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Instituto Politécnico de Coimbra Instituto Superior de Engenharia Intervenções de Manutenção na Linha de Fabrico de Cimento Branco OPTIMIZAÇÃO DO BRITADOR DE CLÍNQUER Luís Miguel Agostinho Henriques Relatório de Estágio para obtenção do Grau de Mestre em Equipamentos e Sistemas Mecânicos COIMBRA 2010

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Instituto Politécnico de Coimbra

Instituto Superior de Engenharia

Intervenções de Manutenção na Linha de Fabrico

de Cimento Branco OPTIMIZAÇÃO DO BRITADOR DE CLÍNQUER

Luís Miguel Agostinho Henriques

Relatório de Estágio para obtenção do Grau de Mestre em Equipamentos e Sistemas Mecânicos

COIMBRA

2010

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Instituto Politécnico de Coimbra

Instituto Superior de Engenharia

Intervenções de Manutenção na Linha de Fabrico

de Cimento Branco OPTIMIZAÇÃO DO BRITADOR DE CLÍNQUER

Orientadores:

Luís Filipe Pires Borrego

Professor Coordenador, ISEC

Carlos Alberto do Carmo Coelho Rebelo

Professor Adjunto, ISEC

Supervisor de Estágio na Empresa:

Nuno Filipe Fonseca Nogueira Serens

Director de Manutenção, SECIL

Luís Miguel Agostinho Henriques

Relatório de Estágio para obtenção do Grau de Mestre em

Equipamentos e Sistemas Mecânicos

COIMBRA

2010

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Dedicatória

Aos meus pais, irmão e irmã

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Agradecimentos

Este trabalho só foi possível com o apoio e colaboração de inúmeras pessoas a quem

quero agradecer, das quais destaco o Professor Carlos Rebelo e o Professor Luís Borrego pela

orientação do estágio realizado, e o Engenheiro Nuno Serens, pela sua supervisão técnica e

prática, pela compreensão e disponibilidade demonstrada, pelo esforço desenvolvido e por

todos os ensinamentos relativos ao mundo cimenteiro que em muito contribuíram para a

minha formação.

Agradeço ao Engenheiro João Pereira, na actual Direcção de Produção da fábrica Cibra,

pelos meios proporcionados ao desenvolvimento das minhas competências e queria

igualmente agradecer a atenção e simpatia com que me receberam, sem excepção, todos os

colaboradores.

Manifesto especiais agradecimentos aos Engenheiros Luís Costa, Michael Mendonça,

Fernando Vitorino, Lucas, Filipe Santos, Mendes Silva, José Gouveia, Vasco Castela, Márcio

Figueiredo e ao Srs. Agnelo Ferreira, Hélder Frazão, José Claro, Carlos Salvador, Adriano

Fachada e António Gil pela partilha de informação, pela disponibilidade, pelo espírito de

equipa e colaboração técnica que demonstraram, pois esse apoio foi imprescindível para a

execução deste trabalho.

Para terminar, um grande agradecimento aos meus pais, irmão, irmã, namorada e

restantes familiares pelo apoio incondicional, que permitiram criar condições à realização

deste trabalho.

A todos um bem-haja.

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Resumo

No âmbito do estágio integrante do Mestrado em Equipamentos e Sistemas Mecânicos,

Área de Especialização em Construção e Manutenção de Equipamentos Mecânicos, do

Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, foi desenvolvido um trabalho de Optimização

do Britador de Clínquer Branco.

Este trabalho tem como base o estudo de um dos equipamentos de vital importância na

linha de fabrico de cimento branco da fábrica Cibra-Pataias, onde o estágio foi realizado.

O estudo apresentado incide num problema de perdas de produção significativas devidas

à falha do britador de clínquer branco. O referido equipamento apresenta um elevado número

de falhas em serviço e consequentemente provoca perdas de produção significativas. O

problema atinge também uma dimensão elevada no que respeita aos tempos de reparação,

reposição do processo produtivo e custos associados.

Palavras-chave: cimento branco; manutenção; britador de clínquer.

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Abstract

Within the internship of the Master in Mechanical Equipments and Systems,

Specialization in Construction and Maintenance of Mechanical Equipments, of Instituto

Superior de Engenharia de Coimbra, a process of Optimization of the White Clinker Crusher

was developed.

This work is based on a study of vital importance equipment in the production line of

white cement factory in Cibra-Pataias, where this internship was performed.

The present study focuses on a problem of significant production losses due to failure of

the white clinker crusher. This equipment presents a high number of failures in service, which

leads to significant production losses. The problem is also important in regard to the time of

repair, replacement of the production process and associated costs.

Keywords: white cement; maintenance; optimization, clinker crusher

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Índice

Lista de Figuras xii

Lista de Tabelas xv

1 Introdução 1

1.1 Âmbito e objectivo do estágio 1

1.2 Plano de trabalhos 2

1.3 Estruturação do relatório de estágio 3

2 Indústria Cimenteira 5

2.1 O cimento 5

2.2 Indústria cimenteira em Portugal 6

2.3 Secil 7

2.4 Cibra 8

2.5 Enquadramento da Manutenção 10

3 Fabrico de Cimento na Fábrica Cibra 11

3.1 Extracção das Matérias-Primas 13

3.2 Preparação das Matérias-Primas 14

3.2.1 Transporte, armazenamento e homogeneização 14

3.2.2 Moagem de cru 15

3.3 Processo de Clinquerização 17

3.3.1 Clínquer cinzento 17

3.3.2 Clínquer branco 18

3.4 Moagem e Armazenagem de Cimento 19

3.5 Embalagem e expedição de cimento 20

3.6 Diferenças Entre os Processos de Fabrico de Cimento Cinzento e Branco 20

4 Equipamentos Integrantes da Linha de Fabrico de Cimento Branco 21

4.1 Extracção das matérias-primas 21

4.1.1 Britador primário 21

4.2 Preparação das Matérias-Primas 25

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x

4.2.1 Transporte 25

4.2.2 Armazenamento 25

4.2.3 Matérias-primas secundárias 27

4.2.4 Moagem de cru 29

4.3 Processo de Clinquerização 33

4.3.1 Balança de alimentação de cru 35

4.3.2 Prato granulador 35

4.3.3 Grelha Lepol 36

4.3.4 Forno 37

4.3.5 Queimador 38

4.3.6 Britador de clínquer 39

4.3.7 Tambor redutor 39

4.4 Moagem de cimento 40

4.4.1 Transporte metálico 40

4.4.2 Elevador de clínquer 41

4.4.3 Moinho de cimento 42

4.5 Embalagem de Cimento 43

4.5.1 Ensacadeira de cimento branco 43

4.5.2 Paletizadora 44

5 Britador de Clínquer Branco 45

5.1 Britador de rolos 45

5.2 Componentes do britador de clínquer branco 46

5.2.1 Aro de ligação ao cabeçote 46

5.2.2 Funil superior 48

5.2.3 Tampa superior 48

5.2.4 Protecção dos veios dos rolos 49

5.2.5 Veios 50

5.2.6 Rolo de compressão 50

5.2.7 Vedação entre funil superior e a tampa superior 51

5.2.8 Tampa inferior 51

5.2.9 Funil inferior 51

5.2.10 Sistema de Accionamento 52

5.3 Condições de operação 52

5.4 Concepção do britador 54

5.5 Problemas verificados após operação e suas causas 55

6 Optimização do britador de clínquer branco 63

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6.1 Alterações ao nível do corpo do britador 63

6.2 Alterações ao nível do sistema de tratamento da água do britador 75

7 Análise de custos 79

8 Conclusões 83

9 Referências 85

10 Anexos 87

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Lista de Figuras

Fig. 2.1 – Fábrica da Maceira 7

Fig. 2.2 – Fábrica do Outão 8

Fig. 2.3 – Fábrica Cibra 9

Fig. 3.1 – Linha de produção de cimento branco 12

Fig. 3.2 – Linha de produção de cimento cinzento 12

Fig. 3.3 – Pedreiras de calcários e argilas (à esquerda) e de calcário branco (à direita) 13

Fig. 3.4 – Matérias-primas secundárias: ladrilhos (à esquerda) e loiças (à direita) 13

Fig. 3.5 – Parque circular de pré-homogeneização da matéria-prima do cimento cinzento 15

Fig. 3.6 – Moinho de bolas e esquema de funcionamento 16

Fig. 3.7 – Interior de um silo de armazenagem de cru 16

Fig. 3.8 – Forno da linha de cimento cinzento 18

Fig. 3.9 – Paletes plastificadas de cimento branco 20

Fig. 4.1 – Britador primário de martelos 22

Fig. 4.2 – Representação esquemática do funcionamento de um britador de martelos 22

Fig. 4.3 – Diversos formatos de martelos (em cima) e martelo bimetálico (em baixo) 24

Fig. 4.4 – Grelhas do britador 24

Fig. 4.5 – Telas transportadoras 25

Fig. 4.6 – Silos de armazenamento de calcário branco: exterior (à esquerda) e base (à direita) 26

Fig. 4.7 – Doseadoras de calcário branco 26

Fig. 4.8 – Preparação das natas de mármore (à esquerda) e esteira e desagregador (à direita) 27

Fig. 4.9 – Balança doseadora de natas de mármore 28

Fig. 4.10 – Silo de areia branca 28

Fig. 4.11 – Balança doseadora de caulino 29

Fig. 4.12 – Alimentação das matérias-primas à moagem de cru 30

Fig. 4.13 – Britador secador da moagem de cru 30

Fig. 4.14 – Moinho de cru 31

Fig. 4.15 – Elevador de saída do moinho de cru 31

Fig. 4.16 – Separador da moagem de cru 32

Fig. 4.17 – Silos de cru 32

Fig. 4.18 – Sinóptico do forno de branco 34

Fig. 4.19 – Balança doseadora de cru (à esquerda) e pormenor do tapete de cru (à direita) 35

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Fig. 4.20 – Prato granulador (à esquerda) e grânulos formados (à direita) 36

Fig. 4.21 – Grelha Lepol (à esquerda) e grelha (à direita) 36

Fig. 4.22 – Interior da grelha Lepol 37

Fig. 4.23 – Forno de branco 37

Fig. 4.24 – Aplicação de tijolo refractário no interior do forno 38

Fig. 4.25 – Queimador do forno de branco 39

Fig. 4.26 – Exterior do tambor redutor (à esquerda) e segunda câmara (à direita) 40

Fig. 4.27 – Transporte metálico (à esquerda) e clínquer à saída do tambor redutor (à direita) 41

Fig. 4.28 – Elevador de clínquer 41

Fig. 4.29 – Formas de gesso (à esquerda) e balança doseadora de gesso (à direita) 42

Fig. 4.30 – Moinho de cimento branco 43

Fig. 4.31 – Ensacadeira de cimento branco (à esquerda) e bica de enchimento (à direita) 43

Fig. 4.32 – Formação da camada (à esquerda) e formação da palete (à direita) 44

Fig. 5.1 – Britador de rolos simples (à esquerda) e britador de rolos duplos (à direita) 45

Fig. 5.2 – Britador de rolos 46

Fig. 5.3 – Aro de ligação ao cabeçote 47

Fig. 5.4 – Cabeçote do forno e queimador 47

Fig. 5.5 – Funil superior e tampa superior 49

Fig. 5.6 – Protecção dos veios dos rolos 49

Fig. 5.7 – Montagem de um rolo de compressão no veio 50

Fig. 5.8 – Vedação entre funil superior e tampa superior 51

Fig. 5.9 – Funil inferior 52

Fig. 5.10 – Incrustações e grânulos no interior do forno de cimento branco 53

Fig. 5.11 – Posição do britador de clínquer relativamente ao forno 55

Fig. 5.12 – Arrancamento do revestimento nas arestas do dente 56

Fig. 5.13 – Arrancamento completo do revestimento na superfície do dente 56

Fig. 5.14 – Fenómeno de fissuração a frio na superfície do rolo de compressão 57

Fig. 5.15 – Desunião do revestimento com o metal de base 58

Fig. 5.16 – Heterogeneidade na transição entre tijolos 59

Fig. 5.17 – Parafusos de fixação do tijolo refractário 60

Fig. 5.18 – Precipitação de calcário no britador de clínquer 60

Fig. 6.1 – Superfície do rolo após preparação 63

Fig. 6.2 – Microestruturas do cordão DO*390N com escala de 20 µm (à esquerda) e 5 µm (à

direita) 68

Fig. 6.3 – Superfície lisa do dente do rolo revestido e sem fissuração a frio apresentando

microfissuras anti-tensões 69

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Fig. 6.4 – Perfil arredondado do dente 70

Fig. 6.5 – Corte longitudinal do conjunto do rotor 71

Fig. 6.6 – Presença de calcário à saída do veio 71

Fig. 6.7 – Técnica de estanhagem (à esquerda) e técnica de estanhagem com soldadura em

multipasses (à direita) 72

Fig. 6.8 – Sequência de soldadura com “passo de peregrino” 73

Fig. 6.9 – Efeito de batimento dos cordões 73

Fig. 6.10 – Protecção dos veios dos rolos revestida a betão 74

Fig. 6.11 – Funil superior com betão refractário 75

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Lista de Tabelas

Tabela 2.1 – Cronograma do Plano de Estágio 2

Tabela 5.1 – Composição química do tijolo Refracta R2000 48

Tabela 5.2 – Composição química do eléctrodo Castolin DO*33 57

Tabela 6.1 – Composição química do aço dos rolos de compressão 65

Tabela 6.2 – Composição química do eléctrodo Castolin DO*390N 66

Tabela 6.3 – Resultado comparativo do teste ASTM G65 para as ligas DO*33 e DO*390N 67

Tabela 6.4 – Dureza da água 76

Tabela 7.1 – Custo dos combustíveis de aquecimento do forno 79

Tabela 7.2 – Análise do custo diário de não produção 80

Tabela 7.3 – Custos totais associados a uma paragem não programada de cinco dias 81

Tabela 8.1 – Soluções apresentadas para os problemas do britador de clínquer 83

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1 Introdução

1.1 Âmbito e objectivo do estágio

Para muitas organizações, entre as quais se encontra a Cibra, é importante responder à

pressão competitiva global, procurando aumentar as suas produtividades, maximizando a

eficácia total do equipamento e assegurando um programa de manutenção eficiente.

