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IGREJA PRESBITERIANA DE SÃO CARLOS MINISTÉRIO DO ENSINO ESTUDO BÍBLICO QUINTA FEIRA EPÍSTOLA DE PAULO AOS EFÉSIOS Rev. Roberto Silva Fonseca INTRODUÇÃO À CARTA A carta aos Efésios é um resumo, muito elaborado, das boas novas do cristianismo e de suas implicações. Ninguém pode lê-la sem ver compelido a adorar a Deus e a ser desafiado a melhorar a sua vida cristã. Era a carta predileta de João Calvino. Barclay disse: “é a rainha das epístolas”. John Mackay falou: : “A este livro devo a minha vida.” E explicou como, em julho de 1903, tendo catorze anos de idade, experimentou através da leitura de Efésios um “arrebatamento juvenil na Região Montanhosa (da Escócia)” e fez “uma apaixonada manifestação a Jesus Cristo entre as rochas, à luz das estrelas”. Segue o seu relato pessoal do que aconteceu: “Vi um mundo diferente...Tudo era novo...Tive uma nova compreensão, novas experiências, novas atitudes perante as pessoas. Amei a Deus. Jesus Cristo veio a ser o centro de tudo...Tinha sido vivificado; eu estava realmente vivo”. John Mackay nunca perdeu o seu fascínio por Efésios. Quando foi convidado a fazer as Preleções na Universidade de Edimburgo, em janeiro de 1948, escolheu Efésios como tema. Deu às suas preleções o título A Ordem de Deus. Nelas, referiu-se a Efésios como sendo a “mais madura” e “a mais relevante, para o nosso tempo” de todas as obras de Paulo. Aqui, pois, temos “a essência destilada do cristianismo, o compêndio mais autorizado e mais completo da nossa fé cristã”. I.: O AUTOR Quatro epístolas são largamente aceitas, sem qualquer disputa séria, como obras paulinas clássicas. Essas epístolas são aos Romanos, aos Gálatas, e I e II Coríntios. São tão similares quanto a questões como estilo, vocabulário e características literárias de todos os tipos, e apresentam idéias e doutrinas tão parecidas, que praticamente nenhum erudito sério tem duvidado que todas elas tenham saído da mesma pena, e que o seu autor foi o apóstolo Paulo. Comumente, outras cinco epístolas são Colossenses, Filipenses, I e II Tessalonicenses e Filemon. A essas nove epístolas, a maioria dos estudiosos adicionam a presente epístola aos Efésios. Outros eruditos conservadores também acrescentam as chamadas epístolas “pastorais”, a saber, I e II Timóteo e Tito, ao mesmo tempo que muitos sábios eruditos, e quase todos os intérpretes liberais, acreditam que essas epístolas pastorais foram escritas posteriormente, pois refletiriam uma igreja cristã mais desenvolvida, embora seu autor ou autores tivessem usado o nome de Paulo, tendo incorporado, nas mesmas, idéias nitidamente paulinas. a.: Confirmação histórica. Embora fosse considerado um herege gnóstico, Márciom foi quem imprimiu o primeiro impulso óbvio para a formação do “cânon” do NT, em sua forma mais primitiva. Márciom rejeitava a autoridade do AT, mas aceitava dez epístolas paulinas, já que o apóstolo Paulo era o seu herói, bem como uma forma 1

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Introdução a epístola de Efésios

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Page 1: Introdução

IGREJA PRESBITERIANA DE SÃO CARLOSMINISTÉRIO DO ENSINOESTUDO BÍBLICO QUINTA FEIRAEPÍSTOLA DE PAULO AOS EFÉSIOSRev. Roberto Silva Fonseca

INTRODUÇÃO À CARTAA carta aos Efésios é um resumo, muito elaborado, das boas novas do cristianismo e de suas implicações.

