ∈ R

∣∣ x ≤ 0}

→{x ∈ R

∣∣ x ≥ 0}

x 7→ |x|

é inversível.

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 14

Podemos complicar ainda mais, e pensar na composição de mais fun-ções…E se f : C → D, g : B → C e h : A → B, qual é o significado de f ◦ g ◦ h,f ◦ (g ◦ h) e (f ◦ g) ◦ h? O primeiro deles é a função que toma x ∈ A,calcula h(x), depois g(h(x)) e então resulta em f(g(h(x))). Por outro lado,fazendo G = g ◦ h,

f ◦ (g ◦ h) = f ◦G.

Ou seja, f ◦(g◦h) é a função que pega x ∈ A, aplica G e finalmente resultaem f(G(x)). Mas G(x) é justamente g(h(x)). Portanto, para todo x ∈ A,

(f ◦ (g ◦ h))(x) = f(G(x))

= f(g(h(x)))

= (f ◦ g ◦ h)(x).

Ou seja, f ◦ (g ◦ h) = f ◦ g ◦ h. E por outro lado, fazendo F = f ◦ g,temos que (f ◦ g) ◦ h = F ◦ h é a função que toma x ∈ A, calcula h(x)e depois, calcula F (h(x)). Mas qualquer que seja b ∈ B, F (b) = f(g(b)).Em particular, quando b = h(x), temos que

((f ◦ g) ◦ h)(x) = F (h(x))

= F (b)

= f(g(b))

= f(g(h(x)))

= (f ◦ g ◦ h)(x).

O que mostramos, é que a operação de ◦ é associativa:

(f ◦ g) ◦ h = f ◦ (g ◦ h).

Por isso, tanto faz escrever (f ◦ g) ◦ h, f ◦ (g ◦ h) ou f ◦ g ◦ h.

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 15

Observação 0.3.4. A composição de funções é associativa:

(f ◦ g) ◦ h = f ◦ (g ◦ h).

Mas a composição não é comutativa! Ou seja, pode acontecer de f ◦ g serdiferente de g ◦ f .

Por exemplo, se

f : R → Rx 7→ |x|

g : R → Rx 7→ −x

,

então

f ◦ g : R → Rx 7→ |x|

g ◦ f : R → Rx 7→ −|x|

.

Na verdade, pode acontecer de f ◦ g fazer sentido, mas g ◦ f não estarbem definida. Por exemplo,

f : R → Rx 7→ −x

g :{x ∈ R

∣∣ x ≥ 0}

→ Rx 7→

√x.

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 16

Injetividade, sobrejetividade e etc.Para uma função f : A → B, já comentamos que quando f(A) = B, di-zemos que f é sobrejetiva. Dizer que f é sobrejetiva é o mesmo que dizerque para todo b ∈ B, existe a ∈ A tal que f(a) = b. Ou seja, sempreconseguimos encontrar um a ∈ A que representa b através da associaçãofeita por f .

Figura 0.5: A função f , representada esquematicamente na figura, não é so-brejetiva.

Por outro lado, se b = f(a), será que esse a ∈ A é o único tal queb = f(a)? Ou será que existem outros elementos de A que tem a mesmaimagem b? Para cada x ∈ A, quando não existe mais nenhum outro y ∈ Atal que f(x) = f(y), dizemos que f é injetiva. Matematicamente, dizemosque f é injetiva quando para todo x, y ∈ A,

f(x) = f(y) ⇒ x = y.

TODO: figura injetiva.Quando f : A → B é injetiva, podemos construir uma função

g : f(A) → A que “inverte” f . Ou seja, g faz a associação reversa:

g : f(A) → Af(a) 7→ b

.

Se ainda por cima f for sobrejetiva, ai sim, podemos definir a inversa de

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 17

f , que denotamos por f−1:

f−1 : B → Af(a) 7→ a

.

Nesse caso, dizemos que f é bijetiva.

Exemplo 0.3.5. A função

f : N → Nn 7→ n+ 1

é injetiva mas não é sobrejetiva.

Se estamos trabalhando com conjuntos infinitos, podemos ter funçõesque são sbrejetivas mas não são injetivas e vice-versa. Mas quando os con-juntos são finitos e tem o mesmo número de elementos, isso não acontece.

Proposição 0.3.6. Sejam A e B conjuntos finitos com o mesmo númerode elementos. Então, dada uma função f : A → B, são equivalentes:

1. f é injetiva.

2. f é sobrejetiva.

3. f é bijetiva.

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 18

Funções bem definidasO título desta subseção deveria ser “funções mal definidas”!!! Suponhaque queiramos definir uma função f , especificando seu domínio, seu con-tradomínio, e uma fórmula. Existem vários erros que podemos cometer,que fazem com que nossa definição não faça sentido. Vamos analisar essescasos.

Exemplo 0.3.7 (Sem correspondente no contra-domínio). Já vimos que

f : R → Nx 7→ 3x

não está bem definida. Isso porque, 3x pode não ser um número natural.Mas

f : N → Nx 7→ 3x

está bem definida.

Exemplo 0.3.8 (Definição ambígua). Sabemos que todos os números ra-cionais podem ser escritos da forma a

b , onde a e b são números inteiros.Sabendo disso, poderíamos tentar definir uma função do tipo

f : Q → Zab 7→ a+ b

.

Essa f está mal definida! Isso porque, por exemplo, 11 = 2

2 . Ou seja,existem duas maneiras diferentes de escrever um mesmo número racional

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 19

como uma fração. Assim, não está bem definido se f(1) = 1 ou se f(1) =2 + 2 = 4.

O problema aqui, é que existem duas maneira de escrever o racional 1como uma fração de números inteiros.

Exemplo 0.3.9 (Não está definida para todo mundo). Numa tentativa dedefinir a função raiz quadrada, poderíamos fazer assim:

f : R → Rx2 7→ x

.

Ou seja, pra calcular a raiz de 4, por exemplo, escrevemos 4 = 22 e utili-zamos a fórmula

f(22) = 2.

Mas essa função não está bem definida!Por exemplo, quanto vale f(−1)?O problema com essa definição pode ser interpretado como sendo o

fato de nem todo elemento do domínio pode ser escrito como como umnúmero real ao quadrado! Não estamos definindo o valor de f para todoo domínio!

Ao definirmos uma função, precisamos ficar atentos para

1. Definir f para TODOS os elementos do domínio.

2. Que a fórmula leve os elementos do domínio em algum elemento docontra domínio.

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 20

3. Garantir que se houver várias maneiras de expressar determinadoelemento do domínio, que elas levem sempre ao mesmo resultado.Uma maneira fácil de evitar esse problema é, por exemplo, garan-tindo que cada elemento do domínio possa ser escrito de uma únicamaneira.

0.4 Arranjos e PermutaçõesO conteúdo desta seção será necessário apenas quando estudarmos deter-minantes, na seção 5.3. Em uma primeira leitura, o conteúdo é um poucodifícil e o leitor não deve esperar compreendê-lo por completo. Também énecessário um pouco de tempo, paciência e maturidade para se acostumarcom a notação. Por isso é importante que o leitor tente fazer os exercícios— quando eles existirem :-) — e entender os exemplos.

Escolhendo em An

No exemplo 0.2.6 vimos como o conjunto An representa todas as escolhaspossíveis de uma sequência de n elementos de A. Vamos exercitar umoutra maneira de expressar o conjunto An.

Quando o conjunto tem k elementos e é da forma

A = {x1, x2, . . . , xk},

então cada a ∈ An corresponde a uma função

f : {1, . . . , n} → {1, . . . , k}.

Para cada f temos o vetor

af = (xf(1), . . . , xf(n)).

Para facilitar, vamos denotar por

[n] = {1, . . . , n}

o conjunto dos números naturais de 1 até n.

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 21

Exemplo 0.4.1. Continuando o exemplo 0.2.6, ao invés de escrevermos

(x+ y)n =∑

a∈{x,y}na1 · · · an,

podemos escrever

(x1 + x2)n =

∑f :[n]→[2]

xf(1) · · ·xf(n),

onde a soma é feita sobre todas as funções f : [n] → [2].

O objetivo desta seção é que o leitor se acostume com esse tipo denotação. Vejamos um exemplo mais complicado.

Exemplo 0.4.2. Seja P o cojunto dos polinômios em x. Suponha que afunção

G : P × P → R

satisfaça as seguintes propriedades:

1. G(p(x) + q(x), r(x)) = G(p(x), r(x)) +G(q(x), r(x)).

2. G(αp(x), r(x)) = αG(p(x), r(x)).

3. G(p(x), r(x) + s(x)) = G(p(x), r(x)) +G(p(x), s(x)).

4. G(p(x), αr(x)) = αG(p(x), r(x)).

5. G(xm, xn) = m4 − n3.

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 22

Então, por exemplo,

G(2x2, 5x3) = 2G(x2, 5x3)

= 10G(x2, x3)

= 10(24 − 33)

= 10(16− 27) = −110.

Ou então,

G(2x2 + 3x3, 7x+ 5x3) = G(2x2, 7x+ 5x3) +G(3x3, 7x+ 5x3)

= G(2x2, 7x) +G(2x2, 5x3) +G(3x3, 7x) +G(3x3, 5x3)

= 14G(x2, x) + 10G(x2, x3) + 21G(x3, x) + 15G(x3, x3)

= · · ·

De um modo geral, se p(x) = a1xk−1 + a2x

k−2 + · · · + akx0 e q(x) =

b1xk−1 + b2x

k−2 + · · ·+ bkx0, onde k é o máximo dos graus dos polinômios

p e q. Então,

G(p(x), q(x)) =∑

f :[2]→[k]

af(1)bf(2)G(x(k−f(1)), x(k−f(2)))

=∑

f :[2]→[k]

af(1)bf(2)((k − f(1))4 − (k − f(2))3

).

Note que as aplicações de [n] em [k] podem ser identificadas com os ele-mentos de [k]n. Por exemplo, (3, 4, 7, 1, 1) pode ser usada pra representara aplicação f : [5] → [23] tal que f(1) = 3, f(2) = 4, f(3) = 7, f(4) = 1 ef(5) = 1.

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 23

Permutando ÍndicesQuando estudarmos determinante (seção 5.3), iremos precisar de um casoparticular do que acaba de ser discutido sobre An.

QuandoA = {x1, x2, . . . , xn},

cada elementos de An corresponde a uma funçãof : [n] → [n].

Exigir que f seja injetiva — ou, equivalentemente, bijetiva — é o mesmoque exigir que o elemento correspondente af ∈ An não possua entradasrepetidas. Neste caso, dizemos que af é uma das possíveis permutaçõesdos elementos de A. Essencialmente, é como se estivéssemos reordenandoos n elementos de A. Vamos denotar por

Pn ={f : [n] → [n]

∣∣∣ f é bijetiva}

o conjunto de todas as permutações de [n].

Exemplo 0.4.3. Ao invés de ficarmos falando só de números, podemosfalar de permutação de um conjunto qualquer. Suponha que

A ={🐮,🐱,🐵

}.

Vamos denotar por

PA ={f : A → A

∣∣ f é bijetiva}

o conjunto de todas as permutações — ou seja, bijeções — de elementosde A.

Cada elemento de PA pode ser representado graficamente de diversasformas. Vejamos duas formas diferentes para f

(🐮)=🐵, f

(🐱)=🐮 e

f(🐵)=🐱, na fig. 0.6 e na fig. 0.7.

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 24

Figura 0.6: Uma representação gráfica da permutação que envia(🐮,🐱,🐵

)em

(🐵,🐮,🐱

). Equivalentemente, a permutação envia

(🐵,🐱,🐮

)em(

🐱,🐮,🐵).

Figura 0.7: Escolhendo(🐮,🐱,🐵

)ou(🐵,🐱,🐮

)como “referência”, pode-

mos expressar a mesma permutação de modos diferentes.

Trabalhar com números naturais tem uma vantagem! É que podemosassumir que a ordem de “referência” é (1, 2, . . . , n). Ao invés de escrever

σ(1) = 2, σ(2) = 3 e σ(3) = 1,

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 25

vamos escrever σ = (2, 3, 1). Dessa forma, estamos identificando os ele-mentos de P3 com os elementos de {1, 2, 3}3 que não possuem entradasrepetidas. Ou seja,

Pn ≡{σ ∈ [n]n

∣∣∣ i = j ⇒ σ(i) = σ(j)}.

Essencialmente, estamos fazendo como na fig. 0.6, de modo que a partede cima da representação gráfica seja sempre a sequência 1, 2, 3.

Figura 0.8: Uma representação gráfica meio “inútil” da permutação que envia(1, 2, 3) em (2, 3, 1).

Mas isso também tem uma desvantagem. É que a representação dafig. 0.7 é melhor para concatenar duas permutações. Ou seja, queremoscompor a função σ do parágrafo anterior, com a função γ = (1, 3, 2), porexemplo. No caso de permutações, vamos usar a notação γσ no lugar deγ ◦ σ.

Note que γ leva (1, 2, 3) em (1, 3, 2) pode ser representada graficamentecomo a permutação que leva (2, 3, 1) em (3, 2, 1). Agora sim, reorganizandoa representação de γ como feito na fig. 0.9, é fácil ver que

γσ = (3, 2, 1).

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 26

Figura 0.9: Determinar a composição γσ só é realmente fácil se a representa-ção de γ estiver devidamente ajustada.

Por outro lado, se usarmos uma representação gráfica como da fig. 0.10,fica fácil concatenar duas representações gráficas e obter uma nova repre-sentação gráfica.

Figura 0.10: Determinar a composição γσ é sempre fácil. Basta “escorregar”pelas setas. Mesmo que a ordem de referência escolhida não seja (1, 2, 3).

Sinal da PermutaçãoNeste curso, será importante estudar permutações para que possamos en-tender com facilidade o conceito de determinante, que será apresentadona seção 5.3. Uma propriedade muito importante das permutações é que

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 27

a cada permutação podemos associar um sinal.Depois de compor várias permutações, a representação gráfica pode

ficar bem “trançada”, como na fig. 0.11.

Figura 0.11: Depois de fazer a composição de várias permutações, a represen-tação gráfica resultante pode ser cheia de “cruzamentos”. Podemos “esticar” aslinhas para obter uma representação mais simples, com menos “cruzamentos”.Os cruzamentos em excesso são eliminados de dois em dois. Assim, o númerode cruzamentos em uma representação gráfica simplificada para δγβα pode nãoser igual à soma do número de cruzamentos em δ, γ, β e α, mas terá sempre amesma paridade.

Para que as observações da fig. 0.11 sejam verdadeiras, precisamossempre tomar o cuidado de não permitir que três linhas se cruzem em ummesmo ponto, ou que duas linhas se tangenciem sem se cruzar. Tomandotais cuidados, ao eliminar ou produzir novos cruzamentos, os cruzamentossempre desaparecem ou aparecem em pares.

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 28

Figura 0.12: Representações gráficas proibidas.

Exemplo 0.4.4. O número mínimo de interseções de σ = (3, 2, 1) é 3.O de γ = (2, 3, 1) é 1. Assim, o número mínimo de interseções de σγ =(2, 3, 1), apesar de não ser igual a 3+1, deve ser um número par. De fato,podemos ver na fig. 0.13.

Figura 0.13: A representação gráfica de σγ pode ser simplificada eliminando opar de cruzamentos marcados com um círculo.

Sendo assim, podemos definir o sinal de uma permutação de acordo

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 29

com sua paridade.

sgn(σ) = (−1)Nº de cruzamentos em qualquer representação gráfica.

Essa fórmula está bem definida?Pelas considerações feitas até aqui,

sgn(σγ) = (−1)paridade de σ+paridade de γ

= (−1)paridade de σ+paridade de γ

= (−1)paridade de σ(−1)paridade de γ

= sgn(σ) sgn(γ).

Uma permutação σ que troca dois números i e j e deixa os demaisfixos é denotada por σ = (i j) e chamada de permutação simples ou trans-posição. As permutações simples tem duas propriedades especialmenteinteressantes.

Lema 0.4.5. Se σ é simples, então

sgn(σ) = −1.

Demonstração. Assumindo que i < j, basta notar — observando a ?? —que as linhas saindo de i e j se cruzam uma vez (ímpar) e depois cadauma das duas cruza as retas i + 1 até j − 1 (par). Assim, o número decruzamentos é ímpar. Ou seja, sgn(σ) = −1.

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 30

Lema 0.4.6. Toda permutação σ pode ser escrita como composição detransposições.

Demonstração. Observe que σ pode ser decomposta em um produto depermutações cíclicas:

a → σ(a) → · · · → σk(a) = a.

Essa permutação cíclica, por sua vez, pode ser escrita(a σk−1(a)

)· · ·(a σ2(a)

)(a σ(a)) .

Juntos, os lemas 0.4.5 e 0.4.6 mostram que

sgn : Pn → {−1, 1}

é a única função de Pn em {−1, 1} tal que

1. sgn(σ) = −1 quando σ é uma transposição.

2. sgn(γσ) = sgn(γ) sgn(σ).

De fato, o item 1 determina o valor de sgn em todas as transposições.Juntamente com o item 2, fica determinado o valor de sgn para todasas permutações que podem ser escritas como produto de transposições.Pelo lema 0.4.6, sgn fica então determinada em todo o seu domínio. Ficademonstrado o seguinte corolário do lema 0.4.6.

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 31

Corolário 0.4.7. Escolhido n ∈ N∗, existe uma única função

sgn : Pn → {−1, 1}

tal que

1. sgn(σ) = −1 quando σ é uma transposição.

2. sgn(γσ) = sgn(γ) sgn(σ).

A existência de sgn tem implicações intrigantes!

Exemplo 0.4.8 (Identidade é par). A permutação identidade

id : [n] → [n]x 7→ x

é o elemento de Pn que “não faz nada”. Se

id = σ1 · · · σk,

onde σ1, . . . , σk são transposições, então k é necessariamente par.

Exemplo 0.4.9 (Jogo do 15). Existe um quebra-cabeça chamado de jogodo 15 ou racha-cuca é formado por 15 quadrados deslizantes dispostosdentro de uma caixa de tamanho 4× 4, como na fig. 0.14. Veja o artigo

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 32

https://pt.wikipedia.org/wiki/O_jogo_do_15da Wikipedia.