O conceito de Manutenção tem evoluído e continua a evoluir no tempo e,

consequentemente, dentro de cada organização.

A Manutenção assume um papel determinante visto ser essencial para garantir a

operacionalidade dos equipamentos utilizados nos processos produtivos, influenciando de

forma significativa o nível de qualidade dos bens produzidos e os custos de produção.

Uma manutenção planeada, que actua no momento exacto, maximizando os meios de

produção, é por excelência o modelo ideal para a minimização dos custos de manutenção

inerentes. Por um lado, maximizando a utilização dos equipamentos, por outro, minimizando

os custos causados por paragens imprevistas ou mesmo por intervenções e substituições

desnecessárias.

Com este trabalho pretende-se dar um contributo válido na melhoria das acções

correctivas e preventivas da manutenção, de modo a alcançar resultados de disponibilidade

superiores aos actuais, e desta feita, chegar a objectivos ansiados pelos departamentos de

manutenção e produção da Cibra.

O presente estágio insere-se no âmbito do Mestrado de Equipamentos e Sistemas

Mecânicos do Instituto de Engenharia de Coimbra e tem por objectivos: aprofundar a

formação académica em contexto de trabalho; contactar com diversos tipos de equipamentos

mecânicos e diferentes procedimentos utilizados na sua manutenção; possibilitar o

desenvolvimento de competências ao nível da resolução de problemas complexos,

nomeadamente através da integração nas actividades de manutenção dos equipamentos

mecânicos e ao participar no projecto de optimização do funcionamento do britador de

clínquer branco da Fábrica Cibra-Pataias, pertencente à empresa CMP – Cimentos Maceira e

Pataias, S.A. (grupo SECIL).

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2

Na Fábrica Cibra-Pataias, um dos equipamentos sujeito a condições de funcionamento

mais adversas e que tem requerido frequentes intervenções de manutenção, constituindo

mesmo um elemento crítico na linha de produção é o britador de clínquer branco.

Assim, o principal objectivo do presente trabalho é optimizar o britador de clínquer

branco mediante alterações à construção e condições de funcionamento deste, tendo em conta

o seu papel vital na linha e procurando evitar a sua falha com inevitáveis custos associados.

1.2 Plano de trabalhos

Para que se possa melhorar este equipamento foi definido um plano de estágio cujas fases

visam obter as informações necessárias para o correcto procedimento de optimização. O plano

de estágio compreendeu as seguintes fases:

Fase 1 - Conhecimento do processo de fabrico do cimento

Fase 2 - Análise do funcionamento dos equipamentos integrantes da linha de fabrico de

cimento branco

Fase 3 - Análise detalhada do funcionamento do britador de clínquer branco

Fase 4 - Projecto de optimização mecânica do britador de clínquer branco

Fase 5 - Elaboração do relatório final de estágio

O cronograma seguinte expõe a distribuição temporal das fases contidas no plano de

estágio.

Tabela 2.1 – Cronograma do Plano de Estágio

Mês Dez.09 Jan.10 Fev.10 Mar.10 Abr.10 Mai.10 Jun.10 Jul. 10 Ago.10 Set.10

N.º horas 80 175 160 175 175 175 175 175 95 175

Fase 1

Fase 2

Fase 3

Fase 4

Fase 5

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1.3 Estruturação do relatório de estágio

O presente relatório está estruturado em 8 capítulos.

No presente capítulo (capítulo 1) pretende-se dar a conhecer o fundamento deste estudo e

apresentar genericamente o trabalho desenvolvido. São apresentados o âmbito e objectivo e a

própria estrutura do relatório de estágio.

No capítulo 2 faz-se uma breve introdução ao tema “Cimento”. Assim, é feito o

enquadramento deste produto e são apresentadas as empresas Secil e Cibra. Faz-se também

um enquadramento da Manutenção.

No capítulo 3 descrevem-se os processos de fabrico dos cimentos cinzento e branco de

acordo com as suas principais fases.

No capítulo 4 descrevem-se com maior detalhe os equipamentos que integram a linha de

fabrico de cimento branco sendo esta descrição acompanhada com um breve resumo às

práticas de manutenção desenvolvidas pelos profissionais da manutenção.

No capítulo 5 explicam-se o princípio de funcionamento e condições de operação do

britador de clínquer branco. Expõem-se as principais ideias consideradas na concepção do

britador, os problemas verificados após operação e as suas causas.

No capítulo 6 descreve-se e apresenta-se a aplicação do tema propriamente dito, isto é, a

aplicação prática da análise das falhas do britador. Podem-se encontrar neste capítulo as

alterações implementadas com intuito de optimizar o britador de clínquer por forma a obter

melhorias significativas da sua disponibilidade.

No capítulo 7 evidencia-se a importância de evitar a falha do britador de clínquer através

da determinação dos custos de oportunidade associados àquele acontecimento.

No capítulo 8 faz-se a análise do trabalho desenvolvido, são enunciadas algumas

conclusões e perspectivas de trabalho futuro neste âmbito.

Após o capítulo 8 seguem-se as referências bibliográficas, que contemplam as fontes

pesquisadas e que serviram de base à fundamentação e desenvolvimento da dissertação.

No final deste trabalho é apresentado um conjunto de anexos, onde se encontram os

desenhos de construção mecânica do britador e fichas técnicas de alguns dos materiais

referidos durante este trabalho.

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Importa, nesta fase, referir que a descrição dos equipamentos integrantes da linha de

fabrico de cimento branco e, principalmente, a descrição do próprio processo de fabrico de

cimento branco não são do senso comum, existindo confidencialidade em relação a esta

temática, pelo que, carece de algum cuidado na sua abordagem tendo esta apenas a

profundidade necessária à compreensão do trabalho desenvolvido.

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2 Indústria Cimenteira

Neste capítulo é efectuado um pequeno enquadramento do cimento, da indústria

cimenteira em Portugal, das empresas Secil e Cibra e da função manutenção elucidando sobre

a sua aplicabilidade neste tipo de indústria.

2.1 O cimento

A necessidade em encontrar melhor e maior segurança e consequente durabilidade para

as construções, leva a que o Homem prossiga ao longo dos tempos numa experimentação de

diversos materiais aglomerantes. Conforme relatos longínquos, os romanos chamavam esses

materiais de "caementum", termo que posteriormente originou a palavra cimento.

Em 1756 um engenheiro de nome John Smeaton, enquanto procurava um material

aglomerante que se tornasse resistente mesmo na presença de água e que viesse a facilitar o

trabalho de reconstrução do farol de Edystone, na Inglaterra, verificou nas suas várias

tentativas, que uma mistura calcinada de calcário e argila se tornava, depois de seca, tão

resistente quanto as pedras então utilizadas nas construções.

No entanto a afirmação e consolidação desta descoberta, pertence a um pedreiro, Joseph

Aspdin, que em 1824, requere o registo da patente deste produto, ao qual atribuirá a

designação de cimento Portland, numa referência à Portlandstone, tipo de pedra arenosa

frequentemente usada em construções na região de Portland em Inglaterra.

No pedido de patente comprova e faz constar que o calcário era moído com argila, em

meio húmido. A água era então, evaporada pela exposição ao sol ou por irradiação de calor

através de um cano com vapor. Os blocos da mistura seca eram calcinados em fornos e depois

moídos bem finos, dando lugar a uma espécie de argamassa.

Após patenteado, o cimento Portland desencadeia uma verdadeira e desenvolta revolução

na construção, muito particularmente pelo conjunto inédito das suas propriedades,

nomeadamente as resistências aos esforços e por ser obtido a partir de matérias-primas

relativamente abundantes e disponíveis na natureza.

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A preocupação dos arquitectos e projectistas aliado a modernos métodos de cálculo e o

empenho dos construtores impulsionaram o avanço das tecnologias do cimento, as quais

possibilitam ao homem transformar o meio em que vive, conforme as suas necessidades, e

atendendo cada vez mais a uma exigência de melhoria nas edificações. A descoberta de novos

aditivos, que numa constante procura de uma melhoria que se pretende, possibilitam a

obtenção de um produto de alto desempenho e superior aceitação no consumidor, o qual

encontra naquele uma resistência à compressão até 10 vezes superiores às até então admitidas

nos cálculos das estruturas dos edifícios.

Obras cada vez mais arrojadas e indispensáveis, que propiciam conforto, bem-estar

(barragens, pontes, viadutos, edifícios, estações de tratamento de água, rodovias, portos e

aeroportos) e o contínuo surgimento de novos produtos e aplicações fazem do cimento um dos

produtos mais consumidos da actualidade, conferindo uma dimensão estratégica à sua

produção e comercialização.

2.2 Indústria cimenteira em Portugal

Segundo Gonçalves [2005] em Portugal, a primeira fábrica de cimento surgiu em 1866,

segundo parece, localizada em Alcântara. Esta e outras duas que se lhe seguiram, devido a

dificuldades económicas e à má qualidade do cimento produzido tiveram vida efémera. Em

1894 foi concedido alvará para a montagem da fábrica de Alhandra, que mais tarde, pelas

mesmas razões, teve de ser encerrada, reabrindo em 1912.

Em 1906 surge a fábrica de Outão, com o nome de "Compagnie de Ciments du Portugal",

sendo em 1918 vendida e dando origem à "Companhia Geral de Cal e Cimento” que, em 1925

aluga as suas instalações à “Sociedade de Empreendimentos Comerciais e Industriais

Limitada”: estava criada a marca SECIL.

Em 1975 ocorreu a nacionalização da indústria cimenteira.

Em 1976 constitui-se a CIMPOR - Cimentos de Portugal, E.P. e em 1991 constitui-se

como sociedade anónima, passando a designar-se CIMPOR - Cimentos de Portugal, S.A.

Em 1991 é feita a constituição da SEMAPA com o objectivo de concorrer à

reprivatização das empresas "Secil – Companhia Geral de Cal e Cimento, S.A." e "CMP –

Cimentos Maceira e Pataias, S.A.".

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Em Junho de 1994 a SEMAPA foi vencedora do concurso de reprivatização, tendo

adquirido 51% da "Secil – Companhia Geral de Cal e Cimento, S.A." e 80% da "CMP –

Cimentos Maceira e Pataias, S.A." e em Novembro do mesmo ano, a SEMAPA vende à Secil

80% da CMP.

Em suma, neste momento, operam em Portugal duas empresas cimenteiras, a Cimpor e a

Secil, que exploram seis fábricas de cimento, com uma capacidade total de produção de

cimento superior a 10 milhões de toneladas/ano. A Cimpor explora as fábricas de Souselas,

Alhandra e Loulé enquanto que a Secil explora as fábricas de Maceira, Pataias e Outão.

2.3 Secil

Um conjunto de cerca de 40 empresas constitui hoje o Universo SECIL, sendo a fábrica

Cibra-Pataias uma unidade industrial de grande importância, onde são produzidos os cimentos

branco e cinzento da marca Cibra.

A produção de cimento é o núcleo da actividade da Secil, que integra, além da fábrica de

Pataias, mais duas fábricas em Portugal: uma em Maceira (Fig. 2.1) e outra no Outão (Fig.

2.2) – onde a Secil teve origem há quase um século atrás.

Fig. 2.1 – Fábrica da Maceira

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Fig. 2.2 – Fábrica do Outão

Secil, Maceira-Liz e Cibra são as três marcas de cimento que a empresa actualmente

comercializa e cuja produção é feita sob um apertado controlo de fabrico, de modo a manter

altos padrões de qualidade que as certificações nacionais e internacionais exigem.

A Secil orgulha-se de ter vindo a merecer a confiança contínua dos seus clientes, fruto da

qualidade do que produz e dos serviços que presta, particularmente através de uma assistência

técnica muito activa. Orgulha-se também do modo como assume a sua responsabilidade

social, ao empenhar-se na manutenção de um justo equilíbrio entre a eficácia da sua

actividade económica e a preservação do meio ambiente em que actua.

2.4 Cibra

Em 1944, numa época em que a produção de cimento era manifestamente insuficiente

para as necessidades existentes e as indústrias de mosaico hidráulico eram obrigadas a

importar do estrangeiro o cimento branco de que necessitavam, nasce a CIBRA – Companhia

Portuguesa de Cimentos Brancos, S.A.R.L.

A Cibra instalou-se em Pataias decidida a tirar partido das vantagens naturais da região,

cuja pedra e areias apresentavam a qualidade necessária ao fabrico daquele tipo de cimento e

já tinham justificado a fabricação, na zona, do único ligante utilizado na construção do

Mosteiro de Alcobaça.

Inaugurada em 5 de Fevereiro de 1950, a primeira linha de fabrico de cimento branco era

constituída por um forno rotativo e pelos demais equipamentos complementares, necessários

ao fabrico daquele tipo de cimento.

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A produção de cimento branco é um processo complexo e, ao mesmo tempo, estimulante,

face aos enormes desafios que decorrem de uma grande exigência de qualidade, não só nos

parâmetros tradicionais do produto, como sejam as resistências à compressão e flexão, mas

também nas características estéticas que justificam a procura deste material, essencialmente

traduzidas nos seus níveis de brancura e reflectância.

Trata-se de um processo produtivo cujo êxito depende da qualidade das matérias-primas

e também da qualidade profissional dos técnicos que o controlam, exercida de modo

persistente e de uma permanente ambição de superar os níveis atingidos.

A notável evolução que a qualidade do cimento branco Cibra® conheceu nos últimos

anos constitui um claro reconhecimento dessa qualidade profissional.

