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GEOGRAFIA

Interpretao de texto

Kleber Eduardo Escanavaqui

16 junho 2009

Os nomes da criana

Cristovam Buarque Para um habitante de cidade brasileira, todas as rvores de uma floresta so apenas mato, sem distino entre elas. Os habitantes dos desertos, ao contrrio, tm nomes diferentes para se referir areia. Da mesma forma, os esquims tm diversos nomes para indicar aquilo que, para ns, apenas neve. Cada povo desenvolve sua cultura, com palavras distintas, para diferenciar as sutilezas do seu ao - redor, como forma de sobreviver mais facilmente e usufruir esteticamente. A riqueza de uma cultura se mede pelo nmero de palavras usadas para definir o meio ao redor. Quanto mais palavras distinguindo as coisas, em detalhes imperceptvel para os demais, mais rica a cultura. Os brasileiros urbanos tambm desenvolveram, em sua cultura, nomes diferentes para dizer o que entre outros povos teria um nome apenas: criana. Em suas cidades, os brasileiros do comeo do sculo XXI tm muitas maneiras para dizer criana com sutis diferenas manifestas em cada palavra. a riqueza cultural, manifesta num rico vocabulrio, que mostra a degradao moral de uma sociedade que trata suas crianas como se no fossem apenas crianas. O portugus falado no Brasil certamente o mais rico e o mais imoral dos idiomas do mundo atual, no que se refere definio de criana. Menino-na-rua significa aquele que fica na rua em lugar de estar na escola, em casa, brincando ou estudando, mas que, noite, em geral, tem uma casa para onde ir. Ao v-lo, um habitante de uma das nossas cidades grandes faz logo a diferena com as demais crianas que ali esto apenas passeando. Diferencia at, sutilmente, dos meninos-de-rua - aqueles que no apenas esto na rua, moram nela, sem uma casa para onde voltar.

Flanelinha aquele que, nos estacionamentos ou nas esquinas, dribla os carros dos ricos com um frasco de gua numa mo e um pedao de pano noutra, na tarefa de convencer o motorista a dar-lhe uma esmola em troca da rpida limpeza no pra-brisa do veculo. diferente do esquineiro que, no lugar de oferecer o servio de limpeza, pede esmolas apenas. Ou do menino-de-gua-na-boca, pobre criana que carrega pequenas caixas de chocolates, tentando vend-los, sem direito a sentir o gosto do que carrega para os outros e existe aos milhares no Brasil. Prostituta-infantil j seria um genrico maldito para uma cultura que sentisse vergonha da realidade que retrata. Como se no bastasse, ela tem suas sutis diferenas. Pode ser bezerrinha, ninfeta-de-praia, menina-da-noite, menino ou menina-de-programa ou mich, conforme o local onde faz ponto e o gosto sexual do fregus que atende. E existe - vergonha das vergonhas - a expresso menina-paraguai para indicar criana que se prostitui por apenas R$ 1,99, o mesmo preo das bugigangas que a globalizao trouxe em contrabandos, quase sempre, daquele pas. Ou menina-boneca, de to jovem quando comea a se prostituir, ou porque seu primeiro pagamento sirva para comprar a boneca que nunca ganhou de presente. Delinqente, infrator, avio, pivete, trombadinha, menor, pixote. Sete nomes para o conjunto das relaes de nossas crianas com o crime. Cada qual com sua maldita sutileza, de acordo com o artigo do Cdigo Penal em que enquadrado, com a maneira de abordar suas vtimas ou com o crime ao qual se dedica. Pode tambm, no lugar de criana, ser boy, engraxate, menino-do-lixo, reciclador-infantil, conforme o trabalho que faz. Ainda tem filho-da-safra, para indicar criana deixada para trs por pais que emigram todos os anos em busca de trabalho, nos lugares onde h empregos para bias-frias. Nome que indica, tambm, a riqueza cultural do sutil vocabulrio da maldita realidade social brasileira. Ainda o pago-civil, que vive sem o registro que lhe indique a cidadania de sua curta passagem pelo mundo. Em um pas que lhe nega, no s o nome de criana, tambm a existncia legal. Como resumo de todos estes tristes verbetes, h tambm criana-triste, como um verbete adicional. No pela tristeza de um brinquedo quebrado, de uma palmada ou reprimenda recebida, nem da perda de um ente querido. No Brasil h um tipo de criana que no apenas fica ou est triste: criana que nasce e vive triste. Cujo primeiro choro mais parece um lamento do futuro que ainda no prev do que a inspirao do ar em que vai viver, que por primeira vez recebe em seus diminutos pulmes. Criana-triste como substantivo e no adjetivo, como estado permanente de vida - esta talvez seja a maior das vergonhas no vocabulrio da realidade social brasileira. Tal e qual a maior vergonha da realidade