Ninguém pode lê-la sem ver compelido a adorar a Deus e a ser desafiado a melhorar a sua vida cristã.Era a carta predileta de João Calvino. Barclay disse: “é a rainha das epístolas”. John Mackay falou: : “A

este livro devo a minha vida.” E explicou como, em julho de 1903, tendo catorze anos de idade, experimentou através da leitura de Efésios um “arrebatamento juvenil na Região Montanhosa (da Escócia)” e fez “uma apaixonada manifestação a Jesus Cristo entre as rochas, à luz das estrelas”. Segue o seu relato pessoal do que aconteceu: “Vi um mundo diferente...Tudo era novo...Tive uma nova compreensão, novas experiências, novas atitudes perante as pessoas. Amei a Deus. Jesus Cristo veio a ser o centro de tudo...Tinha sido vivificado; eu estava realmente vivo”.

John Mackay nunca perdeu o seu fascínio por Efésios. Quando foi convidado a fazer as Preleções na Universidade de Edimburgo, em janeiro de 1948, escolheu Efésios como tema. Deu às suas preleções o título A Ordem de Deus. Nelas, referiu-se a Efésios como sendo a “mais madura” e “a mais relevante, para o nosso tempo” de todas as obras de Paulo. Aqui, pois, temos “a essência destilada do cristianismo, o compêndio mais autorizado e mais completo da nossa fé cristã”.

I.: O AUTORQuatro epístolas são largamente aceitas, sem qualquer disputa séria, como obras paulinas clássicas. Essas

epístolas são aos Romanos, aos Gálatas, e I e II Coríntios. São tão similares quanto a questões como estilo, vocabulário e características literárias de todos os tipos, e apresentam idéias e doutrinas tão parecidas, que praticamente nenhum erudito sério tem duvidado que todas elas tenham saído da mesma pena, e que o seu autor foi o apóstolo Paulo. Comumente, outras cinco epístolas são Colossenses, Filipenses, I e II Tessalonicenses e Filemon. A essas nove epístolas, a maioria dos estudiosos adicionam a presente epístola aos Efésios. Outros eruditos conservadores também acrescentam as chamadas epístolas “pastorais”, a saber, I e II Timóteo e Tito, ao mesmo tempo que muitos sábios eruditos, e quase todos os intérpretes liberais, acreditam que essas epístolas pastorais foram escritas posteriormente, pois refletiriam uma igreja cristã mais desenvolvida, embora seu autor ou autores tivessem usado o nome de Paulo, tendo incorporado, nas mesmas, idéias nitidamente paulinas.

a.: Confirmação histórica.Embora fosse considerado um herege gnóstico, Márciom foi quem imprimiu o primeiro impulso óbvio para

a formação do “cânon” do NT, em sua forma mais primitiva. Márciom rejeitava a autoridade do AT, mas aceitava dez epístolas paulinas, já que o apóstolo Paulo era o seu herói, bem como uma forma mutilada do evangelho de Lucas, como o seu “cânon”, dos documentos sagrados. A igreja cristã, por causa disso, começou então a preparar o seu próprio “cânon”, utilizando-se do “cânon” básico de Márciom. O “cânon” neotestamentário do século II d.C. consistia essencialmente de dez das epístolas paulinas e os evangelhos. Não foi senão já nos fins do século IV d.C. que todos os vinte e sete livros que hoje conhecemos tivessem sido universalmente reconhecidos como o Novo Testamento autorizado.

Policarpo, que foi martirizado em 168 d.C., faz alusão a essa epístola, em sua própria epístola aos Filipenses (cap. 1o e 12o ). Isso nos mostra que essa epístola, desde os tempos mais remotos, antes mesmo dos anos da canonização dos livros neotestamentários, já usufruía de alto prestígio. Mais ou menos nesse tempo encontramos o cânon muratoriano, que dava testemunho sobre a autoridade desta epístola. Entre as igrejas para quem Paulo escreveu, esse citado “cânon” alista Éfeso em segundo lugar. Por igual modo, Irineu, que foi martirizado em 202 d.C., cita de forma definida a epístola aos Efésios. Clemente de Alexandria, por semelhante modo, acrescenta o seu testemunho sobre a autoridade dessa epístola e sobre sua autoria paulina. Orígenes, pouco mais tarde (254 d.C.), igualmente a menciona como de autoria paulina. Finalmente o historiador eclesiástico, Eusébio, cita a nossa epístola aos Efésios em sua homologoumena. Pode-se observar, portanto, que esta epístola aos Efésios desfruta de notável confirmação histórica, tanto como qualquer outro dos livros do NT.