Assumindo as mais variadas texturas e cores, depois de pigmentado, o cimento branco

pode contribuir significativamente para a qualidade estética da obra arquitectónica, de que são

exemplo a Torre do Tombo, o Pavilhão do Conhecimento dos Mares, a Basílica de Fátima, a

Casa da Música e a Casa das Histórias de Paula Rego.

A Fábrica Cibra (Fig. 2.3) é a única fábrica de cimento em Portugal que se dedica à

produção de cimento branco.

As exigências de fabrico deste tipo de produto colocam-se não só ao nível da qualidade

da matéria-prima utilizada, mas também em termos do funcionamento adequado de toda a

linha de produção, revestindo-se de particular importância a manutenção de todos os

equipamentos mecânicos.

Fig. 2.3 – Fábrica Cibra

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2.5 Enquadramento da Manutenção

De acordo com Ferreira [1998], todos os parques de equipamentos estão sujeitos a

deterioração. Para garantir que uma instalação assegure as funções para que foi projectada e

realizada é necessário que as suas instalações e equipamentos sejam mantidos nas condições

adequadas de funcionamento. Para isso devem realizar-se reparações às máquinas, inspecções,

intervenções preventivas, substituições de órgãos e peças, mudanças de óleo, limpezas,

pinturas, correcção de defeitos, fabricação de componentes para substituição de outros já

gastos, etc. Ao conjunto destas e outras acções designamos por procedimentos de

manutenção.

Assim, pode definir-se Manutenção como o conjunto de acções destinadas a assegurar o

bom funcionamento dos equipamentos e instalações, garantindo que são sujeitas a

intervenções oportunas e com o alcance adequado, de forma a evitar a sua avaria ou a

diminuição de rendimento e, no caso de tal acontecer, que sejam repostas em boas condições

de operacionalidade com a maior brevidade, tudo a um custo global optimizado.

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3 Fabrico de Cimento na Fábrica Cibra

Neste capítulo é efectuada a exposição sumária dos processos de fabrico dos cimentos

cinzento e branco na fábrica Cibra e enunciadas as principais diferenças entre estes.

A informação contida e descrita ao longo deste capítulo foi fornecida, na sua maioria,

pela Secil sobre a forma de documentação interna diversa, tais como fichas técnicas,

catálogos, manuais e livros técnicos.

As operações do processo de produção de cimento agrupam-se sumariamente, nas

seguintes fases:

Extracção das matérias-primas;

Preparação das matérias-primas;

Clinquerização;

Moagem de cimento;

Embalagem e expedição de cimento.

Existem, no entanto algumas diferenças entre os processos de fabrico de cimento branco

e cinzento. A Fig. 3.1 e a Fig. 3.2 representam a linha de produção de cimento branco e a

linha de produção de cimento cinzento, respectivamente.

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Fig. 3.1 – Linha de produção de cimento branco

Fig. 3.2 – Linha de produção de cimento cinzento

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3.1 Extracção das Matérias-Primas

As matérias-primas extraídas das pedreiras são os calcários e as argilas (no caso do

cimento branco somente calcário branco). A exploração das pedreiras é feita a céu aberto, por

patamares, como mostra a Fig. 3.3, sendo efectuado o desmonte com explosivos,

criteriosamente aplicados de modo a minimizar as vibrações.

Fig. 3.3 – Pedreiras de calcários e argilas (à esquerda) e de calcário branco (à direita)

A minimização do impacte visual é feita através da recuperação paisagística das frentes

finalizadas, havendo a preocupação em diminuir a utilização dos recursos naturais, recorrendo

à incorporação de matérias-primas secundárias, tais como, lamas de cal, resíduos de fabrico

de peças cerâmicas, representadas na Fig. 3.4 (tijolos, ladrilhos, telhas, loiças), moldes fora de

uso, betão, areias de fundição, granalha usada, tijolo refractário usado, entre outros.

Fig. 3.4 – Matérias-primas secundárias: ladrilhos (à esquerda) e loiças (à direita)

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As matérias-primas do cimento cinzento devem conter, em determinadas proporções,

cálcio, sílica, alumina e ferro. Normalmente é necessário corrigir um ou dois destes elementos

recorrendo-se a outras pedreiras ou a resíduos que contenham os elementos necessários como

é o caso da areia contaminada utilizada em decapagens, na correcção da sílica.

No caso das matérias-primas para o fabrico do cimento branco, para além do calcário

branco com alto teor em CaCO3 e com teores de óxidos metálicos significativamente

reduzidos são utilizadas outras matérias-primas tais como, as argilas caulíniticas e areias

adquiridas ao exterior. Estas cumprem especificações igualmente rigorosas no que diz

respeito aos teores em óxidos metálicos, granulometria e humidade.

O calcário, após extracção, apresenta-se em grandes blocos (até cerca de ½ m3), pelo que

se torna necessário reduzir o seu tamanho para uma granulometria (inferior a 90 mm)

compatível com o transporte, armazenagem e alimentação das fases de fabrico seguintes,

operação que é feita num britador (no caso do cimento branco o calcário pode ainda ser

sujeito a uma operação de lavagem, a fim de retirar as argilas para evitar qualquer coloração).

Ao mesmo tempo que se efectua a britagem, procura-se que a mistura dos materiais

extraídos se aproxime da composição química desejada alimentando o britador com

determinadas proporções de calcários de diferentes zonas da pedreira (tendo em conta as

sondagens provadas, isto é, sondagens extensivas que permitem confirmar a quantidade,

mineralogia, variação e a disponibilidade legal de exploração).

3.2 Preparação das Matérias-Primas

3.2.1 Transporte, armazenamento e homogeneização

O material britado é transportado para a fábrica por telas transportadoras de borracha.

Estas possuem captadores de metais que retiram os metais da tela por efeito magnético e,

posteriormente, detectores de metais que param as telas, caso alguma metal tenha passado

pelo captador de metais, permitindo retirar os metais manualmente. Estes metais, que podem

ser peças das máquinas da pedreira, se prosseguissem nos circuitos provocariam danos nas

próprias telas e nos restantes equipamentos.

A minimização das emissões de partículas é conseguida através da rega dos circuitos dos

transportes nas pedreiras e através de numerosos filtros de mangas ao longo de todo o circuito

de transporte e armazenagem das matérias-primas.

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As matérias-primas britadas são armazenadas em silos verticais, no caso do calcário

branco, ou num armazém circular de pré-homogeneização das matérias-primas (representado

na Fig. 3.5), no caso da linha de cimento cinzento. Os silos são depósitos que, para além da

função armazenagem, têm o papel de homogeneizar o material, quer à entrada, quer à saída do

mesmo.

Fig. 3.5 – Parque circular de pré-homogeneização da matéria-prima do cimento cinzento

No processo de cimento cinzento, a máquina de extracção é um pente que ao cortar o

monte transversalmente provoca a queda e a mistura dos materiais das várias camadas,

homogeneizando-os. A mistura pré-homogeneizada e os materiais de correcção são doseados

à saída dos sistemas de homogeneização, tendo em consideração a qualidade do produto a

obter. Esta operação é controlada por computador.

3.2.2 Moagem de cru

Os materiais doseados são finamente moídos em moinhos tubulares horizontais, com

corpos moentes (bolas de aço), designados por moinhos de bolas, esquematicamente

representados na Fig. 3.6. Nestes moinhos é obtido um produto designado por "cru"

(matérias-primas homogeneizadas) que é novamente homogeneizado e ensilado em silos

próprios.

A imagem esquematicamente representada na Fig. 3.7 mostra o interior do silo com as

várias camadas de material que se formam ao serem depositadas no centro do topo do silo.

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Fig. 3.6 – Moinho de bolas e esquema de funcionamento

Fig. 3.7 – Interior de um silo de armazenagem de cru

Entrada de

material

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A extracção por várias vias no fundo do silo e de forma programada provoca uma

homogeneização do material que se extrai. O gráfico superior desta imagem mostra o desvio

padrão da composição química à entrada e o gráfico inferior dá a indicação o desvio padrão à

saída. O factor de homogeneização nestes silos chega a ser de oito vezes.

3.3 Processo de Clinquerização

3.3.1 Clínquer cinzento

O cru homogeneizado é extraído dos silos de armazenagem e introduzido no sistema de

pré-aquecimento (torre de ciclones) com pré-calcinação. Os gases de escape resultantes da

queima do combustível sobem pela torre de ciclones e ao longo do percurso vão fazendo a

transferência do calor para o material, aquecendo-o continuamente à medida que este avança

de ciclone em ciclone até ao forno.

No pré-calcinador dá-se a descarbonatação do cru, isto é, a separação do carbonato de

cálcio (CaCO3) em óxido de cálcio (CaO) e dióxido de carbono (CO2), sendo este último

encaminhado juntamente com os gases do forno para a torre de condicionamento de gases

onde se reduzem as emissões de partículas.

Seguidamente o material entra no forno apresentado na Fig. 3.8, deslocando-se ao longo

deste devido à sua rotação e ligeira inclinação (3,5%), prosseguindo o aquecimento e

desenrolando-se as reacções físico-químicas do processo da clinquerização a uma temperatura

de cerca de 1450ºC (obtida através da combustão de coque de petróleo, VFV (Veículos em

Fim de Vida), estilha de madeira, farinhas animais, CDF (Combustíveis Derivados de

Resíduos), pneus usados de veículos previamente triturados e outros) obtendo-se o clínquer

(produto da calcinação da mistura do calcário (75 a 80%), da argila (20 a 25%) e de

componentes químicos como o silício, o alumínio e o ferro). O consumo calorífico específico

do forno é de 780 Kcal/kg de clínquer.

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Fig. 3.8 – Forno da linha de cimento cinzento

A partir dos 1450 ºC inicia-se o arrefecimento do clínquer, ainda dentro do forno, sendo a

sua fase mais intensa efectuada nos arrefecedores de grelhas, onde é introduzido ar para o

arrefecimento do clínquer, aproveitando-se, posteriormente, este ar aquecido como ar de

queima secundário no forno e ar de queima terciário no pré-calcinador. Desta forma há uma

recuperação parcial do conteúdo térmico do clínquer.

3.3.2 Clínquer branco

O cru é extraído dos silos de homogeneização e misturado com água (11-12% de

humidade final) aquando da sua granulação no prato granulador. Os grânulos são enviados a

um pré-aquecedor composto por uma grelha móvel dividida em duas câmaras, denominada

Grelha Lepol®.

Na segunda câmara do pré-aquecedor, os gases que saem do forno (a cerca de 1100ºC)

começam por atravessar transversalmente o leito de grânulos onde provocam a sua

descarbonatação parcial. Seguidamente, os gases já arrefecidos a cerca de 400 ºC passam pela

primeira câmara, onde atravessam o respectivo leito de grânulos, provocando a sua secagem.

O material assim preparado entra no forno e, analogamente ao processo de cimento

cinzento, obtém-se o clínquer branco.

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Como o teor de fundentes é baixo pela ausência nomeadamente, de óxido de ferro para

conseguir a fase líquida que permita a clinquerização do cru, a temperatura de clinquerização

é sempre superior à do clínquer cinzento, da ordem dos 1550 ºC (obtida pela combustão de

coque de petróleo). O consumo de energia no forno com grelha Lepol é bastante superior ao

conseguido num forno com torre de pré-aquecimento, sendo da ordem dos 1460 Kcal/kg de

clínquer.

Por outro lado exige uma selecção cuidada do combustível a utilizar, já que não são

admissíveis cinzas resultantes da sua queima para não serem introduzidos elementos

pigmentários.

Para assegurar a brancura do clínquer é necessário que o seu arrefecimento seja brusco

com água nebulizada (provocando a têmpera do clínquer) e se processe em atmosfera redutora

num equipamento designado por tambor redutor.

A atmosfera redutora caracteriza-se pela insuficiência de oxigénio no tambor, conseguida

pela queima incompleta de GPL (Gás de Petróleo Liquefeito) através de um queimador, de

forma a mitigar a presença de óxidos metálicos responsáveis pela “descoloração” do clínquer

branco.

3.4 Moagem e Armazenagem de Cimento

O clínquer, o gesso (regulador da presa do cimento) e fillers calcários (pó de filtro e

finos) são moídos em moinhos de bolas, em proporções bem definidas, de acordo com o plano

de qualidade, obtendo-se os diferentes tipos de cimento, que são armazenados nos respectivos

silos verticais devidamente identificados.

A mistura é moída pelo moinho e é transportada pelo elevador que introduz o cimento no

separador. O material que é introduzido no separador rege-se por dois processos diferentes, ou

seja, se o cimento ficar com a finura desejada segue para o filtro de despoeiramento e para os

silos, constituindo o produto final, mas se o cimento ainda não tiver a finura desejada, volta

ao moinho para nova moagem, seguindo depois o circuito já descrito.

A operação de moagem pode também contribuir para o índice de brancura dos cimentos

brancos, pelo que são visadas finuras mais elevadas do que nos cimentos cinzentos.

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3.5 Embalagem e expedição de cimento

A comercialização do cimento é feita quer a granel, em cisternas ferroviárias ou

rodoviárias, quer em sacos sobre paletes de madeira, normais ou plastificadas (Fig. 3.9).

Os postos de carregamento do granel rodovia funcionam em regime de self-service. O

empacotamento é feito em linhas de enchimento de sacos e de paletização automatizadas.

A substituição dos sacos de 50 kg por sacos de 40 kg e de 25 kg vieram permitir uma

utilização mais ergonómica destas embalagens em obra.

Fig. 3.9 – Paletes plastificadas de cimento branco

3.6 Diferenças Entre os Processos de Fabrico de Cimento Cinzento e

Branco

De acordo com o que foi descrito, as principais diferenças no processo produtivo de

cimento branco relativamente ao de cimento cinzento prendem-se com a selecção criteriosa de

matérias-primas mais nobres, o processo ser por via semi-seca (processo de fabrico de

cimento em que a matéria-prima alimenta o forno com uma humidade de cerca de 10-12%) e

a existência de um tambor redutor com dupla função de proceder à redução dos óxidos

metálicos e arrefecer o clínquer produzido.

