intervenção profissional do assistente social e as condiçoes de trabalho no suas

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750 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 Intervenção profissional do assistente social e as condições de trabalho no Suas* The social worker´s professional intervention and working conditions at Suas Raquel Raichelis** Resumo: Este artigo tem por objetivo discutir o trabalho do assis‑ tente social no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (Suas), enquanto espaço sócio‑ocupacional do assistente social e de outros profissionais, que amplia o mercado de trabalho e abre novas possibi‑ lidades de intervenção profissional, ao mesmo tempo em que precari‑ za e intensifica os processos de trabalho, tensionando as formas de efetivação do projeto ético‑político profissional do serviço social. Palavras‑chave: Serviço Social. Trabalho. Suas. Precarização. Proje‑ to profissional. Abstract: This article aims at discussing the professional practice of the social worker in the context of the Sistema Único de Assistência Social — Suas. It intends to address the system as a socio‑occu‑ pational space for social workers and other professionals, which enhances the labor market and opens new possibilities for professional intervention. However, it takes place concurrently with the precari‑ zation and intensification of the working process, putting pressure on the strategies for the realization of the ethical‑political professional project of social work. Keywords: Social Work. Work. Suas. Precarization. Professional project. * Este artigo está baseado na palestra proferida em mesa‑redonda do 3º Seminário Anual de Serviço Social: O Serviço Social frente aos desafios do século XXI — crise do capitalismo, novos modelos de desen‑ volvimento e as repercussões na formação e na intervenção profissional, promovido pela Cortez Editora em maio de 2010, no Tuca, auditório da PUC‑SP. ** Assistente social; mestre e doutora em Serviço Social pela PUC‑SP; coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho e Profissão do Programa de Estudos Pós‑Graduados em Serviço Social da PUC‑SP, São Paulo, Brasil; pesquisadora da Coordenadoria de Estudos e Desenvolvimento de Projetos Especiais da PUC‑SP (Cedpe); atual coordenadora do Programa de Estudos Pós‑Graduados em Serviço Social da mesma universidade (2009‑11).

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  1. 1. 750 Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 Intervenoprofissionaldoassistentesocial eascondiesdetrabalhonoSuas* ThesocialworkersprofessionalinterventionandworkingconditionsatSuas Raquel Raichelis** Resumo: Este artigo tem por objetivo discutir o trabalho do assis tente social no mbito do Sistema nico de Assistncia Social (Suas), enquanto espao scioocupacional do assistente social e de outros profissionais, que amplia o mercado de trabalho e abre novas possibi lidades de interveno profissional, ao mesmo tempo em que precari za e intensifica os processos de trabalho, tensionando as formas de efetivao do projeto ticopoltico profissional do servio social. Palavraschave: Servio Social. Trabalho. Suas. Precarizao. Proje to profissional. Abstract:This article aims at discussing the professional practice of the social worker in the context of the Sistema nico de Assistncia Social Suas. It intends to address the system as a sociooccu pational space for social workers and other professionals, which enhances the labor market and opens new possibilities for professional intervention. However, it takes place concurrently with the precari zation and intensification of the working process, putting pressure on the strategies for the realization of the ethicalpolitical professional project of social work. Keywords: Social Work. Work. Suas. Precarization. Professional project. * Este artigo est baseado na palestra proferida em mesaredonda do 3 Seminrio Anual de Servio Social: O Servio Social frente aos desafios do sculo XXI crise do capitalismo, novos modelos de desen volvimento e as repercusses na formao e na interveno profissional, promovido pela Cortez Editora em maio de 2010, no Tuca, auditrio da PUCSP. ** Assistente social; mestre e doutora em Servio Social pela PUCSP; coordenadora do Ncleo de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho e Profisso do Programa de Estudos PsGraduados em Servio Social da PUCSP, So Paulo, Brasil; pesquisadora da Coordenadoria de Estudos e Desenvolvimento de Projetos Especiais da PUCSP (Cedpe); atual coordenadora do Programa de Estudos PsGraduados em Servio Social da mesma universidade (200911).
  2. 2. 751Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 Introduo O trabalho do assistente social tem sido um tema presente na agenda profissional, e vem ganhando centralidade crescente nos debates de profissionais estudantes e pesquisadores do Servio Social, sinali zando a premncia de estudos e pesquisas que desvendem o pro cessamento do trabalho do assistente social (Iamamoto, 2007) e as formas por ele assumidas nos diferentes espaos ocupacionais e nas diversas atividades que desenvolvem no cotidiano das instituies pblicas e privadas. As transformaes contemporneas que afetam o mundo do trabalho, seus processos e sujeitos provocam redefinies profundas no Estado e nas polticas sociais, desencadeando novas requisies, demandas e possibilidades ao traba lho do assistente social no mbito das polticas sociais. Aimplantao do Suas e sua rpida expanso por todo o territrio nacional vem ampliando consideravelmente o mercado de trabalho para os assistentes sociais e demais profissionais atuantes nessa rea. Ao mesmo tempo e no mes mo processo, contraditoriamente, aprofundam a precarizao das condies em que este trabalho se realiza, considerando o estatuto de trabalhador assalariado do assistente social, subordinado a processos de alienao, restrio de sua autonomia tcnica e intensificao do trabalho a que esto sujeitos os trabalha dores assalariados em seu conjunto. Ainda que a poltica de assistncia social seja um campo de trabalho mul tiprofissional e interdisciplinar, ela se constitui historicamente como uma das principais mediaes do exerccio profissional dos assistentes sociais, sendo reconhecidos socialmente (e se autorreconhecendo) como os profissionais de referncia desta poltica, apesar das ambiguidades que cercam essa relao de longa data.1 Problematizar estas questes no contexto da anlise dos espaos scioocupa-. cionais e das novas configuraes que assume o trabalho e as demandas profissio 1. Na hierarquia das prticas profissionais, a assistncia social foi secundarizada, especialmente a par tir do Movimento de Reconceituao na Amrica Latina, que fez a crtica radical ao assistencialismo e ao conservadorismo profissional, marcas histricas das aes deste campo. Apesar da luta empreendida pela categoria profissional e pela direo poltica das entidades profissionais para a transformao da assistncia social em poltica pblica de seguridade social, comprometida com a expanso de direitos, permanece um movimento ambguo de afirmao/recusa, continuidade/ruptura diante da premncia das necessidades sociais e a precariedade das respostas institucionais.