Figura 0.14: O Racha-Cuca é um quebra-cabeça famoso tal que o objetivo écolocar os quadrados numerados em uma determinada sequência, normalmentea sequência inicial.

O desafio é a partir de um quebra-cabeça embaralhado, ordená-lo comomostrado no canto direito inferior da fig. 0.14. Será que o leitor conseguefazer isso com a configuração mostrada na fig. 0.15?

Figura 0.15: Qual é a sequência de movimentos válidos que transforma o es-tado inicial no estado mostrado na figura?

Associando o quadrado vazio ao número 16, cada movimento do jogo

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 33

pode ser representado como uma transposição do tipo (j 16). Cada trans-posição modifica a linha ou a coluna do quadrado 16, somando ou sub-traindo 1. Dessa forma, uma sequência de transposições que mantenha oquadrado 16 imóvel deve ser necessariamente par, pois o número de vezesque o quadrado subir, deve também descer; e o número de vezes que forpara a direita, deve também ir para a esquerda. Assim, tal transformaçãodeve ser par.

Por outro lado, para sair do estado inicial e chegar ao estado dafig. 0.15, podemos simplesmente aplicar a transposição (14 15). Isso sig-nifica que qualquer transposição que leve o estado inicial ao estado dafig. 0.15 deve ser ímpar.

Ou seja, é impossível levar o estado inicial do quebra-cabeça ao estadoda fig. 0.15 ou vice-versa!!! :-)

Fazendo Cálculos com PermutaçõesUm caso especial das manipulações algébricas dos exemplos 0.4.1 e 0.4.2,é quando estamos tratando de An, onde n é a cardinalidade (número deelementos) de A, e quando cada termo da soma for igual a zero quandoexistirem índices repetidos.

Exemplo 0.4.10 (um pouquinho de matrizes). Para entender este exem-plo, você precisa saber um pouquinho sobre o produto de matrizes (se-ção 2.2).

Sejam as matrizes

X1 =

[0 10 0

]e X2 =

[0 01 0

].

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 34

Note queX1X1 = X2X2 =

[0 00 0

]. (1)

Vamos multiplicar duas matrizes da forma[0 a11a12 0

]= a11X1 + a12X2 e

[0 a21a22 0

]= a21X1 + a22X2,

usando a notação de permutação. Assim,

(a11X1 + a12X2)(a21X1 + a22X2)

= a11a21X1X1 + a11a22X1X2 + a12a21X2X1 + a12a22X2X2

=∑

f :[2]→[2]

a1f(1)a2f(2)Xf(1)Xf(2)

=∑f∈P2

a1f(1)a2f(2)Xf(1)Xf(2).

Essencialmente, a eq. (1) faz com que possamos ignorar, no somatório, asfunções f : [2] → [2] que não são injetivas, sobrando apenas as permuta-ções.

Claro que era muito mais fácil simplesmente calcular o produto dasmatrizes. Mas queríamos utilizar a notação de somatório com permuta-ções.

Vamos complicar ainda mais o exemplo 0.4.10. Lembre-se que o obje-tivo é apenas que o leitor adquira familiaridade com a notação de somatórioenvolvendo permutações.

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 35

Exemplo 0.4.11. Suponha que tenhamos uma sequência de símbolos X1,X2 e X3, que podem ser multiplicados uns com os outros, somados emultiplicados por números reais (assim como as matrizes). E suponha queum produto desses símbolos seja igual a zero sempre que o mesmo síboloaparecer duas vezes no produto. Por exemplo,

X1X1 = 0 X1X3X1 = 0 X1X3X3 = 0.

Sabendo disso,(a11X1 + a12X2 + a13X3)(a21X1 + a22X2 + a23X3)(a31X1 + a32X2 + a33X3)

=∑

f :[3]→[3]

a1f(1)a2f(2)a3f(3)Xf(1)Xf(2)Xf(3)

=∑f∈P3

a1f(1)a2f(2)a3f(3)Xf(1)Xf(2)Xf(3).

Escrevendo termo a termo, sabendo que as permutações de [3] são (1, 2, 3),(2, 3, 1), (3, 1, 2), (3, 2, 1), (2, 1, 3) e (1, 3, 2), o produto resulta em

a11a22a32X1X2X3 + a12a23a31X2X3X1 + a13a21a32X3X1X2+

+ a13a22a31X3X2X1 + a12a21a33X2X1X3 + a11a23a32X1X3X2.

Ao invés de utilizar a11, a21 e etc., poderíamos ter usado diferentesletras. A fórmula ficaria mais simples:

(a1X1 + a2X2 + a3X3)(b1X1 + b2X2 + b3X3)(c1X1 + c2X2 + c3X3)

=∑f∈P2

af(1)bf(2)cf(3)Xf(1)Xf(2)Xf(3).

No entanto, com essa notação, fica mais fácil generalizar para X1, X2, . . . ,Xn:

(a11X1 + a12X2 + · · ·+ a1nXn) · · · (an1X1 + an2X2 + · · ·+ annXn)

=∑f∈P3

a1f(1)a2f(2) · · · anf(n)Xf(1)Xf(2) · · ·Xf(n).

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Capítulo 0. Requisitos Básicos 36

Lembre-se que estamos utilizando apenas as permutações f ∈ Pn, porcausa da hipótese de que qualquer produto que contenha dois Xj repetidosé igual a zero.

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Capítulo 1

Espaço Vetorial Rn

Em problemas físicos, falamos, por exemplo, em posição e velocidade.Quanto à posição, representamos por um ponto. A velocidade é um vetor.

Figura 1.1: Um ponto e um vetor.

Fixado um sistema de coordenadas, tanto os pontos do plano quantoos vetores de R2 podem ser representados por um par ordenado. Ou seja,por um elemento (a, b) ∈ R2. No caso tridimensional, por um elemento(a, b, c) ∈ R3. Nesse capítulo, antes de interpretarmos fisicamente ougeometricamente o significado dos elementos de R2 ou R3, vamos simples-mente tratar de manipulações algébricas que podem ser feitas com essesespaços. Esperamos que o leitor adquira habilidade suficiente para utilizara linguagem vetorial para representar uma série de conceitos em diferentescontextos, que podem ir muito além da física e da geometria.

37

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 38

Exemplo 1.0.1 (Batata e cenoura). Os cidadãos da cidade fimdomundo(veja [?]) adoram fazer sopa de batata misturada com cenoura. Na lojade sopas e caldos, o cliente pede sua sopa assim:

“Gostaria de uma sopa (20, 30).”

No fimdomundo, todos sabem que isso significa 20 gramas de batata e 30gramas de cenoura.

E se você misturar uma sopa (20, 30) com uma sopa (15, 28)? Vai daruma sopa (35, 58)! Se você tomar 2.5 tigelas da sopa (20, 30) e 1.5 tigelada sopa (15, 28), quanto de batata e quanto de cenoura vai ter ingerido?Fazendo as contas…

2.5× (20, 30) + 1.5× (15, 28) = (50, 75) + (22.5, 52)

= (77.5, 127).

Ou seja, 77.5 gramas de batata e 127 gramas de cenoura.Poderíamos fazer o mesmo, com mais ingredientes. Por exemplo: ba-

tata, cenoura, tomate e couve, nessa ordem. Se você já ouviu alguém dizerque a quarta dimensão é o tempo… nesse exemplo, a quarta dimensão é aquantidade de couve!!! :-)

Exemplo 1.0.2 (Cidades no mapa). Escolhido um sistema de coordenadasnum mapa, podemos associar a cada ponto suas coordenadas.

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 39

Figura 1.2: O ponto A tem coordenadas (2, 3), e B tem coordenadas (5, 2).Para saírmos de A e chegarmos em B, precisamos fazer um deslocamento cor-respondente à diferença

B − A = (3,−1).

O deslocamento de A até B mais o de B até C corresponde ao deslo-camento de C até A.

C − A = (7− 2, 4− 3)

= (5, 1)

(C −B) + (B − A) = (3,−1) + (2, 2)

= (3 + 2,−1 + 2)

= (5, 1).

1.1 Operações Básicas em Rn

Assim como com as batatas e cenouras no exemplo 1.0.1, ou a soma dosdeslocamentos no exemplo 1.0.2, dados a, b ∈ Rn, a soma de dois vetoresa e b é o vetor c dado por

c = (a1 + b1, . . . , an + bn).

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 40

Ou seja, para calcular a soma de dois vetores, fazemos o cálculo coordenadaa coordenada. Escrevemos c = a+ b.

A soma de vetores é evidentemente comutativa e associativa:

a+ b = b+ a

(a+ b) + c = a+ (b+ c).

Em outras palavras, dadas as sopas a = (10, 20), b = (40, 10) e c = (28, 34),dá no mesmo misturar a sopa a com a sopa b, ou misturar a sopa b com asopa a. Também dá no mesmo misturar a sopa a com a b e depois a c, ouentão misturar a com a mistura das sopas b e c.

Chamamos os elementos de Rn de vetores e os elementos de R deescalares. Dado um número α ∈ R e a ∈ Rn, definimos o produto de a peloescalar α por

αa = (αa1, . . . , αan).

Em outras palavras, tanto a soma quanto o produto por escalar são feitostermo a termo. Além das propriedades já mencionadas, a soma e o produtopor escalar possuem as seguintes propriedades.

1. 0a = 0, onde 0 = (0, . . . , 0).

2. 1a = a.

3. (αβ)a = α(βa).

4. (α + β)a = αa+ βa.

5. α(a+ b) = αa+ αb.

O leitor certamente não terá dificuldades em interpretar essas propriedadesem termos de batatas e cenouras!

A diferença entre dois vetores

c = a− b

é o vetor c tal queb = a+ c.

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 41

Geometricamente, fica claro que c é o vetor que sai da pontinha de b evai até a pontinha de a. Como a operação de soma é feita coordenada acoordenada, a diferença também é.

Figura 1.3: O vetor c é tal que b = a+ c. Para desenhá-lo, basta ligar a ponti-nha do vetor a à pontinha do vetor b.

1.2 Sistemas de CoordenadasVetores de R2 são simplesmente pares de números reais que podem sersomados (e subtraídos), e multiplicados por escalar. Quando falamos depontos e vetores no plano, a princípio, não estamos falando de R2. O pontoé esse “pontinho” que a gente desenha.

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 42

Um ponto!

Figura 1.4: Um ponto! O que é um ponto? Deixa pra lá… :-)

O vetor é essa “setinha” que liga dois pontos.

A

B

v

Um vetor!

Figura 1.5: O vetor v representa o “deslocamento necessário” pra sair doponto A e ir ao ponto B. Ou seja, B = A+ v.

Se A e B são pontos e v é um vetor, faz sentido falar do ponto A+ v,e faz sentido falar do vetor B − A. Mas não faz muito sentido falar deA + B. A princípio, pontos e vetores são coisas diferentes, de naturezadiferente, e muitas vezes é melhor deixá-los assim. Mas se quisermos,podemos escolher um ponto base O, e então identificar os pontos do planocom os vetores do plano. Se falarmos do ponto (correspondente ao vetor)v, na verdade, estamos falando do ponto O + v. E se falarmos do vetor(correspondente ao ponto) A, na verdade, estamos nos referindo ao vetor

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 43

A−O.

O

A

v

Figura 1.6: Escolhida a origem O, podemos tratar o ponto A e o vetor v comose fossem a mesma coisa.

Com essa interpretação geométrica feita até agora, não faz muito sen-tido somar um vetor B−A, que sai de A e vai pra B, com um vetor D−C,que sai de um outro ponto C = B, e vai até D!

A

B

v

CD

w

Figura 1.7: Faz sentido somarmos os vetores v e w?

Tudo o que fizemos para pontos no plano, poderia ter sido feito parapontos no espaço. Estamos então, com duas noções diferentes de vetores.Se pensarmos em R2 — ou de modo mais geral, Rn — temos pares denúmeros, com operação de soma e produto por escalar feitos coordenada a

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 44

coordenada. Se pensarmos no plano — ou no espaço — temos “pontinhos”e “setinhas”. O coneceito que vai fazer a ligação entre o plano e R2, é osistema de coordenadas. O eixo coordenado serve para especificarmos umvetor v em termos de suas coordenadas: v = (v1, v2).

O

A

v

Figura 1.8: Escolhida a origem O e um sistema de coordenadas, podemos es-pecificar tanto o ponto A como o vetor v, utilizando as coordenadas: v = (3, 2).

Com a interpretação geométrica usando “pontos” e “setas”, mesmosem eixos coordenados, podíamos falar de adição e produto por escalar.Com um sistema de coordenadas, fica mais fácil identificar vetores comdiferentes pontos base e tratá-los como se fossem a mesma coisa. Até en-tão, pensando sobre “deslocamento resultante”, fazia sentido somar des-locamentos quando o ponto final de um fosse igual ao ponto inicial dopróximo.

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 45

A

B

Cvw

v + w

Figura 1.9: Suponha que v representa o “deslocamento necessário” para ir deA a B, e que w representa o “deslocamento” de B até C. Então, denotamos porv + w o “deslocamento necessáiro” para ir de A até C.

O vetor v, saindo do ponto A com coordenadas (a1, a2) e indo para oponto B de coordenadas (b1, b2) será identificado com o vetor (b1−a1, b2−a2) ∈ R2. Usando essa identificação com R2, fica mais fácil falar de somade vetores do plano sem nos preocuparmos se o ponto final de um vetor éigual ao ponto inicial do outro.

A

B

D

Cv1w1

w2

v2

v1 + w1

w2 + v2

Figura 1.10: Com o uso de coordenadas, é fácil ver que o vetor v2 é umatranslação de v1, e que o mesmo ocorre com w1 e w2. Por isso, tratamos v1 ev2, e também, w2 e w2 como sendo o mesmo vetor.

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 46

Sem essa preocupação, se podemos falar de v + w, podemos falar emw + v. Os eixos coordenados podem ser muito úteis para fazermos contase especificarmos os vetores de uma maneira concreta. É útil perceber que

α(v1, v2) = (αv1, αv2)

(v1, v2) + (w1, w2) = (v1 + w1, v2 + w2).

Ou seja, as operações são feitas coordenada a coordenada. E portanto,com toda essa construção no plano, a soma de vetores do plano é exa-tamente a mesma coisa que a soma de vetores de R2, que já havíamosdefinido. Somar vetores em um mesmo ponto base corresponde a dese-nhar um paralelogramo. Veja a figura 1.11.

v

w

v + w

Figura 1.11: Depois de identificar os vetores através de translações, escreve-mos v e w em um mesmo ponto base, e determinamos v + w através do paralelo-gramo mostrado na figura.

Agora temos intuição geométrica (desenho) e intuição algébrica (cál-culos) sobre um mesmo conceito. A intuição geométrica não é melhor quea algébrica, ou vice-versa. É importante conhecermos as duas e lançarmosmão da que for mais adequada ao problema sendo tratado. Por exem-plo, algebricamente é muito fácil ver que a soma de vetores é comutativa.Geometricamente, na opinião do autor, é um pouco mais complicado.

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 47

v

w

v +2w

Figura 1.12: Para sairmos da origem e chegarmos em v + 2w, andamos v, de-pois w e depois w novamente. Se olharmos apenas a primeira coordenada (di-reita/esquerda), andamos 1 para a direita, por conta do deslocamento de v, edepois 2 para a direita, por conta de duas vezes o deslocamento de w. Assim, aprimeira coordenada de v + 2w será 3.

Por outro lado, suponha que você esteja interessado em investigar com-binações de dois vetores v e w que sejam do tipo

αv + βw,

onde α ≥ 0 e β ≥ 0. Geometricamente é bastante fácil ver quais vetorespodem ou não podem serem escritos dessa maneira.

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 48

Figura 1.13: Geométricamente é fácil ver quais vetores do plano podem serescritos na forma αv+βw, com α ≥ 0 e β ≥ 0. Também é fácil ver quais podemser escritos com a restrição extra 0 ≥ α + β ≥ 1.

Também é fácil imaginar uma representação geométrica para R3. ParaR4, muita gente gosta de pensar na quarta dimensão como se fosse o“tempo”. O leitor pode pensar no tempo, se preferir. Mas lembre-seque Rn é simplesmente uma n-upla ordenada com operações de soma eproduto por escalar definidos. E, como no exemplo 1.0.1, é bem possívelque a quarta dimensão seja a “couve”!!! Quando o número de dimensõesaumenta muito, a geometria continua nos fornecendo ideias e intuição.Mas às vezes, o mais fácil é pensar nos elementos de R4 ou R23 comosendo sequências de 4 ou 23 números, respectivamente.

1.3 Geometria sem CoordenadasProvavelmente, no ensino médio o leitor aprendeu a equação da reta (ouas equações), a equação do círculo, a equação do plano, etc. Tambémaprendeu fórmula para calcular a distância entre duas retas no plano e noespaço (R2 e R3), entre ponto e reta, reta e plano, etc. Provavelmenteaprendeu (ou não!) um monte de fórmulas com x, y, z, a, b, c, t, etc.

Um sistema de coordenadas pode ser muito útil para expressarmos con-ceitos geométricos de uma forma concreta. No entanto, utilizar a notaçãovetorial sem o uso de coordenadas pode ser uma maneira mais limpa e

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 49

mais enxuta de fazê-lo.

Ponto MédioSejam v = (v1, v2) e w = (w1, w2) vetores no plano. O ponto p ∈ R2 quefica, no segmento de reta que liga v e w, equidistante a v e a w é dado por

p =

(v1 + w1

2,v2 + w2

2

). (1.1)

Como sabemos disso? Em notação vetorial, é fácil perceber que

p = v +1

2u,

onde u = (w − v). Portanto,

p = v +1

2(w − v) = v − 1

2v +

1

2w =

1

2(v + w).

Isso mostra que a fórmula (1.1) vale mesmo que o sistema de coordenadasnão seja formado por eixos ortogonais! Repare na interpretação geométricada figura 1.15, que utiliza o paralelogramo.

A

B

12 (B

−A)

A+12(B − A)

Figura 1.14: Dados os pontos A e B, o ponto médio é dado por A+ 12(B−A) =

12(A+B). Não é difícil se convencer deste fato.

