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International Financial Reporting Standards Julho e Agosto de 2010 Nº 11 IFRS Journal Peso dos investidores Os investidores começam a perceber a necessidade de conhecer mais profundamente as normas IFRS, e buscam envolver-se nas discussões preliminares de normas e pronunciamentos contábeis, antes que sejam publicados. A ideia é saber, com antecedência, como os reportes financeiros serão impactados Página 7 Ponto de vista Governo Federal, Estados e Municípios preparam-se para adotar normas contábeis internacionais Entrevista Henrique Meirelles, presidente do BC, fala sobre o crescimento da economia em webcast exclusivo Copa do Mundo Como está a adoção do IFRS nos países que venceram as últimas edições do Mundial? NORMAS ATIVOS IMOBILIZADOS TENDÊNCIAS ATUALIDADES Página 3 Página 14 Página 9

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I n t e r n a t i o n a l F i n a n c i a l R e p o r t i n g S t a n d a r d s

J u l h o e A g o s t o d e 2 0 1 0 • N º 1 1

IFRSJournal

Peso dos investidores Os investidores começam a perceber a necessidade

de conhecer mais profundamente as normas IFRS,

e buscam envolver-se nas discussões preliminares de

normas e pronunciamentos contábeis, antes que sejam

publicados. A ideia é saber, com antecedência, como

os reportes financeiros serão impactados Página 7

P o n t o d e v i s t a Governo Federal, Estados e Municípios preparam-se

para adotar normas contábeis internacionais

E n t r e v i s t aHenrique Meirelles, presidente do BC, fala sobre

o crescimento da economia em webcast exclusivo

C o p a d o M u n d o Como está a adoção do IFRS nos países que

venceram as últimas edições do Mundial?

NORMAS • ATIVOS IMOBILIZADOS • TENDÊNCIAS • ATUALIDADES

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E D I T O R I A L

Antes restrita ao círculo de profissionais das áreas contábil

e financeira, a necessidade de conhecer as normas IFRS começa

também a fazer parte do dia a dia dos investidores. Afinal, além

de serem os principais usuários de demonstrações financeiras, esses

stakeholders começam a compreender que, sim, a adoção das normas

contábeis internacionais provoca forte impacto no resultado das

companhias e que, para não serem pegos de surpresa, é vital participar

e interferir nas discussões que antecedem a publicação das normas.

Além desse tema, que você pode ler na reportagem “Peso dos

investidores”, esta edição do IFRS Journal traz ainda entrevista com

Nelson Machado, secretário executivo do Ministério da Fazenda,

e Victor Branco, diretor de Gestão Estratégica da Secretaria Executiva

do Ministério da Fazenda, que falam sobre a adoção de novos padrões

contábeis no setor público. Desta vez não se trata do IFRS, mas

sim das chamadas IPSAS, ou International Public Sector Accounting

Standards, que deverão ser parte do dia a dia contábil do Governo

Federal, Estados e Municípios já a partir de 2012.

A Copa do Mundo, principal assunto dos últimos dias em todo o

mundo, também ganha espaço nesta edição. Fazemos uma análise

de como está a adoção do IFRS nos países que venceram os últimos

mundiais, e vemos que o Brasil é bom de bola também nesse quesito.

Apresentamos também, nesta edição, a nova diagramação do

IFRS Journal. Com layout mais arejado e o uso de uma linguagem menos

técnica – sem, no entanto, perder conteúdo – e mais jornalística,

a publicação busca levar a seus leitores uma edição ainda mais agradável

e diversificada, como a matéria com o presidente do Banco Central,

Henrique Meirelles, resultado de webcast coordenado pela Ernst & Young

Global, que traz discussão de temas macroeconômicos

de interesse geral.

Boa leitura!

IFRS para investidores

IFRS Journal é uma publicação destinada a clientes

e colaboradores da Ernst & Young que aborda

questões relevantes para as empresas na migração

para os padrões internacionais de contabilidade

IFRS. As opiniões aqui expressas não devem ser

utilizadas, de maneira isolada, para a tomada de

decisão por parte das empresas. Isto porque existem

particularidades pertinentes a cada empresa que

podem, eventualmente, alterar o enfoque transmitido.

Recomendamos que, antes de a decisão ser tomada,

as empresas discutam esses pontos de vista com seus

consultores. Estamos à disposição para discutir nossas

opiniões e sua aplicação em cada caso concreto.

Mais informações com:

Paul Sutcliffe

[email protected]

Julio Braga Pinto

[email protected]

Fernando Próspero

[email protected]

ou pelo e-mail [email protected].

Revisão técnica:

Idésio Coelho

[email protected]

IFRS Journal é uma

publicação do Departamento

de Comunicação e Gestão de

Marca da Ernst & Young Brasil

Jornalista responsável:

Roseli Loturco

(Mtb 25.529/110/12/SP)

Reportagem: Clarissa Wahl

e Katia Hochman

Projeto gráfico e edição visual:

Alex Rossetto, André Heller

e André Scigliano.

International Financial

Reporting Standards

Julho e Agosto de 2010 • Nº 11

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Governo adota IFRS próprio

Engana-se quem acha que só o mundo empresarial terá que se submeter

ao novo padrão contábil internacional. O “IFRS” bate também às portas do setor

público, mas com formato diferenciado

P O N T O D E V I S T A

IFRS Journal • No setor público,

quais esferas deverão adotar as

normas contábeis? Além do Governo

Federal, os órgãos estaduais e

municipais também deverão seguir

a regulamentação?

Nelson Machado • Na verdade, deve

ficar claro que o setor público está

convergindo para um conjunto de

normas que chamamos de IPSAS, que

não é o IFRS, mas parecido com ele.

Ou seja, ao mesmo tempo em que

o setor privado passa por um processo

de convergência para os padrões

internacionais, o setor público vivencia

essa mesma situação, mas seguindo

outro modelo. E, já respondendo à

pergunta, tanto órgãos federais quanto

estaduais e municipais terão de seguir

essa nova linguagem contábil.