poltica est na falta de tristeza nos coraes de nossas autoridades diante da tristeza das crianas brasileiras, com as sutis diversidades de suas posies sociais, refletidas no vocabulrio que indica os nomes da criana. A sociedade brasileira, em sua maldita apartao, foi obrigada a criar palavras que distinguem cada criana conforme sua classe, sua funo e sua casta. A cultura brasileira, medida pela riqueza de seu vocabulrio, enriqueceu perversamente ao aumentar a quantidade de palavras que indicam criana. Um dia geral que, esta cultura vai se enriquecer criando nomes para os presidentes, governadores, prefeitos, polticos em no sofrem, no ficam tristes, no percebem a vergonhosa tragdia de nosso vocabulrio, nem ao menos se lembram das crianas-tristes do Brasil. Quem sabe ser preciso que um dia chegue ao governo uma das crianas-tristes de hoje, para que o Brasil faa arcaicas as palavras que hoje enriquecem o triste vocabulrio brasileiro, construindo um dicionrio onde criana seja apenas criana, sem nomes diferentes, como para o poeta, uma rosa uma rosa. Disponvel em: http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/c_buarque/id260900.htm Interpretao de texto: Como se mede a cultura de um povo segundo o autor? O que este vasto vocabulrio para se referir a criana criado pelo povo brasileiro demonstra Na verdade? Isto riqueza de cultura? O que diz o autor? Quais os exemplos citados pelo autor? Voc tem o habito de usar algum deles? E conhece outros que no foi citado pelo autor? Comente? A sociedade brasileira, em sua maldita apartao, foi obrigada a criar palavras que distinguem cada criana conforme suaclasse, sua funo e sua casta. A cultura brasileira, medida pela riqueza de seu vocabulrio, enriqueceu perversamente ao aumentar a quantidade de palavras que indicam criana.

Em que persiste a esperana do autor, para a soluo do problema dos nomes pejorativos para crianas no Brasil? Voc concorda? E acredita que possvel? Justifique? Esta imagem esta ligada a algum nome de criana citado pelo autor? Qual? De que modo as crianas do seu bairro so chamadas?

A pobreza da riqueza

Guernica Pablo Picasso 19371 Cristvam Buarque "Em nenhum outro pas os ricos demonstram mais ostentao que no Brasil. Apesar disso, os brasileiros ricos so pobres. So pobres porque compram sofisticados automveis importados, com todos os exagerados equipamentos da modernidade, mas ficam horas engarrafados ao lado dos nibus de subrbio. E, s vezes, so assaltados, seqestrados ou mortos nos sinais de trnsito. Presenteiam belos carros a seus filhos e no voltam a dormir tranqilos enquanto eles no chegam em casa. Pagam fortunas para construir modernas manses, desenhadas por arquitetos de renome, e so obrigados a escond-las atrs de muralhas, como se vivessem nos tempos dos castelos medievais, dependendo de guardas que se revezam em turnos. Os ricos brasileiros usufruem privadamente tudo o que a riqueza lhes oferece, mas vivem encalacrados na pobreza social. Na sexta-feira, saem de noite para jantar em restaurantes to caros que os ricos da Europa no conseguiriam freqentar, mas perdem o apetite diante da pobreza que ali por perto arregala os olhos pedindo um pouco de po; ou so obrigados a restaurantes fechados, cercados e protegidos por policiais privados. Quando terminam de comer escondidos, so obrigados a tomar o carro porta, trazido por um manobrista, sem o prazer de caminhar pela rua, ir a um cinema ou teatro, depois continuar at um bar para conversar sobre o que viram. Mesmo assim, no raro que o pobre rico seja assaltado antes de terminar o jantar, ou depois, na estrada a caminho de casa. Felizmente isso nem sempre1