  3. 3. 752 Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 nais, bem como os processos e condies de trabalho do assistente social (e demais trabalhadores sociais) no Suas, so as finalidades deste artigo. Espaos scioocupacionais e trabalho do assistente social situando algumas premissas Analisar os espaos scioocupacionais do assistente social exige inscrever a reflexo no movimento histrico da sociedade brasileira e mundial, conside rando os processos sociopolticos que condicionam o modo como o Servio Social se insere na sociedade capitalista madura, como um tipo de especializa o do trabalho inscrito na diviso sociotcnica do trabalho, articulado aos processos de produo e reproduo das relaes sociais.2 Ao mesmo tempo, para alm das dimenses objetivas que conferem ma terialidade ao fazer profissional, preciso considerar tambm, e de forma nem sempre convergente, o modo pelo qual o profissional incorpora na sua cons cincia o significado do seu trabalho, as representaes que faz da profisso, a intencionalidade de suas aes, as justificativas que elabora para legitimar sua atividade que orientam a direo social do exerccio profissional. Nesses termos, importante demarcar de sada que refletir sobre os espa os scioocupacionais do servio social implica considerlos como expresses das dimenses contraditrias do fazer profissional, nos quais se condensam e se confrontam concepes, valores, intencionalidades, propostas de sujeitos individuais e coletivos, articulados em torno de distintos projetos em disputa no espao institucional onde se implementam polticas pblicas. No caso em questo, interessanos analisar o trabalho do assistente social no mbito do Sistema nico deAssistncia Social (Suas), pela oportunidade de problematizar um processo que est em curso em todo o pas, e que pela velo cidade e complexidade apresenta desafios s profisses envolvidas que precisam ser acompanhados e desvendados criticamente. Apesar de a assistncia social ser uma das mediaes mais tradicionais e persistentes do exerccio profissional, considerase que a implantao do Suas 2. Aqui se insere um amplo e polmico debate atual a respeito do Servio Social como trabalho e do assistente social como trabalhador assalariado, que no cabe neste momento aprofundar. Cf. Iamamoto, 2007, e Lessa, 2007.
  4. 4. 753Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 amplia as possibilidades de trabalho profissional nos novos espaos ocupacio nais, como os Centros de Referncia de Assistncia Social (Cras) e os Centros de Referncia Especializados de Assistncia Social (Creas), alm de demandar o desenvolvimento de novas habilidades e competncias para a gesto pblica nos mbitos da assessoria, planejamento, avaliao, monitoramento, entre outras. Tratase, pois, de demandas profissionais que desafiam os assistentes sociais a formular mediaes tericas, tcnicas, ticas e polticas, na perspectiva da competncia crtica diante das exigncias burocrticas e administrativas que lhe so requeridas, de modo a no sucumbir ao discurso competente (Chaui, 1989) autorizado e requisitado pelas instncias burocrticas das instituies empregadoras. Descartando, portanto, qualquer viso unilateral e buscando romper com os conhecidos pares dicotmicos na reflexo sobre o trabalho do assistente social voluntarismo/determinismo, politicismo/economicismo, conservado rismo/transformao, entre outros, e com base em Iamamoto (1982), partimos do suposto que apreender os espaos scioocupacionais que se abrem ao exer ccio profissional para capturar a lgica de retrao ou intensificao de deman das em determinadas reas, como a que ocorre atualmente com a poltica de assistncia social, bem como as respostas individuais e coletivas dos assistentes sociais s novas exigncias institucionais, exige desvelar o carter contraditrio do Servio Social como prtica polarizada pelos interesses das classes sociais, que tanto participa dos mecanismos de manuteno quanto de mudana, res pondendo a interesses do capital e tambm do trabalho, participando dos pro cessos de dominao e de resistncia, continuidade e ruptura da ordem social, como bem analisou Iamamoto em sua ampla e significativa produo biblio grfica sobre o Servio Social na sociedade capitalista madura.3 O trabalho do assistente social , pois, a expresso de um movimento que articula conhecimentos e luta por espaos no mercado de trabalho, competncias e atribuies privativas que tm reconhecimento legal nos seus estatutos nor mativos e reguladores (regulamentao profissional, cdigo de tica, diretrizes curriculares da formao profissional), projeto ticopoltico que confere dire o social ao trabalho profissional.Ao mesmo tempo, os sujeitos que a exercem, individual e coletivamente, se subordinam s normas de enquadramento insti 3. Entre outros, consultar especialmente Iamamoto e Carvalho, 1982; Iamamoto, 1998, e Iamamoto, 2007.
  5. 5. 754 Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 tucional, mas tambm se organizam e se mobilizam no interior de um coletivo de trabalhadores que repensam a si mesmos e a sua interveno no campo da ao profissional. nesse processo tenso que as profisses constroem seus projetos profis sionais, no caso do Servio Social, o projeto ticopoltico profissional que h pelo menos trs dcadas vem sendo formulado coletivamente pelo Servio Social brasileiro. Os projetos profissionais apresentam a autoimagem de uma profisso, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e funes, formulam os requisitos (tericos, prticos e institucionais) para o seu exerccio, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabe lecem as bases das suas relaes com os usurios de seus servios, com as outras profisses e com as organizaes e instituies privadas e pblicas (inclusive o Estado, a quem cabe o reconhecimento jurdico dos estatutos profissionais. (Net to, 2006, p. 144) Esse projeto, que tem por base um sujeito coletivo, exige organizao de um corpo ou categoria profissional por meio do conjunto dos seus agentes pro fissionais, docentes, pesquisadores, estudantes e organismos profissionais, e resultado de conjunturas e dinmicas sociopolticas particulares, que reforam a estreita vinculao entre a definio e a ampliao dos espaos de trabalho dos assistentes sociais e as manifestaes da questo social.4 No Brasil, notadamente a partir dos anos 1980, marco da construo do projeto de ruptura com o conservadorismo, assistese ao agravamento da ques to social e suas dramticas expresses a incidir no cotidiano de vida e trabalho de indivduos, grupos, famlias, coletividades com os quais o Servio Social trabalha, na luta pela reproduo social em suas mltiplas dimenses materiais, subjetivas, relacionais, espirituais. As polticas sociais, como mediao fundamental da ao do Estado, via bilizam uma interveno continuada e estratgica sobre as sequelas da questo social, levando o aparelho estatal a desenvolver simultaneamente funes eco 4. A questo social, tal como a entendemos, a expresso das desigualdades sociais produzidas e re produzidas na dinmica contraditria das relaes sociais, e, na particularidade atual, a partir das configura es assumidas pelo trabalho e pelo Estado, no atual estgio mundializado e financeirizado do capitalismo contemporneo. Para aprofundamento consultar Netto, 1992, e Iamamoto, 2007.