b. A Crítica Moderna: Natureza do Problema.No entanto, nos tempos modernos, vários argumentos tem sido apresentados por alguns eruditos, contrários

à autoria paulina da epístola aos Efésios. Erasmo, contemporâneo de Lutero, e que foi o compilador do primeiro NT grego impresso, observou algumas peculiaridades de estilo da epístola aos Efésios, em contraste com outras epístolas paulinas; e isso lançou uma sombra de dúvida sobre essa epístola, como obra do apóstolo Paulo.

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Entretanto, não houve nenhuma dúvida verdadeira até o surgimento de Evanson, o deísta inglês, o qual publicou um livro sobre os evangelhos, no ano de 1782. Esse autor foi seguido rapidamente por numerosos outros críticos, como Usteri (1824), De Wette (1826). Baur e os seus discípulos rejeitaram a epístola aos Efésios como paulina, juntamente com Colossenses, porquanto encontraram ali alguns traços de gnosticismo, porquanto pensavam erroneamente que o gnosticismo só surgira depois dos tempos de Paulo. Desde os dias desses críticos, pois, tornou-se costumeiro, incluindo até mesmo alguns intérpretes conservadores, supor que a epístola aos Efésios não é de autoria paulina, ainda que muitos outros a tenham defendido como tal, a despeito disso, mantendo-a dentro da coletânea dos escritos sagrados paulinos. Abaixo oferecemos as principais objeções feitas contra a autoria paulina da epístola aos Efésios:

1.: Essa epístola não foi escrita para qualquer comunidade distinta, posto que as palavras “em Éfeso” não aparecem nos mais antigos manuscritos que possuímos. Não era costume de Paulo escrever uma epístola sem visar qualquer comunidade.

2.: Outrossim, essa epístola não visou qualquer “situação de vida real” em particular, nem qualquer necessidade eclesiástica, o que significa que lhe falta qualquer conexão geográfica ou histórica, característica essa definidamente não-paulina, conforme se pode averiguar pelo estilo de suas outras epístolas, reconhecidamente paulinas.

3.: Há vocabulário que não pertence ao vocabulário paulino. 82 vocábulos que não são utilizados em qualquer das outras epístolas paulinas.

4.: Há questões de estilo e de estrutura nas sentenças. Alguns estudiosos descobrem na epístola aos Efésios um temperamento diferente daquele que transparece nas epístolas reconhecidamente paulinas. Ao invés de sua expressão qual torrente, encontramos uma mente calma e ruminante.

5.: Há questões de expressões não-paulinas. Nesta epístola aos Efésios há uma forte inclinação para compostos, com a preposição grega “sun”(com), o que não pode ser observado em outras epístolas paulinas. Também há um número extraordinário de frases que contém a palavra grega “aion” (ver Efésios 1.21; 2.2,7 e 3.21), as quais não podem ser encontradas em outras epístolas paulinas. Além disso, outros eruditos vêem algumas palavras usadas noutras epístolas de Paulo que recebem um sentido não-paulino. Por exemplo: “Ta ethne” (as nações), que noutras epístolas significa “não-judeus”, nesta epístola aos Efésios significa “não-cristãos”. (ver Efésios 4.17).

6.: Alguns conceitos existentes nesta epístola aos Efésios, apesar de talvez se relacionarem a idéias paulinas, parecem ser desenvolvimentos que refletem um período posterior ao de Paulo. Há grande ênfase sobre a igreja cristã e pouca saliência posta sobre questões escatológicas. O estudo sobre a doutrina dos “dons espirituais”, diferente daquele que aparece na primeira epístola aos Coríntios, e a questão sobre a descida ao Hades (ver Efésios 4.8-10), não aparecem como temas paulinos em nenhuma outra porção dos escritos paulinos.