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 50

A

B

A+B

Figura 1.15: Dados os pontos A e B, o ponto médio é dado por 12(A+B). Por

um argumento geométrico, com semelhança de triângulos, por exemplo, pode-mos nos convencer de que o ponto de interseção das duas diagonais é de fato oponto médio, e que a distância da origem até o ponto médio é metade da dis-tância da origem até A + B. Mas o arugmento vetorial na figura 1.14 parecebem mais simples.

Círculo e NormaUsando coordenadas cartesianas, o círculo de raio r e centro A = (a, b) édado por

C ={(x, y) ∈ R2

∣∣∣ (x− a)2 + (y − b)2 = r2}.

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 51

(a, b)

(x, y)

r

Figura 1.16:

Se dispusermos de uma operação de norma, que nos diz qual é o tama-nho (módulo ou norma) ∥v∥ de um vetor v, podemos dizer que o círuclo Cé formado pelos pontos que consguimos atingir, partindo de A e fazendoum deslocamento v, tal que ∥v∥ = r. Ou seja,

C ={A+ v

∣∣∣ v ∈ R2, ∥v∥ = r}.

A

A+ vv

Figura 1.17:

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 52

Ou então, ainda utilizando a norma, podemos escrever

C ={P ∈ R2

∣∣∣ ∥P − A∥ = r}.

Mas isso nada mais é do que a fórmula (x−a)2+(y− b)2 = r2 da primeiraequação, só que mais enxuta.

A

P

P − A

Figura 1.18:

A norma nos permite dividir o problema em dois. Um deles é o cálculoda norma de um vetor. O outro é o uso das propriedades da norma.Separar essas duas coisas é muito útil. Afinal de contas, ninguém precisacalcular raiz quadrada pra usar um compasso! Nesse sentido, usar a normasem de fato fazer a conta, é como usar um compasso. :-)

A norma possuí propriedades que nos serão úteis.

1. Para α ∈ R, ∥αv∥ = |α|∥v∥.

2. ∥v + w∥ ≤ ∥v∥+ ∥w∥.

3. ∥v∥ = 0 ⇒ v = 0.

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 53

RetaUma reta pode ser especificada como um conjunto de pontos

r ={(x, y) ∈ R2

∣∣∣ y = ax+ b},

onde a, b ∈ R são constantes. A fórmula y = ax + b nos permite algumasinterpretações geométricas: a é o coeficiente angular da reta, e b é o pontoque a reta corta o eixo das ordenadas.

y = 0.5x+ 0.5

ba

3a

Figura 1.19:

Mas espere! Existem retas que não cortam o eixo das ordenadas. Existetambém o próprio eixo, que é uma reta. As retas x = a não estão repre-sentadas, pois não são o gráfico de uma função da forma y = ax+ b.

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 54

x = 2

Figura 1.20: A reta x = 2 não é gráfico de uma função y(x), e não pode serrepresentada na forma y = ax+ b. Também não intersecta o eixo das ordenadas.Já a reta x = 0, não apenas intersecta, mas igual ao próprio eixo.

Uma maneira melhor, seria

r ={(x, y) ∈ R2

∣∣∣ ax+ by = c}, (1.2)

onde a, b, c ∈ R são constantes. Vamos retornar a essa equação, na se-ção 5.1, depois que falarmos de produto interno.

Outra maneira de especificar uma reta, é utilizando um parâmetro t.

x(t) = at+ p

y(t) = bt+ q,

onde a, b, p, q ∈ R são constantes. Parece bastante claro que o uso excessivode coordenadas torna a geometria difícil de ser compreendida. Repareque o sistema de equações que determina os pontos da reta a partir doparâmetro t pode ser escrita na forma vetorial.

r(t) = P + tv,

onde P = (p, q) e v = (a, b) = (0, 0). É como se no “instante” t =0, estivéssemos no ponto P = (p, q), nos movendo com velocidade v =

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 55

(a, b) (módulo, direção e sentido). Ou seja, a cada unidade de tempo, nosdeslocamos na direção e no sentido do vetor v, com velocidade igual a ∥v∥.

r(t) =

(0,0.5

) +t(1

, 0.5)

v

Figura 1.21:

Repare que ao utilizarmos a linguagem vetorial, não precisamos maisdo sistema de coordenadas! Em coordenadas, a equação ficaria

r(t) = (p, q) + t(a, b).

O que equivale a

x(t) = p+ at

y(t) = q + bt.

A equação vetorial continuará valendo, mesmo quando não estivermosrestritos ao plano: em R3 ou mesmo Rn.

Se A,B ∈ R2 são pontos distintos do plano, então, a reta que passaem A e B pode ser parametrizada usando-se P = A e v = (B − A). Masexistem outras parametrizações que também funcionam. Por exemplo,

r(t) = B + t(A−B),

r(t) = B + t(B − A),

r(t) = B + 5t(B − A),

r(t) = . . .

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 56

A

B

Figura 1.22: Dados dois pontos distintos A e B, a reta que passa em A e Bpode ser dada pela equação r(t) = A+ tv, onde v = B − A.

Pra ser rigoroso, r(t) é uma função de R em R2 que leva cada t ∈ Rem um ponto da reta.

r : R → R2

t 7→ P + tv.

Segmentos de reta e semi retas podem ser especificados restringindo odomínio de definição. Por exemplo, o segmento de reta que liga os pontosdistintos A,B ∈ R2 pode ser parametrizado por

r : [0, 1] → R2

t 7→ A+ t(B − A).

Que é quase a mesma coisa que já haviamos escrito para a reta. Masagora, a função r está definida apenas para t ∈ [0, 1].

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 57

A

B

Figura 1.23: Se restringirmos o domínio de definição de r(t) = A + t(B − A)ao intervalo [0, 1], temos uma parametrização para o segmento de reta que ligaos pontos A e B.

Triângulo e Outros ConvexosSejam v1, v2, v3 ∈ R2 distintos. Vamos procurar uma maneira de expresar,em notação vetorial, o triângulo com vértices v1, v2 e v3. Vamos tratardo triângulo incluindo seus “pontos interiores”, e vamos denotar por To conjunto formado pelos pontos do triângulo. O conjunto T é convexo.Um conjunto convexo é um conjunto C tal que se a, b ∈ C, então todo osegmento de reta que liga os pontos a e b está contido em C. Assim comono caso do ponto médio, o leitor pode verificar facilmente que os pontosdo segmento de reta que liga a e b são aqueles que podem ser expressos naforma

p = αa+ βb, (1.3)com α, β ∈ [0, 1] e α + β = 1. No caso do ponto médio, α = β = 1

2 .

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 58

Figura 1.24: Exemplos de conjuntos que não são convexos.

O círculo, o triângulo, o quadrado, etc. são exemplos de conjuntosconvexos.

Figura 1.25: Exemplos de conjuntos que são convexos.

Os pontos p da forma da equação 1.3 são chamados de combinaçãoconvexa dos vetores a e b. Um conjunto C é convexo, quando é fechadopor combinação convexa. Resumidamente, C é convexo quando

α, β ∈ [0, 1], α + β = 1, v, w ∈ C ⇒ αv + βw ∈ C.

O triângulo que estamos tratando é o menor convexo que contém osvértices V = {v1, v2, v3}. As arestas do triângulo são formadas pelos pon-tos que são combinação convexa de dois vértices. Se A é o conjunto das

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 59

arestas, então

A ={αv + βw

∣∣∣ α, β ∈ [0, 1], α + β = 1, v, w ∈ V}.

Suponha que p = αv1 + βv2 ∈ A seja um ponto da aresta que liga v1 e v2.Então, qualquer combinação convexa de p e v3 também deve estar em T .Qual é a forma de uma combinação convexa q, de p e v3? Por exemplo,

q = xp+ yv3

= x(αv1 + βv2) + yv3

= xαv1 + xβv2 + yv3,

onde x, y ∈ [0, 1] e x+ y = 1. Note que xα, xβ, y ∈ [0, 1] e xα+ xβ + y =x+ y = 1. Dessa forma,

T ={αv1 + βv2 + γv3

∣∣∣ α, β, γ ∈ [0, 1], α + β + γ = 1}.

Repare que, øinvés de dizermos α, β, γ ∈ [0, 1], bastava dizer que α, β, γ ≥0, já que juntamente com a condição α + β + γ = 1, não podemos ter α,β ou γ maiores que 1.

De um modo geral, combinações convexas de combinações convexasde combinações… de combinações convexas de vetores de um conjunto Vassumem a seguinte forma

α1v1 + · · ·+ αnvn,

onde v1, . . . , vn ∈ V , α1, . . . , αn ≥ 0 e∑n

j=1 αj = 1. Esses pontos formamo envoltório convexo de V . Note que conjunto V não precisa nem mesmoter finitos elementos!

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 60

Figura 1.26: O fecho convexo dos conjuntos da fig. 1.24.

1.4 BasesA princípio, não precisamos que os eixos sejam ortogonais pra especificarum vetor em “coordenadas”. Quando os eixos não são ortogonais, temosao menos duas maneiras de relacionar cada ponto do plano a um par decoordenadas. Veja a ??. Poderíamos fazer projeções ortogonais em cadaeixo, como na fig. 1.28. Ou então, poderíamos fazer desse jeito “compli-cado” da fig. 1.29.

A

Figura 1.27: Podemos usar eixos não ortogonais. Mas qual seria a coordenadado ponto A?

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 61

A

Figura 1.28: Podemos definir as coordenadas do ponto A como sendo as proje-ções ortogonais nos eixos coordenados.

A

b1

b2

Figura 1.29: Podemos definir as coordenadas do ponto A como sendo os coefi-cientes necessários para escrever A como combinação linear dos vetores b1 e b2.No caso específico do ponto A,

A = 2b1 + 2b2.

Cada um desses métodos tem suas vantagens e desvantagens. Nestecurso, vamos nos limitar a trabalhar com o esquema da fig. 1.29. Primei-ramente, repare nos vetores b1 e b2 da figura. Vamos chamar β = (b1, b2),de base ordenada β. Qualquer vetor v ∈ R2 pode ser escrito da forma

v = ab1 + bb2.

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 62

Neste caso, escrevemosv = (a, b)β,

para indicar que a e b são as coordenadas de v na base ordenada β.Ao invés de trabalharmos com os eixos, trabalhamos com os vetores b1

e b2. Escolher um eixo coordenado para o plano consiste em:

1. Escolher um ponto do plano para coresponder à origem dos eixos.

2. Escolher uma base ordenada.

Em álgebra linear, costumamos tratar de bases ordenadas, e não de eixoscoordenados.

Uma questão interessante, é saber como um vetor v, expresso emuma base ordenada β é escrito em outra base ordenada γ. Os espaçosRn possuem uma base ordenada canônica a saber: e1 = (1, 0, 0, . . . , 0),e2 = (0, 1, 0, . . . , 0), . . . , en = (0, 0, . . . , 0, 1).

1.5 Distribuição em n EstadosDados n grupos de alguma coisa, podemos usar um vetor de Rn pra indicara quantidade de itens ou indivíduos em cada grupo. Será que o leitorconsegue encontrar utilidade para as operações de soma e produto porescalar neste contexto?

Exemplo 1.5.1 (O Impeachment e o Golpe). Em 2016, a população bra-sileira se divide em 3 grupos:

1. As pessoas que acham que o impeachment é golpe.

2. As pessoas que acham que o golpe é impeachment.

3. E a grande maioria, que não acham nada e também não se importam.

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Capítulo 1. Espaço Vetorial Rn 63

Podemos usar um vetor de R3 para representar a maneira como apopulação brasileira se divide nesses três grupos.

Seja v(t) ∈ R3 a distribuição no instante t. A diferença entre a distri-buição de dois momentos distintos t = a e t = b é a variação da distribui-ção: v(b)− v(a). A taxa de variação é o vetor

1

b− a(v(b)− v(a)).

1.6 Exercíciosxxx

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Capítulo 2

Matrizes

É muito provável que o leitor já tenha se deparado com matrizes anterior-mente. Um monte de regras “sem sentido” pra fazer uma porção de contasque parecem não ter nenhum propósito. O principal objetivo deste livroé mostrar ao leitor que matrizes não apenas fazem sentido, mas tambémsão muito úteis.

No entanto, não vá se animando, não!… :-pPara o que vamos aprender, é muito útil se o leitor já possuir habilidadecom as operações envolvendo matrizes. Por isso, por mais doloroso queseja, vamos primeiramente treinar nossas habilidades com matrizes. Du-rante esse processo, esperamos também levantar certas questões a seremrespondidas no desenrolar do curso. Por exemplo:

Por que o produto de matrizes é definido dessa maneira com-plicada e não de um modo simples, como no caso da soma dematrizes?

64

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Capítulo 2. Matrizes 65

2.1 Notação e DefiniçãoUma matriz p × q é uma tabela com m linhas e n colunas. Escrevemos,por exemplo,

A =

a11 a12 · · · a1qa21 a22 · · · a2q... ... . . . ...ap1 ap2 · · · apq

.Para sermos mais concisos, escrevemos, por exemplo,

A =[aij].

Exemplo 2.1.1. Os cidadãos do fimdomundo acreditam que existem nu-trientes nos alimentos. Os mais importantes seriam os nutrientes X, Y e Z.Portanto, eles costumam associar a cada alimento um vetor (x, y, z) ∈ R3

que representa o número de miligramas de nutrientes X, Y e Z em cadagrama deste alimento. Suponha que b = (3, 10, 8) é a quantidade de nutri-entes na batata, e c = (15, 7, 11) é a quantidade de nutrientes na cenoura.Essa informação pode ser resumida em uma tabela.

batata cenouranutriente X 3 15nutriente Y 10 7nutriente Z 5 12

Mas se concordarmos que ao falar de batata e cenoura utilizando umelemento de R2, o primeiro número é a quantidade de batata e o segundo,de cenoura. E se concordarmos que para nutrientes o primeiro número éa quantidade de nutrientes X o segundo é a quantidade de nutrientes Y, e

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Capítulo 2. Matrizes 66

o terceiro, a de nutrientes Z, então podemos eliminar a legenda da tabelae escrever simplesmente a matriz

N =

3 1510 75 12

.

Cada coluna da matriz pode ser vista como um vetor escrito “em pé”.Vamos utilizar muito essa ideia, e por isso, dado um vetor v ∈ Rn, vamosutilizar a notação

[v]=

v1v2...vn

para representar o vetor v como uma matriz coluna.

Por fim, quando as n colunas de uma matriz A são as representaçõesmatriciais dos vetores a1, . . . , an, escrevemos

A =[a1 · · · an

].

Exemplo 2.1.2. A matriz do exemplo 2.1.1 poderia ser escrita 3 1510 75 12

=[b c],

onde aparecem os já conhecidos vetores b = (3, 10, 5) e c = (15, 7, 12), queindicam as quantidades de nutrientes X, Y e Z em cada grama de batatae cada grama de cenoura.

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Capítulo 2. Matrizes 67

2.2 Operações com MatrizesSoma e Produto por EscalarAs operações mais simples com matrizes são a soma de matrizes e o produtopor escalar. Uma matriz m×n pode ser multiplicada por um escalar α ∈ R,e duas matrizes m × n podem ser somadas da mesma forma que vetoressão multiplicados por escalar ou somados. De fato, uma matriz m × n écomo se fosse um vetor de Rmn, só que ao invés de escvevermos em umalinha, escrevemos em um quadro, que é mais organizado! Ou então, pode-se pensar na matriz m × n como se fossem n vetores de Rm. Nesse caso,a o produto por escalar e a soma de matrizes corresponde ao produto porescalar e a soma de cada um dos vetores.

Exemplo 2.2.1. Sejam

A =

[23 3815 7

]e B =

[32 5552 11

].

Então,A+B =

[55 9367 18

]e 3A =

[69 11445 21

].

Produto de Matriz por Matriz ColunaO leitor provavelmente já sabe, ou pelo menos já viu em algum lugar, queo produto de uma matriz A =

[ajk]

de tamanho p × q por uma matriz

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Capítulo 2. Matrizes 68

B =[bjk]

de tamanho q × r é a matriz C =[cjk]

de tamanho p× r onde

cjk =

q∑s=1

ajsbsk. (2.1)

Quando B é uma matriz coluna, então C também será uma matriz coluna.Escrevendo

C =

c1...cp

e B =

b1...br

,a fórmula do produto de matrizes fica assim:

cj =1∑

s=1

ajsbs.

Escrevendo A =[a1 · · · aq

], a fórmula fica assim:

AB = b1[a1]+ · · ·+ bq

[aq].

Exemplo 2.2.2. Vamos calcular o produto de

M =

[1 5−2 7

]e N =

[38

].

Acompanhe pela fig. 2.1.

1 5

−2 7

[ ]3

8

∗∗

= 3

[1−2

]+ 8

[57

]

Figura 2.1: Multiplicando a matriz M =

[1 5−2 7

]e a matriz coluna N =

[38

].

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Capítulo 2. Matrizes 69

Basta então fazermos como mostrado na fig. 2.1.

MN = 3

[1−2

]+ 8

[57

]=

[3−6

]+

[4056

]=

[4350

].

Produto de MatrizesJá sabemos que existe uma fórmula para calcular

C = AB.

É a fórmula da eq. (2.1). Vamos escrevê-la de um modo mais limpo, par-tindo do princípio que sabemos calcular o produto de uma matriz qualquerpor uma matriz coluna.

Se escrevermos

B =[b1 · · · bq

]C =

[c1 · · · cq

],

a fórmula fica simples assim: [cj]= A

[bj

].

Ou seja, a j-ésima coluna de C deve ser o resultado de se aplicar a j-ésimacoluna de B na matriz A. Em outras palavras,[

cj]= A(B

[ej]). (2.2)

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Capítulo 2. Matrizes 70

O que o leitor deve fazer agora, é multiplicar umas matrizes pra trei-nar/relembrar. Mas pra frente, vamos entender melhor o significado doproduto de matrizes.

Pergunta Intrigante 2.2.3. Se A e B são matrizes n × n. Será queAB = BA?

Pergunta Intrigante 2.2.4. Por que não estamos interessados em definiro produto AB de duas matrizes quando A é p× q, B é r × s e r = q?

Pergunta Intrigante 2.2.5. Se A, B e C são matrizes p × q, q × r er×s respectivamente, podemos calcular M = BC, e depois fazer o produtoAM . Ou então, podemos fazer N = AB, e depois fazer o produto NC.Dizem que dá na mesma! Que AM = NC. Em outras palavras,

A(BC) = (AB)C.