  6. 6. 755Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 nmicas, polticas e sociais, administrando as contradies e buscando um sistema de consensos em busca de legitimidade social. Simultnea e dialeticamente, as polticas sociais representam a face da luta dos movimentos sociais, expressando a dimenso de conquista das classes trabalhadoras decorrente das presses e mobilizaes em busca de respostas a necessidades sociais de reproduo social, ainda que estas sejam invariavel mente insuficientes e limitadas. As respostas do Estado questo social se realizam por meio de um semnmero de organizaes sociais, por meio da fragmentao e setorizao das necessidades sociais (da as polticas sociais no plural), recortandoas em problemas sociais particulares como o desemprego, a fome, o analfabetismo, a doena etc.), dificultando a explicitao de sua raiz comum numa perspectiva de totalidade, provocando a atomizao das demandas e a competio entre os segmentos demandantes do acesso a parcelas do fundo pblico. Aprpria implementao das polticas sociais tambm um jogo comple xo de conflitos e tenses, que envolve diferentes protagonistas, interesses, projetos e estratgias, contexto em que so requisitadas a presena e a interven o de diferentes categorias profissionais que disputam espaos de reconheci mento e poder no interior do aparelho institucional. Nesses termos, tornase importante romper com qualquer linearidade na anlise das polticas sociais e dos espaos ocupacionais nos quais se inserem os assistentes sociais, ainda mais considerando as formas de enfrentamento do capital s suas crises de acumulao, que aprofundam e agravam as manifesta es da questo social, mas tambm desencadeiam respostas da sociedade e do conjunto das classes trabalhadoras em seu movimento de resistncia e defesa de direitos conquistados historicamente. Ainda que requerendo maior aprofundamento, o que escapa aos limites deste texto, preciso lembrar que os anos 1990 foram palco de um complexo processo de regresses no mbito do Estado e da universalizao dos direitos, desencadeando novos elementos que se contrapem ao processo de democra tizao poltica, econmica e social em nosso pas, no contexto de crise e reor ganizao do capitalismo em escala internacional. Esse quadro desencadeia profundas transformaes societrias, determi nadas pelas mudanas na esfera do trabalho, pela reforma gerencial do Estado ou contrarreforma (nos termos de Behring, 2003), pelos processos de redefini
  7. 7. 756 Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 o dos sistemas de proteo social e da poltica social que emergem nessa conjuntura, e pelas novas formas de enfrentamento da questo social, com grandes mudanas e rebatimentos nas relaes pblicoprivado. De um lado, observase o processo de destituio de direitos no rastro da reforma conservadora do Estado e da economia, que desencadeia um crescente e persistente processo de sucateamento dos servios pblicos, de ofensiva sis temtica contra os novos direitos consagrados na Constituio de 1988, a partir de ampla mobilizao de foras sociais que lutaram pela democratizao da sociedade e do Estado no Brasil. De outro, mais alm dessas destituies, o que est em curso o esvazia mento da prpria noo de direitos relacionado a uma suposta desnecessidade de tudo que pblico e estatal. Nas palavras de Vera Telles (1994), tratase do encolhimento do horizonte de legitimidade dos direitos, que transforma di reito em privilgio em nome da necessria modernizao da economia, cuja referncia maior o mercado e suas demandas e prerrogativas. O agravamento da questo social decorrente do processo de reestruturao produtiva e da adoo da programtica neoliberal repercute no campo profis sional, tanto nos sujeitos com os quais o Servio Social trabalha os usurios dos servios sociais pblicos quanto no mercado de trabalho dos assistentes sociais que, como o conjunto dos trabalhadores, sofrem o impacto das meta morfoses que afetam o trabalho assalariado na contemporaneidade, submeten do a atividade profissional aos dilemas da alienao (Iamamoto, 2007 e 2009). Tratase de uma dinmica societria que atinge as diferentes profisses, e tam bm o Servio Social, que tem nas polticas sociais um campo de interveno privilegiado. As transformaes nos espaos ocupacionais do assistente social tm origem nesses processos macrossocietrios e pem em relevo as especficas condies e relaes de trabalho no contexto mais geral de mudanas e consti tuio da nova morfologia do trabalho (Antunes, 2005). Uma das expresses dessas mudanas decorre das alteraes na base tcnica de produo por meio da incorporao das denominadas TICs (Tecnologias de Informao e Comu nicao) e demais inovaes tecnolgicas que induzem novas relaes e modos de gesto do trabalho, desencadeando processos de intensificao do trabalho (Dal Rosso, 2008) e aumento da produtividade nas mais diversas reas, no s nas diretamente produtivas, mas tambm no campo da formulao, gesto e prestao de servios sociais pblicos.
  8. 8. 757Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 Verificase, assim, que a reestruturao produtiva em curso atinge o mer cado de trabalho do assistente social, incidindo contraditoriamente tanto na mudana e/ou redefinio de postos de trabalho em algumas reas (por exemplo, nas empresas), como tambm na ampliao e diversificao, como o caso das polticas de seguridade social, especialmente a poltica de assistncia social. Esta dinmica ainda mais intensa em mbito municipal, considerando as novas requisies que chegam aos municpios em virtude da descentralizao e municipalizao dos servios sociais pblicos, e diante das inmeras presses que sofrem diretamente das populaes atingidas pelo desemprego, pobreza, violncia, insegurana do trabalho e da moradia. A nova morfologia do trabalho tenses entre projeto profissional e trabalho assalariado Dados da pesquisa sobre perfil do assistente social no Brasil promovida pelo conjunto CFESS/Cress (2005) demonstram que os assistentes sociais con tinuam sendo predominantemente trabalhadores assalariados, notadamente de organismos governamentais, com maior incidncia nas polticas de sade e assistncia social. A maioria dos assistentes sociais de servidores pblicos, sendo que 78,16% atuam em organizaes de natureza estatal, 40,97% na es fera municipal, 24% nos estados e 13,19% em mbito federal. Embora seja necessria a atualizao desses dados,5 outros estudos de carter regional, estadual ou local que tm sido realizadas mais recentemente6 apontam para a permanncia desse quadro, com predominncia da insero dos profissionais em rgos municipais, indicando ainda um crescimento na esfera federal. 5. A pesquisa Assistentes sociais no Brasil: elementos para estudo do perfil profissional (CFESS, 2005) foi realizada pela Ufal com apoio dos Cress em maio de 2004, com os assistentes sociais regularmen te inscritos nos conselhos regionais, tendo como universo um contingente de 61.151 profissionais. Com um universo atual de quase 90 mil profissionais urgente a necessidade de atualizao desta pesquisa. 6. As pesquisas apresentadas no colquio Trabalho na sociedade contempornea e o trabalho do assis tente social, promovido pela Rede de Pesquisa sobre Trabalho do Assistente Social (Retas), realizado na Universidade Federal de Alagoas em maio de 2010, reafirmam muitas das caractersticas apontadas na in vestigao de 2005, ao mesmo tempo em que indicam a tendncia precarizao do trabalho do assistente social em diferentes espaos scioocupacionais.