No Brasil, o órgão responsável

por convergir as normas contábeis

internacionais para o nosso ambiente

é o Conselho Federal de Contabilidade

(CFC). Em se falando de uma linha

do tempo, a primeira ação aconteceu

ainda em 2008, quando o Ministério

da Fazenda publicou uma portaria

[Portaria 184] que estabelecia que

o Tesouro Nacional – órgão que tem

Às vésperas de um novo período eleitoral, o Brasil prepara-se para adotar um padrão contábil internacional para suas contas

públicas. Trata-se das normas IPSAS (sigla para International Public Sector Accounting Standards) que, assim como o IFRS – este,

dirigido a companhias do setor privado –, permite a comparabilidade das demonstrações e, de quebra, o ganho de transparência.

Com o prazo de convergência fixado inicialmente para 2012, a adoção dos novos pronunciamentos garante um novo olhar

da população sobre os gastos públicos. Até agora, a sociedade de um modo em geral só tinha acesso ao fluxo financeiro em

relação à entrada e saída de recursos – a conta-corrente – do governo, não permitindo a avaliação detalhada de seus ativos,

balanços patrimoniais e de sua gestão. “No modelo anterior, um governante podia alcançar resultados aparentes e fazer obras

imensas, o que comprometia a geração futura de caixa. A que custo esse serviço foi feito?”, questiona Victor Branco, diretor

de Gestão Estratégica da Secretaria Executiva do Ministério da Fazenda.

Para discutir a adoção das IPSAS no setor público, esta edição do IFRS Journal entrevista Victor Branco e Nelson Machado

– este último atual secretário executivo do Ministério da Fazenda –, que fazem um balanço das ações adotadas pelo governo

federal até então para adequar a contabilidade brasileira aos novos padrões e aos benefícios da migração.

Confira os principais trechos da entrevista.

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E N T R E V I S T A

todo o processo, já está mais

adiantada, mas isso não significa

que alguns Estados não poderão

ter experiências melhores.

Na verdade, há uma tendência de

a União ter um enfrentamento mais

tranquilo por ter um quadro de

profissionais mais bem preparados.

E essa é uma característica

fundamental. Para auxiliar Estados e

Municípios nessa formação, estamos

engajados em um esforço de

montagem de treinamentos, que

devem acontecer em todos os Estados

do País. Um colegiado liderado pelo

CFC produz as apostilas e promove

os cursos, enfim, é o responsável por

todo o programa de treinamento.

IFRS Journal • No setor privado,

entre as normas IFRS que mais

impactam o dia a dia das companhias

estão a referente a Instrumentos

Financeiros, Pagamentos Baseados

em Ações e Efeitos das Alterações

em Taxas de Câmbio, entre outras. E

no setor público, quais são as normas

que representam os maiores desafios?

Nelson Machado • O ponto central

que vamos ver a partir da adoção

das IPSAS é o fortalecimento do

conceito de contabilidade patrimonial.

Ao contrário do IFRS, em que o foco

é o reconhecimento das receitas

a partir do momento em que elas

ocorrem, na IPSAS a discussão sobre

a receita não é associada a uma

contraprestação de serviços.

Por exemplo, não existe vinculação

de um tributo a uma determinada

despesa ou prestação de serviço.

A partir do fortalecimento

da contabilidade patrimonial,

os comentaristas começam

a dar maior destaque ao balanço

patrimonial. Até agora, ninguém

estava preocupado com o estoque

de bens e o valor do patrimônio líquido

daquele ente federativo. Qual é o

patrimônio líquido que o próximo

gestor irá receber para administrar?

Essa é uma preocupação fundamental

e que, até agora, nunca havia sido

colocada no radar. E isso passa

a ficar no centro de toda a discussão.

“Há uma tendência de

a União ter um

enfrentamento mais

tranquilo por ter um quadro

de profissionais mais bem

preparado. Para auxiliar

Estados e Municípios nessa

formação, estamos

engajados em um esforço

de montagem de

treinamentos, que devem

acontecer em todos os

Estados do País.”

Victor Branco, diretor de Gestão

Estratégica da Secretaria Executiva

a competência de editar normas para

o setor público – ficaria responsável

pela migração. E esse trabalho

vem sendo feito com afinco. Hoje,

além do Tesouro, também integra

o rol de instituições responsáveis

por esse processo o CFC e doutores

em contabilidade e finanças de

universidades públicas (entre elas,

as Universidades Federais de

Pernambuco, do Rio Grande do Norte

e do Rio de Janeiro).

Vale lembrar que o IFAC [sigla para

International Federation of Accountants,

órgão internacional que edita as normas

para o setor público] já publicou

31 IPSAS. No Brasil, por sua vez, o

CFC já editou 10 normas brasileiras.

IFRS Journal • Qual é o prazo

para que o governo federal, Estados

e Municípios adotem esse novo

conjunto de normas?

Nelson Machado • De novo, vamos

fazer uma linha do tempo: 2008

foi o ano da publicação da portaria;

já em 2009, além da tradução das

31 normas IPSAS, foi feito um grande

trabalho de análise e debates desses

pronunciamentos, por meio de

seminários em todo o País. Em 2010,

esse trabalho de discussão continua

e, além disso, continuamos elaborando

minutas em busca da convergência

total. Em 2011, as normas serão

publicadas e, já a partir de 2012, essas

normas devem ser incorporadas e

tornadas obrigatórias para todos os

entes da Federação: Governo Federal,

Estados e Municípios.

IFRS Journal • Nas três esferas

de governo, qual delas deve

ter mais dificuldades ou enfrentar

maiores desafios na adoção

das normas?

Victor Branco • Na

verdade, podemos

dizer que cada

uma enfrentará

dificuldades

distintas.

A União,

por estar

envolvida em

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Victor Branco • Há uma mudança

significativa na forma cultural de tratar

o patrimônio. Os analistas e a opinião

pública, até agora, não conseguiam

perceber ao certo o valor da boa

gestão porque o que tinham em mãos

era apenas o fluxo financeiro, ou fluxo

de caixa daquele governo. Com isso

não dá para ter uma dimensão do todo.

E, pior, um governante pode alcançar

resultados aparentes, fazer obras

imensas, mas comprometendo as

gerações futuras. A que custo esse

serviço foi feito? Como disse Nelson,

esse é um ponto fundamental, mas que

também gera um enorme esforço antes

de começar a ser feito. Isso porque,

para que se consiga contabilizar o

patrimônio líquido, deve-se ter uma

avaliação de todos os ativos. Quanto

valem nossos recursos naturais? É todo

um trabalho que precisamos fazer.