Guernica um painel pintado por Pablo Picasso em 1937, por ocasio da Exposio Internacional de Paris, e leva o nome da aldeia Guernica. Durante a guerra civil espanhola, a aldeia de Guernica foi atacada e praticamente destruda, inspirando uma das mais famosas pinturas de Pablo Picasso. Devido ao horror das quase 1600 mortes originadas pelo bombardeamento, esta obra, que j estava pronta pelo artista, recebeu ento o nome da aldeia. Disponvel em blogdasanta.blogs.sapo.pt/2008/07/

acontece, mas certamente, a viagem um susto durante todo o caminho. E, s vezes, o sobressalto continua, mesmo dentro de casa. Os ricos brasileiros so pobres de tanto medo. Por mais riquezas que acumulem no presente, so pobres na falta de segurana para usufruir o patrimnio no futuro. E vivem no susto permanente diante das incertezas em que os filhos crescero. Os ricos brasileiros continuam pobres de tanto gastar dinheiro apenas para corrigir os desacertos criados pela desigualdade que suas riquezas provocam: em insegurana e ineficincia. No lugar de usufruir tudo aquilo com que gastam, uma parte considervel do dinheiro nada adquire, serve apenas para evitar perdas. Por causa da pobreza ao redor, os brasileiros ricos vivem um paradoxo: para ficarem mais ricos tm de perder dinheiro, gastando cada vez mais apenas para se proteger da realidade hostil e ineficiente. Quando viajam ao exterior, os ricos sabem que no hotel onde se hospedaro sero vistos como assassinos de crianas na Candelria, destruidores da Floresta Amaznica, usurpadores da maior concentrao de renda do planeta, portadores de malria, de dengue e de verminoses. So ricos empobrecidos pela vergonha que sentem ao serem vistos pelos olhos estrangeiros. Na verdade, a maior pobreza dos ricos brasileiros est na incapacidade de verem a riqueza que h nos pobres. Foi esta pobreza de viso que impediu os ricos brasileiros de perceberem, cem anos atrs, a riqueza que havia nos braos dos escravos libertos se lhes fosse dado direito de trabalhar a imensa quantidade de terra ociosa de que o pas dispunha. Se tivesse percebido essa riqueza e libertado a terra junto com os escravos, os ricos brasileiros teriam abolido a pobreza que os acompanha ao longo de mais de um sculo. Se os latifndios tivessem sido colocados disposio dos braos dos ex-escravos, a riqueza criada teria chegado aos ricos de hoje, que viveriam em cidades sem o peso da imigrao descontrolada e com uma populao sem misria. A pobreza de viso dos ricos impediu tambm de verem a riqueza que h na cabea de um povo educado. Ao longo de toda a nossa histria, os nossos ricos abandonaram a educao do povo, desviaram os recursos para criar a riqueza que seria s deles, e ficaram pobres: contratam trabalhadores com baixa produtividade, investem em modernos equipamentos e no encontram quem os saiba manejar, vivem rodeados de compatriotas que no sabem ler o mundo ao redor, no sabem mudar o mundo, no sabem construir um novo pas que beneficie a todos. Muito mais ricos seriam os ricos se vivessem em uma sociedade onde todos fossem educados. Para poderem usar os seus caros automveis, os ricos construram viadutos com dinheiro de colocar gua e esgoto nas cidades, achando que, ao comprar gua mineral, se protegiam das doenas dos pobres. Esqueceram-se de que precisam desses pobres e no podem contar com eles todos os dias e com toda sade, porque eles (os pobres) vivem sem gua e sem esgoto. Montam modernos hospitais, mas tem