7.: A grande similaridade com a epístola aos Colossenses, sugere que esta epístola aos Efésios foi uma expansão com base naquela, feita por algum dos discípulos de Paulo, ou por alguém cujo herói era o apóstolo Paulo.

Aqueles que procuram defender a autoria paulina tradicional tem procurado responder a todas essas dificuldades, conforme se vê abaixo:

a.: Em resposta às razões 1 e 2, esses eruditos perguntam: Por que se pensaria que Paulo não poderia ter escrito uma epístola “circular”, não endereçada a qualquer comunidade em particular, não baseada em qualquer situação geográfica ou pastoral? Pois a verdade é que Paulo poderia ter escrito uma epístola geral, a fim de ensinar elevadas doutrinas, tendo-a enviado para uma localidade bem geral, como a Ásia Menor, com a esperança que a mesma receberia boa circulação entre as igrejas cristãs, tal como esperou que acontecesse às epístolas aos Colossenses e aos Laodicenses (ver Col. 4.16). Muito presumem aqueles que pensam saber tudo acerca do método e do caráter de Paulo, acerca dos seus hábitos, ou acerca de alguma decisão diversa que ele possa ter tido.

b.: O vocabulário não-paulino poderia ser explicado à base simples do assunto abordado por ele, nesta epístola aos Efésios, porquanto envolvia temas conhecidos por ele mas não ventilados em qualquer de suas demais epístolas, e que, envolviam, naturalmente, palavras diversas para expressá-los. A coletânea paulina total de 9 ou 10 epístolas, que a maioria dos estudiosos admite como paulina, dificilmente pode ser considerada como uma demonstração do vocabulário conhecido pelo apóstolo Paulo, como se ele só conhecesse essas palavras, dependendo das necessidades da ocasião. Isso responde à objeção número (3).

c.: A questão de estilo e da estrutura das sentenças, abordada na objeção de número 4, não é muito difícil para responder. Devemo-nos lembrar que a quantidade de material que temos em Efésios é muito pequena. A carta inteira pode ser lida facilmente em 20 minutos. A quantidade pequena de matéria simplesmente não oferece uma base adequada para os tipos de julgamentos que alguns estudiosos fazem concernentes a questões de estilo, vocabulário, termos, etc.

d.: As expressões não-paulinas: O que temos falado sob o ponto c também se aplica aqui. O corpo inteiro das cartas de Paulo, sendo relativamente pequeno, não pode representar todas as expressões possíveis do Apóstolo.

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e.: Os supostos conceitos não-paulinos, que supostamente seriam por demais “eclesiásticos” para a sua época, e que conteriam pouquíssimas idéias escatológicas, não formam uma objeção justa. Pois a epístola aos Colossenses frisa fortemente a doutrina da igreja; e não é razoável supormos que Paulo não pudesse enfatizar ainda mais esse tema, em uma ocasião posterior qualquer. Além disso, não há negligência pelo aspecto escatológico nesta epístola aos Efésios. Porquanto o grande e notável primeiro capítulo dessa epístola consiste principalmente de questões escatológicas. Outrossim, a questão da “descida ao Hades” era um pensamento comum naquela época, no seio da igreja cristã, conforme se pode ver nos trechos de 1 Pedro 3.18-20 e 4.6, tema esse igualmente aludido em Filipenses 2.9-11, embora ali não seja especificamente declarado. Ver a descida mencionada em Romanos 10.7. Isso responde à objeção de número 6.

f.: Há estudiosos que tem considerado a óbvia similaridade entre esta epístola aos Efésios e a de Colossenses, como uma prova em favor da autoria paulina, e não algo que milita contra a mesma. Pois isso pode sugerir-nos que, algum tempo depois de haver escrito a epístola aos Colossenses, em uma outra epístola, Paulo expandiu os temas que havia abordado naquela primeira. Isso responde à sétima e última dessas objeções.