Será que é fácil mostrar que sempre dá igual?

Matriz InversaPara cada n = 1, 2, . . . , existe uma matriz n × n especial, chamada dematriz identidade. É a matriz

In =

1 0 · · · 00 1 · · · 0... ... . . . ...0 0 · · · 1

,que tem todas as entradas da diagonal principal iguais a 1, e as demaisiguais a 0. Por comodidade, é comum omitirmos o índice n e escrever-mos apenas I para denotar a matriz identidade de tamanho adequado aocontexto.

A matriz identidade pode ser caracterizada como a única matriz talque [

v]= In

[v]

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Capítulo 2. Matrizes 71

para todo v ∈ Rn. Ou então,A = InA e B = BIn

para toda matriz A de tamanho n× p, e toda matriz B de tamanho q×n,para p e q quaisquer.

Para representar as entradas da matriz identidade, usamos o chamadodelta de Kronecker:

I =[δjk],

onde

δjk =

{1, j = k

0, j = k.

Exemplo 2.2.6. Sejam

A =

[1 2 34 5 6

]e B =

1 25 68 9

.Então,

I2A =

[1 00 1

][1 2 34 5 6

]=

[1 2 34 5 6

].

Da mesma forma,

BI2 =

1 25 68 9

[1 00 1

]

=

1 25 68 9

.

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Capítulo 2. Matrizes 72

Faça as contas… :-)De fato, a entrada de coordenadas jk do produto I2A é

aj1δ1k + aj2δ2k = ajk,

pois o único termo ajrδrk não nulo dessa soma é quando r = k. Um cálculoanálogo pode ser feito para BI2.

A matriz identidade parece meio inútil… mas sem ela, não conseguimosfalar, por exemplo, da matriz inversa!

Quando A é uma matriz n×n, por vezes existe uma matrix X tal queAX = XA = I.

Quando isso acontece, dizemos que X é a inversa de A. Consequente-mente, A é a inversa de X. Muitos problemas (da vida!) podem serrespondidos se conseguirmos inverter uma determinada matriz.

Exemplo 2.2.7. Seja

A =

1 2 30 1 45 6 0

.A inversa de A é

A−1 =

−24 18 520 −15 −4−5 4 1

.Suponha que você esteja procurando um vetor v ∈ R3 tal que1 2 3

0 1 45 6 0

[v] =789

.

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Capítulo 2. Matrizes 73

Se multiplicarmos tudo por A−1,−24 18 520 −15 −4−5 4 1

1 2 30 1 45 6 0

[v] =

−24 18 520 −15 −4−5 4 1

789

.Usando a associatividade do produto de matrizes,[

v]= I[v]

=

−24 18 520 −15 −4−5 4 1

1 2 30 1 45 6 0

[v]

=

−24 18 520 −15 −4−5 4 1

1 2 30 1 45 6 0

[v]

=

−24 18 520 −15 −4−5 4 1

789

.Ou seja, para encontrar v, basta fazer o produto

[v]=

−24 18 520 −15 −4−5 4 1

789

= 7

−2420−5

+ 8

18−154

+ 9

5−41

=

−168140−35

+

144−12032

+

45−369

=

21−166

.

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Capítulo 2. Matrizes 74

Assim, descobrimos que v = (21,−16, 6). De fato,1 2 30 1 45 6 0

21−166

= 21

105

+−16

216

+ 6

340

=

210105

+

−32−16−96

+

18240

=

789

.

Exemplo 2.2.8. Alguns exemplos de matrizes com inversa que são fáceisde fazer as contas. :-)[

0 11 0

][0 11 0

]=

[0 11 0

][0 11 0

]=

[1 00 1

][1 11 0

][0 11 −1

]=

[0 11 −1

][1 11 0

]=

[1 00 1

]

Existem matrizes que não tem inversa.

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Capítulo 2. Matrizes 75

Exemplo 2.2.9. As seguintes matrizes não tem inversa.[0 00 0

] [0 01 0

][1 15 5

] [3 −26 −4

]1 2 32 4 −14 8 5

3 1 21 5 −42 1 1

.

Pergunta Intrigante 2.2.10. Quando uma matriz A tem, e quando nãotem inversa?

Pergunta Intrigante 2.2.11. Por que não falamos da inversa de umamatriz que não é quadrada?

Pergunta Intrigante 2.2.12. Que técnicas podemos usar para encontrara inversa de uma determinada matriz? Tem uma maneira simples de saberse determinada matriz tem ou não inversa?

Matriz TranspostaDada uma matriz m× n

A =

a11 a12 . . . a1na21 a22 a2n... . . . ...

am1 am2 . . . amn

,

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Capítulo 2. Matrizes 76

a transposta de A — denotada por At — é a matriz n×m dada por

At =

a11 a21 . . . am1

a12 a22 am2... . . . ...

a1n a2n . . . amn

.

Exemplo 2.2.13. Um exemplo é melhor do que mil palavras! :-)

[1 2 34 5 6

]t=

1 42 53 6

.Transposta é isso!!!

Pergunta Intrigante 2.2.14. A matriz transposta é muito fácil de defi-nir… mas que utilidade tem?

2.3 Exemplosxxx

Insumos: madeira e ferro.Custo: monetário e ambiental.Markov.

2.4 Matrizes como FunçõesUma matriz p× q

A =[a1 · · · aq

]

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Capítulo 2. Matrizes 77

pode ser vista como uma função

TA : Rq → Rp

(x1, . . . , xq) 7→ x1a1 + · · ·+ xqaq

.

E como toda função, pode ser vista como um “dispositivo”… uma “caixi-nha”. Se pensarmos nos espaços Rp e Rq como matrizes coluna, a trans-formação TA fica ainda mais parecida com as “caixinhas”.[

TAv]= A

[v].

1 2

3 4

5 7

Figura 2.2: A matriz

1 23 45 7

pode ser vista como uma função TA : R2 → R3.

Exemplo 2.4.1. A matriz da tabela nutricional do exemplo 1.0.1 pode serusada para construir um dispositivo… um APP!!! Se nosso app bombar…vamos ficar ricos!!! Veja o projeto do app na fig. 2.3.

Você coloca a quantidade de batatas e cenouras e o nutrition app mos-tra pra você a quantidade de nutrientes X, Y e Z.

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Capítulo 2. Matrizes 78

Figura 2.3: Nutrition app: a revolução da nutrição!!!

Pergunta Intrigante 2.4.2. Dada uma função T : Rq → Rp, existe umcritério simples pra saber se esta função pode ser representada por umamatriz p× q?

Suponha que por algum motivo saibamos que a função T : Rq → Rp

pode ser representada por uma matriz. Nesse caso, chamamos T de trans-formação linear. Que matriz é essa?

Repare que dada a matriz A =[a1 · · · aq

], a primeira coluna da A

[a1]= A

10...0

é igual ao produto de A pelo primeiro vetor da base canônica,

[e1]. De

modo geral, [aj]= A

[ej].

Assim, a matriz correspondente à transformação T é dada por[T]=[T e1 · · ·T eq

].

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Capítulo 2. Matrizes 79

Em outras palavras, é a matriz cuja j-ésima coluna é dada pelo vetorT ej. Dessa forma, sabendo que T é uma transformação linear, é “fácil”determinar a matriz correspondente

[T]: é a matriz cuja primeira coluna

é dada por T e1, a segunda é dada por T e2, etc.

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Capítulo 2. Matrizes 80

Exemplo 2.4.3. Suponha agora que lá na cidade de fimdomundo tem umaloja que vende dois tipos de sopa. A sopa de verão, com mais cenoura(pra ajudar no bronzeado), e a sopa de inverno, com mais batata (prareserva de lipídios, pra proteção contra o frio). Do exemplo 1.0.1, sabemosa quantidade de nutrientes em cada grama de batata e cada grama decenoura. A quantidade de batata e cenoura por tijela de sopa tambémpode ser representada em uma tabela.

verão invernobatata 10 20cenoura 30 15

Ou então, uma matriz:

S =

[10 2030 15

].

Podemos encarar S como uma função de R2 em R2, que nos diz a quanti-dade de batatas e cenouras correspondente a determinadas quantidade desopas de verão e inverno.

Figura 2.4: Soup app: revolução em matéria de sopa!!!A matriz S corresponde a uma função (um dispositivo, um app) que nos diz aquantidade de batatas e cenouras que correspondem a uma certa quantidade detijelas de sopa de verão e de inverno.

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Capítulo 2. Matrizes 81

Agora, se você quisesse saber a quantidade todal de cada nutriente nassopas que você comprou, você pode abrir o soup app, ver a quantidade debatatas e cenouras, copiar–e–colar o resultado no nutri app para saber aquantidade de nutrientes. Ou… você pode baixar o soup nutri app!!! Parafazer esse app, podemos fazer um programa que pegue as quantidades desopa (input do usuário), aplique na matriz S e depois aplique a matriz N .Mas será que não existe uma matriz P que faça os cálculos de uma vez só?

Se existir a matriz P , sua primeira coluna deve ser o vetor que repre-senta a quantidade de nutrientes em uma tijela de sopa de verão. Lembre-se que a quantidade de batatas e cenouras na tijela de sopa de verão éS[e1]. Ou seja, a primeira coluna deve ser igual a N(S

[e1]). A segunda

coluna deve ser igual a N(S[e2]). Ora, mas pela eq. (2.2), isso significa

que P = NS.

verão invernonutriente X 480 285nutriente Y 310 305nutriente Z 410 280

No exemplo 2.4.3, vimos que o produto de matrizes NS nada mais édo que a tabela que representa o dispositivo resultante de se concatenar osdispositivos S e N . A pergunta que falta responder é:

Pergunta Intrigante 2.4.4. Considere as transformações TN e TS cor-respondentes às matrizes N e S. Será que TN ◦ TS é uma função que podeser representada por uma matriz?

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Capítulo 2. Matrizes 82

Exemplo 2.4.5. A função

f : R2 → R2

(x, y) 7→ (x+ 2, x+ y)

não pode ser representada por uma matriz. Para qualquer matriz M detamanho 2× 2, é verdade que

M

[00

]= (0, 0) = (2, 0) = f(0, 0).

De modo geral, toda função f que pode ser representada por uma mariztem que satisfazer f (0) = 0.

Exemplo 2.4.6. A função

f : R2 → R2

(x, y) 7→ (xy, x+ y)

não pode ser representada por uma matriz.Note que toda matriz M de tamanho 2× 2 satisfaz o seguinte:

M

[22

]= 2M

[11

].

No entanto,f(2, 2) = (4, 4) = 2(1, 2) = f(1, 1).

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Capítulo 2. Matrizes 83

2.5 Funções Representadas por MatrizesPor que acreditamos que basta uma tabela para representar-mos as quantidades de nutrientes em uma determinada quan-tidade de batatas e cenouras?

Por que acreditamos que basta uma tabela para sabermos oscustos de produção de uma certa quantidade de bicicletas emotos?

Exemplo 2.5.1. O preço de certos produtos pode ser representado poruma tabela? Por exemplo…

batata cenoura inhame couvePreço (R$) 3 5 7 10

Chegando lá na quitanda o preço da batata está assim:

Levando mais de um Kg de batata, você tem 10% de desconto.

Se levar 500g de batata, 500g de cenoura, 500g de inhame e 250g decouve, sai tudo por R$ 9. E se levar 1Kg de batata, 1Kg de cenoura, 1Kgde inhame e 500g de couve, sai tudo por R$ 15.

Neste caso, a função preço não pode ser representada por uma matrizno espírito do que estamos fazendo até agora.

O que torna o exemplo 2.5.1 diferente daquilo que temos feito atéagora, é a falta de consistência entre os preços dos diferentes “pacotes”de legumes e verduras. Por consistência, queremos dizer que o preço deuma combinação qualquer de legumes e verduras deve ser igual à com-binação dos preços. A combinação de x quilos de batata, y quilos de

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Capítulo 2. Matrizes 84

cenoura, z quilos de inhame e w quilos de couve pode ser expressa pelovetor (x, y, z, w) ∈ R4. Mas pode ser expressa também na base canônica

(x, y, z, w) = xe1 + ye2 + ze3 + we4.

Se T : R4 → R1 é uma função que tem a “consistência desejada”, então,

T (xe1 + ye2 + ze3 + we4) = xT e1 + yT e2 + zT e3 + wT e4.

O preço da combinação é a combinação dos preços! Nesse caso, dizemosque T é uma transformação linear.

Agora, ficar falando de e1, e2, e3, etc. pode ser meio inconveniente.Mais do que combinações dos vetores da base canônica, podemos falar dacombinação de quaisquer vetores.

Exemplo 2.5.2. Se o preço na quitanda não tem complicações como noexemplo 2.5.1. Ou seja, se o preço é linear. Então, se Vinícius encheuuma sacola com quantidade de itens representada pelo vetor v, e se Walterencheu uma sacola w, Vinícius pagará T v e Walter pagará Tw.

Se Gabriel quer comprar o equivalente a 5 sacolas de Vinícius e 3.5sacolas de Walter, ou seja, g = 5v + 3.5w, então Gabriel pagará

T (g) = T (5v + 3.5w) = 5T v + 3.5Tw.

Mas se Cinthia, a mãe de Gabriel, disser que tem muita coisa no carrinhode compras, e disser pra ele remover o equivalente a uma sacola de Walter,então Gabriel pagará

T (g − w) = T g − Tw.

Ou seja, Tw a menos do que pagaria se sua mão não tivesse pedido praremover uma sacola do tipo w.

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Capítulo 2. Matrizes 85

Definição 2.5.3 (linearidade em espaços Rn). Uma função

T : Rp → Rq

é uma transformação linear quando

1. v, w ∈ Rp ⇒ T (v + w) = T v + Tw.

2. α ∈ R, v ∈ Rp ⇒ T (αv) = αT v.

Existem várias maneiras de entender o que é uma transformação linear.Vamos resumir isso em uma proposição. Mas antes, precisamos de algumasdefinições.

Definição 2.5.4 (combinação linear). Seja B ⊂ Rn um conjunto de ve-tores. O vetor v é uma combinação linear de elementos de B quandoexistirem b1, . . . , bk ∈ B e α1, . . . , αk ∈ R tais que

v = α1b1 + · · ·+ αkbk.

Definição 2.5.5 (conjunto gerador). Um subconjunto B ⊂ Rn é chamadode gerador quando todo v ∈ Rn pode ser escrito como combinação linearde elementos de B.

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Capítulo 2. Matrizes 86

Proposição 2.5.6 (caracterizações de linearidade). ConsidereT : Rp → Rq. As condições a seguir são equivalentes.

1. T é linear (definição 2.5.3).

2. a ∈ R, v, w ∈ Rp ⇒ T (av + w) = aT v + Tw.

3. Para toda combinação linear v = α1v1 + · · ·+ αkvk de elementos deRp, vale que

T (v) = α1T v1 + · · ·+ αkT vk.

4. Para algum B ⊂ Rp gerador vale que

T (v) = α1T b1 + · · ·+ αkT bk.

para toda combinação linear v = α1b1 + · · · + αkbk de elementos deB.

5. Para qualquer (v1, . . . , vp) ∈ Rp,

T (v1, . . . , vp) = v1T e1 + · · ·+ vpT ep.

6. Existem a1, . . . , ap ∈ Rq tais que

T (v1, . . . , vp) = v1a1 + · · ·+ vpap.

TODO: comentários.

Demonstração. TODO: demonstrar!

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Capítulo 2. Matrizes 87

Exemplo 2.5.7. Se A =[a1 · · · aq

]é uma matriz p× q,

TA : Rq → Rp(v1, . . . , vq)v1a1 + · · ·+ vqaq

é a transformação linear associada a A. Assim, o item 6 da proposição 2.5.6afirma essencialmente que dizer que uma função f : Rq → Rp é linear é amesma coisa que dizer que pode ser representada por uma matriz p× q.

Dessa forma, a proposição 2.5.6 responde à pergunta Intrigante 2.4.2.

E respondendo a uma pergunta intrigante…

Proposição 2.5.8. Se f : Rp → Rq e g : Rr → Rp são lineares, então f ◦gtambém é linear.

Demonstração. Vamos verificar o item 2 da proposição 2.5.6.Sejam a ∈ R e v, w ∈ Rr. Então,

(f ◦ g)(av + w) = f(g(av + w))

= f(ag(v) + g(w))

= af(g(v)) + f(g(w))

= a(f ◦ g)(v) + (f ◦ g)(w).

E portanto, f ◦ g é linear.

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Capítulo 2. Matrizes 88

A proposição 2.5.8 nos permite responder à pergunta Intrigante 2.4.4.Consequentemente, juntando isso com o comentário que vem depois dapergunta Intrigante 2.4.2 e antes do exemplo 2.4.3, podemos concluir quese A é uma matriz p× q e B é uma matriz q × r, então

TA ◦ TB = TAB.

Ou seja, AB é a matriz que representa a composição das transformaçõesTA e TB.

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Capítulo 3

Transformações Lineares em R2

As transformações lineares são o principal objeto de estudo da disciplinade álgebra linear. Nos capítulos anteriores aprendemos sobre vetores etransformações lineares de um ponto de vista mais voltado para os cálculos.Agora, vamos entender o que é uma transformação linear de um ponto devista mais geométrico.

3.1 MotivaçãoA figura 3.1 ilustra uma maneira de transformarmos um desenho do plano.A ideia é quadricular o desenho original e fazer uma correspondência entreesse quadriculado e o reticulado de destino, formado de pequenos parale-logramos.

89

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Capítulo 3. Transformações Lineares em R2 90

Figura 3.1: Qual é a maneira “correta” de se transportar um desenho no qua-driculado em cima, para um desenho no reticulado em baixo?

Cada ponto do desenho original é levado em um ponto no novo reticu-lado. Qual é a regra que determina onde determinado ponto P = (α, β) élevado? As coordenadas de P indicam que, partindo da origem, para che-garmos ao ponto P , devemos andar α unidades na direção e no sentido dovetor e1 = (1, 0), e β unidades na direção e no sentido do vetor e2 = (0, 1).Estamos apenas dizendo que P = αe1 + βe2. Pela figura, é evidente quequeremos que os pontos e1 = (1, 0) e e2 = (0, 1) sejam transportados paraos pontos correspondentes aos vetores v1 e v2, representados na figura 3.2.Já o ponto P , ao ser transportado, deverá corresponder ao vetor αv1+βv2.O que queremos é que nesse segundo sistema de coordendadas (v1, v2), oponto P seja transportado para o ponto (α, β)R, onde R = (v1, v2) é abase ordenada formada pelos vetores v1 e v2.