dificuldades em evitar infeces porque os pobres trazem de casa os germes que os contaminam. Com a pobreza de achar que poderiam ficar ricos sozinhos, construram um pas doente e vivem no meio da doena. H um grave quadro de pobreza entre os ricos brasileiros. E esta pobreza to grave que a maior parte deles no percebe. Por isso a pobreza de esprito tem sido o maior inspirador das decises governamentais das pobres ricas elites brasileiras. Se percebessem a riqueza potencial que h nos braos e nos crebros dos pobres, os ricos brasileiros poderiam reorientar o modelo de desenvolvimento em direo aos interesses de nossas massas populares. Liberariam a terra para os trabalhadores rurais, realizariam um programa de construo de casas e implantao de redes de gua e esgoto, contratariam centenas de milhares de professores e colocariam o povo para produzir para o prprio povo. Esta seria uma deciso que enriqueceria o Brasil inteiro - os pobres que sairiam da pobreza e os ricos que sairiam da vergonha, da insegurana e da insensatez. Mas isso esperar demais. Os ricos so to pobres que no percebem a triste pobreza em que usufruem suas malditas riquezas". Disponvel em http://www.portalbrasil.net/reportagem_cristovambuarque.htm. Acesso em abril de 2009. _________________________________________________________________________________ Observem atentamente o painel Guernica, de Pablo Picasso e leia o texto a Pobreza da Riqueza, de Cristovam Buarque. Aps leitura e interpretao dos mesmos, procurem discutir e propor atividades que estimulem a leitura, interpretao e reflexo crtica dos estudantes. As atividades devem: a) Valorizar os conhecimentos prvios dos estudantes; b) Valorizar a opinio dos alunos acerca dos textos em estudo e estimular as relaes sobre o que esto lendo com o que j leram ou viveram antes, e mesmo com o que esto lendo ou vivendo. c) Situar o texto no contexto; d) Atribuir e construir sentidos; e) Identificar e discutir o posicionamento poltico ideolgico dos autores dos textos; f) Possibilitar o dilogo em sala de aula e favorecer o pensamento crtico dos estudantes; g) Perceber as intenes dos autores do texto; h) Estimular a pesquisa e novas investigaes.

Interpretao de texto:

Este texto cujo nome A Pobreza da Riqueza, o autor faz uma critica sobre a elite do nosso pas e utiliza como adjetivo pobreza. Identifique este problema que o autor levanta no texto?

O autor levanta os problemas de segurana que os ricos brasileiros enfrentam, e que no s deles. Voc acredita que isto fruto da ma distribuio de renda que o autor se refere? Comente?

Quando viajam ao exterior, os ricos sabem que no hotel onde se hospedaro sero vistos como assassinos de crianas na Candelria, destruidores da Floresta Amaznica, usurpadores da maior concentrao de renda do planeta, portadores de malria, de dengue e de verminoses.

Voc concorda com a viso do autor com relao imagem do brasileiro

no exterior? Comente?

O autor relaciona este problema de hoje com a forma que foi realizada a abolio da escravido a mais de cem anos. Utilizando seus conhecimentos de Historia do Brasil voc concorda? Tea comentrio?

Voc acredita que com as sugestes do autor o Brasil pode melhorar e enriquecer sua populao? Sugira mais solues?

Relacione a pintura de Picasso cuja a historia voc conhece com o texto de Cristovam Buarque e seus conhecimentos.

Escola Brasil

Cristovam Buarque O Brasil no ser eficiente nem decente enquanto todo o seu territrio no for uma enorme e competente escola para toda sua populao. O problema brasileiro no ter escolas, ser uma escola. Para fazer o salto brasileiro a uma sociedade eficiente e decente no basta construir escolas, preciso transformar o Pas em uma imensa escola. Fazer escolas construir prdios, ser uma escola exige dez aes voltadas para a universalizao e a qualificao das escolas. Em primeiro lugar, o Brasil s ser uma grande escola quando um presidente da repblica assumir que sua principal misso est na educao: sua marca na histria ser deixar um povo educado. Ele cuidar de todas as obrigaes de um governo, mas sua prioridade e sua obsesso estaro na educao, da mesma forma que para os presidentes anteriores as obsesses sempre foram a economia e as obras civis. Com um presidente obsessionado pela educao, a Escola Brasil s funcionar se cada cidado sentir-se envolvido nessa guerra, tanto quanto Juscelino nos envolveu na guerra do desenvolvimento.