  9. 9. 758 Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 Em um contexto social marcado pela retrao e mesmo eroso do traba lho contratado e regulamentado, tpico da era taylorista e fordista, cresce o trabalho precrio, parcial, temporrio, bem como as diferentes modalidades de flexibilizao de vnculos e de direitos, alm da ampliao do trabalho volun trio e das diversas formas de cooperativismo e empreendedorismo, que ocultam novos modos de gesto e (auto)explorao do trabalho. Presenciase tambm a exploso do desemprego estrutural em escala glo bal, que atinge a totalidade dos trabalhadores, sejam homens e mulheres, est veis ou precarizados, formais ou informais, e a deteriorao da qualidade do trabalho, dos salrios e das condies em que ele exercido.7 As condies atuais do capitalismo contemporneo globalizao finan ceirizada dos capitais e sistemas de produo apoiados fortemente no desen volvimento tecnolgico promovem intensas mudanas nos processos de organizao, gesto e nas relaes e vnculos laborais da classequevivedotra balho (Antunes, 1999), resultando em nova morfologia do trabalho, com amplos contingentes de trabalhadores flexibilizados, infornalizados, precariza dos, pauperizados, desprotegidos de direitos e desprovidos de organizao coletiva (Antunes, 2005). So contextos que geram processos continuados de informalizao e fle xibilizao expressos por trabalhos terceirizados, subcontratados, temporrios, domsticos, em tempo parcial ou por projeto, para citar apenas algumas das diferentes formas de fragilizao a que est submetida a classe trabalhadora. So transformaes que atingem duramente o trabalho assalariado, sua realiza o concreta, sua materialidade e as formas de subjetivao na conscincia dos trabalhadores, levando a redefinies dos sistemas de proteo social e das formas de organizao e gesto dos processos de trabalho. Essa dinmica de precarizao atinge tambm o trabalho profissional do assistente social, afetado pela insegurana do emprego, precrias formas de contratao, intensificao do trabalho, baixos salrios, presso pelo aumen to da produtividade e de resultados imediatos, ausncia de horizontes profis sionais de mais longo prazo, falta de perspectivas de progresso e ascenso 7. Um amplo estudo sobre a reestruturao produtiva no Brasil e dos mecanismos de terceirizao, subcontratao, precarizao do trabalho que afetam a classe trabalhadora no pas, por meio da investigao emprica em diversos setores ou ramos econmicos, pode ser encontrado em Antunes (2006).
  10. 10. 759Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 na carreira, ausncia de polticas de qualificao e capacitao profissional, entre outros.8 No mbito do Servio Social, intensificase a subcontratao de servios individuais dos assistentes sociais por parte de empresas de servios ou de as sessoria, de cooperativas de trabalhadores, na prestao de servios aos go vernos e organizaes no governamentais, acenando para o exerccio profis sional privado (autnomo), temporrio, por projeto, por tarefa, em funo das novas formas de gesto das polticas sociais. As consequncias desses processos para o trabalho social nas polticas pblicas so profundas, pois a terceirizao desconfigura o significado e a am plitude do trabalho tcnico realizado pelos assistentes sociais e demais trabalha dores sociais, desloca as relaes entre a populao, suas formas de representa o e a gesto governamental, pela intermediao de empresas e organizaes contratadas. Alm disso, as aes desenvolvidas passam a ser subordinadas a prazos contratuais e aos recursos financeiros destinados para esse fim, impli cando descontinuidades, rompimento de vnculos com usurios, descrdito da populao para com as aes pblicas. O que ainda mais grave nesse contexto de terceirizao dos Servios Sociais pblicos que se trata de um mecanismo que opera a ciso entre servi o e direito, pois o que preside o trabalho no a lgica pblica, obscurecendose a responsabilidade do Estado perante seus cidados, comprimindo ainda mais as possibilidades de inscrever as aes pblicas no campo do direito. Consoli dase assim o que Vieira (1997) denominou de poltica social sem direitos sociais, uma espcie de nova morfologia da poltica social. Portanto, a partir dos anos 1990 e adentrando a primeira dcada dos anos 2000, o campo das polticas pblicas e a luta por direitos ficaram muito mais complexos, especialmente se considerarmos que, apesar de todos os desmontes e desmanches que tm atingido a esfera estatal, o Estado permanece sendo a forma mais efetiva de operar a universalizao dos direitos, mesmo em socie dades capitalistas perifricas e financeirizadas como a brasileira. 8. Mesmo diante de uma conjuntura adversa aos direitos do trabalho e aos trabalhadores, os assistentes sociais conseguiram uma significativa vitria com a recente aprovao pelo Senado Federal do PLC n. 152/2008, sancionado pelo presidente Lula no dia 26 de agosto de 2010, que implanta a jornada de trabalho de trinta horas sem reduo salarial. A partir de agora a luta, que ser rdua, pela implementao da lei fazendo valer este direito para todos(as) os(as) assistentes sociais do pas em todos os municpios da federao.