IFRS Journal • Existem prazos

para a adoção das normas contábeis

no setor público? Em sua opinião,

quando os órgãos federais, estaduais

e municipais estarão preparados

para fazer seus primeiros reportes?

Nelson Machado • O Brasil é um

dos poucos países que têm um plano

de contas unificado e um único órgão

gerador de normas públicas, que

é o Tesouro Nacional. Então, o Brasil

já sai na frente de outros países nessa

aplicação, porque temos uma maior

uniformidade. Nos Estados Unidos,

por exemplo, um certo condado

segue determinada regulamentação,

enquanto outro Estado tem uma

obrigatoriedade totalmente diferente.

É um país no qual cada Estado tem

suas próprias leis e deliberações, o

que não reflete o ambiente brasileiro,

que é totalmente ligado ao Governo

Federal. Outra coisa é que não vamos

aplicar cegamente as IPSAS. É claro

que a busca é pela convergência, mas

isso não significa que as normas não

poderão ser alteradas. Temos de tentar

adequar o conteúdo à nossa realidade.

IFRS Journal • O principal apelo

das normas IFRS é o de permitir

a comparabilidade entre os reportes

financeiros de companhias em todo

o mundo. E no setor público, quais

seriam as principais motivações?

Nelson Machado • Creio que

a comparabilidade, assim como no

setor privado, é a principal motivação.

Esse foi o objetivo do Governo

brasileiro ao aceitar dar início

ao processo de convergência com

as normas internacionais.

Victor Branco • A comparabilidade,

no setor público, é tão importante

quanto em qualquer outro segmento.

Por exemplo, o manual de estatísticas

fiscais do FMI, que mede a saúde

financeira de um país, será feito com

base nesses padrões contábeis. E isso

poderá nortear questões como custo

de capital e decisões sobre juros de

empréstimos – exatamente da mesma

forma que uma empresa do setor

privado. E essa comparabilidade

fatalmente melhorará a transparência

e a evidenciação do patrimônio, como

falamos anteriormente.

IFRS Journal • A partir de 2012,

as normas contábeis para o setor

público serão obrigatórias. Existe a

possibilidade de o governo federal ou

algum Estado específico conseguir

reportar já no ano que vem? E, para

aqueles que não adotarem as novas

regras, existirão penalidades?

Nelson Machado • Não acredito

que dê tempo, mesmo porque

um processo dessa envergadura

deve ser feito com calma.

Já em relação às penalidades,

quem deve dizer se os entes da

Federação aplicaram corretamente

ou se devem receber sanções

pela não aplicação é o órgão

de controle que ficará responsável

por essa verificação. Essa é

uma questão para os tribunais. n

“O Brasil é um dos

poucos países que têm

um plano de contas

unificado e um único

órgão gerador de normas

públicas, que é o

Tesouro Nacional. Então,

o Brasil já sai na frente

de outros países nessa

aplicação, porque temos

uma maior uniformidade.”

Nelson Machado, secretário executivo

do Ministério da Fazenda

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R E P O R T A G E M

O peso dos investidores É crescente o número de investidores brasileiros e

estrangeiros que dão sugestões em pronunciamentos

contábeis que estão ainda em audiência pública

Por Clarissa Wahl

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“As normas contábeis

são muito antigas, já

existem há mais de uma

década no exterior.

Já no Brasil, chegou

em forma de lei somente

em 2008. Ou seja,

podemos dizer que, além

do aspecto cultural,

a pouca familiaridade

com o padrão contábil

também interferiu

no nível de participação

dos investidores na

elaboração das novas

normas contábeis.”

Idésio Coelho sócio de Auditoria da Ernst & Young

Foi-se a época em que os investidores

eram meros coadjuvantes do mercado

financeiro. Por serem os principais

usuários das demonstrações que

empresas de capital aberto publicam,

esses stakeholders começam a

ampliar sua participação e interferência

nas discussões que antecedem a

publicação de normas contábeis, feitas

por órgãos nacionais e internacionais

de contabilidade.

Para aproveitar essa onda positiva,

o International Accounting Standards

Board (IASB) anunciou que, há cerca

de dois meses, criou, em seu website,

uma seção específica para que

investidores possam dar seus inputs.

“Qualquer pessoa em qualquer lugar

do mundo pode dar sugestões sobre as

normas que ainda estão classificadas

como Exposure Draft”, explica Amaro

Gomes, membro brasileiro do IASB.

Até o fechamento desta edição, haviam

sido enviadas 237 cartas-comentário

para a direção do comitê.

Já no Brasil, o Comitê de

Pronunciamentos Contábeis (CPC)

também desenvolveu, em seu website,

área exclusiva para receber

comentários. Em seção intitulada

“Audiência Pública”, o site do CPC

permite que os usuários dos reportes

façam suas considerações e sugestões

sobre pronunciamentos em audiência.

Nesse caso, os comentários devem

ser encaminhados por e-mail ou carta

ao próprio comitê ou diretamente

à Superintendência de Normas

Contábeis e de Auditoria da Comissão

de Valores Mobiliários (CVM).

Apesar de o comitê não disponibilizar

o número de cartas-comentário

que recebe mensalmente, a entidade

publica em seu site um relatório

do período em que cada um dos

pronunciamentos ficou em audiência.

E, para cada um dos argumentos

postados, o comitê faz um breve

resumo dos comentários que

foram enviados e o porquê foram –

ou não – acatados. Desde que os

pronunciamentos começaram a ser

publicados, 65 audiências públicas

já foram realizadas.

Investidores em xeque

Desde janeiro de 2008, quando a

aplicação parcial das normas contábeis

internacionais teve início no Brasil,

as demonstrações financeiras das

companhias passaram por mudanças

bruscas, deixando os investidores

de mau humor. Empresas pertencentes

a diferentes segmentos de atuação

viram seus principais números ganhar

e perder zeros, tiveram de alterar sua

forma de reportar lucros e prejuízos

e, ao final das contas, ainda ser alvo da

desconfiança de analistas de mercado.

Empresas e investidores estão

cientes de que as mudanças nas regras

de contabilidade podem resultar

em um profundo impacto sobre os

resultados relatados. Por essa razão,

começam a vislumbrar a importância

de sugerir mudanças e opinar

sobre o potencial das novas regras.

O impacto pode ser visto pela adoção

das normas IFRS nos resultados

de certas empresas brasileiras.