Os pais tero de assumir a educao dos filhos como uma prioridade maior do que o carro, a casa, o tnis, as viagens. Os empresrios tero que aceitar a primazia da infra-estrutura educacional na frente da infraestrutura econmica. Os meios de comunicao tero que considerar-se como parte fundamental da Escola Brasil. Enquanto houver um divrcio entre comunicao e educao, no houver educao. Mas, se os meios de comunicao se transformam em divulgadores do clima social de prioridade educao e em promotores de programas educacionais, o Brasil dar o passo fundamental para ser, ele inteiro, uma imensa e dinmica Escola. No h, porm, escola sem escolas. preciso ter todas as crianas em aulas. Belos prdios so necessrios e fceis de fazer - mais importante que nenhuma criana fique fora destes prdios. Para isso, bastaria levar adiante a proposta que o governo federal j vem desenvolvendo de garantir Bolsa-Escola para 10,7 milhes de crianas. No entanto, preciso cuidar de cinco aspectos: aumentar o valor pago s famlias; nunca atrasar o pagamento um nico dia; fiscalizar com todo rigor a freqncia dos alunos, como condio absolutamente necessria para que a bolsa seja paga; pagar por famlia e no por criana; e manter a bolsa at que o menor dos filhos desta famlia conclua o seu curso bsico. Alm da BolsaEscola, ser preciso que o governo implante o programa Poupana-Escola: um depsito para cada criana pobre aprovada no ano letivo, a ser sacado com juros apenas no final do ensino mdio. As crianas no nascem na escola. preciso garantir que todas elas ingressem na escola, tendo recebido o atendimento necessrio para seu desenvolvimento fsico e intelectual, ao longo de sua primeira infncia. Criana no espera para crescer depois do cumprimento das promessas de creches ou de empregos para os pais feitas pelos polticos. Uma soluo imediata garantir um salrio s mes, para que a famlia possa cuidar dos filhos. Mas, preciso que cada escola tenha a mxima qualidade. Para que o Brasil seja uma escola com qualidade, preciso dobrar o salrio mdio atual de nossos professores. Alm disso, preciso aumentar o nmero deles em 500 mil, para que todas as crianas sejam atendidas, para que a carga horria seja eficiente e para que eles tenham direito a perodos sabticos, durante os quais se atualizaro, para melhorar o desempenho. A cara das prioridades de um pas est na fachada e qualidade dos prdios de suas atividades. No Brasil de hoje, esta cara est nas fachadas de vidro e ao, no ar condicionado e na limpeza dos bancos e dos shopping centers. Para o Brasil ser uma grande escola de qualidade, nossos melhores prdios tero de ser nossas escolas, em quantidade e em qualidade. O Brasil precisa de cerca de 30 mil novas escolas e fazer uma imensa faxina nas que j existem. Alm disso, preciso equip-las. J se foi o tempo em que a escola se resumia a apenas um professor com quadro negro, hoje a escola precisa de bibliotecas, vdeos, computadores, coneco para a Internet.