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4 Equipamentos Integrantes da Linha de Fabrico de

Cimento Branco

Neste capítulo analisam-se os principais equipamentos que integram a linha de fabrico de

cimento expondo a sua importância no processo. Esta análise será feita de acordo com as

fases do processo de fabrico de cimento branco.

Serve também, a leitura desta secção para uma melhor familiarização com os

equipamentos, processos, metodologias e terminologia utilizados na indústria cimenteira,

constituindo uma informação importante para uma melhor compreensão de todo o estudo

apresentado.

Ainda neste capítulo é feito um breve resumo de algumas práticas de manutenção

desenvolvidas pelos profissionais da manutenção nos equipamentos, tento também

participado em muitas destas tarefas no âmbito do estágio realizado.

4.1 Extracção das matérias-primas

4.1.1 Britador primário

O primeiro equipamento das linhas de cimento da fábrica Cibra é o britador primário de

martelos COMETNA® (Companhia Metalúrgica Nacional), representado na Fig. 4.1, que tem

capacidade de britagem de cerca de 300 t/h.

Os britadores de martelos utilizam forças de impacto sendo muito utilizados na indústria

cimenteira quer para calcários duros e de dureza média quer para argilas. O grau de

fragmentação é de 40 a 60:1 o que permite fazer a britagem numa só fase. Este tipo de

britadores obtém produções que podem ultrapassar as 2000 t/h.

A britagem, como se representa esquematicamente na Fig. 4.2, ocorre sucessivamente

por:

1. Impacto dos martelos em rotação;

2. Compressão de encontro à placa de entrada;

3. Compressão contra as barras da grelha de saída.

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Fig. 4.1 – Britador primário de martelos

Fig. 4.2 – Representação esquemática do funcionamento de um britador de martelos

O formato dos martelos desempenha um papel significativo na eficiência do britador pois

são eles que fazem a maior parte do trabalho de fragmentação. No fabrico dos primeiros

martelos apenas se tinha em consideração a sua massa, hoje têm-se em consideração uma

série de factores, nomeadamente:

A localização do centro de gravidade do martelo

O centro de gravidade determina o ponto de impacto e deve ser controlado para que se

utilize a totalidade da massa do martelo contra o material a moer.

2

3

1

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A trajectória do ar criada pela rotação dos martelos

Esta trajectória contém, normalmente, uma quantidade grande de finos que devem ser

direccionados para longe das hastes dos martelos e do rotor a fim de evitar desgastes

prematuros.

A configuração das arestas da cabeça do martelo

Os martelos devem ser desenhados com uma geometria tal que o atrito seja o mínimo

possível e assim se aumente a sua vida útil.

Tratamento térmico

A dureza do martelo é um dos factores essenciais na determinação da sua vida útil.

Enquanto a cabeça do martelo deve ser extremamente dura e resistente ao desgaste, a haste

deve ser mais dúctil de modo a absorver os choques. A variação da dureza entre a haste e a

cabeça do martelo deve ser gradual, sem mudanças bruscas.

Algumas das características dos martelos fabricados pela Magotteaux®, para britadores

de martelos a utilizar em pedreiras e reciclagem de resíduos de demolição e construção são as

seguintes:

Especificação técnica:

- Martelos de aço-manganês – dureza: 210 a 250 HB;

- Aço martensítico (com menos de 2% de carbono) – dureza: 36 a 56 HRC;

- Bimetal – dureza: 57 a 62 HRC.

Benefícios principais:

- Martelos de aço-manganês: Solução óptima em caso de impactos extremos;

- Aço martensítico: excelente resistência ao impacto e fractura/ vida útil máxima e alta

resistência ao cinzelamento (saltar lascas);

- Bimetal: excelente resistência mecânica e aumento de dureza.

Os martelos têm formatos diferentes, conforme mostra a Fig. 4.3, dependo do fabricante

e do modelo do britador.

Os martelos bimetálicos são essencialmente utilizados para calcário e clínquer. Estes

martelos fundidos combinam as vantagens de dois tipos de metais diferentes, cada um com as

suas vantagens, tal como facilidade de soldadura e, muito especialmente, uma alta resistência

ao desgaste.

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Fig. 4.3 – Diversos formatos de martelos (em cima) e martelo bimetálico (em baixo)

Para o controlo da granulometria de saída é determinante a distância entre as barras da

grelha de saída e a distância da grelha aos martelos. Quando os martelos se gastam é

necessário ajustar aquela distância de modo a manter a granulometria máxima do material

britado, o que pode ser feito pela parte exterior.

Os martelos têm tendência a gastarem-se mais de um lado pelo que é normal, ao fim de

um determinado desgaste, virá-los.

As grelhas, apresentadas na Fig. 4.4, em aço-manganês, e as placas de revestimento da

cavidade de britagem devem ser substituídas quando o desgaste é elevado.

Fig. 4.4 – Grelhas do britador

Alguns britadores têm, na entrada, uma cortina de correntes para prevenir que alguns

pedaços de material, quando britados, saiam projectados para fora do britador.

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4.2 Preparação das Matérias-Primas

4.2.1 Transporte

O material, após a britagem, apresenta-se com granulometria adequada para posterior

utilização nas fases seguintes do fabrico.

O transporte da matéria-prima principal (calcário branco) desde a pedreira de Alva em

Pataias até à fábrica é feito mediante telas transportadoras de borracha, representadas na Fig.

4.5, com uma extensão de cerca de 2000 metros.

Fig. 4.5 – Telas transportadoras

Este tipo de transporte requer, acima de tudo, inspecções cuidadas e periódicas para

verificar que: todos os roletes que sustentam a tela estão a rodar; os raspadores das telas estão

em bom estado de conservação; a tela tem o tensionamento correcto; o tambor mandante tem

o revestimento em borracha vulcanizada em bom estado (permitindo o movimento “rotativo”

da tela contínuo e sem vibrações); o perfil dos tambores permanece com ligeira forma de

barril para que a tela permaneça centrada nos tambores e não os abandone; o accionamento

(conjunto motor e redutor) não apresenta fugas de óleo lubrificante, vibração e aquecimento

excessivos.

4.2.2 Armazenamento

Numa fábrica de cimento é necessário prever uma armazenagem de grandes quantidades

de matérias-primas para evitar perdas de produção e garantir trabalho em regime contínuo.

Essa armazenagem pode ser combinada com uma função de pré-homogeneização.

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O armazenamento e homogeneização do calcário branco são feitos em três silos

metálicos verticais, como mostra a Fig. 4.6.

Fig. 4.6 – Silos de armazenamento de calcário branco: exterior (à esquerda) e base (à direita)

Cada silo tem na parte inferior, doseadoras como as representadas na Fig. 4.7. Estas

doseadoras são dotadas de esteira metálica para suportarem as elevadas cargas associadas ao

peso da coluna de matérias-primas a que estão sujeitos.

Fig. 4.7 – Doseadoras de calcário branco

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A manutenção deste tipo de equipamentos compreende a inspecção do carril e das rodas

que nele se deslocam, do accionamento e do estado da esteira metálica. Se necessários estes

elementos são reparados ou substituídos.

4.2.3 Matérias-primas secundárias

No fabrico de cimento branco são utilizadas outras matérias-primas denominadas

secundárias, tais como natas de mármore provenientes da serração de mármores, areia branca,

areia comum, caulino (silicato de alumínio) e calcário rico (calcário com elevado teor de

óxido de cálcio e baixíssimo teor de óxido de ferro).

Cada tipo de matéria-prima tem uma forma de introdução no processo própria e adequada

às suas características:

As natas de mármore são enviadas através de uma tela transportadora para uma

tremonha que doseia a quantidade transportada para um desagregador através da

velocidade de rotação de uma esteira metálica, conforme ilustra a Fig. 4.8. Este

desagregador é constituído por facas de freze agrícola e tem como principal função

britar os torrões que surgem devido ao facto deste material ser fortemente

higroscópico. O mármore britado é descarregado numa tela que alimenta uma balança

doseadora, representada na Fig. 4.9.

Fig. 4.8 – Preparação das natas de mármore (à esquerda) e esteira e desagregador (à

direita)

Tela

transportadora

Tremonha

Esteira e

desagregador

Desagregador

Esteira

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Fig. 4.9 – Balança doseadora de natas de mármore

A areia branca, armazenada num silo metálico vertical como mostra a Fig. 4.10, não

alimenta o moinho de cru devido ao facto de ser extremamente fina e abrasiva, mas

sim o elevador de saída deste (elevador de produto acabado). Desta forma evita-se o

desperdício de energia de moagem e evita-se o incremento de desgaste das placas e

carga moente do moinho.

Fig. 4.10 – Silo de areia branca

A areia comum, o caulino e o calcário rico, armazenados em tremonhas de betão, são

doseados por balanças análogas à balança de natas de mármore. A Fig. 4.11 mostra a

balança doseadora de caulino.

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Fig. 4.11 – Balança doseadora de caulino

4.2.4 Moagem de cru

As matérias-primas principal e secundárias são transportadas por uma tela dupla, como

mostra a Fig. 4.12. A tela inferior transporta directamente as natas de mármore, o caulino e a

areia comum para o moinho de bolas de cru, por estas terem granulometria adequada à

alimentação directa do moinho, enquanto que o calcários branco e rico transportados na tela

superior alimentam um britador secador a montante do moinho.

Este britador, representado na Fig. 4.13, recebe uma parte dos gases quentes do forno

tendo como funções secar e britar os materiais para dimensões adequadas à moagem de cru. O

calor contido nos gases de escape dos fornos é aproveitado para secar as matérias-primas e

simultaneamente para transporte do cru do moinho ao silo de armazenagem. As tarefas de

manutenção deste britador são semelhantes às efectuadas no britador da pedreira,

compreendendo verificação e caso necessário reparação ou substituição do accionamento, das

placas de impacto e dos martelos do corpo do britador. As matérias-primas alimentam o

moinho de cru por um dos extremos.

O moinho de cru, representado na Fig. 4.14, é um moinho tubular horizontal de duas

câmaras onde são depositados corpos moentes, isto é, bolas metálicas de diversos diâmetros.

O moinho recebe parte dos gases de combustão do forno e a sua rotação provoca na primeira

câmara o impacto das bolas de aço, com diâmetros compreendidos entre 60 e 90 mm, com a

mistura. Na segunda câmara, as bolas com diâmetros entre 15 e os 30 mm, reduzem

sucessivamente a granulometria por efeito do atrito entre si e o material.

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Fig. 4.12 – Alimentação das matérias-primas à moagem de cru

Fig. 4.13 – Britador secador da moagem de cru

A manutenção de moinhos de bolas envolve, por um lado, a verificação do estado do

accionamento no que respeita a excesso de vibrações e temperatura e a fugas de óleo

lubrificante, e por outro, a substituição de bolas desgastadas e de placas de revestimento

interno do moinho que sofrem desgaste devido ao impacto e atrito das bolas na sua superfície.

O cru e gases que saem pelo extremo oposto do moinho alimentam o elevador de baldes

que eleva o cru a um separador.

Tela superior de

alimentação ao

britador secador

Tela inferior de

alimentação ao

moinho de cru

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Fig. 4.14 – Moinho de cru

O elevador de baldes, representado na Fig. 4.15, é um transportador de corrente dupla

que trabalha na vertical e tem fixos baldes.

Fig. 4.15 – Elevador de saída do moinho de cru

Na parte superior tem o accionamento com as rodas mandantes (semelhantes a carretos) e

na parte inferior as rodas mandadas. A rotação da corrente provoca o enchimento dos baldes

aquando da passagem destes pelo caixão do elevador. Os baldes, por sua vez, descarregam o

cru no separador.

Caixão do

elevador

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O separador, representado na Fig. 4.16, tem um corpo cónico e, mediante a turbulência

provocada pelo fluxo de gases de combustão no seu interior, faz a separação entre os

materiais finos e os grossos.

Fig. 4.16 – Separador da moagem de cru

Os grossos precipitam para a base do separador voltando a alimentar o moinho de cru,

sendo moídos até à dimensão pretendida. Os finos, por sua vez, saem pela parte superior do

ciclone e seguem para os silos de armazenamento e homogeneização de cru, representados em

Fig. 4.17.

Fig. 4.17 – Silos de cru

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4.3 Processo de Clinquerização

Por forma a esclarecer com maior clareza esta fase importantíssima do processo, ilustra-

se na Fig. 4.18 o sinóptico do forno de branco com os principais equipamentos e parâmetros

de controlo.

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Fig. 4.18 – Sinóptico do forno de branco

Britador de

Clínquer

Tambor Redutor

Forno

Grelha Lepol

Prato

Granulador

Balança de

alimentação de cru

Queimador

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4.3.1 Balança de alimentação de cru

A balança doseadora HASLER® com capacidade de doseamento de 30 t/h de cru (na

forma de tapete consoante ilustra a Fig. 4.19) deposita-o num transportador sem-fim (por

parafuso sem-fim) que, por sua vez, alimenta o prato granulador de cru previamente

homogeneizada nos silos de cru.

Fig. 4.19 – Balança doseadora de cru (à esquerda) e pormenor do tapete de cru (à direita)

4.3.2 Prato granulador

O facto do cru branco ser muito fino e ter uma adesividade bastante elevada não permite

que o aquecimento e descarbonatação iniciais sejam feitos facilmente numa torre de ciclones,

pois se tal acontecesse os ciclones seriam vítimas de entupimentos constantes e o processo de

perda de rendimento. Assim, o aquecimento e descarbonatação iniciais são efectuados num

pré-aquecedor com grelhas designado por grelha Lepol. A alimentação do cru a uma grelha

Lepol carece de preparação, sendo que deve estar sob a forma de grânulos que permitam a sua

evolução ao longo da grelha.

A função do prato granulador (Fig. 4.20) é, portanto, mediante a sua rotação associada à

pulverização de cerca de 4,2 m3/h de água provocar a formação de pequenos grânulos com

cerca de 1 a 2 cm de diâmetro.