  11. 11. 760 Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 O trabalho do assistente social no Suas ampliao, intensificao e precarizao Como tem sido amplamente analisado, a poltica de assistncia social, desde que foi incorporada ao trip da Seguridade Social nos marcos da Cons tituio Federal de 1988, juntamente com a Sade e a Previdncia Social, vem experimentando um continuado e expressivo movimento reformador, desenca deado com a Loas/1993, com grande inflexo a partir da PNAS/2004 e da NOBSuas/2005. Esse novo marco regulatrio introduziu significativas altera es, entre elas a exigncia de novos modos de organizao, processamento, produo e gesto do trabalho. A questo do trabalho e dos trabalhadores no Suas um dos grandes de safios a ser enfrentado, se o objetivo for a implementao da poltica de assis tncia social voltada para o atendimento de necessidades sociais e comprome tida com a ampliao e a consolidao de direitos das classes subalternas. Se este um desafio para toda a administrao pblica brasileira, em fun o das questes que atingem o mundo do trabalho, o Estado e as polticas pblicas na contemporaneidade, inegavelmente assume caractersticas espec ficas na assistncia social, pelo seu histrico de desprofissionalizao e de atuao com base em estruturas improvisadas e descontnuas, do qual so ex presses emblemticas a cultura autoritria, patrimonialista e clientelista e o primeirodamismo persistente e (re)atualizado nesta rea, indicando possivel mente a adoo de novas estratgias de (re)legitimao desse instituto.9 Acres centese a isso a realidade da maioria dos municpios brasileiros que, sendo de pequeno porte, contam com frgeis estruturas institucionais de gesto, rotinas tcnicas e administrativas incipientes e recursos humanos reduzidos e pouco qualificados. 9.Apesquisa Perfil dos municpios brasileiros suplemento de assistncia social, Munic/IBGE (2010), recmpublicada, apresenta dados significativos sobre a persistncia dessa cultura patrimonialista na assis tncia social. Dentre os municpios que declararam ter rgo gestor da assistncia social, 1.352 responderam que a poltica de assistncia social naqueles municpios era conduzida pela primeiradama, num total de 24,3% dos municpios brasileiros. Chama a ateno ainda o movimento de primeirasdamas em busca de qualificao universitria: 47,4% destas gestoras possuam o ensino superior completo e/ou psgraduao, com maior incidncia nas seguintes formaes: 45 assistentes sociais, 194 pedagogas, 42 advogadas, 43 administradoras e 257 com formaes variadas no discriminadas no questionrio.
  12. 12. 761Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 Do ponto de vista da constituio dos quadros profissionais do Suas, destacase ainda o universo heterogneo de trabalhadores, compostos por ser vidores e trabalhadores da esfera estatal nos trs nveis de governo, e pela ex tensa rede privada de entidades de assistncia social, com uma diversidade de reas de formao, acmulo tericoprtico, vnculos e condies de trabalho. Tais quadros se disseminam com grande discrepncia pela realidade heterog nea de estados e municpios, sendo frequente a existncia de um nmero mni mo e insuficiente de profissionais, em geral com grandes defasagens tericas e tcnicas, atuando simultaneamente em diferentes polticas e programas, e at mesmo em vrios municpios limtrofes.10 Por ser uma rea de prestao de servios cuja mediao principal o prprio profissional (Sposati, 2006), o trabalho da assistncia social est estra tegicamente apoiado no conhecimento e na formao terica, tcnica e poltica do seu quadro de pessoal, e nas condies institucionais de que dispe para efetivar sua interveno.11 A implantao do Suas exige novas formas de regulao, organizao e gesto do trabalho e, certamente, a ampliao do nmero de trabalhadores com estabilidade funcional condio essencial, ao lado de processos conti nuados de formao e qualificao, a partir do ingresso via concurso pblico, definio de cargos e carreiras e de processos de avaliao e progresso, ca racterizao de perfis das equipes e dos servios, alm de remunerao com patvel e segurana no trabalho. Nesses termos, a Norma Operacional Bsica de Recursos Humanos do Sistema nico deAssistncia Social (NOBRH/Suas), instituda pela Resoluo CNAS n. 269, de 13 de dezembro de 2006, representou um ganho poltico significativo na pactuao federativa entre gestores da poltica de assistncia social e na luta dos seus trabalhadores por condies materiais, tcnicas e ticas de trabalho nos rgos gestores, nos Cras e Creas e nas entidades de assistncia 10. Dados da pesquisa Munic/IBGE (2010) sobre qualificao dos tcnicos de nvel superior apontam que dos 3.376 (58,9%) gestores com superior completo e/ou psgraduao, 29,6% eram assistentes sociais, 21,7% pedagogos, 26,7% tinham outra formao no discriminada no questionrio, e 22% estavam assim distribudos: 6,9% entre terapeutas ocupacionais, psiclogos, mdicos enfermeiros ou nutricionistas; e 15% entre socilogos, advogados, jornalistas, administradores, economistas e contabilistas. 11. Referimonos aqui especificamente ao trabalho de profissional de nvel universitrio, sem desco nhecer o grande e crescente contingente de trabalhadores de nvel mdio que atuam no Suas em diferentes cargos e atividades, muitas vezes substituindo o trabalho especializado de profissionais.
  13. 13. 762 Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 social vinculadas ao Suas, consideradas as resistncias e dificuldades polticas que tiveram que ser aparadas para viabilizar sua aprovao. Mesmo distante das requisies exigidas em termos de recursos humanos e de condies materiais para o funcionamento adequado do Suas, a NOBRH/ Suas foi resultado da correlao de foras polticas presentes nos processos de negociao e pactuao que levaram sua aprovao.Apesar disso, permanece ainda o grande desafio de sua efetivao na maioria dos estados e municpios brasileiros, que apresenta por parte dos gestores, prefeitos e secretrios de go verno bastante resistncia, alm de desconhecimento da NOB/Suas/RH e das exigncias para sua implementao.12 A NOBRH/Suas prev a formao de equipes de referncia, que devem ser constitudas por servidores efetivos responsveis pela organizao e oferta de servios, programas, projetos e benefcios de proteo social bsica e espe cial, levandose em considerao o nmero de famlias e indivduos referencia dos por porte dos municpios, tipo de atendimento e aquisies e direitos que devem ser garantidos aos usurios. Dados da Munic/IBGE (2006) revelavam que 25% dos trabalhadores da rea de assistncia social nas administraes municipais de todo o pas no possuam vnculos permanentes, sendo 20% comissionados e apenas 38% es tatutrios. Mais reveladores ainda foram os dados de 2007 extrados da ficha de monitoramento dos Cras (MDS, 2008, p. 30, Tabela 11), que revelavam que 48,8% dos trabalhadores dos Cras no tinham vnculos permanentes, sendo 25,8% estatutrios, 13,5% CLT e 12% comissionados. Comparandose esses dados com os apresentados pela MunicIBGE (2010), verificamos que apesar da elevao em 30,7% do total de pessoas ocupadas na administrao municipal da assistncia social em todo o pas, no perodo 200509 a poltica de assistncia social continuava sendo responsvel por apenas 3,2% de todo o pessoal ocupado nas administraes pblicas municipais. 12. importante que se afirme que o Suas ainda no se transformou em lei no pas, o que confere a este sistema nico grande fragilidade poltica em termos de enraizamento estatal e garantia de permanncia, considerando o trao de descontinuidade e personalismo que caracteriza as polticas pblicas no Brasil. O PL Suas em tramitao no Congresso Nacional apresenta um dispositivo estratgico para avanar no cum primento da NOBRH, quando define em um dos seus artigos a possibilidade de repasse de recursos do Fundo Nacional de Assistncia Social para financiar a contratao de trabalhadores da assistncia social pelos municpios brasileiros, desde que concursados e efetivados como servidores pblicos municipais.