Houve um tempo em que o professor se formava e com os conhecimentos adquiridos tinha o saber necessrio para ensinar at sua aposentadoria. Esse tempo acabou. Em pouco tempo de formado, cada professor est superado em grande parte do que aprendeu, no contedo e nos mtodos de ensino. Por isso, ser professor estar em formao permanente. Um pas que despreza a educao faz um pacto de negarlhe condies de trabalho e pouco exigir dele. Com todas as condies que a Escola Brasil lhes oferecer, nossos professores tero que aceitar as exigncias de formao continuada e de avaliaes permanentes. Se o centro do processo educacional est no professor e se tem todo o apoio da sociedade e do governo, ele tem que dar sua contrapartida, se preparando e submetendo-se a avaliaes. Mas, no basta educar nossos alunos e nossos professores. A Escola Brasil tem que ter todos os adultos mobilizados em um imenso mutiro, em que todos devem estar aprendendo alguma coisa. Cada pai que se inscreve em um curso, aumenta a dedicao dos filhos. Nossos presidentes dariam um timo exemplo se matriculassem-se em algum curso: de uso de computador, de aprendizado de lngua estrangeira, de histria do mundo. Se isso for feito, o Brasil pode levar todos seus jovens para programas de formao de mo-de-obra, desde que haja os cursos necessrios. A Escola Brasil tem de comear pelo desafio de abolir o analfabetismo em quatro anos, no mximo. E depois, criar mecanismos de divulgao da leitura por todo o territrio nacional. O Brasil divide-se entre os que no sabem ler e os que sabem e no lem. Os outros so uma exceo de poucos milhes. Isso pode ser modificado com a disseminao de centenas de milhares de pequenas bibliotecas domsticas em todo o territrio nacional. Todo jovem tem de ter direito de estudar at o limite que se propor. Por isso, se a universidade pblica no for capaz de absorver todos os jovens que desejam estudar nelas, a sociedade tem que garantir os recursos para que ele no pare seus estudos por causa de pobreza. Tudo isso custaria menos de 5% da receita do setor pblico brasileiro, alm dos gastos atuais. Ainda menos, se evitamos desperdcios feitos atualmente. muito pouco para um pas to rico. E o retorno, em poucos anos, mudaria o Brasil, aumentaria nossa riqueza, inclusive material, aumentaria as receitas de nossos governos, daria a auto-estima que o Brasil carece, e acabaria a vergonha que sentimos por no termos feito esse esforo antes. A Escola Brasil possvel, se o Brasil quiser. O desafio saber como fazer uma Escola Brasil antes que sua elite tenha passado por ela. Porque a maior prova da necessidade de transformar o Brasil em uma grande escola colocar nela sua elite. So os pobres que precisam entrar nas escolas, mas na Escola Brasil so os ricos os que precisam entrar, comeando pelos polticos

Disponvel em: http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/c_buarque/id260801.htm Interpretao de texto: Quais so as dez aes que, segundo o autor, devem ser realizadas para garantir escola de boa qualidade para todos? Discuta com seus colegas sobre os problemas de sua escola e levante aes que possa melhoras o qualidade do ensino? O que o governo j esta fazendo? E precisa fazer para melhorar a qualidade do ensino e, as condies para que todas as crianas possam ter acesso a escola, segundo o autor? Voc concorda? D sua contribuio co algumas sugestes! E o papel da sociedade para o autor tem importncia? de que forma? Esta imagem tem a ver com as polticas publicas voltadas para a educao no momento? Porque?

Bero da desigualdade

Cristovam Buarque Quando nascem, alguns comeam a comer, outros no; a seguir, alguns vo cedo para a escola, outros no; depois, alguns ficam fora da escola, outros permanecem por quatro anos, uns freqentam-na irregularmente, ou a abandonam antes de concluir o ensino mdio, ou o concluem com pssima qualidade; enquanto isso, outros ficam na escola por 20 anos, do pr-primrio at o final da universidade. Dos que nasceram em bero pobre, quase nenhum vai garantir ascenso social por meio do diploma; a probabilidade igual de ganhar na loteria. Ao longo de sua vida, uma criana brasileira nascida entre os mais pobres, com renda per capita de 80 reais por ms, receber um investimento de R$ 3.200,00 na sua educao. J aquela nascida entre os mais ricos, com renda per capita de R$ 1.600,00 por ms, receber cerca de R$ 250 mil em toda a sua vida escolar. A desigualdade de 20 vezes na distribuio da renda aumenta para 80 vezes no gasto com educao. A est a explicao da desigualdade, e a orientao para romper o ciclo criado por ela. H dcadas, economistas tentam explicar a desigualdade pela distribuio da renda, sem perceber que sua causa fundamental est no acesso educao. Primeiro, porque a concentrao da educao impede a distribuio da renda, mesmo que se desejasse distribu-la; segundo, porque a renda nacional ainda baixa; se ela fosse radicalmente repartida, faria com que todos fossem igualmente pobres, no distribuiria riqueza.