Tapete de cru

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Fig. 4.20 – Prato granulador (à esquerda) e grânulos formados (à direita)

4.3.3 Grelha Lepol

Como foi referido anteriormente, a grelha Lepol, representada na Fig. 4.21, é responsável

pelo aquecimento e descarbonatação parcial dos grânulos de cru. A grelha funciona como

uma tela de transporte com grelhas e apresenta duas câmaras. Na segunda câmara da grelha os

gases que saem do forno (a cerca de 1100ºC) atravessam a camada de grânulos provocando a

sua descarbonatação parcial. Seguidamente, estes gases já arrefecidos a temperaturas da

ordem dos 400ºC (por permuta térmica com os grânulos) passam pela primeira câmara

provocando secagem e aquecimento dos grânulos. Este pré-aquecedor tem grelhas metálicas

capazes de suportar as altas temperaturas e permitir que sejam atravessadas pelos gases.

Fig. 4.21 – Grelha Lepol (à esquerda) e grelha (à direita)

Bicos de

pulverização

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Pelas elevadas temperaturas de serviço e pelo facto de operar com material semi-húmido,

a grelha Lepol é altamente consumidora de material de substituição (consumíveis e

sobressalentes). Frequentemente, acumula-se uma cortina de grânulos na zona das placas de

bordo que aí permanece estática e, devido ao sucessivo aquecimento do material, queima as

placas de bordo e as grelhas adjacentes (representadas na Fig. 4.22) e os veios que as

sustentam, tornando necessário proceder à substituição destes elementos feitos em liga de

fundição, tarefa morosa e dispendiosa.

Fig. 4.22 – Interior da grelha Lepol

4.3.4 Forno

Após atravessar a grelha, o cru é cozido num forno (Fig. 4.23) constituído por um tubo

rotativo com diâmetro de 3200 mm, comprimento de 36 m, montado segundo uma inclinação

de 3,5% e com uma velocidade de rotação máxima de 1,5 rpm.

Fig. 4.23 – Forno de branco

Grelha

Placa de bordo

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Interiormente o forno é revestido de material refractário que lhe confere protecção e

reduz as perdas térmicas como mostra a Fig. 4.24.

Fig. 4.24 – Aplicação de tijolo refractário no interior do forno

O tijolo refractário do forno é o principal elemento decisor da paragem anual de um

forno. Pelo facto do tijolo ter uma vida útil de aproximadamente um ano, este indica, através

da evolução do seu desgaste, a necessidade de paragem para revisão anual, sob pena de se

danificar profundamente o casco do forno através do seu empeno.

4.3.5 Queimador

O queimador é o equipamento responsável pela introdução no forno e queima do

combustível utilizado no fabrico do clínquer branco (coque de petróleo). O queimador

apresenta diversos canais, como mostra a Fig. 4.25, com características próprias: um tubo

central que transporta o combustível; um tubo concêntrico de maior diâmetro que alimenta a

chama com ar principal (ar atmosférico introduzido por um ventilador) responsável pela

oxidação da chama; um tubo que envolve os anteriores, tendo na sua extremidade uma

ponteira dotada de alhetas criteriosamente inclinadas que introduzem o designado ar

secundário, responsável pela modelação da forma da chama através do vórtice gerado. O

queimador é revestido exteriormente com betão refractário capaz de suportar as elevadas

temperaturas a que está sujeito.

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Fig. 4.25 – Queimador do forno de branco

4.3.6 Britador de clínquer

Na saída do forno encontra-se o britador de clínquer. Este equipamento será analisado

detalhadamente no capítulo seguinte pelo que, nesta fase, importa apenas referir que a sua

principal função é britar os aglomerados que se formam no interior do forno. Com a operação

de britagem é obtido clínquer com uma maior superfície específica e menor dimensão que

permite a completa redução e um arrefecimento mais rápido no tambor redutor.

4.3.7 Tambor redutor

O tambor redutor, representado na Fig. 4.26, analogamente a um forno, tem a forma

tubular e é revestido internamente por tijolo refractário.

Por forma a desempenhar duas funções distintas o tambor redutor tem duas câmaras

distintas. A primeira câmara recebe o clínquer britado e reduz os óxidos presentes no clínquer,

nomeadamente o óxido de ferro, através de uma chama redutora (obtida pela queima de GPL

com carência de oxigénio). Pretende-se com este procedimento eliminar a presença de óxidos

metálicos que poderão provocar alterações à coloração branca pretendida.

O clínquer evolui no tambor redutor passando para a segunda câmara através de uma

abertura na parede divisória das câmaras, onde é arrefecido por água nebulizada para uma

temperatura que permita o seu transporte e armazenamento (cerca de 100ºC). Na região de

arrefecimento estão montados dois raspadores para evitar que o clínquer arrefecido se

acumule naquela zona.

Alimentação de

combustível

Introdução de

ar primário

Introdução de

ar secundário

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O forno é sempre complementado por um sistema de arrefecimento do produto fabricado,

porque a evacuação e o transporte do clínquer incandescente são, na prática, impossíveis.

Adicionalmente, o arrefecimento rápido melhora a qualidade do clínquer.

Fig. 4.26 – Exterior do tambor redutor (à esquerda) e segunda câmara (à direita)

4.4 Moagem de cimento

4.4.1 Transporte metálico

À saída do tambor redutor encontra-se o transporte metálico, representado na Fig. 4.27,

que transporta o clínquer até ao elevador de clínquer.

As principais acções de manutenção executadas neste transporte compreendem a

inspecção do accionamento, do carril, das rodas e do estado dos baldes e, caso necessário, a

substituição destas peças.

Raspadores

Nebulizadores

de água

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Fig. 4.27 – Transporte metálico (à esquerda) e clínquer à saída do tambor redutor (à direita)

4.4.2 Elevador de clínquer

O elevador de clínquer, apresentado na Fig. 4.28, é um elevador de baldes, análogo ao

elevador de saída do moinho de cru, cuja função é introduzir o clínquer nos silos de clínquer,

idênticos ao de cru.

Fig. 4.28 – Elevador de clínquer

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4.4.3 Moinho de cimento

O processo que envolve a moagem de cimento é muito semelhante ao trajecto feito pela

moagem de cru. O cimento resulta da moagem fina de vários componentes, sendo o

componente maioritário o clínquer, ao qual se juntam gesso e aditivos em quantidades

previamente especificadas e garantidas para o bom produto final.

As formas de gesso de moldes são previamente britadas sendo que o gesso alimenta uma

balança doseadora própria à entrada do moinho, representada na Fig. 4.29.

Fig. 4.29 – Formas de gesso (à esquerda) e balança doseadora de gesso (à direita)

O moinho de cimento branco, apresentado na Fig. 4.30, é um moinho de câmara única

que funciona em circuito fechado, isto é, a jusante do moinho existem separadores

(semelhantes ao separador de cru) que rejeitam as partículas mais grossas retornando ao

circuito de moagem. O cimento produzido é normalmente transportado por via pneumática e

armazenado em silos verticais.

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Fig. 4.30 – Moinho de cimento branco

4.5 Embalagem de Cimento

4.5.1 Ensacadeira de cimento branco

O cimento armazenado nos silos alimenta a ensacadeira de cimento branco, representada

na Fig. 4.31, com oito bicas de enchimento que tem capacidade para produzir 1680 sacos de

25 kg por hora e 1920 sacos de 40 kg por hora.

Fig. 4.31 – Ensacadeira de cimento branco (à esquerda) e bica de enchimento (à direita)

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4.5.2 Paletizadora

Os sacos cheios passam por telas transportadoras e alimentam a paletizadora, (Fig. 4.32)

que tem capacidade de produção de 24 paletes por hora de sacos de 25 kg e 45 paletes por

hora de sacos de 40 kg.

Fig. 4.32 – Formação da camada (à esquerda) e formação da palete (à direita)

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5 Britador de Clínquer Branco

Este capítulo aborda os conceitos necessários à compreensão do trabalho desenvolvido

neste equipamento da linha de produção de cimento branco, introduzindo este tipo de britador,

descrevendo os componentes do britador de clínquer branco, enquadrando o britador de

clínquer branco na respectiva linha de produção e descrevendo o seu princípio de

funcionamento, condições de operação e problemas verificados.

5.1 Britador de rolos

O britador de clínquer branco pertence à família de britadores de rolos. Este tipo de

britadores utiliza forças de compressão no processo de fragmentação e pode ser simples ou de

rolos duplos, conforme ilustra a Fig. 5.1.

Fig. 5.1 – Britador de rolos simples (à esquerda) e britador de rolos duplos (à direita)

Nos britadores de rolos duplos estes rodam em sentidos contrários e são normalmente

utilizados para materiais medianamente duros e abrasivos.

No caso de materiais húmidos, tal como argilas e margas, devem utilizar-se rolos com

“dentes”. Os britadores de rolos dentados apresentam velocidades periféricas muito baixas, 1

a 2 m/s e admitem material com uma granulometria máxima de 500 mm. Estes são os

britadores ideais para materiais muito “aderentes”, como é o caso do clínquer branco.

Nos britadores de rolos (Fig. 5.2) um dos rolos é fixo e o outro móvel e o intervalo entre

os rolos pode ser ajustado de acordo com a granulometria que se pretende obter. No caso do

modelo abaixo existem raspadores, em ambos os rolos, para retirar o material que tenda a

aderir nas extremidades dos rolos.

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Fig. 5.2 – Britador de rolos

5.2 Componentes do britador de clínquer branco

O equipamento britador de clínquer branco é composto por diversas peças, cujas

funções das principais se descrevem seguidamente Os desenhos de construção de cada uma

das peças encontram-se em Anexos.

5.2.1 Aro de ligação ao cabeçote

Este aro metálico (Des. 21.149 em Anexos), representado na Fig. 5.3, funciona como

elemento de ligação entre o funil superior e o cabeçote do forno garantindo a estanquidade

entre estes.

1 – Veio cardan

2 – Chumaceira de apoio do rolo

3 – Raspador

4 – Rolo fixo

5 – Rolo ajustável

6 – Protecção de sobre-enchimento

7 – Volante

8 – Abertura para ajuste do veio

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Fig. 5.3 – Aro de ligação ao cabeçote

O cabeçote, representado na Fig. 5.4 tem como principais funções: garantir a

estanquidade do forno evitando a entrada e saída de clínquer e ar e permitindo a rotação livre

do forno; sustentar o queimador, no qual passam o combustível (coque de petróleo) e o

comburente (ar atmosférico); descarregar o clínquer produzido, mediante uma abertura

existente na parte inferior do cabeçote, sobre os rolos de compressão do britador de clínquer.

Fig. 5.4 – Cabeçote do forno e queimador

Aro de ligação

ao cabeçote

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5.2.2 Funil superior

O funil superior (Des. 21.131.100 em Anexos) orienta a descarga do clínquer

(proveniente do forno) para os rolos de compressão. Esta peça é revestida por tijolo

refractário Refracta® R2000 devidamente fixo à caída por intermédio de parafusos. Estes

parafusos (M16×110 mm) servem como elemento de fixação dos tijolos refractários ao funil

superior. Por serem produzidos em aço EN X 15 CrNiSi 25 20 (W. Nr. 1.4841) apresentam

características para serviços permanentemente em alta temperatura, pois o seu elevado teor de

crómio e níquel conferem-lhe excelente resistência a diversos agentes corrosivos, bem como

boas características mecânicas a temperaturas elevadas.

Para que se consigam fixar os tijolos à caída, estes são furados ao centro com brocas.

A composição química do tijolo refractário apresenta-se na Tabela 5.1.

Tabela 5.1 – Composição química do tijolo Refracta R2000

Composição química do tijolo Refracta R2000

SiO2 30-35

Al2O3 38-43

Fe2O3 0,5-1,0

SiC 25-29

5.2.3 Tampa superior

A tampa superior (Des. 21.133 em Anexos) do britador delimita a parte superior do

britador (antes da britagem do clínquer) servindo de elemento de fixação da protecção

interior dos rolos. A tampa superior é revestida interiormente com o betão refractário

Refracta® PF-97-H de composição química igual e propriedades químicas, térmicas e

mecânicas semelhantes ao tijolo anteriormente referido.

Na Fig. 5.5 identificam-se o funil superior e a tampa superior.

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Fig. 5.5 – Funil superior e tampa superior

5.2.4 Protecção dos veios dos rolos

Esta peça (Des. 21.147 em Anexos) orienta o clínquer para a zona de britagem entre os

dois rolos de compressão protegendo os veios dos rolos da acção térmica e abrasiva do

clínquer. Analogamente ao funil superior esta peça é também revestida com o mesmo tijolo

refractário. A Fig. 5.6 mostra a peça sem revestimento.

Fig. 5.6 – Protecção dos veios dos rolos

Funil superior

Tampa superior

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5.2.5 Veios

Os veios (Des. 21.078.100 em Anexos) são furados internamente e têm como funções

suportar e promover o arrefecimento de si mesmos e dos rolos de compressão. Os veios são

construídos em aço EN 34 CrNiMo 6 (W. Nr. 1.6582) que apresenta elevada resistência à

fadiga e ao desgaste e elevado limite elástico.

O arrefecimento do veio e respectivo rolo é efectuado através da entrada de água por uma

extremidade do veio que escoa para o interior do rolo através de dois furos com 50 mm de

diâmetro, existentes no veio. Após atravessar a espiral no interior do rolo, a água sai por

outros dois furos de igual dimensão aos anteriormente descritos pelo extremo oposto da

entrada de água.

A Fig. 5.7 ilustra, em corte, o veio e os furos existentes.

5.2.6 Rolo de compressão

O britador de clínquer branco é constituído por dois rolos de compressão dentados com

uma espiral oca interna (Des. 21.089 em Anexos), cada um deles montado num veio furado

internamente.