  14. 14. 763Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 Contudo, mais revelador da tendncia atual de precarizao do trabalho assalariado no Suas so os dados relativos estrutura trabalhista por vnculo empregatcio: apesar de no serem identificadas grandes mudanas em relao aos dados de 2005 (a maioria continua sendo composta por servidores estatu trios), a maior elevao foi detectada entre os trabalhadores sem vnculo permanente, que em 2005 totalizavam 34.057 pessoas, ampliando para 60.514 em 2010, ou seja, um aumento de 73,1%; tambm o grupo de celetistas sofreu um decrscimo de 12,8% em 2005 para 8,5% em 2009. Portanto, uma questo relevante a ser destacada quando se problematiza a situao do trabalho e dos trabalhadores na assistncia social que no se trata apenas de questes relacionadas gesto do trabalho, mas fundamental mente dos modos de organizao do trabalho na sociedade capitalista contem pornea, e das condies concretas em que se realiza, particularmente nas po lticas sociais, que, como a assistncia social, tiveram um grande crescimento nesses ltimos anos. Nesse contexto preciso observar tambm que a reforma neoliberal do Estado brasileiro implantada no governo FHC trouxe com ela intensa campanha ideolgica de desconstruo do Estado e de tudo que estatal, acompanhada da satanizao do Estado e supervalorizao do mercado e de tudo que privado nos mbitos federal, estadual e municipal, atingindo duramente as condies e relaes de trabalho nos espaos governamentais. A ambincia neoliberal afetou tambm a imagem do servidor pblico e as representaes sociais junto populao e opinio pblica, instalandose um clima desfavorvel recomposio e expanso da fora de trabalho na admi nistrao pblica, embora nesse ltimos anos seja possvel observar certo avano nessa direo, especialmente em nvel federal. Basta verificar como os jornais de grande circulao veiculam a realizao de concursos pblicos e a ampliao da contratao de funcionrios pblicos em qualquer esfera da administrao pblica: termos como inchao da mqui na, cabide de emprego, ampliao do dficit pblico, aumento da ineficincia etc. so comuns nas manchetes desses veculos de comunicao, que, simult nea e contraditoriamente, cobram do Estado mais e melhores servios pblicos. Segundo anlise de Amir Khair (2010): O que est por trs desta viso que o Estado um mau aplicador de recursos ao contrrio do setor privado. Assim, quanto menor a despesa com o Estado, mais
  15. 15. 764 Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 recursos sobraro para o setor privado desenvolver suas atividades. uma pol tica minimalista do Estado, no apenas em seu tamanho, mas tambm em sua interferncia na vida econmica das empresas. A questo que se apresenta : como responder ampliao da demanda por polticas sociais sem a existncia de servidores pblicos em nmero e qua lificao exigidos para a prestao de servios de qualidade enquanto direitos de cidadania das classes trabalhadoras? Em funo desse quadro, a anlise das condies de trabalho e das possi bilidades de sua ampliao e qualificao no mbito do Suas no pode ser desvinculada dessa dinmica macrossocietria, nem pode ser tratada como uma responsabilidade individual do trabalhador, embora seja comum atribuir ao prprio profissional a tarefa de sua qualificao, ampliando a competio entre os prprios trabalhadores que atuam nas diferentes polticas pblicas. A assistncia social um setor intensivo de fora de trabalho humana, como j observamos, o que representa um desafio para a criao de condies adequadas de trabalho e de sua gesto institucional. Considerando as definies da NOBSuasRH, as equipes de referncia para os Cras e os Creas envolvem um conjunto diversificado de profisses, atribuies e competncias, instalan dose nova diviso sociotcnica do trabalho no mbito do Suas. Tratase de um processo de grande complexidade, pois cada uma das ca tegorias profissionais envolvidas tem uma histria particular de organizao e de luta corporativa e sindical, com acmulos e reivindicaes especficas no que tange s condies de exerccio do trabalho, aos conhecimentos e saberes construdos, aos parmetros ticopolticos orientadores do trabalho profissional. Nessa perspectiva, preciso considerar a tica do trabalho coletivo no Suas: o trabalho nos Cras e Creas como trabalho social e combinado; orientado por projetos profissionais que podem convergir mas tambm se contrapor; que incorpora o acmulo e as contribuies das diferentes profisses; mas que deve assimilar criticamente os conhecimentos e aportes da quelas que, como o Servio Social, vem assumindo protagonismo histrico na elaborao de conhecimentos tericos, tcnicos e polticos que subsidiam os avanos da assistncia social no pas.