A promessa de romper o crculo da desigualdade por meio da distribuio direta de renda demaggica, porque no h renda suficiente para todos e porque ela no se distribui simplesmente por decreto. O aumento do salrio mnimo no ser suficiente para tirar os pobres da pobreza e, se fosse, s chegaria queles que tm emprego, o que hoje exige educao. Alguns pases dispem de renda suficiente para distribu-la quase independentemente da educao de seus indivduos, outros no tm recursos nem mesmo para educar a todos. O Brasil no tem renda suficiente para distribu-la bem, mas tem os recursos para educar todos os brasileiros. Em alguns pases, a desigualdade conseqncia da pobreza natural; no Brasil, ela construda por polticas sociais que beneficiam uns mais do que outros. O caminho para eliminar a tragdia da desigualdade no Brasil est na garantia da educao de qualidade a todos, do pr-natal at o primeiro emprego. Alm de pagar s mes uma renda suficiente para garantir a alimentao da famlia, com a condio de que seus filhos estudem, como faz o Bolsa Famlia, preciso acompanhar seus filhos desde o dia em que nascem, com alimentao e cuidados pedaggicos, em creches ou outros sistemas que assegurem seu desenvolvimento intelectual. No se pode esperar igualdade em um pas onde algumas crianas entram na escola aos 4 anos e outras aos 7. A garantia de vaga na escola a todas as crianas de quatro anos o caminho para vencer a desigualdade. Esse seria um gesto simples dos brasileiros para com suas crianas. As instalaes esto quase todas disponveis, os meios de gerenci-las j existem. Outro elemento vital para o rompimento do crculo da pobreza o professor. Para distribuir renda, preciso pagar bem aos professores e professoras. No apenas porque no Brasil eles somam 2 milhes de mal remunerados, mas sobretudo porque nenhum outro agente social produz mais igualdade do que um professor em sala de aula. Porm, preciso que ele estude, se forme, se dedique, caso contrrio no ter qualquer papel no esforo de construo da igualdade. Ao lado do professor, as escolas precisam de equipamentos. No h igualdade entre crianas que comeam a brincar com computadores em idades diferentes. Sobretudo, preciso no parar no ensino fundamental. O Brasil precisa tornar obrigatrio o ensino mdio. uma vergonhosa causa de desigualdade o descaso com que aceitamos que grande parte da populao s estude at os 14 anos, enquanto poucos chegam ao final da universidade.

Com essas medidas, bem como com livros e equipamentos, incentivos e um compromisso radical com a educao, similar ao compromisso de dcadas com o crescimento econmico, em 15, 20, no mximo 30 anos, o Brasil ser um pas com uma distribuio decente de renda, sem a vergonhosa desigualdade de hoje. O Unicef mostrou como a desigualdade social transfere-se para a desigualdade na educao e nos ajuda a perceber que a desigualdade ao acesso educao a causa da desigualdade social, o que cria o maldito crculo da vergonha nacional. E tambm que deve ser verdadeiro o contrrio: o investimento no bero quebrar esse crculo. tempo de romper o crculo da desigualdade. A hora esta e possvel. Sabemos como fazer, temos a vontade poltica e j estamos dando os primeiros passos, discutindo a criao do Fundeb, iniciando um grande programa de capacitao e formao de professores e implementando aes de incluso escolar. Mas preciso mais. preciso olhar para os beros desiguais onde nossas crianas nascem e passam sua infncia. O Unicef fez sua parte. Ns, brasileiros, precisamos fazer a nossa. (Disponvel em http://www.universia.com.br/html/noticia/noticia_clipping_jjig.html Interpretao do texto: Qual o assunta principal do texto? Segundo Cristovam Buarque, possvel perceber nas ruas a desigualdade que o autor se refere no texto? Qual o principal motivo da desigualdade brasileira? Voc com a tese do autor? Segundo o autor como se constri a desigualdade no Brasil? possvel reverter este quadro? Qual a forma que o autor sugere? Comente as imagens e relacione com o texto?