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Capítulo 3. Transformações Lineares em R2 91

O O

P P

e1 v1e 2 v 2Figura 3.2:

Note que pra fazermos os cálculos, não estamos de fato trabalhandocom pontos. Não cosumamos somar pontos, ou multiplicá-los por umescalar. Estamos trabalhando com vetores. Se escolhermos um pontobase O, podemos então falar do ponto O+ v, ao invés de falarmos do vetorv. Com essa identificação, podemos usar todo o ferramental disponívelao se trabalhar com vetores: soma e produto por escalar, combinaçõeslineares, conjuntos geradores, base, transformação linear, etc. Daqui pordiante, não vamos mais fazer teoria com pontos, apenas vetores. Vamosdeixar os pontos para os exemplos ou aplicações.

Estamos então, falando de uma transformação T : R2 → R2. O vetorp (vamos usar letra minúscula, já que não é mais um ponto) é levado novetor T (p). É costume omitir os parênteses e escrever T p. Acompanhandopela figura 3.3, fica claro que a imagem de e1 é o vetor v1, e que a imagemde e2 é o vetor v2. Como já explicado, a imagem do vetor p = p1e1+p2e2 éalcançada se andarmos p1 unidades do vetor v1 e em seguida, p2 unidadesdo vetor v2. Ou seja,

T p = p1v1 + p2v2.

Ou, numa notação mais precisa,

T : R2 → R2

(p1, p2) 7→ p1v1 + p2v2

.

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Capítulo 3. Transformações Lineares em R2 92

Como já sabemos, as transformações desse tipo são as já conhecidas trans-formações lineares. Não esqueça que

v1 = T e1 e v2 = T e2.

Assim, nossa transformação original pode ser expressa pela matriz[T]=[v1 v2

].

p p

e1 v1e 2 v 2

T

Figura 3.3:

3.2 Casa InclinadaVamos desenhar a “casa inclinada” da fig. 3.1 em um papel quadriculado.Suponha que nesse papel quadriculado, os vetores v1 e v2 tem coordenadasv1 = (1.5, 0) e v2 = (0.5, 1). Qual é, por exemplo, a coordenada da quinasuperior direita da janela? Se no desenho original a coordenada da quinaé p = (2, 1), então, no desenho inclinado, a quina corresponde ao ponto

T p = 2v1 + v2

= (3, 0) + (0.5, 1) = (3.5, 1).

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Capítulo 3. Transformações Lineares em R2 93

v1v2

1.5 0.5

0 1

[ ]

Figura 3.4:

Se fossemos desenhar a “casa inclinada” da fig. 3.1 na tela de umtablet, provavelmente precisamos passar ao tablet a informação de quaissão as coordenadas horizontal e vertical do ponto da tela que queremosmanipular. O leitor que souber alguma linguagem de programação nãoterá dificuldade em fazer um programa que faça esse tipo de transformaçãocom imagens! O programa ImageMagick faz isso e um pouco mais! Veja:

https://www.imagemagick.org/Usage/distorts/affine/

3.3 Rotação de 90°Vamos aprender um “macete” muito útil…

Quando giramos o plano um quarto de volta no sentido anti-horário, e1é levado em e2, e e2 é levado em −e1. Isso significa que para rotacionarmosum vetor (a, b) por um ângulo π

2 , basta trocar a ordem de a e b, e colocarum sinal de menos na primeira entrada: (−b, a). Ou seja, essa rotação éa transformação linear Rπ

2, representada pela matriz

[Rπ

2

]=

[0 −11 0

].

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Capítulo 3. Transformações Lineares em R2 94

e 2−e1

Figura 3.5: Rotacionar uma imagem 90° no sentido anti-horário é o mesmoque aplicar T (x, y) = (−y, x). Dito de outro modo,

T : R2 → R2

xe1 + ye2 7→ xe2 − ye1

,

pois a rotação é linear, T e1 = e2 e T e2 = −e1.

Da mesma forma, se girarmos no sentido horário, teremos (b,−a). Emoutras palavras, [

R−π2

]=

[0 1−1 0

].

Sem fazer muita conta, sabemos que R−1π2

= R−π2. Sendo assim, se

tivéssemos paciência de fazer as contas… poderíamos veririficar que:[0 −11 0

][0 1−1 0

]=

[1 00 1

][0 1−1 0

][0 −11 0

]=

[1 00 1

].

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Capítulo 3. Transformações Lineares em R2 95

3.4 RotaçãoA transformação Rα : R2 → R2, que leva um vetor v em sua rotação porum ângulo α, é uma transformação linear. Você consegue se convencer,ou convencer alguém disso?

v1v2cosα− sinα

sinα cosα

[ ]

Figura 3.6: A rotação Rα é uma transformação linear que leva e1 em(cos(α), sin(α)), e e2 em (− sin(α), cos(α)).

De fato, a rotação é uma transformação muito mais simples que a da“casa inclinada” (da seção 3.2), já que os eixos são apenas rotacionados.Os eixos não são esticados e o ângulo entre eles continua sendo reto. Naseção 3.2, os quadradinhos do quadriculado foram transformados em pa-ralelogramos. Agora, os quadradinhos continuam quadradinhos, só querotacionados. Vamos chamar essa transformação de Rα. A representaçãomatricial de Rα é [

]=

[cos(α) − sin(α)sin(α) cos(α)

].

De fato, como v1 faz um ângulo α com o eixo das abcissas,

v1 = (cos(α), sin(α)).

Agora, é só observar que v2 é o v1 rotacionado 90°, como na seção 3.3,para concluir que

v2 = (− sin(α), cos(α)).

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Capítulo 3. Transformações Lineares em R2 96

Para o leitor que ainda não está convencido da utilidade de tudo issoque tem sido discutido, o próximo exemplo é, na opinião do autor, bastanteimpressionante.

Exemplo 3.4.1 (Soma de ângulos). Dados dois ângulos, α e β, existeuma fórmula para o cálculo de

sin(α + β) e cos(α + β).

Vamos deduzir essas fórumlas. :-)Por um lado (lado esquerdo da igualdade) sabemos que ao rotacionar

por um ângulo α o vetor v = (cos(β), sin(β)), obtemos o vetor (cos(α +β), sin(α + β)). Por outro lado (lado direito), usando a linearidade daaplicação Rα,[

cos(α + β)sin(α + β)

]=[Rαv

]=

[cos(α) − sin(α)sin(α) cos(α)

][cos(β)sin(β)

]= cos(β)

[cos(α)sin(α)

]+ sin(β)

[− sin(α)cos(α)

]=

[cos(α) cos(β)− sin(α) sin(β)cos(β) sin(α) + sin(β) cos(α)

].

Ou seja,

cos(α + β) = cos(α) cos(β)− sin(α) sin(β)sin(α + β) = sin(α) cos(β) + cos(α) sin(β).

Agora, o leitor é convidado a procurar a demonstração dessas fórmulas emqualquer livro do ensino médio!

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Capítulo 3. Transformações Lineares em R2 97

Poderíamos fazer esses cálcuos apenas com matrizes de rotação.

Exemplo 3.4.2. Uma outra maneira de expressar a soma de ângulos emtermos de matrizes, é calculando Rα+β = Rα ◦Rβ.[

cos(α + β) − sin(α + β)sin(α + β) cos(α + β)

]=

[cos(α) − sin(α)sin(α) cos(α)

][cos(β) − sin(β)sin(β) cos(β)

].

Os cálculos são essencialmente os mesmos do exemplo 3.4.1.

Exemplo 3.4.3 (Inversa da rotação). Às vezes, usamos a álgebra de ma-trizes para calcular coisas geométricas, como a soma de ângulos. E àsvezes usamos geometria para não precisarmos calcular as matrizes…

Mesmo sem fazer cálculos com matrizes, sabemos que[cos(α) − sin(α)sin(α) cos(α)

][cos(α) sin(α)− sin(α) cos(α)

]=

[1 00 1

].

Isso, porque R−1α = R−α. E também, porque cos(−α) = cos(α) e

sin(−α) = − sin(α).

3.5 ReflexãoPor fim, uma transformação linear simples que não é uma rotação, é o es-pelhamento pelo eixo das ordenadas. Igualmente simples é o espelhamentopelo eixo das abscissas.

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Capítulo 3. Transformações Lineares em R2 98

Exemplo 3.5.1 (Espelho). Se o eixo das ordenadas fosse um “espelho”,transformaria um desenho o desenho da casa em uma versão espelhada…

v1v2

−1 0

0 1

[ ]

Figura 3.7:

A matriz que representa a transformação linear correspondente é[T]=

[−1 00 1

].

E se fosse pra fazer um espelho com o eixo das abscissas? Então, seria[T]=

[1 00 −1

].

E se quiséssemos um espelho ortogonal ao vetor v?

v

Figura 3.8:

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Capítulo 3. Transformações Lineares em R2 99

3.6 Composição de TransformaçõesLineares

Sejam T : R2 → R2 e S : R2 → R2 transformações lineares. Já sabemos daproposição 2.5.8 que a composição

S ◦ T : R2 → R2

x 7→ S(T x)

também é uma transformação linear. De fato,

(S ◦ T )(p+ q) = S(T (p+ q))

= S(T p+ T q)

= S(T p) + S(T q)

= (S ◦ T )p+ (S ◦ T )q.

E também,

(S ◦ T )(αp) = S(T (αp))

= S(αT p)

= αS(T p)

= α(S ◦ T )p.

Exemplo 3.6.1 (Duas rotações). Seja Rα : R2 → R2 a rotação por umângulo α, e Rβ : R2 → R2 a rotação por um ângulo β. Então, Rα ◦Rβ é arotação pelo ângulo α + β.

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Capítulo 3. Transformações Lineares em R2 100

Exemplo 3.6.2 (Espelho). Considere a transformação dada no final doexemplo 3.5.1.

v

Figura 3.9: Se v = (cos(α), sin(α)), então, ao rotacionar toda a figura por umângulo −α, transformamos o problema no prolema da fig. 3.7. Ou seja, bastafazermos uma rotação R−1

α , seguida de uma reflexão pelo eixo das ordenadas. Aíentão, precisamos desfazer a rotação aplicando Rα.

Ou seja, considere um vetor v = (cos(α), sin(α)). A transformação Ev,que age como um espelho normal ao vetor v, pode ser representada como

Ev = Rv ◦ Ee1 ◦R−1v ,

onde Rv é a rotação que leva e1 em v, R−1v é a inversa de Rv (a rotação

que leva v em e1) e Ee1 é o espelhamento pelo eixo das ordenadas. Ouseja, [

Ee1

]=

[−1 00 1

].

Vamos determinar a representação matricial de Ev. Usando a repre-

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Capítulo 3. Transformações Lineares em R2 101

sentação matricial, e escrevendo a e b no lugar de cos(α) e sin(α),

[Ev

]=

[a −bb a

][−1 00 1

][a b−b a

].

Usando a ??, e fazendo primeiro o produto das duas matrizes à esquerda,

[Ev

]=

[−a −b−b a

][a b−b a

]=

[−a2 + b2 −2ab−2ab −b2 + a2

].

Agora, o leitor é convidado a quadricular um desenho qualquer, fazer ascontas e transportá-lo por um espelhamento como o desse exemplo. Quetal tentar com v =

(12 ,

√32

)?

O produto de matrizes não é comutativo.

Exemplo 3.6.3 (Produto não é comutativo). Assim como a composiçãode funções não é comutativo, o produto de matrizes também não é. Porexemplo, [

−1 00 1

][a −bb a

]=

[a −bb a

][−1 00 1

].

O leitor é convidado a fazer as contas! Que interpretação você pode dar aesse exemplo específico?

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Capítulo 3. Transformações Lineares em R2 102

3.7 Números Complexosxxx

3.8 ExercíciosExercício 3.8.1. Sabemos que do ponto de vista nutricional, a única coisaimportante no universo, são os nutrientes X e Y . Seja b = (bx, by) ∈ R2 ovetor que representa a quantidade bx de nutriente X, e a quantidade by denutriente Y que contém uma batata. E seja c = (cx, cy) ∈ R2 o vetor querepresenta a quantidade cx de nutriente X, e a quantidade cy de nutrienteY que contém uma cenoura. Sabemos que a função

T : R2 → R2

(b, c) 7→ bb+ cc

que indica a quantidade de nutrientes X e Y contidos em b batatas e ccenouras é uma transformação linear. Determine a representação matricialde T .

Exercício 3.8.2. Continuando o exercício 3.8.1, suponha que existam doistipos de sopa, de verão e de inverno, feitas apenas de batata e cenoura, emproporções diferentes. Se cada cumbuca da sopa de inverno tem i = (ib, ic)de batata e cenoura, e se cada cumbuca de sopa de verão tem v = (vb, vc)de batata e cenoura, então

S : R2 → R2

(v, i) 7→ vv + ii

indica a quantidade de batata e cenoura contidos em v cumbucas de sopade verão e i cumbucas de sopa de inverno.

Nesse contexto, qual é o significado de T ◦ S? E S ◦ T?Utilizando o produto de matrizes, determine o sistema de equações

lineares que relaciona a quantidade de nutrientes X e Y contidos em vcumbucas de sopa de verão e i cumbucas de sopa de inverno.

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Capítulo 3. Transformações Lineares em R2 103

Exercício 3.8.3. Determine se T : R2 → R2 é ou não bijetiva quando[T]

é igual a

1.[1 01 1

].

2.[0 10 1

].

3.[0 11 0

].

4.[3 94 12

].

5.[1 22 1

].

Exercício 3.8.4. Determine se as aplicações T : R2 → R2 dadas a seguirsão lineares.

1. T (x, y) = (2x+ y, 3x− y).

2. T (x, y) = (2|x+ y|, y).

3. T (x, y) = (x+ y, 0).

4. T (x, y) = (y2, x2).

5. T (x, y) = (x+ y, x−1).

6. T (x, y) = (−x,−x).

Exercício 3.8.5. Dadas as aplicações T : R2 → R2, determine T−1,quando existir.

1. T (x, y) = (4x+ y, 2x).

2. T (x, y) = (x− 4y,−5x+ 20y).

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Capítulo 3. Transformações Lineares em R2 104

3. T (x, y) = (2x+ 2y, 2x− y).

4. T (x, y) = (y, 2x− y).

Exercício 3.8.6. Aplique ao desenho

as transformações indicadas. Primeiro, escolha o ponto que representa ovetor 0.

1 1

−0.5 2

2 1

−0.5 2

−1 1

−0.5 2

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Capítulo 4

Vetores em Rn

Tudo o que fizemos em R2 pode ser feito, com poucas adaptações para R3.Ou mesmo, para Rn. Nesta seção, trataremos de vetores (a, b, c) ∈ R3, ede modo mais geral, de vetores (a1, . . . , an) ∈ Rn.

4.1 Operações com Vetores em Rn

Assim como em R2, a soma e o produto por escalar em Rn são feitoscoordenada a coordenada:

(a1, . . . , an) + (b1, . . . , bn) = (a1 + b1, . . . , an + bn)

α(a1, . . . , an) = (αa1, . . . , αan).

Vejamos que, ao menos para o caso R3, as operações coordenada a temum sentido geométrico.

Exemplo 4.1.1 (Soma em R3). Para ilustrarmos a soma de vetores emR3 feita coordenada à coordenada, considere os vetores v e w da fig. 4.1.Assim como no caso de R2, se observarmos apenas a “altura”, ou seja, asegunda coordenada, vemos que a “altura” de v + w é igual à altura de v

105

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Capítulo 4. Vetores em Rn 106

somada à altura de w. Os vetores são decompostos em “altura” e “sombra”.Ou seja, na componente e2, e em uma componente no plano xz.

v = v2e2 + vs

w = w2e2 + ws.

Ao calcular a soma v + w, somamos a “altura” (v2 + w2)e2, e a “sombra”vs + ws. Assim,

v + w = (v2 + w2)e2 + vs + ws.

No entanto, os vetores no plano xz também podem ser decompostos emsuas coordenadas e1 e e3. E assim como em R2, a soma é feita coordenadaa coordenada. (veja o exemplo 4.2.1). Portanto,

v + w = (v2 + w2)e2 + vs + ws

= (v2 + w2)e2 + (v1 + w1)e1 + (v3 + w3)e3.

Ou seja, em R3, a soma é feita coordenada a coordenada.

v

w

v +w

altura

sombrae1

e3

Figura 4.1: A “altura” (coordenada y) de v = (3, 2, 1) somada à de w =(3, 1, 2) corresponde à “altura” do vetor v + w. E a “sombra” de v projetadano plano xz, somada à “sombra” de w corresponde à “sombra” de v + w. Já vi-mos que, como a “sobra” está no plano xz, a soma pode ser feita coordenada acoordenada.

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Capítulo 4. Vetores em Rn 107

O mesmo raciocínio pode ser usado para o produto por escalar: αv. Masé tão mais fácil ver que multiplicação coordenada a coordenada significa“esticar” / “encolher” / “inverter o sentido”, que nem precisa desenhar!;-)

4.2 SubespaçosNo exemplo 4.1.1, tratamos o plano xz em R3, como se fosse R2. Subcon-juntos de Rn que com as mesmas operações de soma e produto por escalarse comportam como se fossem um Rm dentro de Rn, são os subespaçosvetoriais de Rn. Dizemos que esses subconjuntos são fechados com relaçãoà soma e fechados com relação ao produto por escalar. Antes de umadefinição formal, vejamos alguns exemplos.

Exemplo 4.2.1 (Plano xz). Seja P ⊂ R3, o plano xz. Ou seja,

P ={αe1 + βe3

∣∣∣ α, β ∈ R}.

Em coordenadas,

P ={(α, 0, β) ∈ R3

∣∣∣ α, β ∈ R}.

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Capítulo 4. Vetores em Rn 108

vwv +

w

e1e2e3

Figura 4.2: O plano xz é como se fosse um R2 dentro de R3. A soma de ve-tores do plano xz e o produto por escalar continuam confinados a este mesmoplano.