  16. 16. 765Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 Isto pe em debate a direo poltica do trabalho e a qualidade dos servi os socioassistenciais, na construo de processos interventivos que promovam protagonismos, particularmente dos usurios, para o fortalecimento da cultura democrtica e de direitos. Assim sendo, fundamental no mbito do Suas superar a cultura histrica do pragmatismo e das aes improvisadas, exercitando a capacidade de leitura crtica da realidade, sem reforar naturalizaes e criminalizaes da pobreza e das variadas formas de violncia domstica e urbana, violao de direitos de crianas, adolescentes, mulheres, idosos, pessoas com deficincia, pessoas em situao de rua etc., mas procurando compreender criticamente os processos sociais de sua produo e reproduo na sociedade brasileira. preciso, pois, fazer a crtica e resistir ao mero produtivismo quantitativo, medido pelo de reunies, nmero de visitas domiciliares, de atendimentos, sem ter clareza do sentido e da direo social ticopoltica do trabalho coletivo. Por isso a luta pela garantia da qualificao e da capacitao continuadas, por espaos coletivos de estudo e de reflexo sobre o trabalho, de debate sobre as concepes que orientam as prticas, parte da luta pela melhoria das con dies de trabalho e da qualidade dos servios prestados populao. No caso da assistncia social, as questes que envolvem as condies, relaes e organizao do trabalho ganham maior complexidade quando con sideramos que grande parte dos servios, programas e projetos prestada por entidades de assistncia social privadas que integram a rede socioassistencial nos territrios de abrangncia dos Cras e Creas. Muitas dessas entidades no realizaram ainda o reordenamento institucio nal exigido pelo Suas, inclusive em relao ao quadro de profissionais e condi es de trabalho, resistindo ainda aos mecanismos de controle social e pblico. E as diretrizes e definies da NOBSuasRH se concentram majoritariamente nas instituies pblicas, deixando em segundo plano e a descoberto as exign cias que devem ser cumpridas pela ampla rede de servios socioassistenciais privados. Para integrar um sistema pblico estatal de assistncia social, essas enti dades e organizaes sociais devem ser submetidas aos mesmos princpios e diretrizes que orientam o Suas, considerando o acesso ao fundo pblico para financiar atividades de assistncia social por ela desenvolvidas (por meio de convnios e repasses diretos de recursos), e tambm as imunidades e isenes
  17. 17. 766 Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 fiscais das entidades beneficentes que acessam o Certificado de Entidade Be neficente de Assistncia Social Cebas, recentemente regulado. Os riscos presentes na implantao do Suas em efetivao em todo o pas so apontados por Silveira (2009, p. 343): As fragilidades presentes na gesto e na participao em mbito local reforam limitaes que so constitutivas dos processos descentralizadores, revelando a tendncia aos arranjos institucionais que podem banalizar o prprio Suas. H uma tendncia dos municpios e estados cumprirem requisitos mnimos para manter o financiamento sem necessariamente expressar qualidade na estruturao da rede socioassistencial e das condies institucionais de gesto o que inclui o trabalho precrio dos profissionais. A NOBRH/Suas avana no enfrentamento dessa realidade quando define mecanismos de profissionalizao e publicizao da assistncia social, orien tando procedimentos para composio de equipes bsicas de referncia para Cras e Creas, definindo diretrizes para a qualificao de recursos humanos e a ampliao da capacidade de gesto dos seus operadores. H tambm algumas diretrizes para a rede socioassistencial privada, no sentido da valorizao dos seus trabalhadores, da capacitao tcnica em con sonncia com a PNAS, de tratamento salarial isonmico entre trabalhadores da rede pblica e das entidades prestadoras de servio assistenciais, mas ainda muito fluidas para garantir condies concretas de trabalho comuns rede so cioassistencial, que deve ser nica e integrada. Nessa perspectiva, h um longo caminho a ser percorrido. O que est em questo, portanto, a ressignificao do trabalho na assis tncia social, referenciada em um projeto coletivo de redefinio do trabalho, das formas de organizao e gesto institucional que incorporem mecanismos permanentes de democratizao, qualificao e capacitao continuada, como questo estratgica para a valorizao da interveno profissional no Suas. Quanto mais qualificados os servidores e trabalhadores da assistncia social, menos sujeitos a manipulao e mais preparados para enfrentar os jogos de presso poltica e de cooptao nos espaos institucionais, conferindo qua lidade e consistncia ao trabalho realizado. Ao mesmo tempo, preciso discutir as estratgias de organizao coletiva frente aos processos de precarizao do trabalho, no contexto do conjunto dos
  18. 18. 767Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 trabalhadores da seguridade social e das polticas sociais em geral. Embora a perspectiva neoliberal se utilize de inmeros mecanismos para dividir o con junto dos trabalhadores e suas entidades coletivas, por meio da ao coletiva que so criadas condies concretas para a melhoria das condies de trabalho: Outra questo importante a ser analisada a crescente informatizao do trabalho, em todos os mbitos em que ele se desenvolve, sendo hoje uma con dio essencial para a organizao e a gesto do trabalho no Suas e nas pol ticas sociais. No caso do setor pblico, a exemplo do setor privado, as mudanas tec nolgicas tambm esto sendo profundas em todos os nveis. O computador o equipamento emblemtico que sintetiza a transformao do aparato de recur sos e sistemas. Sem desconsiderar sua importncia e indispensabilidade na realidade atual, preciso indagar: qual o seu efeito sobre o trabalho dos ser vidores pblicos? Pesquisas junto s empresas e ao setor privado realizadas por Dal Rosso (2008) concluram que as tecnologias de informao intensificam os processos de trabalho, produzem um efeito mais controlador sobre o trabalho, organizam e encadeiam as tarefas de modo que desapaream os tempos mortos, quantifi cam as tarefas realizadas e permitem a avaliao fiscalizatria do desempenho, entre outros. Esse mesmo autor observa que embora nas entrevistas realizadas com servidores pblicos do Distrito Federal prevalea o entendimento de que os dispositivos eletrnicos aliviaram o trabalho, que o desgaste fsico menor, que a tecnologia ajudou muito porque antes era tudo feito manualmente, suas reflexes revelam que algumas formas de intensificao do trabalho vo sendo incorporadas gradativamente ao servio pblico e talvez no estejam ainda claramente perceptveis para o conjunto de servidores. Segundo Dal Rosso (2008, p. 188), essas formas de intensificao se re ferem mais ao ritmo e velocidade do trabalho, s cobranas e s exigncias, ao volume de tarefas, s caractersticas do trabalho intelectual demandante, ao peso da responsabilidade. E o autor constatou que tambm na esfera estatal est em plena construo a ideologia da gerncia e da qualidade total, do erro zero, do trabalho a tempo justo, da eficincia das metas e dos resultados. Por isso, por mais que seja imprescindvel a incorporao das novas tec nologias de informao no trabalho das polticas sociais, preciso analisar mais