Um dos rolos é fixo e o outro é ajustável e móvel correspondendo à distância entre

ambos a granulometria máxima do clínquer. Um dos rolos é ajustável pois permite regulação

da distância entre rolos (aquando da montagem) e móvel, uma vez que, no caso de os rolos

não terem capacidade de britar um aglomerado de clínquer, este rolo permite um ligeiro

acréscimo da distância entre rolos (definido pela constante de uma mola helicoidal) para

evitar a falha mecânica do equipamento.

A Fig. 5.7 mostra a montagem e interior do rolo no veio.

Fig. 5.7 – Montagem de um rolo de compressão no veio

Ø610mm

Saída de água de

refrigeração

Entrada de água de

refrigeração

600mm

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51

5.2.7 Vedação entre funil superior e a tampa superior

Tal como o nome indica este elemento (Fig. 5.8) garante a vedação entre o funil superior

e a tampa superior, assegurando a estanquidade do conjunto. Esta peça (Des. 21.151 em

Anexos) é revestida internamente por tijolo refractário Refracta R2000 fixo com parafusos.

Fig. 5.8 – Vedação entre funil superior e tampa superior

5.2.8 Tampa inferior

A tampa inferior (Des. 21.132 em Anexos) orienta a descarga do clínquer britado para o

interior do tambor redutor. Esta tampa é revestida interiormente com o betão refractário

Refracta PF-97-H.

5.2.9 Funil inferior

O funil inferior (Des. 21.132 em Anexos) é a última peça do britador em contacto com o

clínquer britado orientando-o para o interior do tambor redutor. O funil é revestido por tijolo

refractário Refracta R2000 devidamente fixo à caída por intermédio de parafusos. A Fig. 5.9

mostra esta peça após serviço.

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Fig. 5.9 – Funil inferior

5.2.10 Sistema de Accionamento

O accionamento de cada rolo é feito por um motor de corrente alternada trifásico de

11KW a 1460 rpm (Motor AC 3F 380v 11KW 1460rpm SEW), acoplado a um redutor com

relação de transmissão 114,34 e 11KW (Redutor i=114,34 11KW SEW SH127/G AM160).

Assim, a velocidade de rotação à saída do redutor (velocidade de rotação do rolo) é de

aproximadamente 13 rpm.

5.3 Condições de operação

Por se encontrar na saída do forno, imediatamente após o queimador, como ilustrado

anteriormente na Fig. 4.18, recebe o clínquer branco a temperaturas de cerca de 1300-1400ºC

e, após britar os aglomerados, descarrega-os no tambor redutor cuja chama redutora atinge

aproximadamente 1000 ºC.

Em determinadas circunstâncias formam-se incrustações e grânulos de grandes

dimensões, como mostra a Fig. 5.10 (por vezes com volume superior a ½ m3) como

consequência de irregularidades pontuais da composição química da matéria-prima e/ou da

condução do processo de cozedura.

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Fig. 5.10 – Incrustações e grânulos no interior do forno de cimento branco

Antes de o clínquer ser descarregado do forno para o tambor redutor é necessário

diminuir a sua dimensão mediante um britador: o britador de clínquer branco.

A principal função do britador de clínquer branco é portanto reduzir o clínquer para

dimensões de grãos suficientemente pequenos, aumentando grandemente a superfície

específica do clínquer o que possibilita a redução completa e o seu arrefecimento brusco no

tambor redutor. Esta operação permite aumentar a eficiência da redução e do arrefecimento no

interior do tambor redutor.

Além da função principal o britador de clínquer funciona ainda como meio isolador entre

o forno e o tambor redutor impedindo que se verifique a passagem de ar entre estes.

Importa referir que qualquer paragem do britador de clínquer implicará uma paragem do

forno e consequentemente da produção de clínquer branco.

Assim, pretende-se que o britador funcione durante, pelo menos, um ano sem qualquer

intervenção curativa, sendo este tipo de manutenção executada aquando da manutenção anual

planeada da linha de branco.

Qualquer paragem não planeada intermédia, acarreta, cerca de uma semana de paragem

de toda a linha de produção, compreendendo:

Um dia para arrefecimento do forno e britador de clínquer;

Dois a três dias de reparação do britador ou substituição dos rolos;

Um dia para aquecimento do forno e restabelecimento da linha nas condições

normais de funcionamento.

Britador de

Clínquer

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5.4 Concepção do britador

Antes da concepção do britador de clínquer sabia-se previamente que o principal

problema que condicionaria o seu correcto funcionamento seria a alta temperatura do

clínquer.

Isto deve-se ao facto de só ser possível arrefecer o clínquer em atmosfera controlada

(atmosfera redutora) no tambor redutor. Desta forma, a elevada temperatura do clínquer a que

está submetido o britador é um problema com o qual se tem de lidar. Não sendo possível

diminuir a temperatura do clínquer antes do britador, aquando da concepção foi estudada a

forma de atenuar os seus efeitos mediante a selecção de materiais com capacidade de

operação e resistência a elevadas temperaturas e procurando arrefecer os órgãos do britador.

Seguidamente descrevem-se as principais ideias que foram consideradas na concepção do

britador:

A superfície do rolo dentado seria revestida com eléctrodo de material refractário

extremamente duro capaz de suportar o desgaste provocado por elevadas pressões de

esmagamento, abrasão e elevadas temperaturas do clínquer.

Os funis superior e inferior seriam, também eles, adequados a condições de trabalho a

altas temperaturas sendo constituídos de tijolo refractário com um furo no centro para

possibilitar a sua fixação por parafusos à estrutura do britador.

Os veios de suporte dos rolos de impacto deveriam apresentar um furo interno no

qual se transportaria água de arrefecimento. Esta água seria bombeada através do furo

existente numa extremidade do veio, entrando no rolo e escoando-se pela espiral

(arrefecendo quer o veio quer as paredes internas do rolo de compressão) e saindo

pela extremidade oposta do veio.

Além do referido, o britador de clínquer branco foi montado com um ligeiro

deslocamento relativamente ao centro do forno, tal como se mostra na Fig. 5.11, por forma a

compensar o efeito da força centrífuga do clínquer à saída do forno rotativo. Assim, pretende-

se que o clínquer seja imediatamente orientado para o centro dos rolos de compressão,

maximizando o caudal britado e evitando entupimentos e material em espera no funil

superior.

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Fig. 5.11 – Posição do britador de clínquer relativamente ao forno

5.5 Problemas verificados após operação e suas causas

Apresentam-se, seguidamente, os principais problemas verificados nas diversas partes do

britador e quais as suas possíveis origens:

A. Os dentes do rolo de compressão apresentam um elevado desgaste por abrasão

associado a alta temperatura podendo verificar-se o arrancamento do revestimento

duro. Este fenómeno tem início nas arestas do dente e estende-se a toda a sua

superfície consoante ilustram a Fig. 5.12 e a Fig. 5.13.

Linha de centro

do forno

Linha de centro do

britador de clínquer

Deslocamento

forno-britador

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Fig. 5.12 – Arrancamento do revestimento nas arestas do dente

Fig. 5.13 – Arrancamento completo do revestimento na superfície do dente

Provavelmente este arrancamento deve-se à concentração de tensões decorrente do

processo de soldadura em “arestas vivas”, o que, por si só, fragiliza o dente. A utilização do

revestimento duro Castolin® EnDOtec DO*33 pode não ser a melhor opção pois, apesar de

apresentar excelente capacidade de resistência à abrasão, tem pouca ductilidade e

relativamente baixo coeficiente de dilatação térmica. Após o arrancamento do revestimento

nas arestas do dente, este acontecimento evolui rapidamente em toda a extensão da superfície

do dente, desprotegendo-o da elevada temperatura e desgaste.

Arrancamento completo do

revestimento na superfície do dente

Arrancamento do revestimento nas

arestas do dente

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Segundo Klimpel & Kik [2008] a composição química deste eléctrodo é a apresentada na

Tabela 5.2.

Tabela 5.2 – Composição química do eléctrodo Castolin DO*33

Composição química [%] do eléctrodo Castolin DO*33

C Si Mn Cr Nb B P S Fe

2,5 0,8 2,0 13,0 5,0 2,2 0,02 0,01 Restante

O eléctrodo EnDOtec DO*33 é um eléctrodo contínuo especialmente utilizado contra a

abrasão a elevada temperatura. Apresenta como principais características; a elevada dureza

intrínseca do eléctrodo obtida no depósito, logo na primeira camada, de 68HRC; resistência à

abrasão intensa a alta temperatura e à erosão em meio gasoso.

B. A superfície do rolo apresenta fissuras em toda a sua extensão de revestimento (Fig.

5.14) resultantes do fenómeno de fissuração a frio, podendo, em algumas zonas,

verificar-se a desunião do revestimento relativamente ao metal de base (Fig. 5.15).

Fig. 5.14 – Fenómeno de fissuração a frio na superfície do rolo de compressão

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O fenómeno de fissuração a frio em soldadura ocorre quando coexistem em simultâneo

os seguintes factores: hidrogénio no material depositado; elevado nível de tensões na junta e

microestruturas duras e frágeis. A existência deste fenómeno indica que não houve uma

correcta preparação da soldadura que inclui a secagem dos eléctrodos de soldadura, limpeza

completa de gorduras e sujidade da superfície a soldar, utilização de gás de protecção de

soldadura adequado e pré e pós-aquecimento dos rolos e dentes do britador.

Fig. 5.15 – Desunião do revestimento com o metal de base

Relativamente à desunião do revestimento com o metal de base, esta deve-se ao facto da

altura do cordão de soldadura ter dimensão consideravelmente grande (cerca de 8 mm)

comparativamente com a altura da zona fundida (2 mm), apresentando uma taxa de diluição

de cerca de 20%. Desta forma o revestimento não está convenientemente fixo à superfície do

rolo de compressão.

Note-se que, ao depositar um revestimento com características especiais para

determinadas condições de operação (como o eléctrodo DO*33 com excelente resistência à

abrasão), pretende-se obter a menor diluição possível para que as propriedades do

revestimento fiquem intactas em grande parte da altura do cordão. Consequentemente, pode

ocorrer o fenómeno de arrancamento deste revestimento devido à insuficiente ligação ao

metal de base.

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C. Os tijolos refractários dos funis a montante e jusante dos rolos de impacto têm uma

duração de cerca de um ano, contudo, apresentam alguma heterogeneidade na zona

de encosto entre tijolos, o que acelera o seu desgaste. Além do exposto, estes são de

difícil preparação pois necessitam de ser furados ao centro para que possam ser fixos

com parafusos às estruturas dos funis.

A Fig. 5.16 apresenta em pormenor os tijolos refractários do funil a montante do britador

com o furo central e respectivo parafuso (na parte interna do funil). A Fig. 5.17 mostra a

grande quantidade de parafusos que é necessário desapertar e apertar para remoção dos tijolos

danificados e fixação dos novos tijolos.

Fig. 5.16 – Heterogeneidade na transição entre tijolos

Furo e parafuso central do

tijolo refractário

Heterogeneidade na

transição entre tijolos

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Fig. 5.17 – Parafusos de fixação do tijolo refractário

A substituição do tijolo acarreta elevado tempo, uma grande quantidade de consumíveis

necessários à execução do furo central e de mão-de-obra (necessária para a remoção do tijolo

deteriorado, furação e colocação do novo tijolo nas caídas). Durante a fixação dos tijolos

ocorre, por vezes, a fractura do tijolo, encarecendo ainda mais esta tarefa.

D. O furo do veio do britador e a hélice interna, do lado do retorno da água de

refrigeração apresentam bastante calcário depositado, conforme mostra a Fig. 5.18.

Fig. 5.18 – Precipitação de calcário no britador de clínquer

Parafusos de fixação do

tijolo refractário

Calcário precipitado no

interior do rolo

Calcário precipitado no

interior do veio

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O calcário presente no lado do retorno indica que a água de refrigeração, após atravessar

o interior do rolo, atingiu pelo menos 60ºC, que é a temperatura de precipitação dos iões de

cálcio (Ca2+

). Por vezes, a quantidade de calcário é tal que obstrui completamente o furo do

veio do lado de retorno, provocando uma sobrepressão no interior do rolo e consequente

rebentamento deste.

Além disso, o reaproveitamento das águas de retorno dos equipamentos para um depósito

de alimentação associado à inexistência de um sistema de refrigeração provoca, ciclo após

ciclo de arrefecimento, um aumento gradual da temperatura da água chegando esta a atingir os

40ºC no depósito de alimentação. Para evitar o aquecimento progressivo da água é frequente

escoar água de retorno do britador para o esgoto, uma vez que o britador é o principal

consumidor de água da fábrica (consumindo 30 m3/h dos cerca de 80 m

3/h de toda a fábrica,

em plena laboração) e o principal “elemento aquecedor” (“aquecendo” água de alimentação

de 20-30ºC para 40-70ºC).

Outro motivo que explica a existência de calcário no interior do rolo é o incorrecto

funcionamento do sistema de descalcificação que não tem capacidade para a completa

remoção dos iões responsáveis pela dureza da água.

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6 Optimização do britador de clínquer branco

Importa recordar que uma simples substituição dos rolos de impacto, isto é, substituição

dos rolos em serviço por rolos reparados, demora cerca de cinco dias. Para evitar que a linha

de branco pare por um tempo superior ao referido tem-se em oficina um par extra de rolos

previamente reparados. Desta forma evita-se um incremento do tempo de substituição uma

vez que os rolos em serviço são reparados em oficina após novo arranque da linha.

Este capítulo aborda o trabalho desenvolvido no âmbito da optimização do britador de

clínquer branco. Na primeira parte descrevem-se as modificações efectuadas ao nível do

corpo do britador e na segunda expõe-se as alterações a efectuar ao nível do sistema de

arrefecimento e descalcificação da água de arrefecimento

6.1 Alterações ao nível do corpo do britador

Ao nível do corpo do britador foram efectuadas diversas alterações que se explicam de

seguida.