Por exemplo, no auge dos dias mais

conturbados, a companhia aérea

TAM noticiou que, em 2009, segundo

o BR Gaap, a empresa registrou

lucro de R$ 1,3 bilhão, ante prejuízo

de R$ 1,5 bilhão do ano anterior.

Já pelo padrão IFRS, o lucro foi

de R$ 435,7 milhões, ante prejuízo

de R$ 1,4 bilhão em 2008.

Para minimizar as surpresas que vêm

com a divulgação das demonstrações,

os órgãos que ditam as regras

contábeis no Brasil e no exterior

começam a empreender esforços

no sentido de envolver mais

os investidores nas discussões

das normas, ou seja, antes de serem

publicadas. “A ideia é que os

investidores comecem a participar

mais ativamente da elaboração das

normas. No exterior, a participação

é bem mais expressiva em comparação

ao Brasil, mas certamente por

aqui também essa posição deve ser

crescente”, explica o professor

Fernando Galdi, da Fundação Instituto

de Pesquisas Contábeis, Atuariais

e Financeiras (FIPECAFI).

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Entre os benefícios de se ampliar

as discussões, segundo profissionais

do setor, está o de evitar a rejeição

do mercado às normas. Nesse

sentido, ao permitir a discussão, o

órgão que edita os pronunciamentos

garante que profissionais como

analistas de mercado e investidores

conheçam com antecedência os

pontos que mais podem gerar impacto

no dia a dia contábil e financeiro

das companhias e, de quebra, sugiram

ajustes que podem não representar

grandes mudanças normativas,

mas uma diferença substancial

em sua aplicação.

Busca por sugestões consistentes

A participação dos investidores

deve ser comemorada, mas resta

saber se suas sugestões terão

peso, ou seja, consistência técnica.

Segundo relatório anual da Bolsa

de Valores de São Paulo (Bovespa),

o número de consultas de investidores

cresce a cada ano. Em 2007, o

número de profissionais que entrou

em contato com a bolsa para tirar

dúvidas ou esclarecimentos sobre

o mercado chegou a 2,7 mil contatos.

Já em 2008, ano mais recente em

que pesquisa foi divulgada, o número

chegou a 3,3 mil ligações – ou seja,

um crescimento de 25% em relação

ao ano anterior.

Um número crescente de consultas

significa que, se os investidores

não conhecem em profundidade

os conceitos técnicos do mercado,

ao menos demonstram interesse em

buscar informações que possibilitem

maior segurança na tomada de

decisões. Segundo Galdi, da FIPECAFI,

os analistas e investidores estão

cada vez mais sofisticados e, sim, têm

interesse e sabem opinar. A demanda

por cursos específicos em IFRS vem

crescendo ano a ano, comprovando

o interesse de profissionais por

informações contábeis que podem

influenciar diretamente na tomada

de decisões das companhias em que

investem. Desde que foram lançados,

ainda em 2008, os treinamentos

promovidos pela Ernst & Young

em diversas capitais do País já

atraíram cerca de 2,1 mil participantes

– dos quais 41% CFOs, diretores

financeiros, controllers e gerentes

financeiros de companhias de médio

e grande portes.

A participação dos investidores,

segundo o professor da FIPECAFI,

é fundamental porque os investidores

já conhecem as deficiências que

existiam no ambiente anterior

e, portanto, sabem o que precisa

mudar. “Eles são os principais

usuários das demonstrações

financeiras. E é a qualidade e

transparência desses reportes que

irão auxiliar o investidor a tomar

a melhor decisão sobre onde alocar

seus recursos”, argumenta Galdi.

Segundo Idésio Coelho, sócio

de Auditoria da Ernst & Young

e representante do Instituto dos

Auditores Independentes do Brasil

(Ibracon) no CPC, um dos fatores

que contribuíram para a menor

participação dos investidores

nas discussões foi o menor tempo

de convivência com as normas IFRS.

“As normas contábeis são muito

antigas, já existem há mais de uma

década no exterior. Já no Brasil,

chegaram em forma de lei somente

em 2008. Ou seja, podemos dizer

que, além do aspecto cultural, a pouca

familiaridade com o padrão contábil

também interferiu”, aponta Coelho.

No entanto, as perspectivas são

positivas, conforme explica Vânia

Borgerth, vice-presidente do

Instituto Brasileiro de Relações com

Investidores no Rio de Janeiro

(Ibri - RJ). “Apesar de haver uma

questão cultural quando se fala

da falta de interesse dos brasileiros

em opinar nas normas, a expectativa

é que, a médio e longo prazo,

com o fortalecimento do mercado

de capitais, essa situação seja

revertida, o que é uma ótima notícia”,

completa Vânia. n

Brasil ganha pontos no cenário

internacional

“A ideia é que os

investidores comecem

a participar mais

ativamente da elaboração

das normas. No exterior,

a participação é bem

mais expressiva em

comparação ao Brasil,

mas certamente por

aqui também essa posição

deve ser crescente.”

Fernando Galdi Fundação Instituto de

Pesquisas Contábeis, Atuariais

e Financeiras (FIPECAFI)

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E N T R E V I S T A

Brasil ganha pontos no cenário

internacional“O Brasil pode se tornar a quinta maior economia do mundo

até 2020.” A frase é do presidente do Banco Central,

Henrique Meirelles, que afirma ainda que o País começa a ser

essencial para a saúde financeira de alguns dos maiores grupos

corporativos internacionais com subsidiárias no Brasil

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Ernst & Young • Como o Brasil lidou

com a recente crise mundial?

Meirelles • O Brasil era um dos

países que, até a caída do banco

Lehman Brothers, era considerado

como dissociado da crise. E isso

porque, até setembro de 2008, estava

crescendo rapidamente. Do terceiro

trimestre de 2007 ao mesmo período

de 2008, o crescimento do Produto

Interno Bruto (PIB) do País chegou

a 7,1%; a demanda doméstica estava

crescendo mais de 9%; as taxas de

investimento alcançavam 20%; nosso

sistema financeiro estava bastante

saudável; o Brasil tinha reservas

monetárias de mais de US$ 200

bilhões; a taxa de inflação estava

sob controle; a taxa de endividamento

público estava nos menores níveis

O Brasil pode se tornar a quinta maior economia do mundo até 2020, e seu

posicionamento diante do cenário de adversidades é um dos pontos fortes

a ser destacado na história do País, segundo Henrique Meirelles, convidado a

participar de webcast exclusivo produzido pela Ernst & Young em Nova York.