  19. 19. 768 Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 profundamente os impactos dessa revoluo tecnolgica na interveno profis sional e na relao dos assistentes sociais com os usurios e a populao, e como isto vai incidindo nas representaes dos usurios e na conscincia e formas de subjetivao dos profissionais. Sobre esta questo, so interessantes as observaes de rsula Huws (2009), importante pesquisadora inglesa em um texto que analisa o impacto das mudanas tecnolgicas nos processos de trabalho social: Trabalhadores sociais, por exemplo, podem verse preenchendo formulrios padres numa tela de computador em vez de redigilos no papel ou de entregar relatrios mais nuanados e profissionalmente qualificados para seus clientes; professores podem verse administrando testes padres; [...] jornalistas de internet podem ser obrigados a escrever em apertados modelos predefinidos; e arquitetos podem ser reduzidos tarefa de recombinar componentes padres. (Huws, 2009, p. 47) Consideraes finais Apesar dos limites e desafios aqui pontuados, a implantao do Suas em todo o territrio nacional abre um campo de novas possibilidades, tensas e contraditrias, ao trabalho profissional dos assistentes sociais: 1. A existncia dos Cras e dos Creas como unidades pblicas estatais cria oportunidade indita de qualificao e articulao dos servios, programas, projetos e benefcios voltados para o atendimento das necessidades sociais e direitos da populao nos seus territrios de abrangncia. a presena do Es tado nos territrios de moradia da populao com direito de acesso a servios e programas sociais pblicos e de qualidade. 2. Ao mesmo tempo, a implantao do Suas evidencia os limites do traba lho assalariado dos assistentes sociais no campo das polticas pblicas, exigin do estratgias polticas coletivas para o enfrentamento dos constrangimentos a que so submetidos na relao com os empregadores e dirigentes institucionais. 3. Os avanos do Servio Social brasileiro e a direo ticopoltica da profisso recusam, contudo, a adoo de abordagens conservadoras, autoritrias ou disciplinadoras, que individualizam, moralizam ou patologizam/terapeutizam a questo social, culpabilizando ou criminalizando as famlias e indivduos pela sua condio de pobreza.
  20. 20. 769Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 4. Os assistentes sociais, com base em sua autonomia profissional, ainda que relativa, e tendo em vista prerrogativas legais, ticas e tcnicas, esto sen do desafiados a inovar e ousar na construo de estratgias profissionais que priorizem as abordagens coletivas e a participao dos usurios da assistncia social, no sentido de reverter relaes autoritrias e tuteladoras que subalterni zam a populao. 5.Aconsolidao do Suas exige novas formas de organizao do trabalho, e certamente a ampliao do nmero de trabalhadores condio essencial, ao lado de processos continuados de capacitao, realizao de concursos pblicos de ingresso, plano de cargos, carreira e salrios, entre outros. Para isso, a luta pela efetiva concretizao da NOBRH/Suas requisito importante a mobilizar os trabalhadores. 6. Por ltimo, mas no menos importante, o Suas, na contramo do movi mento societrio nacional e internacional, supe um Estado que recupere a capacidade de direo poltica e reconstrua as bases de legitimidade social junto populao, recusandose, portanto, qualquer padro minimalista para seu funcionamento, o que exclui a possibilidade de ampliao de servios sociais pblicos em detrimento da precarizao do trabalho e da terceirizao/privati zao dos servios pblicos e dos seus operadores. Para concluir, necessrio ressaltar as relaes entre Servio Social e poltica pblica, entendendose que as polticas sociais so mediaes funda mentais da profissionalizao do Servio Social, no entanto no se confundem com ela: preciso reafirmar as diferenas entre Servio Social como profisso e poltica pblica como responsabilidade do Estado e dos governos. No caso da assistncia social, embora seja uma mediao persistente que remonta s origens da profisso, o Servio Social no pode ser confundido com a assistncia social nem ser restringido a esse campo de interveno profissional. Essa compreenso de fundamental importncia para evitar o que Maril da Iamamoto (2007) identifica, com propriedade, como relao mimtica entre polticas sociais e Servio Social, diluindo e obscurecendo a visibilidade das particularidades das aes profissionais no mbito dessas polticas. Este mimetismo traz srias consequncias para o reconhecimento da iden tidade profissional e das particularidades da rea de Servio Social como cam po de produo de conhecimentos. Nesses termos, imperioso recuperar a centralidade de estudos e pesquisas que possam apreender o trabalho profissio
  21. 21. 770 Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 nal em suas mltiplas inseres, relaes e alternativas no cenrio atual, no contexto das transformaes que se processam na esfera do trabalho de produ o de bens e servios sociais, nos mbitos pblico e privado. Finalizamos ressaltando que na contracorrente do institudo que a cate goria dos assistentes sociais vem construindo uma histria de lutas e de resis tncia, apostando no futuro, mas entendendo que ele se constri agora, no tempo presente. Artigo recebido em ago./2010 n Aprovado em set./2010 Referncias bibliogrficas ANTUNES, Ricardo (Org.). Riqueza e misria do trabalho no Brasil. So Paulo: Boi tempo, 2006. ANTUNES, Ricardo. O caracol e sua concha: ensaios sobre a nova morfologia do trabalho. So Paulo: Boitempo, 2005. ______. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmao e negao do trabalho. So Paulo: Boitempo, 1999. ANTUNES, Ricardo; BRAGA, Ruy (Orgs.). Infoproletrios: degradao real do tra balho virtual. So Paulo: Boitempo, 2009. CFESS/CRESS. Assistentes sociais no Brasil: elementos para o estudo do perfil pro fissional. Braslia, CFESS/Cress/Ufal, 2005. BEHRING, Elaine. Brasil em contrarreforma: desestruturao do Estado e perda de direitos. So Paulo: Cortez, 2003. BRASIL. Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. Lei Orgnica de Assistncia Social. Lei n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993, publicada no Dirio Oficial da Unio, Braslia, 8 dez. 1993. ______. Poltica Nacional de Assistncia Social. Braslia, 2004. ______. Norma Operacional Bsica do Suas (NOB/Suas). Braslia, 2005. ______. Norma Operacional Bsica do Suas (NOB/Suas). Braslia, 2006. ______. Linha de base do monitoramento dos Cras. Braslia: MDS; Secretaria de Ava liao e Gesto da Informao, Secretaria Nacional de Assistncia Social, 2008. CHAUI, Marilena. Cultura e democracia. So Paulo: Cortez, 1989.
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