II.: DATA E PROVENIÊNCIA

Se a epístola aos Efésios não foi escrita por Paulo, a sua proveniência não pode ser determinada, porquanto essa questão se torna impossível de ser investigada, já que para ela não teremos qualquer conexão histórica. Além disso, se ela não é de autoria paulina, não pode ter sido escrita antes de 90 a 92 d.C., mais ou menos na época em que se fazia a coleção dos escritos paulinos, os quais já usufruíam de intensa circulação na igreja cristã primitiva. Assim, pois, se a teoria de Goodspeed está correta, e não existe teoria melhor, ficando assim comprovado que essa epístola não é de autoria de Paulo, então a “epístola de apresentação”, que seria a nossa atual epístola aos Efésios, como já dissemos, mui provavelmente teria surgido depois da publicação e circulação da literatura lucana; e isso indicaria, quando muito, o fim do século I d.C., como o tempo da escrita desta epístola aos Efésios. As citações que aparecem nos escritos dos pais da igreja, entretanto, indicam que isso não poderia ter acontecido mais tarde que a primeira porção do século II d.C.

Por outro lado, se a nossa epístola aos Efésios é realmente paulina, fica óbvio que a mesma foi escrita ao mesmo tempo que as epístolas aos Colossenses e a Filemom. Na Epístola aos Colossenses, Onésimo, o escravo convertido que voltou à companhia de seu senhor, é mencionado como co-portador dessa epístola, juntamente com Tíquico. Isso não é dito na epístola aos Efésios; mas as circunstâncias parecem indicar que o envio da epístola aos Efésios teve lugar ou pouco antes ou pouco depois do envio da epístola aos Colossenses. A maioria dos estudiosos que atribuem a Paulo a autoria desta epístola aos Efésios, pensa que a mesma foi escrita pouco depois da epístola aos Colossenses, pensando que a mesma foi escrita em Roma, durante o período de aprisionamento descrito nos versículos finais do livro de Atos. Outros eruditos, contudo, atribuem-na a um período de aprisionamento anterior, em Cesaréia, descrito a partir do capítulo 23 de Atos. Isso fazia a carta ter sido escrita cerca de dois ou três anos antes. É bem provável que Paulo tenha chegado em Roma em cerca de 58 d.C., o que significaria que as epístolas que ele escreveu dali poderiam ser datadas em qualquer ponto, entre 58 e 60 d.C., supondo-se que ele foi aprisionado pela primeira vez por um período de dois anos ou pouco mais. (Ver Atos 28.30).

Podemos observar como Paulo, em Filemom 22, requer que Filemom lhe prepare um cômodo, em antecipação à visita que tencionava fazer para breves dias. Dificilmente Paulo poderia ter escrito tais palavras em Cesaréia, mas poderia tê-lo feito quando se aproximava o fim do período de seu aprisionamento na cidade de Roma, ou, pelo menos, na esperança de que seu aprisionamento terminaria dentro de poucos dias. Os trechos de Efésios 3.1; 4.1 e 6.20 identificam definitivamente essa epístola como missiva enviada da prisão. E o tradicional “primeiro aprisionamento romano” é uma boa idéia proposta pelos estudiosos para situar essa prisão, embora tal sugestão seja acompanhada de algumas dificuldades. No entanto, outros eruditos tem sugerido Éfeso como lugar onde foi escrita a epístola a Filemom, porquanto Paulo também foi aprisionado ali. A cidade de Colossos ficava nas proximidades e Paulo pode ter desejado estacionar ali algum tempo, antes de finalmente despedir-se de Éfeso, para fazer sua visita final à Macedônia e à cidade de Corinto. Ora, isso situaria o tempo da escrita da epístola a Filemom tão cedo como o verão de 54 d.C.

III.: PARA QUEM FOI ESCRITA? PROPÓSITOS.