O fato de o País ter feito a lição de casa em relação aos princípios econômicos

não o livrou de entrar em recessão e perder 800 mil postos de trabalho,

mas possibilitou um retorno mais rápido aos níveis pré-crise. “O Banco

Central agiu de forma muito precisa nos canais de transmissão da crise,

provendo liquidez em moeda estrangeira e local, e também nos mercados

futuros. Como resultado disso, os mercados tornaram-se funcionais

rapidamente e o crédito voltou aos níveis anteriores”, explicou ele.

Em se falando de concessão de crédito, apesar de a relação entre crédito

e PIB no Brasil ter chegado a 45%, Meirelles não se diz preocupado

com o dado, uma vez que o percentual chega a ser menos da metade

do verificado em outras economias emergentes. De qualquer forma, faz

o registro de que o BC monitora de perto a qualidade da concessão de

crédito por parte dos bancos. “As regras de prudência brasileiras são muito

rigorosas em termos de alavancagem, qualidade do capital, transparência,

alocação de recursos etc. Em resumo, estamos falando de um mercado

muito bem regulado”, diz Meirelles, lembrando que cada transação

é registrada e que todas as instituições financeiras que atuam no Brasil

são auditadas e supervisionadas pelo Banco Central.

Desafios para o crescimento

O presidente do BC, no entanto, afirma que existem gargalos que, se não forem

enfrentados com atenção, podem representar uma ameaça ao crescimento

do País no cenário internacional. Entre eles, Meirelles cita questões relativas

a infraestrutura, capacitação profissional e energia. “Temos de ter a

certeza de que a malha está adequada para suprir as demandas necessárias

ao transporte de bens, com disponibilidade de ferrovias, rodovias e portos.

Outra questão importante diz respeito ao nosso capital humano. Com

o tipo de postos de trabalho que está sendo criado e com as boas tendências

da economia para o futuro, nosso mercado irá demandar profissionais

cada vez mais capacitados. E esse também é um desafio para o governo”,

pontua Meirelles, para quem, com o enfrentamento dessas questões e

a manutenção de políticas macroeconômicas consistentes a médio e longo

prazo, o País ganha ainda mais peso junto aos investidores internacionais.

Nesse sentido, entre os mercados que mais representam oportunidades

para receber aportes de grupos internacionais, segundo análise do

presidente do Banco Central, está o segmento de bens de consumo. Afinal,

diz ele, nos últimos oito anos, cerca de 30 milhões de brasileiros terão

ingressado na classe média. “A média de salários cresceu nos últimos anos

e os programas sociais trouxeram para o mercado consumidor mais de

40 milhões de brasileiros que estavam longe dele. Dessa forma, companhias

que chegam a esse mercado encontram um enorme potencial”, avalia.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Veja, a seguir, alguns dos principais trechos da entrevista concedida

pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles em webcast

produzido pela Ernst & Young em Nova York:

dos últimos anos. Em resumo, o Brasil

estava fazendo sua lição de casa.

A queda do Lehman Brothers, no

entanto, trouxe a crise para o Brasil.

Cerca de 20% do crédito total no Brasil

tinha funding internacional, que entrou

em colapso. Como resultado disso,

registramos um choque de crédito

também no Brasil. A liquidez no mercado

interbancário tornou-se muito restrita e

tivemos também problemas de liquidez

nos mercados futuros, e a produção

industrial caiu 20% em dois meses.

Mas, pelo fato de que lidamos bem com

a economia antes e durante a crise

e fizemos um bom diagnóstico da

situação, o Banco Central agiu de forma

muito precisa nos canais de transmissão

da crise, provendo liquidez em moeda 10

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esses pacotes se tornem efetivos.

O Banco Central Europeu está tomando

ações nesse sentido, mas os mercados

ainda estão bastante céticos.

Independentemente do que esteja

acontecendo, é uma situação complexa.

Haverá uma consolidação fiscal em

muitos países, o que tornará o crescimento

mais lento em toda a Europa.

Não podemos dizer que crise é bom

para alguém, mas o Brasil está ainda

no número de criação de empregos.

O desafio, no entanto, é manter esse

crescimento também no longo prazo.

Ernst & Young • E como alcançar

esses resultados?

Meirelles • O mais importante

é que a inflação esteja sob controle,

e o Banco Central está comprometido

com isso, tomando as medidas

necessárias para que isso aconteça.

Em segundo lugar, o governo

também anunciou cortes de despesas.

Bem, mas o que realmente importa

é que o próximo governo mantenha

o presente conjunto de políticas

econômicas. Se isso for feito,

posso dizer que o Brasil tem todas

as condições de manter sua taxa

de crescimento e enfrentar

mais bem preparado para enfrentar

a crise do que antes.

Ernst & Young • Como o senhor

vê a economia brasileira para

o restante do ano de 2010 e também

no longo prazo?

Meirelles • Para 2010, as projeções

do mercado para o crescimento do PIB

estão por volta de 6%, o que mostra

um crescimento forte. Ou seja, vejo

um ano muito bom, com recordes

Perdemos 800 mil empregos durante

a crise, mas só no ano de 2009 – de

março a dezembro – foi criado 1,2

milhão de postos de trabalho. Ou seja,

o Brasil está caminhando bem.

Ernst & Young • Como o senhor

acha que a crise que ainda assola

a Europa pode influir no desempenho

do Brasil?

Meirelles • Acredito que ainda

é um pouco prematuro fazermos

previsões sobre o que pode acontecer

com a Europa. Os programas de

ajuda governamentais em países

com problemas fiscais têm sua função

se ajudarem a estruturar funding

ou absorver capitais privados, por

exemplo. Bem, o que estou dizendo é

que existem diversas formas para que

“A queda do Lehman Brothers trouxe a crise para o Brasil. Cerca de 20% do crédito total no Brasil tinha funding internacional, que entrou em colapso.

Como resultado disso, registramos um choque de crédito também no Brasil.”

“Acredito que ainda é um pouco prematuro fazermos previsões sobre o que pode acontecer com a Europa. Os programas de ajuda governamentais em países com problemas fiscais têm sua função se ajudarem a estruturar fundingou absorver capitais privados, por exemplo.”

os desafios desse crescimento,

o que significa investimentos em

infraestrutura, transportes, energia,

educação etc.