Inicialmente procedeu-se à remoção do revestimento deteriorado da superfície do rolo e

dos dentes e limparam-se estas superfícies de todas as impurezas, nomeadamente gorduras,

poeiras e óxidos, conforme se pode observar na Fig. 6.1.

Fig. 6.1 – Superfície do rolo após preparação

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A tarefa de limpeza e preparação com eléctrodo de chanfro permitiu obter uma superfície

com uma abertura que assegurasse um bom acesso à zona de trabalho, soldadura e posterior

batimento dos cordões. Mediante o recurso ao ensaio de líquidos penetrantes comprovou-se a

ausência de fissuras e outros defeitos no metal.

Durante a soldadura de aços de alto carbono ou de alta liga existe o risco de que o

depósito de solda e a zona termicamente afectada contenham altas percentagens de martensite.

Estas soldas apresentam elevada dureza e baixa ductilidade, podendo vir a fissurar durante o

arrefecimento. Para evitar esta fissuração recorre-se às técnicas de pré-aquecimento e pós-

aquecimento cuja finalidade é manter o teor de martensite da solda num nível mínimo. De

ambos os tratamentos resulta maior ductilidade, menor dureza e menor probabilidade de

fissuração durante o arrefecimento.

A martensite forma-se durante o arrefecimento da solda e da zona termicamente afectada.

A quantidade de martensite formada pode ser limitada reduzindo-se a velocidade de

arrefecimento da solda. O pré-aquecimento aumenta a temperatura do metal adjacente à solda,

de tal modo que o gradiente de temperatura entre a solda e o metal de base adjacente seja

reduzido. O resultado é que a zona de soldadura aquecida arrefece mais lentamente, visto que

a velocidade de arrefecimento é directamente proporcional ao gradiente de temperatura entre

as massas quente e fria.

Em resumo, o pré-aquecimento reduz:

Risco de fissuração provocada pela presença de hidrogénio;

As tensões geradas pela contracção de cada cordão;

A dureza na zona termicamente afectada.

A composição química do material tem um papel importante na temperabilidade do

material. O carbono é o elemento que influencia as características da martensite (quando ela

se forma) enquanto que os outros elementos, dificultando a difusão deste elemento,

influenciam igualmente a temperabilidade.

Dadas as características do ciclo térmico é necessário conhecer ou prever a temperatura

em soldadura, de forma a poder conduzir a operação sem riscos de fragilização ou fissuração.

Um dos critérios de avaliação da temperabilidade de um aço é através da determinação do

Carbono Equivalente (CE). Trata-se de um factor empírico adoptado pela IIW – International

Institute of Welding, e representa o somatório do teor em carbono com o dos outros elementos

afectados de um coeficiente relativo ao poder temperante de cada.

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Para se aplicar o pré-aquecimento é então necessário proceder ao cálculo de CE,

recorrendo à expressão indicada pela IIW, para aços estruturais:

(

) (

) (

) (6.1)

Na Tabela 6.1 apresenta-se a composição química do aço utilizado na construção dos

rolos de compressão (W. Nr. 1.0421).

Tabela 6.1 – Composição química do aço dos rolos de compressão

Composição química [% em peso] do aço W. Nr. 1.0421

C Si Mn Cr Mo Ni V

≤0,22 ≤0,50 ≤1,50 ≤0,30 ≤0,08 ≤0,40 ≤0,10

Substituindo os valores da tabela em (6.1) obtém-se um valor de CE de 0,59 que indica,

segundo Lopes & Miranda [1993], que o aço tem pouca soldabilidade (definida segundo a

AWS – American Welding Society, como sendo a «capacidade de um material ser soldado

nas condições de fabricação impostas por uma estrutura específica projectada de forma

adequada e de se comportar adequadamente em serviço»).

A Castolin Eutectic (empresa responsável pelo fornecimento dos eléctrodos e técnica

operatória) recomenda:

CE < 0,2 sem necessidade de pré-aquecimento;

CE 0,2 – 0,4 pré-aquecimento entre 100-200ºC;

CE > 0,4 pré-aquecimento entre 200-350ºC.

Existem vários métodos para se calcular a temperatura de pré-aquecimento (Temp pré-

aquec), sendo um dos mais aceites o que se baseia na seguinte expressão (6.2):

[ ] √ (6.2)

em que CE é o carbono equivalente do aço.

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O pré-aquecimento depende do CE do aço e das dimensões e geometria da peça.

Assim, segundo a composição deste a aço, a temperatura de pré-aquecimento deveria ser

de 204 ºC na zona de soldadura. No entanto, entendeu-se fazer um pré-aquecimento de 100

ºC, com recurso a um maçarico, aplicado de forma lenta e profunda devido à grande dimensão

da peça e factores de ordem prática (capacidade de aquecimento homogéneo e facilidade do

soldador poder trabalhar com a radiação emitida). Esta temperatura foi mantida durante o

processo de soldadura.

O revestimento por soldadura foi realizado com eléctrodos Castolin® EnDOtec

NanoAlloy™ DO*390N.

Segundo Klimpel & Kik [2008] a composição química deste eléctrodo é a apresentada na

Tabela 6.2.

Tabela 6.2 – Composição química do eléctrodo Castolin DO*390N

Composição química [%] do eléctrodo Castolin DO*390N

C Si Mn Cr Mo Nb W B Fe

<5,0 <2,0 <5,0 <20,0 <10,0 <10,0 <10,0 <5,0 Restante

As ligas NanoAlloy® são caracterizadas pelas suas elevadas concentrações de carbonetos

de boro complexos ultra duros (M23(BC)6), carbonetos metálicos (MC) e boretos metálicos

(M2B), finamente dispersos numa matriz nanoscópica de liga de ferro alfa refinada. As ligas

compostas de grande resistência à abrasão são formadas tipicamente por fases de partículas

angulares de carboneto de tungsténio ultra duras, numa matriz aglutinante relativamente

macia (à base de Ni ou Fe). Estas estruturas nano desenvolvidas com base no estudo da

engenharia de materiais apresentam características extraordinárias, ultrapassando com grande

margem as estruturas cristalinas convencionais.

A estrutura única de NanoAlloy oferece:

Uma resistência excepcional à erosão e à abrasão;

Revestimentos de soldadura ultra duros com tenacidade;

Dureza mantida até temperaturas ao rubro;

Tolerância a ciclos térmicos repetidos;

Baixo coeficiente de atrito para uma boa resistência à fricção metal-metal;

Maior produtividade e redução de custos.

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Segundo Castolin Eutectic [2006] fizeram-se testes ASTM G65, descritos por Klimpel &

Kik [2008], que simulam o fenómeno de abrasão com baixa pressão para a avaliar a

resistência ao desgaste da liga DO*390N. Os resultados estão apresentados na Tabela 6.3.

Nestes testes foram utilizados como referência relativa três passes da liga DO*33 face a um

passe de DO*390N. As soldaduras foram feitas executadas com baixa entrega térmica (250

A).

Tabela 6.3 – Resultado comparativo do teste ASTM G65 para as ligas DO*33 e DO*390N

Resultado comparativo do teste ASTM G65 para as ligas DO*33 e DO*390N

Provete N.º

provete

Massa

antes teste

[g]

Massa

após teste

[g]

Perda de

massa

[g]

Perda de

massa

média [g]

Perda de

volume médio

[mm3]

Resistência à

abrasão

relativa

DO*33 I 146,5962 146,4252 0,1710

0,1804 24,4114 1,00 II 145,2656 145,0758 0,1898

DO*390N I 161,8085 161,7121 0,0964

0,1011 13,1299 1,86 II 164,9456 164,8398 0,1058

Os testes revelaram que a resistência à abrasão da liga DO*390N com diluição

(soldadura com um passe apenas), é quase o dobro da liga DO*33 sem diluição (soldadura

com três passes).

A resistência ao desgaste significativamente superior da liga DO*390N pode ser

explicada pelo maior volume fraccional de carbonetos de boro estáveis e boretos no depósito

e pelo íntimo espaço em escala nano dos cristais na matriz ferrítica. Consequentemente a

matriz está metalurgicamente autoprotegida mantendo os constituintes duros firmemente

ancorados, não existindo a possibilidade de serem removidos por vectores de abrasão ou

erosão.

Este eléctrodo caracteriza-se pelo depósito sem escória com elevada concentração de

carbonetos de boro complexos distribuídos uniformemente numa matriz de liga de ferro. A

microestrutura exclusiva de escala nano (Fig. 6.2) garante um rendimento excepcional contra

o desgaste provocado por abrasão e erosão severas conservando as suas propriedades de

dureza básica até aos 750ºC.

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Fig. 6.2 – Microestruturas do cordão DO*390N com escala de 20 µm (à esquerda) e 5 µm (à direita)

Os depósitos de soldadura apresentam microfissuras anti-tensões particulares resultantes

do processo de soldadura deste eléctrodo, contornos da superfície de soldadura lisos e sem

ondulações, conforme mostra a Fig. 6.3. Estas microfissuras têm como objectivo a libertação

das tensões decorrentes do processo de soldadura.

Este eléctrodo foi concebido especialmente para revestimentos de protecção com extrema

resistência à abrasão e erosão em aços ao carbono, aços ligados e aços inoxidáveis,

apresentando durezas de 66-68 HRC em apenas um passe e 67-71 HRC em dois passes.

Utilizou-se gás de protecção Linde® EN 439 CRONIGON 2, com 97,5% Ar e 2,5% CO2,

uma vez que o gás de protecção recomendado para este eléctrodo deve ter esta composição.

Uma vez terminado o processo de soldadura, o arrefecimento foi controlado e o mais

lento possível, tendo-se coberto a peça com isolante térmico.

Importa referir que os parâmetros de soldadura foram seleccionados criteriosamente por

um soldador especializado e totalmente dedicado à tarefa de reparação dos rolos do britador.

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Fig. 6.3 – Superfície lisa do dente do rolo revestido e sem fissuração a frio apresentando microfissuras

anti-tensões

Quanto à parte geométrica do britador foi tido em atenção o estado arredondado do dente

após serviço e, em vez de substituir o dente desgastado por um novo paralelepipédico,

revestiu-se com fio fluxado, protecção gasosa e as técnicas supracitadas após correcta

preparação e limpeza da superfície.

Ao eliminar as “arestas vivas” procurou-se atenuar a concentração de tensões de

soldadura. Adicionalmente, após o arrefecimento completo da peça procedeu-se ao processo

de maquinação e acabamento de forma cuidadosa (conforme ilustram as imagens da Fig. 6.4),

procurando eliminar, o mais possível, os defeitos detectados (poros, fissuras, mordeduras,

etc.), que se pudessem converter em pontos de concentração de tensões.

Microfissuras anti-tensões

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Fig. 6.4 – Perfil arredondado do dente

Além do revestimento da superfície exterior dos rolos, em cada reparação são

substituídos os tampos laterais de estanquidade (um com 16 mm, Des. 21.088 em Anexos e

outro com 30 mm de espessura, Des. 21.087 em Anexos).

O histórico deste equipamento indica que a falha com maior taxa de incidência é o

rebentamento do tampo de 30 mm, representado na Fig. 6.5.

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Fig. 6.5 – Corte longitudinal do conjunto do rotor

A origem deste acontecimento prende-se com a existência de uma grande quantidade de

calcário no interior do rolo, essencialmente do lado da saída da água, conforme representa a

Fig. 6.6. A presença de calcário não permite o escoamento da água no interior do rolo, o que

provoca o aquecimento e vaporização da água causando uma sobrepressão no interior do rolo

e conduzindo à rotura daquele tampo.

Fig. 6.6 – Presença de calcário à saída do veio

Na paragem anual, além da reparação da superfície dos rolos é feita a substituição dos

tampos, o que permite renovar estes componentes que já tiveram em serviço, sujeitos a

diversos ciclos térmicos e mecânicos, por novas peças que apresentam as suas propriedades

mecânicas intactas.

Após preparação das superfícies do chanfro e do rolo na zona do chanfro iniciou-se o

processo de estanhagem das com eléctrodo revestido Castolin® EC4022 de 2,5mm.

1 – Veio

2 – Rolo de compressão

3 – Anel de fixação

4 – Anel de fixação

5 – Tampo de 30 mm

6 – Anéis interiores

7 – Tampo de 16 mm

8 – Hélices

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A estanhagem é uma técnica executada com intuito de acomodar as diferenças na

composição e nas propriedades existentes entre os materiais de base e de soldadura, tais como

coeficientes de expansão térmica e condutividade térmica.

O eléctrodo EC4022 é um eléctrodo altamente ligado à base de níquel oferecendo uma

margem de segurança máxima para as soldaduras altamente solicitadas e de forte secção,

graças à sua grande resistência à fissuração e à sua excelente soldabilidade em posição. Esta

liga tem uma resistência à tracção superior à do material de base, que se pensa ser suficiente

para um bom comportamento posterior em serviço, o seu alongamento (35%) é muito superior

ao do material de base, permitindo absorver as tensões produzidas durante a soldadura,

inevitáveis a 100% com o processo operatório e os esforços de dilatação e contracção em

serviço.

Especialmente concebido para a soldadura de ligação de juntas de grande secção

apresenta as seguintes características:

Resistência à tracção [N/mm2]: 660

Limite elástico [N/mm2]: 390

Alongamento A5 [%]: 35

Dureza (HV10): 160

A estanhagem (Fig. 6.7) foi executada com baixa intensidade, com arco curto e eléctrodo

quase vertical, tendo com finalidade minimizar o fenómeno de diluição e reduzir a zona

termicamente afectada.

Fig. 6.7 – Técnica de estanhagem (à esquerda) e técnica de estanhagem com soldadura em multipasses

(à direita)

Na soldadura dos tampos dos rolos de compressão foi ainda utilizada a técnica de “passo

de peregrino” que consiste na deposição de cordões curtos, no sentido contrário ao da

progressão da soldadura, devendo cada cordão sobrepor parcialmente o início do cordão

anterior, como mostra a Fig. 6.8.