Restritas a P , as operações de soma e produto por escalar continuambem definidas. Ou seja,

v, w ∈ P ⇒ v + w ∈ P

α ∈ R, v ∈ P ⇒ αv ∈ P.

E temos uma bijeção natural entre R2 e P , que preserva a soma e o produtopor escalar. Ou seja, preserva a estrutura de espaço vetorial.

T : R2 → P(α, β) 7→ αe1 + βe3

.

Todo subconjunto P ⊂ Rn não vazio que é fechado por produto por

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Capítulo 4. Vetores em Rn 109

escalar deve necessariamente conter 0. De fato, se v ∈ P , então

0 = 0v ∈ P.

Para que um plano P ⊂ R3 seja um subespaço, é necessário e suficenteque 0 ∈ P . Ou seja, que P passe pela origem.

Exemplo 4.2.2 (Plano qualquer contendo 0). Suponha que P ⊂ R3 sejaum plano contendo 0. Sejam v, w ∈ P tais que 0, a e b não são colineares.Então,

P ={αa+ βb

∣∣∣ α, β ∈ R}

é o plano de R3 que contém os pontos 0, a e b. O leitor é convidado ademonstrar que o conjunto P é fechado com relação à soma e fechado comrelação ao produto por escalar. Na verdade, neste exemplo, em nenhummomento utilizamos o fato de o espaço em questão ser R3. Tudo funcionaexatamente da mesma maneira se considerarmos Rn.

Os conjuntos P dessa forma são os subespaços de dimensão 2. Paraque estejamos de fato tratando de um plano, e não de uma reta, tivemosque assumir que os pontos 0, a e b não são colineares. Isso significa que ostrês pontos são distintos, e que não existe α ∈ R tal que a = αb.

Novamente, temos uma bijeção natural entre R2 e P , que preserva asoma e o produto por escalar. Ou seja, preserva a estrutura de espaçovetorial.

T : R2 → P

(α, β) 7→ αa+ βb

.

Um exemplo ainda mais simples é o subespaço unidimensional.

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Capítulo 4. Vetores em Rn 110

Exemplo 4.2.3 (Subespaço unidimensional). Seja v ∈ Rn um vetor nãonulo. Então, o conjunto

R ={αv∣∣ α ∈ R

}é um reta em Rn que passa em 0. O conjunto R é fechado com relação àsoma e fechado com relação ao produto por escalar. Esses são os subespaçosunidimensionais.

Assim como no caso do plano, temos uma bijeção natural entre R e R,que preserva a soma e o produto por escalar. Ou seja, preserva a estruturade espaço vetorial.

T : R → Rα 7→ αv

.

Definição 4.2.4 (Subespaço vetorial). Um subconjunto não vazio W ⊂Rn é chamado de subespaço vetorial quando é fechado com relação à somae fechado com relação ao produto por escalar. Ou seja,

1. α ∈ R, v ∈ W ⇒ αv ∈ W .

2. v, w ∈ W ⇒ v + w ∈ W .

Com uma definição precisa, agora podemos discutir um exemplo queao mesmo tempo que é evidente, é também intrigante, já que sua utilidadeparece, à primeira vista, muito duvidosa.

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Capítulo 4. Vetores em Rn 111

Exemplo 4.2.5 (Subespaços triviais). O subconjunto de Rn dado por

X ={0}

é um subespaço de Rn de dimensão 0. E o conjunto Y = Rn também éum subespaço de Rn. Alguns autores dizem que X é o subespaço trivialde Rn. Outros dizem que X e Y são os subespaços triviais de Rn.

Observação 4.2.6. Daqui por diante, falaremos de várias propriedadesque se aplicam tanto a Rn quanto a qualquer subespaço de Rn. Apenasno ?? vamos definir espaços vetorias de um modo mais geral. Veja a ??.

Por enquanto, quando falarmos em espaços vetoriais, estaremos nosreferindo apenas a Rn e a seus subespaços. Mas sempre que nos referirmosa espaços vetoriais, os resultados serão verdadeiros também para espaçosvetoriais gerais, conforme a ??.

4.3 Transformações LinearesJá verificamos o que é, do ponto de vista geométrico, uma transformaçãolinear em R2. Podemos fazer o mesmo para R3, ou mesmo para Rn. Naverdade, podemos fazer o mesmo para qualquer espaço vetorial (??).

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Capítulo 4. Vetores em Rn 112

Definição 4.3.1 (Transformação Linear). Sejam V , W espaços vetoriais.Uma transformação linear de V em W é uma aplicação T : V → W talque

1. u, v ∈ V ⇒ T (u+ v) = T u+ T v.

2. α ∈ R, v ∈ V ⇒ T (αv) = αT v.

Exemplo 4.3.2. Para representarmos uma transformação linear em R2,desenhavamos um quadriculado e um reticulado no plano, e “transpor-távamos” o desenho do quadriculado para o reticulado. Em R3 é muitoparecido, mas agora não é mais um quadriculado. Quem sabe um “cubi-culado”!!! :-)

Figura 4.3:

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Capítulo 4. Vetores em Rn 113

Para especificarmos as transformações lineares da fig. 4.3, precisamosapenas dizer qual é a imagem dos vetores e1, e2 e e3. Essas imagens estãoindicadas em vermelho. Para “esticar” a casinha como na parte direita dafigura, foi aplicada a transformação

T : R3 → R3

(a, b, c) 7→ (a, 2.7b, c).

O outro caso é mais complicado. É dado pela transformação

T : R3 → R3

(a, b, c) 7→ (1.2a+ 0.3b− 0.3c, b+ 0.2c, 0.7a+ c).

Repare que os vetores T e1 = (1.2, 0, 0.7), T e2 = (0.3, 1, 0) e T e3 =(−0.3, 0.2, 1) é que determinam os números “mágicos” que aparecem naexpressão (1.2a+ 0.3b− 0.3c, b+ 0.2c, 0.7a+ c).

Se T : V → W é uma transformação linear, então sua imagem, T (V ),é um subespaço de W . De fato, se a, b ∈ T (V ), então existem u, v ∈ Vtais que

a = T u e b = T v.

Portanto, dado α ∈ R,

a+ b = T u+ T v

= T (u+ v) ∈ T (V )

αa = αT v

= T (αv) ∈ T (V ).

Ou seja, T (V ) é fechado por soma e produto por escalar.

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Capítulo 4. Vetores em Rn 114

Exemplo 4.3.3. Um plano em R3 é a imagem de uma aplicação linearinjetiva

T : R2 → R3.

De fato, já sabemos que a imagem de T é um subespaço de R3. Se aimagem não for um plano, isso significa que T e1 e T e2 são paralelos. Ouseja, existem α, β ∈ R, com pelo menos um deles não nulo, tais que

αT e1 = βT e2.

Mas isso é o mesmo que dizer que

T (αe1) = T (βe2),

com αe1 = βe2. Ou seja, quando a imagem não é um plano, a aplicaçãoT não é injetiva. Assim, se T é injetiva, T (V ) é um plano.

Por outro lado, se T (V ) não é injetiva, então existem dois vetores,u = (u1, u2) e v = (v1, v2) tais que T u = T v. Mas isso é o mesmo que dizerque

T ((u1 − v1)e1) = T ((v2 − u2)e2).

Ou seja, T e1 e T e2 são paralelos. Por consequência, como todos os vetoressão combinação linear de e1 e e2, todos os pontos de T (V ) estão em umamesma reta.

Ficou demonstrado, então, que a imagem de T é um plano se, e somentese, T é injetiva. Ainda resta responder à pergunta:

Todo plano de R3 que passa pela origem é imagem de umatransformação linear T : R2 → R3?

A resposta é afirmativa, já que todo plano P é “gerado” por dois vetoresv1 e v2. E portanto, P é a imagem de

T : R2 → R3

(a, b) 7→ av1 + bv2

.

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Capítulo 4. Vetores em Rn 115

4.4 Bases e Independência LinearOs exemplos da seção 4.2, em especial o exemplo 4.2.2, mostram de queforma podemos gerar um subespaço a partir de dois vetores, v e w. Oexemplo também mostra que condições precisamos impor a esses vetorespara que o espaço gerado seja de fato um plano. Se não impusermosnenhuma coindição, o espaço gerado pode ser apenas uma reta, ou então,apenas o espaço trivial

{0}

.

Subespaço GeradoDois vetores v, w ∈ R3 podem gerar um plano, quando 0, v e w não sãocolineares. Ou seja, quando v e w não são paralelos. Podem gerar o espaçotrivial

{0}

, quando v = w = 0. E podem gerar uma reta, quando não sãoparalelos e não são todos nulos. De qualquer forma, independentementede que vetores v e w escolhemos, esses dois vetores geram um subespaçode Rn. Pode não ser um plano, mas será um subespaço.

De modo um pouco mais geral, se

S = {v1, . . . , vm}

é um subconjunto finito de Rn, o subconjunto

⟨S⟩ ={α1v1 + · · ·+ αmvm

∣∣∣ α1, . . . , αm ∈ R}

é o subespaço (de Rn) gerado por S.Podemos definir o subespaço gerado por um subconjunto S ⊂ Rn qual-

quer (mesmo que infinito). O leitor é convidado a fazer, por conta própria,definições alternativas. É sempre bom saber falar da mesma coisa de váriospontos de vista diferentes.

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Capítulo 4. Vetores em Rn 116

Definição 4.4.1 (Subespaço gerado). Seja S ⊂ Rn um subconjunto qual-quer de Rn. O subespaço gerado por S, denotado por ⟨S⟩, é o menorsubespaço E de Rn, tal que

S ⊂ E.

Quando S = {v1, . . . , vn}, escrevemos ⟨v1, . . . , vn⟩.

Para que a definição 4.4.1 faça sentido é necessário dar um significadopreciso para a expressão

… o menor subespaço E ⊂ Rn tal que S ⊂ E.

Queremos dizer três coisas:

1. Que E é um subespaço de Rn.

2. Que S ⊂ E.

3. Que se F é um subespaço de Rn tal que S ⊂ F , então

E ⊂ F.

Mas será que tal coisa existe? Por exemplo,

Qual é o menor número real maior do que α?

Queremos encontrar a satisfazendo três coisas:

1. a ∈ R.

2. α < a.

3. Se b ∈ R é maior que α, então

a ≤ b.

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Capítulo 4. Vetores em Rn 117

Tal número não existe! Qual é o menor número real maior que 0? 0.1?0.01? 0.001? 0.00000001? No entanto, para o subespaço da definição 4.4.1,a resposta é: sim, existe. Antes de mostrarmos que existe, vejamos umexemplo simples.

Exemplo 4.4.2. Seja v ∈ R3 um vetor não nulo. Então,

⟨v⟩ ={αv∣∣∣ α ∈ R

}.

De fato, se chamarmos o subespaço da direita de W , temos que v ∈ W , etodo subespaço de R3 que contém v tem que conter todos os múltiplos dev, e portanto, tem que conter W . Ou seja, W é o menor subespaço de R3

que contém v. Dessa forma, ⟨v⟩ = W .

Uma outra forma de caracterizar o subespaço gerado é através de com-binações lineares. Vamos recordar a definição 2.5.4.

Seja S ⊂ Rn um subconjunto qualquer de Rn. Uma combinação linearde elementos de S é um vetor v ∈ Rn da forma

v = α1v1 + · · ·+ αkvk,

onde α1, . . . , αk ∈ R e v1, . . . , vk ∈ S.Vamos, por agora, denotar por

LS ={α1v1 + · · ·+ αkvk

∣∣∣ α1, . . . , αk ∈ R, v1, . . . , vk ∈ S}

o conjunto de todas as combinações lineares de elementos de S. Percebaque dizer que S ⊂ V é um subespaço de V é o mesmo que dizer queLS = S. A demonstração da proposição a seguir é muito semelhante aoexemplo 4.4.2.

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Capítulo 4. Vetores em Rn 118

Proposição 4.4.3. Seja V um espaço vetorial. Se S ⊂ V é não vazio,então ⟨S⟩ é o conjunto formado por todas as combinações lineares deelementos de S.

Demonstração. Se W ⊂ V é um subespaço qualquer com S ⊂ W , então

S ⊂ LS ⊂ LW = W.

Ou seja, LS é o menor subespaço de V que contém S. Assim,

⟨S⟩ = LS.

Exemplo 4.4.4. O conjunto

S =

{(1

n+ 1, 1, 0

)∈ R3

∣∣∣∣∣ n ∈ N

}

é um conjunto infinito que gera o plano xy.

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Capítulo 4. Vetores em Rn 119

Lema 4.4.5. SejaT : E → F

uma transformação linear. E seja S ⊂ E um conjunto gerador. Então,T (S) é um gerador da imagem de T . Em particular, T é sobrejetivaexatamente quando T (S) é um conjunto gerador de F .

Demonstração. Basta verificar que

LT (S) ={α1w1 + · · ·+ αkwk

∣∣∣ α1, . . . , αk ∈ R, w1, . . . , wk ∈ T (S)}

={α1T v1 + · · ·+ αkT vk

∣∣∣ α1, . . . , αk ∈ R, v1, . . . , vk ∈ S}

={T (α1v1 + · · ·+ αkvk)

∣∣∣ α1, . . . , αk ∈ R, v1, . . . , vk ∈ S}

= T (LS) .

Observação 4.4.6. Ao demonstrarmos o lema 4.4.5, acabamos mostrandoum pouco mais. Mostramos que a operação “gerador” comuta com atransformação linear: T (⟨S⟩) = ⟨T (S)⟩.

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Capítulo 4. Vetores em Rn 120

Independência LinearNo exemplo 4.2.2, precisamos impor condições para que ⟨v, w⟩, o espaçogerado pelos vetores v e w fosse de fato um plano, e não uma reta, porexemplo. Mas pensando bem… o que é um plano que passa na origem?Não seria o mesmo que um subespaço bidimensional? Mas… bidimensionalsignifica o quê? Que tem dimensão 2? E o que significa isso tudo? Umareta passando pela origem, é um subespaço de dimensão 1. O subespaço{0}

tem dimensão 0.Podemos dar um significado preciso aos conceitos de plano, reta, di-

mensão? E se estivermos falando de Rn? Podemos generalizar esses con-ceitos e falar dos subespaços de dimensão k?

Definição 4.4.7 (Independência Linear). Dizemos que um vetor v ∈ Rn

é (linearmente) independente de A ⊂ Rn, quando v ∈ ⟨A⟩.Dizemos que A é linearmente independente (ou simplesmente LI)

quando todo v ∈ A é idependente de A\{v}. Quando A não é linearmenteindependente, dizemos que é linearmente dependente, ou simplesmente,LD.

Diremos também que uma coleção indexada de vetores v1, . . . , vk élinearmente independente quando forem todos distintos e o conjunto{v1, . . . , vk} for LI.

Dizer que vetores são linearmente independentes, é dizer que um nãopode ser escrito como combinação dos outros.

Exemplo 4.4.8 (dois vetores que não geram um plano). Quando doisvetores distintos não nulos, v e w não geram um plano, é porque um

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Capítulo 4. Vetores em Rn 121

é linearmente dependente do outro. Em um certo sentido, o conjuntoS = {v, w} tem elementos “desnecessários”. O espaço gerado por S é oespaço gerado pelo vetor v.

Quando falamos que 0 e mais dois pontos v e w, quando não são trêspontos colineares, determinam um plano, estamos justamente falando daindependência linear de v e w. Quando tem “desperdício” no conjuntogerador, o espaço gerado acaba menor do que o “esperado”. É por isso queo estudante prudente não diz que dois vetores geram um plano que passapela origem! Ele diz:

Dois vetores linearmente independentes geram um planoque passa pela origem.

Observação 4.4.9. Se v1 = v2 = e1, então diremos que v1 e v2 são LD.No entanto, o conjunto {v1, v2} NÃO é LD. Por quê?

Existem outras maneiras de se pensar em independência linear.

Proposição 4.4.10 (Caracterizações de Independência Linear). Seja A ⊂Rn. Então, são equivalentes:

1. A é linearmente independente.

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Capítulo 4. Vetores em Rn 122

2. O conjunto A é um gerador minimal para ⟨A⟩. Ou seja, se B ⊊ A,então

⟨B⟩ ⊊ ⟨A⟩.

3. Sempre que v1, . . . , vk ∈ A são distintos e

α1v1 + · · ·+ αkvk = 0,

então α1 = · · · = αk = 0.

4. Toda combinação linear de elementos de A é única, no sentido deque se v1, . . . , vk ∈ A são distintos, então

α1v1 + · · ·+ αkvk = β1v1 + · · ·+ βkvk

implica que α1 = β1, . . . , αk = βk.

5. Toda combinação linear de elementos de A é única, no sentido deque se

v = α1v1 + · · ·+ αkvk,

v = β1w1 + · · ·+ βmwm,

com todos os v1, . . . , vk ∈ A distintos entre si, todos os w1, . . . , wm ∈A distintos entre si, e com todos os α1, . . . , αk e β1, . . . , βk não nulos,então k = m, e os índices de βj e wj podem ser rearranjados de modoque

v1 = w1 e α1 = β1...

vk = wk e αk = βk.

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Capítulo 4. Vetores em Rn 123

Demonstração. TODO.

O item 2 da proposição 4.4.10 mostra que A ⊂ Rn é linearmente inde-pendente quando não possui nenhum elemento “sobrando”, ao contráriodo exemplo a seguir.

Exemplo 4.4.11. Seja

A = {(1, 1, 0), (1, 0, 1), (0, 1,−1)}.

Então A é linearmente dependente. De fato,

(1, 1, 0) = (1, 0, 1) + (0, 1,−1).

O vetor (4, 1, 3), por exemplo, pode ser escrito como infinitas combinaçõeslineares diferentes. Algumas delas, são

(4, 1, 3) = (1, 1, 0) + 3(1, 0, 1)

(4, 1, 3) = 4(1, 1, 0)− 3(0, 1,−1)

(4, 1, 3) = 2(1, 1, 0) + 2(1, 0, 1)− (0, 1,−1).

Exemplo 4.4.12. Continuando o exemplo 4.4.4, o conjunto

A =

{(1

n+ 1, 1, 0

)∈ R3

∣∣∣∣∣ n ∈ N

}

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Capítulo 4. Vetores em Rn 124

possui vários subconjuntos de dois elementos que são geradores de do planoxy. De fato, qualquer subconjunto de A com dois elementos é um geradorpara o mesmo subespaço. Por exemplo,

B =

{(1, 1, 0),

(1

2, 1, 0

)}gera o plano xy. O leitor é convidado a mostrar que e1, e2 ∈ ⟨B⟩.