Em resumo, se o País mantiver seu

conjunto de políticas macroeconômicas,

irá crescer a taxas muito satisfatórias

nos próximos anos. n

Para assistir ao webcast na íntegra,

acesse o site www.ey.com/webcast

e saiba mais.

estrangeira e local, nos mercados

futuros. Como resultado disso,

os mercados tornaram-se funcionais

rapidamente, o crédito voltou

aos níveis anteriores e então, quando

os estímulos fiscais foram aplicados,

houve uma forte pressão, porque

os mercados voltaram a funcionar

novamente.

O Brasil recuperou-se bem da crise,

após uma recessão de cinco meses.

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A R T I G O

reservas de reavaliação deverão

ser mantidos até a sua efetiva

realização ou estornados até

o final do exercício social em que

esta Lei entrar em vigor”, ou seja,

até 31 de dezembro de 2008.

Em 2009, como parte do processo

de conversão, o CPC emitiu o ICPC

10 – Interpretação sobre a aplicação

inicial ao ativo imobilizado e à

propriedade para investimento dos

pronunciamentos técnicos CPCs

27, 28, 37 e 43 – que introduziu

a aplicação do “custo atribuído”

(deemed cost). Esse termo

curioso quer dizer que as empresas,

na data de conversão, têm a

opção de mensurar seus ativos

imobilizados ao valor justo e adotar

este valor como sendo o novo

saldo contábil dos ativos a partir

da data de conversão.

Além disso, de acordo com o

CPC 27, a empresa deve reavaliar

a vida útil de seus ativos

imobilizados, deixando de utilizar

as taxas previstas pela legislação

fiscal e adotando taxas de

depreciação condizentes com

o tempo que espera utilizar esses

ativos. As companhias ainda devem

estabelecer o “valor depreciável”

e o “valor residual” desses ativos.

O valor residual é o valor pelo

qual a empresa espera, ao fim

da vida útil do ativo, recuperar com

sua alienação ou outra forma

de realização. Dessa forma, o valor

depreciável deveria representar

o custo atribuído do ativo subtraído

de seu valor residual na data de

transição às normas internacionais.

Novos desafios na contabilização do ativo imobilizadoPor Fernanda Albuquerque

Gerente da equipe de IFRS

da Ernst & Young Brasil

Terrenos, edifícios, máquinas,

aviões, veículos e móveis

são alguns exemplos de bens

que compõem o grupo de ativos

imobilizados, presente na grande

maioria dos balanços das empresas

brasileiras e em muitos casos

com valores relevantes. Apesar

disso, tradicionalmente, seu

tratamento contábil era adotado

de forma simples e sem maiores

complexidades ou estimativas.

Entretanto, com a chegada

da Lei 11.638/07 e a consequente

adoção das normas internacionais

de contabilidade por meio

dos pronunciamentos do CPC –

especificamente o CPC 27 -

Ativo Imobilizado –, esse cenário

mudou e hoje o ativo imobilizado

é um dos grupos contábeis que

requer maior atenção por parte da

administração das empresas.

Alguns assuntos introduzidos pelos

novos pronunciamentos contábeis

já eram previstos em outros

normativos, como a NPC 07 - Ativo

Imobilizado e a NPC 02 - Estoques,

por exemplo, mas há quem

argumente que o cumprimento

desses normativos emitidos pelo

Ibracon – Instituto dos Auditores

Independentes do Brasil - era

considerado opcional pelo fato de

não terem sido emitidos pelo CFC –

Conselho Federal de Contabilidade.

O primeiro impacto veio com

a proibição da reavaliação

de ativos fixos, trazida pela Lei

11.638. Além da proibição de

novas reavaliações, a lei determina

que “os saldos existentes nas

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A partir do momento da transição,

as empresas não deverão

mais utilizar o “custo atribuído”,

voltando ao modelo contábil

tradicional conhecido por todos:

custo de aquisição.

A mudança na vida útil, que

terá impacto direto nas taxas

de depreciação, deve ser observada

com atenção pelas empresas,

pois terá resultado direto em seu

lucro tributável ao fim do Regime

Tributário de Transição (RTT),

podendo aumentar ou diminuir

o lucro e afetar diretamente o

valor a recolher a título de imposto

de renda e contribuição social.

Ainda sobre o tema depreciação,

um conceito que chama a

atenção nas práticas internacionais

de contabilidade é o momento

em que se deve iniciar a

depreciação dos itens do ativo

imobilizado. De acordo com a norma

internacional IAS 16 - Property,

Plant and Equipment, esses bens

devem ser depreciados no momento

que se tornam disponíveis para uso

e não quando são efetivamente

utilizados. Sendo assim, peças

sobressalentes específicas (spare

parts) e itens completos em espera

para reposição de um item já em

funcionamento (stand by items)

devem ser contabilizados como

ativo imobilizado e depreciados

em conexão ao ativo principal,

no momento em que são adquiridos

e prontos para o uso.

A nova norma traz ainda

outra novidade: depreciação

de componentes. Os contadores

das companhias deverão trabalhar

em conjunto com os engenheiros

ou operadores de suas máquinas

para entender como elas são

utilizadas e a frequência da

inspeção e reposição de partes

ou componentes desses

equipamentos. Esse conhecimento

será fundamental para determinar

se: a) há componentes com valor

significativo em relação ao valor

total do bem; b) os componentes

identificados têm uma vida útil

menor do que o bem como um todo.

Pode-se destacar esse aspecto

quando falamos de uma aeronave

e seus componentes, como

por exemplo, a turbina. O motor

do avião geralmente necessita

de reparos significativos ou

é substituído antes que sejam

necessários investimentos no casco

da aeronave. Nesse caso, a norma

exige que a turbina seja depreciada

separadamente do casco, e,

para isso, é necessária a alocação

de valores separados para cada

um desses itens.

Um assunto chave para empresas

industriais é a observação

periódica de sua capacidade ociosa,

um esforço conjunto entre a área

contábil ou de controladoria e

a área de produção. Empresas com

capacidade ociosa de produção

– situação vivida por muitas

companhias ao redor do mundo

durante a crise econômica – devem

transferir a parcela da depreciação

do ativo imobilizado equivalente a

essa capacidade ociosa diretamente

para o resultado, como outros

custos operacionais, em vez

de compor o custo dos estoques.