A essa epístola faltam as saudações ordinárias e as referências pessoais que refletem situações locais. Por essa razão, muitos eruditos tem duvidado que essa epístola tivesse qualquer endereço certo, pensando que a mesma foi escrita como mera “epístola de apresentação”, por parte de algum dos discípulos íntimos de Paulo, a fim de restaurar o interesse pela literatura paulina. Mas outros estudiosos tem suposto que essa epístola foi uma circular, enviada às igrejas locais da Ásia Menor, que poderia ter incluído a de Éfeso; e, posto que a cidade de Éfeso era a mais importante daquela região, eventualmente essa epístola veio a ser chamada de “epístola aos Efésios”.

Para muitos estudiosos, as palavras que aparecem no primeiro versículo dessa epístola solucionam o problema de “para quem” essa epístola foi escrita. Infelizmente, porém, a questão não pode ser solucionada com

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essa facilidade; pois é fato inequívoco que a maioria dos manuscritos antigos não contém essas palavras. Essa ausência de qualquer endereço, no teor da própria epístola, tem provocado muita discussão e controvérsia.

Essa epístola foi enviada segundo nos parece certo, à igreja cristã universal, uma sociedade de âmbito mundial, e não local, a saber, “aos santos e fiéis em Cristo Jesus”, sem importar se foi o apóstolo Paulo ou outro qualquer que a escreveu.

Quais foram os propósitos dessa epístola?São discutidas questões importantes para a igreja inteira.Um dos propósitos centrais dessa epístola é a de salientar esse elevadíssimo destino dos remidos,

apresentando as várias aplicações desse conceito, no que diz respeito ao andar cristão diário.É evidente, na própria epístola, que se caracteriza por sua elevada Cristologia, que Paulo combatia alguma

forma do gnosticismo, tal como se verifica também no caso da epístola aos Colossenses. A epístola aos Efésios deve ser classificada entre as “epístolas que combatem heresias”, o que significa

simplesmente que um de seus propósitos era apologético.

IV.: TEMAS CENTRAIS

1.: Cristo Jesus é aquele que preenche tudo em todos, sendo esse o seu tema principal e central. (Cristologia).

2.: A criação inteira, está relacionada a Cristo, e, de uma maneira ou de outra, encontra nele o seu alvo e o seu propósito de ser.

3.: Eleição (2 capítulo).4.: Redenção Geral 5.: Os Mistérios: a. Unidade universal (1.10), b. a Igreja, c. a Igreja como a noiva de Cristo, d. O mistério

do Evangelho (6.19), e. Deus como Pai (1.2;2.4;5; 3.13,15), f. O Espírito Santo (toda epístola).

ESBOÇO

I.: INTRODUÇÃO (1.1-23a. Saudação (1.1,2)b. Louvor pelo propósito de Deus e pelas bênçãos em Cristo (1.3-14)c. Oração pedindo a Iluminação divina (1.15-23)

II.: VIDA EM CRISTO (2.1 – 3.21)a. Nova vida a partir da morte (2.1-10)b. A reconciliação de judeus e gentios (2.11-22)c. O privilégio da proclamação (3.1-13)d. Oração renovada (3.14-21)

III.: UNIDADE NO CORPO DE CRISTO (4.1-16)a. Mantendo a unidade (4.1-6)b. O santo ministério e o serviço dos santos (4.7-16)

IV.: PADRÕES PESSOAIS (4.17 –5.21) a. Nova vida em lugar da vida anterior (4.17-24)b. Verdade e amor em lugar de falsidade e amargura (4.25 – 5.2)c. Luz em lugar das trevas (5.3-14)d. Sabedoria em lugar da insensatez (5.15-21)

V.: RELACIONAMENTOS (4.22 –6.9)a. Maridos e esposas (5.22-33)b. Filhos e pais (6.1-4)c. Servos e senhores (6.5-9)

VI.: CONCLUSÃO (6.10-24)a. O conflito cristão (6.10-20)b. Mensagem final e saudação (6.21-24)

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