O exemplo a seguir, é mais uma proposição do que um exemplo.

Exemplo 4.4.13. Os subconjuntos de R3 que são linearmente indepen-dentes tem cardinalidade 0, 1, 2 ou 3.

De fato, se A ⊂ R3 tiver 4 elementos distintos a = (a1, a2, a3), b =

(b1, b2, b3), c = (c1, c2, c3) e d = (d1, d2, d3), então o sistema de equaçõesa1x+ b1y + c1z + d1w = 0a2x+ b2y + c2z + d2w = 0a3x+ b3y + c3z + d3w = 0

tem 3 equações e 4 incógnitas, e portanto, tem infinitas soluções. Emparticular, existem α1, α2, α3, α4 ∈ R, nem todos nulos, tais que

α1a+ α2b+ α3c+ α4d = 0.

Agora, como é que você sabe que um sistema homogêneo com 3 equa-ções e 4 incógnitas tem infinitas soluções… isso é com você!!! Como é quevocê sabe disso? :-)

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Capítulo 4. Vetores em Rn 125

Já vimos no lema 4.4.5 que uma transformação linear sobrejetiva levaconjunto gerador em conjunto gerador.

Lema 4.4.14. Seja T : E → F uma transformação linear injetiva. SeS ⊂ E é linearmente independente, então T (S) ⊂ F também é.

Demonstração. Suponha que

α1T (v1) + · · ·+ αkT (vk) = 0,

com v1, . . . , vk ∈ S. Para concluir que T (S) é linearmente independente,basta mostrar que α1 = · · · = αk = 0.

Note que,

T (α1v1 + · · ·+ αkvk) = α1T (v1) + · · ·+ αkT (vk)

= 0.

Mas pela injetividade de T , isso implica que

α1T (v1) + · · ·+ αkT (vk) = 0.

Pela independência linear de S, isso implica que α1 = · · · = αk = 0.

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Capítulo 4. Vetores em Rn 126

Bases e DimensãoO falarmos de vetores em R2, podíamos descrevê-los como combinaçãolinear dos vetores e1 e e2. Todo vetor v ∈ R2 é da forma

v = αe1 + βe2.

Além disso, essa representação é única. Dizer que todo vetor é combinaçãolinear de e1 e e2, é o mesmo que dizer que esses dois vetores formam umconjunto gerador do espaço R2. E dizer que a representação é única, é omesmo que dizer que são linearmente independentes. O mesmo vale para

e1, . . . , en ∈ Rn.

São geradores e linearmente independentes. Em outras palavras, formamuma base para Rn.

Definição 4.4.15. Uma base de um espaço vetorial é um conjunto devetores linearmente independentes que gera todo o espaço.

Exemplo 4.4.16. Em R2, para especificarmos uma transformação linearT : R2 → R2, bastava especificar v1 = T e1 e v2 = T e2. Nesse caso,

T : R2 → R2

αe1 + βe2 7→ αv1 + βv2

.

Na verdade, poderíamos substituir e1 e e2 por uma base qualquer. De fato,se soubermos que

w1 = T b1 e w2 = T b2,

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Capítulo 4. Vetores em Rn 127

onde b1 e b2 formam uma base para R2, então sabemos calcular T u paraqualquer u ∈ R2, pois u pode ser escrito na forma αb1 + βb2. Nesse caso,

T : R2 → R2

αb1 + βb2 7→ αw1 + βw2

.

Exemplo 4.4.17. Considere os vetores e1, e2 e b = (1, 1) em R2. Épossível definir uma transformação linear T : R2 → R2 tal que

T e1 = 0, T e2 = e1 e T b = e2?

A resposta é: Não! Mas por que motivo isso não é possível?E se fossem só os vetores e1 e e2, sem a condição no vetor b? Ou seja,

será que existe uma transformação linear T tal que

T e1 = 0 e T e2 = e1?

E, pra complicar um pouco, e se fossem só os vetores e1 e b, sem imporuma condição no vetor e2? Seria possível? Será que conseguimos definir,sem nenhuma inconsistência, uma transformação linear T tal que

T e1 = 0 e T b = e2?

É fácil explicar os casos em que sabemos que existe um problema nadefinição de T . Basta apontar a contradição e dizer: impossível! Porexemplo, não é possível fazer

T e1 = 0, T e2 = e1 e T b = e2.

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Capítulo 4. Vetores em Rn 128

Pois ao mesmo tempo que sabemos que

T b = e2,

também é verdade que

T b = T (e1 + e2) = T e1 + T e2 = e1.

Se encontrarmos uma contradição como essa, sabemos que T não estábem definida. Mas como podemos garantir que não há uma con-tradição? Como podemos gararntir que a transformação T está bemdefinida? Sabendo o valor de T em e1, e2 e b, concluímos que T devesatisfazer:

T : R2 → R2

α1e1 + α2e2 + α3b 7→ α1T e1 + α2T e2 + α3T b

.

Para que dessa forma T esteja bem definida, é necessário e suficiente que:

1. Todo vetor v ∈ R2 possa ser expresso da forma α1e1 + α2e2 + α3b,para que T esteja definido em todo domínio.

2. Não haja ambiguidade na definição do valor de T v para nenhumv ∈ R2. Ou seja, mesmo que v possa ser expresso de duas maneirasdiferentes,

v = α1e1 + α2e2 + α3b

v = β1e1 + β2e2 + β3b,

é importante que o valor de T v seja o mesmo se calculado utilizandoqualquer uma das duas maneiras distintas.

A condição do item 1 equivale a dizer que os vetores e1, e2 e b geramo domínio de T .

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Capítulo 4. Vetores em Rn 129

Agora, segundo a proposição 4.4.10, uma maneira simples de garantirque o item 2 seja satisfeito, é fazendo com que e1, e2 e b sejam linearmenteindependentes.

Assim, concluímos que para construir uma transformação linear pode-mos simplesmente escolher o valor de T para cada elemento de uma basepreestabelecida. Como a base é geradora, estaremos definindo a trans-formação para todos os elementos do domínio. E como é linearmenteindependente, não existe ambiguidade na definição.

4.5 A InversaApesar de uma transformação linear T : V → W ser, em geral, uma fun-ção entre conjuntos infinitos, ela fica completamente determinada se co-nhecermos seu valor em um conjunto gerador. Todas as propriedades dastrasnformações lineares ficam completamente determinadas se soubermoscomo a transformação age em uma base. Assim como no exemplo 4.4.17,não apenas conhecemos uma trasformação se soubermos seus valores emuma base… podemos construir uma transformação escolhendo da formaque quisermos o valor que essa transformação deve assumir em uma deter-minada base. A grande preocupação é sabermos se a função que estamoscontruindo está ou não bem-definida.

Exemplo 4.5.1 (injetividade e sobrejetividade). Seja T : V → W umatransformação linear. Seja v1, . . . , vn uma base de V . E faça w1 = T v1,w2 = T v2, . . . , wn = T vn. Então, dizer que T é sobrejetiva é o mesmo quedizer que w1, . . . , wn gera o espaço W .

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Capítulo 4. Vetores em Rn 130

Por outro lado, suponha que T é injetiva. Então, para todo u, v ∈ V ,

T u = T v ⇒ u = v.

Em particular, fazendo u = 0,

T v = 0 ⇒ v = 0.

Assim, se α1, . . . , αn ∈ R, tomando v = α1v1 + · · · + αnvn, temos que,sempre que α1w1 + · · ·+ αnwn = 0,

T (α1v1 + · · ·+ αnvn) = α1w1 + · · ·+ αnwn = 0.

Mas isso implica, pela injetividade de T , que

α1v1 + · · ·+ αnvn = 0

E como v1, . . . , vn é uma base, isso implica que

α1 = · · · = αn = 0.

Ou seja,α1w1 + · · ·+ αnwn = 0 ⇒ α1 = · · · = αn = 0.

Ou seja, w1, . . . , wn são linearmente independentes.Em particular, esse exemplo mostra que uma transformação linear

T : V → W é inversível quando leva bases de V em bases de W .

Seja T : V → W uma transformação linear inversível. Então, a in-versa T−1 também é linear. De fato, para quaisquer x, y ∈ W , como T é

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Capítulo 4. Vetores em Rn 131

sobrejetiva, existem v, w ∈ V , tais que x = Tv e y = Tw. Então,

T−1(x+ y) = T−1(Tv + Tw)

= T−1(T (v + w))

= v + w

= T−1(x) + T−1(y).

E se α ∈ R,

T−1(αx) = T−1(αTv)

= T−1(T (αv))

= αv

= αT−1(x).

O exemplo 4.5.1 mostra que, se b1, . . . , bn é uma base para V , T−1

pode ser caracterizada como a transformação linear que leva (a base)T b1, . . . , T bn em b1, . . . , bn. Em particular, se V = W = Rn, e se bj = ej,como será que podemos determinar a representação matricial da transfor-mação T−1?

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Capítulo 5

Produto Interno e Determinante

5.1 Projeção Ortogonal e o ProdutoInterno

Em R2 ou R3, imagine uma reta r e um vetor v, com ponto base O emcima da reta r, como mostra a fig. 5.1. Suponha que queiramos saber o“tamanho” da “projeção” de v em r, que vamos chamar de Pr(v).

O

v r

Pr(v)

Figura 5.1: Em R2 ou R3, podemos “projetar ortogonalmente” um vetor v emuma reta r. Vamos chamar de Pr(v) o “tamanho” dessa projeção. Note que,Pr(v) ≥ 0.

132

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 133

A transformação Pr : R3 → R tem algumas propriedades interessantes.A primeira delas diz respeito ao produto por escalar.

Pr(αv) = |α|Pr(v).

−v

2.5v

vr

Pr(v)

2.5Pr(v)

Pr(v)

Figura 5.2: Quando multiplicamos o vetor v por um número real α ≥ 0, entãoPr(αv) = αPr(v). Mas quando α < 0, então Pr(αv) = −αPr(v). Em particular,Pr(v) = Pr(−v).

Às vezes,Pr(u+ v) = Pr(u) + Pr(v),

mas apenas quando as projeções de u e v em r tem o “mesmo sentido”.

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 134

v

w

v +w

r

Pr(v)Pr(w)

Pr(v +w)

Figura 5.3:

Quando não tem o mesmo sentido, as projeções se subtraem ao invésde se somarem. Assim, podemos ter

Pr(u+ v) =

{Pr(u) + Pr(v), mesmo sentido|Pr(u)− Pr(v)|, sentidos opostos.

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 135

v

w

v + w r

Pr(v)

Pr(w)Pr(v +

w)

Figura 5.4:

Essas propriedades de produto por escalar e soma são um indicativo deque talvez devessemos considerar uma projeção com sinal. Uma projeçãoque possa ser negativa pra um lado e positiva para o outro. Talvez devesse-mos considerar um sentido para a reta r. Projeções com o mesmo sentidoque o escolhido são positivas, e com sentido oposto são negativas. Sendoassim, ao invés de falarmos da reta r, poderíamos considerar um vetor wque indica a direção e o sentido de r. Como não estamos interessados nomódulo do vetor w, apenas na direção e no sentido, vamos escolher w denorma 1. Ou seja, vamos definir a projeção Pw, onde ∥w∥ = 1.

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 136

vu

w Pw(v)> 0

Pw(u)< 0

Figura 5.5: Escolhendo um vetor w, ao invés de uma reta, temos além da dire-ção, um sentido positivo e um sentido negativo.

O vetor v da fig. 5.5 pode ser escrito como

v = Pw(v)w + z,

onde z é um vetor “ortogonal” a w. Assim, Pw é uma transformação linear.

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 137

v

u

w

Pw(v)

Pw(u)

Pw(u+ v)

Figura 5.6: Com a projeção com sinal, a fórmula Pw(u + v) = Pw(u) + Pw(v)funciona.

É claro que, se ∥v∥ = 1, então Pv(v) = 1. Além disso, a propriedadeseguinte está relacionada com o ângulo entre os vetores v e w.

∥v∥ = ∥w∥ = 1 ⇒ Pw(v) = Pv(w).

vw

cosα cosαα

Figura 5.7: Quando ∥v∥ = ∥w∥ = 1, a projeção de v na direção (e sentido)de w é igual à projeção de w na direção (e sentido) de v. Mais do que isso,Pw(v) = cosα = Pw(v).

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 138

Quanto à base canônica e1, e2 e e3, note que

Pej(ek) = δjk,

onde

δjk =

{1, j = k

0, j = k.

Dizemos que a base canônica é ortonormal, pois cada elemento tem norma1, e elementos distintos são ortogonais.

e1

e2

Pe 2(e

2)=

1

Pe1(e2) = 0

Figura 5.8: A base canônica é ortonormal: os vetores são unitários e ortogo-nais entre si.

Observadas essas propriedades, vamos encontrar uma fórmula paraPw(v) em termos das coordenadas de w = (w1, w2, w3) e v = (v1, v2, v3).Lembre-se que ∥w∥ = 1, e note que Pej(w) = wj. Vamos usar as proprie-dades discutidas anteriormente para concluir que

Pw(v) = v1Pw(e1) + v2Pw(e2) + v3Pw(e3)

= v1Pe1(w) + v2Pe2(w) + v3Pe3(w)

= v1w1 + v2w2 + v3w3.

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 139

Se estivéssemos tratando de Rn, com v = (v1, . . . , vn) e w =(w1, . . . , wn), a fórmula seria

Pw(v) = v1Pw(e1) + · · ·+ vnPw(en)

= v1Pe1(w) + · · ·+ vnPen(w)

= v1w1 + · · ·+ vnwn.

Uma maneira natural de se definir Pw(v) quando w não é unitário,seria simplesmente ignorando a norma de w:

Pw(v) = P w∥w∥

(v).

Mas pelas considerações feitas até agora, uma maneira mais interessante,é definindo o produto interno canônico.

Definição 5.1.1 (Produto Interno (Canônico)). Sejam v = (v1, . . . , vn) ew = (w1, . . . , wn), vetores quaisquer de Rn. O produto interno (canônico)entre v e w, denotado por v · w é dado por

v · w =n∑

j=1

vjwj.

Dizemos “canônico” porque existem outros tipos de produto interno.Alguns autores chamam o produto interno canônico de produto internoeuclideano. Outros chamam de produto escalar. Neste livro trataremosapenas do produto interno canônico, por isso, quando dissermos produtointerno estamos nos referindo ao produto definido na definição 5.1.1.

Note que quando ∥w∥ = 1, Pw(v) = v · w. Nesse sentido, o produtointerno extende a definição de projeção ortogonal em um vetor unitário.Uma outra maneira de estender a definição de Pw para o caso em que wnão é necessariamente unitário: Pw = P w

∥w∥, e usando o produto interno,

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 140

podemos calcular Pw, desde que w = 0. O resultado é que para quaisquerv, w ∈ Rn, com w = 0,

Pw(v) =v · w∥w∥

.

O produto interno é mais versátil do que a projeção Pw. Em primeirolugar, Pw não está definido para w = 0. E depois que Pw não é linear emw.

Pαw(v) = αPw(v)

Pw+z(v) = Pw(v) + Pz(v).

Funcionais Lineares e o Produto InternoO produto interno é bilinear. Ou seja, quando fixamos uma das entradas,temos uma função linear na outra entrada. Em outras palavras, as funções

fw : Rn → Rv 7→ w · v

gv : Rn → Rw 7→ w · v

são lineares.As trasformações lineares com contradomínio em R são chamadas de

funcionais lineares. Em Rn, qualquer funcional linear f é da forma

f(v1, . . . , vn) = v1f(e1) + · · ·+ vnf(en).

Ou seja, todo funcional linear f : Rn → R é da forma fw, onde w =(f(e1), · · · , f(en)).

A representação matricial de f é a matriz linha[w]t. Além disso, o

funcional f pode ser escrito com o produto interno

f(v) = v · w.

Ou seja, todo funcional linear f : Rn → R pode ser representado atravésdo produto interno com um vetor w.

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 141

5.2 Determinante 2× 2

Nesta seção, vamos tratar apenas do espaço R2.Dois vetores determinam um paralelogramo. Assim como o tamanho

da projeção de um vetor em outro tem propriedades interessantes que noslevaram a definir o produto interno, a área do paralelogramo determinadopor dois vetores também tem propriedades semelhantes, e nos levarão adefinir o conceito de determinante. Apenas nesta seção, vamos denotarpor A(v, w) a área do paralelogramo de lados v e w.

v

w

A(v, w)

Figura 5.9: Os vetores v e w determinam um paralelogramo. Vamos denotarpor A(v, w) a área desse paralelogramo.

Se α ≥ 0, então

A(αv, w) = αA(v, w) = A(v, αw).

Consequentemente,A(αv, βw) = αβA(v, w).

E se v e w são paralelos,A(v, w) = 0.

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 142

v

w

A(v, 2.5w) = 2.5A(v, w)

Figura 5.10: Assim como no caso da projeção, fixando o vetor v, e dilatandoou encolhendo o vetor w, a área A(v, w) aumenta ou diminui na mesma propor-ção.

Quanto à linearidade, fixado o vetor w, a aplicação A(v, w) é “pratica-mente” linear. Lembre-se que os desenhos das figs. 5.11 e 5.12 NÃO sãotridimensionais. Como mostrado na fig. 5.11, existem casos tais que

A(u+ v, w) = A(u, w) + A(v, w).

v

u

w

v

u

w

Figura 5.11: O valor de A(u + v, w) corresponde à área delimitada pelo pa-ralelogramo azul. Em rosa e verde, temos A(u, w) e A(v, w). Em alguns casos,A(u+ v, w) é a soma das áreas em rosa e verde.

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 143

Mas, assim como no caso da projeção, existem casos tais que

A(u+ v, w) = |A(u, w)− A(v, w)|.

vu

w

v

u = 0.3w

w

Figura 5.12: O valor de A(u + v, w) corresponde à área delimitada peloparalelogramo azul. Em rosa e verde, temos A(u, w) e A(v, w). À direita,A(u+ v, w) = A(v, w). À esquerda, A(u+ v, w) = A(v, w)− A(u, w).