Ainda em relação à produção, os

gastos relevantes com manutenção

de usinas ou linhas de produção

devem ser capitalizados e a sua

vida útil deve ser estimada

baseando-se no tempo até a data

da próxima manutenção. Nesse

momento, caso ainda existam

custos capitalizados da manutenção

anterior, estes devem ser baixados

no resultado do exercício e

os novos custos capitalizados.

Já as empresas brasileiras com

florestas, criação de animais

ou plantações de culturas diversas

que classificavam e mensuravam

esses ativos no imobilizado,

deverão tratá-los segundo o

CPC 29 - Ativo Biológico e Produto

Agrícola, que possui regras

especificas para reconhecimento

e mensuração. Essa mudança

de tratamento trará impactos

significativos no balanço de várias

empresas no ramo de agronegócio.

Com a chegada do CPC 20 - Custos

de empréstimos, as companhias

devem obrigatoriamente adicionar

ao custo de formação de seus

ativos imobilizados em construção

os custos com empréstimos

e financiamentos, incluindo

a variação cambial sobre os juros

de empréstimos em moeda

estrangeira.

Outra novidade é o teste de

impairment, previsto pelo CPC 01

– Redução ao Valor Recuperável

de Ativos, que é obrigatório

quando há indicação de queda

no valor recuperável dos ativos

da companhia. No caso do ativo

imobilizado, dada a sua relevância

em algumas empresas, esta

avaliação pode trazer impactos

significativos nos balanços

patrimoniais, especialmente em

cenários de crise financeira ou

expectativa de não continuidade

das operações de determinada

linha de produção, por exemplo.

A companhia também deve

se certificar de que essa análise

é documentada anualmente.

Considerando a amplitude das

mudanças na forma de tratamento

do grupo de ativo imobilizado,

as empresas terão que unir esforços

no sentido de aprimorar seus

controles internos, sistêmicos

ou não, assim como aumentar a

interação entre áreas da empresa,

fundamental para garantir

um processo de transição e

posterior gerenciamento de forma

eficiente desses ativos. n

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Brasil, Itália, França, Alemanha,

Argentina, Uruguai, Alemanha e Reino

Unido tem mais em comum do que

suas taças Jules Rimet conquistadas

nos últimos anos. Esses países,

que já venceram uma ou mais Copas

do Mundo, também estão passando

pela experiência de fazer a

adoção do padrão internacional

de contabilidade, IFRS.

O Brasil, dentre esses países, merece

destaque não apenas como o único

pentacampeão do mundo, mas

também em termos da ampla adoção

do IFRS. No final de 2010, todas

as companhias de capital aberto e

aquelas de capital fechado com receita

bruta anual superior a R$ 300 milhões

ou patrimônio total superior a R$ 240

C O P A D O M U N D O

milhões adotarão o IFRS. De acordo

com levantamento da Ernst & Young,

15 empresas nacionais de capital

aberto já reportaram em IFRS

no primeiro trimestre de 2010.

Uma particularidade do Brasil é

o fato de as pequenas e médias

empresas também serem obrigadas

indiretamente a adotar o padrão

contábil internacional. De acordo

com pronunciamento do Comitê de

Pronunciamentos Contábeis (CPC),

de dezembro de 2009, um universo

de 350 mil empresas de pequeno

e médio porte seria diretamente

impactado pela adoção do IFRS

em suas demonstrações financeiras

referentes a 2010. O CPC também

obriga os contadores a só assinarem

os balanços em conformidade com

o IFRS a partir de 2010. Apesar de

essas empresas não serem obrigadas

a adotar o padrão internacional,

aquelas que recorrerem a operações

junto a instituições financeiras ou ao

Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES), assim

como as que estejam envolvidas

em processos de fusões ou aquisições,

tendem a ter um interesse maior

pela adoção da norma.

“Esse será um passo importante

para aumentar e garantir o futuro dos

investimentos estrangeiros no Brasil”,

analisa Sonia Swinney, gerente sênior

de Auditoria da Ernst & Young.

No Velho Continente – onde estão

4 dos 7 campeões de Copas do Mundo

Países vencedores de Copas do Mundo correm

atrás do IFRSPor Katia Hochman

O Brasil, além de ser o único pentacampeão de

futebol do mundo, também está adiantado em termos

de conversão ao padrão contábil internacional

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— os países são os mais adiantados

na adequação de seus GAAPs locais

ao IFRS, quando se leva em

consideração apenas as companhias

listadas em bolsas de valores.

A harmonização das práticas contábeis

foi um dos objetivos estratégicos

da União Europeia (UE), uma vez que

ela permitiria e contribuiria com a

livre circulação de capitais pelos países

da UE. Desta forma, nasceu o IFRS e

os países europeus tornaram-se líderes

em sua adoção, uma vez que já vêm

trabalhando para isso desde 2005.

A transparência e a possibilidade

de comparação inequívoca de dados

que o IFRS proporciona são fatores

importantes para que os países possam

de fato negociar globalmente,

debatidas dificuldades em relação às

normas sobre instrumentos financeiros

— estão relacionados à intervenção

dos governos na infraestrutura

e crescimento de seus países.

Neste sentido, a interpretação

e a aplicação da IFRIC 12 Service

Concessions no Brasil e na Argentina

têm exigido esforços adicionais dos

dois países sul-americanos. Na Europa,

as dificuldades residem na aplicação

da IAS 41 Agriculture, que ainda

não foi amplamente adotada porque

a maioria das empresas rurais

europeias não são listadas e, portanto,

não são obrigadas a aderir ao IFRS.

As normas aplicáveis à propriedade,

instalações e equipamentos também

desafiam os países e atividades que

demandam capital intensivo, que estão

mais habituados a aplicar normas

tributárias do que econômicas.

integrando mercados locais com

internacionais. Nos países emergentes

— como Brasil, Argentina e Uruguai —

a padronização contábil também

contribui para a atração de

investimentos estrangeiros para a

promoção do seu crescimento. O Brasil

está em destaque no ranking global

de companhias mais capitalizadas

e atrativas ao investidor elaborado

pela Ernst & Young: quatro empresas

nacionais estão dentre as 100 mais

atrativas do mundo.

Os fatores que levam o Brasil

e os países europeus a estar mais

adiantados em relação à convergência

ao IFRS passam por: maturidade

do mercado de capitais, transações

internacionais entre mercados de

capitais, importância do comércio

internacional, fatores políticos, nível

de desenvolvimento dos contabilistas,

grau de influência da ONU e OECD,

estabilidade econômica e a importância

que o país confere às questões relativas

à contabilidade e transparência.