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Fig. 6.8 – Sequência de soldadura com “passo de peregrino”

Esta técnica tem como objectivo a redução de tensões de contracção da soldadura graças

à modificação da distribuição de calor acumulado na zona de soldadura.

Finalmente, e não menos importante, bateu-se os cordões de soldadura imediatamente

após depósito com martelo de bola, para compensar, por deformação plástica, as tensões

geradas pela contracção de cada cordão, cuja acumulação pode causar a rotura. A Fig. 6.9

mostra o efeito de batimento dos cordões.

Fig. 6.9 – Efeito de batimento dos cordões

No que respeita à protecção dos veios dos rolos e aos funis superior e inferior, tiveram-se

em atenção algumas situações verificadas na montagem e desmontagem do tijolo de

revestimento destas peças, bem como o seu estado após serviço.

As dificuldades de preparação e aplicação do tijolo refractário associadas à

heterogeneidade das superfícies levaram a reflectir acerca da existência de uma solução mais

adequada para proteger estas peças. Assim, o tijolo refractário Refracta R2000 foi substituído

por betão refractário Refracta PF-97-H de propriedades químicas, térmicas e mecânicas

equivalentes.

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O betão refractário apresenta as seguintes vantagens face ao tijolo refractário:

Facilidade e rapidez de aplicação;

Possibilidade de ser aplicado em geometrias complexas;

Melhor acabamento, estanquidade e homogeneidade em juntas, comparativamente às

junções dos tijolos;

Menor mão-de-obra.

Contudo, o sucesso da aplicação depende do modo de preparação da amassadura, de

aplicação, vibração e cura.

O betão refractário apresenta maior desgaste que o tijolo refractário e o custo do material

por metro linear é cerca de 10-20% superior ao do tijolo. No cômputo geral, a poupança em

mão-de-obra dilui a diferença por metro linear obtendo-se, neste caso, custos globais

vantajosos para o betão.

A Fig. 6.10 mostra a protecção dos veios dos rolos com revestimento de betão

refractário, sendo possível visualizar a superfície homogeneamente lisa. De referir que, para

que fosse possível aplicar o betão refractário, a geometria desta peça foi modificada, tendo

sido construído um aro em aço refractário X 15 CrNiSi 25 20 (W. Nr. 1.4841) que suporta

lateralmente o material refractário.

Fig. 6.10 – Protecção dos veios dos rolos revestida a betão

A Fig. 6.11 apresenta o funil superior numa fase intermédia de aplicação do betão sendo

possível visualizar a ancoragem e homogeneidade da superfície de betão.

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Fig. 6.11 – Funil superior com betão refractário

6.2 Alterações ao nível do sistema de tratamento da água do britador

Conforme referido anteriormente, foi detectado o incorrecto funcionamento do sistema

de descalcificação e a ausência de um sistema de refrigeração da água, pelo que, se estão a

estudar as diversas possibilidades de actualização do sistema descalcificador e de aquisição de

um sistema de arrefecimento de água industrial.

Convém referir que os problemas de calcário e de “água quente” não são verificados

apenas no britador sendo comuns aos restantes equipamentos que requerem refrigeração por

água, tais como: moinhos de cru, de carvão e de cimento; sondas de gases dos fornos; roletes

de apoio do forno, entre outros.

A dureza representa a concentração de iões bivalentes presentes na água. Contribuem

essencialmente para esta os iões de cálcio, magnésio, estrôncio, ferro e manganês. A dureza

classifica-se em:

Total - mede a totalidade dos iões bivalentes;

Cálcica - mede o teor em cálcio;

Magnesiana - mede o teor em magnésio.

Embora não haja uma convenção formal, a título prático, a água pode ser classificada

quanto à dureza de acordo com a Tabela 6.4:

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Tabela 6.4 – Dureza da água

Designação da água Teor de CaCO3/L

Muito mole 0 a 70 ppm

Mole 70-135 ppm

Média dureza 135-200 ppm

Dura 200-350 ppm

Muito dura mais de 350 ppm

No que concerne ao sistema de descalcificação de água existente foram feitas análises da

água à entrada e saída do equipamento, por forma a aferir a capacidade de remoção da dureza

da água requerida. A água à entrada apresenta 310 ppm CaCO3/L e à saída 180 ppm

CaCO3/L, bastante superior às 40 ppm CaCO3/L pretendidas. Este valor comprova que o

sistema de descalcificação não está a funcionar correctamente pois não tem capacidade de

remover a quantidade de iões Ca2+

que evite incrustações nas tubagens e demais

equipamentos fabris.

Para o correcto dimensionamento dos equipamentos de refrigeração de água foram

medidos os caudais volumétricos e temperaturas da água de retorno do britador de clínquer

(cerca de 30m3/h a 65ºC) e de toda a fábrica (aproximadamente 80m

3/h a 45ºC).

O sistema de refrigeração será dimensionado para arrefecer 80m3/h de 45ºC para 25ºC

(temperatura de água de alimentação admissível para arrefecimento dos equipamentos fabris).

O cálculo da potência térmica de arrefecimento [W] faz-se através da expressão

(6.3):

[ ] (6.3)

em que é o caudal mássico [kg/s], o calor específico da água ( = 4,184 [[J/kg·ºK]), e

a diferença entre a temperatura de entrada e de saída da água.

Calcula-se o caudal mássico de água através da expressão (6.4) correspondente a 80m3/h

a uma temperatura média de

[ºK].

(6.4)

em que é o caudal volumétrico [m3/s] e a massa volúmica [kg/m

3]

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Pelas tabelas das propriedades termodinâmicas da água obtém-se para 308,15ºK os

seguintes valores: [kg/m3] e [J/kg·ºK] (valores obtidos por interpolação

através das Tabelas Termofísicas da Água Saturada em Incropera & DeWitt [1998]).

Substituindo em (6.4) tem-se:

[kg/s]

Substituindo o valor de e de em (6.3) tem-se:

[W]

Portanto, para arrefecer a água para as condições pretendidas é necessário adquirir um

equipamento que apresente uma capacidade de dissipação de calor de cerca de 1,8 MW.

Contudo, os custos envolvidos para a aquisição deste tipo de equipamentos requerem a

aprovação de Ordens de Investimento cujos montantes se cifram em cerca de 150.000€.

Este valor poderá ser considerado elevado se se menosprezar a possibilidade de paragem

do forno de branco devido à obstrução com calcário do canal de saída da água de refrigeração

dos rolos que poderá provocar um novo rebentamento de um rolo cuja reparação requer cerca

de uma semana.

Tendo em conta esta situação, no ponto seguinte, faz-se a análise de custos associados a

uma paragem de cinco dias da linha de branco.

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7 Análise de custos

Consoante foi referido inicialmente, o principal objectivo deste trabalho é evitar paragens

intermédias às manutenções anuais planeadas da linha de branco por falha do britador de

clínquer.

A estas paragens intermédias estão associados, entre outros, os seguintes custos:

1) Custos de arranque da linha de produção;

2) Custos de manutenção;

3) Custos de não produção.

Os custos de arranque são difíceis de quantificar pois envolvem principalmente custos

energéticos. Estes custos representam custos de electricidade e combustível utilizado no

aquecimento e arranque do forno. O aquecimento do forno tem duração de cerca de oito

horas. Nas primeiras quatro horas o combustível utilizado é o fuel com alimentação de cerca

de 4,5 t/h e nas restantes o aquecimento é feito a coque de petróleo sendo a alimentação de 6

t/h. Na Tabela 7.1 calcula-se o custo de combustíveis gastos no aquecimento do forno.

Tabela 7.1 – Custo dos combustíveis de aquecimento do forno

Custo dos combustíveis de aquecimento do forno

Combustível

(I)

Quantidade de

combustível utilizada [t]

(II)

Custo do combustível

[€/t]

(III)

Custo total [€]

(I×II)

Fuel 4 h × 4,5 t/h = 18 t 317€/t 5706

Coque 4 h × 6 t/h = 24 t 71€/t 1704

Total --- --- 7410

Os custos dos combustíveis utilizados para o aquecimento do forno são de

aproximadamente 7.400€. Os custos de electricidade são difíceis de calcular pois é

complicado quantificar os consumos de cada equipamento na fase de arranque do forno. Por

este motivo e pelo facto de representarem uma pequena fracção dos custos globais, os custos

de electricidade não serão considerados nesta análise.

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Relativamente aos custos de manutenção, estes incluem: os custos de serviços externos,

tome-se como exemplos a reparação dos rolos de compressão do britador de clínquer, a

análise da condição dos rolamentos; materiais, tais como perfis de aço, eléctrodos,

ferramentas, consumíveis e outros necessários à reparação do britador; mão-de-obra interna

necessária para conseguir o acesso ao britador, operar a grua, substituir os rolos, etc.

Tomando como exemplo a última reparação dos rolos, estes custos são da ordem dos 7.000€.

Quanto aos custos de não produção – a maior parcela dos custos globais associados à

falha do equipamento – esta inclui as perdas de facturação às quais estão associados lucros

que, desta forma, não podem ser contabilizados. Na Tabela 7.2 são determinados os custos

diários de não produção.

Tabela 7.2 – Análise do custo diário de não produção

Custo diário de não produção

(I)

Produção média

diária de clínquer

[t]

(II)

Incorporação

média de clínquer

no cimento [%]

(III)

Produção média

diária de cimento

[t]

(I÷II)

(IV)

Margem média

sobre custos semi-

fixos e variáveis

[€/t]

(V)

Custo diário de

não produção [€] (III×IV)

290 78,5 369 14 5166

Assim, os custos de não produção associados a um dia de paragem da linha de branco são

aproximadamente 5.166€.

Importa referir que, o valor de 5.166€ obtido corresponde aos custos de não produção

relativos a um dia, considerando que todo o clínquer produzido é “transformado” em cimento

e que toda a quantidade de cimento é comercializada. Os custos de não produção associados a

uma reparação do britador não planeada, com duração de cinco dias, são portanto de cerca de

25.830€. Actualmente, a procura do mercado interno é satisfeita com relativa facilidade (em

cerca de seis meses de laboração da linha) pelo que o cimento produzido no restante tempo de

funcionamento da linha será colocado no mercado externo com margens menores e consoante

a oportunidade que surja para escoar o produto. Contudo, este facto não deve ser visto como

uma forma de menosprezar a disponibilidade da linha produção de cimento branco, sendo

preferível entender a importância de estar preparado e disponível para uma eventual

oportunidade de fornecimento do produto e, assim, conseguir alargar o mercado.

Os custos de não produção associados a uma paragem do forno não planeada, com

duração de cinco dias, apresentam-se na Tabela 7.3.

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Tabela 7.3 – Custos totais associados a uma paragem não programada de cinco dias

Custo diário de não produção

Natureza dos custos Montante [€] Total [€]

Arranque 7410

40240 Manutenção 7000

Não produção 25830

Assim, o projecto de optimização do britador de clínquer branco visa alcançar uma

poupança de, aproximadamente, 40.000€.

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8 Conclusões

Este trabalho teve como objectivo principal optimizar o britador de clínquer branco

mediante alterações à construção e condições de funcionamento deste, tendo em conta o seu

papel vital na linha e procurando evitar a sua falha com inevitáveis custos associados.

De acordo com o disposto em 5.5 Problemas verificados após operação e suas causas

procurou-se dar resposta aos problemas do britador de clínquer actuando nas suas causas.

Assim, a Tabela 8.1 expõe, sumariamente, as soluções apresentadas para cada um dos

problemas.

Tabela 8.1 – Soluções apresentadas para os problemas do britador de clínquer

Optimização do britador de clínquer branco

Abrangência Problema Descrição Natureza da

causa Decisão adoptada

Ao nível do

corpo do

britador

A

Arrancamento do

revestimento duro Operacional

Seleccionar eléctrodos

contínuos de soldadura com

mais ductilidade, resistência

às elevadas temperaturas e

resistência à abrasão

Geometria do dente

inadequada Estrutural

Utilizar uma geometria de

dente arredondada

B Insuficiente preparação

da soldadura Operacional

Utilizar pré e pós-

aquecimento na soldadura,

utilizar gás de protecção,

regular correctamente os

parâmetros de soldadura

C

Dificuldade de aplicação

do tijolo Operacional

Aplicar betão refractário em

detrimento de tijolo refractário Heterogeneidade da

superfície dos funis Estrutural

Ao nível do

sistema de

tratamento da

água do britador

D

Presença de calcário no

interior do britador

Sistema de

Descalcificação

Actualizar o sistema de

descalcificação de acordo

com as capacidades

requeridas

Elevada temperatura da

água de refrigeração

Sistema de

Refrigeração

Implementar um sistema de

refrigeração da água de

alimentação

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O trabalho aqui apresentado, devido à sua natureza e complexidade, não se pode

considerar completo, contudo desenvolvido considero ter contribuído com alguma inovação

no que se refere à análise das causas de falha do britador de clínquer branco e apresentação de

soluções para as mesmas.

Nesta fase, as alterações estudadas ao nível do corpo do britador foram implementadas,

no entanto, à data de realização deste trabalho, não se dispõe de conclusões práticas, uma vez

que, o britador se encontra em funcionamento não sendo possível verificar as melhorias.

Relativamente ao sistema de tratamento de água industrial – bastante importante, não só

para o correcto funcionamento do britador mas também para os demais equipamentos fabris –

este encontra-se em fase de aprovação da respectiva Ordem de Investimento.

No que respeita aos objectivos gerais do estágio, igualmente importantes, penso ter

progredido em termos de formação académica através do conhecimento de diversos tipos de

equipamentos mecânicos, cada um com as suas características, princípios de funcionamento e

situações problemáticas.

Estas situações possibilitaram a aquisição de competências técnicas que foram

desenvolvidas pelo acompanhamento das tarefas de manutenção realizadas nos equipamentos

e, ao mesmo tempo, devido à procura da causas e, eventuais, soluções para os referidos

problemas.

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10 Anexos