Em analogia com a projeção ortogonal, uma pergunta que precisa serrespondida é:

Quando é que A(u+ v, w) é igual a A(u, w)+A(v, w), e quandoé que é igual a |A(u, w)− A(v, w)|?

Ou seja, se fossemos atribuir um sinal a A(v, w), qual seria o critério paraescolher entre positivo e negativo?

A área écomprimento da base × altura.

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 144

O comprimento da base é ∥w∥. E a altura, com sinal, é

PRπ2w(v),

onde Rπ2w = (−w2, w1) é a rotação por um ângulo π

2 no sentido anti-horário. Assim,

A(w, v) = ∥w∥∣∣∣PRπ

2w(v)

∣∣∣= ∥w∥

∣∣∣∣∣ v ·Rπ2w∥∥Rπ

2w∥∥∣∣∣∣∣

=∣∣v ·Rπ

2w∣∣.

Vamos então, definir a “área com sinal” (o determinante) como sendo

det(w, v) = v ·Rπ2w

= w1v2 − w2v1.

Se o leitor já ouviu falar do determinante, provavelmente aprendeu essafórmula.

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 145

r

s

v

wRπ 2w

A(v,w

)=∣ ∣ v·R

π 2w∣ ∣

∥w∥ = 1

Figura 5.13: Note que se ∥w∥ = 1, então a área, já com o sinal correto é exa-tamente PRπ

2w(v). E mesmo que w não seja unitário,

A(v, w) = ∥w∥∣∣∣PRπ

2w(v)

∣∣∣.Definido o determinante, vamos entender de modo mais geométrico o

significado de seu sinal. No cálculo de A(u+ v, w), quando é que as áreasse somam, e quando é que elas se cancelam?

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 146

v

w

5w

Figura 5.14: As áreas de todos esses paralelogramos são iguais. A área emverde corresponde a A(v, w), e é igual à área em laranja, que corresponde aA(v + 5w, w).

A resposta é simples. Se considerarmos a reta s da fig. 5.15, vemos quequando o vetor u está “acima” de s, então as áreas se somam. Quandoestá “abaixo”, as áreas se cancelam.

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 147

r

s

v

wRπ 2w u

Mesmo lado que v

uLado oposto a v

u

Áreas se somam

u

Áreas se cancelam

Figura 5.15:

E se ao invés de olharmos para a reta s, olharmos para a reta r, ese transportarmos o vetor u para o mesmo ponto base que v, vemos quequando u e v estão do mesmo lado de r, as áreas se somam. Quando estãode lados opostos, as áreas se cancelam.

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 148

r

wRπ 2w u

PRπ2w(u) > 0

uPRπ

2w(u) < 0

Figura 5.16:

Na notação matricial, quando v = (v1, v2) e w = (w1, w2), vamos usara notação matricial para determinante e escrever

det(w, v) =∣∣∣∣w1 v1w2 v2

∣∣∣∣.Quanto ao sinal, det(w, v) é positivo quando v ·Rπ

2w é positivo. Ou seja,

quando v estiver no semiplano à “esquerda” de w. Ou então, quando arotação mais curta de w a v for no sentido anti-horário.

Com toda essa discussão, sabemos que det(w, v), é linear em v (quandofixamos w). Pela fórmula encontrada,

det(w, v) = − det(v, w).

Se v está “à esquerda” de w, então, w está “à direita” de v. Isso mostra quedet(w, v) é linear tanto em v quanto em w. Ou seja, além das propriedadesjá mostradas, também vale que

det(w + z, v) = det(w, v) + det(z, v).

Em outras palavras, det é bilinear. Repare também, que

det(e1, e2) = 1.

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 149

Pra finalizar essa discussão, vamos (re)encontrar a fórmula paradet(w, v) usando apenas as equações

det(e1, e2) = 1

det(e2, e1) = −1

det(e1, e1) = det(e2, e2) = 0,

e mais o fato de det ser bilinear.

Exemplo 5.2.1 (fórmula com manipulações algébricas). Note que v =v1e1 + v2e2, e w = w1e1 + w2e2. Assim,

det(w, v) = w1 det(e1, v) + w2 det(e2, v)= w1 (v1 det(e1, e1) + v2 det(e1, e2))+ w2 (v1 det(e2, e1) + v2 det(e2, e2))

= w1 (0 + v2) + w2 (−v1 + 0)

= w1v2 − w2v1.

Definição 5.2.2 (Determinante 2× 2). Se v = (v1, v2) e w = (w1, w2) sãovetores de R2, então a quantidade

det(w, v) = w1v2 − w2v1

é chamada de determinante da matriz[w1 v1w2 v2

].

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 150

O determinante também é denotado por∣∣∣∣w1 v1w2 v2

∣∣∣∣.

5.3 Determinante n× n

Na seção 5.2, substituímos a função A(v, w) pela função det(w, v), quealém de ser linear em cada entrada (bilinear), também é tal que a área deuma reta é 0. Ou seja,

det(w, w) = 0.

Se fosse em R3, e estivéssemos falando do volume V (u, v, w), talvezfosse mais interessante trabalhar, no lugar de V , com uma funçãodet : R3 × R3 × R3 → R, trilinear, e tal que se u, v e w estiverem em ummesmo plano, ou seja, se forem linearmente dependentes, então,

det(u, v, w) = 0.

Figura 5.17: Escolhendo dois vetores para serem a “base”, o volume do prismaé “base” × “altura”.

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 151

No caso Rn, estaríamos definindo uma espécie de volume n-dimensional, com sinal. Essa aplicação — que também vamos denotarpor det — atribui a cada sequência de n vetores v1, . . . , vn ∈ Rn, o volumen-dimensional sinalado do “paralelepípedo” associado a v1, . . . , vn. Espe-ramos que a aplicação det : Rn × · · · × Rn → R tenha três propriedadeselementares:

1. Que det(e1, . . . , en) = 1. Esse é o volume n-dimensional do n-cubode lados de tamanho 1.

2. Que seja n-linear. Se fixarmos n − 1 vetores e os tratarmos como“base” do paralelepípedo, o volume é “base × altura”. Assim comono caso 2 × 2, a “altura” é a projeção do n-ésimo vetor (o que nãofaz parte da base), na direção ortogonal à base. E é por isso que on-volume é n-linear.

3. Para v1, . . . , vn, se vi = vj para algum i = j, então

det(v1, . . . , vn) = 0.

Será que tal aplicação existe? Uma maneira de mostrarmos que existeé exibindo uma fórmula. A proposição 5.3.1 nos permitirá encontrar umafórmula para o determinante. A proposição é uma consequência do itens 2e 3, que implica que o sinal do determinante se inverte quando permutamosum vetor vj com um outro vetor vk.

Proposição 5.3.1. Seja

T : Rn × · · · × Rn → R

uma aplicação n-linear tal que se v1, . . . , vn ∈ Rn, são linearmente depen-dentes, então

T (v1, . . . , vn) = 0.

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 152

Nesse caso, T é alternada. Ou seja, se σ ∈ Pn é uma permutação de{1, . . . , n}, então

T (vσ(1), . . . , vσ(n)) = sgn(σ)T (v1, . . . , vn).

Demonstração. Suponha que σ = (j k), com j < k. Se, no lugar de vj e vkcolocarmos vj + vk, o determinante será zero, pois as entradas j e k serãoiguais. Assim,

0 = T (v1, . . . , vj + vk , . . . , vj + vk , . . . , vn)

= T (v1, . . . , vj , . . . , vj , . . . , vn)

+ T (v1, . . . , vj , . . . , vk , . . . , vn)

+ T (v1, . . . , vk , . . . , vj , . . . , vn)

+ T (v1, . . . , vk , . . . , vk , . . . , vn)

= T (v1, . . . , vj , . . . , vk , . . . , vn)

+ T (v1, . . . , vk , . . . , vj , . . . , vn).

Mas isso é o mesmo que dizer que

T (. . . , vj , . . . , vk , . . . ) = − T (. . . , vk , . . . , vj , . . . ).

No caso de uma permutação σ qualquer, podemos escrevê-la como umasequência de transposições. A cada transposição o sinal se inverte, demodo que o sinal do resultado final será exatamente sgn(σ).

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 153

Se

v1 = (v11, v21, . . . , vn1)

v2 = (v12, v22, . . . , vn2)...

vn = (v1n, v2n, . . . , vnn),

então, as propriedades de det : (Rn)n → R que foram discutidas implicamque

det(v1, . . . , vn) =∑

σ∈{1,...,n}nvσ(1),1 · · · vσ(n),n det(eσ(1), . . . , eσ(n))

=∑σ∈Pn

vσ(1),1 · · · vσ(n),n det(eσ(1), . . . , eσ(n))

=∑σ∈Pn

sgn(σ)vσ(1),1 · · · vσ(n),n.

Esta fórmula está bem definida porque, pela ??, a aplicaçãosgn : Pn → {+1,−1} está bem definida. Assim, chegamos a uma fórmulaque utilizaremos para definir o determinante.

Definição 5.3.2 (Determinante). Para cada n = 1, 2, . . . , o determinanteé a aplicação

det : (Rn)n → R(v1, . . . , vn) 7→

∑σ∈Pn

sgn(σ)vσ(1),1 · · · vσ(n),n.

Se T : Rn → Rn é uma transformação linear,

det(T ) = det(T e1, . . . , T en).

E o determinante de uma matriz é o determinante da transformação linearcorrespondente.

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 154

A notação da definição 5.3.2 usando permutações é bastante útil sesoubermos trabalhar com ela. A melhor maneira de entender direitinho osignificado dessa notação, é fazendo alguns casos manualmente.

Exemplo 5.3.3 (caso 2× 2). Seja

A =

[a bc d

].

Na notação da definição 5.3.2, a11 = a, a12 = b, a21 = c e a22 = d.As permutações de {1, 2} são (1, 2) e (2, 1). O sinal da primeira é 1 e

o da segunda é −1. Então,

det(A) = a11a22 + (−1)a21a12

= ad− cb.

Vejamos o caso 3× 3.

Exemplo 5.3.4. Considere a matriz

A =

a b cd e fg h i

t

.

As permutações de {1, 2, 3} que tem sinal positivo (permutações pares) sãoas permutações circulares: ρ0 = (1, 2, 3), ρ1 = (2, 3, 1) e ρ2 = (3, 1, 2). Apermutação ρ0 não faz nada, e equivale a somar 0. Assim, ρ1 correspondea somar 1, e ρ2 corresponde a somar 2.

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 155

Ao fazer o produto dos números nas entradas das matrizes, ρ0 cor-responde à diagonal principal. E de modo geral, aplicar ρ significa, namatriz transposta, deslocar a diagonal para a direita. Aplicar duas vezessignifica deslocar para a direita duas vezes. Se não estivéssemos tratandoda transposta, deveríamos deslocar para baixo, já que em nossa fórmula apermutação é aplicada no primeiro índice, que se refere à linha da matriz.Na proposição 5.3.7, veremos que o determinante de uma matriz é igualao determinante de sua transposta.

Figura 5.18: Regra de Sarrus. A diagonal principal corresponde à permutaçãoidentidade, que não permuta nada. Cada diagonal corresponde a uma permu-tação. As diagonais que apontam pra baixo tem sinal +1. As que apontam pracima tem sinal −1.

As permutações ímpares são da forma γ = (3, 2, 1), ρ1γ = (1, 3, 2) eρ2γ = (2, 1, 3). A primeira, γ, corresponde à diagonal não principal. Asegunda e a terceira correspondem a deslocar a diagonal principal para adireita 1 ou 2 vezes.

Para ver que o determinante é realmente a função que procurávamos,precisamos verificar os três itens enumerados antes da proposição 5.3.1.Isso fica como dever de casa! :-)

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 156

Proposição 5.3.5. Vetores v1, . . . , vn ∈ Rn são uma base de Rn se, esomente se,

det(v1, . . . , vn) = 0.

Demonstração. Já sabemos da ??, que um conjunto de vetores de Rn éuma base se, e somente se, for linearmente independente. E isso acontecese, se somente se, o conjunto for gerador.

Se não for uma base, ou seja, se são linearmente dependentes, entãoum dos vetores é combinação linear dos demais. Se, por exemplo,

vn = α1v1 + · · ·+ αn−1vn−1,

então

det(v1, . . . , vn) = det(v1, . . . , vn−1, α1v1 + · · ·+ αn−1vn−1)

= α1 det(v1, . . . , vn−1, v1) + · · ·· · ·+ αn−1 det(v1, . . . , vn−1, vn−1)

= α10 + · · ·+ αn−10

= 0.

Por outro lado, se os vetores formam uma base, então podemos escrever

e1 = a11v1 + · · ·+ a1nvn...

en = an1v1 + · · ·+ annvn.

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 157

Nesse caso,

1 = det(e1, . . . , en)=

∑σ∈{1,...,n}n

aσ(1),1 · · · aσ(n),n det(vσ(1), . . . , vσ(n))

=∑σ∈Pn

aσ(1),1 · · · aσ(n),n det(vσ(1), . . . , vσ(n))

=

(∑σ∈Pn

sgn(σ)aσ(1),1 · · · aσ(n),n

)det(v1, . . . , vn).

E portanto, det(v1, . . . , vn) não pode ser nulo.

Temos então um critério simples pra saber se uma matriz ou equiva-lentemente, uma transformação linear, é inversível.

Corolário 5.3.6. Uma transformação linear T : Rn → Rn é inversível se,e somente se, det(T ) = 0.

Demonstração. Basta juntar a proposição 5.3.5 com o exemplo 4.5.1, quediz que T é inversível se, e somente se, T e1, . . . , T en for uma base.

Por vezes, o ponto de vista geométrico é mais adequado pra entenderuma propriedade das matrizes. Por vezes, o ponto de vista algébrico é me-

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 158

lhor. Agora que temos uma fórmula, podemos relacionar o determinantede uma matriz com o determinante de sua transposta.

Proposição 5.3.7. Seja A uma matriz n× n. Então

det(At)= det(A).

Demonstração. As permutações tem três propriedades interessantes. Oleitor é convidado a demonstrá-las.

1. A operaçãoι : Pn → Pn

σ 7→ σ−1

é uma bijeção.

2. sgn(σ) = sgn(σ−1).

3. Se trocarmos a ordem do produto aσ(1),1 · · · aσ(n),n usando a permuta-ção γ, obtemos o mesmo resultado, pois o produto de números reaisé comutativo:

aσ(γ(1)),γ(1) · · · aσ(γ(n)),γ(n) = aσ(1),1 · · · aσ(n),n.

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 159

Usando essas propriedades,

det(A) =∑σ∈Pn

sgn(σ)aσ(1),1 · · · aσ(n),n

=∑σ∈Pn

sgn(σ)aσ(σ−1(1)),σ−1(1) · · · aσ(σ−1(n)),σ−1(n)

=∑σ∈Pn

sgn(σ)a1,σ−1(1) · · · an,σ−1(n)

=∑σ∈Pn

sgn(σ−1)a1,σ−1(1) · · · an,σ−1(n)

=∑σ∈Pn

sgn(σ)a1,σ(1) · · · an,σ(n)

= det(At).

5.4 Produto Vetorial em R3

Esta seção tem dois papeis. Vamos apresentar ao leitor o produto vetorialv × w de vetores de R3. E vamos também interpretar os resultados daseção 5.3 para o caso em que n = 3.

Volume com Produto InternoNa seção 5.2, vimos que

det(w, v) = v ·Rπ4w.

Vamos chamar o vetor w de base, e v de altura. O vetor Rπ4w tem di-

reção ortogonal à base e norma igual à norma de w, ou seja, igual ao

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 160

comprimento da base. A área é

base × altura. (5.1)

Sendo quealtura com sinal = PRπ

4wv.

Por outro lado, se fixarmos v, w ∈ R3, então

f : R3 → Ru 7→ det(u, v, w)

é um funcional linear. Assim, existe um vetor em R3, que vamos denotarpor v × w, que é tal que para todo u ∈ R3,

det(u, v, w) = (v × w) · u.

Chamamos v × w de produto vetorial de v e w.

Interpretação Geométrica do Produto VetorialO volume do paralelepípedo é dado pela área da base, multiplicado pelaaltura (com sinal). A altura com sinal nada mais é do que o produtointerno do “terceiro vetor” com o vetor unitário normal à base, com sentidoadequado. Ou seja,

(v × w) · u = det(u, v, w)= A(v, w)Pv×w(u),

onde A(v, w) é a área do paralelogramo de lados v e w.Sendo assim, o valor de ∥v × w∥ corresponde à área da base. Ou seja,

a área do paralelogramo de lados v e w. Por outro lado, |Pv×w(u)| é aaltura. Ou seja, a projeção de u na direção ortogonal à base. O sentido dev × w aponta para o lado do plano que corresponde a volumes positivos.Do outro lado do plano, temos os volumes negativos.

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 161

Figura 5.19: O vetor v × w tem direção ortogonal ao plano que contém v e w,e tem norma igual à área do paralelogramo de lados v e w.

Como Calcular o Produto VetorialJá sabemos que

det(u, v, w) = v1 det(e1, v, w) + v2 det(e2, v, w) + v3 det(e3, v, w).

Mas isso é exatamente o produto interno de v com o vetor a cujas j-ésimas coordenadas são aj = det(ej, v, w). Como existe um único vetorque representa

f : R3 → Ru 7→ det(u, v, w)

como um produto interno, temos que v × w = a. Ou seja,

v × w = (det(e1, v, w), det(e2, v, w), det(e3, v, w))= (det(e1, v, w),− det(v, e2, w), det(v, w, e3))

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Capítulo 5. Produto Interno e Determinante 162

O leitor é convidado a mostrar que

det(e1, v, w) =∣∣∣∣v2 w2

v3 w3

∣∣∣∣det(v, e2, w) =

∣∣∣∣v1 w1

v3 w3

∣∣∣∣det(v, w, e3) =

∣∣∣∣v1 w1

v2 w2

∣∣∣∣.

5.5 AplicaçõesPitágoras.

Equação da reta em r2. Equação do plano em r3. Plano que passa em3 pontos.

Distância entre retas em r2. Distância entre planos em r3.Planos paralelos contendo retas não concorrentes. Distância entre retas

em r3.

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Dicas e Respostas dos Exercícios

Dicas

Respostas

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