O prazo estipulado pelos países

para adotar o IFRS, além dos fatores

já mencionados, passa também

por decisões de cunho político.

“Os países precisam colocar de um

lado da balança a importância de estar

em compliance com o IFRS para

alavancar a atração de investimentos

estrangeiros e, de outro, o custo-

benefício da conversão para as

empresas e a economia”, afirma Sonia.

Já os motivos como a interação

do modelo contábil com o sistema

tributário e a extensão do universo

de empresas privadas versus estatais

podem atrasar a adoção do IFRS.

Dentre os países que já venceram

uma Copa do Mundo, a Argentina

e o Uruguai são aqueles que

estão menos adiantados em termos

de conversão ao IFRS (veja quadro

na página seguinte).

Desafios

Os principais desafios que os países

vêm enfrentando atualmente para

a adoção do IFRS — superadas as tão

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O IFRS por país campeãoItália • O último campeão

da Copa do Mundo (2006)

está em fase de implementação

do IFRS, seguindo os parâmetros

do IFRS adotado pela União Européia.

Todas as empresas, italianas ou

estrangeiras, listadas em bolsa de

valores precisam adotar o padrão IFRS.

De acordo com a lei italiana, as

empresas não listadas podem adotar

o IFRS voluntariamente se: for uma

subsidiária, associada ou joint venture

de uma companhia listada na Itália

ou se ela prepara demonstrações

financeiras consolidadas. Já as

pequenas empresas italianas não são

autorizadas a adotar o modelo contábil

internacional. O prazo para

convergência parcial ao IFRS na Itália

estava inicialmente previsto para

o segundo semestre de 2009,

mas ele foi prorrogado e a nova data

ainda não foi definida.

França • Na França, país

do craque Zinedine Zidane,

a adoção do IFRS é mandatória para

as companhias listadas e permitida

(mas não exigida) para aquelas que

não são listadas em bolsa de valores.

Os emitentes estrangeiros podem ser

isentos de apresentar demonstrações

financeiras IFRS quando as normas

de contabilidade utilizadas são

consideradas equivalentes pelo AMF

(Autorité des Marchés Financiers).

A convergência ao IFRS, apesar de

estar em andamento no país, esse não

é um tema que esteja na agenda de

prioridade das companhias francesas.

Isto porque as alterações nos padrões

contábeis mexem diretamente

no sistema tributário. Assim, algumas

adaptações do French GAAP ao IFRS

já foram feitas, mas ainda existem

muitas divergências entre o modelo

nacional e o internacional.

Alemanha • Na

Alemanha, o IFRS — na

versão adotada pela União Europeia —

é obrigatório para as demonstrações

financeiras consolidadas. Tanto as

empresas nacionais listadas quanto

as estrangeiras, com ações negociadas

em bolsa de valores, estão sujeitas

às mesmas regras e são obrigadas

a adotar o IFRS. Em 1º de janeiro

de 2010, o German Statutory GAAP

(HGB) foi atualizado para um

padrão mais próximo do IFRS, mas

as diferenças entre o modelo

contábil alemão e o internacional

ainda persistem. O país do craque

Franz Beckenbauer não definiu

um cronograma para a conversão

ao IFRS, ainda que permita a adoção

voluntária por parte das empresas.

Argentina • A

conversão ao IFRS

na Argentina está em andamento.

De acordo com resolução da Comisión

Nacional de Valores (CNV), entidade

local que regula o mercado de

capitais, de dezembro de 2009, as

companhias listadas deverão adotar

o IFRS segundo os parâmetros

do IASB a partir de 2012, sendo

que a conversão é permitida a partir

de 2011. No primeiro momento,

bancos, seguradoras e fundos de

investimento não estão incluídos nessa

obrigatoriedade, uma vez que seus

reguladores não definiram seus planos

e cronograma de adoção.

Uruguai • O Uruguai

passou a adotar o IFRS

em 2007, mas em uma versão

anterior àquela utilizada atualmente,

para as companhias listadas em bolsa

de valores (tanto uruguaias, quanto

internacionais). Assim, o país que

venceu o Brasil no Maracanã em 1950

e foi campeão do mundo, trabalha

com uma dose de “tropicalização”

do padrão contábil internacional,

graças às atualizações das normas

ao longo dos últimos anos.

Atualmente, os uruguaios discutem

soluções que contemplem os ajustes

necessários por conta da inflação

nas demonstrações financeiras. Para

os bancos e demais instituições

financeiras, o GAAP é definido

pelo Banco Central uruguaio e não

sofreu alterações.

Reino Unido • Os prazos

para adoção integral do

IFRS pelo Reino Unido ainda estão

indefinidos. O padrão contábil

internacional é obrigatório para

as empresas listadas em bolsa de

valores (britânicas ou internacionais)

e opcional para aquelas de capital

fechado, com exceção das empresas

de caridade (elas não podem aderir

ao IFRS). Em agosto do ano passado,

o ASB propôs uma discussão

sobre a possibilidade de as empresas

substituírem o UK GAAP pelo IFRS

para pequenas e médias empresas. Por

essa proposta, elas precisariam adotar

o IFRS completo ou a versão para

pequenas e médias a partir de 2012.

Brasil • O Brasil, dentre

os campeões de Copas

do Mundo, é um dos mais adiantados

em relação à convergência ao IFRS.

As demonstrações financeiras

referentes a 2010 das companhias

abertas e também daquelas de capital

fechado com receita bruta anual

superior a R$ 300 milhões ou

patrimônio total superior a R$ 240

milhões já adotarão o IFRS. O País

também estimula um universo de 350

mil empresas de pequeno e médio

porte a adotar o IFRS, mas em

um formato simplificado. As normas

IFRS somam aproximadamente três

mil páginas, já no pronunciamento do

CPC para as pequenas e médias são

cerca de 225 páginas. As principais

diferenças entre o padrão brasileiro

e o internacional se referem

essencialmente à remoção de opções

disponíveis no IFRS emitidas pelo

IASB e os requisitos de divulgação

adicional. Em 2010, as seguradoras

serão obrigadas a adotar o IFRS,

e outras adequações relativas à

convergência terão continuidade. n